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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

MARCELA GOMES

O PROCESSO DE AJUSTAMENTO INTERNO, CONTROLE DA INFLAÇÃO E


O IMPACTO SOBRE A FRAGILIDADE MACROECONÔMICA

VARGINHA/MG
2014
MARCELA GOMES

O PROCESSO DE AJUSTAMENTO INTERNO, CONTROLE DA INFLAÇÃO E


O IMPACTO SOBRE A FRAGILIDADE MACROECONÔMICA

VARGINHA/MG
2014
MARCELA GOMES

O PROCESSO DE AJUSTAMENTO INTERNO, CONTROLE DA INFLAÇÃO E


O IMPACTO SOBRE A FRAGILIDADE MACROECONÔMICA

A Banca examinadora abaixo assinada


aprova o trabalho apresentado como parte
dos requisitos necessários para obtenção do
título de Bacharel em Ciências Econômicas
pela Universidade Federal de Alfenas,
campus Varginha -MG:
Professor orientador: Bernardo Miranda

Aprovada em: _______________________

Prof.:
Assinatura:______________________
Instituição: Universidade Federal de Alfenas
Prof.:
Assinatura:______________________
Instituição: Universidade Federal de Alfenas
Prof.:
Assinatura_______________________
Instituição: Universidade Federal de Alfenas

VARGINHA/MG
2014
RESUMO

Devido à forte recessão econômica ocorrida nos países periféricos, na década de 1980, o
Brasil passou a apresentar forte celeridade do processo inflacionário, que só foi
controlado na primeira metade da década de 1990. Assim, o objetivo desse estudo é
mostrar a postura econômica adotada pelo Brasil, entre os anos de 1994 até meados da
década de 2000, para o controle inflacionário. A adoção de uma nova moeda e de novos
regimes monetários foi necessária para conter a instabilidade dos preços e a crise do
balanço de pagamentos. Os regimes monetários adotados no país, na época em questão,
foram regime monetário de metas cambiais e regime monetário de metas de inflação.
Com o estudo, depreende-se que o Plano Real, adotado em 1994, enquanto plano de
estabilização, obteve êxito.

Palavras-chave: Inflação. Regimes monetários. Plano Real.


SUMÁRIO

1. Introdução 6

2. Objetivo do trabalho 7

3. Breve histórico sobre a situação econômica do brasil 7

4. Regimes monetários 8
4.1 Controle da inflação via taxa de câmbio 9

4.1.2 Crise do balanço de pagamentos 10

4.2 Metas de inflação 10

4.2.1 Taxa selic 12

4.2.2 Superávit primário 14

5. Análise dos resultados 15

6. Considerações finais 16

Referências bibliográficas 17
6

1. Introdução

A prosperidade econômica vivida nos países periféricos na década de 1970 não


ocorreu em 1980. A respeito da década de 1980, principalmente na sua segunda metade,
uma das consequências ocorridas no Brasil foi a aceleração do processo inflacionário.
Com o intuito de controlar a inflação, o então presidente da República, Fernando
Collor de Mello, aderiu às políticas neoliberais1 e diminuiu o déficit público, com
contração monetária. Contudo, não ocorreu o controle inflacionário.
No Governo subsequente, Itamar Franco lançou, em 19932, o Plano Real, que
buscou promover o ajuste fiscal, criou um novo indexador (unidade Real de valor) e
introduziu uma nova moeda. Em suma, o plano tinha como meta alcançar o equilíbrio
orçamentário e o controle da inflação.
O Plano Real conseguiu controlar a inflação. O regime monetário, aplicado na
época da adesão da nova moeda, era ancorado a uma taxa de câmbio fixo entre a moeda
nacional e o dólar. Com a crise financeira de 1998, que diminuiu as reservas brasileiras
de dólar, a ancoragem cambial foi abandonada o que gerou a necessidade de se construir
um novo regime monetário, comprometido com a estabilidade, esse novo regime remete-
se as metas de inflação.
As metas de inflação (tripé: metas de inflação, câmbio flutuante e superávit
primário) foram aderidas pelo Governo Fernando Henrique Cardoso para manter a taxa
de inflação sob controle, anualizada com apenas um dígito.
Através das literaturas sobre os regimes monetários aplicados na década de 1990
e sobre o Plano Real, foi elaborado um estudo sobre a inflação brasileira no período do
Plano Real e como os regimes monetários adotados mantiveram a inflação estável. Os
dados apurados no trabalho provêm do Banco Central, IBGE e do Ministério da Fazenda.
O período de estudo é entre 1994 a 2005. Inicia-se com a implantação do Plano
Real e após a adoção do regime monetário metas de inflação, em 2002, são analisados
alguns de seus resultados e o estudo se encerra no ano de 2005.

