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Apêndice
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-352-2883-0
QUESTÕES CAPÍTULO 6
1. Qual das seguintes afirmações não corresponde a uma descrição da situação
fiscal ou do contexto macroeconômico no período 1981/1994?
a) Foi uma fase caracterizada por uma estagnação contínua da
As Finanças Públicas na Fase de
economia ao longo de todo o período. Estabilização: 1995/1998
b) O período posterior a 1986 caracterizou-se pela observação de
taxas de inflação superiores a 1.000% ao ano em quase todos os anos.
c) Devido à elevada inflação, os mecanismos de indexação "A crise consiste no fato de que o velho morreu sem que o novo tenha tido ainda condições de nascer."
tributária foram sucessivamente aperfeiçoados ao longo do período. (Antônio Gra msci, pensador italiano)
d) Em que pese a tese de que o déficit público causa o aumento "A noção de 'restrição orçamentária fraca' (soft budget constraintj refere-se à tendência ao relaxamento
da disciplina financeira, ao enfraquecimento da idéia de que o gasto e a expansão dependem da receita e não
dos pre ços, a alta inflação do início dos anos 1990 parece ter
do financiamento de terceiros."
colaborado para diminuir o déficit operacional do setor público.
(Janos Kornai, economista)
2. Nas discussões do Brasil com o FMI, por ocasião das negociações que levaram
ao acordo que começou a vigorar em 1983, um dos pontos mais discutidos
era o fato de que a redução do subsídio ao trigo - que tinha cer ta relevância
na época -, paradoxalmente, iria elevar o déficit público, no ron.ceit.o
tradicionalmente utilizado pelo FMI. Você pode explicar por quê?
3. Uma das frases mais comuns, no final dos anos 1980, era de que "qual quer No capítulo anterior, argumentamos que a tese de que a queda da inflação
plano de estabilização, para ser bem-sucedido, deve se basear no tripé levaria inevitavelmente a uru aumento do déficit público deveria ser melhor
política fiscal dura/política monetária austera/política de rendas". qualificada. Um fato, de qualquer forma, .é inegável: com inflação alta, as au-
Desenvolva o argumento. toridades - treinadas ao longo de anos de convivência com a alta de preços -
podiam obter resultados operacionais "bons", mediante o expediente de sim-
4. Quando a oposição conquistou o poder, no Chile, com o fim do governo plesmente adiar a liberação da despesa, até que esta, em termos reais, fosse
militar dos anos 1970 e 1980, houve uma preocupação muito grande em corroída pela inflação. Depois do início do plano Real, essa possibilidade deixou
preservar certas linhas gerais da política econômica então vigente. Quais de existir, já que os recursos liberados em um mês tinham praticamente o mesmo
são as duas grandes diferenças entre essa experiência bem-sucedida de valor real que no mês anterior. Isso representou uma verdadeira revolução para
transição para a democracia e o que ocorreu com a economia no Brasil, um setor público acostumado - e viciado .- a operar erre= regime quase
nos anos 1980? Focalize o tema das contas fiscais. hiperinflacionário. Negar o atendimento às demandas tornou-se então muito
5. Quais foram as principais causas da deterioração das contas públicas nos mais difícil para as autoridades e a própria "desindexação" dessas demandas
anos 1980? (Sugestão: Compare com os anos 1970, usando os dados das demorou a ocorrer. Era necessário passar a negociar em outras bases e era natural
Contas Nacionais.) que, no início, nem quem reivindicava, nem o setor público estivessem
6. Suponha uma despesa nominal mensal de Cr$1 milhão, feita ao longo de 12 preparados para isso.
meses, em uma situação de preços estáveis. De quanto é o valor real da queda Até 1994, era comum se ouvir que a inflação e o desequilíbrio fiscal refle tiam
desse mesmo desembolso nominal, no período completo de 12 meses, a inconsistência entre a soma das demandas sociais dos diferentes setores da
comparativamente à situação anterior, em uma situação de inflação de 5% sociedade, devidamente expressas no orçamento, de um lado; e a disposição
ao mês? (Sugestão: Faça 1.000.000 / 1,05 para calcular o valor real do dessa mesma sociedade de arcar com o custo dessas despesas, através da
primeiro mês e compare os valores anuais.) tributação, de outro. O déficit -,,,,e,, nuitos argumentavam até então, a inflação -
surgiria assim como -a conseqüência natural de uma equação -gocioeconômica que
7. Voc'eèõncorda com a afirmação de que "o plano Real -foi lançado sem que
combinava a abundância de direitos com a escassez de finan, ciamento para
seus alicerces tenham sido plenamente construídos"?
atender a todos eles.
