Você está na página 1de 8

Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional Procuradoria-Regional da Fazenda Nacional

da 1ª Região Procuradoria de Defesa da Fazenda Grupo de Atuação Desterritorializada


de Defesa (GARD) Núcleo de Cumprimento de Sentenças de Ações Coletivas

M.M Juízo,

A UNIÃO (FAZENDA NACIONAL), pelo Procurador da Fazenda Nacional que


esta subscreve, apresenta impugnação ao cumprimento de sentença, nos seguintes
termos.

Trata-se de cumprimento de sentença relativo à decisão judicial proferida na ação


ordinária coletiva nº 0014460-60.2010.4.01.3400, ajuizada pela ASSOCIAÇÃO NACIONAL
DOS FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL (ANABB), em 26/3/2010, que declarou a
inexistência de relação jurídico-tributária que obrigue os substituídos da Autora ao recolhimento
de imposto de renda incidente sobre a complementação de aposentadoria, referente às
contribuições por eles vertidas ao respectivo fundo (um terço do montante recolhido), no
período de 1º de janeiro de 1989 a 31 de dezembro de 1995, e para condenar a Ré ao pagamento
dos valores indevidamente recolhidos a esse título.

Consoante será demonstrado, a pretensão executória deduzida nos autos não


merece prosperar.

1 – Da Prescrição.

Constata-se, da análise do resumo de cálculo dos exequentes, que eles buscam a


repetição do IRPF pago no período de 1989 a 1995.

Todavia, além de ser objeto diverso do título, conforme melhor explicitado


abaixo, tais créditos estariam prescritos, já que a decisão proferida pelo TRF
reconheceu a prescrição dos valores anteriores a26/3/2005.

2- DA EXECUÇÃO DE OBJETO DIVERSO DO TÍTULO E DO OBJETO DA AÇÃO


COLETIVA.

A decisão judicial exequenda reconheceu a não incidência de imposto


de renda (IRPF) sobre os valores recebidos de aposentadoria complementar
após 1º/1/1996 (início de vigência da Lei 9.250/95), em montante correspondente às
contribuições vertidas pelo beneficiário ao fundo no período de 1989 a 1995, desde que essa
contribuição tenha ocorrido antes da aposentação.

Assim, o objeto de restituição não seria o imposto de renda


retido/pago de 1989 a 1995, mas aquele retido sobre os proventos de
aposentadoria complementar após 1996, ao se considerar isento o montante desses
proventos correspondente às contribuições de 1989 a 1995, tendo em vista que estas foram
tributados na época, evitando a bitributação no resgate desses mesmos valores por meio de
recebimento dessa aposentadoria.

1
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional Procuradoria-Regional da Fazenda Nacional
da 1ª Região Procuradoria de Defesa da Fazenda Grupo de Atuação Desterritorializada
de Defesa (GARD) Núcleo de Cumprimento de Sentenças de Ações Coletivas

O que se verifica, entretanto, é uma confusão dos exequentes, pois têm indicado
os valores de IRPF pago no período de 1989 a 1995 como objeto de restituição, o que, conforme
acima visto, não foi objeto da decisão.

2 - DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA DATA DA APOSENTAÇÃO

Segundo o acórdão do TRF1, apenas as contribuições feitas de 1989 a 1995, antes


da aposentação, seriam consideradas para análise da bitributação. Assim, caso o autor tenha se
aposentado antes de 1º/1/1989 não tem direito a nenhuma restituição, pois todas as
contribuições no períodosupracitado teriam ocorrido após esse evento.

Assim, o primeiro requisito para ter direito à restituição é a


comprovação da data da aposentação, pois sem isso sequer é possível verificar se teriam
direito a ela.

No caso dos autos, todavia, os exequentes se limitam a indicar a data da


aposentadoria na planilha de cálculos, sem apresentar, todavia, a documentação que comprove
tal fato.