1
As políticas neoliberais se referem à abertura comercial, desregulamentação financeira, ajuste
fiscal, Mercosul e desestatização.
2
O Plano Real foi oficialmente iniciado em 30 de julho de 1994, contudo em 1993 já havia sido
inicializada sua implantação.
7

Na primeira parte do trabalho estão elucidados os fatos que culminaram na


recessão financeira da década de 1980. Na segunda parte são apontados os regimes
monetários adotados no Brasil durante o Plano Real, quais foram seus impactos e quais
as razões que ocasionaram as mudanças dos regimes. Por fim, a análise dos resultados e
considerações finais.

2. Objetivo do trabalho

O presente trabalho tem por objetivo estudar os regimes monetários adotados pelo
governo brasileiro no período de 1994 a 2005, algumas de suas implicações e quais as
razões que acarretaram nas mudanças dos regimes.

3. Breve histórico sobre a situação econômica do Brasil

Para FILGUEIRAS (2006), a década de 1970 foi marcada por muitos


empréstimos, a taxas flutuantes, oferecidos pelos Estados Unidos aos países periféricos3.
Após o grande número de empréstimos ofertados, ocorreu a recessão monetária do
México e o II choque do petróleo (resultando na elevação da taxa de juros americana) que
culminaram em pressões cambiais insustentáveis. Aumentou o montante de juros a serem
pagos pelos empréstimos internacionais já realizados e também desapareceram os
recursos financeiros disponíveis.
Segundo FILGUEIRAS (2006), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o qual
desempenhava seu papel em função dos interesses do capital financeiro internacional,
repassou a responsabilidade da recessão financeira aos países periféricos. Os Estados
Unidos elevaram sua taxa de juros para poderem financiar seus déficits fiscal e comercial,
provocando uma recessão mundial o que afetou a capacidade de exportação dos países
periféricos e agravou as balanças comercial e de pagamentos destes.
De acordo com FILGUEIRAS (2006), o consumo interno no Brasil diminuía,
gerando um aumento do excedente interno que era destinado à exportação. Essa capitação
de recursos externos era satisfatória para manter o balanço de pagamentos equilibrado.

3
Os países periféricos, para FILGUEIRAS (2006) são os países da América Latina.
8

Contudo, tais medidas não conseguiram ser mantidas por muito tempo e o Brasil teve que
passar a transferir recursos ao exterior a fim de amortizar suas dívidas. A situação do
Brasil, de conservar seu crescimento através de exportações, as quais aumentavam
(mesmo a níveis menores) sua taxa de crescimento, persistiu até a moratória do México
onde o quadro econômico brasileiro se modificou.
Segundo BAHRY (2003), o acordo fechado com o FMI teve como objetivo
combater o desajuste externo mediante a geração de superávit comercial, além de
subsídios às exportações e contenção das importações. Para tal, a política de
desvalorização cambial piorava as expectativas sobre a evolução futura da taxa de
câmbio, o que tornava pouco provável a retomada da entrada de capitais, uma vez que o
capital novo entrado no país não estava isento do risco de ser desvalorizado. Assim, houve
um forte aumento da dívida do setor público. O Governo assumiu a dívida privada em
moeda estrangeira e passou a gerar superávits consecutivos na balança comercial para
cumprir com os compromissos.
Para BAHRY (2003), o país somente sairia da recessão na década de 1990 por
meio da adoção de diferentes regimes monetários.
Adotar novos regimes monetários era uma alternativa para manter o controle da
inflação no período do Plano Real. O Brasil optou por implantar, em 1995, o regime
monetário de metas cambiais e logo após o seu declínio, em 1999, passou a utilizar o
regime de metas de inflação.

