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PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE

PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA DA


FAZENDA PÚBLICA DO FORO CENTRAL.

PROCEDIMENTO Nº 5050755-80.2020.8.21.0001/RS
Autor: SINDICATO DOS MUNICIPÁRIOS DE PORTO ALEGRE -
SIMPA
Réus: MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE e outros

O MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE, o DEPARTAMENTO


MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA – DMLU, o DEPARTAMENTO
MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTOS – DMAE, o DEPARTAMENTO
MUNICIPAL DE HABITAÇÃO – DEMHAB e DEPARTAMENTO
MUNICIPAL DE PREVIDENCIA DOS SERVIDORES PUBLICOS DO
MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE - PREVIMPA, por seu procurador
municipal, nos autos do processo em epígrafe, vêm, respeitosamente,
perante Vossa Excelência apresentar Contrarrazões ao Recurso de
Apelação, na forma das razões anexas, requerendo sua juntada, com a
finalidade de serem submetidas ao exame do E. Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul.

Nestes termos, pede deferimento.

Porto Alegre, 26 de outubro de 2020.

RAFAEL VINCENTE RAMOS


Procurador Municipal
OAB/RS 60324
PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE
PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO


SUL.

Processo: 5050755-80.2020.8.21.0001/RS
Apelante: SIMPA
Apelado: Município de Porto Alegre e outros
Objeto: Contrarrazões de Apelação.

COLENDA CÂMARA:

Não merece melhor sorte o recurso apresentado pelo


recorrente, pois a r. sentença de fls. analisou de forma adequada a
questão objeto da demanda, verbis:

SENTENÇA
VISTOS.
SINDICATO DOS MUNICIPÁRIOS DE PORTO ALEGRE –
SIMPA ajuizou AÇÃO DE PROCEDIMENTO
ORDINÁRIO contra o MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE,
a FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA –
FASC, o DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE LIMPEZA
URBANA - DMLU, o DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE
ÁGUA E ESGOTO, o DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE
HABITAÇÃO - DEMHAB e o DEPARTAMENTO
MUNICIPAL DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES
PÚBLICOS DO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE -
PREVIMPA, alegando que, no âmbito municipal, a
legislação garantiu a revisão geral anual de vencimentos
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dos servidores, conforme art. 37, X, da Constituição


Federal, através da Lei Municipal n.º 9.870/2005,
alterada pela Lei Municipal n.º 10.042/2006. Discorreu
sobre o percentual acumulado de perdas nos
vencimentos dos servidores. Teceu considerações sobre a
garantia da revisão anual da remuneração. Pediu a
procedência da ação. Anexou documentos.
Relatei.

Adianto ser o caso de improcedência liminar.


Através da presente ação, o autor visa à revisão dos
vencimentos pagos pelo poder público a toda a categoria
de servidores públicos municipais. Todavia, não há como
condenar o ente público a revisar a remuneração dos
servidores.
A questão está há muito pacificada pela jurisprudência.
Assim dispõe o art. 37, X, da Constituição Federal:
A remuneração dos servidores públicos e o subsídio de
que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou
alterados por lei específica, observada a iniciativa privada
em cada caso, assegurada a revisão geral anual, sempre
na mesma data e sem distinção de índices.
Da simples leitura do disposto constitucional, fica
evidente, primeiro, que somente através de lei é possível
a fixação e alteração de vencimentos dos servidores.
Segundo, fica bem delimitada a competência de iniciativa
para a criação da lei. Portanto, compete ao Poder
Executivo, nos termos do art. 61, § 1.º, II, “a”, da
Constituição Federal, e art. 60, II, “a”, da Constituição
Estadual, a iniciativa mediante lei específica para o
reajuste previsto no art. 37, inciso X, da Constituição
Federal. Tal entendimento, aliás, é o conteúdo da
Súmula n.º 339 do Supremo Tribunal Federal, firmado
em razão do princípio da separação dos poderes:
Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos
sob fundamento de isonomia.
Segundo a redação final do art. 1º da Lei Municipal
n.º 9.870/2005, dada pela Lei Municipal
n.º 10.042/2006, o reajuste ocorrerá "com periodicidade
anual, data-base em maio de cada ano, consideradas as
perdas inflacionárias do período, mediante decreto do
Executivo Municipal". Assim, o pedido do requerente
esbarra no princípio da legalidade, uma vez que somente
através de ato do Poder Executivo Municipal é possível a
concessão da reposição pretendida. A propósito:
APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. AGENTE
MUNICIPAL. HOSPITAL GETÚLIO VARGAS. MUNICÍPIO DE
SAPUCAIA DO SUL. HORAS EXTRAS. ADICIONAL DE
INSALUBRIDADE. REVISÃO GERAL ANUAL. PERDAS E
DANOS. 1. A Administração Pública é regida à luz dos

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princípios constitucionais inscritos no caput do art. 37 da


Constituição Federal, dentre eles, o da legalidade. 2. (...) 4.
Revisão periódica da remuneração com base no art. 89 da
Lei Municipal nº 1.727/93: referida lei não prevê que os
servidores terão aumentos, mas que deverão ser
concedidos por lei específica. Assim, se o Poder Executivo
não vem cumprindo com aquela norma de conteúdo
programático local, nem com norma constitucional da
mesma natureza art. 37, inciso X, da Constituição Federal,
não é o Poder Judiciário que pode fazê-lo, razão pela qual
descabe a pretensão indenizatória pela não concessão da
revisão anual. NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO.
(Apelação Cível Nº 70079186177, Terceira Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Matilde Chabar Maia,
Julgado em 29/11/2018)
Não cabe ao Poder Judiciário, por não possuir função
legislativa, aumentar os vencimentos dos servidores
públicos, seja direta ou indiretamente, sob a simulada
roupagem (ou o eufemismo) de uma “indenização”. Isso
afrontaria diretamente o princípio da separação dos
poderes, que limita o poder de atuação de cada Poder.
Este é o entendimento pacífico do Supremo Tribunal
Federal, conforme Tema n.º 984 das Teses de
Repercussão Geral (e por isso a possibilidade de
improcedência liminar, conforme o art. 332, II, do Código
de Processo Civil), nos seguintes termos:
O Supremo Tribunal Federal veda o aumento de
vencimentos pelo Poder Judiciário com base no princípio
da isonomia, na equiparação salarial ou a pretexto da
revisão geral anual, não sendo devida, portanto, a
extensão do maior reajuste concedido pela Lei estadual
nº 7.622/2000 aos soldos de toda a categoria dos policiais
militares do Estado da Bahia, dispensada a devolução de
valores eventualmente recebidos de boa-fé até a data de
conclusão do presente julgamento no Plenário Virtual desta
Corte.
A Lei Municipal n.º 9.870/2005, além disso, é
substancialmente inconstitucional, por violar o art. 169,
§ 1º, da Constituição Federal. E também é nula de pleno
direito, com base no art. 21, I, a, da Lei Complementar
n.º 101/2000.
Não basta a existência de lei. É necessário,
paralelamente, que ela esteja prevista tanto na Lei
Orçamentária Anual quanto na Lei de Diretrizes
Orçamentárias. Essa matéria ficou definida pelo
Supremo Tribunal Federal, igualmente em Tema de
Repercussão Geral (864), com a seguinte tese:
A revisão geral anual da remuneração dos servidores
públicos depende, cumulativamente, de dotação na Lei
Orçamentária Anual e de previsão na Lei de Diretrizes
Orçamentárias.
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A inércia legislativa não colore a figura de um ato ilícito.


