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http://www.programadogoverno.org/programa-bolsa-familia/
As famílias que têm direito aos benefícios do Bolsa Família são as com renda
mensal per capita de até cento e quarenta reais. Para se cadastrar, essas
famílias devem procurar a prefeitura de suas cidades e se cadastrarem no
CadÚnico, ou Cadastro Único dos Programas Sociais. O benefício é liberado
de acordo com a seleção impessoal da Caixa Econômica Federal que prioriza
as famílias com menor renda. Mulheres têm prioridade na hora do
cadastramento.
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-bolsa-familia-e-o-
coronelismohttp://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-bolsa-familia-e-o-
coronelismo
Recife (PE) - Esta semana, a socióloga Walquiria Leão Rego pôs uma luz
científica no programa Bolsa Família, desenvolvido pelo governo Lula. Por
ocasião do lançamento do seu livro e de Alessandro Pinzani, “Vozes do Bolsa
Família”, Walquiria foi entrevistada pela Folha de São Paulo. Ali, ela afirmou
que o Bolsa Família é uma ação de Estado que enfraquece o coronelismo.
Espanto geral. Como assim? O programa assistencialista, o Bolsa Esmola,
como o PSDB e assemelhados o chamam, que incentiva a vadiação, como
poderia diminuir o poder dos chefões no Brasil profundo?
http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/06/bolsa-familia-inicia-
reparacao.html
Sul21 – Dados oficiais revelam que 70% dos beneficiários adultos são
trabalhadores e os estudantes que participam do programa possuem
média de aprovação quase 5% maior que a média nacional. Além de ter
um índice menor de abandono dos estudos.
Walquiria Leão Rego – Isto acontece pela exigência do vínculo das crianças na
escola para receber o benefício, o que é muito interessante, porque mostra o
quanto estas crianças estavam abandonadas pelo estado. Porém, também é
necessário discutir a qualidade da escola brasileira. A escola pública no Brasil
precisa de muito investimento ainda. As crianças que eu estudei vivem em
cidades do interior, algumas em zona rural e em periferias de grandes cidades.
(Recife, Vale do Jequitinhonha, etc ). O benefício também implica o controle
da saúde das crianças, mas ainda faltam médicos no Brasil nos postos de saúde
destas regiões. O governo federal estuda trazer para o Brasil os médicos
cubanos, espanhóis e portugueses, porque os nossos não costumam ir para
estes lugares. Isto acontece pela falta de compromisso de certas pessoas com o
seu país. Os paulistas, por exemplo, querem fazer medicina na melhor
universidade, que é USP (Universidade de São Paulo) ou a Unicamp, para se
formar em uma universidade pública. Estudam no ensino público, fazem
intercâmbio no exterior com auxílio público e voltam para abrir um
consultório na Avenida Paulista e cobrar até R$ 1,5 mil por uma consulta. Isto
é o horizonte típico da classe média brasileira que faz medicina. O
compromisso com o povo eles não querem saber. Não adianta oferecer o
salário e o benefício que for para estas pessoas porque elas não vão para as
regiões de periferia e interior. As crianças que são beneficiadas com o Bolsa
Família são abandonadas como cidadãos. O estado tenta resolver e a classe
média vai para as ruas fazer protesto contra os médicos estrangeiros.
Sul21 – A senhora acredita que a imprensa tem interesse em dar voz aos
críticos deste programa de forma sistemática?
Walquíria Leão Rego – De fato, isto é algo recorrente. A desqualificação do
governo, das pessoas, do programa, e ao mesmo tempo a não-informação
sobre o êxito desta iniciativa. Isso é o que mais me assusta, como eles (a
mídia) se sentem no direito de não informar o país sobre o que está
acontecendo no país? Você não vê isso em outros lugares do mundo. É uma
imprensa muito controlada pelos seus patrões, talvez uma das mais controladas
do mundo.
de Alagoas, em 2007
Uma das maiores vitrines dos governos Lula e Dilma Rousseff, o Bolsa
Família deveria ser um direito constitucionalizado e não apenas um programa
social. Quem defende a ideia é a socióloga Walquiria Domingues Leão Rego,
professora da Unicamp e autora do livro Vozes do Bolsa Família (Editora
Unesp), escrito em parceria com o professor de filosofia da UFSC Alessandro
Pinzani.
“O Bolsa Família não deveria ser um programa de governo, mas uma política
de Estado, assim como o salário mínimo”, explica Walquiria. O livro tem
como foco a experiência das mulheres titulares do benefício.
Cientes de que, “no caso brasileiro, nossa pobreza, de modo geral, tem cor: é
mulata, negra; e isso remete imediatamente à experiência da escravidão”, a
análise se faz sobre mulheres muito pobres, que não tinham uma experiência
importante decorrente de uma renda regular prevista antes de receber o
benefício. “O que discutimos no livro é que o Bolsa Família, ao ser recebido
em dinheiro, libera as mulheres”, afirma Walquiria. “O dinheiro tem essa
função liberatória.”
“Essas regiões isoladas, onde não há nada, não têm fábricas ou trabalho. Ali
precisaria de muito investimento público para, primeiramente, qualificar as
pessoas que são analfabetas, observa Walquiria.
Há registros que mostram que, em dez anos, um milhão e 700 mil famílias –
12% do total que receberam benefícios nesse tempo – desistiram
voluntariamente do benefício, por haver obtido ingressos superiores aos 35
dólares por cada um de seus integrantes, o piso mínimo permitido para que se
solicite o Bolsa Família.
As estadísticas indicam que 70% dos beneficiados com mais de dezesseis anos
de idade conseguiram trabalho, contribuindo para aumentar a renda familiar.
Passados esses dez anos não há lugar para nenhuma dúvida: o perfil da
pobreza mudou radicalmente no país. Muitas casas de pobres foram ampliadas,
receberam telhados novos, passaram a ter pisos de cimento ou cerâmica. São
casas muito humildes, mas que contam com refrigerador, lava roupa,
televisores e, em muitos casos, com um computador com conexão à Internet
popular (a preços muito baixos, subsidiados).
Há casas com piso de terra, sem água potável nem torneiras, com o banheiro
fora como há meio século, mas com televisão. Em alguns estados brasileiros, o
analfabetismo é de tal maneira crônico, que impede até a instalação de
indústrias que gerariam emprego e esperança de futuro.
Sim, é verdade, a miséria e a humilhação persistem, mas agora persistem de
maneira menos contundente, menos permanente. Já não é como uma sentença
eterna, um destino de vida.
Por muito tempo cientistas políticos, sociólogos, antropólogos e um montão
mais de ólogos continuarão discutindo as bondades e as falhas de um
programa destinado a redistribuir renda, através do Estado, aos desamparados
de sempre. Continuar-se-ão debatendo os prós e os contras do assistencialismo
de Estado. E, enquanto isso, 52 milhões de brasileiros terão ludibriado um
futuro cruel e passando da humilhação e da miséria à pobreza digna.
22 de maio de 2013
http://www.onu.org.br/estudo-avalia-impacto-do-programa-bolsa-familia-
na-reducao-da-mortalidade-infantil/
27/05/13
http://contrapontopig.blogspot.com.br/2013/05/contraponto-11316-
bolsa-familia-e.html
http://carodinheiro.blogfolha.uol.com.br/2013/05/24/bolsa-familia-ajudando-o-
brasil-que-voce-nao-conhece/
Como diria o falecido presidente americano John Kennedy “Se uma sociedade
livre não pode ajudar os muitos que são pobres, não pode salvar os poucos que
são ricos”. E nesse sentido temos que assumir: o bolsa família apresenta um
lado brilhante.
