Você está na página 1de 8

ARKOADVICE.COM.

BR

30 DE MARÇO DE 2023

ARCABOUÇO
FISCAL
A PROPOSTA DO GOVERNO LULA PARA OS
GASTOS PÚBLICOS
CONTEXTO

Nesta quinta-feira (30), os ministros da Fazenda,


Fernando Haddad (PT), e do Planejamento e
Orçamento, Simone Tebet (MDB), anunciaram os
parâmetros gerais do novo arcabouço fiscal. A regra
substituirá o teto de gastos, extinto durante a votação
da PEC da Transição, no final de 2022. A PEC retirava a
regra fiscal da Constituição Federal e obrigava o
governo a apresentar uma nova proposta até 31 de
agosto de 2023, por meio de projeto de lei
complementar.

A nova regra substitui o antigo Teto, que vinculava o


aumento dos gastos à inflação do ano anterior, por
uma nova regra que se baseia no crescimento da
arrecadação federal. A regra anterior era criticada por
conter os gastos públicos com investimento, em um
cenário de inchaço da máquina pública.

ARKOADVICE.COM.BR
CONHEÇA AS
NOVAS REGRAS 30 DE MARÇO DE 2023

GASTOS E ARRECADAÇÃO
Pelo texto divulgado, o governo poderá expandir os gastos públicos em até 70% do
aumento da arrecadação que for registrado no ano anterior. Como medida “anticíclica”,
os 30% restantes serão usados para abater a dívida pública, criando espaço para
endividamento em momentos de retração econômica.

Além da limitação do aumento do gasto a 70% do aumento da arrecadação, haverá uma


trava para que o aumento das despesas não ultrapasse 2,5% ao ano. No box abaixo, veja
como funcionaria a trava em um cenário hipotético.

Cenário hipotético: A arrecadação aumenta em 10% (desconsiderando o efeito na


meta fiscal)

Pela regra: Assim, 70% do aumento de arrecadação poderia ser destinado ao


aumento do gasto público. Portanto, o aumento nos gastos públicos poderia ser de
7% (que corresponde a 70% dos 5%) e 30% do aumento de arrecadação seria
destinado ao pagamento da dívida (os 3% restantes).
Com o limite: Mesmo que o cálculo permita um aumento de 7% nos gastos, a trava
faz com o aumento nos gastos seja de apenas 2,5%. Assim, 75% do aumento de
arrecadação seria destinado ao pagamento da dívida pública.

“Essa limitação é importante porque é o colchão que você precisa para a fase ruim. Você
dá segurança para os empresários que querem investir, mas também à população
porque garante o funcionamento do Estado. Com isso, no nosso juízo, se cumprirmos essa
trajetória, vamos chegar em 2026 em uma situação de bastante estabilidade, com
trajetórias de inflação, juros real e dívida pública que vão estar muito mais favoráveis”,
argumentou Haddad.

MÍNIMO PARA INVESTIMENTOS


Para garantir que o crescimento dos gastos não acabe direcionando verba apenas para
despesas de custeio, a nova âncora fiscal contará com um piso para investimentos. O
valor mínimo pode variar entre R$ 70 a R$ 75 bilhões, como previsto na Lei Orçamentária
Anual (LOA) de 2023, mas corrigidos pela inflação.

Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, avaliou que a


diretriz prioriza e protege os gastos públicos de qualidade, mantendo o patamar de
investimento nacional mesmo em período de contingenciamento.

“Nós sabemos que gastos públicos têm efeitos multiplicadores na economia e impactos
distributivos. A lei de responsabilidade fiscal era o nosso paradigma. Em todo momento
que você precisava fazer algum tipo de contingenciamento ou corte, algo recorrente
naquele desenho de regra, o primeiro a ser prejudicado era o investimento e isso se
agravou com o teto de gastos”, avaliou.
CONHEÇA AS
NOVAS REGRAS 30 DE MARÇO DE 2023

META FISCAL
A nova âncora fiscal contará com um sistema de metas do resultado primário (diferença
entre arrecadação e gastos). A meta não será um número fixo, mas sim um intervalo, com
um piso e um teto.

Se o resultado primário for melhor do que o teto da meta, tudo que ultrapassar esse valor
será direcionado para investimentos no exercício seguinte. Já se o resultado for ruim e
ficar abaixo do piso, no ano seguinte, um gatilho é ativado, e a autorização para
crescimento das despesas será reduzida a 50%, em vez de 70% do crescimento da
receita. A ideia é incentivar o governo a realizar medidas de corte de gastos e aumento de
arrecadação.

Com a proposta, o governo mira em zerar o déficit fiscal em 2024 e projeta superávit
para 2025. As metas para o resultado primário são muito mais otimistas do que as
projeções do mercado financeiro. De acordo com o mais recente Boletim Focus, divulgado
pelo Banco Central, é esperado um déficit de -1,02% do PIB em 2023 e de -0,80% em 2024.

