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Portugal
Tax Alert
Alterações ao regime de Preços de
Transferência
30 de novembro de 2021
Sabia que…
Obrigações de documentação
De acordo com a portaria n.º 268/2021, de 26 de novembro (Portaria de PT) são criados dois modelos de
documentação distintos: o standard e o simplificado.
O modelo standard inclui um dossier principal e um dossier específico, que devem ser entregues em conjunto,
contendo cada um deles um conjunto de elementos especificados em detalhe em anexos próprios na Portaria de PT.
O dossier principal deverá conter informação relativa ao Grupo, nomeadamente a descrição dos seguintes elementos:
estrutura organizacional, jurídica e operacional, atividade, intangíveis, financiamento, política de preços de
transferência adotada e outra informação relevante.
O dossier específico centra-se na atividade do sujeito passivo, sendo que deverá incluir: descrição do negócio,
identificação e caraterização das entidades relacionadas, caraterização das operações vinculadas, aplicação da(s)
metodologia(s) de determinação do preço de transferência para cada operação e informação financeira do sujeito
passivo.
► Identificação dos comparáveis e valores ou intervalos de valores resultantes da aplicação dos métodos.
O modelo simplificado deve ainda incluir os elementos que provem a paridade de mercado das operações vinculadas
das seguintes tipologias:
► Operações vinculadas de qualquer natureza realizadas com pessoas singulares ou coletivas não residentes
submetidas a um regime fiscal claramente mais favorável;
► Transferências de negócios;
► Transferências de títulos, participações ou outros valores representativos de partes de capital não negociados
em mercados regulados de valores ou negociados em mercados regulados de paraísos fiscais;
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A nova legislação passa a prever explicitamente que a obrigação de documentação só se considera cumprida quando o
processo de documentação apresentado contenha todos os elementos relevantes respeitantes às operações
vinculadas em que o sujeito passivo tenha estado envolvido.
Ficam dispensados de apresentar esta documentação os sujeitos passivos que, no período a que respeita a obrigação,
tenham atingido um montante total anual de rendimentos inferior a 10.000.000 Euros. Ainda que ultrapassado este
limite, a referida dispensa aplicar-se-á para as operações vinculadas cujo valor no período não tenha excedido, por
contraparte, 100.000 Euros e, na sua globalidade, 500.000 Euros, considerando o respetivo valor de mercado.
As dispensas referidas no parágrafo anterior não abrangem as operações vinculadas realizadas com pessoas
singulares ou coletivas residentes fora do território português e aí submetidas a um regime fiscal claramente mais
favorável, nos termos definidos nos números 1 ou 5 do artigo 63.º-D da Lei Geral Tributária, nem quando o sujeito
passivo seja notificado para comprovar que os termos e condições praticados nas operações vinculadas estão
conformes ao princípio de plena concorrência.
O modelo simplificado será aplicável aos sujeitos passivos que, não sendo acompanhados pela Unidade dos Grandes
Contribuintes (“UGC”) e não estando abrangidos pelas dispensas já mencionadas no tocante ao modelo standard,
sejam qualificados como pequena ou média empresa, nos termos estabelecidos no anexo ao Decreto-Lei n.º
372/2007, de 6 de novembro. No entanto, e conforme disposto na Portaria de PT, a elaboração do Dossier
simplificado não obsta à obrigação de fornecer à Autoridade Tributária e Aduaneira (“AT”), sempre que o sujeito seja
notificado para tal, toda a informação relevante tendo em vista a comprovação de que os termos e condições
praticados nas operações vinculadas estão conformes ao princípio de plena concorrência.
Por outro lado, a obrigação de entrega à AT do processo de documentação respeitante à política adotada
em matéria de preços de transferência incide sobre os sujeitos passivos cuja situação tributária é
acompanhada pela UGC (conforme Despacho n.º 977/2019, de 28 de janeiro, da Diretora Geral dos
Impostos), devendo ser cumprida no prazo previsto para a submissão da IES.
No que respeita à documentação relativa a acordos de partilha de custos e serviços intragrupo, continua a ser
necessário que o contribuinte disponibilize toda a informação necessária à avaliação do cumprimento do princípio de
plena concorrência.
