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RESUMO
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 5
2 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................................. 10
2.1 REFUNCIONALIZAÇÃO............................................................................................ 10
2.2 PATRIMÔNIO INDUSTRIAL.......................................................................................14
2.3 HISTÓRIA DA (DES)INDUSTRIALIZAÇÃO DO RIO DE JANEIRO.......................... 17
3 PERCURSO METODOLÓGICO......................................................................................... 25
4 ANÁLISES.......................................................................................................................... 29
4.1 A REFUNCIONALIZAÇÃO DE ESPAÇOS INDUSTRIAIS EMBLEMÁTICAS: UM
GIRO PELO MUNDO....................................................................................................... 29
4.2 MAPEANDO OS REMANESCENTES INDUSTRIAIS DA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO..........................................................................................................................52
4.2.1 O parque industrial carioca desativado........................................................ 52
4.2.2 Imagens do passado e do presente.............................................................. 70
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................83
6 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 85
3
1 INTRODUÇÃO
4
Conforme apresentado no projeto de pesquisa PIBIC aprovado, estão
envolvidas nesta pesquisa de iniciação científica as seguintes atividades:
5
século XX, quando foi ultrapassada por São Paulo (Ribeiro, 2002). A partir deste
momento, a cidade passou a ganhar um novo perfil, o de cidade ‘Maravilhosa’,
levando a um apagamento do passado industrial da capital fluminense (Fontes,
2018).
6
● Analisar como algumas dessas edificações passaram por processos de
refuncionalização;
● Analisar casos emblemáticos de refuncionalização de espaços industriais em
outros países, de forma a identificar os processos essenciais para uma
refuncionalização considerada eficaz.
7
Patrimônio Cultural Carioca, de Fajardo (2014). No entanto, grande parte das
informações veio por meio de pesquisa documental, e foram consultados jornais,
revistas e endereços eletrônicos. A falta de uma base de dados unificada sobre o
remanescente industrial do Rio de Janeiro, além da falta de informações disponíveis
sobre muitas fábricas, reforça a questão do apagamento do passado industrial da
cidade (Fontes, 2018).
8
2 REFERENCIAL TEÓRICO
9
liderança até o início do século XX, quando perde espaço no ranking para São
Paulo - e de sua desindustrialização, a partir da década de 1970, que levou ao
fechamento e deslocamento de diversas fábricas na cidade, localizadas em especial
na região central e na Zona Norte do Rio.
2.1 REFUNCIONALIZAÇÃO
10
dessa maneira, apesar de não apresentar uma definição de refuncionalização nas
suas obras, o autor aborda de maneira contundente este processo, principalmente
por meio da análise da categoria de função, sobre a qual as transformações sociais
atuam “exigindo novas funções e atribuindo diferentes valores às formas
geográficas.” (Santos, 1985, p. 43).
1
A ideia de remanescente industrial será retomada mais adiante.
11
sob ação do processo B, mas agora com nova função, condizente com
o processo B em curso. Está, assim, refuncionalizada. A permanência
de formas antigas refuncionalizadas se faz presente em toda parte, na
cidade e no campo, em países antigos e novos (...) Isto é
particularmente relevante quando se considera a organização espacial,
que apresenta formas datadas de momentos distintos, originando uma
paisagem poligenética, com formas criadas em diferentes momentos
mas funcionalmente ativas. (Corrêa, 2009, p. 3).
12
A refuncionalização de espaços industriais - fábricas, galpões, armazéns
portuários e estações ferroviárias - se faz presente em diversas cidades do mundo,
como nos famosos exemplos europeus da Lx Factory em Lisboa, Palo Alto em
Barcelona e La Friche em Marseille. Por meio destes exemplos, é possível
identificar caminhos para a adoção de novas funções em antigos remanescentes
industriais, conforme veremos a seguir.
2
O termo brownfield é utilizado para designar instalações industriais e comerciais abandonadas, ociosas ou
subutilizadas cuja expansão ou revitalização é complicada por contaminações ambientais reais ou percebidas.
13
2.2 PATRIMÔNIO INDUSTRIAL
14
convergência com as mudanças no cenário mundial. Essa mudança de paradigma
fica clara na Constituição Federal Brasileira de 1988, que define o patrimônio
cultural como o conjunto de bens de natureza material e imaterial, analisados
individualmente ou em conjunto, que são portadores de referência à identidade, à
ação, e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.
15
variados gêneros e todas as manifestações a eles agregados na
dinâmica das atividades laborais (Brasil, 2022, p. 122).
16
No entanto, foram a Tarifa Alves Branco, criada em 1844, que elevou as
taxas de importação, e a Lei Eusébio de Queirós (1850), que proibiu o tráfico de
escravos, que permitiram ao Rio de Janeiro avanços contundentes no seu processo
de industrialização. “Esses impulsionamentos em direção à industrialização, na
cidade do Rio de Janeiro se estenderam do período imperial até as primeiras
décadas da República” (Brasil, 2022, p. 15).
17
A construção da identidade oficial do Rio enfatiza seu papel como
capital federal e suas belezas naturais. A industrialização da cidade
estabeleceu intensas conexões com a geografia urbana, o sistema
de transporte, a formação de variados bairros e favelas, bem como
com numerosos aspectos culturais cariocas, como o samba, por
exemplo. Isso sem mencionar os impactos econômicos e políticos.
As lutas sociais na cidade no século XX são incompreensíveis fora
do contexto do mundo industrial. No entanto, parece que esse
passado industrial é apagado de alguma forma da história e da
memória do Rio de Janeiro (Fontes, 2018, s.p.)
18
precoce também se caracteriza por sua ocorrência antes que o setor industrial do
país tenha alcançado maturidade.
19
Apesar de o processo de desindustrialização ter ocorrido em todo o território
brasileiro, segundo Sobral (2017), o estado do Rio de Janeiro foi um dos epicentros
da desindustrialização nacional. Filho, Campos, Brandão (2018) apontam que neste
processo de desindustrialização e reprimarização da economia, a economia do
Estado do Rio de Janeiro perdeu espaço e importância no contexto econômico
brasileiro:
20
populacional de baixa renda da área central e zona sul da cidade, que receberam as
maiores intervenções urbanas. “A cidade passou a ser ordenada para ser não só
bela, mas também eficiente, explorando novas áreas como a zona oeste e deixando
o espaço urbano livre das indústrias, que passaram a ocupar as áreas periféricas.”
