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YARA BANDEIRA AZEVEDO DE ALENCAR

JESSICA DA SILVA CAMPOS


CAROLINE CHRISTINE PINCELA DA COSTA
DIOGO MARÇAL MACHADO DE OLIVEIRA
JHONATHAN GONÇALVES DA ROCHA
(ORGANIZADORES)

FARMÁCIA CLÍNICA

& PRESCRIÇÃO

FARMACÊUTICA
YARA BANDEIRA AZEVEDO DE ALENCAR
JESSICA DA SILVA CAMPOS
CAROLINE CHRISTINE PINCELA DA COSTA
DIOGO MARÇAL MACHADO DE OLIVEIRA
JHONATHAN GONÇALVES DA ROCHA

(O R G A N I Z A D O R E S )

FARMÁCIA CLÍNICA
& PRESCRIÇÃO
FARMACÊUTICA

1ª Edição - Ano 1 - Volume 1

Editora SBCSaúde

2021

FARMÁCIA CLÍNICA & PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA – ISBN 978-65-87580-04-3 2


Copyright © da Editora SBCSaúde Ltda

Diagramação: Editora SBCSaúde

Capa: Editora SBCSaúde

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DADOS DE CATALOGAÇÃO
_________________________________________________________________________

A368

Farmácia Clínica & Prescrição Farmacêutica/ Yara Bandeira Azevedo de Alencar;


Jessica da Silva Campos; Caroline Christine Pincela da Costa; Diogo Marçal Machado de
Oliveira; Jhonathan Gonçalves da Rocha [organizadores]. 1 ed – Goiás: SBCSaúde, 2021.

158p
17200 kb - ePUB

Incluída bibliografia
ISBN 978-65-87580-04-3

1. Tratamento farmacológico; 2. Medicamentos; 3. Atenção Farmacêutica;


I. Título.

Índice para catálogo sistemático CCD 615


_________________________________________________________________________

Editora SBCSaúde: http://sbcsaude.org.br/ ou http://editorasaude.com.br/

E-mail address: publicacoes@sbcsaude.org.br

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CORPO EDITORIAL

Dra. Adriana Alves de Meneses Delevedove – UNAERP – SP


Dra. Aline Helena da Silva Cruz/ UFG - GO
Dra. Aline Raquel Voltan/ UNIRV - GO
Dra. Aliny Pereira de Lima/ UFG - GO
Dra. Andrielle de Castilho Fernandes/ UNIFAN - GO
Dr. Aroldo Vieira de Moraes Filho/ UNIFAN - GO
Dr. Benedito Rodrigues da Silva Neto/ UFG - GO
Dra. Carla Cardoso da Silva/ UNIFAN - GO
Dra. Carolline Silva Borges/ UFG
Dra. Debora de Jesus Pires/ UEG – GO
Dra. Eria Izumi - UFT do Paraná - Campus de Santa Maria - PR
Dr. Ernane Gerre Pereira Bastos/ ULBRA- TO
Dr. Jonas Byk - Universidade Federal de Manaus - AM
Dra. Juliana Santana De Curcio/ UFG - GO
Dra. Lara Stefânia Netto de Oliveira Leão – UFG-GO
Dra. Lilian Carla Carneiro/ UFG - GO
Dra. Lorena Motta da Silva/ UEG – GO
Dr. Lucas Silva de Oliveira/ UNB - DF
Dr. Luiz Paulo Araújo dos Santos/ UFG - GO
Dra. Marcia Regina Pincerati - Universidade Positivo, Curitiba - PR
Dra. Mônica de Oliveira Santos/ UFG - GO
Dra. Mônica Santiago Barbosa/ UFG – GO
Dra. Pablinny Moreira Galdino de Carvalho/ UFOB - BA
Dra. Patricia Fernanda Zambuzzi Carvalho/ UFG – GO
Dra. Tereza Cristina Vieira de Rezende/ Universität Basel – Switzerland
Dra. Yara Bandeira Azevedo de Alencar/ INPÓS – GO

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APRESENTAÇÃO

O Instituto de Pós-Graduação (INPÓS) é uma instituição que preza pela


seriedade e comprometimento. Localizada no município de Goiânia no estado de Goiás,
nossa missão é ofertar um ensino superior de qualidade no universo científico e no
respeito à diversidade cultural, formando profissionais comprometidos com a excelência
nas áreas de atuação, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade com ética e
incentivando a busca e difusão de conhecimentos. Alicerçado por professores com
ampla experiência no mercado de trabalho, oferecemos aos alunos soluções
educacionais que permitam que eles coloquem em prática os conceitos e técnicas
aprendidas.
Diante disso, essa obra foi idealizada com intuituo de incentivar a pesquisa
ciêntifica, bem como disseminar conhecimento adquirido durante árdua trajetória dos
discentes na elaboração do trabalho de conclusão de curso (TCC). Portanto, esse e-book
contempla os artigos científicos dos discentes que concluíram a Pós-Graduação na
modalidade Lato Sensu.
O intuito da iniciativa é contribuir para o fortalecimento e à ampliação da
ciência. Ademais, a obra tem intuito de elucidar resultados de pesquisas que podem
colaborar para tomada de decisão dos profissionais da saúde, contribuindo para
melhoria da assistência à saúde, bem como na qualidade do serviço prestado.
Com a primeira edição do e-book Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica,
apresentamos textos que abordam temas atuais e relevantes sobre a ampla esfera de
atuação farmacêutica, descrevendo de forma sólida e com respaldo científico as
principais e inovadoras informações sobre os assuntos aqui apontados.
Por esse motivo, expressamos nossos sinceros agradecimentos a todos os autores
envolvidos em cada capítulo deste livro, no qual somaram substancialmente com sua
experiência e saberes, enriquecendo e tornando possível a materialização dessa obra.

Goiânia, março de 2021.

Yara Bandeira Azevedo de Alencar


Jessica da Silva Campos
Caroline Christine Pincela da Costa
Diogo Marçal Machado de Oliveira
Jhonathan Gonçalves da Rocha

FARMÁCIA CLÍNICA & PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA – ISBN 978-65-87580-04-3 5


SOBRE OS ORGANIZADORES

Yara Bandeira Azevedo de Alencar Jessica da Silva Campos


http://lattes.cnpq.br/8905771449953876 http://lattes.cnpq.br/7849599391816074

Farmacêutica/Bioquímica pela UFG, mestre em Medicina Professora universitária, Enfermeira. Especialista em


Topical pela UFG. Experiência na área da Saúde Pública Cardiologia e Hemodinâmica. Mestranda pelo Programa de
com ênfase em Vigilância Sanitária. Atua na docência Pós-Graduação em Assistência e Avaliação em Saúde
superior, sendo empresária e CEO da empresa INPÓS na (PPGAAS) pela Universidade Federal de Goiás (UFG). E-
área da educação superior. E-mail: mail: jsilvacampos18@gmail.com
diretoria@inposbr.com.br

Caroline Christine Pincela da Costa Diogo Marçal Machado de Oliveira


http://lattes.cnpq.br/5683101228321525 http://lattes.cnpq.br/2758210106074346

Farmacéutica pela Universidade Paulista (UNIP). Professor universitário, Farmacêutico/Bioquímico. Mestre


Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Genética e em Farmacologia pela Universidade de São Paulo (USP).
Biologia Molecular (PPGBM) Universidade Federal de Tem experiência na área de Farmacologia, com ênfase em
Goiás (UFG). Atua na área de polimorfismos genéticos farmacologia cardiovascular, hipertensão renovascular,
com ênfase em neurogenétca, com foco em doenças raras. remodelamento vascular, estresse oxidativo e
E-mail: carolinechristine@hotmail.com metaloproteases de matriz. E-mail:
diogonaja@hotmail.com

Jhonathan Gonçalves da Rocha


http://lattes.cnpq.br/0281432243126071

Professor universitário, Biomédico. Mestre pelo Instituto de


Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), vinculado a
FARMÁCIA CLÍNICA
Universidade Federal&de PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA
Goiás (UFG). – ISBN no978-65-87580-04-3
Doutorando 6
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde
(PPGCS/ UFG). E-mail: jhonathan.biomed@yahoo.com.br
SUMÁRIO

Capítulo 01 ----------------------------------------------------------- 10
USO SEGURO DE FILTRO SOLAR ORAL: REVISÃO DE LITERATURA
Anderson Ghizzoni
Dalton Souza Mamede Filho
Jhonathan Gonçalves da Rocha
Diogo Marçal Machado de Oliveira
Yara Bandeira Azevedo de Alencar
Ludmila Cristina Souza Silva

Capítulo 02 ----------------------------------------------------------- 22
O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA FIBROMIALGIA E A ATENÇÃO
FARMACÊUTICA
Beatriz Costa Ferreira de Sousa
Diuliane Leopoldina dos Santos
Julyana de Aquino
Caroline Christine Pincela da Costa
Jessica da Silva Campos
Ludmila Cristina Souza Silva

Capítulo 03 ----------------------------------------------------------- 36
O IMPACTO DO USO INDISCRIMINADO DE SUBSTÂNCIAS
ERGOGÊNICAS NA BUSCA PELOS PADRÕES DE BELEZA CORPORAL
SOCIALMENTE DETERMINADOS
Francielly Batista de Souza
Marina Neres dos Santos
Thiago Faquim Vieira
Jhonathan Gonçalves da Rocha
Diogo Marçal Machado de Oliveira
Yara Bandeira Azevedo de Alencar
Ludimila Cristina Souza Silva

Capítulo 04 ----------------------------------------------------------- 50
USO DOS ANSIOLÍTICOS EM PACIENTES PORTADORES DE
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA ASSOCIADA À FATORES
EMOCIONAIS
Gizelly Borges Nogueira
Jhonathan Gonçalves da Rocha
Diogo Marçal Machado de Oliveira
Yara Bandeira Azevedo de Alencar
Ludimila Cristina Souza Silva

Capítulo 05 ----------------------------------------------------------- 67
AS CARACTERÍSTICAS E A UTILIZAÇÃO DO CHÁ VERDE (Camellia
sinensis)
Juceli Xavier da Costa Silva
Caroline Christine Pincela da Costa

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Jessica da Silva Campos
Jhonathan Gonçalves da Rocha
Diogo Marçal Machado de Oliveira
Yara Bandeira Azevedo de Alencar
Ludimila Cristina Souza Silva

Capítulo 06 ----------------------------------------------------------- 79
USO INDISCRIMINADO DE ESTEROIDES ANABOLIZANTES E SEUS
EFEITOS COLATERAIS
Verushka de Sena Ferreira
Dalton Souza Mamede Filho
Jhonathan Gonçalves da Rocha
Diogo Marçal Machado de Oliveira
Yara Bandeira Azevedo de Alencar
Ludimila Cristina Souza Silva

Capítulo 07 ----------------------------------------------------------- 96
TRANSTORNOS PSICÓTICOS INDUZIDOS PELA COCAINA
Alysson Ubirajara da Silva
Bruno Carneiro Manhâes
Marilac Rodrigues Sales de Paula
Jhonathan Gonçalves da Rocha
Diogo Marçal Machado de Oliveira
Yara Bandeira Azevedo de Alencar
Ludimila Cristina Souza Silva

Capítulo 08 ---------------------------------------------------------- 121


O USO DE CONTRACEPTIVOS ORAIS ASSOCIADO AO TRATAMENTO
COM ANTIBIÓTICOS
Cláudia Costa e Souza Caetano
Caroline Christine Pincela da Costa
Jessica da Silva Campos
Jhonathan Gonçalves da Rocha
Diogo Marçal Machado de Oliveira
Yara Bandeira Azevedo de Alencar
Ludimila Cristina Souza Silva

Capítulo 09 ---------------------------------------------------------- 142


PREVENÇÃO DAS NÁUSEAS E VÔMITOS EM PACIENTES SUBMETIDOS A
QUIMIOTERAPIA
Vanessa Reis Castanheira
Dalton Souza Mamede Filho
Jhonathan Gonçalves da Rocha
Diogo Marçal Machado de Oliveira
Yara Bandeira Azevedo de Alencar
Ludimila Cristina Souza Silva

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Capítulo 10 ---------------------------------------------------------- 152
OS EFEITOS DO USO DO TOPIRAMATO NO TRATAMENTO DE
ENXAQUECAS
Cintya Lorena de Oliveira Neves
Dalton Souza Mamede Filho
Jhonathan Gonçalves da Rocha
Diogo Marçal Machado de Oliveira
Yara Bandeira Azevedo de Alencar
Ludimila Cristina Souza Silva

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CAPÍTULO 01
USO SEGURO DE FILTRO SOLAR
ORAL: REVISÃO DE LITERATURA

Anderson Ghizzoni
Pós - Graduando em Farmácia Clínica e Prescrição
Farmacêutica pelo INPÓS

Dalton Souza Mamede Filho


Professor Universitário. Farmacêutico, Especialista
em Docência no Ensino Superior.

Jhonathan Gonçalves da Rocha


Mestre, docente do INPÓS

Diogo Marçal Machado de Oliveira


Mestre, docente do INPÓS

Yara Bandeira Azevedo de Alencar


Professora Universitária, Farmacêutica/Bioquímica,
Mestre, Diretora Geral do INPÓS

Ludmila Cristina Souza Silva


Doutora, Professora do Curso de Especialização
em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do INPÓS.

RESUMO: A vida moderna requer certas atividades maiores ao ar livre, deixando as


pessoas expostas, consideravelmente, por mais tempo aos raios solares. A evolução do
mercado de proteção solar disponibiliza diversos nutracêuticos com propriedades
farmacológicas que facilitam a proteção da pele, agindo como, antioxidante,
fotoprotetores e antiinflamatório. O Polypodium leucotomos, demonstra esse resultado
esperado na era moderna. Este estudo tem por objetivo, rever a literatura sobre o uso
seguro da ingestão oral, de substâncias naturais, com atividade fotoprotetora, em
especial o Polypodium leucotomos, durante o tratamento fotodinâmico. Empregou-se de
banco de dados eletrônicos Google Acadêmico, PubMed (National Libray of Medicine)
e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Selecionou-se estudos publicados entre
1997 a 2019, relacionados à temática. Verificou-se o uso crescente de produtos naturais,
com propriedades fotoprotetoras e antiinflamatórias. Dentre os produtos naturais, o que
mais se destacou foi o Polypodium, espécie de samambaia, comum na América Central
e do Sul, e por estar no mercado a mais de 20 anos, na Europa.
PALAVRAS-CHAVE: Polypodium leucotomos; Antioxidante; Proteção Solar.

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ABSTRACT: Virtual life is more accessible, the largest outdoors are left as people
exposed considerably longer to sunlight. The voltage of the sunscreen market is
nutritional with pharmacological properties that facilitate skin protection by acting as
antioxidants and photoprotectors. Polypodium leucotomos confirmed the following in
the nature of modernization. This study aims to reverse the literature on the safe use of
oral interference of natural substances with photoprotective agents, especially
Polypodium leucotomos, during photodynamic treatment. Google Academic database,
PubMed (National Libray of Medicine) and Electronic Electronics Online Library
(SciELO) were used. Studies from 1997 to 2019 related to the theme were selected. The
use of natural products with photoprotective and anti-inflammatory properties was
verified. Among the natural products, the one that stood out was Polypodium, a fern
species common in Central and South America, and for being in the market for over 20
years in Europe.
KEYWORDS: Polypodium leucotomos; Antioxidant; Sun Protection.

INTRODUÇÃO
A vida mais saudável inclui atividades maiores ao ar livre, significando um
tempo maior de exposição aos raios solares que pode ocasionar queimadura de pele,
foto envelhecimento e, até mesmo, câncer de pele. O câncer de pele não melanoma
corresponde cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados em todo Brasil, e o
câncer de pele melanoma é o que surge mais frequentemente em adultos (INCA, 2018).
Segundo o censo demográfico de 2016 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a população branca ocupa uma posição, aproximada, de 44,2% em
relação ao total da população brasileira. As pessoas com pele mais clara e com
históricos pessoal ou familiar de câncer e que são mais sensíveis às ações dos raios
solares, estão entre os grupos de mais risco de incidência de câncer de pele (INCA,
2018).
As pessoas declaradas negras, segundo o censo de 2016, realizado pelo IBGE,
englobam, aproximadamente, 54,9% da população brasileira. Essa população negra tem
uma incidência de câncer de pele, cerca de 20 vezes menor que a população de pele
branca (INCA, 2018).
A uniformização de “cor de pele”, a nível internacional, ainda gera polêmicas,
pois não há senso comum, principalmente, relacionado à cor da pele negra. Contudo,
tende se usado uma classificação fotótipa, conhecida como, “Escala de Fitzpatrick”,
agrupadas, em 06 (seis) classificações, mas, lembrando que nenhuma pode ser
padronizada para “pele de cor” (ALCHORNE, 2008).

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O sistema de classificação de Fitzpatrick foi desenvolvido para caraterização da
pele, baseado parra definir respostas à luz ultravioleta (UV), através de queimaduras ou
através de bronzeamento. A pele branca é classificada como fototipo I e II. Toda pele
escura foi classificada como fototipo V, existindo subclassificações como fototipo III,
IV e VI (SBD, 2017).
A pele é o maior órgão do corpo humano, denotando 7% do peso corporal, e
constitui relativamente de três camadas: (1) Epiderme, mais externa, cuja função é
proteger das ações do meio ambiente; (2) Derme, locada abaixo da epiderme e
corresponde a 90% da espessura da pele, e suas funções é manter a regulação corporal, e
fornecer nutrientes; e (3) Hipoderme, mais interna, rica em colágeno e uma rede de
células gordurosa, possui função de isolar o calor do copo, absorver impactos externos,
tendo em vista proteger os órgãos internos (GERARD; BRYAN, 2017).
A camada epidérmica está sujeita a agressões diárias que comprometem seu
equilíbrio e suas funções, através de produtos químicos, poluição, stress e radiação
ultravioleta (UV). Os radicais livres (RL), reações de inflamações e radiação solar são
os principais causadores da deterioração cutânea, causando mudanças estruturais e
funcionais da pele (SANTOS, 2011)
O Ácido Desoxirribonucleico (DNA) é uma das principais moléculas que
absorvem a radiação UV, portanto, pode sofrer mutações, que futuramente podem
resultar em células malignas. Essa exposição à radiação UV pode ativar componentes
do sistema imune cutâneo, gerando resposta inflamatória por diferentes mecanismos,
tais como: ativação direta de queratinócitos e de outras células que liberam mediadores
inflamatórios e redistribuição e liberação de autoantígenos sequestrados pelas células
danificadas (BALOGH, 2011).
O fotoenvelhecimento é um processo cumulativo que depende, ao longo dos
anos, do grau de exposição solar e da pigmentação cutânea. Um dos efeitos imediatos
sobre a pele é a hiperpigmentação cutânea com atraso na formação de nova melanina,
sendo um processo reversível. Mas, se esta exposição solar for prolongada e recorrente
podemos provocar alterações na quantidade e distribuição da melanina definitivamente
(MONTAGNER, 2009).
Com a inovação no mercado de proteção solar surge a combinação de
fitoquímicos naturais, dentre eles o Polypodium leucotomos (PL),dotado de poderosa
propriedade antioxidante, que em curto prazo incluem a inibição da produção de
espécies reativas de oxigênio induzida pela radiação UV, danos ao DNA, isomerização

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e decomposição do ácido trans-urocânico, prevenção de apoptose e necrose mediado por
UV, bem como, a remodelação da matriz degradativa sendo a principal cauda do
fotoenvelhecimento (GONZALEZ et al., 2010).
A partir desses pressupostos teóricos, esta revisão tem como objetivo avaliar a
eficácia e a segurança do “Uso seguro de Filtro Solar Oral”, em específico, Polypodium
leucotomos, espécie de samambaia, da América do Sul, que tem sido explorada no
tratamento benéfico de queimadura solares.
METODOLOGIA
Este estudo constitui-se de uma revisão narrativa descritiva, utilizando-se de
consultas virtuais e documentos eletrônicos compilados de sites de pesquisa
documentais como: Google Acadêmico, PubMed (National Library of Medicine) e
Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Foram utilizadas as palavras-chave para a
localização do material como: Polypodium leucotomos, Antioxidante e Proteção Solar.
As obras cientificas utilizadas foram selecionadas pelo seu grau de evidência para
agregação de informações pertinentes ao tema deste trabalho, além da triagem por data
de publicação com um recorte temporal dos últimos entre 1997 a 2019.

RESULTADOS E DISCUSÃO
Após a leitura exploratória dos artigos foi possível identificar diversas
informações, relacionadas ao uso seguro do fitoterápico PL, como filtro solar oral, ao
longo de décadas. Os tópicos relevantes serão discutidos abaixo.

Pele
A pele é o maior órgão do corpo humano (Figura 1), revestindo cerca de 7500
cm² de uma pessoa adulta. Além de desempenhar papel importante de proteção, por
constituir barreira contra infecções a agentes agressores externos e por auxiliar na
percepção das variações climáticas, térmicas, sensoriais, entre outras
(PHARMACEUTICALS, 2012).
A camada mais externa, também chamada de epiderme, possui estrato córneo e
renova-se constantemente, não possui vasos sanguíneos e pode variar de espessura. Essa
camada protetora forma barreira contra a entrada de microorganismos, radiação solar e
substâncias tóxicas, diferenciando-se na síntese da queratina e melanina (JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2013).

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A derme, camada intermediária, formada por mucopolissacarídeos ácidos,
desempenha importante papel de fixação de epiderme à derme. Contém estruturas
fibrosas, como colágeno, elastina e reticulina (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013). A
hipoderme, por sua vez, é camada mais profunda, formada por tecido gorduroso e rede
vascular, possuindo propriedades protetoras contra choque mecânicos e variações
térmicas (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).

Figura 1 - Estrutura de Pele com as suas respectivas camadas epiteliais

Fonte: WebMD.com (2014)

A cor da pele depende de fatores que vão desde a condição do estrato córneo até
a quantidade de pigmentos presentes, produzidos pelos melanócitos. Adicionalmente, a
cor da pela é determinada por fatores genéticos, de herança quantitativa poligênica
(MOTA; BARJA, 2002).

Danos na pele causados pela radicação ultravioleta


A radiação ultravioleta (UV) estimula reações fotoquímicas que possuem efeitos
importantes sobre a pele humana de acordo com o comprimento de onda e energia da
onda (SGARBI et al, 2007). Os raios do tipo UVA correspondem a mais de 90% da

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radiação solar. Possui um comprimento de onda grande e baixa quantidade de energia
UV. Essa, ocasiona pigmentação próxima à superfície da pele, sendo mais evidente, o
ressecamento e o envelhecimento precoce (SGARBI et al., 2007).
Quando esta luz UVA incide sobre as células da pele, causa seus efeitos,
principalmente gerando RLs, que, posteriormente, será responsável pera peroxidação
lipídica. Caso haja deficiência de vitamina E intracelular, o RL irá se combinar com a
molécula lipídica, liberando um átomo de oxigênio, iniciando uma peroxidação do
lipídeo poliinsaturado produzindo moléculas não ativas de peróxido que pode causar
dano celular relevante (SGARBI et al., 2007).
A radiação UVB, possui comprimento de onda menor e quantidade maior de
energia, em relação a radiação UVA. Seus efeitos descrevem pigmentação mais
profunda, ressecamento, envelhecimento precoce e câncer de pele. Esta radiação UV
também pode gerar RL, mas difere da radiação UVA, pois seu principal mecanismo de
ação é a interação direta com o DNA, causando sua destruição (SGARBI et al, 2007);
Pode-se salientar que os danos cutâneos causados pela exposição à radiação UV
pode ser classificada em agudos e crônicos (DAL’BELO, 2008). A exposição aguda
consiste basicamente em inflamação (eritema, sensibilidade ao toque, edema) e
bronzeamento (aumento da melanogênese). Assim, a exposição crônica pode levar ao
fotoenvelhecimento e ao câncer de pele (DAL’BELO, 2008).

Classificação de Fitzpatrick
A pele possui tom natural, branco ou amarelo, conforme sua espessura, nível de
irrigação sanguínea, nível de dilatação, grau de oxigenação, resultando um tom roxo ou
azulado devido à hemoglobina. Contudo, a presença dos carotenóides da hipoderme,
dependente da melanina sintetizada, também contribuem para a determinação da cor
(MOTA; BARJA, 2002).
A melanina, derivada do grego melas, que significa preto, sintetizado
incialmente, pela reação da hidroxilação do substrato L-tirosina em 3,4-
diidroxifenilalanina (DOPA). Com a liberação de uma molécula de água, catalisada pela
tirosinase, dentro dos melanócitos, produzem dois tipos de melanina: as eumelaninas,
grupo homogêneo de pigmentos pardos, insolúveis, resultantes da polimerização
oxidativa de compostos indólicos derivados da DOPA e as feomelaninas, com
pigmentos pardos avermelhados e solúveis em meio alcalino (MOTA; BARJA, 2002).

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Com a agressão da radiação solar nas áreas expostas da pele, há uma
estimulação na produção de melanina, respondendo defensivamente contra esta
agressão, agindo como filtro solar, protegendo da radiação solar. Porém, de acordo com
a classificação de Fitzpatrick (Tabela 1), deve-se que levar em consideração a
capacidade da estimulação protetora (SBD, 20017).

Tabela 1 – Classificação dos fototipos de pele proposto por Fitzpatrick


Grupo Eritema Bronzeado Sensibilidade
I - Branca Sempre Nunca Muito sensível
II - Branca Sempre Às vezes Sensível
III - Morena clara Moderado Moderado Normal
IV - Morena moderada Pouco Sempre Normal
V - Morena escura Raro Sempre Pouco sensível
VI - Negra Nunca Pele muito pigmentada Insensível
Fonte: SBD (2017), Adaptado.

De acordo com essa classificação, pode-se entender diferenças estruturais


anatômicas, fisiológicas e patológicas, que diferenciam as tonalidades de pele. Sendo
assim, as respostas fisiopatológicas a um estímulo de radiação solar respondem em
ambas as raças ou fototipos desordenadamente (CFF, 2019).

A pele como barreira antiinflamatória


Diariamente, a pele sofre constantes estimulações exógenas que resultam, às
vezes, em lesões e/ou infecções, fotoenvelhecimento e a alguns tipos de câncer de pele.
A nível molecular, essa resposta inflamatória participa de série de vias complexas,
relacionadas à resposta imunológica inata, diferenciação e reparação da barreira cutânea
(LIN et al, 2018).
A exposição UV, em especial radiação UVB, causadora do eritema, é o primeiro
evento do processo inflamatório, devido a liberação de potentes estimuladores
citotóxicos como óxido nítrico sintetase (eNOS) e a xantina oxidase (XO) liberando
óxido nítrico (NO) e peroxinitrito (ONOO-). Essas substâncias levam a vasodilatação,
sendo o primeiro acontecimento chave da produção do eritema e do processo
inflamatório na pele (DELICONSTANTINOS et al, 1996).
Os queratinócitos, leucócitos (PMNs, macrófagos e linfócitos), mastócitos e as
células dentríticas, incialmente são ativadas. Citocinas secretadas como, interleucina-1α
(IL-1α), Fator de Necrose Tumoral-α (TNF-α) e IL-6, induzem as quimiocinas de

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quimiotaxias atraindo as células para o local da lesão e/ou infecção e ainda produzem
espécies reativas de oxigênio (EROs) (LIN et al, 2018).

Proteção Solar e Fotoenvelhecimento


A exposição solar é um dos principais fatores de risco para o aparecimento ou
desenvolvimento de câncer de pele, devido ao efeito cumulativo. O Brasil, por estar
locado, em uma extensa porção territorial na zona intertropical, permite que o sol emita
energia em ondas de radiação eletromagnéticas de diferentes comprimentos de onda,
sendo as mais lesivas na faixa do ultravioleta (200 a 400 mm), sendo classificada em
três faixas (DORIA et al, 2009), conforme apresentado no quadro 1.

Quadro 1 – Tipos de ultravioleta e suas faixas


TIPOS DE UV FAIXA (nm) Causa
C 200 a 290 Filtrado pela camada de ozônio da terra
Vermelhidão, queimadura solar e predisposição ao
B 290 a 320
câncer de pele
A 320 a 400 Envelhecimento da pele e pode causar câncer de pele
Fonte: Adaptado Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), (2014).

A radiação UVA, de ondas mais longas, é menos eficiente na produção do


eritema e subsequente melanogênese, sendo indutora de processos oxidativos, que ao
ser absorvido reage com o oxigênio molecular, produzindo espécies reativas capazes de
provocar reações inflamatórias na pele e danos no DNA. A radiação UVB, já é mais
eficiente na produção de danos ao DNA, fotoimunossupresão, eritema, espessamento do
estrato córneo e melanogênese. Por conseguinte, a radiação UVC, de ondas mais curtas,
contém o pico de absorção pelo DNA, não sendo tão efetiva na estimulação de síntese
de melanina (TOFETTI et al, 2006).
Fatores intrínsecos, traduzido como envelhecimento cronológico, resultam no
afinamento da epiderme aumentando sua fragilidade, e causa redução dos fibroblastos e
da sua capacidade metabólica, além de resposta menor aos fatores de crescimento
(DAL’BELO, 2008). Os fatores extrínsecos se traduzem na exposição da pele a diversas
agressões, como fotoenvelhecimento (radiação ultravioleta), poluição atmosférica, fumo
e metabólitos de substâncias ingeridas ou inaladas modificando estruturas moleculares e

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induzindo alterações das propriedades morfológicas e biofísicas da pele (DAL’BELO,
2008).
A eficácia dos protetores solares é determinada por metodologias in vivo e in
vitro. Sendo o Fator de Proteção Solar (FPS), definido como o quociente entre a dose
eritematógena mínima (DEM) na pele protegida com a o fotoprotetor em análise e a
DEM na pele desprotegida. Assim, a DEM significa qual a dose mínima de radiação
solar capaz de formar o eritema (BALOGH et al, 2011)

Antioxidante e proteção solar


Fisiologicamente, quando as pessoas respiram, elas geram processos oxidativos,
e em condições normais no organismo é capaz de neutralizar, por sistemas
antioxidantes, as espécies reativas de oxigênio (ERO). Porém, quando são expostas à
radiação solar em situações excessivas estabelece desequilíbrio neste sistema, gerando
estresse oxidativo capaz de produzir danos celulares na pele como, peroxidação lipídica,
desnaturação proteica e alterações no DNA, gerando imunossupressão, envelhecimento
precoce e desenvolvimento de câncer de pele (BALOGH TS et al, 2011).
O uso de produtos naturais, nos últimos 20 anos, tem sido uma proposta para
tratamento de muitas doenças humanas. O efeito protetor sequestrante de radicais livres
é uma proposta de investigação no processo de problemas inflamatória relacionada à
pele (GOMES et al, 2001).
O Polypodium leucotomos (PL) é um extrato natural com propriedades
antioxidantes, administrado tanto por via tópica (na pele) como por via oral. O PL é
uma espécie de samambaia da família Polypodiaceae, comum na América Central e do
Sul. É rico em compostos fenólicos, com propriedades antiinflamatórias, inibindo a
geração de espécies reativas de oxigênio (EROs), bloqueando a transcrição da proteína
adaptadora 1 (AP-1) e Fator Nuclear Kappa Beta (NF-kB), além de, inibir a expressão
da ciclo-oxigenase-2 (COX-2), que produz prostaglandinas I2 (PGI-2), indutora de
vasodilatação e inibição de agregação plaquetária (GONZALES et al, 2011).
O uso sistêmico de PL em avaliações clínicas demonstra diminuição nas
alterações induzidas pela radicação UV sobre a pele. Esses efeitos, que incluem eritema,
fotoenvelhecimento, bronzeamento e fotocarcinogênese. Postula-se que tais benefícios
fotoprotetores estejam relacionados ao efeito antioxidante, imunomodulador e
antiinflamatório do PL (KOHLI et al, 2017). A produção de RLs pelo estresse
oxidativo, em especial a EROs, evidencia-se efeito benéfico e não tóxico durante a

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terapia fotodinâmica, bloqueando a ação e os efeitos colaterais, com uso do PL
(GOMES et al., 2001).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde a infância, as pessoas estão sujeitas à exposição UV que, tardiamente,
pode estimular o risco de desenvolvimento câncer. Buscando alternativas profiláticas e
terapêuticas, com o objetivo de reduzir os danos da radiação UV, o uso de
antioxidantes, por via oral, é uma opção crescente no mundo moderno.
A compreensão dos mecanismos reparadores dos produtos naturais, com
atividade fotoprotetora, em especial o PL, colabora em fornecer segurança quanto a
administração por via oral.na proteção significativa da pele. Ademais, o uso de
camisetas, bonés entre outros adereços não exclui a eficácia do uso de filtros solares
físicos e químicos, não abordado nesta temática. Porém, o uso concomitante das
alternativas de uso oral, em especial oral de Polypodium leucotomos, complementa, de
forma eficiente, a ação dessas barreiras.

