Você está na página 1de 4

FACTORES, CAUSAS E HISTÓRIA DA POBREZA

Por: Phil Bartle in http://cec.vcn.bc.ca/mpfc/modules/emp-povp.htm, consultado a Março/2013

Um "factor" e uma "causa" não são exactamente a mesma coisa. Uma "causa" pode ser vista como algo que contribui para
a origem do problema como a pobreza, enquanto que um "factor" pode ser visto como algo que contribui para a sua
continuação após a sua existência.

A pobreza a uma escala mundial tem muitas causas históricas: colonialismo, escravatura, guerra e conquista. Existe uma
diferença importante entre essas causas e aquilo que chamamos factores que contribuem para manter as condições da
pobreza. A diferença está em termos daquilo que nós, hoje, podemos fazer acerca do assunto. Não podemos regressar no
tempo e mudar o passado. A pobreza existe. A pobreza é provocada. Aquilo que pode ser potencialmente influenciado são
os factores que perpetuam a pobreza.

É sabido que muitas nações da Europa, que enfrentaram guerras devastadoras, tais como a Primeira e Segunda Guerras
Mundiais, foram reduzidas a grande pobreza, onde as pessoas tiveram de se sujeitar a viver de esmolas e caridade, mal
sobrevivendo. Ao longo das décadas elas conseguiram por elas mesmas aumentar o seu nível real de rendimento nacional,
e tornar-se em nações modernas influentes e prosperantes com pessoas prosperantes. Também sabemos que muitas
outras nações se mantiveram entre as menos desenvolvidas do planeta, ainda que milhares de milhões de dólares na
chamada "ajuda" monetária tenha sido gasta com elas. Porquê? Porque os factores da pobreza não foram combatidos,
apenas os seus sintomas. Ao nível macro ou nacional, um baixo PNBproduto nacional bruto) não é pobreza; é um sintoma
da pobreza, como problema social.

Os factores da pobreza (como problema social) que estão enunciados


aqui ignorância, doença, apatia, desonestidade edependência, devem de ser vistos simplesmente como condições. Não se
pretende qualquer julgamento moral. Não são bons ou maus, são simplesmente. Se é da decisão de um grupo de
pessoas, como dentro de uma sociedade ou numa comunidade, reduzir e remover a pobreza, terão de, sem qualquer
julgamento moral, observar e identificar estes factores, e agir para os remover como a forma de erradicar a pobreza.

Os cinco grandes, por seu turno, contribuem para factores secundários tal como a falta de mercados, fracas infraestruturas,
fraca liderança, má governação, sub-emprego, falta de qualificações, absentismo, falta de capital, entre outros. Cada um
destes é um problema social, cada um é provocado por um ou mais do que um dos cinco grandes, e cada um contribui
para a perpetuação da pobreza, e a sua erradicação é necessária para a remoção da pobreza.

Ignorância:

1
A ignorância significa ter falta de informação ou falta de conhecimento. É diferente de estupidez que é a falta de
inteligência, e diferente de parvoíce que é a falta de sabedoria. Os três conceitos são muitas vezes confundidos e
assumidos como iguais por algumas pessoas.

""O conhecimento é poder," de acordo com o velho ditado. Infelizmente, algumas pessoas, sabendo isto, tentam manter o
conhecimento para elas mesmas (como uma estratégia de obter uma vantagem injusta), e prejudicar os outros na obtenção
de conhecimento. Não se pode esperar que porque se forma alguém para numa capacidade, ou se fornece alguma
informação, que essa informação ou capacidade irá naturalmente alargar-se ao resto da comunidade.

É importante determinar qual é a informação que está em falta. Muitos planeadores e pessoas com boas intenções que
querem ajudar uma comunidade a se fortalecer, pensam que a solução é educação. Mas educação significa diversas
coisas. Alguma informação não é importante para a situação. Não irá ajudar um agricultor se este souber que o Romeu e a
Julieta morreram na peça de Shakespeare, mas seria mais útil saber qual é o tipo de semente que irá sobreviver no solo
local, e qual não irá sobreviver.