Antes que se queira dar um tom político ao assunto queremos dizer que ela é
apartidária. Até porque o Programa Bolsa Família criado no governo Lula,
nada mais é do que a junção do “Bolsa Escola”, “Auxílio Gás” e “Cartão
Alimentação”; criados no governo FHC, unificados e renomeados como Bolsa
Família.
Mas para que possamos emitir qualquer opinião, temos que conhecer o
programa em seus detalhes[1].
A quem se destina
Tipos de Benefício
Condições
Para se ter uma idéia em 10 anos de Programa temos alguns números: O índice
da população vivendo em situação de pobreza extrema caiu de 12% (2003)
para 4,8% (2008). 27,9 milhões de pessoas superaram a pobreza e 35,7
milhões ascenderam para classes sociais mais elevadas. A taxa de
analfabetismo e frequência na escola caiu drasticamente, bem como a
mortalidade infantil.
Portanto muito mais do que uma simples quantia em dinheiro, é uma maneira
barata do governo de levar educação e saúde básica a grande parte da
população de baixa renda.
Sobre a falácia de que esse benefício acomoda as pessoas aqui vai um dado:
1,69 milhões de famílias beneficiadas pelo programa foram até às prefeituras
de suas respectivas cidades para abrir mão do mesmo pois não estavam mais
precisando do benefício.
Não é a toa que o Bolsa Família foi elogiado por órgãos como Banco Mundial,
ONU e FMI. Mais do que isso ele tem sido copiado ao redor do mundo por
diversos países, entre eles os Estados Unidos e tem disso destacado como um
exemplo de programa de distribuição de renda, combate a fome e acesso a
educação e saúde básica.
05 de julho de 2013
http://www.fetecsp.org.br/index.php?
option=com_content&task=view&id=39500&Itemid=181
Na opinião do Le Monde, “as quantias que são remetidas para cada família
(até R$ 182) podem parecer, à primeira vista, modestas, e até mesmo irrisórias.
Mas elas já contribuem efetivamente para combater a pobreza e reduzir as
desigualdades, de modo mais eficiente do que os aumentos periódicos do
salário mínimo”.
Ainda segundo o jornal, o Bolsa Família melhora “de imediato a vida
cotidiana de milhões de brasileiros” - e “sem dúvida” vai melhorar “mais
tarde, no longo prazo (...), o destino dos mais novos, proporcionando-lhes um
nível de educação mais elevado que ampliará seu horizonte profissional'.
O texto elogia o governo Lula por ter reparado defeitos do programa: “Citado
como exemplo no Exterior, o Bolsa Família peca por conta de alguns defeitos.
Destes, o mais grave foi corrigido no mês de março, quando o governo
redefiniu de 15 para 17 anos a idade dos adolescentes beneficiados”.
Sobre as críticas ao Bolsa Família, o jornal trata de refutar uma por uma. O
programa, diz o Le Monde, não é “paternalista”, nem mantém “seus
beneficiários alienados por uma mentalidade de assistido, vinculada à sua
dependência crônica em relação ao Estado”, tampouco provoca “um ‘efeito de
preguiça’, incitando-os a se contentarem com o mínimo e dissuadindo-os de
tentarem melhorar sua situação”.
28/06/2013
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/bolsa-familia-deve-ser-politica-de-
estado-defende-sociologa
Uma das maiores vitrines dos governos Lula e Dilma Rousseff, o Bolsa
Família deveria ser um direito constitucionalizado e não apenas um programa
social. Quem defende a ideia é a socióloga Walquiria Domingues Leão Rego,
professora da Unicamp e autora do livro Vozes do Bolsa Família (Editora
Unesp), escrito em parceria com o professor de filosofia da UFSC Alessandro
Pinzani.
“O Bolsa Família não deveria ser um programa de governo, mas uma política
de Estado, assim como o salário mínimo”, explica Walquiria. O livro tem
como foco a experiência das mulheres titulares do benefício.
O estudo faz cair por terra quaisquer teses de que o benefício faria uma
população dependente do Estado sem estimular sua autonomia ou mesmo a de
que não se deve dar dinheiro aos pobres, uma vez que não saberiam como
empregá-lo. “Isso é preconceito puro”, rechaça a pesquisadora.
12/06/2013
http://www.unicamp.br/unicamp/clipping/2013/06/12/bolsa-familia-
enfraquece-o-coronelismo-e-rompe-cultura-da-resignacao-diz
Dez anos após sua implantação, o Bolsa Família mudou a vida nos rincões
mais pobres do país: o tradicional coronelismo perde força e a arraigada
cultura da resignação está sendo abalada.
A conclusão é da socióloga Walquiria Leão Rego, 67, que escreveu, com o
filósofo italiano Alessandro Pinzani, "Vozes do Bolsa Família" (Editora
Unesp, 248 págs., R$ 36). O livro será lançado hoje, às 19h, na Livraria da
Vila do shopping Pátio Higienópolis. No local, haverá um debate mediado por
Jézio Gutierre com a participação do cientista político André Singer e da
socióloga Amélia Cohn.
Durante cinco anos, entre 2006 e 2011, a dupla realizou entrevistas com os
beneficiários do Bolsa Família e percorreu lugares como o Vale do
Jequitinhonha (MG), o sertão alagoano, o interior do Maranhão, Piauí e
Recife. Queriam investigar o "poder liberatório do dinheiro" provocado pelo
programa.
Como assim?
Tem uma crueldade no modo como as pessoas falam dos pobres. Daí
aparecem os adolescentes que esfaqueiam mendigos e queimam índios. Há
uma crueldade social, uma sociedade com desigualdades tão profundas e tão
antigas. Não se olha o outro como um concidadão, mas como se fosse uma
espécie de sub-humanidade. Certamente essa crueldade vem da escravidão.
Nenhum país tem mais de três séculos de escravidão impunemente.
E a questão eleitoral?
O coronel perdeu peso porque ela adquiriu uma liberdade que não tinha. Não
precisa ir ao prefeito. Pode pedir uma rua melhor, mas não comida, que era por
ai que o coronelismo funcionava. Há resíduos culturais. Ela pode votar no
prefeito da família tal, mas para presidente da República, não.
Resu
mo
O presente artigo é parte de uma pesquisa mais ampla que teve como um
dos seus principais objetivos avaliar as possíveis mudanças morais e
políticas ocorridas nas mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família. A
pesquisa se realizou durante cinco anos desde 2006 a 2011. Para fazê-la
recorremos às entrevistas abertas a fim de ouvi-las mais demoradamente e,
preferencialmente, mais de uma vez. Tínhamos um roteiro de questões que
encaminhavam a entrevista para o sentido geral da pesquisa. Tentamos
captar mudanças em suas vidas nos sentidos mencionados acima.
Escolhemos certos espaços geográficos do país, aqueles tradicionalmente
mais abandonados pelo Estado Nacional, portanto carentes de serviços
púbicos como: escolas, hospitais, estradas, centros de reunião. Desta forma,
a escolha se deu por certas regiões do sertão de Alagoas, e certas partes de
seu litoral. Estivemos em varias cidades do Vale do Jequitinhonha, interior
do Piauí, e do Maranhão, bem como certos bairros periféricos de São
Luís e Recife. As vozes e os sentimentos destas mulheres devem ser
ouvidos atentamente. Esse modo de captar seus sentimentos e opiniões não
é tangível em pesquisas quantitativas. Razão maior da escolha da entrevista
aberta para apreendermos melhor alguns elementos das subjetividades das
entrevistadas e, assim, tentar avaliar a magnitude das mudanças ocorridas
em suas vidas.
