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2
RESUMO
3
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 5
2 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................................. 10
2.1 REFUNCIONALIZAÇÃO............................................................................................ 10
2.2 PATRIMÔNIO INDUSTRIAL.......................................................................................14
2.3 HISTÓRIA DA (DES)INDUSTRIALIZAÇÃO DO RIO DE JANEIRO.......................... 17
3 PERCURSO METODOLÓGICO......................................................................................... 25
4 ANÁLISES.......................................................................................................................... 29
4.1 A REFUNCIONALIZAÇÃO DE ESPAÇOS INDUSTRIAIS EMBLEMÁTICAS: UM
GIRO PELO MUNDO....................................................................................................... 29
4.2 MAPEANDO OS REMANESCENTES INDUSTRIAIS DA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO..........................................................................................................................52
4.2.1 O parque industrial carioca desativado........................................................ 52
4.2.2 Imagens do passado e do presente.............................................................. 70
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................83
6 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 85
4
1 INTRODUÇÃO
5
levando a um apagamento do passado industrial da capital fluminense (Fontes,
2018).
6
● Analisar casos emblemáticos de refuncionalização de espaços industriais em
outros países, de forma a identificar os processos essenciais para uma
refuncionalização considerada eficaz.
7
refuncionalização de espaços industriais, e inclui a identificação de casos
bem-sucedidos em diferentes continentes, como América Latina, América do Norte,
Europa, África e Ásia, visando destacar práticas exemplares e diversidade de
possibilidades de refuncionalização. Apesar da ausência de uma base de dados
unificada sobre refuncionalização do remanescente industrial, ao redor do mundo, a
metodologia utilizada para levantar casos emblemáticos foi realizada por meio de
pesquisa bibliográfica e documental em meios diversos.
8
Por fim, na seção de “Análises”, foram apresentadas imagens do passado e
do presente sobre o remanescente industrial do Rio de Janeiro, por meio da análise
visual de dois remanescentes industriais selecionados para exemplificar o passado
e o presente de instalações que representam as funções atuais mais expressivas
identificadas na pesquisa. A metodologia adotada combinou pesquisa documental e
produção fotográfica autoral, onde os espaços atuais foram fotografados pelo
próprio pesquisador durante visitas às instalações industriais. O objetivo principal da
seção foi analisar o estado de conservação do patrimônio, tanto material quanto
imaterial, considerando a memória do ambiente fabril. A abordagem permitiu uma
comparação visual entre o passado e o presente dos remanescentes industriais
selecionados, destacando mudanças físicas e funcionais ao longo do tempo e
contribuindo para uma compreensão mais completa da evolução desses espaços na
cidade do Rio de Janeiro.
9
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 REFUNCIONALIZAÇÃO
10
até então. (Santos, 1985, p.34)
1
A ideia de remanescente industrial será retomada mais adiante.
11
De acordo com Evaso (1999), a refuncionalização consiste nas alterações
que atingem o sistema material do espaço construído ao atribuir a ele um novo valor
de uso, sem necessariamente intervir em suas constituições físicas. Neste
processo, são colocados em oposição variáveis antigas e novas através de
introduções e acomodações, produzindo novos contextos. Evaso (1999) defende
que este processo está intrinsecamente relacionado com as transformações
econômicas de uma sociedade.
12
que a potencialidade econômica deva ser considerada, o primeiro passo para uma
refuncionalização deve ser o estudo da importância simbólica e arquitetônica do
patrimônio, garantindo a apreciação da história e o valor da memória. Para analisar
se uma refuncionalização foi bem sucedida, o autor defende que deve-se observar
se os objetivos foram atingidos ou se ocorreram desvios, como, por exemplo, o
reforço apenas ao apelo consumista e espetacularizante dos espaços. Ruivo (2018)
também defende a ideia de que, apesar da refuncionalização estar muito associada
às vantagens econômicas que pode propiciar, este processo se destaca
principalmente pelo seu potencial sustentável e pelo valor histórico e identitário
garantido com a preservação da instalação, de forma a resgatar a memória da
cidade.
2
O termo brownfield é utilizado para designar instalações industriais e comerciais abandonadas, ociosas ou
subutilizadas cuja expansão ou revitalização é complicada por contaminações ambientais reais ou percebidas.
13
O caso de Palo Alto também é profundamente marcado pela presença da
economia criativa. A antiga fábrica de fios de lã foi refuncionalizada e se tornou um
espaço criativo que reúne 17 empresas unidas em torno da criatividade, com foco
em design e arquitetura. Oliveira (2015) entende que a mudança econômica de
Barcelona para uma cidade inovadora e globalmente competitiva está atrelada às
transformações em Palo Alto, que por sua vez estão relacionadas com o processo
de regeneração urbana do bairro de Poblenou, “onde o seu passado industrial é
transformado em uma imagem de cidade inteligente de produção econômica
sustentável” (Oliveira, 2015, p. 37), em um cenário em que a criatividade e a
tecnologia são força motriz.
14
Atualmente o patrimônio não é apenas um termo relacionado aos
campos da cultura e das artes e aos profissionais ligado à sua gestão
como arquitetos, urbanistas e historiadores, mas também a outras
áreas com a política e a economia (turismo), graças à mundialização
do conceito, do efeito da globalização e o potencial lucrativo que o
patrimônio representa. (Freitas, 2016, p. 29).
15
O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial
que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou
científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas,
fábricas, minas e locais de processamento e de refinação,
entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e
utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas
e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram
actividades sociais relacionadas com a indústria, tais como
habitações, locais de culto ou de educação. (TICCIH, 2003)
16
2.3 HISTÓRIA DA (DES)INDUSTRIALIZAÇÃO DO RIO DE JANEIRO
17
força motriz hidráulica. Por conta de transformações nas fontes de energia,
alterações políticas e econômicas e o aumento da população urbana na cidade, as
fábricas passaram a fixar-se nos subúrbios da Zona Norte que, além de
proporcionarem terrenos grandes e baratos, contavam com rede de energia elétrica
e rede ferroviária, permitindo uma eficiente distribuição de produtos e acesso fácil
de matéria-prima.
