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Quatro consequências inesperadas de se

aumentar os impostos sobre os mais ricos


Todas elas afetam diretamente você

economia
Ubiratan Jorge Iorio e Leandro Roque
quarta-feira, 9 ago 2017

Não são poucos os que acreditam que obrigar os mais ricos a pagar mais impostos seja
uma política "socialmente justa" e "boa para o país".
Com efeito, não seria exagero afirmar que, no geral, as pessoas ficariam contentes se
terceiros pagassem suas contas. E governos costumam ser ótimos em insuflar este
sentimento assistencialista.
O problema é que há vários problemas inevitáveis gerados por um aumento de impostos
sobre os mais ricos. Deixando as questões morais de lado — nunca é ético e justo
aumentar o confisco sobre os mais bem sucedidos —, eis as quatro principais
consequências econômicas desta medida.
1. Aumentar impostos sobre os ricos afeta os mais pobres
O aspecto mais importante a ser observado é que é impossível isolar os custos de qualquer
imposto. No caso dos impostos indiretos — os quais absolutamente todas as pessoas
pagam — isso é explícito. Mas o que poucos entendem é que isso também é válido para
os impostos diretos, principalmente sobre a renda.
A maioria das pessoas pensa que cada indivíduo paga, sozinho, seus impostos
diretos. Mas essa crença é demonstravelmente falsa.
Se, por exemplo, a alíquota do imposto de renda que incide sobre as rendas mais altas
fosse elevada em 30% (valor próximo ao aumento que chegou a ser aventado pelo
governo, que queria elevar a alíquota máxima de 27,5% para 35%, o que corresponderia
um aumento de 27%), os trabalhadores de renda mais alta reagiriam a isso negociando
um aumento salarial.
Por se tratarem de pessoas que ganham bem, então, por definição, elas são produtivas
(não ganhariam bem no setor privado se fossem improdutivas). Logo, por se tratar de
pessoas produtivas, elas têm poder de barganha junto a seus empregadores, e irão pleitear
esse aumento salarial para contrabalançar o aumento de confisco de sua renda pelo
governo.
Se essas pessoas conseguirem um aumento salarial de, por exemplo, 15%, isso significa
que praticamente metade do aumento de 30% da carga tributária foi repassada aos seus
empregadores.
Essa maior alíquota do imposto de renda reduziu os salários líquidos; o consequente
aumento nos salários elevou os salários brutos. Neste ponto, a exata divisão do fardo
tributário entre empregados e empregadores vai depender do relativo poder de barganha
entre eles no mercado de trabalho. O que interessa é que os empregados de maior renda
irão repassar uma parte, se não a maior parte, de qualquer aumento em seu imposto de
renda para seus empregadores.
Consequentemente, estes empregadores irão contratar menos empregados — ou tentarão
contratar oferecendo salários bem menores, algo difícil —, e irão tentar repassar esse
aumento nos custos trabalhistas para os consumidores, na forma de preços maiores. Esse
aumento, no entanto, vai depender do relativo poder de barganha entre o vendedor e seus
clientes, bem como do nível de concorrência no mercado.
Os empresários irão repassar estes maiores custos aos consumidores até o ponto em que
possam elevar preços sem sofrer uma relativamente grande perda no volume de
vendas. Desta forma, os consumidores que ainda continuarem comprando a estes preços
maiores estarão pagando parte do aumento na carga tributária que supostamente deveria
afetar apenas os "mais ricos".
Consequentemente, a classe média e os pobres acabarão pagando parte daquele aumento
do imposto de renda que visava a atacar apenas os ricos, por causa dos maiores preços
dos bens e serviços.
Qualquer aumento no imposto de renda da camada mais rica da população — seja o 1%
mais rico ou os 5% mais ricos — irá acabar por elevar os custos sobre toda a população.