Palavras-chave: Bolsa Família, processos de
autonomização, cidadania, democracia
Abstr
act
This text is part of a broader research project that is scoped to the seizure
of certain senses of moral and political changes in poor women resulting of
the receiving from family grant. The research carried out for 5 years from
2006 to 2011 took place through interviews with some women and
followed some script issues. At this hearing, which as is well known has
some dynamism characteristic of human speech. We tried to collect
changes in their lives in the sense mentioned above. We chose of search
some spaces. It meant basically hear people who live in some of the worst
situations of poverty and more inhabit the regions traditionally
underserved of minimum public services,
REGO, W.D.L.; PINZANI, 22
A.
Capability approach
2 Sobre isto ver ainda as observações de Hannah Arendt (1989, p. 89, grifo
nosso): “É com palavras e atos que nos inserimos no mundo humano; e esta
inserção é como um segundo nascimento, no qual confirmamos e
assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento físico original”.
REGO, W.D.L.; PINZANI, 28
A.
pensamento político, tornadas evidentes na compreensão de que a
capacidade das pessoas de fruir direitos constitucionalmente garantidos se
liga as capacitações das suas funções humanas para o gozo das conquistas
libertárias. Marx gostava de lembrar que a liberdade de imprensa,
fundamental conquista civilizatória para a emancipação humana, não
fazia sentido para os analfabetos, pois estes estavam desprovidos da
capacidade de ler, debater, e, portanto, de fruí-la. De certa forma, esta
espécie de incapacitação discursiva tornava vazia, para o analfabeto, a
conquista da liberdade de imprensa. A vida dos direitos, nas palavras de
Habermas (2002, p. 136), seu valor de uso. depende da vitalidade cívica e
participativa da comunidade política. Desde os gregos, sabe-se que a
educação para a liberdade, assim como para as virtudes cívicas em geral,
depende da satisfação mínima de bens materiais. A miséria e a fome são
em si mesmas graves privações da liberdade humana, no seu sentido mais
profundo.
O quadro exposto traz à tona o que Amartya Sen, juntamente com a
filósofa Martha Nussbaum, formulou ao desenvolver o conceito de
capability3 (Nussbaum e Sen, 1996; Nussbaum, 2004; Nussbaum e
Glover, 1995, p. 61-104). Ambos os autores retiraram esta questão de
Aristóteles e Marx, qual seja, a preocupação com o desenvolvimento das
funções humanas, e, neste caso, com a capacitação e habilitação para viver
os vários sentidos da vida e, particularmente, sua humanização. Dito de
outro modo, a humanidade das pessoas não é um simples dado biológico,
mas sim uma construção social e política.
Marx mostra como as funções humanas materializadas no
funcionamento dos sentidos humanos são na sua inteireza produtos da
vida social, melhor dizendo, da qualidade dos seus processos de
socialização coletiva. Nesta perspectiva, a educação dos sentidos é, em
significado muito claro, a humanização das pessoas. É esta dimensão que
se quer destacar quando discutimos a ideia de capability, porque sua
implementação prática torna-se condição indispensável ao exercício dos
direitos, à sua fruição e expansão pela conquista de novas liberdades,
ampliando assim o próprio sentido de desenvolvimento humano.
REGO, W.D.L.; PINZANI, 29
A. A este respeito vejamos as palavras de Marx (2004, p. 110-11)4:
Dominação e pobreza
Hipótese fundamental
“Meu cartão dona, foi a única coisa que me deu crédito na vida.
Antes eu não tinha nada. É pouco sim, porque queria ter uma vida
melhor”. Seus desejos, sua indignação, se expressaram, e, mais importante
que isto, compareceram no seu discurso. Sua voz é forte e carregada de
emoção. Demanda uma vida mais digna; pode-se dizer que Waldeni
demanda paridade dignitária o tempo todo.
Deve-se dizer que, por razões variadas, interessa realçar a função
social da Bolsa
Família sob a forma de dinheiro, a fim de que possamos percebê-la
principalmente como
REGO, W.D.L.; PINZANI, 40
A.
incrementadora de mais liberdade pessoal, de mais liberdade interior para
os indivíduos que chegam a obter a renda monetária. Aliás, é preciso
recordar que este constitui um tema clássico da sociologia, sobretudo da
sociologia do dinheiro que, entre nós, infelizmente, não fez estrada.
P: Por exemplo?
E: Outro dia comprei pros meninos
yogurte e macarrão. P: A senhora
gosta do programa?
E: Acho muito bom.
Pacto de destino
Referênci
as
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Trad. Almiro Pisetta e Lenita Maria
Rímoli Esteves. 2. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2002.
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2004.
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SEN, Amartya. The Standard of Living. The Tanner Lectures 1985. With
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Sen. Oxford: Clarendon Press, 1997.
. Desenvolvimento como liberdade. Trad. Laura Teixeira Motta. São
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. Desigualdade reexaminada. Trad. e. apres. Ricardo Doninelli
Mendes. 2. ed. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 2008.
SENNETT, Richard. Respeito. A formação do caráter em um mundo
desigual. Trad. Lygia Araújo Watanabe. Rio de Janeiro: Record, 2004.
REGO, W.D.L.;
SHUE,
A.
Henry.PINZANI,
Basic Rights. Subsistence, Affluence, and U.S. Foreign 61
Recebido em 25/11/2012
Aprovado em 11/01/2013
03/12/2013 · 23:47
https://umhistoriador.wordpress.com/tag/bolsa-familia/
63
Walquíria Leão Rego, socióloga e professora de Teoria da Cidadania na Unicamp, acaba de lançar o livro
Vozes do Bolsa-Família, juntamente com o filósofo italiano Alessandro Pinzani, no qual afirmam
categoricamente que “o incômodo e as manifestações contrárias que o programa desperta em alguns
setores não têm razões objetivas. Seria resultado do preconceito e de uma cultura de desprezo pelos mais
pobres”.
Para a socióloga, embora o programa Bolsa-Família seja barato, incomoda profundamente a classe-média
por puro preconceito. Segundo Walquíria Rego, o Bolsa-Família foi “uma das coisas mais importantes
que aconteceram no Brasil nos últimos anos”. Sua maior conquista foi tornar “visíveis cerca de 50
milhões de pessoas, tornou-os mais cidadãos”.
Abaixo, entrevista na íntegra que a socióloga concedeu a Isadora Peron e que foi veiculada no Blog do
Roldão Arruda, do Estadão, em outubro deste ano.
Abaixo, uma tradução livre que fiz da reportagem de Simeon Ari para o Political Blindspot.
NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 49,7 MILHÕES DE PESSOAS AGORA SÃO POBRES,
E 80% DE TODA A POPULAÇÃO DAQUELE PAÍS ESTÁ BEM PRÓXIMO A ELA
por Simeon Ari | para o Political Blindspot
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Marcado como Bolsa Família, Débora Thomé,FGV, Mário Magalhães, Programas Sociais, Social
Democracia
17/10/2013 · 23:45
Revista VALOR informa que para cada real gasto com o Bolsa Família, R$1,78 é adicionado ao PIB
Para maiores detalhes, abaixo repercutimos a reportagem de Camila Veras tal como publicada no site do
VALOR.
IPEA: cada R$ 1 gasto com Bolsa Família adiciona R$ 1,78 ao PIB
por Camila Veras Mota | para o Valor
SÃO PAULO – O Bolsa Família tem um dos menores custos entre os chamados programas de
transferências sociais, mas é o que tem o maior efeito multiplicador sobre a economia, de acordo com
dados apresentados nesta terça-feira, 15, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), durante
balanço dos dez anos da iniciativa.
Para o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e presidente do Ipea, Marcelo Neri, um dos
principais atributos do programa é seu bom custo-benefício. Os gastos com o Bolsa Família representam
apenas 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), mas cada R$ 1 gasto com o programa “gira” R$ 2,4 no
consumo das famílias e adiciona R$ 1,78 no PIB.
