Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Epistemológicos da
Geografia
Prof. Carlos Odilon da Costa
2019
2 Edição
a
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof. Carlos Odilon da Costa
C837f
ISBN 978-85-515-0255-6
CDD 910.01
Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico, seja bem-vindo! Iniciaremos a disciplina de
Fundamentos Epistemológicos da Geografia. Você já venceu algumas etapas
de seu curso e chegou até aqui. Parabéns!
Cordialmente,
III
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO
DA GEOGRAFIA......................................................................................................... 1
VII
TÓPICO 2 – GEOGRAFIA – INÍCIO DO SÉCULO XX ................................................................. 109
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 109
2 A GEOGRAFIA EM RICHARD HARTSHORNE ........................................................................ 111
3 A GEOGRAFIA EM CARL SAUER.................................................................................................. 114
4 A GEOGRAFIA CULTURAL............................................................................................................. 116
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 119
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 122
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 123
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................ 213
VIII
UNIDADE 1
EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS
E A INSTITUCIONALIZAÇÃO
DA GEOGRAFIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
O ser humano, diferente de outros seres vivos, desenvolve para sua
sobrevivência faculdades específicas. Entre os animais, enquanto algumas espécies
correm, outras possuem a força. Comumente se diz que o ser humano possui a
inteligência como referência de poder para enfrentar seus inimigos naturais. São
poderes mentais para explicar, prever e manipular fatos e fenômenos de seu
ambiente de vida. Por isso mesmo, na história, esta espécie animal, o ser humano,
foi definido como um animal racional. Ele distingue-se dos outros seres do universo
pelo sentimento da descoberta, pela curiosidade, por possuir a capacidade de
conhecer o mundo em que vive e ter consciência de suas sensações e de seus desejos.
2 CONHECER E COMPREENDER
Tudo é conhecimento, e por meio dele buscamos respostas ao mundo que
nos cerca e explicações da realidade. Mas afinal, o que é conhecer?
3
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
[...] com relação ao ser humano, por exemplo, pode-se considerá-lo em seu
aspecto externo e aparente e dizer uma série de coisas que o bom senso dita
ou a experiência cotidiana ensinou. Pode-se também questioná-lo quanto
a sua origem, sua realidade e destino e, pode-se, ainda, investigar o que
foi dito por Deus por meio dos profetas e de seu filho Jesus. Finalmente,
pode-se estudá-lo com o propósito mais científico e objetivo, investigando
experimentalmente as relações entre órgãos e funções.
4
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
5
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
6
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Da mesma forma e princípio é o que ocorre nas salas de aula dos cursos
superiores em Geografia. O acadêmico, ao entrar no curso, traz com ele sua
bagagem cultural sobre o conhecimento geográfico, e com o desenvolvimento dos
estudos, o aprofundamento das teorias e as práticas pedagógicas nas aulas do curso
de Geografia, o acadêmico passa do senso comum para o conhecimento elaborado,
científico. Isso fica claro em seus artigos construídos, nas provas respondidas de
maneira dissertativa, entre outros métodos e instrumentos de avaliação. Por meio
dessas avaliações é que o tutor ou o docente poderão ver se houve aprendizagem
em termos de assimilação de novos e diferentes tipos de conhecimentos.
7
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
FIGURA 1 – TIRINHA
FONTE: <https://pedromotasite.files.wordpress.com/2014/04/92efc-mutum115.jpg>.
Acesso em: 17 set. 2018.
8
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
FIGURA 2 – CONHECIMENTOS
FONTE: <https://www.humorcomciencia.com/blog/175-metodo-cientifico/>.
Acesso em: 17 set. 2018.
DICAS
9
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
4 CIÊNCIA MODERNA
O ser humano é um ser em constante processo de produzir; ao tentar
superar, pela ação coletiva, a contradição que a natureza lhe antepõe, torna o
mundo habitável e humaniza a si mesmo. Nas palavras de Neto (1986), existem
diferentes maneiras de explicar os fatos e fenômenos que envolvem o mundo
em que vivemos, e a Ciência é uma delas. A Ciência é, portanto, uma forma
de conhecimento, a atividade básica da ciência é a pesquisa. Por meio dela é
possível conhecer e compreender o mundo. Diversos autores tentaram definir o
que se entende por Ciência. Em sua obra Metodologia Científica, Lakatos e Marconi
(2000, p. 21) citam que pode ser conceituada da seguinte forma:
10
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
11
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
b) A tradição mágica: a natureza vem descrita como uma obra de arte. Intérprete
da natureza, o cientista era visto como um mago cujo poder derivava do fato
de possuir os segredos naturais. O ideal do cientista era se tornar um místico a
fim de ouvir a música mágica do universo. A inspiração que dera origem a essa
atitude era atribuída a Hermes Trismegisto e sua obra Os escritos herméticos e
a sabedoria egípcia. Os outros escritos herméticos continham a cabala judaica.
Dentre muitos segredos dessa tradição, encontrava-se a doutrina neoplatônica
da criação do mundo por meio de emanações do ser divino. A visão neoplatônica
provocou um grande impacto no mundo intelectual do século XVI, a Utopia
de Morus, os escritos de Copérnico e de Kepler. Convém ressaltar que entre os
neoplatônicos, a alquimia gozou de uma reputação quase religiosa. Paracelso
aplicou as teorias neoplatônicas à alquimia.
c) A tradição mecanicista: se a tradição organicista viu o mundo como um
organismo, e a tradição mágica como um mistério, a terceira, a mecanicista, o viu
como uma máquina. Impressionados pela regularidade, fixidez e previsibilidade
dos fenômenos, seus seguidores definiram os planetas em termos mecânicos,
assim como o corpo humano e o reino animal. O Deus cristão foi adquirindo as
características de um engenheiro. Na origem da visão mecanicista do universo
se encontra a transformação econômica da época. A tarefa principal de um
cientista era a de estudar a relação recíproca entre as distintas partes do universo,
sistematizando-as como as várias peças de uma máquina.
Por sua vez, Boaventura de Souza Santos (1987), no livro Um discurso sobre
as ciências, enquadra a ciência moderna em três momentos:
12
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
E
IMPORTANT
13
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
5 MÉTODOS CIENTÍFICOS
Para que um campo do conhecimento seja considerado científico
são necessários dois requisitos: que o campo do conhecimento possua, bem
delimitados e caracterizados, os assuntos que pretende estudar/investigar e que o
estudo/investigação desse assunto possua métodos próprios. Portanto, qualquer
que seja a atividade científica é necessário um método ou um conjunto de métodos
para que se possa realizar uma investigação sistematizada dos fenômenos
pesquisados, procurando acumular maior número de informações sobre ele.
14
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
a) Método indutivo
b) Método dedutivo
Gil (1999) cita que o método dedutivo foi usado por Descartes a partir
da matemática e de suas regras de evidência, análise, síntese e enumeração.
Esse método parte do geral e, a seguir, desce para o particular. O protótipo do
raciocínio dedutivo é o silogismo, que, a partir de duas proposições chamadas
premissas, retira uma terceira chamada conclusão.
c) Método hipotético-dedutivo
Este método foi definido por Karl Popper a partir de suas críticas
ao método indutivo. Para ele, o método indutivo não se justifica, pois, o salto
indutivo de alguns, para todos exigiria que a observação de fatos isolados fosse
infinita. Pode ser explicado a partir do seguinte esquema:
FONTE: O autor
15
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
d) Método dialético
Pensa a realidade não como algo dado e estabilizado, mas procura identificar
o processo, os conflitos existentes e as contradições envolvidas na análise de um
problema de pesquisa. No método dialético, é preciso identificar pares dialéticos
que estão em distintos polos da relação dialética. Dada uma tese, é necessário
identificar sua antítese, para, ao analisar suas relações e interpenetrações, chegar a
uma nova compreensão da realidade, a que o método chama de síntese.
e) Método sistêmico
f) Método histórico
g) Método comparativo
16
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
i) Método estatístico
j) Método tipológico
k) Método funcionalista
l) Método estruturalista
17
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
DICAS
SUGESTÃO DE AULA
a) Solicitar que os alunos anotem em seus cadernos a data, local, espaço da observação.
b) Anotar as condições do tempo/clima.
c) Propor atividades em que o aluno use os sentidos para observação. Exemplo: olfato, visão,
tato, audição. Solicitar que os alunos toquem em uma árvore e que descrevam a sensação
deste toque na árvore, anotando em seguida o ocorrido. Solicite que os alunos fiquem
em silêncio e escutem os sons, após, anotar no caderno. Solicitar que anotem também as
paisagens que estão vendo (você cria as atividades e elementos para observar e anotar).
d) Socialização (escolher alguns alunos para relatarem o que eles anotaram).
e) Escolher alguma categoria para análise, por exemplo, solo, paisagem. Comparar o
conceito deste elemento com o que foi anotado pelo aluno: o que se distancia, o que se
aproxima, o que faltou, o que foi além do conceito básico.
f) Finalizar tecendo comentários referentes à prática de observação e à importância de
se ter um método para observar. Também é interessante relacionar a produção do
conhecimento com os sentidos.
FONTE: O autor
18
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
LEITURA COMPLEMENTAR
Desta forma, se pode observar que o termo ciência pode ser compreendido
em dois sentidos: o lato sensu, com a acepção de “conhecimento” e o stricto sensu,
aludido apenas ao conhecimento que se obtém através da “apreensão e do registro
dos fatos, com a demonstração de suas causas constitutivas ou determinantes”
(MARCONI; LAKATOS, 2007). Esta concepção de ciência e sua importância se
reforçaram com o passar dos anos, com as civilizações gregas e romanas, devido
às evidências físicas da natureza e das ações humanas e suas inter-relações,
assim havendo a necessidade de se realizar investigações que providenciasse
19
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
Porém, para a construção desta ciência e seus estudos é preciso existir uma
comunicação científica, a partir do pesquisador e do seu projeto, para que haja diálogos
entre a busca de informações, a dispersão e o uso destas informações, com o intuito
de produzir os possíveis resultados a respeito da proposta da pesquisa, para assim
se conseguir obter o conhecimento científico, tão importante para o pesquisador e
ao mesmo tempo para a comunidade e área pesquisada (GIL, 2009). Estes estudos
hoje são estimulados em todos os níveis de educação, desde a educação básica até
os cursos de graduação e pós-graduação, principalmente no stricto sensu e no latos
sensu, com a produção de dissertações, teses e artigos científicos.
Por outro lado, o conhecimento científico, aliado ao senso comum e com uma
investigação séria, pode ser visto como algo importante por ser bastante crítico, que
auxiliaria na construção do conhecimento, devido à utilização de uma linguagem mais
precisa e delimitada, que ajudaria a desenvolver os conceitos baseados na vivência
empírica, dessa forma, permitindo a realização de experimentos que auxiliem na sua
validade, possibilitando a discussão dos resultados, na comunidade científica, de
forma intersubjetiva, auxiliando na construção do conhecimento científico.
20
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
FONTE: <https://www.editorarealize.com.br/revistas/joinbr/trabalhos/TRABALHO_EV081_MD1_
SA142_ID2128_12092017151344.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2018.
21
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• A capacidade de pensar permite que o ser humano não apenas conviva com
a realidade, como também pode conhecê-la. Conhecer a realidade significa
compreendê-la e explicá-la. Ao internalizar os modos de agir, pensar e falar,
aos poucos as imagens se tornam verbalizadas, simbólicos, organizados e
socialmente transformados pela linguagem, no caso a linguagem (diversidade
de linguagens), produz conhecimento. Portanto, dá-se também o nome de
conhecimento o saber acumulado pelo ser humano por meio das gerações, ou
seja, um produto (cultural) que pode ser transmitido.
22
• O método pode ser definido como sendo os procedimentos do pesquisador
ou o caminho que se estabelece para realizar a pesquisa científica. A palavra
método é de origem grega e significa o conjunto de etapas e processos a serem
vencidos ordenadamente na investigação dos fatos ou na procura da verdade.
Etimologicamente, método vem de meta, ao longo de, e hodós, via caminho.
23
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Hipotético.
b) ( ) Abstrato.
c) ( ) Popular/prático.
d) ( ) Matemático.
24
3 A palavra ciência é de origem latina “Scientia” que provém de “Scie” que significa
“aprender” ou “conhecer”. O conhecimento científico resulta da investigação
reflexiva, metódica e sistemática da realidade. O conhecimento científico é:
a) ( ) Dogmático.
b) ( ) Metafísico.
c) ( ) Provisório.
d) ( ) Popular.
a) ( ) Indutivo-dedutivo.
b) ( ) Dedutivo-indutivo.
c) ( ) Histórico-dedutivo.
d) ( ) Histórico-indutivo.
25
26
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, nosso estudo centralizou-se em saber o que é o
conhecimento, o conhecimento científico, a ciência e os métodos que usamos nas
pesquisas científicas, os quais contribuem com o conhecimento geográfico.
27
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
Os gregos perceberam que ter uma opinião que corresponde aos fatos não
é necessariamente conhecer os fatos. Para refletir sobre o que já estudamos, seria
pensar entre senso comum e conhecimento científico, informação e pesquisa, e
informação geográfica e conhecimento geográfico.
28
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
29
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
30
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
4 EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO
A Epistemologia se ocupa, dentre outros assuntos, do estudo de questões
teórico-metodológicas que abordam a cientificidade. Na educação escolar de base,
essa teoria produzida poderá analisar imagens nos livros didáticos, o currículo escolar
e as concepções de conhecimento que se apresentam no processo educativo, tanto
como obstáculos, quanto promotoras do desenvolvimento da educação escolar como
fundamentação para a educação superior, entre outras possibilidades de análise.
32
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
33
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
34
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
c) Dialética-crítica: uma outra corrente descrita por Gamboa (1987) cita que o
olhar em movimento é característico da dialética, é um olhar que busca captar
o objeto na sua totalidade, desde uma perspectiva histórica de mudanças e
contradições. A compreensão desta abordagem envolve diferentes categorias que
paulatinamente foram se desenvolvendo a partir dos escritos de Marx. A Ciência
não pode ser apenas contemplativa; trata-se de transformar a realidade, a relação
existente entre dois momentos de um todo que se condicionam mutuamente, em
que o todo é determinado pela relação entre os dois momentos, e estes, ao mesmo
tempo, pelo todo, ou seja, a ciência que produz o conhecimento e o próprio
conhecimento não podem ser vistos isoladamente, cortados abstratamente da
totalidade, mas em sua relação com esta mesma totalidade (realidade).