Logo, carece o suplicante de substrato legal para aviar
seu pleito indenizatório.
Ao julgar o Recurso Extraordinário n.º 424.584, o
Supremo Tribunal Federal formulou a ementa que ora
se reproduz:
SERVIDOR PÚBLICO. REVISÃO GERAL DE
VENCIMENTO. COMPORTAMENTO OMISSIVO DO
CHEFE DO EXECUTIVO. DIREITO À INDENIZAÇÃO POR
PERDAS E DANOS. IMPOSSIBILIDADE. Esta Corte
firmou o entendimento de que, embora reconhecida a
mora legislativa, não pode o Judiciário deflagrar o
processo legislativo, nem fixar prazo para que o chefe do
Poder Executivo o faça. Além disso, esta Turma entendeu
que o comportamento omissivo do chefe do Poder
Executivo não gera direito à indenização por perdas e
danos. Recurso extraordinário desprovido.
(RE 424584, Relator(a): Carlos Velloso, Relator(a) p/
Acórdão: Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgado em
17/11/2009, DJe-081 divulg 06-05-2010 public 07-05-
2010 ement vol-02400-05 PP-01040).
Ao enfrentar os embargos declaratórios do respectivo
acórdão, o Supremo Tribunal Federal, já sob a
abrangência do Tema 19 da Repercussão Geral,
aprovou tese com esta dicção:
O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual
dos vencimentos dos servidores públicos, previsto no
inciso X do art. 37 da CF/1988, não gera direito
subjetivo a indenização. Deve o Poder Executivo, no
entanto, se pronunciar, de forma fundamentada, acerca
das razões pelas quais não propôs a revisão.

ANTE O EXPOSTO, julgo liminarmente


IMPROCEDENTES os pedidos, forte no art. 332, II, do
Código de Processo Civil, condenando a demandante ao
pagamento das custas processuais.

I – SÍNTESE DA DEMANDA

Trata-se de ação onde se controverte acerca da revisão geral


anual dos vencimentos dos servidores públicos do Município de Porto
Alegre, forte no art. 37, X, CF.

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Sustentam os Autores que, por força do artigo 1º da n.


9.870/2005, com redação dada pela Lei n. 10.042/2006, restou
assegurado aos servidores públicos desta Capital a revisão geral anual
de seus vencimentos no mês de maio.

Os pedidos dos demandantes tomam como fundamento


legal o artigo 37, X, da Constituição Federal, o artigo 1º da Lei n.
9.870/2005, com redação dada pela Lei n. 10.042/2006. Dessa forma,
segundo entendimento do autor, “os vencimentos dos servidores
municipais deveriam ter sido revisados de acordo com IPCA, por ato
normativo do Poder Executivo, tendo em vista que a previsão da
revisão foi reiterada na Lei nº 12.326/17 (Lei de Diretrizes
Orçamentárias de 2018)”.

Assim e em suma, postula “b.1) a declaração do direito


dos/das servidores/as públicos/as municipais substituídos/das, da
administração direta e indireta, ativos/as e inativos/as, de perceberem
as diferenças remuneratórias resultantes da incidência do percentual
de, no mínimo, 2,39%, sobre suas remunerações e proventos, em
decorrência das perdas inflacionárias do período compreendido entre
maio de 2019 e abril de 2020, apurado pelo IPCA, desde maio de 2020,
com reflexo sobre férias, décimo terceiro salário e demais vantagens e
parcelas remuneratórias; b.2) a condenação dos Entes demandados no
pagamento dos valores daí decorrentes, em parcelas vencidas e
vincendas, tudo acrescido de correção monetária incidente desde o
vencimento de cada parcela e juros no percentual de 1% ao mês; c)
sucessivamente, no caso de não acolhimento do pedido acima, seja
reconhecido o direito dos/das servidores/as públicos/as municipais
substituídos/das, da administração direta e indireta, ativos/as e
inativos/as, à indenização pelo prejuízo que vêm sofrendo diante da

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inércia do Executivo, tendo o quantum a ser fixado por esse Juízo por
parâmetro mínimo das perdas inflacionárias acumuladas no período
compreendido entre maio de 2019 e o trânsito em julgado do feito;”.

II - PRELIMINAR

DA CONEXÃO

Antes de adentrar no mérito propriamente dito da


demanda, cumpre suscitar a existência de conexão entre a presente
ação e a de n. 9052459-65.2017.8.21.0001, que tramita perante a 7ª
Vara da Fazenda Pública e a de n. 9070999-30.2018.8.21.0001 que
tramita perante a 4ª Vara da Fazenda Pública. No entanto, em razão do
reconhecimento da conexão, este último processo também foi
encaminhado para a 7ª Vara da Fazenda Pública:

9070999-30.2018.8.21.0001(CNJ) - SIMPA
- SINDICATO DOS MUNICIPARIOS DE PORTO ALEGRE
(Cláudia Castanho Dutra 96550/RS, Eduardo Pimentel
Pereira 75002/RS, Giovana Pelágio Melo 94869/RS,
Helena Júlia Corrêa Boll 110037/RS, Leonardo Kauer
Zinn 51156/RS, Lucia Helena Villar Pinheiro 52730/RS,
Marina Ramos Dermmam 80479/RS) X PREVIMPA -
Departamento de previdência dos servidores de Porto
Alegre (Clarissa Cortez Fernandes Bohrer 32395/RS),
Município de Porto Alegre (Clarissa Cortez Fernandes
Bohrer 32395/RS), FASC - Fundação de Assistência
Social e Cidadania de Porto Alegre (Clarissa Cortez
Fernandes Bohrer 32395/RS), DMLU - Departamento
Municipal de Limpeza Urbana (Clarissa Cortez Fernandes
Bohrer 32395/RS), DEMHAB - Departamento de
Habitação de Porto Alegre (Clarissa Cortez Fernandes
Bohrer 32395/RS), DMAE - Departamento de Água e
Esgoto de Porto Alegre (Clarissa Cortez Fernandes Bohrer
32395/RS). Intimado: SENGE/RS (Karla Schumacher
Vitola 60475/RS, Rodrigo Pitombo Vitola 43566/RS).
Decisões: Vistos. Os autos estavam conclusos para
decisão, no entanto verifico que não se encontram aptos
a tanto. Isso porque não restou analisado o pedido de
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conexão formulado pela parte ré com a peça


contestatória, o qual merece prosperar. Tendo em vista
que na presente demanda discute-se o direito dos
servidores públicos municipais substituídos, sendo eles da
administração direta e indireta, ativos e inativos, de
perceberem as diferenças remuneratóriassobre suas
remunerações e proventos resultantes das perdas
inflacionárias do período compreendido entre maio de
2017 e abril de 2018, apurado pelo IPC-A, desde maio de
2018, com reflexo sobre férias, décimo terceiro salário e
demais vantagens, e queaaçãode nº 9052459-
65.2017.8.21.0001 tem o mesmo objetivo, mas em relação
a períodos distintos - maio de 2016 e abril de 2017 -,
entendo por reconhecer a conexão arguida. Deste modo,
considerando que nenhuma das ações foi julgada e que a
de nº 9052459-65.2017.8.21.0001 é mais antiga (ajuizada
em 13/11/2017), o que define a prevenção do juízo nos
termos do art. 59 do CPC/15, remetam-se os autos à 7ª
Varada Fazenda Pública para, em sendo o entendimento
daquele juízo, julgar conjuntamente os feitos. Intimem-se.
Dil. Legais.

Vale observar que no processo n. 9052459-


65.2017.8.21.0001, discute-se exatamente a mesma matéria deste feito,
qual seja, a revisão geral anual dos vencimentos e proventos dos
servidores públicos desta Capital (revisão do ano de 2018), sendo que
no processo n. 9070999-30.2018.8.21.0001, discute-se a revisão do ano
de 2017. Estas duas demandas foram propostas pelo SINDICATO DOS
MUNICIPARIOS DE PORTO ALEGRE (SIMPA).

