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2021
FORMAÇÃO
Regularização do IVA de
créditos incobráveis e de
cobrança duvidosa
Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
FICHA TÉCNICA
Não é permitida a utilização deste Manual, para qualquer outro fim que não
o indicado, sem autorização prévia e por escrito da Ordem dos Contabilistas
Certificados, entidade que detém os direitos de autor.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Principais Abreviaturas
CC – Contabilista Certificado
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Índice
1- Introdução .............................................................................................................. 5
7- Conclusão ............................................................................................................. 63
8- Bibliografia .......................................................................................................... 67
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
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1- Introdução
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É um imposto plurifásico, mas não cumulativo pois não funciona em cascata, sendo o
pagamento do imposto fracionado pelos vários agentes económicos intervenientes no
processo produtivo através do método do crédito do imposto.
Caracteriza-se por ser um imposto que confere direito à dedução nas operações
suportadas a montante, o qual opera através da compensação entre imposto suportado
e liquidado e, subsidiariamente, cumpridos os pressupostos legais, pelo reembolso do
imposto liquidado em excesso.
Este mecanismo faz com que o IVA seja suportado unicamente pelo consumidor final,
independentemente do número de fases percorridas desde o produtor até ao consumidor
final do bem ou do serviço. Por este motivo o direito à dedução do imposto não deve
ser objeto de restrições, salvo em situações especificamente previstas na legislação.
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Ao fim destes anos todos não temos duvidas que essa solução foi a mais correta, pois
uma eventual renumeração e sistematização do CIVA iria tornar mais complicado e de
mais difícil compreensão um diploma já de si muito complexo.
Volvidos alguns anos, o CIVA já tinha sido objeto de diversas alterações substanciais
provocadas por mais de sessenta leis e decretos, originando desde logo a perda de
alguns preceitos referidos no código fruto de evoluções linguísticas, económicas e
sociais. Em muito menor escala aconteceu o mesmo com o RITI em função de
ajustamentos e alterações de procedimentos ao nível do comércio internacional.
Neste contexto, surge a alteração legislativa constante do artigo 91.º da Lei n.º 67-
A/2007, de 31 de dezembro (Orçamento do Estado para 2008), a qual determinou a
revisão e republicação do CIVA e do RITI de maneira que fiquem incorporadas todas
as alterações que ambos sofreram, sem pôr em causa a substância dos dois diplomas,
efetuando-se os ajustamentos necessários em termos de coerência sistemática,
remissiva e terminológica.
O Decreto-Lei n.º 102/2008 veio atribuir epígrafes a cada um dos artigos que
integravam o CIVA e o RITI, explicando de forma sintética o respetivo conteúdo
normativo. Esta introdução de epígrafes veio permitir uma muito melhor compreensão
sistemática do disposto em ambos os diplomas.
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Esta mesma orientação foi vertida pelo Supremo Tribunal Administrativo através de
acórdão proferido no processo n.º 01455/12, de 07/10/2015.
Entende-se que o artigo 184º da Diretiva IVA institui um direito geral dos sujeitos
passivos à regularização da dedução de imposto inicialmente efetuada, a qual, de
acordo com o artigo 186º, deve ser disciplinada normativamente pelos Estados
Membros.1
1
Conforme “Cadernos IVA 2015”, Almedina, 2015, Coordenação Sérgio Vasques, pagina 332.
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2- Regularizações do IVA
Desde já refira-se que de acordo com o está consignado no artigo 78.º, n.º 1 do CIVA,
na emissão de documentos retificativos de faturas aplicam-se as mesmas regras
previstas para a emissão das mesmas, designadamente nos artigos 35.º-A a 40.º do
CIVA.
✓ Documentos de transporte;
✓ Recibos;
✓ Quaisquer outros documentos emitidos, independentemente da sua designação,
que sejam suscetíveis, nomeadamente, de apresentação ao cliente que
possibilitem a conferência de mercadorias ou de prestação de serviços;
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Conforme já referido foi aditado ao CIVA o artigo 35.º-A, transpondo-se para o nosso
ordenamento jurídico-tributário o conteúdo do artigo 219.º-A da Diretiva IVA, no
sentido de delimitar as competências territoriais em matérias de faturação.
Como regra geral, a emissão de faturas está sujeita às normas previstas no CIVA
quando as mesmas titulem operações localizadas/ tributáveis em Portugal, nos termos
do artigo 6.º do CIVA.
Nas operações localizadas noutro estado membro, prestadas por sujeitos passivos com
sede, estabelecimento estável ou, na sua falta, domicílio em território nacional, em que
seja aplicado o reverse charge, a emissão da fatura está sujeita às normas consagradas
no CIVA. Se porventura, o adquirente, sujeito passivo estabelecido no estado membro
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A emissão de fatura pelas operações efetuadas por sujeitos passivos que utilizem
Portugal como Estado Membro de identificação para efeitos do regime especial
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 158/2014 de 24 de outubro, está sempre sujeita às regras
previstas no CIVA.