35
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
36
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
37
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
38
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
Dussel (2000) denuncia nos seus estudos as tendências dominantes da crítica pós-
moderna e esses estudos procuram ser enfáticos em apontar as inflexões pós-modernas,
o abandono da linguagem da mudança social, da prática emancipatória e da política
transformadora. O reconhecimento da diversidade epistemológica na qual estamos
imersos traduz-se em múltiplas concepções de ser e estar no mundo. Esse fato traz
para os educadores a dimensão de conhecer e refletir sobre os extensos e diversificados
sistemas de conhecimentos, sobre as diferentes concepções epistemológicas e o tempo
intelectual complexo no qual se vive. No debate sobre a diversidade compreende-se
que a mediação de saberes interculturais no processo educativo é uma necessidade
para o contexto atual, portanto não há como desvincular educação, cultura e política.
Seria, então, não apenas uma vertente pedagógica, mas a junção de várias
bases pedagógicas que convocam conhecimentos subordinados, marginalizados
e projetos que enlaçam interculturalidade crítica e decolonialidade, ou seja,
pedagogias que venham a dialogar com antecedentes crítico-políticos, assim
como a pedagogia crítica de Paulo Freire. Essa pedagogia parte de lutas e práxis
decoloniais, como as dos movimentos afro e indígenas.
39
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
5 EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA
Descrever autores e obras em vertentes de pensamento é importante enquanto
recurso didático, pois permite compreender a partir de sínteses as principais ideias e
movimentos, e também os abandonos e continuação destas propostas. Compreendido
este movimento, o sujeito em busca do conhecimento faz relações e aproximações com
seu contexto vivido, no âmbito social, científico e educacional. Em nosso caso, é uma
tentativa de demonstrar as muitas vias possíveis para a pesquisa e o ensino de Geografia,
bem como os desafios e possibilidades a serem enfrentados em cada uma das abordagens
epistemológicas da Geografia. Como é impossível abarcar todas as vertentes, que de
uma forma ou de outra trazem implicações epistemológicas à Geografia, estudaremos
algumas que estão relacionadas com o estudo que até aqui já realizamos. As abordagens
vistas nas Ciências Humanas e Educação serão exploradas na Geografia.
40
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
41
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
Segundo Diniz Filho (2012), Friedrich Ratzel foi um pensador alemão que
influenciou muito o expansionismo imperialista da Alemanha na segunda metade
do século XIX, precursor da Geopolítica e do Determinismo Geográfico. A expressão
“determinismo” não era empregada pelo próprio Ratzel, tratando-se de uma atribuição
conceitual que foi dada a partir das leituras sobre o seu pensamento encontrado em
sua obra Antropogeografia. A teoria ratzeliana via o ser humano a partir do ponto de
vista biológico (não social) e que, portanto, não poderia ser visto fora das relações de
causa e efeito que determinam as condições de vida no meio ambiente. Nesse sentido,
o determinismo geográfico ou ambiental colocava o ser humano numa condição de
submissão aos aspectos naturais. Esse pensador foi bastante influenciado pela obra
de Charles Darwin, que defendia o postulado de que a evolução se basearia na luta
entre as diferentes espécies, de forma que aquelas que possuíssem as características
de melhor adaptação ao meio sobreviveriam. Ratzel, de certa forma, aplicou essas
ideias à espécie e sua vida em sociedade. Os seres humanos e etnias mais aptas
venceriam e dominariam os povos considerados inferiores. Tais ideais basearam e
justificaram teoricamente a dominação dos povos europeus, que se colocaram como
uma civilização mais evoluída e desenvolvida (eurocentrismo). Suas ideias também
influenciaram aquilo que mais tarde veio a ser denominado por Nazismo.
De acordo com Moraes (1986), são estas as críticas efetuadas por Vidal às
formulações de Ratzel e que delineiam a posição do Possibilismo:
42
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
Segundo Diniz Filho (2012), nas últimas décadas do século XIX, a geografia
acadêmica começou a superar as fronteiras da Alemanha, pois foram implantados
os primeiros cursos regulares dessa disciplina nas instituições de ensino superior de
vários países europeus e também dos EUA. No caso da França, esse processo teve
início após a Guerra Franco-Prussiana, ocorrida em 1870, pois, até então, os conteúdos
de cunho geográfico eram ensinados no curso de História. Dois anos mais tarde, o
historiador Paul Vidal de La Blache tornou-se um geógrafo, ao encarar o desafio de
dominar o conteúdo de uma disciplina que nunca havia sido ensinada no país e,
simultaneamente, desenvolver os métodos para estudá-la. Ele se aplicou nos estudos
de geologia e botânica, bem como das obras dos fundadores da geografia científica e
dos geógrafos de seu tempo, como Ratzel. Empreendeu diversas viagens pela França,
nas quais eram feitos longos trajetos a pé, pois atribuía grande importância ao contato
direto do pesquisador com as paisagens estudadas. À época, muitos intelectuais
manifestaram suas reações às extremas generalizações dos deterministas ambientais.
Foi nesse contexto que o Possibilismo se apresentou como uma escola do pensamento
geográfico, opondo-se ao Determinismo Ambiental germânico. Essa oposição era
definida por uma relação de causa e efeito, ou seja, a natureza determinando a ação
humana e não por um objeto empiricamente identificável.
De acordo com Diniz Filho (2012), a questão regional é uma das mais
tradicionais em Geografia, sendo a região um conceito-chave dessa ciência. A
noção que Vidal de la Blache tem de região é uma noção fundada no princípio
da “unidade terrestre”, segundo o qual a região se constituiria enquanto parte de
um todo e ela mesma se constituiria numa unidade, em que, havendo a quebra
das ligações naturais, seria impossível reconhecer o encadeamento que religa os
fenômenos dos quais se ocupa a Geografia e que é sua razão de ser científica. Vidal
de la Blache insiste no fato de que a Geografia deve ser tratada como ciência e não
como uma simples nomenclatura. A região, para ele, não é a descrição de um
mosaico de paisagens. Existe, na sua noção de região, uma visão de movimento,
de imbricações dos seres regionais. As regiões de um país são peças que mantêm
relações entre si, formando um todo. Vidal mostra que existem regiões naturais, mas
para a Geografia interessa a relação entre essa região natural e as regiões históricas,
e essa unidade natural/histórica não se realiza sem implicações complexas. Não
existe uma superposição automática entre elas. A ideia é que existe uma base
geográfica no desenvolvimento histórico de um povo. Sem sombra de dúvida,
a ideia de região evolui no pensamento vidaliano, no entanto, parece-nos que
toda essa evolução tem um fio condutor que acompanhou esse grande geógrafo
durante toda a sua carreira: aquele que se funda sobre a concepção da relação
44
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
45
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
A partir da década de 1960, começou a sofrer duras críticas, uma das principais é o
fato de não considerar as peculiaridades dos fenômenos, pois o método matemático
explica o que acontece em determinados momentos, mas não explica os intervalos
entre eles, além de apresentar dados considerando o “todo” de forma homogênea,
desconsiderando, portanto, as particularidades (DINIZ FILHO, 2002).
46
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
47
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
48
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
De acordo com Claval (2011), esta nasceu no fim do século XIX, no mesmo
momento que a Geografia Humana. Para alguns geógrafos, ela aparecia como uma
outra formulação da geografia humana. Para outros, ela se interessava pela cultura
material dos grupos humanos: as suas ferramentas, as suas casas, a sua maneira
de cultivar os campos ou de criar animais. A abordagem cultural tinha um papel
importante na Geografia da primeira metade do século XX, mas ela permanecia
limitada: a ênfase dizia respeito aos meios usados pelos grupos humanos para
modificar o ambiente. A ênfase concentrava-se geralmente nas interpretações
funcionais, mas certos autores, como Eduard Hahn, na Alemanha, Pierre
Deffontaines, na França, Carl Sauer, nos Estados Unidos, tinham uma visão mais
abrangente, com um interesse nos elementos simbólicos da paisagem, mas mesmo
eles não ousaram analisar as representações e o trabalho mental dos homens.
Ainda de acordo com Claval (2011), a geografia cultural tinha a forma duma
secção quase autônoma da disciplina, como a geografia econômica, a geografia política
ou a geografia urbana. A geografia cultural tratava quase exclusivamente da dimensão
material da atividade humana e de suas marcas na paisagem; daí a dificuldade de tratar
de assuntos como a Geografia religiosa. Com o progresso dos meios de comunicação,
a uniformização das técnicas progredia rapidamente. O resultado foi que o objeto,
mesmo dessa disciplina, estava desaparecendo; alguns geógrafos pensavam que ela
tinha também de desaparecer. O contexto mudou profundamente nos anos sessenta e
setenta do século XX. O quadro dominante da reflexão epistemológica deixou de ser
positivista ou neopositivista. A subjetividade humana não apareceu mais como um
domínio fora do campo da pesquisa nas ciências sociais.
49
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
DICAS
SUGESTÃO DE AULA
Geografia do Som
Solicitar aos alunos que entrevistem pessoas com mais de 50 anos, perguntando para elas
quais são os sons relacionados ao passado, por exemplo, uma música, um som de alguma
ave ou de algum programa de rádio, entre outros sons, que elas não escutam atualmente.
Na socialização, aproveite para refletir com os alunos sobre alguns conceitos ou temas da
geografia que você quer explorar na aula. Exemplo: músicas sertanejas raiz, que lembram o
interior. Você pode comparar com as músicas sertanejas universitárias que são escutadas na
área urbana, rural/campo e cidade/urbano.
Outra opção é elaborar e aplicar uma pesquisa referente às cidades conhecidas como as
capitais dos sons. Exemplo: A Capital do Rock. Capital da Música Sertaneja.
FONTE: O autor
50
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
LEITURA COMPLEMENTAR
A Ciência geográfica, entretanto, depois dessa sua gênese moderna sob uma
visão integradora, holística (Moreira, 2006), se viu à baila com a dificuldade de pensar
a sua construção científica a partir da natureza e da sociedade, a partir de vias que
assumiram historicamente caminhos diversos e antagônicos. O objeto de análise da
Geografia, compreendido desde a gênese como a expressão dessa relação do homem
(sociedade) e da natureza em sua complexidade, se viu diante da dificuldade científica
de lidar com a divisão ou separação dos pressupostos metodológico-filosóficos das
ciências naturais e humanas, das quais largamente se vale, e em cuja tensão se localiza.
O problema aqui não está na perspectiva de síntese, como se pretende, mas justamente
na incapacidade de integração filosófica, por parte dos geógrafos, dessas divergências
que tomaram forma no campo da Ciência. Quer dizer, seguindo os preceitos de um
saber científico moderno e recorrendo à Filosofia como fonte de premissas e conceitos,
a Geografia não realizou historicamente o que se propôs em sua gênese moderna e o
que realmente exige sua matéria, ou seja, lidar a todo tempo com a solução filosófica e
metodológica de uma aproximação das esferas humana e natural.
52
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
53
• A partir da década de 1950, a Geografia viveu uma profunda movimentação
conceitual, que deu origem à chamada “Revolução Quantitativa” ou “Nova
Geografia”. A denominação Nova Geografia diz respeito a um conjunto de
ideias e de abordagens que começaram a se difundir a partir das profundas
transformações provocadas pela Segunda Guerra Mundial nos setores
científico, tecnológico, social e econômico.
54
AUTOATIVIDADE
Com base nas ideias apresentadas no texto acima, é correto afirmar que os
aspectos a serem observados na atualização do conceito de região incluem:
a) ( ) I e II.
b) ( ) I e III.
c) ( ) II e IV.
d) ( ) III e IV.
e) ( ) I, III e IV.
55
2 Sobre a concepção epistemológica positivista presente nas ciências humanas,
é correto afirmar:
a) ( ) Analítica-positivista.
b) ( ) Dialética-crítica.
c) ( ) Fenomenológica-hermenêutica.
d) ( ) Estruturalista.
A sequência correta é:
a) ( ) V– V– V– F.
b) ( ) F– V– V– V.
c) ( ) F– F– V– V.
d) ( ) V– V– F– F.
56
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a história do saber geográfico. É importante
distinguirmos Geografia enquanto ciência e do conhecimento e/ou saber
geográfico. A Geografia enquanto Ciência se institucionaliza no século XIX,
essa institucionalização significou, portanto, a sistematização científica do saber
geográfico desenvolvido ao longo da história humana. Para isso, vamos percorrer
o conhecimento geográfico de alguns períodos históricos.
57
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
58
TÓPICO 3 | OS ANTECEDENTES DA GEOGRAFIA CIENTÍFICA
59
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
60
TÓPICO 3 | OS ANTECEDENTES DA GEOGRAFIA CIENTÍFICA
NOTA
IDADE MÉDIA:
61
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
62
TÓPICO 3 | OS ANTECEDENTES DA GEOGRAFIA CIENTÍFICA
Salinas (1994) afirma que, na esfera social, surge o que hoje é denominada
de classe média, que assume um papel importante no campo da política e da
cultura. O clero perde o monopólio do ensino e a teologia cede lugar à ciência
na explicação do mundo. A sociedade renascentista é uma sociedade fascinada
pela vida da cidade, pelo comércio e pelos prazeres terrenos (hedonismo). Ao
se afastarem da orientação religiosa predominante na Idade Média (sagrada),
a sociedade emergente vai discutir a condição humana na sua relação com o
mundo, abrindo, assim, novas possibilidades de reflexão sobre questões políticas
e morais. Note que nesse processo de transição do Medieval, passando pelo
Renascimento, para a Modernidade o mundo vai tornando-se cada vez mais laico
e independente da tutela da religião, e o ser humano vai sendo levado a pensar e
analisar a realidade que o cerca em toda a sua objetividade e não como resultado
da vontade divina (SALINAS, 1994).