Ou seja, à toda evidência, há conexão entre os feitos vez


que possuem idêntica causa de pedir (tanto fundamentos de fato
quanto de direito) e pedidos absolutamente análogos.

As ações ora em debate amoldam-se, com perfeição, nos


requisitos do artigo 55 do Código de Processo Civil, que assim
preleciona:

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Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou


mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa
de pedir.
§ 1o Os processos de ações conexas serão
reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já
houver sido sentenciado.

Em assim sendo, verificando-se a existência de conexão, é


imperiosa a reunião dos processos para decisão conjunta.

Diante do exposto, como o artigo 286, I, do Código de


Processo Civil determina a distribuição por dependência das ações
conexas, requer-se também a remessa desta ação para a 7ª Vara da
Fazenda Pública de Porto Alegre que é o Juízo prevento para a presente
demanda.

DA INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL: PEDIDO


INDENIZATÓRIO ABSOLUTAMENTE INESPECÍFICO

A par do pleito de revisão geral e/ou reajuste, o


demandante alinha um pedido sucessivo absolutamente genérico de
indenização referente à suposto prejuízo decorrente da omissão do
Poder Público.

Neste tópico, a defesa do Poder Público fica bastante


comprometida não havendo como lançar defesa referente a um pedido
tão genérico.

É de ver-se que o Autor não aponta os eventuais prejuízos


que teria sofrido, o que é elemento indispensável à configuração da
responsabilidade civil, nem, tampouco, caracteriza qualquer conduta
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ilícita ou culposa do Réu, razão pela qual, de plano, constata-se que


nada há indenizar.

Os artigos 322 e 324 do Código de Processo Civil são de


solar clareza no sentido de determinar que o pedido deve ser certo e
determinado e, uma vez não atendidos os requisitos de certeza e
determinação do pedido, há que ser reconhecida a inépcia da inicial no
que pertine ao pleito indenizatório, com fundamento no artigo 330, § 1º,
I, do CPC.

A par da inépcia da petição inicial, neste tópico, cumpre


colacionar recentíssima jurisprudência do TJ/RS no sentido de que é
incabível o Judiciário substituir a revisão geral anual por uma
indenização.

Neste sentido:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. SEVIDOR


PÚBLICO ESTADUAL. REVISÃO GERAL ANUAL. ART. 37,
INCISO X DA CF. INDENIZAÇÃO. OMISSÃO
LEGISLATIVA. A revisão geral da remuneração, prevista
no art. 37, X, da CF, na qual encontrava-se o Estado do
Rio Grande do Sul em mora, conforme decidiu o
Supremo Tribunal Federal (ADIn nº 2.481-7/RS),
depende de lei específica, de iniciativa do Chefe do
Executivo, não cabendo ao órgão judiciário substituí-la
por uma indenização com idêntico alcance, pois não é
dado estender a outros servidores os aumentos setoriais
de uma classe ou categoria (Súmula 339, do STF).
Precedentes. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO.
UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70078695673, Quarta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Alexandre Mussoi Moreira, Julgado em 31/10/2018).
Sublinhas

Ementa: RECURSO INOMINADO.


PRIMEIRA TURMA RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA.
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SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. MUNICÍPIO DE SÃO


FRANCISCO DE PAULA. REVISÃO GERAL ANUAL DOS
VENCIMENTOS. ART. 37, INCISO X, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. OMISSÃO LEGISLATIVA. INDENIZAÇÃO.
INADMISSIBILIDADE. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA
MANTIDA. 1) A revisão geral anual, embora seja um
mandamento constitucional, exige lei específica de
iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo para
surtir efeitos referentemente aos servidores públicos
estaduais 2) Em que pese a flagrante omissão e os
prejuízos decorrentes da inércia legislativa, não compete
ao Poder Judiciário conceder aumentos ou reposições
salariais vez que tais devem ser instituídos por lei
específica, de iniciativa do Poder Executivo. Súmula 339
STF. Indenização indevida. 3) Precedentes do TJRS.
RECURSO INOMINADO DESPROVIDO. UNÂNIME.
(Recurso Cível Nº 71007784739, Turma Recursal da
Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Thais
Coutinho de Oliveira, Julgado em 27/09/2018).
Sublinhas nossas.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO


GERAL ANUAL. ART. 37, INCISO X, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. OMISSÃO LEGISLATIVA. INDENIZAÇÃO.
INADMISSIBILIDADE. 1. Não compete ao Poder
Judiciário conceder aumentos ou reposições salariais,
definindo índices e datas de revisões anuais, que devem
ser instituídos por lei específica, de iniciativa do Poder
Executivo, conforme o disposto no art. 37, inciso X, da
Constituição Federal, sob pena de violação à
independência do Poder Executivo e, via de
conseqüência, ao Princípio da Separação dos Poderes,
consagrado no art. 2º da Constituição da República, bem
como ao enunciado da Súmula 339 do Supremo Tribunal
Federal. 2. A pretensão indenizatória na forma em que
vindicada implica, verdadeiramente, concessão
mascarada do reajuste remuneratório sem o
correspondente supedâneo legal, o que refoge da
competência do Judiciário que, além de estar impedido
de substituir-se ao legislador, editando, aplicando e/ou
interpretando normas que impliquem no reajuste
pretendido, não pode substituir a revisão anual geral
determinada constitucionalmente por indenização a
título de perdas e danos de igual sentido e alcance. 3.
Ação julgada improcedente na origem. APELAÇÃO
DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70072508039, Quarta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Eduardo Uhlein, Julgado em 26/04/2017). Sublinhas
nossas.

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Desta forma, nesse tópico, constata-se a necessidade de


extinção do feito sem resolução de mérito.

DA REVISÃO GERAL ANUAL

Os autores confundem na presente peça dois conceitos muito


distintos (revisão geral e reajuste) e, nessa linha, mistura vários
dispositivos legais para hipóteses dessemelhantes.

A revisão geral anual tem por alvo a reposição da variação


inflacionária que possa ter comprometido o poder aquisitivo da
remuneração, é de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo e
envolve todos os servidores públicos, sempre na mesma data e sem
distinção de índices.

Já o reajuste remuneratório, diferentemente da revisão geral,


direciona-se a reengenharias ou revalorizações de carreiras específicas,
mediante reestruturações de tabela, e que por isso, de regra, não são
dirigidos a todos os servidores públicos.

De qualquer forma, vale observar que o direito à revisão geral


prevista no artigo 37, X, da Constituição Federal depende de edição de
norma infraconstitucional, sendo do Chefe do Poder Executivo o dever
de desencadear o processo de elaboração da lei, na qualidade de titular
exclusivo da competência para iniciativa da espécie, na forma do art.
61, § 1°, II, a, da Constituição Federal.

O retrorreferido artigo 37, X, da CF, é cristalino ao determinar:

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“X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio


de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser
fixados ou alterados por lei específica, observada a
iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão
geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de
índices; (...).”

Uma leitura apenas perfunctória do comando constitucional já


evidencia os requisitos para a concessão de reajustes e para a revisão
geral anual: edição de lei específica de iniciativa privativa do Sr.
Prefeito.

No Município de Porto Alegre, cumpre observar que a dita revisão


geral depende da edição de decreto específico, conforme será
demonstrado em item próprio, abaixo, decreto este que não foi editado
em função do público e notório cenário de dificuldades financeiras do
Poder Público local.

