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I Simpósio Internacional Multidisciplinar das Humanidades

Brasil/Moçambique - 2023

O ÁRIDOPOTENTE DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO


PANDÊMICO: DAS POSSIBILIDADES AOS LIMITES DO ENSINO
REMOTO EMERGENCIAL

Diego Correia Machado1


Ozana Costa de Oliveira2
Bruna Lalliny Magalhães da Silva3

Introdução
O presente trabalho refere-se a uma breve reflexão obtida com uma pesquisa de
mestrado quanto ao cenário pandêmico acarretado pela infecção do SARS-COV-2, o chamado
novo Corona vírus, trazendo significativas transformações para o contexto educacional a partir
de 2020, com a utilização ostensiva de insumos tecnológicos diante da necessidade de se
promover o direito a Educação e continuidade a trajetória escolar de crianças em todo o país.
Nesse interim, a justificativa do presente estudo parte da necessidade de se analisar as
possibilidades apresentadas pelo Ensino Remoto Emergencial enquanto solução para os
problemas do sistema educacional brasileiro nesse período com o processo de reestruturação do
cotidiano escolar e do trabalho docente.
Assim, temos o objetivo de refletir a respeito de seus limites para o desenvolvimento
das atividades escolares, observando as condições do ensino, as táticas criadas nesse contexto
adverso, como se desenhou o cotidiano escolar nesse período que marcado historicamente. Os
métodos empregados em nosso estudo referem-se aos estudos do campo do cotidiano, uma vez
entendendo que essa abordagem nos possibilita uma maior compreensão dos fenômenos
ocorridos no âmbito escolar durante esse período, em que se pode dar ênfase ao apagão
1
Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE-UFAC, Graduado em História
Licenciatura pela Universidade Federal do Acre (UFAC); graduando em Letras Inglês (UFAC). Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7905615014357009. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7249-8993.
2
Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Acre- UFAC.
Professora na Educação Básica pela Secretaria de Estado de Educação e Esporte-SEE/AC. Graduada em Pedagogia
(UFAC). E-mail: nana_anker@hotmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1054564660946026. ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-3899-5368.
3
Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE-UFAC, Graduada em Letras
Português pela Universidade Federal do Acre (UFAC). Lattes: http://lattes.cnpq.br/1087557786804507.
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educacional analisado a partir da noção de áridopotente, nos referindo exatamente aos limites do
Ensino Remoto, suas possibilidades e formas de utilização, realizado principalmente a partir do
levantamento de dados com uma revisão bibliográfica de textos, artigos e livros pesquisado que
envolvam a temática, acrescido da busca em publicações do Conselho Nacional de Educação e
Ministério da Educação.

Desenvolvimento
Ao considerarmos o contexto entre os anos de 2020 a 2022, momento em que temos a
pandemia ocasionada pelo Corona vírus, trazendo grande implicações para o cenário
educacional, infladas com a precariedade de recursos sanitários e econômicos, seja em âmbito
nacional ou internacional, observamos elementos que transformam as formas de ensinar e os
seus sentidos, com o modus operandi escolar ressignificado em toda a sua estrutura. Esse cenário
impõe desafios sem precedentes para a educação e a profissão docente, em que se faz necessário
a superação dos entraves impostos com a nova realidade. A reconfiguração das atividades
escolares a partir do isolamento social nos apresenta o Ensino Remoto como possibilidade de
amenizar as lacunas deixadas com pandemia da Covid-19 e sua consequente suspensão das
atividades escolares de forma presenciais.
Em mundo em constantes transformações como a era em que vivemos, a Educação
acaba por ser influenciada, com inovações para os métodos de ensino e procedimentos
desenvolvidos pelos profissionais docentes, mas não essencialmente, e não tão somente se refere
aos recursos eletrônicos como o computador ou notebook ou a utilização da internet. Nessa
esteira, observa-se que o cenário educacional acompanha a evolução dos meios tecnológicos,
mesmo que a passos lentos, com desenvolvimento de práticas condizentes com a realidade
vivenciada, introduzindo cada vez mais ditas inovações.

A inserção das tecnologias no ambiente escolar, como suporte para o processo


educativo, é realidade que advém das transformações e avanços ocorridos ao longo dos
anos pela educação no contexto da prática pedagógica. Assim, tal evolução leva hoje os
professores a uti lizarem essas tecnologias no processo de escolarização. [...] (SILVA;
ROCHA, 2019, p. 127).
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Desse modo, com o cenário pandêmico, as formas de exercer a Educação passaram a se


modificar, haja visto a necessidade de se adaptar à nova realidade vivenciada nesse curto
período, em que temos a utilização de dispositivos tecnológicos, plataformas digitais e uma série
de recursos tecnológicos e ferramentas para a prática docente, caracterizando o que passou a se
chamar de Ensino Remoto Emergencial devido a sua urgência em dar continuidade ao ano letivo
que fora interrompido e no processo de escolarização dos estudantes, tendo em vista ainda as
avaliações externas que urgiam no horizonte. Diante do surgimento desse ensino, o cotidiano das
escolas se transfigura e se reestrutura a partir do mundo virtual, seu modus operandi e
conhecimentos técnicos para lidar com as máquinas e com os seres humanos a distância.

