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INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E AUDITORIA DE MOÇAMBIQUE

Cursos de Contabilidade e Auditoria, Contabilidade e Fiscalidade, Contabilidade Pública e


Autárquica
FINANÇAS PÚBLICAS

1. Tipos de Orçamentos

O orçamento da gerência é aquele em que se prevêem as receitas que o Estado irá cobrar e as
despesas que irá pagar durante o período financeiro. É uma previsão de receitas e despesas na sua
fase terminal das cobranças e de pagamentos.

O orçamento do exercício é aquele em que se prevêem as receitas que o Estado irá cobrar e as
despesas que irá pagar em virtude dos créditos e das dívidas que irão surgir a seu favor e contra si
durante o período financeiro. É uma previsão das receitas e de despesas na sua fase inicial de
créditos e de dívidas.

Exemplos:

1) Podemos prever que em 2012 irá surgir a favor do Estado um crédito de impostos de 100,00 mil
de MT, mas que alguns contribuintes, por várias razões, não paguem impostos nesse ano, que
haja nas cobranças uma falha de 5,00 mil de MT. Sendo assim, inscrever-se-á no orçamento de
exercício de 2012 a receita de 100,00 mil de MT, que é a receita resultante de crédito a surgir
para o Estado nesse ano; e inscrever-se-á no orçamento de gerência de 2012 a receita de 95,00
mil de MT, que e a receita a cobrar nesse ano pelo Estado.

2) De igual modo, podemos prever que em 2012 irá nascer contra o Estado uma dívida de 150,00
mil de MT, devido ao contrato de empreitada para construção de uma infra-estrutura (ponte ou
estrada) mas que o Estado só tenha a pagar 75,00 mil de MT em 2012, por que a construção da
ponte ou da estrada demora dois anos.

O empreiteiro receberá metade do preço em cada um dos anos. Nessa altura, inscrever-se-á num
orçamento de exercício de 2012 a despesa de 150,00 mil de MT que e a despesas resultante da

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dívida a nascer contra o Estado nesse ano, e inscrever-se-á num orçamento de gerência de 2012
a despesa de 75,00 mil MT, que e a despesa a pagar nesse ano pelo Estado.

1.1 Vantagem e Desvantagem do Orçamento do Exercício

Vantagem - O orçamento do exercício tem a vantagem de nos elucidar sobre a situação financeira
do Estado.

Desvantagem - Como nem todos os créditos serão cobrados, nem todas as dívidas serão pagas até
ao fim do ano, o orçamento do exercício não nos diz qual virá a ser durante o período a situação da
caixa do Estado, ou seja, a situação do Tesouro Público.

1.2 Vantagem do Orçamento da Gerência

Vantagem - o orçamento da gerência oferece a previsão do montante das receitas a cobrar e das
despesas a pagar em cada ano.

As despesas plurianuais, inscrevem-se em cada orçamento apenas os encargos a satisfazer no


próprio ano.

2. O Processo Orçamental (PO)

O Processo Orçamental vem evoluindo a muitos anos e esta evolução deve-se, entre outros factores,
às mudanças operadas nos sistemas políticos, nas teorias económicas, as abordagens de gestão
orçamental, os princípios contabilísticos e na conduta da administração pública. O processo
orçamental compreende um conjunto complexo de fazes, que não tem necessariamente um carácter
sequencial.

O PO deve ainda ser visto como um processo contínuo, não se limitando a cada ano económico. Por
outras palavras, não é um processo que se esgota no próprio ano económico, mas que tem
continuidade ao longo do tempo.

Podemos, assim, considerar dois tipos de PO:

a) Um PO mais amplo, com uma dimensão temporal mais vasta, que inclui não só a
orçamentação anual de recursos e a sua execução, mas também o estabelecimento de

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objectivos, politicas, e programas de curto, médio e longo prazo que estão na base dos
orçamentos anuais; (Ex: PQG, PARAP, CFMP, etc)

b) Um PO mais estrito, que tem apenas a ver com a orçamentação e execução anual das receitas
e das despesas, e que se repete todos anos. (Ex: PES, OE ect)

Estes dois processos não são independentes entre si, o 1º engloba e determina o 2º, mas também,
por sua vez, influenciado por este.

2.1 O Processo Orçamental em Sentido Lato

Qualquer PO envolve a geração, transmissão e utilização de vastas quantidades de informação. A


Primeira fase do PO começa com o estabelecimento de objectivos e metas de natureza económica
e social, tendo em consideração a informação disponível e a realidade económica, social, política e
administrativa do Pais. Com base nos objectivos e nas metas definidas, estabelecem-se as políticas
económicas e sociais.

A fase seguinte compreende o desenvolvimento de programas ou planos financeiros de curto,


médio e longo prazo. Esta envolve a realização de projecções e de previsões, bem como a
formulação de critérios para a selecção de programa.

Estes programas implicam, necessariamente, uma priorização de sectores e áreas, de acordo com as
politicas seleccionadas e as metas e os objectivos.

Os programas terão então, que ter uma expressão anual. A orçamentação anual dos recursos – de
acordo com as metas, os objectivos e os programas – e sua execução constitui a terceira fase do PO
(em sentido lato).

Por último, segue-se a quarta fase de monitoria e avaliação do orçamento executado, dos programas
financeiros e das metas, de forma a garantir a necessária transparência, eficácia e eficiência de todo
o processo.

