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CIÊNCIA E TÉCNICA FISCAL

O estado precisa de receitas porque tem de satisfazer certas necessidades que a


economia de mercado não satisfaz, sendo as que cabem ao estado as necessidades de
satisfação passiva, aquelas que se satisfazem pela mera existência do bem, como por
exemplo, a existência de um exército.
Os meios de financiamento do estado são:

-receitas patrimoniais provenientes de um património de direito privado que o


estado administra como qualquer particular;

-os empréstimos a que o estado pode recorre pontualmente para sanar dificuldades
financeiras;

-as taxas que são preços autoritariamente fixados pelo estado em virtude de uma
qualquer contrapartida;

-os impostos que são importâncias que o estado recebe sem dar nada em troca a
quem os paga;

Imposto é uma prestação (integra uma relação de natureza obrigacional e não


real), pecuniária (concretizada em dinheiro), unilateral (não lhe corresponde uma
contraprestação a favor do contribuinte), definitiva (não dá lugar a qualquer reembolso,
restituição ou indemnização) e coactiva (tem por fonte a lei, é estabelecido pela lei).

Impostos fiscais são o que visam única e exclusivamente arrecadar riqueza.


Impostos extra ficais são os que não têm por função principal arrecadar riqueza, mas
sim, redistribuir a riqueza ou equilibrar um sector macro económico, como é, por
exemplo, o caso dos impostos alfandegários que visam a protecção da indústria de um
país.

As funções do estado são:

-eficiência da economia: garantir que o nível de produtividade tenha um


crescimento constante;

-estabilidade: controle do nível do emprego, do nível dos preços e do crescimento


do Produto Nacional;

-equidade: garantir uma justiça redistributiva que repare as desigualdades e


injustiças sociais;
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Há que ressalvar que as três funções são incompatíveis, na medida em que, por
exemplo, para controlar a inflação gera-se, invariavelmente, desemprego e o contrario
também.

Para tentar influenciar estas funções usa as seguintes políticas financeiras:

-política da segurança social: encontra-se arruinada;

-política de emprego: demora muito tempo a surtir efeitos;

-política cambial: acabou com o surgimento da União Europeia;

-política fiscal: a única que surte efeitos;

A única política que, presentemente, produz efeitos rápidos é a política fiscal. Por
exemplo, de modo a conseguir-se um crescimento económico, se se descer o IRC, a
produção vai aumentar, gerando mais emprego e mais salários distribuídos, o que leva a
um maior consumo, o que permite um aumento do PIB e/ou da inflação. Por outro lado,
se se atenuar o IRS, as pessoas terão mais dinheiro o que aumentará o consumo, logo
surge uma maior procura de bens, tornando-se necessária uma maior oferta que leva a
uma maior produção, que por sua vez conduz ao aumento do PIB.
Os efeitos económicos dos impostos sobre o consumo são:

-efeito rendimento: diminuição do poder de compra ou do rendimento disponível;

-efeito substituição: verifica-se entre diferentes bens de consumo, entre trabalho e


lazer ou entre consumo presente ou futuro;

Os efeitos económicos dos impostos sobre a produção são:

-estímulo à produção;

-estagnação produtiva;

Os efeitos económicos dos impostos sobre a oferta de recursos são:

-sobre a oferta de trabalho;

-sobre o investimento;

Os efeitos económicos dos impostos sobre os preços são:


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-incentivo à subida de preços;

-influência sobre o bem estar das populações;

