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Primeiramente, deve-se ratificar que o problema da crise fiscal de 2015 e 2016, que ensejou na
criação do teto de gastos, não foi o aumento de gastos por parte do Estado, mas sim a
diminuição das receitas fiscais. Além disso, ratifica-se também que o desequilíbrio fiscal
também não foi o causador desta crise, mas sim a adoção da política de austeridade pelo ex-
Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no governo Dilma II.
Em face ao desequilíbrio fiscal, ou seja, em face a um momento em que se gastou mais do que
se adquiriu receita, a solução mais viável (a curto prazo) era cortar gastos. Essa ideia foi
corroborada pela grande mídia brasileira (diga-se, financiada pelos grandes empresários do
país) e, para além disso, na vida cotidiana dos cidadãos o corte de gastos em momentos de
crise financeira é a opção mais viável. No entanto, de acordo com os ensinamentos do
professor Mark Blyth, não se pode adotar as mesmas estratégias da microeconomia (leia-se,
vida familiar e empresarial) para a macroeconomia (leia-se, estrutura estatal), ainda mais em
um mesmo momento.
Neste sentido, entende-se que a estratégia de cortar gastos por parte do Estado foi errada, ao
passo que este poderia aumentar o nível de arrecadação, tendo em vista sua competência
para tanto. Também, é imperioso destacar que os gastos na época da crise não aumentaram,
mas sim as receitas que caíram.
É possível fazer um paralelo entre a adoção do teto de gastos para solucionar o problema fiscal
com a adoção de hidroxicloroquina para solucionar o problema da COVID-19. Não é possível
tratar uma doença viral com remédio destinado ao combate de parasitas, podendo até mesmo
agravar os problemas ocasionado pela COVID-19, bem como surgirem outras adversidades. Ou
seja, em outras palavras, a adoção do teto de gastos para solucionar a crise fiscal foi uma
estratégia incorreta, tendo em vista que cortar gastos diante da diminuição de receitas
(podendo estas serem aumentadas) soa claramente como uma tolice.
O teto de gastos nada mais é que uma regra fiscal que congela todos os gastos reais em
despesas primárias, ou seja, tudo o que não é despesa financeira, por 20 anos. Em verdade,
somente os gastos com políticas sociais que estão congelados, como saúde, educação e
assistência social. Nesta seara, existe uma problemática no congelamento de gastos: se os
gastos reais estão congelados, não haverá crescimento, ou seja, contabiliza-se 0% de aumento;
porém, se a população aumenta em 2% nesse intervalo de 20 anos, significa que haverá uma
redução no investimento per capta em despesas primárias. Sendo assim, a proporção de
gastos com saúde, educação e saúde social (que já é baixo) cairá ainda mais. Por fim, a
tendência será a diminuição dos gastos per capto ao longo da vigência do teto de gastos,
conforme o gráfico abaixo.
PONTO 2 - Indicadores Recentes do Desempenho da Despesa
diante do Teto dos Gastos
Entretanto, relatório do Projeto de Lei Orçamentário Anual estimou o IPCA em 10,18%, sendo
que o dado oficial estimou em 10,06%, ou seja, uma diferença de 0,18%. Com isso, o máximo
de despesas primárias ficariam R$1,8 bilhão acima do teto de gastos. Assim, as novas regras do
teto de gastos permitem que haja compensação dos excessos na apuração dos limites de 2013,
ou seja, permite que o orçamento opere acima do limite constitucional, a postergar os ajustes
para o ano seguinte.
Conforme tabela abaixo, é possível estacar que o Poder Executivo já ocupou o aumento de R$
1,8 bilhão nos gastos primários sujeitos ao teto de gastos. No entanto, o Poder Legislativo e
Judiciário e os órgãos autônomos possuem uma folga no orçamento de R$ 3,1 bilhões. Nesse
sentido, diminuindo a referida sobra com o aumento das despesas primárias de R$ 1,8 bilhão,
cria-se uma sobre líquida de R$ 1,3 bilhão.