18
redução contínua e generalizada da participação do emprego da indústria de
transformação no emprego total em uma determinada economia, consistindo em
uma característica intrínseca ao desenvolvimento econômico. Segundo Centena
(2019), os autores Rowthorn e Ramaswamy (1997) defendem que há uma
correlação entre desindustrialização e o desenvolvimento do setor terciário, na
medida em que a maioria dos trabalhadores fabris são realocados no setor de
serviços. “Portanto, a diminuição da parcela do produto referente à produção
manufatureira não significa queda de produtividade na economia (...) esse
fenômeno eleva a produtividade dos outros setores, principalmente o de serviços”
(Centena, 2019, p. 89).
19
abertura comercial e financeira, a valorização dos termos de troca (período de
valorização das commodities) e a taxa de câmbio apreciada” (Centeno, 2019, p. 84).
20
“A cidade do Rio de Janeiro (...) remodelaria o seu peso na economia estadual
reafirmando a sua função de provedora de serviços modernos, enquanto a Baixada
Fluminense reforçaria sua herança com a consolidação das indústrias” (Oliveira,
Rodrigues, 2009, p. 135). Abreu et al. (2019) defendem a ideia de que essa
condição reflete a forma como a relação entre capital e Baixada Fluminense foi
construída historicamente.
21
núcleos residenciais ou espaços da economia criativa ou de consumo. Ainda, o
processo de desindustrialização na capital fluminense gerou impactos no tecido
urbano e na vida das pessoas que moram no entorno dos remanescentes
industriais. Segundo Cavalcanti e Fontes (2011), existe correlação entre
desindustrialização e o aumento da criminalidade, das desigualdades sociais e da
“degradação urbana”. Fontes (2018) aponta também para a abertura de espaço
para o tráfico e para uma crescente marginalidade nos locais onde a industrialização
era mais presente na cidade do Rio de Janeiro. “A desconfiguração da identidade
local como resultado da desativação das fábricas e o subsequente aumento do
desemprego acentuaram a crescente violência que vivemos.” (Fontes, 2018, s.p.)
22
remanescentes indústrias do Rio de Janeiro foram transformados em espaços
culturais.
23
3 PERCURSO METODOLÓGICO
24
realizadas algumas análises estatísticas simples - como por exemplo a identificação
dos bairros com maior número de remanescentes industriais e quais as principais
funções atuais das fábricas refuncionalizadas, entre outras - e alguns gráficos
foram elaborados para fins de organização e visualização de dados e informações
sobre os remanescentes industriais.
25
cidade do Rio de Janeiro, em conjunto com o procedimento de pesquisa documental
que, segundo Gil (2002), se assemelha à pesquisa bibliográfica, mas diferem-se na
natureza das fontes:
26
espaço; nome antigo do espaço (fábrica); endereço completo; setor industrial; ano
de abertura da fábrica; ano de fechamento; ano de refuncionalização; patrimônio
industrial (Sim/Não); proprietário atual da edificação; descrição da função atual das
instalações físicas; conservação do estado atual; fontes; link para pasta com
informações complementares e imagens.
27
(2018). No próximo capítulo, será apresentado um quadro, com uma versão
simplificada da planilha construída, assim como análises dos dados levantados.
28
totalidade de casos, mas sim a identificação de casos paradigmáticos, levando em
conta representatividade e relevância acadêmica e midiática.
29
4 ANÁLISES
30
Neste sentido, referências menos técnicas foram encontradas, como por
exemplo sites de dicas de viagens que recomendavam passeios em antigas fábricas
com novas funções na Europa. No entanto, apesar da falta de rigor científico de
algumas fontes, elas foram utilizadas apenas para o levantamento inicial do nome
dos remanescentes industriais refuncionalizados, e as análises posteriores
utilizadas para a pesquisa foram realizadas nos sites oficiais das fábricas
refuncionalizadas e em jornais e revistas de grande circulação, como Globo, Clarín
e BBC. Desta forma, para cada remanescente refuncionalizado levantado, foram
identificadas as informações de: nome atual do espaço; nome da antiga fábrica;
cidade; país; função atual.
31
local, orientando práticas mais inclusivas e adequadas de desenvolvimento urbano,
considerando as particularidades de cada espaço geográfico.
32
acompanhando um fenômeno urbano presente em diversas
temporalidades e espacialidades: o deslocamento, processual ou
súbito, de residentes e usuários com condições de vida precárias de
uma dada rua, mancha urbana ou bairro para outro local para dar lugar
à apropriação de residentes e usuários com maior status econômico e
cultural. (Emanuel, 2015, s.p.)
33
Participação
Nome da
Nome atual Função Impacto no da população Preservação Ausência de
antiga Cidade País
do espaço atual território e/ou poder arquitetônica gentrificação
fábrica
público
Fábrica de
Sede Buenos Espaço de
Biscoitos Argentina X X X X
ministerial Aires trabalho
Canale
Complexo
Casa das Espaço
industrial São Paulo Brasil X X X X
Caldeiras cultural
Matarazzo
Fábrica de
SESC Espaço
Tambores São Paulo Brasil X N/A X X
Pompeia cultural
da Pompeia
Cidade dos
Real Fábrica Cidade do Espaço
Livros e da México X X X X
de Tabacos México cultural
Imagem
Cidade do Espaço
La Laguna La Laguna México X N/A X X
México cultural
Fábrica
Mercado Espaço de
Pablo Montevidéu Uruguai X N/A X X
Ferrando consumo
Ferrando
Distillery Destilaria
Espaço
Historic Gooderham Toronto Canadá X X X X
cultural
District & Worts
WeWork Fábrica de Espaço de
Xangai China X N/A X X
Weihai ópio trabalho
Fábrica de
Floating Espaço
Farinha Da Shenzen China X X X X
Fields ambiental
Cheng
St James
Espaço de
Dyson Power Singapura Singapura X N/A X X
trabalho
Station
Kulturbrauer Cervejaria Espaço
Berlim Alemanha X X X X
ei Schultheiss cultural
Parque
Paisagístico Fábrica Espaço
Duisburgo Alemanha X X X X
Duisburg- Thyssen cultural
Nord
Fábrica Espaço de
Work & Co Dunkirk França X N/A X X
Rigot trabalho
Fábrica de Espaço
La Friche Marselha França X X X X
tabaco Seita cultural
Central
Espaço
Tate Modern Elétrica de Londres Inglaterra X N/A X X
cultural
Banskide
34
Auditório Fábrica de
Espaço
Niccolò Açúcar Parma Itália X X X X
cultural
Paganini Eridiana
Fábrica de
Museu Vista Porcelana Espaço
Ílhavo Portugal X N/A X X
Alegre da Vista cultural
Alegre
Fábrica
Fábrica
Militar de Espaço
Braço de Lisboa Portugal X X X X
Braço de cultural
Prata
Prata
Museu de
Companhia
Arte Espaço
Estatal de Malmö Suécia X X X X
Moderna de cultural
Eletricidade
Malmö
35
Jan Hendrix montou ''A folha de tabaco'', uma escultura de alumínio branco coberta
de cerâmica que projeta interessantes jogos de luz e lembra uma pilha de livros.”