Nota 10 (quadro) – A emissão de fatura relativa a operação efetuada por sujeito passivo nacional que se localize fora da União
Europeia está sujeita às regras do Código do IVA, independentemente do recurso ao reverse charge e/ou a autofacturação.
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Fonte: Anexo apresentado na última página do Oficio Circulado n.º 30211 de 2019-03-15.
De acordo com o n.º 5 do artigo 36.º do CIVA, as faturas devem ser datadas, numeradas
sequencialmente e conter obrigatoriamente, de forma cumulativa, os elementos
previstos nas alíneas a) a f) do já referido n.º 5 do artigo 36.º.
O artigo 9.º do Decreto-Lei n.º 28/2019 estabelece que o disposto no mesmo não
prejudica a obrigação de emissão de recibo, nos termos do Código do IRS, adiante
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Esse modelo oficial foi aprovado pela Portaria n.º 338/2015, de 08 de agosto de 2015,
estando os mesmos disponíveis no Portal da AT.
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Quando se trata de uma devolução, tem que ser emitida uma nota de devolução.
Não se tratando de uma devolução entendemos que sim, pois não é permitido aos
sujeitos passivos a emissão e entrega de documentos de natureza diferente de fatura
para titular a transmissão de bens ou prestação de serviços aos respetivos adquirentes
ou destinatários, nos temos do n.º 19 do artigo 29.º do CIVA.
No mesmo sentido “caminha” a primeira parte da alínea b) do n.º 1 do artigo 29.º, pelo
que, tendo por base a redação do n.º 7 do artigo 29.º em conjugação com o n.º 6 do
artigo 36.º, ambos do CIVA, entendemos que a emissão de nota de débito enquanto
documento retificativo de fatura é o procedimento correto.
O fornecedor poderá regularizar o IVA a seu favor até ao final do período de imposto
seguinte àquele em que se verificaram as circunstâncias da redução total ou parcial do
valor tributável, desde que o mesmo tenha prova de que o adquirente tomou
conhecimento da regularização ou de que foi reembolsado do imposto, por força do n.º
5 do artigo 78.º.
Nos termos do artigo 78º, n.º 5, do CIVA, “Quando o valor tributável de uma operação
ou o respetivo imposto sofrerem retificação para menos, a regularização a favor do
sujeito passivo só pode ser efetuada quando este tiver na sua posse prova de que o
adquirente tomou conhecimento da retificação ou de que foi reembolsado do imposto,
sem o que se considera indevida a respetiva dedução.”
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“Ter na sua posse não significa outra coisa senão ter o documento devidamente
arquivado na contabilidade, junto com as respetivas faturas, ou notas de crédito.”3
Nesta senda, torna-se indispensável que o adquirente responda ao email, para que, desta
forma, dúvidas não restem de que este tomou conhecimento do teor do mesmo.
2
Conforme Acórdão do Tribunal Central Administrativo do Sul, processo n.º 08034/14, de 19.03.2015, Relator:
Catarina Almeida e Sousa.
3
Conforme Acórdão do Tribunal Central Administrativo do Norte, processo n.º 04894/04-Viseu, de 12.11.2015,
Relator: Mário Rebelo.
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Atual artigo 78º do CIVA.
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Exemplo 1:
Fatura:
Nota de crédito:
Hipótese 1:
Hipótese 2:
Anexo campo 40 – indicar Art. 78.º, n.º 2 e a data da nota de crédito (10/2019).
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Exemplo 2:
Hipótese 1
Fornecedor emite nota de crédito em 08/2019 por erro verificado em fatura datada de
10/2017.
Também aqui tem que se verificar igualmente o disposto no n.º 5 do artigo 78.º do
CIVA, doutro modo não é permitida a regularização no campo 40.
Hipótese 2
Fornecedor emite fatura ou nota de débito, ou o cliente emite nota de crédito, com data
de 08/2019, pelo facto de na fatura datada de 10/2017 ter sido liquidado imposto a
menos.
Neste caso, a regularização a favor do Estado é obrigatória e deve ser efetuada, sem
qualquer penalidade, até ao final do período de imposto seguinte àquele a que respeita
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a fatura a retificar. Assim a retificação terá que ser efetuada na declaração periódica de
IVA do período de 10 ou 11/2017.
Como, apenas em 08/2019 é que foi emitido documento retificativo de fatura, tem que
ser enviada declaração de substituição referente a 10 ou 11 de 2017 regularizando no
campo 41 o respetivo IVA a favor do estado.
Anexo campo 41 – indicar Art. 78.º, n.º 3 e a data da fatura que foi retificada, ou seja
10/2017.
Tal como acontece no caso do n.º 2 do artigo 78.º, também aqui, se aquando da emissão
do documento retificativo de fatura ainda não tiver sido enviada a declaração periódica
de IVA, deve na mesma ser liquidado ou deduzido IVA pelo respetivo valor líquido.
O Artigo 78.º n.º 3 pode ser utilizado tanto no campo 40 como no campo 41
Sobre os prazos de dedução e/ou regularização ver Processo nº 15042 por Despacho de
06/11/2019.
