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DA

EDUCAÇÃO
HÍBRIDA
Saberes essenciais
para todo professor

Renato Casagrande
Ronaldo Casagrande
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 3
2. A EDUCAÇÃO HÍBRIDA.......................................................................... 9
3. OS GRANDES DESAFIOS NA IMPLANTAÇÃO
DO HIBRIDISMO NA EDUCAÇÃO............................................................ 13
3.1 O estabelecimento de metodologias apropriadas.................. 15
3.2 A escolha das tecnologias.......................................................... 17
3.3 O engajamento dos pais............................................................. 19
3.4 O comprometimento dos professores..................................... 21
3.5 A motivação dos alunos............................................................. 23
4. SOBRE AS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA EDUCAÇÃO....................... 25
5. METODOLOGIAS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA
UMA NOVA EDUCAÇÃO.......................................................................... 30
5.1 O método tradicional................................................................. 32
5.2 Metodologias ativas................................................................... 35
6. AULAS E ATIVIDADES SÍNCRONAS E ASSÍNCRONAS..................... 37
7. DEZ MODELOS DE EDUCAÇÃO HÍBRIDA-REMOTA......................... 42
a. Modelo Remoto Elementar.......................................................... 44
b. Modelo Remoto Síncrono............................................................ 45
c. Modelo Remoto Assíncrono......................................................... 46
d. Modelo Remoto Misto.................................................................. 47
e. Modelo Híbrido Síncrono............................................................. 48
f. Modelo Híbrido Assíncrono.......................................................... 50
g. Modelo Híbrido Replicado............................................................ 51
h. Modelo Híbrido de Suporte.......................................................... 52
i. Modelo Híbrido Segmentado........................................................ 53
j. Modelo Híbrido Pleno.................................................................... 54
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 56
9. REFERÊNCIAS......................................................................................... 57
1. INTRODUÇÃO

Até pouco tempo atrás, as escolas e os educadores viviam em um


mundo no qual talvez ainda fosse possível postergar as mudan-
ças na Educação ou realizá-las muito lentamente. Sempre adian-
do a mudança para o amanhã, a escola mantinha praticamente
todos os seus padrões tradicionais. Havia muita dificuldade para
a Escola sair do padrão concebido e estruturado por ocasião da
Revolução Industrial da segunda metade do século XVIII e até cos-
tumávamos dizer que tínhamos uma escola com práticas do
século XIX, com um professor do século XX, ensinando alunos do
século XXI. Então, veio a pandemia: em 2020, nossas vidas vira-
ram de ponta cabeça; a escola dormiu de uma forma e acordou
de outra!

A pandemia resultante do SARS-CoV-2, o Coronavírus 2, provocou


uma ruptura no modus operandi (modo de fazer) das escolas de
todo o mundo, uma vez que esse novo vírus ocasionou uma mu-
dança drástica em nossas rotinas, assim como nas rotinas das
nossas escolas. A educação foi fortemente impactada: muitos
alunos ficaram sem acesso a esse direito constitucional durante
todo o ano de 2020; outros o tiveram, mas de forma precária; so-
mente poucos tiveram uma educação adequada. O fato é que
quase a totalidade das escolas de Educação Básica brasileira não
estava preparada para trabalhar de forma remota, especialmente
usando tecnologias digitais para tal.

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Os professores nunca realizaram tantas participações e experi-
mentações em programas de formação continuada, favorecidas
pela ampla disseminação on-line que tem acontecido e, ao longo
de 2020, muitos professores avançaram significativamente na uti-
lização e no manuseio de tecnologias digitais de apoio ao proces-
so de aprendizagem dos alunos. O Instituto Casagrande, por
exemplo, promoveu formação para mais de 150 mil educadores
brasileiros e do exterior.

Infelizmente, porém, é evidente que a pandemia ocasionará um


retrocesso na aprendizagem dos alunos, pois muitas escolas bra-
sileiras ficaram estagnadas em 2020, não promoveram atividades
pedagógicas para seus alunos e perderam valiosas oportunidades
para experimentar, errar e aprender, utilizando somente o ano de
2021 para tal...

Esse retrocesso educacional não se restringirá somente ao nosso


país: segundo estimativa do Banco Mundial, publicada, no final de
2020, pela Fundação Getúlio Vargas, a pandemia pode levar a
uma redução global de 16 pontos da proficiência média na escala
do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), teste da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). Isso equivale à quase meio ano escolar de aprendizado,
considerando-se os alunos dos países participantes da avaliação.
Portanto, a desigualdade no aprendizado deve aumentar.

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Por outro lado, muita aprendizagem ocorreu no inesquecível ano
de 2020. Professores se transformaram! Os docentes começaram
a perceber, com mais propriedade, as contribuições fantásticas
das tecnologias para a educação, assim como para praticamente
todos os setores da sociedade. Muitos relatam que, avessos às
tecnologias, eram refratários a qualquer experimentação nesse
sentido antes da pandemia. Por causa dela, contudo, entenderam
como as ferramentas tecnológicas podem auxiliar o processo de
aprendizagem dos seus alunos e facilitar as suas rotinas diárias.

Entre várias possibilidades, os professores passaram a utilizar mo-


tores de busca inteligentes, a partir de comandos verbais, que uti-
lizam a comunicação natural e a tradução multilíngue simultânea;
em suas aulas, também passaram a utilizar textos com hyperlinks,
o que tem permitido que seus alunos se desloquem para outros
pontos a qualquer momento, para terem contato imediato com
informações complementares diversas; a partir do uso de áudios
e vídeos, as aulas se tornaram mais atraentes, permitindo que os
programas e materiais acessados possam, inclusive, ser baixados
e editados, de acordo com as necessidades de cada aluno ou pro-
fessor.

É importante, portanto, que coloquemos na balança os malefícios


que a pandemia trouxe ao segmento educacional, mas manter-
mos o foco também nos benefícios que vieram junto com as
novas demandas. Pode ser que esteja sendo dado um passo para
trás neste momento, para que posteriormente avancemos dois...
Isso, somente o tempo nos dirá!

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Outro fator que se impôs com a crise do Coronavírus 2 foi a mu-
dança do papel do aluno que, de sujeito passivo, passou a sujeito
ativo. Um dos modelos de aula remota mais bem-sucedidos é
aquele que combina as atividades síncronas dos professores (ao
vivo) com atividades assíncronas (aulas gravadas, indicações de
vídeos, textos, músicas e outros recursos, desenvolvimento de
projetos por parte dos alunos, inclusive em cooperação com
outros colegas, por meio das novas tecnologias de comunicação e
com o seu auxílio. Essas atividades assíncronas exigem do aluno
maior disciplina e protagonismo na aprendizagem, o que é outra
grande mudança na forma de se fazer educação.

Essa mudança no protagonismo traz resultados positivos, confor-


me relatam estudos realizados pelo pesquisador Scott Freeman e
um grupo de professores da Universidade de Washington, publi-
cados em março de 2020. Eles revelaram que as abordagens de
ensino que transformam os alunos em participantes ativos, ao
invés de mantê-los apenas como ouvintes, reduzem consideravel-
mente as taxas de reprovação, resultado de uma aprendizagem
mais efetiva.

Sem dúvida, 2020 foi um ano com muitas aprendizagens que fica-
rão marcadas na história; em 2021, porém, novos desafios se
apresentam. Se, no ano de 2020, a tônica foi o Ensino Remoto
Emergencial, em 2021, o foco passa a ser em Educação Híbrida,
na qual parte do processo de ensino e aprendizagem ocorre pre-
sencialmente nas escolas e parte acontece de forma remota,
como aconteceu em 2020.

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Em razão desse cenário, o ABC DA EDUCAÇÃO HÍBRIDA: saberes es-
senciais para todo professor foi preparado com o objetivo principal
de discutir fundamentos, conceitos e aspectos básicos que norteiam
a Educação Híbrida, bem como fornecer subsídios aos educadores –
sejam eles professores ou gestores educacionais – para a implanta-
ção dessa nova forma de se fazer educação.

O livro apresenta dez diferentes modelos de Educação Remota-Híbri-


da, que podem ser implantados nas escolas e em sistemas de ensino,
especialmente neste momento de Educação Híbrida Emergencial, em
que nem todos os alunos podem estar presentes nas escolas ao
mesmo tempo.

