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Comarca de Porto Alegre

1º Juizado Especial da Fazenda Pública


Rua Manoelito de Ornellas, 50, 17º andar, sala 1703
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Processo nº: 001/3.17.0001666-6 (CNJ:.0078550-54.2017.8.21.0001)


Natureza: Declaratória
Autor: Denise da Silva Oyarzabal
Helton Affonso de Oliveira
Réu: Município de Porto Alegre
Juiz Prolator: Juíza de Direito - Dra. Ana Beatriz Rosito de Almeida
Data: 16/06/2020

Vistos, etc.

Em breve síntese, uma vez que dispensado o relatório


com fulcro no art. 38 da Lei 9099/95, aplicada subsidiariamente à Lei
12.153/09, trata-se de ação ajuizada com o fito de ver o réu condenado
no pagamento de resíduo na remuneração da parte autora, servidora
pública municipal, quando da conversão de Cruzeiro Real para URV.

Da Prescrição

A jurisprudência é pacífica no sentido de que a


prescrição, em casos como o dos autos, não atinge o fundo de direito,
mas apenas as parcelas vencidas há mais de cinco anos quando do

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ajuizamento da ação:
ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO DO ART. 1º DO
DECRETO N. 20.910/1932. DIFERENÇAS
SALARIAIS. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DO DIREITO.
NÃO OCORRÊNCIA. ENUNCIADO N. 85 DA SÚMULA
DO STJ. I - Não se opera a prescrição do fundo de
direito nos casos em que se busca o pagamento
de diferenças salariais decorrentes da omissão da
Administração em converter corretamente
cruzeiros reais para URV, mas tão somente das
parcelas anteriores ao quinquênio que precedeu à
propositura da ação, porquanto fica caracterizada
relação de trato sucessivo, que se renova mês a
mês, nos termos do enunciado n. 85 da Súmula
desta Corte. II - Agravo interno improvido. (AgInt
no REsp 1600278/RJ, Rel. Ministro FRANCISCO
FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em
09/03/2017, DJe 16/03/2017)

No mérito

No laudo pericial acostado aos autos, a perita do juízo


atestou o segue:
“No Município a conversão dos vencimentos dos
servidores em URV não ocorreu em 1º de março
de 1994, mas sim em abril de 1994, e também
não foi apurada pela média prevista da Lei nº
8.880/94, nem qualquer outro tipo de média. O
critério adotado foi da conversão do vencimento
em cruzeiros reais pelo valor da URV em
29/04/1994.

Antes da conversão e através do Decreto nº


11.005/94, publicado em 26/05/1994, o Município
fixou reajuste salarial à razão de 115,74% no mês
de março de 1994 a incidir sobre o vencimento do
mês de fevereiro expresso em cruzeiros reais e,

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para o mês de abril um reajuste de 25,74%
aplicado sobre o vencimento do mês de março,
este por meio da Lei nº 7.428/94, de 12 de maio
de 1994.

Estes reajustes foram aplicados pelo Município na


folha de pagamento dos meses subsequentes ao
da competência em face da data de publicação
dos referidos dispositivos legais, porém,
calculados retroativamente. Assim, o pagamento
do reajuste fixado para o mês de março ocorreu
no mês de abril e o fixado para a competência de
abril foi pago em maio, ambos como complemento
conforme evidenciam as Fichas Financeiras do
Paradigma instruídas nos autos.

O vencimento básico fixado pelo Município de


Porto Alegre em URV para o Padrão M5 /
Referência D foi de 435,63 URVs. O critério
adotado para a conversão foi o vencimento do
mês de abril expresso em Cruzeiros Reais dividido
pelo valor da URV do dia 29/04/1994, nos termos
da Lei nº 7.428/94. A conversão foi realizada após
o reajuste fixado de 25,74% para o mês de abril.