Para efeito de comparação, em outro programa de transferência, o Benefício de Prestação Continuada
(BPC) é gasto 0,6% do PIB, com geração de R$ 1,54 em consumo e R$ 1,19 no PIB. O seguro-
desemprego, cujos gastos alcançam também 0,6% do PIB, rende R$ 1,34 em consumo e R$ 1,09 no PIB.
Pró-pobre
“Isso ocorre porque o programa é pró-pobre, e os pobres costumam gastar maior percentual da renda
familiar mensal do que outras faixas da população”, afirmou Neri.
De acordo com os dados do Ipea, o Bolsa Família reduziu a extrema pobreza em 28% entre 2002 e 2012.
Caso o programa não existisse, o percentual da população vivendo com renda mensal inferior a R$ 70 seria
de 4,9%, ante atuais 3,6%, dado calculado com base nos dados da última Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (Pnad).
Entre 2002 e 2012, o Bolsa Família respondeu, de forma relativa, por 12,2% da queda na concentração de
renda medida pelo índice de Gini. Nesse período, a renda real média entre os 10% mais pobres no país
avançou 120%, contra 26% entre os 10% mais ricos.
Ainda segundo os dados mostrados pelo Ipea, cada real fiscal gasto pelo programa gera um benefício
social 5,2 vezes maior.
O impacto do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que foca idosos e pessoas com deficiência, é de
2,7, e, da Previdência, 1,07. “Para quem, como eu, tem preocupações com o lado fiscal, o Bolsa Família é
um bom programa, porque faz muito gastando pouco”, disse Neri.
O efeito macroeconômico, segundo o ministro, é o maior entre todos os meios de transferência social
praticados, hoje, no Brasil, como seguro-desemprego e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS),
entre outros.
72
Neri frisou, ainda, que o valor gasto em percentual do PIB com o programa é bastante inferior ao
despendido por países da Europa e pelos Estados Unidos — este último, de acordo com o Ipea, transferiu
2% do PIB no ano passado (US$ 315 bilhões) para programas chamados “focalizados”.
A ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), completou dizendo
que ainda há espaço para ampliar o programa e deu como exemplo de inciativas recentes nesse sentido o
Brasil Carinhoso, que beneficia crianças de zero a seis anos e cujos efeitos não foram aferidos pela
pesquisa, que se deteve em dados colhidos até setembro do ano passado.
(Camilla Veras Mota | Valor)
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1 comentário
Arquivado em Economia, Revistas
Marcado como Bolsa Família, IPEA, PIB
21/07/2013 · 15:18
As questões são, invariavelmente, as mesmas de sempre: “o Bolsa Família é bom? É justo? Não é um
estímulo oficial à vagabundagem e à procriação destrambelhada? Não seria melhor deixar de lado essa
política assistencialista, e focar na geração de empregos, verdadeira porta de saída dessa esmola?” e, com
elas, vê-se o tamanho da desinformação (ou má-intenção) e preconceito.
É importante, sempre que temos oportunidade, lembrar que o programa Bolsa Família é voltado para
atender pessoas que vivem com baixíssimos recursos, ou posto de outra forma, na MISÉRIA. Muitas das
famílias beneficiadas pelo programa, caso não recebessem esse dinheiro, teriam alguns de seus integrantes
sob risco iminente de morte, especialmente, os mais vulneráveis: crianças e idosos. Portanto, não restam
dúvidas de que este é um programa emergencial cujo principal objetivo é evitar que pessoas morram
vítimas das doenças provocadas pela fome.
Como bem lembrou Forastieri, “a revista britânica Lancet publicou recentemente estudo que relaciona de
forma conclusiva o Bolsa Família com a queda da mortalidade infantil. Dados de quase 3000 municípios
brasileiros foram utilizados, no período entre 2004 e 2009. A Lancet é a mais tradicional publicação
científica na área de saúde do planeta – existe desde 1823. Nas cidades em que o programa tem alta
cobertura, a queda geral na mortalidade infantil foi de 19,4%. Cruzando o Bolsa Família com causas
específicas de morte, o impacto é ainda maior: queda de 65% nas mortes por desnutrição e 53% nas
mortes por diarreia”. Segue a íntegra do estudo publicado pela revista Lancet.
Diante desses dados, é comum que alguns recalcitrantes ainda tentem jogar a culpa da pobreza extrema que
vivem os beneficiários do programa nos próprios pobres. Vociferam, em geral, contra as mulheres a quem
acusam de terem filhos descontroladamente com o objetivo de garantirem uma renda fixa. Ora, como se
sabe, a coisa não é bem assim. Embora a taxa de fertilidade nas regiões onde se concentra a maior parte
dos benificiários do programa, de modo geral, a taxa de fertilidade do Brasil vem caindo rápido.
Atualmente é de 1,8 filhos por mulher, a mesma que o Chile, menos que os Estados Unidos (1,9). Está
abaixo do nível mínimo de reposição da população (que é 2,1%), como destacou Forastieri em
seu post com dados a partir de um artigo da The Economist.
74
É neste momento que o texto de Forastieri menciona um texto preparado pelo sociólogo Alberto Carlos de
Almeida para o jornal Valor, em maio deste ano. No texto, Almeida compara os benefícios sociais
recebidos por pobres no Brasil, com a gama de benefícios recebidos pelos pobres britânicos dentre os quais
destacam-se:
Bolsa funeral (R$ 2100 para ajudar no enterro de seu familiar, incluindo pagar flores, caixão, uma
viagem de algum parente para o velório etc.)
Bolsa aquecimento no inverno (média de R$ 2400 por mês para ajudar você a se aquecer no
inverno)
Bolsa necessidades especiais (para deficientes ou idosos, até R$ 1500 por mês)
Bolsa cuidador de quem tem necessidades especiais (R$ 720 por mês)
Bolsa aquecimento por painéis solares (até R$ 3600 por mês)
Seguro desemprego (R$ 720 por mês)
O texto é bastante revelador e creio valer a pena a reprodução na íntegra do mesmo tal como foi
republicado no portal do Senado Federal em 31 de maio de 2013.
O recente episódio dos boatos de extinção do Bolsa Família e o impacto coletivo que isso causou, quando
milhares de pessoas em vários Estados correram para as agências da Caixa a fim de sacar o benefício,
motivou falas de políticos e formadores de opinião, uns defendendo e outros criticando essa política social.
A presidente Dilma veio a público em defesa do benefício e disse que não se tratava de pura e simples
distribuição de recursos, como se fosse uma “bolsa esmola”, mas, sim, de uma política social muito bem
pensada. Aécio Neves, futuro candidato do PSDB a presidente, disse que o Bolsa Família foi criado pelo
seu partido. As palavras de Aécio foram muito claras: “Se tivéssemos um jeito de tirar o Bolsa Família,
pegar no berço e fazer o exame de DNA, veríamos que o pai dele é o PSDB”.
Nas duas últimas campanhas eleitorais presidenciais, em 2006 e 2010, o Bolsa Família foi um tema
importante do PT e do PSDB. Não há no Brasil, hoje, uma força política relevante que proponha acabar
com o benefício. O máximo que se propõe é a criação de uma suposta “porta de saída”, isto é, algum tipo
de política social paralela ao Bolsa Família, como medidas para gerar empregos para os beneficiários do
programa, de tal maneira que as famílias, com o passar dos anos, deixem de precisar do benefício. A busca
de uma porta de saída tem a ver com a crítica de que o Bolsa Família não passa de um programa
assistencialista.
Recordar é viver. Em 2006, ninguém menos do que o presidente da Confederação Nacional dos Bispos do
Brasil, d. Geraldo Magela, criticou o caráter assistencialista do programa. O líder religioso afirmou que “o
Bolsa Família é assistencialismo, não é promoção humana. Em alguns casos, o programa estimula as
pessoas a não fazerem nada, em troca de R$ 60, R$ 90 por mês. O que nós [a CNBB] queremos é trabalho
e educação para todos”. Será fácil encontrar os inúmeros críticos do Bolsa Família com base no argumento
geral de que causaria acomodação nas famílias pobres; basta fazer uma pesquisa rápida na internet.