Antes de nos aprofundarmos no tema Educação Híbrida, é importan-


te conhecermos bem os conceitos e definições de três expressões re-
lacionadas com educação, cuja incompreensão tem causado confu-
são, tanto nas escolas quanto em universidades. São elas: Educação a
Distância, Ensino Remoto e Educação Híbrida. Vale a pena destacar
que, dependendo de quem os aborda, esses conceitos são compre-
endidos de modo diferente, não têm definições únicas e que, aqui,
são apresentadas as definições mais comumente aceitas pelas diver-
sas entidades educacionais.

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A Educação a Distância (EAD) é regulada por legislação específica. Atu-
almente, pode ser implantada na Educação de Jovens e Adultos (EJA),
na Educação Profissional Técnica de Nível Médio e em Educação Su-
perior. A definição de EAD elaborada pelo Ministério da Educação
(MEC) caracteriza a EAD como a modalidade educacional em que
alunos e professores ficam física ou temporalmente separados e na
qual faz-se necessária a utilização de tecnologias de informação e co-
municação para que o ensino ocorra. No Brasil, a Educação a Distân-
cia é, portanto, regulada e, além de se tratar de uma modalidade re-
gulamentada de ensino, difere do Ensino Remoto, pois contempla um
desenho instrucional consistente e implantação planejada.

O Ensino Remoto Emergencial, por sua vez, é uma modalidade menos


estruturada e sistematizada, recurso normalmente empregado em si-
tuações de catástrofe. Seu objetivo principal é dar continuidade às ati-
vidades educativas em momentos conturbados (guerras, pandemias,
desastres naturais etc.), ainda que de forma menos eficiente. Na
maioria das vezes, são utilizados métodos mais simples para a sua
execução, tais como a distribuição de material impresso aos alunos, a
disponibilização de videoaulas dos próprios professores ou dadas por
terceiros e a realização de aulas em plataformas improvisadas, com
transmissão em canais fechados de TV, rádio e/ou Internet.

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Em síntese, o Ensino Remoto utiliza soluções educacionais – com uso
de tecnologias digitais ou não – para o ensino que, em situação
normal, teria sido realizado presencialmente. Portanto, não se trata
de uma nova modalidade de ensino, mas, sim, de uma ação de cará-
ter emergencial, para a qual não existe legislação regulamentadora.

Quanto à Educação Híbrida, essa não apresenta uma definição sim-


ples e direta. Hoje, encontramos diversas definições para essa
expressão, seja com base no senso comum, na definição literal do
termo (mistura de tempos, espaços ou recursos na aprendizagem) ou
fundamentadas em estudos e pesquisas que colocam o estudante no
centro do processo, para que ele assuma o protagonismo de sua
aprendizagem, conforme discutiremos a seguir.

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2. A EDUCAÇÃO HÍBRIDA

Sinteticamente, pode-se definir Educação Híbrida como uma


modalidade que mescla o melhor das atividades de aprendizagem
on-line, que usam tecnologias digitais, com o melhor das atividades
off-line, que não fazem uso dessas mesmas tecnologias.

A Educação Híbrida também pode ser definida como uma forma


de educação que combina momentos presenciais, no ambiente
escolar, com momentos não presenciais, nos quais o aluno realiza
seus estudos em outros locais que não sejam a escola. Como a
Educação Híbrida está relacionada à mistura de elementos – o
aluno terá momentos em que estudará sozinho e outros, seja por
meio virtual ou presencial, em que estará com os seus colegas –, a
modalidade é conhecida como blended learning, em língua inglesa.

Quando nos referimos à Educação Híbrida como uma junção do


presencial com o não presencial, é comum que a parte não presen-
cial necessite de recursos digitais que auxiliem os processos de
aprendizagem dos alunos. Nessa situação, os estudantes têm mais
autonomia na realização das suas atividades, podendo escolher
quando, onde e como irão estudar. Já nas aulas presenciais, o
professor conduz as atividades e as interações entre os alunos.

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Sendo assim, a Educação Híbrida pode ser compreendida como
um programa educacional formal, no qual os alunos aprendem
por meio do ensino não presencial (on-line) – com algum elemento
de controle do próprio estudante sobre o tempo, o lugar, o cami-
nho e/ou o ritmo – e, também, por meio do ensino presencial, em
um local físico supervisionado, preferencialmente na escola. Para
fornecerem uma experiência de aprendizagem integrada, as duas
modalidades devem estar conectadas.

O modelo da escola tradicional está calcado na limitada dimensão


do ensino e da aprendizagem que se dão em local (sala de aula) e
horário (tempo da aula) definidos. Mas isso não retrata a realida-
de da era digital que vivemos! Já o modelo híbrido defende a ideia
de que professores e estudantes podem ensinar e aprender em
diversos momentos e locais e de formas variadas. Assim, rompe-
-se a dimensão espaço-tempo da escola tradicional.

O rompimento da dimensão espaço-tempo na educação, propor-


cionado pelas tecnologias digitais, ainda não chegou na Educação
Básica. No entanto, na medida em que, no início da pandemia do
Coronavírus-2, o ensino remoto foi implantado, a possibilidade de
ocorrer essa ruptura começou a dar sinais de vida. Todavia, a falta
de metodologias apropriadas para isso, além do despreparo das
escolas e dos professores para lidar com essa nova realidade, da
falta de ‘cultura da autonomia’ dos alunos e da dificuldade no
acesso às tecnologias foram alguns dos empecilhos que impedi-
ram haver um êxito maior do Ensino Remoto. Mas, com certeza,
isso será superado!

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A seguir, apresentamos, então, dez itens que auxiliam a concepção
de um projeto de Educação Híbrida:

1. Deve-se possibilitar que cada aluno tenha um processo de


aprendizagem que leve em conta as suas necessidades, aspirações,
características pessoais e cultura, assim como os seus interesses e
conhecimentos prévios, sendo considerados, também, a sua indivi-
dualidade, o seu ritmo e a sua forma de aprender;

2. Em uma sociedade predominantemente heterogênea, que tem


uma ampla oferta de recursos à sua disposição, existem inúmeras
formas de aprender e ensinar;

3. Para que haja mudança na cultura escolar, é fundamental consi-


derar o papel do professor, a valorização da autonomia do aluno, a
organização do espaço escolar, as novas formas de avaliação e
haver envolvimento da gestão da escola;

4. As tecnologias digitais, quando bem empregadas, permitem a


personalização do aprendizado, gerando motivação e o benefício
da maximização do aprendizado;

5. A ação docente é essencial na organização e no direcionamento


da proposta pedagógica, sendo que o professor deve assumir os
papeis de articulador e de coach, para atender as demandas reais
da sala de aula;

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6. Os espaços de aprendizagem precisam ser organizados e adap-
tados com o objetivo de atender às reais necessidades dos alunos
e podem ser ampliados por meio das tecnologias digitais, possibili-
tando vivências compartilhadas;

7. A avaliação é um ponto nevrálgico, que deve ser repensado, uma


vez que é ela que possibilita a identificação do caminho a seguir e
é, a partir dela, que as ações pedagógicas devem ser planejadas;

8. Como as tecnologias digitais podem ser fortes aliadas dos


professores no processo de aprendizagem dos alunos, elas não
devem ser vistas como concorrentes nesse processo;

9. Os gestores devem refletir sobre a importância de um projeto


político pedagógico que contemple o uso das tecnologias digitais,
não como fins em si mesmas, mas amparadas pela metodologia
adequada;

10. Todos os atores envolvidos no processo educacional devem


refletir sobre a cultura escolar na era da educação digital e as
diferenças entre modelos sustentados e disruptivos de implemen-
tação de tecnologias digitais, procurando ressignificar a cultura
escolar arraigada no tradicionalismo.

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3. OS GRANDES DESAFIOS NA
IMPLANTAÇÃO DO HIBRIDISMO
NA EDUCAÇÃO

Não podemos imaginar a implantação da Educação Híbrida


somente para este momento de exceção em que vivemos,
quando a COVID-19 exige que haja um número limitado de alunos
em sala de aula, em virtude do distanciamento físico exigido.
Devemos pensar nessa modalidade educacional como recurso
para após a pandemia também, pois a aprendizagem se dará
tanto em momentos nos quais todos os alunos realizarão os seus
estudos juntos na sala de aula física, com o auxílio do professor,
quanto em outros momentos nos quais os alunos estarão fora da
escola e continuarão suas aprendizagens, normalmente contando
com o apoio de ferramentas digitais nos processos.