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15. Nos termos do n.º 2 do artigo 98.º do CIVA, o direito à dedução pode ser exercido,
sem prejuízo de disposições especiais, até ao decurso de quatro anos após o
nascimento do direito.
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O imposto tem que ser regularizado a favor do estado no campo 41 até ao fim do
período de imposto seguinte ao da receção do documento retificativo.
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A regularização a favor do estado é obrigatória e tem que ser efetuada no prazo máximo
de quatro anos, através do envio de uma declaração de substituição referente ao
período que se pretende corrigir.
A regularização a favor da empresa tem, igualmente, que ser feita mediante o envio de
uma declaração de substituição referente ao período que se pretende corrigir.
Nestes casos deve o valor da transmissão de bens ser declarado pelo seu valor líquido
quer na DP IVA quer no respetivo anexo recapitulativo.
Nestes casos deverá ser submetida uma DP IVA e correspondente anexo recapitulativo
de Substituição contemplando a alteração ocorrida.
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Sobre este assunto aconselhamos a leitura das páginas 132 e seguintes do manual
Coleção Essencial IVA ano de 2020 da autoria do colega Jorge Carrapiço.
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Sobre este assunto aconselhamos a leitura das páginas 178 e seguintes do manual
Coleção Essencial IVA ano de 2020 da autoria do colega Jorge Carrapiço.
A fatura tem que ser emitida na data do recebimento do adiantamento, devendo o IVA
ser liquidado, se o mesmo estiver relacionado com uma operação, por exemplo uma
venda de bens, que seja sujeita e não isenta de IVA.
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Assim, após a liquidação inicial do IVA referente ao adiantamento, deve ser emitida
uma fatura no prazo máximo de 5 dias uteis a contar da transmissão de bens ou da
prestação de serviços, com a liquidação do IVA constante dessa fatura deduzido do
montante já liquidado no documento que titulou o adiantamento.
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Desde já, refira-se que o artigo 337.º da Lei n.º 2/2020, de 31 de março (Lei do
Orçamento do Estado para 2020) alterou artigos 78.º-A, 78.º-B e 78.º-D do CIVA.
Note-se que a Lei do Orçamento de Estado para 2020, adiante designada por OE 2020,
entrou em vigor no passado dia 1 de abril não tendo nesta matéria qualquer disposição
transitória.
De acordo com o artigo 2.º da Lei Geral Tributaria, adiante designada por LGT, as
normas aí contidas devem ser “lidas” antes das normas referidas nas b), c) e d) do
mesmo artigo. Isto é, só se a LGT não der resposta ao caso em análise se poderá recorrer
a outras normas com por exemplo o Código de Procedimento e de Processo Tributário5
e os diversos Códigos Fiscais.6
A aplicação da Lei Tributária no tempo está regulada no artigo 12.º da LGT, pelo que
entendemos que as alterações provocadas pelo OE 2020 são de aplicação imediata, na
medida em que, estamos perante normas relativas a Procedimento e Processo
Tributário sem prejuízo das garantias, direitos e interesses legítimos anteriormente
constituídos dos contribuintes.
A própria AT, como é habitual, emitiu o Ofício Circulado n.º 30219, de 02 de abril de
2020, com o objetivo de clarificar as alterações introduzidas ao CIVA pela Lei do OE
2020, com destaque para os pontos 4, 5 e 6 que tratam especificamente desta temática.
5
Relativamente ao CPPT, a supremacia da LGT é expressamente reconhecida no seu artigo 1.º, em que se estabelece
que este código se aplica sem prejuízo do disposto na LGT.
6
Conforme “Lei Geral Tributaria Anotada e Comentada”, Encontro de escrita editora, 4ª Edição 2012, de Diogo Leite
Campos, Benjamim Silva Rodrigues e Jorge Lopes de Sousa, páginas 64 e 65.
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www.citius.mj.pt/portal/execuções/listapublicaexecuções.aspx
De acordo com o número 7 do Artigo 78.º-A os sujeitos passivos não podem deduzir o
IVA referentes a créditos de cobrança duvidosa sempre que ocorra a transmissão da
titularidade dos mesmos.
Note-se que a cedência de créditos é uma operação não sujeita a IVA, sendo que, no
caso de ter havido regularização do imposto antes da mesma, a regularização do IVA
a favor do estado torna-se obrigatória. ( ver numero 8 do Artigo 78.º-A ).
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desde que estejam evidenciados como tal na contabilidade sem prejuízo no disposto no
artigo 78.º-D.
Este artigo 78.º-D elenca qual a documentação de suporte exigida para que seja
possível recuperar o imposto, sendo que o mesmo foi alterado pela Lei do OE 2020,
com implicações, como veremos mais à frente, na nossa atividade.
Para além de estarem devidamente acomodados numa conta específica, para os créditos
serem considerados de cobrança duvidosa torna-se obrigatório que os mesmos
apresentem um risco incobrabilidade devidamente justificado nos termos do n.º 2 do já
referido artigo 78.º-A, o que se verifica quando, de forma cumulativa, o crédito esteja
em mora há mais de 12 meses desde a data do respetivo vencimento e existam
provas objetivas de imparidade e de terem sido efetuadas diligências para o seu
recebimento.
