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ESPM - ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

PATRIMÔNIO INDUSTRIAL E ESPAÇOS


REFUNCIONALIZADOS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Estudante: Thiago Mendonça Vargas


Orientadora: Sílvia Borges Corrêa
Curso: Comunicação e Publicidade
ESPM Rio
ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

THIAGO MENDONÇA VARGAS

Patrimônio Industrial e Espaços Refuncionalizados da Cidade do Rio de


Janeiro

Relatório final da pesquisa de iniciação científica;


Escola Superior de Propaganda e Marketing.
Orientado por SÍLVIA BORGES CORRÊA, RIO DE
JANEIRO, 2024.

2
RESUMO

O projeto de pesquisa possui como objetivo principal analisar o processo de


refuncionalização de instalações industriais na cidade do Rio de Janeiro, buscando
compreender a relação entre o passado industrial e a construção imagética da
cidade; também, identificar casos paradigmáticos de refuncionalização ao redor do
mundo. Os conceitos teóricos fundamentais abordados incluem a refuncionalização,
com base na perspectiva de Santos (1985) sobre as categorias fundamentais para a
compreensão da produção de espaço, e o patrimônio industrial, por meio de análise
das cartas de Nizhny Tagil (TICCIH, 2003) e Sevilha (TICCIH, 2018). Além disso, a
pesquisa explora a história da industrialização e desindustrialização do Rio de
Janeiro. A metodologia adotada envolveu pesquisa bibliográfica e documental, com
a análise de artigos acadêmicos, monografias, jornais, revistas e sites
especializados; também incluiu-se a análise de dados coletados de forma qualitativa
e a realização de análises estatísticas simples. Os principais resultados alcançados
apontam para predominâncias de região, bairro, função atual, anos de abertura e de
fechamento nos remanescentes industriais mapeados na capital fluminense Além
disso, foram identificadas tendências no processo de refuncionalização, como a
complexidade que envolve a atuação de diferentes atores sociais e a interlocução
entre poder público, privado e sociedade civil. A pesquisa também revelou uma
lacuna de informações no que tange ao tema ao remanescente industrial carioca,
reforçando a questão do apagamento do passado industrial da cidade.

Palavras-chave: refuncionalização; patrimônio industrial; desindustrialização; Rio


de Janeiro

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 5
2 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................................. 10
2.1 REFUNCIONALIZAÇÃO............................................................................................ 10
2.2 PATRIMÔNIO INDUSTRIAL.......................................................................................14
2.3 HISTÓRIA DA (DES)INDUSTRIALIZAÇÃO DO RIO DE JANEIRO.......................... 17
3 PERCURSO METODOLÓGICO......................................................................................... 25
4 ANÁLISES.......................................................................................................................... 29
4.1 A REFUNCIONALIZAÇÃO DE ESPAÇOS INDUSTRIAIS EMBLEMÁTICAS: UM
GIRO PELO MUNDO....................................................................................................... 29
4.2 MAPEANDO OS REMANESCENTES INDUSTRIAIS DA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO..........................................................................................................................52
4.2.1 O parque industrial carioca desativado........................................................ 52
4.2.2 Imagens do passado e do presente.............................................................. 70
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................83
6 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 85

4
1 INTRODUÇÃO

Este relatório de pesquisa de iniciação científica está vinculado ao projeto


intitulado Refuncionalização de instalações industriais em espaços da economia
criativa: patrimônio industrial e transformação de instalações industriais em espaços
culturais, criativos e de consumo na cidade do Rio de Janeiro, coordenado pela
Professora Sílvia Borges, aprovado na Chamada CNPq/MCTI/FNDCT Nº 40/2022,
com vigência de 15/12/2022 a 15/12/2024.

Conforme apresentado no projeto de pesquisa aprovado, estão envolvidas


nesta pesquisa de iniciação científica as seguintes atividades:

1. Levantamento bibliográfico sobre refuncionalização e sobre patrimônio


industrial;

2. Levantamento bibliográfico sobre casos bem-sucedidos de refuncionalização


de indústrias em outras cidades do país e do mundo;

3. Levantamento de dados secundários sobre o parque industrial desativado


(antigas fábricas, galpões portuários e ferrovias) do Rio de Janeiro;

4. Levantamento de imagens de arquivo das antigas fábricas, galpões


portuários e ferrovias;

5. Captação de imagens (fotos e vídeos) das antigas fábricas, galpões


portuários e ferrovias.

Para contextualizar os objetivos deste projeto de pesquisa de iniciação


científica, faz-se necessário debater o processo de industrialização e
desindustrialização pelo qual passou a cidade do Rio de Janeiro. A capital
fluminense foi o epicentro do início da industrialização no Brasil (Baer, 1985). Neste
momento, a região central da cidade e a Zona Norte atuaram como polos industriais,
recebendo uma grande quantidade de instalações fabris. No entanto, a liderança do
Rio de Janeiro na industrialização brasileira durou até as primeiras décadas do
século XX, quando foi ultrapassada por São Paulo (Ribeiro, 2002). A partir deste
momento, a cidade passou a ganhar um novo perfil, o de cidade ‘Maravilhosa’,

5
levando a um apagamento do passado industrial da capital fluminense (Fontes,
2018).

Este cenário foi agravado com o processo de desindustrialização pelo qual


passou o Brasil na década de 1970, tendo o estado do Rio de Janeiro sido um dos
epicentros da desindustrialização nacional (Sobral, 2017). Como consequência, a
capital fluminense se firmou como cidade de serviços e indústrias criativas,
reafirmando sua função de provedora de serviços modernos, voltada
particularmente para o turismo e aos negócios.

Neste sentido, a região central e a Zona Norte do Rio de Janeiro passaram a


abrigar diversos remanescentes industriais, gerando impacto no tecido urbano, por
meio do aumento da criminalidade e do desemprego (Fontes, 2018). Nas últimas
décadas do século XX, consolidaram-se os debates mundiais e nacionais sobre
patrimônio industrial e acentuaram-se os processos de refuncionalização nestes
espaços. No entanto, nesta pesquisa, além de analisarmos o patrimônio industrial
do Rio de Janeiro, estudaremos também outros remanescentes industriais que não
foram patrimonializados pelos órgãos de proteção do patrimônio cultural, no intuito
de atingir uma maior abrangência e avaliar as possibilidades de novos usos em
espaços que, desprovidos do cuidado de órgãos de proteção, se encontram
abandonados e/ou em ruínas. Ainda que a presença de antigas instalações
industriais sem função atualmente seja uma realidade no Rio de Janeiro, a maioria
dos remanescentes industriais passaram a ter novas funções, como espaços
criativos (coletivos de artistas, designers, arquitetos), espaços culturais (museus,
centros culturais, casas de espetáculos) ou espaços de consumo (shopping centers,
supermercados).

Neste sentido, este projeto de pesquisa de iniciação científica possui o


objetivo geral de compreender processos de refuncionalização de remanescentes
industriais na cidade do Rio de Janeiro. Para tanto, tem-se os seguintes objetivos
específicos:

● Mapear os remanescentes industriais da cidade do Rio de Janeiro;


● Analisar como algumas dessas edificações passaram por processos de
refuncionalização;

6
● Analisar casos emblemáticos de refuncionalização de espaços industriais em
outros países, de forma a identificar os processos essenciais para uma
refuncionalização considerada eficaz.

Em relação a este relatório, ele está estruturado nas seções de “Introdução”,


na qual apresentam-se os objetivos e o contexto do projeto de pesquisa;
“Referencial Teórico”, em que consta o embasamento teórico e as discussões, a
partir dos autores de referência, sobre os conceitos essenciais para o
desenvolvimento da pesquisa; “Percurso Metodológico”, onde são apresentados os
métodos de pesquisa e o processo de levantamento de dados secundários para
construção do mapeamento dos remanescentes industriais; “Análises”, que é
subdividida na apresentação dos casos emblemáticos de refuncionalização ao redor
mundo e na exposição do mapeamento dos remanescentes industriais do Rio de
Janeiro; “Considerações finais”, em que apresenta-se as considerações com base
nas análises desenvolvidas.

Aprofundando na explicação sobre cada seção, em “Referencial Teórico”,


busca-se entender, a partir de pesquisa bibliográfica, os conceitos de
refuncionalização - com base na perspectiva de Santos (1985) sobre as categorias
fundamentais para a compreensão da produção de espaço - e de patrimônio
industrial - por meio de análise das cartas de Nizhny Tagil (TICCIH, 2003) e Sevilha
(TICCIH, 2018). Ainda, nesta seção, aprofunda-se na história da industrialização na
cidade do Rio de Janeiro e da sua desindustrialização, a partir da década de 1970,
que levou ao fechamento e deslocamento de diversas fábricas na cidade.

Em “Percurso Metodológico”, explicam-se os métodos de pesquisa utilizados,


tanto para a construção do referencial teórico, como para o mapeamento realizado
dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro - onde foram identificadas 56
instalações presentes na paisagem urbana da capital fluminense - e também para o
mapeamento de casos emblemáticos de refuncionalização ao redor do mundo.

Na seção “Análises”, foi desenvolvido um compilado das práticas


bem-sucedidas de refuncionalização de espaços industriais em diferentes países. O
objetivo foi identificar processos essenciais para uma refuncionalização eficaz, por
meio da apresentação de casos emblemáticos de refuncionalização ao redor do
mundo. A seção busca compreender as transformações e tendências globais na

7
refuncionalização de espaços industriais, e inclui a identificação de casos
bem-sucedidos em diferentes continentes, como América Latina, América do Norte,
Europa, África e Ásia, visando destacar práticas exemplares e diversidade de
possibilidades de refuncionalização. Apesar da ausência de uma base de dados
unificada sobre refuncionalização do remanescente industrial, ao redor do mundo, a
metodologia utilizada para levantar casos emblemáticos foi realizada por meio de
pesquisa bibliográfica e documental em meios diversos.

Na mesma seção, o mapeamento do remanescente industrial do Rio de


Janeiro é apresentado em uma versão simplificada adaptada para este relatório. Ele
foi construído por meio de fontes bibliográficas, como a tese de doutorado de Brasil
(2022) e o Guia do Patrimônio Cultural Carioca, de Fajardo (2014). No entanto,
grande parte das informações veio por meio de pesquisa documental, e foram
consultados jornais, revistas e endereços eletrônicos. A falta de uma base de dados
unificada sobre o remanescente industrial do Rio de Janeiro, além da falta de
informações disponíveis sobre muitas fábricas, reforça a questão do apagamento do
passado industrial da cidade (Fontes, 2018).

Por meio do mapeamento, foram identificadas informações sobre estes


remanescentes, como nome atual do espaço, ano de refuncionalização, proprietário
atual e função atual. Os espaços que atualmente não possuem função e/ou se
encontram em estado de abandono também foram devidamente mapeados. As
informações coletadas foram analisadas por meio de alguns gráficos que permitiram
notar predominâncias em alguns dos tópicos de análise, como por exemplo, as
principais regiões dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro e suas funções
atuais, assim como os anos de abertura, fechamento e refuncionalização das
fábricas. Ainda, foram realizadas análises envolvendo debates de caso e temáticas
como: processos de refuncionalização em desenvolvimento; remanescentes
industriais sem função atualmente; espaços de instalações industriais que
adquiriram novos usos, mas que foram destruídas por completo; tendências de
novas funções em processos de refuncionalização, como supermercados,
shoppings e museus; espaços culturais refuncionalizados amplamente conhecidos
pelo público carioca.

8
Por fim, na seção de “Análises”, foram apresentadas imagens do passado e
do presente sobre o remanescente industrial do Rio de Janeiro, por meio da análise
visual de dois remanescentes industriais selecionados para exemplificar o passado
e o presente de instalações que representam as funções atuais mais expressivas
identificadas na pesquisa. A metodologia adotada combinou pesquisa documental e
produção fotográfica autoral, onde os espaços atuais foram fotografados pelo
próprio pesquisador durante visitas às instalações industriais. O objetivo principal da
seção foi analisar o estado de conservação do patrimônio, tanto material quanto
imaterial, considerando a memória do ambiente fabril. A abordagem permitiu uma
comparação visual entre o passado e o presente dos remanescentes industriais
selecionados, destacando mudanças físicas e funcionais ao longo do tempo e
contribuindo para uma compreensão mais completa da evolução desses espaços na
cidade do Rio de Janeiro.

Por fim, em “Considerações Finais”, são apresentadas as conclusões deste


projeto de pesquisa, que apontam para predominâncias de região, bairro, função
atual, anos de abertura e de fechamento nos remanescentes industriais mapeados
da cidade do Rio de Janeiro. Ainda, também foi possível observar tendências neste
processo, como a complexidade da refuncionalização, que envolve a atuação de
diferentes atores sociais e a interlocução entre poder público, privado e movimentos
da sociedade civil.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Para analisar os processos de refuncionalização de instalações industriais na


cidade do Rio de Janeiro, é necessário apresentar e problematizar os conceitos de
refuncionalização e de patrimônio industrial, além de compreender a história de
industrialização e desindustrialização da cidade. Na seção Refuncionalização,
recorre-se aos estudos de Santos (1985) sobre as transformações no espaço
urbano e as quatro categorias fundamentais para a compreensão da produção de
espaço, em especial à análise da categoria de função. Ainda, analisam-se as
definições de refuncionalização elaboradas por Evaso (1999), Corrêa (2009) e
Sotratti (2015). Em Patrimônio Industrial, busca-se entender as transformações nas
definições de patrimônio cultural e industrial ao longo do tempo, assim como as
delimitações conceituais em torno do patrimônio industrial, por meio das cartas de
Nizhny Tagil (TICCIH, 2003) e Sevilha (TICCIH, 2018) e dos estudos de Brasil
(2022) e Meneguello (2011). Por fim, com base na perspectiva de autores como
Baer (1985), Brasil (2022), Oliveira (1992), Albernaz e Diógenes (2023), Ribeiro
(2002) e Azevedo (2010), apresenta-se a história da industrialização no Rio de
Janeiro - cidade pioneira no setor industrial brasileiro, que ocupou posição de
liderança até o início do século XX, quando perde espaço no ranking para São
Paulo - e de sua desindustrialização, a partir da década de 1970, que levou ao
fechamento e deslocamento de diversas fábricas na cidade, localizadas em especial
na região central e na Zona Norte do Rio.

2.1 REFUNCIONALIZAÇÃO

Com o objetivo de fundamentar o conceito de refuncionalização, é importante


entender os conceitos presentes na obra de Santos (1985), que oferecem reflexões
significativas para compreender o papel ativo do espaço no movimento da totalidade
social, sendo de grande valia no entendimento das transformações na cidade e no
espaço geográfico.

Na medida em que a economia se altera profundamente, assim como


a sociedade correspondente, e na medida também em que os tipos de
relações econômicas e de toda ordem mudam substancialmente, as
cidades se tomam rapidamente outra coisa em relação ao que eram

10
até então. (Santos, 1985, p.34)

Para Santos (1985), a análise dessas transformações no espaço urbano


pode ser realizada do ponto de vista das instâncias de produção ou das estruturas
da sociedade. No entanto, o teórico fundamenta uma nova possibilidade de análise,
por meio de quatro categorias fundamentais para a compreensão da produção de
espaço: estrutura, processo, função e forma. Essas categorias definem o espaço em
relação à sociedade, na medida em que “sempre que a sociedade (a totalidade
social) sofre uma mudança, as formas ou objetos geográficos (tanto os novos como
os velhos) assumem novas funções” (Santos, 1985, p.36). Desta maneira, além de o
autor evidenciar o impacto da totalidade social no espaço, ele defende a
inter-relação entre as quatro categorias, como nas conexões entre forma e função.

Se a forma é primariamente um resultado, ela é também um fator


social. Uma vez criada e usada na execução da função que lhe foi
designada, a forma frequentemente permanece aguardando o próximo
movimento dinâmico da sociedade, quando terá toda a probabilidade
de ser chamada a cumprir uma nova função. (Santos, 1985, p.41)

Sendo assim, Santos (1985) apresenta o conceito de que o espaço e os


objetos geográficos sofrem impactos das transformações sociais e econômicas,
gerando alterações nas suas categorias de estrutura, processo, função e forma. E
dessa maneira, apesar de não apresentar uma definição de refuncionalização nas
suas obras, o autor aborda de maneira contundente este processo, principalmente
por meio da análise da categoria de função, sobre a qual as transformações sociais
atuam “exigindo novas funções e atribuindo diferentes valores às formas
geográficas.” (Santos, 1985, p. 43).

Ao processo descrito por Santos (1985), foram associados diversos termos a


partir de estudos de diferentes áreas de conhecimento, como “reconversão” e
“revitalização”. Entretanto, para abordar as transformações ocorridas em instalações
industriais que foram abandonadas e/ou se tornaram obsoletas em função da
desindustrialização e posteriormente adquiriram novos usos, o termo
refuncionalização se mostra mais apropriado, levando em conta que as funções em
todos estes remanescentes industriais1 se modificaram em relação ao seu uso
original.

1
A ideia de remanescente industrial será retomada mais adiante.

11
De acordo com Evaso (1999), a refuncionalização consiste nas alterações
que atingem o sistema material do espaço construído ao atribuir a ele um novo valor
de uso, sem necessariamente intervir em suas constituições físicas. Neste
processo, são colocados em oposição variáveis antigas e novas através de
introduções e acomodações, produzindo novos contextos. Evaso (1999) defende
que este processo está intrinsecamente relacionado com as transformações
econômicas de uma sociedade.

As refuncionalizações são necessárias a partir do momento em que


caminha-se rumo à decadência e/ou fadiga do conjunto técnico,
conseqüentemente, da divisão do trabalho em voga. Revigora-se,
portanto, todo um conjunto por meio da refuncionalização e da
substituição de suas parcelas mais críticas, nas quais os modelos de
produção e de reprodução saturaram-se e perdem competitividade
(Evaso, 1999, p. 45).

Por outro lado, Corrêa (2009) conceitua refuncionalização através das


relações entre as categorias de processo e forma, conforme as definições de Santos
(1985) de processo - o conjunto de mecanismos e ações a partir dos quais a
estrutura se movimenta, alterando suas características - e de forma - que seriam as
criações humanas por meio das quais as diversas atividades se realizam.

O processo A, ocorrido no passado, no tempo T1, gerou, naquele


momento, a forma X. Esta forma permanece mais tarde, no tempo T2,
sob ação do processo B, mas agora com nova função, condizente com
o processo B em curso. Está, assim, refuncionalizada. A permanência
de formas antigas refuncionalizadas se faz presente em toda parte, na
cidade e no campo, em países antigos e novos (...) Isto é
particularmente relevante quando se considera a organização espacial,
que apresenta formas datadas de momentos distintos, originando uma
paisagem poligenética, com formas criadas em diferentes momentos
mas funcionalmente ativas. (Corrêa, 2009, p. 3).

Em definição presente no Dicionário do Patrimônio Cultural do Instituto do


Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Sotratti (2015) associa a
refuncionalização a uma estratégia crucial dentro de um modelo de planejamento
urbano estratégico, consistindo no “processo de transformação de funções de
elementos arquitetônicos de um determinado processo histórico pretérito” (Sotratti,
2015). Seria, assim, uma consequência da reestruturação socioespacial de uma
cidade, liderada por determinados grupos sociais, podendo abranger edifícios,
bairros, cidades ou mesmo regiões.

Sotratti (2015) entende que a refuncionalização estratégica está associada a


funções como turismo, cultura, negócios, comércio e residências. No entanto, ainda

12
que a potencialidade econômica deva ser considerada, o primeiro passo para uma
refuncionalização deve ser o estudo da importância simbólica e arquitetônica do
patrimônio, garantindo a apreciação da história e o valor da memória. Para analisar
se uma refuncionalização foi bem sucedida, o autor defende que deve-se observar
se os objetivos foram atingidos ou se ocorreram desvios, como, por exemplo, o
reforço apenas ao apelo consumista e espetacularizante dos espaços. Ruivo (2018)
também defende a ideia de que, apesar da refuncionalização estar muito associada
às vantagens econômicas que pode propiciar, este processo se destaca
principalmente pelo seu potencial sustentável e pelo valor histórico e identitário
garantido com a preservação da instalação, de forma a resgatar a memória da
cidade.