Apesar de a política fiscal ser a que mais depressa produz resultados, tem o
inconveniente de ser um pouco arriscado alterar as taxas de imposto. Por exemplo, no
caso do aumento do IVA, com o propósito de aumentar a colecta pode acontecer
precisamente o contrário. Pode acontecer que com o aumento de preços ocorram menos
vendas, que originam uma menor produção, que por sua vez conduz à depressão.
O Modelo de Laffer estuda a relação entre as taxas de imposto e o nível de
receita fiscal. Existe uma regra de bom senso que deve ser seguida por qualquer
governante ao decidir sobre a política fiscal. A dificuldade reside em saber qual a taxa
máxima de imposto que se assume como limite da resistência dos agentes produtivos.
Sendo conhecidos os limites naturais da resistência social aos impostos à medida que
aumenta a taxa do mesmo, Laffer realizou um estudo sobre a matéria, que teve como
resultado o facto de a taxa ideal de imposto, numa óptica de maximização de receita do
estado está entre os 30% e os 40%, sendo que, até esse nível a receita vai aumentando,
mas a partir dele vai decrescendo até atingir o nível 0 para uma taxa que se fixasse nos
100%.
Segundo o conceito de potencial tributário de Kaldor, os impostos deverão ser
aplicados mediante a capacidade de pagamento dos mesmos.
Concluindo, uma má política fiscal empobrece toda uma economia.

Princípios jurídico-constitucionais do Direito Fiscal

Princípio da legalidade fiscal

O princípio da legalidade fiscal tem por base a ideia do auto-consentimento dos


impostos, segundo o qual os impostos devem ser consentidos pelos contribuintes. Esta
ideia reconduz-se em dois institutos diferentes: a votação anual da cobrança dos impostos
através da aprovação anual do orçamento pelo parlamento e a exigência de os impostos
serem criados e disciplinados, nos seus elementos essenciais, através de Lei da
Assembleia da República. É neste segundo instituto que reside o princípio da legalidade
fiscal.
Este princípio presente no artº. 103º nº 2 C.R.P. desdobra-se no princípio da
reserva de lei formal, segundo o qual tem que haver uma intervenção de lei parlamentar,
fixando a disciplina dos impostos ou autorizando o Governo legislador dentro de certas
coordenadas que constam da lei de autorização e no princípio da reserva material de lei
que exige que a Lei da Assembleia da República ou o Decreto Lei autorizado contenha a
disciplina tão completa quanto possível da matéria reservada, que integra segundo o artº.
103º nº 2 C.R.P., relativamente a cada imposto, a incidência, a taxa, os benefícios fiscais
e as garantias dos contribuintes.
Sendo assim, conclui-se que, no núcleo duro referido no artº. 103º nº 2 C.R.P.,
vigora a reserva absoluta de lei, podendo o seu desenvolvimento ficar a cargo do
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Governo, desde que autorizado por uma Lei de autorização legislativa, tendo que a
respeitar. Visto tratarem-se, os impostos, de um “ataque” à propriedade e sendo este um
direito fundamental, entendeu-se que este assunto deveria ficar sob a alçada de
fiscalização da Assembleia da República, que é o local onde se encontra representado o
povo.

Princípio da igualdade fiscal

Quem é que há-de ser contribuinte e quanto é que cada um dos contribuintes há-
de pagar? A repartição dos impostos obedece ao princípio da igualdade fiscal, que se
concretiza na generalidade e na uniformidade dos impostos.
A generalidade traduz-se no facto de que todos os cidadãos estão adstritos ao
pagamento de impostos, não havendo entre eles qualquer distinção de classe, de ordem
ou de casta ou de índole política.
A uniformidade traduz-se na igualdade horizontal, segundo a qual os indivíduos
nas mesmas condições devem pagar o mesmo e na igualdade vertical que postula que os
indivíduos em condições diferentes devem pagar diferentes impostos, na medida da
diferença.
Importa saber quando é que os indivíduos se encontram na mesma posição. A
esse propósito chocam dois princípios de tributação:

-princípio do benefício: cada um deve ser tributado consoante o benefício que


aufere dos bens públicos. Contudo, este princípio não constitui uma base geral de
tributação, pois há indivíduos que recebem benefícios de bens públicos e que não
devem ser chamados a contribuir para as despesas com a produção desses bens. É
o que sucede com a redistribuição da riqueza. Através da qual o estado exige
impostos aos mais ricos, para com a receita oferecer subsídios aos pobres.