A mora há mais de 12 meses foi introduzida pelo OE 2020, pelo que até 31/03/2020 e
desde 01/01/2013 esse prazo era de 24 meses. Assim os créditos que a 01/04/2020, data
da entrada em vigor do OE 2020, se encontravam em mora há menos de 24 meses, mas
há mais de 12 contados desde a data do respetivo vencimento, podem ser considerados
como sendo de cobrança duvidosa desde que obviamente cumpram os demais
requisitos.
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Tendo em conta que o disposto no n.º 1 do artigo 78.º-B, o qual não foi alterado,
estabelece um prazo máximo de 6 meses, contados desde a data em que os créditos
reúnam todas as condições para que sejam considerados de cobrança duvidosa, a data
limite para a apresentação do pedido de autorização prévia, procedimento que mais à
frente será explicado, inicia-se a 01/04/2020, nos casos em que nessa data a mora era
inferior a 24 meses mas superior a 12 meses.
Na contagem dos prazos o que está sempre em causa é a data do vencimento do crédito
o qual ocorre na data prevista no contrato celebrado entre o sujeito passivo e o
adquirente.
De salientar, que, no caso de créditos de valor inferior ou igual a 750,00 €, com IVA
incluído, em que o devedor seja um particular ou sujeito passivo que realize
exclusivamente operações isentas que não confiram direito à dedução, considera-
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Notificação, judicial ou extrajudicial, através da qual o credor faz conhecer ao devedor a exigência de cumprimento
da obrigação, sob pena de ficar constituído em mora.
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se de cobrança duvidosa os créditos que estejam em mora, sempre desde a data do seu
respetivo vencimento, há mais de 6 meses e evidenciados como tal na contabilidade,
não sendo relevante a existência de provas objetivas de imparidade nem as diligências
efetuadas para o seu recebimento. Este tipo de situações, previstas na alínea b) do n.º
2 do artigo 78.º-A, são frequentes no caso de dívidas de particulares a empresas que
prestem serviços de natureza doméstica, como sejam por exemplo, a luz, água,
telecomunicações entre outros.
Assim, com a exceção dos casos previstos na alínea b) referida acima, um crédito para
ser considerado de cobrança duvidosa tem que reunir 4 condições cumulativas;
Dos 4 pontos acima referidos aquele que poderá não ser linear, até porque comporta
alguma subjetividade no seu conceito, é inequivocamente o ponto 3.
Como veremos mais à frente é imprescindível saber determinar com clareza qual a data
em que ocorre o facto relevante, atente-se na redação do n.º 4 do artigo 78.º-A do
CIVA.
A nosso ver, o facto relevante “conhece a luz do dia” no primeiro momento em que
as quatro condições se verifiquem, ou seja, o crédito tem que estar numa conta criada
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
“Sempre que, nas normas fiscais, se empreguem termos próprios de outros ramos de
direito, devem os mesmos ser interpretados no mesmo sentido daquele que aí têm,
salvo se outro decorrer diretamente da lei “
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
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O artigo 9.º do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho, diploma que aprovou o SNC,
divide as entidades obrigadas a aplicar o mesmo em 4 categorias:
I. Microentidades;
Esta “graduação contabilística” define os limites que devem ser tidos em conta para
uma correta aplicação da normalização contabilística.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
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financeiros que não sejam mensurados ao justo valor através de resultados, como é o
caso dos saldos de clientes.
A NCRF 27, por força do parágrafo 25, considera existir uma evidência objetiva de
que o ativo financeiro está em imparidade, sempre que se verifique qualquer um dos
factos previstos nas alíneas a) a f) do já referido parágrafo 25, a saber:
A presença de qualquer uma das situações descritas acima, constituem para a entidade
e por consequência para o Contabilista Certificado fortes indícios de imparidade.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
A mensuração pode ser efetuada pelo custo amortizado ou pelo custo deduzido de
qualquer perda por imparidade, nos termos das alíneas a) e b) do paragrafo 28
respetivamente.
No caso de uma transação onde fique acordado que o pagamento será efetuado ao longo
de 2 anos, os valores em divida podem ser mensurados de forma diferente em função
do diferimento dos pagamentos, no caso de se utilizar o custo amortizado ao contrário
do que acontece no método do custo.
A NCRF 27 permite que as entidades utilizem qualquer um dos métodos, devendo ter
em linha de conta para essa opção a materialidade e relevância da operação em causa.
A mensuração dos clientes, entre outros ativos financeiros, deve ser efetuada ao custo
menos perdas por imparidade nos termos da alínea a) do sub paragrafo 17.6 da
norma.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
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Depois de o crédito cumprir todos os requisitos para que seja considerado de cobrança
duvidosa a dedução do imposto é efetuada mediante pedido de autorização prévia a
apresentar, por via eletrónica, no prazo de seis meses a contar do facto relevante, nos
termos do n.º 1 do artigo 78.º-B.