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CAPÍTULO 02
O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
DA FIBROMIALGIA E A ATENÇÃO
FARMACÊUTICA*
B
Beatriz Costa Ferreira de Sousa
Graduada em Farmácia. Pós - Graduanda em
Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Diuliane Leopoldina dos Santos


Graduada em Farmácia. Pós - Graduanda em
Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Julyana de Aquino
Graduada em Farmácia. Pós - Graduanda em
Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Caroline Christine Pincela Da Costa


Farmacêutica. Mestranda em Genética e Biologia
Molecula pela Universidade Federal de Goiás

Jessica da Silva Campos


Professora Universitária, Enfermeira, Especialista
Cardiologia e Hemodinâmica, Mestranda pelo PPGAAS-UFG.

Ludmila Cristina Souza Silva


Doutora, Professora do Curso de Especialização
em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do INPÓS.

* Artigo científico apresentado à especialização em


Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica.

RESUMO: A fibromialgia (FM) é caracterizada pela dor musculoesquelética crônica


associada a vários sintomas. A FM pode ser confundida com várias outras doenças
reumáticas e não reumáticas, ao apresentarem dor difusa e fadiga crônica. O tratamento
é baseado na combinação farmacológica e não farmacológica. O objetivo do presente
estudo foi realizar uma revisão da literatura sobre a FM e seu tratamento. A
metodologia utilizada trata-se de uma revisão integrativa de literatura, a análise
integrativa é um método que analisa e sintetiza as pesquisas de maneira
sistematizada, contribuindo para o aprofundamento do tema investigado, e a partir dos
estudos realizados separadamente, constrói-se uma única conclusão, pois foram
investigados problemas idênticos ou parecidos. A FM é uma síndrome

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musculoesquelética crônica caracterizada por dor difusa e não inflamatória, com locais
dolorosos específicos em todo o corpo, sensíveis à palpação (pontos doloridos); e de
etiopatogenia desconhecida, que afeta principalmente o sexo feminino, em idade
produtiva. O tratamento da FM inclui medicamentos analgésicos e antidepressivos,
monitoramento psicológico e fisioterapia. O farmacêutico atua ativamente durante todo
o tratamento dessa patogênese, mostrando-se presente e essencial para melhorar a
qualidade de vida do um paciente.
PALAVRAS-CHAVE: Dor; Terapia; Assistência Farmacêutica.

ABSTRACT: Fibromyalgia (FM) is characterized by chronic musculoskeletal pain


associated with various symptoms. The FM can be confused with several other
rheumatic and non-rheumatic diseases, when they present diffuse pain and chronic
fatigue. Treatment is based on the pharmacological and non-pharmacological
combination. The aim of the present study was to carry out a literature review of FM
and its treatment. The methodology used is an integrative literature review, the
integrative analysis is a method that analyzes and synthesizes the research in a
systematic way, contributing to the deepening of the investigated theme, and from the
studies carried out separately, a single one is built conclusion, as identical or similar
problems were investigated. Since FM is a chronic musculoskeletal syndrome
characterized by diffuse, non-inflammatory pain, with specific painful sites throughout
the body, sensitive to palpation (tender points); and of unknown etiopathogenesis,
which mainly affects the female gender, in productive working age, interfering in their
quality of life. They are frequently associated with sleep disorders, fatigue and chronic
headache, psychological disorders such as anxiety and depression in addition to
constant tiredness and mainly due to permanent painful complaint. Despite the
treatment of FM, it aims to improve the quality of life of these patients, which includes:
analgesic and antidepressant medications, psychological monitoring and physiotherapy.
The pharmacist acts actively throughout the treatment of this pathogenesis, proving to
be present and essential to improve the quality of life of a patient with this etiology.
KEYWORDS: Ache; Therapy; Pharmaceutical care.

INTRODUÇÃO
De acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), a dor
pode ser conceituada como experiência sensorial e emocional desagradável, que é
afetada por elementos culturais, históricos, ambientais e sociais, agregada a uma lesão
real ou potencial dos tecidos, ou exposta em termos desta. Também é estabelecida como
sensação desagradável que alerta o indivíduo de alguma ação danosa ou potencialmente
danosa ao organismo por parte de agente externo ou de um processo mórbido interno
(BRAZ et al., 2011). O paciente menciona piora do quadro doloroso mediante lesões,
privação do sono, estresse emocional, exposição ao frio, impasses de concentração,
dentre outros aspectos (SOUZA, 2013).
A denominação fibromialgia (FM) termo provindo do latim fibro (tecido fibroso,
presente em ligamentos, tendões e fáscias), e do grego mio (tecido muscular), algos

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(dor) e ia (condição), foi proposta primeiramente por Yunus e cols. em 1981, com o
propósito de substituir o termo fibrosite, até então usado para denominar um tipo
específico de reumatismo caracterizado pela comparência de pontos endurados
musculares dolorosos à palpação, a partir do compreender de que não havia, nestes
adoecimentos, inflamação tecidual (HELFENSTEIN JUNIOR; GOLDENFUM;
SIENA, 2012).
A FM é uma das enfermidades reumatológicas mais recorrentes, cuja
propriedade principal é a dor musculoesquelética difusa e crônica. Posto que é
reconhecida há muito tempo, a FM tem sido prudentemente pesquisada há décadas. A
FM não era ponderada uma entidade clinicamente bem estabelecida até a década de
1970, quando foram publicados os primeiros relatos sobre os distúrbios do sono
(HELFENSTEIN JUNIOR; GOLDENFUM; SIENA, 2012).
O conceito da FM foi incluído em 1977 quando foram referidos sítios
anatômicos com intensa sensibilidade dolorosa, intituladas tender points, nos portadores
desta moléstia. Também foram documentados distúrbios do sono, inclusive, quando
induzidos experimentalmente, ao reproduzir os sintomas de dor e de sensibilidade
muscular vistos nesta síndrome dolorosa crônica (HELFENSTEIN JUNIOR;
GOLDENFUM; SIENA, 2012).
Em consequência da dor demasiada esses pacientes fazem uso de medicações
das mais variadas classes farmacológicas, e em dosagens inapropriadas. Assim, torna-se
essencial a assistência farmacêutica no desenvolvimento de ações voltadas a proteção e
recuperação da saúde para evitar a utilização inadequada de fármacos (HELFENSTEIN
JUNIOR; GOLDENFUM; SIENA, 2012). Portanto, o objetivo desse estudo é destacar a
importância da atenção farmacêutica para evitar o uso inadequado e indiscriminado de
fármacos para o tratamento da fibromialgia.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, a qual refere-se a um método
que analisa e sintetiza as pesquisas de maneira sistematizada, e contribui para
aprofundamento do tema investigado, e a partir dos estudos realizados separadamente e
possível construir uma única conclusão, de modo ao qual foram investigados problemas
idênticos ou parecidos (MENDES, 2008). A questão norteadora do presente estudo foi:
“Quais são os manejos adotados no tratamento da fibromialgia?”.

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O estudo foi realizado por meio de busca on-line das produções científicas
nacionais sobre o tratamento farmacológico da fibromialgia e a atenção farmacêutica,
no período de 2008 a 2015. A obtenção dos dados ocorreu através de buscas processadas
por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), principalmente as bases de dados:
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific
Eletronic Library Online (SciELO). Os descritores utilizados para a busca foram:
fibromialgia, tratamento farmacológico, tratamento não farmacológico, atenção
farmacêutica.
Para a realização de uma pesquisa bibliográfica de qualidade, o primeiro passo é
localizar a terminologia autorizada e reconhecida mundialmente. O descritor controlado
é parte de um vocabulário estruturado e organizado para facilitar o acesso à informação.
Esses vocabulários são usados como uma espécie de filtro entre a linguagem utilizada
pelo autor e a terminologia da área (PELIZZON, 2004).
Foram considerados os seguintes critérios de inclusão: estudos que abordaram o
tratamento farmacológico e não farmacológico da fibromialgia, sem limite de data de
publicação; publicados nos idiomas português e inglês. Foram excluídos artigos que não
responderam à pergunta norteadora.
O acesso à base de dados e a coleta de dados foram realizados no período de
novembro de 2019 e abril de 2020. Em seguida todos os estudos foram lidos na íntegra.
Por meio dos descritores foram identificados 2.600 estudos, destes foram selecionados
dez artigos que atenderam os critérios de inclusão estabelecidos.
Após a leitura na íntegra de cada um dos artigos, foi preenchido um instrumento,
elaborado pelas autoras contendo: identificação do artigo, ano e país de publicação,
idioma, tipo de instituição onde foi realizado o estudo, metodologia empregada, nível de
evidência e as complicações associadas ao tratamento farmacológico inadequado da
fibromialgia e quais estratégias o farmacêutico pode implementar para evitar o uso
inadequado de fármacos no tratamento da fibromialgia.
A avaliação do nível de evidência foi classificada em: Nível I – revisões
sistemáticas ou metanálise de relevantes ensaios clínicos; Nível II – evidências
derivadas de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado;
Nível III – ensaios clínicos bem delineados sem randomização; Nível IV – estudos de
coorte e de caso-controle bem delineados; Nível V – revisão sistemática de estudos
descritivos e qualitativos; Nível VI – evidências derivadas de um único estudo
descritivo ou qualitativo e Nível VII – opinião de autoridades ou relatório de comitês de

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especialistas (MELNYK; FINEOUT-OVERHOLT). As evidências pertencentes aos
níveis I e II são consideradas fortes, de III a V evidências moderadas e VI e VII
evidências fracas (MELNYK, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 2.660 artigos, porém somente 10 artigos foram utilizados,
uma vez que atenderam aos critérios de inclusão do estudo. A distribuição dos artigos
por título, ano, autoria e periódico publicado encontra-se no quadro 1.

Quadro 01: Distribuição ordenada dos trabalhos selecionados quanto ao ano, autores,
periódico e título
N Ano Autores Períodico Título
1 2008 VERBUNT, Resultados de saúde Disability and quality of life in
J.A.; et al. e qualidade de vida. patients with fibromyalgia.
2 2009 MARTINEZ, Revista Brasileira de Correlação entre a contagem das
J.E.; et al. Reumatologia pontes dolorosas na fibromialgia com
a intensidade dos sintomas e seu
impacto na qualidade de vida.
3 2010 HOEFLER, Boletim Fibromialgia: doença obscura e
R.; et al. farmacoterapeutica tratamentos indefinidos.
CFF
4 2011 BRAZ, A.S.; Revista Brasileira de Uso da terapia não farmacológica,
et al. Reumatologia medicina alternativa e complementar
na fibromialgia
5 2011 ABREU, Projeto de estágio e Impacto da fibromialgia na qualidade
D.M.D. profissionalizante – de vida dos pacientes.

UFP
6 2011 HEYMANN, Revista Brasileira de Consenso brasileiro do tratamento da
R.E.; et al. Reumatologia fibromialgia.
7 2011 CARDOSO, Revista Brasileira de Avaliação da qualidade de vida, força
F.S.; et al. Reumatologia muscular e capacidade funcional em
mulheres com fibromialgia.
8 2012 HELFENST Revista da Fibromialgia: aspectos clínicos e

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EIN Associação Médica ocupacionais
JUNIOR, Brasileira
M.H.; et al.
9 2013 SOUZA, Revista Eletrônica Avaliação fisioterapêutica e
H.C.N.V.S. das Faculdades tratamento da síndrome da
Sudamérica fibromialgia
10 2015 SILVA, L.C. Caderno de Saúde e Adequação ao trabalho para
Desenvolvimento portadores de fibromialgia.

O ano com maior número de publicações foi 2011 com quatro (40%). O
periódico que mais publicou foi a Revista Brasileira de Reumatologia com quatro (40%)
das publicações. Tal fato ocorre pelo periódico ser uma revista preocupada em abordar
assuntos que contribuem para o esclarecimento de problemas de saúde pública e
atualizações.
Quanto ao nível de evidências um estudo (10%) pertence aos níveis I e II que
são consideradas evidências fortes. Sete (70%) foram considerados de nível III a V, ou
seja, evidências moderadas e dois (20%) foram classificados como VI e VII sendo
consideradas evidências fracas. Portanto o que prevaleceu foram estudos de evidências
moderadas.
A fibromialgia deve ser vista como uma condição de saúde complexa e
heterogêneo no qual há um déficit no processamento da dor agregado a outras
características secundárias, (nível de evidência IV) (HEYMANN et al., 2010). Na
Tabela 1 os estudos encontram-se distribuídos, conforme as classes farmacológicas
citadas nele. Complementariamente, na Tabela 2 os estudos estão agrupados de acordo
com a relação dos tratamentos não farmacológicos.

Tabela 1: Distribuição dos estudos quanto as principais classes farmacológicas


utilizadas no tratamento da fibromialgia
Principais classes farmacológicas utilizadas no tratamento da N %
fibromialgia
Amitriptilina (composto tricíclico) – Grau de recomendação A- Evidência 9 100%
Ib
Ciclobenzaprina (relaxante muscular) – Grau de recomendação A- 9 100%
Evidência Ib
Nortripitilina grau de recomendação D 2 22,22%
Fluoxetina >40mg (inibidor seletivo da recaptação da serotonina) Grau de 9 100%

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recomendação A- Evidência Ib
Duloxetina (bloqueador da receptação da serotonina e noradrenalina) 5 55,55%
Moclobemida (inibidor da MAO)
Pramipexol (Grau de reocmendacao A – evidencia Ib) 4 44,44%
Tramadol (Grau de recomendação A- evidencia Ib) 4 44,44%
Paracetamol (Grau B) 2 22,22%
Gabapentina e pregabalina (NEUROMODULADOR) grau A 5 55,55%
Corticosteroides (Grau D – evidencia Ib) 9 100%
Antiflamatórios não esteroides (Grau A) 2 22,22%
9 100%
Reduzem a dor e frequentemente melhoram a capacidade funcional
Antidepressivos
Moduladores dos canais de cálcio
Relaxantes musculares
Analgésicos
Outros fármacos

Tabela 2: Distribuição dos estudos quanto ao tratamento não farmacológico


Principais terapias não farmacológicas utilizadas ao tratamento da N %
fibromialgia
Exercícios físicos (Grau de recomendao B) 9 100%
Aerobicos (Grau C) 9 100%
Aerobicas moderamente intensos 2 A 3 VEZES POR SEMANA (GRAU 9 100%
A)
Acupuntura 5 55,55%
Reabilitacao e fisioterapia (GRAU C) 4 44,44%

Tabela 2: Distribuição dos estudos quanto aos critérios de diagnóstico da fibromialgia


Principais critérios de diagnóstico da fibromialgia N %
Histórico de dor difusa 9 100%
Fadiga e rigidez muscular 9 100%
Distúrbio do sono 2 22,22%
Distúrbios inflamatórios 2 22,22%

A leitura dos artigos, permitiu o agrupamento das informações em tópicos. Esses


serão abordados na forma de discussão a seguir.

Diagnóstico
Estima-se que a fibromialgia, após a osteoartrite é a patologia mais comum visto
pelos reumatologistas e corresponde significamente parte da subpopulação de pacientes
em cuidados de saúde primários (DINIZ; MORAIS; JÚNIOR, 2013). A fibromialgia é
especialmente diagnosticada por exclusão. Dentre os principais diagnósticos

FARMÁCIA CLÍNICA & PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA – ISBN 978-65-87580-04-3 28


discrepantes são o envolvimento reumático da coluna, distúrbios inflamatórios
sistêmicos e hipotireoidismo. Comumente, testes laboratoriais como o índice de
sedimentação eritrocitária, o nível de proteína C-reativa, autoanticorpos e aspecto
reumático, níveis séricos de cálcio e fósforo e hormônio estimulante da tireóide (TSH),
são competentes para descartar outras causas em pacientes queixosos de dor difusa
(HOEFLER; DIAS, 2010).
A instrução ao paciente é uma condição primordial para o controle ideal da
fibromialgia. Como parte essencial do tratamento, a equipe multidisciplinar tem o
compromisso de fornecer aos pacientes informes básicos sobre a fibromialgia, suas
alternativas de tratamento, programas de autocontrole. A íntegra compreensão da
fibromialgia suplica uma avaliação abrangente da dor, da função e do contexto
psicossocial (nível de evidência IV).

Sinais e sintomas
A fisiopatologia da FM engloba modificações na função autonômica, sistema
endócrino, influência genética e exposição a aspectos estressantes. Esses fatores estão,
normalmente, relacionados a distúrbios que podem sobrepor-se à FM, como transtorno
depressivo maior, síndrome do intestino irritável e distúrbio temporomandibular.
Variações no processamento central da parte sensorial e déficits na inibição endógena
da dor podem colaborar para agravo na sensibilidade dolorosa e persistência da dor
difusa em pacientes com FM (CARDOSO et al., 2011).
Além da dor agressiva na musculatura esquelética e do achado físico de
inúmeros pontos sensíveis, a maior parte dos pacientes com FM também citam sofrer de
fadiga, rigidez muscular, dor após esforço físico, desequilíbrios do sono, do humor, da
cognição. É imprescindível analisar a qualidade desses sintomas e o abalo destes sobre a
qualidade de vida do paciente (HELFENSTEIN JUNIOR; GOLDENFUM; SIENA,
2012).
Também podem existir indícios de depressão, ansiedade, déficit de memória,
desatenção, cefaleia tensional ou enxaqueca, tontura, vertigens, parestesias, sintomas
compatíveis com síndrome do intestino irritável ou com síndrome das pernas inquietas,
entre diversos outros sintomas não envolvidos ao aparelho locomotor. A dor crônica
generalizada, todavia, é o sintoma cardinal. As mialgias podem apontar característica
migratória constantemente em resposta ao estresse biomecânico ou a traumas
(HELFENSTEIN JUNIOR; GOLDENFUM; SIENA, 2012).

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Outros pacientes declaram sofrer redução da memória, cefaleia, cólon espástico,
retenção líquida, bexiga irritável, vertigens, nervosismo, rigidez articular, sono
intermitente e impressão de cansaço ao acordar (DINIZ; MORAIS; JÚNIOR, 2013).
Quanto a idade, em média, seu início ocorre entre 29 e 37 anos, sendo a idade de seu
diagnóstico entre 34 e 57 anos e afeta preferencialmente o sexo feminino (80% a 90%
dos casos) (HALL; LORI, 2001; MARTINEZ et al., 2009).
Os sintomas englobam dor músculo-esquelética difusa, déficits do sono, fadiga,
rigidez matinal de curta duração, sensação de edema e parestesias. O vínculo com outras
síndromes de caráter funcional também é constante. Entre elas pode-se mencionar a
depressão, ansiedade, cefaleia crônica e a síndrome do cólon irritável. Essa
sintomatologia modifica-se em intensidade de acordo com algumas situações, ditos
fatores moduladores. A também literatura aponta alterações como climáticas, grau de
exercício físico e estresse emocional (MARTINEZ et al., 2009).
A força muscular é um membro significativo da aptidão física agregada à saúde,
além de exercer papel considerável para o desempenho físico em inúmeros afazeres de
vida diária e/ou esportivas. Tem-se admitido que pacientes com FM têm diminuição
considerável da força e desempenho muscular se confrontados com sujeitos sadios.
Mulheres diagnosticadas com FM podem indicar ausência de força muscular ou
flexibilidade em membros superiores para consumação de atividades rotineiras simples
como alcançar prateleiras altas ou lavar seus cabelos (CARDOSO et al., 2011).
As dores difusas e os variados sintomas do quadro clínico proporcionam
restrições nas atividades diárias desta população, ocasionando em incapacidade
funcional e fazendo com que, muitas vezes, se afastem de seus ofícios, mesmo que
ainda estejam em uma faixa etária supostamente ativa. Desses elementos, resulta-se o
desenvolvimento de problemas psicológicos, isolamento social e diminuição na
qualidade de vida (OLIVEIRA et al., 2013).

QUALIDADE DE VIDA
Quanto a qualidade de vida, os fibromiálgicos exibem níveis inferiores de
qualidade de vida. Condições como depressão, podem demonstrar relação com a FM,
podendo ser considerada um efeito secundário da doença (ABREU, 2011). Segundo
Verbunt el al. (2008), os pacientes portadores de FM, quando comparados a população
geral, enfrentam impactos na qualidade de vida. Esse aspecto está intrinsicamente
relacionado a severidade da doença, visto a dor ser um parâmetro a ser fortemente

FARMÁCIA CLÍNICA & PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA – ISBN 978-65-87580-04-3 30


considerado como um obstáculo. Adicionalmente, o estado psicológico/emocional,
previamente fragilizado pela doença, também é afetado em pacientes portadores de FM.
Sinergicamente, esses aspectos desempenham papeis importantes na qualidade de vida.

Tratamento
A estratégia terapêutica para a FM necessita de uma abordagem multidisciplinar,
com a junção de modalidades de tratamentos não farmacológico e farmacológico. O
tratamento deve ser produzido, em discussão com o paciente, de acordo com o vigor da
sua dor, funcionalidade e suas características, sendo valoroso também levar em
consideração seus fatores biopsicossociais (SILVA, 2015).
Salienta-se que o tratamento da FM deve ser realizado com a perspectiva
sociopsicossomática, por parte dos especialistas que tratam esses pacientes. A
abordagem deve ser, desde o princípio, conjuntamente somática e psicológica. O
tratamento contém a utilização de medicamentos analgésicos, antirreumáticos,
calmantes e antidepressivos. Também fazem parte do tratamento a fisioterapia, técnicas
de relaxamento, a realização de exercícios físicos e psicoterapia (DINIZ; MORAIS;
JÚNIOR FAZ, 2013).
O tratamento fisioterapêutico da FM requisita uma boa cooperação por parte do
doente, mudanças de costumes, a prática de atividades físicas e o uso justo de
medicamentos se for assim aconselhado pelo médico assistente. O acompanhamento de
uma equipe interdisciplinar é fundamental. A fisioterapia tem uma importante missão na
diminuição da dor, no reequilíbrio das forças e tensões e na melhora da qualidade de
vida desses pacientes (SOUZA, 2013).

Terapia farmacológica
A terapia farmacológica presentemente preconizada nessa síndrome inclui, entre
outros compostos, antidepressivos, moduladores dos canais de cálcio, relaxantes
musculares e analgésicos. Todavia, diversos pacientes não demonstram retorno
satisfatório ou retratam efeitos colaterais relacionados ao uso de tais fármacos a longo
prazo (BRAZ et al., 2011).
Aliado a isto, os pacientes têm obstáculos em permanecer em uma terapia não
farmacológica, baseada somente em atividades e medicina física. Existe, portanto, um
grande interesse por parte dos pacientes por uma terapia alternativa e complementar, e

FARMÁCIA CLÍNICA & PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA – ISBN 978-65-87580-04-3 31


os médicos têm sido habitualmente questionados sobre essas formas completivas ou
adjuvantes de tratamento (BRAZ et al., 2011).
Dentre os compostos tricíclicos, a amitriptilina, e entre os relaxantes musculares,
a ciclobenzaprina diminuem a dor e constantemente melhoram a capacidade funcional
estando, portanto, propostas para o tratamento da fibromialgia (nível de evidência I). A
nortriptilina também é prescrito para o tratamento da fibromialgia.
Entre os inibidores seletivos de receptação da serotonina, houve concordância de
que a fluoxetina em altas doses (acima de 40 mg) também diminui a dor e regularmente
melhora a capacidade funcional sendo também indicada para o tratamento da
fibromialgia (nível de evidência I). O uso de inibidores da recaptação da serotonina,
como a fluoxetina, em união com tricíclicos também está sugerida no tratamento da
fibromialgia.
Dentre os antidepressivos que inibem a receptação da serotonina e da
noradrenalina, a duloxetina e o milnaciprano foram indicadas por diminuírem a dor e
frequentemente recuperarem a capacidade funcional dos pacientes com fibromialgia
(nível de evidência I). A moclobemida, um antidepressivo inibidor da MAO, foi
prescrita na intervenção da fibromialgia por abater a dor e rotineiramente melhorar a
capacidade funcional dos pacientes com fibromialgia (nível de evidência I).
A dose de todos os antidepressivos deve ser particularizada e qualquer
transformação de humor concomitante tratada (nível de evidência III). O medicamento
antiparkinsoniano pramipexol também foi indicada para o tratamento da fibromialgia
para diminuir a dor (nível de evidência I), sendo especialmente recomendado na
existência de déficits do sono como a síndrome das pernas inquietas.
O tramadol foi indicado para o tratamento da dor na fibromialgia. Sua
combinação ao paracetamol foi considerada satisfatória no tratamento da fibromialgia.
A tropisetrona também foi prescrita para o tratamento da dor da fibromialgia (nível de
evidência I). Dentre os neuromoduladores, a pregabalina é recomendada por ser julgada
eficiente em minimizar a dor dos pacientes com fibromialgia (nível de evidência I).
Os corticosteroides não devem ser empregues (nível de evidência IV). Os anti-
inflamatórios não esteroides não devem ser usados como terapêutica de primeira linha
nos pacientes com fibromialgia. A zopiclona e o zolpidem foram propostos para o
tratamento das deficiências do sono da fibromialgia (nível de evidência III).

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Terapia não farmacológica
Os enfermos com fibromialgia devem ser instruídos a quanto a prática de
exercícios que englobem o sistema musculoesquelético por pelo menos duas vezes por
semana (nível de evidência I). Programas particularizados de atividades aeróbicas
podem ser benéficas para alguns pacientes (nível de evidência II), que devem ser
aconselhados a desempenhar exercícios aeróbicos relativamente intensos (60%-75% da
frequência cardíaca máxima determinada para a idade [210 menos a idade do paciente])
duas a três vezes por semana, alcançando o ponto de resistência leve, não o ponto de
dor, resguardando, dessa forma, a dor provocada pelo exercício.
Isso é especialmente importante no subgrupo de indivíduos com hipermobilidade
articular. O programa de atividades deve começar em um patamar logo abaixo da
capacidade aeróbica do paciente e evoluir em frequência, duração ou vigor assim que
seu nível de condicionamento e força aumentar. A progressão dos exercícios deve ser
vagarosa e gradual (nível de evidência III) e se deve, sempre, incentivar os pacientes a
dar seguimento para manter os benefícios induzidos pelos exercícios.
Planos individualizados de alongamento ou de revigoramento muscular também
podem ser proveitosos para alguns doentes com fibromialgia. Outras terapêuticas, como
reabilitação e fisioterapia ou relaxamento, podem ser empregues no tratamento da
fibromialgia, conforme as necessidades de cada paciente (nível de evidência II).

Atenção farmacêutica
A Atenção Farmacêutica acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico pode
promover melhor controle da patologia dos pacientes, devido ao maior conhecimento
dos pacientes em relação aos medicamentos e melhor comunicação entre a equipe de
saúde. Estes parâmetros contribuem para a redução dos erros de medicação e reações
adversas (PEREIRA; FREITAS, 2008).
É fundamental um processo de assistência ao paciente que engloba quatro
etapas:
✓ Julgamento das necessidades da terapêutica farmacológica;
✓ Elaboração de um plano de cuidados para atender a essas carências;
✓ Efetivação de um plano de cuidados farmacêuticos;
✓ Avaliação e reavaliação do plano de cuidados.
Os pacientes, ao favorecerem da terapêutica ideal, terão também um impacto
benéfico nas famílias e comunidade onde se incluem. A cooperação e a interação do

FARMÁCIA CLÍNICA & PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA – ISBN 978-65-87580-04-3 33


farmacêutico na equipa multidisciplinar de saúde que acolhe cada doente é um fator-
chave, concedendo o seu parecer, desenvolvido na perspectiva do medicamento, sempre
que considere cabível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O diagnóstico da FM requer experiência clínica, boa anamnese e adequada
exclusão de doenças que apresentam sinais e sintomas semelhantes e que requerem
abordagens terapêuticas diferenciadas. O seu diagnostico se dá principalmente por
exclusão, e uma equipe multidisciplinar deve estar envolvida nesse momento. Portanto,
é importante deter conhecimento sobre as formas de terapias, das evidências ou não do
seu uso, e que possam discutir com seus pacientes e orientá-los sobre tais formas de
tratamento, prescrevendo-as ou contraindicando-as e, assim, possibilitar maior gama de
opções terapêuticas para a fibromialgia.
Neste contexto se faz importante a inserção do profissional farmacêutico que
poderá criar em sua área de atuação, seja ela drogarias, postos de saúde, farmácias,
hospitais, clínicas, ou outro campo; um grupo de estudo e orientação ao fibromiálgico e
sua família para que esta enfermidade possa ser encarada com maior naturalidade e ser
de certa forma menos impactante para o portador e sua família. Faz-se necessário mais
estudos aprofundados sobre a FM e seus mecanismos, para então assim possibilitar uma
possível cura futuramente dos pacientes portadores dessa enfermidade.

REFERÊNCIAS
ABREU, D.M.D Impacto da fibromialgia na qualidade de vida dos pacientes. UFP,
projeto de estágio e profissionalizante, 2011.

BRAZ, A.S.; PAULA, A.P.; DINIZ, M.F.F.M.; ALMEIDA, R.N. Uso da terapia não
farmacológica, medicina alternativa e complementar na fibromialgia. Revista
Brasileira de Reumatologia, vol. 51, n.3, p.269-282, 2011.

CARDOSO, F.S. et al. Avaliação da qualidade de vida, força muscular, e capacidade


funcional em mulheres com fibromialgia. Revista Brasileira de Reumatologia, v.51,
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DINIZ, A.B.B.; MORAIS, J.S.; JUNIOR, F. Aspectos clínicos e psicossociais da


fibromialgia. Revista Eletrônica de Medicina, v.850, n.1, p.1-15, 2013.

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Brasileira de Reumatologia, v.50, n.1, p.56-66, 2011.

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HOEFLER, R.; DIAS, C.D. Fibromialgia: doença obscura e tratamentos indefinidos.
Boletim farmacoterapêutica, CFF, n.1, 2010.

HELFENSTEIN JUNIOR, M.; GOLDENFUM, M.A.; SIENA, C.A.F. Fibromialgia:


aspectos clínicos e ocupacionais. Revista de Associação Medica Brasileira, vol. 58,
n.3, p.358-365, 2012.

MARTINEZ, J.E.; FUJISAWA, R.M.; CARVALHO, T.C.; GIANINI, R.J. Correlação


entre a contagem dos pontos dolorosos na fibromialgia com a intensidade dos sintomas
e seu impacto na qualidade de vida. Revista Brasileira de Reumatologia, v.49, n.32-
38, 2009.

MELNYK, B. M.; FINEOUT-OVERHOLT, E. EVIDENCE BASED PRACTICE: IN


NURSIN &HEALTH CARE. A GUIDE TO BEST
PRATICE. Editora Wolters Kluwer, 3ª edição, 2014.

MENDES, K.D.S.; SILVEIRA, R.C.C.P.; GALVÃO, C.M. Revisão integrativa: método


de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto &
Contexto Enfermagem, v.17, n.4, 2008.

PELLIZZON, R.F. Pesquisa na área da saúde: 1 - base de dados DeCS (Descritores em


Ciências da Saúde). Acta Cir. Bras. v.19 n.2, 2004.

PEREIRA, L.R.L.; FREITAS, O. A evolução da Atenção Farmacêutica e a Perspectiva


para o Brasil. Rev. Bras. Cienc. Farm. v.44, n.4, 2008.

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Desenvolvimento, v.6, n.4, 2015.

SOUZA, H.C.N.V.S. Avaliação fisioterapêutica e tratamento da síndrome da


fibromialgia. Revista Eletrônica das Faculdades Sudamérica, vol. 5, p.30-54, 2013.

VERBUNT, J.A.; PERNOT, D.F.F.M.; SMEETS, R.JE.M. Disability and quality of life
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8, 2008.

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CAPÍTULO 03
O IMPACTO DO USO INDISCRIMINADO
DE SUBSTÂNCIAS ERGOGÊNICAS NA
BUSCA PELOS PADRÕES DE BELEZA
CORPORAL SOCIALMENTE
DETERMINADOS*

Francielly Batista de Souza


Graduada em Farmácia e Pós-Graduanda em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Marina Neres dos Santos


Graduada em Farmácia e Pós-Graduanda em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Thiago Faquim Vieira


Graduado em Farmácia e Pós-Graduando em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Jhonathan Gonçalves da Rocha


Mestre, docente do INPÓS

Diogo Marçal Machado de Oliveira


Mestre, docente do INPÓS

Yara Bandeira Azevedo de Alencar


Professora Universitária, Farmacêutica/Bioquímica,
Mestre, Diretora Geral da Empresa INPÓS

Ludimila Cristina Souza Silva


Doutora, Professora Curso de Especialização em
Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do INPÓS.