Há no Brasil a concepção predominante de que tudo que vem de fora é melhor do que o que é criado ou
executado aqui. Trata-se do que Nelson Rodrigues batizou de “complexo de vira-latas”, que o dramaturgo
75
definiu assim: “Por “complexo de vira-lata” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca,
voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria
imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”. Para muitos,
o Bolsa Família entra no leque de provas de que somos inferiores. O argumento, nesse caso, é simples: só
mesmo no Brasil se adotaria uma política social que resultaria na acomodação dos pobres face ao trabalho
e à educação.
O Brasil adotaria políticas sociais que resultariam na dependência, ao passo que, por exemplo, o Reino
Unido pós-Thatcher seria o exemplo de dinamismo e de alocação eficiente de recursos. A maioria dos
críticos do Bolsa Família também idealiza o que acontece em outros países. Nada mais distante da
realidade do que achar que somente no Brasil os mais pobres recebem algum tio de auxilio do governo
para sobreviver. Na verdade, o Brasil é um dos países que menos auxílio presta aos mais pobres. Mais uma
vez, o exemplo do Reino Unido é paradigmático: lá existe até mesmo o bolsa funeral.
Isso mesmo. Chama-se, em inglês, “funeral payments”. O bolsa funeral britânico pode ser utilizado para
cobrir despesas com velório, cremação, atestado de óbito, compra do caixão, flores e até mesmo viagem de
parente para organizar o enterro. A quantia por funeral é de até 700 libras. Informações detalhadas sobre o
benefício podem ser encontradas emFuneral Payments. O morto, um dos beneficiários do bolsa funeral,
terá direito a um enterro digno e jamais poderá ser acusado de acomodação causada por uma política
social.
No Reino Unido existe também o bolsa aquecimento no inverno. É como se no Brasil existisse um
benefício do governo para que as pessoas pagassem o ar-condicionado no verão. Para que um britânico
seja beneficiário do bolsa aquecimento no inverno (“winter fuel payment”) não é preciso ser pobre; basta
ser idoso. Ou seja, todos os que têm mais de 80 anos, independentemente da renda, podem receber de 100
a 300 libras no inverno, mesmo se não morarem no Reino Unido. Há também o bolsa clima frio (Cold
Weather Payment), que cada britânico pode solicitar caso a temperatura da região onde mora fique igual
ou menor que zero grau Celsius. Vale também a previsão do tempo. Se, por sete dias, a previsão for essa, a
pessoa pode requisitar o bolsa clima frio. Parece piada que benefícios desse tipo existam no Reino Unido,
mas quem quiser confirmar os encontrará na internet, na página que apresenta todos os benefícios sociais
do governo.
O Reino Unido também tem bolsa família, lá denominado “child benefit”. Trata-se de um benefício para
famílias na qual a renda individual do chefe seja menor do que 50 mil libras por ano. Para cada criança ou
jovem abaixo de 20 anos de idade, desde que matriculado na escola ou em algum tipo de treinamento, o
governo paga 20 libras por semana. Isso é pago para a primeira criança. Para quem tem mais filhos são
adicionadas 13 libras por semana, por criança.
O Reino Unido gasta muito mais do que nós, brasileiros, com numerosos benefícios sociais. Não há a
menor dúvida de que a rede de proteção social deles é bem mais ampla do que a nossa. Sabe-se também
que há correlação entre bem-estar social e, por exemplo, violência. As sociedades menos desiguais e com
as mais amplas redes de proteção social tendem a ter índices menores de criminalidade. Não é possível ter
tudo. Não dá para abolir o Bolsa Família e, ao mesmo tempo, não ter criminalidade elevada. As políticas
repressivas são importantes, mas não resolvem sozinhas a criminalidade, em particular no longo prazo.
Alguns poderão afirmar: no Brasil nada funciona; temos Bolsa Família e a criminalidade ainda assim é
alta. Cabem aqui duas ponderações. A primeira é mais do que óbvia: não fosse o Bolsa Família, a
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criminalidade provavelmente seria muito mais elevada. A outra ponderação tem a ver com a abrangência
da rede de proteção social. Talvez fosse preciso, para diminuir a violência, adotar também o bolsa funeral,
o bolsa ar-condicionado no verão e outros benefícios equivalentes aos britânicos.
Novamente, cumpre sublinhar que é impossível ter tudo. No Brasil de hoje, o combate à inflação por meio
do aumento de juros pode resultar em desemprego mais elevado. Desemprego crescente ou alto resulta em
mais violência. Blindar os automóveis, andar com seguranças e controlar horários e locais frequentados
não resolve tudo ? sem falar que não é uma forma agradável de viver.
É fato que as duas principais forças políticas do Brasil, PT e PSDB, convergiram acerca de várias políticas,
tanto econômicas quanto sociais. Há consenso acerca de que a inflação precisa ser combatida, de que não
se pode dar trégua a ela. Há consenso de que são necessárias políticas sociais como o Bolsa Família. Aliás,
o PSDB criou a Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), que assegura uma renda mínima para os
aposentados pobres. É também consenso que o seguro-desemprego deve ser mantido.
O Brasil, porém, é bem diferente da Europa. Nossa rede de proteção social jamais se assemelhará à
existente nos países europeus. Duvido também que nossa criminalidade se torne um dia tão baixa quanto a
deles. Nosso consenso é diferente do europeu. Em termos de políticas sociais, tudo indica que o Brasil já
está e ficará entre Estados Unidos e Europa. Teremos mais benefícios do que nos Estados Unidos e menos
do que na Europa. Essa é uma escolha social, resultado da interação entre a sociedade e seus
representantes. É isso que faz do Brasil o Brasil.
Alberto Carlos Almeida, sociólogo, é diretor do Instituto Análise e autor de “A Cabeça do
Brasileiro”.
Gostaria de finalizar lembrando que, no fundo, o que está em questão é a escolha de como destinar parte do
dinheiro arrecadado com os impostos. Há quem acredite que distribuir o dinheiro diretamente para as
famílias necessitadas através de programas sociais seja um desperdício do dinheiro público, uma vez que
não esta não é a melhor forma de tirar a pessoa da miséria. Para estes, o governo deveria investir o dinheiro
público em outras áreas, beneficiando outros setores da sociedade. Com relação o fim da pobreza e da
miséria, a solução viria através do investimento maciço em políticas públicas cujos efeitos se dão a longo
prazo, como é o caso da educação. Um dos problemas desta argumentação é que, mesmo considerando que
tudo vai dar certo, enquanto os resultados não se efetivam milhares de pessoas deverão morrer por falta de
uma ação mais efetiva do Estado. Este, manietado pelo liberalismo, deve apenas contabilizar seus mortos e
esperar até que os investimentos realizados surtam algum efeito, gerando lucro para outros setores. Eis
uma das faces cruentas que se escondem por trás do discurso daqueles que se levantam contra os
programas de distribuição de renda.
Para quem não viu, recomendo que assistam o filme Garapa, de José Padilha, o qual deixo o trailler logo
abaixo. Olhem bem para algumas das pessoas que aparecem no filme e reflitam: os programas sociais de
distribuição de renda devem ou não atender a essa população? Você acha que o dinheiro dos impostos não
devem atender a essas pessoas?
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payment, Funeral payment,Great Britain, Inglaterra, PSDB, PT, Social Benefits, UK
03/02/2013 · 16:48
Rema Nagarajan, jornalista do Times India enviada ao Brasil para estudar programas como o SUS e o
Bolsa Família.
