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FRANCISCO CÉLIO
ALINE VIEIRA
FORTALEZA/CE
2022
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1. INTRODUÇÃO
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Como o resultado das transações correntes é dado pelo saldo da balança comercial mais
a renda líquida recebida do exterior, esse déficit também afetou o Produto Nacional Bruto,
ensejando a necessidade de equilíbrio fiscal
De início, coube à Lei n°4320, de 1964, conhecida como “Lei de Finanças Públicas”,
fixar normas de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da
União, Estados, Municípios e do Distrito Federal. A Lei n° 4320/64 notabilizou-se pela
definição dos princípios basilares do Orçamento Público (universalidade, orçamento bruto,
unidade, transparência, exclusividade). Além disso, a Lei n°4320/64 regulamentou a abertura
de créditos orçamentários, ou seja, a destinação de recursos públicos a ações de governo,
especificando condições para sua autorização, como a indicação prévia de recursos e a
existência de aprovação legislativa.
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orçamento – Comissão Mista de Orçamento – CMO e disciplinar a autorização para abertura
de créditos adicionais.
A lógica dessas Leis parte do princípio de que o Plano Plurianual procura nortear as ações do
setor público pelo prazo de quatro anos, cabendo às Leis de Diretrizes Orçamentárias as
estratégias para a elaboração do orçamento, completando-se com a própria elaboração do
orçamento anual. A Constituição exige também no seu artigo 167 que nenhum investimento,
cuja execução ultrapasse um exercício financeiro, poderá ser iniciado sem prévia inclusão no
Plano Plurianual, ou sem Lei autorizativa da inclusão.
A Lei de Responsabilidade Fiscal ampliou também o rol de atribuições das leis orçamentárias,
tornando imperativa, por exemplo:
- Elaboração do Anexo de Metas Fiscais, no qual são divulgados os valores das metas anuais
do setor público;
- Divulgação de informações sobre os resultados nominal, primário e o montante da dívida
pública;
- Inclusão de dispositivo determinado que o Poder Executivo estabeleça a programação
financeira e o cronograma de execução mensal de desembolso;
- Promoção da transparência fiscal, mediante a exigência de realização de audiências públicas
e o incentivo à participação popular na discussão das leis orçamentárias; e
- Obrigatoriedade da publicação de documentos evidenciando o desempenho das contas
públicas.
Nenhum governante poderá criar nova despesa continuada, por mais de dois anos, sem indicar
sua fonte de receita ou sem reduzir despesas já existentes desde que não comprometam o
Orçamento Anual e os Orçamentos futuros. A LRF veio consolidar, em conjunto com a Lei
4.320/64, que rege a legislação orçamentária, um enfoque mais rígido sobre as despesas de
pessoal e os limites de endividamento para a obtenção do equilíbrio orçamentário. Devemos
também observar que a imposição do Anexo de Metas Fiscais quando da elaboração da Lei de
Diretrizes Orçamentárias antecipa a previsão de receitas e despesas para o ano seguinte e os
dois períodos subsequentes.
A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) é o principal instrumento regulador das contas públicas
no Brasil, estabelecendo metas, limites e condições para gestão das Receitas e das Despesas e
obrigando os governantes a assumirem compromissos com a arrecadação e gastos públicos.
A Lei de Responsabilidade Fiscal trouxe para os entes federativos uma importante contribuição
para o ajuste fiscal, reforçando o seu potencial tributário, fazendo com que os governantes
desenvolvessem uma política tributária responsável e, cobrando, efetivamente, todos os tributos
de sua competência. Uma administração transparente e democrática deve mostrar o que fazer e
de onde vai tirar os seus recursos, para contar com a confiança da população, que pagará seus
tributos de maneira mais consciente e motivada.