Logo, precisamos nos debruçar sobre uma educação que trans-


cenda o momento e o espaço do ambiente escolar, que passe a
fazer uso de tecnologias digitais como recursos que vêm para
auxiliar e melhorar o processo educacional e que passe a ser
efetivamente híbrida. No entanto, a implantação da Educação
Híbrida não é algo simples e requer um empenho muito grande
por parte dos professores e gestores educacionais para a sua
correta implementação.

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Como já mencionado, a implantação dessa nova educação é comple-
xa e traz consigo os maiores desafios. Entre eles, elencamos os cinco
grandes desafios impostos a professores e gestores educacionais,
que julgamos muito importantes neste momento. São eles:
• O estabelecimento de metodologias apropriadas;
• A escolha das tecnologias;
• O engajamento dos pais;
• O comprometimento dos professores;
• A motivação dos alunos.

A seguir, detalharemos cada um desses itens desafiadores, os ques-


tionamentos que levantam e suas possíveis soluções:

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3.1 O estabelecimento de
metodologias apropriadas

É importante salientar que as metodologias utilizadas na educa-


ção tradicional não devem ser simplesmente transportadas para
a Educação Híbrida. Afinal, uma metodologia utilizada com suces-
so em uma aula presencial não garante o mesmo sucesso em
uma aula remota ou trabalhada de forma assíncrona. Sendo
assim, um dos grandes desafios da implantação do hibridismo na
educação é a escolha ou definição das metodologias a serem
utilizadas na educação híbrida.

Quando pensamos nesses aspectos metodológicos, várias ques-


tões devem ser analisadas: O que deve ser contemplado e de que
forma serão trabalhados os conteúdos, tanto no presencial quanto
remotamente? Adota-se uma metodologia única para toda a escola
ou trabalha-se com metodologias diferentes em função das idades
dos alunos? Nos momentos não presenciais, trabalha-se com o
mesmo material utilizado nas aulas presenciais ou adota-se um novo
material didático? Que tecnologias darão suporte à implantação da
metodologia?

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Essas são apenas algumas das perguntas que precisam ser
respondidas pelas escolas na construção da metodologia ou de
metodologias a serem implantadas na Educação Híbrida.

Um outro aspecto a ser considerado é que, independentemente


da metodologia que venha a ser implantada, ela deve considerar
o protagonismo do aluno, o que discutiremos, com mais profun-
didade, posteriormente.

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3.2 A escolha das tecnologias

Sabemos que as tecnologias digitais funcionam como vetores no


processo de ensino e aprendizagem por Educação Híbrida, espe-
cialmente nos momentos não presenciais. Sem elas, esse proces-
so torna-se muito mais difícil, se não impraticável.

Hoje, o mercado oferece centenas de boas soluções tecnológicas


para uso em educação, mas a escola deverá avaliar no mínimo
dois aspectos no momento da escolha das tecnologias: aderência
e simplicidade de operação.

O primeiro aspecto diz respeito à aderência das tecnologias ao


projeto pedagógico da escola. Isso quer dizer que a escolha das
tecnologias digitais deve ser feita com base no projeto da escola,
ou seja, as tecnologias devem refletir o projeto pedagógico e
dar-lhe suporte. Se o projeto pedagógico de uma escola visa a
desenvolver a liderança dos alunos, por exemplo, tanto as meto-
dologias utilizadas na Educação Híbrida quanto as tecnologias
digitais de apoio devem garantir isso.

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O segundo aspecto diz respeito à simplicidade. Devemos nos
lembrar que essa temática é novidade na área educacional.
Sendo assim, de nada adianta a implantação de soluções tecno-
lógicas encantadoras e completas se os professores e os pais
tiverem dificuldade de manuseá-las. Portanto, a simplicidade
no uso de tais ferramentas é requisito essencial no seu proces-
so de escolha. Em vista disso, muitos especialistas recomendam
que a etapa inicial da incorporação de tecnologias seja a esco-
lha pelas que já sejam usadas no cotidiano de pais e professo-
res, como YouTube, WhatsApp e outras ferramentas populares. À
medida que o processo for amadurecendo, novas soluções
tecnológicas podem ser incorporadas.

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3.3 O engajamento dos pais

Quando se fala em Educação Híbrida, a escola precisa ter os pais


como seus fortes aliados. Todos sabemos da grande importância
do comprometimento deles com o processo de aprendizagem de
seus filhos e, se isso já é evidente no ensino tradicional, no qual o
processo de aprendizagem se dá quase totalmente no ambiente
escolar, imagine na Educação Híbrida, em que parte do aprendiza-
do dos alunos se dará em suas casas! Sem o apoio incondicional
dos pais, não há metodologia ou tecnologia que dê conta!

Isso posto, as escolas que são mais próximas dos pais e mantêm
relacionamento aberto e franco com as famílias levam vantagem
nesse quesito, pois ter os pais como parceiros no processo educa-
cional é fundamental para o êxito do hibridismo. Aqui, ressalta-
mos que a importância dessa parceria é inversamente proporcio-
nal à idade dos alunos: quanto mais novos eles são, maior será a
relevância dos pais nesse processo. Logo, as escolas de Educação
Infantil e as que oferecem os anos iniciais do Ensino Fundamental
precisam ter apoio incondicional dos pais para obterem êxito
nessa nova educação.

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Assim sendo, a escola precisa ter um canal de comunicação com
pais, que seja permanente e eficaz, para que o sistema seja cons-
tantemente retroalimentado com críticas e sugestões sobre o
método de ensino, de forma que os erros possam ser ajustados e
corrigidos rapidamente.

Também devemos nos lembrar que, diante da inexperiência das


escolas com a Educação Híbrida, é inevitável que as metodologias
implantadas precisem ser constantemente ajustadas e, quanto
mais rápido esses ajustes de rota ocorrerem, melhor será para
todos!

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3.4 O comprometimento dos
professores

Sabemos que os professores são peças-chave para o sucesso ou o


fracasso da implantação da Educação Híbrida. Portanto, de nada
adianta ter uma metodologia eficaz, tecnologias adequadas e pais
comprometidos se os professores não fizerem a sua parte. Eles
precisam ser verdadeiros heróis nesse momento de transição,
pois enfrentarão expressivos desafios, dos quais destacamos três:

• O primeiro deles está diretamente relacionado ao uso das novas


tecnologias digitais. Todos nós sabemos que o setor educacional,
especialmente o de nível básico, tem sido bastante resistente à
incorporação de tecnologias digitais e tido problemas para lidar
com elas nos processos de ensino. No entanto, um dos grandes
pilares do hibridismo é exatamente o uso adequado de tecnolo-
gias como suporte à aprendizagem!

• O segundo desafio está relacionado ao tempo de planejamento.


Planejar aulas na Educação Híbrida dá muito mais trabalho do
que planejar aulas presenciais. Na Educação Híbrida, o professor
precisa fazer um planejamento muito mais amplo, que leve em
consideração o que será trabalhado e como serão os momentos
presenciais, assim como os não presenciais. Algumas das pergun-
tas que precisam ser respondidas nesse planejamento são: Que
metodologia utilizar para cada momento? Que tecnologias de suporte
utilizar para os momentos não presenciais? Como avaliar?

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• Um terceiro desafio imposto aos professores tem a ver com a
sua exposição. Dentro da sua sala de aula, o professor é soberano
e, ao fechar a porta da sua sala e ficar diante de uma plateia
pouco crítica, ele se torna pleno. Na Educação Híbrida, no entan-
to, os professores não estão em contato somente com os alunos,
mas são expostos aos familiares deles também. E, como os pais
também passam a estar mais presentes na aprendizagem de seus
filhos, os professores são constantemente julgados.

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3.5 A motivação dos alunos

Outro grande desafio que as escolas devem enfrentar na educação


híbrida diz respeito à motivação do aluno. Sabemos que, há anos, a
Escola vem discutindo estratégias para tornar o aluno protagonista
dos processos de ensino e aprendizagem. Aos poucos, especial-
mente nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio,
o aluno começou a perceber a escola como algo ultrapassado e
desconectado de sua realidade.

