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Juízo: 1º Juizado Especial da Fazenda Pública - Porto Alegre

Processo: 9015044-09.2021.8.21.0001
Tipo de Ação: Sistema Remuneratório e Benefícios :: Férias
Autor: Claudete da Silva Moreira
Réu: Município de Porto Alegre
Local e Data: Porto Alegre, 30 de novembro de 2021

SENTENÇA
Vistos.

Em breve síntese, uma vez que dispensado o relatório com fulcro no art. 38 da Lei 9099
/95, aplicada subsidiariamente à Lei 12.153/09, trata-se de ação ajuizada por servidor inativo
com o fito de ver as férias não usufruídas convertidas em pecúnia.

O Supremo Tribunal Federal já decidiu, ao julgar, em repercussão geral, o ARE nº 721001


(Tema 635), no sentido de que “ É assegurada ao servidor público inativo a conversão de
férias não gozadas, ou de outros direitos de natureza remuneratória, em indenização
pecuniária, dada a responsabilidade objetiva da Administração Pública em virtude da
vedação ao enriquecimento sem causa”.

Ainda, o entendimento sedimentado na jurisprudência das Turmas Fazendárias é no


sentido de que o servidor tem direito à indenização das férias que não foram gozadas
quando em atividade, nem convertidas em pecúnia quando da aposentação.

Nesse sentido, colaciona-se a seguinte decisão:

RECURSO INOMINADO. ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. SERVIDOR PÚBLICO


ESTADUAL INATIVO. PEDIDO DE CONVERSÃO EM PECÚNIA DE SALDO DE
FÉRIAS NÃO FRUÍDAS QUANDO NA ATIVA. EXISTÊNCIA DE SALDO. SENTENÇA
DE PROCEDÊNCIA MANTIDA. Ao servidor desligado do cargo público, é devida a
conversão em pecúnia de eventual saldo de férias não fruídas a que fez jus quando
em atividade, sob pena de enriquecimento ilícito da Administração Pública. No caso
concreto, a autora comprovou que possui um saldo de férias de 30 dias, que não
gozou, quando estava em atividade. Por outro lado, o demandado não demonstrou
fato impeditivo do direito da demandante, nos termos do art. 373, II, do CPC/2015, não
se desincumbindo do ônus da prova. Sentença mantida por seus próprios
fundamentos (art. 46, segunda parte, da Lei nº 9.099/95). RECURSO INOMINADO
DESPROVIDO.(Recurso Cível, Nº 71006982441, Terceira Turma Recursal da
Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: José Ricardo Coutinho Silva, Julgado
em: 28-03-2019)

Do caso concreto

A autora pretende a indenização de saldo proporcional de férias, assim como o


reconhecimento do direito às férias referente ao período em que esteve em licença
aguardando aposentadoria.

Assinado eletronicamente por Ana Beatriz Rosito De Almeida


Confira autenticidade em https://www.tjrs.jus.br/verificadocs , informando 0001356656026. Página 1/4
Conforme documentos de fls.42, a autora trabalhou durante o período de 25/01/2020 a 27
/03/2020, gerando direito a férias proporcionais. Porém, esse saldo foi indenizado pelo
Município (fls. 38/41), nada sendo devido à autora em relação a este período.

Outrossim, esclarece-se que, revendo entendimento até então adotado, o tempo em que
a autora esteve afastada em LAA (desde 28/03/2020 até 31/05/2021) não deve ser
considerado como período aquisitivo de férias. Isso porque, o direito constitucionalmente
assegurado às férias destina-se ao descanso do trabalhador, possibilitando que recupere a
força de trabalho para a próxima jornada. No caso de servidor em LAA, não houve trabalho
que justifique o descanso remunerado, tampouco há expectativa de que haja novo período
de labor. Assim, indevida a conversão em pecúnia de período em que o servidor esteve
nessa condição.

Nesse sentido:

RECURSO INOMINADO. TERCEIRA TURMA RECURSAL DA FAZENDA


PÚBLICA. SERVIDORA PÚBLICA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE. AUXILIAR DE
ENFERMAGEM. INATIVA. CONVERSÃO DE FÉRIAS E DO TERÇO EM PECÚNIA.
POSSIBILIDADE. FRUIÇÃO DEFÉRIAS, DE LICENÇA PARA TRATAMENTO DE
SAÚDE – LTS, LICENÇA-PRÊMIO E LICENÇA ESPECIAL -
AGUARDANDOAPOSENTADORIA – LAA, DURANTE O PERÍODO AQUISITIVO ORA
POSTULADO. INSURGÊNCIA RECURSAL SOMENTE QUANTO AO PERÍODO EM
QUE ATORA ESTEVE EM LICENÇA ESPECIAL (LAA) E ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA
DE PREVISÃO LEGAL PARACONVERSÃO EM PECÚNIA. LAA DE 01/05/2015 ATÉ
A DATA DA APOSENTADORIA (01/12/2015). IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO
EM PECÚNIA NO MOMENTO DE SUA APOSENTADORIA PORQUANTO NÃO
HOUVE O LABOR EM TAIS PERÍODOS PARA HAVER O DIREITO AO DESCANSO.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIALMENTE REFORMADA PARA AFASTAR
DA CONDENAÇÃO O PERÍODO NO QUAL A AUTORA ESTEVE EM LAA (de 01/05
/15 a 01/12/15). RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.(Recurso Cível, Nº
71007339419, Terceira Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais,
Relator: Lílian Cristiane Siman, Julgado em: 24-04-2020)