No contexto contemporâneo, o fenômeno da refuncionalização se tornou


mais evidente em espaços industriais, e segundo Jesus (2019), consistindo em uma
resposta óbvia às demandas da cidade pós-industrial, considerando que muitos
edifícios estão sem uso por fatores como a globalização ter tornado o mercado mais
competitivo, levando ao fechamento de indústrias, e à transferência das instalações
para locais com mão de obra e terrenos mais baratos, podendo essa transferência
ocorrer para áreas/bairros de uma mesma cidade ou para outros países.

A refuncionalização de espaços industriais - fábricas, galpões, armazéns


portuários e estações ferroviárias - se faz presente em diversas cidades do mundo,
como nos famosos exemplos europeus da Lx Factory em Lisboa, Palo Alto em
Barcelona e La Friche em Marseille. Por meio destes exemplos, é possível
identificar caminhos para a adoção de novas funções em antigos remanescentes
industriais, conforme veremos a seguir.

A Lx Factory é um espaço comercial e artístico composta de restaurantes,


bares, lojas e escritórios, instalada no espaço onde inicialmente foi uma fábrica de
fiação e tecidos. Segundo Gabriel et al. (2013), o local é uma ilha criativa que
concentra atividades artísticas experimentais e criativas por meio da revitalização
urbana deste brownfield2, refletindo o fomento da sociedade pós-industrial pela
existência de espaços baseados na economia da criatividade.

2
O termo brownfield é utilizado para designar instalações industriais e comerciais abandonadas, ociosas ou
subutilizadas cuja expansão ou revitalização é complicada por contaminações ambientais reais ou percebidas.

13
O caso de Palo Alto também é profundamente marcado pela presença da
economia criativa. A antiga fábrica de fios de lã foi refuncionalizada e se tornou um
espaço criativo que reúne 17 empresas unidas em torno da criatividade, com foco
em design e arquitetura. Oliveira (2015) entende que a mudança econômica de
Barcelona para uma cidade inovadora e globalmente competitiva está atrelada às
transformações em Palo Alto, que por sua vez estão relacionadas com o processo
de regeneração urbana do bairro de Poblenou, “onde o seu passado industrial é
transformado em uma imagem de cidade inteligente de produção econômica
sustentável” (Oliveira, 2015, p. 37), em um cenário em que a criatividade e a
tecnologia são força motriz.

Por fim, La Friche é uma antiga fábrica de tabaco convertida em complexo


cultural que contém atualmente 350 artistas e produtores que trabalham no local.
Seu processo de refuncionalização gerou grande impacto na cultura da cidade e nas
políticas de planejamento urbano.

Sem dúvida, La Friche participou na regeneração de Marselha e deu


à cultura alternativa e às iniciativas inicialmente periféricas e
temporárias um papel central na política de renascimento urbano a
longo prazo da cidade (Andres, 2011, p. 809).

2.2 PATRIMÔNIO INDUSTRIAL

Uma refuncionalização efetiva de uma instalação industrial ocorre quando


seu valor histórico e simbólico é preservado. Dessa maneira, compreender o
conceito de patrimônio cultural e, especificamente o patrimônio industrial, faz-se
necessário.

De acordo com Brasil (2022), a compreensão do termo de patrimônio cultural


surge na França, com a Revolução Francesa, quando os objetos da nobreza
receberam conotação de valor histórico e artístico e passaram a compor o
patrimônio nacional. Dessa maneira, a primeira noção de patrimônio revela uma
forte associação ao bem tangível, tendo este pensamento perdurado por longos
anos. No entanto, a partir da segunda metade do século XX, esta associação vem
sendo repensada, tanto no quesito da materialidade, quanto na abrangência de
diferentes campos do saber.

14
Atualmente o patrimônio não é apenas um termo relacionado aos
campos da cultura e das artes e aos profissionais ligado à sua gestão
como arquitetos, urbanistas e historiadores, mas também a outras
áreas com a política e a economia (turismo), graças à mundialização
do conceito, do efeito da globalização e o potencial lucrativo que o
patrimônio representa. (Freitas, 2016, p. 29).

Smith (2006) defende uma noção de patrimônio como um processo cultural e


social em transformação que procura significado para o presente e como um ato de
lembrança e de construção de memórias que moldam uma comunidade. Para a
pesquisadora, o conceito de patrimônio não deve estar centrado na posse e
preservação, mas na transmissão de conhecimento e memória, na medida em que o
patrimônio não é apenas uma materialidade estática que pertence ao passado, mas
principalmente, um processo cultural em transformação. “Com o consumo em
massa da cultura esta indústria revela uma versão da História pouco verídica de
modo a satisfazer a procura do turismo do patrimônio” (Smith, 2006, p. 62).

No cenário nacional, de acordo com Brasil (2022), o patrimônio cultural surge


como patrimônio histórico e artístico nacional, nos primórdios da República,
associado à noção de identidade e noção. O movimento ganhou força na Era
Vargas, com forte influência do movimento modernista, quando foi criado o Serviço
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), em 1937. No final do século
XX, consolidou-se no país uma noção mais abrangente de patrimônio, em
convergência com as mudanças no cenário mundial. Essa mudança de paradigma
fica clara na Constituição Federal Brasileira de 1988, que define o patrimônio
cultural como o conjunto de bens de natureza material e imaterial, analisados
individualmente ou em conjunto, que são portadores de referência à identidade, à
ação, e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.

‘ Um dos tipos de patrimônio cultural é o patrimônio industrial, que segundo


Brasil (2022), recebeu destaque mundialmente principalmente após a Segunda
Guerra Mundial, por conta da destruição de diversos prédios industriais. No entanto,
os estudos em torno do patrimônio industrial se consolidaram a partir de 1978, com
a criação do Comitê Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial
(TICCIH), que possui como grandes marcos a elaboração das cartas de Nizhny Tagil
(TICCIH, 2003) e de Sevilha (TICCIH, 2018), que estabeleceram diretrizes sobre o
tema, como em relação à definição e abrangência do termo patrimônio industrial.

15
O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial
que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou
científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas,
fábricas, minas e locais de processamento e de refinação,
entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e
utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas
e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram
actividades sociais relacionadas com a indústria, tais como
habitações, locais de culto ou de educação. (TICCIH, 2003)

Entretanto, este conceito foi revisto pela organização na Carta de Sevilha,


quando sua abrangência foi ampliada, passando a englobar também patrimônios de
origem imaterial, como a memória do trabalho, que contempla hábitos,
comemorações, costumes e ofícios dos trabalhadores fabris. Meneguello (2011)
defende a ideia de que o patrimônio industrial consiste em um campo de pesquisa e
atuação que atinge, além do estabelecimento e proteção de acervos e da presença
das edificações industriais na trama urbana, a memória do trabalho. Em
convergência, Brasil (2022) elabora uma definição de patrimônio industrial levando
em conta as atualizações e revisões da carta de Sevilha:

remanescentes da cultura industrial e suas infraestruturas,


identificados a partir de seus valores históricos, tecnológicos, sociais,
arquitetônicos e/ou científicos, de natureza material e imaterial,
reconhecidos pelos diversos atores envolvidos na dinâmica da
produção e/ ou serviços, ou por entidades governamentais e não
governamentais, e que necessariamente tragam associados a esses
remanescentes a memória do trabalho e do trabalhador dos mais
variados gêneros e todas as manifestações a eles agregados na
dinâmica das atividades laborais (Brasil, 2022, p. 122).

Dessa forma, é possível concluir que nem todo remanescente industrial é um


patrimônio industrial, pois “é necessário que se reconheçam nessas edificações
inovações que tenham causado profundas mudanças na forma de produção e que
geraram evoluções sociais, técnicas e econômicas” (Brasil, 2022, p. 167). Segundo
Mendonça (2001), remanescentes industriais, embora sem uma definição precisa,
são entendidos como espaços industriais que foram produtivos em determinado
período, mas que no momento presente não mais desempenham a atividade
industrial para a qual foram originalmente construídos. São antigas instalações
industriais não mais utilizadas, desocupadas, abandonadas ou refuncionalizadas.
Embora Mendonça (2001) não mencione o termo “remanescentes industriais”, é
possível ligá-lo às ideias de “vazios industriais” e de “ruínas industriais” e ao
conceito de “friches industrielles” apresentados pelo autor.

16
2.3 HISTÓRIA DA (DES)INDUSTRIALIZAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

A cidade é um espaço em constante transformação e analisar o passado de


cada cidade é importante para compreender essas transformações e para pensar o
futuro.

Entender a cidade hoje (...) exige uma volta às suas origens e a


tentativa de reconstruir, ainda de forma sintética, a sua trajetória.
Desta forma, entendemos que espaço é história e, nesta perspectiva,
a cidade de hoje é o cumulativo de todas as outras cidades de antes,
transformadas, destruídas, reconstruídas, enfim, produzidas pelas
transformações sociais ocorridas através dos tempos engendradas
pelas relações que promovem estas transformações. (Sposito, 2002,
p.11).

De acordo com Baer (1985), a industrialização do Brasil iniciou-se na


segunda metade do século XIX no Rio de Janeiro, quando a então capital do
Império do Brasil começou a receber importantes investimentos no setor industrial.
Segundo Brasil (2022), os fatores que colaboraram para esse quadro foram a
chegada da família real portuguesa no Brasil em 1808, a abertura dos portos no
mesmo ano e a revogação do alvará que proibia todas as atividades industriais na
Colônia em 1809.

No entanto, foram a Tarifa Alves Branco, criada em 1844, que elevou as


taxas de importação, e a Lei Eusébio de Queirós (1850), que proibiu o tráfico de
escravos, que permitiram ao Rio de Janeiro avanços contundentes no seu processo
de industrialização. “Esses impulsionamentos em direção à industrialização, na
cidade do Rio de Janeiro se estenderam do período imperial até as primeiras
décadas da República” (Brasil, 2022, p. 15).

Até o final da década de 1880 o Rio de Janeiro já possuía a


maior concentração operária e fabril do país (...) deveu-se a
acumulação de capitais provenientes da empresa agrícola ou dos
negócios do comércio exterior; a facilidade de financiamento dos
grandes bancos, cuja sede estava localizada na capital do país;
um mercado de consumo de proporções razoáveis, abrangendo
não só a cidade como a região tributária, servida pela rede de
ferrovias; uma grande concentração de operários de baixa
qualificação; e, ainda, o papel da energia a vapor, substituindo
a água como força motriz (Oliveira, 1992, p. 95)

Segundo Albernaz e Diógenes (2023), as primeiras indústrias do Rio de


Janeiro instalaram-se no Centro, por conta da facilidade no escoamento da
produção, e nos arredores das áreas centrais, que possuíam a presença de uma

17
força motriz hidráulica. Por conta de transformações nas fontes de energia,
alterações políticas e econômicas e o aumento da população urbana na cidade, as
fábricas passaram a fixar-se nos subúrbios da Zona Norte que, além de
proporcionarem terrenos grandes e baratos, contavam com rede de energia elétrica
e rede ferroviária, permitindo uma eficiente distribuição de produtos e acesso fácil
de matéria-prima.

Ribeiro (2002) aponta que o pioneirismo e liderança do Rio de Janeiro na


industrialização durou até as primeiras décadas do século XX, quando perdeu este
espaço para São Paulo, principalmente por conta dos lucros excedentes gerados
pelos produtores paulistas na exportação de café. “Essa perda de posição, no
ranking industrial, trouxe, também, para a cidade, em longo prazo, um novo perfil: o
de cidade ‘Maravilhosa’ sem, contudo, deixar de ser uma cidade industrializada.”
(Brasil, 2022, p. 4). Cavalcanti e Fontes (2011) defendem a ideia de que, ao longo
do tempo, ocorreu certo apagamento do passado industrial do Rio de Janeiro, “cuja
memória é pouco visível ou valorizada no imaginário social relacionado à cidade.”
(Cavalcanti; Fontes, 2011, p. 12). Em entrevista à Revista Museu, Fontes enfatiza
esta ideia.

A construção da identidade oficial do Rio enfatiza seu papel como


capital federal e suas belezas naturais. A industrialização da cidade
estabeleceu intensas conexões com a geografia urbana, o sistema
de transporte, a formação de variados bairros e favelas, bem como
com numerosos aspectos culturais cariocas, como o samba, por
exemplo. Isso sem mencionar os impactos econômicos e políticos.
As lutas sociais na cidade no século XX são incompreensíveis fora
do contexto do mundo industrial. No entanto, parece que esse
passado industrial é apagado de alguma forma da história e da
memória do Rio de Janeiro (Fontes, 2018, s.p.)

Segundo Azevedo (2010), foi a partir da segunda metade da década de 1970


que o Rio de Janeiro entrou em um processo de decadência econômica bastante
acentuada, em especial no setor industrial. Por conta do processo de
desconcentração industrial no Brasil, incentivado pelo governo federal e que
expandiu a malha fabril para além da Região Sudeste e das metrópoles em geral
para demais regiões e cidades menores, e do processo de desindustrialização, se
intensificou o fechamento de diversas fábricas na cidade do Rio de Janeiro.

Rowthorn e Ramaswamy (1997), ao estudarem este processo em países


desenvolvidos, apresentam o conceito de desindustrialização como um processo de

18
redução contínua e generalizada da participação do emprego da indústria de
transformação no emprego total em uma determinada economia, consistindo em
uma característica intrínseca ao desenvolvimento econômico. Segundo Centena
(2019), os autores Rowthorn e Ramaswamy (1997) defendem que há uma
correlação entre desindustrialização e o desenvolvimento do setor terciário, na
medida em que a maioria dos trabalhadores fabris são realocados no setor de
serviços. “Portanto, a diminuição da parcela do produto referente à produção
manufatureira não significa queda de produtividade na economia (...) esse
fenômeno eleva a produtividade dos outros setores, principalmente o de serviços”
(Centena, 2019, p. 89).

Entretanto, Silva e Lourenço (2014) defendem que o caso brasileiro


apresentou nuances diferentes, consistindo em uma desindustrialização precoce,
onde “a participação do emprego industrial perde relativamente espaço para outros
setores de forma permanente, sobretudo de serviços, entretanto, o ponto de inflexão
ocorre antes que a renda per capita alcance nível de país desenvolvido.” (Silva,
Lourenço, 2014, p. 71). Tregenna (2009) aponta que uma desindustrialização
precoce também se caracteriza por sua ocorrência antes que o setor industrial do
país tenha alcançado maturidade.

Brasil (2022) defende a ideia de que a desindustrialização no Brasil ocorreu


por conta de sucessivas crises na economia provocadas pela abertura comercial e
financeira, desregulamentação da economia, elevada inflação, concorrência com a
China e a importação de ideais neoliberais a partir do governo Fernando Henrique
Cardoso.

Uma das principais consequências da introdução de uma nova ordem


econômica na esfera mundial foi o desmantelamento dos até então
estimulados processos de produção industrial na escala nacional,
diluindo os ideais desenvolvimentistas, antes definidores dos
incentivos do Estado à economia. O resultado foi uma eliminação
crescente de plantas industriais nas metrópoles brasileiras, que
tiveram um rebatimento com a introdução de processos de
desindustrialização. (Albernaz, Diógenes, 2023, p. 17)

Centeno (2019) aponta que os economistas novo-desenvolvimentistas


defendem que o processo de desindustrialização iniciou-se na economia brasileira
nas décadas finais do século XX, por conta da “combinação perversa entre a

19
abertura comercial e financeira, a valorização dos termos de troca (período de
valorização das commodities) e a taxa de câmbio apreciada” (Centeno, 2019, p. 84).

A abertura comercial proposta nos governos Collor e FHC não obteve


êxito na tentativa de induzir o investimento em pesquisa e
desenvolvimento nas empresas, aumentar a inserção no mercado
internacional e produzir um choque positivo para a competitividade
do setor industrial brasileiro. (...) A abertura comercial, portanto, não
seria considerada estritamente perversa em seu propósito, mas foi
uma política equivocada, devido à rapidez em que ocorreu e devido
ao ambiente macroeconômico de câmbio real apreciado e taxa de
juros real elevada desde a estabilização dos preços em meados dos
anos 1990, acarretando na perda de competitividade da indústria
nacional tanto no mercado externo, como no interno. (Centeno, 2019,
p. 104).

O autor aponta também uma correlação entre a desindustrialização brasileira


e o desenvolvimento do setor primário, com foco na produção de commodities. O
processo de desindustrialização teria favorecido “setores já desenvolvidos e
competitivos, principalmente aqueles que apresentavam vantagens comparativas
naturais (commodities)” (Centeno, 2019, p. 94), o que gerou um desaparecimento
de setores industriais com vantagens competitivas, ainda que incipientes, e auxiliou
no desenvolvimento de uma economia voltada para produtos menos sofisticados.

Apesar de o processo de desindustrialização ter ocorrido em todo o território


brasileiro, segundo Sobral (2017), o estado do Rio de Janeiro foi um dos epicentros
da desindustrialização nacional. Filho, Campos, Brandão (2018) apontam que neste
processo de desindustrialização e reprimarização da economia, a economia do
Estado do Rio de Janeiro perdeu espaço e importância no contexto econômico
brasileiro:

(...) superado pelo epicentro do processo de acumulação - cada vez


mais hipertrofiado em São Paulo - e pelos novos polos
especializados na economia exportadora, como as regiões com
riquezas minerais e importância agropecuária - praticamente
irrelevantes no estado. (Filho, Campos, Brandão, 2018, s.p.)

Segundo Oliveira e Rodrigues (2009) e Abreu et al. (2019), como


consequência do processo de desindustrialização na capital fluminense, a cidade se
firmou como cidade de serviços e de indústrias criativas, ao passo que outras
cidades do estado ganharam status de cidade industrial, a partir de novos esforços
pela industrialização do estado com início no final do século XX, como no caso de
cidades da Baixada Fluminense - Nova Iguaçu e Duque de Caxias, por exemplo.

20
“A cidade do Rio de Janeiro (...) remodelaria o seu peso na economia estadual
reafirmando a sua função de provedora de serviços modernos, enquanto a Baixada
Fluminense reforçaria sua herança com a consolidação das indústrias” (Oliveira,
Rodrigues, 2009, p. 135). Abreu et al. (2019) defendem a ideia de que essa
condição reflete a forma como a relação entre capital e Baixada Fluminense foi
construída historicamente.

(...) áreas como a Baixada Fluminense receberam atividades


consideradas "indesejáveis", como a instalação de indústrias,
matadouros e lixões com a crescente divisão social e funcional dos
territórios citadinos. Dessa forma, enquanto as áreas mais abastadas
da capital passaram a ser consideradas áreas de "comércio" e
"serviços”, voltando-se, particularmente, ao turismo e aos negócios, o
subúrbio e as cidades à periferia do Rio recebiam os “usos sujos” da
cidade, criando uma nova setorização do espaço urbano (Abreu et
al., 2019, p.3)

Esta relação do setor industrial com a construção imagética das cidades


também refletiu-se dentro da capital fluminense, com a criação dos distritos
industriais na década de 1970, que transformaram a Zona Oeste em um grande
parque fabril, em detrimento da região central e Zona Norte. Segundo Brasil (2022),
a criação dos distritos industriais na Zona Oeste foi tanto uma forma de atenuar o
processo de desindustrialização, quanto uma maneira de gerar um esvaziamento
populacional de baixa renda da área central e zona sul da cidade, que receberam as
maiores intervenções urbanas. “A cidade passou a ser ordenada para ser não só
bela, mas também eficiente, explorando novas áreas como a zona oeste e deixando
o espaço urbano livre das indústrias, que passaram a ocupar as áreas periféricas.”
(Brasil, 2022, p. 78).