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Assim, a Portaria de PT em anexos específicos lista alguns documentos adicionais que devem ser fornecidos à AT, e
que se revelam necessários para analisar a conformidade de tais acordos com o princípio de plena concorrência, tendo
em conta as circunstâncias particulares de cada um, nomeadamente:
► Sistemas de custeio utilizados para o cálculo dos custos globais a repartir pelos participantes, prazos de
liquidação das contribuições, métodos de pagamento e quaisquer ajustamentos devidos face aos orçamentados;
► Descrição das normas do grupo no que se refere à política de auditoria e como são aplicáveis ao acordo;
► Explicação sobre a política geral do grupo relativa à prestação centralizada de serviços aos seus membros;
► Descrição dos sistemas de custeio utilizados para a determinação da(s) base(s) de custos globais, indicando
nomeadamente os métodos de imputação dos custos indiretos;
► Indicação dos critérios de identificação dos custos dos acionistas a excluir da(s) base(s) de custos globais;
► Descrição da política de auditoria, ao nível do grupo e/ou da própria entidade no que se refere aos sistemas de
custeio utilizados, cálculo da base de custos global, aplicação coerente das chaves de repartição para um dado
serviço, e a garantia de que os serviços não são duplicados;
► Justificação, com base no princípio de plena concorrência, da margem de lucro aplicada ou do motivo pelo qual
não é aplicada uma margem de lucro a determinados serviços;
► Explicação sobre o modo como os novos serviços são integrados no sistema e como é posto termo ou
descontinuada a prestação de um serviço;
A Portaria de PT vem reforçar que os documentos que contenham informação em língua estrangeira devem ser
traduzidos para a língua portuguesa aquando da sua apresentação junto da AT, sem prejuízo de esta poder dispensar a
sua tradução por se mostrar acessível o conhecimento do conteúdo desses documentos na língua original. Esta regra é
aplicável igualmente ao novo regime dos APPTs, discutido infra neste documento.
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Declaração de responsabilidade
Pela primeira vez é instituída uma obrigação de emissão por entidades terceiras de declaração de responsabilidade,
pela informação e técnicas utilizadas em estudos técnicos por elas elaborados a pedido do sujeito passivo no âmbito da
preparação da documentação de preços de transferência.
A redação do conceito de operações passou a utilizar uma definição semelhante à do n.º 2 do artigo 63.º do CIRC no
que respeita, sobretudo, ao alcance das operações de reestruturação ou de reorganização empresariais.
► Referência expressa à alocação de rendimentos ou gastos efetuados por entidades abrangidas por regimes
fiscais diferenciados;
► Referência expressa às relações entre entidades e seus estabelecimentos estáveis (e entre estes) de forma a
abranger, de forma clara, a imputação dos encargos gerais de administração.
No caso particular da aplicação do princípio de plena concorrência às relações entre entidades e seus
estabelecimentos estáveis (e entre estes) nota-se que esta deverá ter em consideração as orientações constantes dos
relatórios da OCDE relativos à imputação de lucros a estabelecimentos estáveis, os comentários ao Modelo de
Convenção da OCDE (em conjunto com as observações de Portugal) e demais recomendações que resultam das ações
do Projeto BEPS.
Alinhamento com o artigo 63º do CIRC e as Orientações da OCDE no que respeita à determinação do método mais
apropriado a adotar na definição / avaliação dos termos e condições das operações efetuadas entre entidades
relacionadas, deixando de se preconizar uma hierarquia de métodos.
No caso de uma operação vinculada de caráter único ou singular ou em caso de inexistência ou escassez de
informações e dados comparáveis fiáveis relativos a operações similares entre entidades independentes,
nomeadamente quando têm por objeto direitos reais sobre bens imóveis, partes de capital de sociedades não cotadas,
direitos de crédito ou intangíveis, o sujeito passivo poderá optar por outro método que não o método do preço
comparável de mercado, o método do preço de revenda minorado, o método do custo majorado, o método do
fracionamento do lucro ou o método da margem líquida da operação.
Quando seja aplicado um outro método, técnica ou modelo de avaliação económica de ativos geralmente aceites, a
escolha do sujeito passivo deve estar devidamente suportada, descrevendo o método ou técnica escolhida, bem como
as razões para a sua escolha.
A Portaria de PT passa a prever expressamente que os termos e condições das operações vinculadas correspondem
aos efetivamente praticados, ainda que distintos dos contratualmente formalizados, adotando-se assim o princípio da
prevalência da substância sobre a forma.