* Artigo científico apresentado à especialização em


Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica.

RESUMO: Os padrões de beleza corporal socialmente determinados e aceitos seguem


uma pré definição que tem como base as incessantes fotos publicadas em redes sociais,
onde o padrão de beleza a ser seguido deve obedecer aos parâmetros estéticos ali
definidos, seja de um corpo masculino musculoso ou um corpo feminino curvilíneo, tais
padrões fazem com que a busca por tal tipo de beleza seja frequente, onde todos os
métodos para conquistar a beleza ideal sejam buscados pela sociedade. Tais métodos na

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maioria das vezes são perigosos e contraindicados se realizados sem acompanhamento
profissional. O objetivo deste estudo é descrever sobre o impacto do uso de substâncias
ergogênicas na busca pelos padrões de beleza corporal socialmente determinados. Trata-
se de um estudo de revisão de literatura no qual os dados foram obtidos por meio da
busca em bases de dados virtuais em saúde, como BIREME, MEDLINE e SCIELO.
Através da análise dos dados observou-se que o uso indevido de substâncias
ergogênicas é frequente em praticantes de musculação tanto do sexo feminino quanto
masculino em que estão em busca do corpo ideal ditado pelas redes sociais. Com isso
torna-se necessário descrever e exemplificar os tipos de anabolizantes, quais são os mais
utilizados e seus efeitos colaterais a curto e longo prazo, bem como a forma de
aquisição de tais produtos.

PALAVRAS-CHAVE: Anabolizantes; Musculação, Efeitos colaterais.

ABSTRACT: The socially determined standards of body beauty accepted a pre-


definition that is based on the incessant photos published in social networks, where the
beauty standard to be followed must obey the aesthetic parameters defined there, either
of a muscular male body or in a curvilinear female body such patterns make the pursuit
of such beauty frequent, where all the methods of achieving ideal beauty are sought by
society. Such methods are most often dangerous and contraindicated if perfomed
without professional supervision. The aim of this study is to describe the impact of the
use of ergogenic substances on the search for socially determined body beauty
standards. This is a literature review study where data were obtained by searching
virtual health databases such as BIREME, MEDLINE and SCIELO. Through data
analysis it was observed that the misuse of ergogenic substances is frequent in both
female and male bodybuilders who are looking for the ideal body dictated by social
networks. Thus, it is necessary to describe and exemplify the types of anabolic and what
are their most commonly used short and long term side effects, as well as how to
purchase these products.

KEYWORDS: Anabolic; Bodybuilding; Side effects.

INTRODUÇÃO
A busca por padrões de beleza impostos pela sociedade tem impactado
progressivamente a população. Com essa procura, observa-se a utilização
indiscriminada de substâncias ergogênicas, com a finalidade de alcançar um corpo físico
cuja aparência estética seja aprovada e apreciada pela sociedade.
Substância ergogênica pode ser conceituada como toda substância que promove
o aprimoramento e otimização do rendimento desportivo. Sua principal característica é a
obtenção de resultados em um curto espaço de tempo, proporcionando maior satisfação
pessoal, tendo em vista os objetivos propostos para tal utilização. Contudo, o uso
indiscriminado e sem acompanhamento profissional adequado ocasiona riscos à saúde

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física e mental do indivíduo, além de efeitos colaterais que prejudicam o desempenho
do organismo como um todo (BUENO, ARAUJO; 2010).
As substâncias ergogênicas são divididas em três grupos: farmacológico,
suplementares nutricionais e fisiológicos. As substâncias denominadas farmacológicas
funcionam como hormônios ou neurotransmissores que intensificam a potência física do
indivíduo, através de alterações promovidas em seu metabolismo. Dentre os três tipos,
as substancias farmacológicas são as que oferecem os maiores riscos a saúde quando
utilizadas de forma indevida (BUENO, ARAUJO; 2010).
Os ergogênicos suplementares nutricionais possuem como característica
promover o aumento de tecido muscular através do consumo elevado de nutrientes que
são convertidos em fontes de energia. As substâncias ergogênicas fisiológicas são
definidas como todo mecanismo ou meio fisiológico que tenha a finalidade de melhorar
o desempenho físico, observando-se que próprio treinamento na academia pode ser
considerado um recurso fisiológico (KANAYAMA et al.; 2009).
A busca pelo corpo ideal, considerado “esteticamente perfeito” pela sociedade,
ditado e admirado através de redes sociais, programas de televisão e internet, afetam
todas as faixas etárias que tendem a aproximar-se dos parâmetros estéticos impostos
pela sociedade. Indivíduos do sexo feminino são os mais afetados por tal pressão social,
seguidamente do publico masculino. Esse último caracteriza-se por ser o maior
consumidor de substâncias ergogênicas (KANAYAMA et al.; 2009).
Observa-se notoriamente que o uso indiscriminado e exagerado dos recursos
citados anteriormente prejudica a saúde. Adicionalmente, homens e mulheres que estão
em busca do corpo ideal não avaliam de forma correta os impactos e riscos a saúde
física e mental causados por tais substâncias. Dessa forma, postulou-se o seguinte
questionamento frente essa problemática: “Quais as consequências do uso
indiscriminado das substâncias ergogênicas?”. Assim, o objetivo deste estudo é
destacar, através de uma revisão da literatura, as principais reações adversas
relacionadas ao uso excessivo de substâncias ergogênicas.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, a qual refere-se a um método
que analisa e sintetiza as pesquisas de maneira sistematizada, e contribui para
aprofundamento do tema investigado, e a partir dos estudos realizados separadamente e
possível construir uma única conclusão, pois foram investigados problemas idênticos ou

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parecidos. A questão norteadora do presente estudo foi: “Quais as consequências do uso
indiscriminado das substâncias ergogênicas?”
O estudo foi realizado por meio de busca on-line das produções científicas
nacionais sobre o uso excessivo das substâncias ergogênicas, publicadas no período de
2006 a 2018. A obtenção dos dados ocorreu através de buscas processadas utilizando
principalmente as bases de dados: BIREME, MEDLINE e SciELO. Os descritores
utilizados para a busca foram: substâncias ergogênicas farmacológicas, anabolizantes,
academia, nutrição, musculação.
Como critério de inclusão, estipulou-se: estudos que abordem temas
relacionados ao uso indiscriminado de substâncias ergogênicas, efeitos colaterais dos
anabolizantes, padrões de beleza definidos atualmente; publicados no idioma português.
Foram excluídos artigos que não responderam à pergunta norteadora deste estudo.
A busca através das bases de dados foram realizados em agosto de 2019.
Posteriormente, os estudos foram lidos na íntegra, procedendo-se com a extração de
dados. Para essa etapa, foi preenchido um instrumento, elaborado pelas autoras (es),
contendo: identificação do artigo, ano e país de publicação, idioma, tipo de instituição
onde foi realizado o estudo, metodologia empregada, nível de evidência e descrever as
principais consequências do uso indiscriminado dos anabolizantes.
A avaliação do nível de evidência foi classificada em: Nível I – revisões
sistemáticas ou metanálise de relevantes ensaios clínicos; Nível II – evidências
derivadas de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado;
Nível III – ensaios clínicos bem delineados sem randomização; Nível IV – estudos de
coorte e de caso-controle bem delineados; Nível V – revisão sistemática de estudos
descritivos e qualitativos; Nível VI – evidências derivadas de um único estudo
descritivo ou qualitativo e Nível VII – opinião de autoridades ou relatório de comitês de
especialistas. As evidências pertencentes aos níveis I e II são consideradas fortes, de III
a V evidências moderadas e VI e VII evidências fracas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 29 artigos. Todavia, apenas 16 artigos atenderam aos
critérios de inclusão deste estudo. O ano que mais obteve publicações foi 2016 com
30% do total. O ano com menor índice de publicação foi 2006, representando 10% de

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todos os estudos. O quadro 1 descreve a distribuição dos estudos de acordo com ano de
publicação, autores, periódico em que se encontra a publicação e o título desta.

Quadro 1 – Distribuição ordenada dos trabalhos selecionados quanto ao ano, autores,


periódico e título.
N Ano Autores Periódico Título
Análise sobre os estudos científicos
Revista Brasileira de
1 2011 Abrahin OSC do uso de esteroides anabolizantes
Educação Física
no Brasil: um estudo de revisão.
Use of alimentary supplement and
Araujo LR; Revista Brasileira de
anabolizant for apprentices of
2 2008 Andreolo J; Ciências do
muscular activity in the academies
Silva MS Movimento
of Goiania – GO.
Uso de esteroides anabólicos
Bueno JPL; Revista Brasileira de androgênicos por praticantes de
3 2010
Araujo LG Educação Física musculação da grande
Florianópolis.
Carneiro JMA; Nível de conhecimento e ocorrência
Revista Científica
4 2016 Silva AC; do uso de anabolizantes entre
FAGOC – Saúde
Almeida MM praticantes de musculação.
Cooper R; Creatine supplementation with
Journal of the
Naclerio F; specific view to exercise / sports
5 2012 International Society
Allgrove J; performance: an update.
of Sports Nutrition.
Jimenez A.
Distribuiton of responses os
practitioners of physical activity in
Correa DB; Instituto de Saúde connection with the use of food
6 2014
Navarro AC Coletiva supplements and nutrition
mmonitoring an academy of
Natal/RN
Musculação, uso de esteroides
anabolizantes e percepção de risco
Iriart BAJ; Instituto de Saúde
7 2016 entre jovens fisiculturistas de um
Andrade MT Coletiva
bairro popular de Salvador, Bahia,
Brasil.
Junior SHAS; Traducao, adaptacao e validacao da
Revista Digital
8 2008 Souza MA; escala de satisfacao com a
Buenos Aires
Silva JHA aparencia muscular.
Kanayama G; Issues for DSM-V: Clarifying the
Brower KJ; American Journal diagnostic criteria for anabolic-
9 2009
Wood RI; Psychiatry androgenic steroid dependence.
Hudson JI; Pope

FARMÁCIA CLÍNICA & PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA – ISBN 978-65-87580-04-3 40


HG
Lima DL; Dismorfia Muscular e o Uso de
Revista Brasileira de
10 2010 Moraes BMC; Suplementos Ergogênicos em
Medicina do Esporte
Kirsten RV Desportistas.
Melo NM; Estado Nutricional e distúrbio de
Barros NJA; imagem corporal em universitários
Nascimento JS, praticantes de musculação
11 2017 Gep News
Silva DR; Melo
JMM, Cabral
JCR
Nabuco HCG; Factors associated with the use of
Revista Brasileira de
12 2016 Rodrigues VB; dietary supplements among
Medicina do Esporte
Ravagnani CFC athletes: a systematic review
Prevalência do uso e efeitos de
Nogueira FRS; Revista Brasileira de recursos ergogênicos por
13 2008 Souza AA; Brito Atividade Física & praticantes de musculação nas
AF Saúde academias brasileiras: Uma revisão
sistematizada.
Reis SFA; Autopercepção corporal e o
Revista de
Candido VH; consumo de recursos ergogênicos
14 2018 Enfermagem da
Freitas FC; por frequentadores de academia
UFPE
Silveira AC
Santos AF; Anabolizantes: Conceitos segundo
Mendonça praticantes de musculação em
Psicologia em
15 2006 PMH; Santos Aracaju (SE).
Estudo
LA; Silva NF;
Tavares JKL
Consumo e Nível de Conhecimento
Silva AA;
16 2013 Bioscience Journal sobre Recursos Ergogênicos
Marins JCB
Nutricionais em Atletas

Quanto a metodologia de pesquisa utilizada, foram utilizados artigos de revisão


de literatura e estudo de caso. Quanto ao nível de evidências 70 % dos estudos
pertencem aos níveis I e II que são consideradas evidências fortes, 20 % foram
considerados de nível III a V , ou seja, evidências moderadas e 10 % dos estudos VI e
VII sendo consideradas evidências fracas. Portanto o que prevaleceu foram estudos de
evidências fortes. As principais reações adversas relacionadas com o uso indiscriminado
de substâncias ergogênicas e a descrição das principais substâncias relatadas nos
estudos selecionados para essa revisão estão descritos nas tabelas 1 e 2,
respectivamente.

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Tabela 1: Distribuição dos estudos quanto as principais reações adversas relacionadas
ao uso excessivo de substâncias ergogênicas:
Reações adversas relacionadas ao uso de substâncias ergogênicas N %
Nefrotoxicidade 10 27,2
Hepatotoxicidade 9 21,3
Ginecomastia 7 38,2
Retardo no desenvolvimento 13 13,3

Tabela 2: Distribuição dos estudos quanto as principais substâncias ergogênicas


utilizadas.
Substâncias ergogênicas utilizadas N %
Decanoato de Nandrolona 10 30,3
Cipionato de Testosterona 10 32,9
Estanozolol 10 36,8

DISCUSSÃO

Padrões de beleza e a busca pelo corpo ideal


O padrão de beleza ideal tem se tornado um objetivo a ser conquistado pela
grande maioria das pessoas, principalmente aquelas que vivem em grandes centros
urbanos e com fácil acesso a tecnologia de comunicação. As redes sociais influenciam
de forma direta na definição e concepção de um corpo perfeito a partir do momento que
inúmeras publicações aparecem nas telas de smartphones, computadores e tablets,
permitindo que crianças, adolescentes e adultos tenham acesso ao que a sociedade
considera como o certo, bonito e agradável e aos olhos (NOGUEIRA, SOUZA, BRITO;
2013).
Para que tais características sejam alcançadas, homens e mulheres fazem uso de
anabolizantes, cirurgia plástica e dietas muito rigorosas para alcançar tais medidas. Em
muitos casos essa busca incessante pelo corpo “ideal” acaba gerando transtornos físicos
como a bulimia, anorexia e distúrbios psicológicos (aceitação do corpo, baixa
autoestima). As redes sociais são recorrentemente consideradas como principal meio de
influência negativa. No entanto, o oposto não é discutido, pois como a mídia influência
diretamente as ações dos indivíduos, poderia ser utilizada para fins de conscientização
perante estes problemas (transtornos alimentares, corpo como indústria estética,
problemas sociais) (SANTOS JUNIOR, SOUZA, SILVA; 2012).

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Em uma tentativa de obter o mesmo padrão de beleza imposto e aceito pela
sociedade, as academias, consultórios de cirurgias plásticas e centros estéticos recebem
uma clientela frequente e crescente fazendo parte de um mercado em expansão,
juntamente com a crescente criação de produtos com a finalidade mudar, estimular,
melhorar o organismo na busca do corpo ideal (SANTOS JUNIOR, SOUZA, SILVA;
2012).
A busca incessante pela beleza ideal é uma característica do ser humano desde as
épocas remotas, onde é possível verificar que, mesmo sem a tecnologia existente de
hoje, a moda já era ditada como algo a ser seguida. Um padrão aceito era imposto a
sociedade como forma de inclusão e aceitação ao meio, assim como nos dias de hoje
(COOPER et al., 2012).
Com esse levantamento, questiona-se: quais os padrões definidos de beleza
atualmente?. A resposta para tal pergunta pode ser obtida numa rápida consulta em
redes sociais, onde é perceptível que, para o homem o corpo ideal deve ser musculoso,
definido, cabelos bastos, altura considerável e dentes brancos e alinhados, enquanto para
mulheres o corpo deve ser curvilíneo, com seios e nádegas grandes e empinados, cintura
fina, pernas e barriga torneadas, cabelos compridos, dentes brancos e alinhados. Para a
obtenção deste padrão, o uso de cosméticos e substâncias ergogênicas que auxiliem e
acelerem o processo de obtenção de resultados são utilizados incessantemente
(COOPER et al., 2012).
Dentre os produtos criados para tal propósito é comum que cosméticos
desenvolvidos para corpo, rosto e cabelos estejam entre os principais produtos
comercializados juntamente com as substâncias ergogênicas tão utilizadas para acelerar
resultados físicos associados a realização de exercícios físicos constantes. Sabe-se que a
utilização desses produtos acelera a obtenção dos resultados físicos de uma maneira
surpreendente, visto que sem o auxílio de tais substâncias o resultado de um corpo
malhado e definido levaria um tempo consideravelmente maior (MELO et al.,2017).

O uso indiscriminado de anabolizantes


Os esteroides androgênicos anabólicos (EAA) são hormônios sintéticos que
estimulam o desenvolvimento muscular a partir do crescimento da célula e sua posterior
divisão. São substâncias utilizadas no tratamento de algumas doenças, mas são
comumente utilizadas por indivíduos que estejam em busca de um corpo considerado

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ideal e desejam resultados visíveis de aumento de força e volume muscular
(CARNEIRO, SILVA, ALMEIDA; 2016).
Os EAA foram descobertos nos anos 1930, inicialmente eram utilizados para o
tratamento de fadiga crônica em prisioneiros nos campos de concentração nazista e
prisioneiros de guerra, além do uso em soldados alemães para aumento da força
muscular e agressividade. Com o passar dos anos novas funções benéficas e maléficas
do uso de anabolizantes foram identificadas, assim como novos tipos de substâncias
(ABRAHIN, 2019). O uso indiscriminado de qualquer substância provoca prejuízos a
saúde. A seguir serão relacionados os três principais tipos de substâncias anabólicas,
bem como seus benefícios e malefícios ao organismo.

Cipionato de Testosterona
A testosterona é o principal hormônio androgênico sendo responsável pelo
desenvolvimento e manutenção das características sexuais masculinas e do estado
anabólico de tecidos, onde a produção insuficiente da mesma ocasiona no
hipogonadismo masculino que é o atrofiamento ou desenvolvimento deficiente de
características sexuais secundárias, causando impotência, infertilidade e tamanho
reduzido dos testículos. O uso de tal substância deve ser feito sob acompanhamento
médico, devido a agressividade do ativo ao organismo, porém para usuários de
anabolizantes para fins de resultados musculares o uso na maioria das vezes é
descontrolado (LIMA et al., 2010).
O cipionato de testosterona é comercializado como Deposteron®, tem por
característica ser uma solução injetável, oleosa límpida, na cor amarela e isenta de
partículas estranhas, cuja aplicação deve ser feita via intramuscular no músculo glúteo.
Possui como função o crescimento e desenvolvimento de órgãos masculinos, bem como
alterações de massa muscular e distribuição da gordura corporal. Sua absorção é lenta
devido os ésteres de testosterona serem menos polares do que a testosterona livre, sendo
absorvidos de forma mais lenta quando administrada por via intramuscular em veículo
oleoso, o que consequentemente prolonga o intervalo de administração das doses, que
deve ser feito de duas a quatro semanas conforme orientação médica (LIMA et al.,
2010).
A distribuição do cipionato de testosterona é de aproximadamente 98% da
testosterona sérica circulante que encontra-se ligada à globulina ligadora de
testosterona-estradiol ou ligadora de hormônios sexuais. A meia vida dessa substância

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quando administrada por via intramuscular é de certa de oito dias. É metabolizada pelo
fígado e excretada na urina na forma de conjugados de ácido glucurônico e ácido
sulfúrico das testosteronas e seus metabólitos (LIMA et al., 2010).
Possui como efeitos adversos alterações no sistema endócrino e urológico,
apresentando ginecomastia e frequência aumentada de ereções e a oligospermia pode
ocorrer com o uso de altas doses, a pele pode apresentar alterações cutâneas, hirsutismo,
alopecia, seborreia e acne. Retenção de sódio, cloreto, água, potássio, cálcio e fosfatos
inorgânicos também podem ocorrer, além de náusea, icterícia colestática, valores
alterados nos exames laboratoriais hepáticos, sangramentos em pacientes em tratamento
com anticoagulantes entre outros (LIMA et al., 2010).

Decanoato de Nandrolona
É um fármaco com propriedades anabolizantes e androgênicas utilizado para
estimular o crescimento em crianças com retardo generalizado e para o tratamento da
síndrome de Turner, além de indicado para falhas no crescimento físico, hepatite
alcoólica aguda, moderada ou grave. É absorvido rapidamente pelo tubo digestivo e
excretado principalmente pela urina em forma de metabólitos e como fármaco
inalterado. É administrado por via oral em comprimidos de 2,5 mg de 2 a 4 vezes ao dia
conforme orientação médica (LIMA et al., 2010).
Os efeitos colaterais do Decanoato de Nandrolona incluem irritação na bexiga,
aparecimento de características masculinas em mulheres, ginecomastia, ereção
involuntária e dolorosa no pênis, acne, anemia, problemas no fígado, diarreia, alterações
da libido dentre outros (LIMA et al., 2010).

Estanozolol
O estanozolol é um esteroide anabolizante sintético derivado do DHT
(diidrotestosterona), pode ser administrado tanto por via intramuscular, quanto por via
oral. Tem sido utilizado em pacientes humanos e em animais no tratamento de diversas
condições. Em humanos, foi demonstrado seu sucesso no tratamento da anemia,
angioedema hereditário, estados de depreciação física, fraturas de lenta consolidação,
osteoporose, queimaduras extensas, períodos pré e pós-operatórios. Os veterinários
podem prescrevê-lo para melhorar o crescimento muscular, produção de células
vermelhas sanguíneas, aumentar a densidade óssea e estimular o apetite de animais
fracos ou debilitados.

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É classificado como um anabolizante de baixo efeito colateral. Isso significa que
não se aromatiza facilmente. Uma vez aumentada a síntese de colágeno, o tecido
conjuntivo fica mais firme, dando à pele e aos músculos uma aparência mais rígida, o
que resultaria em mais definição (LIMA et al., 2010).
Os mecanismos de queima de gordura são, na realidade, uma diminuição de
volume hídrico do corpo de quem utilizado o estanozolol. É preferido por muitas
pessoas pelo fato de causar aumento da força sem ganho de peso em excesso, promover
aumento na vascularização, e não se converter em hormônio feminino. Pode ser
considerado um dos melhores anabolizantes, pois a retenção hídrica e de gordura são as
principais causas que impedem o corpo de definir a musculatura.
Por esse motivo, não provoca o aspecto de inchaço, observado no uso de outros
anabolizantes. Depois de terminado o uso deste anabolizante, devido ao feedback
negativo, o organismo pode demorar algum tempo para voltar a produzir naturalmente
estes hormônios, e isso pode causar algumas complicações (LIMA et al., 2010).

Prescrição indevida de anabolizantes


Após a exposição dos principais anabolizantes utilizados para obtenção de
volume muscular e rigidez, é necessário avaliar a maneira como os indivíduos que
utilizam tais substâncias tem acesso as mesmas, visto que são medicamentos de controle
sanitário rígido e comercializados somente com retenção de receita (REIS et al.,2018).
Os anabolizantes recebem classificação C5 conforme determinado na portaria
344/98, e a sua venda deve ser feita somente com a apresentação de receita médica, de
cor branca em duas vias, com validade de 30 dias em todo o território nacional com a
quantidade a ser dispensada para tratamento de 60 dias. Entretanto raramente os
indivíduos que fazem uso de anabolizantes para fins estéticos possuem
acompanhamento médico, adquirindo tais substâncias de forma irregular (REIS et
al.,2018).
Os principais meios de aquisição de anabolizantes são feitos através de sites da
internet que comercializam produtos de origem e qualidades duvidosa e venda de
receitas prescritas sem avaliação médica. Prescrever, comercializar e utilizar
anabolizantes sem acompanhamento médico é caracterizado como crime conforme
especificado no Código Penal Brasileiro, artigo 273, parágrafo 1º, com detenção de seis
meses a dois anos de prisão, além de sanções penais e éticas ao médico e farmacêutico
(REIS et al.,2018).

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Efeitos colaterais oriundos do uso prolongado de anabolizantes
O uso de anabolizantes por tempo prolongado sem orientação médica,
desencadeia uma série de efeitos colaterais a saúde, visto que quando doses normais de
testosterona são administradas em homens que não possuem nenhum tipo de patologia
em que seja necessário o uso de testosterona, o efeito da mesma não é realizado, sendo
necessário então aumentar drasticamente as dosagens para que o crescimento muscular
seja obtido.
As doses mais altas de testosterona estimulam na sintetização da proteína e
aumentam a massa muscular do organismo, visto que a testosterona se liga a receptores
específicos localizados nas fibras musculares. A efeito imediato após a aplicação dessas
doses elevadas o indivíduo apresenta euforia e resistência a fadiga, auxiliando na
realização de exercícios físicos intensos que irão hipertrofiar a musculatura (NABUCO,
RODRIGUES, RAVAGNANI; 2016).
O uso de anabolizantes provoca alterações comportamentais, endócrinos,
cardiovasculares, hepáticos e musculoesqueléticos no corpo humano, onde as alterações
relacionadas ao comportamento podem ser identificadas através de agressividade
intensa, irritabilidade, agitação, aumento excessivo ou diminuição da libido, surgimento
de transtorno bipolar, síndrome do pânico e pré disposição a quadros depressivos
(NABUCO, RODRIGUES, RAVAGNANI; 2016). .
As alterações endocrinológicas podem ser definidas através da acne, atrofia dos
testículos, calvície, impotência sexual, diminuição da motilidade dos espermatozoides,
redução do volume do esperma, crescimento das mamas em homens (ginecomastia),
masculinização de mulheres e desencadeamento de glicose em indivíduos pré-dispostos
(NABUCO, RODRIGUES, RAVAGNANI; 2016). A figura 01 exemplifica a
ginecomastia em homens durante a utilização prolongada de anabolizantes e a segunda
imagem após a interrupção do uso.

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Figura 01 - Exemplo de comparação da ginecomastia em usuário de anabolizantes.

Fonte: Abrahin

A longo prazo, alterações cardiovasculares também podem ser identificadas,


visto que anabolizantes favorecem o surgimento de edemas, aumento da pressão
arterial, aumento do colesterol total e diminuição do bom colesterol, além do aumento
de triglicérides. Alterações hepáticas também podem ser observadas com o aumento das
enzimas hepáticas como por exemplo as transaminases e fosfatase alcalina, e em casos
mais graves surgimento do câncer de fígado (NABUCO, RODRIGUES,
RAVAGNANI; 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto foi possível constatar que a pressão social para aceitação
mediante a um padrão corporal pré-determinado desencadeia na utilização indevida de
anabolizantes e demais métodos estéticos sem o acompanhamento profissional
qualificado, fato que coloca em risco a saúde do usuário. Anabolizantes foram
desenvolvidos para auxiliar no tratamento de doenças que interferem no
desenvolvimento adequado, mas infelizmente são utilizados para fins estéticos
inapropriados.
A conscientização da população sobre o uso indevido de anabolizantes é
primordial para que o uso irregular e ilegal de tais produtos diminua, juntamente com as
demais doenças desencadeadas pelo excesso do uso de anabolizantes. É necessário que
a conscientização sobre a auto aceitação corporal do individuo seja feita, para que
cobranças relacionadas a imagem corporal sejam desmistificadas.

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REFERÊNCIAS
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CAPÍTULO 04
USO DOS ANSIOLÍTICOS EM
PACIENTES PORTADORES DE
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
ASSOCIADA À FATORES EMOCIONAIS
Gizelly Borges Nogueira
Graduada em Farmácia e Pós-Graduanda em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Jhonathan Gonçalves da Rocha


Mestre, docente do INPÓS

Diogo Marçal Machado de Oliveira


Mestre, docente do INPÓS

Yara Bandeira Azevedo de Alencar


Professora Universitária, Farmacêutica/Bioquímica,
Mestre, Diretora Geral da Empresa INPÓS

Ludimila Cristina Souza Silva


Doutora, Professora Curso de Especialização em
Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do INPÓS.

RESUMO: Este trabalho aborda, por meio de revisão de literatura, a relação entre
Hipertensão Arterial e os fatores emocionais, mais exatamente o estresse e a ansiedade.
Além disso discorre a respeito do uso de ansiolíticos como terapia medicamentosa para
tratar a hipertensão. O objetivo deste estudo é avultar os efeitos do uso dos ansiolíticos
em pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica integrada a fatores
emocionais. O estudo foi realizado por meio de busca online das produções científicas
nacionais sobre uso dos ansiolíticos em pacientes portadores de hipertensão arterial
sistêmica associada a fatores emocionais. A obtenção dos dados ocorreu através de
buscas processadas por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo utilizadas
principalmente as bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Os descritores
utilizados para a busca foram: “Hipertensão Arterial”, “Ansiolíticos”, “Tratamento”. Foi
possível observar através da análise dos dados que os riscos de desenvolvimento da
hipertensão arterial parecem ser influenciados por fatores emocionais como estresse e
ansiedade. Todavia, mais estudos são imprescindíveis para melhor esclarecer essas
relações.
PALAVRAS-CHAVE: Ansiedade; Depressão; Estresse.

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ABSTRACT: This paper approaches, through a literature review, the relationship
between Arterial Hypertension and emotional factors, more precisely stress and anxiety.
It also discusses the use of anxiolytics as a drug therapy to treat hypertension. The aim
of this study is to highlight the effects of the use of anxiolytics in patients with systemic
arterial hypertension integrated with emotional factors. The study was conducted
through an online search of the national scientific productions on the use of anxiolytics
in patients with systemic arterial hypertension associated with emotional factors, from
1988 to 2018. Data were obtained through searches processed through Virtual Health
Library (VHL), mainly used the databases: Latin American and Caribbean Literature in
Health Sciences (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO). The
descriptors used for the search were: "Hypertension", "Anxiolytics", "Treatment". It was
possible to observe through data analysis that the risks of developing hypertension seem
to be influenced by emotional factors such as stress and anxiety. However, more studies
are essential to clarify these relationships.
KEYWORDS: Anxiety; Depression; Stress.

INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial é uma doença que abrange cerca de 15 a 20% da
população adulta com mais de 18 anos, alcançando a índices de 50% nas pessoas idosas
(DUNCAN et al, 1993). O III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (1998),
espalhado e publicado para toda comunidade médica brasileira, sugere que o tratamento
do paciente hipertenso precisa ser estabelecido quando os níveis de pressão arterial são
iguais ou superiores a 140/90 mm Hg. A Hipertensão Arterial agrava-se pela presença
de fatores como ingestão de álcool, fumo, uso de drogas, consumo de sódio,
sedentarismo, fatores emocionais (estresse, ansiedade e depressão, por exemplo), entre
outros (LIPP; ROCHA, 2008).
O estresse colabora para o enorme número de enfermidades, tanto de ordem
psíquica como orgânica, dentre elas a Hipertensão Arterial Sistêmica (LIMA; SILVA,
2017). O termo estresse significa o estado provocado pela percepção de estímulos que
geram excitação emocional e, ao alterarem a homeostasia, disparam um processo de
adaptação assinalado, entre outras modificações, pelo acréscimo de secreção de
adrenalina produzindo várias manifestações sistêmicas, com distúrbios psicológicos e
fisiológicos. Devido a relevância do tema, muito se tem estudado a respeito do assunto,
mesmo que pouca atenção tenha sido dada à agregação dos fatores emocionais (estresse)
com a pressão arterial (FONSECA, 2002).
Esse termo ainda é definido como “qualquer ação ou situação (estressor) que
submete uma pessoa a demandas psicológicas ou físicas especiais” (NIEMAN, 1999). O

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grande fator desencadeante da hipertensão é justamente a tensão desempenhada por
períodos de estresse e ansiedade que modificam toda a configuração hormonal e
sistemática do organismo (LEWIS, 1988).
A ansiedade nesse mesmo aspecto, por meio do hipotálamo libera
corticosteroides e catecolaminas, pelo sistema simpático ou por ação indireta das
suprarrenais. Essas substâncias interferem no sistema cardiovascular promovendo:
aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial, lesão celular por entrada de sódio,
saída de magnésio, potássio, injúria endotelial, acréscimo do débito cardíaco, do
consumo de oxigênio, da excitabilidade cardíaca, aumento da adesividade plaquetária,
retenção de sódio e água, vasoconstrição periférica, hemoconcentração, acréscimo da
coagulação sanguínea, do ácido lático, da glicose, aumento dos ácidos graxos e do
colesterol. Isso quer dizer que a liberação demasiada ou prolongada de catecolaminas e
corticosteróides geram hipertensão arterial (MELLO, 1992).
A ansiedade por sentimento de inferioridade instiga as zonas 13 e 24 de
Brodmann e hipotálamo que libertam hormônios pressores e existe redução das enzimas
hipotensoras o que acarreta a hipertensão (PAIVA; SILVA, 1994). Portanto, o objetivo
deste estudo é destacar, por meio da revisão da literatura, os efeitos do uso dos
ansiolíticos em pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica integrada a fatores
emocionais.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, a qual refere-se a um método
que analisa e sintetiza as pesquisas de maneira sistematizada, e contribui para
aprofundamento do tema investigado, e a partir dos estudos realizados separadamente e
possível construir uma única conclusão, pois foi investigado problemas idênticos ou
parecidos (MENDES, 2008). A questão norteadora do presente estudo foi: “É
necessário a utilização de ansiolíticos em hipertensos?”.
O estudo foi realizado por meio de busca on-line das produções científicas
nacionais sobre uso dos ansiolíticos em pacientes portadores de hipertensão arterial
sistêmica associada a fatores emocionais. A obtenção dos dados ocorreu através de
buscas processadas por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo utilizadas
principalmente as bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Os descritores
utilizados para a busca foram: “Hipertensão Arterial”, “Ansiolíticos”, “Tratamento”.

