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Acadêmico: Amanda Sofia Batistel

Professor: Matheus Soletti Alles

ANÁLISE DAS MODIFICAÇÕES NA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

INTRODUÇÃO:

Este trabalho acadêmico tem como finalidade a análise da evolução das


obrigações tributárias que ocorreram no Brasil ao longo do tempo, de forma que
sejam identificadas as diferenças das cargas tributarias passadas ao período atual.
Serão analisadas as propostas tributarias que estão sendo discutidas pelo atual
governo, sendo elas a PEC 45/2019 e PEC 110/2019. Ambas têm por objetivo
simplificar o modelo de arrecadação de impostos e tributos atuais sobre a produção
e comercialização de bens e sobre a prestação de serviços, impactando nas
obrigações fiscais municipais, estaduais e federais.

O QUE É REFORMA TRIBUTÁRIA?

Em 7 de julho de 2023, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n°


45/2019 foi aprovada na Câmara dos Deputados, marcando o primeiro passo rumo à
Reforma Tributária no Brasil. A PEC, que passou pelo Senado Federal e foi
aprovada em novembro de 2023, prevê um sistema de tributação do consumo a
partir de um Imposto de Valor Agregado (IVA) dual, com a criação da Contribuição
sobre Bens e Serviços (CBS), de competência da União Federal, e do Imposto sobre
Bens e Serviços (IBS) pelos estados, Distrito Federal e municípios.
Antes mesmo de sua aprovação, a proposta já suscitava discussões entre
companhias de variados segmentos econômicos, por temerem um eventual
crescimento nos preços e na carga tributária. Contudo, levando em conta os
obstáculos trazidos pelas complexidades do sistema tributário brasileiro atual, a
Reforma Tributária é encarada com otimismo.
Alguns dos principais objetivos da Reforma incluem a simplificação do
sistema, com a previsão de regras mais claras e de fácil aplicação, buscando o
aprimoramento do ambiente tributário e torná-lo mais favorável ao desenvolvimento
econômico e à competitividade entre empresas.
Neste cenário, é crucial, tanto para os contribuintes quanto para as autoridades
fiscais, ter uma definição clara e consistente sobre quando o IBS e o CBS são
aplicáveis. Ou seja, é necessário estabelecer de forma clara e objetiva os critérios
pessoais, materiais, temporais, quantitativos e espaciais de cada um.
Após a análise do texto aprovado pela Câmara dos Deputados,
especificamente a redação do inciso I do artigo 149 B, nota-se que o IBS e a CBS
possuirão os mesmos elementos fiscais: fatos geradores, bases de cálculo,
circunstâncias de não incidência e sujeitos passivos. Estes serão estabelecidos por
meio de uma Lei Complementar.
Ficou também a cargo de Lei Complementar dispor sobre os critérios para a
definição do ente de destino da operação do IBS que, nos termos do IV, § 5º do art.
156 A: “poderá ser, inclusive, o local da entrega, da disponibilização ou da
localização do bem, o da prestação ou da disponibilização do serviço ou o do
domicílio ou da localização do adquirente do bem ou serviço, admitidas
diferenciações em razão das características da operação”.
Desta forma, para assegurar a efetividade da Reforma Tributária e cumprir
com seus objetivos principais, é indispensável que haja previsão constitucional
expressa de que o critério espacial de novos tributos também será uniforme, de
modo que a Lei Complementar estabeleça as mesmas regras para a fixação do local
de consumo do IBS e da CBS.
Atualmente, a proposta aprovada de Reforma Tributária busca substituir
cinco impostos atuais por dois Impostos sobre o Valor Agregado (IVA), aderindo ao
modelo de IVA dual. As alterações sugeridas são as seguintes:
Em substituição aos três tributos federais (PIS, Cofins e IPI): A Contribuição sobre
Bens e Serviços (CBS) será implementada, sob a responsabilidade do governo
federal, e está prevista para entrar em vigor em 2026, com implementação
generalizada em 2027. Além disso, há uma previsão para a criação de um Imposto
Seletivo (IS) que substituirá o IPI. Este imposto será utilizado como uma medida de
desincentivo a produtos e serviços prejudiciais à saúde, como bebidas e cigarros,
assim como àqueles que comprometem a sustentabilidade ambiental e contribuem
para o aumento das emissões de carbono.
Em substituição ao ICMS (estadual) e ao ISS (municipal): Vem o Imposto
sobre Bens e Serviços (IBS), que terá administração compartilhada entre os Estados
e municípios. Já essa modalidade, deve ter entrada proporcional para o contribuinte
entre 2026 e 2032.
O somatório das alíquotas dos dois IVAs será necessário para manter a
carga tributária, que deve ficar entre 25% e 27,5%, sendo que alguns produtos e
serviços terão redução de 60% e outros serão isentos, como a cesta básica
nacional.