Na década de 1960, aparentemente a concentração da população e


das atividades produtivas na Zona Norte e na Área Central da cidade
do Rio de Janeiro, então estado da Guanabara, inibia o crescimento
industrial. Tal situação estava dando início a um processo de
transferências de fábricas para outros estados e principalmente para
áreas de municípios vizinhos do estado do Rio de Janeiro. Com o
argumento de tentar interromper a desindustrialização do município
foram criados pelo governo do antigo estado da Guanabara, cinco
distritos industriais (Fazenda Botafogo, Palmares, Santa Cruz,
Paciência e Campo Grande). Com exceção do distrito de Fazenda
Botafogo, quatro localizam-se na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
(Damas, 2008, p. 8)

O fechamento e o deslocamento de indústrias, como parte do processo de


desindustrialização do Rio de Janeiro, deixaram como herança diversas instalações
industriais que ficaram abandonados ou que passaram a ser utilizados como

21
núcleos residenciais ou espaços da economia criativa ou de consumo. Ainda, o
processo de desindustrialização na capital fluminense gerou impactos no tecido
urbano e na vida das pessoas que moram no entorno dos remanescentes
industriais. Segundo Cavalcanti e Fontes (2011), existe correlação entre
desindustrialização e o aumento da criminalidade, das desigualdades sociais e da
“degradação urbana”. Fontes (2018) aponta também para a abertura de espaço
para o tráfico e para uma crescente marginalidade nos locais onde a industrialização
era mais presente na cidade do Rio de Janeiro. “A desconfiguração da identidade
local como resultado da desativação das fábricas e o subsequente aumento do
desemprego acentuaram a crescente violência que vivemos.” (Fontes, 2018, s.p.)

Na segunda metade do século XX e no século XXI, acentuaram-se os


processos de refuncionalização nos remanescentes industriais do Rio de Janeiro,
segundo Fontes e Cavalcanti (2011), à medida que os debates em torno da
conservação do patrimônio industrial foram se intensificando.

É visível uma crescente disputa pela memória de (e em) vários


espaços e territórios urbanos que, somada às ações comunitárias,
públicas, acadêmicas e iniciativas de refuncionalização originadas na
iniciativa privada (como mostram os casos dos shopping centers
construídos a partir das estruturas arquitetônicas das antigas fábricas
Nova América e Bangu ou da tentativa da rede de supermercados
Carrefour de ocupar a antiga fábrica da Souza Cruz na Tijuca, entre
vários outros exemplos) têm resultado numa incipiente mas
crescente percepção, também no caso carioca, da necessidade e
das potencialidades da preservação do chamado patrimônio
industrial. (Cavalcanti; Fontes, 2011, p. 13).

Brasil (2022) também aponta alguns exemplos que permitem exemplificar as


novas funções que as instalações adquiriram após processos de refuncionalização,
como o Centro Cultural Fundição Progresso, que adquiriu a nova função de espaço
cultural, por meio de uma intensa mobilização popular. “Tal solicitação ocorreu face
ao iminente risco de demolição da referida edificação e da falta de equipamentos
culturais, à época, no local, o bairro da Lapa, no centro da cidade.” (Brasil, 2022, p.
185). Anteriormente, o espaço foi sede da Fábrica de Fogões Progresso, uma das
principais fundições da cidade, especializada na produção de cofres e fogões; hoje,
funciona como centro cultural e casa de espetáculos, sendo o espaço de diversas
apresentações musicais. No levantamento de patrimônios industriais
refuncionalizados desenvolvido por Brasil (2022), identifica-se que a maioria dos

22
remanescentes indústrias do Rio de Janeiro foram transformados em espaços
culturais.

Em seguida, Brasil (2022) apresenta a nova função de espaço comercial


como expressiva quantitativamente, tendo como exemplos notórios os shopping
centers Bangu Shopping e Shopping Nova América, que anteriormente sediaram
fábricas do setor têxtil - Fábrica de Tecidos Bangu e Companhia de Tecidos Nova
América, respectivamente. Ainda, a autora indica outra nova função expressiva, a
de núcleo residencial. Alguns remanescentes industriais foram conservados nos
processos de refuncionalização onde se adquiriu este novo uso, como no caso das
fábricas Casa de Máquinas do Reservatório do Morro do Inglês (Brasil, 2022) e
Fábrica Têxtil Cruzeiro (Alves, 2022), tendo este se transformado no condomínio
Solaris da Torre, popularmente conhecido como “Tijolinho”, no bairro do Andaraí,
Zona Norte da cidade. Nesse segundo caso, apenas a chaminé da antiga fábrica foi
preservada, sendo os prédios residenciais do condomínio construídos com
revestimento externo de tijolos, fato que lhe valeu o apelido e que manteve certa
continuidade estética com a chaminé preservada. Entretanto, diversas instalações
foram destruídas por completo no processo de refuncionalização com o objetivo
habitacional, como no caso da fábrica da CCPL (Cavalcanti e Fontes, 2011) e da
Companhia de Fiação e Tecidos Aliança (Brasil, 2022).

Apesar de uma grande expressividade de refuncionalizações em


remanescentes industriais na cidade do Rio de Janeiro, muitas edificações ainda se
encontram abandonados e/ou sem função, como indica Brasil (2022) nos casos da
antiga fábrica da Companhia Estadual do Gás (CEG) - que foi transformada em
Museu do Gás, mas fechou em 1997, com a privatização da Companhia, e
atualmente se encontra abandonada - e a Fábrica General Electric S.A., cujo terreno
se encontra abandonado e é alvo de disputas judiciais. No entanto, novos processos
de refuncionalização estão em curso na capital fluminense, visando a transformação
de espaços ociosos e abandonados, como no caso do Moinho Fluminense (Lucena,
2017), onde pretende-se construir um grande e moderno complexo empresarial,
residencial e hoteleiro.

23
3 PERCURSO METODOLÓGICO

Neste capítulo é apresentada a metodologia de pesquisa, destacando-se as


especificidades da pesquisa bibliográfica, realizada para a construção do referencial
teórico, e das pesquisas bibliográfica e documental, utilizadas para o mapeamento
dos remanescentes industriais da cidade do Rio de Janeiro. Seguindo a
classificação proposta por Gil (2002), esta pesquisa, com base em seus objetivos, é
classificada como exploratória. Em relação à abordagem, é uma pesquisa
qualitativa. Embora alguns gráficos tenham sido gerados para melhor visualização
do mapeamento dos remanescentes industriais e de sua presença na cidade, os
dados coletados são de caráter qualitativo e nenhum método de coleta quantitativo
foi utilizado, não podendo-se, portanto, classificar esta pesquisa como sendo de
abordagem quantitativa. De acordo com os procedimentos, trata-se de pesquisa
bibliográfica e pesquisa documental, como já exposto acima.

Segundo Gil (2002), a pesquisa exploratória possui como objetivo


“proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais
explícito ou a construir hipóteses” (Gil, 2002, p. 41), assim como aprimorar ideias e
descobrir intuições, e geralmente envolvem levantamento bibliográfico, análise de
exemplos e entrevistas com especialistas no problema pesquisado. No caso desta
pesquisa, os objetivos específicos estão relacionados a compreender o problema
das antigas instalações industriais - os remanescentes industriais - na cidade do Rio
de Janeiro, analisando como algumas dessas edificações passaram por processos
de refuncionalização e identificando aquelas que possuem potencial para adquirir
novas funções, em caso de abandono ou falta de utilização. Dessa maneira,
busca-se atingir maior familiaridade com o processo de desindustrialização e
refuncionalização de remanescentes industriais na capital fluminense.

Em relação à análise dos dados coletados, tratou-se de realizar uma análise


predominantemente qualitativa que, segundo Gil (2002), é uma abordagem menos
formal que envolve uma sequência de atividades, como redução, categorização e
interpretação dos dados da pesquisa. “A análise qualitativa depende de muitos
fatores, tais como a natureza dos dados coletados, a extensão da amostra, os
instrumentos de pesquisa e os pressupostos teóricos que nortearam a
investigação.” (Gil, 2002, p. 133). No entanto, como apontado anteriormente, foram

24
realizadas algumas análises estatísticas simples - como por exemplo a identificação
dos bairros com maior número de remanescentes industriais e quais as principais
funções atuais das fábricas refuncionalizadas, entre outras - e alguns gráficos
foram elaborados para fins de organização e visualização de dados e informações
sobre os remanescentes industriais.

O primeiro procedimento metodológico utilizado nesta pesquisa foi a


pesquisa bibliográfica, que é “desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos" (Gil, 2002, p. 44) e foi
realizada com o intuito de ampliar e construir o referencial teórico, que consiste na
base conceitual para a realização das análises sobre os remanescentes industriais
do Rio de Janeiro. Neste procedimento, foram consultados materiais acadêmicos,
como livros, artigos, dissertações, teses e revistas existentes sobre os temas
abordados na seção de referencial teórico. Para a conceituação de
refuncionalização, recorreu-se aos estudos de Santos (1985) - considerando sua
notável contribuição no campo do saber da Geografia - sobre as transformações no
espaço urbano e a análise da categoria de função. No entanto, considerando que o
autor não definiu especificamente o conceito de refuncionalização, foram utilizados
outros autores que empreenderam definições deste processo, como Evaso (1999),
Corrêa (2009) e Sotratti (2015). Em relação à conceituação de patrimônio industrial,
as principais fontes de pesquisa foram as cartas de Nizhny Tagil (TICCIH, 2003) e
Sevilha (TICCIH, 2018), considerando que o órgão responsável por suas
formulações, o Comitê Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial, é
a maior autoridade internacional sobre o assunto. Entretanto, para enriquecer o
debate, foram incluídas importantes referências nacionais das áreas de patrimônio e
arqueologia industrial, como Meneguello (2011) e Brasil (2022). Por fim, no que
tange à história da industrialização e desindustrialização do Rio de Janeiro,
recorreu-se tanto a autores que possuíam materiais desenvolvidos especificamente
sobre a capital fluminense (Brasil, 2022; Fontes, 2018; Oliveira, Rodrigues, 2009;
Abreu et al., 2019), como a pesquisadores que desenvolveram análises sobre este
contexto em âmbito nacional, como Centeno (2019) e Silva e Lourenço (2014).

O procedimento de pesquisa bibliográfica também foi utilizado na segunda


etapa da pesquisa, na etapa de mapeamento dos remanescentes industriais da

25
cidade do Rio de Janeiro, em conjunto com o procedimento de pesquisa documental
que, segundo Gil (2002), se assemelha à pesquisa bibliográfica, mas diferem-se na
natureza das fontes:

Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das


contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a
pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda
um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (Gil, 2002, p. 45).

A falta de uma base de dados unificada sobre o objeto de estudo levou à


utilização de variadas fontes de pesquisa. Dessa maneira, para o mapeamento dos
remanescentes industriais da capital fluminense, inicialmente foram levantados os
remanescentes que são categorizados como patrimônios industriais. Eles foram
mapeados por meio de pesquisa bibliográfica, tendo sido utilizados a tese de
doutorado de Brasil (2022) e o Guia do Patrimônio Cultural Carioca, de Fajardo
(2014); e também por meio de pesquisa documental, utilizando os sites dos órgãos
de proteção do patrimônio cultural, em âmbito nacional (IPHAN), estadual (INEPAC)
e municipal (CMPC), levando em conta o estado e capital do Rio de Janeiro. Em um
segundo momento, para o mapeamento dos remanescentes que não são
considerados patrimônios industriais, foram consultados jornais e revistas de grande
circulação em âmbito nacional, com destaque para os jornais O Globo e Folha de
São Paulo, por meio de seus cadernos locais específicos da cidade do Rio de
Janeiro ou de reportagens e matérias especiais sobre patrimônio e remanescentes
industriais, assim como portais de notícias locais do Rio de Janeiro, com destaque
para Diário do Rio e Veja Rio. Através das matérias publicadas nos veículos
indicados, foram acessados também todos os endereços eletrônicos citados por
meio de hiperlink como fonte ou complemento de informação pelos jornais, revistas
e portais.

A partir do levantamento de dados secundários desenvolvido através de


fontes bibliográficas e documentais, foi construída uma planilha no software Excel
com todas as informações coletadas. Os dados da pesquisa foram tratados no
software e, a partir da construção de uma tabela de dados, foi possível construir
gráficos de colunas, de setor e histogramas das informações mapeadas para cada
instalação industrial, por meio das ferramentas de gráficos presentes no próprio
software Excel. No que tange à tabela, ela contém as colunas de nome atual do

26
espaço; nome antigo do espaço (fábrica); endereço completo; setor industrial; ano
de abertura da fábrica; ano de fechamento; ano de refuncionalização; patrimônio
industrial (Sim/Não); proprietário atual da edificação; descrição da função atual das
instalações físicas; conservação do estado atual; fontes; link para pasta com
informações complementares e imagens.

No entanto, para a apresentação da planilha neste relatório e também para


possibilitar a construção dos gráficos, foi desenvolvida uma versão simplificada
desta planilha. As seções de nome atual e antigo do espaço, setor industrial,
proprietário e função atual e anos de abertura, fechamento e refuncionalização
foram mantidas na versão simplificada, considerando a importância destas variáveis
para o alcance dos objetivos propostos neste projeto de pesquisa. A seção de
endereço completo foi desmembrada em bairro e região, de maneira a possibilitar a
união de dados semelhantes por meio do bairro, em detrimento de um endereço
completo, mas também para possibilitar uma análise macro através de regiões, de
maneira a permitir a identificação dos dados levantados com o processo de
industrialização e desindustrialização debatido no referencial teórico, onde o grande
epicentro teria sido a região central e Zona Norte da cidade. Por outro lado, foram
removidas as colunas de fontes e links, sendo essas informações transferidas para
pastas digitais individuais de cada remanescente, que contam também com outras
informações complementares específicas e com algumas imagens que já foram
encontradas nos materiais levantados até o momento. E, por fim, as colunas de
patrimônio industrial (Sim/Não) e conservação do estado atual não foram inseridas
na versão simplificada também, levando em conta que o foco da pesquisa consiste
em mapear o remanescente industrial carioca, independentemente de ser
patrimonializado/tombado ou não.

Por meio deste percurso metodológico descrito, foram mapeados 56


remanescentes industriais presentes na paisagem urbana da capital fluminense.
Entretanto, algumas informações específicas sobre determinadas fábricas não
foram encontradas em dados secundários por meio da pesquisa bibliográfica e
documental, mostrando que existe uma grande lacuna de informações e poucos
registros no que tange ao tema do patrimônio industrial carioca, reforçando a
questão do apagamento do passado industrial da cidade, como indica Fontes

27
(2018). No próximo capítulo, será apresentado um quadro, com uma versão
simplificada da planilha construída, assim como análises dos dados levantados.

Para a seção de Imagens do passado e do presente, foi adotado um


procedimento metodológico que combinou pesquisa documental e produção
fotográfica autoral. Dois remanescentes industriais foram selecionados para cada
nova função mais representativa dos novos espaços industriais (espaço cultural,
espaço de consumo e sem função) para exemplificar o passado e o presente,
considerando as funções atuais mais representativas identificadas no mapeamento
do remanescente industrial do Rio de Janeiro. A escolha para a análise imagética
levou em conta a relevância histórica dos remanescentes na industrialização e
desindustrialização do Rio de Janeiro, bem como a importância das instalações
atuais para a cidade, além da acessibilidade aos locais.

Assim, foram selecionados como exemplos de espaços culturais a Fábrica


Bhering e a Fundição Progresso; como espaços sem função, o Moinho Fluminense
e a Perfumaria Kanitz; e como espaços de consumo, o Assaí Atacadista e o
Shopping Nova América. Para cada remanescente selecionado, foram pesquisadas
imagens de arquivo do passado em sites oficiais dos remanescentes e em veículos
de comunicação locais, como Diário do Rio e O Dia. Além disso, imagens dos
espaços atuais foram fotografadas pelo próprio pesquisador durante visitas às
instalações industriais em março de 2024.

O objetivo principal desta seção foi analisar o estado de conservação do


patrimônio, tanto material quanto imaterial, considerando a memória do ambiente
fabril. Essa abordagem permitiu uma comparação visual entre o passado e o
presente dos remanescentes industriais selecionados, destacando mudanças físicas
e funcionais ao longo do tempo e contribuindo para uma compreensão mais
completa da evolução desses espaços na cidade do Rio de Janeiro.

Já na etapa de mapeamento de refuncionalizações de espaços industriais


emblemáticas ao redor do mundo, foram levantados casos emblemáticos fora do
Rio de Janeiro em diferentes continentes, incluindo América Latina, América do
Norte, Europa, África e Ásia, com o intuito de identificar práticas exemplares que
possam ser aplicadas na capital fluminense. Não se objetivou uma análise da

28
totalidade de casos, mas sim a identificação de casos paradigmáticos, levando em
conta representatividade e relevância acadêmica e midiática.

A metodologia empregada envolveu pesquisa bibliográfica e documental,


com a análise de artigos acadêmicos, monografias, jornais, revistas e sites
especializados em arquitetura e viagens. Utilizaram-se motores de busca online,
empregando palavras-chave em diferentes idiomas, visando ampliar o alcance da
pesquisa. Fontes menos técnicas foram consultadas apenas para levantamento
inicial, com análises subsequentes realizadas em fontes mais confiáveis, como sites
oficiais das fábricas e veículos de comunicação internacionais de grande circulação.

Os casos levantados foram classificados com base em critérios como


impacto no território, participação da população e/ou do poder público, preservação
arquitetônica e ausência de gentrificação. Tais critérios foram selecionados com
base em estudos anteriores sobre refuncionalização bem-sucedida de Sotratti
(2015) e Ruivo (2018). Exemplos que não atenderam a esses critérios foram
desconsiderados como casos de sucesso. Adicionalmente, uma planilha
complementar foi desenvolvida para mapear casos que, apesar de emblemáticos,
geraram o fenômeno da gentrificação.

29
4 ANÁLISES

Este capítulo de análises está dividido em duas seções: A refuncionalização


de espaços industriais emblemáticos: um giro pelo mundo e Mapeando o
remanescente e o patrimônio industrial da cidade do Rio, que está subdividida em O
parque industrial carioca desativado e Imagens do passado e do presente.

4.1 A REFUNCIONALIZAÇÃO DE ESPAÇOS INDUSTRIAIS EMBLEMÁTICAS: UM


GIRO PELO MUNDO

Esta seção consiste na análise de casos emblemáticos, nacionais e


internacionais, de refuncionalização em espaços fora do Rio de Janeiro, realizada
com o objetivo de identificar boas práticas adotadas neste processo e que podem
servir de exemplo para futuras refuncionalizações a serem implementadas na
cidade do Rio de Janeiro. Dessa maneira, foram mapeados casos na América
Latina, América do Norte, Europa, África e Ásia, incluindo casos emblemáticos no
Brasil, fora do eixo do Rio de Janeiro.

Este levantamento não teve o objetivo de identificar a totalidade de casos de


refuncionalização, mas sim identificar os casos mais paradigmáticos, mais
representativos e mais publicizados, ou seja, aqueles mais estudados
academicamente e com mais presença na mídia, mostrando a diversidade de
possibilidades de refuncionalização em diferentes país, em diferentes continentes.

Considerando a ausência de uma base de dados unificada sobre


refuncionalização do patrimônio industrial ao redor do mundo, os casos
emblemáticos foram levantados por meio de pesquisa bibliográfica - artigos
acadêmicos e monografias - e, principalmente, pesquisa documental. Neste caso,
foram utilizados insumos como jornais e revistas - tanto brasileiras, quanto dos
países analisados - e sites especializados em arquitetura e/ou viagens. Para
encontrar essas referências, foram utilizados motores de busca on-line com
palavras-chave como “antiga fábrica vira” associadas aos nomes dos países, tendo
este processo sido realizado tanto em português, quanto na língua nativa das
nações analisadas.

30
Neste sentido, referências menos técnicas foram encontradas, como por
exemplo sites de dicas de viagens que recomendavam passeios em antigas fábricas
com novas funções na Europa. No entanto, apesar da falta de rigor científico de
algumas fontes, elas foram utilizadas apenas para o levantamento inicial do nome
dos remanescentes industriais refuncionalizados, e as análises posteriores
utilizadas para a pesquisa foram realizadas nos sites oficiais das fábricas
refuncionalizadas e em jornais e revistas de grande circulação, como Globo, Clarín
e BBC. Desta forma, para cada remanescente refuncionalizado levantado, foram
identificadas as informações de: nome atual do espaço; nome da antiga fábrica;
cidade; país; função atual.