Com a implantação da Educação Híbrida, esse problema se acen-


tua, pois, agora, o aluno deve assumir um protagonismo maior em
seu processo de aprendizagem, especialmente nas atividades não
presenciais. Nesses momentos, a educação concorre diretamente
com jogos eletrônicos, séries de TV, desenhos animados e outros
recursos que normalmente estão à disposição nas casas dos estu-
dantes. E surge, então, a pergunta: Como prender a atenção das
crianças e adolescentes quando eles não estão sob a fiscalização ou
supervisão de um adulto?

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A resposta é suficientemente rica para se tornar tema de uma
publicação específica, mas podemos adiantar que o excesso de
cobrança por alto desempenho tem influência negativa na
atenção dos estudantes e que exercícios típicos da mesmice
das velhas aulas expositivas favorecem a sua falta de foco.

Para que nossos alunos se engajem no estudo sozinhos,


primeiramente eles precisam aprender a aprender e, a partir
daí, desenvolver sua autonomia. Além disso, atividades dinâmi-
cas – que unam a teoria à prática, que instiguem a criatividade
e o desenvolvimento de ideias – podem ajudar bastante. É
preciso que nos reinventemos e que, juntamente com a parce-
ria entre escola e família (quando for possível), seja criada uma
rotina de estudos, a ser incentivada por meio de estratégias,
como projetos, mapas mentais e gamificação de conteúdo, que
garantam curiosidade, desafio, escolhas e interação, alimentos
essenciais para a aprendizagem.

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4. SOBRE AS TECNOLOGIAS
DIGITAIS NA EDUCAÇÃO

Quando se fala em Educação Híbrida, a expressão ‘tecnologias


digitais’ vem inevitavelmente à tona. E por que isso ocorre? Primeira-
mente, porque uma das definições dessa modalidade de ensino a
descreve como a junção da educação on-line (que faz uso de tecnolo-
gias digitais) com a off-line, trazendo consigo as tecnologias, um dos
componentes originais do hibridismo.

Em outra definição de hibridismo, que menciona a unificação de


momentos presenciais com não presenciais, as tecnologias digitais
têm papel relevante, especialmente nos momentos não presenciais.
O processo de aprendizagem que deve ocorrer nos momentos não
presenciais é facilitado quando se faz uso dessas tecnologias, mas
um dos aspectos principais da interconexão de hibridismo na educa-
ção com as tecnologias digitais diz respeito ao seu papel na socieda-
de atual.

A revolução digital, que teve início na década de 80 e se acentuou


com a pandemia, deu origem ao mundo conectado que vivemos
hoje. Essa revolução provocou uma mudança radical em nossas
vidas, em nossos costumes e em nossa sociedade. Ao longo dos
últimos anos, fomos migrando do mundo físico, tangível e concreto,
para um novo mundo, digital e imaterial, com o qual o aluno que
hoje frequenta as nossas escolas, que é um nativo digital já imerso
nessa cultura, está habituado.

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O mundo mudou e a nova geração pensa e age de acordo com os
novos padrões, enxergando o mundo com outras lentes. O aluno de
hoje assiste às aulas passivamente, mas, fora do ambiente escolar,
vive em um mundo conectado, de múltiplas experiências e sensações.
É para esse aluno, que clama por uma mudança na escola, que a
Educação Híbrida, que incorpora tecnologias digitais em seu processo,
faz todo sentido.

No entanto, é óbvio que as tecnologias não devem ser incorporadas à


Educação Híbrida somente por falarem a linguagem da criança e do
jovem atual, apesar de ficar evidente que isso, por si só, já justificaria
seu uso. Como as tecnologias possibilitam maior engajamento dos
alunos, elas podem auxiliar – e muito – o processo de aprendizagem
dos alunos.

Como exemplo, tomemos o processo de aprendizagem dos estudan-


tes em relação à dinâmica do Sistema Solar: sem o uso das tecnologias
digitais, o professor tem mais dificuldade de fazer com que os alunos
compreendam como esse sistema funciona, quais as diferenças de
proporção e velocidade dos astros e outros aspectos. Com o uso das
tecnologias digitais, os alunos podem realizar ‘viagens espaciais’, como
se realmente visitassem planetas, conhecessem suas luas, analisas-
sem suas rotas etc. As tecnologias podem auxiliar bastante nesse
processo, por possibilitarem que o aluno vivencie o aprendizado.

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Outro elemento para o qual as tecnologias digitais são muito impor-
tantes no hibridismo é a personalização da aprendizagem, um dos
grandes motes em Educação Híbrida. As tecnologias digitais são
utilizadas na criação de plataformas adaptativas, que são softwares
criados com o objetivo de lidar com as especificidades de cada
aluno, reconhecer o que, quando e como cada aluno aprende
melhor e, assim, melhorar o aprendizado individual.

Quando se fala em tecnologias digitais em educação, um dos


primeiros itens levantados refere-se ao acesso do aluno a essas
tecnologias, em especial no caso dos alunos mais carentes, geral-
mente estudantes das escolas públicas. Esse é um problema sério,
que realmente existe e para o qual não podemos fechar os olhos.

No contexto do acesso às tecnologias digitais, há dois aspectos a


serem considerados: o primeiro deles está relacionado com a posse
de dispositivos eletrônicos (computadores, celulares e tablets); o
segundo, é o acesso à internet, visto como o maior problema que
temos hoje.

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Apesar de muitos alunos não terem computadores em suas casas,
esse problema é mais fácil de ser resolvido rapidamente, por meio de
políticas governamentais que, por exemplo, facilitem a compra de
notebooks por/para alunos.

Outro dispositivo de grande utilidade na modalidade híbrida são os


smartphones, problema em grande parte já solucionado. De acordo
com estudo da Agência Nacional de Telecomunicação (Anatel), havia
226 milhões de celulares em operação no último trimestre de 2019,
ou seja, mais aparelhos celulares do que brasileiros. Portanto, a
questão de possuir um dispositivo móvel tem uma solução mais
simples.

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O acesso à Internet, no entanto, é o maior problema a ser enfrentado.
Contudo, quando projetamos o acesso para os próximos anos, nem
mesmo esse aspecto é tão preocupante assim. O Gráfico 1, a seguir,
mostra o crescimento de usuários de Internet no Brasil entre os anos de
2008 a 2019. Se essa tendência se mantiver (o que, acreditamos, pode
até aumentar em função da pandemia), dentro de poucos anos tere-
mos mais de 90% da população brasileira com acesso à rede mundial
de computadores. Sendo assim, ainda que o problema de acesso à
tecnologia exista, ele provavelmente será superado nos próximos anos.

Gráfico 1 – Acesso à Internet pela população brasileira.


Fonte: CETIC-BR (2019).

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5. METODOLOGIAS E PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS PARA UMA NOVA
EDUCAÇÃO

Quando se fala em Educação Híbrida, é importante discutir as


metodologias e as práticas pedagógicas e, nesse processo, é
necessário pensar sobre as velhas e as novas fórmulas de apre-
sentar e construir antigos e novos saberes. Tradição e inovação
não excluem uma à outra, mas dialogam entre si. Na busca de
uma educação que gere mais entusiasmo, faça mais sentido e se
encaixe no hibridismo, o professor deve assumir o compromisso
de promover tal diálogo incansavelmente.

É preciso ter em mente, no entanto, que a melhor metodologia,


técnica ou prática pedagógica será sempre aquela que puder nos
conduzir aos nossos objetivos. As propostas educacionais que
apresentam o conhecimento como um conteúdo pronto, cristali-
zado e, sob certo aspecto, morto, têm maiores chances de sufocar
a chama de curiosidade do aluno e a construção de um saber vivo
e pulsante.

Com a popularização das novas tecnologias, houve necessidade


de mudar os processos e os modos de ensino e aprendizado.
Praticamente todas as escolas estão tendo que se adaptar a essas
novas realidades, introduzir suportes tecnológicos diferenciados e
conquistar a atenção e o interesse dos alunos, o que tende a se
acentuar com a implantação da Educação Híbrida.

31
Alinhadas a estes novos tempos, estão surgindo novas metodolo-
gias de ensino e aprendizado. Contudo, alguns professores
apresentam grande dificuldade em definir e selecionar quais
métodos utilizar para que os estudantes obtenham melhores
resultados de aprendizagem.