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2. DESPESA PÚBLICA
De acordo com Andrade (2009) Despesa Pública compreende todo o gasto ou dispêndio da
Administração, no cumprimento das obrigações estipuladas no orçamento, como obras e
serviços, aquisição de bens, despesas com a máquina administrativa, nos termos da Constituição
ou em função de contratos e outros instrumentos na concretização de uma atividade ou
empreendimento governamental.
Segundo Kohama (2012), constituem despesa pública os gastos fixados na lei orçamentária ou
em leis especiais e destinados à execução dos serviços públicos e dos aumentos patrimoniais; à
satisfação dos compromissos da dívida pública; ou ainda à restrição ou pagamento de
importâncias recebidas a títulos de cauções, depósitos, consignações, etc.
A Contabilidade Pública, por sua vez, registra os acontecimentos, mostra o que a administração
realizou, em termos financeiros. Realiza uma retrospectiva, ao passo que o orçamento é
prospectivo. A Contabilidade é um instrumento essencial de controle financeiro e fornece ao
orçamento uma metodologia de trabalho, uma estrutura de contas e quantificação de dados
produzidos pela gestão administrativa. Portanto, pode-se concluir que a Despesa Pública
classifica-se em dois grandes grupos, a saber: Despesa Orçamentária e Despesa Extra-
Orçamentária.
A LRF abrange diversos setores e uma de suas metas primordiais é a redução dos gastos com
pessoal e estabelecer limites, com a finalidade de disciplinar à gestão dos recursos públicos,
onde a transparência das contas é obrigatoriedade da Administração Pública.
A despesa com pessoal é um assunto que vem sendo regulamentado desde 1995, a partir da Lei
Complementar nº 82 (Lei Camata) e sua reedição, a Lei Complementar nº 96, revogada pelo
artigo 75° da LRF. O artigo 18° da LRF estabelece que despesa total com pessoal consista na
soma dos gastos do ente da Federação com os servidores, relativos a mandatos eletivos, cargos,
funções ou empregos, civis, militares e de membros do Poder, com quaisquer espécies
remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens fixas, subsídios, inclusive adicionais,
gratificações, horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos
sociais e contribuições pelo ente às entidades de previdência.
O inciso IV do artigo 2º da LRF cita que a RCL consiste no somatório das receitas tributárias,
de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes
e outras receitas também correntes, consideradas algumas deduções.
O Conceito desse termo é dado pela Lei Complementar nº 101/00, art. 2º, IV, transcrito a seguir,
que exclui entre as receitas correntes as referentes a duplicidades, tais como transferências
intragovernamentais, transferências ao FUNDEF, contribuição de servidores municipais aos
institutos de previdência e assistência social, assim como as de compensação financeira entre
os institutos, que é apurada somando-se as receitas arrecadadas no mês em referência e nos 11
anteriores.
A limitação do gasto com pessoal é um dos mecanismos utilizados pela LRF para estabelecer
ao gestor público a responsabilidade com os bens públicos com o objetivo que é o equilíbrio
das contas públicas.
Para a União, os limites máximos para gastos com pessoal (50% da Receita Corrente
Líquida) são assim distribuídos:
- 2,5 % para o Poder Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas;
- 6 % para o Judiciário;
- 0,6 % para o Ministério Público da União;
- 3 % para custeio de despesas do DF e de ex-territórios;
- 37,9% para o Poder Executivo.
Nos Estados, os limites máximos para gastos com pessoal (60% da Receita Corrente
Líquida) serão:
- 3% para o Poder Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas;
- 6% para o Poder Judiciário;
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- 2% para o Ministério Público;
- 49% para as demais despesas de pessoal do Executivo.
Nos Municípios, os limites máximos para gastos com pessoal (60% da Receita Corrente
Líquida) serão:
- 6% para o Legislativo;
- 54% para o Executivo;
Conforme o § 1º, inciso II, do artigo 59 da LRF, o Poder Legislativo, diretamente ou com auxílio
dos Tribunais de Contas, e o sistema de controle interno de cada Poder e do Ministério Público,
fiscalizarão o cumprimento das normas dessa Lei Complementar,
4 A experiência internacional
A base legal das regras fiscais também varia consideravelmente. Em geral, as regras são
introduzidas por lei ou vêm inseridas na própria constituição do país, estado ou província.
