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Para superar a pobreza, é crucial premiar a

criação de riqueza, e não puni-la


Sendo a pobreza a ausência de bens materiais, sua solução é evidente

economia
Iván Carrino
sábado, 5 jan 2019

Um casal caminha pelas ruas da metrópole. Após algumas quadras, eles vêem uma pessoa dormindo
na calçada em meio a caixotes, papelões e cobertores que as pessoas caridosas da vizinhança
forneceram.
O casal lamenta a cena triste e começa a comentar sobre a questão da pobreza.
Mas por que eles começaram a falar sobre o assunto? Isto é, como foi que eles perceberam que aquela
pessoa dormindo na calçada era pobre? A questão pode parecer trivial e a resposta, óbvia demais.
Ainda assim, é necessário abordá-la com clareza.
A situação de pobreza daquele mendigo sem-teto decorre de sua carência de bens materiais.
Os pobres são pobres exatamente porque não possuem um mínimo de suas necessidades materiais
satisfeitas. Suas posses são escassas.
Mensuramos o nível de pobreza de um indivíduo em relação a outro pela quantidade de bens e serviços
disponíveis a ele. Uma pessoa será mais pobre que a outra quando possui menos bens e serviços à sua
disposição para satisfazer suas necessidades.
O casal seguiu seu caminho discutindo essa situação até chegarem à sua casa. Ali, eles possuem um
teto, eletricidade, comida farta na geladeira e roupas em abundância, além de várias amenidades, como
televisão, forno microondas, cafeteira, computadores, sofás e internet wi-fi.
A diferença entre riqueza e pobreza é explícita neste caso. Quanto mais bens e serviços disponíveis a
um indivíduo, mais rico ele será.
No caso de países, a situação é similar. Quanto mais bens e serviços disponíveis a seus habitantes,
melhor será sua condição de vida e menor será o nível de pobreza.
Colocando de outra forma, o padrão de vida de um país é determinado pela abundância de bens e
serviços. Quanto maior a quantidade de bens e serviços ofertados, e quanto maior a diversidade dessa
oferta, maior será o padrão de vida da população. Quanto maior a oferta de alimentos, quanto maior a
variedade de restaurantes e de supermercados, de serviços de saúde e de educação, de bens como
vestuário, imóveis, eletrodomésticos, materiais de construção, eletroeletrônicos e livros, de pontos
comerciais, de shoppings, de cinemas etc., maior tenderá a ser a qualidade de vida da população.
Uma maneira de garantir uma farta oferta de bens para a população é tendo uma moeda forte e
liberando as importações. Sob este arranjo, as importações serão baratas e a oferta de bens sempre será
farta. Não é à toa que os países que possuem a melhor qualidade de vida são aqueles que mais praticam
o livre comércio.
Outra maneira óbvia — e que deve sempre ser adotada em conjunto com a anterior — é facilitar a
produção de bens e serviços domésticos.
Tendo apenas isso em mente já é possível entender a crucial importância do crescimento econômico
para que uma população prospere. Se a economia cresce mais, isso significa que mais bens e serviços
estão sendo produzidos. Consequentemente, maior será a qualidade de vida da população. Maior
crescimento econômico tambem significa aumento da renda da população, o que por sua vez permite
mais importações, reforçando assim todo o ciclo virtuoso.
Logo, a solução para a pobreza está exatamente em facilitar ao máximo o crescimento econômico. E,
para que isso ocorra, o óbvio tem de ser feito: desburocratizar, desregulamentar, reduzir impostos (o
que implica reduzir gastos do governo), facilitar o empreendedorismo e ter uma moeda forte. O
crescimento econômico é fácil e natural; depende apenas de o governo permitir.
As objeções
No entanto, algo que parece óbvio, infelizmente, ainda não é bem compreendido.
Essa abordagem que preconiza o crescimento econômico como o solucionador da pobreza não satisfaz
a todos: a questão sobre como essa riqueza será distribuída continua sendo o centro do debate.
Assim, para tais pessoas, não bastaria apenas ter crescimento econômico; a riqueza criada tem de ser
"corretamente" distribuída.
E aí começam as sugestões problemáticas.
Por exemplo, embora possua falhas, o melhor indicador para retratar a verdadeira riqueza de um país
ainda continua sendo o PIB per capita. Essencialmente, o PIB per capita representa a divisão entre o
total de bens e serviços produzidos por uma economia e o total de sua população. O indicador busca
apresentar uma mensuração média da riqueza dos indivíduos de cada país.
Consequentemente, quanto maior o PIB per capita, maior a riqueza média de cada indivíduo, e, por
definição, menor a sua pobreza.
Entretanto, há uma crítica bastante comum ao PIB per capita: ele não mensura as desigualdades da
distribuição de renda. Se João tem duas galinhas e Pedro não tem nenhuma, o PIB per capita desta
pequena economia será de uma galinha, o que oculta a realidade de que Pedro não possui nenhuma.
Consequentemente, dizem os críticos, o governo tem de resolver essa desigualdade tributando os ricos
(João) para subsidiar os pobres (Pedro). Somente assim podem João e Pedro apresentar uma riqueza
mais bem distribuída, além de retirar Pedro da pobreza.
Se o governo tributar João a uma alíquota de 50% de sua riqueza para subsidiar Pedro, o PIB per capita
passaria, aí sim, a refletir a real situação da economia (uma galinha por pessoa), e nenhum dos dois
seria pobre.
Obviamente, esta conclusão só é possível em uma economia estática e simplificada, formada por
pessoas imunes a incentivos e punições. No mundo real, formado por economias complexas recheadas
de fatores dinâmicos, este exemplo não tem nenhuma validade.
Afinal, se o governo começar a punir a riqueza, os incentivos para criá-la serão bastante reduzidos, e
consequentemente todos estarão mais pobres. Ainda pior: é impossível acabar com a pobreza por meio
da redistribuição de renda. Redistribuir a riqueza de modo equânime levaria ao colapso de toda a
economia (entenda todos os detalhes aqui).
Sendo assim, é crucial encontrar um sistema no qual a criação de riqueza não apenas não seja punida,
como ainda melhore a situação de todas as pessoas.
Já há
Felizmente, há uma ótima notícia: este sistema já existe. E é de sucesso comprovado. E não requer
nenhuma mágica ou heterodoxia. Apenas bom senso.
De acordo com os dados coletados e preparados pela Universidade de Oxford em seu site Our World
in Data (Nosso Mundo em Dados), há uma relação inversa (e explícita) entre PIB per capita e a fatia
de pessoas vivendo na pobreza. Ou seja, quanto maior a economia, menor a pobreza.