O QUE AMBOS IMPOSTOS TERÃO EM COMUM?

• Fatos geradores: Serão aplicados sobre operações e importações com bens


materiais/imateriais ou serviços.
• Bases de cálculo: Os critérios para calcular os impostos serão similares.
• Hipótese de incidência: Os eventos que geram a obrigação de pagar o
imposto serão semelhantes.
• Sujeitos passivos: As pessoas ou empresas que serão responsáveis pelo
pagamento dos impostos serão as mesmas para ambos.
• Regimes específicos ou diferenciados: Serão estabelecidos para casos
particulares.
• Regras de não cumulatividade e creditamento: Ambos os impostos seguirão o
regime de não cumulatividade, permitindo o abatimento de créditos em operações
anteriores.

Isenções
• Serviços de transporte coletivo de passageiros:Rodoviário, metropolitano e
metroviário de caráter urbano, semiurbano e metropolitano;
• Dispositivos médicos;
• Dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência;
• Medicamentos;
• Produtos de cuidados básicos à saúde menstrual;
• Produtos hortícolas, frutas e ovos;
• Aquisição de medicamentos e dispositivos médicos pela administração
pública e entidades de assistência social;
• Serviços de educação de ensino superior nos termos do Programa
Universidade para Todos (Prouni);
• Automóveis de passageiros comprados por: Pessoas com deficiência,
pessoas com transtorno do espectro autista, motoristas profissionais que destinem o
automóvel à utilização na categoria de aluguel (táxi);
• Serviços prestados pelas entidades de inovação, ciência e tecnologia sem fins
lucrativos;
• Produtores rurais físicos ou jurídicos com receita anual de até R$ 3,6 milhões;
• Atividades de reabilitação urbana de zonas históricas e de áreas críticas de
recuperação e reconversão urbanística;

PEC 45/2019

A PEC 45/2019 prevê um período de transição para a cobrança e a


distribuição da arrecadação do IBS. É estabelecido um prazo de oito anos para a
transição, de 2026 a 2033, com a extinção do ICMS e ISS até o fim de 2032. A partir
de 2033, o novo modelo entraria em vigência integral. Além disso, a transição para o
princípio do destino ocorreria ao longo de 50 anos, de 2029 a 2078.
Alíquota e isenções do IBS: A presente proposta estabelece que uma
alíquota padrão será definida por meio de lei complementar, além de instituir uma
alíquota reduzida para certos setores. Esta alíquota com desconto seria aplicada em
áreas como serviços de saúde, educação, medicamentos, transporte público coletivo
urbano e semiurbano, produtos agropecuários, alimentos e produtos de higiene da
cesta básica, bem como atividades artísticas e culturais nacionais.
Também estão previstas isenções para medicamentos específicos, o
Programa Universidade para Todos (ProUni) e produtores rurais pessoa física que
obtiverem receita anual inferior a R$ 2 milhões.
Fiscalização e administração do IBS: De acordo com a proposta, a
fiscalização do IBS ficaria a cargo do Conselho Federativo, composto pelas
Fazendas estaduais e municipais. O grupo seria dotado de independência técnica,
administrativa, orçamentária e financeira, com decisões tomadas a partir de votos
distribuídos de forma igualitária entre os entes federativos. A atuação integrada no
Conselho Federativo é considerada fundamental para garantir a distribuição dos
recursos conforme o princípio do destino, a singularidade da regulamentação do
imposto e a rápida devolução dos créditos aos contribuintes.

PEC 110/2019

A proposta apresenta um modelo de IBS duplo, no qual legislação e


administração são separadas: o IBS federal, também conhecido como Contribuição
sobre Bens e Serviços (CBS), que unificaria o IPI, a Cofins e o PIS; além do IBS
subnacional, compartilhado por estados e municípios, que substituiria o ICMS e o
ISS.
A PEC 110/2019 estabelece também um período de transição para cobrança
e distribuição da arrecadação do IBS. A fase federal da transição se iniciaria no ano
seguinte à publicação da lei complementar instituidora do IBS, caso essa publicação
ocorra antes do dia 30 de junho, ou no ano seguinte, caso ocorra após 30 de junho.
Nesta, a transição para o princípio do destino ocorreria ao longo de 40 anos.

IMPOSTO SELETIVO

Também conhecido como "imposto do pecado", agirá como uma espécie de


sobretaxa incidente sobre a produção, comercialização ou importação de bens e
serviços lesivos à saúde ou ao meio ambiente. O mesmo será de competência
federal, com arrecadação dividida com entre os demais entes da federação.