Você já se pegou tirando uma foto de uma fachada Art Déco ainda de
pé em uma cidade que, com os olhos voltados para o progresso,
parece esquecer o que a trouxe até aqui? Você já viu símbolos
arquitetônicos serem demolidos para serem substituídos por
estacionamentos e edifícios genéricos? Nós também. Assim, quando
visitamos a antiga fábrica de mobiliário asséptico Pablo Ferrando,
construída nas primeiras décadas do século passado com mais de
2000 m² de patrimônio, soubemos imediatamente que o nosso projeto
gastronómico tinha encontrado o seu espaço na cidade e o seu lugar
no mundo. (Mercado Ferrando, 2015, s.p., tradução própria)3
3
No original: “¿Te has encontrado alguna vez tomando una foto de una fachada Art Decó todavía
erguida en una ciudad que con la vista puesta en el progreso parece olvidarse de lo que la trajo hasta
acá? ¿Has visto demoler símbolos arquitectónicos para ser reemplazados por estacionamientos y
edificios genéricos? Nosotros también.Por eso, cuando conocimos la antigua fábrica de muebles
asépticos Pablo Ferrando, construida en las primeras décadas del siglo pasado con más de 2000 m²
de patrimonio supimos de inmediato que nuestro proyecto gastronómico había encontrado su espacio
en la ciudad y su lugar en el mundo.”
36
mesmo tempo em que fizeram pulsar novos conceitos como a democratização dos
espaços, preservaram antigos elementos do que aqui funcionava, como os latões de
lixo com referência aos antigos tambores.” (SESC, 2019, s.p.). A transformação do
local, reconhecido pelo New York Times como uma das obras arquitetônicas mais
importantes do pós-guerra, reflete a preocupação em resgatar a identidade
arquitetônica da região, além da preservação da estrutura original da fábrica,
combinada com a criação de espaços culturais e inclusivos para o tecido social.
4
Família de origem nobre italiana que migrou para o Brasil no final do século XIX. Aqui se
estabeleceu em São Paulo, sendo proprietária de indústrias de diversos setores, além da
atuação no setor financeiro/bancário. Na capital paulista a família ergueu o maior complexo
industrial da América Latina, no século XX, fazendo parte da elite social, econômica e política
do Brasil até os dias atuais.
37
Na América do Norte, a refuncionalização da Destilaria Gooderham & Worts,
no Canadá, transformou a antiga fábrica em um bairro histórico de Toronto
conhecido como Distillery Historic District, ocupado por galpões industriais onde
anteriormente se instalavam 47 edifícios da destilaria. O local funciona, desde 2003,
como um importante ponto turístico da cidade e abriga mais de 80
estabelecimentos, como ateliês, galerias de arte, restaurantes, lojas e cervejarias.
Nomeada pelo jornal The Guardian como um dos bairros comerciais mais
interessantes do mundo, é descrito pelo jornalista Toneguzzi (2023, s.p., tradução
própria) como “uma fusão dramática do antigo e do novo. Uma mistura inspirada da
maior coleção de arquitetura industrial vitoriana da América do Norte e do
impressionante design e criatividade do século XXI.”5 Esta refuncionalização chama
atenção principalmente pela ausência de gentrificação e a preservação material e
imaterial do espaço. Além da preservação arquitetônica, a administração do espaço
mantém um endereço eletrônico destinado à memória da destilaria, onde são
disponibilizados para acesso diversos documentos que resgatam a história e
herança da antiga fábrica.
5
No original: “a dramatic fusion of old and new. An inspired blend of the largest collection of Victorian
Industrial architecture in North America and stunning 21st century design and creativity.”
38
flutuantes, pescar e aprender sobre o ciclo de vida dos patos, bichos-da-seda e
algas.
39
O último continente a ser analisado nesta seção é o europeu, que é o mais
numeroso em casos bem-sucedidos de refuncionalização. Na Alemanha, os
espaços culturais Kulturbrauerei e Parque Paisagístico Duisburg-Nord foram
refuncionalizados, respectivamente, a partir da Cervejaria Schultheiss e da fábrica
da multinacional Thyssen. Em relação ao Kulturbrauerei, o espaço de 25 mil metros
quadrados da antiga cervejaria é composto por áreas ao ar livre e galpões
industriais de tijolos, e oferece uma ampla gama de atividades, incluindo cinema,
teatro, concertos ao ar livre, eventos de música eletrônica, cursos de arquitetura e
aulas de dança. Esta refuncionalização é destacada principalmente pela
preservação arquitetônica, impacto no tecido social e participação do poder público.
Em 1990, a Treuhandanstalt (THA) assumiu o controle do local, que estava em
perigo de decadência. A Treuhandanstalt foi uma instituição estatal alemã,
encarregada de administrar e privatizar as empresas do patrimônio pertinente da
Alemanha Oriental, após a Reunificação da Alemanha.
6
No original: “When the new freedom dawned in 1990, creative people occupied the ramshackle
buildings of the Kulturbrauerei. They wanted to work there permanently and manage themselves. To
this end, they founded a non-profit company, and, with support by the state, developed a concept of
utilisation and renovation.”
40
uma siderúrgica de maneira vívida e real. Nesse sentido, por meio dessa
refuncionalização, fica evidente a preocupação tanto em tornar o espaço um local
que gere impacto no território, mas também preserve o patrimônio industrial material
e imaterial da antiga fábrica.