(Brasil, 2022, p. 78).
21
construídos a partir das estruturas arquitetônicas das antigas fábricas
Nova América e Bangu ou da tentativa da rede de supermercados
Carrefour de ocupar a antiga fábrica da Souza Cruz na Tijuca, entre
vários outros exemplos) têm resultado numa incipiente mas
crescente percepção, também no caso carioca, da necessidade e
das potencialidades da preservação do chamado patrimônio
industrial. (Cavalcanti; Fontes, 2011, p. 13).
22
habitacional, como no caso da fábrica da CCPL (Cavalcanti e Fontes, 2011) e da
Companhia de Fiação e Tecidos Aliança (Brasil, 2022).
3 PERCURSO METODOLÓGICO
23
pesquisa, os objetivos específicos estão relacionados a compreender o problema
das antigas instalações industriais - os remanescentes industriais - na cidade do Rio
de Janeiro, analisando como algumas dessas edificações passaram por processos
de refuncionalização e identificando aquelas que possuem potencial para adquirir
novas funções, em caso de abandono ou falta de utilização. Dessa maneira,
busca-se atingir maior familiaridade com o processo de desindustrialização e
refuncionalização de remanescentes industriais na capital fluminense.
24
Corrêa (2009) e Sotratti (2015). Em relação à conceituação de patrimônio industrial,
as principais fontes de pesquisa foram as cartas de Nizhny Tagil (TICCIH, 2003) e
Sevilha (TICCIH, 2018), considerando que o órgão responsável por suas
formulações, o Comitê Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial, é
a maior autoridade internacional sobre o assunto. Entretanto, para enriquecer o
debate, foram incluídas importantes referências nacionais das áreas de patrimônio e
arqueologia industrial, como Meneguello (2011) e Brasil (2022). Por fim, no que
tange à história da industrialização e desindustrialização do Rio de Janeiro,
recorreu-se tanto a autores que possuíam materiais desenvolvidos especificamente
sobre a capital fluminense (Brasil, 2022; Fontes, 2018; Oliveira, Rodrigues, 2009;
Abreu et al., 2019), como a pesquisadores que desenvolveram análises sobre este
contexto em âmbito nacional, como Centeno (2019) e Silva e Lourenço (2014).
25
São Paulo, por meio de seus cadernos locais específicos da cidade do Rio de
Janeiro ou de reportagens e matérias especiais sobre patrimônio e remanescentes
industriais, assim como portais de notícias locais do Rio de Janeiro, com destaque
para Diário do Rio e Veja Rio. Através das matérias publicadas nos veículos
indicados, foram acessados também todos os endereços eletrônicos citados por
meio de hiperlink como fonte ou complemento de informação pelos jornais, revistas
e portais.
26
pastas digitais individuais de cada remanescente, que contam também com outras
informações complementares específicas e com algumas imagens que já foram
encontradas nos materiais levantados até o momento. E, por fim, as colunas de
patrimônio industrial (Sim/Não) e conservação do estado atual não foram inseridas
na versão simplificada também, levando em conta que o foco da pesquisa consiste
em mapear o remanescente industrial carioca, independentemente de ser
patrimonializado/tombado ou não.
27
espaços atuais foram fotografadas pelo próprio pesquisador durante visitas às
instalações industriais em março de 2024.
28
4 ANÁLISES
29
representativos e mais publicizados, ou seja, aqueles mais estudados
academicamente e com mais presença na mídia, mostrando a diversidade de
possibilidades de refuncionalização em diferentes país, em diferentes continentes.
30
apesar de emblemáticos e relevantes, acabaram por gerar o fenômeno de
gentrificação, e uma análise específica sobre estes casos também foi realizada,
considerando a forte presença deste fenômeno nos processos de refuncionalização
em curso no Centro do Rio de Janeiro, em maior intensidade na região da Zona
Portuária.
31
Ruivo (2018) de que, além de ser necessário levar em conta o impacto econômico
da refuncionalização, um processo bem-sucedido se destaca principalmente pelo
valor histórico e identitário garantido com a preservação da instalação, de forma a
resgatar a memória do território.
32
suficientes para afirmar que este critério foi atendido ou não, considerando a baixa
disponibilidade de informações acerca da participação da população e/ou do poder
público nos processos de refuncionalização; no entanto, ainda assim foram
consideradas no levantamento já que os demais 3 critérios foram atendidos
integralmente.