Esta avaliação servirá, de base para a revisão dos objectivos, metas, politicas e programas do
governo. O acompanhamento e avaliação dos programas e do orçamento, por ex., deverão ser
realizados de forma permanente, e não apenas a posteriori, de forma a permitir a introdução de
correcções a medida que vão sendo implementados.

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Estabelecimento de metas,
objectivos e políticas
(Programa do Governo)

Monitoria e Desenvolvimento de
Avaliação (PES, Programas de curto,
Balanços, etc.) medio e longo prazo
(CFMP, PQG, PARPA)

Execução do Elaboração do
Orçamento Orçamento

2.2 O Processo Orçamental em Sentido Estrito

Este processo orçamental que tem apenas a ver com a orçamentação e execução anual das receitas
e das despesas, e que se repete todos os anos. Este, engloba cinco fases, sendo a primeira a da
elaboração da proposta de lei orçamental, a segunda a apresentação e aprovação pela Assembleia
da República. Depois de aprovada segue a terceira fase que a de execução e no fim do ano
económico procede-se ao encerramento das contas e que depois são fiscalizadas, compreendendo
assim, a quarta e quinta fase.

O PO em Moçambique compreende 5 fases:

Fases do Processo Orçamental Órgão envolvidos dos


Direcção Nacional do Orçamento
ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO
Ministério da Planificação e
Desenvolvimento

APROVAÇÃO DO ORÇAMENTO Assembleia da República

 Direcção Nacional da
EXECUÇÃO E ALTERAÇÃO DO Contabilidade Pública;
 Direcções Provinciais do Plano e
ORÇAMENTO
Finanças e;
 Autoridade Tributária.

 Direcção Nacional da
ENCERRAMENTO DAS CONTAS
Contabilidade Pública
 Direcções Provinciais do Plano e
Finanças
 Autoridade Tributária

 Tribunal Administrativo
CONTROLO E FISCALIZAÇÃO  Inspecção-geral das Finanças
 Inspecções Gerais Sectoriais

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2.3 Preparação do Orçamento

A proposta da Lei do Orçamento do Estado, é elaborada pelo Governo e submetida à Assembleia


da República, e deve conter informação fundamentadora sobre as previsões de receitas, os limites
das despesas, o financiamento do défice e todos os elementos que fundamentam a política
orçamental.

Do artigo acima exposto podemos perceber que no nosso país a elaboração do orçamento é da
competência exclusiva do Governo, ou seja, a proposta do orçamento vem do Governo, órgão este
que submete a Assembleia da República em forma de proposta de orçamento, para a posterior
aprovação.

Na elaboração da proposta do orçamento, o governo deverá dar prioridades ao cumprimento do seu


programa e ter em conta a necessária relação entre as previsões orçamentais e a evolução provável
da conjuntura política, económica e social.

Isto quer significar que, o montante e tipo de receitas e despesas a inscrever no orçamento deverão
estar de acordo a política do governo e o momento económico, político e social que se vive no país.

No processo de orçamento encontramos o seguinte ciclo:

O Ministério da Economia e Finanças é o órgão coordenador do Sistema de Orçamento do Estado,


cabendo este até 31 de Maio de cada ano, comunicar a todos serviços ou unidades orgânicas do
Estado (diversos órgãos, instituições, provinciais e autarquias) a metodologia de recolha de
informação e demais instruções a serem respeitados na preparação das respectivas propostas de
orçamento.

2 – Uma vez aprovadas pelo órgão competente da instituição proponente, as diferentes propostas
de orçamento são enviadas à Direcção Nacional do Plano e Orçamento (DNPO);

3 – As diferentes propostas de orçamento são depois analisadas, alteradas e unificadas pelo


Ministério da Economia e Finanças, através da Direcção Nacional do Plano e Orçamento, a luz das
orientações, limites orçamentais e demais instruções.

Caso se verifique alguma irregularidade ou incumprimento, a Direcção Nacional do Plano e


Orçamento, procederá, em conjunto com o proponente, à correcção da respectiva proposta, de forma
a adequá-la aos requisitos exigidos.
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4 – Depois de elaborada a proposta de lei orçamental para o ano seguinte, esta é apresentada ao
Conselho de Ministros pelo Ministério da Economia e Finanças e depois submete-se à Assembleia
da República para apreciação e aprovação.

2.4 Elaboração da Proposta Orçamental

O processo de elaboração do orçamento e da respectiva proposta de Lei envolve sempre, qualquer


que seja o Pais, três dimensões:

1- Política – Tomada de decisão;


2- Económica – Previsões;
3- Técnico-administrativo – Preparação material da proposta de Lei.

Como pode-se observar, o orçamento influencia e é influenciado pela economia. A principal fonte
de financiamento do orçamento – as receitas fiscais – dependentes largamente da actividade
económica e do rendimento dos agentes económicos (famílias e empresas).

Objectivos e Quadro
Prioridades Politicas Macroeconómico
Plurianual
Fixação dos Saldos Orçamentais e
Limite das Despesa Total

Fixação de tectos para Despesas


específicas e da Despesa por Ministério
Coordenação
e Resolução Apreciação e Aprovação em Conselho
de Conflitos de Ministros

Preparação dos Orçamentos por


Ministério

Consolidação dos Orçamentos e


Verificação dos tectos

Preparação da Proposta de Lei

Apreciação e Aprovação em Conselho


de Ministros

APRESENTAÇÃO À ASSEMBLEIA
DA REPÚBLICA

O Governo deve submeter anualmente para apreciação e votação do Parlamento a sua proposta de
Orçamento do Estado sob a forma de proposta de Lei.