4. Regimes monetários

Os planos para reduzir a inflação no Brasil foram solidificados por meio de


mudanças nos regimes monetários. Os regimes monetários têm por objetivo alcançar a
estabilidade de preços. O processo no qual se dá esse equilíbrio é por meio da fixação de
uma âncora nominal. Nas palavras de KUHN e TOSTES (2010), os regimes monetários
se caracterizam pelo emprego de âncoras nominais onde um indicador ou instrumento de
política econômica é fixado (ou se define um intervalo para sua variação), podendo ser a
taxa de câmbio (metas cambiais), os estoques monetários (metas monetárias) ou mesmo
a taxa de inflação (metas de inflação).
No Brasil foram implantados três tipos de políticas monetárias: regime monetário
de metas monetárias, regime monetário de metas cambiais e regime monetário de metas
9

de inflação. Devido aos diferentes indicadores, cada regime utiliza regras diferentes:
estoque de moeda, taxa de câmbio e taxa de inflação, respectivamente.

4.1 Controle da inflação via taxa de câmbio

Segundo KUHN e TOSTES (2010), com o início do Plano Real foram


introduzidos controles mais rígidos e explícitos sobre as flutuações cambiais. O Banco
Central atuava no mercado de câmbio, a fim de manter a taxa de câmbio dentro da banda
de flutuação determinada pela autoridade monetária (câmbio fixo ajustável em
minibandas cambiais). Esse regime só é viável enquanto o país possuir um bom nível de
reservas internacionais.
De acordo com o índice de preços ao consumidor amplo do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IPCA –IBGE) (2014), a economia brasileira apresentou uma taxa
de inflação média de 28,58% a.m. em 1993, 22,98% a.m. em 1994 e 1,70% a.m. em 1995,
ou seja, houve redução rápida do processo inflacionário devido ao plano adotado.
Para DEZORDI (2004), cabia ao Banco Central o controle do nível de reservas
internacionais e do fluxo de capitais, que tinha como intuito manter o equilíbrio externo
do balanço de pagamentos. “Em momentos de crise isso significava elevar a taxa de juros
doméstica a fim de evitar a fuga de capitais e ataques especulativos que resultam em
mudança de regime cambial” (DEZORDI, 2004, p.18). Por essa razão, a política
monetária passa a depender do setor externo. A taxa de juros e o volume de reservas
internacionais eram umas das variáveis domésticas de ajuste interno.
Em razão dos ataques especulativos - crise do sistema de poupança e empréstimos
nos EUA (1991), moratória mexicana (1995), crise asiática (1997) e crise russa (1998) - os fluxos
internacionais de capitais para os países periféricos diminuíram. Dessa forma, as reservas
brasileiras se esgotaram, consideravelmente, tornando inviável a manutenção do câmbio
fixo.
10

4.1.2 Crise do Balanço de Pagamentos

Para DEZORDI (2004), controlar o processo inflacionário significava que a


balança de pagamentos estivesse com saldo positivo, para que as autoridades monetárias
pudessem controlar a taxa de câmbio. Com as reservas internacionais positivas, o Brasil
conseguia colocar o Real em paridade com o dólar, a oferta de dólar deveria ser igual à
demanda, garantindo a paridade entre as moedas.
Dado que ocorria um aumento no déficit nas transações correntes, o qual deveria
ser financiado via conta Capital, o Governo mantinha uma grande diferencial entre a taxa
de juros interna e externa. “Administrar a conta capital e manter o equilíbrio
macroeconômico, em períodos de crises externas, significa elevar significativamente a
taxa de juros doméstica, evitando a fuga de capitais e ataques especulativos que resultam
em mudança de regime cambial”. (DEZORDI, 2004, p. 18).
Para BAHRY (2003), a taxa de juros elevada incidia positivamente sobre a atração
de capital e negativamente sobre as contas públicas. Eram dois os efeitos sobre a dívida
pública: o primeiro era que o Governo aumentava a dívida imobiliária, para evitar um
aumento da liquidez que seria proporcionado pelo fluxo de capitais externos (que são
atraídos pelas altas taxas de juros), desta forma o governo emitia títulos públicos; o
segundo era que a dívida era corrigida justamente com as altas taxas de juros, que atraem
o capital especulativo. O aumento do passivo externo e da dívida interna culminou na
crise financeira e levou ao abandono das bandas cambiais.
Para manter a economia sobre controle o Governo em 1999 adota regime de Metas
de Inflação.