Na contramão do que afirma a reportagem da Folha, Rema Nagarajan, jornalista do Times India enviada
para estudar o SUS e o programa Bolsa Família, questiona se um único programa assistencial pode ser
considerado a solução mágica para alívio da pobreza em matéria publicada no Dowser em dezembro de
2012. Para Nagarajan a resposta é NÃO. Segundo a jornalista indiana, atualmente ainda são necessários
outros programas de assistência social para complementar o Bolsa Família e fazer com que ele funcione de
modo eficiente da maneira como está implementado. Segundo ela:
“For Bolsa Familia to work as it is meant to, it is important that government programs such as SUS and
other social assistance programs that provide subsidized electricity, transport and housing also work
efficiently. Otherwise, it would be a typical case of giving money with one hand and taking it away with
another.”
Em tradução literal, Nagarajan disse:
“Para que o Bolsa Família funcione como foi planejado, é importante que programas governamentais
como SUS e outros programas de assistência social que provém eletricidade subsidiada, transporte e
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moradia também funcionem de modo efetivo. Caso contrário, seria um típico caso de dar dinheiro com
uma mão e tirar com a outra.”
Voltando à reportagem da Folha, se não quiser ficar na simples má intenção dos jornalistas que escreveram
a reportagem e do veículo que a publicou, considero, no mínimo, curioso ver a maneira como a reportagem
faz questão de usar a palavra “clientela” para designar os beneficiários dos programas sociais. Ao falar do
Bolsa Família, por exemplo, a reportagem diz:
“A expansão mais aguda de despesas se dá no Bolsa Família, que paga benefícios não vinculados ao
salário mínimo a uma clientela cadastrada pelo governo entre famílias pobres e miseráveis. (…) Em
consequência, a despesa com a clientela de 13,9 milhões de famílias saltou de R$ 13,6 bilhões, no fim do
governo Lula, para R$ 20,5 bilhões no ano passado.”
Não precisa ser muito esperto para perceber a evidente a intenção por trás de afirmações como estas. Ao
identificar os beneficiários de programas sociais com a palavra “clientela”, os autores da reportagem
pretendem associar os programas de Dilma com a prática política do clientelismo, isto é, a troca de favores
na qual os eleitores são encarados como “clientes”.
Como bem disse o amigo historiador José Miguel Marcarian Júnior:
“(…) clientela, anômalo, e o gráfico, como disse um amigo, transformando dois pontos percentuais em um
abismo gráfico. Agora, se o desemprego diminui, mais gente deixa de ser informal, mais gente contribui e
mistura no mesmo saco direitos [conquistados após] décadas [de lutas] com conquistas desse governo.
A matéria tenta dar a entender que por apenas dois reais, tecnicamente, o miserável não deixa de sê-lo. O
jornalista seria (…) um tolo burguesinho burro que não sabe que com dois reais se compra um quilo de
farinha e um quilo de farinha é mais que nenhum quilo de farinha.”
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Marcado como Assistencia Social, Bolsa Família,Dilma, Dowser, Folha de S.Paulo, Rema
Nagarajan, Times India
20/10/2012 · 08:00
80
Números como os famosos e impactantes 30 milhões de brasileiros que foram retirados da pobreza
absoluta, ou então, as menos conhecidas, mas não menos importantes, 11.433 famílias que, embora
recebam o benefício, seguem trabalhando e não se acomodaram com o valor recebido pelo programa,
como gostam de acusar os detratores do Bolsa Família.
Abaixo segue a íntegra da reportagem para que possam ler, mas recomendo que visitem o site e leiam as
matérias dos links adicionais para terem uma visão completa do assunto. Aos que criticam o programa
Bolsa Família sob o argumento de que ele estimula o beneficiário à indolência ou que ele não ajuda a
mudar a condição de pobreza de quem o recebe, parece que terão que rever sua argumentação.
As cenas gravadas na memória de Cleiton representam a vida de milhares de outros brasileiros pobres e
famintos, principalmente, no nordeste do Brasil. A morte do pai quando ainda criança completou o cenário
de adversidades e forçou a mãe a buscar o sustento da família em São Paulo. Mesmo assim, as dificuldades
não diminuíram para ele, a irmã, a tia e os avós.
81
A perspectiva de uma vida melhor surgiu apenas quando a família se tornou beneficiária do programa
Bolsa Família, em 2003. À época recebiam 68 reais. “Para muitas famílias que não possuem nada, esse
dinheiro é uma fortuna. Não dá para viver apenas disso, mas te ajuda a procurar outros rumos, como pagar
a condução para procurar um trabalho”, conta o jovem, que há dois anos deixou voluntariamente de
receber o auxílio quando sua renda aumentou.
Desde que foi lançado, há cerca de oito anos, o Bolsa Família ajudou a retirar cerca de 30 milhões de
brasileiros da pobreza absoluta. E jovens como Cleiton fizeram com que o programa superasse uma série
de previsões simplificadores, como a de que estimularia seus beneficiários a manterem-se desempregados
para receber ajuda estatal. Conforme mostra a segunda rodada de Avaliação de Impacto do programa,
realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) com 11.433 famílias, beneficiárias ou não,
em 2009, isso não ocorreu.
Ao considerar uma faixa de 18 a 55 anos de idade, a parcela de pessoas ocupadas ou procurando trabalho
em 2009 era de 65,3% entre os beneficiários e 70,7% para os indivíduos fora do programa. Analisando
pessoas entre 30 e 55 anos, a porcentagem é de cerca de 70% para ambos os grupos. O índice de
desemprego também é semelhante nos dois grupos.
Cleiton superou a pobreza para fazer o caminho inverso: passou de beneficiário a gestor do programa em
Minador do Negrão, em Alagoas. Hoje, a família vive com uma receita de dois salários mínimos. Parte
dela investida na educação do jovem, estudante do segundo ano de História na Universidade Estadual de
Alagoas. “Pretendo me formar, ascender na vida e ter uma profissão. O meu sonho é poder continuar a
fazer algo por quem precisa.” Mas para chegar a esse quadro, o auxílio de 68 reais foi fundamental para
permitir que a família se alimentasse melhor e que as crianças continuassem na escola.
Os dados mais recentes, de setembro de 2011, indicam que cerca de cinco milhões de famílias deixaram de
receber o benefício desde sua criação. Os principais motivos para esses desligamentos foram a falta de
atualização cadastral e a renda informada pelo beneficiário acima do permitido, o que ocorre em 1/3 dos
casos. Mas, segundo o MDS, desde 2010 a família pode registrar uma alteração de rendimentos desde que
dentro do padrão de até ½ salário mínimo para continuar no programa por mais dois anos.
Uma medida adotada porque essa população trabalha com um rendimento instável no mercado informal.
“As famílias precisam saber que podem contar com o programa, pois, segundo estudos, o seu rendimento
em um mês pode variar de um salário mínimo para 100 reais” explica Leticia Bartholo, secretária nacional
adjunta de Renda e Cidadania do MDS.
No segundo semestre de 2011, também foi criado o mecanismo do desligamento voluntário com retorno
garantido. A ação visa impulsionar as famílias que acreditam possuir condições de deixar o programa a
comunicarem as autoridades que não precisam mais do benefício. Elas podem, porém, voltar a receber caso
sua situação piore. “Essa regra permite que se arrisquem no seu engajamento produtivo com um colchão de
segurança de renda.”
82
O recebimento dos repasses do Bolsa Família varia de 32 a 306 reais mensais, segundo critérios como a
renda mensal per capita da família e o número de crianças e adolescentes de até 17 anos. O programa, que
tem orçamento de 20 bilhões de reais para 2012 – cerca de 0,5% do PIB – e atende mais de 13 milhões de
famílias no País-, está condicionado ao cumprimento de diversos fatores pelos beneficiários. Entre eles, a
frequência mínima de 85% às aulas para crianças de 6 a 15 anos e 75% para jovens de 16 e 17 anos. Em
2011, 95,52% dos beneficiários cumpriram a cota mínima de presença exigida.