RECURSO INOMINADO. PRIMEIRA TURMA RECURSAL PROVISÓRIA DA


FAZENDA PUBLICA. AÇÃO DE COBRANÇA. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL.
MILITAR. INATIVIDADE. CONVERSÃO DE FÉRIAS PROPORCIONAIS E TERÇO
CONSTITUCIONAL EMPECÚNIA. IMPOSSIBILIDADE DO CÔMPUTO
DA LICENÇA ESPECIAL PARA FINS DE APOSENTADORIA - LAA (DE 05.01.2016
ATÉ A INATIVAÇÃO, 23.02.2016) E PARA FINS DE FÉRIAS. EM 05.01.16 O AUTOR
ESTAVA LICENCIADO AGUARDANDO A PUBLICAÇÃO DO ATO DE
SUA APOSENTADORIA. SALDO DE 20 DIAS PARA CONVERSÃO EM PECÚNIA.
RECURSO PROVIDO.(Recurso Cível, Nº 71006776009, Primeira Turma Recursal
Provisória Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Gisele Anne Vieira de
Azambuja, Julgado em: 31-08-2017)

RECURSO INOMINADO. SERVIDORA PÚBLICA INATIVA. MUNICÍPIO DE PORTO


ALEGRE. LICENÇA AGUARDANDO APOSENTADORIA (LAA). FÉRIAS.
IMPOSSIBILIDADE. Alega o recorrente que a autora não gozou férias no período
aquisitivo declinado à inicial (01/01/2014 a 31/12/2014), pois, neste interregno, estava
em gozo de Licença Aguardando Aposentadoria (LAA). Embora o parágrafo único do

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art. 45 da Lei Orgânica Municipal preveja que o período da licença será computado
como tempo de "efetivo exercício para todos os efeitos legais", naturalmente que a
cômputo do tempo "para todos efeitos legais" somente será admitido quando cabível a
contagem fictícia. No caso das férias, o que a Lei Orgânica do Município de Porto
Alegre (art. 31, XVII) e a própria Constituição Federal (art. 7º, XVII, c/c art. 39, § 3º)
asseguram é o gozo, antecedido de um período de trabalho. No caso dos autos,
considerando que, no período aquisitivo vindicado, a servidora estava licenciada, não
adquiriu direito a férias. Entendimento contrário frustraria a própria finalidade do
instituto, representando enriquecimento sem causa à recorrida. RECURSO
INOMINADO PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71006879423, Segunda Turma Recursal
da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Rosane Ramos de Oliveira Michels,
Julgado em 26/07/2017)

Assim, a improcedência é medida que se impõe.

Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido formulado por Claudete da Silva


Moreira em face do MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE.

Dispensados honorários de sucumbência na forma do disposto na Lei 9099/95.

Caso haja interposição de recurso inominado, intime-se o recorrido para contrarrazões.


Decorrido o prazo, com ou sem manifestação, remetam-se os autos à Turma Recursal
Fazendária, em atendimento ao disposto no art. 1010, § 3º, do CPC.

Transitada em julgado, dê-se vista às partes.

Nada sendo requerido, arquive-se com baixa.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

1 RECURSO INOMINADO. TERCEIRA TURMA RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. SERVIDOR PÚBLICO


ESTADUAL INATIVO. FÉRIAS. PRETENSÃO À INDENIZAÇÃO DO SALDO DE FÉRIAS NÃO USUFRUÍDO
EM ATIVIDADE. INSURGÊNCIA RECURSAL EM RELAÇÃO AO SALDO E À BASE DE CÁLCULO. 1. Saldo de
Férias. Comprovado nos autos a existência de saldo de férias e não demonstrado pelo Estado que o servidor já
gozou parte desse período, deve o demandado indenizar todo o período pleiteado na inicial. 2. Base de
Cálculo. Considerando que o servidor pode gozar as férias até a data da sua aposentação, a indenização de
eventual saldo deve ser calculada com base na última remuneração percebida em atividade, deduzidas as
parcelas de caráter eventual ou transitório, e aquelas de caráter indenizatório. RECURSO INOMINADO
PROVIDO. UNÂNIME.(Recurso Cível, Nº 71007200033, Terceira Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas
Recursais, Relator: Laura de Borba Maciel Fleck, Julgado em: 25-09-2018)

Porto Alegre, 30 de novembro de 2021

Dra. Ana Beatriz Rosito de Almeida - Juíza de Direito

Rua Manoelito de Ornellas, 50, 17° andar, sala 1703 - Praia de Belas - Porto Alegre - Rio Grande do
Sul - 90110-230 - (51) 3210-6500

Assinado eletronicamente por Ana Beatriz Rosito De Almeida


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RIO -G R
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
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PODER JUDICIÁRIO
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B

EN
RE

SE

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DOCUMENTO ASSINADO POR DATA


Ana Beatriz Rosito de Almeida 30/11/2021 18h45min

Este é um documento eletrônico assinado digitalmente conforme Lei Federal


nº 11.419/2006 de 19/12/2006, art. 1º, parágrafo 2º, inciso III.

Para conferência do conteúdo deste documento, acesse, na internet, o


endereço https://www.tjrs.jus.br/verificadocs e digite o seguinte

www.tjrs.jus.br número verificador: 0001356656026

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