41
Assim como na refuncionalização dos remanescentes industriais do Rio de
Janeiro, na Europa também predominou a transformação das fábricas em espaços
culturais. É o caso do Tate Modern, na Inglaterra; o Museu de Arte Moderna de
Malmö, na Suécia; e o Museu Vista Alegre, em Portugal. O Tate Modern é
reconhecido como o principal museu de arte moderna do Reino Unido e um dos
mais visitados do mundo em sua categoria; abriga obras de renomados artistas
como Pablo Picasso e Andy Warhol. Localizado na antiga Central Elétrica de
Bankside, o edifício foi reaberto ao público em 11 de maio de 2000, após um
período de quatro anos de obras de renovação. Na Suécia, o Museu de Arte
Moderna refuncionalizou o espaço que originalmente abrigava as instalações da
companhia estatal de eletricidade da cidade sueca de Malmö. Já o Museu Vista
Alegre, em um processo semelhante ao Parque Paisagístico Duisburg-Nord, foi
refuncionalizado com o propósito de exaltar o patrimônio industrial, neste caso com
foco na história e relevância da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre, primeira
unidade industrial dedicada à produção da porcelana em Portugal. Além do forte
teor de preservação do patrimônio industrial, essa refuncionalização é emblemática
por conta de seu impacto no território; a cidade de Ílhavo, que abriga o museu, foi
profundamente transformada pelo turismo proveniente dos interessados na história
da fábrica de porcelana. A cidade passou a abrigar um complexo da empresa, que
além do museu, compreende hotel temático, gastronomia, capela e workshops.
42
transformação da acústica do local, foi possível manter o patrimônio industrial
preservado.
7
No original: “When building onto an existing structure in an urban context, one has to have a good
grasp of the city’s distinct fabric - potential connections between the existing building and the new
vision for it needs to be thoroughly understood. The old Eridiana sugar factory was an empty brick
structure of just the right size and volume to be turned into a harmonious «music box». The building’s
walls could be retained and a process of dematerialization would seek the perfect balance between
transparency and acoustics.”
43
condomínio de luxo que iria ser construído nos terrenos da antiga
Fábrica de material de guerra. Pedia-nos que abandonássemos tudo
até final de Agosto. Foi então que fomos confrontados com uma
decisão surpreendente da Câmara Municipal de Lisboa. O então
Presidente da CML, Dr. António Costa, enviou-nos no final de Julho
uma carta propondo-nos que permanecessemos neste edifício tendo
em consideração aquilo que ele designava como "o enorme contributo
que a Fábrica do Braço de Prata tinha já dado à cultura da cidade de
Lisboa". (...) Ficámos assim com a responsabilidade total do edifício.
(...) Só em 2016 o edifício da Fábrica do Braço de Prata passou a ser
propriedade da CML. Fomos então abordados pela Direcção do
Património para estabelecermos um contrato de arrendamento. Por
proposta, formulada verbalmente em reunião conosco em Março de
2017 pelo então Vice-Presidente da CML, Dr. Duarte Cordeiro, foi
acordado o valor de renda mensal de zero euros. Desde então
estamos à espera que a CML assine conosco um tal contrato de
arrendamento. Recentemente, num programa de televisão dedicado à
Fábrica do Braço de Prata, um representante da Câmara afirmou que
ocupávamos, desde 2007, e de forma ilegal, um património da CML
(...) Sempre sem contrato com a CML e sempre cercados por multas,
chegámos ao 16º aniversário da Fábrica do Braço de Prata. Vamos
festejar este triunfo com concertos, bailes, exposições e uma grande
palestra sobre o futuro deste lugar de (r)existência único. (Fábrica
Braço de Prata, 2024, s.p.)
44
atendido durante a refuncionalização, ou seja, este processo teve como
consequência uma gentrificação do território.
Participação
Nome da
Nome atual Função Impacto no da população Preservação Ausência de
antiga Cidade País
do espaço atual território e/ou poder arquitetônica gentrificação
fábrica
público
Espaço
Fábrica de
The Old Cidade do África do cultural e
biscoitos Positivo Positivo Positivo Negativo
Biscuit Mill Cabo Sul de
Pyott's
consumo
Fábrica de Espaço
Palo Alto Barcelona Espanha Positivo Positivo Positivo Negativo
lã cultural
Battersea London
Espaço de
Power Power Londres Inglaterra Positivo N/A Positivo Negativo
consumo
Station Company
Companhia
de Fiação e Espaço
LX Factory Lisboa Portugal Positivo N/A Positivo Negativo
Tecidos cultural
Lisbonense
Iniciando pelo Faena Arts Center, em Buenos Aires, o espaço cultural ocupa
o remanescente de um dos primeiros moinhos de farinha da Argentina. O espaço foi
reconstruído, porém, preservou meticulosamente os detalhes originais datados do
início do século XX. A abordagem central da iniciativa foi conservar a estrutura
45
original dos moinhos, conectando os edifícios principais dos andares superiores
através de uma passarela de vidro, sendo esta a única intervenção notável na
fachada. A refuncionalização deste espaço, cuja propriedade é do empreendedor
milionário Alan Faena, faz parte de um amplo processo que envolve a gentrificação
do Puerto Madero, bairro da capital Argentina e antiga zona portuária. Nesse
sentido, o Faena Arts Center acompanhou e potencializou um fenômeno de
gentrificação, que já estava em curso no início do processo de refuncionalização do
remanescente industrial.
46
bairro de Chelsea. Essa revitalização desencadeou um processo de gentrificação
que influenciou significativamente a estrutura social e econômica da área. A
valorização das propriedades adjacentes ao parque contribuiu para um aumento nos
preços imobiliários, tornando a região cada vez mais inacessível para os residentes
de baixa renda e para as empresas locais. A gentrificação resultante ocasionou o
fechamento de muitas empresas estabelecidas e a perda de uma base de clientes
tradicional, enquanto as comunidades minoritárias enfrentaram desafios adicionais
relacionados à acessibilidade e à inclusão socioeconômica. Portanto, apesar das
melhorias visíveis e do atrativo turístico do High Line, sua implementação levanta
questões complexas sobre desigualdade, justiça social e dinâmicas de poder na
geografia urbana contemporânea.
