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15/04/2024, 13:24 Depois da meta, governo vai querer flexibilizar limite para gastos, alerta Marcos Mendes - Estadão

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Entrevista Estadão / Economia

Depois da meta,
governo vai querer
flexibilizar limite para
gastos, alerta Marcos
Mendes
Pesquisador do Insper e um dos criadores do
antigo teto de gastos alerta para processo de
‘corrosão’ do novo arcabouço fiscal e prevê novos
afrouxamentos da regra

Por Bianca Lima e Daniel Weterman


12/04/2024 | 19h47 Atualização: 12/04/2024 | 20h00

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15/04/2024, 13:24 Depois da meta, governo vai querer flexibilizar limite para gastos, alerta Marcos Mendes - Estadão

Entrevista com
Marcos Mendes
pesquisador do Insper

BRASÍLIA – O economista Marcos Mendes, um dos criadores do


extinto teto de gastos, vê um processo de corrosão do arcabouço
fiscal após uma série de alterações realizadas pelo governo em
menos de um ano de vigência da nova regra.

Após a manobra aprovada pela Câmara, para antecipar um gasto


extra de até R$ 15,7 bilhões, e das discussões sobre uma eventual
mudança da meta de 2025, Mendes prevê que a próxima
flexibilização da lei será no limite de gastos – hoje restrito, pela
nova regra, ao intervalo de 0,6% a 2,5% de crescimento real
(acima da inflação) e a 70% do aumento das receitas.

“Pode anotar que a próxima medida que virá será para flexibilizar
o limite máximo de 2,5%, seja tirando algumas despesas desse
limite, seja aumentando esse porcentual”, diz Mendes, que hoje
atua como pesquisador do Insper. Ele alerta que o gasto público
está crescendo bem acima desse teto: “Vai chegar uma hora que
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não vão conseguir... E que o problema não será só a meta de


primário (saldo entre receitas e despesas, sem contar os juros da
dívida); será também o limite de crescimento do gasto”.

O desejo de mexer nesse limite já foi abertamente verbalizado por


Lula. Em março, o presidente afirmou que, diante do aumento da
arrecadação acima do esperado no início do ano, teria de discutir
com o Congresso o limite de gastos públicos, para ver como
“utilizar mais dinheiro para fazer mais benefício para o povo”. Dias
depois, coube ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, colocar panos
quentes e dizer que a alteração do limite de despesas do
arcabouço não estava em discussão.

Mendes destaca o avanço das despesas previdenciárias e


assistenciais, que são atreladas ao salário mínimo, e a volta dos
pisos da educação e da saúde, ligados ao desempenho da receita -
regra que também voltou a vigorar para as emendas
parlamentares. E diz que isso se soma a uma “predisposição do
governo a gastar” e a uma fragilidade do Executivo frente ao
Congresso.

Marcos Mendes, pesquisador do Insper e um dos criadores do antigo teto de gastos,


alerta para processo de ‘corrosão’ do novo arcabouço fiscal. Foto: Amanda

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Perobelli/Estadão

Veja abaixo os principais trechos da entrevista concedida ao


Estadão.

Como o sr. avaliou essa última mudança feita no arcabouço


fiscal com o objetivo de antecipar a abertura do gasto extra de
cerca de R$ 15 bilhões?

É grave, porque faz parte do processo de corrosão (do arcabouço).


É mais uma medida nesse processo. Já teve a reinterpretação do
limite de contigenciamento (bloqueio preventivo de despesas), que
era para ser R$ 50 bilhões e o governo releu como se o gasto
tivesse que crescer 0,6% ao ano (piso para variação da despesa,
estabelecido no arcabouço, que levaria a um contingenciamento
máximo de cerca de R$ 26 bilhões). Já teve a retirada do teto das
novas despesas do fundo da bolsa voltada ao ensino médio; e a
retirada de R$ 5 bilhões de recursos (da meta) para cobrir déficit
de empresas estatais. Agora, tem todo esse movimento de
mudança da meta para não ter de cumprir as condicionalidades
que são impostas quando ela é rompida. Ou seja, é um processo
gradual de deterioração da regra, que demonstra claramente que
o governo não está propenso a cumpri-la. E pode anotar que a
próxima medida que virá será para flexibilizar o limite máximo de
2,5%, seja tirando algumas despesas desse limite, seja
aumentando esse porcentual.

Pode anotar que a próxima medida que virá será para


flexibilizar o limite máximo de 2,5%, seja tirando
algumas despesas desse limite, seja aumentando esse
porcentual.

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Por quê?

Porque a despesa está crescendo muito mais do que 2,5% ao ano


em termos reais. Vai chegar uma hora que não vão conseguir... E
que o problema não será só a meta de primário; será também o
limite de crescimento dos gastos.

Olhando em retrospecto, as primeiras mudanças no teto de


gastos demoraram cerca de três anos. No caso do arcabouço,
foram quase imediatas, antes mesmo de a regra completar um
ano...

Na época do teto, você tinha uma crise econômica grave, que


deixou a classe política muito preocupada, a ponto de aceitar a
imposição do teto. Você tinha que mudar o regime fiscal, estava
com uma crise e a classe política aceitou essa imposição. Tanto é
que não houve fragilização ou afrouxamento das regras em
relação ao que foi proposto pelo Executivo. O Congresso, aliás,
tornou até mais rígido durante a tramitação. A corrosão do teto
começou a acontecer quando a economia tirou o nariz de dentro
da água. Quando a gente saiu da recessão, acabou o senso de
urgência entre os políticos e ai resolveram voltar ao business as
usual. “Ah, vamos afrouxar aqui, vamos afrouxar ali”. E acabou
como acabou.

A corrosão do teto começou a acontecer quando a


economia tirou o nariz de dentro da água. Quando a
gente saiu da recessão, acabou o senso de urgência
entre os políticos.

E o arcabouço?

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O arcabouço nasceu de forma diferente, num governo que


decidiu, de largada, aumentar em 1,8% do PIB a despesa pública
com a PEC da Transição. Na linha: ‘Vamos gastar e depois a gente
dá um jeito’. Desde que foi lançado o arcabouço, eu já dizia que não
ia parar de pé pelo seguinte: a despesa vai crescer muito forte,
porque os benefícios previdenciários e assistenciais são indexados
ao salário mínimo, que voltou a ser reajustado acima da inflação;
porque reindexaram o piso de saúde e educação e as emendas
parlamentares à receita; e porque há uma predisposição a gastar.
E, além disso, porque há uma fragilidade do governo frente ao
Congresso, que não consegue barrar esse aumento avassalador de
emendas parlamentares.

E, hoje, o cenário econômico também é diferente do observado


em 2016...

Exato. Hoje não se vive aquela crise econômica que vivia na época
do teto, a qual mobilizou a classe política para aprovar a medida.
Pelo contrário, há uma sensação de: “Ah, a economia está
crescendo, o emprego está batendo recorde, está tudo bem, não
tem que olhar para a questão fiscal”. Então, junta todos esses
fatores, não tem nenhum freio para segurar a deterioração do
arcabouço, que não seja a opinião pública, a crítica e o debate.

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