Nunca é demais lembrar que o facto relevante, de acordo com o nosso entendimento,
ocorre no primeiro momento em que as quatro condições previstas no n.º 1 e na alínea
a) do n.º 2 do artigo 78.º-A se “encontrem”.
1 – Ano do pedido;
2- Número de pedido;
4 – Listagem das faturas em causa, com indicação do número, data de emissão, prazo
do vencimento do crédito, período de relevação do imposto, base tributável e valor do
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O PAP não é necessário no caso de créditos sobre particulares ou isentos de IVA desde
que os mesmos não sejam superiores a 750,00 € com a inclusão do IVA, nos termos do
n.º 3 do artigo 78.º-B.
A dedução tem que ser efetuada no prazo de dois anos a contar do 1.º dia do ano civil
seguinte, podendo a AT posteriormente controlar a sua legalidade.
De acordo com a parte final do n.º 2 do artigo 78.º-D é obrigatório a certificação por
ROC ou por CC independente até ao termo do prazo estabelecido para a entrega da
declaração periódica ou até à data da sua entrega quando esta ocorra fora de prazo.
Neste caso, pressupondo que o sujeito passivo estava enquadrado no regime mensal do
IVA o prazo da entrega da declaração periódica seria 10 de março de 2022.
Sobre este assunto mais à frente iremos abordar com mais pormenor.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Vejamos agora um outro exemplo (exemplo 4), mas sendo o crédito detido sobre
uma empresa, ou seja, sobre um sujeito passivo de IVA;
Assim a 01/04/2020 a mora seria de 12 meses e 15 dias, o que de acordo com a nova
redação da alínea a) do n.º 2 do artigo 78.º-A cumpre o requisito da mora;
Vamos supor que os outros 3 requisitos também estariam cumpridos a 01/04/2020, pelo
que será nessa data que o crédito se pode considerar como sendo de cobrança duvidosa,
o mesmo é dizer que o facto relevante ocorreu a 01/04/2020;
O sujeito passivo para poder deduzir o imposto terá que até ao dia 01/10/2020,
apresentar o PAP.
A AT no prazo máximo de 4 meses terá que apreciar o pedido findo o qual se considera
indeferido tacitamente. Este novo prazo de 4 meses foi dado pela redação da Lei do
OE 2020 pelo que o mesmo entrou em vigor a 01/04/2020.
Em sentido inverso, nos créditos de valor inferior a 150.000,00 € por fatura e com
IVA incluído, decorrido o prazo de, agora 4 meses, na ausência de resposta da AT ao
PAP, considera-se o mesmo deferido. A AT tem a faculdade de posteriormente
controlar a legalidade da operação.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4
Momento em que o crédito Data limite para Foi obtida resposta até
em mora há mais de 12 apresentação do pedido de 4 meses depois do
meses é qualificado como autorização prévia pedido de autorização
sendo de cobrança duvidosa prévia.
Sim Não
Dedução do IVA até ao Indeferimento expresso Dedução IVA até ao final do Indeferimento tácito
final do período de Não é permitida a dedução período de imposto seguinte
àquele em que se verificou o Não é permitida a dedução
imposto seguinte àquele do IVA.
deferimento tácito (4 Meses do IVA.
em que se verificou o
deferimento expresso. após pedido de autorização
prévia). A AT pode controlar
posteriormente a legalidade da
pretensão do SP
Fonte: Adaptado de Sarmento, Joaquim Miranda, “Manual Teórico-Prático do IVA”, Almedina, 2019, pagina 142.
Esta regularização, nos termos o n.º 1 do artigo 78.º-C do CIVA, deve ser feita na
declaração periódica relativa ao período de imposto em que o aquirente foi
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Até ao prazo previsto no paragrafo acima, e caso o adquirente já tenha pago a (s)
fatura(s) indicada(s) pelo seu fornecedor no PAP, deve o mesmo identificar, por via
eletrónica, no Portal da AT a relação das mesmas devendo fazer prova documental
disso mesmo. Nestes casos a AT notifica o fornecedor sempre por via eletrónica do
indeferimento expresso do PAP.
Nas situações em que o adquirente não efetue a regularização prevista no n.º 1 do artigo
78.º-C ou não tenha comunicado à AT o pagamento das faturas em causa, é emitida
liquidação adicional nos termos do artigo 87.º do CIVA relativamente ao valor do
imposto não regularizado por parte do adquirente. Em simultâneo a AT notifica o
sujeito passivo que efetuou o PAP do deferimento da mesma.
Tal como acontece nas regularizações do artigo 78.º, também aqui a regularização a
favor do sujeito passivo deve ser efetuada na respetiva declaração periódica, até ao
final do período seguinte àquele em que se verificar o deferimento do PAP por parte
da AT.
Este artigo remete-nos para os artigos 45.º e 46.º da LGT os quais definem as regras da
caducidade do direito à liquidação.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Regra geral o prazo de caducidade é de 4 anos, este prazo conta-se, nos impostos
periódicos, a partir do termo do ano em que se verificou o facto tributário e nos
impostos de obrigação única, caso do IVA, a partir da data em que o facto
tributário ocorreu.
