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Revisão técnica:

Lilian Martins
Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário
Professora do Curso de Ciências Contábeis
Coordenadora do Núcleo de Assessoramento Fiscal (NAF)
das Faculdades São Judas Tadeu

P441 Perícia contábil I / Aline Alves ... [et al.] ; [revisão técnica:
Lilian Martins]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
330 p. il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-150-1

1. Contabilidade - Perícia. I. Alves, Aline.

CDU 657

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


A perícia contábil na
área tributária
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as características de uma perícia contábil na esfera tributária.


 Verificar a atuação do perito contábil nos processos de fiscalização
tributária.
 Reconhecer a contribuição do laudo pericial contábil na área tributária.

Introdução
Você já deve saber que o perito-contador pode atuar em diversas áreas.
Neste texto, você irá estudar a perícia contábil na área tributária. Portanto,
conhecerá as competências e os conhecimentos necessários para que
esse profissional possa desempenhar o seu trabalho. Além disso, você
aprenderá sobre a contribuição do laudo pericial na esfera tributária.

As características da perícia contábil na área


tributária
No Brasil, a corte maior da justiça engloba os tribunais superiores, o Supremo
Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ). O STF zela por
todos os aspectos legais ligados à Constituição Federal. Já o STJ cuida das leis
nacionais. Esses tribunais superiores utilizam algumas situações da perícia
contábil como ferramenta de tomada de decisão com base nas competências
a eles atribuídas.
A perícia contábil na área tributária envolve os tributos. A vara designada
para a realização desse tipo de perícia é a vara da Fazenda Pública, podendo
ser do estado ou dos municípios. Caso não haja uma vara específica nos
municípios, a perícia contábil tributária poderá ocorrer em uma vara comum.
2 A perícia contábil na área tributária

Na esfera tributária, o perito contábil necessita recorrer à base legal


prevista na Lei nº 5.172/66 do CTN para desenvolver o seu trabalho. Essa
lei contém a base do ordenamento jurídico tributário conferido pela Cons-
tituição Federal.

CTN significa Código Tributário Nacional. Ele é uma das principais fontes do direito
tributário. A fonte principal é a Constituição Federal.

O perito-contador deve ter conhecimento das duas partes – ou livros,


como alguns autores chamam – do CTN (BRASIL, 1966). O primeiro livro
apresenta o sistema tributário nacional, os conceitos jurídicos, suas espécies,
a competência tributária, as suas limitações, os impostos agrupados por área
de incidência, as taxas e também as contribuições de melhoria. Já o segundo
livro trata das normas gerais do direito tributário, da legislação, sua aplica-
ção, interpretação e integração, da obrigação tributária, do lançamento, da
administração tributária, das preferências e privilégios da Fazenda Pública.

O artigo 3º do Código Tributário Nacional Brasileiro (BRASIL, 1966) afirma que tributos
são toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa
exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante
atividade administrativa plenamente vinculada.

O direito tributário também se utiliza das jurisprudências. Estas constam de


vários princípios e conceitos do direito tributário. Como exemplo, você pode
considerar os conceitos de fato gerador e base de cálculo, fixada pela repetição
do pagamento indébito independentemente da prova de erro, dentre outros.
A perícia contábil é utilizada na esfera tributária como elemento de prova
e eliminação de dúvidas. Ela auxilia o magistrado na busca da verdade. O juiz
requer a perícia quando necessita ajuda na tomada de decisão.
A perícia contábil na área tributária 3

A Tabela 1 vai ajudar você a entender a divisão das competências tributárias


e as categorias econômicas.

Tabela 1. Espécie tributária por categoria econômica e competência tributária.

Entes
federativos/ Municípios
Fatos União (artigos 153 Estados (artigo (artigo 156
geradores e 154 da CF) 155 da CF) da CF)

Renda  Imposto de Renda (IR)


 Contribuição
previdenciária
 Contribuição ao
Seguro de Acidente
de Trabalho (SAT)
 Contribuição ao
salário-educação
 Contribuição ao
Sistema S

Patrimônio  Imposto sobre  Imposto sobre  Imposto


a Propriedade Transmissão Predial e
Territorial Rural (ITR) Causa Mortis e Territorial
 Imposto sobre Doação (ITCMD) Urbano (IPTU)
Grandes Fortunas  Imposto sobre  Imposto sobre
(IGF) a Propriedade a Transmissão
 Contribuição de de Veículos de Bens
melhoria Automotores Imóveis (ITBI)
(IPVA)  Contribuição
 Contribuição de de melhoria
melhoria

(Continua)
4 A perícia contábil na área tributária

(Continuação)

Tabela 1. Espécie tributária por categoria econômica e competência tributária.

Entes
federativos/ Municípios
Fatos União (artigos 153 Estados (artigo (artigo 156
geradores e 154 da CF) 155 da CF) da CF)

Atividade  Imposto sobre  Imposto sobre  Imposto Sobre


econômica Produtos a Circulação de Serviços de
Industrializados (IPI) Mercadorias e Qualquer
 Imposto sobre Serviços (ICMS) Natureza
Operações (ISSQN)
Financeiras (IOF)
 Imposto de
Importação (II)
 Imposto de
Exportação (IE)
 Contribuição para o
Financiamento da
Seguridade Social
(COFINS)
 Programa de
Integração Social (PIS)
 Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido
(CSLL)
 Contribuição de
Intervenção do
Domínio Econômico
(CIDE)

Fonte: Barau (c2017).