Rodrigues (2008) cita que, embora o Renascimento pareça ser uma época
esplendorosa de belas artes, poetas e descobertas, promoveu as novas formas
de ver a política, a ciência, a moral e a religião. Foi marcado por importantes
descobertas científicas, notadamente nos campos da astronomia, da física,
da medicina, da matemática e da geografia. O polonês Nicolau Copérnico foi
que negou a teoria geocêntrica defendida pela Igreja, ao afirmar que "a terra
não é o centro do universo, mas simplesmente um planeta que gira em torno
do Sol". Galileu Galilei descobriu os anéis de Saturno, as manchas solares, os
satélites de Júpiter. Perseguido e ameaçado pela Igreja, Galileu foi obrigado a
negar publicamente suas ideias e descobertas. Na medicina, os conhecimentos
avançaram com trabalhos e experiências sobre circulação sanguínea, métodos
de cauterização e princípios gerais de anatomia. Ideias surgidas contestavam a
visão de mundo medieval. Os europeus passaram a valorizar a experiência e a
observação, o estudo da natureza e da vida humana na Terra. O corpo passou a ser
visto pelo Renascimento como fonte inspiradora pelos artistas da época. Pinturas
e esculturas com homens e mulheres nus, ou com roupas que mostravam mais
os corpos estavam em alta. A mentalidade estava se transformando lentamente e
agora a vida na Terra e todos seus mecanismos se colocavam à frente da tradição,
à autoridade da Igreja e dos ideais medievais. Neste momento aparecem novas
instituições políticas e sociais, tais como: nações, estados, novas legislações, novas
63
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
classes sociais, exércitos, o que implica também numa nova maneira de pensar a
vida social, a história e a geografia. As cidades ganham vida, atraindo pessoas
de diferentes lugares dispostas a conquistar um espaço no mundo, a competir
e a enriquecer. A cidade vai transformar-se também no lócus de sustentação do
desenvolvimento do capitalismo, inaugurando também uma nova divisão social
e territorial do trabalho (RODRIGUES, 2008).
64
TÓPICO 3 | OS ANTECEDENTES DA GEOGRAFIA CIENTÍFICA
NOTA
Diante disso, surgem as questões: como transmitir conhecimentos de uma ciência que não
sabemos conceituar? É possível esclarecer o que é a Geografia em sala de aula?
Fazer um debate epistemológico durante as aulas parece estar mesmo fora de questão, haja vista
que a complexidade do assunto exige um longo tempo para debates e problematizações, além
de apresentar uma discussão bastante complexa para estudantes do ensino básico. No entanto,
é bom considerarmos a seguinte premissa: o professor não precisa assumir, necessariamente,
uma definição clássica ou contemporânea da Geografia, mas trabalhar a sua noção básica.
Assim, é preciso esclarecer aquilo que parece mais simples: a Geografia é a ciência que
estuda o espaço geográfico. Afinal, por mais limitada que essa definição seja, é a sua
simplicidade que favorece a compreensão inicial dessa ciência para os seus estudantes. O
conceito de espaço geográfico, tido como o produto da relação entre sociedade e natureza,
também precisa ser evidenciado.
Por exemplo: uma aula sobre a estrutura fundiária e as transformações do espaço rural pode ser uma
evidência e uma aplicação prática de como a Geografia estuda a dinâmica do espaço geográfico –
no caso, o espaço geográfico do campo. O mesmo contexto aplica-se em aulas sobre urbanização,
demografia e até sobre as dinâmicas naturais da Terra, como o relevo, haja vista que o conhecimento
destas também é necessário para o desenvolvimento das sociedades e suas espacialidades.
FONTE: <https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/o-conceito-geografia-
sala-aula.htm>. Acesso em: 20 jan. 2018.
65
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
LEITURA COMPLEMENTAR
66
TÓPICO 3 | OS ANTECEDENTES DA GEOGRAFIA CIENTÍFICA
67
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
Como o Éden tinha múltiplas indicações, ora numa ilha, ora numa
montanha, outra identificação foi feita com as lendárias Ilhas Afortunadas e,
apesar das recomendações de Isidoro de Sevilha e de Pedro d´Ailly, Cristóvão
Colombo no século XV relacionava-as ao Éden pela fertilidade, localizando este
Paraíso nas costas da África. Colombo pensava que a forma do globo terrestre
tinha uma "deformidade", como se fosse uma pera, onde localizava-se o Paraíso.
Entretanto, ao encontrar a paisagem sempre verde das ilhas tropicais do "Novo
Mundo", não teve dúvidas em associá-la ao Paraíso. A vertente bíblica e cristã
localizava o Paraíso no Oriente, porém religiosos e leigos imaginavam-no na região
dos antípodas e separado por um oceano intransponível - S. Basílio, S. Sulpício, S.
Beda (673-735) e Dante - ou na zona tropical (Tertuliano, S. Boaventura, S. Tomás
de Aquino). Os judeus se inclinavam entre o Vale do Hebron e Jerusalém. Porém,
o "umbigo do mundo" seria considerado como o lugar onde todos os problemas
físicos e da alma seriam curados. Segundo a narrativa de um monge do Concílio
de Clermont em 1095, já no início da época das Cruzadas:
68
TÓPICO 3 | OS ANTECEDENTES DA GEOGRAFIA CIENTÍFICA
FONTE: CARVALHO, Márcia Siqueira de. Geografia e Utopias medievais. Disponível em: <http://www.
geocities.ws/pensamentobr/IMAGOcapel.htm#.O%20PENSAMENTO%20GEOGR%C3%81FICO>.
Acesso em: 18 maio 2018.
69
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
70
• A sociedade renascentista é uma sociedade fascinada pela vida da cidade, pelo
comércio e pelos prazeres terrenos (hedonismo). Ao se afastarem da orientação
religiosa predominante na Idade Média (sagrada), a sociedade emergente vai
discutir a condição humana na sua relação com o mundo, abrindo, assim,
novas possibilidades de reflexão sobre questões políticas e morais. O período
foi marcado por importantes descobertas científicas, notadamente nos campos
da astronomia, da física, da medicina, da matemática e da geografia.
71
AUTOATIVIDADE
A leste (...) chega-se ao território dos citas nômades, que nada semeiam e não lavram
terra alguma. Todo aquele território (...) é desprovido de árvores. (...) O inverno é
tão rigoroso que durante oito meses do ano o frio é insuportável; (...) o mar congela
(...) e os citas (...) passam por cima do gelo e irrompem com seus carros no território
dos sindos. (...) [Nos] quatro meses restantes ainda faz frio. Esse inverno é de uma
espécie diferente daquele de todas as outras terras; nessa estação, normalmente chuvosa
em outras regiões, as chuvas lá são insignificantes, mas durante todo o verão chove
ininterruptamente. (...)
Heródoto, História. Brasília: UnB, 1988, IV, 19-30.
72
3 Sobre a o sistema político-econômico na Idade Média é correto afirmar que:
a) ( ) Crença e misticismo.
b) ( ) Ciência e Arte.
c) ( ) Religião e comércio.
d) ( ) Mercantilismo e economia.
73
74
UNIDADE 2
EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA
NO CONTEXTO MODERNO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
75
76
UNIDADE 2
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Partindo da ideia apresentada na unidade anterior, de que aquilo que
está ligado ao conhecimento e tudo aquilo que se relaciona com ele, no caso
específico do conhecimento geográfico, é necessário antes entender que ao olhar
o conhecimento não podemos tão somente compreendê-lo como algo pronto ou
acabado, ou dito de outra forma, olhá-lo somente enquanto conhecimento, mas
perceber e compreender que o conhecimento precisa de um ser que o produz, e esse
ser vive, habita, existe em determinados contextos culturais, com determinadas
vertentes éticas, com opções políticas e interesses diversos.
78
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX
FONTE: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.
html?pagina=espaco%2Fvisualizar_aula&aula=37199&secao=espaco&request_
locale=es>. Acesso em: 24 set. 2018.
79
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
O geógrafo Gomes (2007), com base em estudos da obra kantiana, destaca que
o sentido de palavras como empirismo e natureza eram muito diversos na época de
Kant, pois, para esse filósofo, a “ciência empírica se referia somente a uma primazia
da experiência, sem, no entanto, recusar a utilização de conceitos e categorias
advindas do raciocínio, de maneira similar às Ciências Sistemáticas. De todo modo,
é amplamente reconhecido que as considerações de Kant sobre a Geografia eram
insuficientes para estabelecê-la como uma disciplina científica. Esse trabalho só
podia ser realizado pelos estudiosos da História Natural, diretamente empenhados
em construir conhecimentos científicos sobre os fenômenos naturais e humanos que
ocorrem na superfície terrestre. Os geógrafos destacam principalmente Humboldt
e Ritter como os naturalistas que ofereceram as contribuições mais relevantes para
estabelecer métodos científicos de estudo de temas geográficos.
80
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX
E
IMPORTANT
81
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
82
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX
implicava deslegitimar a visão religiosa, logo, a ordem social por ela legitimada.
Esta perspectiva, de explicar todos os fenômenos, englobava também aqueles
tratados pela Geografia, sendo assim um fundamento geral de sua sistematização.
Porém, havia discussões filosóficas específicas que diretamente tratavam de
temas geográficos. Os autores que se dedicaram à Filosofia do Conhecimento,
como Kant ou Liebniz, enfatizaram a questão do espaço (MORAES, 1994).
E
IMPORTANT
83
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
FONTE: <https://steemit.com/science/@saunter/alexander-von-humboldt-10-reasons-
why-you-should-get-to-know-the-greatest-forgotten-scientist-and-traveller>.
Acesso em: 25 set. 2018.
84
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX
85
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
Moraes (1994) escreve que Humboldt vai para o México e depois para
Cuba. Volta à Europa após passar pelos Estados Unidos. Essa viagem durou quatro
anos e com ela recolhe uma riqueza tão grande de dados que sua publicação leva
vários anos. Os trabalhos que decorrem de suas viagens estão voltados para a
explicação daquilo que diferencia as diversas áreas do globo, tentando encontrar
as relações que se estabelecem entre os diversos fenômenos da superfície da Terra,
de modo a produzir espaços com características diferentes. Ou seja, interessou-
se pela diferenciação espacial e considerou a paisagem resultante da interação
de vários fenômenos. Para melhor compreender a distribuição dos fenômenos
geográficos, Humboldt utiliza-se das observações que faz em diferentes escalas,
inaugurando a ideia de que os lugares não se explicam em si mesmos. Foi ele o
primeiro a perceber a influência das correntes marítimas sobre os climas. Percebe
isso especialmente nas costas do Peru, onde empresta o nome a uma corrente
fria que se origina no polo Sul e ameniza a temperatura nas costas desse país.
Foi ele também o primeiro a perceber os mecanismos que regem tais correntes.
Humboldt igualmente sabe fazer uso dos dados estatísticos, que as administrações
coloniais acumulavam, para tratar das realidades humanas da América hispânica.
Em um de seus livros analisa a situação calamitosa da escravidão em Cuba. Para
Humboldt, a explicação dos fenômenos deve partir do meio, mas devemos ter
sempre em mente que este reflete realidades em outras escalas (MORAES, 1994).
86
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX
E
IMPORTANT
Assim como Humboldt, Diniz (2012) cita que Ritter também se preocupou
em estabelecer parâmetros para o estudo científico de temas geográficos. Estava
convicto de que os fenômenos presentes na superfície terrestre eram regidos por leis
e propôs adaptar o método comparativo, que dera bons resultados nos estudos de
Anatomia e de outros campos científicos ao estudo dessas leis. Rejeitava, assim, os
trabalhos de Geografia que se limitavam a fazer descrições e propunha a aplicação
de sistemas classificatórios para organizar as informações e do método comparativo
para descobrir as relações de causa e efeito que explicam os fenômenos. Desse
modo, embora Ritter atribuísse a Humboldt a invenção do método comparativo,
o uso que fez dele em diversos estudos de caráter ideográfico ou regional levou
os historiadores da Geografia a considerá-lo como o principal elaborador desse
método e, por conseguinte, como o fundador da Geografia Regional.
88
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX
89
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
E
IMPORTANT
De acordo com Diniz Filho (2012), ao longo do século XIX, a Geografia vai
se desenvolver mais rapidamente na Alemanha do que na Grã-Bretanha. Nesta, a
Geografia permanece vinculada aos modelos do século XVIII, no qual se privilegia
a exploração das pesquisas históricas em detrimento do estudo das relações que
estabelecem entre os grupos humanos e os meios em que vivem. Dessa forma, o
impacto do evolucionismo de Darwin foi mais direto na Alemanha que em sua
pátria. Um revigoramento do processo de sistematização da Geografia vai ocorrer
com as formulações de Ratzel. Este autor, também alemão e prussiano, publica suas
obras no último quartel do século XIX. Enquanto Humboldt e Ritter vivenciaram
o aparecimento do ideal de unificação alemã, Ratzel vivencia a constituição real
do Estado Nacional alemão e suas primeiras décadas. Suas formulações só são
compreensíveis em função da época e da sociedade que as engendram.
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Friedrich_Ratzel_-_J_Albert_
Albert_Josef_btv1b8451030w.jpg>. Acesso em: 25 set. 2018.
91
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
Moraes (1994) cita que a análise das relações entre o Estado e o espaço foi um
dos pontos privilegiados da Antropogeografia, o território representa as condições
de trabalho e existência de uma sociedade. A perda de território seria a maior
prova de decadência de uma sociedade. Por outro lado, o progresso implicaria a
necessidade de aumentar o território, logo, de conquistar novas áreas. Justificando
estas colocações, Ratzel elabora o conceito de “espaço vital”; este representaria uma
proporção de equilíbrio entre a população de uma dada sociedade e os recursos
disponíveis para suprir suas necessidades, definindo assim suas potencialidades
de progredir e suas premências territoriais. É fácil observar a íntima vinculação
entre estas formulações de Ratzel, sua época e o projeto imperial alemão. Esta
ligação se expressa na justificativa do expansionismo como algo natural e inevitável
numa sociedade que progride, gerando uma teoria que legitima o Imperialismo
bismarckiano. Também sua visão do Estado como um protetor acima da sociedade
vem no sentido de legitimar o Estado prussiano, onipresente e militarizado.