-princípio da capacidade de pagar: segundo este princípio, devem pagar o mesmo


imposto, aqueles que têm a mesma capacidade de pagar, sendo que, a capacidade
de pagar impostos depende do rendimento de cada um.

É exemplo do princípio da igualdade o artº. 68º do Código do IRS, sendo que, por
exemplo, o artº. 56º deste mesmo código viola este princípio.

Princípio da irretroactividade

Este princípio está presente no nº 3 do artº. 103º CRP e no artº 12º da Lei Geral
Tributária.
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Princípio da progressividade

Este princípio materializa-se no facto de o estado elevar a taxa de imposto à


medida que o valor da matéria colectável aumenta. É fixada uma taxa máxima para
aqueles rendimentos acima dos quais poucas pessoas os auferem, de modo que, a taxa de
imposto é progressiva até atingir esse tal nível.
É um exemplo deste princípio o artº. 68º do Código do IRS.

Relação Jurídica Fiscal

Sujeitos

Normalmente são 3: o credor (administração tributária), o contribuinte ou o


contribuinte de facto, que é sobre quem recai o ónus do pagamento do imposto e o
substituto ou contribuinte de direito, previsto no artº 20 LGT, sendo que, sobre ele só
impendem obrigações de processamento e entrega do imposto e que surgiu porque se
entendeu que deste modo seria mais eficaz a cobrança dos impostos.
Exemplo: a administração tributária é credora do IRS do contribuinte e o
substituto é a entidade empregadora que substitui o funcionário no processamento e
entrega do imposto.

Facto e objecto da relação jurídica

A sua especificidade reside no facto de os factos e objectos da relação jurídica


estarem tipificados na mesma, sendo que, só os previstos na lei serão válidos. Isto resulta
do princípio da legalidade fiscal.

Garantia

Basicamente são as mesmas da lei civil: as garantias gerais a que correspondem o


património e as garantias especiais a que correspondem as penhoras a favor das finanças
ou as garantias bancárias.
Contudo, na dívida fiscal, na fase de execução e reunindo-se certos pressupostos,
existe a reversão do processo de execução contra os gerentes ou directores das
sociedades. Assim, no caso das dívidas fiscais, não há o princípio da responsabilidade
limitada das pessoas colectivas, tornando-se os gerentes ou administradores responsáveis
pelas dívidas (artº. 24º LGT).
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I.R.S.
O IRS é dividido em quatro momentos: definição da matéria colectável,
determinação da matéria colectável (rendimento tributável), aplicação das taxas de
imposto (colecta) e liquidação e cobrança.

Definição da matéria colectável

Existem seis categorias de rendimentos: A – rendimentos de trabalho de pendente,


B – rendimentos empresariais e profissionais, E – rendimentos de capitais, F –
rendimentos prediais, G – incrementos patrimoniais e H – pensões.

Rendimentos de trabalho dependente – Categoria A – art.º 2º CIRS

Inserem-se nesta categoria os rendimentos decorrentes do trabalho por conta de


outrem.

Rendimentos empresariais e profissionais – Categoria B – art.º 3º CIRS

Inserem-se nesta categoria os rendimentos decorrentes do exercício de qualquer


actividade comercial, industrial, agrícola, silvícola ou pecuária, os auferidos por conta
própria de qualquer actividade de prestação de serviços e os provenientes da propriedade
intelectual ou industrial.

Rendimentos de capitais – Categoria E – art.º 5º CIRS

Inserem-se nesta categoria os rendimentos as vantagens económicas pecuniárias


ou em espécie procedentes de elementos patrimoniais de natureza mobiliária, como por
exemplo os juros provenientes de depósitos bancários e outras formas de remuneração de
títulos da divida pública, obrigações, etc.