É possível contra-argumentar dizendo que o repasse para os preços desse aumento no
imposto de renda seria muito pequeno. Talvez apenas uma pequena porcentagem da
elevação do imposto de renda, o qual foi repassado aos empregadores, seria repassada aos
consumidores na forma de preços maiores. Só que, se isso ocorrer, o efeito de longo prazo
será ainda pior.
Se os empregadores tiverem de arcar com uma elevação marginal dos custos trabalhistas
sem uma correspondente elevação marginal de sua receita, suas margens de lucro
diminuirão. Redução nos lucros significa menos investimentos. E menos investimentos
inibem um maior crescimento econômico. Um menor crescimento econômico significa
menores aumentos nos salários e na renda de toda a população.
Os efeitos dos impostos sobre o crescimento econômico, portanto, são bem mais indiretos
do que se imagina.
Primeira conclusão: ao menos alguma porcentagem dos impostos que foram aumentados
sobre os ricos serão repassados a todos os consumidores — e isso prejudicará
majoritariamente os mais pobres. Qualquer aumento de impostos sobre um grupo acabará
sendo compartilhado por todos. E não há nada que as autoridades estatais possam fazer
quanto a isso. Os indivíduos de mais alta renda irão arcar com apenas uma fatia do
aumento ocorrido em suas alíquotas. E essa importante constatação quase nunca é
reconhecida. E é dessa maneira que um imposto sobre um se transforma em um imposto
sobre todos.
Não há como isolar um aumento de imposto.
2. Não existe dinheiro ocioso; toda tributação diminui investimentos
Os mais ricos podem fazer três coisas com o dinheiro que ganham: consumir, investir ou
doar para alguma caridade.
Se ele doar, estará ajudando os necessitados. Se ele gastar em consumo, estará garantindo
emprego e renda naqueles setores que o servem. Se ele investir, estará estimulando o
crescimento econômico e gerando empregos.
A verdade é que, ao contrário do muitos ainda imaginam, o dinheiro dos ricos não fica
parado dentro de uma gaveta.
Em nosso atual sistema monetário e financeiro, todo o dinheiro está inevitavelmente em
algum depósito bancário. Não importa se o rico comprou ações, debêntures, títulos,
CDBs, LCIs, LCAs ou LCs, aplicou em fundos de investimento ou em fundos de ações:
no final, este dinheiro caiu em alguma conta bancária, e será emprestado pelos bancos
para financiar investimentos.
Com efeito, ao comprar títulos privados, ele está diretamente financiando algum
investimento.
Portanto, se a preocupação é dar um direcionamento útil ao dinheiro dos ricos, não há por
que se preocupar.
Se o governo tributar esse dinheiro, fará apenas que o dinheiro que antes era ou doado,
ou direcionado para determinados setores (garantindo emprego e renda), ou investido em
coisas produtivas seja direcionado para o mero consumismo do governo, ficando sob os
caprichos de seus burocratas e bancando toda a máquina estatal. Isso seria uma simples e
direta destruição de capital.
Logo, impostos que recaem sobre a renda dos mais ricos são um grande obstáculo aos
investimentos produtivos, à formação de capital e ao simples bem-estar de terceiros. É
deste dinheiro que vem a poupança necessária para os investimentos produtivos.
Aumentar impostos sobre este dinheiro será ainda mais prejudicial para os mais pobres
no longo prazo, pois se trata de uma medida extremamente destrutiva para os
investimentos e a formação de capital, impedindo o consequente aumento da oferta de
bens e serviços na economia, que é justamente o que beneficia os mais pobres.
Por último, mas não menos importante, algumas perguntas retóricas: o seu patrão é mais
rico ou mais pobre que você? Se o governo aumentar o confisco do dinheiro dele, seu
emprego ficará mais garantido ou menos garantido? Suas chances de aumentos salariais
serão maiores ou menores?
3. Ricos não são inertes; eles tendem a proteger seu patrimônio
Um terceiro problema com um aumento de impostos sobre as rendas mais altas é que
algumas pessoas irão simplesmente deixar de pagar esses impostos.