134 FINANÇAS PÚBLICAS ELS EVIER A MOEDA BRASILEIRA NO PÓS-GUERRA
Depois de 1994, a inflação cedeu drasticamente e, em 1998, praticamente Um dos problemas mais difíceis com os quais o economista
chegou a desaparecer. Os termos daquela inconsistência, porém, não se alte - brasileiro se depara às vezes é entender o significado de certas variáveis
raram substancialmente. Até o plano Real, a diferença entre as demandas so - expressas em termos nominais, em moedas que Mudaram algunias vezes des -
ciais e a disposição da sociedade para ser taxada (a) espelhava-se em déficits de o ano ao qual a variável se refere. Com o intuito de fáCilitar
elevados - até 1989 - cobertos pela receita de senhoriagem; ou (b) na primeira conversões por parte dos alunos interessados .que algurn dia -se defron-
metade dos anos 1990, era "escondida" por uma inflação elevada, que permitia
"atender" às demandas nominais e, ao mesmo tempo, gerar um resultado fiscal
' -tem com alusões a Moedas de outras épocas, segue abaixo uma eSpécie de
"guie das alterações monetárias realizadas nó Brasil ao longo das III
operacional próximo do equilíbrio. Com a estabilização, a continuidade da
referida inconsistência gerou como resultado uma tendência ascendente da
Denominação Período de vígênCia Pariderfe'em relaçào à moeda anterior_
relação dívida pública/PIB, embora atenuada pelas receitas da desestati zação,
que permitiram, durante um curto período de tempo, sustentar défi cits Cri zeiro (Cr$) 01.11.1942 a 12.02.1967
timas 1.000 réis = 1 cruzeis6
elevados, sem que essa relação crescesse na intensidade que caberia espe rar se cruZeiro novo (Ner$) 13.02.1967 a 14.05.1970 1.000 cruzeiros 1 cruzeiro novo
não houvesse privatização. Esse expediente, porém, por definição, tenderia a ter Cruzeiro (Cr$) 15.05.1970 a 27.02.1986 1 cruzeiro novo .-=1 cru/oiro
uma duração limitada no tempo e se esgotaria quando os ativos a serem CrtJ400 (Cz$} 28.02.1986 a 15.01.1989 1.000 cruzeiros --e 1 cruzado
privatizados já tivessem sido vendidos. Qual será o desfecho desse desequilíbrio,
Cruzado novo (NCr$) 16.01.1989 a 15.03.1990 1.000 cruzados =:.. 1 cruzado novo.
é algo que talvez só ficará claro na década de 2000. No momento, porém, . 1 cruzada novo = 1 cruzeiro
Cruzeiro (Cr$) 16.03.1990 a 31.07.1993 .. .
interessa-nos entender o que aconteceu com as finanças públicas bra sileiras . .
CrliZeig) real (CR$) 0.08.1993 a 30.96.1994 1.000 cruieiiOS,.::::,,;-,.,:,-1. OrtrZkirn:re
entre 1995 e 1998. . . . .
Real (R$) Desde 01.07.1994 2.750 -cruzeiros reais --.1 real .. '-_
O paradoxo da estabilidade provavelmente preferido adiar a deflagração do plano, até que se criassem as
condições fiscais supostamente favoráveis ao êxito do mesmo.
O fato de, apesar disso, ao longo dos quatro anos posteriores a 1994, a in -
Se alguém com uma bola de cristal assegurasse em meados de 1994 que o re -
flação ter caído continuamente, a ponto de se igualar à inflação dos países de-
sultado primário do setor público consolidado a partir de então ia piorar con-
senvolvidos em 1998, é um dos temas de pesquisa mais interessantes que se
secutivamente ao longo dos três anos seguintes e que ó déficit nominal médio
pode tentar explorar no Brasil nos próximos anos.. análise das causas da
- que, já com inflação baixa, se tomou mais próximo do operacional - iria ser
queda da inflação no período é algo que foge aos estreitos limites deste livro,
da ordem de 6% do PIB nos quatro anos seguintes, certamente a opinião da
mas está ligada à combinação dos seguintes elementos:
maioria dos economistas teria sido de que, nessas circunstâncias, um plano
de estabilização estaria condenado ao fracasso. Em tal caso, essa maioria teria A fase de transição representada pelos quatro meses de
convivência da população com a LTRV, que permitiu uma acomodação
1
A comparação entre os dados posteriores ao Plano Real -1995 em diante e o ano de 1994
dos preços relativos, ausente nos planos anteriores de estabilização.
-
fica prejudicada pelo fato de que em 2007 o IBGE fez uma revisão da série histórica do PIB
nominal desde 1995 - inclusive - constatando para o primeiro ano da série revista um valor O maior grau de abertura da economia, com a conseqüente
nominal do PIE 9% superior ao do dado originalmente divulgado. Com isso, variáveis ex-
pressas em termos nominais ficaram proporcionalmente quase 10% inferiores, em termos pressão que isso representava em termos da concorrência dos
relativos, ao percentual do PIE que tinham assumido até então. É isso que explica por que produtos importados, como fator inibidor dos reajustes de preços.
diversos indicadores mostram uma queda da participação de receitas e despesas - além da
O papel da âncora cambial como "balizadoe .de
dívida pública comparativamente ao PIB entre 1994 e 1995. Estamos cientes de que o fato
-
não deixa de representar uma forma de distorçãp. Por outro lado, não podendo "inventar" expectativas.
um valor do PIB para 1994 e dada a importância de expressar uma série de variáveis como
proporção do PIB, em diversas tabelas do livro optamos por apresentar os dados com os valores
9
O e-CeepCiOnal dasieseivas cambiâiS, suficfente para dar credib' '-
dade à âncora cambial.
da sétie oficial do PIB, portanto coma quebra entre 1994 e 1995, Mesmo sabendo que a
comparação entre - esses dois anos pode induzir a eCiãíNiCiéade interpretaçã6. De qualquer
forma, a distorção fica diluída quando se trata da comparação entre anos distantes no tem -
po, como, por exemplo, 1994 e 2006.