Rendimentos prediais – Categoria F – art.º 8º CIRS

Consideram-se rendimentos prediais as rendas dos prédios rústicos, urbanos e


mistos pagas ou colocadas à disposição dos respectivos titulares.
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Incrementos patrimoniais – Categoria G – art.º 9º CIRS

São incrementos patrimoniais, desde que não considerados rendimentos de outras


categorias, as mais valias, indemnizações que visem a reparação de danos não
patrimoniais, importâncias auferidas em virtude da assunção de obrigações de não
concorrência e acréscimos patrimoniais não justificados.

Pensões – Categoria H – art.º 11º CIRS

Consideram-se pensões as prestações devidas a titulo de pensões de aposentação,


de reforma, de velhice, invalidez ou sobrevivência, prestações a cargo de companhias de
seguros, fundos de pensões e as rendas temporárias ou vitalícias.

De modo a determinar o valor sobre que vai incidir o IRS, atenta-se a um


contribuinte de cada vez, analisando quantas categorias de rendimento tem cada um,
atendendo-se ao rendimento bruto a que vão ser deduzidas as deduções específicas, de
modo a obter-se o rendimento liquido de cada categoria. A soma dos rendimentos
líquidos de todas as categorias representa o valor sobre o qual vai incidir o IRS.

Relativamente à Categoria A, ao rendimento bruto retiram-se as deduções


específicas presentes no art.º 25º do CIRS.

Em relação à Categoria B, retira-se ao rendimento bruto as deduções específicas


presentes nos art.ºs 28º e 31º nº2 do CIRS.

No que diz respeito à Categoria F, ao rendimento bruto retiram-se as deduções


específica referidas no art.º 41º do CIRS.

No que diz respeito à Categoria H, ao rendimento bruto retiram-se as deduções


específica referidas no art.º 53º do CIRS.

Determinação da matéria colectável

A matéria colectável ou rendimento tributável, determina-se retirando ao


somatório dos rendimentos líquidos das várias categorias os abatimentos à matéria
colectável presentes no art.º 56º do CIRS.

Aplicação das taxas de imposto – determinação da colecta

Nesta situação aplicam-se os art.ºs 68º do CIRS no caso de se tratar de um


contribuinte solteiro e 68º e 69º no caso de se tratarem de contribuintes casados.
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Relativamente ao art.º 68º, o valor do rendimento tributável divide-se em duas


partes, sendo que, a primeira parte é igual ao limite máximo do escalão anterior,
aplicando-se a taxa da coluna B e quanto à diferença aplica-se a taxa da coluna A
respeitante ao escalão imediatamente superior.
Em relação aos contribuintes casados, segundo o art.º 69º do CIRS, divide-se o
rendimento colectável por dois, sendo que, depois de se aplicarem as taxas, multiplica-se
por dois o resultado obtido para se apurar a colecta de IRS.

Liquidação e cobrança

As deduções à colecta encontram-se expressas no art.º 78º do CIRS, encontrando-


se individualmente desenvolvidas nos artigos seguintes, sendo que, a sua dedução deverá
seguir a ordem presente no artigo.

Taxas liberatórias

As taxas liberatórias, expressas no art.º 71º do CIRS, são aplicadas quando o


rendimento é tributado a título definitivo, o que significa que se encontra dispensado de
ser englobado na declaração de rendimentos. Aplicam-se a todos os rendimentos de
cidadãos estrangeiros a residir em Portugal – art.º 71º nº2 c) CIRS.

Retenções na fonte e pagamentos por conta

As retenções na fonte (art.º 97º do CIRS) e os pagamentos por conta (art.º 102º do
CIRS), constituem meios de anestesia fiscal, ou seja, antecipações de pagamento de
imposto de modo, sendo que, a diferença entre eles reside no facto de, enquanto nas
primeiras é o próprio que processa, nos segundos é a entidade patronal que os processa.

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