47
presença de novos empreendimentos, como o Old Biscuit Mill e o Woodstock
Exchange, atrai uma clientela mais abastada, enquanto os negócios locais
tradicionais enfrentam dificuldades para se manterem diante dos aumentos nos
aluguéis. Ainda, o processo de gentrificação está provocando um debate sobre a
inclusão social e os impactos na comunidade local, com alguns defendendo os
benefícios do desenvolvimento econômico, enquanto outros lamentam a perda da
identidade histórica e a exclusão dos moradores mais pobres.
8
No original: “At the entrance, security officers in military-style uniforms scrutinise the people entering
Cape Town’s so-called “hipster heaven”, which is a world away from the shabby, down-at-heel streets
surrounding it. Unlike the multi-racial community living and working in Woodstock, Cape Town’s oldest
suburb, the vast majority of the Old Biscuit Mill’s patrons are white, while many of those serving in the
food market and other businesses are black, as are the car guards and beggars outside. (...)
Thompson adds that the neighbourhood has changed a lot since the Biscuit Mill opened its doors,
with new businesses “owned by outsiders”. “Rich people have been buying up buildings, shops and
houses in the area and rents have gone up. Businesses that were here for years have closed and
many people have been forced to move out of Woodstock, because they can’t afford to stay here
anymore. We were always a close community, we looked out for one another, but that has all
changed.” (...) A significant turning point for Woodstock came in 2007 when the Cape Town council
designated the area as a priority urban development zone (UDZ) for urban upgrades, a mechanism
designed to support the growth of the CBD eastwards. With it came significant tax breaks,
encouraging wealthy local and foreign developers and investors to snap up properties ripe for
redevelopment.
48
consolidou o espaço como um centro de produção artística, dedicado a uma ampla
gama de projetos culturais e criativos. O local abriga 17 empresas e gerou 250
empregos diretos, além de ser uma referência em sustentabilidade. No entanto,
assim como no caso do Faena Arts Center e do Chelsea Market, Palo Alto acaba
por fazer parte de uma gentrificação em curso no bairro de Poblenou.
49
de 1,75 milhões de peças de reposição foram utilizadas na restauração da
alvenaria, e a reconstrução exigiu mais de três vezes a quantidade de aço usada na
Torre Eiffel. O empreendimento resultou em uma variedade de novos espaços
comerciais e residenciais, incluindo 254 apartamentos dentro da fábrica e mais de
100 unidades de varejo e restaurantes.
9
No original: "Every square inch monetised’ – is Battersea Power Station now a playground for the
super rich?”.
50
consumismo. Ao contrário de outra grande central elétrica de Londres,
que se tornou a galeria de arte Tate Modern em 2000, esta
reencarnação é difícil de celebrar. (Hine, 2022, s.p., tradução própria10)
10
No original:”The luxury development of London’s famous power station is another monument to
wealth and inequality in a divided city (...) Re-launched as a mixed-use development, part luxury
shopping mall, part Apple headquarters and part extortionately expensive residential real estate, it is a
microcosm of all that is wrong with development, planning and housing in London. (...) Now it is being
developed as a playground for the rich, and its power station a cathedral to consumerism. Unlike
London’s other great power station, which became the Tate Modern art gallery in 2000, this
reincarnation is one that is difficult to celebrate.
51
em vista a sua valorização e aumento do arrendamento. Sendo assim,
pode-se dizer que houve um processo de gentrificação, isso é, de
elitização do espaço em relação às empresas residentes no local.
Além disso, o sucesso da LX Factory resultou na valorização do seu
entorno urbano, o que catalisou o início de uma gentrificação das
edificações próximas ao local. (Somekh; Cardoso, 2020, s.p.).
52
fragmentação social. Além disso, o aumento dos preços dos aluguéis e dos custos
de vida tornou a região inacessível para grande parte da população original,
agravando as desigualdades sociais.
53
Casa da Gráfico e
Arquivo Público/Fe- Espaço
Moeda Centro Centro metalúrgi- 1868 1983 1984
Nacional deral cultural.
(1868-1983) co
União fabril
exportadora Espaço
Assaí Mangui- Zona
(UFE) - Sabão 1938 2011 2018 Privado de
Atacadista nhos Norte
Fábrica Sabão consumo.
Português
Companhia
Progresso Espaço
Bangu Zona
Industrial do Bangu Têxtil 1889 2004 2007 Privado de
Shopping Oeste
Brasil - Fábrica consumo.
Bangu
Espaço
Década de Público/Mu-
CADEG Fábrica Veado Benfica Centro Tabaco 1870 1962 de
1940 nicipal
consumo.
Casa Infraes- Público/Es- Espaço
Alfândega Centro Centro 1820 1944 1990
França-Brasil trutura tadual cultural.
Centro
Espaço
Coreográfico Cia. Público/Mu-
Zona cultural e
da Prefeitura e Hanseática Tijuca Bebida 1910 1992 2004 nicipal e
Norte de
Galeria (Brahma) Privado
consumo.
Comercial
Garagem de
Centro Cultural
bondes da Cia. Infraes- Espaço
Light/Sede da Centro Centro 1911 1935 1994 Privado
Ferro Carril trutura cultural.
Light
Urbano
Estação
Centro Cultural Flamen- Zona Infraes- Sem Espaço
Telephonica 1918 1980 Privado
Oi Futuro go Sul trutura informação cultural.
Beira-Mar
Casa da Gráfico e
Centro Cultural Público/Fe- Espaço
Moeda Centro Centro metalúrgi- 1743 1814 1985
Paço Imperial deral cultural.
(1743-1814) co
Fábrica
Centro Cutural Almeida
Metalúrgi- Terceiro Espaço
Fundição Comércio e Centro Centro 1881 1976 1999
co setor cultural.
Progresso Indústria de
Ferro Ltda
Centro da
Armazém das Armaze- Público/Mu- Espaço
Herança Saúde Centro 1875 1910 2001
Docas Pedro II namento nicipal cultural.
Africana
Edifício
Standard Oil
Centro Espaço
Company of Energéti-
Universitário Centro Centro 1935 2003 2007 Privado educa-
Building co
IBMEC cional.
(prédio da
Esso)
54
Condomínio
Fábrica têxtil Núcleo
Solaris da Zona Década de Década de
Cruzeiro / Andaraí Têxtil 1895 Privado residen-
Torre Norte 1960 1980
América Fabril cial.
