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Introdução

FACULDADE DE DIREITO DA
à Economia UNIVERSIDADE CATÓLICA
PORTUGUESA
Prof. Dr. João Confraria CURSO 2021
Dr. Carlos Andrade
“A Sebenta do Paquistanês”

Yehoshuah 1
Índice

Yehoshuah 2
Nota Introdutória
Esta Sebenta Yehoshuah surge pelo facto de, até agora, não estarem disponíveis sebentas realmente
completas: na sua maioria, ou eram uma cópia dos powerpoints apresentados em aula – o que não
é suficiente para uma nota mais elevada -, ou estavam inacabadas, faltando partes das últimas
matérias.
Assim, assume-se como uma compilação de outras Sebentas, mantendo tudo o que tinham de bom,
mas também retirando o errado ou desnecessário. Por outro lado, é também uma continuação das
mesmas – como já vimos, algumas terminavam a meio do semestre.
A isto juntam-se importantes anotações e comentários feitos pelo Professor Confraria durante as
aulas teóricas, que muito ajudaram para desenvolver a matéria, e ainda informações valiosas
encontradas em livros não mencionados na Ficha da Disciplina.
De qualquer modo, tudo isto está elencado no fim, na Bibliografia.

Yehoshuah 3
I. EMPRESAS E CONSUMIDORES
O problema da escassez. Problema económico.
Todo o curso vai girar em torno do problema da escassez, em particular como resolvê-lo do modo
mais eficiente.
Um bem – algo que satisfaz uma necessidade humana – é escasso quando não é suficiente para
satisfazer a procura, isto é, quando não está disponível para todos os que o querem utilizar. Assim,
é impossível produzir todos os bens e serviços que todos gostariam de ter.
Isto gera um problema económico, que se reflete em três perguntas:
1. O que produzir? Afinal, sociedade deve determinar quanto e quando produzir de cada
bem e serviço. No fim, pergunta-se “como determinar a oferta?”.
2. Como produzir? Afinal, uma sociedade deve determinar quem, com que recursos e de
que forma é que os bens e serviços são produzidos. No fim, pergunta-se “as empresas
minimizam os custos?”.
3. Para quem produzir? Afinal, uma sociedade deve determinar quem usufrui do fruto da
atividade económica e como se dá a distribuição do rendimento e da riqueza.
Existem duas formas de analisar este problema: uma abordagem microeconómica, e uma
abordagem macroeconómica.
A abordagem microeconómica foi fundada por Adam Smith, e trata do comportamento de
atividades individuais como mercados, famílias e empresas, e o modo como interagem entre si.
Procura explicar como é que estes dois últimos sujeitos tomam as suas decisões no mercado.
A abordagem macroeconómica foi fundada por John Keynes, e prende-se com o desempenho
geral da economia, aferido através de variáveis como o PIB, TE, TJ, e TI. Procura explicar a
variação destes fatores económicos, em cada país e a cada momento.

1. Como resolver?
De modo a responder ao problema económico, a economia distingue quatro hipóteses: pela Lotaria,
pela Decisão Burocrática, pela Tradição, ou pelo Mercado.
Na Lotaria, distribui-se os bens aleatoriamente. Pouco utilizada.
Na Tradição, a decisão é levada a cabo pelos Anciãos. Noutra perspetiva, relaciona-se com as
regras que certa comunidade consagrou por questões culturais e religiosas: os judeus não comem
porco (e bem) pelo que em Israel não se produz porco.

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1.1. Decisão Burocrática
A distribuição é levada a cabo por uma Autoridade Pública, que o faz segundo as suas preferência.
O Governo tem, por isso, o poder de tomar decisões económicas sobre produção, consumo e
distribuição. Assim, existe uma decisão administrativa de racionamento. Gera uma Economia
Planificada.
E como responde a Economia Planificada às perguntas?
1. O que o Governo decidir.
2. Como o Governo decidir.
3. Quem o Governo decidir.

1.2 Mercado
O Mercado é um mecanismo através do qual compradores e vendedores – impulsionados pelo
desejo de lucro - interagem, trocam bens e definem preços. Os preços coordenam as decisões
dos produtores e consumidores num mercado – preços mais elevados levam a mais produção e
menos consumo; preços mais baixos levam a menos produção e mais consumo.
Neste modelo, a distribuição é feita de acordo com a vontade dos consumidores, descoberta pela
disponibilidade em pagar mais por um bem. Assim, existe uma decisão descentralizada de pessoas
e empresas.
A disponibilidade para pagar está dependente das preferências dos consumidores, mas também
do rendimento de cada um. Gera uma Economia de Mercado.
E como responde o Economia de Mercado às perguntas?
1. A oferta é eterminado pelas preferências do consumidor, nas suas compras diárias.
2. Por um lado, com os menores custos, pois tal permite vender os bens a um preço mais
baixo.
Por outro, com eficiência, isto é, evitando o desperdício – afinal, os bens são escassos. A
eficiência é estimulada pela concorrência, que introduz uma expectativa de lucro, mas
também uma ameaça de falência.
3. Determinado pelas decisões sobre como aplicar os salários, definidos pelo mercado.

1.3 Economias Mistas e papel do Estado


No entanto, há que referir que nenhuma economia é absolutamente de mercado ou planificada. A
verdade é que todas as sociedades possuem Economias Mistas, que contém elementos de direção
central e de mercado.
Deste modo, a maioria das decisões tem lugar no mercado, mas o Estado assume um papel de
supervisão e regulação, colmatando eventuais problemas que possam – e vão – surgir, como:

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 Mercados ineficientes; → ver pag. 36
 Ciclos económicos (desemprego, inflação)
 Crescimento económico lento.

Custo de oportunidade e eficiência


1. Fatores de Produção
Para responder ao problema económico, a sociedade tem de fazer escolhas sobre fatores de
produção; associado à produção de bens, está a existência de fatores de produção que traduzem
custos, por os recursos utilizados nela serem escassos.
Podemos distinguir cinco fatores de produção: Trabalho, Tecnologia, Terra, Recursos Naturais,
Capital, e Consumo Intermédio. Importa distinguir estes dois últimos.
 Capital: Bem produzido, durável. Permanece no processo produtivo. Máquinas,
computadores, etc. Vamos analisá-lo melhor na pag. 33.
 Consumo intermédio: Bem produzido, não durável. Transformados no processo
produtivo. Energia consumida pelo computador.

2. Custo de oportunidade e Fronteira de Possibilidades de


Produção
Numa economia, é forçoso decidir quanto
se produz de cada bem. Existe aqui um
detalhe importante: produzir mais do bem
X significa aplicar mais fatores de
produção na produção desse bem, o que
desvia investimento da produção de outros
bens. Assim, aumentar a produção de
um bem X vai reduzir a produção de
um bem Y.
Este é o custo de oportunidade: a
oportunidade que se perde na produção de Y, quando se produz mais X. É um custo crescente:
quanto mais X se quer produzir, mais Y se perde – lei dos custos relativos crescentes.
O custo de oportunidade de uma decisão é o valor da melhor alternativa não seguida, ou seja, do
bem ou serviço de que estamos a prescindir em favor de outro bem ou serviço. Afinal, ao usar o
bem X – a melhor alternativa, a nosso ver -, estamos a perder a oportunidade de usar o bem Y – a
segunda melhor alternativa, a nosso ver. No fundo, é o que se perde por não adotarmos a segunda
melhor alternativa.

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A união de todas as combinações (A, B, C) gera a Fronteira de Possibilidades de Produção.
FPP é o conjunto de pontos de eficiência máxima de uma economia, assumindo que o custo de
oportunidade é crescente. Representa o máximo que a economia pode produzir de um determinado
bem, sem produzir menos de outro bem. Tal é influenciado pelos fatores de produção.
Segundo a FPP, a eficiência produtiva
verifica-se quando já não se consegue
produzir mais de um bem sem produzir
menos de outro – a economia está
exatamente sobe a FPP, como nos casos
A, B, e C.
Assim, existem três pontos possíveis de
identificar neste gráfico:
 Ponto sobre a FPP: Afetação de
recursos eficiente. A economia
está a produzir o máximo possível.
 Ponto dentro da FPP: Afetação de recursos ineficiente. A economia poderia estar a produzir
mais, sendo possível produzir mais de X sem reduzir a produção de Y, e portanto sem custo
de oportunidade. Existem recursos que não estão a ser aproveitados, como trabalhadores
no desemprego, fábricas vazias ou terras por explorar.
 Ponto fora da FPP: Afetação de recursos impossível. Atendendo aos fatores de produção
existentes, não se consegue alcançar.
A questão prende-se em saber em que ponto sobre a FPP é que devemos estar: no A, B, ou C?
Numa Economia Planificada, seria o Estado a defini-lo. Já numa Economia de Mercado, resultaria
das escolhas dos consumidores, em função dos preços que estão dispostos a pagar pelos bens de
consumo, mas também das decisões das empresas, que produziriam mais ou menos em função das
oportunidades que têm.
A FPP pode deslocar-se:
 Para fora: Motivada pelo
crescimento dos fatores de
produção (aumento da
população, por exemplo) e
investimento. Agora, o país pode
produzir mais.
No gráfico, de Z (situação
original) para Y (depois de um
bom ano agrícola, por ex.), ou
para X (depois de progressos
tecnológicos apenas no setor dos bens de capital).

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 Para dentro: Motivada pela redução dos fatores de produção (crises e emigração, por
exemplo). O país pode produzir menos do que produzia anteriormente.
No gráfico, de Z para W.

Custos das empresas


1. Teoria do Produtor
Antes de iniciarmos a Teoria do Produtor, há que fazer uma distinção que será importante mais à
frente: curto prazo e longo prazo.
Curto prazo é o período de tempo em que as empresas podem ajustar a produção com a alteração
de apenas fatores produtivos variáveis (FPV), mas não fatores fixos. Assim, a capacidade de
decisão é limitada, pois apenas podemos decidir sobre FPV’s.
Longo Prazo é o período de tempo suficientemente longo para que todos os fatores produtivos
possam ser alterados – todos os FP’s são V’s. Por exemplo: a curto prazo não podemos alterar o
preço da renda que pagamos, por estar fixada no contrato. No entanto, tal pode mudar quando
renovarmos o contrato, daqui a um determinado período de tempo.

1.1. Função Produção e Produtos


A relação entre a quantidade máxima de fatores de produção e a quantidade máxima de produto
que pode ser obtido com esses fatores é designada Função Produção. Assim, a Função produção
determina a quantidade máxima que pode ser produzida com uma dada quantidade de fatores de
produção – existem milhões de FP’s, uma para cada produto e serviço.
Partindo da Função Produção, é possível calcular o Produto Total, o Produto Marginal (do
trabalho), e o Produto Médio (do trabalho).
O Produto Total é a quantidade total produzida do produto. Quando um fator de produção
aumenta, o PT aumentará.
O Produto Marginal é produto
adicional gerado pelo acréscimo de uma
unidade do fator de produção, mantendo
os restantes fatores de produção
constantes.
O Produto Médio é o produto total
divido pela totalidade da unidade de
fatores de produção.

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Se o PMg for superior ao PMe, o PMe sobe; Afinal, se a adição de uma unidade de um FP gera
um produto maior do que o produto médio anterior, o novo PMe terá de ser maior.
Se o PMg for inferior ao PMe, o PMe desce. Afinal, se a adição de uma unidade de um FP gera
um produto menor do que o produto médio anterior, o novo PMe terá de ser menor.

Lei dos Rendimentos Marginais Decrescentes


À medida que acrescentamos unidades adicionais de um fator de produção variável, mantendo
todos os outros constantes, o produto adicional é cada vez menor. Assim, o PMg de um fator de
produção reduz-se com o aumento da quantidade desse fator.
No fundo, entendemos que quanto mais um fator é acrescentado a uma unidade fixa de outros,
menor é a quantidade desses outros que o primeiro tem de trabalhar: quanto mais trabalhadores
adicionamos a uma parcela fixa de terra, menos produtivo será o trabalho.

1.2. Rendimentos à Escala


Os rendimentos decrescentes e os PMg referem-se à variação da produção com a adição de um
único fator de produção, mantendo todos os restantes sempre no mesmo valor. Já os rendimentos
à escala referem-se aos efeitos na quantidade produzida aquando do aumento da escala de todos
os fatores de produção. Podem ser constantes, crescentes ou decrescentes.
 Rendimentos constantes à escala: Em situações indeterminadas. Uma variação de todos
os fatores levará forçosamente a uma variação diretamente proporcional da produção.
Ex: Se a terra, trabalho, e capital duplicarem, então a produção duplica.
 Rendimentos crescentes à escala: Em empresas menores. Um aumento de todos os fatores
levará a um aumento mais que proporcional da produção.
Ex: Se a terra, trabalho, e capital aumentarem em 10%, então a produção aumentará
forçosamente em mais de 10%.

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 Rendimentos decrescentes à escala: Em empresas maiores. Um aumento de todos os
fatores levará a um aumento menos do que proporcional do produto total.
Ex: Se, numa central elétrica, a terra, o trabalho, e o capital aumentarem em 10%, então a
produção aumentará forçosamente em menos de 10%.

1.3. Custos
Qualquer gasto em custos desnecessários reduz o lucro da empresa. Assim, os custos têm uma
influência importante na escolha dos fatores e nas decisões de investimento.
Os custos podem ser fixos ou variáveis. Temos ainda o Custo Total, o Custo Médio e o Custo
Marginal.
Um custo fixo é a despesa monetária suportada mesmo que não haja qualquer produção, e que não
é afetada pela variação da quantidade produzida. Mantém-se constante. São rendas de fábricas,
jutos de empréstimos, etc.
Um custo variável abrange todos os custos que não são fixos. É a despesa monetária que se altera
com o nível de produção, em função de um fator de produção variável. Começa em 0 quando a
produção é 0, e aumenta quando a segunda aumenta. São matérias-primas, salários, etc.
O Custo Total é a soma do CF e do CV – a variação do CT é igual à variação do CV, pois o CF
não se modifica.
O Custo Médio é o CT divido pelo número total de unidades produzidas. Começa por se reduzir
continuamente, atinge um valor mínimo, e depois aumenta paulatinamente – daí a curva em U.
Quando é decrescente estamos perante uma economia de escala, e quando é crescente estamos
perante uma deseconomia de escala.
Ao comparar o CMe com a receita é possível determinar se uma empresa está a gerar lucro.
O Custo Marginal é o custo adicional do aumento em uma unidade de produção. No curto prazo,
começa por se reduzir continuamente, atinge um valor mínimo e depois aumenta paulatinamente
– daí a curva em U. A queda deve-se aos CF’s serem diluídos com uma maior produção. O aumento
deve-se ao CMg passar a depender da Lei dos Rendimentos Decrescentes – se para produzir mais
uma unidade de produto são necessários cada vez mais trabalhadores, é necessário pagar mais
salários, o que aumenta o CV, o que aumenta o CT, o que aumenta o CMg.
Existe uma relação importante entre o Custo Médio e o Custo Marginal:

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 Se o CMg é menor que CMe, então o
CMe diminui. Afinal, neste caso a
última unidade produzida custou menos
que o custo médio de todas as anteriores
unidades, e por isso o CMe tem de ser
inferior ao anterior CMe.
 Se o CMg é maior que CMe, então o
CMe aumenta. Afinal, neste caso a
última unidade produzida custou mais do
que o custo médio de todas as anteriores
unidades, e por isso o CMe tem de ser
maior que o anterior CMe.
 Se o CMg é igual ao CMe, o CMe não aumenta nem diminui, pois atingiu o seu nível
mínimo, e a sua curva está na horizontal. Afinal, neste caso a última unidade produzida
custou o mesmo que o custo médio da unidade anterior, pelo que não se verificam
alterações.

