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Os avestruzes somos nós: fantasias da economia e realidades da

ecologia
Pag2. Esta pequena fabula serve para ilustrar o imenso poder matemático do
crescimento exponencial.

Pag3. Segundo Thomas Malthus, qualquer população humana, se não se


estabelecem limites ao seu crescimento, deve crescer em progressão
geométrica (exponencial), enquanto os recursos dos quais ela depende para se
manter devem crescer em progressão aritmética. Como o primeiro tipo de
crescimento é muito mais rápido que o segundo, cedo ou tarde a população
deve encontrar imensas dificuldades para o seu sustento. Duzentos anos
depois, é muito clao que a matemática de Malthus não era correta. Mesmo que
sua matemática fosse incorreta, ele estava certo ao chamar a atenção para o
ponto fundamental: a inevitável tensão entre o crescimento populacional e o
crescimento dos recursos disponíveis.

Pag4. A divisão mais importante do mundo, muito mais do que por qualquer
outro critério, é entre um mundo rico e demograficamente estabilizado, e um
mundo miserável onde a população cresce rapidamente.

Pag5. A conclusão consensual de que a estabilização, cedo ou tarde, será


alcançada, passará por uma transição demográfica. Há, porém, dois tipos de
transição demográfica: a benigna e a maligna. A benigna é a explicada acima,
quando falamos da estabilização dos países industrializados: primeiro a
mortalidade cai, depois a natalidade cai aos poucos, suavemente, até se
igualar a mortalidade em valores baixos de ambos. Quase todos os países da
Europa ocidental são excelentes exemplos de transições benignas. Já na
transição maligna, num primeiro estágio, a mortalidade cai mais a natalidade
continua constante (ou então cai muito menos que a mortalidade), de modo
que a população cresce rápido. Tal crescimento gera escassez de recursos e
superexploração do ambiente, que por sua vez geram a deterioração das
condições de vida. Como consequência, a mortalidade sobe brutalmente até
se igualar com a natalidade em valores altos de ambos.

Pag7. Nos países subdesenvolvidos, as latas taxas anuais de crescimento


populacional impõem que a economia assim como serviços, públicos, escolas,
hospitais etc. tenho que crescer a pelo menos as mesmas taxas apenas para
manter o nível atual de miséria. Nesses lugares onde a tragedia ecológica cada
vez mais anda de braços dados com a tragedia humana, a vida das pessoas
não vale mais nada.

Pag8. Colocar um policial em cada esquina não vai resolver o problema da


violência numa sociedade que exclui de suas riquezas a vasta maioria de seus
cidadãos. É muito obvio que a violência só pode ser reduzida através de uma
redução das desigualdades. Numa sociedade em que a população cresce mais
que os recursos, a competição por esses últimos só tende a aumentar, o que
só torna tarefa de reduzir as desigualdades muito mais difícil.

Pag9. O primeiro problema obvio desta medida é que a dilapidação irreversível


do patrimônio de recursos naturais de um país não aparece no PNB. Em
resumo, o que se produz entra na coluna do positivo, o que se estraga para
obter tal produção fica de fora, e o que se gasta para consertar o próprio
estrago feito também entra no positivo. Assim são os milagres da contabilidade,
mas isso é uma mera fantasia numérica que em geral tem muito pouco a ver
com real melhoria da qualidade de vida. Não é de se estranhar que os políticos
vivam falando que o PNB está aumentando, mas as pessoas continuem
sentido que suas vidas estão cada vez piores.

Pag10. Um crescimento econômico de 10% pode soar bem, mas se a


população no mesmo período cresceu 15%, isso só significa que, em média,
cada pessoa agora está 5% mais pobre.
Tais desigualdades tem se mostrado difíceis de eliminar na prática, não só por
serem mantidas por estruturas sociais arraigadas, como por serem
convenientes aos que tem poderes para elimina-las, como também por serem
alimentadas pelo próprio crescimento populacional sem tréguas e pela
escassez relativa de recursos que este processo gera.

