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7.1.

Aspectos Contabilísticos Fundamentais Começamos por referir que, embora existam (talvez
mesmo mais do que deveriam) diversas divergências entre a contabilidade e a fiscalidade, daí a
frequente citação da dicotomia existente entre uma e outra, todos podemos verificar que, neste
aspecto intrínseco da especialização de exercícios, existe perfeita consonância entre a contabilidade,
isto é, o que está disposto e expresso no Sistema de Normalização Contabilística e a fiscalidade, ou
seja, o que, por sua vez, está disposto e expresso no Código do IRC.

E tanto assim é, que ambas as disposições são praticamente idênticas no seu alcance, tal como
passamos a demonstrar.

Estabelece o ponto 2 do Anexo ao Decreto-Lei n.º 158/2010 do Sistema de Normalização


Contabilística que, tendo como objectivo proporcionar informação acerca da posição financeira, do
desempenho e das alterações na posição financeira de uma entidade que seja útil a um vasto leque
de utentes na tomada de decisões económicas, devem as demonstrações financeiras ser preparadas
de acordo com o regime contabilístico do acréscimo.

Neste âmbito, o regime do acréscimo constante no ponto 2.3 do anexo ao Decreto-Lei n.º 158/2009
estabelece que uma entidade deve preparar as suas as demonstrações financeiras segundo o regime
do acréscimo, excepto a Demonstração Financeira dos Fluxos de Caixa.

Ao ser usado o regime contabilístico do acréscimo, os itens são reconhecidos como activos, passivos,
capital próprio, rendimentos e gastos, quando satisfaçam as definições e os critérios de
reconhecimento previstos na EC. Sob a óptica da Administração Fiscal, sobre esta matéria, inserto no
preâmbulo do Código do IRC, nomeadamente no seu ponto 10, transcreve o seguinte: “Dado que a
tributação incide sobre a realidade económica constituída pelo lucro, é natural que a contabilidade,
como instrumento de medida e informação dessa realidade, desempenhe um papel essencial como
suporte da determinação do lucro tributável.”

As relações entre contabilidade e fiscalidade são, no entanto, um domínio que tem sido marcado por
uma certa controvérsia e onde, por isso, são possíveis diferentes modos de conceber essas relações.

Afastadas uma separação absoluta ou uma identificação total, continua a privilegiar-se uma solução
marcada pelo realismo e que, no essencial, consiste em fazer reportar, na origem, o lucro tributável
ao resultado contabilístico ao qual se introduzem, extra contabilisticamente, as correcções – positivas
ou negativas – enunciadas na lei para tomar em consideração os objectivos e condicionalismos
próprios da fiscalidade.

Embora para concretizar a noção ampla de lucro tributável acolhida fosse possível adoptar, como
ponto de referência, o resultado apurado através da diferença entre os capitais próprios no fim e no
início do período, mantém-se a metodologia tradicional de reportar o lucro tributável ao resultado
líquido do período constante da demonstração de resultados líquidos, a que acrescem as variações
patrimoniais positivas e negativas verificadas no mesmo e não reflectidas naquele resultado.

As notas de enquadramento (publicadas através de Portaria n.º 1011/2009, de Setembro) ajudam na


interpretação da informação financeira e têm como objectivo auxiliar na interligação do código de
contas com as NCRF.

Na classe 2 – Contas a receber e a pagar estão incluídos rendimentos e gastos que devam ser
reconhecidos no próprio período, ainda que não tenham documentação vinculativa, cuja receita ou
despesa só venha a ocorrer mais tarde na conta 272 – Devedores e credores por acréscimos e os
gastos e rendimentos que devam ser reconhecidos nos períodos seguintes na conta 28 –
Diferimentos.

Nas páginas seguintes iremos, então, tentar exemplificar, não só o conteúdo de cada uma das
subcontas específicas das contas 272 – Devedores e credores por acréscimos e 28 – Diferimentos,
como o tipo de contabilização que sugerimos para que os respectivos registos evidenciem a
especificidade de cada um dos tipos de movimentos contabilísticos.
7.1.1. Devedores e Credores por Acréscimos Repare-se, na redacção inerente a estas contas,
devidamente expressas, nas notas de enquadramento, do SNC, atrás mencionado, através das
transcrições das mesmas: 272 – Devedores e credores por acréscimos “Estas contas registam a
contrapartida dos rendimentos e dos gastos que devam ser reconhecidos no próprio período, ainda
que não tenham documentação vinculativa, cuja receita ou despesa só venha a ocorrer em período
ou períodos posteriores.”

Esta conta tem o seguinte desenvolvimento: – 27.2.1 – Devedores por acréscimos de rendimentos –
27.2.2 – Credores por acréscimos de gastos 7.1.1.1. Acréscimos de Rendimentos A conta 2721 –
Devedores por acréscimos de rendimentos serve de contrapartida aos rendimentos a reconhecer no
próprio período, ainda que não tenham documentação vinculativa, cuja receita só venha a obter- -se
em período ou períodos posteriores (Notas de Enquadramento).

Esta conta é sempre debitada por contrapartida da correspondente conta de rendimentos, nunca
podendo apresentar saldos credores.

