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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS, ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS


– DCEAC
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
PROF. DR. CASSIUS ROCHA DE OLIVEIRA

ASSISTENCIALISMO PÚBLICO

RODRIGO DE SÁ DA SILVA (35.068)


MARCEL PEIXE (35.087)
LUIZ CONCEIÇÃO KONZE (35.099)
ADRIANO GOMES NOELLI (35.105)

COM MÍDIA (POWER POINT)

RIO GRANDE, 23 DE NOVEMBRO DE 2006.


1. – INTRODUÇÃO.

Este trabalho tem em vista mostrar que pode haver outros interesses por trás da
política assistencialista hoje usada pelo governo brasileiro que não a ajuda às camadas mais
pobres da população. O programa, intitulado Bolsa Família, foi o carro chefe da eleição 2002,
em que o Partido dos Trabalhadores (PT) foi eleito e pode ter contribuído para que muitos
eleitores continuassem votando no PT, com medo de perderem este beneficio. O próprio
partido, nesta ultima eleição, tinha como slogan “não troque o certo pelo duvidoso”.
Segundo o site do Governo:

O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de renda com


condicionalidades que beneficia famílias pobres (com renda mensal por pessoa de R$ 60,01 a R$
120,00) e extremamente pobres (com renda mensal por pessoal de até R$ 60,00).
Ao entrar no Bolsa Família, a família se compromete a manter suas crianças e adolescentes
em idade escolar freqüentando a escola e a cumprir os cuidados básicos em saúde: o calendário de
vacinação, para as crianças entre 0 e 6 anos, e a agenda pré e pós-natal para as gestantes e mães em
amamentação.1

Em tese, o objetivo do programa é a evolução social e econômica da população


por ele atendida. Baseia-se nos programas de bem estar social que consistem no estado
garantindo à população o mínimo padrão de vida, proteção contra eventualidades e provisão
de serviços na medida do possível. Porém, as exigências solicitadas não são fiscalizadas de
forma apropriada, seja por dificuldades de fiscalização, ou por não ser esse o interesse do
Governo. Assim, a plebe não evolui socialmente, mantendo-se presa a este programa e,
consequentemente ao Governo, fazendo com que ela continue votando nele e o mesmo
continue a se eleger.

1.1. – O JOGO

A concessão do assistencialismo público e os incentivos por ele gerado podem ser


visto como um jogo. Neste jogo, o objetivo do estado será a sua manutenção no poder, e para
isso uma das estratégias será a manipulação da política de bem estar. O Governo, primeiro
jogador, tem a sua disposição a possibilidade de usar ou não programas de assistência à
população de baixa renda visando aliciá-la a seu favor. Este setor da sociedade é uma peça
chave para a manutenção do poder, pois representa a maior parcela da população.2
O segundo jogador é a população atingida por este programa e que decide se
trabalha ou não. Para isso ela deve pesar a utilidade da renda que ganharia se trabalhasse
contra a utilidade do ócio recebendo a renda do programa governamental.
Porém, este jogo apresenta importantes externalidades para a sociedade como um
todo que, contudo, não tem influência nele, exceto pelo voto, como é o caso da classe média.
Por este motivo se deu a nossa motivação ao trabalho, buscando compreender as decisões e
incentivos de todos os envolvidos ou afetados no jogo. No próximo capítulo fazemos isso
tendo como referências as idéias de Maquiavel, Marx e dos Darwinistas Sociais, assim como
da Teoria Microeconômica.

1
Ministério do Desenvolvimento Social.
2
Como será visto quando tratarmos de Maquiavel.
2. – REFERÊNCIAS

2.1. – MAQUIAVEL

“O governo emanará do povo ou dos poderosos, conforme as ocasionais possibilidades de um


ou de outros: os grandes, em não podendo visivelmente resistir ao povo, começam a afirmar a
reputação de um dos seus, e fazem-no príncipe para que, à sua sombra, possam saciar o seu apetite. O
povo, por sua vez, sentindo-se impotente entre os grandes, põe-se a prestigiar um homem e aclama-o
príncipe para que este, por sua autoridade, o proteja. Aquele que foi alçado em príncipe com a ajuda
dos grandes mantém-se com mais dificuldades que aquele que o foi com apoio popular, visto que o
primeiro acha-se cercado de muitos que se lhe assemelham, não podendo, por isso, nem comandá-los,
nem manobrá-los à sua guisa.
(...) Concluirei dizendo apenas que a um príncipe é necessário ter o povo ao seu lado, e de
outro modo ele sucumbira às adversidades.”3