(Tijolinho)
Diretoria de Oficina de
Serviço Oeste manutenção Espaço
Campo Zona Infraes- Público/Mu-
da Companhia de bondes 1917 1967 1985 de
Grande Oeste trutura nicipal
de Limpeza elétricos trabalho.
Urbana do RJ (usina)
Estação e
Cocheira da Espaço
Ecc do Brasil / Santo Transpor- Sem Sem
Companhia Centro 1882 Privado de
Duran & Costa Cristo te informação informação
Ferro-Carril consumo.
Vila Guarani
Ecomuseu do
Quarteirão
Cultural do
Matadouro
Matadouro de Santa Zona Alimentí- Década de Público/Mu- Espaço
Industrial de 1881 1995
Santa Cruz/ Cruz Oeste cio 1980 nicipal cultural.
Santa Cruz
Palacete
Princesa
ISabel
Galpões da
Espaço para Segunda
Estrada de Gam- Armaze- Sem Final do Público/Mu- Espaço
realização de Centro metade do
Ferro Central boa namento Informação século XX nicipal cultural.
eventos século XIX
do Brasil
Fábrica do Santo Alimentí- Sem Sem Sem Sem Espaço
Espaço Pérola Centro
Açúcar Pérola Cristo cio informação informação informação informação cultural.
Estacionamen-
Galpão
to/depósito do
Industrial da Espaço
Grupo Latour Cidade Metalúrgi- Sem
Metalúrgica Centro 1921 1964 Privado de
(rede de Nova co informação
Pagani Castier trabalho.
concessionária
Ltda
da Peugeot)
Fábrica Fábrica Santo Alimentí- Público/Esta Espaço
Centro 1934 1990 2010
Bhering Bhering Cristo cio dual cultural.
Galpão das
Companhia
Artes do
Nacional de Infraes- Sem Década de Público/Mu- Espaço
Theatro Saúde Centro 1891
Navegação trutura Informação 1990 nicipal cultural.
Municipal do
Costeira
Rio de Janeiro
Casa das
Máquinas e
Instituto de Oficina da Cia.
Flamen- Zona Infraes- Década de Espaço
Arquitetos do Ferro Carril do 1904 1988 Privado
go Sul trutura 1960 cultural.
Brasil - IAB/RJ Jardim
Botânico
(CFCJB)
55
Estação de
Instituto passageiro de
Histórico-Cul- hidroaviões Infraes- Público/Fe- Espaço
Centro Centro 1938 1942 1986
tural da Aeroporto trutura deral cultural.
Aeronáutica Santos
Dummont
Museu Cidade Oficina de
Olímpica trens da Enge-
Zona Infraes- Década de Sem Público/Mu- Espaço
(Nave do Estrada de nho de 2016
Norte trutura 1800 informação nicipal cultural.
Conhecimen- Ferro Central Dentro
to) do Brasil
Museu da Casa da
Gráfico e
Casa da Moeda do Rio Público/Fe- Espaço
Centro Centro metalúrgi- 1814 1868 2018
Moeda do de Janeiro deral cultural.
co
Brasil (1814-1868)
Cabine 3 de
sinalização da
Museu de Enge-
antiga Estrada Zona Transpor- Sem Terceiro Espaço
Sinalização nho 1989 1989
de Ferro Norte te informação setor cultural.
Ferroviária Novo
central do
Brasil
Garagem e
Museu do oficina de Santa Infraes- Sem Público/Mu- Espaço
Centro 1877 1999
Bonde bondes de Teresa trutura informação nicipal cultural.
Santa Tereza
Galpão de
pintura de
Enge-
Museu do carros da Zona Infraes- Meados do Sem Público/Mu- Espaço
nho de 1984
Trem Estrada de Norte trutura século XIX informação nicipal cultural.
Dentro
Ferro D. Pedro
II
Parque 100% Fábrica de Em
Realen- Zona Público/Mu- Espaço
Realengo Cartuchos de Bélico 1898 1977 desenvolvi-
go Oeste nicipal cultural.
Verde Realengo mento
Jardim
Parque Jardim Real Fábrica Zona Público/Fe- Espaço
Botâ- Bélico 1810 1831 1831
Botânico de pólvora Sul deral cultural.
nico
São
Pavilhão Sem Infraes- Sem Sem Sem Espaço
Cristó- Centro Privado
Maxwell informação trutura informação informação informação cultural.
vão
Armazéns da Armaze- Sem Espaço
Pier Mauá Centro Centro 1910 2007 Privado
zona portuária namento informação cultural.
Quadra da
Lins de
Escola de Fundição Zona Metalúrgi- Sem Espaço
Vascon- 1913 1997 Privado
Samba Lins Cavina Norte co Informação cultural.
celos
Imperial
56
Casa de
Máquinas do Núcleo
Cosme Zona Infraes-
Residência Reservatório 1868 1975 2003 Privado residen-
Velho Sul trutura
do Morro do cial.
Inglês
Virada do
Fundição
Metalúrgi- século XIX Sem Espaço
Sacadura 154 Manoel Lino Saúde Centro 2014 Privado
co para século Informação cultural.
Costa
XX
The Rio de
Janeiro city Zona Sanea- Público/Es- Espaço
SEAERJ Glória 1864 1947 1960
improvements Sul mento tadual cultural.
company
Sede do Fábrica de
Serviço Armas da Público/Fe- Espaço
Saúde Centro Bélico 1765 1831 1917
Geográfico do Fortaleza a deral cultural.
Exército Conceição
Refinaria
Ramiro
Catum- Alimentí- Sem Sem
Sem função S.A. - Fábrica Centro 1885 1967 -
bi cio informação. função.
do
Açúcar Brasil
Man- Alimentí- Década de Público/Mu- Sem
Sem função Red Indian Centro 1966 -
gueira cio 1990 nicipal função.
Antiga Fábrica
de Gás –
Cidade Energéti- Sem
Sem função Companhia Centro 1853 1969 - Privado
Nova co função.
Estadual de
Gás
Complexo Maria
Zona Energéti- Sem
Sem função industrial da da 1928 2008 - Privado
Norte co função.
GE Graça
Estação
Ferroviária
Santa Zona Transpo-r Sem Sem
Sem função do Matadouro 1884 1974 -
Cruz Oeste te informação função.
de
Santa Cruz
Praça
Estação
da Zona Transpor- Década de Sem Sem
Sem função Ferroviária 1922 -
Bandei- Norte te 1970 informação função.
