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Universidade Federal de Viçosa

Centro de Ciências, Letras e Artes


Departamento de Economia
ECO 447 - Análise da Economia Brasileira II

Beatriz Lopes Soares - 102181


Emanuel Vitor Viana Gomes - 102210

Viçosa
2023
Introdução

Este trabalho tem como objetivo apresentar os acontecimentos e


consequências decorrentes das políticas aplicadas nos dois mandatos do presidente
FHC e no primeiro governo Lula. Serão explicitados quais medidas foram tomadas
para lidar com o cenário de desequilíbrio financeiro, o porquê delas e suas
consequências. Ao final será possível entender as diferenças e semelhanças entre
ambos os governos, dado que cada um herdou um cenário economicamente
instável.

Política Macroeconômica do Primeiro e Segundo Governo FHC

Durante o primeiro mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso,


durante a aplicação do Plano Real, foram propostas políticas macroeconômicas que
tinham como objetivo principal, auxiliar e proporcionar bases sólidas para que
houvesse a consolidação do plano que seria aplicado e promover transição entre os
terríveis períodos de hiperinflação e instabilidade econômica que pairava sobre a
economia brasileira.

Em primeira instância, é necessário abordar a reforma fiscal promovida pelo


Governo durante o primeiro mandato. É importante destacarmos sobre os
persistentes déficits fiscais e desequilíbrios vivenciados pela economia brasileira,
que acabaram se tornando desafios significativos à estabilidade financeira. Dado
esse conceito, podemos introduzir comentários sobre a reforma fiscal promovida
pelo governo. O principal objetivo desta política seria reorganizar as finanças
públicas, promovendo o equilíbrio entre receitas e despesas do governo.

Uma segunda reforma que foi de grande importância foi a reforma


administrativa. O Brasil vivenciava e tinha a característica de ser um Estado grande
e fraco, ou seja, uma gigante máquina pública que não gerava resultados
econômicos positivos para a população e, dado essa observação, a reforma
administrativa trouxe certa modernização e reestruturação da máquina pública, com
o objetivo de promover maior eficiência e reduzindo custos. O aumento da
arrecadação por meio de reformas tributárias foi uma das medidas adotadas. Assim
como comentado no tópico anterior, tais políticas/reformas aplicadas foram de
grande importância para aplicação e perpetuação do Plano Real, de certa forma,
foram as bases que sustentaram o Plano.

Durante o primeiro mandato, algumas economias passaram por crises no


seu sistema econômico e que afetaram diretamente a economia brasileira devido à
similaridade e contexto entre as economias. Em breve comentários, podemos citar a
Crise Mexicana conhecida também como “Efeito Tequila". Tal crise promoveu
incerteza entre os investidores na região e afetou diretamente a economia brasileira
devido a significativa fuga de investimentos que, por escolha do governo brasileiro,
fez com que optassem pela flexibilização da política cambial. Foi introduzido pelo
governo o sistema de bandas cambiais deslizantes, elevação de imposto de
determinados produtos importados e aumento da taxa de juros, a fim de atrair
investimentos externos.

Os resultados gerados pela crise e pelas ações do governo foram bem


visíveis. Houve uma queda do crescimento econômico e aumento da dívida pública
devido a elevação da taxa de juros e dificuldades no setor financeiro. Em resumo,
as políticas adotadas como resposta à Crise Mexicana ajudaram a mitigar alguns
dos impactos adversos, preservando a estabilidade cambial e atraindo
investimentos. Contudo, essas medidas também apresentaram desafios,
destacando a complexidade de gerenciar a política macroeconômica em um
contexto de turbulência global.

Outras duas crises que afetaram diretamente a economia brasileira foram a


Crise Asiática e a Russa. Da mesma forma da Crise Mexicana, a Crise trouxe
especulação à economia brasileira, forçando o Governo Brasileiro a elevar ainda
mais a taxa de juros da economia objetivando a entrada de capital externo na
economia e um novo pacote fiscal. No caso da Crise Russa, o que foi feito como
solução, foi a ida ao FMI com o objetivo de receber recursos e se comprometendo a
promover austeridade fiscal e monetária, fazendo com que o governo
desvalorizasse o câmbio. Durante o segundo mandato do FHC, também foi adotado
o programa de metas de inflação como parte de um esforço estratégico para
controlar a persistente inflação que historicamente assolava a economia brasileira. A
implementação desse regime, em 1999, refletiu um compromisso claro do governo
em estabilizar os preços, oferecendo maior previsibilidade aos agentes econômicos.
Ao estabelecer metas numéricas para a inflação, o Banco Central ganhou um
instrumento preciso para conduzir a política monetária, ajustando as taxas de juros
conforme necessário para atingir os objetivos de inflação. Essa abordagem não
apenas ancorou as expectativas, mas também fortaleceu a credibilidade da política
econômica brasileira, criando um ambiente mais favorável a investimentos e
crescimento sustentável.

No que se refere à vulnerabilidade externa, o regime cambial foi alterado,


passando de um sistema de bandas cambiais para um regime de flutuação suja.
Essa mudança permitiu a desvalorização do câmbio real e a redução da
vulnerabilidade externa da economia brasileira. Além disso, houve uma melhoria na
qualidade do financiamento dos déficits remanescentes. Já sobre a vulnerabilidade
interna, foram implementadas mudanças na área fiscal, como a geração de
superávit primário, e na área monetária, como a adoção do regime de metas de
inflação. Essas mudanças contribuíram para a redução da vulnerabilidade interna da
economia brasileira, ao promover a estabilidade macroeconômica e a redução da
inflação.