Vale a pena produzir algo até que o benefício que retiremos seja igual ao custo marginal: se uma
tonelada de trigo custar 70€, então só devemos produzir até à sexta unidade, pois a partir daí o
custo de produção de uma nova unidade irá suplantar o benefício que recebemos da sua produção.
Esta é uma ideia que será desenvolvida na pag. 17.

1.4. Eficiência económica na produção


A eficiência económica é um conceito com duas vertentes. Primeiro, produzir o máximo com os
mesmos fatores de produção. Segundo, e talvez mais importante, produzir o máximo com o menor
custo possível.
Assim, uma empresa deve produzir o seu produto ao custo mais baixo possível, para obter a receita
líquida mais elevada possível.
A eficiência económica ocorre quando:

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𝑃𝑀𝑔𝑇 𝑃𝑇 𝑃𝑀𝑔𝑇 𝑃𝑀𝑔𝐶 PMgT: PMg do trabalho. PT: Produto trabalho.
= ou =
𝑃𝑀𝑔𝐶 𝑃𝐶 𝑃𝑇 𝑃𝐶
PMgC: PMg do capital. PC: Produto do capital.

Alguns cenários para melhor percebermos como se aplica este conceito:


Situação A Situação B
Incremento do produto diário de um Incremento do produto diário de um trabalhador
trabalhador adicional (PMgT): 50 unidades. adicional (PMgT): 75 unidades.
Incremento do produto diário de um Incremento do produto diário de um
equipamento adicional (PMgC): 75 unidades. equipamento adicional (PMgC): 75 unidades.
Salário do trabalhador (PT): 300€/dia Salário do trabalhador (PT): 300€/dia
Custo do equipamento (PC): 300€/dia Custo do equipamento (PC): 300€/dia
50 300
Na Situação A, estamos perante um caso de ineficiência, pois ≠ . Assim, estamos perante
75 300
um caso em que é possível aumentar a produção mantendo os custos – se reduzirmos um
trabalhador a produção reduz 50 unidades, mas ao trocá-lo por uma máquina, a produção aumenta
75 unidades. No fim, produzimos mais 25 unidades, com o mesmo custo (300€/dia).
75 300
Na Situação B, estamos perante um caso de eficiência, pois = . Assim, estamos perante
75 300
um caso em que é impossível aumentar a produção mantendo os custos.

2. Contabilidade das Empresas


De um ponto de vista legal e empresarial, a contabilidade leva-se a cabo através da Demonstração
de resultados e do Balanço.
Primeiro, urge distinguir dois conceitos: fluxo e estado.
O fluxo é uma variação por unidade de tempo, como as despesas que entram e saem de uma
empresa. Associa-se à Demonstração de Resultados.
O estado é o nível de uma variável, como o valor monetário de uma empresa num dado momento.
Associa-se ao Balanço.

2.1. Demonstração de Resultados


A demonstração de resultados regista o fluxo de vendas, despesas e o resultado líquido, ou seja, o
lucro que sobre depois da dedução das despesas, de uma empresa. Abrange um determinado
período de tempo.

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Custos de exploração: CV’s.
Custos operacionais: CV + CF. Aqui não são
considerados outros custos, como impostos e
juros.
ROL: RL – CO
Calculado o ROL, retira-se os impostos,
originado o RLDI. Ao RDLI subtrai-se os
juros, originando os lucros retidos.
A amortização refere-se aos custos dos bens
de capital, nos casos em que as empresas os
possuem.

2.2 Balanço
O Balanço reflete o que é que uma empresa vale num determinado momento. Medo o estado dos
ativos e passivos. Ramifica-se em dois: ativo – bens e direitos da empresa – e passivo – dívidas e
obrigações – e capital próprio.
Assim, 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 = 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 + 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑜, e 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑜 = 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 − 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜.
Ativos circulantes são convertidos em
numerário dentro de um ano. Podem ser:
 Disponível: Dinheiro que sobrou
do ano, um valor exato e não
estimado.
 Existências/stocks: Aquilo que
ficou por vender.
Ativos fixos representam os bens de
capital – equipamento, máquinas, etc. - e
de terra – edifícios, campos agrícolas, etc.
O passivo corrente é o que se deve a curto
prazo (menos de um ano). Nele, inserem-se:
 Contas a pagar: valores devidos a terceiros na sequência da compra de bens.
 Empréstimos a pagar: valores devidos a terceiros na sequência da obtenção de dinheiro
emprestado.
O passivo de longo prazo é o que se deve a longo prazo. Reflete-se nas obrigações emitidas:
dívidas de longo prazo que circulam no mercado.

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2.3. Custos económicos e custos contabilísticos
O capital investido numa empresa pelos seus donos tem um custo de oportunidade – o que deixam
de ganhar pelo facto de não aplicarem esse capital na melhor alternativa não seguida (MANS). →
Ver pag. 3.
Assim, o lucro económico será a parte do resultado líquido depois dos impostos que excede o custo
de oportunidade do capital próprio depois dos impostos.
𝐿𝐸 = 𝑅𝐿𝐷𝐼 − 𝐶𝑂𝐷𝐼
Voltando à tabela do 2.2:
Se os donos da empresa aplicaram nela 200000€ de capitais próprios, podiam tê-lo feito noutro
sítio - na melhor alternativa não seguida. Suponhamos duas situações:
 Que essa MANS teria um rendimento de 10% do capital investido (20000€). O LE seria
170000, pois 37000 – 20000. Gerou lucro, portanto foi uma boa decisão investir na
empresa.
 Que essa MANS teria um rendimento de 20% do capital investido (40000€). O LE seria -
3000, pois 37000 – 40 000. Gerou prejuízo líquido, portanto foi uma má decisão investir
na empresa.

Procura individual e procura do mercado


As teorias dos consumidores explicam o comportamento de consumo das famílias. Assim, as
pessoas consomem para a felicidade, que para fins económicos será descrita por “utilidade”.
No entanto, é impossível medir as preferências das pessoas pela utilidade - vamos medi-las pela
disponibilidade para pagar, isto é, o preço máximo que estão dispostas a pagar por um certo bem.
É aí que surge a curva da procura.

1. Função Procura
A função procura – ou curva procura – descreve a relação entre o preço de um bem (P) e quantidade
procurada desse bem (Q). Assim, a quantidade e o preço estão relacionados inversamente: Q
aumenta quando P diminui.

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O gráfico desta função pode ser lido de dois
modos:
 Curva da procura: Do eixo vertical
para o horizontal. Para cada preço tem-
se a quantidade procurada. +P = -Q, e
–P = +Q.
 Disponibilidade para pagar: Do eixo
horizontal para o vertical. Para cada
unidade adicional tem-se o que os
consumidores estão dispostos a pagar
por ela. À medida que uma pessoa
consome mais de um bem, aquilo que
está disposta a pagar por uma unidade adicional desse bem diminui – é o que nos diz a lei
da utilidade marginal decrescente, analisada já a seguir.

1.1 Leis da Função procura


Lei da inclinação negativa da procura
Quando um preço de um bem aumenta, mantendo-se tudo o resto constante, os compradores
tendem a consumir menos desse bem. Isto deve-se a duas razões:
 Efeito de substituição: quando o preço de um bem aumenta e fica mais caro em relação aos
outros, ele é substituído por outros produtos similares. → Ver pag. 15.
 Efeito de rendimento: quando o preço de um bem aumenta, mas tanto os preços dos outros
bens como o rendimento se mantêm constantes, fica-se de certa forma mais pobre do que
anteriormente, uma vez que com o mesmo rendimento compra-se menos bens. → Ver pag.
15.
Quando o preço baixa, mantendo-se o resto constante, aumenta a quantidade procurada.
À medida que a quantidade procurada aumenta, o máximo que os consumidores estão dispostos a
pagar é cada vez menos.

Lei da utilidade marginal decrescente


Segundo esta lei, há medida que vamos consumindo unidades sucessivas de um bem, a satisfação
adicional vai diminuindo. Isto acontece por um efeito de saciamento.
O preço reflete o valor que para nós tem última unidade que consumimos; assim, como esta última
unidade vai valendo cada vez menos – por ter cada vez menos utilidade para nós -, o preço terá de
descer.

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Por exemplo: quando estamos com fome, podemos comprar o pastel de nata a 1€ - para nós, é esse
o valor que ele tem. Todavia, depois de comermos três ou quatro pastéis de nata, provavelmente
já não quereremos pagar 1€ pelo 5º - por já estarmos saciados, para nós o pastel já não vale 1€,
mas sim menos. Talvez se custasse 0,50€ comêssemos um 5º.
Por isso, o valor de troca de um bem – preço, utilidade marginal – não é o mesmo que o valor de
uso – satisfação que esse bem no dá, utilidade total.
Num caso mais extremo, se estivermos com sede, no meio do deserto, uma garrafa de água terá
um valor de uso muito maior do que um diamante, embora o valor de troca do último seja muito
superior – o preço do diamante é maior que o preço da garrafa de água. Naquele momento, ficamos
muito mais satisfeitos por beber água do que com um diamante.

1.2. Fatores que deslocam a curva da procura


Existem vários fatores que influenciam a quantidade procurada a um determinado preço constante:
rendimento médio, preços e disponibilidade dos bens relacionados, dimensão do mercado,
preferências, e influências especiais sobre bens específicos.

Rendimento médio
Com o aumento do seu rendimento, os indivíduos tendem a comprar mais de quase tudo, mesmo
que os preços não se alterem. Isto gera um aumento da procura dos bens normais ou superiores,
mas também a diminuição da procura de bens inferiores - para quê comprar roupa na feira, quando
temos dinheiro para comprar na Gucci?

Preços e disponibilidade dos bens relacionados


Os bens podem ser:

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 Substitutos/substituíveis: desempenham a mesma função. Se o preço do bem X aumenta, a
procura do bem Y aumenta, ainda que o seu preço se mantenha. Por outro lado, se o preço
do bem Y diminui, a quantidade procurada do bem X diminui.
A carne de vaca (X) e carne de porco (Y) são exemplo disso.
 Complementares: só fazem sentido em conjunto. Se o preço do bem X aumenta, a procura
do bem Y diminui, por não valer a pena possuir Y sem ter X.
A gasolina (X) e o carro (Y) são exemplo disso.
 Independentes: a variação de um preço de um bem não afeta a procura do outro.
A carne de vaca (X) e o carro (Y) são exemplo disso.

Dimensão do mercado
Medida pela população que o compõe. Mais habitantes (de uma cidade) tendem a comprar mais
bens, menos habitantes tendem a comprar menos bens.

Preferências
Elemento subjetivo. Representa influências culturais e históricas, bem como desejos induzidos
artificialmente.

Influências especiais sobre bens específicos


O modo como as condições de determinada área influenciam a procura de um determinado bem.
A procura de guarda-chuvas é maior em destinos chuvosos do que nos solarengos, tal como a
procura de automóveis é menor em locais com melhores transportes públicos.

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A caracterização da procura dá-se através de várias variáveis, como o excedente do consumidor e
as elasticidades.
O excedente do consumidor explica porque é que o que pagamos por uma certa unidade de um
bem é inferior ao valor que essa quantidade tem para nós. Isto ocorre porque o preço reflete o valor
da última unidade consumida; ora, esta é a que menos vale entre as várias que consumimos, pelo
que o preço que pagamos é inferior ao valor médio de cada unidade.
Veremos a elasticidade em detalhe já a seguir.

1.3 Elasticidade
A elasticidade mede a variação da procura de um bem. Existem três tipos de elasticidade:
elasticidade procura-preço direta do bem X; elasticidade procura-rendimento do bem X;
elasticidade procura-preço cruzada entre o bem X e o bem Y.

Elasticidade procura-preço direta


A elasticidade mede a variação da quantidade procurada de um bem quando o seu preço varia.
Assim, consiste na variação proporcional da quantidade procurada dividida pela variação
proporcional do preço. Qualquer que seja o resultado, ignora-se sempre o sinal negativo.
∆𝑞
𝑞
.𝐸𝑝 = ∆𝑝
𝑝

Se a elasticidade for superior a 1%, então percebemos que uma variação de 1% no preço
corresponde a uma variação de mais de 1% na procura. Isto significa que a quantidade procurada
de um certo bem responde fortemente às variações do seu preço; o bem tem uma procura elástica
em relação ao preço. Isso indica-nos que é um bem de luxo.
Se a elasticidade for inferior a 1% então percebemos que uma variação de 1% no preço corresponde
a uma variação de menos de 1% na procura. Isto significa que a quantidade procurada de um certo
bem responde fracamente às variações do preço; o bem tem uma procura rígida em relação ao
preço. Isso indica-nos que é um bem essencial.
Assim, se elasticidade for maior que zero mas menor que 1, estamos perante um bem normal.
Se for maior que 1, é um bem superior ou de luxo. Se for menor que zero, é um bem inferior.
Uma vez sabendo a elasticidade de determinada função procura, é possível calcular o aumento da
quantidade procurada com determinada redução do preço, ou a diminuição da quantidade
procurada com o aumento do preço.

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Elasticidade procura-rendimento
Corresponde à variação proporcional da
procura do bem A face a uma variação
proporcional do rendimento.
Segundo a tabela, quando o rendimento
aumenta:
 A procura de bens inferiores (leite e o
pão) diminui proporcionalmente.
 A procura de bens superiores (carne de
vaca e vegetais) aumenta.
Nesta tabela, percebemos que a carne de vaca tem uma procura elástica, e os restantes bens uma
procura rígiga.

Elasticidade procura-preço cruzada


Corresponde à variação proporcional da procura do
bem X face a uma variação proporcional do preço
do bem Y.
Segundo a tabela, quando o preço da CV aumenta:
 A procura de carne de vaca diminui.
 A procura da carne de porco aumenta
proporcionalmente.