Para que os casos levantados fossem classificados como emblemáticos e


bem-sucedidos, a refuncionalização deveria atender aos seguintes quatro critérios:
impacto no território; participação da população e/ou do poder público;
preservação arquitetônica; ausência de gentrificação. Estes critérios foram
escolhidos levando em conta as considerações de Sotratti (2015) e Ruivo (2018)
sobre os critérios a serem analisados em uma refuncionalização bem-sucedida.

Dessa forma, os remanescentes que não se enquadram nas respectivas


categorias foram desconsiderados como casos bem-sucedidos. No entanto, também
foi construída uma planilha complementar, com o objetivo de mapear casos que,
apesar de emblemáticos e relevantes, acabaram por gerar o fenômeno de
gentrificação, e uma análise específica sobre estes casos também foi realizada,
considerando a forte presença deste fenômeno nos processos de refuncionalização
em curso no Centro do Rio de Janeiro, em maior intensidade na região da Zona
Portuária.

Aprofundando nos quatro critérios de classificação, o impacto no território


levou em consideração os subaspectos de: impacto no tecido social; impacto na
economia; percepção das partes interessadas; geração de emprego; renovação da
área. O critério de impacto no território é de suma importância, pois permite uma
análise abrangente dos efeitos sociais e econômicos da refuncionalização em uma
comunidade. Ao considerar os subaspectos identificados, torna-se possível
compreender como as transformações afetam as relações sociais e a identidade

31
local, orientando práticas mais inclusivas e adequadas de desenvolvimento urbano,
considerando as particularidades de cada espaço geográfico.

O segundo critério analisado, referente à participação da população e/ou


do poder público, destaca a importância do envolvimento ativo do tecido social e
dos órgãos legislativos e executivos municipais, estaduais e nacionais na
refuncionalização dos remanescentes industriais. Este envolvimento é essencial
para garantir que as intervenções atendam não apenas aos interesses privados
motivados pelo lucro, mas também aos interesses coletivos da população local e do
município, estado ou nação como um todo. Ao promover um diálogo aberto e
inclusivo entre todas as partes envolvidas, é possível assegurar que as decisões
relacionadas à refuncionalização sejam tomadas de forma transparente e
democrática, considerando as necessidades e aspirações da comunidade e
priorizando o bem-estar social e o desenvolvimento sustentável. O envolvimento
ativo do poder público também desempenha um papel fundamental na
regulamentação e fiscalização das intervenções, garantindo que estas estejam
alinhadas com os interesses públicos dos diversos atores sociais, evitando o
processo que Sotratti (2015) denominou como reforço apenas ao apelo consumista
e espetacularizante dos espaços, sem levar em conta a preservação e história local.

Nesse sentido, o terceiro critério analisado consiste na preservação


arquitetônica do remanescente industrial, levando em consideração a definição de
Ruivo (2018) de que, além de ser necessário levar em conta o impacto econômico
da refuncionalização, um processo bem-sucedido se destaca principalmente pelo
valor histórico e identitário garantido com a preservação da instalação, de forma a
resgatar a memória do território.

Por fim, o quarto critério analisado consiste na ausência de gentrificação


durante o processo de refuncionalização. Neste sentido, para embasar a análise
deste critério, foi utilizada a definição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), presente no Dicionário do Patrimônio Cultural.

O vocábulo “gentrificação” é um aportuguesamento do inglês


gentrification, usado pela primeira vez, provavelmente, pela socióloga
britânica Ruth Glass na obra London: aspects of change (1964), onde
a autora descreveu e analisou determinadas mudanças na
organização espacial da cidade de Londres. O termo ganhou
popularidade após seu uso em trabalhos acadêmicos sobre a temática,

32
acompanhando um fenômeno urbano presente em diversas
temporalidades e espacialidades: o deslocamento, processual ou
súbito, de residentes e usuários com condições de vida precárias de
uma dada rua, mancha urbana ou bairro para outro local para dar lugar
à apropriação de residentes e usuários com maior status econômico e
cultural. (Emanuel, 2015, s.p.)

A associação entre gentrificação e obtenção de novas funções em


remanescentes industriais muitas vezes ocorre devido à dinâmica de transformação
urbana que acompanha o processo de refuncionalização nessas áreas. Quando
antigas instalações industriais são transformadas para outros fins, como residencial,
comercial ou cultural, pode ocorrer um aumento no valor imobiliário e uma mudança
na composição socioeconômica dos moradores e visitantes dessas áreas. Esse
processo pode levar à gentrificação, especialmente se os novos empreendimentos
não forem acompanhados por políticas adequadas de inclusão social e controle de
preços de habitação. Assim, enquanto a refuncionalização de espaços industriais
pode trazer benefícios como a renovação urbana e a criação de empregos, também
pode desencadear a expulsão de comunidades de baixa renda e a perda da
identidade histórica e cultural desses locais.

Dessa maneira, considerando estes quatro critérios, foi construído o Quadro


1 exposto a seguir, contendo os casos emblemáticos e bem-sucedidos de
refuncionalização ao redor do mundo. As células marcadas com ‘X’ indicam que o
critério foi atendido positivamente no processo de refuncionalização. Por outro lado,
as células que expõem ‘N/A’ indicam que não foram encontrados dados secundários
suficientes para afirmar que este critério foi atendido ou não, considerando a baixa
disponibilidade de informações acerca da participação da população e/ou do poder
público nos processos de refuncionalização; no entanto, ainda assim foram
consideradas no levantamento já que os demais 3 critérios foram atendidos
integralmente.

Quadro 1- Casos emblemáticos e bem-sucedidos de refuncionalização ao redor do


mundo

33
Participação
Nome da
Nome atual Função Impacto no da população Preservação Ausência de
antiga Cidade País
do espaço atual território e/ou poder arquitetônica gentrificação
fábrica
público

Fábrica de
Sede Buenos Espaço de
Biscoitos Argentina X X X X
ministerial Aires trabalho
Canale
Complexo
Casa das Espaço
industrial São Paulo Brasil X X X X
Caldeiras cultural
Matarazzo
Fábrica de
SESC Espaço
Tambores São Paulo Brasil X N/A X X
Pompeia cultural
da Pompeia
Cidade dos
Real Fábrica Cidade do Espaço
Livros e da México X X X X
de Tabacos México cultural
Imagem
Cidade do Espaço
La Laguna La Laguna México X N/A X X
México cultural
Fábrica
Mercado Espaço de
Pablo Montevidéu Uruguai X N/A X X
Ferrando consumo
Ferrando
Distillery Destilaria
Espaço
Historic Gooderham Toronto Canadá X X X X
cultural
District & Worts
WeWork Fábrica de Espaço de
Xangai China X N/A X X
Weihai ópio trabalho
Fábrica de
Floating Espaço
Farinha Da Shenzen China X X X X
Fields ambiental
Cheng
St James
Espaço de
Dyson Power Singapura Singapura X N/A X X
trabalho
Station
Kulturbrauer Cervejaria Espaço
Berlim Alemanha X X X X
ei Schultheiss cultural
Parque
Paisagístico Fábrica Espaço
Duisburgo Alemanha X X X X
Duisburg- Thyssen cultural
Nord
Fábrica Espaço de
Work & Co Dunkirk França X N/A X X
Rigot trabalho
Fábrica de Espaço
La Friche Marselha França X X X X
tabaco Seita cultural
Central
Espaço
Tate Modern Elétrica de Londres Inglaterra X N/A X X
cultural
Banskide

34
Auditório Fábrica de
Espaço
Niccolò Açúcar Parma Itália X X X X
cultural
Paganini Eridiana
Fábrica de
Museu Vista Porcelana Espaço
Ílhavo Portugal X N/A X X
Alegre da Vista cultural
Alegre
Fábrica
Fábrica
Militar de Espaço
Braço de Lisboa Portugal X X X X
Braço de cultural
Prata
Prata
Museu de
Companhia
Arte Espaço
Estatal de Malmö Suécia X X X X
Moderna de cultural
Eletricidade
Malmö

Fonte: Elaborado pelo autor, 2024

A seguir, serão desenvolvidas análises qualitativas sobre alguns dos casos


mapeados acima, com o objetivo de identificar nuances do processo de
refuncionalização em diferentes continentes, que possibilitaram o atingimento dos
quatro critérios de classificação analisados para serem considerados
bem-sucedidos neste processo.

Iniciando pela América Latina, foi possível identificar casos emblemáticos e


bem-sucedidos de refuncionalização na Argentina, Brasil, México e Uruguai. Na
Argentina, a atual sede de diversos ministérios do Governo da Cidade de Buenos
Aires, anteriormente abrigou a fábrica da marca de biscoitos e bolachas Canale, no
remanescente industrial conhecido como Palácio Lezama. De acordo com a Cidade
de Buenos Aires (2024), em 1985, um incêndio consumiu a fábrica Canale, e após
anos de instabilidade, levou ao seu fechamento definitivo em 2000. Em 2012, a
Câmara Municipal de Buenos Aires lançou um plano de revitalização para o bairro
de Barracas e a zona sul da cidade, resultando na refuncionalização completa do
prédio da fábrica para escritórios, mantendo sua fachada original. Neste caso bem-
sucedido, destaca-se principalmente o papel do poder público no processo e
também a preservação arquitetônica do local. Um outro caso latino bem-sucedido
de refuncionalização com forte participação do poder público consiste na Cidade
dos Livros e da Imagem, cujo espaço foi refuncionalizado a partir de uma antiga
fábrica de tabaco na Cidade do México. De acordo com o jornalista Cabezas (2012,
s.p), “Em uma referência ao edifício original, o artista holandês radicado no México

35
Jan Hendrix montou ''A folha de tabaco'', uma escultura de alumínio branco coberta
de cerâmica que projeta interessantes jogos de luz e lembra uma pilha de livros.”

No Uruguai, o Mercado Ferrando também é um forte destaque de


participação de diferentes atores sociais - neste caso, da população. Localizado em
Montevidéu, o local se define como ‘2000 m² de patrimônio arquitetônico renascido
como pura experiência gastronômica’, que reúne dez empreendimentos culinários
locais e uma livraria especializada em gastronomia. No endereço eletrônico do
Mercado, é exposta a história do local, que nasceu da indignação dos atores sociais
com a possibilidade do local ser destruído e ter sua história apagada. A
transformação da estrutura construída em 1878 foi realizada com a intenção de
preservar sua arquitetura original, com o objetivo de resgatar a identidade
arquitetônica da cidade, protegendo-a da pressão da especulação imobiliária que
muitas vezes resulta na demolição de edifícios históricos. Nesse sentido, a difusão e
educação a respeito das temáticas de refuncionalização e patrimônio industrial
mostra-se como um importante fator para casos bem-sucedidos, especialmente no
que tange à preservação arquitetônica e cultural.

Você já se pegou tirando uma foto de uma fachada Art Déco ainda de
pé em uma cidade que, com os olhos voltados para o progresso,
parece esquecer o que a trouxe até aqui? Você já viu símbolos
arquitetônicos serem demolidos para serem substituídos por
estacionamentos e edifícios genéricos? Nós também. Assim, quando
visitamos a antiga fábrica de mobiliário asséptico Pablo Ferrando,
construída nas primeiras décadas do século passado com mais de
2000 m² de patrimônio, soubemos imediatamente que o nosso projeto
gastronómico tinha encontrado o seu espaço na cidade e o seu lugar
no mundo. (Mercado Ferrando, 2015, s.p., tradução própria)3

Analisando casos emblemáticos no Brasil, fora do eixo Rio de Janeiro, o Sesc


Pompeia, em São Paulo, destaca-se como um exemplo bem-sucedido de
refuncionalização de uma antiga fábrica de tambores, a Indústria Brasileira de
Embalagens - Ibesa. Projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi na década de 1970, o
espaço preserva a estrutura original da fábrica, ressignificando suas características
industriais. Segundo matéria disponibilizada no endereço eletrônico do local, “Ao

3
No original: “¿Te has encontrado alguna vez tomando una foto de una fachada Art Decó todavía
erguida en una ciudad que con la vista puesta en el progreso parece olvidarse de lo que la trajo hasta
acá? ¿Has visto demoler símbolos arquitectónicos para ser reemplazados por estacionamientos y
edificios genéricos? Nosotros también.Por eso, cuando conocimos la antigua fábrica de muebles
asépticos Pablo Ferrando, construida en las primeras décadas del siglo pasado con más de 2000 m²
de patrimonio supimos de inmediato que nuestro proyecto gastronómico había encontrado su espacio
en la ciudad y su lugar en el mundo.”

36
mesmo tempo em que fizeram pulsar novos conceitos como a democratização dos
espaços, preservaram antigos elementos do que aqui funcionava, como os latões de
lixo com referência aos antigos tambores.” (SESC, 2019, s.p.). A transformação do
local, reconhecido pelo New York Times como uma das obras arquitetônicas mais
importantes do pós-guerra, reflete a preocupação em resgatar a identidade
arquitetônica da região, além da preservação da estrutura original da fábrica,
combinada com a criação de espaços culturais e inclusivos para o tecido social.

Também em São Paulo, a Casa das Caldeiras é um exemplo emblemático de


refuncionalização bem-sucedida. O remanescente foi um importante complexo
industrial da década de 1920, responsável por produzir energia para o parque
industrial da família Matarazzo4. No entanto, com o declínio da indústria na região, o
local ficou abandonado por muitos anos e hoje funciona como um espaço para
atividades artísticas, culturais e sociais. De acordo com o endereço eletrônico da
Casa das Caldeiras (2024), em 1985, o CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Arqueológico, Arquitetônico e Turístico do Estado de São
Paulo) solicitou o tombamento do edifício, que já estava desativado na época, com o
objetivo de preservá-lo como um documento arquitetônico da história da
industrialização em São Paulo. O desenvolvimento urbano do terreno foi
influenciado pela intervenção do poder público, que trouxe uma série de melhorias
para a área no final do século XX, em conjunto da iniciativa privada, proprietária do
local. A criação da Associação Cultural Casa das Caldeiras (ACCC), no início do
século XXI, uma organização da sociedade civil de interesse público e sem fins
lucrativos, foi fundamental para o desenvolvimento de projetos de ocupação artística
e cultural, promovendo o desenvolvimento humano, a cidadania e a valorização do
patrimônio. Essa refuncionalização preservou um importante legado histórico e
industrial de São Paulo, e também impulsionou o desenvolvimento local, oferecendo
oportunidades econômicas e culturais para a região, além de ter tido o envolvimento
de diferentes atores sociais: poder público, iniciativa privada e comunidade.

4
Família de origem nobre italiana que migrou para o Brasil no final do século XIX. Aqui se
estabeleceu em São Paulo, sendo proprietária de indústrias de diversos setores, além da
atuação no setor financeiro/bancário. Na capital paulista a família ergueu o maior complexo
industrial da América Latina, no século XX, fazendo parte da elite social, econômica e política
do Brasil até os dias atuais.

37
Na América do Norte, a refuncionalização da Destilaria Gooderham & Worts,
no Canadá, transformou a antiga fábrica em um bairro histórico de Toronto
conhecido como Distillery Historic District, ocupado por galpões industriais onde
anteriormente se instalavam 47 edifícios da destilaria. O local funciona, desde 2003,
como um importante ponto turístico da cidade e abriga mais de 80
estabelecimentos, como ateliês, galerias de arte, restaurantes, lojas e cervejarias.
Nomeada pelo jornal The Guardian como um dos bairros comerciais mais
interessantes do mundo, é descrito pelo jornalista Toneguzzi (2023, s.p., tradução
própria) como “uma fusão dramática do antigo e do novo. Uma mistura inspirada da
maior coleção de arquitetura industrial vitoriana da América do Norte e do
impressionante design e criatividade do século XXI.”5 Esta refuncionalização chama
atenção principalmente pela ausência de gentrificação e a preservação material e
imaterial do espaço. Além da preservação arquitetônica, a administração do espaço
mantém um endereço eletrônico destinado à memória da destilaria, onde são
disponibilizados para acesso diversos documentos que resgatam a história e
herança da antiga fábrica.

No continente asiático, processos de refuncionalização na China e em


Singapura são considerados emblemáticos e bem-sucedidos. Em Xangai, uma
antiga fábrica de Ópio foi transformada em um escritório de trabalho compartilhado,
pertencente à empresa WeWork; além da preservação arquitetônica, carrega
referências ao patrimônio industrial, como o revestimento de espaços com papel de
parede dourado pintado à mão com estampa de papoula. Em Shenzhen, a Fábrica
de Farinha Da Cheng passou por uma refuncionalização inusitada, e se tornou um
espaço ambiental: mais especificamente, um ecossistema flutuante, conhecido
como “Floating Fields”. Idealizado pelo arquiteto e professor Thomas Chung, da
Universidade Chinesa de Hong Kong, o conceito da refuncionalização girou em
torno de devolver à baía de Shenzhen, cidade profundamente industrializada, a
agricultura com produtos agrícolas flutuantes. O espaço foi profundamente marcado
pelo impacto no tecido social, por meio de diversos eventos e ações realizadas com
foco na população da cidade, como o festival de plantação, que deu a mais de 100
crianças da cidade e suas famílias a oportunidade de semear seus próprios terrenos

5
No original: “a dramatic fusion of old and new. An inspired blend of the largest collection of Victorian
Industrial architecture in North America and stunning 21st century design and creativity.”

38
flutuantes, pescar e aprender sobre o ciclo de vida dos patos, bichos-da-seda e
algas.

Em Singapura, a primeira central elétrica do país, St James Power Station,


fechada em 1976, foi refuncionalizada e se tornou o espaço de trabalho da
multinacional Dyson. A empresa, que em 2022 possuía mais de 14 mil funcionários
e receita de R$6,5 bilhões, transferiu sua sede em Londres para a cidade-estado
asiática por conta das ‘inúmeras oportunidades que surgem na Ásia’, de acordo com
o fundador da empresa, James Dyson, refletindo o crescente dinamismo econômico
dos países conhecidos como "tigres asiáticos". Empresas globais buscam aproveitar
oportunidades de crescimento na região, atraídas por mão de obra qualificada,
políticas governamentais favoráveis e acesso a mercados consumidores em
expansão. A transferência de sedes para países asiáticos também é motivada por
custos de produção mais baixos e restrições regulatórias e tributárias em economias
ocidentais.

O processo de refuncionalização em questão é bem-sucedido considerando,


principalmente, os fatores de impacto no território, preservação arquitetônica e
participação do poder público. No que tange ao primeiro fator, o impacto econômico
da transferência de sede foi marcado por um plano de investimento de mais de 1,5
bilhão de dólares no país; além disso, o território foi impactado pela geração de
empregos, já que a Dyson promoveu a contratação de mais de 250 engenheiros e
cientistas de Singapura. Em relação à preservação arquitetônica e participação do
poder público, em 2009, a Central Elétrica de St James foi designada como um dos
monumentos nacionais do país pelo Conselho do Patrimônio Nacional e, neste
sentido, o processo de refuncionalização orquestrado pela Dyson foi amplamente
apoiado e respaldado pelo governo, considerando que o patrimônio histórico e
arquitetônico deveria ser preservado durante a transformação - o que de fato se
concretizou.

O piso de betão e metal preto do edifício remete-nos ao passado do


edifício, através de uma paleta simples de pedra escura, madeira e
metal. Ao lado deles estão materiais modernos como policarbonato,
malha metálica e revestimento de espelhos, mostrando estruturas
expostas como a sala de reuniões situada na base de uma das
chaminés de tijolos. Com isso, valoriza-se o passado industrial da
antiga usina e anuncia-se o seu novo futuro. (Belén, 2022, s.p.)