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Assim, no quadro legal determina que a proposta de Lei do OE seja constituída por dois elementos
distintos:

O articulado – corresponde a um conjunto de artigos que, em princípio, se deve limitar ao


“estritamente necessário para a execução da política orçamental e financeira” do governo
correspondendo, nomeadamente, as seguintes matérias:

 Condições de aprovação dos mapas orçamentais;


 Alterações ao sistema fiscal (actualização de escalões, alteração de taxas ou criação de novas
taxas, alteração nas deduções -ao estatuto dos benefícios fiscais por exemplo;
 Limites máximos para concessão de empréstimos e de garantias pelo Estado;
 Determinação do aumento do endividamento líquido global para fazer face as necessidades
de financiamento decorrente da execução do OE;
 Montante máximo e condições gerais para a contracção de empréstimos necessários,
nomeadamente, a satisfação das necessidades de financiamento do OE e a amortização da
divida directa do Estado;
 Normas necessárias para orientar a execução orçamental, como seja as relativas as
cativações e as alterações orçamentais.

Para além dos itens acima, também o Governo apresenta a Assembleia da República a proposta do
OE com todos elementos necessários a justificação da política orçamental, nomeadamente:

 O Plano Economico e Social (PES) do Governo;


 O Balanço preliminar da execução do OE do ano em curso;
 A fundamentação da previsão das receitas fiscais e da fixação dos limites das despesas;
 A demonstração de financiamento global do OE com descriminação das principais fontes
de recursos;
 A relação de todos órgãos e instituições do Estado, assim como de todas instituições
autónomas, Empresas Publicas e Autarquias;
 A proposta de Orçamento de todos organismos com autonomia administrativa e financeiras,
Autarquias e Empresas do Estado.
 Mapas globais das previsões das receitas, dos limites das despesas e financiamento do
défice.

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 Mapas das previsões das receitas correntes e de capital de âmbito central e provincial,
classificados de acordo com os critérios orgânico, territorial e por fontes de recursos.
 Mapas dos limites das despesas correntes de âmbito central e provincial, classificados de
acordo com os critérios orgânico, territorial, económico e funcional;
 Mapas das despesas capital de âmbito central e provincial, classificados de acordo com os
critérios orgânico, territorial, económico e funcional; (Art. 24)
 Mapas dos limites das despesas correntes de âmbito central e provincial, classificados de
acordo com os critérios orgânico, territorial, económico e funcional;
 Mapas das despesas capital de âmbito central e provincial, classificados de acordo com os
critérios orgânico, territorial, económico e funcional; (Art. 24, nrs 1, 2, 3 e 4, e alíneas, Lei
9/2002).

2.5 Aprovação da Lei Orçamental (Periodicidade)

O Governo submete a proposta do OE, a AR até o dia 30 de Setembro de cada ano.

A AR delibera sobre a proposta do OE até o dia 15 de Dez de cada ano.(Art. 25, Lei 9/2002)

Aprovação do OE: Aprovado o OE o Governo fica autorizado a:

1. Proceder a gestão e execução do OE aprovado, adoptando as medidas necessárias a cobrança


das receitas previstas e a realização de despesas fixadas;
2. Proceder a captação e canalização de recursos necessários, visando a utilização mais
racional das dotações orçamentais aprovados e observar o princípio da melhor gestão da
tesouraria;
3. Proceder a abertura de créditos, nas condições fixadas pela AR para atender ao défice
orçamental;
4. Realizar operações de crédito por antecipação da receita, para atender défices orçamentais
de tesouraria (Art. 26, nrs 1, 2 e 3 e alíneas, Lei 9/2002)

2.6 Não Aprovação da Proposta do OE

Pode haver atraso na aprovação do orçamento, por necessidade de reformulação do orçamento por
este ter sido rejeitado na Assembleia da República, caso em que o Governo deverá voltar a
apresentar, no prazo de 90 dias, uma nova proposta de orçamento para respectivo ano económico.

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Pode ainda haver atraso na aprovação do orçamento por demissão do governo e por dissolução da
Assembleia da República.

Em casos de atraso ou não aprovação da proposta do orçamento do Estado, é reconduzido o do


exercício anterior, com os limites neles definidos, incluindo os ajustes verificados ao longo desse
exercício, mantendo-se assim em vigor até aprovação do novo Orçamento do Estado.

O recurso ao orçamento executado anteriormente, em caso de atraso ou não aprovação da proposta


orçamental, visa assegurar e dar continuidade ao funcionamento da máquina administrativa.

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3. Constituição do Orçamento do Estado em Moçambique

O Orçamento do Estado em Moçambique é constituído por três partes nomeadamente:

(i) Receitas públicas;


(ii) Despesas publicas e;
(iii) Financiamentos.

4. Despesas Públicas

Abordadas como o emprego de uma soma em dinheiro, gasto de conta do Estado por agente do
sector público administrativo e tendente à promoção de bens de interesse público, ou seja, para
satisfação de necessidades públicas colectivas.

As despesas públicas concretizam o próprio fim da actividade económica do Estado – satisfação de


necessidades. O estudo da despesa pública, tem de ser feito antes do mais, através da análise do seu
conteúdo, e da verificação da diferente natureza das despesas públicas e dos seus efeitos sobre a
economia.

A natureza da despesa pública num Estado moderno é, assim, crucial para compreensão do conteúdo
das actividades financeiras e a sua importância na concretização das políticas financeiras do Estado.