Vale reforçar que alunos não aprendem da mesma maneira:


dependendo da disciplina, do conteúdo ou da atividade, as
metodologias não funcionam da mesma forma, o que dá certo
em uma turma, às vezes, não dá certo em outra e o que funciona
com um estudante pode não funcionar tão bem assim com o
outro. Tudo isso gera muita insegurança e dúvidas entre os
professores e é natural que assim seja.

Os métodos de ensino podem ser divididos em dois grandes


grupos: o primeiro deles, que é também o mais difundido e
usado até hoje, é o método tradicional, centrado na figura do
professor; o segundo, centrado na figura do aluno, pode ser
chamado de método inovador.

Nesse contexto, o ideal é que o professor não se limite a usar


apenas um método de ensino e que não tenha medo de experi-
mentar novas abordagens. Afinal, há uma grande variedade de
metodologias disponíveis e os professores que as utilizam provo-
cam uma mudança considerável nos processos de ensino e
aprendizagem e conquistam ótimos resultados.

32
5.1 O método tradicional

O método tradicional se opõe aos outros métodos por ter o profes-


sor como foco central, não o estudante. O docente se encontra em
uma relação vertical de exposição de conhecimentos e cobrança do
conteúdo explicado, sendo geralmente visto como o único detentor
do conhecimento. Por tratar-se de um método centrado no profes-
sor, que é considerado um transmissor de cultura ou um guia, o
aluno geralmente acompanha a matéria lecionada por meio de
aulas expositivas, seguidas de trabalhos avaliativos e aplicação de
provas. Esse método é reconhecidamente passivo, pois só o docen-
te é o protagonista da educação.

Surgido na Europa por volta do século XVIII, o método tradicional


adota um tipo de ensino que procura ‘formatar’ os estudantes. Há
bastante rigidez quanto a normas e condutas disciplinares, as aulas
expositivas são a principal forma de levar o conteúdo ao estudante
e o sistema de ‘avaliação’ valoriza a quantidade de informações
absorvidas pelo aluno, prevendo provas que devem ocorrer de
tempos em tempos, com o objetivo de verificar quanto conteúdo o
aluno conseguiu memorizar.

Talvez a aula expositiva seja a metodologia mais tradicional e ainda


muito presente, tanto na Educação Básica quanto na Superior, e
está no cerne da tradição conteudista, tida como ultrapassada e
acrítica desde as décadas de 60 e 70. Porém, ela provavelmente
ainda é a primeira técnica na qual o professor pensa quando vai
ministrar uma aula e precisa prepará-la.

33
Todavia, a aula expositiva tem sido cada vez mais criticada nos dias
de hoje, principalmente pelo fato de que, como já vimos, o aluno é
um sujeito passivo na maioria das situações, deixando de se engajar
em sua própria aprendizagem, na medida em que ele se limita a
acompanhar o que é exposto pelo professor. Porém, mesmo critica-
da, ela volta a ser revisitada nos dias de hoje, inclusive em muitas
escolas que já adotaram metodologias mais inovadoras, porque há
uma parcela de educadores que defende a tradição conteudista,
acreditando que não há como formar um aluno crítico e questiona-
dor sem uma base sólida do que é pura informação.

É importante ressaltar que a aula expositiva até tem contribuições a


dar, e não são poucas, mas temos que considerar que não podemos
nos limitar a uma aula de mão única, em que só o professor fala e o
aluno só escuta. Portanto, se houver aula expositiva, que seja dialo-
gada. E que se saiba exatamente quando e como usá-la no hibridis-
mo em educação, no qual o protagonismo do aluno é de extrema
importância.

Uma aula expositiva dialogada oferece a exposição de conteúdos


com a participação ativa dos estudantes e sempre leva em conta o
conhecimento prévio dos alunos sobre o tema proposto. Nesse
caso, o professor atua como mediador, incentivando os alunos a
interpretarem, perguntarem, discutirem, questionarem e debaterem
o tema em estudo. Portanto, se for utilizada com o intuito de promo-
ver diálogo entre o professor e os estudantes, a aula expositiva pode
ser uma boa opção; contudo, não pode ser o único recurso a ser
utilizado.

34
Hoje, passamos por um processo que trouxe consigo a necessidade
de combinar diferentes métodos e, em alguns casos, inclusive a
associação dos métodos tradicionais com os novos, nos quais os
alunos são mais ativos no processo de aprendizagem. Isso nos
parece ser uma tendência que vem sendo adotada pelas escolas e
pelos professores.

Se refletirmos bem e analisarmos as alternativas atuais, chegaremos


ao ponto em que podemos inferir que não existe uma metodologia
ou um método totalmente adequado. O ideal é mesmo combinar
um ou mais métodos, de acordo com as situações e condições das
escolas, dos professores e dos estudantes, tendo em mente que
qualquer método, quando utilizado de forma isolada e sem dialogar
com os demais, acaba por torna-se reducionista.

35
5.2 Metodologias ativas

Uma das grandes mudanças que estão acontecendo na educação é a


busca por metodologias ativas. Elas tendem a se tornar um recurso
didático importante para os novos tempos na educação, mormente
para a Educação Híbrida, pois colocam o aluno no lugar de protagonista
no processo de aprendizagem, ajudando a destacar as habilidades e
competências individuais que, diante um modelo de aula tradicional,
encontravam-se adormecidas.

As metodologias ativas são consideradas instrumentos que promovem


a pedagogia da autonomia e, assim, favorecem e possibilitam o prota-
gonismo do aluno, abrindo espaço para a participação, o diálogo, a
reflexão, a formação do senso crítico e o respeito às diferentes opiniões
que surgem em sala de aula, seja no ambiente on-line ou em qualquer
outro âmbito social. Quando bem implementadas, as metodologias
ativas despertam a curiosidade e o interesse pelo desenvolvimento de
novos conceitos e a busca por novos conteúdos por parte dos alunos,
estimulando e incentivando a autoaprendizagem.

36
Embora tidas como uma grande novidade na atualidade, espe-
cialmente em função do hibridismo, as metodologias ativas já
foram apresentadas aos professores há muito tempo e vêm
sendo debatidas há décadas. Pesquisadores, como John Dewey,
Jean Piaget, Maria Montessori, Célestin Freinet, Lev Vygotsky, Carl
Rogers, Paulo Freire e tantos outros, enfatizaram que os proces-
sos de ensino e de aprendizagem têm mais significado quando
há interação do estudante com o meio. Pesquisas recentes têm
confirmado que o aprendizado ativo é muito mais eficiente e
eficaz do que o aprendizado passivo.

Entre esses estudos, o mais propagado é a teoria do psiquiatra


americano William Glasser, que procura explicar como as pesso-
as geralmente aprendem e qual a eficiência dos métodos nesse
processo. De acordo com essa teoria, os alunos aprendem cerca
de 10% quando leem, 20%, quando escrevem, 50%, quando veem
e ouvem, 70%, quando discutem com outras pessoas, 80%,
quando praticam, fazem, e 95%, quando ensinam uns aos outros.
Podemos concluir, então, que os mais eficientes métodos de
aprendizagem estão realmente inseridos nas metodologias
ativas.

Sendo assim, quando formos discutir metodologias para a Educa-


ção Híbrida é muito importante termos, como pano de fundo,
todos os aspectos aqui apresentados, uma vez que tanto os
métodos tradicionais quanto os inovadores têm suas vantagens e
desvantagens no processo educacional, o que vale também para
a Educação Híbrida.

37
6. AULAS E ATIVIDADES
SÍNCRONAS E ASSÍNCRONAS

Quando falamos em Educação Híbrida, ou mesmo em Ensino


Remoto, um dos aspectos a serem discutidos diz respeito à
sincronicidade das aulas e às atividades não presenciais.

Atividade síncrona é aquela em que o professor e o aluno partici-


pam da atividade ao mesmo tempo. A aula ou atividade assíncro-
na, por outro lado, é aquela em que o professor e o aluno estão
desconectados temporalmente, ou seja, não estão trabalhando ao
mesmo tempo: o professor ministra a aula ou produz a atividade
em determinado momento, mas o aluno assiste à aula ou faz as
atividades em outro momento.

Tanto a sincronicidade quanto a assincronicidade das atividades


educacionais têm suas vantagens e desvantagens, sendo que o
grande benefício das aulas síncronas diz respeito ao engajamento
dos alunos: em uma aula síncrona, o aluno consegue tirar suas
dúvidas em tempo real, ou seja, no momento em que elas
surgem, o que ajuda muito no processo de aprendizagem.