Participação
Nome da
Nome atual Função Impacto no da população Preservação Ausência de
antiga Cidade País
do espaço atual território e/ou poder arquitetônica gentrificação
fábrica
público
Fábrica de
Sede Buenos Espaço de
Biscoitos Argentina X X X X
ministerial Aires trabalho
Canale
Complexo
Casa das Espaço
industrial São Paulo Brasil X X X X
Caldeiras cultural
Matarazzo
Fábrica de
SESC Espaço
Tambores São Paulo Brasil X N/A X X
Pompeia cultural
da Pompeia
Cidade dos
Real Fábrica Cidade do Espaço
Livros e da México X X X X
de Tabacos México cultural
Imagem
Cidade do Espaço
La Laguna La Laguna México X N/A X X
México cultural
Fábrica
Mercado Espaço de
Pablo Montevidéu Uruguai X N/A X X
Ferrando consumo
Ferrando
Distillery Destilaria
Espaço
Historic Gooderham Toronto Canadá X X X X
cultural
District & Worts
WeWork Fábrica de Espaço de
Xangai China X N/A X X
Weihai ópio trabalho
Fábrica de
Floating Espaço
Farinha Da Shenzen China X X X X
Fields ambiental
Cheng
St James Espaço de
Dyson Singapura Singapura X N/A X X
Power trabalho
33
Station
Kulturbrauer Cervejaria Espaço
Berlim Alemanha X X X X
ei Schultheiss cultural
Parque
Paisagístico Fábrica Espaço
Duisburgo Alemanha X X X X
Duisburg- Thyssen cultural
Nord
Fábrica Espaço de
Work & Co Dunkirk França X N/A X X
Rigot trabalho
Fábrica de Espaço
La Friche Marselha França X X X X
tabaco Seita cultural
Central
Espaço
Tate Modern Elétrica de Londres Inglaterra X N/A X X
cultural
Banskide
Auditório Fábrica de
Espaço
Niccolò Açúcar Parma Itália X X X X
cultural
Paganini Eridiana
Fábrica de
Museu Vista Porcelana Espaço
Ílhavo Portugal X N/A X X
Alegre da Vista cultural
Alegre
Fábrica
Fábrica
Militar de Espaço
Braço de Lisboa Portugal X X X X
Braço de cultural
Prata
Prata
Museu de
Companhia
Arte Espaço
Estatal de Malmö Suécia X X X X
Moderna de cultural
Eletricidade
Malmö
34
de Buenos Aires (2024), em 1985, um incêndio consumiu a fábrica Canale, e após
anos de instabilidade, levou ao seu fechamento definitivo em 2000. Em 2012, a
Câmara Municipal de Buenos Aires lançou um plano de revitalização para o bairro
de Barracas e a zona sul da cidade, resultando na refuncionalização completa do
prédio da fábrica para escritórios, mantendo sua fachada original. Neste caso bem-
sucedido, destaca-se principalmente o papel do poder público no processo e
também a preservação arquitetônica do local. Um outro caso latino bem-sucedido
de refuncionalização com forte participação do poder público consiste na Cidade
dos Livros e da Imagem, cujo espaço foi refuncionalizado a partir de uma antiga
fábrica de tabaco na Cidade do México. De acordo com o jornalista Cabezas (2012,
s.p), “Em uma referência ao edifício original, o artista holandês radicado no México
Jan Hendrix montou ''A folha de tabaco'', uma escultura de alumínio branco coberta
de cerâmica que projeta interessantes jogos de luz e lembra uma pilha de livros.”
Você já se pegou tirando uma foto de uma fachada Art Déco ainda de
pé em uma cidade que, com os olhos voltados para o progresso,
parece esquecer o que a trouxe até aqui? Você já viu símbolos
arquitetônicos serem demolidos para serem substituídos por
estacionamentos e edifícios genéricos? Nós também. Assim, quando
visitamos a antiga fábrica de mobiliário asséptico Pablo Ferrando,
construída nas primeiras décadas do século passado com mais de
2000 m² de patrimônio, soubemos imediatamente que o nosso projeto
35
gastronómico tinha encontrado o seu espaço na cidade e o seu lugar
no mundo. (Mercado Ferrando, 2015, s.p., tradução própria)3
3
No original: “¿Te has encontrado alguna vez tomando una foto de una fachada Art Decó todavía
erguida en una ciudad que con la vista puesta en el progreso parece olvidarse de lo que la trajo hasta
acá? ¿Has visto demoler símbolos arquitectónicos para ser reemplazados por estacionamientos y
edificios genéricos? Nosotros también.Por eso, cuando conocimos la antigua fábrica de muebles
asépticos Pablo Ferrando, construida en las primeras décadas del siglo pasado con más de 2000 m²
de patrimonio supimos de inmediato que nuestro proyecto gastronómico había encontrado su espacio
en la ciudad y su lugar en el mundo.”
4
Família de origem nobre italiana que migrou para o Brasil no final do século XIX. Aqui se
estabeleceu em São Paulo, sendo proprietária de indústrias de diversos setores, além da
atuação no setor financeiro/bancário. Na capital paulista a família ergueu o maior complexo
industrial da América Latina, no século XX, fazendo parte da elite social, econômica e política
do Brasil até os dias atuais.
36
influenciado pela intervenção do poder público, que trouxe uma série de melhorias
para a área no final do século XX, em conjunto da iniciativa privada, proprietária do
local. A criação da Associação Cultural Casa das Caldeiras (ACCC), no início do
século XXI, uma organização da sociedade civil de interesse público e sem fins
lucrativos, foi fundamental para o desenvolvimento de projetos de ocupação artística
e cultural, promovendo o desenvolvimento humano, a cidadania e a valorização do
patrimônio. Essa refuncionalização preservou um importante legado histórico e
industrial de São Paulo, e também impulsionou o desenvolvimento local, oferecendo
oportunidades econômicas e culturais para a região, além de ter tido o envolvimento
de diferentes atores sociais: poder público, iniciativa privada e comunidade.
5
No original: “a dramatic fusion of old and new. An inspired blend of the largest collection of Victorian
Industrial architecture in North America and stunning 21st century design and creativity.”
37
parede dourado pintado à mão com estampa de papoula. Em Shenzhen, a Fábrica
de Farinha Da Cheng passou por uma refuncionalização inusitada, e se tornou um
espaço ambiental: mais especificamente, um ecossistema flutuante, conhecido
como “Floating Fields”. Idealizado pelo arquiteto e professor Thomas Chung, da
Universidade Chinesa de Hong Kong, o conceito da refuncionalização girou em
torno de devolver à baía de Shenzhen, cidade profundamente industrializada, a
agricultura com produtos agrícolas flutuantes. O espaço foi profundamente marcado
pelo impacto no tecido social, por meio de diversos eventos e ações realizadas com
foco na população da cidade, como o festival de plantação, que deu a mais de 100
crianças da cidade e suas famílias a oportunidade de semear seus próprios terrenos
flutuantes, pescar e aprender sobre o ciclo de vida dos patos, bichos-da-seda e
algas.
38
sentido, o processo de refuncionalização orquestrado pela Dyson foi amplamente
apoiado e respaldado pelo governo, considerando que o patrimônio histórico e
arquitetônico deveria ser preservado durante a transformação - o que de fato se
concretizou.
6
No original: “When the new freedom dawned in 1990, creative people occupied the ramshackle
buildings of the Kulturbrauerei. They wanted to work there permanently and manage themselves. To
this end, they founded a non-profit company, and, with support by the state, developed a concept of
utilisation and renovation.”