A formação neste conjunto de documentos para o empoderamento da comunidade inclui (entre outras coisas) a
transferência de informação. Ao contrário da educação generalizada, que tem a sua própria história de causas para a
selecção daquilo que é incluído, a informação que é aqui incluída destina-se a fortalecer a capacidade, não para iluminação
geral.

Doença:

Quando uma comunidade tem uma taxa elevada de doença, o absentismo é elevado, a produtividade é baixa, e menos
riquerza é criada. Para além da miséria, desconforo e morte que resulta da doença, é também um factor importante para a
pobreza numa comunidade. Estar bem (bem-estar) não só ajuda os individuos que estão saudáveis, mas também contribui
para a erradicação da pobreza na comunidade.

Aqui, tal como noutros ocasiões, a prevenção é melhor que a cura. É um dos princípios básicos do cuidado de saúde
primário. A economia fica muito mais saudável se a população estiver sempre saudável; muito mais do que se as pessoas
ficarem doentes e devem de ser tratadas. A saúde contribui para a erradicação da pobreza mais em termos de acesso a
água potável que seja segura e limpa, separação do saneamento da fonte da água, conhecimento de higiene e prevenção
de doenção -- muito mais do que clínicas, médicos e medicamentos, que são soluções de cura caras muito mais que a
prevenção contra a doença.

Lembre-se que estamos preocupados com os factores, não com as causas. Não importa se a tuberculose foi introduzida
por estrangeiros que vieram comercializar ou se foi indígena. Não importa se o VIH que leva à SIDA foi uma conspiração
da CIA para desenvolver armas biológicas, ou se veio de macacos na sopa. Essas são causas possíveis. Conhecer as
causas não irá remover a doença. Conhecer os factores pode levar a melhor higiene e comportamento de prevenção, e
levam à erradicação.

Muitas pessoas vêem o acesso a cuidados de saúde como uma questão de direitos humanos, como a redução do
sofrimento e miséria e qualidade de vida das pessoas. Estas são todas razões válidas para contribuir para uma população
saudável. O que se argumenta aqui, mais do que essas razões, é que uma população saudável contribui para a
erradicação da pobreza, e também se argumenta que a a pobreza não só se mede pelos altos níveis de morbidez e
mortalidade, e também que a doença contribui para outras formas e aspectos da pobreza.

Apatia:

Apatia é quando as pessoas não se interessam, ou quando se sentem tão incapazes que não tentam modificar as coisas,
corrigir um mal, emendar um erro, ou melhorar as condições.

Por vezes, algumas pessoas sentem-se tão incapazes de alcançar alguma coisa, sentem tanta inveja dos seus parentes ou
membros da sua comunidade que o tentam. Então tentam deitar abaixo quem tenta e levá-lo ao seu próprio nível de
riqueza. Apatia gera apatia.

Por vezes a apatia é justificada por preceitos religiosos, "Aceita o que existe porque Deus decidiu o teu destino." Este
fatalismo pode ser usado como uma desculpa. Não há qualquer problema em acreditar que Deus decide o nosso destino,
se aceitarmos que Deus pode decidir que nós devemos estar motivados para nos melhorar a nós próprios. "Reza a Deus,

2
mas rema também para a margem," é um provérbio russo, que demostra que estamos nas mãos de Deus, mas também
temos uma responsabilidade para connosco mesmos.

Fomos criados com muitas capacidades: de escolher, de cooperar, de organizar a melhoria da qualidade das nossas vidas;
não devemos deixar que Deus ou Alá sejam usados como desculpa para fazer nada. Isso é tão mau como uma maldição
sobre Deus. Devemos honrar Deus e usar os nossos talentos dados por Deus.

Na luta contra a pobreza, o mobilizador deve encorajar e elogiar, de forma a que as pessoas (1) queiram e (2) aprendam a
–– tomar o controlo sobre as suas vidas.