Centro
Piso da Teto da
Ano Focus* da
meta meta
meta

2023 -1,02% -0,75% -0,5% -0,25%

2024 -0,80% -0,25% 0,00% 0,25%

2025 -0,50% 0,25% 0,50% 0,75%

2026 -0,28% 0,75% 1,00% 1,25%

*Boletim Focus divulgado em 24/03/2023

NOVO PACOTE DE MEDIDAS


Ainda que defina metas e limitações para o gasto, o novo arcabouço fiscal não indica
como os objetivos serão atingidos. Para isso, segundo o ministro Fernando Haddad (PT),
será enviado ao Congresso Nacional nas próximas semanas um novo pacote de
“medidas saneadoras” que irão dar consistência ao novo arcabouço fiscal. Entre as
propostas está a regulamentação de setores como o de jogos de apostas eletrônicas. A
expectativa é que o pacote tenha impacto entre R$ 100 a R$150 bi nas contas públicas.
AVALIAÇÃO
POLÍTICA 30 DE MARÇO DE 2023

ENVIO DA PROPOSTA
Apesar da divulgação dos parâmetros do arcabouço, o texto do projeto de lei
complementar ainda não foi finalizado. O governo ainda faz ajustes tanto para acatar
sugestões das lideranças da Câmara e do Senado quanto para alinhar detalhes jurídicos.

Nesta quinta-feira (30), o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou à


imprensa que o novo arcabouço será enviado pelo governo ao Congresso Nacional no
início de abril. A proposta virá em formato de Projeto de Lei Complementar (PLP) e iniciará
a tramitação pela Câmara dos Deputados.

AVALIAÇÃO DO CONGRESSO
De forma geral, a divulgação de uma proposta de âncora fiscal foi bem recebida no
Congresso. De acordo com o ministro Alexandre Padilha, de Relações Institucionais, o
Congresso Nacional está comprometido com a tramitação rápida do novo arcabouço
fiscal. De acordo com o governo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) indicou a
possibilidade de votar o texto em duas semanas a partir do recebimento, e designar um
relator com boa articulação.

Por outro lado, lideranças ouvidas pela Arko Advice no Parlamento avaliam que as metas
definidas pelo governo são ousadas e dependem de uma série de outros projetos. A
avaliação geral é que serão necessárias novas medidas para aumentar a arrecadação e
para cortar gastos.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), classificou a proposta do arcabouço fiscal


como “um bom começo”. Contudo, segundo ele, o texto é apenas uma diretriz que
depende de outros projetos para cortar gastos ou aumentar a arrecadação.

“O governo defende a tese de não aumentar impostos, mas de fazer com quem não paga
impostos passe a pagar. Isso nos remete a isenção, desonerações, subvenções e
incentivos fiscais. Há, inclusive, o projeto do imposto de renda, que está no Senado, em
que foram retirados benefícios que já tinham seu tempo extrapolado”, declarou.

Uma das lideranças mais influentes na Câmara dos Deputados, Elmar Nascimento
(União-BA) avaliou como “superficial” a proposta do novo arcabouço fiscal, cujas nuances
foram apresentadas aos líderes da Casa na quarta-feira (29). Para Elmar, há boas
intenções no projeto, mas ainda é difícil emitir opinião a respeito de um texto
desconhecido. Ele avaliou que muitas ideias apresentadas são necessárias, mas a forma
como serão implementadas ainda gera dúvidas.

Já o deputado Danilo Forte (CE), também do União, avalia que a divulgação ajuda a
pacificar a instabilidade econômica, mas que o texto deve sofrer pressões na Câmara
para que tenha um viés mais social.
AVALIAÇÃO
POLÍTICA 30 DE MARÇO DE 2023

“Acho que ainda cabe a gente avançar um pouquinho mais com relação a minimizar os
efeitos e o empobrecimento, principalmente, da classe média, que é muito grande no
Brasil”, disse. Segundo ele, a efetividade da nova âncora também vai depender das
demais medidas tomadas pelo governo para estimular o crescimento da economia.

O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil


Competitivo, avalia que Haddad tem demonstrado preocupação com o equilíbrio fiscal,
mas encontra dificuldades dentro do PT.

“Nenhum gesto em relação a corte de despesas ou aumento de arrecadação veio na


proposta do arcabouço. É imperativo nós tratarmos desse tema já dentro do projeto do
arcabouço. Estamos trabalhando para inserir emendas nesse sentido”, disse à Arko.
Arnaldo Jardim aposta em medidas da chamada reforma administrativa, para tornar a
máquina pública mais enxuta.

BANCO CENTRAL
A divulgação do novo arcabouço fiscal pela equipe econômica do governo é vista como
uma chance de convencer o Banco Central a diminuir as taxas de juros. “Nós estamos no
caminho certo e que até maio, quando tiver a nova reunião do COPOM e a nova ata, nós
temos condições de apresentarmos um bom arcabouço fiscal, evoluindo nas tratativas e
também no processo legislativo da reforma tributária", declarou Simone Tebet na semana
passada.

Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (30), o presidente do Banco Central, Roberto


Campos Neto, reconheceu o esforço feito pelo Ministério da Fazenda para controlar os
gastos públicos. “Nós temos um bom relacionamento com a Fazenda e tenho bastante
convicção que o ministro Haddad está muito bem intencionado. Ele tem uma dura luta
pela frente”, afirmou.

Campos Neto disse que há boa vontade da pasta para execução de um arcabouço fiscal
robusto. Ele se negou a comentar o projeto antes de verificar os detalhes da proposta,
mas afirmou que o BC se debruçará sobre o que foi anunciado, a fim de analisar a nova
trajetória da dívida e incorporá-la às expectativas que regem a política monetária.

“Quando nós olhamos o arcabouço sem a calibragem dos parâmetros, o arcabouço


parecia bastante razoável, mas já faz algum tempo. De lá para cá, eu não tive nenhuma
atualização”, disse.
TRAMITAÇÃO
NO CONGRESSO 30 DE MARÇO DE 2023

CÂMARA DOS DEPUTADOS POR REGULAMENTAREM A CONSTITUIÇÃO,


AS LEIS COMPLEMENTARES SÃO MAIS
"ATALHO": SE FOR APROVADO REQUERIMENTO DE DIFÍCEIS DE SE APROVAR DO QUE AS LEIS
URGÊNCIA PODE IR DIRETAMENTE AO PLENÁRIO SEM ORDINÁRIAS. É NECESSÁRIA A APROVAÇÃO
PASSAR PELAS COMISSÕES. POR MAIORIA ABSOLUTA DOS DEPUTADOS
(257) E DOS SENADORES (41).

PLENÁRIO
CFT E CCJC*
DA CÂMARA

APRESENTAÇÃO CFT ANALISA O MÉRITO, E O SE HOUVER MAIS DE 4 PROJETOS DE LEI


PELO PRESIDENTE DA IMPACTO FINANCEIRO E COMISSÕES DE MÉRITO, A COMPLEMENTAR PRECISAM
REPÚBLICA ORÇAMENTÁRIO DA TRAMITAÇÃO PASSA PARA OBRIGATORIAMENTE PASSAR
PROPOSTA. CCJC ANALISA UMA COMISSÃO ESPECIAL PELO PLENÁRIO. NÃO HÁ
SE A PROPOSTA É POSSIBILIDADE DE
CONDIZENTE COM A TRAMITAÇÃO CONCLUSIVA
CONSTITUIÇÃO. NAS COMISSÕES.

*CFT - COMISSÃO DE FINANÇAS E TRIBUTAÇÃO


*CCJC - COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA

SENADO FEDERAL SE FOR APROVADO COM


ALTERAÇÕES, O TEXTO RETORNA
PARA A CÂMARA DOS
DEPUTADOS

PLENÁRIO

O SENADO RECEBE O TEXTO NO SENADO FEDERAL, NÃO EXISTE A SE APROVADO NAS SE O SENADO NÃO ALTERAR O
APROVADO NA CÂMARA DIVISÃO ENTRE COMISSÕES DE MÉRITO E COMISSÕES, O PROJETO TEXTO APROVADO NA
DE ADMISSIBILIDADE - AS DUAS
DOS DEPUTADOS SEGUE PARA O PLENÁRIO. CÂMARA, O PROJETO VAI
QUESTÕES SÃO ANALISADAS
CONJUNTAMENTE. PELA TEMÁTICA, A CASO SEJAM APRESENTADAS PARA SANÇÃO PRESIDENCIAL.
MATÉRIA SERÁ ANALISADA PELA EMENDAS, AS COMISSÕES O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONÔMICOS PRECISAM DAR UM NOVO AINDA PODE VETAR TRECHOS,
(CAE). PORÉM, AINDA QUE NÃO SEJA PARECER, A NÃO SER QUE O MAS OS VETOS SÃO
OBRIGATÓRIO, PROJETOS DE AMPLA ANALISADOS
PROJETO ESTEJA
REPERCUSSÃO COSTUMAM SER
ENVIADOS À COMISSÃO DE TRAMITANDO EM REGIME DE POSTERIORMENTE PELO
CONSTITUIÇÃO, JUSTIÇA E CIDADANIA URGÊNCIA. CONGRESSO NACIONAL.
(CCJ) PARA AMPLIAR A DISCUSSÃO.
ARCABOUÇO FISCAL

ARKOADVICE.COM.BR

CONTEÚDO
DANIEL MARQUES
LUÍSA ROTHENBURG
MELISSA FERNANDEZ
MARCOS QUEIROZ
RACHEL VARGAS

EDITORA-CHEFE
RACHEL VARGAS

RESPONSÁVEL
CRISTIANO NORONHA

DIREÇÃO-GERAL
MURILLO DE ARAGÃO

DIAGRAMAÇÃO
ÉRICA PASSOS

REVISÃO
DANIEL LLEDÓ

Você também pode gostar