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Portanto, temos que maior qualidade de vida requer maior produtividade. Porém,
eis o problema: a produtividade das economias em desenvolvimento está
estancada.
E mais: o trabalhador brasileiro leva uma hora para fazer o mesmo produto ou
serviço que um norte-americano consegue realizar em 15 minutos e um alemão ou
coreano em 20 minutos. Em termos de riqueza, o Brasil produz em uma hora o
equivalente a US$ 16,75, valor que corresponde apenas a 25% do que é produzido
nos EUA (US$ 67). Comparado a outros países, como Noruega (US$ 75),
Luxemburgo (US$ 73) e Suíça (US$ 70), o desempenho do país é ainda pior.
Tudo isso é verdade. E vale acrescentar também a hipótese de uma baixa qualidade
do corpo administrativo das empresas. Os economistas Fabiano Schivardi e Tom
Schmitz, em recente trabalho acadêmico voltado para as economias mais
atrasadas da Europa, afirmam que pelo menos metade do atraso de produtividade
desses países em relação à Alemanha se deve a uma má gestão das empresas, cujos
administradores não souberam aproveitar a difusão da tecnologia.
Podemos até mesmo ir um pouco além e concluir que, no final, todos os elementos
listados acima apontam para um mesmo problema comum. Mais especificamente:
a baixa acumulação de capital, o mau uso da tecnologia disponível, o baixo
progresso técnico, o mau gerenciamento das empresas, e o baixo nível técnico da
mão-de-obra decorrem de uma causa maior: a estrutura regulatória e
protecionista do país protege as grandes empresas da concorrência externa e
impede (por meio das regulações anti-truste) que as mais ineficientes sejam
adquiridas pelas mais eficientes e com melhor qualidade administrativa.
Estando blindadas da concorrência externa e não podendo ser adquiridas por outras
empresas mais eficientes, não há realmente por que se importarem com
produtividade. Não há grandes riscos.
Por que foi assim? Por que a adoção de novas tecnologias gerou crescimento
econômico nos países mais ricos e não nos mais pobres?
Ou seja, a natureza tácita do conhecimento faz com que seja extremamente difícil
transmitir corretamente, para os países pobres, todas as coisas que foram
aprendidas pelos países ricos no passado. Assim como ninguém aprende a andar
de bicicleta apenas lendo um livro de física, o verdadeiro conhecimento também
só é absorvido quando colocado em prática, pelo método da tentativa e erro.
A tese, em si, é irrefutável. Mas também não explica tudo. Pode-se igualmente
pontificar aqui sobre todos aqueles itens citados na seção anterior (imediatamente
abaixo do gráfico), bem como as incertezas geradas pelos respectivos regimes
políticos, ou mesmo sobre as décadas de desastre monetário geradas pelos bancos
centrais desses países. Tudo isso certamente será válido. Mas ainda incompleto.
Os países ricos são aqueles em que houve mais assunção de risco. E houve mais
assunção de risco porque havia menos incertezas institucionais e menores punições
para os bem-sucedidos (vide o fato de que, mesmo nos países escandinavos, o
imposto de renda sobre pessoas jurídicas está entre os mais baixos do mundo).
Por isso, sim, acumular capital e fomentar a adoção de novas tecnologias (via
abolição de tarifas de importação) são medidas cruciais. Porém, serão inócuas se
não houver pessoas dispostas a incorrer em riscos para transformar idéias em
coisas concretas. Sem pessoas tomando risco, não haverá crescimento econômico.
E, historicamente, os países mais pobres sempre foram aqueles que criaram mais
incertezas no ambiente empreendedorial (afugentando os tomadores de risco).
Com efeito, são pobres exatamente em decorrência disso.
Concluindo
No final, é realmente básico: para haver crescimento econômico é necessário haver
pessoas com uma genuína mentalidade empreendedorial dispostas a incorrer em
riscos para transformar idéias em coisas concretas. E tais pessoas só são
abundantes em ambientes que lhes permitam atuar e, principalmente, usufruir as
eventuais recompensas pelos riscos que assumiram.
Logo, as barreiras à atuação destas pessoas devem ser removidas ao máximo. Caso
contrário, qualquer eventual acumulação de capital e adoção de novas tecnologias
serão apenas perda de tempo e desperdício de recursos. Sem pessoas tomando
risco, nada sai do lugar. E para haver tais pessoas, é necessário abolir as barreiras
à sua atuação.
Foi isso o que historicamente fizeram os países ricos. E não foi isso o que
historicamente fizeram os países pobres.