39
O último continente a ser analisado nesta seção é o europeu, que é o mais
numeroso em casos bem-sucedidos de refuncionalização. Na Alemanha, os
espaços culturais Kulturbrauerei e Parque Paisagístico Duisburg-Nord foram
refuncionalizados, respectivamente, a partir da Cervejaria Schultheiss e da fábrica
da multinacional Thyssen. Em relação ao Kulturbrauerei, o espaço de 25 mil metros
quadrados da antiga cervejaria é composto por áreas ao ar livre e galpões
industriais de tijolos, e oferece uma ampla gama de atividades, incluindo cinema,
teatro, concertos ao ar livre, eventos de música eletrônica, cursos de arquitetura e
aulas de dança. Esta refuncionalização é destacada principalmente pela
preservação arquitetônica, impacto no tecido social e participação do poder público.
Em 1990, a Treuhandanstalt (THA) assumiu o controle do local, que estava em
perigo de decadência. A Treuhandanstalt foi uma instituição estatal alemã,
encarregada de administrar e privatizar as empresas do patrimônio pertinente da
Alemanha Oriental, após a Reunificação da Alemanha.

Quando a nova liberdade surgiu em 1990, pessoas criativas ocuparam


os edifícios em ruínas da Kulturbrauerei. Eles queriam trabalhar lá
permanentemente e administrar a si mesmos. Para isso, fundaram
uma empresa sem fins lucrativos e, com o apoio do Estado,
desenvolveram um conceito de aproveitamento e renovação. (Orte der
Einhent, 2024, s.p., tradução própria)6

Por outro lado, o Parque Paisagístico Duisburg-Nord é um exemplo da união


entre natureza e preservação industrial. No centro da área verde de 180 hectares,
encontra-se o alto-forno desativado da multinacional Thyssen, onde de 1901 a 1985,
era produzido ferro-gusa para a indústria siderúrgica. O espaço refuncionalizado,
aberto ao público em 1994, nasceu de um projeto inspirado na ideia de que as
estruturas industriais, que outrora foram interpretadas como sistemas
independentes, não deveriam ser remodeladas, mas sim conectadas visual,
funcional ou idealmente através de jardins, terraços, escadas, marcos ou
sinalização. Por meio desse processo de refuncionalização, atualmente os visitantes
podem vivenciar as siderúrgicas abandonadas, e segundo Landschaftspark
Duisburg-Nord (2024), os visitantes possuem a oportunidade de conhecer o
processo de produção do ferro gusa e conhecerem de perto a cadeia produtiva de

6
No original: “When the new freedom dawned in 1990, creative people occupied the ramshackle
buildings of the Kulturbrauerei. They wanted to work there permanently and manage themselves. To
this end, they founded a non-profit company, and, with support by the state, developed a concept of
utilisation and renovation.”

40
uma siderúrgica de maneira vívida e real. Nesse sentido, por meio dessa
refuncionalização, fica evidente a preocupação tanto em tornar o espaço um local
que gere impacto no território, mas também preserve o patrimônio industrial material
e imaterial da antiga fábrica.

Na França, em Dunkirk, a refuncionalização da fábrica Rigot, que


transformou-se em espaço de trabalho compartilhado da Work & Co, destaca-se
pela preservação arquitetônica completa do local, mas principalmente pelo impacto
no tecido social e na economia da cidade francesa. O conceito da Work & Co é
especialmente direcionado para empreendedores com estruturas menores e que
muitas vezes enfrentam desafios para acessar espaços convencionais e preferem
evitar o isolamento de seus lares. Ao apoiar o empreendedorismo local, esse
espaço de coworking contribuiu diretamente para o desenvolvimento econômico de
Dunkirk e aumentou sua atratividade como local de negócios. Até o momento, o
projeto já gerou oito empregos e ofereceu aos residentes um novo ambiente
acolhedor que contempla não só eles, mas também seus filhos, já que o espaço
também conta com uma creche.

Um outro exemplo de refuncionalização francesa bem-sucedida é o espaço


cultural La Friche; assim como o Work & Co, gerou um grande impacto no território,
mas neste caso liderado pelo poder público. No século XX, La Belle de Mai era
conhecida como um bairro operário, onde a fábrica de tabaco Seita operava até seu
fechamento em 1990. Após o encerramento das atividades da fábrica, o terreno
industrial abandonado passou por uma reforma significativa na década de 1990,
sendo transformado em um espaço cultural e patrimonial. O então prefeito de
Marselha, Gaston Deferre, tomou a decisão de reestruturar a vida cultural da cidade,
impulsionando-a com novas iniciativas, considerando que Marselha tinha um dos
menores orçamentos culturais da França e carecia de projetos de grande porte. A
criação da Friche Cultural permitiu revitalizar o bairro, proporcionando aos
moradores locais e à comunidade de Marselha um centro cultural e econômico.
Atualmente, a Friche funciona como local de trabalho para 70 organizações
residentes, onde cerca de 350 artistas, produtores e funcionários atuam
diariamente, além de ser um espaço de divulgação cultural, com aproximadamente
600 propostas artísticas públicas por ano, workshops voltados para o público jovem
e grandes festivais.

41
Assim como na refuncionalização dos remanescentes industriais do Rio de
Janeiro, na Europa também predominou a transformação das fábricas em espaços
culturais. É o caso do Tate Modern, na Inglaterra; o Museu de Arte Moderna de
Malmö, na Suécia; e o Museu Vista Alegre, em Portugal. O Tate Modern é
reconhecido como o principal museu de arte moderna do Reino Unido e um dos
mais visitados do mundo em sua categoria; abriga obras de renomados artistas
como Pablo Picasso e Andy Warhol. Localizado na antiga Central Elétrica de
Bankside, o edifício foi reaberto ao público em 11 de maio de 2000, após um
período de quatro anos de obras de renovação. Na Suécia, o Museu de Arte
Moderna refuncionalizou o espaço que originalmente abrigava as instalações da
companhia estatal de eletricidade da cidade sueca de Malmö. Já o Museu Vista
Alegre, em um processo semelhante ao Parque Paisagístico Duisburg-Nord, foi
refuncionalizado com o propósito de exaltar o patrimônio industrial, neste caso com
foco na história e relevância da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre, primeira
unidade industrial dedicada à produção da porcelana em Portugal. Além do forte
teor de preservação do patrimônio industrial, essa refuncionalização é emblemática
por conta de seu impacto no território; a cidade de Ílhavo, que abriga o museu, foi
profundamente transformada pelo turismo proveniente dos interessados na história
da fábrica de porcelana. A cidade passou a abrigar um complexo da empresa, que
além do museu, compreende hotel temático, gastronomia, capela e workshops.

Conservar e guardar a memória da produção da porcelana artística da


Vista Alegre foi tradição na fábrica, inerente ao prestígio que a marca
alcançou ao longo do século XIX. Apesar de, desde o início da sua
produção, ter colecionado os melhores exemplares, o primeiro museu
organizado data de 1947 e foi instalado no palácio, junto da Capela da
Vista Alegre. Em 1964 o museu foi ampliado e aberto ao público,
mudando para os edifícios antigos da fábrica, local com espaço para
alojar o espólio de peças de porcelana, documentos e desenhos.
(Vista Alegre, 2024, s.p.)

Ainda na Europa, outro espaço cultural foi construído por meio da


refuncionalização de uma antiga instalação industrial. Abandonada na década de
1960, a fábrica de açúcar Eridiana foi convertida em uma sala de concerto em 1996.
O Auditório Paganini é parte integrante do Paganini Congressi, que nasceu de uma
intervenção de recuperação arquitetônica e funcional de um antigo complexo
industrial. Esta refuncionalização possui um destaque no que tange à preservação
arquitetônica do espaço, que apesar das necessárias modificações para a

42
transformação da acústica do local, foi possível manter o patrimônio industrial
preservado.

Ao construir sobre uma estrutura existente num contexto urbano, é


necessário ter uma boa compreensão do tecido distinto da cidade – as
ligações potenciais entre o edifício existente e a nova visão para o
mesmo precisam de ser completamente compreendidas. A antiga
fábrica de açúcar era uma estrutura vazia de tijolos, de tamanho e
volume adequados para ser transformada numa harmoniosa caixa de
música. As paredes do edifício poderiam ser mantidas e um processo
de desmaterialização buscaria o equilíbrio perfeito entre transparência
e acústica. (Architecture History, 2024, s.p., tradução própria)7

Por fim, como último caso emblemático bem-sucedido analisado, identifica-se


a Fábrica Braço de Prata. No entanto, esta refuncionalização situa-se numa linha
tênue, considerando que, apesar de possuir uma forte participação de diferentes
atores sociais, ela não conta com o apoio do poder público, que resiste em conceder
legitimidade à ocupação do espaço com nova função. O espaço cultural situado em
Lisboa ocupa o remanescente da Fábrica Militar de Braço de Prata, construída no
início do século XX. Desativado na década de 1990, o local foi transformado em
2007 em um centro cultural privado, que inclui uma livraria, salas de exposições,
sala de cinema e teatro, sala de espetáculos musicais, escritórios, restaurante e bar.
Apesar de um impacto no território significativo, assim como uma boa percepção da
maioria das partes interessadas, entraves com a Câmara Municipal de Lisboa e a
iniciativa privada marcam a história da refuncionalização do local. A seguir, cita-se o
manifesto desenvolvido pelos representantes do centro cultural, em relação aos
imbróglios envolvendo os atores públicos e privados, evidenciando a complexidade
no processo de refuncionalização e da intermediação entre os interesses de
diferentes atores sociais.

A Fábrica do Braço de Prata (...) foi inaugurada em 14 de Junho de


2007. Nessa data o edifício era propriedade, não da Câmara Municipal
de Lisboa, mas da empresa Imobiliária Obriverca. Fizemos com ela um
acordo de comodato. (...) O sucesso foi tal que em Junho de 2008 o
Jornal New York Times dedicou uma página inteira do seu dossier
sobre Lisboa ao caso desta antiga fábrica de armas (...) Em Julho de
2008 o proprietário informou-nos que precisava de utilizar o edifício
para aí voltar a fazer o stand de venda dos apartamentos do

7
No original: “When building onto an existing structure in an urban context, one has to have a good
grasp of the city’s distinct fabric - potential connections between the existing building and the new
vision for it needs to be thoroughly understood. The old Eridiana sugar factory was an empty brick
structure of just the right size and volume to be turned into a harmonious «music box». The building’s
walls could be retained and a process of dematerialization would seek the perfect balance between
transparency and acoustics.”

43
condomínio de luxo que iria ser construído nos terrenos da antiga
Fábrica de material de guerra. Pedia-nos que abandonássemos tudo
até final de Agosto. Foi então que fomos confrontados com uma
decisão surpreendente da Câmara Municipal de Lisboa. O então
Presidente da CML, Dr. António Costa, enviou-nos no final de Julho
uma carta propondo-nos que permanecessemos neste edifício tendo
em consideração aquilo que ele designava como "o enorme contributo
que a Fábrica do Braço de Prata tinha já dado à cultura da cidade de
Lisboa". (...) Ficámos assim com a responsabilidade total do edifício.
(...) Só em 2016 o edifício da Fábrica do Braço de Prata passou a ser
propriedade da CML. Fomos então abordados pela Direcção do
Património para estabelecermos um contrato de arrendamento. Por
proposta, formulada verbalmente em reunião conosco em Março de
2017 pelo então Vice-Presidente da CML, Dr. Duarte Cordeiro, foi
acordado o valor de renda mensal de zero euros. Desde então
estamos à espera que a CML assine conosco um tal contrato de
arrendamento. Recentemente, num programa de televisão dedicado à
Fábrica do Braço de Prata, um representante da Câmara afirmou que
ocupávamos, desde 2007, e de forma ilegal, um património da CML
(...) Sempre sem contrato com a CML e sempre cercados por multas,
chegámos ao 16º aniversário da Fábrica do Braço de Prata. Vamos
festejar este triunfo com concertos, bailes, exposições e uma grande
palestra sobre o futuro deste lugar de (r)existência único. (Fábrica
Braço de Prata, 2024, s.p.)

Por meio da análise qualitativa dos casos emblemáticos e bem-sucedidos de


refuncionalização ao redor do mundo, foi possível mapear boas práticas que podem
servir de referência para futuras refuncionalizações no Rio de Janeiro. No entanto,
um dos quatro critérios de classificação considerados para que uma
refuncionalização seja identificada como bem-sucedida foi definido como a ausência
de gentrificação. E, considerando a importância deste fenômeno para o estudo
sobre a refuncionalização dos remanescentes industriais e a preservação do
patrimônio industrial do Rio de Janeiro, levando em conta a gentrificação em curso
na Zona Portuária da capital, também foi desenvolvida uma análise de casos
emblemáticos de refuncionalização ao redor do mundo, mas não necessariamente
bem-sucedidos, justamente por conta do fator gentrificação.

No Quadro 2 com o levantamento de casos, disponibilizada a seguir, as


células marcadas com ‘Positivo’ indicam que o critério foi atendido positivamente no
processo de refuncionalização; as células que expõem ‘N/A’ indicam que não foram
encontrados dados secundários suficientes para afirmar que este critério foi
atendido ou não, considerando a baixa disponibilidade de informações acerca da
participação da população e/ou do poder público nos processos de
refuncionalização; e as células que expõem ‘Negativo’ indicam que o critério não foi

44
atendido durante a refuncionalização, ou seja, este processo teve como
consequência uma gentrificação do território.

Quadro 2- Casos emblemáticos de refuncionalização ao redor do mundo marcados


pelo processo de gentrificação

Participação
Nome da
Nome atual Função Impacto no da população Preservação Ausência de
antiga Cidade País
do espaço atual território e/ou poder arquitetônica gentrificação
fábrica
público

Faena Arts Moinho de Buenos Espaço


Argentina Positivo N/A Positivo Negativo
Center Farinha Aires cultural

Chelsea Fábrica da Estados Espaço de


Nova York Positivo N/A Positivo Negativo
Market Nabisco Unidos consumo

Espaço
Fábrica de
The Old Cidade do África do cultural e
biscoitos Positivo Positivo Positivo Negativo
Biscuit Mill Cabo Sul de
Pyott's
consumo

Fábrica de Espaço
Palo Alto Barcelona Espanha Positivo Positivo Positivo Negativo
lã cultural

Battersea London
Espaço de
Power Power Londres Inglaterra Positivo N/A Positivo Negativo
consumo
Station Company
Companhia
de Fiação e Espaço
LX Factory Lisboa Portugal Positivo N/A Positivo Negativo
Tecidos cultural
Lisbonense

Fonte: Construído pelo autor, 2024

Para possibilitar uma maior compreensão acerca da gentrificação no cenário


global, serão desenvolvidas análises qualitativas sobre os casos levantados, com
foco em identificar padrões e particularidades deste processo; ao final, também será
desenvolvido um paralelo com a gentrificação em curso no centro do Rio de Janeiro.

Iniciando pelo Faena Arts Center, em Buenos Aires, o espaço cultural ocupa
o remanescente de um dos primeiros moinhos de farinha da Argentina. O espaço foi
reconstruído, porém, preservou meticulosamente os detalhes originais datados do
início do século XX. A abordagem central da iniciativa foi conservar a estrutura

45
original dos moinhos, conectando os edifícios principais dos andares superiores
através de uma passarela de vidro, sendo esta a única intervenção notável na
fachada. A refuncionalização deste espaço, cuja propriedade é do empreendedor
milionário Alan Faena, faz parte de um amplo processo que envolve a gentrificação
do Puerto Madero, bairro da capital Argentina e antiga zona portuária. Nesse
sentido, o Faena Arts Center acompanhou e potencializou um fenômeno de
gentrificação, que já estava em curso no início do processo de refuncionalização do
remanescente industrial.

A revitalização da região onde o espaço cultural localiza-se, iniciada na


década de 1990, segundo Álvares (2006), incorpora elementos do planejamento
estratégico, como a implementação de um plano liderado por figuras proeminentes
do paradigma urbano, a valorização do design com a participação de arquitetos
renomados e a influência do capital internacional, tanto no financiamento do projeto
quanto na ocupação de áreas adjacentes por sedes de grandes empresas
multinacionais. No entanto, embora as áreas públicas e de lazer estejam integradas
ao local e tenham amplo apelo popular, há questionamentos quanto à criação de
espaços exclusivos para determinadas camadas da população. Vieira e
Castrogiovanni (2010) também indicam como consequência negativa da
revitalização da região a segregação socioespacial: “pontua-se que o bairro do
Puerto Madero é um espaço que ainda está em formação, e aparentemente ainda
alguns atores serão excluídos, homogeneizando ainda mais o uso dos espaços e
criando novos fragmentos sócio-espaciais.” (Vieira; Castrogiovanni, 2010, p. 15).

De maneira semelhante, o Chelsea Market, em Nova York, faz parte de um


processo de gentrificação envolvendo a região do High Line, um parque elevado
desenvolvido na trilha ferroviária e criado em um antigo ramal da Ferrovia Central de
Nova York, no lado oeste de Manhattan. O Chelsea Market é um mercado, shopping
e prédio de escritórios, que ocupa o antigo remanescente industrial da Fábrica
Nabisco. Apesar da refuncionalização do Chelsea Market ter ocorrido antes da
revitalização do High Line, o remanescente industrial pode ser apontado como um
dos potencializadores da gentrificação na região.

A transformação do High Line em um parque urbano e atração turística tem


sido um fenômeno marcante na geografia urbana de Nova York, especialmente no

46
bairro de Chelsea. Essa revitalização desencadeou um processo de gentrificação
que influenciou significativamente a estrutura social e econômica da área. A
valorização das propriedades adjacentes ao parque contribuiu para um aumento nos
preços imobiliários, tornando a região cada vez mais inacessível para os residentes
de baixa renda e para as empresas locais. A gentrificação resultante ocasionou o
fechamento de muitas empresas estabelecidas e a perda de uma base de clientes
tradicional, enquanto as comunidades minoritárias enfrentaram desafios adicionais
relacionados à acessibilidade e à inclusão socioeconômica. Portanto, apesar das
melhorias visíveis e do atrativo turístico do High Line, sua implementação levanta
questões complexas sobre desigualdade, justiça social e dinâmicas de poder na
geografia urbana contemporânea.

Na África do Sul, no remanescente de uma fábrica de biscoitos, o espaço


cultural e de consumo The Old Biscuit Mill possui uma relação direta com a
gentrificação da região, em contraste com os casos da Argentina e Estados Unidos.
O empório é descrito como um local em que “você pode jantar em alguns dos
melhores restaurantes de Cape Town, ver maravilhosas obras de arte, comprar itens
de design e, aos fins de semana, garimpar em um dos mais modernos mercados de
rua da cidade.” (Departamento de Turismo da África do Sul, 2024, s.p.). Localizado
no bairro de Woodstock, a refuncionalização da The Old Biscuit Mill é apontada
como a primeira ação de revitalização no espaço. O bairro de Woodstock
anteriormente possuía uma praia e chalés próximos ao mar, mas esses foram
perdidos devido à construção de um porto nos anos 1950. Nos anos seguintes, o
bairro se tornou cada vez mais industrializado, e nos dias de hoje, passa por um
processo de transformação de seus remanescentes industriais: “Desde que o The
Old Biscuit Mill abriu suas portas, o bairro de Woodstock tem passado por uma
silenciosa transformação e rapidamente tem se tornando um centro para muitos
jovens e start-ups modernas.” (Departamento de Turismo da África do Sul, 2024,
s.p.).

De acordo com o jornalista do The Guardian Joseph (2014), o bairro de


Woodstock está passando por um processo de gentrificação, evidenciado pela
transformação de suas ruas e pelo surgimento de empreendimentos comerciais e
residenciais de luxo. Este fenômeno está causando um aumento significativo nos
preços dos imóveis, levando ao deslocamento de muitos residentes de longa data. A

47
presença de novos empreendimentos, como o Old Biscuit Mill e o Woodstock
Exchange, atrai uma clientela mais abastada, enquanto os negócios locais
tradicionais enfrentam dificuldades para se manterem diante dos aumentos nos
aluguéis. Ainda, o processo de gentrificação está provocando um debate sobre a
inclusão social e os impactos na comunidade local, com alguns defendendo os
benefícios do desenvolvimento econômico, enquanto outros lamentam a perda da
identidade histórica e a exclusão dos moradores mais pobres.