A Geografia proposta por Ratzel privilegiou o elemento humano e abriu várias
frentes de estudo, valorizando questões referentes à História e ao espaço, como: a
formação dos territórios, a difusão dos homens no Globo (migrações, colonizações
etc.), a distribuição dos povos e das raças na superfície terrestre, o isolamento e suas
consequências, além de estudos monográficos das áreas habitadas. Tudo tendo em
vista o objetivo central que seria o estudo das influências, que as condições naturais
exercem sobre a evolução das sociedades. Em termos de método, a obra de Ratzel
não realizou grandes avanços. Manteve a ideia da Geografia como Ciência empírica,
cujos procedimentos de análise seriam a observação e a descrição. Porém, propunha
ir além da descrição, buscando a síntese das influências na escala planetária, ou, em
suas palavras, “ver o lugar como objeto em si e como elemento de uma cadeia”. De
resto, Ratzel manteve a visão naturalista: reduziu o homem a um animal, ao não
diferenciar as suas qualidades específicas; assim, propunha o método geográfico
como análogo ao das demais Ciências da natureza; e concebia a causalidade dos
fenômenos humanos como idêntica a dos naturais. Daí o mecanicismo de suas
afirmações. Ratzel, ao propor uma Geografia do Homem, estendeu-a como uma
Ciência Natural (MORAES, 1994).
93
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
E
IMPORTANT
94
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX
95
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
Produziu uma obra pouco volumosa, mas muito densa. Nos ditos de
Moraes (1994), para La Blache, a Geografia deveria partir de uma ideia simples:
explicar a desigual repartição dos homens sobre a superfície da Terra e suas
densidades. Para tanto, deu um tratamento cartográfico aos dados e considerou na
análise os sinais expressos pela paisagem e a relação dos assentamentos humanos
com o solo. Para construir o edifício teórico e metodológico da Geografia, Vidal de
La Blache se embasará na ideia de totalidade, de Possibilismo, de mapeamento
das densidades. Um dos pontos importantes para os estudos da Geografia
eram as cartas de densidade. Para ele, essas cartas colocavam o problema
fundamental de toda a Geografia Humana: aquele das relações que os grupos
humanos estabelecem com os lugares onde vivem e com o seu entorno. Dessa
forma, a Geografia deve analisar e explicar as relações entre os grupos humanos
e o meio ambiente onde moram. Nesse sentido, a tarefa mais importante dela
é estudar e explicar os mapas de densidades, porque eles dão uma ideia clara
dessas relações e de gênero de vida, ao abordar a relação entre o meio e a ação
96
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX
humana, considerava que o meio é uma força viva, que tem movimento próprio
e regras de conexão que escapam à intervenção humana. Por outro lado, a ação
do homem tem grande capacidade de transformação. O conjunto das ações e as
formas através das quais os homens tiram proveito das possibilidades oferecidas
pela natureza é dada pela diversidade dos gêneros de vida. A noção de gênero de
vida permite à análise geográfica compreender as relações que os homens tecem
com o seu meio. Relações que são estabelecidas pelas técnicas, pelas formas de
trabalho, pelas formas de habitação, pela cultura, entre outros (MORAES, 1994).
97
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
98
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX
E
IMPORTANT
99
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
DICAS
SUGESTÃO DE AULA
Existem muitas possibilidades, conceitos ou temas para se trabalhar este assunto. Uma dica
é promover um projeto de pesquisa entre os alunos em torno da temática: “Uso do termo
espaço vital pelos nazistas e os problemas/crises decorrentes para a humanidade”.
FONTE: O autor
100
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX
LEITURA COMPLEMENTAR
Embora essa ideia seja ilusória, pois havia mais uma justaposição de
fatores físicos e humanos do que uma integração, a parte histórica e cultural
passou a ter maior consideração, mesmo que permanecesse atrelada aos fatores
físicos (ANDRADE, 1987, p. 64).
102
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX
103
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
Concluindo a obra, então, o autor diz que o meio europeu teria sido muito mais
exigente, por isso a população que lá vive fez um povoamento original, concentrando
a principal massa da humanidade, capaz de uma “evolução” mais complexa. Os povos
teriam uma tendência inerente ao aperfeiçoamento. Há culturas pontuais e outras
capazes de transmitir seus progressos. A Europa ocidental teria apresentado, num
movimento histórico, um desenvolvimento quase contínuo, o que não ocorrera com as
civilizações da África e da Ásia, habitantes das zonas de deserto e de estepes. Por isso,
os europeus deveriam alastrar seu “progresso” e “evolução” para outros gêneros de
vida (LA BLACHE, 1954, p. 277-278).
FONTE: <http://www2.fct.unesp.br/semanas/geografia/2011/ensinodegeografiaeepistemologia/
REEG02%20-%20Deyse%20Cristina%20Brito%20Fabricio%20e%20Antonio%20Carlos%20Vitte.pdf>.
Acesso em: 25 set. 2018.
104
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Carl Ritter (1779-1859) nasce dez anos depois de Humboldt e morre no mesmo ano
em que este; teve uma vida pouco movimentada, foi um homem que se dedicou mais
à reflexão, ao magistério e ao intuito explícito de sistematização da Geografia. Sua
obra é explicitamente metodológica; a formação de Ritter também é radicalmente
distinta da de Humboldt, enquanto aquele era geólogo e botânico, este possui
formação em Filosofia e História. A Geografia deixa de ser uma modesta descrição
da Terra e torna-se indispensável para quem quer compreender a cena mundial,
a dinâmica das civilizações e a maneira através da qual os povos exploram o seu
ambiente. O problema essencial estudado por Ritter é o das relações, das conexões
que se estabeleciam entre os fatos físicos e humanos.
105
no qual fazia uma síntese da teoria darwiniana, embora tenha passado a
tecer críticas contra ela em alguns de seus livros da maturidade. Em sua obra
Antropogeografia, foi responsável pela propagação de ideias deterministas,
que considerava a grande influência do meio natural sobre o ser humano. O
progresso da humanidade seria obtido com o maior uso dos recursos naturais,
propondo que se estreitassem as relações do ser humano com a natureza.
106
AUTOATIVIDADE
A síntese regional [...] é o objetivo último da tarefa do geógrafo, o único terreno sobre
o qual ele se encontra a si mesmo. Ao compreender e explicar a lógica interna de um
fragmento da superfície terrestre, o geógrafo destaca uma individualidade que não se
encontra em nenhuma outra parte.
(VIDAL DE LA BLACHE apud LENCIONI, S. Região e Geografia. São Paulo: Edusp, 1999. p. 107).
É correto afirmar:
107
3 Assinale qual é a geografia que estuda e analisa o espaço utilizando de
quantidade, números e analisa-o de acordo com pontos, ignorando o lado
social e humano, diário, somente observando os fatos de acordo com os
dados obtidos:
a) ( ) Geografia Teorética.
b) ( ) Geografia Pós-Moderna.
c) ( ) Geografia Decolonial.
d) ( ) Geografia Marxista.
a) ( ) Teorética.
b) ( ) Possibilista.
c) ( ) Determinista.
d) ( ) Teológica.
108
UNIDADE 2 TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
As descobertas realizadas pelas Ciências Sistemáticas na primeira metade
do século XX fortaleceram a ideia, ao menos nas Ciências Naturais, de que
produzir conhecimento científico é formular teorias gerais referidas a categorias
particulares de fenômenos. Assim, foi se tornando cada vez mais difícil aceitar
que sínteses regionais descritivas, destituídas de vocabulário técnico e elaboradas
com uma boa dose de linguagem literária e de intuição artística, pudessem ser
contribuições efetivas ao conhecimento científico.
De acordo com Diniz (2012), até a primeira década do século XX, a principal
vertente de crítica ao Positivismo tomou corpo com o surgimento das “escolas
neokantistas” de pensamento filosófico, as quais tiveram influência considerável
sobre o pensamento científico. De forma um tanto esquemática, podemos dizer
que o objetivo básico dessas escolas era fazer a crítica do Positivismo sem recorrer
aos grandes sistemas filosóficos produzidos pelos idealistas germânicos do início
do século, daí a proposta de resgatar as ideias de Kant. Como você, acadêmico,
deve se lembrar, esse filósofo estabelece que o conhecimento não pode ter acesso
às coisas em si mesmas, mas apenas aos fenômenos, isto é, às coisas tais como
aparecem ao sujeito sob as formas da percepção e as categorias do entendimento.
Por conseguinte, a objetividade da Ciência é constituída por categorias que não são
propriedades dos objetos, mas condições do conhecimento, isto é, conceitos a priori
que possibilitam apresentar os fenômenos sob a forma de relações de causa e efeito,
de quantidades, qualidades etc. A teoria do conhecimento de Kant se opõe, assim, ao
princípio positivista de que todo conhecimento provém diretamente da experiência
imediata, sensível, já que a própria experiência é, segundo Kant, constituída pelas
categorias do entendimento. Todavia, o neokantismo não foi simplesmente uma
volta à filosofia de Kant, mas principalmente um esforço de reinterpretação no qual
algumas proposições fundamentais desse autor foram radicalmente modificadas.
109
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
FONTE: <http://geography.ruhosting.nl/geography/index.php?title=File:Alfred_Hettner.jpg>.
Acesso em: 26 set. 2018.
110
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA – INÍCIO DO SÉCULO XX
FONTE: <https://www.cadernoterritorial.com/news/richard-hartshorne%3A-do-estudo-da-
diferencia%C3%A7%C3%A3o-de-areas-%C3%A0-integra%C3%A7%C3%A3o-de-fenomenos-
heterog%C3%AAneos-dallys-dantas-de-souza/>. Acesso em: 26 set. 2018.
111
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
112
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA – INÍCIO DO SÉCULO XX
113
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
FONTE: <http://storage.lib.uchicago.edu/ucpa/series7/derivatives_series7/apf7-01181r.jpg>.
Acesso em: 26 set. 2018.
114
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA – INÍCIO DO SÉCULO XX
115
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
4 A GEOGRAFIA CULTURAL
De acordo com Corrêa (2007), desde o fim do século XIX, a Geografia se
configura pela abordagem humanista com vigor e vislumbra não apenas o espaço
de ação do ser humano, mas também os produtos dessa ação no espaço e no tempo
(produtos culturais). Nessa produção de produto e humanidade são construídos
os territórios que configuram identidades e pertencimentos sociais. Os grupos,
portanto, necessitam do espaço para se reordenar, se reconhecer e exercer sua
cultura (antropologia). Desta forma, a Geografia Cultural nasceu no fim do século
XIX, no mesmo momento em que a Geografia Humana. Para alguns geógrafos,
ela aparecia como outra formulação da Geografia Humana. Para outros, ela se
interessava pela cultura material dos grupos humanos: as suas ferramentas, as
suas casas, a sua maneira de cultivar os campos ou de criar animais.
116
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA – INÍCIO DO SÉCULO XX
DICAS
JUSTIFICATIVA:
Quando observamos novas tendências de atitudes nos perguntamos onde surgiu,
seus conceitos e significados e conclui-se que parte de desigualdades sociais:
pensamentos que influi modos de agir, sentir e reagir na esfera cultural e diversa.
117
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
Temos então que reaprender certas definições de cultura e diversidade para perceber suas
implicações e aplicações: visão ética, meio ambiente, pluralidade e saúde. Muitos ainda
respeitam tabus da ignorância, do desconhecido, do preconceito e do diferente (desigual).
Então há necessidade de se expressar por meio de agressões verbais ou físicas que machucam
ou humilham seus semelhantes. É por isso que as instituições éticas devem mostrar a tolerância
e a compreensão da cultura da diversidade. Desenvolve-se um resgate ético de como agir
perante tais situações e inspirar valores de igualdade e equilíbrio social. O canal da disseminação
de tais atitudes são os meios de comunicação, principalmente estendida pela INTERNET.
OBJETIVOS:
Desenvolver nos alunos os valores morais resgatando sua história e ambiente cultural
para proporcionar uma visão crítica social e repensar as atitudes sociais. Assim se tornarão
participantes de solidariedade e justiça na própria comunidade. Conhecer os fatos e
compreender as diversidades e culturas do seu país, região ou município. Os alunos se
sentirão responsáveis como agentes transformadores do seu ambiente e de sua história.
METODOLOGIA:
Os alunos serão convidados a participar em grupos para compreender que cada
individualidade é enriquecida pelas opiniões e diálogos. Entender também que os
meios de comunicação trabalhados serão suportes para estabelecer comparações e
conclusões das observações dos fatos comunicados. A velocidade de informações
é muito rápida e, às vezes, não menos importante, pois sugere uma ampla
discussão e debate. A orientação dada será perceber que o tema em questão traz
muita reflexão e fundamentos de mudanças no relacionamento social escolar.
ESTRATÉGIAS:
Desenvolver frases com os alunos para servir como protesto ou alerta sobre a discriminação
ou desigualdade social. Realizar manifestações na escola com as frases e explicar o porquê
da importância das normas e regras em outras classes. Pesquisar sobre personalidades que
respeitaram o próximo, seu ambiente e seu povo. Perceber que nos textos de pesquisa
notarão que a discriminação nunca envelhece. Fazer seminários e apresentações de
pesquisas utilizando os parâmetros jornalísticos. Realizar entrevistas e reportagens com
a comunidade escolar sobre as mudanças no bairro, na cidade ou região. Registrar os
episódios de convivência social e elaborar gráficos que determine as situações ou fatos.
FONTE: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/como-trabalhar-
cultura-e-diversidade-em-sala-de-aula/10387>. Acesso em: 26 set. 2018.
118
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA – INÍCIO DO SÉCULO XX
LEITURA COMPLEMENTAR
[...]
3. A Escola Norte-Americana de Geografia
Ainda, conforme as noções expressas por Claval (2013, p. 8), a ideia de uma
única coerência ligada à autoridade de um mestre ou à importância das instituições
nacionais não é convincente. As escolas não nascem, portanto, automaticamente
da autoridade intelectual e institucional de um mestre. Que elas sejam dominadas
por uma personalidade forte, isso é certo, mas não é sempre o caso. Se a escola de
Berkeley se estrutura ao redor de Carl Sauer, a escola do Meio-Oeste não se constrói
ao redor de um nome, isso será analisado ao longo dessa seção.