AS FINANÇAS PÚBLICAS NA FASE DE ESTABILIZAÇÃO: 199511998 135
136 FINANÇAS PÚBLICAS ELSEVIER AS FINANÇAS PÚBLICAS NA FASE DE ESTABILIZAÇÃO: 1995/1998 137
responsável pela deterioração das NFSP. No final do primeiro governo Ano DéfiCrt operacional (a) ' Défic1t Pilinãrio (a) Jikos reais
Fernando Henrique Cardoso, entretanto, os juros tiveram uma participa -
1994 -1,1 -5,2 4:1
ção muito maior na explicação da evolução das NFSP, como se pode ver ao
1995. 4,6 .3 43
"
comparar os dados dos juros e do resultado primário de 1997 com os de
1996 3,5 0,1
1998, na Tabela 6.1. 4,0 0,9 3,1
1 6,9 0,0
1999987
TABELA 6.1
Necessidades de Financiamento do Setor Público (p)( -)= Superávit.
NFSP 1994/1998 {% PIB} Fonte: Banco Central.
Composição 1994 1995 1996 1997 1998 3114% 3 % e 6,9% do PIB em 1995; 1996 9 comouni, Stp9e”.":v-oarn. -^:n-t-'--- ''• . - .
NFSP 26,97 6,66 5,41 5,64 6,99 _, _A ; d_e i spesa de juros reais e dol 9Setor públic. riil foi rl ..d. oi o/_
98 ré :: : 1-
Governo Central 10,16 2,19 2,36 2,44 4,62 diferençacomrelaçãoao resultado nOrniri;199aI7 f ci i, . 9i4 kp in ,C1 e 2%;:1-_,e9-%Ar-
Estados e Municípios 12,07 3,26 2,49 2,79 1,88 1,6 % e 0,1% do PIB, rios mesmos anos : Essa diferença é l'Sütianie da
Estados n.d. n.d. n.d. n.d. 1,68
fiação e do tarnarilio da; dívida. Corno aqUela r6Pêãêiáiàs,.'ãã a v ia t o . ,
E m 1 9 9 8 e nt r e c ) . i U t o s nominais é
a
As principais fontes de piora fiscal dos estados, depois de 1994, foram ba- ELSEUsEt
sicamente duas: lições de fazê-lo, deixa_ndo o banco em situaçãodifi• cii e-tê).cicVevOJ-i til_ . : .
4' O aumento inicial do gasto com o funcionalismo, associado à conces- . mente, que apelar ao redesconto do Banco centráL Um banco pri vado
são de generosos reajustes salariais, em alguns poucos casos por par te a 9_.::teói.aicdoarrdeseg-z.d14.artit:nybtezo/r.ád,erii,_.sc09n.,.Oa écio: . ,.;p:
das administrações que estavam acabando no final de 1994 e na
maioria dos casos por parte das novas administrações que assumi - ã i_rË,..,1scl_:foli..:::g::eií:'"A:eR::g;::á::le:- dação desse-:.
ram em 1995. _ .
O peso crescente dos inativos na composição da folha de pagamento problemas que, muitas
dos estados, resultado da combinação de: (a) regras de âmbito nacio -
nal favoráveis à passagem para a inatividade em idade precoce, "
,.ii :atiçiátsihq.étieein
,
..:,3..7..,.:: ar4:9j1,:'__Pibiit:.:15ci;áfi:'-:éi4-1i:611.g,Ig:::."1:ii9,1. !
como a aposentadoria às professoras - que respondem por uma par te
importante da folha dos estados - aos 25 anos de serviço e (b) re gras 4 i è
específicas que premiam certas categorias, com base em legislação sf é: 9 : ..,:g:á:s'leli:ril.:11:., 6::,...'.11:::
estadual.
Em que pese o fato de que os estados são unidades independentes para , .geravmarnropraobalo'v. ..iii:' função a. ' ':::.r. eitaillaa:nO.:S-
decidir onde alocar os seus recursos, não são autônomos para se endivida -
rem, já que a sua capacidade de financiamento está em parte condicionada s s":;.:átil..b'r.;.,, .,.''11::::1111:1.'","'
a normas que dependem do Senado Federal e das autoridades centrais. c i .