3 – DA AUSÊNCIA DE PROVA DE TRIBUTAÇÃO DA APOSENTADORIA


COMPLEMENTAR (BITRIBUTAÇÃO E OBJETO DA AÇÃO COLETIVA)

.Conforme já explicitado acima, o objeto da repetição do indébito não é o


imposto de renda pago de 1989 a 1995, mas aquele que teria incidido sobre a
aposentadoria complementar após a vigência da Lei 9.250/95, pois só nesse
momento estaria configurada a bitributação.

Diante disso, já se pode logo concluir que, caso o autor não tenha sido
tributado quando do recebimento da aposentadoria complementar, também não
teria direito a nenhuma restituição.

Assim, deve comprovar também que foi tributado quando do recebimento da


aposentadoria complementar.

No presente caso, não foram apresentados, contudo, os contracheques de


aposentadoria que demonstrem a tributação do IRPF.

4 – DA AUSÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DA METODOLOGIA ADEQUADA


(METODOLOGIA POR ESGOTAMENTO) NOS CÁLCULOS APRESENTADOS
PELOS EXEQUENTES.

Na hipótese de esse Juízo, a despeito dos fundamentos expostos nos


tópicos anteriores, entender pelo prosseguimento da execução, o que sinceramente
não espera, a rejeição dos valores apresentados nas planilhas de cálculos é medida
que se impõe.

2
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional Procuradoria-Regional da Fazenda Nacional
da 1ª Região Procuradoria de Defesa da Fazenda Grupo de Atuação Desterritorializada
de Defesa (GARD) Núcleo de Cumprimento de Sentenças de Ações Coletivas

É que os citados cálculos não utilizaram a “metodologia do


esgotamento” ou “método do exaurimento” (regulamentada na Portaria Conjunta
PGFN/RFB nº 14/2013, de 18/12/2013, e na Instrução Normativa da RFB nº 1.343, de
05/04/2013), cuja confrontação com o título judicial é a que melhor observa a coisa
julgada.

Vale lembrar que tal metodologia foi reconhecida pelo Superior


Tribunal de Justiça, conforme se observa no seguinte julgado:

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


ART. 535, II, DO CPC. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO.
IMPOSTO DE RENDA. PREVIDÊNCIA PRIVADA.
COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. NÃO
INCIDÊNCIA SOBRE VALOR RECOLHIDO PELO
CONTRIBUINTE. TEMA JÁ APRECIADO NO REGIME DO
ART. 543-C DO CPC. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL.
LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. TÍTULO JUDICIAL. ADOÇÃO
DO MÉTODO DE ESGOTAMENTO. SINTONIA COM A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. PRESCRIÇÃO A SER
APRECIADA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS.
1. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC/73, quando o Tribunal de
origem dirime, fundamentadamente, as questões que lhe são
submetidas, apreciando integralmente a controvérsia posta nos
autos.

3
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional Procuradoria-Regional da Fazenda Nacional
da 1ª Região Procuradoria de Defesa da Fazenda Grupo de Atuação Desterritorializada
de Defesa (GARD) Núcleo de Cumprimento de Sentenças de Ações Coletivas