Com o cenário pandêmico, as formas de pensar a Educação passaram a se modificar,


trazendo formas de organização do cotidiano escolar diferentes, usando o mundo virtual
como alternativa para dar continuidade ao processo de aprendizagem de milhares de
jovens e crianças em todo o país, deixando muitas vezes a cargo de professores/as a
responsabilidade de organizar esse processo, colocando em suas mãos a culpa pelo
sucesso e pelas falhas do ensino durante esse período. (MACHADO, 2022, s. n.)

Nesta direção, as instituições educacionais de maior poder no cenário educacional


emitiram orientações quanto ao desenvolvimento da prática docente, com a suspenção das
atividades práticas escolares presencialmente e a possibilidade de computação do ano letivo
através da utilização de meios digitais, caracterizando uma reconfiguração do cotidiano escolar,
o que temos nesse estudo como o áridopotente da Educação, um novo cenário a ser desvendado.

Para orientar instituições de ensino da educação básica sobre as práticas a serem


adotadas, o MEC brasileiro homologou um conjunto de diretrizes – Parecer CNE, nº.
5/2020 aprovado em 28 de abril (Brasil, 2020) – sugerindo a manutenção de atividades
escolares não presenciais para o cumprimento da carga horária durante a situação de
emergência, bem como alternativas para minimizar a necessidade de reposição
presencial de dias letivos após a pandemia, como vídeo aulas, plataformas virtuais,
redes sociais, programas de televisão e rádio e material didático impresso entregue aos
responsáveis. (MALETTA; FERREIRA; TOMÁS, 2020, p. 9).
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Diante do verdadeiro apagão educacional em que se encontra o processo de


escolarização do corpo de alunado nesse período, o chamado ensino remoto se coloca como uma
das alternativas viáveis para o desenvolvimento das atividades escolares. Em contrapartida, a
idealização de uma educação realizada através de meios virtuais apresenta ainda muitas
limitações, tendo em vista que toda a estrutura e rede de atendimento que as escolas possuem não
abrange toda a sua demanda, situação essa que coaduna com as diversas realidades do alunado
em todo país, principalmente nas regiões longínquas (PALUDO, 2020), evidenciando aí o que se
pode identificar como um dos sinais do áridopotente que utilizamos enquanto expressão do
cotidiano desafiador da Educação nesse cenário.
Nesse contexto, o fazer pedagógico dos professores teve de ser repensado e adequado a
fim de garantir a permanecia do funcionamento das escolas, que estavam impossibilitadas de
realizar suas atividades devido a necessidade do isolamento social, além de se pensar em uma
continuidade do processo de ensino e aprendizagem que é o objetivo fundamental da trajetória
escolar. Consoante a esse pensamento, veremos que a “[...] seleção de conteúdos permite certa
flexibilidade para se adequar as propostas pedagógicas ao perfil de cada grupo, considerando a
região, a cultura, a faixa etária [...]” (MENDES, 2020, p. 100), considerando que o ensino
remoto se dá por meios virtuais e exige do profissional docente uma adequação de seus materiais
de ensino.
Consoante a essa perspectiva, percebe-se que de forma análoga a Educação a Distância
(EAD), o Ensino Remoto também expressa um interesse de determinados grupos que pressionam
o setor público de Educação para uma gestão empresarial, com uma inserção de dispositivos
tecnológicos cada vez mais constante no âmbito educacional. Neste aspecto, o trabalho docente e
a vida educacional de estudantes estão perpassadas por transformações não apenas nas questões
no formato dos procedimentos pedagógicos, mas ainda em questões de sentidos, funções,
currículo e financiamento, essencialmente por interferências externas (MACHADO; SANCHES,
2022), entendendo que:
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[...] com a pandemia da Covid-19 a prática docente e curricular se transformou,


colocando a escola e o professor diante de interferências cada vez mais evidentes, com a
presença capitalista a partir da revenda não apenas de insumos tecnológicos e digitais
para o ensino remoto, mas também a partir de pacotes pedagógicos prontos, planos de
aula e sequencias didáticas para o modelo virtual, traduzidas como benefícios e
facilidades do mundo globalizado. (MACHADO, 2022, s. n.).