Nesse sentido, ao longo do período 1995/1998, o governo federal foi aper- sem ne se f, o convertiamr , e : ei.itr....aissinse0mbtverdadeirasviv, è. ,..ç...à:,0.4.. .,,.p.i,,..,,, . : fflçci.;-',..t£2.-'' '.
feiçoando os seus mecanismos de controle sobre o déficit estadual e muni - " ... - 11titUiç-
-';'.-
cipal, embora em alguns casos os resultados disso só serão visíveis a mé - P ar a d
. QuaPdo 4 gt ã 'Vi d ::;e: 9 à
:
e er . " situaçãoj sq11 11 cetil - i âi'"
j" a .a :c a: :; á d l : :: 11::: :d: a..s -
i:Ni 6 U :a ; a ii; : : :t i d è i fi é d. : :ai :- i al...
dio prazo. às . . . ,.iit.e.yença,0 titàii ., ,.. „ „.—.,,. , : . :- 0-sée. ::: nos.
Entre as mudanças que merecem ser citadas, encontram-se: priMeiros .anOS. da década de 1990 .ã dodoCar,d4~ifciSeifia:éS..;.::';'. adi uso
e O fim do uso dos bancos estaduais para o financiamento dos tesouros dos bancos éáfaduais:corn:finSinade4ta' 00',9ii4tç:Og0:7:4--Á,',:'-''-
estaduais, seja por via da privatização ou da sua transformação em tadi.i.aiSpasSarariva'i. 1 átitUir:Os-f 0"1)0, .1.iTt À 4 ).6vio
1 3 45 - - - - ,
ogo.:.i.:_::.0.4 w4..,=
bancos de fomento, com regras rígidas de funcionamento, que impe - "11át,ida..iii5gçsàá.stãtaisiãfkati-dis-, dc3i-01-_:_-..-ão----.
aé.É.ii.aniapéilitd:.á
çam a utilização dos seus recursos para a cobertura de gastos dos go - ..,- de energiaelétrica.'.-Estas recebia ri a energi a'trark,s-.M.i '
vernos estaduais.
e O maior 'controle das "antecipações de receitas orçamentárias" (AROs),
amplamente utilizadas até 1995 como forma de os tesouros estaduais se á 0..:,4.:-4' - ol,-.:-
financiarem junto ao sistema bancário e cuja prática foi seriamente li - geradórãiederais e e..i.iciii-áá:6:1:‘.'....id..ái.‘.44-7,1.' ileütiaillsiaii#
mitada desde então, por parte das autoridades monetárias. " .Valcir das- Coritás; Pótérrireteridd reiSSeÀ.:..elfi..ão,:à; ''-élba,.-.
pagar às geradoras quejhes forneciam aãLtrici:
. -
UnVI tranSaçãO económica entre ãg04eg : PakYã a
passe seliaánia'só .cortar 6fórnedinenrío':átálaquitação dó ebi o, mace óbvio
. .
5
Até então, os estados e municípios enfrentavam certas restrições à emissão de novos títulos, que não se aplicavam, porém, à cobertura de gastos para o pagamento decisões judiciais de última ins tância, que o governo
é obrigado por lei a pagar os "gastos com precatórios". Vários estados e al guns municípios emitiram títulos com base nesse direito, que na prática, porém, foram usados para o financiamento de outras finalidades
de gasto. O assunto teve na época grande repercussão na imprensa, gerando urna investigação parlamentar, cujas conclusões levaram a reforçar os mecanismos de controle sobre essa modalidade de endividamento.
6
Em um primeiro moirtérlitporém, a venda de empresa 'égatipais gerou uma press - aWéau men to do déficit dos estados, devido ao uso de pelo menos parte dos recursos da venda para o financiamento de gasto.
Uma vez esgotados os recursos, porém, a restrição de financiamento resultante de os estados não poderem usar mais essas empresas passou a prevalecer.
"
qa Wrié
144 FINANÇAS PÚBLICAS ELSEVIER de contenção fiscal. O conceito de "resultado primário permanente",
portanto, que é útil para avaliar os efeitos de longo prazo da política fiscal,
Esta última questão merece uma explicação mais detalhada. A renego- torna -se algo difícil de calcular quando a cada ano há algum fator de tipo
ciação das dívidas estaduais foi uma forma importante de fazer os estados "urna-vez-e-para-sempre" (once and for ali) afetando o valor das NFSP.
retomarem a obtenção de superávits primários. Ela consistiu na federaliza - Desde 1994, houve quatro fatores que se destacaram como elementos
ção da dívida mobiliária - a uma taxa de juros real anual de 6% -, tendo temporários de contenção fiscal:
como colateral de pagamento a receita futura - incluindo ICMS - dos esta -
dos, por um período de 30 anos, em um esquema de pagamento do tipo da * A receita do imposto provisório sobre movimentações
"tabela Price", que a prestação é constante em termos reais. Se a taxa de ju ros financeiras (IPMF), depois transformado em contribuição (CPMF).
real média de mercado em 3D anos fosse superior a 6% ao ano, tais condi ções ________________________________O já referido FSE, depois transfai
implicariam em uma foi ina de socialização de perdas. Entretanto, em relação ____________________________filado em fundo de estabili zação fiscal
à situação prevalecente até então - na qual os juros eram, na prática, inteiramente (EIiF).