Francisco Sá
ra
Praça
Estação
da Zona Transpor- Público/Fe- Sem
Sem função Ferroviária 1926 2001 -
Bandei- Norte te deral função.
Leopoldina
ra
Gam- Alimentí- Sem Sem Sem
Sem função Moinho Inglez Centro 1887 -
boa cio Informação informação. função.
57
Fábrica da
Perfuma- Sem
Sem função Perfumaria Centro Centro 1884 1984 - Privado
ria função.
Kanitz
São
Energéti- Público/Fe- Sem
Sem função Gasomêtro Cristó- Centro 1911 2005 -
co deral função.
vão
Garagem Armaze- Década de Sem
Sem função Centro Centro 1910 - Privado
Poula namento 1990 função.
Trapiche Santo Armaze- Sem Público/Mu- Sem
Sem função Centro 1896 -
Modesto Leal Cristo namento informação nicipal função.
Moinho Alimentí- Sem
Sem função Saúde Centro 1887 2016 - Privado
Fluminense cio função.
São
Cia. Luz Energéti- Sem Sem
Sem função Cristó- Centro 1842 - Privado
Steárica co Informação função.
vão
Companhia de Espaço
Shopping Del Zona
tecidos Nova Têxtil 1925 1991 1996 Privado de
Nova América Castilho Norte
América consumo.
Sítio Cultural
da Rua da Instru-
A Guitarra de Público/Mu- Espaço
Carioca/Casa Centro Centro mentos 1887 2014 2014
Prata nicipal cultural.
Almerinda musicais
Gama
Armazéns da
servidão Santo Armazen- Sem Sem Sem Espaço
Studio do Cais Centro Privado
central da Cristo amento informação informação informação cultural.
linha férrea
Superinten- Sede da Cia. Espaço
Infraes- Público/Fe-
dência do Docas de Centro Centro 1908 1985 1986 de
trutura deral
IPHAN Santos trabalho.
Fábrica de Espaço
Boulevard Vila Zona
Tecidos Têxtil 1885 1964 1979 Privado de
Shopping Car Isabel Norte
Confiança consumo.
58
Figura 1 - Bairros dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro
59
Fonte: Construído pelo autor, 2023
60
Fonte: Construído pelo autor, 2023
61
maioria dos bens públicos são de propriedade municipal e federal, tendo o estado
do Rio de Janeiro pouca expressão no número de posses de remanescentes
industriais. O proprietário atual de uma das instalações analisadas, a Cia.
Hanseática (Brahma) localizada na Tijuca, foi classificado como Municipal e Privado
ao mesmo tempo, na medida em que o antigo espaço fabril foi transformado em
dois locais com novas funções: Centro Coreográfico da Prefeitura e Galeria
Comercial.
62
instalações mapeadas do Rio de Janeiro. Em seguida, é destacado a nova função
de espaço de consumo. Um ponto interessante para análise é o fato de que muitas
instalações industriais foram destruídas por completo para a construção de núcleos
residenciais, como veremos com mais detalhes adiante, sendo poucos os
remanescentes que possuem esta função.
63
atualmente é remanescente industrial foi aberta no Rio de Janeiro, em função da
perda de espaço no setor industrial para São Paulo, do processo de
desconcentração industrial dentro do território brasileiro e da desindustrialização
vivenciada no país a partir da década de 1970.
64
Fonte: Construído pelo autor, 2023
65
desenvolvimento, com a proposta de se tornar o Parque 100% Realengo Verde
(Magalhães, 2022). No entanto, as reivindicações da sociedade civil para que o
espaço ganhasse uma nova função começaram há décadas, em 2004. Neste
processo, o espaço foi alvo de uma disputa de forças, na medida em que o Exército
brasileiro desejava transformar o local em um espaço habitacional exclusivo para
seus integrantes, enquanto o movimento popular “O Realengo Que Queremos”
reivindicava a implantação de um parque ecológico (Candida, 2017). Em 2021, a
Prefeitura deu início às obras para a construção do parque, com conclusão prevista
para 2024.
66
Ainda, a primeira fábrica de moagem de trigo do Brasil, o Moinho Fluminense,
também está em refuncionalização. Após o deslocamento da fábrica da empresa
para Duque de Caxias em 2016, o espaço no bairro da Saúde passou por diversas
tentativas de refuncionalização (Lucena, 2017), até que foi comprado em 2019 pela
Autonomy Investimentos & Afilliates, empresa especializada em adquirir prédios
antigos para reformar (Agenda Bafafá, 2020). A empresa aponta que o Moinho
Fluminense vai virar um espaço multiuso com sete andares, contendo shopping,
hotel, escritórios, bares, restaurantes, exposições de artes e um espaço para
eventos. A conclusão da primeira fase da refuncionalização está prevista para 2025
(Vieira; Lima; Luz, 2022).
67
instalação estava sob o controle de um administrador nomeado pelo Juízo de
Falências da ELP, até setembro de 2023, quando o estado do Rio de Janeiro
ganhou na justiça uma liminar pela posse do terreno. A ideia é implementar projetos
sociais no local, com o objetivo de gerar emprego e movimentar a renda na região,
além de um mercado produtor, um novo Batalhão da Polícia Militar, um ambulatório
médico de especialidades, um parque urbano, uma vila olímpica e um centro
comercial (Lopes, 2023). No entanto, o processo de refuncionalização ainda não foi
iniciado, assim como a transferência de posse, mostrando que ainda há um longo
caminho pela frente para que o espaço ganhe uma nova função.
Algumas outras novas funções comuns que uma instalação industrial pode
ganhar incluem museus, shoppings e supermercados. No bairro da Tijuca,
instalações industriais foram demolidas e passaram a abrigar supermercados, como
68
o terreno do Complexo Industrial da Brahma, que de 2007 a 2013 funcionou como o
hipermercado Walmart e desde 2016 é sede do Supermercado Guanabara (Bastos,
2014).
69
chaminé e a sirene da fábrica (Candida, 2017). O Bangu Shopping, no entanto,
ocupa o antigo espaço da Fábrica Bangu, importante indústria têxtil, e seu grande
diferencial é que ele mantém as características arquitetônicas originais da fábrica. O
shopping foi inaugurado em 2007, três anos após o fechamento da fábrica (Lucena,
2016).