E foram além. No ensino médio público, alcançaram em 2010 o nível de aprovação de 80,8% contra 75,1%
da média. A evasão escolar também foi baxia: 7,2% para os beneficiários e 11,5% na média.
O caminho da educação foi trilhado por Cleiton e faz parte dos planos do MDS para os demais auxiliados
pelo programa. Em parceria com outra ações do governo, o ministério tem programas para qualificar
beneficiários maiores de 18 anos para trabalhar em obras do PAC, por exemplo, por meio de vagas do
Sistema Nacional de Emprego (SINE). O PlanSeQ Bolsa Família é uma tentativa de traçar uma ligação
entre o auxílio social e o mercado de trabalho, tentando atender à demanda de mão-de-obra qualificada
para as vagas criadas pelo crescimento econômico e para as necessidades regionais. Entre os cursos
oferecidos estão os de azulejista, pintor e carpinteiro.
Cleiton pulou essa etapa, mas ainda não superou todas as barreiras para vencer a pobreza: a faculdade fica
a 40 minutos da cidade onde mora. “Chego tarde e trabalho cedo, mas nada substitui a vontade de vencer.”
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Marcado como Bolsa Família, Carta Capital, Pobreza, Política Pública,Programas Sociais, Transferência
de Renda
23/03/2012 · 00:36
83
Mensagem contra benefícios e programas sociais do governo que está sendo amplamente divulgada pelas
redes sociais.
Em um esforço para tentar compreender como, em sã consciência, estes amigos puderam levar adiante essa
vergonhosa crítica aos programas sociais mencionados na imagem, cheguei a algumas reflexões que
entendo valer à pena compartilhar com os leitores do meu blog. Espero que possam perdoar-me pela
extensão do post, que acabou ficando um pouco maior do que eu esperava.
A explicação que acredito ser a mais plausível para que esta crítica encontre apoio de boa parte da
população, está ligada ao poder de influência de grupos religiosos, em especial católicos e protestantes, no
pensamento crítico de seus fiéis e familiares. Influência que também pode atingir os não fiéis, já que as
ideias de tais grupos são amplamente repercutidas em função do grande poder político e econômico que
detém. Estou falando aqui das “bancadas evangélicas” na Câmara dos Deputados e no Senado, dificultando
a aprovação de leis que fariam do Brasil um Estado laico de fato; estou falando dos inúmeros veículos de
comunicação (Rede Record, Rede Globo, Rede Vida, Bandeirantes, etc. etc.), estou falando de redes de
universidades (PUC, Mackenzie, Metodistas, Anhanguera, UniSA, etc) e escolas (católicas, adventistas ou
evangélicas) que garantem desde o ensino fundamental a educação de valores religiosos nas crianças que,
na vida adulta, serão difíceis de abandonar. São dessas influências que estou falando.
84
Nem mesmo propostas como a do planejamento familiar, adotada há décadas pela classe média
conservadora, preocupada apenas com suas economias e posição social, conseguiram quebrar alguns
valores religiosos bastante retrógrados incutidos na cabeça do cidadão brasileiro. Sendo mais explícito,
para quem faz parte da classe média o planejamento familiar não é mais uma questão a ser discutida, mas
para os pobres que não tem recursos para comprar métodos contraceptivos, o uso da camisinha e da pílula
do dia seguinte não deve ser estimulado por programas governamentais. Já me acusam por aqui de
promover o debate da luta de classes em pleno século XXI, mas digam-me como não encarar a situação
que acabei de colocar como um instrumento de exploração de uma classe por outra?
BOLSA FAMÍLIA
Aqui a conversa já é outra. O ódio dos criadores da mensagem é voltado contra os pobres, tanto como as
outras, mas nesse caso a um pobre em específico, que teve a audácia de se tornar presidente da República
Federativa do Brasil (e não Estados Unidos do Brasil, viu Serra?). Estamos falando de Luís Inácio Lula da
Silva que ampliou o acesso do Bolsa Família, transformando-o no maior programa de distribuição de renda
da história, tirando milhões de brasileiros da miséria absoluta.
Segundo o site do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, responsável pelo programa:
“O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades, que beneficia
famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. O Programa integra o Fome Zero que tem como
objetivo assegurar o direito humano à alimentação adequada, promovendo a segurança alimentar e
nutricional e contribuindo para a conquista da cidadania pela população mais vulnerável à fome.
O Bolsa Família atende mais de 13 milhões de famílias em todo território nacional. A depender da renda
familiar por pessoa (limitada a R$ 140), do número e da idade dos filhos, o valor do benefício recebido
pela família pode variar entre R$ 32 a R$ 306″.
Portanto, conforme descrito pelas regras do Bolsa Família, um grupo famíliar pode receber NO MÁXIMO
R$ 306,00. Como sabemos, valor insuficiente até mesmo para garantir o proposto pelo próprio programa
que, não custa relembrar, é a segurança alimentar e nutricional para a conquista da cidadania pela
população mais vulnerável à fome. Tal informação revela o quãomentirosa e maldosa é a frase: “Teve
filho? O governo dá o bolsa família”.
Quanto ao valor máximo de R$ 306,00 do bolsa família, apenas para podermos ter uma ideia do poder de
compra deste benefício, há três dias foi anunciado que o valor da cesta básica em São Paulo passou a R$
334,11 e, portanto, maior do que o valor máximo que uma família pode receber pelo tão falado programa
de transferência de renda. A pesquisa da Cesta Básica Nacional, também conhecida como Ração
Essencial Mínima, é realizada pelo Dieese, de onde retirei a tabela abaixo com as provisões mínimas para
o cálculo do valor da Cesta Básica.
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O curioso é que, de maneira geral, todas as pessoas se dizem favoráveis ao direito humano à alimentação
adequada e, portanto, à vida. Contudo, como diz o George Carlin aí abaixo, o direito à vida parece mesmo
ser defendido apenas enquanto você ainda está na “barriga” da mamãe, pois depois que você nasce, as
mesmas pessoas que fazem esse discurso hipócrita pró-vida se recusam a distribuir renda para quem não
tem o suficiente para garantir sua própria subsistência. Estes são os primeiros a te acusarem de vagabundo
e, aos que criaram o programa, de populistas.
AUXÍLIO RECLUSÃO
Aqui a questão é de pura má fé dos criadores da mensagem e de ignorância de quem a compartilha. O
auxílio reclusão é um benefício previdenciário concedidoaos dependentes do segurado de baixa renda
que tenha sido preso e não receba nem auxílio-doença, nem outra aposentadoria, nem alguma remuneração
da empresa na qual trabalhava. Para quem quiser discutir o assunto, por favor, não deixem de ler as
informações prestadas no site do Ministério da Previdência Social (isso é o mínimo).
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A Previdência Social é um SEGURO pago por cada TRABALHADOR DE CARTEIRA
ASSINADA para o caso de ocorrer algum dos FATOS PREVISTOS NA LEI (alcançar idade avançada,
restar incapaz para o trabalho, falecer ou mesmo, ser condenado e preso). Ou seja, trabalhadores que
contribuem com a Previdência Social, tem o direito de receber o benefício quando um dos fatores previstos
na lei ocorrer. Assim, o dependente do preso que recebe o “auxílio-reclusão” está recebendo, na verdade,
valor referente ao que já foi contribuído pelo beneficiário enquanto trabalhador. Não se trata de
generosidade do governo, mas sim o pagamento de um contrato previamente estabelecido entre as partes e
devidamente previsto na legislação.