Desonestidade:

Quando os recursos que se destinam a ser usados para serviços e infraestruturas da comunidade, são desviados para os
bolsos privados de alguém numa posição de poder, mais do que a moralidade está a ser posta em causa. Neste conjunto
de formação, não estamos a fazer um julgamento de valor se isso é bom ou mau. Estamos a salientar, no entanto, que é
uma das causas principais da pobreza. Desonestidade entre pessoas de confiança e poder. O montante roubado ao
público, que é recebido e gozado pelo individuo, é muito menos que a redução na riqueza que se pretende para o público.

O montante de dinheiro que é extorquido ou desviado não é o montante que se reduz de riqueza na comunidade.
Economistas falam de um "efeito multiplicador". Onde a nova riqueza é investida, provocando um efeito positivo na
economia ainda maior que o montante criado. Quando o dinheiro para o investimento é retirado de circulação, o montante
de riqueza que se priva à comunidade é muito maior que aquele que é ganho pela pessoa que desvia o dinheiro. Quando
um funcionário do Governo aceita um suborno de 100 dólares, o investimento social é diminuído por um valor que pode
alcançar 400 dólares de riqueza para a sociedade.

É irónico que fiquemos muito chateados quando um ladrão rouba dez dólares em valores no mercado, mas quando um
funcionário pode roubar mil dólares do bolso do público, que provoca um dano no valor de quatro mil dólares à sociedade
como um todo, porém não condenamos o segundo ladrão. Respeitamos o segundo ladrão pela sua aparente riqueza, e
elogiamos a pessoa por ajudar todos os seus parentes e vizinhos. Por contraste, precisamos da polícia para proteger o
primeiro para que este não seja espancado pelas pessoas na rua.

O segundo ladrão é uma causa importante da pobreza, enquanto o primeiro ladrão pode muito bem ser uma vítima da
pobreza provocada pelo segundo. A nossa atitude no parágrafo à esquerda, é muito mais que irónico; é um factor que
perpetua a pobreza. Se nós recompensamos aquele que provoca mais dano, e castigamos aqueles que são verdadeiras
vítimas, então as nossas atitudes mal direccionadas também contribuem para a pobreza. Quando dinheiro desviado é
retirado do país e colocado num banco estrangeiro (por exemplo, suiço), então não contribui para a economia nacional;
apenas ajuda o país do banco estrangeiro ou offshore.

Dependência:

A dependência resulta de estar no lado receptor da caridade. No curto prazo, tal como após um desastre, essa caridade
pode ser essencial para a sobrevivência. No longo prazo, essa caridade pode contribuir para a possível desgraça do
receptor, e certamente para a pobreza corrente.

É uma atitude, uma crença que alguém é tão pobre, tão desesperado, que não se pode ajudar a si próprio, que um grupo
não se consegue ajudar a si próprio, e que deve depender de assistência que vem do estrangeiro. A atitude, e crença
partilhada é o principal factor auto-explicativo para a perpetuação da condição de dependência de um individuo ou grupo
em relação a ajuda exterior.

Existem muitos outros documentos neste site que se referem a dependência. Ao explicar como usar a contagem de
histórias para comunicar princípios essenciais para o desenvolvimento, a história de Maomé e a corda é usada para ilustrar
o princípio que a ajuda não pode ser o tipo de caridade que enfraquece ao encorajar a dependência, devendo empoderar.

A metodologia de empoderamento da comunidade é uma alternativa a dar caridade (que enfraquece), mas dá assistência,
capital e formação destinados a comunidades com baixo rendimento identificando recursos e controlando o seu próprio
desenvolvimento ─tornando-se empoderados. Demasiadas vezes, quando um projecto se destina à promoção a
independência, os receptores, até que sejam chamados à atenção, esperam, assumem e têm esperança que o projecto
vem apenas fornecer os recursos para instalar uma infraestrutura ou serviço na comunidade.

3
Entre os cinco principais factores da pobreza, o síndroma da dependência é uma das principais preocupações do
mobilizador da comunidade.

Você também pode gostar