39
encontra-se o alto-forno desativado da multinacional Thyssen, onde de 1901 a 1985,
era produzido ferro-gusa para a indústria siderúrgica. O espaço refuncionalizado,
aberto ao público em 1994, nasceu de um projeto inspirado na ideia de que as
estruturas industriais, que outrora foram interpretadas como sistemas
independentes, não deveriam ser remodeladas, mas sim conectadas visual,
funcional ou idealmente através de jardins, terraços, escadas, marcos ou
sinalização. Por meio desse processo de refuncionalização, atualmente os visitantes
podem vivenciar as siderúrgicas abandonadas, e segundo Landschaftspark
Duisburg-Nord (2024), os visitantes possuem a oportunidade de conhecer o
processo de produção do ferro gusa e conhecerem de perto a cadeia produtiva de
uma siderúrgica de maneira vívida e real. Nesse sentido, por meio dessa
refuncionalização, fica evidente a preocupação tanto em tornar o espaço um local
que gere impacto no território, mas também preserve o patrimônio industrial material
e imaterial da antiga fábrica.
40
Marselha, Gaston Deferre, tomou a decisão de reestruturar a vida cultural da cidade,
impulsionando-a com novas iniciativas, considerando que Marselha tinha um dos
menores orçamentos culturais da França e carecia de projetos de grande porte. A
criação da Friche Cultural permitiu revitalizar o bairro, proporcionando aos
moradores locais e à comunidade de Marselha um centro cultural e econômico.
Atualmente, a Friche funciona como local de trabalho para 70 organizações
residentes, onde cerca de 350 artistas, produtores e funcionários atuam
diariamente, além de ser um espaço de divulgação cultural, com aproximadamente
600 propostas artísticas públicas por ano, workshops voltados para o público jovem
e grandes festivais.
41
organizado data de 1947 e foi instalado no palácio, junto da Capela da
Vista Alegre. Em 1964 o museu foi ampliado e aberto ao público,
mudando para os edifícios antigos da fábrica, local com espaço para
alojar o espólio de peças de porcelana, documentos e desenhos.
(Vista Alegre, 2024, s.p.)
7
No original: “When building onto an existing structure in an urban context, one has to have a good
grasp of the city’s distinct fabric - potential connections between the existing building and the new
vision for it needs to be thoroughly understood. The old Eridiana sugar factory was an empty brick
structure of just the right size and volume to be turned into a harmonious «music box». The building’s
walls could be retained and a process of dematerialization would seek the perfect balance between
transparency and acoustics.”
42
maioria das partes interessadas, entraves com a Câmara Municipal de Lisboa e a
iniciativa privada marcam a história da refuncionalização do local. A seguir, cita-se o
manifesto desenvolvido pelos representantes do centro cultural, em relação aos
imbróglios envolvendo os atores públicos e privados, evidenciando a complexidade
no processo de refuncionalização e da intermediação entre os interesses de
diferentes atores sociais.
43
na Zona Portuária da capital, também foi desenvolvida uma análise de casos
emblemáticos de refuncionalização ao redor do mundo, mas não necessariamente
bem-sucedidos, justamente por conta do fator gentrificação.
Participação
Nome da
Nome atual Função Impacto no da população Preservação Ausência de
antiga Cidade País
do espaço atual território e/ou poder arquitetônica gentrificação
fábrica
público
Espaço
Fábrica de
The Old Cidade do África do cultural e
biscoitos Positivo Positivo Positivo Negativo
Biscuit Mill Cabo Sul de
Pyott's
consumo
Fábrica de Espaço
Palo Alto Barcelona Espanha Positivo Positivo Positivo Negativo
lã cultural
Battersea London
Espaço de
Power Power Londres Inglaterra Positivo N/A Positivo Negativo
consumo
Station Company
Companhia
de Fiação e Espaço
LX Factory Lisboa Portugal Positivo N/A Positivo Negativo
Tecidos cultural
Lisbonense
44
Para possibilitar uma maior compreensão acerca da gentrificação no cenário
global, serão desenvolvidas análises qualitativas sobre os casos levantados, com
foco em identificar padrões e particularidades deste processo; ao final, também será
desenvolvido um paralelo com a gentrificação em curso no centro do Rio de Janeiro.
Iniciando pelo Faena Arts Center, em Buenos Aires, o espaço cultural ocupa
o remanescente de um dos primeiros moinhos de farinha da Argentina. O espaço foi
reconstruído, porém, preservou meticulosamente os detalhes originais datados do
início do século XX. A abordagem central da iniciativa foi conservar a estrutura
original dos moinhos, conectando os edifícios principais dos andares superiores
através de uma passarela de vidro, sendo esta a única intervenção notável na
fachada. A refuncionalização deste espaço, cuja propriedade é do empreendedor
milionário Alan Faena, faz parte de um amplo processo que envolve a gentrificação
do Puerto Madero, bairro da capital Argentina e antiga zona portuária. Nesse
sentido, o Faena Arts Center acompanhou e potencializou um fenômeno de
gentrificação, que já estava em curso no início do processo de refuncionalização do
remanescente industrial.
45
De maneira semelhante, o Chelsea Market, em Nova York, faz parte de um
processo de gentrificação envolvendo a região do High Line, um parque elevado
desenvolvido na trilha ferroviária e criado em um antigo ramal da Ferrovia Central de
Nova York, no lado oeste de Manhattan. O Chelsea Market é um mercado, shopping
e prédio de escritórios, que ocupa o antigo remanescente industrial da Fábrica
Nabisco. Apesar da refuncionalização do Chelsea Market ter ocorrido antes da
revitalização do High Line, o remanescente industrial pode ser apontado como um
dos potencializadores da gentrificação na região.
46
processo de transformação de seus remanescentes industriais: “Desde que o The
Old Biscuit Mill abriu suas portas, o bairro de Woodstock tem passado por uma
silenciosa transformação e rapidamente tem se tornando um centro para muitos
jovens e start-ups modernas.” (Departamento de Turismo da África do Sul, 2024,
s.p.).
47
reconstruídas. (Joseph, 2014, s.p., tradução própria)8
8
No original: “At the entrance, security officers in military-style uniforms scrutinise the people entering
Cape Town’s so-called “hipster heaven”, which is a world away from the shabby, down-at-heel streets
surrounding it. Unlike the multi-racial community living and working in Woodstock, Cape Town’s oldest
suburb, the vast majority of the Old Biscuit Mill’s patrons are white, while many of those serving in the
food market and other businesses are black, as are the car guards and beggars outside. (...)
