Você está na página 1de 3

MARK BLYTH é um economista político, professor da Professor William R.

Rhodes de Economia Internacional e Professor de Relações Públicas e Internacionais


na Brown University. Sua pesquisa se concentra em como a incerteza e a aleatoriedade
afetam sistemas complexos, particularmente os sistemas econômicos, e por que as
pessoas continuam acreditando em ideias econômicas estúpidas, apesar de muitas
evidências em contrário. 

O autor argumenta que a austeridade é um movimento grande na Europa e que


está em constante crescimento nos EUA e em outros países. As autoridades cada vez
mais comentam sobre esse tema.

Austeridade é o “senso comum” para a forma de pagar o enorme aumento da


dívida pública provocada pela crise financeira, fazendo-o principalmente através de
cortes no serviço público. Segundo Blyth, a austeridade confunde a virtude com o vício,
porque quando a crise acaba, há dívidas para todos os lados, como em cartões de
crédito, hipotecas e dívida pública. No entanto, essa é a parte conhecida da dívida.

Seja uma pessoa, uma família, uma empresa ou até mesmo um Estado, existe um
ativo e um passivo, ou seja, um balanço patrimonial. Antes da crise de 2008, muitas
pessoas acumularam dívidas porque naquela época fazia sentido adquirir dívidas. Blyth
diz que 40% dos estadunidenses mais pobres não tiveram aumento salarial real desde
1979, ou seja, há quase 30 anos. As empresas (entende-se, bancos) também fizeram o
mesmo, mas eles fizeram para ganhar dinheiro, ao invés de pagarem contas, como os
mais pobres. Blynth chama esse fenômeno de “alavancagem”, ou seja, trata-se da
mesma dívida sob diferentes perspectivas.

Se uma pessoa fica endividada com uma hipoteca, por exemplo, cria-se a
expectativa de que o valor da sua casa aumente. Se de fato há uma grande chance de o
valor subir, é possível apostar num “dobro ou nada” e arriscar uma hipoteca maior.
Porém, existe o risco de perder. Nesse sentido, os bancos liberaram crédito e criaram
montanhas de dívidas e alavancaram seu valor mais de 30 vezes. O autor faz um
pararelo com o blackjack, como se os bancos tivessem apostado todas as suas fichas,
mas essas fichas eram apenas promessas de pagamento.

Assim, quando chegou o reflexo da crise, os governos acharam que deveriam


entrar em cena porque os bancos haviam ficado grandes demais para falirem, o que
geraria um enorme prejuízo.
Se você está a alavancar uma dívida e seus rendimentos perdem valor, o
conjunto do balanço patrimonial vai afundar. Quando isso acontece, naturalmente você
vai querer diminuir a sua dívida para ver seu balanço financeiro emergir. Isso significa
que ninguém está gastando nada de novo, ou seja, o dinheiro que existe está sendo
utilizado para pagar dívidas. Nesse momento o Estado entra em cena.

Se todo o setor privado está tentando saldar suas dívidas, automaticamente o


governo as eleva para compensar. Assim, a receita fiscal cai e o déficit aumenta. Os
subsídios de desemprego disparam e o consumo público assume o lugar do consumo
privado.

Dessa forma, Blyth diz que o problema é a dívida, que causa prejuízos enormes
e gera a necessidade de limpar os balanços públicos e privados No entanto, se o setor
público limpa seu balanço ao mesmo tempo que o setor privado, a economia despenca.
O autor chama esse fenômeno de falácia da composição: o que é bom para as famílias,
empresas e para o Estado, torna-se um desastre se todos o fizerem ao mesmo tempo.

Acontece que todos os governos decidiram fazer isso ao mesmo tempo. Existia
uma dívida de 2 trilhões de dólares e alguém a deveria pagar. Os bancos foram os
primeiros a se eximirem dessa responsabilidade. Assim, osii governos ou tem que
aumentar os impostos ou cortar os serviços públicos.

Blyth diz que a austeridade é o sofrimento após a festa. No entanto, a ressaca da


austeridade não vai ser sentida de maneira igual na distribuição das receitas. Por
exemplo, os 40% mais pobres da população que se beneficiaram com o boom
financeiro, na realidade, receberam dívida e ilusão de prosperidade e são eles quem são
os únicos que realmente usam os serviços públicos, justamente os serviços que serão
cortados pela política de austeridade.

Aqueles que mais se beneficiaram e que foram os primeiros responsáveis por


toda a crise não se prejudicarão tanto assim. Assim, a força virtuosa do senso comum
da austeridade nada mais é que um ciclo onde aqueles que menos ganham pagam aos
que ganham mais com os mesmos rendimentos estagnados e distorcidos que perderam
poder de compra numa economia mais desigual e instável. Blyth chama esse evento de
política de classes, que nunca acaba bem.
Em resumo, o autor diz que na austeridade aqueles que fizeram a ‘trapalhada’
não vão pagar, mas aqueles que já pagaram pelo salvamento dos bancos vão pagar
novamente através da austeridade. Assim, a austeridade não é senso comum, e sim falta
de senso, segundo Blyth.

Você também pode gostar