"rolados" - o acordo contribuiu para diminuir as NFSP dos estados, já que
estes passaram a ter que pagar não apenas os juros, mas tam bém o principal. 4. A receita de concessões.
A possibilidade de retenção automática de uma parcela dos fundos de * O componente extraordinário de aumento da receita de
participação e dos impostos estaduais, para eventual ressarcimento aos cofres imposto de renda (LR) na fonte sobre aplicações financeiras, aprovado
federais, por sua vez, foi incorporada aos contratos com o intuito de evitar em fins de 1997 para vigorar em 1998.
que os estados pudessem ter vantagens financeiras em caso de não pagar, o Vejamos, em cada um desses casos, qual foi o período de vigência, a carac-
que de certa forma garantiria o cumprimento dos acor dos - a não ser que o' s ieristica, o valor do ganho fiscal e a vinculação existente ou não com algum
estados tivessem força política para mudar a legisla ção à qual estão tipo de gasto. O IPMF vigorou em 1994, quando foi extinto, reaparecendo
subordinado -s. após ser novamente aprovado para vigorar em 1997, vigência essa que de pois
foi estendida também para 1998.0 imposto - depois contribuição - era resultado
da aplicação de uma alíquota incidente sobre todas as transações financeiras da
economia, tendo revelado grande poder de arrecadação. Em 1994 e em
A CRIAÇÃO DE FONTES TEMPORÁRIAS
1997/1998, gerou uma receita de 0,9%-do PIB, em média. Na sua versão válida
DE CONTENÇÃO FISCAL
para começar a vigorar em 1997, a condição imposta pelos congressistas para
ser aprovada pelo Congresso Nacional foi que os seus recursos fossem
A dificuldade de estabelecer um ajuste fiscal em bases permanentes levou as
vinculados ao setor de saúde, embora isso não necessariamente implicasse
autoridades, ainda na fase embrionária de preparação do plano Real, no final
um aumento de recursos para tal setor, já que o Tesouro podia fazer um
de 1993, a adotar iniciativas - em alguns casos, mediante decisão autônoma e,
remanejamento de despesas e, em compensação, cortar os recursos de outras
em outros, através da tentativa exitosa de aprovação de leis ou de emendas
fontes anteriormente destinadas ao setor beneficiado pela vinculação.
constitucionais - destinadas a gerar uma contração da despesa e/ ou um au-
O FSE foi aprovado para vigorar em 1994 e 1995, tendo sido depois renovado,
mento da receita, em bases temporárias. O fato permitiu melhorar o resulta do
já como FEF, para 1996 e o primeiro semestre de 1997 e, na seqüência, para o
fiscal em relação ao que iria se verificar caso tais iniciativas não tivessem sido
segundo semestre de 1997 e os anos de 1998 e 1999. A característica do FSE/FEF
implementadas, embora não tenham sido suficientes para gerar superávits
era: a) reduzir temporariamente, em 20% da receita do PIS-PASEP e do salário-
primários na magnitude suficiente para evitar um aumento da relação dívida
educação, o repasse automático, por parte do governo federal, ao BNDES e ao
pública/PIB.
pagamento do seguro-desemprego e b) permitir - também temporariamente - ao
A existência desses fatores tomou mais complexa a análise do desempe -
governo federal reter a parcela do IR na fonte sobre o salário dos funcionários
nho da política fiscal, pelo fato de não ficar claro, nesse contexto, qual tenderia
públicos das representações federais, que teria que ser transferida a estados e
a ser, no futuro, o comportamento dos resultados primários, caso esses
municípios através dos fundos de participação. O impacto líquido inicial do FSE
efeitos desaparecessem. ? Isto porque é difícil imaginar que, ao se extingui -
foi um fluxo anual da ordem de 0,5% do PIB, na forma de transferências não-
rem, o governo iria assistir passivamen1 ao desaparecimento dessas fontes
realizadas e que certamente teriam sido gastas -pelos estados, municípios ou
seguro-desemprego - se tivessem sido feitas. Entretanto, na última renovação do
7
Nesse sentido, por exemplo, uma estratégia baseada na obtenção de um superávit primário FEF, a parcela retida de recursos dos municípios, especificamente, caiu
de, por exemplo, 2% do PIB, sem a existência de fatores excepcionais de receita, pode ser enten dida substancialmente em função de um cronogra-
como uma política mais sólida do que a obtenção de um superávit primário de 2,5% do PIB, se
este é obtido com a aluda de uma receita extraordinária de 1% do. PIB.