Thompson adds that the neighbourhood has changed a lot since the Biscuit Mill opened its doors,
with new businesses “owned by outsiders”. “Rich people have been buying up buildings, shops and
houses in the area and rents have gone up. Businesses that were here for years have closed and
many people have been forced to move out of Woodstock, because they can’t afford to stay here
anymore. We were always a close community, we looked out for one another, but that has all
changed.” (...) A significant turning point for Woodstock came in 2007 when the Cape Town council
designated the area as a priority urban development zone (UDZ) for urban upgrades, a mechanism
designed to support the growth of the CBD eastwards. With it came significant tax breaks,
encouraging wealthy local and foreign developers and investors to snap up properties ripe for
redevelopment.
48
sobre o avanço na fronteira da gentrificação. O autor compara a
gentrificação ao avanço na fronteira de colonização do homem branco
sobre o indígena no oeste estadunidense nos séculos XVIII e XIX.
Entretanto, o “avanço na fronteira de gentrificação” não é mais um
avanço geográfico absolutamente, mas sim um avanço econômico de
bancos, promotores imobiliários, cadeias de distribuição, Estado etc.
(Simas; Hila, 2021, p. 33)
9
No original: "Every square inch monetised’ – is Battersea Power Station now a playground for the
super rich?”.
49
sobre a acessibilidade do espaço para os habitantes de Londres com renda mais
baixa.
10
No original:”The luxury development of London’s famous power station is another monument to
wealth and inequality in a divided city (...) Re-launched as a mixed-use development, part luxury
shopping mall, part Apple headquarters and part extortionately expensive residential real estate, it is a
microcosm of all that is wrong with development, planning and housing in London. (...) Now it is being
developed as a playground for the rich, and its power station a cathedral to consumerism. Unlike
London’s other great power station, which became the Tate Modern art gallery in 2000, this
reincarnation is one that is difficult to celebrate.
50
espaço. Impulsionado pelo incentivo da Câmara Municipal de Lisboa às atividades
artísticas e culturais, juntamente com a aplicação do conceito de economia criativa
como forma de enfrentar crises financeiras, o projeto ganhou relevância. Ainda, o
espaço chegou a gerar diversas oportunidades de emprego e também, apesar de
ser uma iniciativa privada, “buscou devolver um espaço para a cidade de Lisboa,
tornando o seu térreo público – o que é uma forma de inclusão social uma vez que
incentiva o convívio de diversos grupos de pessoas, com diferentes gostos,
interesses e rendas, de forma democrática.” (Somekh; Cardoso, 2020, s.p.). No
entanto, apesar das particularidades identificadas acima como positivas neste
processo de refuncionalização, a LX Factory também acabou por gerar
gentrificação, por consequência da valorização do espaço.
51
Concluindo, é de suma importância a análise dos padrões e particularidades
de processos de refuncionalização ao redor do mundo que acabaram por gerar o
fenômeno de gentrificação, de maneira a evitar que o mesmo seja replicado na
transformação dos remanescentes industriais do Rio de Janeiro. Conforme será
detalhado a seguir, a maioria destes remanescentes se encontram localizados na
região central da cidade, e muitos na região da Zona Portuária, que já se encontra
em processo de gentrificação desde o início das obras do projeto Porto Maravilha,
que visa a revitalização urbana da Região Portuária do Rio de Janeiro, criada pela
Lei Municipal 101 de 2009. Dessa maneira, é importante que a refuncionalização
dos remanescentes na capital fluminense se distancie dos casos analisados
envolvendo o Faena Arts Center, Chelsea Market e Palo Alto, em que os novos
espaços acabaram por potencializar uma gentrificação já em curso.
52
4.2 MAPEANDO OS REMANESCENTES INDUSTRIAIS DA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO
Casa da Gráfico e
Arquivo Público/Fe- Espaço
Moeda Centro Centro metalúrgi- 1868 1983 1984
Nacional deral cultural.
(1868-1983) co
União fabril
exportadora Espaço
Assaí Mangui- Zona
(UFE) - Sabão 1938 2011 2018 Privado de
Atacadista nhos Norte
Fábrica Sabão consumo.
Português
Companhia
Progresso Espaço
Bangu Zona
Industrial do Bangu Têxtil 1889 2004 2007 Privado de
Shopping Oeste
Brasil - Fábrica consumo.
Bangu
Espaço
Década de Público/Mu-
CADEG Fábrica Veado Benfica Centro Tabaco 1870 1962 de
1940 nicipal
consumo.
Casa Infraes- Público/Es- Espaço
Alfândega Centro Centro 1820 1944 1990
França-Brasil trutura tadual cultural.
Centro Cia. Público/Mu-
Zona Espaço
Coreográfico Hanseática Tijuca Bebida 1910 1992 2004 nicipal e
Norte cultural e
da Prefeitura e (Brahma) Privado
53
Galeria de
Comercial consumo.
Garagem de
Centro Cultural
bondes da Cia. Infraes- Espaço
Light/Sede da Centro Centro 1911 1935 1994 Privado
Ferro Carril trutura cultural.
Light
Urbano
Estação
Centro Cultural Flamen- Zona Infraes- Sem Espaço
Telephonica 1918 1980 Privado
Oi Futuro go Sul trutura informação cultural.
Beira-Mar
Casa da Gráfico e
Centro Cultural Público/Fe- Espaço
Moeda Centro Centro metalúrgi- 1743 1814 1985
Paço Imperial deral cultural.
(1743-1814) co
Fábrica
Centro Cutural Almeida
Metalúrgi- Terceiro Espaço
Fundição Comércio e Centro Centro 1881 1976 1999
co setor cultural.
Progresso Indústria de
Ferro Ltda
Centro da
Armazém das Armaze- Público/Mu- Espaço
Herança Saúde Centro 1875 1910 2001
Docas Pedro II namento nicipal cultural.
Africana
Edifício
Standard Oil
Centro Espaço
Company of Energéti-
Universitário Centro Centro 1935 2003 2007 Privado educa-
Building co
IBMEC cional.
(prédio da
Esso)
Condomínio
Fábrica têxtil Núcleo
Solaris da Zona Década de Década de
Cruzeiro / Andaraí Têxtil 1895 Privado residen-
Torre Norte 1960 1980
América Fabril cial.