Como Calcular?
Em exame, as contas serão simples – aquela esquisita equação supra disposta não deverá ser
necessária.
Por exemplo: “Admita que a elasticidade procura-rendimento da procura de serviços de alojamento
em hotéis é 3. Se houver uma queda de rendimento de 15%, qual é a variação esperada na
quantidade procurada de serviços de alojamento em hotéis?”
Só teríamos de calcular 3 x -0,15 = -0,45.
Assim, a quantidade procurada de serviços de alojamento em hotéis cairá 45%.
Ainda noutro exemplo: “Admita que a elasticidade procura-preço direta da procura de serviços
de alojamento em hotéis é – 1,5. Se as empresas hoteleiras aumentarem os preços em 15%, qual o
impacto deste aumento nas quantidades procuradas de serviços de alojamento? E nas receitas?”

Yehoshuah 19
Só teríamos de calcular -1,5 x 0,15 = - 0,23
Pelo aumento dos preços, vai haver uma redução de 23% na procura de serviços de alojamento.
Da mesma maneira, as receitas vão diminuir, pois a perda de clientes (por força da redução da
procura, com valor de 23%) não será compensada pelo aumento de preços, que correspondeu a
15%.

Yehoshuah 20
II. MERCADOS
A tipificação dos mercados baseia-se na premissa que quem vende os bens são as empresas, e
quem os compra são as famílias; a interação destes dois sujeitos cria um mercado. Existem
mercados de vários tipos: mercado de concorrência perfeita, e mercados de concorrência
imperfeita, que englobam os mercados de concorrência monopolística, de oligopólio, de
monopólio. Vamos ver os traços gerais de cada um, e depois aprofundá-los.
O mercado de concorrência perfeita é caracterizado por:
 Muitos produtores que produzem bens indenticos, sendo impossível distingui-los;
 As empresas não terem controlo sobre o preço.
O mercado de monopólio é caracterizado por:
 Apenas um produtor;
 Muitos consumidores.
O mercado de concorrência monopolística é o mais frequente, caracterizado por:
 Muitos produtores que produzem bens diferencidados, sendo possível distingui-los;
 As empresas terem algum controlo sobre os preços;
O mercado de oligopólio é caracterizado por:
 Poucos produtores, que produzem bens indênticos ou diferenciados (dependendo do caso);
 As empresas terem um poder significativo sobre o preço;
 Muitos consumidores;
Em cada estrutura de mercado existem dois problemas a resolver:
1. Como determinar a produção de cada empresa e o preço de mercado?
2. Como saber que o mercado é eficiente? Isto é, minimiza os custos? O consumidor tem o
melhor preço e o melhor produto possível?
Para responder à segunda pergunta, é necessário perceber como é que as empresas tomam as suas
decisões de produção – o que produzem e a que preço? – pelo que os dois problemas estão
interligados.
Podemos ainda pensar numa terceira questão: a transferência de recursos é eficiente?

Mercados de Concorrência Perfeita


Os mercados de concorrência perfeita possuem três características princpais.
Primeiro, sobre as empresas: há muitas empresas pequenas a produzir produtos idênticos. São
demasiado pequenas para influenciar o preço do mercado, e portanto vendem ao preço de mercado

Yehoshuah 21
– aceitam-no como um dado adquirido. Se não o fizerem, das duas uma: ou aumentam o preço e
ficam sem clientes; ou diminuem o preço e não conseguem satisfazer todos os clientes.
Segundo, sobre a receita: a receita adicional resultante da venda de cada unidade adicional é o
preço do mercado.
Terceiro, sobre a curva: A curva de procura é completamente horizontal.

1. Oferta de cada empresa


Vamos analisar três situações em que uma empresa pode estar: lucro máximo, lucro nulo, e
encerramento. De um modo muito resumido:
 Ponto de lucro máximo: preço = CMg
 Ponto de lucro nulo: preço = CMe
 Ponto de encerramento: preço = CVM (custo variável médio)

1.1 Maximização do lucro


1. Como determinar a produção de cada empresa?
Para sabermos como uma empresa concorrencial perfeita decide a sua oferta, partimos de duas
premissas: a empresa maximiza os lucros; a empresa aceita o preço de mercado.
A empresa maximizará o lucro quando a produção estiver no nível em que o custo marginal é igual
ao preço. Assim, vale a pena produzir até que a receita marginal iguale o custo marginal. Assim,
𝑅𝑀𝑔 = 𝐶𝑀𝑔 ↔ 𝑃 = 𝐶𝑀𝑔
Por exemplo: se o P de um bem for
40€, e o nível de produção que
corresponder a um CMg de 40€ for
4000 unidades, então a esse preço
de mercado a empresa desejará
produzir (e vender) 4000 unidades.
A curva marginal de uma empresa
permite encontrar o respetivo nível
ótimo de produção, porque o
produto (15) que maximiza o lucro
ocorre onde o preço (100) interseta
a curva de custo marginal.

Yehoshuah 22
1.2. Ponto crítico e Ponto de encerramento
O ponto crítico ou ponto de lucro
nulo corresponde ao nível de
produção com o qual a empresa tem
um lucro igual a 0; neste ponto, o
preço é igual ao custo médio, pelo
que as receitas apenas cobrem os
custos.
Há casos em que na produção de
máximo lucro – em que, como
vimos, o custo marginal é igual ao
preço – a empresa tem um lucro nulo
– custo médio igual ao preço. Nestes
casos, as curvas do custo marginal e do custo médio intercetam-se.

Por vezes, dá-se o caso do preço


descer abaixo do custo médio,
gerando lucro negativo – a empresa
tem agora prejuízos.
No entanto, nem sempre isso
significa que a empresa deve fechar.
Isto justifica-se pelo facto de a
empresa, em atividade ou não, ter de
suportar sempre os custos fixos
(juros ao banco, por exemplo).
Assim, se os preços estiverem acima
dos custos variáveis médios, a
empresa deve produzir ao longo da ZONA A: P < CMe mas > CVM. Ainda vale a pena produzir.
sua curva de custo marginal, pois,
ZONA B: P = CVM. Já não vale a pena produzir.
embora esteja a perder dinheiro,
perderia ainda mais e encerrasse.
Só quando o preço desce abaixo ou iguala os custos variáveis médios é que a empresa maximiza
o lucro com o encerramento.
Por isso, o ponto de encerramento dá-se quando as receitas apenas cobrem os custos variáveis, e
quando o prejuízo é igual aos custos fixos; no fim, quando o preço iguala os custos variáveis
médios.

Yehoshuah 23
2. Oferta de mercado
Um mercado concorrencial é constituído por muitas empresas, e interessa estudar o seu
comportamento em conjunto e não apenas individualmente.
A um determinado preço, a empresa A oferecerá ao mercado uma determinada quantidade de um
bem, a empresa B oferecerá outra quantidade, e a C outra, sendo que a quantidade oferecida é
determinada pelos custos marginais de cada uma. Assim, a oferta do mercado corresponde, para
cada preço, à soma das quantidades produzidas por cada uma das empresas no mercado,
dado esse preço. Deste modo, a curva da oferta de um mercado obtém-se somando
horizontalmente, para cada preço, as curvas da oferta de todos os produtores individuais desse
bem.
Já a curva da procura de um mercado consiste na soma de todas as curvas da procura individuais.

2.1. Equilíbrio e mercado: conceito; curto prazo e longo prazo.


Tendo estas duas curvas, podemos
determinar o equilíbrio do mercado – o
ponto em que as curvas se cruzam.
Sobre isto, há que distinguir dois períodos
de tempo: equilíbrio de curto prazo e
equilíbrio de longo prazo.
No equilíbrio de curto prazo, como vimos
supra, as empresas só podem fazer
modificações nos fatores variáveis.
Qualquer variação de produção tem de
usar a mesma quantidade de capital. Aqui,
as deslocações da procura originam maiores ajustamentos de preço e menores ajustamentos de
quantidade do que no longo prazo. Por isso, alteram o preço em vez da oferta.
No equilíbrio de longo prazo, como vimos supra, as empresas podem fazer modificações em todos
os fatores, havendo liberdade para entrar ou sair da atividade. Aqui, a forma da curva da oferta
varia:
 Curva horizontal: quando é livre a entrada de empresas idênticas, que usam fatores
genéricos.
 Curva com inclinação positiva: quando as empresas usam fatores produtivos com uma
oferta relativamente pequena.

Yehoshuah 24
Longo prazo num setor concorrencial
No longo prazo, a procura determina o nível de atividade – a oferta -, mas não o preço.
O preço de longo prazo deve cobrir os custos despendidos – salários, matérias-primas, impostos,
juros amortizações, custo do capital próprio. Se o preço de longo prazo está acima do custo de
longo prazo, as empresas estão a ter lucro económico positivo.
Enquanto houver lucro nesse setor, vão
entrando mais empresas. Isto leva a que
a quantidade de bens no mercado continue
a aumentar, embora as que já estavam no
mercado produzam cada vez menos.
Consequentemente, para cada preço, é
maior a quantidade oferecida – a curva
da oferta move-se para a direita. Esta
entrada manter-se à até ser alcançado o
ponto de lucro nulo.
Quando o preço descer para além do PLN,
as empresas deixarão de lucrar, e
abandonarão o setor. Consequentemente, a curva da oferta move-se para a esquerda, e o preço
aumentará.
Este fenómeno ocorrerá ciclicamente.
Assim, para haver um equilíbrio de longo prazo, o preço tem se ser igual ao custo marginal, e o
custo marginal ao custo médio (de longo prazo). Por isso, não existem lucros económicos.

3. Eficiência
Uma economia é eficiente se não é possível qualquer reorganização da produção que melhore a
situação de alguém sem piorar a de outrem.
No mercado concorrencial perfeito, a afetação de recursos é eficiente, uma vez que
 Estamos no ponto A, onde os produtores fornecem exatamente a quantidade que os
consumidores desejam comprar ao preço de equilíbrio de mercado. Para além disso, é nesse
ponto que é maximizado o excedente económico possível de um determinado setor.
 No longo prazo, garante a eficiência da transferência de recursos, capitais e trabalhadores,
de mercados em crise (em que a procura diminui e custos aumentam) para mercados em
prosperidade (em que a procura cresce e os custos reduzem). No entanto, nem sempre esta
criação de empregos toma a mesma velocidade que a destruição de empregos.

Yehoshuah 25
Já o ponto B é ineficiente: os consumidores estão dispostos a pagar mais por um produto do que o
custo marginal da sua produção; não se aproveita toda a riqueza, e seria vantajoso produzir mais,
porque a sociedade teria lucro.
Assim, é a condição de que o ganho marginal para a sociedade da última unidade consumida seja
igual ao custo marginal da última unidade produzida que garante que este mercado seja eficiente.
O excedente económico ou lucro da
sociedade é dado pela soma do excedente
do consumidor e do excedente do
produtor. Corresponde à área entre as
curvas a oferta e da procura, antes de
estas se cruzarem. Consiste na utilidade
líquida da produção de um bem.
O excedente do consumidor é a diferença
entre o máximo que este estaria desposto
a pagar e o que realmente paga por cada
unidade.
O excedente do produtor é o excesso de receitas sobre o custo de produção.
No fim, os mercados de concorrência perfeita são bons porque resolvem o problema económico
de modo eficiente:
1. Produzir o quê? A longo prazo, a procura iguala a oferta, ou seja, receitas igualam os custos.
Isto leva a que os consumidores paguem o preço mínimo necessário a que as empresas
continuem a produzir – o melhor negócio possível.
2. Como? Minimizando os custos. As empresas estão em concorrência, pelo que têm de se
autodisciplinar, para não terem custos demasiadamente elevados.
Todavia, existem muitos poucos mercados de concorrência perfeita. Na maior parte dos casos, as
empresas conseguem influenciar o preço do mercado.

Mercados de concorrência imperfeita


Estamos perante um mercado de concorrência imperfeita quando os vendedores conseguem
controlar os preços de mercado dos bens que produzem. No entanto, este poder não é total, e varia
muito de setor para setor.
Tal influência no preço está patente nas curvas da procura das empresas em concorrência
imperfeita – possuem uma inclinação negativa, porque se as vendas aumentam, o preço tem de
descer.
Estes casos são originados quando há economias significativas de produção em larga escala –
grandes empresas possuem vantagem face às pequenas, por poderem produzir e vender mais barato

Yehoshuah 26
– e quando existem barreiras que dificultam a entrada nesse setor – leis, regulações ou fatores
económicos.
Existem vários tipos de mercados de concorrência imperfeita: monopólios, concorrência
monopolística e oligopólio. Para distingui-las, há que atentar ao poder de mercado – o grau que
uma empresa tem sobre o preço dos bens produzidos; um dos seus indicadores é o desvio do preço
em relação ao CMg.
Em todos se verificam três falhas inimigas do interesse público: aumento dos preços, restrição das
produções, e deterioração da qualidade do serviço; e uma vantagem: as grandes empresas levam a
grandes inovações e desenvolvimentos que impulsionam o crescimento económico.

1. Monopólio
É o caso extremo de concorrência imperfeita, e o oposto à concorrência perfeita: um único
vendedor possui o total controlo sobre um ramo de atividade; uma única empresa produz, e pode
influenciar os preços.
Geralmente, o Estado permite a existência de monopólios quando um setor é um monopólio natural
– as necessidades de investimento são tão grandes que a utilização mais eficiente de recursos só é
possível quando existe uma única empresa no mercado; assim, evita-se duplicações de custos. É o
caso das indústrias de distribuição de água e eletricidade, ou das autoestradas.

1.1. Maximização do lucro


O monopolista quer ter um
lucro tão grande quanto
possível. Ora, tal ocorre
quando a RMg iguala o
CMg. Importa, por isso,
definir a RMg.
Enquanto num mercado de
concorrência perfeita, os
bens são vendidos ao
mesmo preço, se o
monopolista quiser vender
mais precisará de descer o ZONA A: Situação do monopólio (maximização do lucro). P > CMg.
preço.
ZONA B: Situação eficiente do ponto de vista de mercado. P = CMg.
Assim, o acréscimo de
receita de determinada
unidade nunca é igual ao preço dessa unidade, pois a esse tem de se subtrair a receita perdida em

Yehoshuah 27
todas as anteriores unidades devido à redução do preço a que são vendidas. Assim, a RMg será
sempre menor que o Preço.
Assim, o P e Q que maximiza o lucro ocrre quando RMg iguala CMg, uma vez que este é o ponto
de equilíbrio que dá a maior diferença entre receita total e custo total.
Assim, enquanto cada unidade adicional de um bem levar a uma R maior que C, os lucros
aumentarão, e a Q deverá ser aumentada até que RMg iguala CMg.
Quando o RMg for inferior ao CMg, aumentar a Q vai levar a lucros inferiores; aqui, a
maximização dos lucros implicará a redução de Q até que RMg volte a igualar CMg.
Todavia, vimos que P maior que RMg. Então, no ponto de lucro máximo, P maior que CMg, pois
CMg igual a RMg. Por isto, o monopólio explora os consumidores: o preço é superior ao que se
verificaria num mercado de concorrência perfeita, e a produção inferior.