Com relação ao cenário instalado nos Estados Unidos, cabe destacar que
os geógrafos do Meio-Oeste tentam tirar a Geografia desse impasse reforçando
seu rigor metodológico, isso fica nítido em toda a produção acadêmica de
Richard Hartshorne. Carl Sauer é próximo dos alemães pela ênfase que confere
à paisagem, mas ele a interpreta de maneira original, uma vez que, para ele,
o ambiente vegetal e animal das sociedades humanas é uma criação em parte
voluntária do homem e em parte involuntária.
Nesse sentido, pode-se dizer, segundo Claval (2013), que houve uma época
das Escolas de Geografia: é essa que surge com o nascimento da Geografia Humana
(final do século XIX) até o aprofundamento da reflexão sobre seus fundamentos,
depois da Segunda Guerra; a partir de então, evidencia-se o momento em que
a Geografia Humana mostra-se incapaz de propor uma interpretação geral e
coerente da realidade que ela analisa.
119
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
FONTE: <https://www.15snhct.sbhc.org.br/resources/anais/12/1473518323_ARQUIVO_
TrabalhoCompleto-RichardHartshorne(WesleyS.Arcassa).pdf>. Acesso em: 26 set. 2018.
121
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
122
AUTOATIVIDADE
Suplemento Prosa & Verso. O Globo, Rio de Janeiro, 20 ago. 2011, p. 6 (adaptado).
a) ( ) I e II.
b) ( ) I e IV.
c) ( ) II e III.
d) ( ) I, III e IV.
e) ( ) II, III e IV.
123
2 Após a Segunda Guerra Mundial, as monografias descritivas em Geografia
(herdadas do pensamento de La Blache) não eram mais suficientes, surgiu
o Racionalismo, que repudiava todo tipo metafísica, como o subjetivismo, a
vontade e a intuição do espírito, privilegiando mais o raciocínio dedutivo.
Referente à Geografia Racionalista, assinale V quando a afirmativa for
verdadeira e F quando se apresentar falsa:
( ) De acordo com Hettner, a Geografia não deveria ser a Ciência que busca
estudar as relações entre homem e meio.
( ) Hartshorne defendia que a Geografia deveria se preocupar em entender
como os fenômenos se combinam na superfície terrestre, integrando em
um mesmo viés os elementos naturais e humanos.
( ) Hartshorne também teve o mérito de possibilitar, de certa forma, a compreensão
de como se dá a divisão da Geografia Geral e a Geografia Regional.
A sequência correta é:
a) ( ) V, F, V.
b) ( ) F, V, V.
c) ( ) F, V, F.
d) ( ) V, V, F.
a) ( ) Afirmativa III.
b) ( ) Afirmativas I e II.
c) ( ) Afirmativas I e III.
d) ( ) Afirmativa II.
4 Foi nos Estados Unidos que a Geografia Cultural ganhou plena identidade.
A denominada Escola de Berkeley desempenhou papel fundamental na
Geografia Cultural. Referente a essa escola, assinale a opção correta:
124
a) ( ) As críticas a essa escola foram inúmeras. A ausência de uma sensibilidade
espiritual nos estudos das sociedades tradicionais foi uma das críticas
proveniente dos geógrafos de abordagem quantitativa.
b) ( ) A Escola de Berkeley privilegiou cinco temas principais de estudo. Um
dos cinco se refere à História da cultura e ecologia cultural.
c) ( ) As críticas a essa escola foram inúmeras. A ausência de uma sensibilidade
religiosa nos estudos das sociedades tradicionais foi uma das críticas
proveniente dos geógrafos de abordagem medieva.
d) ( ) As críticas a essa escola foram inúmeras. A ausência de uma sensibilidade
cultural nos estudos das sociedades tradicionais foi uma das críticas
proveniente dos geógrafos de abordagem pós-moderna.
125
126
UNIDADE 2 TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
A Geografia Tradicional tinha, como elemento de identidade mais
importante, o objetivo de ser uma ciência de síntese ou de contato entre as
disciplinas da natureza e da sociedade. As fontes científicas e filosóficas que
informaram esse conjunto de propostas eram bastante variadas, pois incluíam,
entre outras, o Positivismo de Augusto Comte, as “filosofias evolucionistas”, o
Romantismo e as escolas neokantianas.
127
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
128
TÓPICO 3 | CRÍTICAS FRENTE À GEOGRAFIA
129
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
130
TÓPICO 3 | CRÍTICAS FRENTE À GEOGRAFIA
131
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
4 A NOVA GEOGRAFIA
Na metade do século XX, alguns geógrafos começaram a questionar a função
da Geografia, constatando que esta área do conhecimento precisava ser renovada
para que pudesse ter uma utilidade prática na sociedade. Estes geógrafos começaram
a apontar a falência da Geografia Clássica. Em função da renovação metodológica
que sofreu, surgiu a chamada Nova Geografia, também denominada por alguns de
Geografia Pragmática. A Nova Geografia acabou desenvolvendo algumas tendências
diferenciadas. Assim, no seu âmbito, é possível perceber três correntes: Geografia
Quantitativa; Geografia Sistêmica ou Modelística; Geografia da Percepção ou
Comportamental. A Nova Geografia surge através da quantificação e da abordagem
sistêmica. De acordo com Santos (1994), a quantificação ocorreu em razão da procura
de uma linguagem matemática para dar cientificidade à Geografia. A Geografia
Quantitativa se caracterizou pelo maior rigor na aplicação metodológica, embasado
no Positivismo Lógico e Neopositivista com suas técnicas estatísticas e matemáticas,
na abordagem sistêmica e no uso de modelos. As mudanças epistemológicas mais
radicais introduzidas pela Geografia Quantitativa foram três: a substituição do espaço
concreto pelo espaço abstrato dos modelos; o deslocamento da abordagem histórica
do centro da pesquisa geográfica para uma posição auxiliar e, por fim, a introdução
do estudo de certos aspectos do comportamento humano na Geografia, por ser essa
uma condição necessária para a formulação de teorias sobre a organização espacial.
132
TÓPICO 3 | CRÍTICAS FRENTE À GEOGRAFIA
133
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
134
TÓPICO 3 | CRÍTICAS FRENTE À GEOGRAFIA
E
IMPORTANT
DICAS
Para a atividade serão necessárias de duas a três aulas de aproximadamente 50 minutos, que
terão seu tempo dividido da seguinte maneira:
Primeiro momento
Esse primeiro momento deverá ser feito como atividade para casa. Apenas a orientação a
respeito das coletas de dados deve ser dada e isso pode ser feito em poucos minutos ao
final da aula. Divida seus alunos em grupos com 4 ou 5 pessoas e, para cada grupo, dê temas
parecidos com os seguintes:
Os temas não precisam ser exatamente esses, mas devem ser temas que possam
ser pesquisados facilmente para que os alunos não tenham dificuldades que não os problemas
matemáticos relacionados a esse conhecimento. Os alunos precisam colher o maior número
de informações que for possível: a região da cidade onde a pesquisa foi feita, o objeto de
pesquisa em si, o grau de interesse das pessoas com relação àqueles produtos etc.
135
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
Segundo momento
Em sala de aula, organize os alunos nos mesmos grupos e peça para que organizem os dados
em uma tabela. Nesse momento, o professor pode dar alguma instrução aos alunos, mas é
melhor que seja feito o mínimo possível no quadro. O docente deve orientar grupo a grupo,
sempre permitindo que os alunos cheguem as suas próprias conclusões e tomem as melhores
decisões para o desenvolvimento da atividade. Os alunos também devem produzir uma parte
teórica na qual demarcarão o contexto social, econômico e histórico dos locais escolhidos
para a pesquisa dentro das limitações dos dados obtidos e, claro, da idade dos alunos.
Terceiro momento
O terceiro momento é a análise e debate dos dados da tabela obtida. Para tanto, é bom que os
grupos tenham feito uma apresentação de slides ou construído uma tabela maior em papel.
Cada grupo falará sobre todas as informações disponíveis que foram encontradas. A tabela em
si pode ser apresentada a partir dos valores mínimos, máximos e médios das informações mais
importantes da lista e também com comentários sobre o significado desses números.
Quarto momento
Essa etapa destina-se à construção de gráficos. Cada grupo terá que construir um gráfico com
as informações obtidas na pesquisa. Sugerimos que, antes dessa atividade, o professor
proponha, para casa, que cada grupo pesquise um tipo de gráfico diferente. Em sala de aula,
peça para que cada grupo construa um gráfico igual ao que foi objeto da atividade para casa
com os dados da tabela. Oriente seus alunos sempre que necessário, mas, inicialmente,
permita que eles façam descobertas e tentativas por si mesmos e que aprendam com
seus erros. Ao final, os trabalhos podem ser trocados para que outros grupos analisem os
resultados da pesquisa. Essa atividade é um bom início para quem alcançou o conteúdo
de medidas de centralidade, uma vez que constrói os alicerces de um bom conhecimento
sobre análise de gráficos e tabelas.
FONTE: <https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/sugestao-aula-para-
analise-graficos-tabelas.htm>. Acesso em: 27 set. 2018.
136
TÓPICO 3 | CRÍTICAS FRENTE À GEOGRAFIA
LEITURA COMPLEMENTAR
137
UNIDADE 2 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO
138
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
139
AUTOATIVIDADE
140
a) ( ) No posicionamento teórico da Nova Geografia o conceito de natureza passa
ser visto como uma realidade inserida num espaço geométrico, matemático,
hierarquizado e com finalidades voltadas para os interesses do ser humano.
b) ( ) Caracterizada pelo uso de métodos matemático-estatísticos, essa
Nova Geografia desenvolveu-se principalmente nas décadas de 1960 e
1970. Na essência buscava a substituição do trabalho de campo pelos
experimentos laboratoriais, com muitas mensurações, dados estatísticos,
gráficos e tabelas bastante sofisticadas.
c) ( ) No posicionamento teórico da Nova Geografia, o conceito de natureza passa
a ser visto como uma realidade inserida num espaço religioso, matemático,
hierarquizado e com finalidades voltadas para os interesses do ser espiritual.
d) ( ) Caracterizada pelo uso de métodos matemático-estatísticos, essa
Nova Geografia desenvolveu-se principalmente nas décadas de 1960 e
1970. Na essência buscava a substituição do trabalho de campo pelos
experimentos filosóficos, com muitas mensurações, dados estatísticos,
gráficos e tabelas bastante simples.
141
142
UNIDADE 3
EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO
CONTEXTO CONTEMPORÂNEO –
PÓS-MODERNO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
143
144
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Estamos em nossa última unidade do livro de estudos. Abordaremos
a Geografia no período contemporâneo, em um contexto de transição da
modernidade com a pós-modernidade. Aparentemente, na atualidade, a história
humana universal é concreta, já que existe uma base material, organizacional e
financeira de interdependência no planeta, portanto, há uma situação concreta
para se perceber, estudar e compreender. No entanto, e num verdadeiro paradoxo,
quando se tornou mais possível falar de uma geografia geral concreta, histórica,
interdependente, de um planeta com uma base material e organizacional comum,
desigual e seletiva, a disciplina se fragmentou em muitas especialidades ou
aspectos. O discurso sobre os lugares dá legitimidade científica à disciplina, mas
quando a história humana concreta se torna interdependente, quando a história
humana universal se geografiza, quando o planeta materialmente é a prova de
que a história humana é interdependente, a abstração reside exatamente no
estudo do particular. Isso é uma abstração, e não o estudo da totalidade. Estudo
da desterritorialização, da fragmentação, da desconstrução, esse é um grande
dilema da disciplina hoje, o dilema da pós-modernidade na Geografia.
146
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA HUMANISTA E CONTEMPORÂNEA
FONTE: <http://geography.ruhosting.nl/geography/images/4/46/Yifutuan.jpg>.
Acesso em: 30 jan. 2019.
Para Diniz Filho (2012), os pressupostos que dão unidade a essa corrente
derivam da incorporação de variadas formas de pensamento humanista pelos
geógrafos. Um pressuposto importante desse tipo de pensamento é a visão
antropocêntrica do saber, no sentido de que a produção de conhecimento é sempre
fruto da intencionalidade do sujeito que o produz, de modo que todo saber é
147
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
DICAS
148
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA HUMANISTA E CONTEMPORÂNEA
3 A GEOGRAFIA CRÍTICA
Ao final da década de 1960, nos países capitalistas avançados se
desencadeou o agravamento das tensões sociais, fruto do grande desemprego,
dos problemas com habitação, da luta pelos direitos civis e das questões raciais.
Essa crise se proliferou nas Ciências Sociais, nas quais emergiu uma outra
tendência interpretativa da sociedade, que são os movimentos denominados
críticos, marxistas ou radicais, que de certa maneira influenciaram a forma de
ler os fenômenos da Ciência Geográfica e produzem questionamentos, ou seja,
a geografia de abordagem crítica, a qual tem como método de análise principal
o materialismo histórico e dialético, elaborado pelos filósofos Engels e Marx, e
acrescenta-se autores da escola de Frankfurt (teoria crítica); abordagem marxista
cultural (Gramsci); Anarquismo; o Pós-Modernismo (principalmente Foucault).
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSV-
GvWN6Ykao6N75gIvYxhSYz-hqS3TpcHppOzCQBZkeB9kZlESQ>. Acesso em: 30 jan. 2019.
149
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
150
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA HUMANISTA E CONTEMPORÂNEA
O autor que fez a crítica mais radical à Geografia Tradicional foi um aluno
e discípulo de Pierre George, o francês Yves Lacoste. Nos escritos de Moraes
(1994), encontramos Lacoste vinculado ao Partido Comunista Francês. Lacoste
lançou no início de 1970 uma revista que nas décadas seguintes procurou revelar
a face oculta da Geografia, isto é, seu caráter político. O debate proporcionado
pela revista fez surgir a questão: "A quem serve a geografia?". Em 1972, em
plena Guerra do Vietnã, Lacoste, após uma visita ao Vietnã do Norte, denunciou
a estratégia norte-americana de bombardeio dos diques de água vietnamitas,
através de um artigo publicado no Le Monde, que teve grande repercussão junto
à opinião pública americana. Isso fez com que os bombardeios cessassem pouco
tempo depois. A obra de impacto de Yves Lacoste foi A Geografia: isso serve em
primeiro lugar, para fazer a guerra, publicada em 1976. Nesta obra, ele argumenta que
o saber geográfico pode se manifestar em dois planos: a “Geografia dos Estados
Maiores” e a “Geografia dos Professores”. A primeira sempre foi ligada à prática
do poder, seja através dos Estados ou de grandes corporações internacionais, que
estabelecem estratégias de dominação da superfície terrestre. A segunda seria a
Geografia Tradicional, que tem uma dupla função:
151
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
152
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA HUMANISTA E CONTEMPORÂNEA
FONTE: <https://i0.wp.com/d3n8a8pro7vhmx.cloudfront.net/democracyatwork/
pages/4047/attachments/original/1541611043/0.png?resize=500%2C500&ssl=1>.