AS FINANÇAS PÚBLICAS NA FASE DE ESTABILIZAÇÃO: 1995/1998 145
ELSEVIER
145 FINANÇAS PÚBLICAS ELSEVIER AS FINANÇAS PÚBLICAS NA FASE DE ESTABILIZAÇÃO: 1995/1998 147
as avIER
ma gradual de "re-vinculação" dos recursos transferidos, de modo que já em is, quando as receitas se esgotassem, deixaria de estar lastreado em recei tas. 8
po
1998 o seu impacto fiscal ficou limitado a 0,3% do PIB. E o terceiro, que a distinção das receitas da venda da Telebrás entre uma
A receita de concessões começou a ser recebida em 1997 e se estende até parte tratada como privatização - isto é, sem afetar as NFSP - e outra com o
2001. Ela está composta de três itens: a) concessões da "banda B" de telefonia concessão foi, na prática, um mecanismo contábil, destinado a dimi n uir o
celular, parte de cujo total começou a ser recebida em 1997 e o restante em valor das NFSP.
1998; b) leilão das empresas da Telebrás - ocorrido em 1998 -, 60% de cuja re ceita
foi contabilizada como sendo de concessão - isto é, tratada como receita pelo OS EFEITOS DEFASADOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 9
Tesouro, ao contrário da privatização, que não é considerada receita para o
cálculo das NFSP; e c) concessão, em 1999, das "empresas-espelho" de telefonia, A Constituição aprovada em 1988 acabou gerando dois tipos de problemas,
que ocorreram com as empresas da antiga Telebrás. Cada uma des sas receitas é especificamente, para as autoridades que se viram às voltas, em 1995, com o
de livre disponibilidade do Tesouro e, em cada um dos casos, distribuem-se ao ressurgimento de um déficit público expressivo. Em primeiro lugar, ela res -
longo de um período de três anos - já que os contratos estabeleceram o pagamento tringiu a margem de manobra dessas autoridades, algo que não se revelou
em três tranches. A arrecadação total resultante disso foi pequena em 1997 - tão importante quando a inflação se encarregava de corroer o valor real das
referente apenas à primeira tranche do pagamento de uma parte da banda B -, despesas, mas que se mostrou de fomia nua e crua quando a inflação passou
aumentando substancialmente em 1998 e 1999 - quando coincidiram os a ser baixa, depois de 1994. E, em segundo, aumentou consideravelmente as
pagamentos referentes às vendas da banda B, da Telebrás e das "empresas- despesas previdenciárias. Vejamos isso mais de perto.
espelho" - e diminuindo a partir de então. Em 1998, - ano no qual a receita foi
A perda de margem de manobra das autoridades federais - que são, natu -
maior, o total arrecadado pela soma de todas as concessões foi de ordem de 0,9%
ralmente, as mais interessadas no papel da política fiscal como ingrediente de
do PIB.
uma políticade-estabilização - pode ser aferida pelos seguintes indicadores:
Finalmente, no conjunto de medidas fiscais aprovadas no final de 1997, • Entre 1988 - antes da aprovação da Constituição - e 1993 - quando o
constou o aumento do IR na fonte das aplicações financeiras - de 15% para 20% processo de aumento das vinculações foi completado -, a parcela da re-
dos rendimentos nominais -, mas com a característica adicional de que em 1998, ceita de IR e IPI transferida a estados e municípios teve um aumento re -
além de se tributar no vencimento o ganho obtido a partir de então, seria feita a lativo de mais de 40%.
tributação das aplicações anteriormente não movimentadas e so bre as quais ainda
não tinha incidido a taxação, até então feita somente por ocasião do resgate. ® Em 1987, conforme as contas nacionais, no universo da soma de (gasto
Isso implicou urna receita bruta extraordinária - isto é, não passível de repetição - com pessoal + outros gastos correntes + formação bruta de capital), a
em 1998, sobre a posição das aplicações no final de 1997, estimada em 0,5% do participação do governo federal nesse tipo de gastos era de 43%, fican do
PIB, correspondente a uma receita líquida de 0,3% do PIB, já descontada a parcela os estados e municípios com os restantes 57%; em 1994, essas pro porções
transferida aos estados e municípios por conta do aumento extra da arrecadação. tinham se modificado para 34% e 66%, respectivamente.
Em outras palavras, houve ao longo da segunda metade dos anos 1990 ® Em 1991, conforme os dados da Secretaria de Política Econômica, a par -
uma sucessão de fatores temporários de contenção fiscal, que em 1998, atingiram ticipação das despesas de OCC do Tesouro Nacional - sobre as quais a
aproximadamente (CPMF=0,8 + FEF=0,3 + Concessões=0,9 + IR=0,3) = 2,3% do margem de controle é maior - no total das despesas não-financeiras -
PIB e que deveriam desaparecer até o início da década de 2000 e/ou serem incluindo transferências a estados e municípios - do governo central,
substituídos por novas fontes de receita ou de contenção de gasto, para evitar uma era de 29%, proporção essa que tinha caído para 24% em 1995, devido
piora fiscal. ao aumento dos demais itens de despesa.