1.2 Eficiência
O mercado de monopólio é ineficiente, porque responde mal às perguntas.
1. O que produzir? É produzido o que os consumidores querem, mas o facto de P superior a
CMg leva a que se produza menos do que aquilo que seria desejável para a sociedade – se
se produzisse mais, o monopolista diminuiria os seus lucros -, e a um preço mais alto.
2. Como produzir? De modo ineficiente. Por estar sozinha no mercado, não existem
incentivos à minimização de custos.
No que concerne à transferência de recursos, o monopólio também as fará, mas de modo mais
lento – o declínio e crescimento deste modelo de negócio leva mais tempo.

2. Concorrência monopolística
Muito comum: mercado retalhista e indústria alimentar.
Semelhante à concorrência perfeita – muitos vendedores e compradores, fácil saída e entrada do
mercado, preço do mercado como dado adquirido – mas com uma diferença importante: os
produtos são diferenciados.
Esta diferenciação leva a um P diferente, tendo cada empresa liberdade para aumentar ou baixá-
lo, e a uma inclinação negativa na curva da procura.
No longo prazo, este modelo elimina o lucro económico, pois os preços descem até que P iguale
o CMe. Por outro lado, faz surgir um número excessivo de novos produtos; a eliminação de
algumas diferenciações desnecessárias reduziria os custos e os preços.

Yehoshuah 28
No entanto, esta redução da diferenciação – originada pela redução do número de empresas –
colocaria em causa o bem-estar do consumidor, porque reduziria a diversidade dos bens
disponíveis.
Assim, neste modelo existe uma ineficiência de produção, mas porque os próprios consumidores
assim o desejam.
O mercado de concorrência monopolística responde adequadamente às perguntas, porque as
empresas continuam a concorrer fortemente entre si e são obrigadas a ser eficientes – há
minimização de custos - pese embora o P seja ligeiramente superior ao CMg. Acresce o facto deste
modelo fazer uma boa transferência de recursos.

3. Oligopólio
São comuns em setores como telecomunicações e plataformas digitais.
Caracterizado por ter poucos vendedores e muitos consumidores. Cada empresa tem poder para
influenciar o preço. Existe uma interdependência dupla: cada empresa é influenciada e influencia
as decisões de outras empresas.
Assim, há uma interação estratégica: cada empresa depende da atitude empresarial das suas
concorrentes. Há que decidir se atuam de modo cooperativo – tentando eliminar a concorrência –
ou de modo não cooperativo – decidindo por si, sem qualquer acordo explícito.
Distinguem-se, por isso, dois grandes tipos de monopólio: oligopólios de conluio (mercados em
que quase não há concorrência), e concorrência entre poucos (mercados em que há muita
concorrência).
Nos oligopólios de conluio, as empresas cooperam entre si, estabelecendo em conjunto os seus
preços e produções, repartindo o mercado e tomando decisões. É o caso dos cartéis.
Aqui, o ponto de maximização de lucro ocorre quando RMg iguala CMg, estando P acima do
CMg – tal como num monopólio.
Na concorrência entre poucos, o que cada empresa faz afetará as outas, e estaremos numa
concorrência quase tão agressiva quanto a dos mercados de concorrência perfeita.
Aqui, o P igualará o CMg – tal como num mercado de concorrência perfeita.

3.1. Eficiência

Yehoshuah 29
O mercado de oligopólio pode ser
eficiente, mas noutras situações ser
ineficiente.
Se existir uma concorrência muito alta,
então muito provavelmente será eficiente:
o preço igualará o custo marginal.
Se existir não existir concorrência, então
muito provavelmente será ineficiente: o
preço será maior que o custo marginal.
Por isso, num oligopólio, o preço oscilará
entre o preço em concorrência perfeita e o preço em monopólio.

3.2 Teoria dos Jogos


Para analisar as interações estratégicas entre os oligopolistas, aplica-se a teoria dos jogos, que
procura descrever como é que dois ou mais jogadores – empresas – tomam as suas decisões, e
como é que estas as afetariam. Para isso, é frequentemente utilizada uma matriz de resultados.
Assim, a partir do momento em que uma empresa começa a considerar as reações das outras às
suas ações, entramos no domínio desta teoria. Cada empresa escolhe a estratégia que faz mais
sentido para si, tendo em conta as possíveis estratégias das suas competidoras, mas sem conhecer
as suas decisões finais.
Para percebermos melhor este processo, importa perceber dois conceitos:
 Estratégia dominante: estratégia que é melhor para a empresa, independentemente da
estratégia seguida pelos outros jogadores. Daqui resulta um equilíbrio de Nash.
 Equilíbrio de Nash: Solução em que nenhum jogador pode melhorar o seu resultado, se
alterar a sua estratégia.
Neste exemplo, percebemos que a estratégia dominante para a Gasolineira 1 é preço baixo, bem
como para a Gasolineira 2 – caso contrário, se a 1 escolher preço alto, corre o risco de ter prejuízo,
se a 2 escolher preço baixo. (Preço baixo; preço baixo) é também um equilíbrio de Nash, pois não
há incentivo em mudar de estratégia para nenhuma empresa: a única opção é subir o preço, que
gerará uma situação em que não lucra.
No entanto, é possível perceber que este equilíbrio não é eficiente, por dar um lucro total menor
ao que as empresas poderiam ganhar. As empresas poderiam sentir-se tentadas em acordarem
vender ambas ao preço alto, de modo a ambas terem lucros elevados – o chamado equilíbrio
cooperativo, ou cartel.
Todavia, a formação destes conluios é difícil: primeiro, é proibida por lei; segundo, o interesse dos
jogadores será sempre romper o acordo – Gasolineira 2 passar a praticar preços baixos – para obter
mais lucros enquanto a Gasolineira 1 não ajusta a sua estratégia.

Yehoshuah 30
A: Equilíbrio de Nash
B: Equilíbrio cooperativo
C: Possível modificação da Gasolineira 2
Assim sendo, o surgimento de cartéis é influenciado pelo número de vezes que este jogo se irá
jogar.
Se for jogado apenas uma vez, a tendência é não se coligarem, e procurarem o equilíbrio de Nash.
Se o jogo for jogado indefinidamente, a tendência é coligarem-se. Afinal, o facto de o jogo ter
lugar, digamos, diariamente, permite que as empresas alterem as suas estratégias caso alguma
rompa com o equilíbrio cooperativo.

Risco e Incerteza
Importa distinguir estes dois termos.
Risco designa situações incertas as quais podemos atribuir determinada probabilidade de
ocorrerem.
Incerteza designa eventos que podem ocorrer, mas para os quais não possuímos conhecimento
para atribuir uma probabilidade.
Para enfrentar estes dois fatores, o mercado recorre à especulação e à atividade seguradora. Vamos
analisar ambas.

1. Especulação
Atividade de compra e venda, com o intuito de lucrar com as flutuações de preços de um
determinado bem. Pode ser feita ao longo do tempo – compro X no mercado A para posteriormente
vender X no mercado A, mas a um preço mais alto -, ou entre mercados geográficos – compro X
no mercado A para vender X no mercado B, mas a um preço mais alto. A esta última prática dá-
se o nome de arbitragem.

Yehoshuah 31
Assim, os produtos não são comprados para serem usados, mas sim revendidos.
No primeiro caso de especulação, os ganhos são incertos: não sabemos que preço irá ter o produto
X no futuro.
No segundo caso de especulação, não existe incerteza: conhecem-se os preços dos mercados.

1.2. Benefícios sociais


A especulação pode ser benéfica para a sociedade: no primeiro caso, os especuladores compram,
os bens quando abundam – e portanto têm uma utilidade marginal reduzida -, para vendê-los numa
altura em que escassearem – quando têm uma utilidade marginal elevada; no segundo caso, os
especuladores compram os bens num mercado em que abundam, para vendê-los num mercado em
que escasseiam.
Para melhor entendermos isto, devemos olhar para os gráficos.

A curva da procura é dada pela união dos pontos. A oferta corresponde à reta azul. O preço à
interseção do ponto com a reta azul. Assim, temos:

Mercado B Mercado A
Preço (P) 10 6
Custo Marginal (CMg) 0 0
Quantidade (Q) 1 5

Yehoshuah 32
Excedente do Consumidor (ExC) 10-10 = 0 10
Excedente do Produtor (ExP) 10-0 = 10 30
Excedente Total (ExT) 10 40
Excedente Total dos Mercados = 50
(ExTM) 10 + 40

Ora, temos um mercado com abundância de cereais e outro com escassez. Um especulador faria
arbitragem, isto é, compraria no mercado A para vender no mercado B. Tal iria mover a reta da
oferta.

Esta situação seria vantajosa para o especulador comprou por 6 em A e vendeu por 9 em B.
Ao fazermos isto recorrentemente, chegaremos a um ponto em que os mercados ficam numa
situação de igualdade, com uma procura e preço idênticos.

Yehoshuah 33
Isto resultaria em:

Mercado B Mercado A
P 8 8
CMg 0 3
Q 3 3
EC 3 3
EP 24 24
ET 27 27
ETMs 27 + 27 = 54

Assim, entendemos que a arbitragem aumento a eficiência económica dos mercados, pelo que foi
positiva, e faz sentido permiti-la.

2. Aversão ao Risco e Mercados de seguro


Um indivíduo tem aversão ao risco quando o desagrado pela perda de um determinado montante
de rendimento é maior do que o prazer de ganhar o mesmo montante. Isto advém da hipótese de
utilidade marginal do rendimento decrescente, porque se tivermos aversão ao risco, o ganho de

Yehoshuah 34
utilidade alcançado por um montante adicional de rendimento é menor do que a perda de utilidade
resultante da redução do mesmo montante de rendimento.
Assim, as pessoas preferem uma coisa certa, ou seja, valores médios, em vez de níveis incertos de
consumo.
Quando podemos receber entre 3000€ e 5000€, o nosso desagrado por receber o primeiro valor é
maior do que o prazer de receber o segundo. No fim, preferiríamos a certeza de receber 4000€.
Ora, é neste sentido que surgem os mercados de seguro. Assumem-se como um modo de
dispersão de risco: aceita-se um pequeno prejuízo certo – prestação mensal – para evitar um
possível prejuízo catastrófico – pagar arranjo do carro.
Todavia, muitas vezes estes mercados não respondem adequadamente à primeira pergunta, dado
não produzirem a quantidade e variedade de seguros de que a sociedade necessita. Tal deve-se a
três falhas de mercado - seleção adversa, interdependência de riscos, e risco moral – que se
relacionam com o facto de as seguradoras só funcionarem nas seguintes condições:
 Grande número de acontecimentos seguráveis: só assim se pode dispersar o risco.
 Independência estatística dos acontecimentos de risco.
 Experiência: só assim se pode estimar as perdas.
A seleção adversa prende-se com o facto das pessoas com risco maior serem aquelas que mais
interessadas estão no seguro, ao passo que o inverso se dá com as pessoas com risco menor.
Exemplo: pessoas saudáveis gastam 20 em cuidados de saúde por ano. Pessoas doentes 80. A
média é 50, pelo que a seguradora fixará este preço para os seus serviços. Isto é vantajoso para os
doentes – sem seguro pagariam 80/ano, com seguro pagam 50/ano -, mas não interessa às pessoas
saudáveis – sem seguro pagariam 20/ano, com seguro pagam 50/ano -, pelo que elas sairão do
seguro. O preço subirá para 80, o que equivale a uma situação sem seguro.
Para evitá-lo, existe a obrigatoriedade de seguro.
A interdependência de riscos relaciona-se com o facto de por uma pessoa ser alvo de um certo
risco faz com que outras pessoas tenham elevada probabilidade de sofrer esse mesmo risco. É bem
ilustrada pelo problema do desemprego: quando uma sociedade é afetada por ele, abrange uma
parte significativa da população, e não apenas algumas pessoas. Tal representa um risco enorme
para as seguradoras, que podem não conseguir pagar o subsídio de desemprego a todos.
O risco moral tem que ver com o facto do segurado, por ter seguro, desenvolver um
comportamento de risco e de descuido, o que aumenta a probabilidade de risco, e
consequentemente de perda, para as seguradoras.
Assim, quando nem sempre os mercados privados de seguros funcionam de forma eficiente –
quando não se reúnem aquelas três condições. → Ver pag 30.
Por isso, uma intervenção do Estado em certas áreas afigura-se justificada, como no caso do
desemprego.

Yehoshuah 35
Mercados dos fatores de produção
Numa economia de mercado a distribuição do resultado da atividade económica – rendimentos –
é determinada pelos mercados de trabalho e de capital. Os rendimentos são distribuídos aos
proprietários dos fatores de produção sob a forma de salários, lucros, rendas e juros.
Os preços dos fatores de produção são também estabelecidos pela interação entre a oferta e a
procura dos diferentes fatores. No entanto, esta procura diverge da procura dos bens de consumo:
 É uma procura derivada: Deriva indiretamente da procura do consumidor; quando as
empresas adquirem um fator produtivo, fazem-no porque este fator permite produzir um
bem procurado pelos consumidores, gerando receitas. Não é procurada uma satisfação
direta pelas empresas.
 É uma procura interdependente: Cada fator é inútil se considerado sozinho. A
produtividade e funcionamento de um fator depende dos outros fatores disponíveis.
Do conceito de função produção e PMg deriva-se o conceito de produto receita marginal de um
fator produtivo, que corresponde ao rendimento adicional gerado por uma unidade adicional de
um fator produtivo, mantendo todos os outros constantes.
Á semelhança do que ocorre no PMg, as empresas continuam a adquirir mais fatores produtivos
enquanto o acréscimo de receita gerado for superior ao acréscimo de custo, isto é, enquanto o
PRMg for superior, ou pelo menos igual, ao CMg.
𝑃𝑅𝑀𝑔 = 𝑃𝑀𝑔 × 𝑃

Assim, numa empresa em concorrência perfeita, o lucro é maximizado quando PRMg = CMg.
Num gráfico, o PRMg de cada fator produtivo corresponde à curva da procura desse fator de uma
empresa. Esta curva é a soma das curvas da procura de um fator produtivo de todas as empresas.
O preço de equilíbrio dá-se quando a curva da procura de um fator produtivo interseta a sua curva
de oferta: as quantidades oferecidas e procuradas são iguais.

1. Mercado de trabalho
No mercado de trabalho existem dois lados: o das empresas e o dos trabalhadores. O das empresas
corresponde ao da procura, porque contratam trabalhadores. O dos trabalhadores corresponde ao
da oferta, por venderem horas de trabalho.
A curva da procura do trabalho tem inclinação decrescente, e é refletida pela curva de PRMg.