Exemplo 5:
Todos os créditos que possam ser considerados como sendo de cobrança duvidosa,
mesmo nos casos em que não seja obrigatório o PAP, têm que ser certificados por
Revisor Oficial de Contas, doravante designado ROC, ou por Contabilista
Certificado independente.
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Até 31/03/2020 apenas os ROC podiam efetuar essa certificação, pelo que a
possibilidade de certificação por parte do CC apenas será permitida em créditos de
cobrança duvidosa cujo facto relevante ocorreu a partir de 01/04/2020 inclusive.
Esta certificação tem que ser bastante minuciosa englobando os seguintes elementos:
Esta certificação é efetuada para cada um dos documentos e períodos a que se refere a
regularização e até à entrega do corresponde PAP, sob pena de o mesmo ser
considerado como não apresentado.
De relembrar que neste tipo de créditos a dedução tem que ser efetuada no prazo de
dois anos a contar do 1.º dia do ano civil seguinte.
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Note-se que o artigo 378.º da Lei do OE de 2021 atribui caracter interpretativo a esta
alteração.
c) Não seja detentor de capital ou partes sociais, direta ou indiretamente apurado nos
termos do n.º 6 do artigo 69.º do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Coletivas, no sujeito passivo fornecedor de bens ou prestador de serviços ou no sujeito
passivo adquirente;
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
d) Não tenha relações especiais com o sujeito passivo fornecedor de bens ou prestador
de serviços, com o sujeito passivo adquirente ou com o respetivo contabilista
certificado, nos termos do n.º 4 do artigo 63.º do Código do Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Coletivas.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Fonte: Adaptado de Sarmento, Joaquim Miranda, “Manual Teórico-Prático do IVA”, Almedina, 2019, pagina 140
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
A questão do facto relevante torna-se decisiva, ainda mais agora com a redução de 24
para 12 meses na consideração do crédito como sendo de cobrança duvidosa, pois só é
admissível considerar o crédito como incobrável sempre que o facto relevante da sua
incobrabilidade ocorra antes do facto relevante enquanto cobrança duvidosa.
Repare-se que estamos perante a comparação temporal entre dois factos relevantes, o
que define o crédito de cobrança duvidosa e o outro que define o crédito incobrável.
Como mais à frente iremos detalhar, num processo de insolvência podemos deduzir o
IVA quando a mesma for de carater limitado.
Exemplo 6:
Entretanto em 31/05/2020 este crédito reúne as outras 3 condições para ser qualificado
como de cobrança duvidosa, o mesmo é dizer que o facto relevante ocorreu a 31 de
maio de 2020.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Nestes termos uma eventual dedução do imposto apenas pode ser efetuada enquanto
crédito de cobrança duvidosa seguindo todas as regras já mencionadas neste trabalho.
Com a redução do prazo de mora de 24 para 12 meses estes tipos de situações serão
bastante mais frequentes.
8
Refira-se que em qualquer tipo de créditos incobráveis não há necessidade do pedido de autorização prévia por
força do disposto no n.º 3 do artigo 78.º-B do CIVA.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
No registo informático de execuções o processo deverá estar extinto por não terem sido
encontrados bens suscetíveis de serem penhoráveis.
Note-se que nem sempre o registo informático das execuções está atualizado, sendo
que a própria lei, no artigo 717.º n.º 4 do Código do Processo Civil, refere a expressão
“deve manter atualizado “.
Este registo deve ser efetuado pelo agente de execução do processo quando se verificar
a inexistência de bens ou direitos suscetíveis de penhora que satisfaçam o crédito.
Nos termos do n.º 3.º do artigo 78.º-D o ROC ou o Contabilista Certificado que terá
que ser independente têm que verificar se estão reunidos os requisitos legais para a
dedução do imposto.
Nestes casos o CC deve solicitar ao agente de execução que se digne a emitir uma
certidão comprovativa de que o crédito foi julgado extinto e essa extinção consta do
registo informático de execuções.
A dedução do IVA pode ser efetuada no prazo de 2 anos a contar do 1.º dia do ano
civil seguinte, reservando-se à AT a faculdade de controlar posteriormente a
legalidade da pretensão do sujeito passivo. (parte final do artigo 78.º-B n.º 3).
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
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A atual redação desta norma foi dada pelo artigo 2.º da lei n.º 16/2012, de 20 de abril
de 2012, sendo que anteriormente, era imposta a necessidade de abertura do incidente
de qualificação na sentença, independentemente, de o juiz dispor ou não de elementos
que o justificassem.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Nos termos do artigo 232.º do CIRE, caso o administrador da insolvência verifique que
a massa insolvente não é suficiente para satisfazer as custas do processo e restantes
dívidas, deve dar conhecimento da situação ao juiz.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Esta situação, prevista no n.º 5 do artigo 232.º do CIRE, que determina a modalidade
limitada do incidente de qualificação, não se verificava no momento da sentença de
declaração da insolvência, na medida em que o juiz, não dispunha dos elementos
necessários para tal.