Esta conta é creditada pela recepção do documento definitivo (por débito da respectiva conta a
receber ou meios financeiros se a emissão ou a recepção do documento coincidir com o
recebimento).

Os saldos devedores da conta 2721 – Devedores por acréscimos de rendimentos cujo são inscritos no
Activo corrente na rubrica que lhe está directamente destinada – Outras contas a receber.

Uma das situações com que as entidades são mais frequentemente confrontadas é a que se prende
com os juros de depósitos a prazo, ou de aplicações financeiras, em que só no final do respectivo
período do vencimento dessas aplicações são emitidas pelas entidades bancárias (quando o são...) os
correspondentes documentos informando do valor dos juros creditados e das retenções efectuadas,
quando não simplesmente do respectivo valor líquido.

7.1.1.2. Acréscimos de Gastos

A conta 2722 – Acréscimos de gastos serve de contrapartida aos gastos a reconhecer no próprio
período, ainda que não tenham documentação vinculativa, cuja receita só venha a obter-se em
período ou períodos posteriores (Notas de Enquadramento).

Esta conta é sempre creditada por contrapartida do débito a efectuar às contas de gastos que há que
reconhecer no próprio período, apesar da respectiva documentação pertencer ao período seguinte,
não podendo, pois, apresentar saldo devedor.

Inversamente ao que sucede com a conta 2721 – Devedores por acréscimos de rendimentos, cujos
saldos devedores são inscritos no Activo corrente na rubrica de Outras contas a receber, os saldos
credores da conta 2722 – Credores por acréscimos de gastos, são inscritos no Passivo corrente –
Outras contas a pagar.

7. Acréscimos e Diferimentos

No que toca a outros acréscimos de gastos, devemos examinar atenta e cuidadosamente a


documentação referente às primeiras semanas do período seguinte, dado que surgem sempre
facturas ou documentos que se referem a gastos do período anterior, como é o caso, nomeadamente,
dos relativos a consumo de água, electricidade, chamadas telefónicas, etc.

Vamos, então, partir do princípio que surgem documentos referentes a este tipo de gastos, no início
do período seguinte, gastos estes que se referem, obviamente, ao período anterior.

O lançamento a efectuar no próprio período será o seguinte: – 62 – Fornecimentos e serviços


externos – 62.4 – Energia e fluidos – 62.4.1 – Electricidade – 62.4.3 – Água – 62.6 – Serviços diversos –
62.6.2 – Comunicação – a 27.2 – Devedores e credores por acréscimos – a 27.2.2 – Credores por
acréscimos de gastos – a 27.2.2.9 – Outros acréscimos de gastos

Acrescimos e diferientos

https://www.fep.up.pt/disciplinas/lec110/Ficheiros/Cap%20I%20-%20V3.pdf

Uma despesa será reconhecida como custo no período em que a correspondente despesa é usada
para produzir proveitos (caso das mercadorias vendidas) ou é consumida (caso da energia,
combustíveis, trabalho do pessoal, etc.);
O princípio contabilístico da especialização (ou do acréscimo) refere que os custos (tais como os
proveitos) devem ser reconhecidos no período em que são incorridos (obtidos).
Implícito neste princípio está a ideia do “matching” entre custos e proveitos: devem contabilizar-se
como custos do período as despesas que foram estritamente necessárias para a obtenção dos
proveitos obtidos
Por vezes o custo é registado sem que tenha ocorrido a correspondente despesa

https://pt.linkedin.com/pulse/acr%C3%A9scimos-e-diferimentos-rui-teixeira

Acrescimos e diferimentos do exercício

No período seguinte e nos meses correspondentes às datas da facturação entretanto recebida,


efectua-se, então, por cada um dos respectivos fornecedores, o seguinte tipo de lançamento: – 27.2 –
Devedores e credores por acréscimos – 27.2.2 – Credores por acréscimos de gastos – 27.2.2.9 –
Outros acréscimos de gastos – 24 – Estado e outros entes públicos – 24.3 – IVA – 24.3.2 – IVA –
Dedutível – 24.3.2.3 – Outros bens e serviços – a 22 – Fornecedores – a 22.1 – Fornecedores c/c – a
22.1.1. Fornecedores gerais – a 22.1.1.x – Entidade “A”

Pensamos ser óbvio que o tipo de lançamento que atrás preconizamos é do tipo abrangente, que
acaba por ser exemplificativo de muitas e variadas situações, nomeada e designadamente as que se
referem a material de escritório adquirido nos últimos dias do ano, as senhas de gasolina adquiridas e
eventualmente distribuí- das mas das quais ainda não existe o devido comprovante do consumo, as
peças sobressalentes adquiridas como reserva para uma eventual e urgente reparação de um bem do
equipamento, etc.

7.1.2. Diferimentos

A conta 28 – Diferimentos “compreende os gastos e os rendimentos que devam ser reconhecidos nos
períodos seguintes.”

Tal como a conta 272 – Devedores e credores por acréscimos, também esta conta surge pela
necessidade de respeitar o pressuposto subjacente do acréscimo.

Esta conta tem o seguinte desenvolvimento: – 28.1 – Gastos a reconhecer – 28.2 – Rendimentos a
reconhecer

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