Yehoshuah 36
Atendendo ao dito supra, uma empresa irá contratar trabalhadores até que o PRMg que isso gera
se torne igual ao CMg – sendo que este equivale aos salários - que isso implica. É isto que
determina a procura de uma empresa.
Quantidade PRMg CMg
A curva da procura variará de acordo com: Trabalhadores (Salário)
1 3000€ 1000€
 O número de empresas: Mais empresas levarão
2 2500€ 1000€
a uma maior procura, menos empresas levarão 1750€ 1000€
3
a uma menor procura. 4 1200€ 1000€
 Alterações técnicas e de preços: As que 5 900€ 1000€
favoreçam o emprego levarão a uma maior
procura, as que não favoreçam levarão a uma
menor procura.
Assim, no seguinte caso, a empresa contrataria até
quatro trabalhadores, pois com a adição de uma quinta
unidade desse fator de produção, mantendo os outros
constantes, o PRMg seria inferior ao CMg.
A curva de oferta de trabalho é crescente, e
corresponde ao número de horas que as pessoas querem
trabalhar. Tal depende do custo de oportunidade do
trabalho – o valor do lazer, diferente para cada um. Este varia com o rendimento, uma vez que um
aumento no rendimento auferido por determinado trabalhador pode levar a dois efeitos:
 Substituição: como cada hora de trabalho é melhor remunerada, cada hora empregue em
lazer trona-se mais cara; os trabalhadores preterem o lazer em favor do trabalho.
 Rendimento: com um rendimento maior, aumenta o desejo e a disponibilidade para pagar
mais bens e serviços de lazer; os trabalhadores preterem o trabalho em favor do lazer.
Em princípio, a oferta de trabalho varia positivamente
com o salário – um salário mais alto proporciona uma
oferta de mais horas de trabalho. No entanto, é
reconhecido que a partir de determinado valor salarial, o
efeito rendimento passa a ser superior: a oferta de horas
de trabalho diminui.
Adicionalmente, a curva da oferta é determinada por:
 Participação da população ativa na força de
trabalho, nomeadamente mulheres.
 Imigração: se for de latinos, por exemplo, pode
levar a um aumento da oferta de trabalho não
especializado.
 Emigração: há menos trabalhadores a oferecerem as suas horas de trabalho.

Yehoshuah 37
1.1. Diferenças salariais
Os salários variam muito consoante o mercado que analisamos: alguns – mercado de informáticos
– oferecem salários elevadíssimos; outros – mercado de comerciantes – oferecem salários mais
baixos. De qualquer dos modos, esta variação tem vindo a agravar-se.
As diferenças salariais são explicáveis:
 Qualificações profissionais: a licenciatura preconiza um prémio salarial de relevo.
 Emprego: em regra, trabalhos com maior risco ou horários mais extensos oferecem um
salário mais elevado – assim, atraem pessoas para essas funções desagradáveis -, bem como
profissões mais prestigiadas e desejadas pelo mercado.
 Capacidades individuais: pessoas com maiores capacidades mentais e físicas têm salários
mais elevados; pessoas com menores capacidades mentais e físicas têm salários mais
baixos (exceção à regra: militantes do PS, que capazes ou incapazes, safam-se sempre).
 Profissões únicas: artistas.
As diferenças salariais persistem por força da segmentação do mercado: cada vez mais, as
profissões não concorrem entre si; escolher uma profissão torna a mudança para outra mais difícil,
porque especializámo-nos nela, e é dispendioso – em dinheiro e tempo - voltarmos a especializar-
nos para entrar noutra. No fundo, os custos de formação profissional são elevados, o que impede
a mudança de uma profissão para outra.
Num mercado de concorrência perfeita, existem diferenças salariais, e o salário corresponde ao
valor do PMg do último trabalhador contratado.

1.2. Poder de monopsónio, monopólio e Sindicatos


O monopsónio é o mercado em que apenas existe um comprador para os produtos de vários
produtores. O poder de monopsónio corresponde à influência que este comprador exerce nos
preços. No mercado de trabalho, os monopsonistas seriam as empresas (caso em que só existe uma
empresa a contratar numa determinada região). Por outro lado, também podem existir situações de
monopólio – produtores com influência no preço -, em que os monopolistas seriam os
trabalhadores (caso dos jogadores de futebol).
Assim, é possível que as empresas tenham todo o poder de negociação – poder de monopsónio –,
mas também que sejam os trabalhadores a tê-lo – poder de monopólio. Em qualquer dos casos,
isso impede a concorrência perfeita, e o mercado torna-se ineficiente.
O poder de monopólio dos trabalhadores pode originar – ou é originado – por cartéis de
trabalhadores – os Sindicatos - que tentam aumentar o preço das horas de trabalho acima do valor
de equilíbrio de mercado. São aceites legalmente, uma vez que:
 Resolvem o problema da assimetria de informação; → Ver pag. 36.

Yehoshuah 38
 Protegem os trabalhadores da desigualdade de poder negocial: de outro modo, as empresas
teriam um poder de monopsónio excessivo.
O facto de os Sindicatos poderem aumentar em demasia o valor dos salários, para lá do ponto de
equilíbrio, gera problemas: neste caso, a oferta de trabalhadores vai exceder a procura – há muitos
trabalhadores a quererem trabalhar com aquele salário (justamente por ser mais elevado do que o
normal), mas as empresas não têm lugar para eles; a isto chama-se desemprego clássico. No fundo,
a elevação salarial exigida pelos Sindicatos pode assumir-se como uma barreira à entrada dos
trabalhadores no trabalho.

2. Mercado de Capital
Nos mercados de capital, vendem-se, compram-se, e alugam-se bens de capital.
Nos mercados de capital, é difícil saber o preço do capital. No início do semestre, distinguimos
dois tipos de bens que participam no processo produtivo: os consumos intermédios – que são
transformados ou consumidos no processo produtivo -, e cujo preço apura-se facilmente, e os que
são usados, mas não transformados, no processo produtivo – os verdadeiros bens de capital.
O capital corresponde a ativos tangíveis e intangíveis, isto é, bens produzidos e duráveis que são
usados como fatores produtivos na produção subsequente. São tanto um FP como um produto.
À semelhança do trabalho, uma empresa deve adquirir capital até que o PRMg iguale o CMg. Mas
como calcular a remuneração do capital?
Para sabê-lo, importa perceber que o valor da sua remuneração não é o preço a que se comprou
esse bem de capital, mas sim o preço do valor dos serviços prestados por esse bem – no fim, o que
se retirou do uso desse bem, divido pelo valor pelo qual o comprei. É dada em percentagem.
𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜𝑠 𝑠𝑒𝑟𝑣𝑖ç𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑡𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑏𝑒𝑚
𝑅= × 100
𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑜 𝑏𝑒𝑚
Por exemplo: um taxista compra um carro por 25000€. Vai recebendo dinheiro pelos serviços de
transporte que presta, e depois de pagar as suas despesas, impostos, e o seu salário, fica com 2500€.
A sua R será 10%, pois 2500/25000 x 100 = 10%.

O capital é o único bem que permite transportar dinheiro no tempo, através da taxa de juro – preço
que um banco paga a quem lhe empresta dinheiro, pelo uso do mesmo, durante um certo período
de tempo; é indicado por uma percentagem.
Ao investirmos num bem de capital, estamos a abdicar do consumo no presente, para aumentá-lo
no futuro. Por isso, os juros constituem numa compensação por abdicarmos de usar o nosso
dinheiro no presente.

Yehoshuah 39
Neste sentido, um bem de capital é um ativo durável que produz um fluxo de rendimentos ao
longo do tempo, e que me permite proceder a duas ações:
 Capitalizar: saber quanto valerá o dinheiro que tenho hoje.
Se hoje emprestar 1000, a uma TJ de 3%, quanto terei daqui a dois anos?
𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 × (1 + 𝑇𝐽)𝑎𝑛𝑜𝑠

1000 × (1 + 0,03)2 = 1060,09


 Atualizar: saber quanto vale hoje o dinheiro que terei no futuro.
Se hoje alguém se comprometer a pagar-me 100000 daqui a dois anos, por quanto posso
vender hoje esse direito de receber 100000, com uma TJ de 5%?
𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑞𝑢𝑒 𝑠𝑒𝑟á 𝑝𝑎𝑔𝑜
(1 + 𝑇𝐽)𝑎𝑛𝑜𝑠
100000
= 78352.62
(1 + 0,05)2
Saber o valor atual é importante em vários casos:
o Se quisermos vender um prédio, temos de saber o valor atual da totalidade do fluxo
de rendimento futuro.
o O valor de uma empresa é dado pelo valor dos lucros que terá no futuro. Assim, se
quisermos vender essa empresa, teremos de saber o seu valor atual.
As taxas de juro podem ser nominais (TJM) ou reais (TJR).
Nas nominais (TJR – taxa de inflação): o juro é o rendimento monetário investido por ano e por
cada unidade monetária de investimento.
Nas reais (TJM – taxa de inflação): mede a quantidade de bens que obtemos daqui a determinado
período de tempo em troca dos bens de que prescindimos hoje

Equidade
Existe um grande dilema sobre o modo de conciliar a eficiência com a equidade. Face a isto, a
economia não consegue responder, sendo da responsabilidade da política e da sociedade resolvê-
lo, com recurso a políticas de distribuição de rendimento e redução de desigualdade – mas quão
longe devem estas ir?
Primeiro, importa definir rendimento: o total de receitas recebidas por um indivíduo ou
família ao longo de um período de tempo. A distribuição do rendimento reflete a variabilidade
ou dispersão dos rendimentos, geralmente por várias classes.
Atualmente, para medir a dispersão e desigualdade dos rendimentos, recorre-se à Curva de
Lorenz e ao Coeficiente de Gini – duas faces da mesma moeda.

Yehoshuah 40
Para construirmos a Curva
de Lorenz, temos de
ordenar a população em
cinco conjuntos de 20%:
os 20% mais pobres, os 20
a 40% mais pobres, e por
aí em diante, até
chegarmos aos 20% mais
ricos; depois, há que
perceber que percentagem
de rendimento cada um
tem.
Numa sociedade em que os
rendimentos fossem distribuídos de
modo totalmente igualitário, cada
conjunto teria 20% dos rendimentos.
Já numa absolutamente desigual, o
último conjunto teria a totalidade dos
rendimentos. No mundo real, os
números variam entre estes dois
extremos.
Assim, a Curva de Lorenz serve
para medir a desigualdade do
rendimento e da riqueza.
A área entre a igualdade absoluta e a A: Situação de igualdade absoluta.
curva real de Lorez corresponde ao
B: Situação de desigualdade absoluta.
Coeficiente de Gini. Quanto maior for,
maior é a desigualdade na distribuição C: Situação real.
do rendimento.
Zona G: Coeficiente de Gini.
O Coeficiente de Gini corresponde ao
dobro da zona G, e varia entre 0
(igualdade absoluta) e 1 (desigualdade absoluta).

1. Motivos para a desigualdade do rendimento


Podemos distinguir alguns motivos que explicam a desigualdade do rendimento:
1. Capacidades das pessoas: todos nós variamos em termos físicos e mentais.
2. Intensidade do trabalho: o empenho que cada um aplica no trabalho varia entre os
indivíduos.

Yehoshuah 41
3. Profissões das pessoas: a profissão que cada um tem, caracterizada por ser mais ou menos
perigosa, mais ou menos desagradável, mais ou menos reconhecida, influencia o
rendimento.
4. Discriminação por raça e género.
5. Educação e meio social: a qualidade do meio em que crescemos e da educação de que
fomos alvo influenciam o nosso rendimento para o resto da vida.
6. Globalização: a deslocalização da produção levou a um aumento da produtividade, que
aumentou o rendimento de quem detém os meios de capital. Mas o rendimento dos
trabalhadores não aumentou.
7. Desenvolvimento das TIC: promoveram a criação de mercados em que quem vence ganha
tudo, e quem perde fica com migalhas.
Para reduzir a desigualdade na distribuição do rendimento, é necessária a intervenção do Estado.

Intervenção do Estado na Economia


Os mercados são ineficientes quando existem falhas de mercado: situações de monopólio, de
oligopólio de conluio, de assimetria de informação, de externalidades, de falhas nos mercados de
seguro, e de investigação e desenvolvimento. Sempre que existam falhas, o Estado deve intervir.
Nas situações de monopólio/oligopólio de conluio, o Estado deve regular os preços e assegurar
a Lei da Concorrência. Isto impede que o poder negocial das empresas seja excessivo.
Exemplo: a ANACOM regula os preços de serviços prestados por empresas como a Altice,
Vodafone, NOS, NOWO, etc.
Nas situações de assimetria de informação, os consumidores não têm a informação necessária
para fazerem uma transação com plena consciência; falta-lhes informações sobre os atributos do
bem em causa, como a sua qualidade – quem nos garante que este telemóvel funciona? Quem nos
garante que o avião onde vamos viajar está em bom estado e que os pilotos são competentes?
Quem nos garante que a empresa que nos está a contratar tem boas condições de segurança e
higiene?
O mercado resolve-a parcialmente: publicação de revistas especializas, marcas, publicidade, e a
iniciativa dos consumidores de se informarem.
O Estado resolve-a de modo melhor: licenciamento de profissões, instituições de garante de
qualidade – no caso da aviação, ANAC -, legislação de proteção do consumidor e definição de
condições de higiene e segurança, e permissão de existência de sindicatos.
Nas externalidades, falamos de consequências (positivas ou negativas) de uma ação que afeta
pessoas que não consentiram na mesma – é o caso da poluição e do consumo de tabaco. Quando
estas externalidades negativas existem, nota-se uma diferença entre o CMg privado (custo para a
empresa) e o CMg social (custo para a sociedade). O Estado resolve-as adotando legislação de
proteção do ambiente e de proibição do consumo de tabaco em certos espaços.

Yehoshuah 42
Nas situações de falha dos mercados de seguros – que vimos supra – o Estado resolve-as através
da obrigatoriedade de seguros, ou de legislação de segurança social – leva a cabo seguros que as
seguradoras não levariam, por causarem prejuízo ou serem demasiado arriscados.
Nas situações de inovação e desenvolvimento, dá-se a criação de propriedade intelectual, o que
pode gerar cópias e imitações. Cabe ao Estado impedi-lo, através de patentes e direitos de autor –
direitos de propriedade intelectual.

1. Bens públicos
Importa ainda, por alguma razão, definir o que é um bem público. Um bem público é caracterizado
por dois fatores:
 Ausência de rivalidade de consumo: vários indivíduos podem utilizar o mesmo bem; o seu
consumo não limita o consumo de outros. No fim, não é por eu usar o bem X que outros
não o poderão também usar.
 Ausência de exclusividade de consumo: nenhum indivíduo consegue o controlo exclusivo
do seu uso. Assim, não se pode negar o acesso ao bem X a alguém por este não o pagar.
Deste modo, a defesa nacional e a iluminação das ruas são bens públicos – não é por a minha rua
ser iluminada que as outras não serão também, e não se pode negar o aproveitamento desta
iluminação a ninguém. Por oposição, as autoestradas e as maçãs não o são – é preciso pagar para
desfrutarmos delas, e se as usar, outros não poderão fazê-lo.
Vinco que um bem público não necessita de ser providenciado pelo Estado. Os bens públicos
são financiados pelo Estado, que podem produzi-los e fornecê-los à população, ou encomendá-los
a empresas privadas. É o caso da iluminação pública: é uma empresa privada que a produz e
distribui, não o Estado. No entanto, a produção e distribuição é financiada por ele.