Acesso em: 30 jan. 2019.
153
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
154
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA HUMANISTA E CONTEMPORÂNEA
4 A FENOMENOLOGIA NA GEOGRAFIA
Na década de 1970, vimos o surgimento da Geografia Humanista que foi,
na década seguinte, acompanhada da retomada da Geografia Cultural. Semelhante
à Geografia Crítica, a Geografia Humanista, calcada nas filosofias do significado,
especialmente a Fenomenologia e o Existencialismo, é uma crítica à Geografia de
cunho lógico-positivista. Diferentemente daquela, contudo, é a retomada da matriz
historicista que caracterizava as correntes Possibilista e Cultural da Geografia
Tradicional. Outra contribuição metódica da ciência geográfica é a análise da
Fenomenologia (existencialista e hermenêutica), a partir da filosofia de B. Husserl,
Merleau-Ponty e Heidegger. De acordo com Suertegaray (2005), a Geografia da
Percepção surge como uma corrente de pensamento que se aproxima da psicologia
e tem nas formulações fenomenológicas de Edmund Husserl (1859-1938) o seu
suporte teórico. A Fenomenologia coloca importância primordial no indivíduo
para o processo de construção do conhecimento. Para esta corrente, o mundo deve
ser descrito segundo a maneira como é visto, sentido e percebido pelo indivíduo.
155
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
156
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA HUMANISTA E CONTEMPORÂNEA
157
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
E
IMPORTANT
158
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA HUMANISTA E CONTEMPORÂNEA
AUTOATIVIDADE
[...] o espaço geográfico é, em pleno sentido do termo, um produto social, porque resulta
do trabalho que a sociedade organiza para alcançar seus objetivos. (ISNARD, H.
L’Espace Géographique. Paris: P.U.F., 1978. p. 52).
Esta compreensão a respeito do espaço geográfico apresentada pelo autor:
DICAS
SUGESTÃO DE AULA
INTRODUÇÃO
Nosso propósito será discutir questões de economia urbana de forma articulada ao processo
de desenvolvimento capitalista no Brasil. E quando se analisa este processo, o mais comum é a
busca de explicações sobre o porquê da incapacidade de se alcançar padrões mais elevados de
modernização, a exemplo de outras experiências de capitalismos atrasados – por exemplo, EUA
e Alemanha – ou mais apropriadamente de capitalismos tardios – Coreia do Sul em especial.
No entanto, surpreendente é que o país tenha conseguido construir o parque industrial mais
integrado e avançado da região, tendo em vista o atraso do processo de industrialização
(fundamentalmente, na 2ª metade do século XX), sob o signo da dependência externa e herança
cultural de séculos de escravidão manifesta na desvalorização do trabalho e tantas outras
159
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
dificuldades no que diz respeito à estrutura de valores que [...] (para continuar lendo, acesse
<http://www.cpscetec.com.br/cpscetec/arquivos/tematicas_geo.pdf>.
OBJETIVOS
O objetivo da aula foi traçar um panorama do processo de desenvolvimento capitalista no
Brasil, de 1930 a 1980, apontando para suas especificidades – capitalismo tardio, portanto
acelerado no tempo, sob o signo da dependência externa e marcado pela herança cultural
de séculos de escravidão. Tardio em relação à revolução originária (inglesa) e às revoluções
atrasadas do século XIX (alemã, japonesa, norte-americana); acelerado porque se tratou
de tentar alcançar rapidamente padrões de produção predominantes nos países centrais,
queimando etapas. Caminho que implicou maiores custos e dificuldades de desenvolvimento
científico-tecnológico, levando à dependência financeira e científico-tecnológica. No campo
da estrutura de valores, as mazelas de séculos de escravidão são inúmeras, da desvalorização
do trabalho braçal à cultura hierárquica e obstáculos à difusão de valores modernos. [...]
DESENVOLVIMENTO DA AULA
Partindo do pressuposto de que quando falamos em economia urbana devemos pensar nos
processos de industrialização e urbanização que acompanham a história da modernidade –
ou seja, do capitalismo –, iniciamos nossa exposição traçando um panorama do processo
de desenvolvimento capitalista no Brasil, com a exposição de um resumo-cópia, com
comentários da professora e disponibilizado aos alunos para leitura antes da aula, do
texto de Fernando A. Novais e João Manuel Cardoso de Mello (1998), Capitalismo tardio
e sociabilidade moderna. Em meio à nossa exposição destacamos os temas apresentados
na Introdução acima, baseados tanto no texto-roteiro de Mello e Novais como em outras
referências (ver bibliografia). Ao final, abordamos o tema do desenvolvimento neste início de
século, a partir de textos próprios (ver bibliografia), discutindo as diferenças e continuidades
com o modelo predominante na história do capitalismo no Brasil, no qual a modernidade e
a inclusão social estariam intrinsecamente identificadas ao consumo.
160
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA HUMANISTA E CONTEMPORÂNEA
LEITURA COMPLEMENTAR
161
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
162
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA HUMANISTA E CONTEMPORÂNEA
Ocorre que essa ausência parece se apresentar mais como sintoma do que
ponto pacífico sobre algo resolvido. Há como um fantasma ignorado, mas que
atravessa toda a produção acadêmica contemporânea: a relação sujeito-objeto. E
quanto mais se ignora este problema, maior a crise científico-filosófica que se anuncia.
163
RESUMO DO TÓPICO 1
164
• A Geografia Crítica ou Radical se assenta em dois princípios marxistas:
o materialismo dialético, para o qual a natureza, a vida e a consciência se
constituem de matéria em movimento e evolução permanente, e o materialismo
histórico, para o qual o modo de produção é a base determinante dos fenômenos
históricos e sociais, inclusive as instituições jurídicas e políticas, a moralidade,
a religião e as artes. Interessa-se pela análise dos modos de produção e das
formações socioeconômicas.
165
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Linhas culturais.
b) ( ) Linhas metodológicas.
c) ( ) Linhas econômicas.
d) ( ) Linhas e alinhamentos.
166
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Em seu processo histórico, a ciência geográfica privilegiou determinadas
temáticas, como o território, a paisagem, a região e o espaço, que passaram a
constituir suas categorias fundamentais e cada qual dominante num dado tempo.
Diferentes olhares de cada uma dessas categorias são fruto de diversos paradigmas
que vêm estruturando a Geografia e que, por sua vez, encontram-se articuladas
às diversas correntes filosóficas, fornecedoras de critérios epistemológicos e às
relações da Geografia com as disciplinas afins.
167
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
2 A GEOGRAFIA HISTÓRICA
A Geografia Histórica, além de se preocupar em recuperar as espacialidades
pretéritas que marcam as espacialidades atuais, busca metodologias apropriadas e
esforça-se para refletir a categoria tempo, a fim de fornecer subsídios à abordagem
espacial e temporal. De acordo com Erthal (2003), na geografia emergente nos anos
de 1970, não se edificou um só paradigma oficial. É certo que a corrente marxista,
com sua postura crítica, exerceu papel fundamental na denúncia e desmonte da
nova geografia, mas ela não obteve monopólio do saber e fazer geográficos. Esta
corrente que examina a sociedade através dos materialismos histórico e dialético
tem alcançado êxito ao ser aplicada à Geografia. A aplicação de tais conceitos pela
Geografia Histórica, certamente, auxiliaria a esclarecer a produção do espaço em
diversas escalas.
168
TÓPICO 2 | PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, AMBIENTAIS E PÓS-MODERNAS
169
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
E
IMPORTANT
170
TÓPICO 2 | PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, AMBIENTAIS E PÓS-MODERNAS
3 A GEOGRAFIA AMBIENTAL
É o estudo dos efeitos das ações do homem sobre o ambiente terrestre; o
meio ambiente envolve todas as coisas vivas e não vivas da Terra que afetam os
ecossistemas e a vida humana. Em certo sentido, a maneira como o ser humano
ocidental vê a natureza remete à ideia judaico-cristã. Esse pensamento aumentou
as ilusões de domínio completo da natureza.
171
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
específicos. A corrente da Geografia Ambiental tenta apontar uma solução para tal
impasse e propõe uma avaliação integradora e imparcial da realidade geográfica,
mas novamente surgem críticas, e estudiosos da teoria geográfica, que são
respeitados por avanços teóricos e metodológicos na Geografia, acusam esta ideia
de “generalizar” o fato geográfico. Resta, ainda, novamente enfatizar que o método
ou metodologia ambiental não deve ser confundido com o tratamento do ambiente
enquanto sinônimo de natureza, isso seria diminuir o conceito. É notório que a
Geografia não considera o ambiente de forma individualizada, tal conceito está
alicerçado na definição de ambiente enquanto união das relações sociais com as
naturais. Não se pretendeu discutir tal definição através destas reflexões, somente
fortalecê-la, pois o próprio esboço metodológico escolhido como padrão se ampara
na necessária inter-relação ou interação sociedade-natureza.
172
TÓPICO 2 | PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, AMBIENTAIS E PÓS-MODERNAS
E
IMPORTANT
1 “A crise ambiental não é crise ecológica, mas crise da razão. Os problemas ambientais
são, fundamentalmente, problemas do conhecimento. Daí podem ser derivadas fortes
implicações para toda e qualquer política ambiental que deve passar por uma política
do conhecimento e também para a educação. Apreender a complexidade ambiental
não constitui um problema de aprendizagens do meio, e sim de compreensão do
conhecimento sobre o meio” (LEFF, 2001, p. 217).
2) A geografia naturalista e o homem natural: o naturalismo geográfico resultou da preocupação
em conhecer a superfície da Terra e controlar a natureza (e foi impregnado pelos postulados
positivistas e empiristas da época. Dentre as características desse tipo de pensamento
geográfico podem ser citados: o privilégio do empirismo e da indução, a resistência na
aceitação da diversidade de métodos de interpretação; e a visão de unicidade da geografia.
A geografia ambientalista e o homem social: buscam estabelecer relações entre o meio
e o homem, mas dessa vez um homem social, enxergado em; e um meio que não é
mais caracterizado como um meio físico de suporte à vida, como no período naturalista
da Geografia; vai além disso, caracteriza-se como um meio geográfico, como a do meio
técnico-científico-informacional.
173
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
4 A GEOGRAFIA PÓS-MODERNA
Filosoficamente, o período pós-moderno se expressa pela descrença na
concepção de tempo que funda a Modernidade, o tempo longo, a valorização da
história e da ideia de progresso. Uma das grandes críticas dos pós-modernistas é
a perspectiva de encontro com a “felicidade” sempre no futuro. Esta dimensão diz
respeito ou interessa à Geografia na medida em que, para muitos autores, a crença
de que a solução está no futuro, no progresso, gerou não só uma desvalorização
do espaço (lugar), como a sua deterioração em termos de recursos e qualidade de
vida. Neste sentido, esse momento resgata uma discussão de interesse, trata-se
da valorização do espaço não só na perspectiva econômica, enquanto portador de
recursos, mas também como o lugar da existência. Essa valorização do lugar está
em parte associada à ideia de diferença. Considerando que a pós-modernidade
também questiona as explicações totalizantes, os planejamentos centralizados, as
verdades eternas e universais e valoriza a pluralidade do poder discursivo, o jogo
de linguagem em que cada um ou cada grupo pode gerar, a partir de seu lugar,
distintos códigos e sentidos, valoriza, também, a singularidade do lugar.
174
TÓPICO 2 | PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, AMBIENTAIS E PÓS-MODERNAS
175
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
Contudo, de acordo com Diniz Filho (2012), não deixando de utilizar com
frequência algumas categorias marxistas no estudo dessas temáticas, tais mudanças
revelam a trajetória que levou Harvey do Marxismo ao Pós-Modernismo, mas é
especialmente interessante assinalar que as discussões econômicas realizadas por
esse autor em sua fase pós-moderna, associadas às análises de caráter cultural,
mostram uma diminuição da influência marxista.
Todavia, nas palavras de Diniz Filho (2012), é interessante assinalar que Harvey
se inspirou em referenciais teóricos próximos ao Marxismo para tratar da economia
capitalista contemporânea. Edward Soja, no livro Geografias pós-modernas, procurou
efetuar uma verdadeira integração entre Marxismo e Pós-Modernismo por meio de
uma releitura das teorias econômicas de Marx. O ponto de partida dessa obra é a tese
de que a crítica marxista ao capitalismo tem desprezado historicamente a importância
do espaço como objeto de análise e, mais ainda, como esfera da realidade dotada de
uma “dialética” própria. A influência da filosofia do século XIX sobre o Marxismo
e, de forma mais ampla, sobre todo o pensamento social do século XX, concedeu
à História o status de categoria central para o entendimento dos processos sociais,
relegando o espaço ao papel de reflexo da sociedade, instância passiva e subordinada
aos processos sociais. Em virtude disso, todas as análises econômicas pautadas por
um enfoque mais incisivo na espacialidade do desenvolvimento capitalista, tais como
os estudos sobre o subdesenvolvimento e a dependência, acabaram sendo criticadas
pelo modo como teriam tentado atribuir ao espaço qualidades que pertenceriam
unicamente à esfera da sociedade e da história.
Para superar esse impasse entre o desejo de construir uma crítica social apoiada
na análise do espaço e o temor de resvalar para o determinismo ou fetichismo espacial,
de acordo com Diniz Filho (2012), Soja propõe uma reformulação epistemológica da
Geografia. Ele procura desenvolvê-la a partir da crítica ao historicismo exacerbado da
“ortodoxia marxista” e, simultaneamente, pela mobilização de diversas perspectivas
filosóficas e teóricas que, embora muito diferentes entre si, convergiriam no sentido de
demonstrar o papel ativo das configurações espaciais na estruturação da sociedade.