Na entrada, agentes de segurança em uniformes militares examinam


minuciosamente as pessoas que entram no chamado “paraíso hipster”
da Cidade do Cabo, que fica a um mundo de distância das ruas
miseráveis ​e degradadas que a cercam. Ao contrário da comunidade
multirracial que vive e trabalha em Woodstock, o subúrbio mais antigo
da Cidade do Cabo, a grande maioria dos clientes da Old Biscuit Mill
são brancos enquanto muitos dos que servem no mercado de
alimentos e outros negócios são negros assim como os guardas de
carros e mendigos lá fora. (...) Thompson acrescenta que o bairro
mudou muito desde que a Fábrica de Biscoitos abriu as portas, com
novos negócios “de propriedade de estranhos”. “As pessoas ricas têm
comprado edifícios, lojas e casas na zona e as rendas subiram.
Negócios que estavam aqui há anos fecharam e muitas pessoas foram
forçadas a sair de Woodstock, porque não têm mais condições de ficar
aqui. Sempre fomos uma comunidade unida, cuidávamos uns dos
outros, mas tudo mudou.” (...) Um ponto de viragem significativo para
Woodstock ocorreu em 2007, quando o conselho da Cidade do Cabo
designou a área como zona prioritária de desenvolvimento urbano
(UDZ) para melhorias urbanas, um mecanismo concebido para apoiar
o crescimento da CDB para leste. Com isso, vieram benefícios fiscais
significativos, incentivando ricos promotores e investidores locais e
estrangeiros a adquirirem propriedades prontas para serem
reconstruídas. (Joseph, 2014, s.p., tradução própria)8

No contexto europeu, três processos de refuncionalização em diferentes


países são reconhecidos por terem causado o fenômeno da gentrificação. Em
Barcelona, a transformação da antiga fábrica de lã no espaço cultural Palo Alto

8
No original: “At the entrance, security officers in military-style uniforms scrutinise the people entering
Cape Town’s so-called “hipster heaven”, which is a world away from the shabby, down-at-heel streets
surrounding it. Unlike the multi-racial community living and working in Woodstock, Cape Town’s oldest
suburb, the vast majority of the Old Biscuit Mill’s patrons are white, while many of those serving in the
food market and other businesses are black, as are the car guards and beggars outside. (...)
Thompson adds that the neighbourhood has changed a lot since the Biscuit Mill opened its doors,
with new businesses “owned by outsiders”. “Rich people have been buying up buildings, shops and
houses in the area and rents have gone up. Businesses that were here for years have closed and
many people have been forced to move out of Woodstock, because they can’t afford to stay here
anymore. We were always a close community, we looked out for one another, but that has all
changed.” (...) A significant turning point for Woodstock came in 2007 when the Cape Town council
designated the area as a priority urban development zone (UDZ) for urban upgrades, a mechanism
designed to support the growth of the CBD eastwards. With it came significant tax breaks,
encouraging wealthy local and foreign developers and investors to snap up properties ripe for
redevelopment.

48
consolidou o espaço como um centro de produção artística, dedicado a uma ampla
gama de projetos culturais e criativos. O local abriga 17 empresas e gerou 250
empregos diretos, além de ser uma referência em sustentabilidade. No entanto,
assim como no caso do Faena Arts Center e do Chelsea Market, Palo Alto acaba
por fazer parte de uma gentrificação em curso no bairro de Poblenou.

A gentrificação do bairro de Poblenou em Barcelona é um fenômeno


complexo, caracterizado pela transformação de uma área anteriormente habitada
por população de baixa renda em um espaço cada vez mais valorizado e ocupado
por residentes e empresas de classe média alta. Esse processo é impulsionado pelo
potencial econômico da região, destacando-se sua localização estratégica e
iniciativas de renovação urbana, como o plano 22@District. Ainda, a chegada de
jovens profissionais, artistas e empreendimentos de tecnologia contribui para a
revitalização do bairro, mas também resulta em aumento dos preços da habitação,
substituição do comércio local e deslocamento dos antigos moradores. Essas
mudanças evidenciam os desafios e as tensões decorrentes da gentrificação em
Poblenou, como aponta Simas e Hila (2021).

Dentre inúmeras questões que envolvem esse processo, Poblenou


está sendo gentrificado com valorização do solo, ingresso de uma
nova população e êxodo de muitos de seus antigos residentes.
Atualmente, esse processo de gentrificação em Poblenou está em
curso, mas ainda inconcluso, tal como na analogia feita por Neil Smith
sobre o avanço na fronteira da gentrificação. O autor compara a
gentrificação ao avanço na fronteira de colonização do homem branco
sobre o indígena no oeste estadunidense nos séculos XVIII e XIX.
Entretanto, o “avanço na fronteira de gentrificação” não é mais um
avanço geográfico absolutamente, mas sim um avanço econômico de
bancos, promotores imobiliários, cadeias de distribuição, Estado etc.
(Simas; Hila, 2021, p. 33)

Na Inglaterra, a refuncionalização da London Power Company no espaço de


consumo Battersea Power Station é envolta de polêmicas em relação ao potencial
de gentrificação do novo espaço, que é percebido de maneira negativa por um
grande número de atores sociais envolvidos. No seu apogeu, a central produzia um
quinto da energia de Londres, fornecendo eletricidade a alguns dos marcos mais
conhecidos de Londres, como as Casas do Parlamento e o Palácio de Buckingham.
Após décadas de abandono com o fechamento da fábrica na década de 1980,
apenas em 2022 a transformação da Central Elétrica de Battersea concluiu-se após
um projeto de 10 anos de grande escala, envolvendo uma área de 42 acres. Mais

49
de 1,75 milhões de peças de reposição foram utilizadas na restauração da
alvenaria, e a reconstrução exigiu mais de três vezes a quantidade de aço usada na
Torre Eiffel. O empreendimento resultou em uma variedade de novos espaços
comerciais e residenciais, incluindo 254 apartamentos dentro da fábrica e mais de
100 unidades de varejo e restaurantes.

O crítico britânico de arquitetura e design, Oliver Wainwright, em matéria para


o The Guardian satiriza a refuncionalização: “'Cada centímetro quadrado
monetizado' – a Central Elétrica de Battersea é agora um playground para os
super-ricos?” (Wainwright, 2022, s.p., tradução própria9). Segundo Wainwright
(2022), a gentrificação da Central Elétrica de Battersea exemplifica a transformação
de espaços urbanos históricos em enclaves exclusivos para os super-ricos, com
apenas 9% das moradias disponíveis para a população de baixa renda. Ele destaca
a comercialização excessiva do local, onde cada centímetro quadrado foi
monetizado, evidenciando uma prioridade dada ao lucro em detrimento das
necessidades habitacionais da população em geral. O alto preço das moradias,
como as "villas" na cobertura que chegam a £ 8 milhões, levanta preocupações
sobre a acessibilidade do espaço para os habitantes de Londres com renda mais
baixa.

No início dos debates sobre a refuncionalização do espaço em 2010, estava


previsto que o local deveria proporcionar 50% de habitação a preços acessíveis; no
entanto, o conselho conservador do bairro de Wandsworth, onde está localizado o
remanescente, permitiu a diminuição do percentual para apenas 9%. Este
movimento foi amplamente criticado, levando em conta que existem 11.000 famílias
atualmente na lista de espera por moradia em Wandsworth. De maneira
semelhante, a jornalista e ativista política Terina Hine aponta as contradições e
tensões envoltas neste processo de refuncionalização.

O desenvolvimento luxuoso da famosa central elétrica de Londres é


outro monumento à riqueza e à desigualdade numa cidade dividida (...)
Relançado como um empreendimento de utilização mista, parte centro
comercial de luxo, parte sede da Apple e parte imobiliário residencial
exorbitantemente caro, é um microcosmo de tudo o que há de errado
com o desenvolvimento, o planeamento e a habitação em Londres.
(...) Agora está a ser desenvolvido como um parque de diversão para
os ricos e a sua central eléctrica como uma catedral para o

9
No original: "Every square inch monetised’ – is Battersea Power Station now a playground for the
super rich?”.

50
consumismo. Ao contrário de outra grande central elétrica de Londres,
que se tornou a galeria de arte Tate Modern em 2000, esta
reencarnação é difícil de celebrar. (Hine, 2022, s.p., tradução própria10)

Por fim, o último caso emblemático de refuncionalização envolto no


fenômeno da gentrificação a ser analisado é a LX Factory, espaço cultural
refuncionalizado a partir da Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense. Localizada
no bairro de Alcântara, em Lisboa, a LX Factory é um complexo comercial e artístico
inaugurado em 2008. Resultado da reabilitação de uma antiga zona industrial,
atualmente representa um espaço de inovação, criatividade e empreendedorismo.
Segundo Somekh e Cardoso (2020), a LX Factory representa um caso significativo
de revitalização urbana, na medida em que transformou uma área industrial
anteriormente negligenciada em um centro cultural e econômico de sucesso. Essa
intervenção conseguiu preservar a maior parte do patrimônio edificado,
destacando-o no tecido urbano e atraindo uma ampla gama de pessoas para o
espaço. Impulsionado pelo incentivo da Câmara Municipal de Lisboa às atividades
artísticas e culturais, juntamente com a aplicação do conceito de economia criativa
como forma de enfrentar crises financeiras, o projeto ganhou relevância. Ainda, o
espaço chegou a gerar diversas oportunidades de emprego e também, apesar de
ser uma iniciativa privada, “buscou devolver um espaço para a cidade de Lisboa,
tornando o seu térreo público – o que é uma forma de inclusão social uma vez que
incentiva o convívio de diversos grupos de pessoas, com diferentes gostos,
interesses e rendas, de forma democrática.” (Somekh; Cardoso, 2020, s.p.). No
entanto, apesar das particularidades identificadas acima como positivas neste
processo de refuncionalização, a LX Factory também acabou por gerar
gentrificação, por consequência da valorização do espaço.

A valorização e o sucesso do espaço, no entanto, acabaram por


dificultar a permanência de pequenos empreendedores ou produtores
culturais. Logo, um projeto que inicialmente ofereceu oportunidades
para pequenas empresas e startups se desenvolverem –
principalmente artistas –, ao oferecer o aluguel de um bom espaço a
por um preço mais baixo, acabou não assegurando que esses
estabelecimentos e/ou profissionais permanecessem no local tendo

10
No original:”The luxury development of London’s famous power station is another monument to
wealth and inequality in a divided city (...) Re-launched as a mixed-use development, part luxury
shopping mall, part Apple headquarters and part extortionately expensive residential real estate, it is a
microcosm of all that is wrong with development, planning and housing in London. (...) Now it is being
developed as a playground for the rich, and its power station a cathedral to consumerism. Unlike
London’s other great power station, which became the Tate Modern art gallery in 2000, this
reincarnation is one that is difficult to celebrate.

51
em vista a sua valorização e aumento do arrendamento. Sendo assim,
pode-se dizer que houve um processo de gentrificação, isso é, de
elitização do espaço em relação às empresas residentes no local.
Além disso, o sucesso da LX Factory resultou na valorização do seu
entorno urbano, o que catalisou o início de uma gentrificação das
edificações próximas ao local. (Somekh; Cardoso, 2020, s.p.).

Dessa maneira, a valorização do espaço da LX Factory levou a uma redução


na diversidade e na amplitude dos grupos que o frequentavam anteriormente. Isso
ressalta a necessidade de se refletir sobre a maneira como projetos de intervenção
urbana, embora baseados em políticas culturais, podem inadvertidamente restringir
o acesso e a participação de grupos mais diversos. Por outro lado, fica claro que
tais intervenções podem desempenhar um papel significativo na promoção da
inclusão social, proporcionando oportunidades de emprego, capacitação profissional
e espaços públicos de qualidade que enriquecem o tecido social. Contudo, para
garantir que esses benefícios sejam duradouros e acessíveis a todos, é essencial
desenvolver estratégias que assegurem a sustentabilidade desses espaços ao
longo do tempo, permitindo que a comunidade local acompanhe e usufrua de sua
valorização contínua.

Concluindo, é de suma importância a análise dos padrões e particularidades


de processos de refuncionalização ao redor do mundo que acabaram por gerar o
fenômeno de gentrificação, de maneira a evitar que o mesmo seja replicado na
transformação dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro. Conforme será
detalhado a seguir, a maioria destes remanescentes se encontram localizados na
região central da cidade, e muitos na região da Zona Portuária, que já se encontra
em processo de gentrificação desde o início das obras do projeto Porto Maravilha,
que visa a revitalização urbana da Região Portuária do Rio de Janeiro, criada pela
Lei Municipal 101 de 2009. Dessa maneira, é importante que a refuncionalização
dos remanescentes na capital fluminense se distancie dos casos analisados
envolvendo o Faena Arts Center, Chelsea Market e Palo Alto, em que os novos
espaços acabaram por potencializar uma gentrificação já em curso.

No caso da zona portuária, a gentrificação em curso trouxe consigo uma


série de impactos negativos para a comunidade local. Com a valorização imobiliária
e a chegada de novos empreendimentos, muitos moradores de baixa renda tiveram
que abandonar suas moradias, resultando na perda de laços comunitários e na

52
fragmentação social. Além disso, o aumento dos preços dos aluguéis e dos custos
de vida tornou a região inacessível para grande parte da população original,
agravando as desigualdades sociais.

As intenções que guiaram a “revitalização” empreendida pela OUC


Porto Maravilha mostraram-se contraditórias desde o início. O
projeto foi confeccionado tendo como público-alvo a classe média
e não os moradores da localidade, em sua maioria pouco
abastados. A elevação do preço da terra – acima da inflação –
gerou pressões sobre os residentes mais pobres, destacando-se os
inquilinos, em razão dos preços dos aluguéis terem aumentado
vertiginosamente. Antigos moradores de ocupações de sem
teto foram despejados, moradores em situação de rua foram
removidos e centenas de pessoas que moravam no Morro da
Providência, despejadas. Embora a monumentalidade observada nas
formas espaciais e o sucesso ideológico do “Porto Maravilha” sejam
inegáveis, tal qual a produção de empregos e benefício de parte dos
moradores locais que viram seus imóveis valorizarem-se junto ao
mercado imobiliário, as contradições estruturais e os casos de
injustiças sociais derivados deste mesmo “Porto Maravilha” são
muitas. (Nascimento, 2019, p. 63).

4.2 MAPEANDO OS REMANESCENTES INDUSTRIAIS DA CIDADE DO RIO DE


JANEIRO

O mapeamento dos remanescentes industriais cariocas é apresentado e


analisado na subseção intitulada O parque industrial carioca desativado. A seção
Imagens do passado e do presente, que contará com fotos de arquivo e também
aquelas que serão captadas pelo autor, será apresentada no relatório final desta
pesquisa.

4.2.1 O parque industrial carioca desativado

Quadro 3- Remanescentes industriais na cidade do Rio de Janeiro

Ano de Ano de Ano de


Nome atual do Nome da antiga Setor Proprietário Função
Bairro Região abertura da fechamento refuncionali-
espaço fábrica industrial atual atual
fábrica da fábrica zação

53
Casa da Gráfico e
Arquivo Público/Fe- Espaço
Moeda Centro Centro metalúrgi- 1868 1983 1984
Nacional deral cultural.
(1868-1983) co
União fabril
exportadora Espaço
Assaí Mangui- Zona
(UFE) - Sabão 1938 2011 2018 Privado de
Atacadista nhos Norte
Fábrica Sabão consumo.
Português
Companhia
Progresso Espaço
Bangu Zona
Industrial do Bangu Têxtil 1889 2004 2007 Privado de
Shopping Oeste
Brasil - Fábrica consumo.
Bangu
Espaço
Década de Público/Mu-
CADEG Fábrica Veado Benfica Centro Tabaco 1870 1962 de
1940 nicipal
consumo.
Casa Infraes- Público/Es- Espaço
Alfândega Centro Centro 1820 1944 1990
França-Brasil trutura tadual cultural.
Centro
Espaço
Coreográfico Cia. Público/Mu-
Zona cultural e
da Prefeitura e Hanseática Tijuca Bebida 1910 1992 2004 nicipal e
Norte de
Galeria (Brahma) Privado
consumo.
Comercial
Garagem de
Centro Cultural
bondes da Cia. Infraes- Espaço
Light/Sede da Centro Centro 1911 1935 1994 Privado
Ferro Carril trutura cultural.
Light
Urbano
Estação
Centro Cultural Flamen- Zona Infraes- Sem Espaço
Telephonica 1918 1980 Privado
Oi Futuro go Sul trutura informação cultural.
Beira-Mar
Casa da Gráfico e
Centro Cultural Público/Fe- Espaço
Moeda Centro Centro metalúrgi- 1743 1814 1985
Paço Imperial deral cultural.
(1743-1814) co
Fábrica
Centro Cutural Almeida
Metalúrgi- Terceiro Espaço
Fundição Comércio e Centro Centro 1881 1976 1999
co setor cultural.
Progresso Indústria de
Ferro Ltda
Centro da
Armazém das Armaze- Público/Mu- Espaço
Herança Saúde Centro 1875 1910 2001
Docas Pedro II namento nicipal cultural.
Africana
Edifício
Standard Oil
Centro Espaço
Company of Energéti-
Universitário Centro Centro 1935 2003 2007 Privado educa-
Building co
IBMEC cional.
(prédio da
Esso)

54
Condomínio
Fábrica têxtil Núcleo
Solaris da Zona Década de Década de
Cruzeiro / Andaraí Têxtil 1895 Privado residen-
Torre Norte 1960 1980
América Fabril cial.
(Tijolinho)
Diretoria de Oficina de
Serviço Oeste manutenção Espaço
Campo Zona Infraes- Público/Mu-
da Companhia de bondes 1917 1967 1985 de
Grande Oeste trutura nicipal
de Limpeza elétricos trabalho.
Urbana do RJ (usina)
Estação e
Cocheira da Espaço
Ecc do Brasil / Santo Transpor- Sem Sem
Companhia Centro 1882 Privado de
Duran & Costa Cristo te informação informação
Ferro-Carril consumo.
Vila Guarani
Ecomuseu do
Quarteirão
Cultural do
Matadouro
Matadouro de Santa Zona Alimentí- Década de Público/Mu- Espaço
Industrial de 1881 1995
Santa Cruz/ Cruz Oeste cio 1980 nicipal cultural.
Santa Cruz
Palacete
Princesa
ISabel
Galpões da
Espaço para Segunda
Estrada de Gam- Armaze- Sem Final do Público/Mu- Espaço
realização de Centro metade do
Ferro Central boa namento Informação século XX nicipal cultural.
eventos século XIX
do Brasil
Fábrica do Santo Alimentí- Sem Sem Sem Sem Espaço
Espaço Pérola Centro
Açúcar Pérola Cristo cio informação informação informação informação cultural.
Estacionamen-
Galpão
to/depósito do
Industrial da Espaço
Grupo Latour Cidade Metalúrgi- Sem
Metalúrgica Centro 1921 1964 Privado de
(rede de Nova co informação
Pagani Castier trabalho.
concessionária
Ltda
da Peugeot)
Fábrica Fábrica Santo Alimentí- Público/Esta Espaço
Centro 1934 1990 2010
Bhering Bhering Cristo cio dual cultural.
Galpão das
Companhia
Artes do
Nacional de Infraes- Sem Década de Público/Mu- Espaço
Theatro Saúde Centro 1891
Navegação trutura Informação 1990 nicipal cultural.
Municipal do
Costeira
Rio de Janeiro
Casa das
Máquinas e
Instituto de Oficina da Cia.
Flamen- Zona Infraes- Década de Espaço
Arquitetos do Ferro Carril do 1904 1988 Privado
go Sul trutura 1960 cultural.
Brasil - IAB/RJ Jardim
Botânico
(CFCJB)