Assim sendo, distingue-se três elementos dentro da noção de despesa (o tipo de operação, o sujeito
e o fim da operação):

1º - O tipo de operação – a despesa corresponde à afectação de recursos correntes de que um sujeito


dispõe a uma determinada finalidade, sendo dispêndio de dinheiro a forma mais típica de realizar.

2º - O sujeito da operação – de harmonia com a nossa concepção de finanças públicas, o sujeito


tem de ser uma entidade pública (Estado e outros entes públicos). A despesa pública seria segundo
essa concepção, apenas aquela que o Estado efectua no exercício do seu poder de comando e para
satisfazer necessidades colectivas.

3º - A finalidade da operação – a despesa pública se destina apenas a satisfazer necessidades


públicas.

5. Importância da Despesa Pública

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A despesa Publica – é considerada em termos genéricos como um factor importante para a
promoção do crescimento económico e do bem estar social.

Um nível reduzido de despesa pública significa que serão necessárias menos receitas públicas para
obter o equilíbrio das contas públicas, o que significa também menos impostos e uma maior
contribuição para estimular o crescimento e o emprego.

A despesa publica também é naturalmente uma variável chave no que diz respeito à sustentabilidade
das finanças púbicas.

6. Despesa Pública em Moçambique

6.1 Despesa Pública – Conceitos

São todas as saídas de recursos, desembolsos, dispêndios que ficam a cargo de uma entidade
pública, seja para ocorrer aos compromissos da dívida pública, seja para atender às necessidades
dos serviços públicos criados no interesse e beneficio da colectividade, seja para acrescer bens ao
domínio público ou patrimonial;

É todo o dispêndio de recursos financeiros, seja qual for a sua proveniência ou natureza, gastos pelo
Estado, com ressalva daqueles em que o beneficiário se encontra obrigado à reposição dos mesmos
(art.: 15, nr. 1, Lei nr. 09/02, de 12 de Fevereiro).

6.2 Classificação Orçamental da Despesa

A despesa orçamental é classificada de acordo com os seguintes critérios:

 Económico;
 Orgânico;
 Funcional;
 Territorial.

Classificação Económica da Despesa

O classificador económico – classifica a despesa em (corrente e de investimento), pelo seu carácter


económico e segundo os conceitos da Contabilidade Nacional (por exemplo: o consumo, o
investimento e as transferências publicas).

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Despesas Correntes (Funcionamento) – são os gastos que o Estado faz em bens e serviços
consumíveis durante o período financeiro, ou que se vão traduzir na compra/aquisição de bens de
consumo. Por exemplo, compra de combustíveis, material de expediente para escritório, pagamento
de salários aos funcionários de Administração Pública, o pagamento de pensões de reforma aos
pensionistas.

Nesta categoria inclui-se os gastos com obras de conservação e adaptação de imóveis bem como
gastos de manutenção de equipamentos diversos.

Despesas de Capital – são despesas com o planeamento e execução de obras ou infra-estruturas


básicas tais como estradas, pontes, barragens, administração, etc, a construção e reabilitação de
infra-estruturas sociais: escolas, clínicas públicas, hospitais públicos, etc., e a pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias, a aquisição de imóveis, aquisição de equipamentos, aquisição de
títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie como as
transferências do capital, etc.

Nesta rubrica inclui-se a aquisição de instalações para realização de actividades públicas, aumento
do capital de empresas que não sejam de carácter comercial ou financeiro. Inclui-se, também
despesas em medicamentos.

Este assume um papel central na classificação das despesas, já que permite ou facilita:

 A determinação do saldo orçamental e das necessidades de financiamento do Estado, sendo


por isso de especial utilidade na analise do impacto da política fiscal na economia;
 O cálculo das alterações registadas no património do Estado durante o ano económico;
 Avaliação da capacidade fiscal das províncias;
 Identificação da natureza das despesas, a sua correcta contabilização e a análise da sua
economicidade;
 A obtenção de informações sobre o grau de realização dos objectivos das políticas
orçamental, económica e social.

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Classificação Funcional da Despesa

O classificador funcional, por sua vez, identifica as despesas de acordo com a natureza das funções
exercidas pelo Estado (defesa, saúde, educação, segurança, etc.), obedecendo aos critérios das
Nações Unidas.

Este classificador, permite julgar a orientação que o governo da aos recursos de que dispõe para
satisfazer necessidades colectivas, avaliar as opções tomadas em momentos diferentes e efectuar
comparações internacionais.

Classificação Orgânico da Despesa

Classifica as despesas por órgão da Administração Publica com responsabilidades na execução


orçamental.

Classificação Territorial da Despesa

Evidencia a afectação de recursos segundo a divisão territorial do Pais. Ele assume uma especial
importância na avaliação das metas do governo e do esforço financeiro por este realizar ao nível do
desenvolvimento das diferentes regiões do país.

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6.3 Tipologia das Despesas Públicas

Despesas orçamentais – são aquelas que integram o orçamento do Estado e dependem da


autorização legislativa (Parlamento).

Despesas Extra-orçamentais – são aquelas que não integram o orçamento do Estado e que não
dependem da autorização legislativa.

6.4 Fases da Despesa Pública

A realização da despesa compreende três fases:

Cabimento – O Cabimento representa a 1ª fase da despesa pública. É definido como acto


administrativo de verificação, registo e comprometimento do valor do encargo a assumir pelo
Estado. Este acto só pode ser efectuado pelo gestor público se a Unidade Gestora possuir saldo
suficiente nas contas denominadas Dotação Disponível e Quota de Limite Orçamental a Utilizar.