Por esse facto o juiz na sentença da declaração de insolvência apenas poderia ter aberto
o incidente de qualificação como pleno, porém, após analisada a situação prevista no
artigo 232.º e caso o incidente não se encontrar terminado o mesmo passará a seguir a
forma limitada.
De acordo com o que está consignado no n.º 4 do artigo 234.º do CIRE, nos casos de
encerramento do processo por insuficiência da massa insolvente, a liquidação da
sociedade prossegue nos termos do regime jurídico dos procedimentos administrativos
de dissolução e de liquidação de entidades comerciais, devendo o juiz comunicar o
encerramento e o património da sociedade ao serviço de registo comercial competente.
Refira-se que este regime jurídico (RJPADL) foi aprovado pelo n.º 3.º do artigo 1.º do
D. Lei n.º 76-A/2006 de 29 de março.
Exemplo 7:
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
No caso de este mesmo crédito poder ter sido considerando como sendo de cobrança
duvidosa, é preciso determinar se o facto relevante que permitiu essa consideração é
anterior a 31/01/2017, pelo que em caso afirmativo não será possível deduzir o IVA
enquanto crédito incobrável.
O CC deve verificar se os requisitos legais estão cumpridos, tendo na sua posse certidão
judicial onde conste que o processo de insolvência foi encerrado por insuficiência de
massa.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
A dedução do IVA pode ser efetuada no prazo de 2 anos a contar do 1.º dia do ano
civil seguinte, reservando-se à AT a faculdade de controlar posteriormente a
legalidade da pretensão do sujeito passivo. (parte final do artigo 78.º-B n.º 3).
O plano de insolvência está regulado nos artigos 192.º e seguintes do CIRE, podendo
o referido plano ter como objetivo ou não a recuperação da empresa.
O plano de insolvência pode prever a liquidação da massa insolvente ou pode ter como
finalidade a recuperação da empresa regulando as medidas a adotar para que se atinga
o sucesso.
O artigo 2.º da Lei n.º 16/2012, de 20 de abril aditou um novo n.º 3 ao artigo 192.º o
qual determina que o plano de insolvência que se destine a prover a recuperação do
devedor designa-se como plano de recuperação.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
2 – Plano de recuperação
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Conforme “Lições de Direito da Insolvência”, editora almedina de Catarina Serra página 316
10
Ver artigo 140.º do CIRE
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Esse relatório é apreciado pelos credores na assembleia a que se refere o artigo 156.º,
sendo deliberado pela mesma sobre o encerramento ou a manutenção da atividade do
estabelecimento ou estabelecimentos compreendidos na massa insolvente.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Essa declaração tem que ser emitida há não mais de 30 dias, atestando que a empresa
não se encontra em estado de insolvência atual, à luz dos critérios previstos no
artigo 3.º do CIRE.
Exemplo 8:
Vencimento de 3 faturas:
Fatura 1: 14/12/2016
Fatura 2: 24/03/2016
Fatura 3: 19/05/2016
Os créditos não foram considerados incobráveis, dado que o PER prevê o pagamento
integral da dívida, durante 10 anos, com carência de 2 anos e início em dezembro de
2019.
Apenas é permitida a dedução do IVA, sem entrar em linha de conta com a questão do
facto relevante, quando o PER preveja o não pagamento definitivo do crédito.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Se por ventura o PER prevê o pagamento de 50% do crédito, a dedução do IVA apenas
poderá ser de 50% do imposto.
A dedução do IVA pode ser efetuada no prazo de 2 anos a contar do 1.º dia do ano
civil seguinte, reservando-se à AT a faculdade de controlar posteriormente a
legalidade da pretensão do sujeito passivo. (parte final do artigo 78.º-B n.º 3).
d) Esta alínea foi revogada pela Lei n.º 8/2018, de 2 de março, que criou o Regime
Extrajudicial de Recuperação de Empresas, o qual revogou o Sistema de
Recuperação de Empresas por Via Extrajudicial (SIREVE),
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Os credores não subordinados são todos aqueles que não estejam previstos no artigo
48.º do CIRE.
O artigo 27.º do RERE impõe as condições para que o acordo produza efeitos fiscais,
entre os quais a eventual recuperação do IVA.
Essa declaração emitida por um ROC deve igualmente referir que em virtude do acordo
de reestruturação, a situação financeira da empresa fica mais equilibrada, por aumento
da proporção do ativo sobre o passivo, e os capitais próprios do devedor são superiores
ao capital social.
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A dedução do IVA pode ser efetuada no prazo de 2 anos a contar do 1.º dia do ano
civil seguinte, reservando-se à AT a faculdade de controlar posteriormente a
legalidade da pretensão do sujeito passivo. (parte final do artigo 78.º-B n.º 3).
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
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11
Quando exista um plano de insolvência ou um plano de recuperação que envolva um plano de pagamentos com
perdão de divida, o IVA apenas pode ser regularizado na parte perdoada.
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Quando exista um acordo Homologado com perdão de divida, o IVA apenas pode ser regularizado na parte perdoada.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
O regime de IVA de caixa, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 71/2013 de 30 de maio, como
sabemos prevê regras de exigibilidade e de dedução do imposto diferente.