2. O imposto de renda não incide sobre os valores da


complementação de aposentadoria referentes às contribuições
efetivadas para a entidade de previdência privada, até o limite
do que foi recolhido pelo beneficiário sob a égide da Lei n.
7.713/88 (de janeiro de 1989 a dezembro de 1995). Precedente
julgado na sistemática dos recursos repetitivos prevista no art.
543-C do CPC (REsp 1.012.903/RJ, Rel. Ministro Teori Albino
Zavascki, Primeira Seção, julgado em 8/10/2008, DJe
13/10/2008).
3. O método de esgotamento adotado pelo Juízo de
primeiro grau não destoa do comando constante da
sentença com trânsito em julgado que, à toda evidência,
reconheceu ser indevida a incidência do imposto de renda
sobre verba de complementação de aposentadoria
recebida de entidade de previdência privada, na proporção
das contribuições que os ora recorridos efetivaram para o
fundo de previdência complementar no período de
1º/1/1989 a 31/12/1995.
4. A metodologia do esgotamento corresponde àquela em
que se atualizam as contribuições recolhidas na vigência
da Lei n. 7.713/88 - ou seja, na proporção das contribuições
efetivadas ao fundo no período de 1º/1/1989 a 31/12/1995 - e,
em seguida, abate-se o montante apurado sobre a base de
cálculo do imposto de renda incidente sobre os proventos
complementares no ano base 1996 e seguintes, se
necessário, até o esgotamento do crédito.
5. A confrontação do título judicial com a metodologia do
esgotamento, denota que o Juízo de primeiro grau agiu em
sintonia com a coisa julgada, na medida em que permitiu a
atualização do valor referente às contribuições vertidas no
período de 1º/1/1989 e 31/12/1995 para, em seguida,
decotar referido montante da base de cálculo futura, qual
seja a complementação de aposentadoria, tudo em
consonância com a orientação desta Corte Superior: AgRg
no REsp 1.212.993/PR, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira
Turma, DJe 22/5/2015; AgRg no REsp 1.471.754/PE, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
8/10/2014; AgRg no REsp 1.422.096/RS, Rel. Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 5/9/2014;
REsp 1.221.055/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, DJe 5/12/2012.
6. A metodologia utilizada para encontrar o montante
decorrente das contribuições realizadas no período de
1º/1/1989 a 31/12/1995 deve obedecer ao contido no Manual
de Cálculos da Justiça Federal quanto aos índices de
correção monetária - isso em detrimento da Taxa Selic,
mesmo após 1º/1/1995 -, já que, na espécie, o montante das
contribuições realizadas pelos beneficiários no período

4
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional Procuradoria-Regional da Fazenda Nacional
da 1ª Região Procuradoria de Defesa da Fazenda Grupo de Atuação Desterritorializada
de Defesa (GARD) Núcleo de Cumprimento de Sentenças de Ações Coletivas

supramencionado não ostenta natureza tributária,


entendimento esse acolhido, inclusive, pelo Tribunal de origem.
Precedente: REsp 1.160.833/PR, Rel. Ministra Eliana Calmon,
Segunda Turma, DJe 1º/7/2010.
(....)
9. Recurso especial a que se dá parcial provimento para
admitir, na hipótese dos autos, o uso do método de
esgotamento para fins de apuração do montante a ser
deduzido da base de cálculo do imposto de renda sobre a
complementação de aposentaria recebida pelos ora recorridos,
sem descuidar da observância dos índices de correção
monetária previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal,
bem como da orientação desta Corte Superior a respeito da
prescrição.
(REsp n. 1.375.290/PE, relator Ministro Og Fernandes,
Segunda Turma, julgado em 10/11/2016, DJe de 18/11/2016.)

Essa metodologia de cálculo foi desenvolvida pela Receita


Federal do Brasil, a partir da qual os valores de contribuições de 1989 a 1995,
corrigidos pelo Manual de Cálculos da JF, seriam qualificados, a partir da
aposentadoria dos autores, como crédito a ser esgotado mensalmente
dos valores recebidos de complementação de aposentadoria. E tais
contribuições seriam, exatamente, deduzidas da base de cálculo do IR,
reduzindo o valor do imposto, e evitando-se o bis in idem.

Assim, para se aferir a existência ou não de indébito, de acordo com o


método do esgotamento, 3 etapas devem ser analisadas:

a) a primeira: o levantamento dos valores recolhidos à


previdência privada pelo Autor no período de 1989 a 1995,
com correção monetária e atualização, pelos índices
previstos pelo Manual de Cálculos da JF até a data do
recebimento do benefício complementar de
aposentadoria;

b) depois, com a aposentadoria, o esgotamento mensal


do crédito apurado conforme o item “a”, a partir dos
contracheques de aposentadoria;

c) a apuração do IRPF, com a dedução dos valores de


contribuições no ano-calendário, a partir da apuração dos
dados da Declaração de ajuste, apontando-se o IR
devido, e o IR a restituir ao contribuinte.