Aplicados os reajustes fixados pela legislação


Municipal, o montante do vencimento do servidor
relativo à competência do mês de março/94 foi de
CR$ 451.313,70, o correspondente a 484,74 URVs,
superior ao valor por ele recebido em fevereiro/94
e também superior ao da média apurada nos
termos da Lei nº 8.880/94, satisfazendo assim o
estabelecido pelo § 2º do artigo 22, eis que não
houve prejuízo ao servidor.

Essa assertiva permite afirmar que os


vencimentos pagos no mês de março e nos meses
subsequentes foram superiores à média apurada
pelos critérios definidos na Lei nº 8.880/94, sem
prejuízo ao servidor”.

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Diante desse contexto, evidenciado que a parte autora
não teve prejuízo financeiro com a conversão remuneratória para URV
feita pelo réu por ocasião do Plano Real, a pretensão não merece
acolhimento.

A jurisprudência das Turmas Recursais da Fazenda


Pública sobre o tema é neste sentido:

RECURSO INOMINADO. PRIMEIRA TURMA


RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. URV. MUNICÍPIO
DE PORTO ALEGRE. 1.Trata-se de ação em que
pretende a Parte Autora o reconhecimento da
falha do ente estatal na conversão remuneratória,
de Cruzeiro Real para URV - Unidade Real de
Valor, decorrente da Política Econômica que
instituiu o Plano Real, ocorrida em 1994, o que se
teria projetado e caracterizado como indevida
supressão de rendimentos. 2.Na espécie,
considerando ter sido comprovada nos autos a
ausência de prejuízos financeiros advindos da
conversão remuneratória dos vencimentos da
Parte Demandante para URV, imperativa a
confirmação da r. sentença de improcedência.
Precedentes. RECURSO INOMINADO DESPROVIDO.
(Recurso Cível Nº 71007684459, Turma Recursal
da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator:
Thais Coutinho de Oliveira, Julgado em
27/08/2018)

RECURSO INOMINADO. TERCEIRA TURMA


RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. PREVIMPA.
MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE. URV. CONVERSÃO
DE VENCIMENTOS. PERDAS SALARIAIS NÃO
EVIDENCIADAS. LAUDO PERICIAL. SENTENÇA
MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.
Trata-se de Recurso Inominado deduzido pelo
autor, em face da sentença de improcedência, na

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ação que versa quanto à existência de diferenças
salariais em razão da aplicação da conversão da
URV em Real. No caso em tela, em análise do
laudo pericial, efetuado por perito contábil
nomeado pelo juízo, preservando o contraditório e
a ampla defesa, se constata a inexistência de
perdas remuneratórias quando da conversão da
moeda Cruzeiro Real para Real, prevista na Lei
Federal n. 8.880/94. Nesse sentido, uma vez que a
sentença do juízo a quo esgotou corretamente a
questão, deve ser mantida na íntegra, por seus
próprios e jurídicos fundamentos, nos termos do
art. 46, da Lei 9.099/95. Á UNANIMIDADE,
REJEITADA A PRELIMINAR, E RECURSO INOMINADO
NÃO PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71007807977,
Terceira Turma Recursal da Fazenda Pública,
Turmas Recursais, Relator: Laura de Borba Maciel
Fleck, Julgado em 19/07/2018)

Isso posto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos deduzidos


na inicial.
Sem custas e honorários, tendo em vista o disposto nos
arts. 54 e 55 da Lei nº 9.099/95
Fixo os honorários da perita em R$ 126,21, quantia a ser
paga pelo Tribunal de Justiça nos termos do Ato nº 051/2009-P.
Solicite-se o pagamento da perita ao TJRS.
Após, intimem-se.
Caso haja interposição de recurso inominado, intime-se o
recorrido para contrarrazões.
Decorrido o prazo, com ou sem manifestação, remetam-
se os autos à Turma Recursal Fazendária, em atendimento ao disposto no
art. 1010, § 3º, do CPC.
Transitada em julgado, dê-se vista às partes.

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Nada sendo requerido, arquive-se com baixa.

Porto Alegre, 16 de junho de 2020.

Ana Beatriz Rosito de Almeida,


Juíza de Direito

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