Excepcionalmente se resumem a diretrizes administrativas aplicáveis à política fiscal em
vigor. Se tais regras têm a predisposição de afetar mais de um país, é comum que sejam objeto
de tratados internacionais, como o de Maastricht, na União Européia.
Embora na maioria dos casos as regras sejam introduzidas em decorrência de crises fiscais
intensas, elas são também adotadas como forma de reduzir a vulnerabilidade a novas crises.
Tudo vai depender, portanto, do contexto de inserção das regras e de sua finalidade. Os
Quadros 1 e 2 resumem algumas das regras adotadas por países da OECD – Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e por países latino-americanos.
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Sanções: Multas (em torno de 8 por cento do piso) para os governos que ficarem abaixo do
piso.
Exceção: As multas não são aplicáveis no caso de grave retração econômica.
Em última instância, a experiência dos países desenvolvidos sugere que, para fazerem face às
circunstâncias inesperadas e, com isso, perdurarem por muito tempo, as regras fiscais precisam
admitir certo grau de flexibilização. Os Estados Unidos fornecem um exemplo paradigmático:
os limites para o déficit estabelecidos em 1985 pelo Gramm-Rudman Act foram amplamente
desobedecidos e posteriormente flexibilizados. Em seu lugar, foi instituído o Budget
Enforcement Act, em 1990, que fixou limites ao gasto discricionário. Ambas as regras havia
sido instituídas para vigorar por um período de 5 anos, sem prorrogação.
A diferença desta última regra em relação à primeira é que seus limites poderiam ser
desconsiderados na ocorrência de situações de emergência. O fato é que, diante de superávits
orçamentários, os limites foram considerados desnecessários e acabaram sendo suspensos
mediante uma série de apropriações emergenciais. Um exemplo extraído de regras ainda em
vigor vem da União Européia: o Tratado de Maastricht e o Stability and Growth Pact de 1997
fixaram o limite do déficit em 3 por cento do PIB e o da dívida em 60 por cento, pressupondo
uma tendência de crescimento de 3 por cento do PIB e uma inflação prevista para 2 por cento
aproximadamente. Entretanto, ainda que os países excedam o limite estabelecido para o déficit,
há margens nas cláusulas de escape para a dispensa de quaisquer sanções financeiras.
Com isso, surgiu a partir de 2001 uma predisposição dos países participantes em substituir o
Pacto de Estabilidade e Crescimento por uma regra que seja ajustada aos ciclos econômicos.
Contudo, algumas dessas regras foram também substituídas ou revogadas, tão logo o equilíbrio
fiscal foi alcançado. A diversidade de países da União Européia deixa evidente que os motivos
da adoção de regras de diferente natureza, por um lado, e da sua eventual revogação, por outro,
dependeram de fatores econômicos, políticos e sociais inerentes a cada país.
Dois casos merecem ressalvas: a Argentina, pela iniciativa própria da maioria das províncias
em adotar regras de equilíbrio fiscal (o que a literatura chama de bottom-up, em contraste com
o padrão top-down dos demais países), e o México, pelo fato de não adotar regras fiscais
propriamente ditas, mas um sistema de incentivos para os governos subnacionais que
cooperarem com as políticas federais de ajuste fiscal.
A maioria das regras adotadas pelos países latino-americanos admite certo grau de flexibilidade,
a exemplo dos países desenvolvidos. De uma maneira geral, o princípio da flexibilização foi
inserido também por via de cláusulas de escape, com critérios de acionamento na ocorrência de
choques macroeconômicos exógenos, ou da sua iminência. São exemplos de tal providência os
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fundos de contingência, destinados à acumulação de reservas no auge da atividade econômica,
para delas se extrair em períodos de crise, e as apropriações de emergência, que nada mais são
do que gastos autorizados em circunstâncias excepcionais.