Gerard Depardieu abandonou a França para não ser obrigado a pagar a nova alíquota de
75% instituída pelo então governo socialista. E, dois anos após anunciar a nova alíquota,
o governo francês se viu obrigado a revogá-la, pois o aumento da arrecadação foi ínfimo
(a alíquota afetava apenas mil pessoas e proporcionou somente 250 milhões de euros a
mais de arrecadação).
O que ocorreu com Gerard Depardieu não foi o primeiro e nem será o último caso de um
auto-imposto exílio tributário. Nas décadas de 1960 e 1970, o parlamento britânico elevou
os impostos incidentes sobre os britânicos mais ricos. A alíquota máxima sobre o imposto
de renda foi elevada para 83%. O governo britânico também elevou os impostos sobre
ganhos de capital em 15%.
Qual foi o resultado?
Ringo Starr e Roger Moore se mudaram para Mônaco. David Bowie se mudou para a
Suíça. Os Rolling Stones começaram a perambular pelo mundo em busca de paraísos
fiscais. Phil Collins, Michael Caine, Pink Floyd, Led Zeppelin, Freddy Mercury, Sting,
Frederick Forsyth e Sean Connery deixaram o Reino Unido, pelo menos
temporariamente, como exilados fiscais.
Somente o principado de Mônaco abriga milhares de exilados fiscais britânicos. Nos
EUA, vários americanos começaram a renunciar à cidadania americana para evitar
impostos.
Trata-se de uma constatação empírica o fato de que as pessoas com os maiores potenciais
de ganhos — ou seja, as mais produtivas e que geram mais valor — são também as mais
propensas a se mudarem.
Como bem explicou Thomas Sowell:
No mundo real, só é possível confiscar a riqueza que já existe em um dado momento. Não
é possível confiscar a riqueza futura; e é menos provável que essa riqueza futura seja
produzida quando as pessoas se derem conta de que ela também será confiscada.
Na indústria, no comércio e nos serviços, as pessoas também não são objetos inertes. Os
industriais, por exemplo, e ao contrário dos agricultores, não estão amarrados ao solo
de nenhum país. Os financistas são ainda menos amarrados à sua terra, especialmente
hoje, quando vastas somas de dinheiro podem ser enviadas eletronicamente, a um simples
toque no computador, a qualquer parte do mundo.
Aqueles que sabem que serão o alvo preferencial dos futuros confiscos podem imaginar
o que está por vir e, consequentemente, agir de acordo — normalmente, enviando seu
dinheiro para o exterior ou simplesmente saindo do país.
E conclui:
Entre os ativos mais valiosos de qualquer país estão o conhecimento, as habilidades
práticas e a experiência produtiva — aquilo que os economistas chamam de "capital
humano".
Quando pessoas bem-sucedidas e com um grande capital humano deixam o país [...]
haverá um estrago duradouro na economia desse país.
As políticas confiscatórias de Fidel Castro fizeram com que vários cubanos bem-
sucedidos fugissem para a Flórida, vários deles deixando grande parte da sua riqueza
física para trás. Mesmo refugiados e completamente destituídos, eles cresceram e
voltaram a prosperar na Flórida, tornando-se uma das comunidades mais ricas daquele
estado. Já a riqueza que eles deixaram para trás em Cuba não impediu que as pessoas
de lá se tornassem indigentes no governo de Fidel. A riqueza duradoura que
os refugiados levaram consigo era o seu capital humano. A riqueza material que ficou
para trás foi consumida e não foi replicada.
Qualquer tentativa do governo de jogar o fardo tributário exclusivamente sobre os mais
ricos fará apenas com que cada vez mais ricos deixem o país. E fará com que os mais
pobres, que trabalhavam para estes ricos, fiquem desempregados. Os Rolling Stones
podem se mudar para onde quiserem; já os técnicos de som e as pessoas que trabalhavam
nos estúdios da banda permanecem no país original, e agora sem trabalho.
Na mais branda das hipóteses, tais pessoas simplesmente passarão a mandar mais dinheiro
para o exterior.