Yehoshuah 43
III. GRANDES AGREGADOS E CRESCIMENTO
ECONÓMICO
Entramos, agora, numa nova etapa do semestre. Abandonámos a abordagem microeconómica que
levámos a cabo até então, e passamos para uma análise da economia aos olhos da macroeconomia.

Medição económica
Os indicadores utilizados para medir a atividade económica, procurando saber se está a progredir
e bem, são o PIB, o saldo da balança das transações correntes, o desemprego e a inflação.

1. PIB
O Produto Interno Bruto corresponde à riqueza criada dentro das fronteiras do país – por empresas
nacionais ou estrangeiras – num ano. Assim, quantifica o valor de mercado de todos os bens e
serviços finais produzidos num país durante um determinado ano. Tem como finalidade medir o
desempenho global da economia, aferindo se está em contração ou em expansão.
Inerente a este conceito, temos o PIB per capita (PIB/pop.) – a população que vive num país com
um PIB per capita maior vive melhor.
Desmembrando a definição:
 Produto: é o valor acrescentado, isto é, aquilo que a atividade produtiva acrescenta aos
consumos intermédios que utiliza. Corresponde à produção menos consumos intermédios.
 Interno: produzido dentro das fronteiras do país, mesmo que as empresas produtoras sejam
estrangeiras.
 Bruto: inclui as amortizações, por estas não serem subtraídas à produção.
Podemos medir o PIB na ótica do produto, do rendimento, e da despesa. O PIB na ótica do produto
tem de ser igual ao PIB na ótica do rendimento. Afinal, o primeiro corresponde às compras, e o
segundo às vendas.

1.1. Na ótica do produto


No fundo, corresponde às compras dos consumidores: o dinheiro despendido com o consumo de
bens e serviços finais, no ano. Assim, o PIB é o total do valor monetário do fluxo dos produtos
finais produzidos pelo país.
Nesse sentido,
𝑃𝐼𝐵 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + 𝑋 = 𝐶𝑜𝑚𝑝𝑟𝑎𝑠

Yehoshuah 44
O investimento consiste no acréscimo à massa C: Valores monetários do consumo
de capital do país de edifícios, equipamento,
programas informáticos e existências de I: Investimento bruto
matérias, durante um ano. Não é sinónimo de G: Compras pelo Estado de bens e serviços
investimento em ações ou contas poupança,
X: Exportações líquidas
mas sim na produção de um bem de capital
físico.
As exportações líquidas correspondem à diferença entre as exportações e as importações de bens
e serviços.

1.2. Na ótica do rendimento


No fundo, corresponde às vendas: são considerados o lucro e os custos – rendimentos das famílias,
salários dos trabalhadores, rendas da terra, lucros pagos ao capital. Assim, o PIB é o total dos
rendimentos dos fatores produtivos.
Incluem-se todos os custos de produção, juntamente com impostos, amortização, e lucro.
Nos custos de produção, incluem-se as remunerações dos empregados e custos inerentes à
contratação de um trabalhador. Uma segunda parte da riqueza vai para os rendimentos da
propriedade.

𝑃𝐼𝐵 = 𝑆𝑎𝑙á𝑟𝑖𝑜𝑠 + 𝑗𝑢𝑟𝑜𝑠 + 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜𝑠 + 𝑎𝑚𝑜𝑟𝑡𝑖𝑧𝑎çõ𝑒𝑠

1.3. Na ótica da despesa


Podemos também analisar o PIB na ótica da despesa, no sentido de saber onde vai ser gasto.
Nesse sentido, tanto pode ser consumido como investido, pelo que as famílias vão gastá-lo em
consumo privado e investi-lo em investimento privado, ao passo que o Estado vai gastá-lo em
investimento e consumo público (saúde, segurança social, educação, forças armadas, etc).

𝑃𝐼𝐵 = 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑣𝑎𝑜 + 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑝ú𝑏𝑙𝑖𝑐𝑜 + 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 + 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠


+ 𝑖𝑚𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠

1.4. Limitações do PIB


O PIB. Enquanto indicador da situação económica, tem uma série de imperfeições. São elas:

Yehoshuah 45
 É imperfeito no registo do valor acrescentado produzido pelo Estado. O peso do Estado na
economia é subestimado porque este é estimado apenas pelo salário, não se incluindo o
capital usado.
 O trabalho em casa não entra para o PIB. Afinal, se uma pessoa produzir sapatos em casa,
não conta para o PIB, mas se for uma empresa já conta. Isto acontece pelo facto das famílias
serem incapazes de responder a questões relacionadas com isto com a mesma exatidão que
as empresas.
 Não são valorizados outros custos que as empresas impõem à sociedade. Falo da poluição,
por exemplo. Se as empresas pagassem a utilização de recursos naturais como a água e
florestas, tal seria contabilizado como consumos intermédios, e o PIB reduzir-se-ia.
Todavia, já se paga por parte da poluição, pelo que já se dá uma certa diminuição do PIB.
 É difícil avaliar as alterações de qualidade dos bens para efeitos do PIB.
Assim, o PIB não reflete o excedente do consumidor, o autoconsumo, as externalidades e os
mercados ilegais.

1.5. Índice de Desenvolvimento Humano


Atualmente, organizações como a ONU e o Banco Mundial propõem um novo indicador para
substituir o PIB: o Índice de Desenvolvimento Humano.
Tal é uma média de três outros indicadores: o PIB, o indicador de nível de saúde do país e o
indicador no nível de educação do país. Graças a isto, ainda que o PIB seja alto, se os outros
indicadores tiverem valores diminutos, tal levará a uma redução do IDH, o que implica que a
sociedade poderia estar melhor.

2. Saldo da balança das transações correntes


O saldo da balança de transações correntes sintetiza o estado das relações económicas externas de
um país - e neste termo integram-se as famílias, empresas, e o Estado. Permite perceber se aquilo
que se ganhou, em rendimentos, permitiu pagar as despesas.
Num país, o que se ganha são:
 As exportações de bens e serviços: turismo, por exemplo;
 Os rendimentos recebidos do exterior: empresas portuguesas que emprestaram dinheiro
no estrangeiro;
 As transferências recebidas no exterior: dinheiro recebido sem contrapartidas, como
fundos da União Europeia.
E as despesas são:
 Importações de bens e serviços;

Yehoshuah 46
 Rendimentos pagos ao exterior: dívida pública;
 Transferências pagas ao exterior: imigrantes em Portugal que enviam dinheiro para o seu
país de origem.

Neste gráfico, olhando a risca preta – que é a soma de todas as outras barras -, entendemos que
Portugal teve, durante muito tempo, um saldo da balança corrente total negativo, o que indica que
os seus rendimentos eram inferiores às despesas. Todavia, um saldo negativo não é forçosamente
mau: se for porque estão a ser feitos investimentos, então será bom, pois mais tarde ou mais cedo
gerarão riqueza. Será problemático se for algo constante ao longo dos anos, mesmo que o PIB
esteja em crescimento – mais um indicador de que o PIB nos induz em erro.
Certo é que se o se o saldo for negativo, é necessário arranjar mais dinheiro, seja vendendo bens
do país a estrangeiros, seja pedindo empréstimos.
Se for positivo, pode ser aplicado em investimento ou empréstimos ao estrangeiro.

3. Taxa de Desemprego
Antes de mais, é importante distinguir alguns conceitos que se afiguram básicos, mas merecem
menção.
População ativa corresponde às pessoas com emprego ou que procuram emprego.
População inativa corresponde àqueles que não têm emprego, nem o procuram: reformados,
crianças, estudantes, donas de casa.
Desempregados são aqueles que não têm emprego, mas que o procuram – estão, por isso, na
população ativa. Se não o procurarem, inserem-se na população inativa.

Yehoshuah 47
Tendo isto em conta, percebemos que a TD pode estar enviesada, principalmente nas épocas de
maior desemprego: a TD apresnta um valor menor do que o real, pois só conta com aqueles que
estão sem trabalho e ainda o procuram; não contabiliza os que estão sem trabalho, mas já desistiram
de o procurar, por não terem esperança.
Do mesmo modo, quando a economia começa a recuperar, a TD aumenta, justamente porque
aqueles que já não tinham esperança em encontrar trabalho voltam a tentar procurá-lo, passando
de inativos a desempregados.
Nem sempre uma TD baixa reflete uma economia em bom funcionamento – existem casos em que
apenas demonstra que a população ativa aceita trabalhar com baixos salários. Nesse sentido, há
que analisá-lo com base noutros indicadores, como o PIB, salários médios, e índice de Gini.
Importa dizer ainda que a população de um país está num fluxo constante, com pessoas sempre a
entrar e a sair da população inativa: estudantes que entram no mercado de trabalho, adultos que se
reformam, pessoas que emigram, etc.

4. Inflação
A inflação corresponde à taxa de variação do índice de preços no consumidor, calculada pelo INE
com base num cabaz de consumo médio das famílias.
𝐼𝑃𝐶2021 + 𝐼𝑃𝐶2020
𝑇𝐼 =
𝐼𝑃𝐶2020
Há também o deflator do produto, que é resultante da variação do preço médio dos bens produzidos
numa economia.
TI elevada é um problema ou não? Legalmente, para a EU, é – o BCE tem de manter a estabilidade
de preços. Economisticamente, a doutrina diverge, mas regra geral também se acha que sim, pois
prejudica a confiança nas intuições.
Afinal, uma nota não tem valor em si mesmo, temos de acreditar que ela tem valor; ora, a inflação
retira valor à moeda, pelo que leva a uma falta de confiança – minando um dos pilares da economia
de um país.
Nesse sentido, uma inflação baixa potencia:
 Um cenário mais estável para o investimento;
 A proteção de quem poupa.
A inflação é como um imposto. Penaliza os credores: se um credor empresta 100€ quando a
inflação é 0%, e lhe devolvem os 100€ anos depois, quando a inflação é 10%, os 100€ já não valem
o mesmo – perdeu dinheiro.

Yehoshuah 48
Crescimento Económico
O crescimento económico corresponde, por um lado, ao alargamento da FPP, e por outro, ao
crescimento do PIB.

1. Evolução do PIB
Antes de mais, existe PIB real e PIB
nominal.
Olhar para o PIB em termos reais é
considerar apenas a variação da
quantidade, assumindo que os
preços são constantes.
Assim, quando analisamos a
evolução de PIB, importa explicar:
 Tendências: crescimento económico, pela inclinação positiva da curva.
 Flutuações: as pequenas variações em torno da tendência.
Uma economia cresce precipuamente por três razões:
 Aumento da população/trabalhadores: mais gente trabalhará. Levará a um aumento do PIB,
mas não do PIB per capita.
 Aumento dos bens de capitais: ocorre por força do investimento em fábricas, máquinas,
etc.
 Progresso tecnológico: melhora os bens de capital que já existem.
O PIB per capita de um país aumentará se o stock de capital crescer mais rápido que o stock do
trabalho. A partir do momento em que há um grande stock de capital, a economia só melhora se
houver progresso tecnológico – se se conseguir potenciar melhor os bens de capital já existentes.

1.1. Convergência real


Sabendo disto, podemos interrogar-nos se os países mais pobres conseguirão convergir para o nível
de rendimento das economias mais ricas. Podemos também equacionar se o mercado consegue
fazer isso sozinho.
A hipótese de convergência real diz que sim: países com menores níveis iniciais de rendimento
e de capital per capita devem conseguir maiores taxas de crescimento económico do que os países
ricos, e portanto devem conseguir recuperar o atraso.
Esta teoria assenta em duas premissas importantes:

Yehoshuah 49
1. Os países ricos têm mais bens de capital – máquinas, fábricas, etc - do que os mais pobres.
2. Lei dos rendimentos marginais decrescentes: À medida que acrescentamos unidades
adicionais de um fator de produção variável – como bens de capital-, mantendo todos os
outros constantes, o produto adicional é cada vez menor.
Nesse sentido, se o país pobre e o país rico têm a mesma população – os mesmos trabalhadores -,
o país rico só produz mais porque tem mais bens de capital, como vimos. Por isso, será mais
vantajoso investir no país mais pobre, porque como tem menos bens de capital, o produto adicional
gerado por esse investimento será maior do que seria se tivéssemos investido no país rico. Deste
modo, o capital do país pobre aumentará até chegar ao nível do país rico.
Mas esta teoria não se verifica sempre, e existem fatores que podem impedir que o investimento
seja realmente direcionado para os países pobres. Prendem-se com razões institucionais, capital
humano, infraestruturas políticas, progresso tecnológico, rendimentos de escala crescentes, e
externalidades. Todas elas podem anular o efeito dos rendimentos marginais decrescentes e levar
a que seja mais lucrativo investir nos países ricos.
Razões institucionais, por falta de instituições e regras – como direitos de propriedade -,
adequadas ao crescimento económico
Capital humano, por a população de um país ter diferenças no que concerne ao nível de educação
técnica – seja ela escolar ou profissional. No fundo, ausência de trabalho qualificado.
Infraestruturas políticas, por não haver transportes, comunicações, saúde, etc.
Progresso tecnológico, por as inovações tecnológicas terem lugar nos países mais ricos, o que
leva a que durante algum tempo os bens de capital do país rico sejam mais avançados que os bens
de capital de um país rico.
Rendimentos de escala crescentes, por ser mais lucrativo, em certo casos, uma empresa fazer
uma investimentos em grandes instalações já existentes no seu país de origem (rico), do que uma
instalação pequena num país pobre.
Externalidades, relacionadas com a concentração geográfica de atividades económicas. Pode ser
mais lucrativo uma empresa instalar-se nestas áreas – por se encontrarem aí outras empresas,
fornecedores, clientes, etc – do que instalar-se num país pobre, mais isolado.
Em suma: a teoria da hipótese de convergência fundamenta-se num bom argumento económico.
Todavia, empiricamente, nem sempre se verifica.
Assim, uma economia crescerá graças ao trabalho, capital, e progresso, conciliados com todos
estes fatores supramencionados.

Yehoshuah 50
Curta análise de um gráfico
O gráfico abaixo ilustra o PIB per capita de Portugal em percentagem do PIB per capita de outros
países, ao longo de várias décadas. É um modo de avaliar a convergência ou divergência face a
um país. Quanto mais perto do 100%, maior a convergência.
Olhando para 1820 e 1870: o
 1820: PIB per capita de Portugal correspondia a 50% do PIB per capita do Reino Unido.
 1870: PIB per capita de Portugal correspondia a 25% do PIB per capita do Reino Unido.
Vemos que neste período Portugal divergiu do Reino Unido.
No entanto, olhando para o período 1950-1975, vemos que Portugal convergiu com o mesmo país:
passou de 30% do PIB do Reino Unido para 70%.