38
Outro ganho significativo obtido com as aulas síncronas é a
promoção de momentos de socialização entre alunos e professo-
res, uma vez que, dependendo da tecnologia adotada, eles
podem enxergar uns aos outros, compartilhar informações,
conversar sobre banalidades etc. Quando já há tão pouco conta-
to entre estudantes e docentes, como neste momento, é muito
salutar evitar que a conexão entre alunos e professores se perca,

Junto com esses benefícios, no entanto, as aulas síncronas


também trazem desvantagens consigo. Uma delas é a exposição
de possíveis fragilidades do corpo docente da escola: se um
professor cometer um erro durante uma aula síncrona, seja de
conteúdo, seja gramatical, isso pode não passar despercebido
pelos pais ou outros agentes.

Um problema que pode afetar os pais ou tutores dos alunos


mais novos é o fato de que as aulas síncronas normalmente
exigem que os adultos participem das atividades escolares de
seus filhos, o que pode conflitar com as obrigações profissionais
deles. Afinal, muitos pais estão em casa porque trabalham em
modo home office.

39
Outra inconveniência da sincronicidade está relacionada à Internet.
As aulas síncronas exigem uma conexão de melhor qualidade, o
que é um fator limitante para um número significativo de alunos e
professores no Brasil, tanto de escolas privadas quanto públicas.
Um ponto que também pesa negativamente para as aulas síncro-
nas tem a ver com a exposição excessiva dos alunos às telas dos
dispositivos digitais.

Quanto às aulas assíncronas, elas também têm suas vantagens e


desvantagens e oferecem diversos benefícios. Entre eles, está a
possibilidade de realizar o controle da qualidade do que é ensina-
do. Todavia, o engajamento dos alunos é considerado um elemento
complicador. Ainda não existem pesquisas robustas sobre o tema,
mas há indícios de que as escolas que migraram das atividades
assíncronas do início da pandemia para as síncronas, posteriormen-
te tiveram maior engajamento e participação de pais e alunos no
processo do ensino remoto.

40
Em termos da temporalidade dos fatos, uma aula assíncrona tem
características que se assemelham a um processo industrial:
entre a produção de um bem e a utilização dele pelo consumi-
dor, há um espaço de tempo, uma lacuna temporal que facilita a
criação de controles de qualidade que garantirão que o produto
chegue às mãos do consumidor sem defeitos. Nas aulas assíncro-
nas, ocorre algo similar: uma aula gravada por um professor
pode passar por um processo de avaliação pelo próprio profes-
sor ou por outros profissionais da escola, o que traz garantias de
que qualquer eventual equívoco cometido na gravação possa ser
corrigido antes que ela seja disponibilizada para os alunos. Dessa
forma, assegura-se que uma aula já tenha sido avaliada e corrigi-
da, caso necessário, antes que os alunos e/ou seus pais tenha
acesso a ela.

Na modalidade assíncrona, a liberdade que professores, pais e


alunos têm é outro ponto bastante positivo. O assincronismo
permite que eles se dediquem às atividades pedagógicas no
momento que mais lhes convier. Além disso, o assincronismo
permite que os alunos desenvolvam suas atividades de aula de
acordo com o seu tempo e ritmo de aprendizagem, o que
sempre foi defendido pelos educadores, mas é de difícil imple-
mentação nas aulas presenciais.

41
O fato de que, via de regra, a aula assíncrona exige uma menor
largura de banda (medida da capacidade de transmissão de Internet)
também é um aspecto muito positivo para uma parcela significativa
de alunos e professores brasileiros.

Além de vantagens, a assincronicidade é acompanhada de desvanta-


gens também, sendo que o principal problema diz respeito ao enga-
jamento do estudante: as atividades assíncronas tendem a reduzir os
vínculos entre o aluno e o professor, assim como entre o aluno e
seus colegas de turma,

Agora que você já pôde ter uma compressão geral sobre aulas e
atividades síncronas e assíncronas, suas vantagens e desvantagens,
você poderá entender melhor os modelos de Educação Híbrida-Re-
mota apresentados na sequência. Bom estudo!

42
7. DEZ MODELOS DE EDUCAÇÃO
HÍBRIDA-REMOTA

Neste tempo de restrições, as escolas têm sido instadas a traba-


lhar de forma totalmente remota ou de forma híbrida, com parte
das atividades em modalidade presencial e parte delas na não
presencial. Por isso, apresentamos dez dos modelos mais utiliza-
dos por escolas e sistemas educacionais durante a pandemia,
ressaltando que ainda há outros exemplos possíveis além desses.

Os modelos aqui reunidos referem-se ao Ensino Remoto propria-


mente dito e, também, aos que combinam a presencialidade e a
não presencialidade do aluno nas situações de aprendizagem.
Alguns dos modelos a seguir podem não ser considerados uma
Educação Híbrida real, visto que uma parte dos alunos tem aulas
apenas remotamente e a outra somente na modalidade presen-
cial. A escola, porém, trabalha de forma híbrida e com esses dois
modelos. Em virtude dessa heterogeneidade de ofertas, eles são,
aqui, denominados modelos híbridos.

43
Para cada um dos dez modelos de Ensino Remoto e de Educação
Híbrida a seguir, foi designada uma nomenclatura específica, a
fim de facilitar a comunicação e o entendimento do leitor. Cada
modelo tem suas próprias vantagens e desvantagens, bem como
graus de complexidade e dificuldade na implantação. Logo, para
escolher o modelo ou os modelos mais adequados para atende-
rem ao processo de aprendizagem dos alunos e à proposta
pedagógica da instituição, cada escola ou sistema de ensino deve
analisar sua infraestrutura física e tecnológica e quais recursos
estão disponíveis para os professores e os alunos.

Reiteramos que as organizações educacionais não devem se


prender à implantação de um único modelo, mas, sim, combinar
modelos diferentes, propiciando aprendizagem mais efetiva para
os diversos públicos da escola.

44
a. Modelo Remoto Elementar

Totalmente remoto, sem encontros presenciais com alunos e sem


exigir o uso de tecnologias digitais, nesse modelo a escola repassa o
material de estudo e as atividades impressas para os alunos perio-
dicamente, normalmente via os pais dos estudantes. Esses, por sua
vez, realizam seus estudos e desenvolvem as atividades de acordo
com um cronograma pré-estipulado.

Esse modelo, chamado de ‘elementar’ face à sua simplicidade e sua


limitação, foi muito utilizado por escolas públicas no ano de 2020,
como forma de fazer chegar materiais aos alunos que não tinham
acesso a tecnologias digitais (computadores, celulares e tablets),
para que pudessem realizar seus estudos.

Uma das maiores vantagens desse modelo é a facilidade de imple-


mentação e a sua capacidade de alcançar os alunos mais carentes,
sem acesso a tecnologias digitais. Uma das grandes desvantagens
desse modelo, contudo, é haver pouca interatividade entre profes-
sores e alunos, o que resulta em menos engajamento por parte dos
estudantes. Essa limitação explica, em parte, a evasão escolar que
ocorreu nas instituições que fizeram uso somente deste modelo.

45
b. Modelo Remoto Síncrono

Esse modelo também é totalmente remoto, mas exige o uso de


tecnologias digitais, pois o professor ministra e desenvolve as suas
aulas e atividades ao vivo, via alguma plataforma de transmissão
síncrona, como faria em sua sala de aula regular. Aqui, os alunos
geralmente não têm conteúdos ‘sacrificados’, ou seja, todo conteú-
do previsto no currículo é ministrado normalmente, já que todas as
aulas são desenvolvidas como se fossem presenciais. A diferença
significativa neste modelo é que, em vez de o professor ministrar
uma aula presencial para todos os alunos, ele o faz por meio de
alguma plataforma digital, com todos os alunos assistindo à aula ao
vivo.

Esse modelo é o que vem sendo mais utilizado por instituições de


Educação Superior que não ofertavam cursos em EAD antes da
pandemia, com as seguintes vantagens: implementação fácil e alta
interação com alunos, o que aumenta o engajamento deles com as
tarefas. Como desvantagens, o modelo traz a exigência de que
alunos e professores tenham boa conexão com a Internet e a
exaustão causada pelo tempo excessivo em atividades on-line,
motivo para não ser muito adequado para crianças.