De acordo com Lima e Castro (2020), a pandemia e o isolamento social transformaram


“o percurso escolar dos alunos, a qualidade da educação escolar pública e o trabalho dos
professores. [...]” (p. 40). Entende-se, nesse viés, que o Ensino Remoto passa a se configurar
como solução para o problema mais imediato, a suspensão das atividades presenciais, o avanço
da tecnologia como solução para as lacunas que a Educação.

[...] a Educação passou ser caraterizada pela ausência de contato, pelos clicks e links de
salas virtuais pelas quais os professores desenvolviam as aulas, tendo a noção que com
o ensino remoto os alunos podem gerenciar seus estudos, guiados pela inovação de
ferramentas tecnológicas. [...] (MACHADO, 2022, s. n.).

Para atender as demandas que se colocam dessas circunstâncias, os professores e alunos


são os que mais sentem o impacto de novo contexto, em que se vê em primeira instância a
comunicação e as relações sociais estabelecidas no convívio diário no âmbito escolar sendo
transformadas e colocada para o ciberespaço, bem como na interferência do processo de ensino e
aprendizagem que se estabelecia nesse contato com o professor, ocasionando uma mudança de
comportamento do profissional da educação. As atividades escolares desenvolvidas por meios
virtuais se dão “sem o encontro e o contato físico, intelectual e emocional com colegas e
professores” (LIMA; CASTRO, 2020, p. 41).

Conclusões
Apresentamos nesse texto o entendimento de que o cenário pandêmico que o Covid-19
trouxe transformações demasiadas para o sistema educacional brasileiro, fragilizado por questões
de planejamento, financiamento e organização antes do período de pandemia, trazendo limites
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para a atuação docente por meio do ensino remoto enquanto uma modalidade viável para a
educação na rede pública de ensino.
Com o ERE, as práticas presenciais se caracterizam como ineficaz e mentalmente
desgastante pelos elementos discutidos nessa pesquisa, entendo que a utilização de dispositivos
tecnológicos apesar de auxiliar no desenvolvimento da prática docente, não é a solução para
todos os problemas, tão pouco a única forma viável, como pregam os empresários do setor
privado, haja visto que as atividades desenvolvidas pelos professores durante esse período
condizem muito mais com a realidade concreta do que com orientações de instituições casteladas
que não conhecem o chão da escola e dos desafios enfrentados pelos professores.

Referências bibliográficas

LIMA, Elizabeth Miranda de; CASTRO, Franciana Carneiro de. Aulas remotas e condição
docente: entre cliques e telas ou como manter as ‘normalidades’ pedagógicas em tempos de
pandemia. In: PESSOA, Valda Fontenele; ÁUSTRIA, Rodrigues Brito; JESUS, Carlos Renato
de (org.). Linguagem, ensino e interculturalidade. – Rio Branco: Nepan Editora, 2020.

MACHADDO, Diego Correia. O Ensino de História na pandemia em solo acreano: digressões


sobre o cotidiano de professores e os desafios da profissão em tempos torpes. In: Anais
Eletrônicos do XIV Encontro Estadual de História da ANPUH-PE: "Fome, Direitos
Humanos e Democracia". ISBN: 978-65-999003-0-3. Disponível em:
https://www.encontro2022.pe.anpuh.org/resources/anais/21/anpuh-pe-
eeh2022/1664765902_ARQUIVO_8ef95d6228951b67e0fcd65b744781b1.pdf. Acesso em: 05
jan. 2023.

MACHADO, Diego Correia; SANCHES, Williane da Silveira Sousa. Educação e capitalismo: a


comercialização escolar durante a pandemia do Covid-19. In: Anais do X Seminário Nacional
EDUCA PPGE/UNIR. Porto Velho (RO) UNIR, 2022. Disponível em:
https//www.even3.com.br/anais/XSEMINARIOEDUCA/458417-EDUCACAO-
ECAPITALISMO--A-COMERCIALIZACAO-ESCOLAR-DURANTE-A-PANDEMIA-DO-
COVID-19. Acesso em: 01/09/2022.

SILVA, Leandro Gomes da; ROCHA, José Damião Trindade. Formação docente: o uso da
tecnologia educacional independente na educação básica. Revista Humanidades e Inovação,
v.6, n.8 – 2019.
I Simpósio Internacional Multidisciplinar das Humanidades
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SOUZA, Elmara Pereira de. Educação em tempos de pandemia: desafios e possibilidades.


Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas, Vitória da Conquista/BA, ano XVII vol. 17, nº 30,
págs. 110-118, jul./dez. 2020.

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