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Para a realização de uma pesquisa bibliográfica de qualidade, o primeiro passo é
localizar a terminologia autorizada e reconhecida mundialmente. O descritor controlado
é parte de um vocabulário estruturado e organizado para facilitar o acesso à informação.
Esses vocabulários são usados como uma espécie de filtro entre a linguagem utilizada
pelo autor e a terminologia da área (PELIZZON, 2004).
Foram considerados os seguintes critérios de inclusão: estudos que abordaram
sobre a Hipertensão Arterial Sistêmica; sem limite de data de publicação; publicados no
idioma português. Foram excluídos artigos que não responderam à pergunta norteadora.
O acesso à base de dados e a coleta de dados foram realizados em janeiro de 2019.
Posteriormente, os estudos foram lidos na íntegra. Após essa etapa, foi preenchido um
instrumento, elaborado pelas autoras contendo: identificação do artigo, ano e país de
publicação, idioma, tipo de instituição onde foi realizado o estudo, metodologia
empregada, nível de evidência e para descrever sobre uso dos ansiolíticos em pacientes
portadores de hipertensão arterial sistêmica associada a fatores emocionais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 20 artigos. Entretanto, somente 15 atenderam aos critérios de
inclusão do estudo (Quadro 1). O ano que mais publicou foi o ano 2015 enquanto o com
menor índice de publicação foi 1992. O quadro 1 descreve a distribuição dos trabalhos
quanto a ano, título, periódico publicado e autores.

Quadro 1- Distribuição ordenada dos trabalhos selecionados quanto ao ano, autores,


periódico e título

Autores Periódico Titulo


FIGUEIREDO, Ajustamento Criativo e Estresse na Hipertensão
Juliana de Oliveira; Revista de Abordagem Arterial Sistêmica
CASTRO, Emma Gestalt
Elisa Carneiro

Revista Brasileira de Hipertensão Arterial Sistêmica


JARDIM et al
Medicina

Revista Latino- Efeitos da ansiedade sobre a pressão arterial em


CHAVES e CADE Americana de mulheres com hipertensão
Enfermagem
MAC FADDEN e Revista. Assoc. Aspectos psicológicos e hipertensão essencial
RIBEIRO Medicina Brasileira

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Jornal Brasileiro de A influência de fatores emocionais sobre a
FONSECA
Psiquiatria hipertensão arterial

Revisão Crítica de Literatura Revista da


JULIANA de O. F. e
- Abordagem Gestáltica - Phenomenological
EMMA E. C. C.
Studies

OHLMANN J.R, Jornal Brasileiro de. Tratamento medicamentoso


OSVALDO et al Nefrologia

Sociedade Brasileira de Hipertensão. Sociedade


Brasileira de Cardiologia. Sociedade Brasileira
- -
de Nefrologia VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão.
FONSECA C.D. Tese de doutorado Política Nacional de Promoção da Saúde

- Rev. Clin Terap III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial


LEWIS H.R Livro Fenômenos psicossomáticos.

MELLO Livro Psicossomática hoje

PAIVA L.M, SILVA Medicina psicossomática


Livro
A.M.A.

Exercício e saúde.
NIEMAN D.C Livro

AMARAL, B. D. A.; Benzodiazepínicos: uso crônico e dependência


Monografia
MACHADO, K. L.

Ao lado de outros fatores como hereditariedade, vida sedentária e nutrição


imprópria, o estresse está associado a etiologia de diferentes patologias crônicas e
degenerativas como câncer, obesidade e hipertensão arterial (STRAUB, 2005). O stress
pode ser abrangido como uma resposta do organismo onde fazem parte fatores físicos,
mentais, psicológicos e hormonais ocasionado pela necessidade de manejo de qualquer
circunstância, positiva ou negativa, que naquele instante representa ameaça (LIPP;
MALAGRIS, 2011).
Uma das maneiras de compreender os fatores emocionais relacionados à
hipertensão arterial, como é o caso do estresse, é entender o conceito de reatividade
cardiovascular, aludindo às alterações de pressão arterial ou de frequência cardíaca,
derivadas de estímulos característicos. Mesmo recorrentemente a reatividade
cardiovascular seja conceituada na forma de elevações de pressão arterial diante das

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situações de stress, observa-se indivíduos com hipertensão exibindo elevações maiores
e mais amiudadas do que pessoas sem este diagnóstico em ocasiões parecidas. Essas
elevações por serem transitórias, não produzem efeitos que prejudicam os indivíduos
que não tem tendência à hipertensão, pois a capacidade normal de adaptação das artérias
possibilita a recuperação do organismo sem gerar sequelas (LIPP; ROCHA, 2008).
Diversos estudos assinalam que a reatividade cardiovascular do paciente com
hipertensão, em circunstâncias de tensão interpessoal, modifica em função do nível de
stress em que se depara também das suas características de personalidade. As
manifestações emocionais como estresse e ansiedade, são fatores de risco para
hipertensão arterial. Aconselha-se que todo hipertenso realize acompanhamento
psicológico, para uma modulação melhor da reatividade cardiovascular em momentos
de estresse emocional. Estes tratamentos ajudam na reestruturação do modo de pensar e
administram para uma mudança estável e duradoura do estilo de vida, mais ajustado
com o autocuidado imprescindível no manejo de doenças crônicas. (LIMA e MUNIZ,
2017)
Várias classes de anti-hipertensivos já comprovaram diminuir o risco
cardiovascular e, na grande maioria dos casos, é preciso associar fármacos com
mecanismos de ação diferentes, como no caso os ansiolítcos. Além da proeminência de
benefício clínico, a escolha do anti-hipertensivo precisa levar em consideração fatores
diversos, como as comorbidades do paciente, o perfil de efeitos adversos, posologia,
interação medicamentosa e até mesmo o preço do fármaco no mercado. (LIPP;
ROCHA, 2008).

Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)


A HAS é a doença cardiovascular com maior frequência no Brasil, sendo um
problema grave de saúde pública nacional e mundial. Apresenta prevalência de 22,3% a
43,9% nos adultos brasileiros, alterando segundo a cidade onde os dados foram
colhidos, tendo incidência de mais de 50% entre 60 e 69 anos, e 75% para idosos acima
de 70 anos, segundo a VI Diretrizes de Hipertensão (SBC, 2010; SBH, 2010 SBN,
2010).
A HAS é fator de risco para outras patologias cerebrovasculares,
cardiovasculares e renais, como por exemplo doença cerebrovascular, doença arterial
coronariana, insuficiência cardíaca, doença arterial periférica, e doença renal crônica.
Devido ser assintomática na maior parte do seu curso, o diagnóstico, os cuidados

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indispensáveis e o tratamento podem ser descuidados pelos portadores, induzindo a uma
baixa taxa de controle (BRASIL, 2006).
A VI Diretrizes de Hipertensão (SBC, 2010) determina HAS como “(...) um
estado clínico multifatorial marcado por níveis altos e sustentados de Pressão Arterial
(PA)”. Associa-se repetidamente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo
(encéfalo, coração, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com
concludente acréscimo do risco de eventos cardiovasculares fatais e não-fatais.
O critério fundamental que é concordância para o diagnóstico da HAS seguido
hoje em dia avalia a pressão arterial sistólica maior ou igual a 140 mmHg e uma pressão
arterial diastólica maior ou igual a 90 mmHg nos indivíduos que não estão fazendo uso
de medicamentos anti-hipertensivos. Este diagnóstico deve ser feito com cuidado, de
maneira a evitar os falsos positivos. Assim, existe a recomendação de que se meça a
Pressão Arterial (PA) em diferentes períodos nos indivíduos ainda não diagnosticados e
considerando também o risco cardiovascular global, que pode ser considerado pela
presença de lesões em órgãos alvo, presença de fatores de risco e pelas comorbidades
associadas (BRASIL, 2006).
Em relação aos fatores de risco, a VI Diretrizes de Hipertensão (Sociedade
Brasileira de Cardiologia et al., 2010) assinala idade, etnia, sexo, excesso de peso e
obesidade, ingestão de álcool, ingestão de sal, fatores socioeconômicos e genética.
Além dos fatores descritos, encontra-se na literatura que existe influência dos aspectos
psicológicos no desencadeamento e sustentação da HAS, bem como há a influência de
fatores referentes à vulnerabilidade social (GANDARILLAS; CÂMARA; SCARPARO,
2005).
MacFaden e Ribeiro (1998) destacam que pessoas submetidas à tensão
emocional prolongada expõem hipertensão repetidas vezes, arrolando a patologia
também à presença de ansiedade e à abrangência de tendências reprimidas. Conforme
estes autores, a omissão da expressão afetivo-emocional, bem como o bloqueio da
ansiedade, pode agir sobre o sistema nervoso autônomo. Quando existe uma disposição
genética para a HAS este fenômeno pode favorecer crises hipertensivas. Primeiramente,
essas crises são transitórias, mas podem se tornar duráveis (LIPP, 2010b).
Romano (1999) destaca que as intervenções psicológicas e os aspectos
psicológicos utilizados em pacientes hipertensos vão além do que tange ao estresse
emocional, causando interferência na instalação da doença, nos conhecimentos que o

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paciente tem a respeito dela e os seus fatores de risco, na mudança de hábitos de vida
(cessação de alcoolismo, tabagismo, controle de peso) e na adesão ao tratamento.

Alterações Emocionais que Levam o Paciente a ter Hipertensão: O Estresse como


Fator Significativo
O estresse colabora para grande número de enfermidades, tanto de ordem
psíquica como orgânica, e nesta se enquadra a Hipertensão Arterial Sistêmica. O termo
estresse significa o estado originado pela percepção de estímulos que ocasionam
excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, disparam um processo de
adaptação caracterizado, entre outras alterações, pelo aumento de secreção de adrenalina
produzindo várias manifestações sistêmicas, com distúrbios fisiológicos e psicológicos.
Devido a importância do tema, muito se tem estudado a respeito do assunto, apesar de
pouca atenção tenha sido dada à associação dos fatores emocionais (estresse) com a
pressão arterial. (FONSECA, 2002)
Hans Selye (1965) sugeriu um modelo trifásico de estresse, com as fases de
alerta, resistência e exaustão. A primeira fase diz respeito à preparação para a reação de
luta ou fuga, organizando o corpo e a mente para preservação da própria vida perante
circunstâncias ameaçadoras ou exigentes. Com a fase de resistência, existe uma
tentativa de adaptação, podendo surgir sensações de desgaste de cansaço. Na terceira
fase, com a persistência do estressor e a deficiência de estratégias para lidar com o
estresse, o organismo exaure a reserva de energia adaptativa, tendo princípio o
aparecimento de doenças sérias (LIPP, 2000).
Lipp (2000) a partir do modelo de Selye, sugeriu um modelo quadrifásico de
estresse, colocando a fase de quase-exaustão. Ele é formado pelas fases de alerta, quase-
exaustão, resistência e exaustão. O estresse no modelo quadrifásico de Lipp, começa na
fase de alerta, com a percepção de um desafio ou ameaça, existindo uma obrigação auto
regulatória para o qual a pessoa precisa produzir mais força para responder ao que está
demandando dela um esforço maior.
Existe mobilização fisiológica e psíquica, dispêndio de maior energia e quebra
da homeostase para encarar a situação em questão. Nesta fase pode acontecer o
acréscimo da motivação, do entusiasmo e do vigor, podendo conduzir a uma maior
produtividade. Na fase de resistência, existe uma procura pelo reequilíbrio, sendo
imprescindível maior gasto de energia e, por conseguinte, desgaste orgânico maior,
sendo comum a sensação de fadiga sem motivo aparente, além de outras consequências.

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Quando acontece uma adaptação apropriada diante da situação estressora, o
processo de estresse é interrompido sem resultados importantes. Se existe
prolongamento deste processo, o organismo entra na fase de quase exaustão, quando
existe um enfraquecimento da pessoa e redução das resistências às tensões, de maneira
que o organismo não obtém o restabelecimento da homeostase.
Nesta fase, é corriqueiro a alternância de períodos de bem-estar com momentos
de cansaço e desconforto. Doenças aparecem, despontando que a resistência perdeu sua
eficácia. Existe um desgaste expressivo e a presença de vários sintomas, mas a pessoa
ainda tem a capacidade de se manter socialmente ativa (LIPP; CABRAL; GRUN,
2009).
A fase de exaustão possui características parecidas às da fase anterior, todavia
com maior magnitude, induzindo ao esgotamento físico e psíquico, que pode se
despontar como exaustão física e depressão. A pessoa para de funcionar
apropriadamente, chegando a não conseguir trabalhar ou se concentrar. O estresse é um
fator de extraordinária interferência na qualidade de vida, sendo associado ao
desenvolvimento de várias patologias.
Uma pessoa estressada pode sentir-se mal consigo, ter dificuldades de
relacionamento, ser pouco produtiva, ter ausência de motivação, percorrendo risco de
adoecer. Lipp et al. (2009) citam gastrite, ansiedade, depressão, problemas
dermatológicos e variações de PA como distúrbios relacionados a altos níveis de
estresse.
Santos, Santos Melo e Alves Júnior (2006) discorrem a respeito do estresse
como um processo de caráter complicado e multidimensional, onde estressores agudos
ou crônicos apresentam ação, o que leva à excitação emocional. Ao perturbarem a
homeostase, estes estressores desfecham um processo de adaptação que produz várias
reações sistêmicas, podendo originar distúrbios psicológicos e fisiológicos. Lipp (2000)
o delineia como um processo, uma reação psicofisiológica complexa que se ocasiona a
necessidade de o organismo responder a algo que ameace a homeostase, podendo ser
ocasiões negativas como confrontações, dor, fome ou mesmo a ocasiões que façam o
indivíduo muito feliz.
Em estudo feito em 2007, Lipp et al. averiguaram maior intensidade dos
aumentos pressóricos nos instantes nos quais o hipertenso foi conduzido a expressar
seus sentimentos de modo direto, completando-se que as situações desafiadoras ou
estressantes podem ter um efeito estressor que modifica segundo com o nível de

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controle que os pacientes desempenham sobre suas emoções. Foi verificado que a PA
não variava de forma uniforme, mas que aumentos expressivos na pressão arterial
diastólica aconteciam especialmente nas condições em que a pessoa era requerida a
expressar suas emoções de modo livre.
No que se alude à pressão arterial sistólica, a reatividade foi maior nas ocasiões
em que era requerido ao participante que não expressasse seus sentimentos durante
períodos de estresse. Outra observação deste estudo menciona-se ao fato de que as
pessoas inassertivas ou alexitímicas exibiram reatividade maior na pressão arterial
diastólica quando requeridas a divulgarem seus sentimentos e maior reatividade na
pressão arterial sistólica quando induzidas a regular ou restringir a expressão de
emoção.
É apontado por Lipp et al. (2009) o estresse produzido pela raiva como um dos
fatores com capacidade de produzir reatividade cardiovascular exagerada. A raiva pode
acarretar problemas no campo social/relacional e também na saúde, sendo fator de risco
para depressão, doença coronariana, úlceras, morte prematura e suicídio (Lipp,
conforme citado por Lipp et al., 2009). A raiva é um estado emocional que se relaciona
à estimulação do sistema nervoso autônomo, ocorrendo quando uma pessoa se sente
ameaçada, injustiçada ou frustrada, tendo uma função de proteção (Spielberger &
Biaggio, conforme citado por Lipp et al., 2009).
Considerando a hipertensão sob a ótica da psicossomática, Rosa (2008) focaliza
o exposto pela Escola de Chicago e pela Escola Psicossomática de Paris. A primeira
enfatiza que conflitos inconscientes poderiam ocasionar tensões emocionais que, a partir
de uma cronicidade, teriam correlatos fisiológicos, resultando em disfunções. Esta
escola caracteriza o hipertenso como alguém que tem conflitos envolvendo seus desejos
de passividade e dependência, controle, domínio e autonomia.
No que tange à personalidade, há a oposição entre o desejo de agradar e o de ser
aprovado pelas figuras de autoridade e uma postura rebelde ou agressiva. A Escola
Psicossomática de Paris coloca o sintoma psicossomático como uma possibilidade de
reorganização estabelecida no movimento de adaptação da pessoa a estímulos internos
ou externos, sendo que o sintoma surge quando a pessoa ultrapassa um limiar de
conflito ou sofrimento.
Para Lipp (2000), o estresse exagerado e prolongado produz cansaço mental,
crises de ansiedade, apatia, prejudica o sistema imunológico e pode desencadear
doenças latentes, como por exemplo a HAS. Pesquisas abrangendo reatividade

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cardiovascular (LIPP, 2001, 2007, 2010b; LIPP, FRARE; SANTOS, 2007) despontam
que indivíduos hipertensos submetidos a sessões experimentais de estresse emocional
exibem aumento de PA expressivo e que variáveis como inassertividade ou alexitimia
(dificuldades em identificar e expressar emoções) são categóricos da reatividade
cardiovascular.
Reatividade cardiovascular refere-se às alterações na PA e/ou na frequência
cardíaca causadas pela resposta do organismo a determinada situação ou evento
característico (LIPP et al., 2007). Ela é instigada por certas situações e pode ser um
alerta para o desenvolvimento do autocuidado, muitas vezes descuidado pelo hipertenso
(BRASIL, 2006). Este cuidado precisa ser feito a longo prazo, todavia, aumentos
súbitos dos níveis de PA podem alcançar níveis que demandem cuidados imediatos.
Convém ressaltar sobre a reatividade cardiovascular, que tem sido considerada
importante na neurogenética de neoplasias, de doenças coronárias e da aterosclerose
(LIPP, 2007).
Dentro do consenso e das diretrizes nacionais organizadas a respeito da
hipertensão arterial sistêmica, o stress é tratado com um dos fatores de risco
cardiovascular para aqueles pacientes com pressão limítrofe (SBC, 1998; 2006).
Estudos demonstram o efeito do stress na reatividade cardiovascular e na pressão
arterial, recomendando que poderia cooperar para a hipertensão arterial sustentada
(LIPP, PEREIRA, JUSTO; MATOS, 2006; SBC, 2006).
O estudo de Lipp, Frare e Santos (2007) para entender a interação entre fatores
psicológicos e a reatividade cardiovascular em momentos de stress, identificou
correlação expressiva entre alexitimia (dificuldade de identificar e de expressar
emoções) e inassertividade e reatividade da pressão arterial. Estes resultados confirmam
a intersecção entre os fatores psicológicos descritos e a reatividade cardiovascular,
assinalando a importância de intervenções psicológicas e medicamentosas para
diminuição de stress em programas de tratamento para hipertensos.

Tratamento para Hipertensão


O tratamento apropriado da hipertensão arterial é categoricamente indispensável,
pois já foi exaustivamente comprovado que este promove diminuição do risco de
desfechos cardiovasculares em níveis praticamente iguais os da população não
hipertensa (SBC, 2010). A estratégia de tratamento vai, contudo, depender de uma

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avaliação clínica inicial, do risco cardiovascular global a que o paciente está submetido
e de uma avaliação laboratorial ínfima.
Com a avaliação clínica inicial estará sendo admitido o diagnóstico da HA, será
possível assim reconhecer os fatores de risco unificados para doenças cardiovasculares,
doenças associadas, serão pesquisadas lesões em órgãos-alvo, sendo possível estratificar
o risco cardiovascular global e constituir uma estratégia de tratamento mais apropriada
para o caso, conforme o quadro 2.

Quadro 2 - Estratificação de risco


Outros FR e PA ótima e PA limítrofe HA estágio 1 HA estágio 2 PA estágio 3
doenças normal

Nenhum FR Risco padrão Risco padrão + Risco baixo + Risco + Risco alto
moderado

1-2 FR + Risco baixo + Risco baixo + Risco + Risco + Risco muito


moderado moderado alto

≥ 3 FR ou + Risco + Risco alto + Risco alto + Risco alto + Risco muito


LOA ou DM moderado alto
ou SM

Doença CV e + Risco muito + Risco muito + Risco muito + Risco muito + Risco muito
renal alto alto alto alto alto

<15% 15%- 20%- >30%


20% 30%
Fonte: VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, 2010

As metas de PA a serem alcançadas da mesma forma irão depender dos níveis de


PA e da estratificação de risco. Uma vez cumpridas estas etapas, precisa ser de maneira
efetiva começado o tratamento do paciente e, estará recomendado o tratamento não
medicamentoso (TNM) para todos os pacientes e, segundo a estratificação de risco, será
coligado ou não o tratamento medicamentoso (TM).
O TNM, também denominado como tratamento não farmacológico (TNF) ou
mudanças no estilo de vida (MEV), exibe importante passo no controle da pressão
arterial. Mesmo nos casos em que de forma isolada não seja satisfatório para controlar a
PA em níveis recomendados, será muito útil coligado aos medicamentos, acrescendo
sua eficácia e permitindo o uso de menores doses dos fármacos anti-hipertensivos.
Certas medidas são comprovadamente eficientes para a diminuição da PA e são elas:

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• Restrição na ingestão de sal; • Sustentação do peso ideal;
• Ingestão maior de frutas e vegetais; • Moderação na ingestão de álcool.
• Menor ingestão de gorduras; • Atividade física regular;

O uso de medicamentos para o controle da PA necessita acontecer conforme a


necessidade de que sejam alcançadas as metas postas para cada paciente. O objetivo
final é, não apenas diminuir a PA, mas basicamente amortecer a mortalidade e
morbidade cardiovascular (1-3). As informações disponíveis, a partir de inúmeros
estudos clínicos, até o momento, sugerem que o mais importante é a diminuição da
pressão, independentemente do tipo de medicamento usado.
Existem comprovações destes benefícios com o uso de: a) diuréticos (23,24); b)
beta-bloqueadores (23-25); c) antagonistas dos canais de cálcio (26-33); d) inibidores da
enzima conversora da angiotensina (26-29,32,33); e) bloqueadores dos receptores da
angiotensina (34-40). Qualquer um destes fármacos está deste modo, recomendado no
tratamento dos hipertensos e a escolha de um ou de outro irá depender de características
individuais dos pacientes, da disponibilidade do medicamento, da experiência clínica do
médico e, até mesmo, da possibilidade do acesso do paciente ao fármaco prescrito.
Os anti-hipertensivos precisam ter características que assegurem sua ação
apropriada. Deste modo, o medicamento precisa:
a) Ser eficaz por via oral;
b) Ter tempo de ação prolongado para possibilitar de maneira preferencial seu uso em
uma única tomada por dia;
c) Ser derivado de fonte segura que assegura boa qualidade na sua fabricação;
d) Ser virtualmente sem efeitos adversos;
e) Ter evidenciado em estudos clínicos ação adequada sobre os eventos
cardiovasculares;
f) Ser iniciado com as menores doses recomendadas;
g) Ser utilizados por período razoável de tempo (de três a quatro semanas) antes do
ajuste nas doses;
h) Ser empregado em associação, quando preciso for (em pacientes com PA³ 150 x
100 mmHg, para aqueles com risco cardiovascular alto ou muito alto ou para os que
não atingiram as metas estabelecidas).

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Hoje em dia, tem-se disponíveis medicamentos com boa eficácia e
potencialmente sem efeitos contrários e este fato precisa facilitar a adesão às orientações
farmacológicas. Os benzodiazepínicos são fármacos depressores do Sistema Nervoso
Central (SNC) que tem ação ansiolítica, sedativa, miorrelaxante e anticonvulsivante.
Foram introduzidos na década de 1960 no mercado, a partir da descoberta
acidental do Clordiazepóxido, e desde então passou a ser um dos grupos de
medicamentos com propriedades ansiolíticos mais prescritos em todo o mundo. Sua
ação se deve a interação com os receptores do Ácido Gama Aminobutírico (GABA), um
importante neurotransmissor inibitório no cérebro, onde os benzodiazepínicos agem
potencializando este efeito inibidor do GABA (AMARAL; MACHADO, 2012).
A enorme preocupação é com os efeitos mais agressivos originados pelo uso
indevido e/ou prolongado desses medicamentos, que quando utilizados em maiores
doses do que o que foi recomendado e por um período maior que o necessário para o
tratamento, origina problemas de tolerância, crises de abstinência durante a retirada
desses medicamentos e dependência.
Além do uso delongado, certas características farmacológicas dos BDZs também
são fatores que causam influência nos problemas de dependência e crise de abstinência,
como tempo de meiavida e lipossolubidade. Fármacos com tempo de meia-vida menor e
que têm elevada lipossolubidade atribuem probabilidade maior de causar dependência e
crises de abstinência (AMARAL; MACHADO, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível perceber que a associação entre distúrbios emocionais e alterações
nas funções viscerais, como a hipertensão arterial, corroboram-se quando as estruturas
límbicas, responsáveis pelas emoções, são ligadas e produzem respostas
cardiovasculares e respiratórias
O que se pode concluir das relações pesquisadas é que o risco de
desenvolvimento da hipertensão arterial e a reatividade cardiovascular parecem ser
influenciados por fatores emocionais como impulsividade, estressores, hostilidade,
ansiedade e raiva. Todavia, mais estudos são necessários para melhor esclarecer essas
relações.

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REFERÊNCIAS

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FARMÁCIA CLÍNICA & PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA – ISBN 978-65-87580-04-3 67


CAPÍTULO 05
AS CARACTERÍSTICAS E A
UTILIZAÇÃO DO CHÁ VERDE (Camellia
sinensis)

Juceli Xavier da Costa Silva


Graduada em Farmácia e Pós-Graduanda em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Caroline Christine Pincela Da Costa


Farmacêutica. Mestranda em Genética e Biologia
Molecula pela Universidade Federal de Goiás

Jessica da Silva Campos


Professora Universitária, Enfermeira, Especialista
Cardiologia e Hemodinâmica, Mestranda pelo PPGAAS-UFG

Jhonathan Gonçalves da Rocha


Mestre, docente do INPÓS

Diogo Marçal Machado de Oliveira


Mestre, docente do INPÓS

Yara Bandeira Azevedo de Alencar


Professora Universitária, Farmacêutica/Bioquímica,
Mestre, Diretora Geral da Empresa INPÓS

Ludimila Cristina Souza Silva


Doutora, Professora do Curso de Especialização
em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do INPÓS.

RESUMO: O chá verde é um termogênico produzido pela planta Camellia sinensis,


que é utilizada em grande escala no auxílio para perda de peso e longevidade,
proporcionando melhor qualidade de vida. Seus ativos são extraídos por infusão a partir
das folhas frescas colhidas entre a primavera e verão, onde seus compostos ativos
atingem concentração máxima. O objetivo deste trabalho foi conhecer as características
do chá verde (Camellia Sinensis) e suas indicações. Foi realizado um levantamento
bibliográfico onde se baseia em literaturas estruturadas, obtidas de livros e artigos
científicos, provenientes de bibliotecas convencionais e virtuais. Conclui-se que o uso
do chá verde em concentrações adequadas proporciona a termogênese onde ocorre a
oxidação lipídica fazendo com que os tecidos adiposos não tenham aumento de
tamanho, dificultando o deposito de gorduras nesse tecido, favorecendo a regulação do
peso corporal. Também contribui para a prevenção de diversas doenças devido a

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grandes concentrações dos seus ativos como taninos, flavonoides, catequinas e
teaflavinas. O uso excessivo do chá verde pode gerar alguns transtornos como disfunção
hepática, problemas gastrointestinais, insônia, hipertensão e o bloqueio da absorção de
ferro, devido à alta concentração de taninos presentes no chá.
PALAVRAS-CHAVE: Plantas Medicinais; Termogênico; Emagrecimento.

ABSTRACT: Green tea is a thermogenic produced by the Camellia sinensis plant,


which is used in large scale to aid in weight loss and longevity, providing a better
quality of life. Its assets are infused from the fresh leaves harvested between spring and
summer, where its active compounds reaches maximum concentration. The objective of
this work was to know the characteristics of green tea (Camellia Sinensis) and its
indications. A bibliographic survey was performed out where it is based on structured
literatures, obtained from books and scientific articles, from conventional and virtual
libraries. It is concluded that the use of green tea in adequate concentrations provides
the thermogenesis where lipid oxidation occurs, causing the adipose tissues not to
increase in size, making it difficult to deposit fat in this tissue, favoring the regulation of
body weight. It also contributes to the prevention of various diseases due to large
concentrations of its active ingredients such as tannins, flavonoids, catechins and
theaflavins. Excessive use of green tea can lead to some disorders such as liver
dysfunction, gastrointestinal problems, insomnia, hypertension and blockage of iron
absorption due to the high concentration of tannins present in tea.
KEYWORDS: Medicinal Plants; Termogenic; Weight Loss.

INTRODUÇÃO
O chá produzido pela folha da planta Camellia sinensis, é uma das bebidas mais
consumidas no mundo, considerado pelos orientais como uma bebida saudável, foram
utilizadas durante séculos pela China onde se tornaram os maiores produtores da planta.
No Brasil, o cultivo do chá verde apresenta diferenças em relação a China, por exemplo,
devido ao clima por lá ser mais ameno, favorecendo o seu cultivo, podendo ser colhido
várias vezes ao ano (SOARES, 2003).
Os chás produzidos pela planta Camellia sinensis são classificados em três
formas diferentes, tais como: chá verde, chá preto e o chá oolong, que são diferenciadas
de acordo com o preparo das folhas. O preparo dos chás também varia de acordo com as
tradições, exemplo: os chás pretos são realizados com as folhas fermentadas, já o chá
verde se faz a fervura da folha garantindo assim sua coloração, e o chá oolong que
participa dos dois processos no seu preparo, sendo que o chá com maior índice de
compostos ativos são os chás pretos funcional (SALGADO, 2009).
Vários estudos têm demonstrado que o chá verde, obtido por meio das folhas
frescas da erva Camellia sinensis, tem uma alta quantidade de flavonóides conhecidos
como catequinas, capazes de promover a diminuição de peso corporal, gordura corporal

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e auxiliar na prevenção e tratamento da obesidade e de doenças associadas como
diabetes, cardiovasculares e dislipidemias (WOLFRAM; WANG; THIELECKE, 2006)
O chá verde proveniente da erva Camellia sinensis têm sido proposto como
estratégia para perda e manutenção de peso, uma vez que apresenta propriedades
termogênicas que se caracteriza pela produção de calor (AUVICHAYAPAT et al.,
2008), podendo também reduzir os níveis de gordura corporal, devido a atividade do
sistema adrenérgico na inibição de enzimas nas vias adipogênicas, absorção intestinal,
indução de apoptose celular, realizando mudanças efetivas no organismo equilibrando
como um todo (OLIVOTTI; BERTTONCIN, 2012).
Em função dos compostos bioativos do chá verde e a sua potencial capacidade
de promover benefícios a saúde, diversos estudos afirmam que o mesmo precisa ser
considerado como um alimento funcional (SALGADO, 2009). Diante disto, o objetivo
deste trabalho foi elucidar as características do chá verde (Camellia Sinensis) e suas
indicações.

METODOLOGIA
Realizou-se um do tipo bibliográfico, descritivo-exploratório e retrospectivo,
com análise integrativa, sistematizada e qualitativa. A busca por estudos ocorreu em
bases de dados virtuais em ciências ambientais, especificamente na Biblioteca Virtual
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e no Scientific
Electronic Library Online (SciELO). Utilizou-se o descritor Camellia sinensis. Os
artigos selecionados foram submetidos a uma leitura exploratória das publicações. A
busca ocorreu no período de janeiro de 1998 a março de 2012, caracterizando, assim, o
estudo retrospectivo.
Realizada a leitura exploratória e seleção do material, principiou a leitura
analítica, por meio da leitura das obras selecionadas, que possibilitou a organização das
idéias por ordem de importância e a sua sintetização que visou à fixação das idéias
essenciais para a solução do problema da pesquisa. Após a leitura analítica, iniciou-se a
leitura interpretativa que tratou do comentário feito pela ligação dos dados obtidos nas
fontes, ao problema da pesquisa e dos conhecimentos prévios.
Na leitura interpretativa, houve uma busca mais ampla de resultados, pois
ajustaram o problema da pesquisa a possíveis soluções. Feita a leitura interpretativa,
iniciou-se a tomada de apontamentos referentes ao problema da pesquisa, ressalvando
as idéias principais e dados mais importantes (GIL, 2002).