Há situações em que se utiliza a perícia para afirmar que os procedimentos


adotados pelo contribuinte não foram fraudulentos. Ou seja, que não tiveram
qualquer interesse de reduzir o valor do imposto a pagar de forma ilícita.
Portanto, não causaram nenhum risco aos cofres públicos.
Existem casos em que as fiscalizações descobrem que as empresas estão
recolhendo os impostos indevidos, ou recolhendo alíquotas menores que as
estabelecidas. Assim, se utilizam da via judicial para cobrar o valor devido. Nesse
sentido, é a perícia que irá determina o valor correto a ser pago pela empresa.
A perícia contábil na área tributária 5

O Brasil possui um número significativo de tributos. Estes envolvem


pessoas físicas e jurídicas. A perícia contábil tributária engloba os tributos
das esferas federais, estaduais e municipais.
Estes são alguns dos principais tributos envolvidos em processos judiciais:
IPI, PIS/Confins, CPMF, IRPJ, CSSL, INSS e ICMS. Eles envolvem a substi-
tuição tributária, o aproveitamento de créditos, a importação e a exportação
de produtos, a exclusão deles de alguns cálculos e o ISS – que virou alvo de
disputa envolvendo a legitimidade para a sua cobrança.

Fique atento ao que cada sigla significa:


IPI: Imposto sobre Produtos Industrializados
PIS: Programa de Integração Social
COFINS: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
CPMF: Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira
IRPJ: Imposto de Renda de Pessoa Jurídica
CSSL: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
INSS: Instituto Nacional do Seguro Social
ICMS: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços
ISSQN: Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza

Há certo tempo, alguns municípios começaram a praticar alíquotas redu-


zidas. Assim, aumentavam as suas receitas e atraíam novas empresas. Porém,
inúmeros problemas surgiram em municípios pequenos. Por exemplo: muitas
empresas transferiram virtualmente sua sede jurídica buscando a diminuição
da sua alíquota tributária, mesmo que a prestação efetiva do serviço continu-
asse a ser feita na sede física – em outro município e com alíquota de imposto
maior. Pondo fim a esse problema, o Superior Tribunal de Justiça firmou
entendimento, que se tornou jurisprudência, de que o local da prestação do
serviço é que define o município competente para a imposição tributária, e
não a sede jurídica da empresa.
A Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003 (BRASIL, 2003), é
um normativo que consolida as regras de caráter nacional sobre o ISS num só
dispositivo. Isso facilitou a atuação dos envolvidos que trabalham com essa
matéria, sendo um deles o perito-contador.
6 A perícia contábil na área tributária

A atuação do perito-contador no processo


tributário
O perito-contador é um profissional capacitado. Possui conhecimentos técnicos,
científicos e tecnológicos referentes à contabilidade e ao direito tributário.
Assim, pode auxiliar o juiz e as partes ao realizar uma análise com base nos
documentos que compõem o litígio.

Você pode rever as alterações do Novo Código Civil de


2015 referentes à perícia e à prova pericial acessando
o link ou o código a seguir (ALVES, 2015):

https://goo.gl/m8ki3K

Conforme Hoog (2016), o perito-contador será indicado pelas partes ou


pelo magistrado. Ele tem o compromisso sempre com a ciência e também com
a verdade. Seu papel será de mostrar como são os atos e fatos analisados. O
papel do perito-contador não é realizar defesas ou acusações. Isso é função
dos advogados. O perito irá criar a prova pericial por meio do laudo.
O perito-contador tem a função de inspecionar, examinar, vistoriar, analisar,
verificar e também certificar a autenticidade dos documentos apresentados.
O perito terá de responder aos quesitos apresentados pelo magistrado. É seu
dever oferecer respostas conclusivas a todos os quesitos apresentados pelo
magistrado ou pelas partes.

Quesito é a pergunta formulada ao perito-contador. Seu objetivo é obter uma prova


cabal sobre pontos controvertidos. Naturalmente, todo o quesito implica uma resposta.
(HOOG, 2016, p. 125).
A perícia contábil na área tributária 7