(Tijolinho)
Diretoria de Oficina de
Serviço Oeste manutenção Espaço
Campo Zona Infraes- Público/Mu-
da Companhia de bondes 1917 1967 1985 de
Grande Oeste trutura nicipal
de Limpeza elétricos trabalho.
Urbana do RJ (usina)
Estação e
Cocheira da Espaço
Ecc do Brasil / Santo Transpor- Sem Sem
Companhia Centro 1882 Privado de
Duran & Costa Cristo te informação informação
Ferro-Carril consumo.
Vila Guarani
Ecomuseu do
Quarteirão
Cultural do
Matadouro
Matadouro de Santa Zona Alimentí- Década de Público/Mu- Espaço
Industrial de 1881 1995
Santa Cruz/ Cruz Oeste cio 1980 nicipal cultural.
Santa Cruz
Palacete
Princesa
ISabel
54
Galpões da
Espaço para Segunda
Estrada de Gam- Armaze- Sem Final do Público/Mu- Espaço
realização de Centro metade do
Ferro Central boa namento Informação século XX nicipal cultural.
eventos século XIX
do Brasil
Fábrica do Santo Alimentí- Sem Sem Sem Sem Espaço
Espaço Pérola Centro
Açúcar Pérola Cristo cio informação informação informação informação cultural.
Estacionamen-
Galpão
to/depósito do
Industrial da Espaço
Grupo Latour Cidade Metalúrgi- Sem
Metalúrgica Centro 1921 1964 Privado de
(rede de Nova co informação
Pagani Castier trabalho.
concessionária
Ltda
da Peugeot)
Fábrica Fábrica Santo Alimentí- Público/Esta Espaço
Centro 1934 1990 2010
Bhering Bhering Cristo cio dual cultural.
Galpão das
Companhia
Artes do
Nacional de Infraes- Sem Década de Público/Mu- Espaço
Theatro Saúde Centro 1891
Navegação trutura Informação 1990 nicipal cultural.
Municipal do
Costeira
Rio de Janeiro
Casa das
Máquinas e
Instituto de Oficina da Cia.
Flamen- Zona Infraes- Década de Espaço
Arquitetos do Ferro Carril do 1904 1988 Privado
go Sul trutura 1960 cultural.
Brasil - IAB/RJ Jardim
Botânico
(CFCJB)
Estação de
Instituto passageiro de
Histórico-Cul- hidroaviões Infraes- Público/Fe- Espaço
Centro Centro 1938 1942 1986
tural da Aeroporto trutura deral cultural.
Aeronáutica Santos
Dummont
Museu Cidade Oficina de
Olímpica trens da Enge-
Zona Infraes- Década de Sem Público/Mu- Espaço
(Nave do Estrada de nho de 2016
Norte trutura 1800 informação nicipal cultural.
Conhecimen- Ferro Central Dentro
to) do Brasil
Museu da Casa da
Gráfico e
Casa da Moeda do Rio Público/Fe- Espaço
Centro Centro metalúrgi- 1814 1868 2018
Moeda do de Janeiro deral cultural.
co
Brasil (1814-1868)
Cabine 3 de
sinalização da
Museu de Enge-
antiga Estrada Zona Transpor- Sem Terceiro Espaço
Sinalização nho 1989 1989
de Ferro Norte te informação setor cultural.
Ferroviária Novo
central do
Brasil
55
Garagem e
Museu do oficina de Santa Infraes- Sem Público/Mu- Espaço
Centro 1877 1999
Bonde bondes de Teresa trutura informação nicipal cultural.
Santa Tereza
Galpão de
pintura de
Enge-
Museu do carros da Zona Infraes- Meados do Sem Público/Mu- Espaço
nho de 1984
Trem Estrada de Norte trutura século XIX informação nicipal cultural.
Dentro
Ferro D. Pedro
II
Parque 100% Fábrica de Em
Realen- Zona Público/Mu- Espaço
Realengo Cartuchos de Bélico 1898 1977 desenvolvi-
go Oeste nicipal cultural.
Verde Realengo mento
Jardim
Parque Jardim Real Fábrica Zona Público/Fe- Espaço
Botâ- Bélico 1810 1831 1831
Botânico de pólvora Sul deral cultural.
nico
São
Pavilhão Sem Infraes- Sem Sem Sem Espaço
Cristó- Centro Privado
Maxwell informação trutura informação informação informação cultural.
vão
Armazéns da Armaze- Sem Espaço
Pier Mauá Centro Centro 1910 2007 Privado
zona portuária namento informação cultural.
Quadra da
Lins de
Escola de Fundição Zona Metalúrgi- Sem Espaço
Vascon- 1913 1997 Privado
Samba Lins Cavina Norte co Informação cultural.
celos
Imperial
Casa de
Máquinas do Núcleo
Cosme Zona Infraes-
Residência Reservatório 1868 1975 2003 Privado residen-
Velho Sul trutura
do Morro do cial.
Inglês
Virada do
Fundição
Metalúrgi- século XIX Sem Espaço
Sacadura 154 Manoel Lino Saúde Centro 2014 Privado
co para século Informação cultural.
Costa
XX
The Rio de
Janeiro city Zona Sanea- Público/Es- Espaço
SEAERJ Glória 1864 1947 1960
improvements Sul mento tadual cultural.
company
Sede do Fábrica de
Serviço Armas da Público/Fe- Espaço
Saúde Centro Bélico 1765 1831 1917
Geográfico do Fortaleza a deral cultural.
Exército Conceição
Refinaria
Ramiro
Catum- Alimentí- Sem Sem
Sem função S.A. - Fábrica Centro 1885 1967 -
bi cio informação. função.
do
Açúcar Brasil
56
Man- Alimentí- Década de Público/Mu- Sem
Sem função Red Indian Centro 1966 -
gueira cio 1990 nicipal função.
Antiga Fábrica
de Gás –
Cidade Energéti- Sem
Sem função Companhia Centro 1853 1969 - Privado
Nova co função.
Estadual de
Gás
Complexo Maria
Zona Energéti- Sem
Sem função industrial da da 1928 2008 - Privado
Norte co função.
GE Graça
Estação
Ferroviária
Santa Zona Transpo-r Sem Sem
Sem função do Matadouro 1884 1974 -
Cruz Oeste te informação função.
de
Santa Cruz
Praça
Estação
da Zona Transpor- Década de Sem Sem
Sem função Ferroviária 1922 -
Bandei- Norte te 1970 informação função.