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A partir das anotações da tomada de apontamentos, foram confeccionados
fichamentos, em fichas estruturadas em um documento do Microsoft Word, que
objetivaram a identificação das obras consultadas, o registro do conteúdo das obras, o
registro dos comentários acerca das obras e ordenação dos registros. Os fichamentos
propiciaram a construção lógica do trabalho, que consistiram na coordenação das
idéias, acatando os objetivos da pesquisa. Todo o processo de leitura e análise
possibilitou a criação de duas categorias.
A seguir, os dados apresentados foram submetidos à análise de conteúdo.
Posteriormente, os resultados foram discutidos com o suporte de outros estudos,
provenientes de revistas científicas e livros.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A origem do chá verde

Desde a pré-história, as plantas têm sido utilizadas como produtos terapêuticos.


Em todo mundo milhares de produtos de origem vegetal são utilizados nas mais
variadas formas: cataplasmas, infusão, macerado filtrado, tinturas, unguentos, pomadas,
xarope, cápsulas e na sua forma in natura. O chá é utilizado por infusão que é a forma
mais popular dos diferentes produtos de origem vegetais (TREVISANATO; KIM,
2000). A Camellia sinensis (Figura 1) é um arbusto, de origem asiática, pertencente à
família Theaceae e apresenta folha simples.

Figura 1 – Camellia sinensis

Fonte: Hernandez, 2004.

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Os maiores produtores de Camellia sinensis são a China e a Índia e os chás
provenientes desses países já foram objeto de muitos estudos. O cultivo do chá verde é
hoje, entretanto, realizado em diversos países em praticamente todos os continentes
(CHAN; LIM; CHEW, 2007; YAO et al., 2005). No Brasil, seu cultivo é restrito ao
Vale do Ribeira no Estado de São Paulo, e a maior parte é destinada para a produção do
chá preto.
O aumento do interesse do público Brasileiro pelo chá verde fez com que a sua
produção fosse ampliada. No Brasil, o chá verde é comercializado principalmente
condicionado em saquinhos de papel de filtro (sachê). Estudos têm demonstrado que o
chá brasileiro apresenta maior quantidade de compostos fenólicos quando comparado
com chás de outros países e tal fato é atribuído às características do clima e do solo
(SAITO et al., 2007).

Composição Química
É designado genericamente como chá da Índia ou como chá verde e chá preto, o
produto resultante do preparo diferencial das folhas de Camellia sinensis, sendo que as
folhas recém-coletadas e imediatamente estabilizadas caracterizam o chá verde. Quando
submetidas à fermentação rápida ou prolongada, constituem o tipo como o chá preto,
respectivamente.
Em sua porção vegetativa imatura, pode conter até 30% de fenóis, sendo que a
maior parte dos compostos são de flavonoides: substâncias nutritivas da classe dos
polifenóis cuja a concentração pode variar de acordo com a marca e forma de consumo
do chá, e com a espécie, estação, idade da folha, clima de habitação e as técnicas
realizadas no plantio. O processo fermentativo favorece a oxidação enzimática dos
polifenóis presentes, conferindo menor adstringência e coloração mais intensa ao chá
(PRADO et al, 2005; SCHIMITZ et al, 2005; BARLETA; BRAGA, 2007, LIMA et al.,
2009).
O chá verde não é fermentado, é uma bebida de composição química muito
variada, embora seus efeitos benéficos estejam associados às catequinas, também
contém água, proteínas, carboidratos, vitaminas (especialmente C e K), sais minerais,
metilxantinas, que são responsáveis pelos efeitos adversos e interações medicamentosas.
Como estimulante do sistema nervoso central, tem como principais representantes a

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cafeína, a teofilina e a teobromina, também contendo tanino e flúor. A sua composição
varia de acordo com a espécie, época do ano, idade das folhas, clima e práticas
agronômicas (HERNANDEZ et al., 2004).
Os chás são ricos em compostos biologicamente ativos que, ao serem
adicionados à dieta, desencadeiam processos metabólicos ou fisiológicos; são eles: os
flavonóides, as catequinas, os polifenóis e os alcalóides que contribuem para a
prevenção e o tratamento de várias doenças. O chá verde tem sido muito utilizado
devido à presença desses compostos; sua folha contém cerca de 30% de compostos
fenólicos, que contribuem para o sabor, o aroma e a coloração dos vegetais em geral
(SCHMITZ et al., 2005).
Os principais componentes químicos da planta Camellia sinensis são as
catequinas (Figura 2), as teaflavinas (Figura 3) e os flavonoides (Figura 4). São potentes
antioxidantes, sequestradores de radicais livres, quelantes de metais (o que reduziria sua
absorção) e inibidores de lipoperoxidação (SCHMITZ et al., 2005).

Figura 2 - Estrutura química das catequinas do chá verde.

Fonte: Lamarão; Fialho, 2009.

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Figura 3 - Estrutura química dasteaflavinas

Fonte: Vechia et al., 2009.

Figura 4 – Estrutura química dos flavonoides.

Fonte: Rates, 2002.

Os chás são fontes mais ricas em flavonoides, que são polifenóis presentes
naturalmente em alimentos de origem vegetal e podem ser subdivididos em seis classes:
flavonas, flavanonas, isoflavonas, flavonóis, flavanóis e antocianinas (HOLLMAN;
ARTS, 2000). Acredita-se que os flavonoides presentes nos chás, principalmente o chá
verde pelo modo em que é processado, fazem dele um alimento funcional que,
consumido na alimentação cotidiana, pode trazer benefícios para saúde
(MATSUBARA; RODRIGUEZ, 2006).

Atividade Biológica
Diversos estudos demostraram que as atividades das catequinas presentes no chá
verde podem exercer inúmeros benefícios em diversas doenças. Porém alguns estudos
demostraram resultados controversos. No entanto a maioria são dados positivos na
utilização do chá, especialmente pelos benefícios dos flavonóides presentes no chá

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sobre os riscos cardiovasculares e no aumento do metabolismo ocorrendo perda de peso
(BASU; LUCAS, 2007).
A atividade antioxidante das catequinas pode prevenir a citotoxicidade que são
induzidas pelo estresse oxidativo nos variados tecidos, pois possuem ação contra os
radicais livres, são quelantes de metais de transições como por exemplo o cobre e ferro,
impedindo a formação de espécies reativas de oxigênio, além da ação inibitória da
lipoperoxidação. A propriedade antioxidante tem sido mencionada como o fator
principal que contribue na prevenção e no tratamento de diversas doenças como
cardiovasculares, diabetes e até mesmo o câncer (MATSUBARA; RODRIGUEZ,
2006).
Para o sistema nervoso simpático, destaca-se a termogênese e a oxidação
lipídica, devido os flavonóides do chá verde possuírem capacidades de atuar nesse
sistema através da modulação da noradrenalina, ocorrendo o aumento da termogênese o
que leva a oxidação de gordura fazendo com que os adipócitos não tenham aumento de
tamanho prevenindo o depósito de gordura nos tecidos adiposos tendo então a regulação
do peso corporal (TANAKA; KOUNO, 2003).
Outra ação biológica do chá verde é a ação antiinflamatória, que é mediada por
meio de inibição de ativação dos fatores de transcrição Kappa beta (NF-KB), que é um
ativador da transcrição de diversos genes que mediam a inflamação. Assim, pode ser um
modulador do processo. Costuma ser um mediador central relacionados a doenças
inflamatórias crônicas, como por exemplo: artrite reumatóide e esclerose múltipla
(MATSUBARA; RODRIGUEZ, 2006).
Até os dias de hoje não se existe uma dosagem ideal para o uso do chá verde,
devido os inúmeros tipos existentes do chá, forma de preparo e concentração
encontrada. Entretanto, sugere-se que sejam ingeridos de 1,5 a 2,5 litros do chá durante
o dia para que se possa alcançar benefícios a saúde, podendo variar a cada organismo
(SALGADO, 2009).

Interação e efeitos colaterais


Especula-se muito sobre os inúmeros benefícios do chá verde, porém é
importante ressaltar os malefícios que este chá pode causar, o que de diferencia de
organismo para organismo e dosagem de uso. O uso excessivo ou altas dosagens do chá
verde pode acarretar no bloqueio da absorção de ferro devido sua alta concentração de
taninos o que impede a absorção de ferro fornecido pela alimentação, podendo causar

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anemia. Sendo assim, no uso do chá verde não se aconselha o consumo de alimentos
que são ricos em ferro, para que essa substância não seja bloqueada no organismo
(RUIZ, 2013).
Ele também é contra indicado em casos de doenças de estomago como gastrite
ou ulcerações, causando dores e sensações desagradáveis, porém o uso em fórmula de
cápsulas podem minimizar esse desconforto (JOÃO, 2014). O alto consumo do chá
pode reduzir os níveis de testosterona, podendo afetar a reprodução masculina, situação
revertida quando o consumo do chá verde é interrompido ou reduzido. Alguns
distúrbios estomacais relatos relatados, ocorrendo prisão de ventre, devido os taninos
aumentarem os níveis de ácidos no estomago. Essa acidez pode causar problemas
graves de saúde em pessoas que possuem refluxo ácido ou úlceras instaladas (RUIZ,
2013).
Os efeitos da ingestão excessivo do chá verde em curto prazo têm como alvo o
sistema nervoso simpático, onde especificamente a epigalocatequinagalato (EGCG) vai
agir no metabolismo da gordura (HODGSON; RANDELL; JEUKENDRUP, 2013).
Estudos mostram que a catequina EGCG tem atuação direta na inibição da Catecol-O-
metiltransferase (COMT). A COMT é uma enzima intracelular presente nos tecidos dos
mamíferos, incluindo músculo esquelético e tecido adiposo. Essa enzima degrada
constitutivamente compostos ativos, como os neurotransmissores, por transferência de
um grupo metilo (BORCHARDT; HUBER, 1999).

Reações Adversas
Os efeitos adversos do chá verde, obtido diariamente de 65g de folhas, pode
levar à disfunção hepática, a problemas gastrointestinais como constipação e até
mesmo, à diminuição do apetite, insônia, hiperatividade, nervosismo, hipertensão,
aumento dos batimentos cardíacos e irritação gástrica. O chá verde em altas doses
podem causar efeitos adversos significantes pelo conteúdo de cafeína, especificamente
palpitações, dor de cabeça e vertigem (BARTELS; MILLER, 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A planta Camellia sinensis tem capacidade de atuar como um componente
positivo no processo de emagrecimento com saúde, podendo também ser usada de
diversas formas medicinais por possuir em sua composição química as catequinas,
especialmente o galato de epigalocatequina (EGCG), as quais, em ação sinérgica com

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seus outros componentes, ocorre não apenas a redução de gordura corporal, mas
também sua ação antioxidante, auxiliando na profilaxia de enfermidades como diabetes
e dislipidemias, além de doenças cardiovasculares, ateroscleróticas, entre outras,
podendo ser usado como um recurso fitoterápico.

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CAPÍTULO 06
USO INDISCRIMINADO DE
ESTEROIDES ANABOLIZANTES E SEUS
EFEITOS COLATERAIS*

Verushka de Sena Ferreira


Graduada em Farmácia e Pós-Graduanda em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Dalton Souza Mamede Filho


Professor Universitário. Farmacêutico, Especialista em
Docência no Ensino Superior.

Jhonathan Gonçalves da Rocha


Mestre, docente do INPÓS

Diogo Marçal Machado de Oliveira


Mestre, docente do INPÓS

Yara Bandeira Azevedo de Alencar


Professora Universitária, Farmacêutica/Bioquímica,
Mestre, Diretora Geral da Empresa INPÓS

Ludimila Cristina Souza Silva


Doutora, Professora do Curso de Especialização
em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do INPÓS.

* Artigo científico apresentado à especialização em


Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica.

RESUMO: O estudo teve por objetivo: verificar os possíveis efeitos colaterais do uso
não terapêutico e indiscriminado dos esteroides androgênicos anabolizantes (EAAs). O
estudo trata-se de uma revisão bibliográfica. Foram revisadas fontes de literatura por
intermédio das seguintes ferramentas de busca PubMed, SciELO e Biblioteca Virtual
em Saúde (BVS), usando as palavras-chave: uso abusivo, substâncias farmacológicas
ergogênicas, anabólicos androgênicos. Constatou-se que o abuso de anabolizantes para
aumentar a massa corporal pouco desenvolvida e fortalecer a musculatura. O abuso de
esteróides está aparentemente, aumentando, sendo que em muitos casos a intenção é de
simplesmente melhorar a aparência. Os esteróides anabolizantes podem interromper o
crescimento nas crianças. Os resultados da pesquisa demonstraram que o abuso de
esteróides causa virilismo grave em mulheres, nos homens, diminuição temporária dos
testículos e esterilidade. Além disso, essas drogas estão associadas às doenças hepáticas,

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inclusive câncer, alterações desfavoráveis do colesterol sangüíneo e muitos outros
distúrbios, entre eles, perturbações psicológicas imprevisíveis. Os efeitos adversos de
risco do uso abusivo de esteróides não são frequentes, porém a maioria que exagera na
dose dessas substâncias, pode sofrer pelo menos um dos efeitos colaterais menos
graves. Conclui-se que na análise de risco/benefício do uso de esteroides, pode-se dizer
que a eventual melhora estética perde para os prejuízos à saúde, pois nesse tipo de uso
estético não há controle sobre as doses utilizadas, condições e tempo de administração.

PALAVRAS-CHAVE: Uso abusivo; Substâncias farmacológicas ergogênicas;


Anabólicos androgênicos.

ABSTRACT: The study aimed to verify the possible side effects of therapeutic and
indiscriminate use of Anabolic Androgenic steroid (EAAs). The study this is a literature
review. Literature sources were reviewed through the following search tools: Pubmed,
SciELO and Virtual Health Library (BVS), using the key words: abuse,
pharmacologically deportistas nutrition, androgenic. It was noted that the abuse of
anabolic steroids to increase body mass undeveloped and strengthen muscles. Steroid
abuse is apparently increasing, and in many cases the intention is to simply improve the
appearance. Anabolic steroids can stop growth in children. The survey results showed
that steroid abuse causes serious virilism in women, in men, temporary decrease of
testes and sterility. In addition, these drugs are associated with liver disease, including
cancer, adverse changes in blood cholesterol and many other disorders, psychological
disturbances among them unpredictable. Adverse effects of the abuse of steroids are not
frequent, but most who exaggerates the dose of these substances can undergo at least
one of the less serious side effects. It is concluded that risk/benefit analysis of the use of
steroids, you could say that any aesthetic improvement to health damage, because in this
kind of aesthetic usage there is no control over the doses used, conditions and time of
administration.

KEYWORDS: Abusive use; Pharmacologically; Deportist nutrition; Androgenic.

INTRODUÇÃO
O uso indiscrimidado das subtância anabolizantes é um assunto recorrente e
atual, tendo em vista que a busca pelo corpo ideal está evidente na sociedade. Diversas
são as formas de se modelar, reparar, aumentar ou diminuir proporções, modificando-se
a estética natural. Dentre os meios de se modelar está o uso de esteroides anabolizantes
(EA), que podem ser considerados recurso de efeito imediato (MORAES, 2014).
A tentação de ganhar músculos rapidamente leva cada vez mais jovens ao abuso
dos esteroides sem orientação médica. Os efeitos colaterais, porém, podem ser
devastadores. Depois das chamadas drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack e tantas
outras) e das lícitas (fumo, álcool, anorexígenos, sedativos), uma nova droga começa a

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preocupar autoridades e profissionais da saúde em todo o mundo: os esteroides
anabolizantes (ABRAHIN; SOUSA, 2013; COSTA; SILVA FILHO; COSTA, 2017).
Os esteroides anabolizantes (EA) são hormônios sintéticos derivados da
testosterona, responsáveis pela harmonia das funções vitais do organismo. São
compostos químicos sintéticos que imitam os efeitos anabólicos da testosterona, tendo a
propriedade de ativar o metabolismo protéico, retendo o nitrogênio e aumentando a
atividade do RNA. O termo anabolizante refere-se a promoção do anabolismo, processo
de construção dos tecidos, principalmente, muscular. Isso pode ocorrer pela própria
reação natural do corpo ao trabalho muscular (atividade física)., nutrição e
suplementação adequada, ou pela introdução de drogas (DA COSTA; SILVA FILHO,
DA COSTA, 2017).
O anabolismo ocorre retirando substâncias do sangue, que são essenciais para o
crescimento e reparo dos tecidos e usando-os para estimular reações que produzem
síntese deles. Os EA são conhecidos como “bomba” no meio de frequentadores de
academias e fisiculturistas. A testosterona é o hormônio responsável pelo
desenvolvimento das características sexuais secundárias associados à masculinidade. Os
EA apresentam formas farmacêuticas de comprimidos e injetáveis (DA COSTA;
SILVA FILHO, DA COSTA, 2017).
Abrahin e Sousa (2013) classificam os esteroides em androgênicos e corticoides.
Os utilizados indevidamente são, na maioria, esteroides androgênicos (esteroides que
agem como testosterona). Os esteroides usados para tratamento de problemas
inflamatórios são esteroides corticoides e não têm efeitos anabólicos. Os esteroides
androgênicos, secretados pelos testículos, são hormônios sexuais masculinos que
incluem a testosterona, a diidrotestosterona e a androstenediona.
Além do uso convencional, é sabido que os androgênicos (EAA) têm a
propriedade de aumentar a massa muscular, a força, a velocidade e a potência, e por
esse motivo, são muito procurados por desportistas ou por pessoas que querem melhorar
o desempenho atlético e a aparência física (MORAES, 2014). Mediante o exposto, o
estudo apresenta a seguinte questão problema: “Quais as consequências do uso abusivo
dos esteroides androgênicos anabolizantes (EAAs)?”.
A importância de trazer uma discussão abrangendo os aspectos que medeiam a
imagem corporal e sua relação com o uso de EAA sustenta-se no padrão assumido pela
sociedade atual. A tendência estética da busca pelo corpo perfeito, colocando em
primeiro lugar a aparência física, focada em corpos musculosos e bem definidos.

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Expostos tema e problema o estudo apresenta o seguinte objetivo geral: verificar os
possíveis efeitos colaterais do uso não terapêutico e indiscriminado dos EAAs.

METODOLOGIA
Essa pesquisa foi realizada através do levantamento da revisão de literatura com
base em artigos publicados via online na base de dados: Centro Latino-Americano e do
Caribe de Informação em Ciências da Saúde (LILACS) e na biblioteca Scientific
Eletronic Library Online (SciELO). O recorte temporal deu-se entre 2006 á 2018. A
busca foi realizada entre maio e junho de 2019. Para a busca, foram utilizados os
seguintes descritores: uso abusivo, substâncias farmacológicas ergogênicas, anabólicos
androgênicos.
Para seleção das produções científicas, foram utilizados os seguintes critérios de
inclusão: materiais publicados na língua portuguesa, e inglesa no período entre 2006 a
2018, disponíveis na íntegra e online. Foram excluídos aqueles artigos que não abordam
diretamente as temáticas em questão.

RESULTADOS E DISCUSÃO
Realizada a leitura exploratória dos periódicos encontrados identificou-se a visão
de diversos autores em relação a importância do conhecimento sobre o uso
indiscriminado de esteroides anabolizantes e seus efeitos colaterais. Foram encontrados
inicialmente 319 artigos. Apenas 19 artigos foram publicados entre 2006 a 2018. Após a
leitura, elecamos 7 categorias correlacionadas entre os autores, os quais serão
apresentados a seguir:

Esteroides Anabólicos Androgênicos (EAA)


Segundo Camilo e Furtado (2017), os EAAs são substâncias farmacológicas
ergogênicas para aumento de eficiência, energia e potência do organismo com o
objetivo de alcançar melhores resultados em competições esportivas de alto nível ao
sobrepujar as fadigas. Palermo-Neto (2018, p. 623) descreve que a palavra anabolizante
deriva de “anabolismo” referindo-se a um “[...] conjunto de processos fisiológicos que
resultam na fixação de nutrientes e, consequentemente, na formação e no crescimento
dos tecidos.”
O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID)
define esteroides anabolizantes como: drogas relacionadas ao hormônio masculino

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testosterona, cuja função principal é a reposição de testosterona nos casos em que por
algum motivo patológico, tenha ocorrido um déficit (CEBRID, 2006).
Esteroides são uma classe de componentes que todos os animais possuem.
Classificamos os esteroides em androgênicos e corticoides; os usados indevidamente
são, na maioria, esteroides androgênicos (esteroides que agem como testosterona). Os
esteroides usados para tratamento de problemas inflamatórios são esteroides corticoides
(prednisona, cortisona, beclometasona, budesonide, dexametasona e vários outros) e não
têm efeitos anabólicos. Os esteroides androgênicos, secretados pelos testículos, são
hormônios sexuais masculinos que incluem a testosterona, a diidrotestosterona e a
androstenediona (NASCIMENTO, 2016).
A testosterona, no homem, é produzida principalmente nos testículos e uma
pequena quantidade nas glândulas adrenais. É proveniente do colesterol. A testosterona
e seus metabólitos, como diidrotestosterona, agem em muitas partes do corpo,
produzindo as características secundárias sexuais masculinas: calvície, pelos no rosto e
corpo, voz grossa, maior massa muscular, pele mais grossa e maturidade dos genitais
(NASCIMENTO, 2016).
Além do uso médico, eles têm a propriedade de aumentar os músculos e, por
esse motivo, são muito procurados por atletas ou pessoas que querem melhorar o
desempenho e a aparência física. O uso estético não é médico, portanto, é ilegal e ainda
acarreta problemas à saúde (NASCIMENTO, 2016). Segundo Oliveira e Cavalcante
Neto (2018, p. 310), o anabolizante pode ser compreendido como substância que
anaboliza, ou seja, produz crescimento. No organismo humano, a testosterona, o
hormônio de crescimento e a insulina, são os anabolizantes naturais mais potentes.
EAs são produtos naturais ou sintéticos, que visam apresentar o efeito anabólico
da testosterona, os mesmos são promotores e mantedores de características associadas a
masculinidade. São derivados sintéticos da testosterona. Todo EA apresenta efeito
anabólico e androgênico (OLIVEIRA, CAVALCANTE NETO, 2018).
Os EAs de última geração visam acabar com efeitos andrógenos, mas por
enquanto os “novos” conseguem apenas diminuir tais efeitos (OLIVEIRA,
CAVALCANTE NETO, 2018). Os principais esteroides anabolizantes usados no Brasil
são a testosterona, nas formas de isocaproato de testosterona e cipionato de testosterona,
e a nandrolona, nas formas de decanoato de nandrolona e fenpropionato de nandrolona
(OLIVEIRA, CAVALCANTE NETO, 2018).

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Histórico dos esteroides anabolizantes
Na Segunda Guerra Mundial, ocorreu o primeiro uso não médico dos esteroides
anabolizantes, quando os soldados alemães utilizavam tais substâncias com a finalidade
de aumentar a agressividade. Os anos 50 marcaram o início do uso dos esteroides
anabolizantes por atletas competitivos (SILVA NETO, ACIOLI, 2018).
No entanto, apenas nos anos 70, pode-se observar aumento acentuado do uso
dos esteroides anabolizantes entre atletas competitivos e o início do uso entre atletas
recreativos, inclusive entre as mulheres (SILVA NETO, ACIOLI, 2018). Em 1975, os
EAs entraram na lista das drogas consideradas “doping” do Comitê Olímpico
Internacional. Em 1988 ocorreu um marco histórico dessa questão, quando o atleta
Ben Johnson perdeu sua medalha olímpica em Seul, pelo uso de esteroides
anabolizantes. No Brasil não se tem estimativa deste uso ilícito, mas sabe-se que o
consumidor preferencial está entre 18 a 34 anos de idade e em geral é do sexo
masculino (OVIEDO, 2013).
No comércio brasileiro os principais medicamentos à base dessas drogas e
utilizados com fins ilícitos são: Androxon®, Durateston®, Deca-Durabolin®. Contudo,
além desses, existem dezenas de outros produtos que entram ilegalmente no país e são
vendidos em academias e farmácias. Muitas destas substâncias vendidas como
anabolizantes são falsificadas e acondicionadas em ampolas não esterilizadas, ou
misturadas a outras drogas (OLIVEIRA, CAVALCANTE NETO, 2018; NETO
ACIOLI, 2018).

Tipos de esteroides
Segundo Neto Acioli (2018), foram produzidas diversas formas farmacêuticas
contendo esteroides anabólicos pela indústria farmacêutica: supositórios, cremes, selos
de fixação na pele e sublingual, porém os mais consumidos são os: orais e os injetáveis.
Os principais tipos de esteroides estão descritos no quadro 1.
Os esteroides injetáveis são menos nocivos do que os orais, por não passar por
um processo de alcalinização. Esse tipo de esteroide passa pela corrente sanguínea via
muscular, e umas das vantagens é que a base oleosa permanece na corrente sanguínea
com uma longa duração, visto que o óleo demora em se dissipar no local da aplicação
devido a sua viscosidade (NETO ACIOLI, 2018).

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Quadro 1 - Tipos de esteroides

Orais Injetáveis
Via comprimido: na sua ingestão passa pelo • Injetáveis: Os esteroides injetáveis são menos
estômago, é absorvido pelo intestino, processado nocivos do que os orais, por não passar por um
pelo fígado, então vai para a corrente sanguínea. processo de alcalinização. Esse tipo de esteroide
Como o fígado é responsável pela destruição de passa pela corrente sanguínea via muscular, e umas
qualquer corpo estranho no organismo, vários das vantagens é que a base oleosa permanece na
esteroides estavam sendo destruídos através de corrente sanguínea com uma longa duração, visto
um processo chamado 17 alpha alcalinização. A que o óleo demora em se dissipar no local da
alcalinização provoca uma sobrecarga no fígado aplicação devido a sua viscosidade. As
que acaba danificado por um esforço para desvantagens dos anabolizantes injetáveis é que são
combater algo que não consegue processar mais tóxicos para os rins e são desconfortáveis
devido a sua forma de aplicação: "injetável".

Fonte: Neto Acioli (2018).

Os orais normalmente têm sua dosagem parcelada ao longo do dia e


normalmente vêm em forma de comprimido. Após a ingestão, o esteroide passa pelo
estômago, é absorvido pelo intestino e processado pelo fígado. Devido ao fígado
destruir substâncias estranhas ao organismo, a estrutura química dos EAA oral passa por
um processo de 17 alpha alcalinização, preservando assim as propriedades dos
esteroides, porém esta alcalinização causa uma sobrecarga ao fígado. Este tipo de
esteroide tem demonstrado uma maior potência anabolizante do que andrógena (SILVA,
et al. 2014).
Já os injetáveis segundo Silva et al., (2014) são menos agressivos ao fígado, por
não passarem pelo processo de alcalinização, porém são mais tóxicos aos rins. Contudo,
passa por uma esterificação, o que diminui sua polaridade, aumentar a solubilidade em
veículos oleosos, e assim retardar a liberação do esteroide na corrente sanguínea.
Quanto mais longa é a cadeia de carbonos do esteroide, maior é sua duração de
ação. Devem ser administrados via intramuscular profunda apenas. São administrados a
cada semana ou a cada duas semanas. As desvantagens dos anabolizantes injetáveis é
que são mais tóxicos para os rins e são desconfortáveis devido a sua forma de aplicação
(NETO ACIOLI, 2018).

Esteróides anabólicos mais utilizados


Os esteroides anabólicos androgênicos vêm despertando a atenção dos
pesquisadores nas últimas décadas, devido ao seu envolvimento com esportes de alto
nível (SANGALETTI, 2008). O uso dos esteroides, compostos químicos que possuem

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mecanismo de ação semelhante à testosterona, e de modo geral visam o aumento de
massa muscular, com consequente incremento do metabolismo proteico
(SANGALETTI, 2008). Na Tabela 1 estão elencados os esteroides anabólicos
androgênicos mais consumidos

Tabela 1 - Esteroides Anabólicos Androgênicos mais consumidos.


Esteróides orais Esteróides injetáveis
Anadrol® (oximetolona) Deca-Durabolin® (decanoato de nandrolona)
Oxadrin® (oxandrolona) Durabolin® (feniilpropionato de nandrolona)
Dianabol® (metandrostenolona) Deposteron® (cipionato de testosterona
Winstrol® (estanozolol) Equipoise® (undecilenato de boldenona)
Hemogenin® (oximetalona) Testosterona cipionato® (cipionato)
Fonte: Neto Acioli (2018).

O Anadrol® é uma versão estrangeira da Oximetalona, comercializada no Brasil


como nome de Hemogenin®, que se trata de um esteroide oral, indicado em terapias
para o tratamento de anemia causada pela produção deficiente de eritrócitos. Sua ação
androgênica é semelhante à da testosterona, ou seja, muito alta. Proporciona ganho
rápido de força e volume muscular (CAMARGO FILHO et al, 2006).
O Dianabol® foi desenvolvido em 1956, este foi o primeiro esteroide utilizado
por atletas americanos, sendo o mais popular entre os atletas. Ele produz um efeito
rápido e forte. De quatro a cinco comprimidos por dia são o suficiente para dar os
resultados e o comportamento agressivo pode ser aumentado (CAMARGO FILHO et
al, 2006).
O Winstrol® é o nome comum para a droga estanozolol, este esteróide exibe
baixo efeito colateral, e é indicado na terapia de algumas doenças. Este não é muito
forte e pode ser combinado com outras drogas, é usado para reter água e gordura no
organismo (PALERMO-NETO et al., 2018).
O Deca-durabolin® é indicado em terapias específicas e medidas dietéticas,
sendo o favorito por muitos usuários e pesquisas revelam ser o mais disponível no
mercado. A dosagem utilizada para os homens é de 200 a 400 mg por semana e, para as
mulheres de 50 a 100 mg por semana. Esta droga apresenta alta retenção de nitrogênio,
mas apresenta mínima toxidade ao fígado (PALERMO-NETO et al., 2018).

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O deca-durabolin® se caracteriza como um esteroide anabólico que apresenta
efeitos poupadores proteicos e anticatabólicos, além de efeitos favoráveis no
metabolismo do cálcio. Sabe-se da literatura, que este anabólico não apresenta efeitos
androgênicos (CEBRID, 2006).
A droga Durabolin® é quase idêntica a Deca-durabolin®, exceto pela velocidade
de absorção. Ela age de maneira rápida no sistema e permanece ativa por menos de uma
semana (PALERMO-NETO et al., 2018).
O Deposteron® é um éster da testosterona, promovendo ganho rápido de força e
volume muscular. Aumenta a retenção hídrica, promovendo, portanto, grande elevação
na pressão arterial (PALERMO-NETO et al., 2018).
O Equipoise® é uma droga de uso exclusivamente veterinário, mas há vários
anos tem sido utilizada por fisiculturistas para aumento de força e volume. Possui efeito
similar à Deca-durabolin (PALERMO-NETO et al., 2018).
A testosterona cipionato® é um éster em base oleosa de ação prolongada, que
promove aumento de força e tamanho. Estudos mostram que os anabolizantes mais
utilizados são Deca-durabolin® e Hemogenin®, sendo que a maioria dos usuários tem
entre 18 e 26 anos de idade, em geral do sexo masculino, e os instrutores de academias,
que frequentemente indicam o uso dos anabolizantes (PALERMO-NETO et al., 2018).
Segundo estudo de Pereira et al. (2013) sobre a percepção de um corpo saudável
para homens que frequentam academias de musculação verificou-se que 24,3% dos
indivíduos usavam esteroides; em 34% dos casos as drogas eram utilizadas por vontade
própria, em 34%, por indicação de outros atletas, em 19%, por indicação dos amigos,
em 9%, por indicação de professores e, em 4% dos casos, sob prescrição médica. Os
anabolizantes mais utilizados foram a nandrolona (37%), o estanozolol (21%) e a
testosterona cristalizada (18%).
Observou-se, também, que 80% dos usuários de esteroides utilizam mais de um
anabolizante e 35% experimentaram dependência física e psicológica; as principais
motivações ao consumo dessas substâncias foram a aquisição de força (42,2%),
aquisição de beleza (27,3%) e a melhora no desempenho (18,2%).
Essas substâncias quando utilizadas de forma indiscriminada e não terapêutica,
ao invés de promoverem benefícios como o aumento da energia física, promovem
malefícios, por isso passaram a sere reconhecidas como um problema de saúde pública.
Porém alguns desses efeitos parecem ser desconhecidos ou pouco evidenciados na

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literatura, pois estudos que utilizariam doses supra fisiológicas de anabolizantes em
humanos são inviáveis, pois esbarram em questões éticas (ABRAHIN, SOUSA, 2013).
O uso de esteroides EAAs se relaciona com a sociedade atual que tem o corpo
como referência, tendo a mídia como influência para essa supervalorização corporal. As
modificações estéticas buscadas são mais prevalentes nos locais de prática de exercício
físico, onde a busca pelo corpo perfeito é constante e onde muitos usuários conseguem
os EAAs de forma ilegal (ABRAHIN, SOUSA, 2013).