4.2 Metas de inflação

Para NETO (2009), o Governo criou formalmente o sistema de metas de inflação


através de um decreto4, indicando que as metas teriam de ser de médio prazo e definidas

4
O Brasil adotou formalmente o regime de metas para a inflação como diretriz de política
monetária, com a edição do Decreto nº 3.088 pelo Presidente da República, em 21 de junho de
1999. Em 30 de junho de 1999, o Conselho Monetário Nacional (CMN) editou a Resolução nº
2.615, tratando da definição do índice de preços de referência e das metas para a inflação para
1999 e para os dois anos subsequentes. BANCO CENTRAL, boletim eletrônico.
11

com dois anos de antecedência e ao Banco Central caberia a tarefa de persegui-las, fato
que insinuava a delegação de uma autonomia operacional para o Banco Central.
Segundo NEVES e OREIRO (2008), o sistema de metas de inflação tem por
objetivo a estabilidade dos preços5. É necessário que o Banco Central seja um banco
independente, para que assim haja credibilidade das autoridades monetárias. As metas de
inflação, definidas pelo Governo, permitiam ao Banco Central o uso de toda informação
disponível para a implantação do regime.
Para DEZORDI (2004), a adoção do regime de Metas de Inflação mostrou pontos
inéditos e de suma importância na condução da política monetária.

O regime de metas de inflação combina a discricionariedade restrita dos


regimes intermediários com um mecanismo transparente de condução
da política monetária. Nesse regime, o banco central vincula suas
decisões às projeções de inflação, o que requer que essas previsões
tenham credibilidade e que o público esteja convencido de que suas
decisões são baseadas em restrições impostas por um processo que: i)
começa pelas previsões; ii) considera as expectativas do setor privado;
e iii) termina com decisões periódicas sobre a taxa de juros básica.
MINELLA e SOBRINHO (2009, p. 245).

De acordo com os dados fornecido pelo Banco Central, este atingiu as metas de
inflação apenas nos dois primeiros anos de implantação (1999 e 2000).
No segundo semestre de 2001 e 2002, segundo BAHRY (2003), em atenção à
elevada depreciação do câmbio, à crise energética, ao aumento do preço do petróleo, à
crise Argentina, às eleições presidenciais, ao aumento do risco país, entre outras pressões
inflacionárias, e com metas inflacionárias ambiciosas (4% e 3,5% respectivamente), o
aumento generalizado dos preços não conseguiu ser contido no nível programado.
O gráfico a seguir mostra a curva da inflação brasileira entre os anos de 1999 a
20056. A respeito de 1999 a 2001 verifica-se que esse período manteve-se no intervalo
esperado.

5
Indicado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), constituído pelo BCB (presidente e
diretores) que “[...] tem como objetivos implantar a política monetária e analisar o Relatório de
Inflação a que se refere o Decreto 3.088, de 21 de junho de 1999”. BANCO CENTRAL (2005).

6
Apesar do período estudado ser a partir de 1994, o gráfico inicia-se em 1999, já que antes de
1999 o regime monetário adotado não era o de Metas de Inflação, o qual o gráfico se designa.
12

Gráfico 1: Histórico de Metas para a Inflação no Brasil, nos anos de 1999 a 2005.

14

12

10
(%) inflação

Meta (%)
4

2 Inflação Efetiva
(%)
0 Limite Inferior
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 (%)
Ano Limite Superior
(%)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil. (2014)

4.2.1 Taxa Selic

A adoção do “tripé econômico” foi uma tentativa de melhorar a economia


brasileira após os ataques especulativos, que reduziram as reservas de dólar do Banco
Central. A medida adotada, em tese, era a de que o Banco Central se responsabilizaria
apenas com a política monetária, sem posicionar-se à taxa de câmbio. Ou seja, ao Banco
Central caberia o controle da base monetária e seus agregados monetários a fim de atingir
uma dada meta de inflação de preços, e às forças de mercado caberia o controle da taxa
de câmbio.
Segundo NETO (2009), a política monetária que o Banco Central adotou resumia-
se em estipular uma meta para a taxa de juros do mercado interbancário do sistema
especial de liquidação e de custódia (taxa SELIC). Com a taxa SELIC estipulada, o Banco
Central adotava medidas contracionistas ou expansionistas, uma vez que controlava a
quantidade de dinheiro injetada no mercado interbancário. A injeção de dinheiro fazia
com que as taxas cobradas por esses bancos caíssem, e em vista de menores taxas de juros
os bancos tendiam a aumentar seus empréstimos, aumentando a expansão do crédito no
Brasil. No caso contrário, quando o Banco Central injetava menos dinheiro ou retirava
dinheiro do mercado interbancário a taxa de juros era maior, ou seja, o crédito disponível
se tornava menor.
13