Francisco Sá
ra
Praça
Estação
da Zona Transpor- Público/Fe- Sem
Sem função Ferroviária 1926 2001 -
Bandei- Norte te deral função.
Leopoldina
ra
Gam- Alimentí- Sem Sem Sem
Sem função Moinho Inglez Centro 1887 -
boa cio Informação informação. função.
Fábrica da
Perfuma- Sem
Sem função Perfumaria Centro Centro 1884 1984 - Privado
ria função.
Kanitz
São
Energéti- Público/Fe- Sem
Sem função Gasomêtro Cristó- Centro 1911 2005 -
co deral função.
vão
Garagem Armaze- Década de Sem
Sem função Centro Centro 1910 - Privado
Poula namento 1990 função.
Trapiche Santo Armaze- Sem Público/Mu- Sem
Sem função Centro 1896 -
Modesto Leal Cristo namento informação nicipal função.
Moinho Alimentí- Sem
Sem função Saúde Centro 1887 2016 - Privado
Fluminense cio função.
São
Cia. Luz Energéti- Sem Sem
Sem função Cristó- Centro 1842 - Privado
Steárica co Informação função.
vão
Companhia de Espaço
Shopping Del Zona
tecidos Nova Têxtil 1925 1991 1996 Privado de
Nova América Castilho Norte
América consumo.
57
Almerinda
Gama
Armazéns da
servidão Santo Armazen- Sem Sem Sem Espaço
Studio do Cais Centro Privado
central da Cristo amento informação informação informação cultural.
linha férrea
Superinten- Sede da Cia. Espaço
Infraes- Público/Fe-
dência do Docas de Centro Centro 1908 1985 1986 de
trutura deral
IPHAN Santos trabalho.
Fábrica de Espaço
Boulevard Vila Zona
Tecidos Têxtil 1885 1964 1979 Privado de
Shopping Car Isabel Norte
Confiança consumo.
58
Em relação aos bairros dos remanescentes industriais da capital fluminense,
é possível identificar uma grande predominância de bairros pertencentes à região
central da cidade, sendo que os quatro bairros com maior participação neste gráfico
- Centro, Saúde, Santo Cristo e São Cristóvão - compõem a região central do Rio de
Janeiro. Como apontado por Albernaz e Diógenes (2023), a industrialização carioca
foi iniciada no Centro da cidade e nos seus arredores, funcionando como o grande
polo industrial do Brasil por longos anos.
59
residenciais e espaços de lazer, tanto que a expansão dessa região ocorreu no
mesmo momento em que o perfil de Cidade Maravilhosa era consolidado, em
detrimento da valorização do caráter industrial da cidade.
60
Fonte: Construído pelo autor, 2023
61
Fonte: Construído pelo autor, 2023
62
Fonte: Construído pelo autor, 2023
63
Fonte: Construído pelo autor, 2023
64
grande marco na história dos remanescentes industriais é a criação do Comitê
Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial (TICCIH), em 1978, que
deu destaque ao tema, potencializando os processos de preservação e
refuncionalização de instalações industriais desativadas ao redor do mundo.
65
Entretanto, em março de 2022 o espaço foi ocupado por um coletivo feminista para
acolher mulheres em situação de vulnerabilidade, alegando que o imóvel estava
sem utilização há mais de 8 anos e sem cumprir sua função social (Pitasse, 2022).
Atualmente, apesar de pertencer à Prefeitura do Rio, a instalação continua sendo
ocupada pela Casa Almerinda Gama, coordenada pelo Movimento Olga Benário. O
poder público, no entanto, tenta desocupar o espaço por meio de ação judicial
(Casa Almerinda Gama, 2022).
66
Companhia Estadual de Gás (CEG) e o Complexo Industrial da General Electric
(GE) ilustram a dificuldade e complexidade do processo de refuncionalização.
67
preservadas (Pires, 2019). O Condomínio Cores da Lapa também promoveu a
destruição da Fábrica da Antarctica para a construção do empreendimento
imobiliário residencial a partir de 2006 (Lage, 2005). No entanto, este processo não
se restringe a núcleos residenciais. O ParkShopping Jacarepaguá, lançado em
2021, foi construído no terreno onde funcionava a fábrica da Companhia Antarctica
Paulista, que foi demolida para o início das obras do shopping center (Irajá, 2022).
Algumas outras novas funções comuns que uma instalação industrial pode
ganhar incluem museus, shoppings e supermercados. No bairro da Tijuca,
instalações industriais foram demolidas e passaram a abrigar supermercados, como
o terreno do Complexo Industrial da Brahma, que de 2007 a 2013 funcionou como o
hipermercado Walmart e desde 2016 é sede do Supermercado Guanabara (Bastos,
2014).
68
Na região central da cidade, na Avenida Brasil, também há um exemplo de
remanescente que adquiriu a função de supermercado; trata-se do Assaí
Atacadista, localizado na antiga Fábrica Sabão Português, que funcionou até 2011.
O espaço foi incluído no mapeamento de remanescentes industriais por conta da
preservação de sua chaminé, que inclusive é tombada; no entanto, 80% da
construção foi demolida para as obras do supermercado. Diversas novas funções
foram pensadas durante os 7 anos em que o local ficou sem utilização. Até se tornar
Assaí em 2018, foi cogitado transformar o local em terminal de contêineres, conjunto
habitacional popular ou Cidade do Samba para grupos de Acesso e Mirim (O Dia,
2018).
69
Estrada de Ferro D. Pedro II desde 1984 é ocupado pelo Museu do Trem (Brasil,
2022).
Por fim, como indicado anteriormente, a principal nova função adquirida pelos
remanescentes industriais é de espaço cultural. No Rio de Janeiro, existem três
exemplos emblemáticos deste tipo de processo de refuncionalização, que consistem
na Fábrica Bhering, no Centro Cultural Fundição Progresso e no Pier Mauá.