Propriedades fisiológicas dos EAAs


Os efeitos androgênicos dos esteroides anabolizantes são responsáveis pelas
características sexuais masculinas como maturação dos órgãos reprodutores,
crescimento de pelos pelo corpo, mudança de voz, aumento da atividade de glândulas
sebáceas e principalmente mudanças psicológicas e comportamentais (ABRAHIN,
SOUSA, 2013).
Abrahin e Sousa (2013) afirmam que os esteroides anabólicos são substâncias
derivadas sinteticamente da testosterona, que preservam as propriedades anabólicas e
androgênicas. Existem aproximadamente 50 tipos de esteroides anabolizantes. Além da
testosterona os mais comuns são a nandrolona, o cipionato de testosterona, o enantatode
testosterona, o propionato de testosterona, a bolasterona, a oxandrolona, a metenelona, a
metiltestosterona, o isocaproato de testosterona, o decanoato de testosterona e o
estanozolol (NETO ACIOLI, 2018).
A testosterona apresenta normalmente duas modalidades:
a) Anabólica: atua principalmente, sobre as áreas de crescimento dos ossos.
Influencia o desenvolvimento de praticamente todos os órgãos do corpo humano;
b) Androgênica: é responsável pelo desenvolvimento das características sexuais
masculinas (órgãos sexuais, produção de espermatozoides pelos, barba, voz etc.).

A testosterona age na distribuição da gordura corporal, promovendo a nítida


diferença entre a forma feminina e masculina e é considerada como hormônio da
juventude em virtude do seu efeito sobre a musculatura, sendo assim usada
eventualmente para tratamento das pessoas com musculatura subdesenvolvida.
Na sua forma livre circulante, a testosterona difunde-se diretamente pela
membrana plasmática de células alvo, ligando-se a receptores proteicos intracelulares.
Quando o ativo, atravessa a membrana gera-se AMPc (adenosina monofosfato cíclico),

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que aumenta o metabolismo celular. No citoplasma, o EA ligada ao receptor
androgênico especifico vai para o núcleo celular, onde o processo de transcrição gênica
inicia-se e consequentemente a transdução proteica (NETO ACIOLI, 2018). O Quadro
2, elucida diversos EAA comercializados no mercado e suas respectivas características.

Quadro 2 - Esteróides Anabólicos


Nome
Nome genérico Fórmula Aromatização Anabólico Androgênico Hepatotoxidade
comercial
Neopondren,
Androisoxazol Neo-ponden Oral 5 mg Mínima Bastante Pouco Sim
Androlone, Oral (10 e
neodrol, 25 mg),
anabolex, injetável
anaprotin, (100
Androstanolona protona mg/mL) Não Bastante Pouco Pouca
Injetável
Equipoise, (50
Boldenona parenabol mg/mL) Pouca Bastante Médio Pouca
Durabolin-o,
maxibolin, Oral (2
Etilestrenol orabolin mg) Pouca Pouco Pouco Bastante
Fluoximesteron Oral (5
a Halotestin mg) Não Bastante Bastante Bastante
Androviron, Oral (25
Mesterolona proviron mg/mL) Não Bastante Médio Pouca
Danabol, Oral (5
Metandienona dianabol mg) Pouca Bastante Pouco Bastante
Oral (5
Primobolan, mg),
Metenolona primonabol injetável Não Bastante Pouco Pouca

Nandrolona Deca-durabolin Injetável Pouco Bastante Pouco Pouca


Oral (2,5
Oxandrolona Anavar, lipidex mg) Pouco Bastante Pouco Bastante
Oral (5 e
Oximetolona Hemogenin 50 mg) Pouco Bastante Pouco Bastante
Oral (2 e 5
mg),
injetável
Winstrol, (25
Stanozolol stromba-jet mg/mL) Pouca Bastante Pouco Bastante
Testosterona Oral e
cristalina Durateston sublingual Média Bastante Bastante Não

Trembolona Parabolan Injetável Pouco Bastante Pouco Pouca


Fonte: Neto Acioli, (2018). Legenda: Aromatização: Conversão de um andrógeno em um estrógeno.
Androgênico: Referente às características sexuais masculinas secundárias: agravamento do trimbre de
voz, cabelo, etc. Anabólico: Que causa aumento de massa corporal. Hepatotoxidade: Que causa
problemas hepáticos (fígado).

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Os hormônios são substâncias químicas secretadas em pequenas quantidades na
circulação sanguínea, e ao serem transportados para as células alvo produzem diversas
respostas fisiológicas (BRANDI et al., 2010). A testosterona é o principal andrógeno
secretado nos homens, capaz de induzir características androgênicas e anabólicas
(HOFFMAN et al., 2009). Apesar de estarem associados a uma série de efeitos nocivos,
principalmente sobre os sistemas cardiovasculares, hepático e neuro-endócrino,
percebe-se por essa revisão que o abuso do uso de EAA tem aumentado nos últimos
anos.

Uso terapêutico dos EAAs


Os EAA são drogas que apresentam indicações médicas bem definidas, sendo
administrados em terapia e/ou tratamentos de algumas doenças, tais como (BRITO;
FARO, 2017; NETO; ACIOLE, 2018):

• Hipogonadismo masculino; • Fadiga em pacientes com doença


• Puberdade e crescimento retardados; renal crônica submetido à diálise;
• Micro pênis neonatal; • Sarcopenia por queimaduras graves;
• Deficiência androgênica parcial em • Desnutrição severa na velhice;
homens e idosos e a secundária a recuperação de lesões músculo-
doenças crônicas; esqueléticas articulares;
• Osteoporose; • Medicação terapêutica para síndrome
• Carcinoma inoperável de seio; da imunodeficiência adquirida (aids),
• Anemia avançada causada por falhas • Método contraceptivo masculino
na medula óssea ou rins;

Os EAA, utilizados como suplementação, promovem aumentos adicionais na


massa magra, diminuição da massa de gordura e aumentos maiores de força muscular
em relação aos aumentos obtidos somente com o treinamento, por isso funcionam como
um forte atrativo para indivíduos que buscam desempenho ou corpo perfeito. Porém,
estudos realizados até 1986, demonstram que os ganhos acentuados de hipertrofia e
força, ocorrem apenas com elevadas doses de esteroides anabolizantes (BRITO; FARO;
2017; NETO; ACIOLE, 2018).

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No uso clínico, os anabolizantes apresentam benefícios e são indicados para o
tratamento de algumas doenças ou condições clínicas terapêuticas. Segundo Iriart et al.
(2009), os medicamentos à base de esteroides anabolizantes mais utilizados no Brasil,
tanto na classe média, como nas classes populares, são o Durasteton® (propionato de
testosterona) e Deca-Durabolin® (nandrolona).

Efeitos colaterais
A principal preocupação em relação ao aumento da frequência do uso de EAA
de modo geral se deve à grande quantidade de efeitos adversos que essas substâncias
podem causar nos órgãos e sistemas, provocando danos reversíveis e irreversíveis tanto
em homens como em mulheres, podendo causar até a morte (ABRAHIN, 2013).
Os efeitos indesejados mais documentados são de natureza endócrina,
reprodutiva, hepática, cardiovascular, imunológica, musculo-esquelética e psicológica
(BRANDI, et al., 2010). Os efeitos colaterais estão relacionados, principalmente as suas
propriedades androgênicas e tóxicas. A forma de administração da EAA, oral, injetável
e adesivo intradérmico, pode ser um grande auxilio para potencialização dos efeitos
adversos que somam a outras variáveis, tais como: dosagem, idade, sexo, predisposição
genética e uso prolongado (HOFFMAN et al., 2009, ABRAHIN, 2013).
Os efeitos colaterais relacionados ao uso de anabolizantes têm sido
constantemente divulgados na literatura. Podem causar também infecções de
transmissão sanguínea pelo uso de equipamentos não estéreis durante injeção e até
traumas locais relacionados a aplicação incorreta desses produtos (BRANDI, et al.,
2010).
Os efeitos virilizantes apontam para tom de voz mais grave, distribuição dos
pêlos pubianos, aumento dos pêlos faciais e acne. Para as mulheres é observado também
aumento do clitóris (BRANDI et al., 2010). Os efeitos adversos hepáticos decorrentes
do uso de EAA estão entre os mais comuns e graves. Os níveis aumentados de
marcadores enzimáticos de toxicidade no fígado são exemplos disso (ABRAHIN, 2013;
ROCHA, AGUIAR, RAMOS, 2014).
Os EAA podem ocasionar hepatomegalia e adenoma hepatocelular (tumor de
origem epitelial), hepatite e hiperplasia regenerativa (ABRAHIN, 2013; ROCHA,
AGUIAR, RAMOS, 2014). O quadro 3 apresenta dados sobre os possíveis efeitos
colaterais do uso do EAA nos estudos analisados.

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Quadro 3 - Possíveis efeitos colaterais do uso de EAA.
Dermatológicos Acne, estrias
Musculoesqueléticos Fechamento prematuro das epífises (déficit de crescimento)
Risco aumentado de lesões musculotendíneas
Endócrinos Ginecomastia, alterações na libido, impotência e infertilidade.
Geniturinário Masculino: Diminuição do número de espermatozoides, atrofia
testicular.
Feminino: Irregularidades menstruais, masculinização hipertrofia
do clitóris.
Cardiovascular Mudanças no perfil lipídico, aumento da pressão arterial,
diminuição da função do miocárdio.
Hepático Risco aumentado de tumores, danos ao fígado.
Psicológicos Manias, depressão, alteração de humor, agressividade.
Cérebro Dores de cabeça; tonturas; aumento da agressividade; irritação;
alterações de humor; comportamento anti-social; paranoia.
Laringe Alteração permanente das cordas vocais em mulheres (a voz fica
mais grave).
Coração Aumento do músculo cardíaco, que pode levar a infarto em
jovens.
Fígado Aumento da produção da enzima transaminase, responsável pelo
metabolismo das substâncias. O órgão passa a trabalhar demais.
Foram registrados casos de tumor, cirrose, icterícia e peliosis
hepatis (cistos cheios de sangue que podem levar a hemorragias).
Rins e aparelho Retenção de água. Sobrecarga renal, e a longo prazo, podem
urinário aparecer tumores, queimação e dor ao urinar.
Aparelho reprodutor Atrofia dos testículos e dor no saco escrotal; ginecomastia
(crescimento da mama em homens); esterilidade feminina e
masculina (são necessários de seis a trinta meses para que o
homem volte a produzir espermatozóides); aumento do clitóris
(cresce como se fosse um pequeno pênis); alteração do ciclo
menstrual; atrofia do útero e da mama, aumento da libido
inicialmente e queda depois do uso repetido.
Pele Acne (tipo grave que deixa cicatriz no rosto e no corpo);
crescimento excessivo de pêlos nas mulheres; calvície precoce
nos homens; estrias
Músculos Aumento da massa muscular pelo depósito de proteínas nas
fibras musculares; diminuição da quantidade de gordura do
corpo.
Sistema lipídico Redução do bom colesterol (HDL) e aumento do mau colesterol
(LDL).
Ligamentos Mais chances de ruptura por arranchamento.
Ossos Na puberdade, os anabolizantes aceleram o fechamento da
epífise (regiões do osso responsáveis pelo crescimento),
reduzindo o período de crescimento, resultando em uma estatura
menor.
Sistema circulatório Aumento do número de hemácias jovens e diminuição dos
e imunológico glóbulos brancos; Hipertensão arterial.
Fonte: Adaptado de Rocha, Aguiar, Ramos, (2014).

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Além disso, a utilização de tais substâncias está associada a um tipo de tumor de
fígado, conhecido como peliose hepática, cuja evolução resulta em hemorragia neste
órgão que pode ser fatal. A administração intramuscular de EAA é menos lesiva para o
tecido hepático do que a oral (ABRAHIN, 2013; ROCHA; AGUIAR; RAMOS, 2014).
Compreende-se neste sentido, que o uso indiscriminado, visando aprimoramento
estético e de desempenho, tem aumentado a incidência de seus efeitos colaterais. Por
serem usados sem supervisão médica, fora de suas indicações iniciais e, na maioria das
vezes por indivíduos que buscam resultados imediatos, esses efeitos indesejados têm
sido frequentemente relatados na literatura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A literatura consultada demonstrou que são inúmeros os efeitos colaterais
causados pelo uso não terapêutico, indiscriminado e abusivo de EAA. Ressalta-se,
ainda, que os efeitos adversos podem afetar vários órgãos e sistemas. A utilização de
EAA indica uma forma fácil e rápida para se conseguir a forma física aparentemente
melhor. Em academias, a justificativa baseia-se em estética, ou seja, em obter uma
musculatura maior. Em busca do corpo ideal, muitos indivíduos, principalmente
adolescentes e jovens, estão iniciando o uso de EAA.
O culto ao corpo, extremamente disseminado na sociedade brasileira e refletido
na mídia, associado à desinformação, pode criar condições favoráveis ao abuso de
anabolizantes tornando-o um significativo problema de saúde pública. Vale ainda
ressaltar que o uso terapêutico dessas substâncias é permitido pala Agência Nacional de
Vigilância Sanitária.
Contudo, o problema atual é o uso dessas substâncias não prescritas, gerando
malefícios à saúde do indivíduo, além de poder levar à dependência, pois seu uso
prolongado estimula a região cerebral do sistema de neurotransmissão de dopamina,
denominado de sistema mesolímbico-mesocortical relacionada à recompensa do
Sistema Nervoso Central, podendo manifestar-se como síndrome de abstinência quando
se tenta cessar o uso. Ao analisar os efeitos dos EAA e todos os riscos possíveis pode-
se concluir que o uso não clínico, ou seja, o uso sem necessidade, não é recomendado
para melhoria estética.

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CAPÍTULO 07
TRANSTORNOS PSICÓTICOS
INDUZIDOS PELA COCAINA*

Alysson Ubirajara da Silva


Graduado em Farmácia e Pós-Graduanda em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Bruno Carneiro Manhâes


Graduado em Farmácia e Pós-Graduanda em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Marilac Rodrigues Sales de Paula


Graduado em Farmácia e Pós-Graduanda em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Jhonathan Gonçalves da Rocha


Mestre, docente do INPÓS

Diogo Marçal Machado de Oliveira


Mestre, docente do INPÓS

Yara Bandeira Azevedo de Alencar


Professora Universitária, Farmacêutica/Bioquímica,
Mestre, Diretora geral da Empresa INPÓS

Ludimila Cristina Souza Silva


Doutora, Professora do Curso de Especialização
em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do INPÓS.

* Artigo científico apresentado à especialização em


Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica.

RESUMO: O uso indiscriminado de drogas pode causar dependência psicológica, bem


como, desencadear, antecipar, ou até exacerbar eventos psicóticos. Neste sentido, os
transtornos psicóticos apresentam sintomas popularmente conhecidos como sinais da
loucura tais como os delírios e as alucinações e até mesmo a esquizofrenia. Os sintomas
delirantes são sintomas psicóticos indicativos de alteração do juízo de realidade.
Esses podem ser induzidos pelo consumo de cocaína, onde, quanto maior a gravidade
do padrão de uso e o tipo de droga utilizada, maior a frequência de sintomas
psicóticos. Assim, esse o estudo apresenta como objetivo realizar uma revisão de
literatura sobre transtornos psicóticos induzidos pela cocaína bem como, os malefícios
decorrentes do consumo da mesma. Observa-se que, atualmente, a cocaína está bastante
associada a surtos psicóticos em pessoas sem histórico anterior. O abuso e dependência

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de crack, álcool e outras substâncias psicoativas também é maior entre aqueles que
desenvolveram quadros psicóticos crônicos, como a esquizofrenia, previamente à
iniciação no uso de drogas.
PALAVRAS-CHAVE: Dependência; Cocaína; Psicose induzida por drogas; drogas
ilícitas.

ABSTRACT: The indiscriminate use of drugs can cause psychological dependence, as


well as trigger, anticipate, or even exacerbate psychotic events. In this sense, psychotic
disorders have symptoms popularly known as signs of madness such as delusions and
hallucinations and even schizophrenia. Delusional symptoms are psychotic symptoms
indicative of altered judgment of reality. These can be induced by the use of cocaine,
where the greater the severity of the pattern of use and the type of drug used, the greater
the frequency of psychotic symptoms. Thus, this study aims to conduct a literature
review on psychotic disorders induced by cocaine as well as the harms resulting from its
use. It is observed that, currently, cocaine is quite associated with psychotic outbreaks
in people with no previous history. The abuse and dependence on crack, alcohol and
other psychoactive substances is also greater among those who developed chronic
psychotic conditions, such as schizophrenia, prior to the initiation of drug use.
KEYWORDS: Dependency; Cocaine; Drug-induced psychosis; illicit drugs.

INTRODUÇÃO
O presente estudo aborda, através de revisão bibliográfica, os efeitos que o
consumo de cocaína causa no organismo dos usuários e se essa droga aumenta as
chances dos indivíduos virem a apresentar sintomas e doenças psicóticas. Os efeitos
maléficos dessa droga são notórios, sendo esse um tema atemporal. A cocaína é
consumida por mais de 17 milhões de pessoas em todo o mundo, o que a torna uma das
drogas mais consumidas em escala global. Nesse contexto, o Brasil ocupa a segunda
colocação, atrás apenas dos Estados Unidos (ALMEIDA; FERNANDES, 2019).
A cocaína é o principal substrato de uma planta (Erythroxylum coca) originária
da América do Sul. Seus principais efeitos são: euforia, aumento da atividade motora,
aumento do estado de alerta e prazer. Esses efeitos são ocasionados pela inibição da
captura de catecolaminas, principalmente a dopamina, pelas terminações nervosas na
fenda simpática, levando a psicoses (ALMEIDA; FERNANDES, 2019).
Psicose é definida como uma condição psicopatológica caracterizada pela
mudança de dados imediatos da consciência, e perda do contato com a realidade e que
acarreta alteração de personalidade e dificuldades na interação entre o indivíduo e
sociedade. Sabe-se que o uso indiscriminado de drogas pode causar dependência
psicológica, bem como, de desencadear, antecipar, ou até exacerbar eventos psicóticos
(SILVEIRA et al., 2014).

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Neste sentido, os transtornos psicóticos apresentam sintomas popularmente
conhecidos como sinais da loucura tais como os delírios e as alucinações e até mesmo
a esquizofrenia. O uso de cocaína também pode adiantar o surgimento de esquizofrenia,
psicoses e delírios (FERNANDES et al., 2017; HÜBNER et al. 2018).
Os sintomas delirantes são sintomas psicóticos indicativos de alteração do juízo
de realidade. Podem ser de conteúdo variado, por exemplo, os sujeitos com delírios de
perseguição acreditam que são vítimas de conspirações ou que estão sendo
intencionalmente discriminados, ameaçados ou vitimados, ou um delírio de grandeza
quando uma dona de casa, acredita ser a dona das agências de banco da sua cidade, age
de acordo com sua crença, senta-se na mesa do gerente de uma agência, dá ordens aos
funcionários, entre outros (SOUZA; GATI, 2017).
As alucinações são percepções de sensações inexistentes, tais como ver pessoas
que outras pessoas não estão vendo (alucinações visuais) ou escutar vozes que dialogam
entre si e falam mal do indivíduo, às vezes, dando ordens que o indivíduo poderá
executar sem pensar nas consequências (alucinações auditivas) (SILVEIRA et al.,
2014).
Os usuários e os dependentes de drogas são mais vulneráveis a apresentarem
sintomatologia psicótica, geralmente de forma transitória, associada ao uso de
substâncias psicoativas. Quanto maior a gravidade do padrão de uso e o tipo
de droga utilizada, como os estimulantes, (cocaína e crack) e os alucinógenos, (LSD e
chás de determinadas plantas e fungos), maior a frequência de sintomas psicóticos
(ZANELATTO, 2013).
Atualmente, a cocaína está bastante associada a surtos psicóticos em pessoas
sem histórico anterior. O abuso e dependência de crack, álcool e outras substâncias
psicoativas também é maior entre aqueles que desenvolveram quadros psicóticos
crônicos, como a esquizofrenia, previamente à iniciação no uso de drogas
(ZANELATTO, 2013).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dependência
química é atualmente reconhecida como doença; no entanto, a mesma destaca que a
dependência química deve ser tratada como uma doença médica e como problema
social. Assim, o estudo apresenta como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre
transtornos psicóticos induzidos pela cocaína bem como, os malefícios decorrentes do
consumo da mesma.

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METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, a qual refere-se a um método
que analisa e sintetiza as pesquisas de maneira sistematizada, e contribui para
aprofundamento do tema investigado, e a partir dos estudos realizados separadamente e
possível construir uma única conclusão, uma vez que foram investigados problemas
idênticos ou parecidos (MENDES, et al., 2008). A questão norteadora do presente
estudo foi: “o que são transtornos psicóticos induzidos pela cocaína? Quais os
malefícios decorrentes do consumo da cocaína?”.
O estudo foi realizado por meio de busca online das produções científicas
nacionais sobre transtornos psicóticos induzidos pela cocaína, publicadas entre 2005 a
2019. A obtenção dos dados ocorreu através de buscas processadas por meio da
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo utilizadas principalmente as bases de dados:
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific
Eletronic Library Online (SciELO). Os descritores utilizados para a busca foram:
psicose induzida por drogas, drogas ilícitas, delírio e alucinações.
Para a realização de uma pesquisa bibliográfica de qualidade, o primeiro passo é
localizar a terminologia autorizada e reconhecida mundialmente. O descritor controlado
é parte de um vocabulário estruturado e organizado para facilitar o acesso à informação.
Esses vocabulários são usados como uma espécie de filtro entre a linguagem utilizada
pelo autor e a terminologia da área (PELIZZON, 2004).
Foram considerados os seguintes critérios de inclusão: estudos que abordaram
sobre transtornos psicóticos induzidos pela cocaína; publicados nos idiomas português,
inglês e espanhol. Foram excluídos artigos que não responderam à pergunta norteadora.
O acesso à base de dados e a coleta de dados foi realizada nos meses de Agosto e
Setembro de 2019. Em seguida todos os estudos foram lidos na íntegra.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 428 artigos. Contudo, somente 28 documentos (entre livros
artigos e teses) foram utilizados, visto que atenderam aos critérios de inclusão do
estudo. O ano que mais publicou foi o ano de (2017) e o ano que teve menor índice de
publicação encontrada foi o de 2018. O periódico que mais publicou foi a Revista de
Psiquiatria. Também foram usados livros adquiridos em bibliotecas locais. Os artigos,
livros e teses que foram usados encontram-se citados no quadro 1.

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Quadro 1 - Distribuição ordenada dos trabalhos selecionados quanto ao ano, autores,
periódico e título.
n Ano Autores Periódico Título
Rev Cient da Fac Correlação entre o uso de cocaína e
Almeida G.B,
01 2019 Educ e Meio crack com transtornos psicóticos ou
Fernandes D.R
Ambiente FAEMA. neuropsicológicos.
Schimith, P. B.; A abordagem dos termos dependência
02 2019 Murta, G. A. V.; Psicol. USP, Scielo química, toxicomania e drogadição no
Queiroz, S. S de campo da Psicologia brasileira
Hübner, C. V. Esquizofrenia e transtorno psicótico
K.; Mari, R. Ciência e Cultura- induzido por substâncias, uma difícil
03 2018
N.K; Coelho, H. Scielo distinção
H. F.
Transtornos mentais e
Rev. Eletrônica
Fernandes, M. A comportamentais por uso de
04 2017 Saúde Mental
et al. substâncias psicoativas em hospital
Álcool Drog.
psiquiátrico.
Revista da Aspectos linguísticos do discurso
05 2017 Souza Gati, J. P
Unicamp. delirante
Transtornos mentais e
Revista Eletrônica
Fernandes, M. comportamentais por uso de
06 2017 Saúde Mental
et al. substâncias psicoativas em hospital
Álcool E Drogas
psiquiátrico.
Arq. bras. Situações presentes na crise de
07 2017 Araújo 2017.
psicol., Scielo pacientes psicóticos
Barbaro, D. R. Rev Fac Ciênc Psicose induzida por substâncias
08 2017
Picarelli Méd Sorocaba ilícitas
Transtorno afetivo bipolar, episódio
09 2016 Fernandes et al. Rev enferm UFPE atual maníaco com sintomas psicóticos
e o cuidar em enfermagem.
Chaim C.H, et Revista De Fisiopatologia da dependência química
10 2015
al. Medicina USP., / Physiopathology of addiction.
11 2015 Swift R.M.; Google acadêmico Farmacologia da Dependência e

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Lewis D.C -ufpi. Abuso de Drogas 2015
Tratamento do transtorno delirante
Baldaçara L;
12 2015 Google acadêmico persistente. Disponível
Borgio F.

Girard A.; Novas abordagens para esquizofrenia.


13 2014 Cienc. Cult., Scielo
Campolim, S.
Abdalla R. Addictive Prevalence of Cocaine Use in Brazil
14 2014
R. et al Behaviors
Silveira J.L..FD, Esquizofrenia e o uso de álcool e
15 2014 Rev Ren UFC.
et al. outras drogas: perfil epidemiológico
Terapia cognitivo-comportamental das
16 2013 Zanelatto N. A Artmed. Brasil habilidades sociais e de enfrentamento
de situações de risco.
Disssertação Assistência de enfermagem às pessoas
17 2012 Zappaterra, F. A
Google acadêmico com transtorno psicótico
Ribeiro M.; O plano de tratamento
18 2012 Artmed, cap.12
Laranjeira R.
Tese de Aids e usuários de cocaína: Um estudo
19 2011 Azevedo R. Doutorado). da sobre comportamentos de risco
Unicamp
Critérios de Diagnóstico e
20 2011 Silva C.J. Artmed,
Classificação
A abordagem dos termos dependência
Scheffer M; et Psic.: Teor. e Pesq.
21 2010 química, toxicomania e drogadição no
al. Scielo
campo da Psicologia brasileira.
Monografia. U F S A questão das drogas ilícitas no Brasil
22 2010 Queiroz V.E.
C
Sintomas psicóticos e cognitivos
Fontanella, B.J. Rev. Bras
23 2010 associados à busca de tratamento por
B. Psiquiatra
dependentes de substâncias
Silva O.A, Toxicologia da cocaína.
24 2009 Artmed
ODO, S. A
25 2009 Chaves A.C.; Roca Fases Iniciais da Psicose: A

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Leite, Â. L. S. S experiência do programa de
atendimento de pesquisa no primeiro
episódio psiquiátrico
Baldacara L. et Rev. Bras. O cerebelo e os transtornos
26 2008
al. Psiquiatra. psiquiátricos.
Monotoxicomanias y
Respuestas del
27 2008 Galante D.; politoxicomanias: la función del
psicoanalisis.
Naparstek F. tóxico em las psicosis.
Gama- Buenos Introducción a la clínica com
28 2005 Naparstek F.
Aires toxicomanias y alcoholismo.
Fonte: próprio autor

Quanto a metodologia de pesquisa utilizada, 20% dos artigos foram


considerados níveis I e II, 60% foram considerados de nível III a V, ou seja, evidências
moderadas e 20% dos estudos VI e VII sendo consideradas evidências fracas. Portanto,
o que prevaleceu foram estudos de evidências moderada. Após a leitura dos estudos
selecionados, surgiram as seguintes categorias descritas na discussão.

Dependência química
Em relação à dependência química (DQ), Chaim et al. (2015) ressalta ser uma
doença crônica e recidivante cuja etiologia tem natureza multifatorial complexa.
Frequentemente, as pessoas não entendem porque ou como alguém se torna dependente
de drogas, muitas vezes com a percepção errônea de que a manutenção do consumo da
droga, apesar dos problemas relacionados, é fruto de questões morais ou falta de força
de vontade (CHAIM et al,. 2015).
Na realidade, a dependência é reconhecida exatamente na incapacidade do
indivíduo para controlar seu comportamento. Embora a iniciativa de consumir drogas
tenha forte componente voluntário, as alterações cerebrais decorrentes desafiam o
autocontrole e capacidade de resistir a impulsos muito intensos (CHAIM et al.,. 2015).
A Dependência Química tornou-se uma mazela que envolve um conjunto de
aspectos físicos e mentais, sendo resultado da ingestão do uso contínuo de substâncias
psicoativas, geralmente caracterizada por reações comportamentais como busca
incontrolável pela substância utilizada, apesar das consequências danosas, buscando ora
para aliviar o desconforto da sua falta, ora para gerar novamente a sensação de prazer

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obtida em sua primeira experiência com a substância (CHAIM et al. 2015; SILVA,
2011).
Segundo o Código Internacional de Doenças - CID 10 (1993), dependência pode
ser classificada com um conjunto de acontecimentos fisiológicos, comportamentais e
cognitivos, onde a utilização de uma ou mais substâncias é colocada como prioridade
pessoal. O desejo incontrolável de consumir a substância é a característica da síndrome
de dependência. Após um período de abstinência, outros aspectos da síndrome tendem a
ressurgir de forma mais rápida (CID, 10 1993, p. 74).
Complementando Schimith et al., (2019) fazem outra diferenciação entre os
critérios de uso nocivo para a saúde (exclusivo da CID-10), intoxicação aguda,
síndrome de dependência, síndrome de abstinência, síndrome de abstinência com
delirium, transtorno psicótico, síndrome amnésica, transtorno psicótico residual ou de
instalação tardia, outros transtornos mentais ou comportamentais e transtorno mental ou
comportamental não especificado. Esta normatização não possui a classificação quanto
ao abuso de substância especificadamente, mas é consenso no âmbito médico que pode
ser compreendido dentro dos critérios do uso nocivo.
Em relação à nomenclatura, na literatura atual existem diversas conceituações,
dentre elas, dependência química, toxicomania, drogadição e adicção. Conforme
apontam Schimith et al., (2019), adicção, vem do termo inglês addiction que significa
uma dedicação total, apego ou inclinação de alguém por algum fato ou objeto e
toxicomania é originária da palavra grega toxicon, veneno no qual as flechas eram
embebidas; comportamento de dependência em relação a uma ou mais substâncias
psicoativas. Drogadição é a adição de drogas no organismo (SCHIMITH et al., 2019).
Dependência química é o transtorno mental causado pelo uso de SPA, sendo que
o termo dependência passou a ser recomendado em 1964, pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) para substituir a nomenclatura pejorativa de vício. A dependência
química é mundialmente classificada entre os transtornos psiquiátricos, sendo uma
doença de curso crônico e que acompanha o indivíduo para o resto da vida, mas que
pode ser tratada e controlada (HÜBNER et al., 2018; RIBEIRO; LARANJEIRA, 2012).
Assim, no presente trabalho, abordaremos uma dessas drogas ilícitas, a cocaína, e os
malefícios decorrentes do consumo da mesma.