Para as respostas aos quesitos, é necessário que o perito-contador se baseie


nos livros contábeis e fiscais, nas leis que regem a esfera à qual a perícia
pertence ou naqueles materiais que lhe darão suporte e veracidade em suas
explicações.
Caso o perito-contador ache necessário, poderá ouvir testemunhas, as-
sim como solicitar mais documentos para a realização do seu trabalho. Para
isso, deverá sempre fazer a solicitação primeiramente por meio de petição ao
magistrado. Ele também deverá realizar e fundamentar a prova pericial, isto
é, o laudo pericial. Nesse sentido, pode usar planilhas, imagens, gráficos e
tabelas, por exemplo.
Devido à importância do laudo pericial para a decisão judicial, o perito-
-contador deverá ser imparcial. Deve descrever o laudo de forma clara e
objetiva. Da mesma forma, precisa apresentar o seu trabalho por meio de
instrumentos que assegurem o seu parecer, se fundamentando na esfera das
fontes do direito tributário. Assim, precisa estar atento a todos os tributos que
envolvem os impostos incidentes no Brasil, aos tipos de alíquotas, às diferentes
alíquotas aplicadas nos estados brasileiros, bem como às suas especificidades.
Dessa forma, pode exprimir a mais pura verdade dos atos e fatos.
Outro aspecto importantíssimo na atuação do perito-contador é o cumpri-
mento dos prazos. No início do seu trabalho, o magistrado determina as datas
que ele deverá seguir. Na maioria dos casos, o juiz já determina o prazo da
entrega do laudo pericial quando ocorre a nomeação do perito. Caso o perito,
no decorrer de seu trabalho, verifique que serão necessárias mais horas, deve
solicitar ao juiz a prorrogação do prazo. Isso é permitido pelo artigo 476 do
CPC de 2015 (BRASIL, 2015).

O perito-contador que não cumprir o prazo determinado e não solicitar a prorrogação


poderá responder a procedimento administrativo nos termos do § 1 do artigo 233
(BRASIL, 2015). O juiz também poderá aplicar uma multa ao perito, decorrente do atraso
do processo. Da mesma forma, poderá informar o problema à corporação profissional
à qual o perito-contador é vinculado.
8 A perícia contábil na área tributária

A contribuição do laudo pericial contábil na


área tributária
Conforme Cruz (2016), as provas se baseiam em análises, relatórios e pesquisas
fundamentadas na área. Na perícia contábil, o perito apresenta a prova por meio
do seu laudo. Quando a perícia é realizada na esfera tributária, a alegação e o
fundamento podem não ficar cristalinas no ato jurídico de lançamento. Nesse
caso, a autoridade do tributo deve provar o evento acusatório. Isso ocorre pois
a sua obrigação tributária não ficou comprovada.

O Novo CPC de 2015 (BRASIL, 2015) trata da prova pericial nos artigos 464 a 484.

O laudo pericial tem a obrigação de mostrar o objeto da perícia. Também


deve demonstrar a análise técnica e científica produzida pelo perito-contador,
apontando a metodologia usada.
Após a entrega do laudo pelo perito-contador, o magistrado irá intimar as partes
para a apresentação desse documento. Caso haja necessidade, o juiz poderá intimar
novamente o perito-contador para esclarecer dúvidas que por ventura surjam.
De posse do laudo pericial, o juiz poderá utilizá-lo para fundamentar sua
decisão na sentença. Ele também poderá rejeitá-lo. Caso o magistrado ainda
perceba a necessidade de uma prova pericial, pode solicitar a segunda perícia.
O laudo pericial na esfera tributária irá auxiliar o magistrado no valor exato
dos cálculos. Muitas ações se restringem a pagamentos de alíquotas menores
dos impostos devidos às competências que as regem.
O perito-contador deverá apresentar o seu laudo com todo o cálculo. Deve
mensurar, por meio dele, o real valor, com juros e correções monetárias atuali-
zadas. No caso de valores indevidos cobrados à parte, o processo dos cálculos
será o mesmo, tendo a parte também direito às atualizações.
O laudo pericial é a parte fundamental do trabalho do perito. Como você
viu, é possível utilizá-lo como prova na tomada de decisão do magistrado. Por
isso, ele deverá conter todos os cálculos e instrumentos que o perito-contador
utilizou na formulação do seu laudo.
12 A perícia contábil na área tributária

ALVES, A. Artigo 464 ao 484. Sete Lagoas: Estudos do Novo CPC, 2015. Disponível em:
<https://estudosnovocpc.com.br/2015/07/20/artigo-464-ao-484/>. Acesso em: 08
set. 2017.
BARAU, V. O sistema tributário nacional. São Paulo: Escola de Governo, c2017. Dispo-
nível em: <http://www.escoladegoverno.org.br/artigos/1734-o-sistema-tributario-
-nacional>. Acesso em: 08 ago. 17.
BRASIL. Lei complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. Brasília, DF, 2003. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp116.htm>. Acesso em: 08 set. 2017.
BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Brasília, DF, 1966. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172.htm>. Acesso em: 08 set. 2017.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 14
jul. 2017.
CRUZ, W. C. Perícia contábil e lides fiscais municipais. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2016.
HOOG, W. A. Z. Perícia contábil em ações de prestação de contas: com ênfase nos pa-
drões de contabilidade e destaque para as particularidades jurídicas. 4. ed. Curitiba:
Juruá, 2016.

Leituras recomendadas
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 14 dez. 2016.
HOOG, W. A. Z. Perícia contábil: em uma abordagem racional científica. 3. ed. Curitiba:
Juruá, 2016.
MELO, P. C. A perícia no novo código de processo civil. São Paulo: Trevisan, 2016.
ORNELAS, M. M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SÁ, A. L. de. Perícia contábil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
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da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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