Por fim, o Píer Mauá faz parte da zona portuária do Rio de Janeiro, espaço
que foi amplamente revitalizado e refuncionalizado no contexto dos megaeventos
esportivos do início da década de 2010. Além de administrar o Porto de Cruzeiros
do Rio, a empresa Pier Mauá é responsável pelos armazéns da zona portuária, que
tiveram seus processos de refuncionalização iniciados em 2007 e hoje consistem
70
em 17 armazéns que servem como espaço para realização de eventos culturais,
musicais, corporativos e gastronômicos. A estrutura externa e interna foi
conservada, ainda que tenha passado por reformas no processo de
refuncionalização (Pier Mauá, 2024).
71
Figura 9 - Atêlie fechado durante dia de semana na Fábrica Bhering
72
Por outro lado, o remanescente se destaca por sua forte sinalização do
passado fabril, considerando que possui placas que indicam as seções da antiga
fábrica, expõe maquinários e mantém diversos itens e decorações da Bhering.
Apesar de se caracterizar como um polo artístico, o espaço também funciona como
uma ode ao passado industrial da fábrica, e foram conservados no local a chaminé,
a torre do relógio, a escadaria de ferro e diversos itens de maquinário. No que tange
a imagens de arquivo do passado, não foram encontrados registros, reforçando a
tese do apagamento do passado industrial, considerando que foram realizadas
pesquisas nos canais de comunicação oficiais do espaço, sites do patrimônio
histórico municipal (iPatrimônio e Instituto Rio Patrimônio da Humanidade) e
também em periódicos e endereços eletrônicos sobre a cidade do Rio de Janeiro.
73
Figuras 13 e 14 - Sinalização sobre o processo produtivo e maquinário da antiga Fábrica
Bhering
74
Fonte: Fotografado pelo autor, 2024
75
Fontes: Fundição Progresso, s.d. / Fotografado pelo autor, 2024
76
A seguir, analisaremos os espaços sem função, iniciando pelo Moinho
Fluminense. Tanto neste espaço, quanto no outro analisado - Perfumaria Kanitz - foi
possível notar uma tensão em torno da segurança do espaço, dificultando a
produção fotográfica em ambos os espaços. No caso do Moinho Fluminense, em
conversas com a equipe de segurança presente no local - foram identificadas três
entradas com um segurança em cada uma -, o motivo relatado para o reforço na
segurança foi o histórico recente de ocupações do remanescente pela população
local, em busca da apropriação e loteamento do espaço.
77
Figuras 24 e 25 - Silo nº 3 no passado e presente do Moinho Fluminense
78
O outro espaço sem função analisado na pesquisa foi a Perfumaria Kanitz. O
edifício, construído em 1922, abriga uma série de pavilhões conectados por um
sistema de transporte sobre trilhos. Originalmente sede da fábrica Kanitz, hoje em
dia funciona parcialmente como estacionamento, em um espaço vazio da
construção, ao passo que o prédio da antiga instalação fabril encontra-se sem
função, com algumas pequenas partes atuando como depósito. Em reconhecimento
de seu valor histórico, foi oficialmente protegido como patrimônio municipal em
1987; importante frisar que a perfumaria ainda funciona nos dias de hoje, mas com
nova sede no bairro Engenho Novo. Justamente por essas questões, o
remanescente vem sendo alvo de tensões em torno da utilidade do espaço. Após a
veiculação de notícias sobre a má utilização do espaço em veículos de
comunicação como Diário do Rio e Agenda Bafafá, a população local da capital
fluminense passou a pressionar o proprietário do local pela preservação do espaço,
que encontra-se em ruínas, e também os órgãos executivos da cidade para de fato
transformar o remanescente em um local com utilidade para a população.
Nesse sentido, essa tensão foi refletida durante a visita para a produção
fotográfica do remanescente. Foi possível identificar a falta de preservação do
espaço, tanto na fachada, quanto em seu espaço interno, como também a tentativa
da equipe do local em manter a privacidade da antiga fábrica. Um funcionário do
estacionamento relatou que não é mais possível visitar ou fotografar o prédio da
Kanitz, por ordens do proprietário do imóvel, que é um português e atualmente mora
em Portugal. Foi relatado também que o espaço é monitorado pelo proprietário por
câmeras, e qualquer produção fotográfica e audiovisual levaria à demissão dos
atuais funcionários responsáveis pelo remanescente. Após a veiculação de matérias
nos portais de notícias indicados em 2023 - que fotografaram e gravaram o
ambiente interno do imóvel -, e que levaram à tona a pressão da população pela
apropriação do espaço pela prefeitura, pode-se ter gerado uma maior preocupação
do proprietário atual em relação ao futuro do espaço, que não deseja vender o
imóvel, como também adotar uma nova função de fato relevante para o tecido
social. Uma fotografia - figura 29 - produzida para a pesquisa, por exemplo, do
interior da construção, foi possível de ser obtida apenas por meio de uma fresta no
portão da fachada da instalação. No que tange a imagens de arquivo do passado,
79
não foram encontrados registros, reforçando a tese do apagamento do passado
industrial da capital fluminense.
80
Fonte: Fotografado pelo autor, 2024
81
Figuras 32 e 33 - Fábrica de Sabão Português e Assaí Atacadista: passado e presente
82
Figuras 34 e 35 - Companhia de Tecidos e Shopping Nova América: passado e presente
83
Figuras 37, 38 e 39 - Preservação arquitetônica do espaço industrial
84
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
85
que não recebe a devida importância dos agentes sociais que deveriam atuar em
prol da sua conservação. Esse aspecto tornou-se evidente tanto ao analisar
espaços que atualmente se encontram abandonados e sem função nenhuma, ainda
que sofram pressão dos órgãos públicos, como a antiga fábrica de gás da CEG,
cuja responsabilidade é de uma empresa multinacional; quanto ao analisar espaços
em que a obtenção de uma nova função passou pela destruição completa da fábrica
original, como no caso dos núcleos residenciais Condomínio Cidade-Jardim
Laranjeiras e Condomínio Nova CCPL. Ainda que não consista em uma destruição
completa, alguns remanescentes industriais mantiveram apenas a chaminé da
instalação original após a refuncionalização, denotando uma tentativa mínima de
conservação do patrimônio industrial, mas longe de ser o ideal. Todos esses fatores,
somados à dificuldade no levantamento de dados secundários sobre o
remanescente industrial da cidade, assim como a falta de uma base de dados
unificada sobre o tema, reforça a ideia de apagamento do passado industrial
carioca.
86
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