Basicamente, nos termos dos artigos 2.º e 3.º o IVA é devido apenas quando se verificar
o recebimento do crédito, sendo que a dedução do imposto apenas é permitida depois
do pagamento da divida.
Contudo, no caso de após 12 meses da emissão da fatura, caso o IVA ainda não tenha
sido recebido, terá que o mesmo ser liquidado nos termos da alínea a) do n.º 3.º do
artigo 2.º do regime e IVA de caixa.
O artigo 8.º do referido regime prescreve as regras que devem ser observadas nos casos
de créditos incobráveis ou de cobrança duvidosa.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Assim resta-nos a hipótese dos créditos previstos na alínea b) do n.º 2 (créditos até 750
€ em que o devedor seja particular ou que realize exclusivamente operações isentas que
não confiram direito á dedução) e no n.º 4 do artigo 78.º-A (créditos considerados
incobráveis).
Nestes termos a regularização do IVA apenas é possível depois de o crédito ter mais
de 12 meses, o que se compreende pois, nos casos em que ainda não se tenha recebido
o crédito, o IVA tem que ser liquido no 12.º mês posterior.
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Regularização do IVA de créditos incobráveis e de cobrança duvidosa
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6- Regime Transitório
O disposto nos artigos aditados pela Lei do OE 2013 (78º-A a 78º-D) aplicam-se aos
créditos vencidos após 01/01/2013.
Até 31/12/2012 não existia regularização para créditos de cobrança duvidosa, salvo
pequenas exceções (Art. 78º, n.º 8 na redação em vigor a 31/12/2012).
De 01/01/2013 a 31/12/2014
A AT entendia (ofício circulado n.º 30161/2014, de 08/07) que apenas após o trânsito
em julgado da sentença de verificação e graduação de créditos.
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A partir de 01/01/2015
- A insolvência tendo carater pleno apenas no rateio final do qual resulte o não
pagamento definitivo do crédito;
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De referir que entre os anos de 2013 a 2021 apenas os Orçamentos do Estado de 2016,
2017 e 2019 não alteraram esta temática.
Tendo em linha de conta as constantes alterações nesta temática, apenas com uma
análise casuística e muito pormenorizada se consegue enquadrar corretamente a norma
aplicável durante o período transitório.
7- Conclusão
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Não percebemos qual o critério que teve o legislador, certamente que o terá tido, ao
impor um limite máximo, neste caso € 10.000,00 na certificação do CC nos casos de
créditos de cobrança duvidosa.
Permitir a recuperação do IVA, nas insolvências de caráter pleno, apenas após o rateio
final não faz qualquer sentido, na medida em que, a possibilidade de efetuar esse rateio
só é possível apos o encerramento da liquidação da massa insolvente.
Parece-nos correto que o texto da lei existente antes da redação dada pela Lei n.º 66-
B/2012, de 31.12 era demasiado simplista e necessitava de ajustamentos.
13
Esta era uma das muitas propostas que constava no relatório da comissão eventual, designada pela OCC, para
análise das propostas de legislação fiscal e contabilística que possam simplificar procedimentos que diminuam a
litigância entre a AT e o CC presidida pela Prof. Doutora Clotilde Celorico Palma, cujo relatório foi entregue em 30 de
junho de 2017
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Com a informação que a AT hoje possui, com os dados fornecidos pelo portal Citius
no que às insolvências diz respeito e com a publicitação na internet pela maioria dos
administradores judiciais dos elementos de um processo de insolvência, obrigar a todo
este formalismo é demasiado penalizador e frustrante para os sujeitos passivos.
Por fim gostaria de me dirigir aos colegas Contabilistas Certificados pois a nossa
intervenção nestes processos ganhou uma enorme dimensão numa dupla perspetiva, o
CC do devedor e o CC independente que terá que certificar toda a documentação
necessária assim como verificar a conformidade dos requisitos legais.
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Recordo que o Estatuto da Ordem dos Contabilistas Certificados, no n.º 7.º do artigo
69.º, permite ao CC no seu exercício das suas funções, solicitar a entidades públicas e
privadas as informações que se mostrem necessárias para o cabal desempenho das suas
funções.
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8- Bibliografia
Campos, Diogo Leite/ Rodrigues, Benjamim Silva/ de Sousa, Jorge Lopes, “Lei Geral
Tributária – Anotada e comentada”, 4ªEdição, Encontro da Escrita, 2012
Esteves, Maria José/ Amorim, Sandra Alves/ Valério, Paulo, “Código da Insolvência e
da Recuperação de Empesas – Anotado”, 4ª Edição, Vida Económica
Lima, Emanuel Vidal, “Imposto Sobre o Valor Acrescentado”, 9ª Edição, Porto Editora
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Relatório da comissão eventual, designada pela OCC, para analise das propostas de
legislação fiscal e contabilística que possam simplificar procedimentos que diminuam
a litigância entre a AT e o CC, presidida pela Prof. Doutora Clotilde Celorico Palma,
junho de 2017
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