Cabe chamar a atenção para o fato de que muitos analistas questiona ram a Em outras palavras, a capacidade de o governo central responder - sem a
atitude do governo, na época, em se basear em fontes temporárias de contenção "ajuda" da inflação - diante de uma situação fiscal difícil foi seriamente afeta -
fiscal. Há três argumentos importantes sobre a questão. O primei ro, que a da, seja porque passou a ser responsável por uma parte menor do gasto pú-
avaliação sobre a solvência do setor público depende do superávit primário
permanente passível de ser obtido pelo setor público, de modo que fatores
temporários seriam estéreis.para melhorar alaercepção da situação fiscal- de Um caso em que o registro da venda de concessões como receita normal do Tesouro seria
8
longo prazo. 0-segLindo, que receitas de:Ui -ri:cessões não deveriam ser mais aceitável é quando os pagamentos por parte do comprador são distribuídos ao longo
registradas "acima da linha" e sim serem utilizadas para abater a dívida "abaixo _ todo o prazo de vigên5fa4a;Concessão, em cujo caso podeni receber = tratamento EbritábiLsi
da linha", por gerarem o risco de um aumento da despesa, que de- trair ao de uma receita regularde aluguel de um imóvel público. Entretanto, não foi este o
caso das concessões de telefonia.
9
Para algumas destas questões, ver Velloso (1997).
148 FINANÇAS PÚBLICAS ELSEVIER A S F I N A N Ç A S P Ú B L I C A S N A F A S E DE ESTABILIZAÇÃO: 1995/1998 149
blico total, ou porque no gasto do governo central, a parcela sobre a qual ele TABELA 8.3
Fatores de aumento do gasto com pessoal G o v e r n o C e n t r a l ( % ) Ia
tinha controle direto ficara também menor. Nas demais rubricas de gasto, ele -
praticamente impossíveis de mudar, em função do interesse de governado res Civis (A} 75,0 75,8 1,7
e prefeitos e da influência destes sobre o Congresso Nacional - e juros da dívida
Ativos (9) 43,6 47,2 2,3
pública - que são um resultado da política monetária.
Inativos (C) /b 31,4 28,6 0,7
No que diz respeito às despesas previdenciárias, interessa-nos frisar os
Militares (0) '25,0 24,2 1,3
seguintes aspectoS:
Ativos (E} 11,5 9,0 -0,7
A partir de 1991, houve um verdadeiro boom das Inativos (F) /c
13,5 15,2 2,8
aposentadorias conce-
Total (G) 100,0 100,0 1,6
didas no meio rural, processo esse que teve seu auge durante 1994.
Ativos {H) 55,1 56,2 1,8
A implantação do Regime Jurídico Único (RJU), estabelecido pela Inativos (I) /c
44,9 43,8 1,3
Constituição de 1998, só passou a ter efeitos significativos a partir de 1991,
permitindo aos servidores públicos, entre outras vantagens, a incorporação 0,72 0,61
de anuênios e gratificações e o direito à aposentadoria inte gral ou, até 1,17 1,69
mesmo, com salário superior ao da ativa. 0,30 0,35
® As possibilidades de aposentadoria por tempo de serviço em uma idade Defletor. Defletor do PIEI.
/a Exclui transferências a Estados para pagamento de pessoal.
precoce, permitidas pela Constituição, passaram a beneficiar um núme ro A) Inclui pensões.
crescente de pessoas, dado que até então a percentagem do total de /c inclui reformas e pensões.
servidores em condições de usufruir esse benefício era modesta, mas em Fonte: Elaboração própria, com base em dados do Ministério de Planejamento e Orçamento.
63% no caso dos militares, percentagem essa muito superior à dos servidores civis
(38%). O dado é reflexo das regras previdenciárias mais favoráveis aplicadas na ___ r_ 1 0 Para uma análise dessas questões, acompanhada de alguns dados pouco conhecidos
acerca
época aos militares. da decomposição das despesas do governo, ver Além e Giambiagi (1999b).
150 FINANÇAS PÚBLICAS ELSEVIER
. - . - : - m b ó r á o t o e ,..n49 -
mento. Nesse sentido, o ativismo fiscal do período pode ter refletido o peso 's_v„,ràT,,-sê-rxtkyeu35-g
Pá:s?er-c r
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deste último grupo nas decisões de governo.
A segunda interpretação - que é complementar à primeira - é que o go-
remói corno referencia urna despesa com r-, t a
verno, mais preocupado, a curto prazo, em saldar pelo menos parte da cha- essa rubrica dá ordem-de
mada "dívida social", optou por elevar o gasto, julgando que, a médio prazo, ' -=--
no contexto de um processo de crescimento sustentado da economia, a ex -
pansão da despesa poderia ser depois contida, ao mesmo tempo que a receita
acompanharia o PIB, o que diminuiria progressivamente o déficit público e
faria do aumento da dívida pública um fenômeno temporário.
Há dois elementos que caracterizaram, depois de 1994, a natureza inequivo-
camente expansionista da política fiscal do governo central. Em ambos casos, a
característica comum foi o uso do poder de discricionalidade do governo para
elevar os gastos em áreas onde não havia uma compulsoriedade determinada
pela Constituição que obrigasse a que necessariamente as rubricas de gasto em
questão aumentassem. Referimo-nos a) ao reajuste das
aposentadorias e pensões em níveis superiores à inflação e b) ao
incremento das despesas de OCC.