46
c. Modelo Remoto Assíncrono

Nesse modelo, que também é totalmente remoto e requer o uso


de tecnologias digitais, nada é trabalhado de forma síncrona. O
professor constrói o material de estudo para os alunos (videoaulas
próprias ou de terceiros, textos, materiais de apoio, atividades
etc.) e disponibiliza-o em algum ambiente virtual de aprendizagem
(AVA). Dessa forma, o aluno pode acessar o AVA nos dias e horá-
rios que melhor lhe convier para realizar os seus estudos.

É o modelo mais utilizado nos cursos superiores na modalidade


EAD, com as estas principais vantagens: (i) adequar-se à rotina
familiar, pois os alunos e seus pais podem programar o melhor
horário para os estudos; (ii) haver possibilidade de o material de
estudo ser mais bem produzido. As grandes desvantagens desse
modelo são: (i) pouca interatividade com os alunos; (ii) maior
tempo gasto na preparação das atividades do que quando são
preparadas para o trabalho assíncrono, podendo acarretar exces-
so de trabalho para os professores.

47
d. Modelo Remoto Misto

Como o próprio nome diz, o remoto misto combina aulas e ativida-


des síncronas com aulas e atividades assíncronas. Parte do conteúdo
é trabalhado sincronicamente (ao vivo) e a outra parte, de forma
assíncrona. Uma possibilidade interessante é trabalhar os conteúdos
totalmente de forma assíncrona e utilizar os momentos síncronos
para promover interação entre alunos, tirar dúvidas e discutir os
temas apresentados assincronicamente.

Esse modelo elimina o problema da falta de engajamento dos


alunos, como é comum quando o conteúdo é trabalhado totalmente
de forma assíncrona; porém, continua trazendo a desvantagem de
exigir muito tempo do professor na preparação das atividades.

48
e. Modelo Híbrido Síncrono

A combinação das atividades presenciais na escola com as atividades


não presenciais é o que caracteriza esse tipo. Aqui, a escola deve
considerar o espaço das salas de aula e subdividir as turmas em
subgrupos, para garantir o distanciamento mínimo entre alunos, de
forma a evitar a transmissão do novo coronavírus, conforme exigido
pelos órgãos de saúde. Por exemplo: se uma turma tiver 30 alunos e
a sala de aula só comportar 10 alunos para atender à regra de
distanciamento, a escola deverá formar três subgrupos nessa turma.

Em cada etapa (parte de um dia de aula, dia inteiro de aula, sequên-


cia de dias de aula, semana etc.), um dos subgrupos de alunos vai
para a escola para ter aula presencial e os demais subgrupos ficam
em casa, onde terão aulas on-line, ou seja, os professores ministram
as suas aulas na escola, com a presença de um subgrupo de alunos
e, simultaneamente, a mesma aula é transmitida para os alunos que
estão em casa, por meio de alguma plataforma dedicada a isso.
Assim, todos os alunos assistem à mesma aula e ao mesmo tempo.
Há sistemas em que, enquanto ministra a sua aula presencial, o
professor pode visualizar os alunos em suas casas, possibilitando,
então, uma interação satisfatória com aqueles alunos que não estão
com ele presencialmente na escola. Em cada etapa, os subgrupos
vão se alternando, permitindo, então, que todos os alunos tenham
parte das suas aulas presencialmente e parte delas recebidas de
forma síncrona.

49
Nas escolas em que um mesmo professor possui mais de uma
turma, elas podem ser unificadas, um recurso que permite otimizar
o tempo do professor. Os pontos positivos são: grande interação
com os alunos e facilidade logística de implementação. O grande
obstáculo desse modelo é a exigência de que as salas de aula
tenham infraestrutura tecnológica que possibilite a transmissão das
aulas do professor ao vivo. Além disso, outro ponto negativo é o
modelo ser cansativo para os alunos que estão em casa, por causa
do tempo das atividades on-line.

A C

D
E
F

50
f. Modelo Híbrido Assíncrono

Este é mais um modelo que combina as atividades presenciais com


as não presenciais. Ele é muito similar ao modelo híbrido síncrono,
porém, em vez de serem transmitidas ao vivo, as aulas são grava-
das. Desse modo, os alunos que estão presencialmente na escola
assistem às aulas ao vivo, enquanto aqueles que estão em casa
assistem às mesmas aulas, gravadas, em momento posterior. Nesse
caso, será necessário usar alguma plataforma onde o professor
possa disponibilizar as aulas gravadas aos alunos. Como as aulas
são gravadas, os alunos que assistiram às aulas presencialmente
poderão assisti-las novamente em outro momento, caso desejem.

Esse modelo apresenta praticamente as mesmas vantagens e


desvantagens do modelo anterior, mas a exigência tecnológica é
diferente. Em vez de ser necessário fazer conexão com a Internet
para a transmissão das aulas presenciais, será preciso ter algum
sistema de armazenamento e disponibilização das aulas gravadas
aos alunos. Uma das nossas sugestões é editar as aulas gravadas
(cortar as partes desnecessárias) antes que elas sejam liberadas
para os alunos. Em relação ao modelo anterior, uma das vantagens
é que os professores não precisam interagir com os alunos que
estão em casa, podendo dedicar mais atenção aos que estão na sala
presencial. No entanto, para os alunos que não estão na escola, o
processo pode ficar monótono e gerar desmotivação.

51
g. Modelo Híbrido Replicado

Assim como nos dois modelos anteriores, esse também combina


atividades presenciais e não presenciais e exige a criação de
subgrupos de alunos. Nesse modelo, o professor separa parte
dos conteúdos para ser trabalhado com os alunos presencial-
mente e parte dele para ser trabalhado de forma assíncrona. A
definição da quantidade do conteúdo a ser trabalhado depende-
rá essencialmente da quantidade de subgrupos. A parte do
conteúdo que o professor separar para ser trabalhada de forma
presencial será ministrada para todos os alunos, de modo alter-
nado, ou seja, essa mesma aula é replicada, presencialmente,
para todos os subgrupos. Assim, todos os alunos assistem à
mesma aula presencial, só que em períodos (aulas, dias ou
semanas) diferentes. As atividades assíncronas, que são traba-
lhadas de forma não presencial, podem contemplar videoaulas,
textos, exercícios e avaliações e ser encaminhadas para os
alunos de forma impressa (o que não exige tecnologias digitais
ao aluno) ou disponibilizadas em algum ambiente virtual de
aprendizagem.

Como vantagens, esse modelo oferece a facilidade de implemen-


tação e a não exigência de tecnologias digitais por parte dos
alunos. A grande desvantagem é que prejudica os alunos que
não conseguirem ir às aulas presenciais, o que não ocorre nos
modelos apresentados anteriormente.

52
h. Modelo Híbrido de Suporte

Neste modelo o professor trabalha com todos os conteúdos remota-


mente, seja de forma síncrona ou assíncrona, possivelmente utilizando
um dos quatro primeiros modelos aqui apresentados. O professor
utiliza os momentos presenciais apenas para atividades extracurricula-
res, de apoio pedagógico, de avaliação da aprendizagem e de reforço
ou recuperação. Além de não exigir complexidade no seu planejamen-
to e na infraestrutura tecnológica nas escolas, esse modelo não preju-
dica tanto os alunos que não conseguem ir às aulas presenciais. Por
outro lado, dependendo da metodologia adotada pela escola, o Modelo
Híbrido de Suporte vai exigir mais trabalho do professor no planeja-
mento das atividades, assim como existência de infraestrutura tecnoló-
gica em sua casa e nas dos alunos.

53
i. Modelo Híbrido Segmentado

Neste modelo, o professor cria dois subgrupos, não necessariamente


do mesmo tamanho. O subgrupo A é formado por alunos que têm
preferência por aulas remotas ou que não têm condições de assistir às
aulas presenciais (os pertencentes a grupos de risco, por exemplo). O
outro subgrupo, o B, é formado por alunos que desejam e podem ter
aulas presenciais. Com o subgrupo A, o professor trabalhará todo o
conteúdo de forma remota, possivelmente utilizando um ou mais dos
quatro primeiros modelos aqui apresentados. Com o subgrupo B, o
professor trabalhará o conteúdo todo de forma presencial. O subgru-
po B deverá ser de um tamanho que permita que todos os alunos
assistam às aulas presenciais juntos e em segurança. Para os alunos
que assistirem às aulas remotamente, as desvantagens do Modelo
Híbrido Segmentado dependem do modelo escolhido, mas são as
mesmas desvantagens dos modelos remotos apresentados anterior-
mente.