Como se sabe, o Princípio da Legalidade é a pedra de toque da


Administração Pública. Consabidamente, o direito público rege-se pelo
princípio da legalidade, que estabelece os limites da atuação
administrativa àquilo que a lei permite, não podendo ser concedidos
aumentos ou reajustes não previstos na legislação pertinente, nem,
tampouco, ser levada a efeito a revisão geral sem lei que a defina.

Ou, dito em outras palavras, não pode a Administração Pública


conceder direitos ou impor vedações de qualquer espécie sem a prévia
edição de lei que defina seus limites e percentuais aplicáveis à espécie.

Neste sentido, pois verifica-se de plano que não calha o pedido


dos autores vez que não pode o Judiciário suprir omissão do Poder
Executivo, cabendo somente a este a iniciativa para a elaboração da
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legislação específica (no caso, decreto específico), de iniciativa


privativa do Chefe do Poder Executivo que regulamente a matéria.

O Tribunal, por maioria, apreciando o TEMA 624


da repercussão geral, deu provimento ao recurso
extraordinário para reformar o acórdão recorrido e, via de
consequência, cassar a injunção concedida, nos termos
do voto do Ministro Luiz Fux (Presidente e Relator),
vencidos os Ministros Marco Aurélio e Ricardo
Lewandowski, que negavam provimento ao recurso. Foi
fixada a seguinte tese: "O Poder Judiciário não possui
competência para determinar ao Poder Executivo a
apresentação de projeto de lei que vise a promover a
revisão geral anual da remuneração dos servidores
públicos, tampouco para fixar o respectivo índice de
correção".

Tal entendimento é absolutamente sufragado pelo TJ/RS,


conforme se verifica nos recentíssimos acórdãos que assim foram
ementados:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR


PÚBLICO. REVISÃO ANUAL. ART. 37, INCISO X, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. OMISSÃO LEGISLATIVA.
PRETENSÃO INDENIZATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. 1.
Impossibilidade de aplicação dos índices inflacionários
aos vencimentos de servidores públicos, sob o
argumento de revisão geral de benefícios, com
fundamento no art. 37, inciso X, da Constituição Federal.
2. Inviabilidade de o Judiciário suprir omissão do Poder
Executivo, cabendo somente a este a iniciativa para a
elaboração da legislação específica a regulamentar a
matéria. 3. Não pode a administração pública conceder
direitos ou impor vedações de qualquer espécie sem a
prévia edição de lei que assim defina os limites de sua
atuação. 4. Desacolhimento da pretensão indenizatória,
ante a ausência dos requisitos necessários à
configuração da responsabilidade civil. 5. Ação julgada
improcedente na origem. APELAÇÃO DESPROVIDA.
(Apelação Cível Nº 70074537614, Quarta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Antônio Vinícius
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Amaro da Silveira, Julgado em 29/11/2017). Sublinhas


nossas.

APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO GERAL ANUAL. ART. 37,


INCISO X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. OMISSÃO
LEGISLATIVA. INDENIZAÇÃO. INADMISSIBILIDADE. 1.
Não compete ao Poder Judiciário conceder aumentos ou
reposições salariais, definindo índices e datas de revisões
anuais, que devem ser instituídos por lei específica, de
iniciativa do Poder Executivo, conforme o disposto no art.
37, inciso X, da Constituição Federal, sob pena de
violação à independência do Poder Executivo e, via de
conseqüência, ao Princípio da Separação dos Poderes,
consagrado no art. 2º da Constituição da República, bem
como ao enunciado da Súmula 339 do Supremo Tribunal
Federal. 2. A pretensão indenizatória na forma em que
vindicada implica, verdadeiramente, concessão
mascarada do reajuste remuneratório sem o
correspondente supedâneo legal, o que refoge da
competência do Judiciário que, além de estar impedido
de substituir-se ao legislador, editando, aplicando e/ou
interpretando normas que impliquem no reajuste
pretendido, não pode substituir a revisão anual geral
determinada constitucionalmente por indenização a
título de perdas e danos de igual sentido e alcance. 3.
Ação julgada improcedente na origem. APELAÇÃO
DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70072520364, Quarta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Eduardo Uhlein, Julgado em 26/04/2017). Sublinhas
nossas.

APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL.


REVISÃO GERAL ANUAL. ART. 37, X, DA CF.
INDENIZAÇÃO. OMISSÃO LEGISLATIVA. A revisão geral
da remuneração, prevista no art. 37, X, da CF, e na qual
encontrava-se o Estado do Rio Grande do Sul em mora,
conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal (ADIn nº
2.481-7/RS), depende de lei específica, de iniciativa do
Chefe do Executivo, não cabendo ao órgão judiciário
substituí-la por uma indenização com idêntico alcance,
pois não é dado estender a outros servidores os
aumentos setoriais de uma classe ou categoria (Súmula
339 do STF). Precedentes. NEGARAM PROVIMENTO AO
APELO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70071537393,
Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Alexandre Mussoi Moreira, Julgado em 14/12/2016).
Sublinhas nossas.

APELAÇÃO CÍVEL SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL.


REAJUSTES ANUAIS. ART. 37, X, DA CF. INDENIZAÇÃO.

14
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PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

1. A revisão geral anual assegurada aos servidores


públicos pelo inciso X do artigo 37 da Constituição
Federal, com a redação dada pela EC n.º 19/98,
necessita de lei específica, em cada esfera política, para
que seja cumprida. 2. A lei regulamentadora do referido
dispositivo é de ser editada pelo Estado, ante o disposto
no artigo 39 da CF, respeitada a iniciativa do Chefe do
Poder Executivo, nos termos do artigo 61, § 1º, II, "a" do
mesmo texto constitucional. Precedentes
jurisprudenciais. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação
Cível Nº 70071680367, Quarta Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Francesco Conti, Julgado em
14/12/2016).

APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. REVISÃO


ANUAL. ART. 37, INCISO X, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. OMISSÃO LEGISLATIVA. PRETENSÃO
INDENIZATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. 1. Impossibilidade
de aplicação dos índices inflacionários aos vencimentos
de servidores públicos, sob o argumento de revisão geral
de benefícios, com fundamento no art. 37, inciso X, da
Constituição Federal. 2. Inviabilidade de o Judiciário
suprir omissão do Poder Executivo, cabendo somente a
este a iniciativa para a elaboração da legislação
específica a regulamentar a matéria. 3. Não pode a
administração pública conceder direitos ou impor
vedações de qualquer espécie sem a prévia edição de lei
que assim defina os limites de sua atuação. 4.
Desacolhimento da pretensão indenizatória, ante a
ausência dos requisitos necessários à configuração da
responsabilidade civil. 5. Ação julgada improcedente na
origem. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº
70060958683, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Antônio Vinícius Amaro da Silveira,
Julgado em 30/09/2015). Sublinhas nossas.