Nesse sentido, o autor vê o “historicismo” como uma postura filosófica que atribui à
perspectiva do tempo histórico a condição de único método válido para a compreensão
dos fenômenos sociais, contrapondo-se, assim, à “imaginação geográfica”, a qual
pensa a sociedade pela ótica do espaço, embora sem negar a historicidade dos
processos sociais. Vale lembrar que na economia, e em outras ciências sociais, o
termo historicismo costuma ser empregado para designar as correntes que, em vez
de buscarem construir uma teoria geral do desenvolvimento preferem analisar as
experiências históricas de desenvolvimento de cada país. Seja como for, vemos que
entre as várias teorias recuperadas por Soja, no intuito de revalorizar a análise do
espaço, figuram os estudos sobre o subdesenvolvimento e a dependência gerados
nas décadas de 1960 e 1970. Segundo ele, autores como Wallerstein e Frank, entre
outros, tiveram o mérito de estimular o debate sobre o desenvolvimento desigual e
as relações centro-periferia, mas não teriam levado suas conclusões até as últimas
consequências por receio de ferir o primado da luta de classes como motor da História.
Mesmo no âmbito da Geografia, os estudos realizados por Harvey e outros geógrafos
modernos, sob inspiração desses debates, teriam demonstrado a hesitação dos autores
em radicalizar suas posições sobre a importância da análise espacial do capitalismo,
motivada por idêntico receio de incorrer num determinismo geográfico não histórico.
176
TÓPICO 2 | PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, AMBIENTAIS E PÓS-MODERNAS
FONTE: <https://i1.wp.com/thecharnelhouse.org/wp-content/uploads/2017/08/henri-
lefebvre-2-1.jpeg?fit=440%2C440&ssl=1>. Acesso em: 30 jan. 2019.
Encontramos nos escritos de Diniz Filho (2012), que somente Henri Lefebvre
e Ernest Mandel teriam ousado colocar a geografia do capitalismo e a lógica do
desenvolvimento desigual como elementos fundamentais para a compreensão da
sociedade capitalista, razão pela qual seus estudos teriam sido parcialmente deixados
de lado dentro da teoria social crítica. Em outras palavras, o autor resgatou algumas
teorias marxistas do intercâmbio desigual que foram influentes há cerca de 40 anos,
para sustentar a tese de que o capitalismo depende de mecanismos de exploração
entre países e entre regiões para contrabalançar os efeitos da lei da queda tendencial
da taxa de lucro. Esse é o caminho pelo qual ele procura operar uma “espacialização”
das teorias de Marx sobre a lógica de funcionamento do modo de produção capitalista.
Assim, seria possível retirar esse arcabouço teórico geral de sua forma excessivamente
abstrata, conferindo-lhe maior concretude espaço-temporal e abrindo caminho para
a construção de um “materialismo histórico-geográfico”. Com essa emancipação da
teoria social crítica em relação ao historicismo, seriam também satisfeitas algumas
condições necessárias para criar uma nova perspectiva para os estudos geográficos
(que, segundo o autor, já estaria emergindo), denominada pelo rótulo de geografia
humana crítica pós-moderna (DINIZ FILHO, 2012). Para concluirmos, é interessante
deixarmos claro que essa releitura do Marxismo não é o único caminho pelo qual o
autor procurou valorizar a análise do espaço. Ele também recorreu a uma série de
filósofos e cientistas sociais cujas teorias afirmam o papel ativo do espaço e que, em
certos casos, como o de Foucault, contrapõem esse papel às determinações históricas.
177
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
E
IMPORTANT
178
TÓPICO 2 | PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, AMBIENTAIS E PÓS-MODERNAS
AUTOATIVIDADE
179
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
DICAS
SUGESTÃO DE AULA
Objetivo(s):
• reconhecer a importância de se preservar as áreas verdes para a melhoria da qualidade de
vida e do meio ambiente;
• identificar e mapear a presença do verde na escola e em seu entorno.
Conteúdo(s):
• a ocupação desordenada pelo homem do espaço que ocupa;
• o desrespeito do homem com o meio ambiente;
• a importância da preservação de áreas verdes em espaços urbanos para a melhoria da
qualidade de vida.
Material necessário:
• recortes de notícias atuais sobre mudanças climáticas encontradas em jornais, revistas,
artigos da internet;
• croqui da escola e seu entorno, esse croqui pode ser conseguido aqui (acessar o link
indicado na fonte);
• máquina fotográfica.
Desenvolvimento:
1ª etapa
Divida os estudantes em grupos e entregue as reportagens. Peça que os alunos leiam e
discutam, com base nos seguintes questionamentos:
2ª etapa
Entregue um croqui para que os estudantes possam mapear as árvores que estão no entorno
da escola durante a caminhada, e um questionário, que servirá como roteiro de observação:
180
TÓPICO 2 | PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, AMBIENTAIS E PÓS-MODERNAS
3ª etapa
Este é o momento de sair a campo. Leve os estudantes para fora da escola, caminhe
por todo o entorno, percorrendo ruas e parando sempre que encontrar uma árvore
para que eles possam realizar o registro e mapear a localização das árvores no croqui.
Durante o trajeto, fotografe os estudantes trabalhando, a paisagem e árvores observadas.
4ª etapa
De volta à sala de aula, abra um círculo de debate. Deixe que contem o que acharam da
caminhada e das árvores que encontraram. Faça no quadro um registro da observação do
coletivo, anote as possíveis sugestões que surgirem.
5ª etapa
Faça um painel com as fotos tiradas e o registro coletivo. Ele servirá de ponto de partida para
ações futuras.
Avaliação:
Divididos em grupos, os estudantes deverão confeccionar cartazes sobre o que aprenderam
em relação às questões ambientais e à ação humana. Deverão fixar nos murais da escola
com a finalidade de sensibilizar os demais estudantes.
FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/5659/caminhada-pelo-entorno-da-escola#>.
Acesso em: 10 jul. 2018.
181
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
LEITURA COMPLEMENTAR
Monise Martinez
[...]
CONTORNOS DO CORPO
Desse modo, Waris foi vítima, com apenas cinco anos, de um dos mais
bárbaros costumes: a mutilação genital, apresentada como uma prática comum
da cultura que a moldou, destruiu e deu as armas para que sobrevivesse. Safiya
foi salva da condenação à lapidação por adultério, uma punição arcaica aplicada
em sua comunidade pelo Islã através da Sharia, apresentada como lei islâmica
universal. Feven foi torturada na Eritreia, perseguida pela lei islâmica no Sudão e
escravizada na Líbia. E Khady viveu o pesadelo da excisão, segundo as vozes da
tradição, aos sete anos de idade.
Como vemos, todas essas mulheres têm os seus corpos apresentados como
um espaço de consagração de tradições pelas quais os seus lugares de origem,
numa geografia de poder, são negativados. Com isso, a articulação da diferença
coincide com os pressupostos que gerem o discurso das geografias imaginárias
sublinhadas por Said (2008), uma vez que também apresentam o exercício de
182
TÓPICO 2 | PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, AMBIENTAIS E PÓS-MODERNAS
183
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
184
TÓPICO 2 | PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, AMBIENTAIS E PÓS-MODERNAS
185
RESUMO DO TÓPICO 2
186
• Não se deve pensar que o Pós-Modernismo se estabeleceu como novo
paradigma da Geografia Crítica em substituição ao Marxismo. As teorias
marxistas têm coexistido com as teses pós-modernas sobre a existência de
uma crise generalizada no momento histórico contemporâneo, além de se
assemelharem nas críticas à sociedade capitalista. Não é somente no Pós-
Modernismo que os geógrafos marxistas têm buscado renovar seus referenciais
epistemológicos, mas também nas abordagens humanistas, que convergem
com o Pós-Modernismo na crítica ao modelo normativo de ciência.
187
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Ontologia e a Astrologia.
b) ( ) Ontologia e a Epistemologia.
c) ( ) Ontologia e o Possibilismo Religioso.
d) ( ) Epistemologia e a Ontologia Econômica.
188
Assinale a alternativa CORRETA:
189
190
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
As tendências atuais da geografia são tentativas legítimas, mais do que
novos paradigmas, de dar respostas à crise de sociedade, da civilização e da
própria geografia em um mundo em constante mudança.
191
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
Ainda, de acordo com Claval (2007), o segundo grupo dos geógrafos responsáveis
do novo interesse pela cultura na geografia teve motivações completamente diversas
do primeiro grupo: eles não gostavam da nova geografia, porque ela dava uma visão
mecânica do comportamento dos homens. Nos países de língua inglesa, a crítica da
nova geografia repousava sobre o uso de temas da filosofia fenomenológica, através
de uma leitura direta de Heidegger, ou da sua interpretação por um geógrafo francês
desconhecido, Eric Dardel. Esse componente do movimento para um estudo mais
profundo da dimensão cultural das distribuições geográficas é geralmente conhecido sob
o nome de Geografia Humanista. O seu papel foi fundamental, porque ela enfatizou o
papel da iniciativa humana, geralmente esquecido pela nova geografia. O terceiro grupo
de geógrafos que participou do desenvolvimento da abordagem cultural foi também
crítico da nova geografia, mas por uma razão diversa do segundo grupo, esses geógrafos
a censuraram pelo seu caráter conservador. Alguns geógrafos radicais desenvolveram
um interesse pela cultura dos grupos dominados e das minorias (CLAVAL, 2007).
192
TÓPICO 3 | PERSPECTIVAS ATUAIS E A GEOGRAFIA NO BRASIL
Segundo Claval (2007), nos anos 1990, a influência dos trabalhos de Cosgrove
e Jackson, nos Estados Unidos, foi muito importante, pois concebiam a cultura como
uma arma nas guerras sociais. Os grupos minoritários ou marginais ensaiavam
afirmar as suas identidades: é a origem da maioria dos conflitos culturais. Nas
sociedades contemporâneas, os espaços públicos tornam-se muitas vezes o teatro
deste tipo de confrontação. Na França, a reflexão sobre a abordagem cultural
tomou orientações diferentes. Ela focalizou a experiência espacial: experiência do
lugar nas pesquisas sobre o espaço vivido, experiência da natureza, experiência
da multiplicidade dos espaços imaginados pelos homens.
Existe evidentemente uma relação entre essas três viradas. Segundo Claval
(2007), a virada espacial das ciências sociais testemunha o fim do privilégio do tempo na
análise da vida social: os cientistas descobrem o papel da distância e da diversidade dos
lugares. A fronteira entre as ciências sociais e a geografia se torna menos significativa. A
virada linguística da história testemunha de uma atenção nova às formulações próprias
a cada época, a cada lugar, a diversidade das culturas no tempo e no espaço. Foi o fim
dos antigos quadros de análise, a preeminência do tempo, o interesse limitado para o
espaço, a atenção exclusiva dada às culturas dominantes. A expressão “virada cultural”
193
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
E
IMPORTANT
194
TÓPICO 3 | PERSPECTIVAS ATUAIS E A GEOGRAFIA NO BRASIL
195
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
4 A GEOGRAFIA NO BRASIL
O Brasil permaneceu mais ou menos indiferente às novas orientações da
Geografia. Concepções tradicionais dominavam a escola, e os livros se limitavam
a uma geografia puramente descritiva e enumerativa, durante um bom período
do século XX. Além de não existirem pesquisas no país, a geografia nos países
ocidentais vivia ainda ao sabor das superficialidades conceituais e metodológicas.
196
TÓPICO 3 | PERSPECTIVAS ATUAIS E A GEOGRAFIA NO BRASIL
197
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
198
TÓPICO 3 | PERSPECTIVAS ATUAIS E A GEOGRAFIA NO BRASIL
Tal corrente foi criticada pelos geógrafos brasileiros, que buscavam outros
caminhos para a compreensão e explicação do espaço geográfico. De acordo com esses
críticos, os teoréticos apresentavam um discurso de conteúdo mais abstrato do que
as propostas da chamada Geografia Tradicional. Os teóricos de orientação marxista,
crítica, influenciaram a produção da Geografia no Brasil nas décadas de 1980 e 1990.
E
IMPORTANT
199
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
países da Europa, África e América Latina, que procuravam seu apoio. Morreu em Paris, no dia
24 de setembro de 1974.
• Milton Almeida dos Santos (1926-2001): Milton Santos, nascido em Brotas de Macaúbas,
no interior da Bahia, em 3 de maio de 1926. Embora tivesse concluído o curso de Direito em
1948, Milton Santos ministrava aulas de Geografia no Ensino Médio na Bahia. Daí seu interesse
pela disciplina que o lançou ao mundo das ideias e da reflexão política. Em 1958 obteve seu
título de doutor em Geografia, na Universidade de Strasbourg (França), passando a ensinar
na Universidade Católica de Salvador e, depois, na Universidade Federal da Bahia, na década
de 1960. Homem de ação política, aceitou o convite para participar de governos no início
da década de 1960, que culminou com sua prisão em 1964, por ocasião do golpe de estado
implementado pelos militares ao Brasil. Foram três meses difíceis. Ao sair da prisão, carregava
consigo uma decisão: era preciso partir. O geógrafo ganhava o mundo. O começo de sua
carreira internacional forçada ocorreu na França, onde trabalhou em diversas universidades,
como as de Toulouse (1964-1967), de Bourdeaux (1967-1968) e de Paris (1968-1971). Durante
esses anos realizou estudos sobre a Geografia Urbana dos países pobres e produziu vários
livros. Da França partiu para vários países, vivendo de maneira itinerante e como professor
convidado. Em 1978 estava de volta à vida universitária brasileira, mas trazia na bagagem uma
obra que marcou, sobretudo, os geógrafos marxistas do país: Por uma Geografia Nova, que
foi traduzida para vários idiomas em diversos países. Neste trabalho, Milton Santos preconiza
uma geografia voltada para as questões sociais. Entre 1978 e 1982 trabalhou como professor
visitante na Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo – USP. Atuou também
como professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, onde permaneceu até
1983. Em 1983 ingressou em uma nova instituição de ensino e pesquisa: o Departamento
de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, onde organizou
congressos, ministrou aulas na graduação e na pós-graduação, pesquisou, produziu livros e
formou alunos. Depois de 1994 sua vida foi marcada pelo reconhecimento de sua produção
como geógrafo e intelectual crítico. Recebeu diversas premiações. Após o diagnóstico de um
câncer em 1994, ao contrário de esmorecer, intensificou o seu trabalho de intelectual, para
perplexidade dos que o acompanhavam de perto, até a data de seu falecimento, em 24 de
junho de 2001.