5
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional Procuradoria-Regional da Fazenda Nacional
da 1ª Região Procuradoria de Defesa da Fazenda Grupo de Atuação Desterritorializada
de Defesa (GARD) Núcleo de Cumprimento de Sentenças de Ações Coletivas

No caso concreto, para se apurar valor a ser restituído, o autor deve


COMPROVAR: a) a data da aposentação; b) os valores vertidos ao fundo no período
de 1989 a 1995; c) os valores de aposentadoria complementar recebidos após
1º/1/1996 (vigência da Lei 9.250/90) ou a data da aposentadoria, se esta for posterior;
d) o imposto de renda que incidiu sobre esse benefício, já que só teria direito à
restituição em caso de bitributação, o que só ocorre nesse caso.

Todavia, aos exequentes não juntaram tal documentação, já que, além


de não comprovarem a data da aposentação, conforme mencionado acima, não
informaram os valores de aposentadoria complementar recebidos, nem o imposto
retido.

Na verdade, sequer sabe-se se os autores recebem aposentadoria


complementar e se houve tributação desta.

Também o demonstrativo do crédito juntado pelos


exequentes não atende o art. 534 do CPC, pois não guarda relação com o
objeto do título, já que discrimina apenas o IRPF pago entre 1988 a 1995,
enquanto o objeto seria o imposto de renda sobre a aposentadoria
complementar.

Assim, considerando os documentos juntados aos autos, não há


nenhuma comprovação de valor a ser restituído, não se verificando, portanto,
a existência de valores a restituir.

Oportuno ressaltar que cabe ao exequente demonstrar a existência de


tributo a repetir, tendo em vista que a sentença proferida em ação coletiva é ilíquida,
em que apenas se declara genericamente o direito à repetição de eventual indébito
para os substituídos, deixando-se, porém, para a fase da execução, a verificação da
efetiva existência dos créditos e a qualidadede beneficiário de cada exequente.

Assim, além da planilha de cálculo, é necessário a comprovação


documental dos valores lá indicados, pois, doutro modo, tratar-se-ia de mera
execução de valores hipotéticos ou não comprovados, havendo assim
risco de enriquecimento sem causa e prejuízo ao erário.

6
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional Procuradoria-Regional da Fazenda Nacional
da 1ª Região Procuradoria de Defesa da Fazenda Grupo de Atuação Desterritorializada
de Defesa (GARD) Núcleo de Cumprimento de Sentenças de Ações Coletivas

5 – DO RESUMO DA DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA OS CÁLCULSO


PELA RFB.

A fim de se estabelecer procedimentos para os cálculos na repetição de indébito,


foi editada a Portaria Conjunta PGFN/RFB nº 14/2013, que, em seu anexo, no subitem 1.6,
enumera a documentação imprescindível para se apurar o valor a ser restituído, nesses casos,
conforme abaixo:

Assim, deve o exequente juntar aos autos toda essa documentação.

7
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional Procuradoria-Regional da Fazenda
Nacional da 1ª Região Procuradoria de Defesa da Fazenda Grupo de Atuação
Desterritorializada de Defesa (GARD) Núcleo de Cumprimento de Sentenças de
Ações Coletivas

6 – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer seja julgada procedente a presente impugnação,


conforme razões e pedidos acima e, especialmente, que seja reconhecida a prescrição
dos créditos exequendos e, caso superada essa preliminar, seja reconhecida a ausência
de demonstrativo de cálculo pertinente com o objeto da ação, e caso ainda superadas
essas preliminares, a inexistência de valores a repetir, tendo em vista que os exequentes
não comprovaram: a) contribuição para o fundo de 1989 a 1995 antes da aposentação; b)
incidência de imposto de renda sobre a aposentadoria complementar; c) diferença de imposto
de renda a ser-lhe restituído, decorrente da não incidência desse tributo sobre a
complementação de aposentadoria recebida, correspondente às suas contribuições vertidas ao
fundo de 1989 a 1995.

Nestes termos, pede-se deferimento.

Data e hora no sistema.

JOVENTINO PEREIRA DA COSTA JUNIOR


Procurador da Fazenda Nacional

Você também pode gostar