Este também é o entendimento pacífico das Turmas


Recursais da Fazenda Pública, verbis:

RECURSO INOMINADO. TERCEIRA TURMA


RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. MUNICÍPIO DE
PORTO ALEGRE. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL.
REAJUSTE GERAL ANUAL. ART. 37, X, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL E LEI MUNICIPAL Nº
9.870/2005. OMISSÃO LEGISLATIVA. AUSÊNCIA DE
DECRETO. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. SENTENÇA DE

15
PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE
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IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. 1. SUSPENSÃO. Afastado o


pedido de suspensão do feito por conta do Tema 864 (RE
nº 905.357), pois a controvérsia discutida naquele
julgado é relativa à existência ou não de direito subjetivo
à revisão geral da remuneração dos servidores públicos
por índice previsto apenas na Lei de Diretrizes
Orçamentárias, sem correspondente dotação
orçamentária na Lei Orçamentária do respectivo ano. O
caso dos autos examina situação diversa, pois não há, no
âmbito do Município de Porto Alegre, Decreto
regulamentando a revisão das remunerações em favor
dos servidores. Além disso, o TEMA 864 restou julgado
pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal, em Sessão
Virtual de 22/11/2019 a 28/11/2019, com tese fixada,
por maioria, no seguinte sentido: “A revisão geral anual
da remuneração dos servidores públicos depende,
cumulativamente, de dotação na Lei Orçamentária Anual
e de previsão na Lei de Diretrizes Orçamentárias”,
vencidos os Ministros Edson Fachin, Marco Aurélio,
Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. 2. MÉRITO. É
defeso ao Poder Judiciário conceder reajuste
remuneratório ao funcionalismo – o qual necessita de
edição de lei específica (Constituição Federal, artigo
37, inciso X), estando, a administração pública,
vinculada ao princípio da legalidade. 3. A Súmula 339
do STF, por sua vez, estabelece: “Não cabe ao Poder
Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar
vencimentos de servidores públicos sob fundamento
de isonomia”. 4. No âmbito do Município de Porto
Alegre, a implementação da revisão das remunerações
dos servidores está prevista na Lei Municipal nº
9.870/05, dependendo de Decreto a ser expedido pelo
Executivo Municipal, o qual, porém, não foi objeto de
norma. 5. Sentença mantida por seus próprios
fundamentos, nos termos do artigo 46, segunda parte, da
Lei nº 9.099/95. RECURSO DESPROVIDO.
UNÂNIME.(Recurso Cível, Nº 71008272221, Terceira
Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais,
Relator: Alan Tadeu Soares Delabary Junior, Julgado em:
17-12-2019)

RECURSO INOMINADO. TERCEIRA TURMA


RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. SERVIDOR
PÚBLICO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE. REVISÃO
GERAL ANUAL DO ART. 37, X, DA CF E LEI
COMPLEMENTAR 9.870/2005. OMISSÃO LEGISLATIVA.
AUSÊNCIA DE DECRETO. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.
Trata-se de recurso inominado em face da sentença que
julgou improcedentes os pedidos da parte autora, na
ação proposta em face do MUNICÍPIO DE PORTO
ALEGRE, onde os demandantes requerem, em suma, o
16
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PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

reconhecimento e recebimento do direito à Revisão Geral


Anual, com fundamento na Lei Muncipal n. 9.870/2005
e no art. 37, X, da CF, bem como a cobrança pelas
parcelas em atraso. Aplica-se ao caso o Princípio da
Legalidade, que junto aos demais princípios instruem,
limitam e vinculam as atividades da Administração
Pública, ficando esta adstrita em atuar somente
conforme a lei. Quanto ao mérito, nos termos da
Constituição Federal, a Revisão Geral Anual, nos termos
em que postula a parte autora, deve ser precedida de Lei
específica. No ponto, a Revisão Geral Anual, embora
seja um mandamento constitucional, demanda a
edição de Lei específica de iniciativa privativa do
Chefe do Poder Executivo, para que possa surtir
efeitos juntos aos servidores públicos municipais.
Nesse sentido, no âmbito do Município de Porto
Alegre, ainda que previsto em legislação vigente, Lei
Ordinária Municipal n. 9.870/05, sua implementação
depende de Decreto a ser expedido pelo Executivo
Municipal e, ao que se verifica, inexiste tal Decreto.
Portanto, a parte autora não faz jus à Revisão Geral
Anual. Sentença mantida nos termos no art. 46 da Lei
9.099/95. RECURSO INOMINADO NÃO PROVIDO.
UNÂNIME.(Recurso Cível, Nº 71008644189, Terceira
Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais,
Relator: Laura de Borba Maciel Fleck, Julgado em: 17-
12-2019)

RECURSO INOMINADO. SERVIDOR PÚBLICO.


MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE. REVISÃO GERAL
ANUAL. ART. 37, X, DA CF/88 E LEI MUNICIPAL Nº
9.870/05. Diante dos precedentes do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul, e da interpretação dada pelo
Supremo Tribunal Federal a respeito da revisão geral
anual, o entendimento que tem prevalecido é de que a
revisão anual não é direito subjetivo do servidor, não
sendo, portanto, autoaplicável. Destarte, os reajustes
oriundos do art. 37, X, da CF/88 devem ser
concedidos por e na forma da lei, não tendo o Poder
Judiciário ingerência na decisão pela concessão, ou
não, dos reajustes, tampouco na definição dos valores
e na forma de pagamento aos servidores. Logo, não
prospera o pleito dos autores, pois, conforme
consignou o juízo a quo em sentença, “no âmbito do
Município de Porto Alegre, a implementação da
revisão das remunerações dos servidores está prevista
na Lei Municipal nº 9.870/05, dependendo de Decreto
a ser expedido pelo Executivo Municipal, o qual ainda
pende de expedição”. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA
MANTIDA. RECURSO INOMINADO
DESPROVIDO.(Recurso Cível, Nº 71008915365, Segunda
17
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PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais,


Relator: Rosane Ramos de Oliveira Michels, Julgado em:
27-11-2019)

RECURSO INOMINADO. PRIMEIRA TURMA


RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. SERVIDOR
PÚBLICO. MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE. REVISÃO
GERAL ANUAL DO ART. 37, X, DA CF E LEI
COMPLEMENTAR 9.870/2005. AUSÊNCIA DE
DECRETO. IMPOSSIBILIDADE DE IMPLEMENTAÇÃO
JUDICIAL. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA POR SEUS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS. 1) A reposição do poder de compra
anual aos servidores é vedada ao Poder Judiciário,
aplicando-se à hipótese em comento a Súmula
Vinculante 37 do STF: “Não cabe ao Poder Judiciário,
que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de
servidores públicos sob fundamento de isonomia.” 2)
Ainda que previsto em legislação vigente (Lei nº
9.870/05), sua implementação depende de decreto a
ser expedido pelo executivo municipal e, sob esse
aspecto, ausente tal Decreto, a improcedência é
medida que se impõe, a fim de não afrontar a
independência entre os Poderes. RECURSO
INOMINADO DESPROVIDO. UNÂNIME.(Recurso Cível, Nº
71008393001, Turma Recursal da Fazenda Pública,
Turmas Recursais, Relator: José Pedro de Oliveira
Eckert, Julgado em: 31-10-2019)

RECURSO INOMINADO. MUNICÍPIO DE PORTO


ALEGRE. SERVIDOR PÚBLICO. REVISÃO GERAL
ANUAL. LEI MUNICIPAL Nº 9.870/05. PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. Ainda
que a revisão anual dos vencimentos dos servidores
públicos esteja prevista no art. 37, inciso X, da
Constituição Federal, o reajuste depende de lei para sua
concessão. Expressos os termos da Súmula Vinculante
nº 37 e da Sumula nº 339, ambas, do STF: “Não cabe ao
Poder Judiciário, que não tem função legislativa,
aumentar os vencimentos de servidores públicos sob o
fundamento da isonomia”. No caso, ainda que o art. 1º
da Lei Municipal nº 9.870/05 preveja reajuste, o
referido artigo, de modo expresso, dispõe que a
concessão de retribuições pecuniárias definidas em
lei será mediante decreto do Executivo Municipal.
Logo, na ausência de decreto definindo reajuste, em
observância ao Princípio da legalidade, que norteia a
Administração Pública, impõe-se a manutenção da
improcedência da ação. RECURSO INOMINADO
DESPROVIDO.(Recurso Cível, Nº 71008938060, Terceira
18
PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE
PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais,


Relator: José Ricardo Coutinho Silva, Julgado em: 18-10-
2019)

A par da impossibilidade de invocar o artigo 37, X, da CF,


sobreleva ressaltar que a legislação municipal suscitada pelos
Demandantes também é absolutamente inservível à finalidade da
causa.