Liquidação – A Liquidação da Despesa representa a 2ª fase da despesa pública e é onde se verifica


a entrega do bens ou serviços contratados, bem como o apuramento do valor que efectivamente há
a pagar para emissão da competente ordem de pagamento.

Pagamento – O Pagamento da Despesa representa a 3ª fase da despesa pública e significa a entrega


de uma importância em dinheiro ao titular do documento de despesa.

7. Receita Pública

Constituem receita pública todos os recursos monetários, seja qual for a sua fonte ou natureza,
postos à disposição do Estado, com ressalva daquelas em que o Estado seja mero depositário
temporário.

Nenhuma receita pode ser estabelecida, inscrita no Orçamento do Estado ou cobrada senão em
virtude de lei e, ainda que estabelecidas por lei, as receitas só podem ser cobradas se estiverem
previstas no Orçamento do Estado aprovado.

7.1 Classificação Orçamental da Receita Pública

A receita orçamental é classificada de acordo com os seguintes critérios:

 Económico;

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 Territorial; e
 Por fontes de recursos;

Classificação Económica da Receita

Classe “4” que inclui as contas representativas dos recursos auferidos na gestão a serem
consideradas no apuramento do resultado do exercício, tendo características de contas de resultado,
desdobradas nas categorias económicas de Receitas Correntes e de Receitas de Capital:

a) Receitas Correntes – receitas fiscais, não fiscais, as consignadas e as de donativos;


Exemplos: Imposto sobre o Rendimento de Pessoa Singular, Rendas de Casa, Taxas de
Portagem, Donativos Não consignados à Projectos.

b) Receitas de Capital – receitas de alienação de bens, receitas de donativos e receitas de


fundo de empréstimos. Exemplos: Alienação do Património do Estado, Donativos em
Espécie a Projectos, Fundo de Empréstimos Externos.

Os montantes de receita inscritos no Orçamento do Estado constituem limites mínimos a serem


cobrados no correspondente exercício.

Os códigos das contas de receitas iniciam-se com o número 4, sendo que os demais dígitos
correspondem à Classificação Económica da Receita. Exemplo:

4. 1. 1. 3. 0. 02 – Conta Contabilística: Imposto sobre Veículos

Classe - Receita

Grupo – Receitas Correntes

Sub-grupo – Receita Fiscal

Elemento – Outros Impostos

Sub-elemento - ---

Item - Imposto sobre


Veículos

Classificação Territorial da Receita

Permite o registo das receitas segundo a divisão territorial do país (Central, Provincial, Distrital).

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Classificação por Fonte de Recurso da Receita

Tem como objectivo identificar a origem dos recursos financeiros, permitindo a sua gestão a nível
de programação e execução do Orçamento do Estado, e está estruturado em três níveis.

a) Classificador da fonte de recursos 1º nível

Grupo das Fontes de Recursos que identifica o trânsito dos recursos pelo Tesouro Nacional.

 1 – Recursos do Tesouro (Transita pela CUT)


 2 – Recursos de Outras Fontes (Não transita pela CUT)
 3 – Recursos do Tesouro de Exercícios Anteriores
 4 – Recursos de Outras Fontes de Exercícios Anteriores
 5 – Recursos Vinculados Originários de Fontes do Tesouro
 6 – Recursos Vinculados Originários de Outras Fontes.

b) Classificador da fonte de recursos – 2º nível

Sub-grupo das Fontes de Recursos que identifica o detalhe do Grupo por tipo de origem de recursos.

 01 – Recurso Fiscal
 02 – Recurso Não Fiscal
 03 – Recurso Consignado
 04 – Recurso Oriundo de Reembolso de Acordo de Retrocessão
 05 – Recurso Oriundo de Alívio da Dívida — HIPC
 11 – Recurso Próprio
 2x – Donativos Internos
 3x – Donativos Externos
 4x – Créditos Internos
 5x – Créditos Externos
 6x – Acordos

c) Classificador da fonte de recursos – 3º nível

Identifica a Fonte de Financiamento, sendo que 000000000 identifica a fonte de financiamento “Não
Detalhada”.

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7.2 Fases da Execução da Receita

A execução da receita compreende três fases:

a) Lançamento – A 1ª fase compreende o procedimento administrativo de verificação da


ocorrência do facto gerador da obrigação correspondente;

b) Liquidação – A 2ª fase compreende o cálculo do montante da receita devida e identificação


do respectivo sujeito passivo;

c) Cobrança – A 3ª fase corresponde a acção de cobrar, receber ou tomar posse da receita e


subsequente entrega ao Tesouro Público. Em função da adopção do regime de caixa para o
lançamento da receita pública, somente essa fase ocasiona registos contabilísticos, que estão
a seguir descritos:

8. Receita Pública Efectiva

As Receitas Efectivas podem provir de:

1- Da venda de produtos e das prestações de serviços contratualmente estabelecidos (receitas


patrimoniais);
2- Da prestação de serviços a preços autoritariamente fixados (taxas);
3- Da cobrança de impostos.

8.1 Receitas Patrimoniais Efectivas

As Receitas Patrimoniais – podem derivar do Património do Estado, do seu domínio Rural, das
explorações industriais e comerciais de utilidade pública.

a) Património Mobiliário

O Estado tem quase sempre um património mobiliário, uma certeira de títulos constituída por acções
e obrigações de bancos e companhias.

i) O Estado- Compra acções ou obrigações para garantir a certas empresas os capitais


necessários à sua constituição, ao seu desenvolvimento, ou à sua sobrevivência.
- Na verdade, pode ser de considerado de utilidade pública que se crie ou se expanda
determinada empresa, mas não concorrem capitais privados em montante suficiente. Nessa
altura, o Estado compra acções ou obrigações, perfazendo o investimento necessário.