55
Estação de
Instituto passageiro de
Histórico-Cul- hidroaviões Infraes- Público/Fe- Espaço
Centro Centro 1938 1942 1986
tural da Aeroporto trutura deral cultural.
Aeronáutica Santos
Dummont
Museu Cidade Oficina de
Olímpica trens da Enge-
Zona Infraes- Década de Sem Público/Mu- Espaço
(Nave do Estrada de nho de 2016
Norte trutura 1800 informação nicipal cultural.
Conhecimen- Ferro Central Dentro
to) do Brasil
Museu da Casa da
Gráfico e
Casa da Moeda do Rio Público/Fe- Espaço
Centro Centro metalúrgi- 1814 1868 2018
Moeda do de Janeiro deral cultural.
co
Brasil (1814-1868)
Cabine 3 de
sinalização da
Museu de Enge-
antiga Estrada Zona Transpor- Sem Terceiro Espaço
Sinalização nho 1989 1989
de Ferro Norte te informação setor cultural.
Ferroviária Novo
central do
Brasil
Garagem e
Museu do oficina de Santa Infraes- Sem Público/Mu- Espaço
Centro 1877 1999
Bonde bondes de Teresa trutura informação nicipal cultural.
Santa Tereza
Galpão de
pintura de
Enge-
Museu do carros da Zona Infraes- Meados do Sem Público/Mu- Espaço
nho de 1984
Trem Estrada de Norte trutura século XIX informação nicipal cultural.
Dentro
Ferro D. Pedro
II
Parque 100% Fábrica de Em
Realen- Zona Público/Mu- Espaço
Realengo Cartuchos de Bélico 1898 1977 desenvolvi-
go Oeste nicipal cultural.
Verde Realengo mento
Jardim
Parque Jardim Real Fábrica Zona Público/Fe- Espaço
Botâ- Bélico 1810 1831 1831
Botânico de pólvora Sul deral cultural.
nico
São
Pavilhão Sem Infraes- Sem Sem Sem Espaço
Cristó- Centro Privado
Maxwell informação trutura informação informação informação cultural.
vão
Armazéns da Armaze- Sem Espaço
Pier Mauá Centro Centro 1910 2007 Privado
zona portuária namento informação cultural.
Quadra da
Lins de
Escola de Fundição Zona Metalúrgi- Sem Espaço
Vascon- 1913 1997 Privado
Samba Lins Cavina Norte co Informação cultural.
celos
Imperial

56
Casa de
Máquinas do Núcleo
Cosme Zona Infraes-
Residência Reservatório 1868 1975 2003 Privado residen-
Velho Sul trutura
do Morro do cial.
Inglês
Virada do
Fundição
Metalúrgi- século XIX Sem Espaço
Sacadura 154 Manoel Lino Saúde Centro 2014 Privado
co para século Informação cultural.
Costa
XX
The Rio de
Janeiro city Zona Sanea- Público/Es- Espaço
SEAERJ Glória 1864 1947 1960
improvements Sul mento tadual cultural.
company
Sede do Fábrica de
Serviço Armas da Público/Fe- Espaço
Saúde Centro Bélico 1765 1831 1917
Geográfico do Fortaleza a deral cultural.
Exército Conceição
Refinaria
Ramiro
Catum- Alimentí- Sem Sem
Sem função S.A. - Fábrica Centro 1885 1967 -
bi cio informação. função.
do
Açúcar Brasil
Man- Alimentí- Década de Público/Mu- Sem
Sem função Red Indian Centro 1966 -
gueira cio 1990 nicipal função.
Antiga Fábrica
de Gás –
Cidade Energéti- Sem
Sem função Companhia Centro 1853 1969 - Privado
Nova co função.
Estadual de
Gás
Complexo Maria
Zona Energéti- Sem
Sem função industrial da da 1928 2008 - Privado
Norte co função.
GE Graça
Estação
Ferroviária
Santa Zona Transpo-r Sem Sem
Sem função do Matadouro 1884 1974 -
Cruz Oeste te informação função.
de
Santa Cruz
Praça
Estação
da Zona Transpor- Década de Sem Sem
Sem função Ferroviária 1922 -
Bandei- Norte te 1970 informação função.
Francisco Sá
ra
Praça
Estação
da Zona Transpor- Público/Fe- Sem
Sem função Ferroviária 1926 2001 -
Bandei- Norte te deral função.
Leopoldina
ra
Gam- Alimentí- Sem Sem Sem
Sem função Moinho Inglez Centro 1887 -
boa cio Informação informação. função.

57
Fábrica da
Perfuma- Sem
Sem função Perfumaria Centro Centro 1884 1984 - Privado
ria função.
Kanitz
São
Energéti- Público/Fe- Sem
Sem função Gasomêtro Cristó- Centro 1911 2005 -
co deral função.
vão
Garagem Armaze- Década de Sem
Sem função Centro Centro 1910 - Privado
Poula namento 1990 função.
Trapiche Santo Armaze- Sem Público/Mu- Sem
Sem função Centro 1896 -
Modesto Leal Cristo namento informação nicipal função.
Moinho Alimentí- Sem
Sem função Saúde Centro 1887 2016 - Privado
Fluminense cio função.
São
Cia. Luz Energéti- Sem Sem
Sem função Cristó- Centro 1842 - Privado
Steárica co Informação função.
vão
Companhia de Espaço
Shopping Del Zona
tecidos Nova Têxtil 1925 1991 1996 Privado de
Nova América Castilho Norte
América consumo.
Sítio Cultural
da Rua da Instru-
A Guitarra de Público/Mu- Espaço
Carioca/Casa Centro Centro mentos 1887 2014 2014
Prata nicipal cultural.
Almerinda musicais
Gama
Armazéns da
servidão Santo Armazen- Sem Sem Sem Espaço
Studio do Cais Centro Privado
central da Cristo amento informação informação informação cultural.
linha férrea
Superinten- Sede da Cia. Espaço
Infraes- Público/Fe-
dência do Docas de Centro Centro 1908 1985 1986 de
trutura deral
IPHAN Santos trabalho.
Fábrica de Espaço
Boulevard Vila Zona
Tecidos Têxtil 1885 1964 1979 Privado de
Shopping Car Isabel Norte
Confiança consumo.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2023

Para iniciar a análise dos dados levantados, buscou-se organizar alguns


dados que permitissem posteriormente entender a relação entre o mapeamento de
dados secundários e os conceitos debatidos no referencial teórico. Para a análise
das categorias de bairro, setor industrial, proprietário atual e função atual, foram
utilizados gráficos de colunas; já nas categorias de ano de abertura e fechamento
da fábrica e ano de refuncionalização, a análise ocorreu por meio de histogramas, e
na categoria de região, por meio de gráfico de setores.

58
Figura 1 - Bairros dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro

Fonte: Construído pelo autor, 2023

Em relação aos bairros dos remanescentes industriais da capital fluminense,


é possível identificar uma grande predominância de bairros pertencentes à região
central da cidade, sendo que os quatro bairros com maior participação neste gráfico
- Centro, Saúde, Santo Cristo e São Cristóvão - compõem a região central do Rio de
Janeiro. Como apontado por Albernaz e Diógenes (2023), a industrialização carioca
foi iniciada no Centro da cidade e nos seus arredores, funcionando como o grande
polo industrial do Brasil por longos anos.

No entanto, a partir da década de 1920, o setor industrial carioca se deslocou


para os subúrbios da Zona Norte, por conta de vantagens competitivas oferecidas
às indústrias em seus terrenos e pelo incentivo do Plano Agache, plano de
remodelação urbana da cidade do Rio de Janeiro, que tinha como objetivo esvaziar
a concentração do centro da cidade. Nesse sentido, é possível analisar no gráfico
seguinte a predominância dos remanescentes industriais tanto na região central da
cidade, quanto na Zona Norte.

Figura 2 - Região dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro

59
Fonte: Construído pelo autor, 2023

A grande maioria dos remanescentes industriais cariocas está localizada na


região central e norte da cidade, com uma participação pouco expressiva da Zona
Sul e da Zona Oeste. No caso da Zona Sul, a construção histórica desta região
sempre foi muito associada a ambientes elitizados, com foco em núcleos
residenciais e espaços de lazer, tanto que a expansão dessa região ocorreu no
mesmo momento em que o perfil de Cidade Maravilhosa era consolidado, em
detrimento da valorização do caráter industrial da cidade.

No que tange à Zona Oeste, a industrialização desta região foi fomentada


somente a partir da década de 1970, a partir da criação de distritos industriais
(Damas, 2008); desta maneira, a existência de remanescentes nesta região é baixa,
ao passo que o número de instalações industriais em funcionamento na Zona Oeste
é expressivo, consistindo no maior polo industrial da capital fluminense atualmente.

Figura 3 - Setor industrial dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro

60
Fonte: Construído pelo autor, 2023

Em relação ao setor industrial dos remanescentes industriais, é possível


identificar uma predominância de setores de apoio à produção industrial, como
infraestrutura, armazenamento, energético e transporte. Já os setores de bens de
produção com maior participação consistem no alimentício, têxtil e metalúrgico.

Figura 4 - Proprietário atual dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro

Fonte: Construído pelo autor, 2023

Na análise de proprietários atuais, é possível identificar um equilíbrio entre


bens privados e bens públicos, considerando que 42,9% dos bens são privados -
incluindo o terceiro setor - e 46,5% são públicos - federal, estadual e municipal. A

61
maioria dos bens públicos são de propriedade municipal e federal, tendo o estado
do Rio de Janeiro pouca expressão no número de posses de remanescentes
industriais. O proprietário atual de uma das instalações analisadas, a Cia.
Hanseática (Brahma) localizada na Tijuca, foi classificado como Municipal e Privado
ao mesmo tempo, na medida em que o antigo espaço fabril foi transformado em
dois locais com novas funções: Centro Coreográfico da Prefeitura e Galeria
Comercial.

Este caso reflete uma tendência no processo de refuncionalização de alguns


remanescentes, que consiste no desmembramento da instalação industrial. Outros
exemplos evidenciam este caso, em que, apesar de o tipo de proprietário atual ser o
mesmo, os espaços adquiriram funções diferentes, como no caso do Matadouro
Industrial de Santa Cruz, que atualmente abriga o Palacete Princesa Isabel e o
Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro de Santa Cruz; e da Fundição
Manoel Lino Costa, que ocupava os números 152 e 154 da Rua Sacadura Cabral, e
atualmente apenas o edifício de número 154 possui função, consistindo em um
espaço para realização de eventos denominado Sacadura 154, criado em 2014.

Figura 5 - Função atual dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro

Fonte: Construído pelo autor, 2023

Existe uma forte predominância em remanescentes industriais


refuncionalizados se tornarem espaços com função cultural, assim como no
levantamento de Brasil (2022), consistindo em mais de 50% dos casos nas

62
instalações mapeadas do Rio de Janeiro. Em seguida, é destacado a nova função
de espaço de consumo. Um ponto interessante para análise é o fato de que muitas
instalações industriais foram destruídas por completo para a construção de núcleos
residenciais, como veremos com mais detalhes adiante, sendo poucos os
remanescentes que possuem esta função.

No Quadro 1, trabalhamos apenas com espaços que ainda possuem algum


remanescente de sua função original, não tendo passado por processos de
destruição total. O Condomínio Solaris da Torre, que ocupa o antigo espaço da
Fábrica Têxtil Cruzeiro e América Fabril, por exemplo, faz-se presente no
mapeamento por conta do fato de que as chaminés da época fabril se encontram
preservadas no local. Ainda sobre o gráfico de função atual, a categoria “sem
função” está presente em 25% dos atuais remanescentes industriais da cidade,
indicando o potencial de refuncionalização e possibilidades para a ocupação e
novos usos de espaços que, em sua maioria, se encontram abandonados.

Figura 6 - Ano de abertura da fábrica dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro

Fonte: Construído pelo autor, 2023

Analisando o histograma com os anos de abertura das fábricas que


atualmente são remanescentes industriais, é possível evidenciar o grande
crescimento da industrialização a partir de 1851, impulsionada por fatores como a
Tarifa Alves Branco e a Lei Eusébio de Queirós, tendo este processo sido exitoso
até as primeiras décadas da República; neste período, o Rio de Janeiro foi o grande
polo industrial do Brasil. Na segunda metade do século XX, apenas uma fábrica que

63
atualmente é remanescente industrial foi aberta no Rio de Janeiro, em função da
perda de espaço no setor industrial para São Paulo, do processo de
desconcentração industrial dentro do território brasileiro e da desindustrialização
vivenciada no país a partir da década de 1970.

Figura 7 - Ano de fechamento da fábrica dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro

Fonte: Construído pelo autor, 2023

Em convergência com o processo histórico indicado acima, o grande período


de fechamento de fábricas no Rio de Janeiro ocorreu na segunda metade do século
XX, evidenciando o processo de desindustrialização da cidade. Este processo
continua no século XXI, em que a capital fluminense volta-se cada vez mais para
uma economia baseada em serviços e na indústria criativa, enquanto outras áreas
do estado, como a Baixada Fluminense, se consolidam como espaços industriais.
Um caso para análise é o Moinho Fluminense, que de 1887 a 2016 funcionou no
bairro da Saúde, na região central do Rio de Janeiro, até se transferir para Duque
de Caxias, na Baixada Fluminense. Atualmente, a instalação original passa por um
processo de refuncionalização, como veremos adiante.

Figura 8 - Ano de refuncionalização dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro

64
Fonte: Construído pelo autor, 2023

Conforme indicam Cavalcanti e Fontes (2011), a preocupação em torno da


refuncionalização e preservação do patrimônio industrial foi acentuado na virada do
século XX para o século XXI, quando o processo de desindustrialização se tornou
evidente no tecido urbano, inclusive trazendo consequências negativas para a
população do entorno destas instalações, como sinalizou Fontes (2018). Ainda, um
grande marco na história dos remanescentes industriais é a criação do Comitê
Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial (TICCIH), em 1978, que
deu destaque ao tema, potencializando os processos de preservação e
refuncionalização de instalações industriais desativadas ao redor do mundo.

A seguir serão trabalhadas outras análises a partir do mapeamento realizado,


que envolvem debates de estudos de caso e de temáticas como: processos de
refuncionalização em desenvolvimento; remanescentes industriais sem função
atualmente; espaços de instalações industriais que adquiriram novos usos, mas que
foram destruídas por completo; tendências de novas funções em processos de
refuncionalização, como supermercados, shoppings e museus; espaços culturais
refuncionalizados amplamente conhecidos pelo público carioca.

Em relação a processos de refuncionalização em desenvolvimento, com base


em todas as refuncionalizações mapeadas e estudadas, é possível identificar que
este processo geralmente dura por longos anos, é burocrático e envolve a atuação e
disputa de diferentes agentes sociais da cidade do Rio de Janeiro. Isso fica
evidente, por exemplo, no caso da Fábrica de Cartuchos de Realengo, que
funcionou até 1977 e atualmente sua refuncionalização se encontra em

65
desenvolvimento, com a proposta de se tornar o Parque 100% Realengo Verde
(Magalhães, 2022). No entanto, as reivindicações da sociedade civil para que o
espaço ganhasse uma nova função começaram há décadas, em 2004. Neste
processo, o espaço foi alvo de uma disputa de forças, na medida em que o Exército
brasileiro desejava transformar o local em um espaço habitacional exclusivo para
seus integrantes, enquanto o movimento popular “O Realengo Que Queremos”
reivindicava a implantação de um parque ecológico (Candida, 2017). Em 2021, a
Prefeitura deu início às obras para a construção do parque, com conclusão prevista
para 2024.

Outro caso que envolve a atuação de diferentes atores sociais é o antigo


espaço da fábrica de instrumentos musicais A Guitarra de Prata, que funcionou de
1887 a 2014 na Rua da Carioca. A tradicional loja foi despejada pelo Opportunity
Fundo de Investimento Imobiliário. No entanto, os prédios da Rua da Carioca foram
tombados e desapropriados pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH),
em junho de 2013, criando o Sítio Cultural da Rua da Carioca (Bastos, 2014).
Entretanto, em março de 2022 o espaço foi ocupado por um coletivo feminista para
acolher mulheres em situação de vulnerabilidade, alegando que o imóvel estava
sem utilização há mais de 8 anos e sem cumprir sua função social (Pitasse, 2022).
Atualmente, apesar de pertencer à Prefeitura do Rio, a instalação continua sendo
ocupada pela Casa Almerinda Gama, coordenada pelo Movimento Olga Benário. O
poder público, no entanto, tenta desocupar o espaço por meio de ação judicial
(Casa Almerinda Gama, 2022).

A Estação Ferroviária Leopoldina também possui um processo de


refuncionalização em desenvolvimento. Localizada na Av. Francisco Bicalho, o local
funcionou até 2001 e é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN). Após duas décadas em completo estado de abandono e com
risco de incêndio e desabamento do local, em 2023 o governo federal assumiu a
administração da instalação, que anteriormente era de responsabilidade da
concessionária privada SuperVia (Schmidt, 2023), e afirmou que planeja a
restauração do espaço para o ano que vem. Segundo o Ministério da Gestão e da
Inovação, o processo licitatório deve acontecer no primeiro trimestre de 2024
(Lopes, 2023).

66
Ainda, a primeira fábrica de moagem de trigo do Brasil, o Moinho Fluminense,
também está em refuncionalização. Após o deslocamento da fábrica da empresa
para Duque de Caxias em 2016, o espaço no bairro da Saúde passou por diversas
tentativas de refuncionalização (Lucena, 2017), até que foi comprado em 2019 pela
Autonomy Investimentos & Afilliates, empresa especializada em adquirir prédios
antigos para reformar (Agenda Bafafá, 2020). A empresa aponta que o Moinho
Fluminense vai virar um espaço multiuso com sete andares, contendo shopping,
hotel, escritórios, bares, restaurantes, exposições de artes e um espaço para
eventos. A conclusão da primeira fase da refuncionalização está prevista para 2025
(Vieira; Lima; Luz, 2022).

Dessa maneira, podemos concluir que a refuncionalização de uma instalação


industrial é um processo que demanda grandes esforços, e como analisamos
anteriormente, 25% dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro estão sem
função atualmente. Alguns exemplos de espaços sem função atualmente, como a
Companhia Estadual de Gás (CEG) e o Complexo Industrial da General Electric
(GE) ilustram a dificuldade e complexidade do processo de refuncionalização.

A antiga fábrica de gás da CEG, localizada na Avenida Presidente Vargas,


funcionou até 1969 e apesar de ser tombada por sua importância arquitetônica,
histórica e cultural, a administração do espaço atualmente é problemática. A
construção abrigou o Museu do Gás até 1997, quando a CEG foi concedida ao
grupo espanhol Naturgy (Candida, 2017). A empresa multinacional pretende montar
um novo Museu do Gás no prédio, que guarda um acervo histórico sobre os
serviços de distribuição de gás canalizado no Rio de Janeiro. No entanto,
aparentemente ainda nada foi feito ao longo destes anos, evidenciando a falta de
cuidado com o patrimônio industrial carioca (Candida, 2016).

Já o complexo industrial da GE, situado no bairro Maria da Graça - subúrbio


ferroviário da Zona Norte - encontra-se sem utilização desde 2008, quando a fábrica
foi fechada e vendida para Efficient Lighting Products (ELP). Desde então, a
instalação se encontra fechada e em ruínas, por conta do abandono, na medida em
que a empresa que comprou o terreno da GE entrou em processo de falência. A
ELP foi processada pela Prefeitura do Rio, já que o espaço enfrentava sérios
problemas ambientais, pois estava cercado de material tóxico (Brito, 2018). A

67
instalação estava sob o controle de um administrador nomeado pelo Juízo de
Falências da ELP, até setembro de 2023, quando o estado do Rio de Janeiro
ganhou na justiça uma liminar pela posse do terreno. A ideia é implementar projetos
sociais no local, com o objetivo de gerar emprego e movimentar a renda na região,
além de um mercado produtor, um novo Batalhão da Polícia Militar, um ambulatório
médico de especialidades, um parque urbano, uma vila olímpica e um centro
comercial (Lopes, 2023). No entanto, o processo de refuncionalização ainda não foi
iniciado, assim como a transferência de posse, mostrando que ainda há um longo
caminho pela frente para que o espaço ganhe uma nova função.