Vejamos.

O artigo 1º da Lei Municipal n. 9.870, de 30 de novembro de


2005, que dispõe sobre a política salarial dos servidores da
Administração Centralizada, das Autarquias e Fundação Municipais,
com a redação que lhe foi conferida pela Lei Municipal n. 10.042/2206,
assim preleciona:

“Art. 1º. Os valores básicos dos vencimentos, das


Funções Gratificadas e dos Cargos em Comissão constantes
nos Anexos II, III, IV e VI da Lei nº 6.309, de 28 de dezembro
de 1988, e alterações posteriores, e nos Anexos das Leis
nº 6.099, de 3 de fevereiro de 1988, alterada pela Lei nº
7.330, de 5 de outubro de 1993, e nº6.151, de 13 de julho de
1988, e alterações posteriores; as vantagens pessoais
nominalmente identificadas, de valor certo e determinado,
percebidas por servidores e não-calculadas com base no
vencimento ou salário; a parcela autônoma de que trata a Lei
nº 3.355, de 19 de dezembro de 1969, e alterações
posteriores; a retribuição pecuniária máxima das Assessorias
Municipais; as vantagens remuneratórias baseadas em
estímulo à produtividade e ao desempenho; os salários das
funções regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT
19
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PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

- e demais retribuições pecuniárias definidas em lei serão


reajustados com periodicidade anual, data-base em maio de
cada ano, consideradas as perdas inflacionárias do período,
mediante decreto do Executivo Municipal. (Redação dada
pela Lei nº 10.042/2006).” Sublinhas nossas.

À toda evidência, a lei invocada pelo Autor exige a edição de


um Decreto do Executivo Municipal, normativo este que não foi
editado em Porto Alegre por absoluta insuficiência de recursos
públicos, conforme será demonstrado em item próprio, abaixo.

LIMITES À JUDICIALIZAÇÃO DA PRETENSÃO E SEPARAÇÃO DE


PODERES

De outro lado, como refere a melhor doutrina, “o Supremo


Tribunal Federal entende que, mesmo que seja configurada mora, não
pode o Judiciário, pelo princípio da separação de poderes, obrigar o
Chefe do Executivo a apresentar projeto de lei de sua iniciativa privativa
e discricionária. Há aspectos de planejamento e gestão que devem ser
observados ao garantir a revisão anual, a exemplo da mencionada
previsão do montante de despesa e das fontes de custeio”.1

Mais do que isso, o Pretório Excelso já teve oportunidade de


deixar registrado que “não compete ao Poder Judiciário deferir pedido
de indenização no tocante à revisão geral anual de servidores, por ser
atribuição privativa do Poder Executivo a iniciativa de lei que trate da
matéria”. 2

1 NOHARA, Irene Patrícia. Constituição Federal de 1988: comentários ao capítulo


da Administração Pública. São Paulo: Atlas, 2015, p. 63.
2 STF, RE 500811 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em

26/04/2007, DJe-018 DIVULG 17-05-2007 PUBLIC 18-05-2007 DJ 18-05-2007 PP-


00080 EMENT VOL-02276-27 PP-05593 LEXSTF v. 29, n. 343, 2007, p. 291-296.
20
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Aliás, utilizando por analogia a Lei 10.331/2001, que


regulamenta o inciso X do art. 37 da Constituição (revisão geral e anual
das remunerações e subsídios dos servidores públicos federais),
importante dar destaque ao art. 2º:

Art. 2º A revisão geral anual de que trata o art.


1º observará as seguintes condições:
I - autorização na lei de diretrizes orçamentárias;
II - definição do índice em lei específica;
III - previsão do montante da respectiva despesa e
correspondentes fontes de custeio na lei orçamentária
anual;
IV - comprovação da disponibilidade financeira
que configure capacidade de pagamento pelo governo,
preservados os compromissos relativos a
investimentos e despesas continuadas nas áreas
prioritárias de interesse econômico e social;
V - compatibilidade com a evolução nominal e real
das remunerações no mercado de trabalho; e
VI - atendimento aos limites para despesa com
pessoal de que tratam o art. 169 da Constituição e a Lei
Complementar no 101, de 4 de maio de 2000.

Portanto, ao analisar o pedido da parte autora, indispensável


levar em consideração a falta de comprovação da disponibilidade
financeira, conforme item abaixo, que caracteriza a incapacidade de
pagamento pelo governo, sob pena de prejuízo aos compromissos
relativos a investimentos e despesas continuadas nas áreas prioritárias
de interesse econômico e social.

A POSIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SOBRE O TEMA (RE


565089 / SP) E SITUAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA DO
MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE

21
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PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

O Supremo Tribunal Federal ao examinar o RE 565089 / SP teve


oportunidade de fixar a seguinte tese sobre o tema ora em debate,
verbis:

DIREITO CONSTITUCIONAL E
ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
REPERCUSSÃO GERAL. INEXISTÊNCIA DE LEI PARA
REVISÃO GERAL ANUAL DAS REMUNERAÇÕES DOS
SERVIDORES PÚBLICOS. AUSÊNCIA DE DIREITO A
INDENIZAÇÃO. 1. Recurso extraordinário, com
repercussão geral reconhecida, contra acórdão do TJ/SP
que assentara a inexistência de direito à indenização por
omissão do Chefe do Poder Executivo estadual quanto ao
envio de projeto de lei para a revisão geral anual das
remunerações dos respectivos servidores públicos. 2. O
art. 37, X, da CF/1988 não estabelece um dever
específico de que a remuneração dos servidores seja
objeto de aumentos anuais, menos ainda em percentual
que corresponda, obrigatoriamente, à inflação apurada
no período. Isso não significa, porém, que a norma
constitucional não tenha eficácia. Ela impõe ao Chefe do
Poder Executivo o dever de se pronunciar, anualmente e
de forma fundamentada, sobre a conveniência e
possibilidade de reajuste ao funcionalismo. 3. Recurso
extraordinário a que se nega provimento, com a fixação
da seguinte tese: “O não encaminhamento de projeto de
lei de revisão anual dos vencimentos dos servidores
públicos, previsto no inciso X do art. 37 da CF/1988, não
gera direito subjetivo a indenização. Deve o Poder
Executivo, no entanto, pronunciar-se de forma
fundamentada acerca das razões pelas quais não
propôs a revisão”.
(RE 565089, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado
em 25/09/2019, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-102 DIVULG 27-
04-2020 PUBLIC 28-04-2020)

Ou seja, o intérprete derradeiro do texto constitucional, ao


realizar a interpretação/aplicação do art. 37, X, da CF/1988, menciona
expressamente que inexiste direito subjetivo a indenização. “Deve o

22
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PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

Poder Executivo, no entanto, pronunciar-se de forma fundamentada


acerca das razões pelas quais não propôs a revisão”.

A Secretaria Municipal da Fazenda, a fim de cumprir tal


determinação do STF, expediu a Nota Técnica nº 02/2020 (anexa) com
a situação das finanças públicas do Município de Porto Alegre no
período 2017 a 2020.

Convém salientar, em decorrência dos impactos da pandemia da


Covid-19, a projeção das finanças municipais chegariam a um déficit
pós COVID-19 que podem chegar a R$ 604 milhões, caso não sejam
realizadas medidas para a redução desse elevado déficit. Logo, a partir
de uma série de medidas para redução do déficit pelo lado da receita e
pelo lado da despesa, o Município realizaria um déficit remanescente
para o final de 2020 em torno de R$ 169,8 milhões. Portanto, o
resultado projetado para 2020, exige esforços para controle de gastos,
inclusive aqueles relacionados à despesa de pessoal.