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Cocaína
A cocaína é uma substância natural, extraída das folhas de uma planta
encontrada exclusivamente na América do Sul, a Erythroxylum coca ou coca boliviana,
que cresce em forma de arbusto ou em árvore. As origens do uso da coca datam mais de
4500 anos, nas grandes civilizações pré-colombianas dos Andes (ALMEIDA;
FERNANDES, 2019).
A partir dos anos 70, houve novo crescimento no consumo de cocaína, em parte
associada, especialmente nos Estados Unidos, a uma ideologia ligada ao consumismo e
à rápida ascensão social, a denominada era yuppie, relacionada ao consumo de cocaína
através da sensação do aumento de energia e da capacidade intelectual. A cocaína é um
alcaloide. Essa substância é extraída das folhas da coca, cientificamente conhecida
como Erythroxylum coca (SCHEFFER; PASA; ALMEIDA, 2010).
As folhas podem ser mascadas, porém a quantidade absorvida é muito pequena.
E é a partir das folhas da coca que se inicia o processo que terá como produto final a
cocaína refinada, e em pó (QUEIROZ, 2008). A cocaína pode ser consumida por
diversas vias: oral, intravenosa e respiratória (crack), sendo essa última a mais
devastadora para o organismo (BARBARO; PICARELLI, 2017).
Por ser um psicoestimulante, com características de reforçador positivo,
apresenta um grande potencial de abuso, levando à dependência. O uso crônico de
cocaína pode acarretar inúmeras complicações para o organismo do usuário, dentre elas
se destacam problemas cardíacos (angina, arritmias), pulmonares, deficiências
vitamínicas e convulsões (BARBARO; PICARELLI, 2017).
Observam-se, ainda, complicações psiquiátricas, como os transtornos induzidos
pela substância (transtorno psicótico) e os transtornos associados ao consumo
(comorbidades psiquiátricas) (BARBARO; PICARELLI, 2017). Conforme mostra a
Figura 1, o processo de produção da cocaína possui diversas etapas. Inicialmente, as
folhas sofrem tratamento químico e são transformadas em uma pasta base, ou pasta de
coca.

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Figura 1- Processo de produção da cocaína

FOLHAS
Podem ser mascadas

PASTA DE COCA
Podem ser fumada
(natureza alcalina

CRACK MERLA
Podem ser fumado Pode ser fumada

CLORIDRATO DE COCAÍNA
Produto final do refino (pó)
Podem ser aspirada ou injetada

Fonte: Swift; Lewis, (2015), adaptado.

A partir dos anos 80, observa-se um importante crescimento no consumo de


cocaína e consequentemente nos problemas associados ao seu uso. Paralelamente, o
surgimento da Síndrome da Imunodeficiêna Adquirida (AIDS) (devido a infecção pelo
Vírus da Imunodeficiência Humana) e sua rápida associação com o uso compartilhado
de drogas injetáveis lançou luz à gravidade do consumo de drogas por esta via.
Posteriormente, uma nova via de administração da droga, a via pulmonar, era utilizada
para consumo de cocaína na forma de crack, evidenciando uma nova via de consumo
que tem crescido rapidamente e trazido muitos problemas físicos, psíquicos e sociais
(SWIFT; LEWIS, 2015).
A pasta de coca (Quadro 2) é o produto das primeiras fases do processamento
das folhas de coca, que são tratadas com álcali, solvente orgânico (ex.: querosene ou
gasolina) e ácido sulfúrico. É um produto com muitas impurezas tóxicas, sendo fumado
em cigarros, denominado basukos (BRASIL, 2011).

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Quadro 2- Fases de processamento
Pasta Macerado das folhas, cal, solvente (querosene ou gasolina) e ácido
Base sulfúrico.
Pó A pasta é tratada com ácido hipoclorídico, produzindo o Cloridrato
de Cocaína (pó branco e sem cheiro).
Crack Pasta de coca ou pó, bicarbonato de sódio ou amônia, água e
aquecimento. A pasta é transformada em pedras por meio deste
processo.
Merla Pasta de coca ou pó, acido sulfúrico, querosene ou gasolina.
Fonte: Swift; Lewis, (2015).

O crack é formado a partir da mistura da pasta de coca com bicarbonato, soda


cáustica e água. Essa mistura é aquecida, evaporando a água e formando pedras. Sua
forma de consumo é através da inalação da fumaça, produzida ao queimar a pedra. A
merla (mela, mel ou melado) é um produto sem refino e excessivamente contaminado
com as substâncias utilizadas na extração (QUEIROZ, 2008).
Apresenta-se sob a forma de pasta e também é consumida através do fumo
(QUEIROZ, 2008). A cocaína, ao ser refinada, chega ao consumidor sob a forma de um
sal, o cloridrato de cocaína, apresentando-se com o aspecto de pó conforme demonstra a
Figura 2.

Figura 2- Cloridrato de cocaína (Cocaína em na forma pó)

Fonte: Swift; Lewis, (2015).

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O pó demonstrado na Figura 2 é solúvel em água, com isso seu consumo ocorre
por duas maneiras: “aspirado” inalado através da aspiração do pó através do nariz;
injetável pela via intravenosa, após diluído em água. Além do momento social que pode
ser visto como um dos responsáveis pelo incremento no consumo de cocaína em nossa
época, não há dúvida de que outro fator facilitador é o aumento da oferta, mediado pela
lógica do ganho financeiro e da sofisticação na área química e de produção do produto
(ANDRADE, 2016; SWIFT; LEWIS, 2015).
O processo de extração da cocaína é iniciado colocando-se as folhas e solventes
orgânicos em recipientes, onde após um período de maceração o extrato orgânico é
separado das folhas e evaporado. O resíduo obtido, denominado pasta de coca, contém
cocaína juntamente com outros alcaloides e óleos essenciais. A droga pode ser obtida
também por meio da secagem das folhas, digestão com ácido sulfúrico e posterior
extração, após precipitação com bicarbonato de sódio (SILVA; ODO, 2009).
A pasta de coca é tratada com ácido clorídrico para formação de cloridrato de
cocaína, que corresponde à forma usual de tráfico, sendo, porém, frequentemente
“diluída” com a adição de produtos que procuram mimetizar sua ação farmacológica,
cor ou sabor. São utilizados com essa finalidade outros anestésicos locais (lidocaína,
procaína), cafeína, efedrina, quinina, estricnina, manitol, sacarose, heroína, pó de
mármore, talco, entre outros (SILVA; ODO, 2009; ANDRADE, 2016).
Após a absorção pelas diferentes vias (aplicação nas mucosas, oral, respiratória
ou intravenosa), a velocidade de distribuição da cocaína é relativamente rápida. Estudos
sugerem que ela se acumula nos tecidos adiposos e no SNC em função de sua
lipossolubilidade, resultando concentrações de 4 a 11 vezes maiores que as plasmáticas,
com posterior liberação desses sítios para outros tecidos; atravessa prontamente a
barreira placentária apresentando níveis no recém-nascido iguais aos da mãe (SILVA;
ODO, 2009).
Os principais produtos de biotransformação da cocaína são a benzoilecgonina e
o éster metil ecgonina e em menor proporção, a ecgonina, a norcocaína e a
benzoilnorcocaína. A eliminação da cocaína é, predominantemente controlada pela sua
biotransformação, sendo apenas pequenas quantidades excretadas inalteradas na urina;
os produtos que aparecem em maior abundância na urina são: cocaína (3%),
benzoilecgonina (15 a 50%), éster metil ecgonina (15 a 35%), ecgonina (1 a 8%) e
norcocaína (2 a 6%).

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A cocaína possui efeito inotrópico positivo cardíaco, elevando a pressão arterial
e a frequência cardíaca, reduzindo a circulação coronariana; dessa forma, a morbidade
cardiológica associada ao consumo de cocaína inclui infarto agudo do miocárdio, dentre
outros (AZEVEDO; AIDS, 2011). Devido ao mecanismo de ação, parcialmente
conhecido, da cocaína, pode-se descrever as alterações agudas que o seu consumo
propicia e assim tentar compreender seu potencial efeito reforçador (SILVA; ODO,
2009), conforme demonstrado no Quadro 3. No quadro 4 estão descritas as
complicações clínicas ocorrem em diversos órgãos (principalmente SNC e sistema
cardiocirculatório).

Quadro 3 - Efeitos agudos da cocaína


• Euforia que frequentemente evolui para disforia.
• Sensação de energia aumentada e de melhor funcionamento.
• Aumento das percepções sensoriais.
• Diminuição do apetite.
• Aumento da ansiedade e da suspeição.
• Diminuição do cansaço e da necessidade de sono.
• Aumento da autoconfiança
• Delírios de cunho persecutório.
• Sintomas gerais de descarga simpática.
Fonte: Swift; Lewis, (2015).

Quadro 4 - Principais complicações clínicas pelo consumo de cocaína


Hipertensão Pneumomediastino/pneumotórax
Hemorragia intracraniana Edema pulmonar
Ruptura da aorta Parada respiratória
Arritmias OBSTÉTRICAS
Taquicardia sinusal Aborto espontâneo
Taquicardia supraventricular Descolamento da placenta
Taquiarritmias ventriculares Placenta prévia
Isquemias Ruptura precoce de membranas
Infarto do miocárdio FETAIS
Infarto renal Retardo do crescimento intra

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Infarto intestinal uterino
Isquemia de membros Malformações congênitas
Miocardite NEONATAIS
Insuficiência cardíaca Síndrome de abstinência
Morte súbita Infarto cerebral
Cefaléia Retardo no desenvolvimento
Convulsões HIV
Déficits neurológicos Endocardite bacteriana
Hemorragia subaracnóide Hepatite B e C
Infarto cerebral Tétano
Complicações embólicas
Encefalopatia tóxica
Fonte: Swift; Lewis, (2015).

A inibição da recaptação de dopamina é responsável por causar os efeitos


desejáveis pelo usuário, porém relaciona-se ainda com os efeitos indesejáveis tais como:
a paranoia, alucinação ou disforria. E através da inibição da recaptação de noradrenalina
obtém-se como resposta a vasoconstrição, midríase, hipertensão, taquipnéia,
taquicardia, diaforese e tremores. A cocaína ainda pode causar vaso espasmo,
ocasionando a acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio ou dissecção aórtica:
(SWIFT; LEWIS, 2015).
Em relação aos modos de administração da cocaína, os efeitos independem da
forma de administração (inalada/aspirada, injetada). A cocaína, quando consumida na
forma de "pó”, inalada, Figura tem efeito de 10 a 15 minutos, e a cocaína injetável em 3
há 5 minutos (SWIFT; LEWIS, 2015).
Os efeitos após ambas as formas de consumo duram de 20 a 45 minutos. A
ação da cocaína no cérebro ocasiona em seus usuários, sensação de autocontrole,
autoconfiança, estado de alerta, fazendo com que os usuários sintam-se cheios de
energia (SWIFT; LEWIS, 2015). O conjunto dos sintomas denomina-se “psicose
cocaínica”, o que aumenta ainda mais o risco de ocorrência de violência e acidentes,
pois na tentativa de lidar com o pavor e a sensação de perseguição, o usuário pode ferir
a si mesmo e aos outros (BRASIL, 2011).

Epidemiologia

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A cocaína, alcaloide extraído das folhas da erithroxylon coca há mais de um
século, é uma das substâncias mais intrigantes da história na medicina. Apesar de sua
prevalência de consumo apresentar-se pequena em comparação ao álcool, atinge níveis
estatísticos de epidemia em vários países (SWIFT; LEWIS, 2015).
O NIDA (1994) estimou que 4,5 milhões de norte americanos haviam feito
algum uso de cocaína em 1992. Nos EUA pode-se considerar que houve duas epidemias
do consumo no século XX. A primeira ocorreu no início do século e foi controlada com
uma série de medidas, dentre elas a própria proibição da cocaína que até então era
legalmente usada, mesmo em bebidas como a Coca Cola. A segunda epidemia ocorreu
nos anos 70 atingindo seu pico em meados dos anos 80 (AZEVEDO; AIDS, 2011).
Um levantamento conduzido em 149 municípios brasileiros indica que o país
está entre os maiores consumidores de cocaína no mundo, tanto na sua forma intranasal
(aspirado) como na mistura de crack, a cocaína solidificada em cristais –, composta de
pasta de cocaína, bicarbonato de sódio e água (inalado) (ABDALLA et al., 2014).
A cocaína e o “crack” têm sido a grande sensação da mídia entre as drogas
ilícitas. Invariavelmente há manchetes de que está havendo um crescimento assustador e
descontrolado do seu uso. Este aumento realmente existe, mas, ainda está longe de
atingir tão dramática situação; preocupa, mas não deve gerar pânico descontrolado. Por
outro lado, sabe-se que o Brasil é uma das principais rotas de cocaína em direção à
Europa e Estados Unidos (ABDALLA et al. 2014).

Psicose
A psicose, de acordo com alguns autores, é uma doença mental caracterizada
pela distorção do senso de realidade, inadequação e falta de harmonia entre o
pensamento e a afetividade (BALDAÇARA et al., 2015). Estudos apontam que nos
últimos anos houve aumento considerável em torno das pesquisas sobre a Psicose,
buscando compreender o que acontece com a pessoa que desenvolve o primeiro
episódio psicótico desde sua fase inicial. Tentam também, identificar sobre fatores
associados à recidiva dos sintomas psicóticos (CHAVES; LEITE, 2009).
Observou-se que os sintomas depressivos podem ocorrer em todas as fases do
transtorno psicótico, e são os mais precoces e mais frequentes sinais da psicose iminente
e em estágios mais avançados, sendo também os mais frequentes sinais indicativos de
uma recaída (HÜBNER et al., 2018). As manifestações psicopatológicas podem variar
no seu início, de forma insidiosa, às formas mais agudas. Alguns casos de esquizofrenia

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desenvolvem-se insidiosamente em condições prejudicadas na infância, no
desenvolvimento da personalidade e da cognição, o que dificulta reconhecer o pro domo
da psicose (CHAVES; LEITE, 2009).
Observou-se que quase todos os sintomas negativos precedem os positivos por
alguns anos. As formas de início insidioso são particularmente precursoras de
transtornos de esquizoafetivos, maníacos ou induzidos por substâncias psicoativas com
melhor prognóstico (CHAVES; LEITE, 2009).
A psicose tem início repentino e o indivíduo fica incapacitado de realizar suas
funções sociais e profissionais. Como se trata de um quadro psicótico, na maioria das
vezes o paciente nega estar doente, e pode até admitir que algo não vai bem, que tem
algum problema, mas de forma alguma admite que o problema é mental. Muitos desses
surtos são acompanhados de eventos estressantes ou fortes, como perda de pessoa
querida, do emprego, mudança de cidade ou ambiente social; forte ferimento físico,
acidente com sequelas, e ainda, eventos positivos como o nascimento de um filho ou o
casamento (BALDACARA et al., 2008; HÜBNER et al., 2018).
O período que se observa em média entre a ocorrência do evento e o início da
psicose é de duas semanas, a completa recuperação pode levar de dois a três meses,
sendo que a fase pior dura menos de um mês (BALDACARA et al. 2008).
A pessoa passa a ter um comportamento desorganizado, não acaba o que começa
e o que faz, muitas vezes não tem sentido. Veste-se inadequadamente, não atende aos
apelos dos familiares, recusa-se em colaborar com o que é preciso. O sono, como em
todos os transtornos psicóticos fica diminuído. O senso de perigo pode ser perdido,
deixando o fogo da cozinha aceso, a porta da rua aberta, permitindo que crianças
brinquem com facas afiadas, etc. Alguns pacientes tornam-se repetitivos nos gestos ou
nas palavras. Surgem personagens inexistentes das fantasias delirantes ou das
alucinações auditivas, com quem o paciente se relaciona (BALDACARA et al., 2008;
HÜBNER et al., 2018).
Assim, o uso da cocaína e os efeitos por ela produzidos podem ser entendidos
como uma resposta ao vazio de significação que acomete o sujeito. No entanto, essa se
mostra uma solução precária e perigosa, já que o tratamento do real pelo real pode levar
a uma verdadeira ruptura com o Outro, levando o sujeito à passagem ao ato
(GALANTE; NAPARSTEK, 2008; NAPARSTEK, 2005).
Neste sentido um dado comum observado na prática clínica aponta a possibilidade
de desencadeamento de um surto psicótico após um período de suspensão do uso de

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substâncias tóxicas. Fernandes et al. (2016) referem-se a casos frequentes de sujeitos
psicóticos que permaneceram longos períodos assintomáticos em função do uso
contínuo de drogas. Quando submetidos a tratamentos substitutivos, apresentavam o
primeiro surto, com a presença de fenômenos elementares, característicos da psicose.
Assim, esses sujeitos testemunham que o uso de drogas pode encobrir questões
pertencentes ao campo da psicose, sem que haja um desencadeamento típico. A droga
serve como uma espécie de tampão em relação à divisão subjetiva. Ao interromper o
uso da droga, o sujeito depara novamente suas questões e divisão subjetiva e, sem
recursos simbólicos para se haver com isso, vivencia um surto psicótico (GALANTE;
NAPARSTEK, 2008).
Por fim, vale mencionar o desencadeamento de um surto psicótico provocado
pelo uso de substâncias tóxicas. É possível, com frequência, associar o momento de
ruptura do desencadeamento psicótico à experiência com a droga. Os efeitos produzidos
pela droga podem colocar o sujeito diante de algo que ele é incapaz de nomear por falta
de recursos simbólicos (SOUZA; GATI, 2017).
Assim, existem os casos nos quais o sujeito relata jamais ter "voltado de uma
viagem" provocada pelo uso da droga. Percebe-se, portanto, a complexidade de fatores
presentes na clínica da psicose na atualidade, o que, sem dúvida, põe à prova a definição
de diagnósticos e, consequentemente, a direção do tratamento, sobretudo nos casos em
que o uso da droga se faz presente. Assim, em diversas situações, levam o sujeito a
transtornos psicóticos induzidos por cocaína (GALANTE; NAPARSTEK, 2008;
SOUZA; GATI, 2017).

Transtornos psicóticos induzidos por cocaína


Transtorno psicótico conjunto de fenômenos psicóticos que ocorrem durante ou
imediatamente após o consumo de uma substância psicoativa, mas que não podem ser
explicados inteiramente com base numa intoxicação aguda e que não participam
também do quadro de uma síndrome de abstinência (FONTANELLA, 2010;
BALDAÇARA et al., 2015).
Este estado se caracteriza pela presença de alucinações (tipicamente auditivas,
mas frequentemente polissensoriais), de distorção das percepções, de ideias delirantes
(frequentemente do tipo paranoide ou persecutório), de perturbações psicomotoras
(agitação ou estupor) e de afetos anormais, podendo ir de um medo intenso ao êxtase. O
sensório não está habitualmente comprometido, mas pode existir um certo grau de

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obnubilação da consciência embora possa estar presente a confusão, mas esta não é
grave (BALDAÇARA et al., 2015; FONTANELLA, 2010).
O surto psicótico está presente em algumas doenças mentais, como a
esquizofrenia, o transtorno psicótico breve, o transtorno bipolar, a depressão grave, a
demência, entre outros. A não ser pela demência, que costuma aparecer em idade mais
avançada, os outros transtornos, mesmo que geralmente comecem entre o final da
adolescência e início da idade adulta, podem acometer pessoas de todas as idades
(BALDAÇARA et al., 2015; GALANTE; SOUZA; GATI, 2017; BARBARO,
PICARELLI, 2017).
Consequências do surto psicótico: Em geral toda pessoa que passa ou já passou
por isso, acaba tendo uma consequência mesmo que essa seja bem pequena, pois nessas
condições eles não podem tomar decisões e por isso alguns deles não se alimentam, ou
não cuidam da sua saúde. Tem também o risco do suicídio, ou a tentativa de matar
alguém que eles acham que os perseguem (BALDAÇARA et al., 2015; GALANTE,
NAPARSTEK, 2008).
Transtornos psicóticos induzidos por anfetamina e cocaína partilham
características clínicas similares. Delírios persecutórios podem rapidamente surgir logo
após uso de anfetamina ou de um simpatomimético de ação semelhante. Transtorno
psicótico induzido por substância/medicamento pode, algumas vezes, persistir quando o
agente ofensivo é removido, podendo ser difícil inicialmente distingui-lo de um
transtorno psicótico independente. Há relatos de que agentes como anfetaminas,
fenciclidina e cocaína evocam estados psicóticos temporários que, por vezes, podem
persistir durante semanas ou mais, apesar da retirada do agente e do tratamento com
medicamento neuroléptico (BARBARO; PICARELLI, 2017).
De modo semelhante, os autores citados abaixo, também ressaltam que os
transtornos psicóticos induzidos pela intoxicação por anfetamina e cocaína
compartilham características clínicas. As ideias delirantes de perseguição podem
aparecer pouco depois do consumo de anfetamina ou de simpaticomiméticos de ação
similar. O transtorno psicótico induzido por Cannabis pode aparecer pouco depois do
consumo de Cannabis e normalmente implica a presença de ideias delirantes de
perseguição. Aparentemente, este transtorno é pouco frequente. Para melhor
compreensão, o quadro 5 explicita o transtorno psicótico induzido por cocaína
(BALDAÇARA et al., 2015; SOUZA; GATI, 2017).

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Quadro 5 - Transtorno psicótico induzido por cocaína
A. Alucinações ou delírios importantes.
B. Evidências na história, exame físico ou por achados laboratoriais de:
C. Sintomas do critério A se desenvolvem durante a intoxicação ou abstinência, ou
em período inferior a um mês destes e/ou o consumo da substância é relacionado
etiologicamente ao transtorno apresentado.
D. Sintomas não são característicos de transtorno psicótico que não é induzido por
substância. Evidências que os sintomas não são induzidos por substâncias
incluem:
- Surgimento dos sintomas precedeu o início do consumo de drogas;
- Sintomas persistem por mais que um mês após a interrupção do consumo ou
da síndrome de abstinência;
- Sintomas excedem aqueles esperados para a intoxicação ou abstinência da
cocaína.
E. O transtorno não ocorre exclusivamente durante o curso de delirium
- Subtipos de transtorno psicótico induzido:
- Com início durante a intoxicação;
- Com início durante a abstinência.
Fonte: Adaptado de Baldaçara et al (2015)

Observa-se com frequência crescente quadros psiquiátricos surgidos na vigência


ou logo após o consumo de cocaína. A variedade de apresentações clínicas que podem
surgir dificulta sobremaneira o estabelecimento do diagnóstico. Torna-se fundamental
para o psiquiatra hoje, ter um adequado conhecimento desta possibilidade etiológica
para que se evitem medidas intervencionistas medicamentosas potentes ou hospitalares
em quadros que frequentemente são autolimitados. Obviamente isto não significa o não
emprego de psicofármacos para determinados sintomas psicopatológicos, porém, deve-
se ter em mente o prognóstico aqui envolvido (BALDAÇARA et al., 2015).
Às vezes, os transtornos psicóticos induzidos por substâncias não se resolvem
com rapidez ao retirar o agente que a causa. Comprovou-se que substâncias como as
anfetaminas, a fenciclidina e a cocaína provocam estados psicóticos temporais que
algumas vezes persistem durante semanas ou inclusive mais, apesar de retirar o agente
causal e de instaurar um tratamento com neurolépticos. Inicialmente, estes casos podem

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ser difíceis de diferenciar dos transtornos psicóticos não induzidos por substâncias
(BALDAÇARA et al., 2015).
O transtorno tipicamente se resolve, pelo menos parcialmente, dentro de 1 mês e
completamente dentro de 6 meses. O diagnóstico pode ser mais especificado com seu
subtipo: esquizofreniforme, predominantemente delirante, alucinatório, polimórfico,
sintomas depressivos e sintomas maníacos e misto (FERNANDES; SOUSA,
FERNANDES et al., 2016).
Complementando este entendimento, Araújo et al. (2017) relatam que
investigação sobre o início da crise psicótica revela a presença de determinado evento
ocorrido como marco nas mudanças observadas no comportamento. Em geral são
eventos em que predominam a sensação de desamparo, abandono e insegurança e nos
quais exige-se atitude para a qual os pacientes não apresentam recursos. Tal situação
produz ruptura emocional e desestruturante por ocorrerem de forma brusca e inesperada
ou pela exposição constante e intensa a situações de estresse e conflito.

Tratamento para o surto psicótico


As medicações antipsicóticas são as principais ferramentas em seu tratamento.
Há vários antipsicóticos, que podem ser classificados de acordo com o tempo em que
foram fabricados. Os de primeira geração são os mais antigos e os de segunda geração,
mais recentes. No entanto, não há diferença de eficácia comprovada entre os diferentes
tipos, há diferenças sim de efeitos colaterais. A escolha do antipsicóticos a ser tomado
vai depender do perfil do paciente e da experiência de tratamento do médico
(ZAPPATERRA, 2012).
Em casos de transtorno afetivo bipolar, o uso de estabilizadores de humor
também é recomendável para o tratamento do surto psicótico.
O tratamento da psicose inclui:
1) medicamentos prescritos por médico psiquiatra;
2) orientação familiar;
3) hospitalização se necessário;
4) hospital-dia, Caps nas cidades, terapia ocupacional;
5) grupos de ajuda para familiares com psicose;
6) ajuda muito uma dieta vegetariana;
7) também ajuda muita atividade física ao ar livre (caminhadas assistidas);
8) hidroterapia (banhos de contraste quente-frio, etc.).

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Várias evidências indicam que a introdução dos antipsicóticos no tratamento
influenciou de forma positiva o curso e o prognóstico da doença (ZAPPATERRA,
2012).
As drogas antipsicóticas, que integram a primeira linha de tratamento para os
indivíduos com esquizofrenia e outras doenças mentais relacionadas, podem causar
sérios efeitos colaterais, tais como desordens do metabolismo, ganho de peso e
cardiopatias. Por conta desses efeitos, muitos pacientes abandonam a medicação, o que
motiva, atualmente, a pesquisa para encontrar novas drogas. As medicações usadas
como antipsicóticos até agora agem bloqueando alguns tipos de receptores de dopamina
(GIRARD; CAMPOLIM, 2014).
O tratamento é composto por medicação e psicoterapia. É imprescindível iniciar
o tratamento imediatamente apos o primeiro surto psicótico, evitando complicações e
beneficiando o prognostico. A família precisa também ser orientada e acompanhada
sobre como lidar melhor com o paciente e reconhecer os sinais que poderão originar em
surto (ZAPPATERRA, 2012).
Quanto ao manejo psicoterapêutico para usuários de crack e cocaína,
intervenções psicossociais, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC),
enfocando a recuperação de habilidades sociais e visando à abstinência, têm
demonstrado bons resultados em pacientes que não apresentam graves problemas em
decorrência do uso dessas substâncias (FERNANDES et al., 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso que o psicótico faz da droga, sugere, portanto, que podem ser variados:
diferentes usos para diferentes sujeitos. Embora seja possível apreender características
comuns aos casos em que a droga se faz presente, deve-se sempre privilegiar a
singularidade de cada caso. É evidente que o uso da droga não pode ser tratado da
mesma forma na neurose e na psicose, e não resta dúvida de que tanto a toxicomania
quanto a psicose apresentam impasses em relação ao tratamento.
O sujeito adicto a drogas demanda verdadeiramente um trabalho árduo para que
algo de sua adição seja, enfim, colocado em palavras, fazendo surgir a demanda de
tratamento. Ainda assim, na neurose, existe a aposta de capturar o sujeito pela via da
palavra, ao apontar, introduzir ou valorizar em seu horizonte semblantes dos quais ele
possa fazer uso, desvencilhando-se assim do uso da droga. Trata-se do intento de

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quebrar a cadeia de repetição de gozo, por meio de algum significante capaz de produzir
significação.
Sabe-se que o psicótico mantém relação precária e frágil com a dimensão
simbólica, e, assim, sua relação com a palavra se dá de forma totalmente desregulada e
singular. O tratamento nesses casos parece ser norteado pela tentativa de romper a
identificação do sujeito com a droga. Para isso, no entanto, não existe uma fórmula. O
trabalho é feito caso a caso, com base nas possibilidades que o sujeito apresenta e na
escuta e no desejo do analista para conduzir o tratamento. Além disso, deve-se ter
sempre em vista que as estabilizações podem se configurar em soluções promissoras
para o sujeito, quanto mais lhe permitirem a inscrição em algum tipo de discurso ou,
rigorosamente falando, em algum tipo de linguagem que possibilite o laço social.
Ainda assim, trata-se de uma tarefa árdua, não apenas pelos impasses colocados
pela própria estrutura psicótica, mas, sobretudo, pela força da parceria estabelecida com
a droga na atualidade. O fato de que um grande número de sujeitos psicóticos tem
buscado o recurso da droga comprova que esses sujeitos são também capturados pela
oferta sedutora do mercado de consumo. Adicionalmente, a atualidade impõe uma nova
realidade à clínica psicanalítica: os novos sintomas neuróticos e as novas manifestações
da psicose exigem uma acuidade cada vez maior na definição diagnóstica, assim como o
surgimento de novos fenômenos exigem uma reformulação da prática clínica.
Por fim, é preciso salientar que a presença cada vez mais constante da droga na
clínica da psicose pode ser pensada como reflexo das mudanças de valores e paradigmas
na atualidade. Revela, assim, a complexidade de fatores presentes na clínica da psicose
nos dias de hoje, o que põe em prova a definição de diagnósticos e a lógica que rege a
direção dos tratamentos.

REFERÊNCIAS
ABDALLA, R.R. et al. Prevalence of Cocaine Use in Brazil: Data from the II Brazilian
National Alcohol and Drugs Survey (BNADS). Addictive Behaviors. v. 39, p. 297-301,
2014.

ALMEIDA, G.B, FERNANDES D.R. Correlação entre o uso de cocaína e crack com
transtornos psicóticos ou neuropsicológicos: revisão de literatura: Revista da
Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA, v. 10, n. 1, p. 62-70, 2019.

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CAPÍTULO 08
O USO DE CONTRACEPTIVOS ORAIS
ASSOCIADO AO TRATAMENTO COM
ANTIBIÓTICOS*

Cláudia Costa e Souza Caetano


Graduada em Farmácia e Pós-Graduanda em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Caroline Christine Pincela Da Costa


Farmacêutica. Mestranda em Genética e Biologia
Molecula pela Universidade Federal de Goiás

Jessica da Silva Campos


Professora Universitária, Enfermeira, Especialista em
Cardiologia e Hemodinâmica, Mestranda pelo PPGAAS-UFG

Jhonathan Gonçalves da Rocha


Mestre, docente do INPÓS

Diogo Marçal Machado de Oliveira


Mestre, docente do INPÓS

Yara Bandeira Azevedo de Alencar


Professora Universitária, Farmacêutica/Bioquímica,
Mestre, Diretora Geral da Empresa INPÓS

Ludimila Cristina Souza Silva


Doutora, Professora do Curso de Especialização
em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do INPÓS.

* Artigo científico apresentado à especialização em


Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica.

RESUMO: O uso de contraceptivos orais combinados (COCs), bastante difundido em


razão da sua alta eficiência e reversibilidade do seu efeito contraceptivo, pode ter
eficácia reduzida e maiores chances de falhas quando realizado de forma associada com
o tratamento com outros fármacos. Destes, destaca-se os antibióticos, muito utilizados
por mulheres em idade reprodutiva. Este trabalho objetiva a apresentação dos possíveis
mecanismos de interações medicamentosas que podem ocorrer durante o tratamento
simultâneo com antibióticos e COCs, além das principais classes de antibióticos
responsáveis por tais interações. O levantamento de informações foi realizado por meio
da busca on-line de produções científicas nacionais e internacionais, publicadas no

FARMÁCIA CLÍNICA & PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA – ISBN 978-65-87580-04-3 120


período de 2001 a 2019, utilizando principalmente as bases de dados: ScienceDirect,
Scopus e Scientific Eletronic Library Online (SciELO), com os descritores: interações
medicamentosas, eficácia contraceptiva e hormônios. A interação é comprovada no uso
concomitante de rifampicina, utilizada no tratamento da tuberculose, apresenta-se como
potencial indutora do metabolismo hepático dos hormônios constituintes dos COCs, um
dos mecanismos propostos para a interação farmacocinética estudada; assim como a
alteração da flora intestinal, possível reação adversa do uso de antibióticos. Apesar das
limitações e controvérsias dos estudos clínicos realizados para avaliação de possíveis
interações entre antibióticos (não-rifampicina) e os contraceptivos orais, é de crucial
importância o papel do profissional da saúde no acompanhamento e informação das
pacientes a fim de atingir cada objetivo particular.

PALAVRAS-CHAVE: Interações medicamentosas; Eficácia contraceptiva;


Hormônios.

ABSTRACT: The use of combined oral contraceptives (COCs), widespread due to


their high efficiency and reversibility of their contraceptive effect, may have reduced
efficacy and higher chances of failure when performed in combination with treatment
with other drugs. In these, especially antibiotics, widely used by women of reproductive
age. This paper aims to present the possible mechanisms of drug interactions that may
occur during simultaneous treatment with antibiotics and oral hormonal contraceptives,
as well as the main classes of antibiotics that may interact with COCs. Information
collection was performed through the online search of national and international
scientific productions, published from 2001 to 2019, using mainly the databases:
ScienceDirect, Scopus and Scientific Electronic Library Online (SciELO), with the
descriptors: drug interactions, contraceptive efficacy and hormones. The interaction
with rifampicin is proven, which is used in the treatment of tuberculosis, is a potential
inducer of the hepatic metabolism of the COCs constituent hormones, this being one of
the proposed mechanisms for the studied pharmacokinetic interaction, as well as the
alteration of the intestinal flora, a possible adverse reaction of the use of antibiotics.
Despite the limitations and controversies of clinical studies conducted to evaluate
possible interactions between antibiotics (non-rifampicin) and oral contraceptives, the
role of the healthcare professional in monitoring and informing patients is of crucial
importance in order to achieve each particular goal.
KEYWORDS: Drug interactions; Contraceptive efficacy; Hormones.