A
COIn¡iúslãã dà.-.4emièsac9in- 0át Fkidea
Ite
COMPOSIÇÃO
DA DESPESA
COM PESSOA
(ATIVOS E IN- Tty
99011:995(%)
PIPPÇ19" 11 9t9tai(N
Poder Legislativa
Poder Judiciar!
Poder Exocgt-N ta (a)
4,5% do PIB. Como vimos na Tabela 6.3, 45% dessa despesa está com-
.
roi:net-ida. com o pagamento de inativos, que é rígida por definição. Da
parcela restante, algo em torno de 15% é cofflpostgdegáàtps:cciráResi,
soai militar, difieilinente passível de demissão. Portanto, mesmo que o
ÃOverno -federal tivesse O,direitO legal .de deMitir parte
1O,:,senãoestivessesujeitoaosditamesdafiguráé destee,POT.exeinplo,dernitisSe10% dosfunCionàriOsativoscivis-;o
-
Conforme foi mencionado antes, o aumento de cada uma das rubricas do INCERTEZA INFLACIONÁRIA E GASTO PÚBLICO REAL
OCC depois de 1995 pode ser entendido em função das carências de cada se tor.
Isso, em si, não tem nada de errado. O delicado, do ponto de vista fiscal; foi Nos primeiros seis meses do plano Real — e tornando como referência em julho
ter atendido a essa multiplicidade de demandas, (a) ao mesmo tempo e (b) sem de 1994 a variação dos preços em real em relação à Unidade Real de Valor (URV) —, a
ter o devido "lastro" de receita para isso. inflaão média mensal, medida pelo IGP, foi de 2,65%, o que correspondia a um nível
anualizado de quase 37%. Quando, no início de 1995, governadores e prefeitos tiveram
Nesse sentido, a situação fiscal do Brasil no período aqui tratado foi ca - que reajustar o salário nominal do funcionalismo, a referência que eles tinham era a inflação
racterística de um regime como o que se denominou de "restrição orçamentá - dos últimos seis meses e a história prévia do fracasso dos planos anteriores de
ria fraca". Esta se caracteriza pela atribuição ao Estado da responsabilidade
estabilização. Em muitos estados, nesse contexto, foram concedidos aumentos da ordem de
por uma série de tarefas, sem que a sociedade esteja disposta a ser taxada na
30%, algo aparentemente compatível com a realidade esperada na época. No final de
proporção necessária para poder arcar com essas despesas. Esse tipo de situa -
ção reflete a tendência de muitas sociedades ao relaxamento da disciplina fi - 1995, entretanto, a inflação (JGP) fechou o ano em menos de 15%. Quais as
nanceira e ao enfraquecimento da idéia de que o gasto deve depender da ca- conseqüências disso para as finanças públicas?
pacidade de gerar receitas. O gráfico a seguir ajuda a entender melhor a questão. Após o aumento do gasto real men-
sal com funcionalismo (G) no mês de reajuste, as autoridades estaduais e locais esperavam
___433.3333.3333.3.333.33.33.3.3.1•I
que, com a corrosão provocada pela inflação, essa variável seguisse uma trajetória como a da
GRÁFICO 6.1 curva de despesa com pessoal DP, o que implicaria um gasto real mensal médio como o da li-
OCC acumulado em 12 meses (R$ bilhões de dezembro/98) nha horizontal cheia. Entretanto, sendo a inflação menor do que a prevista, a trajetória da va-
34 riável foi a de DP', caindo menos em relação ao "pico" e gerando uma despesa real média
32- como a da linha horizontal tracejada, acima da linha cheia.
30 -
O saldo disso foi que o resultado primário,de estados e municípios — medido pelo Banco
1994
R$ milhões Central — passou de um superávit de 0,8% do PI8 em 1994, para um déficit de 0,2% do PIB um
28
1995
17106 ano depois.
26 -
1996
18706 De alguma forma, o governo, nos anos de inflação alta, tinha virado "sócio" da inflação:
24 - 22798 qualquer reivindicação salarial do funcionalismo podia ser aceita, já que a inflação se encarre-
1997
22 - 27243 gava de reduzir, posteriormente, a despesa real do funcionalismo. Com inflação baixa, tal
20 - "mágica" não foi mais possível. Em conseqüência, muitos governadores eleitos em 1994 tive-
1998 30794
1B -
ram que arcar com as conseqüências negativas do "salto" da despesa real com o funcionalis-
i l , i 1 -
1 1 -
1 3 1 3 -
3 -
1 1 1 1 3 1
mo durante todo o exercício de governo 1995/1998, já que o aumento dos preços tardou al-
..!_k
d -à á-• ci•
guns anos em "compensar" o mencionado erro de previsão. As autoridades aprenderam as-
sim que administraras finanças públicas em um regime de estabilidade-era, de alguma forma,
16 ur 1 1 1 , 1 r r u i 1 3 1 1 3
g
7 1 -
1 1 , i I r t i T T I mais difícil dogue fazê-lo em um regime de alta inflação. Quatro anos depois, os governado-
o —