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Princípio de plena concorrência: operações reestruturação/intangíveis
Nas operações envolvendo intangíveis, a comprovação do princípio de plena concorrência afere-se, entre outros fatores,
através da identificação dos intangíveis usados ou transferidos na operação vinculada, pela identificação das condições
contratuais bem como pela respetiva análise funcional.
Nas operações de reestruturação, a aplicação do princípio de plena concorrência dá ênfase à avaliação das relações
comerciais ou financeiras estabelecidas entre as entidades relacionadas envolvidas e às condições entre elas acordadas,
comparando-as com o que aconteceria caso as entidades envolvidas fossem independentes entre si. Dessa forma, introduz-
se a figura da exigibilidade de uma compensação pela reestruturação atribuível às entidades reestruturadas e a
comprovação de que os preços de transferência praticados nas operações vinculadas realizadas após a reestruturação são
consentâneos com o referido princípio. Uma vez mais, é dada ênfase à análise funcional antes e após a operação, às
motivações que deram origem à reestruturação, aos benefícios esperados da mesma, incluindo a existência e a relevância
de sinergias, e às opções realisticamente disponíveis para as entidades relacionadas envolvidas.
Ajustamento correlativo
Ao nível das alterações no âmbito dos ajustamentos correlativos, não tendo sido substancialmente modificada a base do
procedimento, introduzem-se alterações decorrentes do acolhimento das melhores práticas internacionais em caso de
correção de lucros entre empresas associadas, bem como do facto de a Lei n.º 120/2019, de 19 de setembro, ter
introduzido novos mecanismos para resolução de litígios em matéria fiscal entre Estados-Membros da União Europeia,
exigindo-se do contribuinte em todo o caso um maior detalhe da informação necessária à efetivação dos mesmos.
A Portaria n.º 267/2021, de 26 de novembro, vem introduzir as seguintes alterações no regime dos APPTs:
► Clarificação das fases de desenvolvimento do processo de celebração de um APPT: fase preliminar e fase da proposta;
► Clarificação quanto ao momento de apresentação da fase preliminar. O pedido de avaliação preliminar deve ser
apresentado pelo sujeito passivo, por escrito, até 3 meses antes do termo do prazo de entrega da proposta de acordo
(o qual corresponde a 6 meses antes do início do primeiro período de tributação que se pretende ver abrangido pelo
APPT);
► A proposta de acordo é subscrita pelas entidades intervenientes nas operações abrangidas, as quais não podem
reclamar ou interpor recurso do conteúdo do acordo;
► No caso de APPTs bilaterais ou multilaterais, a UGC é responsável por dar conhecimento à Direção de Serviços de
Relações Internacionais (DSRI) - enquanto autoridade competente para a instauração do procedimento amigável ao
abrigo das convenções destinadas a evitar a dupla tributação - para que esta informe a autoridade competente dos
outros Estados da apresentação da proposta de APPT. O início do processo de negociação e a celebração do acordo
dependem sempre da prévia aceitação das autoridades competentes dos outros Estados para o início do procedimento
amigável;
► Referência à possibilidade de a AT poder promover, para os efeitos de avaliação da proposta, reuniões com os
representantes das entidades envolvidas, incluindo das entidades não residentes que participam nas operações
vinculadas no âmbito de análise do APPT;
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► Possibilidade de extinção do procedimento de avaliação da proposta nos casos em que:
► Possibilidade de o acordo poder abranger períodos de tributação relativamente aos quais o sujeito passivo já
tenha entregue a declaração de rendimentos Modelo 22, desde que se verifique que os factos e circunstâncias
relevantes verificados nesses períodos sejam idênticos ou similares e, à data da celebração do acordo, não
tenham decorrido mais de 2 anos após o prazo previsto para a respetiva entrega;
► Eventuais ajustamentos ao lucro tributável devem ser efetuados pelo sujeito passivo através da respetiva
substituição da declaração de rendimentos;
► Nos casos de renovação, o processo de celebração de um APPT segue os mesmos procedimentos previstos para
a proposta inicial, estando agora clarificada a dispensa da fase de avaliação preliminar;
► Redução, em 25% da taxa de celebração do acordo, para sujeitos passivos que preencham os requisitos de
classificação como micro, pequena e média empresas.
Esta Portaria vem ainda introduzir uma alteração já acolhida anteriormente no artigo 138.º do CIRC, em concreto no
que diz respeito ao prazo máximo de vigência dos APPTs (que não pode ser superior a 4 anos).
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