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- Outras vezes, a empresa já esta formada, já existe, mas atravessa uma situação financeira
difícil. Como a falência dessa empresa seria socialmente desastrosa, o Estado acode a salva-
la.

ii) O Estado também adquire acções para participar na gestão das empresas privadas,
constituindo o que se chama Sociedades de economia mista. Isto porque nelas se combina
interesses públicos e privados. Com acções em mão, o Estado penetrar às assembleias Gerais
e consegue fazer-se eleger para o Conselho de Administração, a par dos outros accionistas
privados.
As Sociedades de economia mista, desempenham um papel de relevo nas economias em
desenvolvimento, onde os mercados são pequenos, por isso maior o risco das empresas:

- Quanto menor é o mercado, menos é a probabilidade de uma nova empresa encontrar


procura a preço remunerador para os seus artigos.
Como o Estado subscreve boa parte do seu capital, logo os capitalistas se convencem de que
o negocio é seguro, e acorrem a subscrever o resto.

b) Domínio Rural
O Estado, não só possui património mobiliário, mas também tem um património de domínio rural
(Resultante das Nacionalizações após a Independência, explorações florestais tais como os Parques,
Reservas, etc.)

c) Explorações de utilidade pública

As explorações industriais do Estado: Monopólios fiscais e explorações de utilidade pública:

O Estado – explora certas indústrias e comércios, umas vezes em monopólio, outras em


concorrência com os particulares.

Quando o Estado faz em monopólio, temos a distinguir:

- Ou o Estado se reserva a exploração de determinada industria com o fim de obter receitas;


- Ou o Estado se reserva a essa exploração, não por causa das receitas, mas para assim
satisfazer melhor as necessidades colectivas.

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As receitas patrimoniais provem de preços negocialmente estabelecidos – preços que, ou são puros
preços privados, ou são preços inferiores aos que os particulares praticariam, como as tarifas
portuárias.

Em qualquer caso, porem, as receitas patrimoniais resultam de preços lucrativos, isto e, de preços
superiores ao custo de produção.

8.2 Receitas das Taxas

Os preços autoritariamente fixados (Taxas)

a) Bens Técnica e Financeiramente Semipúblicos

Temos taxas sempre que os preços são inferiores ou iguais aos custos;

As taxas são cobradas pela utilização bens semipúblicos, isto é, de bens públicos que satisfazem
necessidades individuais.

Assim, cobram-se taxas nas escolas secundárias e superiores, nos tribunais, nos cartórios, nas
conservatórias, etc.

b) O montante das taxas

A cobrança de taxas, pode ter em vista, a repartição do custo pelos utentes e a limitação da procura
do serviço.

Se a procura é inelástica, ou não é superior à oferta ao preço zero (0), a finalidade das taxas só
pode ser a repartição do custo;

Se a procura é elástica e superior à oferta ao preço zero (0), as taxas podem ter qualquer finalidade:
ou a limitação da procura, ou a repartição do custo.

Dado que as taxas, sendo preço, limitam sempre a procura, quando esta é elástica: e sendo receitas,
cobrem sempre uma parte ou totalidade do custo do serviço.

O montante das taxas vai depender, portanto, da finalidade que o Estado deseja alcançar:

Ex: Serviços da administração da Justiça – interessa que os Tribunais só sejam utilizados quando
haja razões serias para eles intervirem na definição do direito; isto e, interessa evitar que se vá aos
tribunais, como autor ou como réu, por qualquer motivo fútil.

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Há pois, que limitar a procura do serviço da justiça. O Estado limita-a cobrando taxas (custas) mais
pesadas à parte vencida.

8.3 Receitas dos Impostos

a) Elementos do imposto

É do imposto que provem, a maior parte das receitas efectivas.

Noção do imposto

O imposto define-se como sendo uma prestação pecuniária, coactiva e unilateral, sem carácter de
sanção, exigida pelos Estado com vista à realização de fins públicos.

Prestação pecuniária- o imposto é uma prestação em dinheiro ou equivalente a dinheiro;

Coactiva- o montante do imposto é estabelecido por Lei ou por forca da Lei.

Unilateral- ao pagamento do imposto não corresponde qualquer contraprestação por parte do


Estado.

Sem o carácter de sanção- o imposto não tem natureza de penalidade, como a multa.

Logo podemos distinguir as principais diferenças entre imposto e taxa (a taxa também é prestação
pecuniária, é prestação coactiva, mas já não é prestação unilateral), uma vez que ao seu pagamento
corresponde a contraprestação de um serviço por parte do Estado.

b) Finalidade da tributação: Impostos fiscais e impostos extrafiscais.

Encontramos impostos que o Estado cobra apenas para obter receitas: são os impostos fiscais;

Encontramos impostos que o Estado cobra para simultaneamente obter receitas e atingir outras
finalidades, ou só para atingir essas finalidades: são os impostos extrafiscais.

Assim, quando o Estado exige direitos alfandegários com vista a proteger determinada industria, a
sua finalidade não é conseguir recursos, mas satisfazer as necessidades colectivas de que aquela
industria seja preservada da concorrência estrangeira. Aqui temos a finalidade extrafiscal da
tributação.