Resumindo, Maquiavel defendia a idéia de que para se manter no governo, o


príncipe deve se sustentar ou no povo ou nos grandes, e ainda que seria mais fácil manter o
poder com o apoio daquele. E assim Lula o fez, mantendo o poder através das massas, com
um grande programa assistencialista-populista, garantindo a sua reeleição e a vitória na
maioria dos estados.
E, além disso, com uma grande cartada, garantiu o apoio da elite, o outro meio de
manter o poder segundo Maquiavel. Isto porque não interferiu na acumulação de capital
destes. O setor da sociedade prejudicado com estes programas é a classe média, de onde saem
as transferências de renda para a classe pobre, o que esta de acordo com as idéias do autor, já
que a classe média não representa votos suficientes para decidir uma eleição.
Isto é o que pode ser chamado de “o fim da classe média”. Como em um artigo de
Stephen Kanitz4, em site:

Só que no Brasil ninguém defende a classe média, muito menos seus valores e sua postura
política. Os ricos são naturalmente de direita, são conservadores, querem manter o status quo. A classe
média não é de direita nem de esquerda. É de centro e liberal. São os profissionais liberais por
excelência, que acreditam na autonomia, na responsabilidade pessoal e social, na poupança para a
velhice, nos valores familiares, no imposto sobre herança. Mas o liberalismo é a ideologia mais
atacada no Brasil, pela direita e pela esquerda. A direita vê na classe média uma ameaça, a esquerda
vê nela a burguesia a ser destruída.
Que eu saiba, nenhum jornal brasileiro defende a ideologia da classe média, justamente seus
leitores. Não há um jornal liberal, que defenda os valores típicos da classe média. Por isto, a classe
média está deixando de renovar suas assinaturas de jornais e revistas, onde o editorial normalmente
defende os valores da direita, o resto do jornal defende os valores da esquerda.5

2.2. – KARL MARX

Tendo por base alguns ideais marxistas, o poderia se pensar que o Partido dos
Trabalhadores incorporou um pouco desta síntese e partiu em defesa das classes pobres e
trabalhadores na tentativa de diminuir a disparidade entre as classes ricas e as menos
favorecidas. Prova disso seria o seu programa de governo que atende a esta parcela da
população concedendo-lhes benefícios (o mesmo que afirmamos poder ser uma estratégia de
manutenção no poder), numa visão otimista de dar o passo que encurtará esta disparidade,
pois se tem no país uma política lenta e que nos últimos anos privilegiou classes acima desta
margem de pobreza.

3
Maquiavel. Capítulo IX.
4
Mestre em Administração pela Harvard University e assessor do Ministério do Planejamento entre 1986 e 1987.
5
Kanitz.
O assistencialismo tem a sua importância quando subsidia pessoas que não
possuem as mínimas condições de subsistência e perspectivas de sair de sua situação
calamitosa. Lula disse: “A fome não pode esperar”, e foi enfático dizendo que algo teria que
ser feito e não esperar que se discuta o problema por meses, anos, sem que nada mude.
Poderia se entender assim que, agindo seja por força do impulso esquerdista ou por
solidariedade humanista, embora esta muito criticada, o caminho escolhido pelo Governo foi
agir em favor do povo.
O programa Fome Zero, onde está inserido o Bolsa Família, transfere recursos
para as famílias carentes mais do que qualquer outro já fez. Representa 0,3% do PIB nacional,
em um país onde a cada 100 pessoas, 22 estão abaixo da linha da pobreza.6

2.3. – DARWINISMO SOCIAL

Esta idéia, inspirada em A origem das espécies de Charles Darwin, foi defendida
pelo filósofo inglês Herbert Spencer e pelo sociologista americano William Graham Sumner.
Acreditavam que a ação do Estado na economia e na sociedade interferia nas relações entre os
indivíduos, relações de onde teriam que sair os melhores, mas os mais fracos eram ajudados
pela interferência do Estado. Assim, para eles, o Estado não poderia tomar medidas que
modificassem a estrutura natural das relações sociais de onde saiam os vencedores e os
vencidos.
No caso brasileiro, porém, isto é exatamente o que ocorre. Aqui o Estado interfere
na economia, alterando a tendência à evolução natural dos mais aptos, por “auxiliar” os mais
fracos e desviar para estes os recursos que poderiam ser utilizados pelos mais aptos, como o
investimento. Desta forma a sociedade desenvolve-se de uma forma antinatural, com o
percentual de pessoas inaptas aumentado, acarretando numa baixa produtividade do país.
Contudo é bom lembrar que estas idéias já foram utilizadas de maneira errada,
como no colonialismo europeu sobre a América, onde aqueles se achavam superiores a estes
dizimaram-nos, e nas políticas eugenistas do III Reich alemão.