Em nenhum país ocidental os ricos arcam exclusivamente com os impostos; quem
realmente fica com o grande fardo é a classe média. Não há, em nenhuma sociedade, um
número grande o bastante de ricos que possam custear sozinhos os gigantescos gastos
efetuados pelos estados assistencialistas ocidentais. É ingenuidade crer que as pessoas
mais ricas irão simplesmente quedar inertes e aceitar pagar alíquotas mais altas.
4. Os gastos do governo aumentam de acordo com a receita
O quarto problema com o aumento de impostos é que isso simplesmente gera uma
reedição da Lei de Parkinson: o professor Cyril Northcote Parkinson afirmou que, em
uma burocracia estatal, "os gastos sobem de encontro à receita."
Sempre que o governo eleva impostos, ele eleva seus gastos correntes. Os gastos do
governo sempre sobem junto com o aumento das receitas. Isso é uma empiria observada
ao redor do mundo. Veja o gráfico para o Brasil, em valores nominais mensais. (O gráfico
foi descontinuado em dezembro de 2014 pelo Banco Central).
Fonte: Banco Central
O gasto público sempre cresce concomitantemente à receita, como mostra o gráfico
acima. Não há nenhum motivo para crer que "desta vez será diferente", e que um aumento
dos impostos sobre os ricos será efetivo e definitivo.
Ademais, todo aumento de impostos sempre se traduz majoritariamente em mais benesses
para políticos, burocratas e todo o inchado setor público, sem nenhum benefício líquido
para o povo, que agora estará com menos dinheiro no bolso. Um aumento de
impostos consolida a hipertrofia da burocracia estatal, aumentando ainda mais seu peso
sobre o setor produtivo e, consequentemente, afetando ainda mais o crescimento
econômico e a criação de riqueza.
E, como mostra a história, não há absolutamente nenhum motivo para crer que um
aumento de impostos sobre os ricos será direcionado exclusivamente para o fim
anunciado, qualquer que seja ele.
Conclusão
Vale repetir: não há, em nenhuma sociedade, um número grande o bastante de ricos que
possam custear sozinhos os gigantescos gastos efetuados pelos estados ocidentais.
É ingenuidade crer que as pessoas mais ricas irão simplesmente quedar inertes e aceitar
pagar alíquotas mais altas.
No mais, é impossível estruturar a carga tributária (ou os gastos do governo) de maneira
neutra e isolada. A imposição de novos impostos altera preços e salários de maneiras
impossíveis de serem previstas e difíceis de serem mensuradas mesmo após o fato já
consumado. Tentativas de "fazer os ricos pagarem mais" irão apenas aumentar o fardo
tributário mutuamente compartilhado por todos, por meio de uma maior tributação
indireta e oculta.
De resto, tentativas de resolver os problemas fiscais do governo por meio de aumento de
imposto são fúteis. A carga tributária no Brasil não é baixa; os gastos é que são altos
demais. A única solução realista para o problema fiscal é obrigar o governo a cortar na
própria carne, abolindo ministérios, secretarias, autarquias, agências reguladoras,
deputados e senadores, e reduzindo subsídios e repasses a grupos de interesse.
Para começar, ele deveria cancelar todos os aumentos programados para o funcionalismo
público (a casta mais privilegiada do país) e congelar os salários de funcionários do alto
escalão da República.
O governo federal vem notoriamente desperdiçando dinheiro em corrupção, em
programas ineficientes que só servem para beneficiar determinados grupos de interesse,
e na boa vida de seus membros. Por que alguma classe social — qualquer classe —
deveria pagar mais impostos apenas para que os funcionários do estado e seus amigos
continuem embolsando esse dinheiro?
O desperdício de dinheiro público jamais deveria ser tolerado por uma sociedade
minimamente civilizada. No Brasil, o desperdício já chegou a níveis
calamitosos. Propostas para elevar impostos sobre indivíduos ricos equivalem, na mais
educada das hipóteses, "a rearranjar as espreguiçadeiras do Titanic".

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