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9. Alternativas de Financiamento do Sector Público

9.1 Receita Pública Não Efectiva – “Os Empréstimos”

As receitas não efectivas - queremos nos referir as receitas proveniente dos empréstimos e
donativos. Visto quase todas receitas não efectivas serem derivadas do recurso ao crédito.

O Recurso ao Crédito:

a) Défice da Tesouraria;
b) Défice Orçamental;
c) Esterilização de poder de compra.

O Estado pode faze-lo por um dos seguintes motivos:

1) Cobertura do défice da tesouraria- Compreende-se que a tesouraria apresente uma situação


deficitária. Decerto que no orçamento se previram receitas suficientes para cobrir todas as despesas.
Mas alo longo do período financeiro, os montantes das cobranças não coincidem com os montantes
dos pagamentos por parte dos contribuintes.

Haverá dias em que afluam para os cofres públicos receitas superiores, outros em que afluam
receitas inferiores, aos pagamentos que nesses dias se tem de efectuar.

Dai que o tesouro passa encontrar-se, em determinada altura, com fundos insuficientes para ocorrer
aos pagamentos. Quando tal acontece, há que encontrar receitas e isso só poderá ser feito através
do crédito de prazo muito reduzido, dado que trata-se de um défice passageiro, transitório,
proveniente da falta de sincronização entre a entrada de receitas e saída de despesas.

2) Cobertura do défice orçamental- isto é, do excesso das despesas efectivas sobre as receitas
efectivas. Quando o orçamento apresenta um défice, é por meio de receitas não efectivas, e
geralmente por meio de empréstimos, que se terá de preencher a diferença.

Nesta situação, como o défice foi previsto, tem de presumir-se que os empréstimos contraídos para
lhe fazer face não poderão ser reembolsados dentro do período financeiro. Só poderão ser nos
períodos financeiros subsequentes.

Quando o Estado contrai empréstimos para cobrir o défice orçamental, recorre ao crédito de médio
e longo prazo.

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3) Esterilização de poder de compra- O Estado não só recorre ao crédito para financiar a despesa
pública, também a ele recorre, por vezes, para impedir despesas privadas. É quando se desenvolve
um processo inflacionista em que a subida dos preços é imputável à pressão da procura. A fim de
reduzir esta, o Estado pode absorver, através de empréstimos, aforros de capitalistas que de outro
modo seriam gastos, pelo menos em boa parte.

Visando este empréstimo a redução do poder de compra, o Estado se encontra inibido de utilizar o
seu produto na cobertura de despesas. Tem de o manter em saldo, até que as circunstâncias se
modifiquem a ponto de ser aconselhada a política contraria – a política do fomento do poder de
compra

Anulação da Receita

Em função da adopção do regime de caixa utilizado para o registo da receita pública, a restituição
da receita arrecadada indevidamente, quando ocorra no respectivo exercício da sua arrecadação,
deve ser efectuada nesse exercício, mediante anulação do valor na rubrica orçamental respectiva.

Quando a restituição da receita arrecadada indevidamente ocorra em exercícios posteriores, esta


deverá ser realizada em rubrica orçamental de despesa adequada, do exercício em que ela ocorrer.

Dívida activa

Constituem dívida activa - os valores relativos a contribuições e impostos e demais créditos fiscais
do Estado liquidados e não cobrados dentro do exercício financeiro de origem, sendo incorporados
pela contabilidade pública, em conta própria, findo o exercício.

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9.2 Dívida Pública

Ajuda Externa – são os fluxos de poupança de não-residentes de um determinado Pais para o outro.
(Castelo Branco N: 1994:23-24).

Estes fluxos incluem normalmente empréstimos com condições de reembolso concessionais (baixas
taxas de juros e períodos de graça e de reembolso prolongado), donativos em espécie ou monetários.

Não se incluem na categoria de ajuda, os investimentos directos estrangeiros (compra de activos


financeiros por não-residentes, os empréstimos bancários e os créditos as exportações para os países
importadores), todos eles da poupança privada negociáveis no mercado.

A Ajuda Externa é normalmente canalizada por pais (bilaterais), por agências multilaterais
especializadas tais como:

- Sistema da Nações Unidas;

- Banco Mundial;

- Fundo Monetário Internacional; e

- Por instituições de caridade (organizações não-governamentais).

Ela pode ser destinada ao apoio da balança de pagamentos ou ligada a empreendimentos específicos.

De acordo com Todaro (1997, citado por Mreira S. 2005:45) classifica a ajuda ligada por fonte ou
por projecto:

 Ajuda ligada por fonte – significa que os donativos e os empréstimos devem ser gastos na
compra de bens e servicos do país doador;
 Ajuda ligada por projecto – traduz a obrigatoriedade de os fundos serem aplicados em
projectos específicos do país doador.

A 1ª - pode implicar a oferta de bens e serviços mais dispendiosos, enquanto a 2ª pode implicar um
projecto menos prioritário. Assim sendo, a ajuda externa não ligada seria aquela que não impõe
estas condições ao receptor.

A ideia subjacente a ajuda externa - é que esta tem influencia positiva estimulando o
desenvolvimento económico e social dos países receptores, financiando investimentos não cobertos

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pela poupança domestica para além de facultar divisas para o pais adquirir no mercado externo os
recursos não disponíveis no mercado local.

9.3 Donativos

De acordo com Moreira (2005:34-37), os donativos podem ser em forma de:

 Cooperação técnica ou assistência técnica (pode ser pura ou relacionada com


investimentos);
 Ajuda alimentar ou desenvolvimento (concessão de géneros alimentares, custos de
transporte, pagamentos para aquisição de alimentos, distribuição de produtos intermédios
tais como fertilizantes, sementes, etc.);
 Anulação total ou parcial da divida;
 Auxílio de emergência ou ajuda humanitária.