Por fim, como indicado anteriormente, a principal nova função adquirida pelos
remanescentes industriais é de espaço cultural. No Rio de Janeiro, existem três
exemplos emblemáticos deste tipo de processo de refuncionalização, que consistem
na Fábrica Bhering, no Centro Cultural Fundição Progresso e no Pier Mauá.
70
O Centro Cultural Fundição Progresso também passou por um processo de
ocupação coletiva na década de 1980. O antigo espaço industrial estava em
processo de demolição, que foi impedido por artistas e dirigentes da casa de
espetáculos Circo Voador, que conseguiram o direito de ocupar o espaço. A partir
deste momento, o local foi nomeado como Fundição Progresso e passou a
funcionar em conjunto com o Circo Voador, se complementando com o intuito de
proporcionar ao público ações culturais com foco na arte, educação, meio ambiente
e projetos sociais. Desde 1999 o local é administrado pela ONG Fundição de Arte e
Progresso e funciona como casa de espetáculos e espaço para cursos de artes
(Guia Cultural do Centro Histórico do Rio de Janeiro, 2024).
Por fim, o Píer Mauá faz parte da zona portuária do Rio de Janeiro, espaço
que foi amplamente revitalizado e refuncionalizado no contexto dos megaeventos
esportivos do início da década de 2010. Além de administrar o Porto de Cruzeiros
do Rio, a empresa Pier Mauá é responsável pelos armazéns da zona portuária, que
tiveram seus processos de refuncionalização iniciados em 2007 e hoje consistem
em 17 armazéns que servem como espaço para realização de eventos culturais,
musicais, corporativos e gastronômicos. A estrutura externa e interna foi
conservada, ainda que tenha passado por reformas no processo de
refuncionalização (Pier Mauá, 2024).
71
Nova América. Nesse sentido, para cada remanescente analisado, foram
pesquisadas imagens de arquivo do passado em sites oficiais dos remanescentes e
em veículos de comunicação com foco no Rio de Janeiro, como Diário do Rio e O
Dia, assim como foram fotografadas imagens dos atuais espaços por autoria própria
do pesquisador, por meio de visitas às atuais instalações industriais. O foco da
pesquisa foi analisar o estado de conservação do patrimônio, tanto material, quanto
imaterial, pensando na memória do ambiente fabril.
72
Figura 10 - Ausência de manutenção no espaço da Fábrica Bhering
73
Figuras 11 e 12 - Chaminé e torre de relógio preservadas da Fábrica Bhering
74
No que tange ao segundo espaço cultural analisado, nas visitas à Fundição
Progresso foi possível identificar um cenário de maior conservação da instalação
industrial, que se encontra em bom estado de preservação arquitetônica, como em
sua fachada. Por outro lado, o patrimônio imaterial e material sobre o passado fabril
do espaço faz-se presente de maneira menos contundente, por meio de totens que
contam a história do espaço desde o seu funcionamento como fábrica; no entanto,
não foram encontrados antigos maquinários, por exemplo, assim como outros itens
que remetessem ao processo produtivo da fundição. Entretanto, em conversa com
funcionário da portaria, foi relatado que existe a possibilidade de haver
equipamentos da antiga fábrica no subsolo da instalação; no entanto, a visitação
não é permitida, pois alega-se entre os funcionários que o local é ‘assombrado por
fantasmas’ [sic].
75
Figuras 16 e 17 - Fachada no passado e presente da Fundição Progresso
76
Figuras 20, 21 e 22 - Funcionamento noturno da Fundição Progresso com roda de samba
77
Ainda de acordo com a equipe de segurança, em dissonância com os portais
de comunicação e comunicados oficiais da Autonomy Investimentos, proprietária do
local - conforme indicado na seção ‘O parque industrial carioca desativado’ -, não há
previsão de início das obras, que são constantemente adiadas, podendo levar a
entender o espaço como um elefante branco atualmente. Dessa maneira, a
preservação arquitetônica do espaço e sua segurança física estão em crescente
ameaça, considerando que o interior do prédio encontra-se em ruínas -
contrastando com a fachada que se encontra preservada -, conforme foi relatado
pela equipe de segurança e como também foi possível observar por meio de uma
permissão de visita a um espaço interno específico pela equipe de segurança; no
entanto, sem permissão para fotografar.
78
Figuras 26 e 27 - Fachada no passado e presente do Moinho Fluminense
Nesse sentido, essa tensão foi refletida durante a visita para a produção
fotográfica do remanescente. Foi possível identificar a falta de preservação do
espaço, tanto na fachada, quanto em seu espaço interno, como também a tentativa
da equipe do local em manter a privacidade da antiga fábrica. Um funcionário do
estacionamento relatou que não é mais possível visitar ou fotografar o prédio da
Kanitz, por ordens do proprietário do imóvel, que é um português e atualmente mora
79
em Portugal. Foi relatado também que o espaço é monitorado pelo proprietário por
câmeras, e qualquer produção fotográfica e audiovisual levaria à demissão dos
atuais funcionários responsáveis pelo remanescente. Após a veiculação de matérias
nos portais de notícias indicados em 2023 - que fotografaram e gravaram o
ambiente interno do imóvel -, e que levaram à tona a pressão da população pela
apropriação do espaço pela prefeitura, pode-se ter gerado uma maior preocupação
do proprietário atual em relação ao futuro do espaço, que não deseja vender o
imóvel, como também adotar uma nova função de fato relevante para o tecido
social. Uma fotografia - figura 29 - produzida para a pesquisa, por exemplo, do
interior da construção, foi possível de ser obtida apenas por meio de uma fresta no
portão da fachada da instalação. No que tange a imagens de arquivo do passado,
não foram encontrados registros, reforçando a tese do apagamento do passado
industrial da capital fluminense.
80
Figuras 30 e 31 - Estacionamento que ocupa espaço vazio da antiga perfumaria
81
Figuras 32 e 33 - Fábrica de Sabão Português e Assaí Atacadista: passado e presente
82
Figuras 34 e 35 - Companhia de Tecidos e Shopping Nova América: passado e presente
83
Figuras 37, 38 e 39 - Preservação arquitetônica do espaço industrial
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
84
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93