Yehoshuah 51
IV. POLÍTICA ECONÓMICA
Procura e oferta agregadas
Quando estudamos a economia agregada, procuramos ter uma visão de conjunto: juntar – ou
agregar, se quiserem – as várias partes de modo a estudar o todo.
Primeiro, importa identificar três conceitos de suma importância: oferta agregada, procura
agregada, e PIB potencial.
A oferta agregada é a oferta de todos os bens de uma economia que estão agregados ao conceito
de PIB.
A procura agregada é a quantidade total ou agregada do produto que há à disposição para adquirir
com um certo nível de preços, mantendo-se tudo o resto constante. É determinada pelo consumo
privado, investimento, gastos do governo, e exportações.
O PIB potencial é o nível
máximo sustentável do
produto nacional, em
condições normais. Por outras
palavras, é o máximo que se
pode produzir em condições
de operação normais, se
houvesse uma plena utilização
dos fatores. É um conceito
dinâmico, justamente por
depender das conjeturas
vigentes.
De alguma maneira, oferta
agregada = PIB potencial.

1. Determinantes da oferta agregada


A longo prazo, a oferta agregada é determinada por:
 Instituições;
 Trabalho;
 Capital;
 Capital humano;
 Capacidade empresarial;
 Inovação;
 Infraestruturas;

Yehoshuah 52
 Externalidades (Clusters).
A verdade é que raramente a economia está ao nível
do PIB potencial (E) – especialmente no curto
prazo. Ou está um pouco abaixo, em A – por
circunstâncias anormais, como uma crise ou guerra
-, ou um pouco acima, em B – em condições
extraordinárias, em que por alguma razão se
trabalha mais do que o comum. Nestes casos em
que se afasta de E, a economia está em
desequilíbrio – se em A, os preços descem por
haver excesso de oferta; se em B, os preços
aumentam para igualar a atividade ao produto
potencial.
Havendo uma queda da procura, as empresas não
podem vender todos os seus produtos – passam
para o ponto A. Isso é perigoso: gera desemprego.
Podiam resolver descendo os preços, mas existe um
preço de um bem que é dificílimo de descer, e que é o bem mais comum na economia: o trabalho.
O preço do trabalho é o salário e estes são, de um modo geral, inflexíveis:
 As pessoas resistem a descidas salariais;
 As empresas não querem desmotivar os trabalhadores. Por isso, de entre duas opções,
escolhem sempre a primeira:
1. Despedir 30% dos trabalhadores, mantendo os salários dos restantes;
2. Não despedir ninguém, reduzindo 30% o salário de todos.
 Os contratos de trabalho são para cumprir, há dificuldades em alterá-los.
Noutra perspetiva, se houver um aumento da procura, a economia poderá passar para o ponto B.
Como consequência, a taxa salaria aumenta, e os equipamentos, devido à sobreutilização,
desgastam-se mais rapidamente. Assim, há uma tendência para a subida de preços, que pode ser
agravada se tivermos em conta a lei dos rendimentos marginais decrescentes: aumentando as horas
de trabalho, mantendo os bens de capital, o produto adicional será cada vez menor.
Por isso, no curto prazo:
1. Face a uma menor procura: empresas diminuem produção e preços.
2. Face a uma maior procura: empresas aumentam a produção e os preços.
Assim, entendemos que depois de estarmos em A, regressamos a E descendo os salários e os custos
das empresas. Por outro lado, depois de estarmos em B, regressamos a E aumentando os preços.
Só em E é que os preços estão estáveis.

Yehoshuah 53
A curva da oferta desloca-se.
1. Para a esquerda, quando aumentam os salários e os
preços da energia.
2. Para a direita, quando diminuem os salários e os
preços da energia.

2. Determinantes da procura agregada


A procura agregada é influenciada pelo consumo de bens privados, investimento privado, e
exportações, consumo público, investimento público.
O consumo de bens privados é determinado por três fatores: preços, rendimento (englobando
aqui rendimento corrente, permanente, e riqueza), e taxa de juro.
 Preços, porque quando aumentam, podemos comprar menos coisas com o mesmo dinheiro
– o direito que temos vale menos. O consumo privado das famílias varia inversamente com
os preços: se temos menos dinheiro, compramos menos coisas.
 Rendimento corrente: a riqueza corresponde ao conjunto de bens que uma pessoa tem. Se
o rendimento aumenta, a procura aumenta. Assim, impostos, por exemplo, reduzem a
riqueza de uma pessoa, pelo que reduzirão a procura.
 Taxa de juro: quando são mais altas, os empréstimos ficam mais caros. Por isso, torna-se
mais difícil comprar bens duradouros, o que diminui o consumo.
O investimento privado é determinado pela taxa de juro – quanto mais baixa, maiores os
investimentos -, pelos preços – embora não seja forçoso que o seu aumento o impacte
negativamente - e pelas expectativas quanto ao nível de atividade – se os investidores acreditam
que a procura sobre determinado bem vai aumentar, vão investir mais nas empresas.
As exportações são determinadas por:
 Preços dos bens produzidos internamente e preços internacionais: exportamos mais se o
preço do nosso PIB for mais baixo que o dos outros países, ou seja, quando o nível geral
dos preços dos nossos bens diminui (relativamente aos outros países), as exportações
aumentam.
Assim, se os preços dos nossos produtos aumentam, as exportações e a procura agregada
diminuem, e passamos a importar mais (porque os preços dos produtos de outros ficam
mais baratos, quando comparados com os nossos);

Yehoshuah 54
 Rendimento corrente, rendimento permanente e riqueza do resto do mundo: as exportações
dependem do rendimento de outros países.
O consumo e investimento público é determinado por decisões políticas.

A procura e oferta agregada de que falamos agora não tem nada a ver com a procura e oferta que
estudámos no início do semestre. Nesse sentido, relevar três aspetos:
1. A curva da procura não se desloca com a variação do nível de rendimento.
2. O efeito de substituição não existe na procura agregada, por representarmos o PIB no seu
todo.
3. É negativamente inclinada por estar inversamente relacionada com o nível geral de preços
de uma economia - se os preços aumentam, a procura interna/externa diminui - o que ocorre
por duas razões:
a. Se o nível geral de preços aumenta, o valor
da moeda que as pessoas e empresas têm
diminui, pelo que a procura diminui.
b. Se os preços nacionais aumentam, as
exportações e a procura diminuem. Por
isso, também é negativamente inclinada
quanto às exportações. Afinal, mesmo que
o nosso PIB aumente, tal não influencia o
poder de compra internacional, pelo que a
procura diminuirá.

3. Equilíbrio da economia no curto prazo


No curto prazo o equilíbrio dá-se quando a curva da procura
equivale à curva da oferta de curto prazo. O PIB de
equilíbrio de curto prazo pode ser à direita ou á esquerda do
PIB potencial.

4. Política económica

Yehoshuah 55
Aqui veremos de que modo o Estado pode intervir para influenciar tanto a oferta como a procura
agregada, garantindo que se mantenham a um nível adequado.

4.1. Do lado da oferta agregada


A política económica tem os seguintes objetivos:
 Promover o ajustamento rápido de posições da economia em A ou B para o nível do produto
potencial;
 Aumentar o nível do produto potencial;
 Manter um nível de emprego elevado;
 Reduzir o nível de desemprego.
Para tal, recorre aos seguintes instrumentos:
 Definição e garantia de direitos de propriedade privada;
 Produção de bens públicos:
o Segurança;
o Defesa;
o Justiça;´
 Corrigir falhas de mercado:
o Regulação de mercados;
o Produção pública;
 Promover infraestruturas necessárias;
 Promover acesso à educação e à saúde.

4.2. Do lado da procura agregada


Do lado da procura agregada, existem dois tipos de políticas económicas: a política orçamental e
a política monetária.
A política orçamental corresponde à definição de gastos (consumo e investimento público) e
receitas do Estado.
As receitas – ou o financiamento da despesa, por outras palavras – só podem resultar da tributação,
do endividamento, e da impressão de moeda – exigências da União Monetária Europeia. No
entanto, esta última hipótese já não se considera válida porque quem imprime moeda é o Banco
Central Europeu; deste modo, não faria sentido um Estado ter grandes despesas, e depois pedir ao
BCE para emitir moeda.
A política monetária determina as taxas de juro a que o Banco Central empresta dinheiro aos
outros bancos e as taxas de juro a que os bancos emprestam dinheiro entre si.
Em todo o caso, os objetivos da política económica são:

Yehoshuah 56
 Evitar ciclos económicos;
 Realização de investimento e despesa pública compatíveis com os objetivos de aumentar a
oferta:
o Investimento em infraestruturas;
o Investimento em educação e saúde.
Para isso, recorre tanto à política monetária como à política económica.
A política orçamental influencia a poupança, o investimento, e o crescimento económico. No curto
prazo, é utilizada para aumentar o nível de atividade em caso de recessões.
A política monetária é conduzida pelo Banco Central e determina as taxas de juro de curto prazo
e, assim, influencia:
 Condições de crédito;
 Preços das obrigações e das ações;
 Taxas de câmbio.
Alterações nas taxas de juro influenciam o investimento das empresas e o consumo das famílias,
como vimos supra.

Ciclos Económicos
Uma economia capitalista vive em ciclos, isto é, não há um crescimento ininterrupto. Assim, ora
está em contração, ora está em crescimento. Tais contrações/crescimentos originam flutuações no
PIB, no rendimento, e no emprego.

A recessão é caracterizada por um período de queda contínua no PIB – como em dois semestres
consecutivos -, rendimento, e emprego, abrangendo vários setores da economia e tendo uma
duração de 6 a 12 meses. Uma recessão de grande escala e duração origina uma depressão (à
semelhança do curso de Direito).

1. Fatores
Os ciclos económicos são alterados por fatores exógenos e endógenos. Fatores exógenos:
 Guerras, revoluções, eleições;
 Migrações populacionais;
 Inovações tecnológicas: é o chamado conflito “Desenvolvimento-Estabilidade”; no sistema
de mercado, o desenvolvimento nasce do aparecimento das novas ideias e produtos, que
concorrem com as que já estavam estabelecidas. Só é possível conseguir a estabilidade
sacrificando o desenvolvimento.

Yehoshuah 57
 Descoberta de recursos naturais;
 Mudanças climáticas.
Fatores endógenos:
 Cada expansão é seguida por uma contração;
 Muitos dos ciclos económicos têm origem no setor financeiro, relacionando-se com bolhas:
no caso da “Bolha da Nova Economia”, as expectativas que as pessoas criaram em
empresas de tecnologia levaram à valorização das ações; todavia, essas empresas não
deram tanto lucro quanto esperado, levando a uma crise económica.
Paralelamente, os ciclos económicos são também provocados por mudanças na procura agregada.
Afinal, variações no consumo das famílias, empresas, e governos levarão a flutuações no PIB.
Como tal, reduções no consumo podem levar a recessões ou depressões (tal como o curso de
Direito), enquanto aumentos podem levar a inflação.
Mudanças na procura agregada poderão ser agravadas pelo efeito multiplicador.

2. Multiplicador
O modelo do multiplicador parte do pressuposto de que há recursos desempregados na economia,
e que os preços e os salários se mantém constantes, ignorando reações do sistema financeiro e não
tendo em conta relações económicas e financeiras internacionais (todo o dinheiro ser gasto em
produtos portugueses).
É uma teoria macroeconómica usada para explicar a forma como o produto é determinado no curto
prazo. Explica como os choques no investimento, no comércio internacional, na despesa pública,
e impostos afetam o produto e o emprego numa economia.
Dá a entender algo interessantíssimo: se o consumo, investimento, ou despesa pública forem
aumentados em 1€ (o que aumenta a procura agregada), a variação no nível de atividade será bem
superior a 1€.
Assim, se o Governo investe 1000€ em determinado setor, a variação que ocorrerá será, por
exemplo, de 10000€.
Por exemplo:
1. O Governo quer construir uma escola, e contrata trabalhadores a quem se paga €1000.
Assim, o seu rendimento aumenta €1000.
2. Dá-se um aumento do PIB = 1000.
3. Se os trabalhadores pouparem 1/3 do rendimento (propensão marginal à poupança) e
consumirem 2/3 (propensão marginal ao consumo), vão gastar €666,7 em mais bens de
consumo.
4. Dá-se um aumento do PIB = 1000 + 666.7.

Yehoshuah 58
5. Os produtores deste bens vão assim receber mais €666,7. Se gastarem 2/3 deste rendimento
adicional, vão gastar mais €444,4.
6. Dá-se um aumento do PIB = 1000 + 666.7 + 444.4.
7. Os produtores destes bens vão ter um rendimento adicional de €444,4. Se consumirem 2/3,
vão gastar mais €296,3 em bens e serviços
8. Dá-se um aumento do PIB = 1000 + 666.7 + 444.4 + 296.3.
9. O processo continuará, embora com acrescimentos de rendimento e consumo, como
podemos ver, cada vez mais pequenos
Assim, vemos um investimento inicial de 1000€ resulta num aumento do PIB em 2396€.
Conseguimos calcular que acréscimo total o PIB vai sofrer através da seguinte fórmula:
𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙
𝐴𝑐𝑟é𝑠𝑐𝑖𝑚𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑃𝐼𝐵 =
(1 − 𝑝𝑟𝑜𝑝𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑚𝑎𝑟𝑔𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜)
Deste modo, podemos entender duas coisas, face a impostos e investimento e consumos públicos:
 Impostos:
o Um aumento reduzirá o rendimento disponível e levará a uma contração de valor
superior da procura agregada;
o Reduções aumentam o rendimento disponível e podem levar a um aumento de valor
superior da procura agregada.
 Investimento e consumo públicos:
o Aumentos conduzem a uma expansão de valor superior da procura agregada;
o Reduções levam a uma redução de valor superior da procura agregada.
Assim, o modelo do multiplicador é utilizado para analisar desvios do nível de atividade em relação
ao potencial – em particular, quando a economia tem recursos desempregados e está abaixo do
produto potencial. Ajuda a perceber o impacto da política orçamental e o seu papel a estabilizar a
economia.
No entanto, importa vincar que este modelo não tem em conta:
 O lado da oferta da economia;
 A economia internacional;
 O sistema financeiro;
 A política monetária.

Moeda
A moeda é qualquer bem geralmente aceite como meio de troca.
É necessário uma moeda para:
1. Ser unidade de valor;
2. Ser um meio de realizar trocas;

Yehoshuah 59
3. Ser uma reserva de valor – uma forma de guardar os bens.
A moeda é necessária para evitar a constante troca em espécie, porque isso tornava as trocas muito
mais difíceis – para cada uma das trocas era necessário arranjar uma unidade de medida. Assim, a
moeda tornou-se essa unidade de medida constante. A moeda exprime o valor de todas as coisas.
Inicialmente a moeda era a “moeda mercadoria” – escolhia-se uma mercadoria (ouro) que era
utilizada para exprimir o valor de todas as outras.
Depois passou-se para a moeda fiduciária: as notas que conhecemos nos dias de hoje, que têm
aquele valor por o Governo assim o determinar.
Vivemos na era da moeda escritural (cartões de débito) mas podemos estar a entrar na era da moeda
eletrónica (bitcoin, ethereum, dodgecoin, e ouros esquemas em pirâmide para chular os mais
incautos).
A moeda é o conjunto de notas e moedas em circulação mais os depósitos à ordem nos bancos –
apelidado de M1. Podem acrescentar-se os depósitos a prazo (M2) e as aplicações financeiras
(M3).