• Aziz Nacib Ab'Saber (1924-2012): Aziz Ab’Saber nasceu em 24 de outubro de 1924, em
São Luiz do Paraitinga/SP, e dedicou quase 70 anos ao estudo da geografia. Aos 17 anos
ingressou no curso de Geografia e História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências (FFLC)
da USP. Decidiu-se pela Geografia, na qual se licenciou em 1944. Tornou-se especialista em
Geografia Física em 1946, quando iniciou estudos sobre Geologia e ingressou na USP como
jardineiro, passando a prático de laboratório três meses depois, no Departamento de Geologia
e Paleontologia da FFLC. Manteve-se no cargo enquanto obtinha o doutorado (1956) e até
tornar-se livre-docente (1965), quando passou a dar aulas de Geografia Física na Universidade.
Antes de ser professor da USP, deu aulas no Ensino Médio e na Pontifícia Universidade Católica
(PUC) de São Paulo. Tornou-se professor titular em 1968, aposentando-se na Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) em 1982. Mesmo aposentado, continuou
desenvolvendo suas pesquisas e, em 1988, passou a integrar o IEA (Instituto de Estudos
Avançados) como professor visitante da Área de Ciências Ambientais, tornando-se depois
professor honorário do Instituto, no qual atuou até a véspera de sua morte, em 16 de março
de 2012. Ab’Saber foi autor de estudos e teorias fundamentais para o conhecimento dos
aspectos naturais do Brasil. Sua produção em geografia centrou-se sobretudo em domínios
morfoclimáticos e fitogeográficos brasileiros, sertões do Nordeste, estudos amazônicos,
superfícies aplainadas do Brasil, Teoria dos Refúgios e na revisão das pesquisas sobre
"desertificação" na Campanha Gaúcha de Sudoeste, além de esforços para cruzamento entre
o Ensino Fundamental com uma educação de base regional para o país. Realizou centenas
de pesquisas e tratados de relevância internacional nas áreas de Ecologia, Biologia Evolutiva,
Fitogeografia, Geologia, Arqueologia e Geografia. Sua produção contabiliza mais de 500
trabalhos, entre artigos acadêmicos, teses, capítulos de livros, prefácios e apresentação de
livros, resenhas, publicações em jornais, revistas, documentos e relatórios.
200
TÓPICO 3 | PERSPECTIVAS ATUAIS E A GEOGRAFIA NO BRASIL
AUTOATIVIDADE
201
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
DICAS
SUGESTÃO DE AULA
Cada aluno deve escrever, individualmente, uma breve análise sobre a imagem. Os alunos
deverão ser chamados à atenção para perceber o conteúdo da imagem. Seriam produtos
(nesse caso, bolsas) produzidos/montados com matérias-primas de várias origens. A aula
deverá acontecer na sala de informática da escola, onde os alunos terão oportunidade de
pesquisar sobre a produção de outros produtos, escolhidos de acordo com interesse deles
próprios, e verificar a origem da(s) matéria(s)-prima(s) principal(is) na elaboração/construção
de tal produto. Feito isso, eles deverão se reunir em grupos de três ou quatro para discutir
e trocar opiniões, construindo um pequeno texto (único para o grupo). A turma deverá ser
organizada em círculo, de modo que todos possam se ver, para leitura dos textos construídos
pelos grupos. O professor deve, depois da leitura, mediar um debate, em que muitos
conhecimentos e ideias devem ser orientados a fim de que tenham um encadeamento.
202
TÓPICO 3 | PERSPECTIVAS ATUAIS E A GEOGRAFIA NO BRASIL
Aula 2
1º passo: o professor deverá trabalhar a leitura e a análise dos seguintes textos:
203
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
2º passo: depois de lido e chamada a atenção para pontos fundamentais do texto (inclusive,
fazendo referências a fatos históricos relevantes para a compreensão da organização do
espaço mundial), o professor deve organizar novamente a turma com os grupos da aula
anterior e pedir que reflitam e anotem sobre os seguintes questionamentos: Como era
a ordem mundial no período da Guerra Fria? Como vocês imaginam ser a vida em um
país que adotou o sistema socialista, como forma de gerir a nação? O que vocês pensam
acerca da possibilidade de implementação de um outro tipo de sistema, em alguns países do
mundo? Vocês conseguem imaginar de que maneira um país (ou grupo de países) socialista
enfrentaria o capitalismo hoje? Como vocês avaliam a economia global? Quais são os
pontos positivos e negativos dessa economia para a sociedade mundial? Como pode ser
estabelecida a nova (des)ordem mundial? Com tantos avanços técnicos e científicos, de que
forma vocês pensam o futuro do planeta?
Dica: a leitura dessas respostas pode gerar um seminário em outro momento. Para a execução
do seminário, os alunos poderão fazer uma pesquisa na internet, livros e revistas disponíveis na
escola, com a orientação do professor, e objetivar a construção de um material sistematizado
(em forma de texto, em tópicos ordenados, com imagens, charges, vídeos, entrevistas postadas
na internet e outros) para a discussão e apresentação no seminário proposto.
Recursos Complementares: textos; imagem.
Bibliografia:
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
São Paulo: Record, 2000.
Endereços eletrônicos:
<http://desenvolvimentoemquestao.blogspot.com/2009/07/por-uma-outra-globalizacao-
milton.html>.
Entrevista com Milton Santos – Conexão Roberto D'Ávila (1998) (vídeo). Disponível
em: <http://www.cantacantos.com.br/blog/?p=8177>.
204
TÓPICO 3 | PERSPECTIVAS ATUAIS E A GEOGRAFIA NO BRASIL
LEITURA COMPLEMENTAR
AGB surgiu em 1934, portanto daqui a dois anos a AGB vai estar com 70
anos. Então, eu poderia fazer um histórico da AGB, do papel da AGB no Brasil,
mas eu não vou falar sobre isso, eu não vou falar sobre a AGB.
Eu sei ainda que existe uma outra instituição bastante importante aqui no
Rio de Janeiro que é o IBGE. O IBGE surgiu em 1937, mas eu também não vou falar
do IBGE. Eu poderia falar das universidades brasileiras onde se formaram geógrafos
no Brasil da década de 1930 para cá, poderia falar da Universidade de São Paulo,
que tem um curso que existe desde 1934; poderia falar da Universidade do Distrito
Federal, que passou a ser Universidade do Brasil e hoje é a Universidade Federal do
Rio de Janeiro e existe desde 1935, mas também não é da formação dos profissionais
geógrafos nas universidades brasileiras que pretendo conversar com vocês.
O que nós estamos tentando fazer, quando eu digo nós, falo um grupo
expressivo de pesquisadores que hoje atua nessa área, é contar a história da
geografia no Brasil que ainda não foi contada, uma história da geografia no
Brasil que ainda está por ser, digamos assim, construída, que é uma história que
antecede à década de 1930.
205
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
E por que é que agora um grupo de malucos está querendo contar uma
história, que é diferente daquela história que sempre foi contada? Por que é que
agora, algumas pessoas estão a remexer velhos papéis, para contar ou para dizer
de geógrafos, ou de geografias, ou de saberes geográficos existentes antes daquele
saber geográfico ou daquele período tido como período fundador da geografia no
Brasil? Eu vou dizer três das razões fundamentais.
É por isso que o período que antecedeu 1930 foi considerado por muito tempo
como pré-institucional ou como pré-científico, só que quase ninguém disse que
havia, por exemplo, geólogos e geógrafos-físicos importantíssimos aqui, como um
cientista americano chamado Charlles Hart que publicou em 1878 um livro intitulado
Geologia e Geografia Física do Brasil, um livro inclusive fabuloso; quase ninguém diz
que houve comissões científicas de exploração, que viajaram pelo território nacional,
fizeram levantamentos interessantíssimos da flora, da fauna, das condições físicas
mais gerais, isso quase ninguém fala. E já que naquela época, portanto, se produzia
206
TÓPICO 3 | PERSPECTIVAS ATUAIS E A GEOGRAFIA NO BRASIL
207
UNIDADE 3 | EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – PÓS-MODERNO
esse ainda frágil esquadrinhamento do território, e aí o que foi que houve? Nós
trocamos o reconhecimento da Espanha, de que esse território mais a oeste era
propriedade de Portugal por uma possessão portuguesa nas Filipinas. As Filipinas
eram portuguesas, e passaram a ser, à época, propriedade espanhola, e aí você
pode entender o que tem a ver a história do Brasil com as Filipinas. Mas o que é que
garantiu que o território fosse “conquistado”, pelo menos até Santo Idelfonso, num
conclave diplomático internacional? Foi o conhecimento efetivo do território, foi o
saber do território, foi tê-lo esquadrinhado, foi tê-lo construído do ponto de vista
representacional, foi isso que permitiu Alexandre Gusmão postular suas teses.
Por nós não termos feito essa história do saber geográfico no Brasil anterior
a 1930, permitimos que uma série de mitos se constituíssem como verdades quase
incontestes. Quer ver algumas coisas que nós aprendemos na escola? O Brasil é
atrasado, porque foi colonizado por Portugal; segunda, o Brasil é atrasado porque
ele é um país que fica nos trópicos, então a torridez tropical faz as pessoas terem
preguiça, malemolência, produzirem pouco; depois nós somos um país atrasado
porque somos um país mestiço, porque aqui na canícula do calor dos trópicos
e tal, o sexo rolava de forma louca entre portugueses e índios e negros e aí a
mestiçagem acabou barafundando tudo e arruinando o que podia haver de bom
nas raças puras, e por isso também nós éramos atrasados.
Ainda hoje, se você parar nos pontos de ônibus, tem gente que diz mais
ou menos assim: rapaz, se por acaso os holandeses não tivessem sido expulsos do
Brasil, hoje a história seria outra, mentira! Se fosse a Inglaterra, o negócio seria outro,
mentira! Nós fomos colônia inglesa, parte de nós foi colônia holandesa, e as coisas
eram tão terríveis, ou mais terríveis do que com os portugueses. Não era lógica de ser
português ou não, era lógica colonial. Esse era o problema, é que nós temos o passado
colonial e não podemos negar isso, e tem uma geografia colonial que a gente precisa
ver e isso exige um recuo histórico ainda maior.
E o que tem a ver todo esse processo de outros presentes históricos com a
nossa história hoje? Porque quando se fala hoje em neoliberalismo, quando se fala em
globalização, quando se fala em ALCA, isso tem a ver com um projeto de recolonização.
E pra quem já foi colônia, esse debate é importantíssimo, por que, por exemplo, o
que tem a ver a CLT com a ALCA? A flexibilização da lei do trabalho com a ALCA?
Tudo. É preciso quebrar os direitos dos trabalhadores como se quebrou os direitos
das pessoas de viverem sua humanidade, por exemplo, trazendo para cá negros da
África sob a dureza do ferro e a crueza do fogo, para aqui serem comercializados. A
208
TÓPICO 3 | PERSPECTIVAS ATUAIS E A GEOGRAFIA NO BRASIL
ALCA é quase que um retorno à escravidão porque precisa disso, quebrar com um
direito dos trabalhadores, completamente. Então o que eu quero dizer é que também
estudar essa história, da geografia do Brasil, pra compreender a história desse país
e a conformação dessa sociedade, tida como atrasada por estes aspectos que eu lhes
coloquei em função dos muitos mitos que aqui foram constituídos, tem a ver com
a nossa história, hoje, tem a ver com o que nós estamos a fazer, agora. Eu sei que o
salto parece grande, não é? Não tem nada a ver a escravidão com a ALCA; não tem
nada a ver a biopirataria com o fato de que muitos cientistas estrangeiros vinham
aqui e coletavam informações acerca das riquezas naturais; não tem nada a ver as
questões dos limites territoriais com o Acordo do Livre Comércio das Américas, que
vai acabar, digamos assim, com fronteiras alfandegárias; não tem nada a ver então
uma coisa com a outra. Aparentemente não tem nada a ver.
209
RESUMO DO TÓPICO 3
• A Geografia Cultural passou por várias etapas até se estruturar da forma como
a conhecemos. Embora a Geografia Cultural tenha ganhado uma identidade
com a obra de Sauer e seus discípulos, a dimensão cultural já estava presente
na geografia do século XIX.
210
• A produção científica dos geógrafos brasileiros também se encontra embasada
em pensadores não geógrafos que tomam o espaço como categoria central em
suas análises: Manuel Castells e Henri Lefebvre investigam o espaço urbano.
Michel Foucault pesquisa o espaço dos poderes; David Harvey realizou estudos
temáticos preocupados com o urbano. No Brasil, José de Souza Martins produziu
obras dedicadas à Geografia Rural. Na atualidade, existem vários caminhos para
a discussão e a produção de Geografia no país apoiadas no Existencialismo;
na Fenomenologia Hermenêutica; na Percepção, no Anarquismo, no Pós-
Modernismo, no Decolonialismo, entre outras abordagens.
211
AUTOATIVIDADE
212
REFERÊNCIAS
ALVES, J. Pressupostos teórico-metodológicos sobre o ensino de geografia:
elementos para a prática educativa. In: Geografia, v. 11, n. 2, jul./dez. 2002.
Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/geografia/article/
viewFile/6733/6075>. Acesso em: 17 jan. 2019.
213
______. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 2003.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
214
LACOSTE, Y. A geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer guerra.
Campinas: Papirus, 1988.
215
PRADE, P. Revoluções culturais. São Paulo: Escrituras, 2004.
216
VIEIRA, E. F. A geografia atual. 2012. Disponível em: <https://www.ihgrgs.
org.br/artigos/membros/Euripedes%20Falc%C3%A3o%20Vieira%20-%20A%20
Geografia%20Atual.pdf>. Acesso em: 20 maio 2018.
217