Nesse contexto, por óbvio, cabe ao julgador ter em mente as


determinações da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
(LINDB), em especial, os artigos 20 e 22:

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e


judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos
abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão.
(Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Parágrafo único. A motivação demonstrará a


necessidade e a adequação da medida imposta ou da
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, inclusive em face das possíveis
alternativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018)

23
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PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

(...)

Art. 22. Na interpretação de normas sobre


gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das
políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados. (Regulamento)

§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou


validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, serão consideradas as circunstâncias
práticas que houverem imposto, limitado ou
condicionado a ação do agente. (Incluído pela
Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas


a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos
que dela provierem para a administração pública, as
circunstâncias agravantes ou atenuantes e os
antecedentes do agente. (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018)

§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas


em conta na dosimetria das demais sanções de mesma
natureza e relativas ao mesmo fato. (Incluído
pela Lei nº 13.655, de 2018)

Ora, em razão do mandamento legal acima mencionado, convém


levar em consideração a difícil situação financeira do Município,
agravada em razão da queda da arrecadação pelos efeitos diretos e
indiretos da pandemia, assim como “as exigências das políticas públicas
a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados”.

De outro lado, o autor não juntou nenhuma prova a respeito da


existência de recursos financeiros (art. 373, I, CPC), a fim de promover
a aludida revisão geral anual. Na verdade, o autor faz em sua petição
inicial apenas conjecturas e ilações.

24
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PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

Mais do que isso, no contexto atual, os servidores municipais são


privilegiados, pois estão recebendo em dia as suas respectivas
remunerações. Vale lembrar que parcela significativa da população
brasileira, em razão das medidas tomadas para enfrentamento à crise
causada pela pandemia do Coronavírus - COVID 19, está dependendo
do recebimento do auxílio emergencial do Governo Federal de apenas
R$ 600,00 ou da solidariedade de amigos, parentes e, até mesmo, de
pessoas desconhecidas.

Vale lembrar, ademais, que recentemente, quando do


parcelamento do salário dos servidores municipais, houve inclusive
detida análise das contas públicas municipais pelo Tribunal de Contas
do Estado do RS e nada foi dito em contrário.

Devidamente estabelecido o campo teórico em que se situa a


presente demanda, faz-se necessário expor a a situação econômico-
financeira específica do Município de Porto Alegre.

Consabidamente, esta Capital enfrenta aguda e grave crise


financeira, crise esta que, presentemente, está comprometendo as
despesas públicas e impactando o regular pagamento dos vencimentos
e proventos dos servidores públicos. Referida crise iniciou-se em 2016 e
encontra-se vinculada a questões inflacionárias nacionais, à queda do
Produto Interno Bruto em 2015, ao desaquecimento nacional da
economia, tudo isso tendo por consequência a forte queda na
arrecadação tributária municipal.

A condição econômico-financeira do Município é a de estado de


necessidade. Busca-se, ao máximo, administrar o cumprimento de
todas as obrigações, sem desatender a população e tampouco seus

25
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PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

servidores, de modo que, de forma alguma, os direitos daquela estejam


em detrimento destes.

A revisão geral anual dos vencimentos dos servidores desta


Capital na forma como pretendem os demandantes, na atual situação de
dificuldade econômica do Município, acarretaria uma potencial –
praticamente certa – desordem e levaria à postergação e redução do
custeio de serviços essenciais à população.

O Município, diferente de outras unidades da federação, nesse


momento de dificuldade, vem mantendo mais que o razoavelmente
exigível no cumprimento de todos os serviços e de todas as despesas
sob sua competência, concomitante a uma regular constância – um
conciso e preciso calendário – no pagamento da remuneração e do
provento a todos os seus servidores.

Por óbvio, espera-se, e trabalha-se, para que essa seja uma


condição circunstancial, transitória, e que logo se possa restabelecer a
normalidade nos pagamentos, contudo, neste momento de total
contingenciamento das despesas públicas onde sequer se está
conseguindo o pagamento em dia dos vencimentos, é impensável
cogitar-se a revisão geral ora postulada.

Aliás, a dificuldade do pagamento em dia da remuneração dos


servidores municipais não é nenhuma novidade. De todo modo, o Poder
Judiciário do RS tem rechaçado os pedidos de indenização por dano
moral por reconhecer a real dificuldade financeira do Município.

Neste cenário de contingenciamento de despesas públicas,


também é importante observar que o Município de Porto Alegre possui

26
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PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

parcelamentos tributários com benefício fiscal e garantia no Fundo de


Participação dos Municípios (FPM). O não-cumprimento de tais
parcelamentos gera perda das vantagens legais (juros e multa), rescisão
do parcelamento tributário e retenção de repasses. Ou seja, o não-
cumprimento daqueles parcelamentos compromete o planejamento e a
ordem financeira municipais.

Além disso, o Município de Porto Alegre encontra-se em regime


especial de pagamento de precatórios (Emenda Constitucional nº 94, de
2016) e, por óbvio, a execução do plano de pagamento, homologado
junto ao Tribunal de Justiça, é medida inafastável, uma vez que o
descumprimento das parcelas mínimas obrigatórias importa:

i) sequestro de receitas,
ii) exclusão do plano,
iii) responsabilização do gestor,
iv) retenção de recursos referente a Fundos de Participação, e
v) impossibilidade de contrair empréstimo externo ou interno –
consequências nefastas de toda a ordem à Administração
Pública e, corolário lógico, à população (artigos 101 e seguintes
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias).

A receita líquida mensal (RCL) do Município é basicamente


formada pela:

- arrecadação de tributos municipais (IPTU, ISS, ITBI e taxa de lixo); e


- transferências da União e do Estado.

A despesa, por seu turno, possui quatro grupos, que são:

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1. SAQUES NAS CONTAS

Precatórios e RPVs e sequestros realizados mensalmente em


razão de ordem judicial. Ocorrem com base no art. 100 da
Constituição.

2. PAGAMENTOS COMPULSÓRIOS

Dentro deste item temos diversas despesas


compulsórias, como por exemplo:

- o repasse do duodécimo do Legislativo (art. 124 da Lei


Orgânica do Município);
- as dívidas com a União, Interna e Externa, cuja ausência de
pagamento acarreta o congelamento das contas do Município;
- as consignações por pensões alimentícias e por empréstimos,
por exemplo, dos servidores;
- o seguro obrigatório e o plano de saúde opcional, ambos dos
servidores, cujo não pagamento, além de gerar sérias
consequências aos beneficiários, repercute na rescisão
contratual;

3. PAGAMENTOS MÍNIMOS NECESSÁRIOS, que são


obrigações constitucionais atreladas a desembolsos financeiros
que asseguram o funcionamento da Administração Pública, tais
como:

- repasses à saúde (art. 198 da Constituição);


- manutenção básica da educação infantil (art. 212
Constituição);

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- asseio urbano, coleta do lixo;


- manutenção básica das ruas e dos seus sistemas de
esgotamento pluvial e cloacal;
- manutenção básica da segurança, em colaboração com o
Estado (§ 8º do art. 144 da Constituição e Lei nº 13.022, de
2014).

4. FOLHA DE PAGAMENTO

- remunerações do Legislativo e do Executivo (artigos 39 e 41 da


Lei Orgânica do Município)

É de ver-se que o compromisso com esses quatro grupos é


necessário e indispensável à sobrevivência do Município, vez que
se encontram disciplinados em diversos dispositivos
constitucionais e legais, inclusive com previsão de
bloqueio/retenção de conta em caso de não cumprimento.