6
Fonte: Zero Hora.
3. – CONCLUSÃO

Este trabalho tentou analisar o programa de beneficio concedido pelo atual


governo. Desta forma, avaliamos que o programa pode ser benéfico ou não conforme o
lado analisado e seus respectivos fins.
Para o Governo é interessante arrecadar votos através do programa de
benefícios porque, como analisamos conforme Maquiavel, o fim de o governo continuar
no poder justificaria os meios pelo qual ele age para atingi-lo. Assim, o Governo
conquistar o povo gastando através de benefícios sem exigir retornos sociais.
O beneficio incentiva a quem o recebe a não trabalhar, pois como este não
tem qualificação para manter-se no mercado de trabalho, ficaria com a remuneração
concedida pelo Governo e com o tempo livre para o ócio. E dado que, como nas teorias
evolucionistas, há indivíduos menos aptos que outros, o programa, nos moldes que é
concedido, sem exigências de aperfeiçoamento social, lhes é interessante, pois não lhes
exigem esforços que visem à sua evolução – a evolução da classe menos apta e da
sociedade por conseqüência.
Já para a sociedade como um todo, este modelo de política social é ineficaz.
Isto porque o gasto do Governo não cria uma externalidade positiva na evolução da
sociedade, e sim uma negativa, pois dá continuidade a uma população pouco apta. No
longo prazo, estes gastos farão com que o Governo aumente os impostos sem os
reverterem em benefícios para a parcela da sociedade não atendida pelo programa,
fazendo com que estes se revoltem e o “odeie”, como previu Maquiavel: “(...) há mais
prudência em ater-se à reputação de miserável, que engendra uma infâmia que não te
faz execrado, do que, ao pretender a fama de liberal, incorrer inevitavelmente na de
rapinante, que engendra uma infâmia que te faz odiado.”7
Um modo de se corrigir o problema das externalidades seria adotar políticas
que exigissem, efetivamente, contrapartidas. Assim, ao conceder um beneficio, o
Governo exigiria que o beneficiário retribuísse com a sua evolução e que se tornasse
mais qualificado a fim de não necessitar mais dessa ajuda. Como “(...) o homem
prudente deverá constantemente seguir o itinerário percorrido pelos grandes e imitar
aqueles que se mostraram excepcionais, a fim de que, caso o seu mérito ao dele não se
iguale possa ele ao menos recolher deste uma leve fragrância...”8, poderíamos, neste
ponto, nos espirarmos no exemplo norte-americano. Lá, no programa batizado de
workfare (onde “fare” apresenta o duplo sentido de “caminho” e “alimento” para o
emprego, “work”), o Estado se compromete a ajudar aos mais pobres, mas cobra
contrapartidas com o objetivo de facilitar a reintegração do beneficiário ao mercado de
trabalho, como a exigência de que este cumpra uma carga de 30 horas semanais com
trabalhos e cursos profissionalizantes. Nos Estados Unidos, ao longo dos dez anos deste
programa, o número de famílias que recebem o benefício caiu de cinco milhões em
1995 para dois milhões em 2005 enquanto no Brasil serão gastos em 2006 12 bilhões de
reais, o dobro do montante gasto em 2003, mostrando o quanto o Governo brasileiro
mantém dependentes as famílias atendidas pelo programa.

7
Maquiavel. Capitulo XVI.
8
Maquiavel. Capitulo VI
4. – BIBLIOGRAFIA

LEVITT, Steven D. & DUBNER, Sthephen J. Freakonomics: O lado oculto


e inesperado de tudo o que nos afeta. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

KANITZ, Stephen. Em defesa da classe média – O fim da classe média.


Disponível em http://www.kanitz.com.br/impublicaveis/defesa_da_classe.asp. Acessado
em 22.11.06.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Porto Alegre: L&PM, 2006.

MARX, Karl. O Capital: edição resumida por Julian Borchardt. Rio de


Janeiro: Guanabara, 1982.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL. Disponível em


http://www.mds.gov.br/programas/transferencia-de-renda/programa-bolsa-familia.
Acessado em 12.11.2006.

SEIBEL, Felipe. O “Fome Zero” Americano. Exame. São Paulo, n.875,


p.34, 30 de agosto de 2006.

SPICKER, Paul. An introduction to Social Policy. Disponível em


http://www2.rgu.ac.uk/publicpolicy/introduction/introf.htm. Acessado em 2 de
novembro de 2006.

WIKIPEDIA. Social Darwinism. Disponível em


http://en.wikipedia.org/wiki/Social_darwinism. Acessado em 22 de agosto de 2006.

WIKIPEDIA. Welfare State. Disponível em


http://en.wikipedia.org/wiki/Welfare_state. Acessado em 15 de outubro de 2006.

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