Outra cláusula de escape comum nos dois grupos de países é a chamada “regra de ouro”, através
da qual os governos se comprometem a manter apenas o equilíbrio orçamentário corrente, o
que gera a possibilidade de gastos com investimentos em obras de infra-estrutura. Ademais,
alguns países tiveram o cuidado de estabelecer um critério de convergência. Na Argentina, por
exemplo, foi instituído um programa de ajuste inicial de médio prazo, com a divulgação
antecipada de metas para diversos indicadores fiscais (equilíbrio geral, equilíbrio corrente, etc).
O programa explicitava medidas aplicáveis a desvios em relação às metas na eventualidade de
crises fiscais e choques econômicos.
Qualquer que seja o caso, o objetivo da flexibilidade é acomodar o resultado fiscal a choques
externos ou flutuações cíclicas na atividade econômica. Conquanto se torne quase impossível
especificar de antemão todas as contingências passíveis de vir à tona, a experiência
internacional instiga a utilização de regras facilmente ajustáveis aos ciclos da economia, por
oferecem maior efetividade na garantia de equilíbrio fiscal, face à ação de circunstâncias
inesperadas ou de fatores inerentes à própria situação política, econômica ou social dos países
que a adotarem.
A LRF é bastante detalhada em termos de conteúdo, especificando não apenas a natureza das
políticas fiscais a serem adotadas pelos governos, mas também os procedimentos operacionais
necessários à garantia do cumprimento da regra, além de padrões de transparência e penalidades
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financeiras. Cada nível de governo dispõe de um limite uniforme para a razão dívida-receita, o
que implica num ajuste fiscal a ser executado num período especificado de exercícios
financeiros. A LRF impõe limites adicionais ao gasto com a folha de pagamento, com o fito de
conter o crescimento de um dos principais componentes da despesa pública. Os estados estão
obrigados a incluir na sua Lei de Diretrizes Orçamentárias um anexo de metas de resultado
primário, não penas para o exercício corrente, mas também para os dois anos subseqüentes.
Uma importante inovação da LRF foi o estabelecimento de tetos para as dívidas dos estados.
Os tetos são fixados como proporção da receita corrente de cada unidade federativa. O objetivo
é reduzir a dívida pública para no máximo 40 por cento do PIB, num período de 15 anos. O
mais importante é que cada governo subnacional pode adotar um ritmo diferente de redução da
dívida, a depender de quanto representava a dívida em proporção de suas receitas em dezembro
de 2001.
Os excessos em relação ao teto devem ser eliminados no prazo de um ano, caso contrário haverá
interrupção no fluxo das transferências discricionárias oriundas do governo federal, além de
outras sanções como a negação de garantias de crédito para os governos faltosos. No caso de
séria instabilidade econômica ou mudança drástica na política monetária, tais limites podem ser
alterados pelo Senado Federal. A redução do déficit como proporção da receita também é
estabelecida por etapas, com a fixação de metas anuais de superávit primário na lei de diretrizes
orçamentárias dos estados (Art. 4o, §1o).
Por tudo isso, a Lei de Responsabilidade Fiscal veio a ser um dos principais mecanismos
utilizados pelo governo federal para assegurar a manutenção do ajuste estrutural levado a cabo
por intermédio de medidas anteriores, que incluíram a privatização de bancos estaduais e os
acordos de reestruturação e ajuste fiscal firmados com os estados. Uma simples observação do
desempenho fiscal dos governos estaduais mostra que os estados brasileiros passaram, em
média, a produzir resultados primários positivos a partir de 2000, em percentual de sua receita
total, conforme se percebe claramente no Gráfico 1.
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Gráfico 1 Média do resultado primário dos estados (1993-2004)
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