Neste cenário, a revisão e/ou reajuste das pensões,


vencimentos e aposentadorias pressupõe, logicamente, a
existência de valores suficientes e disponíveis. Infelizmente, no
atual momento, isso não ocorre, porque existe uma situação de
(a) desequilíbrio entre receitas e despesas; (b) inexistência de
prontas soluções de saneamento; e (c) a absoluta
impossibilidade no cumprimento ordinário das despesas.

Em suma:

- o Município atualmente não possui receita e nem fluxo de


caixa simultaneamente bastante para adimplir a totalidade das

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remunerações no último dia do mês de trabalho


correspondente, razão pela qual mostra-se inviável cogitar-se a
revisão geral anual e/ou a concessão de reajustes;
- o Município possui o dever constitucional de custear as
despesas mínimas necessárias para a sua existência, como
saúde, asseio e saneamento da cidade, segurança, educação
infantil, assistência social, etc.
- o Município deve cumprir outras determinações de repasses
constitucionais (órgãos autônomos e entidades da
administração indireta).

Deixar de cumprir qualquer das obrigações relacionadas


nos quadros acima reproduzidos ensejará:

- na falta de profissionais e medicamentos na saúde pública;


- na falta de profissionais, de merenda e de material na
educação infantil e especial;
- na falta de ônibus nas ruas da cidade, em caso de atraso no
repasse para Administração Indireta – CARRIS;
- na falta de recolhimento de lixo na cidade, em caso de atraso
no repasse para a Administração Indiretas – DMLU;
- na falta de energia elétrica nos hospitais, postos de saúde, nas
escolas, etc.;
- na responsabilização dos gestores, em caso de falta de repasse
às contas de fundos públicos (recursos vinculados), etc.

A fim de demonstrar de forma cabal a sensível situação das contas


públicas municipais e a inafastável necessidade da adoção de medidas
de contingenciamento das despesas públicas, segue, em anexo, a Nota

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Técnica n° 01/2017, onde resta demonstrado o cenário de crise


financeira do Município de Porto Alegre.

Ademais, segue em anexo, os cenários financeiros do Município de


Porto Alegre no corrente ano de 2017, mês a mês, onde se verifica,
modo detalhado, a situação de grave comprometimento das despesas
públicas municipais.

Com o que acima foi dito, entende o Município ter ficado


devidamente caracterizada e demonstrada a exaustão da capacidade
orçamentária, que não autoriza quaisquer debates acerca de revisão
e/ou reajuste de vencimentos. Aplica-se à espécie, o “princípio da
impossibilidade material”, que deve nortear a aplicação do direito pelos
poderes constituídos à luz da ordem constitucional. Tal princípio
decorre do fato de que a lei não pode exigir mais do que a situação
jurídica permite, nem pode a determinação judicial exigir algo que, nas
diversas alternativas de execução, a materialidade fenomênica
demonstre ser irrealizável.

Cumpre observar que o STF vem reconhecendo que mesmo direitos


constitucionais devem submeter-se à capacidade econômico-financeira
do Estado, em atenção à designada teoria da “reserva do possível” ou
“reserva do financeiramente possível”. Tal posição doutrinária foi
defendida pelo voto do eminente MINISTRO CELSO DE MELLO, Relator,
no julgamento da ADPF/MC nº 45. E, no momento de crise, cabe ao
Chefe do Executivo administrar, o que é, justamente, o reconhecimento
das necessidades públicas, a obtenção e aplicação de recursos
necessários à sua satisfação observadas as prioridades no caso de
inexistência de recursos suficientes. E a escolha a ser realizada, frente
ao conflito entre os interesses, deve se estabelecer por meio de um

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“juízo de ponderação”, guiado pelo princípio da proporcionalidade,


defendido como técnica de otimização dos próprios direitos
fundamentais, nascidas no contexto da constituição para manter sua
unicidade, e também pelo princípio da eficiência.

Do que acima foi dito conclui-se, então, que a conduta omissiva do


Município impôs-se em decorrência de força maior, evento inevitável e
excludente da responsabilidade, seja ela subjetiva (como no caso dos
autos) ou objetiva.

COMPROMETIMENTO FINANCEIRO DO PODER PÚBLICO


MUNICIPAL À LUZ DOS REGRAMENTOS DA LEI DE
RESPONSABILIDADE FISCAL

Naquilo que pertine aos argumentos referentes à Lei de


Responsabilidade Fiscal, impende observar tal lei é absolutamente clara
ao determinar que a despesa total com pessoal não pode exceder 60%
da receita corrente líquida (6% para o Poder Legislativo e 54% para o
Poder Executivo), nos termos do artigo 19, que assim preceitua:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da


Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de
apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os
percentuais da receita corrente líquida, a seguir
discriminados:

I - União: 50% (cinqüenta por cento);

II - Estados: 60% (sessenta por cento);

III - Municípios: 60% (sessenta por cento).

Caso o Município ultrapasse referido limite, os consectários


previstos em lei são muito claros ao determinar no artigo 22,
Parágrafo Único:
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“Parágrafo único. Se a despesa total com pessoal exceder a 95%


(noventa e cinco por cento) do limite, são vedados ao Poder ou
órgão referido no art. 20 que houver incorrido no excesso:

I - concessão de vantagem, aumento, reajuste ou


adequação de remuneração a qualquer título, salvo os
derivados de sentença judicial ou de determinação legal ou
contratual, ressalvada a revisão prevista no inciso X do art. 37
da Constituição;

II - criação de cargo, emprego ou função;

III - alteração de estrutura de carreira que implique


aumento de despesa;

IV - provimento de cargo público, admissão ou contratação


de pessoal a qualquer título, ressalvada a reposição decorrente
de aposentadoria ou falecimento de servidores das áreas de
educação, saúde e segurança;

V - contratação de hora extra, salvo no caso do disposto


no inciso II do § 6o do art. 57 da Constituição e as situações
previstas na lei de diretrizes orçamentárias.”

Veja-se que o percentual excedente terá de ser eliminado


nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no
primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos
§§ 3º e 4º do artigo 169 da Constituição Federal (redução de
cargos comissionados e funções gratificadas, exoneração dos
servidores não estáveis).

O Relatório de Gestão Fiscal do Município de Porto Alegre


demonstra que os totais envolvendo as despesas com pessoal
envolvem 50,59% da receita corrente líquida e encontram-se no

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montante de 51,30% do limite prudencial determinado pelo


Parágrafo Único do artigo 22 da LC 101/2000.

Em assim sendo, a operação matemática em questão é


bastante simples: basta aplicar o percentual requerido (4,08%)
sobre os valores despendidos com pessoal para se verificar que o
limite passaria a ser de 56,65%, acima, portanto, do limite
prudencial indicado pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

O cálculo pode ser assim sistematizado:

DEMONSTRATIVO DA DESPESA COM


PESSOAL - SIMULAÇÃO
2º QUADRIMENTRE/2017 - set/2016 a
ago/2017

Receita Corrente Líquida - RCL R$ 5.302.277.653,00 %

Despesa total com Pessoal R$ 2.682.464.875,68 50

IPCA acumulado abril/2017 4,08%

Despesa Total com Pessoal Ajustada pelo


IPCA acumulado R$ 2.791.909.442,61 52

Por todos os motivos expostos, a única solução possível é a


manutenção da sentença de improcedência.

Ante o exposto, o Município requer seja mantida a sentença


e, por conseguinte, negado provimento a apelação.

Nestes termos, pede deferimento.

Porto Alegre, 26 de outubro de 2020.

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RAFAEL VINCENTE RAMOS


Procurador Municipal
OAB/RS 60324

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