O argumento humanitário sugere que os Países de alto rendimento consideram que o bem-estar deve
ser extensivo aos restantes Países, por isso, contribuem com ajuda externa para a redistribuição
internacional da renda.

Sabe-se porem que as motivações da ajuda externa se estendem para além deste argumento,
podendo estar incorporado a defesa de interesses económicos, políticos e militares dos doadores.

Assim sendo a ideia de que a ajuda externa exerce um impacto positivo no crescimento económico
dos países receptores é aceite mas, em certos círculos, com algumas reservas.

9.4 Espécies de Empréstimos

Os Empréstimos contraídos pelo Estado, são susceptíveis de várias distinções:

a) Quanto ao Lugar

 Interno – Os contraídos dentro do próprio Pais; (subscritos quase na sua totalidade por
habitantes do próprio Estado e com capitais nele existentes);
 Externo – Os contraídos fora do Pais; (subscritos quase na sua totalidade por habitantes e
capitais de outros Estados).

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b) Quanto à Duração: Perpétuos e Temporários.

1. Perpétuos – Aqueles que o Estado contrai obrigando-se a pagar um certo juro anual, mas não
a proceder o reembolso.

Umas vezes, e até quase sempre, o Estado fica com a faculdade de efectuar o reembolso quando
quiser (temos os empréstimos perpétuos remíveis); Outras vezes, o Estado não goza da faculdade
de realizar o reembolso (temos os empréstimos perpétuos irremíveis).

Vantagens: Empréstimos perpétuos remíveis – O Estado pode decide o pagamento do capital e do


momento oportuno para o fazer.

Desvantagens: Empréstimos perpétuos irremíveis – O Estado tem de suportar o ónus perpétuo do


juro, a menos que proponha, e os credores aceitem, o reembolso (isto é, a menos que os credores
transformem a empréstimos remíveis).

Os empréstimos perpétuos são sempre titulados, isto é, representados em títulos de crédito; ora estes
são negociáveis, podem transacionar-se todos os dias na Bolsa.

São títulos que incorporam a promessa de pagar um determinado juro, e que, portanto, têm valor
venal. Ora, vendendo, negociando os títulos, os possuidores realizam os seus créditos.

2. Empréstimos Temporários

a) Reembolsáveis a vista – aqueles que o Estado se compromete pagar quando o credor o


pretenda.
b) Rendas Vitalícias – são empréstimos que o Estado se obriga a pagar uma renda anual ao seu
credor enquanto vivo (o credor). É através da renda que o reembolso se efectua.
c) Amortizáveis por sorteio – o Estado reembolsa todos os anos um número constante ou
variável de títulos tirados a sorte, de modo que o empréstimo se encontre inteiramente
amortizado ao fim de certo prazo. (Ex: empréstimo de 1 milhão, com prazo de 20 anos, pode
tirar por sorteio 1/20 do capital para amortizar, e no fim de 20 anos terminar).
d) Reembolsáveis em data fixa – O Estado obriga-se a reembolsar todo o capital do empréstimo
em certa data.

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9.5 Créditos Adicionais

Durante o exercício financeiro, o poder executivo pode solicitar ao legislativo o acréscimo das
dotações orçamentárias. Esses acréscimos, quando autorizados pelo legislativo, serão, então,
adicionados ao orçamento corrente. Por isso, tais adições chamam-se de créditos adicionais.

Por se tratar de aumento de despesa do orçamento corrente, cada solicitação de crédito adicional
deve ser acompanhada da fonte de recursos. A lei orçamental anual pode incluir autorização para
abertura de créditos adicionais até determinado montante, a fim de tornar mais rápido a gestão
orçamental e financeira.

Os créditos adicionais classificam-se, segundo sua finalidade em:

 Créditos suplementares;
 Créditos especiais;
 Créditos extraordinários.
Créditos suplementares - destinam-se a reforçar uma dotação já existente no orçamento do
exercício financeiro corrente. A sua vigência acompanha a do orçamento em vigor. São abertos por
decreto, mas autorizados por lei. A lei que autoriza determinado crédito suplementar é uma única,
porém vários decretos podem abrir, por parcelas, o crédito autorizado.

Os créditos especiais se destinam a financiar programas novos, que não possuem dotação
específica no orçamento em vigor. A sua vigência acompanha a do orçamento em vigor, excepto se
abertos nos últimos quatro meses do ano, caso em que serão reabertos no orçamento do próximo
ano no limite dos seus saldos remanescentes.

Igualmente aos créditos suplementares, são autorizados por lei e abertos por decreto. A autorização,
em geral, pode constar na própria lei que criou o programa a ser financiado pelo crédito especial.

Os créditos extraordinários destinam-se a atender despesas imprevistas e urgentes (calamidade


pública, guerra, surtos epidêmicos, etc). São abertos por decreto do executivo, independentemente
de autorização legislativa, face à urgência das situações que o justificam.

Quando aberto este tipo de crédito adicional, o governo tem a obrigação de informar imediatamente
a Assembleia da Republica, justificando as causas de tal procedimento.

A vigência dos créditos extraordinários cessa em 31 de dezembro do ano de sua abertura, salvo se
abertos nos últimos quatro meses do ano, caso em que sua vigência se estende até o término do
exercício subsequente ou até quando cessarem as causas que justificaram o crédito extraordinário.

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