A partir do histórico das taxas de juros fixadas pelo Comitê de política monetária
(COPOM) e evolução da taxa SELIC, fornecidos pelo Banco Central, constatou-se o
esforço do Banco Central em manter as taxas efetivas bem próximas às estipuladas. No
período em análise (1998 a 2005) ocorreram 93 reuniões do COPOM e em 19 destas
reuniões a meta foi fixada com viés de baixa (1) e alta (18).

Gráfico 2: Histórico das taxas de juros fixadas pelo Copom e evolução da taxa Selic para
os anos de 1998 à 2005.
50
45
40
Valor SELIC %a.a.

35
30
25
20
15
10
5
0

Anos

Meta Selic Taxa Efetiva Selic

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados fornecidos pelo Copom, no endereço eletrônico do
Banco Central do Brasil. (2014)

Analisando os dados verifica-se que de 1998 a 2005 a taxa básica de juros oscilou.
O mecanismo adotado pelo Banco Central para controle da inflação, para que não
houvesse remarcações de preços, era de que sempre que os preços subissem acima do
estabelecido a taxa de juros básica aumentaria, diminuindo assim o dinheiro em
circulação, o que contém a expansão do crédito (o aumento da taxa SELIC é um
desestimulador do consumo).
Uma característica do Brasil é que parte de sua dívida é atrelada aos juros. Quando
o COPOM aumenta o viés, parte da dívida pública eleva-se. O declínio da taxa de juros
básica significa que a parte da dívida pública, a que é atrelada aos juros, também
diminuiu.
14

4.2.2 Superávit primário

Em 1998, o Brasil teve que recorrer ao FMI para conseguir empréstimos para
pagar o passivo externo, e, em contrapartida, o FMI passou a exigir metas de superávit
primário, as quais o Brasil atingiu com folga.
A adoção do tripé econômico em 1999 alterou também o regime fiscal. Segundo
notas oficiais, pulicadas em 1998 pelo Ministério da Fazenda (1998), a tríplice mudança
de regime tinha como um dos objetivos,

[...] assegurar desde logo uma expressiva trajetória declinante


do déficit nominal ao longo desse período e assim garantir,
numa perspectiva de médio prazo, a estabilidade da relação
dívida líquida/PIB. Esse objetivo requer a obtenção de
superávits primários crescentes para o setor público
consolidado ao longo do período considerado. [...] No âmbito
do Governo Central, as intensificações das ações no campo
fiscal terão como alvo principal aprimorar os mecanismos de
controle orçamentário e financeiro, no lado das despesas, e
aumentar a eficiência tributária, no lado das receitas. [...]
Assim, o aumento do superávit primário previsto para 1999
reflete o compromisso inarredável do governo com a melhoria
da situação das contas públicas, condição fundamental para a
manutenção da estabilidade econômica e do crescimento
sustentado. CARDOSO (1998 p.1).

A adoção do superávit primário reduzia a demanda agregada. Adotá-lo implicava


em interromper a trajetória de crescimento da razão dívida/PIB, decrescendo a taxa de
juros e assim possibilitando o crescimento econômico com estabilidade de preços.
Para NETO (2009), a introdução do Plano de estabilidade Fiscal, em 1998, passou
a estipular o patamar de superávit primário necessário para a estabilização da razão
dívida/PIB. Desse modo, foram criadas metas de superávit primário a fim de recuperar a
confiança na economia brasileira. O cumprimento das metas fiscais foi responsável por
afastar do Brasil novas pressões especulativas contra o Real, favorecer a queda da taxa de
juros doméstica e aumentar a poupança interna (por meio da redução da necessidade de
financiamento do setor público).