1. Procura e oferta
As pessoas procuram moeda por três razões:
 Precisam dela para fazer transações;
 Reserva de valor: para fazer frente a despesas imprevistas;
 Como activo.
A oferta de moeda é determinada pelos bancos:
 O Banco Central, por determinar a oferta da moeda. Enquanto as empresas oferecem os
seus bens tendo como objetivo o lucro, o BCE oferece moeda mediante objetivos políticos.
 Os Bancos comerciais, pois parte da moeda que existe em circulação é criada por eles,
possuindo um papel importante, por força do multiplicador de crédito.

1.1. Multiplicador de crédito


Primeiro, importa dizer que o banco recebe o dinheiro que as pessoas depositam, constituindo as
reservas do banco. Assim, se inicialmente as pessoas depositam 100.000€ no banco, as suas
reservas serão de 100.000€.
No entanto, como as pessoas não vão todas levantar o dinheiro ao mesmo tempo, os bancos nunca
têm os 100.000€ depositados nas reservas – apenas guardam uma percentagem desse valor. O resto
investem, isto é, emprestam a outro banco.

Yehoshuah 60
Este empréstimo faz com que o valor dos depósitos à ordem já não sejam 100.000€, mas sim mais
do que isso, porque o investimento que o banco faz trará mais dinheiro – os juros dos empréstimos.
Este processo vai repetir-se mais vezes.

Os bancos que fazem empréstimos mais arriscados têm que têm uma percentagem de reservas
maior. Isso minimiza o risco de falência dos bancos – acontece quando toda a gente quer ir buscar
o dinheiro ao mesmo tempo, porque perde a confiança nos investimentos que o banco realiza. O
mecanismo pela qual os bancos criam moeda é o multiplicador de crédito.
Assim, a ratio de reservas obrigatórias surge de uma ideia de prudência, mantendo um nível
adequado de reservas, para evitar que um banco não tivesse dinheiro disponível caso os clientes o
quisessem levantar.
𝑟𝑒𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎𝑠 𝑜𝑏𝑟𝑖𝑔𝑎𝑡ó𝑟𝑖𝑎𝑠 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑖𝑠
Assim, 𝑀𝑜𝑒𝑑𝑎 𝑛𝑜 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 𝑏𝑎𝑛𝑐á𝑟𝑖𝑜 = 𝑟𝑎𝑡𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎𝑠 𝑜𝑏𝑟𝑖𝑔𝑎𝑡ó𝑟𝑖𝑎𝑠

Política Monetária
Na sua forma mais simples, a política monetária corresponde à impressão de moeda ou à variação
do volume de depósitos à ordem nos bancos. É da responsabilidade do BCE. Tem como objetivos:
 Controlo da inflação: mantê-la em 2%.
 Manutenção do euro;
 Crescimento económico;
 Fixar taxas de câmbio.
Para isso, o BCE tem três instrumentos à sua disposição:
 Lançar ou retirar moeda de circulação:

Yehoshuah 61
o Lançar: a forma mais prática é comprar títulos do Estado aos bancos, e pagar-lhes
com notas novinhas em folha - estamos a introduzir dinheiro no Estado, levando a
cabo as chamadas operações de mercado aberto. No entanto, o Banco Central
Europeu não pode comprar/vender dívida pública, dado ser proibido na UE;
Pode comprar e vender aos bancos, não ao Estado; ou seja, pode comprar e vender
títulos do Estado que os bancos já tenham comprado (ao Estado, claro está), e não
diretamente.
o Retirar: o BCE vende dívida aos bancos e eles dão-lhe dinheiro. Mas o BCE não
pode fazer isto eternamente.
 Empréstimos aos bancos: Se a taxa de reservas obrigatórias for 10%, o total de ativos dos
bancos deve reduzir-se em $1000 milhões / 0,10 = $ 10 mil milhões. Para o efeito os bancos
vão vender alguns dos seus investimentos e reduzir os empréstimos, para cumprir as
reservas legais. Com isto reduzem-se também, do lado do passivo dos bancos, os depósitos
dos clientes. Esta contração dos empréstimos e dos investimentos tende a aumentar a taxa
de juro.
 Determinar o rácio de reservas mínimas obrigatórias: influencia diretamente o
multiplicador de crédito.

1. Mecanismo de transmissão monetária – curto prazo


Corresponde à mexida nos valores das taxas de juro por parte do BCE, que influenciam a procura
agregada. Assim, o BCE tem duas opções:
1. Se pretender dinamizar a economia irá comprar títulos, aumentando a oferta de reservas e
reduzindo as taxas de juros de curto prazo.
2. Se pretender arrefecer a economia irá vender títulos, reduzindo a oferta de reservas e
aumentando as taxas de juro de curto prazo.
A nova taxa de juro, como já vimos supra, vai influenciar o consumo, o investimento, e as
exportações líquidas.
Todavia, a partir de certa altura este mecanismo deixa de surtir efeito, pois há um momento em
que a taxa de juro não desce mais – armadilha da liquidez. Quando se deu a crise, houve muitas
empresas a ir à falência, por isso os Bancos Centrais decidiram que se devia dinamizar a economia.
Assim, compraram dívidas aos bancos para que as suas reservas aumentassem e eles emprestassem
mais dinheiro. No entanto, a situação estava tão má que os bancos não emprestavam dinheiro, o
dinheiro a mais que recebiam continuava a ser depositado no Banco Central como reservas. Isto
porque os bancos não viam oportunidades na economia para investir e fazer o mecanismo do
multiplicador funcionar: havia desconfiança generalizada, toda a gente pensava que tudo ia à
falência por isso ninguém emprestava dinheiro a ninguém.
Quando as taxas de juro se aproxima de 0, se os bancos acham que a situação económica é tão má
que não têm oportunidades para investir, os bancos acham que não vale a pena emprestar.

Yehoshuah 62
Ainda por cima, o BC está a emprestar a um valor tão baixo, por isso não agarram nas reservas e
emprestam, mas apenas deixam as reservas aumentar acima da taxa obrigatória. Assim, as
operações de mercado aberto, que são as operações correntes do BCE para influenciar a taxa de
juro, deixaram de funcionar.
Assim, terá de recorrer a outros meios, como emprestar dinheiro à banca para resolver problemas
de liquidez.

2. Fisher e a teoria quantitativa da moeda


Resta agora olhar para o longo prazo. Terá a moeda algum efeito no nível de atividade económica?
E de quanta moeda precisaremos para realizar transações?
Fisher, através da equação das trocas, explica-nos:
𝑃×𝑌 =𝑀×𝑉
Sendo P×Y o preço de todas as transações, pois P é o nível geral de preços e Y o nível de atividade
(PIB); M corresponde á moeda e V à velocidade de circulação (número de vezes por um ano que
um euro, em média, é utilizado para comprar bens e serviços)
Daqui passamos para a teoria da quantitativa da moeda. Esta defende que qualquer variação na
massa monetária traduz-se no nível dos preços, não no nível de atividade.
Partindo de dois pressupostos:
 A velocidade de circulação da moeda é constante.
 O nível de atividade é constante.
𝑉
Por isso, 𝑃 = × 𝑀 = 𝑘𝑀
𝑄

Assim, quando aumentamos a massa monetária vai haver um aumento do preço, e quando
reduzimos a massa monetária vai haver uma diminuição do preço; se o PIB potencial aumentar e
a massa monetária se mantiver constante, como a velocidade de circulação também é constante,
isso significa que o preço tem que diminuir.
Considera-se que é bom ter preços estáveis, então a quantidade de moeda tem que ser estável (M)
e esta é a base do monetarismo. Assim o objetivo da política monetária deve ser garantir o
crescimento estável da massa monetária, para garantir estabilidade dos preços.
É por causa disto que os BC se focam nas taxas de variação de preços. Se o objetivo da taxa de
inflação é 2% (taxa de referência), para o conseguir o BC não anuncia objetivos de crescimento da
massa monetária mas sim de taxa de juro. Assim, atualmente, a política monetária baseia-se na
influência sobre as taxas de juro.
No entanto, esta teoria tem falhado, porque a velocidade de circulação da moeda tem sido instável.

Yehoshuah 63
Relações Económicas Internacionais
Antes de avançarmos, importa referir que a moeda tem um preço, que é a taxa de câmbio. Esta
corresponde à moeda estrangeira que pode ser comprada com uma unidade de moeda nacional:
com 1€, quantos $ posso comprar?
O valor da taxa de câmbio varia ao minuto, consoante a procura e oferta – sendo esta influenciada
por alguns fatores:
 Relações internacionais: há sempre procura de moeda de um determinado país por
habitantes de outros países; afinal, se um israelita quiser comprar casa em Portugal, terá de
pagá-la em euros.
 Fator político: ninguém gosta de ter moeda de um país que não seja credível; afinal, de que
nos serve ter bolívares venezuelanos? É sempre preferível deter moeda que seja aceite
facilmente, como o dólar, o euro, e antigamente, a libra.
Podemos ter taxas de câmbio fixas ou flexíveis. Atualmente são flexíveis. O tipo de regime cambial
de uma economia condiciona a forma como uma economia se ajusta aos choques que sofre.
As taxas de câmbio fixas foram criadas pelo sistema de Bretton Woods. Significa que o valor de
cada moeda era fixo, por acordo entre países, correspondendo a certo valor em ouro. Quando o
país tem um excedente, a taxa de câmbio continua fixa, por isso o equilíbrio tem que se reconstruir
de outra forma.
Se EUA têm um saldo negativo das transações correntes com UK, a moeda dos EUA desvaloriza
e a moeda dos UK valoriza, logo os EUA perdem ouro e o UK ganha ouro. Mas como V e Q são
constantes, se os EUA perdem ouro isso leva a uma diminuição da massa monetária (M), essa
diminuição por sua vez tem como consequência a descida dos preços, e por isso aumentam as
exportações dos EUA para o UK (preços estão mais baixos); pelo contrário, no UK a massa
monetária aumenta (M), logo os preços também aumentam, e as exportações diminuem. O
ajustamento não se dá através das taxas de câmbio mas sim através do ajustamento dos preços
internos.
As taxas de câmbio flexíveis são diferentes:
 Quando um país tem um excedente na balança de transações correntes significa que vendeu
mais ao estrangeiro do que comprou; a sua moeda valoriza, porque o estrangeiro comprou
moeda.
Por a sua moeda valorizar, as exportações tornam-se mais caras e as importações mais
baratas, pelo que o excedente vai diminuir; logo, a moeda desvaloriza e as importações
tornam-se mais caras. Isso faz com que importemos menos, e que as nossas exportações
ficam mais baratas, pelo que exportaremos mais, e começa de tudo de novo.
 Num regime de câmbios fixos, espera-se que os preços internos se ajustem, enquanto num
regime de câmbios variáveis, espera-se que os preços internos se ajustem devido à taxa de
câmbio, porque continuamos a ganhar o mesmo mas com esta moeda conseguimos
importar menos.

Yehoshuah 64
 Uma política monetária restritiva é reforçada pelos movimentos cambiais – aumento da
taxa de juro e valorização da moeda; Uma política monetária expansionista é reforçada
pelos movimentos cambiais – descida da taxa de juro e desvalorização da moeda.
Se a dada altura 1$ = 1€, mas depois 1.3$ = 1€ 1, houve uma valorização do euro. Isto tem um
efeito nas exportações: sendo o preço de um automóvel 50 000€, inicialmente o automóvel custava
50 000$. Com a valorização do euro, o automóvel passa a custar 50 000€ x 1.3 = 65 000$ - o
automóvel ficou mais caro nos EUA, o que faz com que as exportações da Europa para os EUA se
reduzam.
Embora os países da Zona Euro tenham uma taxa de câmbio flexível com os de fora, entre si têm
um regime de câmbios fixos. O comércio de Portugal é com a zona euro, tal como com a
generalidade dos outros países, portanto quando temos um déficit externo, temos que o resolver
sobretudo com a zona euro. Mas como a zona euro funciona como um regime de câmbio fixo
porque a quantidade de euros está fixa, então nesta zona temos um mecanismo de ajustamento
semelhante ao explicado.
Portanto, se Portugal tem um déficit com outro país, não há desvalorização, por isso o mecanismo
de ajustamento é os preços descerem para fazer o equilíbrio, e no outro país tem que subir.
Para economia ficar melhor, há que evitar o excedente durante alguns anos. O que tem que descer
é os preços, relativamente aos preços alemães e americanos, por exemplo. E os preços são
determinados não apenas pelos salários, mas também pela produtividade, pelo que se a nossa
produtividade crescer mais rápido que noutros países, os nossos salários não crescem.
A zona euro pode parecer um problema, por não podermos desvalorizar moeda, mas não é bem
assim. O uso excessivo da desvalorização significou aumento de preços e inflação, o que constitui
uma situação de grande instabilidade, e por causa dessa instabilidade, o investimento e a poupança
eram prejudicados.
Assim, seria melhor juntarmo-nos a uma área em que os preços estariam estáveis.
Numa economia, só se pode ter duas das três opções: taxa de câmbio fixa, liberdade de movimentos
de capitais e autonomia da política monetária. Numa União Monetária (como a EU) os membros
adotam as duas primeiras.
O euro tem ainda outras vantagens: aumenta a transparência nos mercados e diminui o risco de
negociar, o que se assumem como ganhos substanciais para a nossa economia.
No euro, uma das coisas que tem estado a correr mal é a questão de os países com excedentes
(maior M) dever subir os seus preços, mas isso não ser feito. Por exemplo, a Alemanha devia ter
uma política mais expansionista e gastar mais nos outros países. O que não está a funcionar são
mecanismos que garantem transferência de recursos de zonas que têm maior crescimento para
zonas de menor rendimento.

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Bibliografia
Esta Sebenta Yehoshuah foi elaborada com recurso aos materiais listados infra.

Livros:
1. Economics – Oxford IB Diploma Programme, de Jocelyn Blink e Ian Dorton.
2. Economics Study Guide: Oxford IB Diploma Programme, de Constantine Ziogas.

Sebentas:
1. Introdução à Economia (autor desconhecido).
2. Apontamentos de Introdução à Economia – Madalena Gomes Cruz
3. Introdução à Economia – Inês Friães
4. Introdução à Economia – SebentaUA, apontamentos pessoais.
5. Introdução à Economia – Sebenta de João Tomás.

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