Gráfico 1: no eixo Y, a porcentagem da população vivendo na extrema pobreza (menos de US$ 1,90
por dia); no eixo X, o PIB per capita (quanto mais à direita, maior)
A publicação, seguindo o Banco Mundial, considera que uma pessoa está na "extrema pobreza"
quando ganha menos de US$ 1,90 por dia. E conclui que:

Não há nenhum país que, tendo um PIB per capita acima de US$ 15.000, apresente
mais do que 5% de sua população vivendo na pobreza extrema.
Por outro lado, na maioria dos países cujo PIB per capita é menor que US$ 4.000,
há entre 25 e 75% da população vivendo na pobreza extrema.
A Universidade de Oxford também cita um estudo de 2002, de Dollar e Kraay, que conclui que "na
média, o crescimento beneficia os pobres tanto quanto o resto da sociedade".
Isso significa que o aumento médio da renda per capita se traduz em um aumento da renda dos grupos
mais pobres da sociedade.
Outra maneira de ver isso é observando como a pobreza extrema diminui em cada país à medida que
o PIB per capita aumenta. O gráfico abaixo mostra essa evolução.

Gráfico 2: no eixo Y, a porcentagem da população vivendo na extrema pobreza; no eixo X, o PIB per
capita (quanto mais à direita, maior)
O PIB per capita está no eixo horizontal. À medida que nos movemos para a direita, aumenta a riqueza
do país. O eixo vertical reflete a porcentagem da população vivendo na pobreza extrema (isto é,
ganhando US$ 1,90 por dia). À medida que nos movemos para baixo, menor é a porcentagem da
população que vive na pobreza extrema.
O gráfico mostra com clareza como em países como China, Índia, Indonésia e Brasil, entre outros, a
relação entre crescimento e redução da pobreza é direta.
Aliás, os dados apenas confirmam tudo aquilo que a teoria econômica sempre explicou: deixe a
economia crescer e prosperar, e a pobreza será automaticamente aniquilada.
Conclusão
De nada adianta debater políticas redistributivas e assistencialistas sem antes se implantar as medidas
que realmente garantem crescimento econômico.
No final, para se superar a pobreza em definitivo, é crucial ter crescimento econômico. É crucial
estimular a criação de riqueza em vez de puni-la.
Maior crescimento econômico significa maior riqueza para todos. E é isso o que realmente importa.

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