De acordo com o Boletim do Banco Central, por vários anos as metas de superávit
fiscal iniciaram em torno de 3% e mantiveram-se crescentes, já que para alcançar a
estabilidade da relação dívida líquida/PIB exigia-se a obtenção de superávits primários
15

crescentes. Contudo, mesmo com superávits primários crescentes, a dívida pública


continuou crescendo, já que os juros devidos eram maiores que os superávits gerados.

5. Análise dos resultados

Utilizando o índice oficial de inflação do país7, IPCA, o qual é utilizado pelo


Banco Central do Brasil para o acompanhamento dos objetivos estabelecidos no sistema
de metas de inflação, elaborou-se um gráfico sobre a inflação no Brasil de 1994 a 2005.
Em 1995 o índice apresentou queda em um valor de 22,41%. Este valor decaiu até
chegar a 1,66% em 1998. Já no ano de 2002 o IPCA registrou alta de 12,53% e no ano
seguinte, a inflação voltou a recuar.

Gráfico 3: Inflação demonstrada pelo IPCA no período de 1994 a 2005


25,00%

20,00%
Taxa de inflação

15,00%

10,00%

5,00%

0,00%
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano

Variação anual do Ipca (%) Limite Inferior (%) Limite Superior (%)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados fornecidos pelo IPCA (2014)

Os regimes monetários adotados cumpriram com o objetivo de conter a inflação.


Seus tempos de vigência foram de acordo com o a capacidade do Governo em mantê-los.
O regime monetário de metas cambiais, com o real atrelado ao dólar, até 1998 conseguiu
controlar a inflação, mas em razão aos ataques especulativos e a crise do balanço de
pagamentos a inflação elevou-se, sendo necessário flutuação cambial.

7 Desde a implementação do sistema de metas de inflação, em 1999, é o índice utilizado pelo


Banco Central para o acompanhamento da inflação, sendo considerado o índice oficial de inflação
do país. BANCO CENTRAL (2014)
16

Em 1999, a adoção do regime de metas de inflação manteve a inflação sob


controle. Contudo, o cumprimento das metas não ocorreu integralmente, nos anos 2001,
2002 e 2003 a inflação efetiva foi superior à meta. As variações da taxa de inflação não
são alarmantes e também não se comparam com o período de hiperinflação antes do Plano
Real.

6. Considerações finais

O Brasil, enquanto país periférico, é dependente do setor externo, e isso é


confirmado nos períodos de crise e prosperidade econômica brasileira, que vão de
encontro com os períodos de recessão e ascensão do exterior.
De acordo com o IPCA, a inflação manteve-se estável a partir de 1994. O Plano
Real cumpriu com seu objetivo de controlar a inflação e, enquanto plano de estabilização,
obteve sucesso. Atrelado a esse fato estão os regimes monetários.
Cada regime monetário cumpriu com o seu papel de controlar a inflação. De 1994
a 1999, foi possível atrelar o real ao dólar e manter a inflação controlada. Com a crise no
balanço de pagamentos, foi necessário que o câmbio flutuasse levando a adoção do
regime de metas de inflação, em 1999, e que também mantivesse a inflação em apenas
um dígito.
A fixação do superávit primário pelo FMI foi alcançada, porém a dívida interna
crescia. A geração de superávits primários crescentes manteve em patamares estáveis a
relação dívida/PIB. A parcela da dívida atrelada aos juros crescia mais que o montante do
superávit primário, impossibilitando saldar a dívida.
Para controlar a inflação, de acordo com o histórico das taxas de juros fixadas pelo
COPOM e evolução da taxa SELIC, fornecidos pelo Banco Central, a taxa básica de juros,
SELIC, no período de 1998 a 2005, sofreu algumas oscilações. Junto com essas variações,
o Banco Central, que controlava o dinheiro em circulação, aumentou e diminuiu o crédito
disponível. Esse aumento e queda da taxa de juros gerou um ambiente de incerteza. Em
razão dessas variações, o consumo e acesso ao crédito não se mantiveram estáveis.
Se levado em consideração apenas a inflação, o plano conseguiu cumprir com o
seu objetivo, mas se aumentar o leque analisado e passar a considerar as contas públicas,
a dívida externa e a balança de pagamentos, o plano adotado no Brasil não foi
suficientemente capaz de realizar tais melhorias.
17

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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18

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