Em algumas instalações industriais, em especial aquelas que se tornam


núcleos residenciais no Rio de Janeiro, a obtenção de uma nova função passou
pela destruição completa da fábrica original. É o caso do Condomínio Cidade-Jardim
Laranjeiras, que ocupa o terreno da Fábrica de Tecidos Aliança desde 1962; no
entanto, algumas casas da antiga vila operária desta instalação fabril foram
preservadas (Pires, 2019). O Condomínio Cores da Lapa também promoveu a
destruição da Fábrica da Antarctica para a construção do empreendimento
imobiliário residencial a partir de 2006 (Lage, 2005). No entanto, este processo não
se restringe a núcleos residenciais. O ParkShopping Jacarepaguá, lançado em
2021, foi construído no terreno onde funcionava a fábrica da Companhia Antarctica
Paulista, que foi demolida para o início das obras do shopping center (Irajá, 2022).

Um outro exemplo é o Condomínio Nova CCPL, localizado na Av. Dom


Hélder Câmara, construído no terreno da fábrica de leite da Cooperativa Central dos
Produtores de Leite (CCPL). Após o fechamento da fábrica, o espaço foi ocupado
por centenas de famílias, a maior parte delas oriundas das comunidades próximas à
antiga indústria, e a instalação passou a ser conhecida como “favela da CCPL”
(Cavalcanti; Fontes, 2011). Em 2009, o espaço foi incluído no Programa de
Aceleração do Crescimento do governo federal, levando à demolição do espaço
fabril para a construção de um condomínio residencial para os moradores da
ocupação, que foi inaugurado no ano de 2014 (Albuquerque, 2014).

Algumas outras novas funções comuns que uma instalação industrial pode
ganhar incluem museus, shoppings e supermercados. No bairro da Tijuca,
instalações industriais foram demolidas e passaram a abrigar supermercados, como

68
o terreno do Complexo Industrial da Brahma, que de 2007 a 2013 funcionou como o
hipermercado Walmart e desde 2016 é sede do Supermercado Guanabara (Bastos,
2014).

Também na Tijuca, a fábrica de tabaco Souza Cruz deu espaço à


multinacional Carrefour de 1997 a 2005, cujo terreno atualmente se encontra
completamente abandonado. Apesar de representantes da Prefeitura do Rio já
terem apresentado intenções de propor novos usos para o local, como a construção
de um conjunto habitacional, o espaço continua desativado (Bastos, 2014). O atual
proprietário do local é a empresa Realesis Holding S.A., que comprou o terreno do
Grupo Carrefour em 2009, mas até o ano de 2020 não havia conseguido transferir o
espaço para o seu nome, devido a um processo judicial contra a Prefeitura do Rio
em função de questionamentos sobre o valor cobrado de Imposto de Transmissão
de Bens e Imóveis (Pimenta, 2020). Até os dias de hoje, nada foi feito com o local,
que se encontra em ruínas.

Na região central da cidade, na Avenida Brasil, também há um exemplo de


remanescente que adquiriu a função de supermercado; trata-se do Assaí
Atacadista, localizado na antiga Fábrica Sabão Português, que funcionou até 2011.
O espaço foi incluído no mapeamento de remanescentes industriais por conta da
preservação de sua chaminé, que inclusive é tombada; no entanto, 80% da
construção foi demolida para as obras do supermercado. Diversas novas funções
foram pensadas durante os 7 anos em que o local ficou sem utilização. Até se tornar
Assaí em 2018, foi cogitado transformar o local em terminal de contêineres, conjunto
habitacional popular ou Cidade do Samba para grupos de Acesso e Mirim (O Dia,
2018).

Junto dos supermercados, shopping centers consistem em novas funções


que transformaram remanescentes industriais em espaços de consumo. É o caso do
Shopping Nova América, localizado em Del Castilho, no espaço da Companhia de
Tecidos Nova América. O empreendimento foi inaugurado em 1996, como outlet, e
virou shopping tradicional em 2002. Em outubro de 2012, o empreendimento teve
sua segunda expansão, que trouxe 118 lojas, a construção do Nova América
Offices, o Nova América Corporate e dois hotéis. A instalação industrial foi
conservada em partes, sendo possível visualizar algumas máquinas da fábrica, a

69
chaminé e a sirene da fábrica (Candida, 2017). O Bangu Shopping, no entanto,
ocupa o antigo espaço da Fábrica Bangu, importante indústria têxtil, e seu grande
diferencial é que ele mantém as características arquitetônicas originais da fábrica. O
shopping foi inaugurado em 2007, três anos após o fechamento da fábrica (Lucena,
2016).

Também há uma tendência da obtenção da nova função de museu em


antigos remanescentes industriais, especialmente no caso de instalações
relacionadas com o sistema ferroviário, indicando que há uma maior preocupação
com este tipo de patrimônio específico do que com o patrimônio industrial em geral.
É o caso do Museu de Sinalização Ferroviária, que ocupa o espaço conservado da
antiga Cabine 3 de sinalização da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil. O
museu possui materiais de sinalização, maquete de ferreomodelismo e biblioteca
para pesquisa da memória ferroviária (Emmerich, 2017). Em Santa Teresa, a
Garagem e Oficina de Bondes de Santa Tereza transformou-se em Museu do Bonde
em 1999 (Brasil, 2022). No Engenho de Dentro, o Galpão de Pintura de Carros da
Estrada de Ferro D. Pedro II desde 1984 é ocupado pelo Museu do Trem (Brasil,
2022).

Por fim, como indicado anteriormente, a principal nova função adquirida pelos
remanescentes industriais é de espaço cultural. No Rio de Janeiro, existem três
exemplos emblemáticos deste tipo de processo de refuncionalização, que consistem
na Fábrica Bhering, no Centro Cultural Fundição Progresso e no Pier Mauá.

A Fábrica Bhering, situada no bairro Santo Cristo, na zona portuária do Rio


de Janeiro, funcionou de 1934 a 1990 como fábrica de chocolates, até que nos anos
1980 problemas financeiros levaram à desativação desta unidade, levando ao
deslocamento da produção para o estado de Minas Gerais. Em 2005, o proprietário
da fábrica iniciou uma proposta de ocupação do espaço por artistas em busca de
preços mais convidativos, fora da zona sul da cidade. Em 2011, o prédio foi leiloado
para uma imobiliária, por problemas de dívida tributária com a União; no entanto, em
2012 a Prefeitura do Rio garantiu o tombamento da fábrica e a permanência dos
artistas ocupantes. O espaço é ocupado atualmente por artistas e pequenas
empresas da economia criativa, funcionando como um pólo criativo de produção de
arte e cultura (Borges, 2020).

70
O Centro Cultural Fundição Progresso também passou por um processo de
ocupação coletiva na década de 1980. O antigo espaço industrial estava em
processo de demolição, que foi impedido por artistas e dirigentes da casa de
espetáculos Circo Voador, que conseguiram o direito de ocupar o espaço. A partir
deste momento, o local foi nomeado como Fundição Progresso e passou a
funcionar em conjunto com o Circo Voador, se complementando com o intuito de
proporcionar ao público ações culturais com foco na arte, educação, meio ambiente
e projetos sociais. Desde 1999 o local é administrado pela ONG Fundição de Arte e
Progresso e funciona como casa de espetáculos e espaço para cursos de artes
(Guia Cultural do Centro Histórico do Rio de Janeiro, 2024).

Por fim, o Píer Mauá faz parte da zona portuária do Rio de Janeiro, espaço
que foi amplamente revitalizado e refuncionalizado no contexto dos megaeventos
esportivos do início da década de 2010. Além de administrar o Porto de Cruzeiros
do Rio, a empresa Pier Mauá é responsável pelos armazéns da zona portuária, que
tiveram seus processos de refuncionalização iniciados em 2007 e hoje consistem
em 17 armazéns que servem como espaço para realização de eventos culturais,
musicais, corporativos e gastronômicos. A estrutura externa e interna foi
conservada, ainda que tenha passado por reformas no processo de
refuncionalização (Pier Mauá, 2024).

4.2.2 Imagens do passado e do presente

Para o desenvolvimento desta seção, foram elegidos dois remanescentes


industriais por categoria para exemplificar o passado e presente de instalações que
representam as funções atuais mais expressivas identificadas na figura 5, sendo
elas: Espaço cultural (29 remanescentes), sem função (14 remanescentes) e
espaço de consumo (6 remanescentes). O critério de escolha levou em conta a
relevância do remanescente para a história da industrialização e desindustrialização
da capital fluminense, assim como a importância da atual instalação para a cidade,
além da facilidade de acesso ao local.

Dessa maneira, como espaço cultural, foram analisados a Fábrica Bhering e


a Fundição Progresso; como espaço sem função, o Moinho Fluminense e a
Perfumaria Kanitz; e como espaço de consumo, o Assaí Atacadista e o Shopping

71
Nova América. Nesse sentido, para cada remanescente analisado, foram
pesquisadas imagens de arquivo do passado em sites oficiais dos remanescentes e
em veículos de comunicação com foco no Rio de Janeiro, como Diário do Rio e O
Dia, assim como foram fotografadas imagens dos atuais espaços por autoria própria
do pesquisador, por meio de visitas às atuais instalações industriais. O foco da
pesquisa foi analisar o estado de conservação do patrimônio, tanto material, quanto
imaterial, pensando na memória do ambiente fabril.

Iniciando pelos espaços culturais, a antiga fábrica de chocolates Bhering


atualmente se posiciona como um forte polo artístico e cultural. No entanto, durante
a visita realizada ao local, como possível averiguar nas imagens a seguir, foi
identificado que o espaço atualmente é marcado por forte falta de manutenção,
tanto de sua estrutura física que encontra-se pouco conservada, quanto também
dos estúdios de arte - muitos estão vazios e desocupados, e a maioria deles
fechados em dias de semana -, refletindo em um cenário de baixa atratividade para
a visitação.

Figura 9 - Atêlie fechado durante dia de semana na Fábrica Bhering

Fonte: Fotografado pelo autor, 2024

72
Figura 10 - Ausência de manutenção no espaço da Fábrica Bhering

Fonte: Fotografado pelo autor, 2024

Por outro lado, o remanescente se destaca por sua forte sinalização do


passado fabril, considerando que possui placas que indicam as seções da antiga
fábrica, expõe maquinários e mantém diversos itens e decorações da Bhering.
Apesar de se caracterizar como um polo artístico, o espaço também funciona como
uma ode ao passado industrial da fábrica, e foram conservados no local a chaminé,
a torre do relógio, a escadaria de ferro e diversos itens de maquinário. No que tange
a imagens de arquivo do passado, não foram encontrados registros, reforçando a
tese do apagamento do passado industrial, considerando que foram realizadas
pesquisas nos canais de comunicação oficiais do espaço, sites do patrimônio
histórico municipal (iPatrimônio e Instituto Rio Patrimônio da Humanidade) e
também em periódicos e endereços eletrônicos sobre a cidade do Rio de Janeiro.

73
Figuras 11 e 12 - Chaminé e torre de relógio preservadas da Fábrica Bhering

Fonte: Fotografado pelo autor, 2024

Figuras 13 e 14 - Sinalização sobre o processo produtivo e maquinário da antiga Fábrica


Bhering

Fonte: Fotografado pelo autor, 2024

74
No que tange ao segundo espaço cultural analisado, nas visitas à Fundição
Progresso foi possível identificar um cenário de maior conservação da instalação
industrial, que se encontra em bom estado de preservação arquitetônica, como em
sua fachada. Por outro lado, o patrimônio imaterial e material sobre o passado fabril
do espaço faz-se presente de maneira menos contundente, por meio de totens que
contam a história do espaço desde o seu funcionamento como fábrica; no entanto,
não foram encontrados antigos maquinários, por exemplo, assim como outros itens
que remetessem ao processo produtivo da fundição. Entretanto, em conversa com
funcionário da portaria, foi relatado que existe a possibilidade de haver
equipamentos da antiga fábrica no subsolo da instalação; no entanto, a visitação
não é permitida, pois alega-se entre os funcionários que o local é ‘assombrado por
fantasmas’ [sic].

Figura 15 - Totem com detalhes sobre a história da Fábrica Progresso

Fonte: Fotografado pelo autor, 2024

75
Figuras 16 e 17 - Fachada no passado e presente da Fundição Progresso

Fontes: Fundição Progresso, s.d. / Fotografado pelo autor, 2024

Figuras 18 e 19 - Espaço central no passado e presente da Fundição Progresso

Fontes: Fundição Progresso, s.d. / Fotografado pelo autor, 2024

No que tange à utilização do espaço, a Fundição Progresso é marcada por


uma alta movimentação de pessoas. Na primeira visita realizada, em uma
quinta-feira à noite, o local era profundamente ocupado pelos frequentadores do
evento ‘Samba Independente dos Bons Costumes’, que ocorre semanalmente no
espaço às quintas-feiras. Na segunda visita, em uma quarta-feira à tarde, apesar de
um menor movimento, o espaço também contava com ensaios de apresentações,
gerando uma presença expressiva de pessoas no local.

76
Figuras 20, 21 e 22 - Funcionamento noturno da Fundição Progresso com roda de samba

Fonte: Fotografado pelo autor, 2023

A seguir, analisaremos os espaços sem função, iniciando pelo Moinho


Fluminense. Tanto neste espaço, quanto no outro analisado - Perfumaria Kanitz - foi
possível notar uma tensão em torno da segurança do espaço, dificultando a
produção fotográfica em ambos os espaços. No caso do Moinho Fluminense, em
conversas com a equipe de segurança presente no local - foram identificadas três
entradas com um segurança em cada uma -, o motivo relatado para o reforço na
segurança foi o histórico recente de ocupações do remanescente pela população
local, em busca da apropriação e loteamento do espaço.

Figura 23 - Equipe de segurança do Moinho Fluminense

Fonte: Fotografado pelo autor, 2024

77
Ainda de acordo com a equipe de segurança, em dissonância com os portais
de comunicação e comunicados oficiais da Autonomy Investimentos, proprietária do
local - conforme indicado na seção ‘O parque industrial carioca desativado’ -, não há
previsão de início das obras, que são constantemente adiadas, podendo levar a
entender o espaço como um elefante branco atualmente. Dessa maneira, a
preservação arquitetônica do espaço e sua segurança física estão em crescente
ameaça, considerando que o interior do prédio encontra-se em ruínas -
contrastando com a fachada que se encontra preservada -, conforme foi relatado
pela equipe de segurança e como também foi possível observar por meio de uma
permissão de visita a um espaço interno específico pela equipe de segurança; no
entanto, sem permissão para fotografar.

Figuras 24 e 25 - Silo nº 3 no passado e presente do Moinho Fluminense

Fontes: Moinho Fluminense, s.d. / Fotografado pelo autor, 2024

78
Figuras 26 e 27 - Fachada no passado e presente do Moinho Fluminense

Fontes: Moinho Fluminense, 1926 / Fotografado pelo autor, 2024

O outro espaço sem função analisado na pesquisa foi a Perfumaria Kanitz. O


edifício, construído em 1922, abriga uma série de pavilhões conectados por um
sistema de transporte sobre trilhos. Originalmente sede da fábrica Kanitz, hoje em
dia funciona parcialmente como estacionamento, em um espaço vazio da
construção, ao passo que o prédio da antiga instalação fabril encontra-se sem
função, com algumas pequenas partes atuando como depósito. Em reconhecimento
de seu valor histórico, foi oficialmente protegido como patrimônio municipal em
1987; importante frisar que a perfumaria ainda funciona nos dias de hoje, mas com
nova sede no bairro Engenho Novo. Justamente por essas questões, o
remanescente vem sendo alvo de tensões em torno da utilidade do espaço. Após a
veiculação de notícias sobre a má utilização do espaço em veículos de
comunicação como Diário do Rio e Agenda Bafafá, a população local da capital
fluminense passou a pressionar o proprietário do local pela preservação do espaço,
que encontra-se em ruínas, e também os órgãos executivos da cidade para de fato
transformar o remanescente em um local com utilidade para a população.

Nesse sentido, essa tensão foi refletida durante a visita para a produção
fotográfica do remanescente. Foi possível identificar a falta de preservação do
espaço, tanto na fachada, quanto em seu espaço interno, como também a tentativa
da equipe do local em manter a privacidade da antiga fábrica. Um funcionário do
estacionamento relatou que não é mais possível visitar ou fotografar o prédio da
Kanitz, por ordens do proprietário do imóvel, que é um português e atualmente mora

79
em Portugal. Foi relatado também que o espaço é monitorado pelo proprietário por
câmeras, e qualquer produção fotográfica e audiovisual levaria à demissão dos
atuais funcionários responsáveis pelo remanescente. Após a veiculação de matérias
nos portais de notícias indicados em 2023 - que fotografaram e gravaram o
ambiente interno do imóvel -, e que levaram à tona a pressão da população pela
apropriação do espaço pela prefeitura, pode-se ter gerado uma maior preocupação
do proprietário atual em relação ao futuro do espaço, que não deseja vender o
imóvel, como também adotar uma nova função de fato relevante para o tecido
social. Uma fotografia - figura 29 - produzida para a pesquisa, por exemplo, do
interior da construção, foi possível de ser obtida apenas por meio de uma fresta no
portão da fachada da instalação. No que tange a imagens de arquivo do passado,
não foram encontrados registros, reforçando a tese do apagamento do passado
industrial da capital fluminense.

Figuras 28 e 29 - Fachada e interior da antiga Perfumaria Kanitz

Fonte: Fotografado pelo autor, 2024

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Figuras 30 e 31 - Estacionamento que ocupa espaço vazio da antiga perfumaria

Fonte: Fotografado pelo autor, 2024

Por fim, analisando os espaços de consumo refuncionalizados, inicia-se pelo


Assaí Atacadista, que atualmente ocupa o espaço do remanescente da Fábrica de
Sabão Português. Como indicado na seção ‘O parque industrial carioca desativado’,
o prédio original da fábrica foi derrubado, com exceção da chaminé, que é
patrimônio histórico tombado. Dessa maneira, na visita ao espaço para a produção
fotográfica, fica evidente a ausência de referências ao passado industrial do espaço,
tanto material, quanto imaterial, em um cenário em que a chaminé funciona como
único remanescente de um amplo passado que poderia ser mais explorado e
preservado.

81
Figuras 32 e 33 - Fábrica de Sabão Português e Assaí Atacadista: passado e presente

Fontes: O Dia, 2024 / Fotografado pelo autor, 2024

Um outro espaço de consumo refuncionalizado consiste no atual Shopping


Nova América, no local de uma antiga fábrica têxtil no bairro de Del Castilho. Ao
contrário do caso do Assaí Atacadista, a memória do passado industrial faz-se
presente de maneira mais expressiva; no entanto, apenas por meio da preservação
arquitetônica material. Durante a visita realizada para produção fotográfica, não
foram encontrados elementos contundentes com o objetivo de rememorar o
passado industrial do remanescente - apenas uma placa, de pequeno tamanho e
situada em lugar de difícil acesso, no pé da chaminé preservada. Além da chaminé,
também foi preservada a estrutura arquitetônica da fábrica, e as paredes de tijolos
antigos foram mantidas tanto no ambiente externo, quanto interno. É importante
notar também o contraste entre o passado e presente na relação entre a antiga
estrutura preservada e as novas expansões realizadas pelo shopping, em outubro
de 2012, que levou ao surgimento de novas instalações no espaço, como uma
extensão de ‘cubo de vidro’, como eles mesmos denominam, ao lado da chaminé.

82
Figuras 34 e 35 - Companhia de Tecidos e Shopping Nova América: passado e presente

Fontes: Diário do Rio, 2024 / Fotografado pelo autor, 2024

Figura 36 - Placa com contexto histórico ao pé da chaminé

Fonte: Fotografado pelo autor, 2024

83
Figuras 37, 38 e 39 - Preservação arquitetônica do espaço industrial

Fontes: Fotografado pelo autor, 2024

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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