O governo Lula

Lula assume em 2003 e encontra um cenário econômico favorável em seu


primeiro mandato, dando continuidade à política econômica de seu antecessor,
mantendo a política de metas de inflação e a obtenção de superávits primários
elevados, tentando assim manter a estabilidade macroeconômica. Houve elevação
da taxa de juros básica da economia e elevação dos depósitos compulsórios no
Banco Central. De certa forma, essas políticas implementadas surtiram efeito no
controle da inflação naquele período, mas, em uma análise geral do processo de
crescimento econômico, as mesmas políticas agiram como freios limitadores para o
crescimento e afetaram de forma grave a dívida pública, dado o aumento da taxa de
juros. Na tentativa de reverter a situação de baixo crescimento, que era um
problema consistente desde o governo anterior, Lula reduziu as taxas de juros e
ampliou crédito, porém tais medidas continuaram sendo insuficientes para estimular
o crescimento econômico.
Nesse contexto, sua proposta de governo incluía conciliar a manutenção da
estabilidade econômica do país promovendo um crescimento e inclusão social, um
exemplo dessa promoção foi a criação do Programa Bolsa Família. Porém, o que
pode se concluir do que foi o primeiro mandato do Lula é um governo repleto de
políticas econômicas voltadas para manter a estabilidade econômica, ou seja,
políticas ortodoxas. A estabilidade em detrimento do crescimento econômico
resultou em uma maior dificuldade em lidar com a dívida que acumulava taxas de
juros altas, mesmo com a entrada de capital estrangeiro, muito presente na relação
com a China.

A política fiscal brasileira esteve intrinsecamente conectada à crescente


influência da China na economia global. A China representou ao Brasil uma fonte
significativa de demanda por suas commodities, setor onde o Brasil priorizou suas
exportações. A demanda chinesa por commodities teve um impacto significativo nas
receitas de exportação brasileiras, proporcionando um influxo de recursos para a
economia brasileira. Essa dinâmica foi um elemento importante na formulação da
política fiscal, uma vez que o governo buscou equilibrar a necessidade da
manutenção de superávits primários. A dependência das exportações de
commodities para a China também destacou a vulnerabilidade da economia
brasileira a flutuações nos preços desses produtos no mercado internacional.

Dada a conjuntura econômica difícil que o país enfrentava, com


desequilíbrios fiscais e inflação elevada, acordaram novas metas com FMI, onde
houve um aumento na meta do superávit primário para garantir que nos anos
seguintes houvesse melhora na relação dívida/PIB.

Conclusão

Durante o primeiro mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso, a


aplicação do Plano Real e as políticas macroeconômicas adotadas contribuíram
significativamente para a consolidação da estabilidade econômica no Brasil. A
reforma fiscal, ao reorganizar as finanças públicas, buscou equilibrar receitas e
despesas, enfrentando persistentes déficits fiscais. Paralelamente, a reforma
administrativa modernizou a máquina pública, promovendo eficiência e redução de
custos. Essas medidas forneceram uma base sólida para a transição entre períodos
de hiperinflação e estabilidade. Contudo, as crises internacionais, como a Crise
Mexicana, evidenciaram a vulnerabilidade da economia brasileira a choques
externos, demandando ações como a flexibilização da política cambial. Os
resultados, embora possam mitigar impactos adversos, sublinharam a complexidade
de gerenciar a política macroeconômica em um contexto de turbulência global,
refletindo na queda do crescimento econômico e aumento da dívida pública.

No governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a continuidade de políticas de


estabilidade, como as metas de inflação e superávits primários elevados, manteve a
economia em um quadro macroeconômico controlado. Contudo, a elevação das
taxas de juros e a ênfase na austeridade fiscal limitaram as medidas de estímulo ao
crescimento. A dependência das exportações de commodities para a China trouxe
influxo de recursos, mas também expôs a economia a volatilidade nos preços
internacionais. A tentativa de reverter o baixo crescimento por meio da redução das
taxas de juros e ampliação de crédito mostrou-se insuficiente. No contexto
internacional, a negociação de metas com o FMI evidenciou desafios na gestão da
dívida, mesmo com a entrada de capital estrangeiro.

Em síntese, tanto o governo FHC quanto o governo Lula alcançaram êxitos


na estabilização econômica, mas também enfrentaram desafios intrincados. As
políticas macroeconômicas adotadas delinearam a trajetória econômica do país,
ressaltando a necessidade de abordagens flexíveis e equilibradas para lidar com
crises globais, garantir a estabilidade e fomentar o crescimento sustentável.
Referências:

Filgueiras, Luiz & Pinto, Eduardo. (2004). GOVERNO LULA: CONTRADIÇÕES E


IMPASSES DA POLÍTICA ECONÔMICA. OLIVEIRA, G.; TUROLLA, F.

Política econômica do segundo governo FHC: mudança em condições adversas.


Tempo Social, v. 15, n. 2, nov. 2003.

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