CESTA BÁSICA E “CASHBACK”

A reforma tributária prevê ainda a criação de uma Cesta Básica Nacional de


Alimentos, cujos itens como arroz, feijão, serão isentos de impostos. Os produtos
incluídos na cesta devem ser definidos por lei complementar, a qual deve levar em
conta a diversidade regional e cultural da alimentação do país.
Ainda, haverá uma cesta "estendida" com outros produtos, como carnes e
itens de higiene pessoal e limpeza, que terão desconto de 60% nos tributos para
consumidores de baixa renda. Esse desconto será concedido por meio do
reembolso de impostos, conhecido como “cashback”.
A população de baixa renda deverá também ter direito ao "cashback" no
imposto cobrado na conta de luz e no gás de cozinha.

PROFISSIONAIS LIBERAIS E OUTRAS EXCEÇÕES

Uma inovação trazida pela reforma tributária do Senado é a implementação


de uma taxa específica para serviços fornecidos por profissionais autônomos,
incluindo advogados, engenheiros e contadores. Esta taxa será equivalente a 70%
do valor da alíquota geral.
Ainda, foram posteriormente inseridas exceções que beneficiam bancos,
taxistas, clubes de futebol e a indústria automotiva, intensificando a lista de setores
privilegiados por alíquotas diferenciadas. A proposta já inclui segmentos como
educação, saúde, instrumentos e equipamentos médicos, medicamentos e itens de
saúde menstrual, serviços de transporte coletivo, produtos e insumos agropecuários,
atividades artísticas e culturais, entre outros.

QUAIS OS BENEFÍCIOS DA REFORMA TRIBUTÁRIA?

Os principais impactos positivos de uma reforma tributária para o Brasil são:


• Intensificação do crescimento da economia;
• Redução de custos;
• Maior atração de investimentos ao país;
• Mais segurança jurídica;
• Geração de emprego e renda;
• Maior competitividade no mercado interno e externo;
• Favorece o empreendedorismo e o ambiente de negócios;
• Menos burocracia e diminuição da carga tributária;
• Mais transparência: a população vai saber o quanto paga de imposto em cada
produto e serviço.

QUAIS SÃO OS EFEITOS ESPERADOS COM A REFORMA?

• Fim da guerra fiscal – a redução de impostos para atrair fábricas não se


justifica mais, visto que o imposto será cobrado no destino do bem ou serviço;
• Crescimento econômico – o IBS simplifica o sistema, eliminando custos para
as empresas. A indústria é mais favorecida porque pode ter mais créditos de tributos
pagos por insumos;
• Desoneração das exportações – como o imposto só é cobrado no consumo,
as vendas externas podem ser totalmente desoneradas. Por outro lado, as
importações terão a mesma taxação do produto nacional;
• Segurança jurídica – cai a diferenciação entre produtos e serviços, evitando
conflitos sobre qual alíquota deve ser aplicada sobre determinado consumo;
• Transparência – o consumidor vai saber quanto está pagando de imposto em
cada produto ou serviço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após um estudo breve sobre o conceito e a existência de tributos, bem


como a tributação no Brasil, conseguimos analisar as propostas governamentais
apresentadas nas PECs 45/2019 e 110/2019. Essas propostas têm como objetivo
instituir apenas dois impostos no Brasil, promovendo uma reformulação. Segundo as
pesquisas, essa mudança visa diminuir a burocracia atual, considerando a
diversidade de impostos que o Brasil criou ao longo do tempo.
Em resumo, o objetivo foi alcançado, pois foram enfatizados os principais
aspectos de cada item mencionado anteriormente, mantendo sempre um olhar
atento às Propostas de Emenda Constitucional em tramitação no Congresso
Nacional Brasileiro. Vale destacar um tópico que ganhou bastante visibilidade dentro
do tema: as potenciais isenções que podem afetar os serviços de transporte coletivo,
medicamentos, dispositivos médicos, frutas, ovos, produtos hortícolas e automóveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BBC News. Reforma tributária aprovada no Senado: entenda em 5 pontos a


proposta de mudar impostos: Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3g2ej731k5o

MELLO, Anderson. Reforma Tributária aprovada — entenda os principais pontos.


Disponível em: https://www.taxgroup.com.br/intelligence/reforma-tributaria-aprovada-
entenda-os-principais-pontos/

Portal da indústria. Disponível em: https://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-


a-z/reforma-
tributaria/#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20reforma%20tribut%C3%A1ria%3F,ec
onomia%20e%20promovendo%20competitividade%20empresarial

ZILLI, Assad Jade; BARBOSA, Luiz Roberto Peroba. Reforma Tributária: A


necessidade de fixação de um critério espacial uniforme para o IBS e a CBS na PEC
45/2019. Disponível em: https://www.pinheironeto.com.br/conhecimento-
juridico/artigo/reforma-tributaria-a-necessidade-de-fixacao-de-um-criterio-espacial-
uniforme-para-o-ibs-e-a-cbs-na-pec-452019

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