Pag12. “A cascata do uso da terra”. Antes de ser alcançada pelo homem,


qualquer área do planeta era obviamente uma área natural. Quando chega o
homem, a área primeiro se transforma em área de uso extensivo, ou seja, é
utilizada para caça e extrativismo, como habitat original ainda de pé. Seu valor
de biodiversidade cai, nesta etapa, a um nível bem mais baixo que o original.
Depois, aos poucos, a área vai se transformando em área de uso intensivo, ou
seja, vai sendo desmatada e convertida em plantações ou pastagens. O seu
valor de biodiversidade vai caindo cada vez mais e se torna muito baixo. A
medida que os solos vão se exaurindo e se perdendo para a erosão, a área se
transforma em área degradada, com um valor extremamente baixo para a
biodiversidade. E como qualquer cascata, uma vez que uma área entre nesse
processo, cair de área natural para área degradada é muito fácil, mas fazer o
caminho de volta é praticamente impossível.

Pag13. O crescimento demográfico é a mola propulsora de todos os problemas


ecológicos, e o grande multiplicador dos efeitos de tais problemas.
A mais popular das fantasias econômicas tem sido o “desenvolvimento
sustentável”, uma expressão que traz a promessa de permitir conciliar o
desenvolvimento econômico com a conservação da natureza. Cada
crescimento obtido por um projeto de desenvolvimento “sustentável”, ao
permitir o aumento da economia, gerará a necessidade de mais e mais
crescimento.

Pag14. O desenvolvimento “sustentável”, se de fato trouxer uma maior


consciência da necessidade de não superexplorar os recursos a curto prazo,
pode na melhor das hipóteses nos permitir ganhar um pouco de tempo. Mas só
adiaria os problemas, para resolvê-los são necessárias mudanças muito mais
profundas na nossa filosofia econômica.
Por outro lado, “desenvolvimento sustentável” é também uma expressão
extremamente perigosa, pois da as pessoas a cômoda ilusão de que as
providencias suficientes para a preservar a natureza estejam sendo tomadas, e
que isso seria possível sem mexer no fundo na logica da economia. Para
alguns, tnato produtores como consumidores, “desenvolvimento sustentável” é
uma expressão que serve maravilhosamente para aliviar suas próprias
consciências. Para outros, mais cínicos, serve como uma estratégia comercial
fabulosa, para permitir a inserção de seus produtos num mercado cada vez
mais preocupado com as questões ambientais.

Pag15. Qualquer caminho viável para alcançar a transição econômica,


portanto, certamente passa por uma profunda mudança cultural. As pessoas
querem ter muito, e as que conseguem tem muito mais do que precisam.
Mudar isso seria a base para mudar uma sociedade onde tantos recursos são
desperdiçados para mostrar aos outros o quanto se tem. Pode parecer
insignificante, mas poucas coisas melhorariam mais o mundo, tanto ecológica
como socialmente, como valorizar as pessoas pelo que são, não pelo que tem.
Nos escondemos nas fantasias econômicas, das taxas de juros ao
desenvolvimento sustentável. Esta nossa recusa vem não de uma
incompreensão do problema em si, mas de uma dificuldade de lidar com as
soluções que o poderiam resolver ou reduzir. As soluções possíveis, como o
planejamento familiar, nos parecem assuntos incômodos e difíceis de lidar.
Pode ser, mas ainda assim, precisamos aprender a encarar o problema, para
que não fiquemos como o avestruz da lenda, escondendo a cabeça na areia
para não ver o quanto é fantasiosa nossa utopia de conciliar crescimento
demográfico com conservação da natureza.

Pag16. Agora imagine esses bilhões de pessoas multiplicados por uma cultura
consumista e desperdiçadora, e o efeito disso é que o planeta está sendo
submetido a uma pressão gigantesca, que ele não pode aguentar por muito
mais tempo.

Pag17. Além disso, cabe lembrar que há a conta a ser paga pelo bônus
demográfico: o envelhecimento da população nas próximas gerações. Uma
baixa fertilidade hoje significa uma população com uma alta proporção de
idosos amanhã. E isso é um gigantesco problema para as economias, por
exemplo, para a previdência social. Não é à toa que as economias de países
com populações envelhecidas, especialmente os países europeus e o Japão,
perderam todo seu vigo e hoje tem imensas dificuldades para se manter
competitivas diante das emergentes.

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