Outro item a ser considerado é a jornada do professor: pelo fato de


ele lidar praticamente com duas turmas distintas, sua carga horária
pode ficar comprometida. Há que se ter cuidado com a escolha desse
modelo, pois ele poderá aumentar a desigualdade da aprendizagem
dos alunos da turma, visto que há possibilidade de os alunos com
aulas presenciais aprenderem mais do que aqueles que assistirem às
aulas remotamente. Também haverá problema se o número de alunos
que desejarem assistir às aulas presenciais for maior do que a capaci-
dade da sala em situação de distanciamento social.

54
j. Modelo Híbrido Pleno

A criação de subgrupos não é necessária quando o número de alunos


em relação ao tamanho da sala de aula possibilitar o distanciamento
mínimo exigido pela área de saúde durante a pandemia. Sendo
assim, a turma inteira pode assistir a aula presencial junta. Nessa
situação, pode-se implantar os modelos híbridos tradicionais, que
exigem a presencialidade simultânea de todos os alunos, ou combi-
nar algum outro modelo já exposto aqui. Possivelmente, esse é o
modelo que permanecerá após o período da pandemia passar.

55
Como podemos constatar, cada tipo de modelo híbrido tem seus
próprios pontos
fortes e fracos, suas próprias dificuldades de implementação e a
respectiva necessidade em relação a recursos.

O quadro a seguir apresenta uma síntese do que é necessário,


desejável ou dispensável em cada modelo:

RECURSOS NECESSÁRIOS, DESEJÁVEIS E DISPENSÁVEIS


EM CADA MODELO DE EDUCAÇÃO HÍBRIDA E REMOTA

Segmentado
Assíncrono

Assíncrono

de Suporte
Elementar

Replicado
Síncrono

Síncrono
Remoto

Remoto

Remoto

Remoto

Híbrido

Híbrido

Híbrido

Híbrido

Híbrido

Híbrido
Pleno
Misto
Ambiente virtual de aprendizagem para
repositório dos conteúdos

Boa internet na casa dos professores

Boa internet na casa dos alunos

Boa internet na escola

Dedicação ampliada de tempo dos professores

Dispositivos eletrônicos (computador, tablet, celular)


na casa dos alunos para acompanhar as aulas
Dispositivos eletrônicos (computador, tablet, celular)
na escola para uso dos alunos
Dispositivos eletrônicos (computador, tablet, celular)
na casa dos professores
Domínio de tecnologias digitais por parte dos
professores
Infraestrutura de gravação de aulas das
salas de aula
Infraestrutura de gravação de videoaulas na casa
do professor
Infraestrutura de transmissão de aulas das salas
de aula
Infraestrutura de transmissão de aulas da casa
do professor
Subdivisão das turmas em subgrupos para
as aulas presenciais

(Necessário) (Desejável) (Dispensável) (Depende do que será feito no modelo adotado)

56
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sim, muitos são os desafios que todos os atores do processo educa-


cional deverão enfrentar neste momento! Compreender todas as
nuances da Educação Híbrida, definir as metodologias, escolher
tecnologias, motivar e engajar pais e alunos nestes novos tempos da
educação e organizar toda a logística da escola são apenas alguns
dos desafios impostos a professores e gestores educacionais agora.
Muito será exigido de ambos nesse processo.

Cada modelo de Educação Remota/Híbrida apresentado anterior-


mente tem suas vantagens, desvantagens, limitações e exigências
para a implantação, não existindo um modelo ideal, que consiga
atender a todas as necessidades de alunos e professores.

Outro ponto importante, que vale destacar, é que a escolha de um


ou mais modelos para implantação na escola deve levar em conside-
ração o projeto pedagógico da escola e as metodologias a serem
adotadas no processo de ensino e aprendizagem, além de conside-
rar as suas vantagens e limitações.

A tríade MODELO DE EDUCAÇÃO REMOTA HÍBRIDA – PROJETO PEDA-


GÓGICO – METODOLOGIA deve ser harmônica e estar em sintonia.
Caso contrário, haverá dissonância, o que provocará o insucesso da
escola neste momento de pandemia. E isso, nós não queremos!

57
9. REFERÊNCIAS

BACICH, Lilian et al. Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia


na Educação. Porto Alegre: Penso, 2015.

CASAGRANDE, RONALDO. Inteligência artificial e a educação além


da curva. Curitiba: Instituto Casagrande, 2019.

COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. TIC Educação 2019.


Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e
comunicação nas escolas brasileiras de 2020. Publicado em
outubro de 2020. Disponível em:
<https://www.cetic.br/media/docs/publicacoes/2/2020112309044
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à


prática educativa. 51. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS - FGV. Perda de aprendizado no


Brasil durante a pandemia de covid-19 e o avanço da
desigualdade educacional. São Paulo, 25 de novembro de 2020.
Disponível em:
<https://fundacaolemann.org.br/storage/materials/e828oun5zDA
h6bqCMcplmqKz1VsD5Tr3jTgecYXd.pdf>. Acesso em: 30 abr.
2021.

GLASSER, Willian. Teoria da Escolha. Uma Nova Psicologia de


Liberdade Pessoal. 1. ed. São Paulo: Mercuryo, 2001.

58
HORN, M.; STAKER, H. Blended: usando a inovação disruptiva para
aprimorar a educação. Porto Alegre: Penso, 2015.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – Pesquisa


Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Coleção Ibgeana.
Publicado em 2018. Disponível em:
<https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/
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s>. Acesso em: 30 abr. 2021.

MORAN, Jose. Avanços e desafios na educação híbrida, 2021.


Disponível em:
<http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2021/01/des
afios_hibrido.pdf>. Acesso em: 22 jan. 2021.

THEOBALD, Elli J.; FREEMAN, Scott e colegas. Active learning


narrows achievement gaps for underrepresented students in
undergraduate science, technology, engineering, and math. In:
PNAS, Proceedings of..., March 24, 2020, vol. 117, no. 12, p.
6476–6483. Disponível em: <https://www.pnas.org/content/
pnas/117/12/6476.full.pdf>. Acesso em: 31 maio de 2021.

59
AUTORES

PROF. RENATO CASAGRANDE PROF. RONALDO CASAGRANDE


É Presidente do Instituto Casagrande e É Vice-Presidente do Instituto Casagrande e
Vice-Presidente da ANEBHI – Associação Diretor de Tecnologia da ANEBHI –
Nacional de Educação Básica Híbrida. Associação Nacional de Educação Básica
Também conferencista, palestrante e Híbrida. Pesquisador engajado no estudo das
consultor em Educação e Gestão. tendências e tecnologias educacionais,
Doutorando em Educação, Mestre e Bacharel especialmente no que consiste à inteligência
em Administração, Licenciado em artificial. Engenheiro Eletrônico, Doutor em
Matemática e Especialista em Liderança Métodos Quantitativos, Mestre em
Educacional, pela Penn State University Engenharia de Qualidade. Especialista em
(EUA). Atuou como professor, coordenador e Planejamento e Gestão de Negócios. Atuou
diretor de escolas de educação básica como professor e coordenador na educação
pública e privada. Na educação superior básica e ensino superior, tanto em cursos de
exerceu docência, direção e foi pró-reitor graduação como de pós-graduação. Há
universitário. Foi premiado pela Unesco da muitos anos tem atuado em funções de
América Latina e pela Fundação Getúlio gestão estratégica em instituições
Vargas por pesquisas relevantes que educacionais de médio e grande porte, seja
desenvolveu na área educacional. Recebeu por meio de assessoria ou por meio de
também a condecoração como melhor funções executivas, das quais se destacam as
diretor de escola pública do Paraná e Prêmio funções de pró-reitor universitário e diretor
Nacional na gestão universitária. É autor de de instituições de ensino superior. É autor
livros e artigos publicados tanto no Brasil, dos livros “Inteligência Artificial e a Educação
quanto no exterior e comentarista e Além da Curva” e “Grandes Soluções para a
colunista de destacados veículos de Gestão Educacional”.
comunicação do Brasil.

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