Além da má fé ao ocultar a questão do seguro a que nos referimos acima, a mensagem contém uma mentira
nojenta que é a de que o valor que o segurado recebe varia de acordo com o número de filhos que ele
possui. O valor a ser pago obedece às regras da previdência social e, assim como no caso das
aposentadorias por tempo de serviço, viuvez ou invalidez, NÃO VARIA DE ACORDO COM A
QUANTIDADE DE FILHOS DO SEGURADO!!!!
Por fim, ainda que fosse um programa de distribuição de renda concedido pelo governo, e não um seguro,
entendo que seria legítimo a concessão de um salário a cônjuge/filhos menores de presidiários que, sem a
presença do pai/mãe, tem o sustento e garantia de sua vida bastante comprometidos. Basta olhar o que
apontam as estatísticas de crianças que crescem em lares desestruturados pela prisão do pai/mãe e pela
falta de recursos. De uma perspectiva puramente econômica pergunto: será que o dinheiro gasto pelo
governo com os problemas decorrentes da desestruturação de famílias pela prisão de um de seus
provedores não é maior do que o que seria gasto em um auxílio-reclusão? Se colocarmos esta mesma
questão sob uma perspectiva um pouco mais humanista, será que se o governo fosse eficaz em garantir
condições de qualidade de educação, saúde e subsistência digna das famílias dos encarcerados isso não
traria resultados positivos para a sociedade como um todo? A resposta parece bastante óbvia!!!
O que parece incomodar as pessoas que compartilham nas redes sociais este tipo de mensagem [e é
justamente o que explora quem criou a mesma] é a possibilidade de que pobres possam viver de benefícios
sociais enquanto eles tem que trabalhar e pagar os impostos que sustentariam estes indivíduos. Oras, tal
pensamento revela um desconhecimento enorme de como os impostos são arrecadados no Brasil. O ICMS,
para ficarmos em apenas um exemplo, é um imposto do qual não há como escapar por taxar justamente o
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consumo e seus efeitos são muito mais perversos para os pobres que, com poucos recursos, acabam tendo
uma porcentagem muito maior de seu dinheiro consumida por este imposto.
Além disso, acreditar que alguém opte voluntariamente por viver na linha da miséria apenas para explorar
os benefícios sociais concedidos pelo governo é algo tão fora da realidade que chega a ser doentio. Pessoas
que acreditam nisso verdadeiramente, sequer podem imaginar como é viver com baixíssimos recursos, sem
nenhum conforto e com muitos filhos para alimentar. NÃO! A MAIORIA DAS PESSOAS que vivem com
benefícios sociais, como o Bolsa Família, não são bandidos. São aposentados, inválidos ou pessoas cuja
atividade profissional não chegam a um salário mínimo. Trabalhadores rurais, empregadas domésticas e
uma série de outras profissões desvalorizadas e tão necessárias no nosso dia-a-dia (os professores no RS
estão quase lá). Ao contrário do que pensam os que divulgam essas mensagens, boa parte dos beneficiários
passam a maior parte do dia trabalhando e, ainda assim, para o seu desespero, não conseguem recursos
para garantir a subsistência de suas famílias. Sem o auxílio dos benefícios sociais, a vida de muitos
integrantes dessas famílias estaria totalmente comprometida.
Deste último livro que mencionei, gostaria de destacar como foi marcante
para mim quando li as primeiras páginas daIntrodução, escrita por Marilena Chaui. Aqui, transcrevo
apenas as três primeiras páginas (9-11) para despertar o interesse da leitura:
“A preguiça, todos sabem, é um dos sete pecados capitais.
Ao perder o Paraíso Terrestre, Eva e Adão ouvem do Senhor as terríveis palavras que selarão seus
destinos. À primeira mulher, Deus disse: ‘Multiplicarei as dores de tua gravidez, na dor darás à luz filhos.
Teu desejo te leverá ao homem e ele te dominará’ (Gn, 3:16). Ao primeiro homem, disse Jeová: ‘Maldito é
o solo por causa de ti! Com sofrimentos dele te nutrirás todos os dias de tua vida [...]. Com o suor de teu
rosto comerás teu pão, até que retornes ao solo, pois dele foste tirado. Pois tu és pó e ao pó retornarás’
(Gn,3:17-19).
Ao ócio feliz do Paraíso segue-se o sofrimento do trabalho como pena imposta pela justiça divina e por
isso os filhos de Adão e Eva, isto é, a humanidade inteira, pecarão novamente se não se submeterem à
obrigação de trabalhar. Porque a pena foi imposta diretamente pela vontade de Deus, não cumpri-la é
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crime de lesa-divindade e por essa razão a preguiça é pecado capital, um gozo cujo direito os humanos
perderam para sempre.
O laço que ata preguiça e pecado é um nó invisível que prende imagens sociais de escárnio, condenação e
medo. É assim que aparecem para os brasileiros brancos as figuras do índio preguiçoso e do negro
indolente, construídas no final do século XIX, quando o capitalismo exigiu a abolição da escravatura e
substituiu a mão-de-obra escrava pela do imigrante europeu, chamado trabalhador livre (curiosa
expressão numa sociedade cristã que não desconhece a Bíblia nem ignora que o trabalho foi imposto aos
humanos como servidão!). É ainda a mesma imagem que apare na construção, feita por Monteiro Lobato
no início deste século, do Jeca Tatu, o caipira ocioso devorado pelos vermes enquanto a plantação é
devorada pelas saúvas. Nesse imaginário, ‘a preguiça é a mãe de todos os vícios’ e nele vêm inscrever-se,
hoje, o nordestino preguiçoso, a criança de rua vadia (vadiagem sendo, aliás, o termo empregado para
referir-se às prostitutas), o mendigo – ‘jovem, forte, saudável, que devia estar trabalhando em vez de
vadiar’. É ela, enfim, que força o trabalhador desempregado a sentir-se humilhado, culpado e um pária
social.
Não é curioso, porém, que o desprezo pela preguiça e a EXTREMA VALORIZAÇÃO DO TRABALHO
possam existir numa sociedade que não desconhece a maldição que recai sobre o trabalho, visto que
TRABALHAR É CASTIGO DIVINO E NÃO VIRTUDE DO LIVRE-ARBÍTRIO HUMANO? Aliás, a ideia
do trabalho como desonra e degradação não é exclusiva da tradição judaico-cristã. Essa ideia aparece em
quase todos os mitos que narram a origem das sociedades humanas como efeito de um crime cuja punição
será a necessidade de trabalhar para viver. Ela também aparece nas sociedades escravistas antigas, como
a grega e a romana. [...], vendo o trabalho como pena que cabe aos escravos e desonra que cai sobre
homens livres pobres: [os humiliores (humildes)]“.
A partir da página 12, Marilena Chaui dedica-se a responder as questões propostas por suas reflexões, isto
é, como e quando o horror pelo trabalho transformou-se no seu contrário? Quando e por que se passou ao
elogio do trabalho como virtude e se viu no elogio do ócio o convite ao vício, impondo-se negá-lo pelo
neg-ócio?
Para responder as questões acima, Marilena Chaui parte de uma breve análise da obra mais
conhecida do sociólogo Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, que trata da relação
entre o capitalismo e a posição do trabalho como virtude, para concluir com a contribuição que Paul
Lafargue deu, com seu Direito à Preguiça, para complementar a lacuna da obra de Weber, que “por
ignorar deliberadamente a formação histórica do capitalismo e a luta de classes, não indaga se a ética
burguesa é racional para os produtores de capital, isto é, a classe trabalhadora, tampouco indaga como
essa ética conseguiu tornar-se ética proletária. É disso que trata O Direito à Preguiça”, conclui Chaui.