INTRODUÇÃO
O uso de métodos contraceptivos iniciou-se há muitos anos, sendo que os
primeiros fármacos utilizados apresentavam em sua constituição componentes como
arsênio e mercúrio, cuja presença no organismo pode desencadear uma série de reações
adversas, inclusive à morte da utente (DE SOUZA et al., 2005). Com a identificação de
novos componentes, os hormônios progestagênio e estrogênio, e suas funcionalidades, o

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primeiro contraceptivo oral (CO) hormonal foi lançado em 1961 no mercado, contendo
10 mg do primeiro e 150 μg do segundo composto (DOS SANTOS et al., 2012).
Os COs, na forma de combinações de estrogênios e progestagênios ou apenas
progestagênios, são utilizados por milhões de mulheres no mundo, em razão,
principalmente, do seu efeito contraceptivo reversível de alta eficiência (DICKINSON
et al., 2001; DOS SANTOS et al., 2012). As formas combinadas, em geral, atuam
suprimindo a secreção hipofisária dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e
luteinizante (LH), o que impede o crescimento e desenvolvimento dos folículos
ovarianos e, consequentemente, a ovulação (DICKINSON et al., 2001; DE SOUZA et
al., 2005).
Como efeitos secundários, os seus componentes causam alteração do muco
cervical e constituição do ambiente endometrial, por isso diminuem as chances de
nidação (DICKINSON et al., 2001; DOS SANTOS et al., 2012). Além do objetivo
principal, que é a contracepção, os anticoncepcionais podem ser empregados, ainda, no
tratamento de ciclos menstruais irregulares, endometriose e acne, dentre outras
disfunções (DE SOUZA et al., 2005).
Desde a sua introdução no mercado, há a tendência em diminuir os níveis de
componentes estrogênicos em sua composição a fim de reduzir os efeitos adversos
decorrentes de sua administração (DOS SANTOS et al., 2012). Porém, as concentrações
mais baixas dos constituintes hormonais nos COC’s aumentam a sua suscetibilidade a
interações medicamentosas, o que pode levar à falha ou perda da eficiência
contraceptiva, elevando os riscos de ocorrência de uma gravidez não-planejada
(SIMMONS et al., 2018a).
Dentre as interações mencionadas, destaca-se aquelas causadas pelo uso
concomitante com alguns antibióticos, antiepiléticos, antifúngicos e antirretrovirais
(MESQUITA, 2016), que possuem representantes indutores das enzimas hepáticas
responsáveis pelo metabolismo dos componentes hormonais dos contraceptivos orais.
Dado que os antibióticos são medicamentos muito utilizados por mulheres em idade
reprodutiva, é de crucial importância o conhecimento das possíveis interações entre eles
e os COs, para evitar que os seus respectivos efeitos sejam comprometidos (SIMMONS
et al., 2018a).
Estudos clínicos demonstraram que o tratamento simultâneo de mulheres
usuárias de contraceptivos orais combinados (COCs) com o antibiótico rifampicina
aumenta o risco de gravidez indesejada entre elas, devido à indução das enzimas

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microssomais hepáticas, reduzindo os níveis séricos hormonais (TOH et al., 2011).
Outro mecanismo proposto para a interação envolve a alteração da flora intestinal, em
decorrência de quadros de vômitos ou diarreias, induzidos pela ação antibiótica (DOS
SANTOS et al., 2012), porém a interação farmacocinética decorrente do uso associado
de outros antibióticos com COCs possui evidências limitadas e controversas
(KOOPMANS; BOS; DE JONG VAN DEN BERG, 2012).
Nesse contexto, este artigo objetiva a apresentação dos possíveis mecanismos de
interações medicamentosas que podem ocorrer durante o tratamento simultâneo com
antibióticos e contraceptivos orais hormonais. Além disso, são postas em destaque as
principais classes de antibióticos que podem interagir com os COCs e a importância da
atuação dos profissionais da saúde no aconselhamento e informação das pacientes
acerca do funcionamento e interações potenciais dos medicamentos a fim de que os
objetivos individuais de cada uma delas sejam alcançados com sucesso.

METODOLOGIA
O estudo foi realizado por meio de busca on-line das produções científicas
nacionais e internacionais sobre as interações medicamentosas decorrentes do uso
associado de antibióticos e contraceptivos orais hormonais, no período de 2001 a 2019.
O levantamento de informações foi feito por meio de pesquisas em que foram utilizadas
principalmente as bases de dados: ScienceDirect, Scopus e Scientific Eletronic Library
Online (SciELO); e os descritores: interações medicamentosas, eficácia contraceptiva e
hormônios.
Além dos trabalhos que abordaram especificamente o tema aqui descrito, foram
incluídos outros em que estavam presentes informações quanto às características dos
antibióticos e métodos contraceptivos, tipos de interações medicamentosas e a
importância do papel do profissional da saúde na avaliação e acompanhamento das
pacientes, publicados principalmente nos idiomas português e inglês.
A coleta e seleção de informações foram realizadas no período de fevereiro a
junho de 2019, por meio da leitura, na íntegra, dos trabalhos relevantes. Em sequência,
elas foram dispostas em uma estrutura textual contendo, inicialmente, esclarecimentos
acerca das características dos termos protagonistas do artigo (métodos contraceptivos,
antibióticos e interações medicamentosas); sucedidas pelo detalhamento do mecanismo
de funcionamento dos contraceptivos orais hormonais e, por fim, pelo aprofundamento
das interações medicamentosas decorrentes do seu uso associado com alguns

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antibióticos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Métodos Contraceptivos
Os métodos contraceptivos podem ser divididos em duas classes principais: os
não-hormonais e os hormonais (MESQUITA, 2016). Os primeiros baseiam-se na
utilização de recursos em que não há a administração de hormônios à utente afim de
evitar a concepção indesejada, podendo ser eles: dispositivos de barreira, como
preservativos e diafragmas; métodos comportamentais, como o uso da “tabelinha” e o
coito interrompido; ou irreversíveis, de natureza cirúrgica, como é o caso da laqueadura
e vasectomia (SILVA et al., 2017).
Todavia, os métodos contraceptivos hormonais consistem no uso de hormônios
de forma combinada (progestagênio e estrogênio) ou individual (apenas progestagênio)
para a prevenção de uma possível gravidez (TAYLOR; PEMBERTON, 2012), sendo a
composição combinada a mais utilizada por apresentar maior eficácia (DE SOUZA et
al., 2005). Dentre os métodos combinados, destaca-se o uso dos contraceptivos orais,
anéis vaginais e adesivos transdérmicos; enquanto os sistemas intrauterinos, os
injetáveis intramusculares e os implantes subcutâneos são exemplos de contraceptivos
constituídos apenas por progestagênio, informações apresentadas no quadro 1
(MESQUITA, 2016).

Quadro 1 - Principais métodos contraceptivos hormonais e suas respectivas


composições, modos de uso ou aplicação ideais e possíveis efeitos adversos decorrentes
do uso contínuo.
Método Contraceptivo Composição Uso/Aplicação ideal Efeitos adversos
Oral Combinado Estrogênio e Em geral, uso durante 21 Spotting,
progestagênio dias, com pausa de 7 amenorreia.
dias.*
Pílula Progestagênio Uso contínuo, sem Acne, spotting,
progestativa interrupção.* cistos ovarianos.
Sistema intrauterino Progestagênio Entre o 1º e o 7º dia após Hemorragia
(SIU) o término do ciclo irregular,
menstrual, podendo amenorreia,
durar cerca de 3 ou 5 doenças
anos.** inflamatórias.
Anel vaginal Estrogênio e Entre o 1º e o 5º dia do Vaginite,
progestagênio ciclo menstrual.* leucorreia.
Adesivo transdérmico Estrogênio e 1º dia da menstruação, Reações cutâneas.
progestagênio com troca de 7 em 7
dias.**
Injetável intramuscular Progestagênio 5º dia após o início da Irregularidades

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menstruação, realizada no ciclo
trimestralmente.** menstrual,
amenorreia.
Implante subcutâneo Progestagênio Entre o 1º e o 5º dia após Hematomas e
o início da menstruação, dores
podendo durar cerca de temporárias, além
3 anos.** de hemorragias
irregulares.
FONTE: Adaptado de MESQUITA (2016).
*O uso ou aplicação do contraceptivo é realizado pela própria utente. **A aplicação deve ser feita por um
profissional da saúde.

De acordo com a dosagem de estrogênio e progestagênio em sua composição, os


contraceptivos orais combinados ainda podem ser subdivididos em categorias: pílulas
monofásicas, bifásicas e trifásicas, cujas constituições são semelhantes quanto aos tipos
de hormônios sintéticos administrados, mas diferem quanto às proporções utilizadas
(TURCATO; CORREA, 2016). Quando as quantidades dos hormônios são fixas no
decorrer de todo o tratamento durante o ciclo menstrual, o contraceptivo oral é
denominado monofásico; quando há alteração na dose de hormônio em determinado
estágio do ciclo, trata-se de contraceptivos “fásicos”, podendo essa alteração ocorrer
uma vez (bifásicos), ou, em outros casos, duas vezes (trifásicos) (TAYLOR;
PEMBERTON, 2012).
Dentre os componentes estrogênicos mais utilizados na composição dos
contraceptivos orais combinados, destaca-se o etinilestradiol (EE) e o mestranol, que, de
forma geral, atuam na inibição dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e luteinizante
(LH) ao impedir a ovulação; enquanto o componente progestagênico geralmente varia
entre a drospirenona, levonorgesterona, norestindrona e o gestodeno, e atua no
espessamento do muco cervical, impedindo a passagens de espermatozoides e
implantação de um possível embrião (DE SOUZA et al., 2005; SILVA et al., 2017).
Além da aplicação principal dos COCs, a contracepção, eles também são
utilizados para outros fins: amenizar ciclos menstruais irregulares, cólicas,
sangramentos intermenstruais, a ocorrência de amenorreia, tensão pré-menstrual,
doenças da mama (benignas) e cistos ovarianos. Quando usados da maneira correta, o
risco de concepção é muito pequeno, na faixa de 0,5 a 1,0 a cada 100 mulheres, ao ano
(DOS SANTOS et al., 2012).
A existência de uma enorme variedade de métodos contraceptivos no mercado
reforça o papel fundamental do farmacêutico no aconselhamento e complementação das
informações transmitidas às utentes pelo seu respectivo médico ginecologista, acerca

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das vantagens e desvantagens de cada método, cuidados a serem tomados, possíveis
efeitos adversos decorrentes do seu uso contínuo e eventuais interações com outros
medicamentos, afim de aliar o bem-estar da mulher com os seus objetivos quanto ao seu
planejamento familiar (MESQUITA, 2016).

Antibiótico
Derivado do termo “antibiose”, proposto em 1889 por Vuillemin (1861-1932), o
nome antibiótico teve sua definição construída e modificada ao longo dos anos
(ARAÚJO, 2013), sendo a mais recente a de que são compostos naturais, semi-
sintéticos ou sintéticos que possuem ações antimicrobianas (KUMAR et al., 2019), seja
por mecanismos bacteriostáticos (impedindo o crescimento microbiano) ou bactericidas
(sendo causa direta da morte de bactérias) (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010).
Aqueles de origem natural e os semi-sintéticos constituem a maior parte dos
antibióticos utilizados e são classificados em β-lactâmicos, macrolídeos, lincosamidas,
estreptograminas, cloranfenicol, aminoglicosídeos, teraciclinas, peptídeos cíclicos,
rifamicinas, entre outros; enquanto os de origem sintética subdividem-se em
oxazolidinonas, fluoroquinolonas e sulfonamidas (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO,
2010). O quadro 2 apresenta os mecanismos de ação antibiótica desses representantes.

Quadro 2 - Principais antibióticos e seus respectivos mecanismos de ação.


Antibióticos Alvo Mecanismo de ação
β-lactâmicos (penicilinas, Enzima transpeptidase. Inibição da formação de ligação
cefalosporinas, cruzada entre cadeias de
carbapeninas, peptideoglicano, impedindo a
monobactamas) formação correta da parede celular
bacteriana.
β-lactâmicos (oxapeninas, Enzima β-lactamase. Inibição da enzima de resistência
sulfoxapeninas) bacteriana, que degrada
antibióticos β-lactâmicos.
Macrolídeos, lincosamidas, Subunidade 50S Inibição da síntese proteica
estreptograminas, ribossômica. bacteriana.
cloranfenicol,
oxazolidinonas
Aminoglicosídeos, Subunidade 30S Inibição da síntese proteica
tetraciclinas ribossômica. bacteriana.
Glicopeptídeos Dipeptídeo terminal D- Complexação com as cadeias
Ala-D-Ala do peptídicas não ligadas e bloqueio
peptideoglicano. da transpeptidação, impedindo a
formação correta da parede celular
bacteriana.
Peptídeos não ribossomais Membrana plasmática. Afetam a permeabilidade da
membrana bacteriana por

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facilitarem o movimento de íons
através da membrana.
Lipodepsipeptídeos Membrana plasmática. Afetam a permeabilidade da
membrana bacteriana e bloqueiam
a síntese de ácido lipoteicoico,
componente da membrana externa
de bactérias Gram positivo.
Rifampicina RNA polimerase Inibição da síntese de RNA.
dependente de DNA.
Fluoroquinolonas Enzima DNA girase. Bloqueio da replicação e reparo do
DNA.
Sulfonamidas Enzima dihidropteroato Bloqueio da formação de cofatores
sintetase. de ácido fólico, importantes para a
síntese de ácidos nucleicos.
FONTE: GUIMARÃES, MOMESSO, PUPO (2010).
De forma geral, os antibióticos (AB) devem apresentar alta seletividade e
efetividade ao tratar infecções microbianas, tanto em humanos quanto em animais; ação
bactericida rápida e mantida por um período de tempo prolongado; resistência à
alteração de sua eficiência pela ação de fluidos ou substâncias do organismo em
tratamento; além de não acarretarem efeitos adversos graves a este (ARAÚJO, 2013).

Interação Medicamentosa
Também conhecida por interação droga-droga (IDD), a interação
medicamentosa é uma denominação referente a condição em que os efeitos de dois
fármacos acontecem de forma simultânea, seja devido à administração concomitante
dos dois medicamentos ou em razão do curto intervalo de tempo entre as medicações
(SILVA et al., 2017). Como consequência, eles podem atuar de maneira sinérgica, ou
seja, suas atividades permanecem inalteradas, acontecendo de forma independente;
intensificadora, de maneira a potencializar a ação do outro; ou antagônica, quando
ocorre inibição ou prejuízo do efeito esperado de um deles, sendo os dois últimos casos
reações características de uma IDD (TURCATO; CORREA, 2016).
De acordo com o nível de gravidade, as interações medicamentosas podem ser
classificadas em: contraindicadas, maiores, moderadas e menores (JANKOVIĆ et al.,
2018), ocorrendo em maior número em condições de doenças crônicas, distúrbios
múltiplos e polifarmácia (MURTAZA et al., 2016). Dentre as reações adversas
decorrentes do uso concomitante de medicamentos, que dependem de características
individuais dos pacientes (como idade, comorbidade e farmacogenética) (KENNEDY;
BREWER; WILLIAMS, 2016), destaca-se dores no corpo, gravidez indesejada,
sangramentos e problemas cardíacos, que podem levar uma pessoa a óbito (SILVA et

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al., 2017). Tais efeitos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, poderiam ser
evitados em até 60%, causando redução na procura por hospitais ou na permanência de
pacientes nestes (PATEL; BECKETT, 2016).
Sendo assim, ressalta-se a importância do papel dos profissionais da saúde no
conhecimento e conscientização dos pacientes a respeito das potenciais interações
medicamentosas ao qual estão sujeitos, seja durante a prescrição ou venda de um
medicamento (CORRIE; HARDMAN, 2011; MUSSINA et al., 2019), objetivando
minimizar o risco de reações adversas, e, consequentemente, assegurar o gerenciamento
eficaz dos cuidados com a saúde do paciente (PATEL; BECKETT, 2016).
Mesmo com a existência de bancos de dados que apresentam os mecanismos de
ação de diversos medicamentos, o forte crescimento do setor farmacêutico, que amplia o
número de medicamentos disponíveis no mercado. Por consequência, a quantidade de
combinações possíveis, dificulta o conhecimento de todas as interações medicamentosas
possíveis, exigindo a adoção de ferramentas para auxiliar no reconhecimento fácil e
rápido de potenciais IDD’s (ABACHA et al., 2015).
Um exemplo é o uso de bancos de dados online, disponíveis em plataformas
digitais, que dispõem de informações para identificação e análise de interações
medicamentosas, e fornecem resultados mais confiáveis quando utilizados em conjunto.
Dentre eles, destaca-se: Micromedex, LexiInteract, Epocrates e Medscape (JANKOVIĆ
et al., 2018).
A fim de melhor conhecer e caracterizar as interações, as IDD podem, ainda, ser
classificadas quanto ao mecanismo de ocorrência: interações farmacocinéticas,
farmacodinâmicas e farmacêuticas, podendo muitas delas serem atribuídas a mais de um
mecanismo (TURCATO; CORREA, 2016). Naquelas classificadas como
farmacocinéticas, o princípio ativo de um medicamento é responsável pela alteração da
absorção, distribuição, metabolismo e/ou excreção do (s) outro (s) administrado (s)
concomitantemente (HERSH; MOORE, 2008; SILVA et al., 2017), resposta que varia
entre os pacientes, com a ausência de um padrão específico e dificuldade de previsão
(CORRIE; HARDMAN, 2011).
Já as interações farmacodinâmicas são caracterizadas pelo desencadeamento de
competições pelos locais de atuação dos princípios ativos dos medicamentos,
moleculares ou celulares, podendo ocorrer em um único local receptor, mais de um ou
por locais não específicos que apenas mediam as interações, sendo possível a ocorrência
de alterações no sistema fisiológico alvo (KENNEDY; BREWER; WILLIAMS, 2016).

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Quanto às interações medicamentosas farmacêuticas, também chamadas de
incompatibilidades farmacêuticas, há o prejuízo do efeito de um medicamento por outro
fármaco antes mesmo da administração, devido à existência de incompatibilidade
química ou física durante a preparação da droga ou aplicação nas vias parenterais (TSUI
et al., 2019).

Mecanismo de Ação dos Contraceptivos Orais


Os métodos contraceptivos orais hormonais podem ser constituídos por apenas
progestagênio, ou por uma combinação de progestagênio e estrogênio (pílulas
combinadas), sendo este último tipo mais eficiente, porém com uso contraindicado para
pacientes que apresentam tendências a desenvolver um quadro de obesidade, diabetes,
hipertensão arterial e tromboembolismo, devido à presença do estrogênio (MESQUITA,
2016). Cada um desses componentes é responsável por tarefas fisiológicas específicas
na tentativa de impedir uma possível gravidez indesejada e, para que apresentem a
eficiência esperada, devem ser administrados em concentrações adequadas: estrogênio
na ordem de 10-12 g/mL e progestagênio na ordem de 10-9 g/mL (DEROSSI; HERSH,
2002).
De forma geral, os hormônios sintéticos que constituem os COs mantêm os
níveis de estrogênio e progestagênio constantes no organismo durante o período de uso
(SILVA et al., 2017). Com isso, há uma diminuição da necessidade de produção natural
desses hormônios, informação que é enviada ao hipotálamo, que reduz a liberação de
hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), causando uma menor secreção de FSH e
LH pela hipófise, que são responsáveis pela produção do estrogéno e progesterona, que,
por sua vez, têm a função de regular o desenvolvimento e maturação do óvulo, ciclo
menstrual e ovulação, principalmente; processos que serão impedidos, com o uso dos
contraceptivos orais hormonais (COSTA, 2011).
Individualmente, os constituintes hormonais dos contraceptivos orais
desenvolvem tarefas específicas nesse sistema de feedback negativo. O estrogênio atua
na redução da liberação hipofisária de FSH, impedindo o desenvolvimento e maturação
folicular e, consequentemente, a ovulação; além de alterar as estruturas celulares do
revestimento endometrial, estabilizando-o, permitindo uma diminuição na hemorragia e
maior controle do ciclo menstrual (MESQUITA, 2016).
Enquanto o progestagênio é responsável por diminuir a secreção de LH pela
hipófise, impedindo que a ovulação aconteça; alterar as características do muco

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cervical, tornando-o mais viscoso, dificultando a movimentação de espermatozoides.
Além disso, também modifica a estrutura do endométrio, podendo causar sua atrofia,
condição desfavorável à implantação do óvulo (DEROSSI; HERSH, 2002; COSTA,
2011).
O uso desses hormônios de forma isolada já permite a visualização de tais
efeitos, porém, na forma combinada, eles apresentam maior eficácia, devido à redução
simultânea dos níveis de FSH e LH, impedindo a ovulação de forma mais consistente
(SILVA et al., 2017).
O metabolismo dos componentes dos contraceptivos orais ocorre por meio de
um conjunto de processos muito complexos (OESTERHELD; COZZA; SANDSON,
2008). O componente estrogênico pode ser administrado na forma de etinilestradiol
(mais utilizado) ou na forma de mestranol, que é primeiramente convertido a EE
(espécie farmacologicamente ativa), por meio da isoenzima CYP2C9 (MARTINS,
2013).
Os hormônios são absorvidos no intestino delgado, sofrendo um processo
metabólico de primeira passagem. Após essa etapa, cerca de metade do etinilestradiol
entra na circulação sistêmica e o restante é metabolizado no fígado e na parede intestinal
(OESTERHELD; COZZA; SANDSON, 2008). O metabolismo do EE pode ser
realizado por três vias principais: oxidação, sulfatação e glucuronidação (MARTINS,
2013).
A via metabólica de oxidação envolve a hidroxilação do EE, principalmente
pelas enzimas hepáticas CYP3A4 e, em menor quantidade, pelas isoformas CYP2C9; as
reações de sulfatação são catalisadas pelas enzimas sulfotransferases (SULT), em maior
parte pelas SULT1E1, presentes no fígado e na parede intestinal. Por outro lado, a
glucuronidação ocorre via glucuronosiltransferase (UGT), tendo a isoforma UGT1A1
papel dominante, e as UGT1A8 e UGT1A9, papéis secundários (ZHANG et al., 2007).
As vias de metabolização dos componentes progestagênicos utilizados na composição
dos diferentes contraceptivos orais, que ocorrem principalmente via CYP3A4, são bem
descritas por Martins (2013).
Como produtos, excretados por meio da urina, mas também presentes na bile,
relata-se cerca de 85 % de glucuronatos, 12 % de sulfatos, produtos oxidados e EE não
metabolizado em doses mais baixas, em um tempo de meia-vida médio do EE de 17 h
no organismo (MARTINS, 2013). As principais etapas do processo descrito são
apresentadas na Figura 1, de forma geral.

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Figura 1 - Esquema do metabolismo dos contraceptivos orais.

FONTE: TAYLOR, PEMBERTON (2012).

Apesar dos benefícios, os CO hormonais podem apresentar efeitos colaterais,


como o aumento do risco do desenvolvimento de tromboembolismo venoso (associado
à ingestão de estrogênio), hipertensão arterial e aumentos nos níveis de glicose e
lipídios no sangue (associados ao uso de progestagênio); além de poderem levar utentes
fumantes, com idade superior a 35 anos, a um quadro de acidente vascular cerebral
(AVC) ou infarto do miocárdio, reações que estimularam o desenvolvimento de
comprimidos com doses mais baixas de hormônios sintéticos (DEROSSI; HERSH,
2002).

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Os contraceptivos que apresentam dosagens reduzidas de estrogênio e
progestagênio têm maior chance de sofrer falhas e interações medicamentosas com
outras drogas, podendo causar alteração em seu metabolismo, levando a uma possível
gravidez indesejada (MAHMOUDI; HAEFELI, 2019; DE SOUZA et al., 2005). As
principais causas da perda da eficácia do tratamento são: o uso incorreto, má absorção
dos componentes e IDD’s (DEROSSI; HERSH, 2002).
As interações medicamentosas às quais estão sujeitos os contraceptivos orais
podem estar relacionadas a alguns aspectos farmacocinéticos e farmacodinâmicos,
como: absorção dos seus componentes, como acontece com a comedicação com
antidiabéticos; indução ou inibição das isoenzimas CYP, por medicamentos como
antibióticos, antiepiléticos (DUTRA et al., 2013), antifúngicos e antirretrovirais, cujos
efeitos são apresentados no quadro 3; metabolismo por SULT ou UGT, por
paracetamol; competição por transportadores, por psicofármacos; ou envolvendo mais
de uma via metabólica, como por alguns produtos naturais e suplementos alimentares
(MARTINS, 2013).

Quadro 3 - Efeitos de alguns fármacos, indutores e não-indutores enzimáticos, na


contracepção hormonal.
Fármaco Com ação no Efeito Sem ação no Efeito
CYP450 CYP450
Antiepiléticos Carbamazepina Redução do EE Gabapentina Não há
Oxcarbamazepina e Lamotrigina redução do EE
Fenitoina progestagênios. Levetiracetam ou
Fenobarbital Vigabatrina progestagênios.
Primidona Valproato de
Topiramato sódio
Antibióticos Rifampicina Redução do EE Antibióticos de Alteração da
Rifabutina e curto e longo flora intestinal.
progestagênios. espectro
Antifúngicos Griseofulvina Potente indutor Cetoconazol Não há
enzimático. Fluconazol redução do EE
Itraconazol ou
progestagênios.
Antirretrovirais Inibidores de Redução do EE Análogos Não há
protease e nucleosídeos evidências de
Análogos não progestagênios. inibidores da interações com
nucleosídeos transcriptase. EE ou
inibidores da Redução do progestagênios.
transcriptase EE.
Ritonavir
FONTE: MESQUITA (2016).

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Uso Combinado de Antibióticos e Contraceptivos Orais
Os primeiros relatos de possíveis interações medicamentosas entre
contraceptivos orais e antibióticos surgiram em 1971 (ANDERSON; SCHWARTZ;
LIEU, 2013), ano em que Reimers e Jezek constataram o aparecimento de hemorragias
intermenstruais em pacientes tratadas simultaneamente com COC e rifampicina. Outros
estudos identificaram relações entre essa combinação e a ocorrência de gravidezes não-
planejadas (DICKINSON et al., 2001).
Dentre os experimentos realizados nesse período, há relatos, em um primeiro
momento, de sangramento em 38 dentre 51 mulheres que ingeriram de forma
concomitante COs e rifampicina. No mesmo estudo, em um momento subsequente,
observou-se que um grupo de 88 pacientes que faziam tal uso associado, 66
apresentaram sangramento e 5 ficaram grávidas (ARCHER; ARCHER, 2002;
DEROSSI; HERSH, 2002).
Sendo uma das interações mais debatidas em relação a sua validade, outros
procedimentos de análise do tratamento simultâneo de mulheres com contraceptivos
orais e rifampicina foram relatados, a fim de associá-lo à perda de eficiência do COC e
consequente aumento do risco de gravidez (HERSH; MOORE, 2008). Apesar de os dois
tipos de medicamentos serem administrados e prescritos há anos, percebe-se ainda
grande limitação quanto à existência de dados fortes sobre as possíveis interações entre
eles (ANDERSON; SCHWARTZ; LIEU, 2013).
Em estudos clínicos realizados com pacientes tratadas com outras classes de
antibióticos fazendo o uso concomitante com contraceptivos orais, diversos tipos têm
sido apontados como prováveis contribuintes para a falha dos COCs, como a penicilina,
tetraciclina, metronidazol, ampicilina, eritromicina, cefalosporina, dentre outros
(MARTINS, 2013). Embora haja relatos de que não existem diferenças entre as taxas de
gravidez de mulheres que fazem o uso de contraceptivos associado a antibióticos
diferentes da rifampicina e daquelas que não o fazem (SIMMONS et al., 2018a), outros
apontam a existência de interações potenciais entre os dois tipos de medicamentos,
como apresentado no quadro 4.

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Quadro 4 - Classificação das interações medicamentosas entre antibióticos e
contraceptivos orais.
Classe Medicamento Interação
Improvável Cefalexina; Clindamicina; Inexistência de interação
interação Doxicilina; Minociclina; fundamentada. Em alguns casos,
Fenoximetilpenicilina; avalia-se a ocorrência de êmese e
Cloranfenicol; Neomicina. diarreia induzida por antibióticos.
Possível interação Rifabutina; Amoxicilina; Indução enzimática do metabolismo
Azitromicina; Eritromicina; microssomal hepático, aumentando o
Ampicilina; Tetraciclina; catabolismo dos hormônios
Penicilina; Metronidazol. estrogênicos e progestagênicos,
reduzindo os seus tempos de meia-
vida e eficácia do COC.
Alteração da flora intestinal eleva o
ciclo entero-hepático, diminuindo a
biodisponibilidade dos componentes
dos COCs e, consequentemente, sua
eficácia.
Êmese e diarreia induzidas implicam
na redução da absorção do COC.
Interação elucidada Rifampicina. O fármaco é classificado como indutor
potencial das enzimas CYP.
FONTE: TURCATO, CORREA (2016); SILVA et al. (2017).

A administração concomitante de COs e a rifampicina, medicamento utilizado


no tratamento da tuberculose, AIDS, meningite bacteriana e infecções estafilocócicas
(AMERICAN DENTAL ASSOCIATION COUNCIL ON SCIENTIFIC AFFAIRS et
al., 2002), dominam 75 % das interações elucidadas entre COs e antibióticos
(DEROSSI; HERSH, 2002). Os mecanismos propostos (Figura 2) para essas interações
incluem:

• Alteração da flora intestinal e consequente redução da circulação entero-hepática do


componente estrogênico;
• Indução das enzimas hepáticas que metabolizam os hormônios progestagênicos e
estrogênicos, estimulando sua degradação;
• Alteração nas ligações às proteínas transportadoras;
• Aumento da eliminação ou redução da absorção dos COCs, devido à possível
indução de vômito e diarreia pelos antibióticos (ANDERSON; SCHWARTZ; LIEU,
2013; ARCHER; ARCHER, 2002; DEROSSI; HERSH, 2002; DUTRA et al., 2013;
MARTINS, 2013; SUMMERS, 2008).

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Figura 2 - Mecanismo de ação dos COCs e possíveis interações com antibióticos.

FONTE: TURCATO; CORREA, 2016.

Sendo assim, elas podem ser classificadas como interações farmacocinéticas, em


razão da atividade do antibiótico poder interferir na absorção, metabolismo, distribuição
e excreção dos constituintes dos contraceptivos orais combinados (DICKINSON et al.,
2001; SOUZA et al., 2005; SUMMERS, 2008).
Os resultados de estudos clínicos são contraditórios: uns apontam a existência de
relação entre o uso de antibióticos e o aumento do risco de gravidez em pacientes
usuárias de COCs, enquanto outros a descartam (HOFFMANN et al., 2015). A redução
da eficiência contraceptiva pela rifampicina é cientificamente comprovada, por atuar
como potencial indutora das enzimas CYP, induzindo um aumento da taxa de
metabolismo hepático dos componentes dos COs, reduzindo os níveis séricos de
estrogênio e progestagênio (ARCHER; ARCHER, 2002; DEROSSI; HERSH, 2002;
DOS SANTOS et al., 2012; BACIEWICZ et al., 2013).
A administração do medicamento leva a um aumento da concentração das
proteínas transportadoras desses hormônios, como o PXR (Receptor Pregnano X),
elevando o grau de atividade das isoformas CYP3A4, que atuam no fígado e no
intestino, implicando na diminuição da fração hormonal ativa no organismo
(MARTINS, 2013; TURCATO; CORREA, 2016). Além disso, o fármaco é um ativador
de SHBG (globulina de ligação de hormônios sexuais), podendo causar uma redução
dos níveis plasmáticos de progestagênios livres e elevação da taxa de eliminação dos
componentes contraceptivos (DICKINSON et al., 2001).

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Alguns relatos acusam que a rifabutina apresenta interação farmacocinética
semelhante à causada pela rifampicina, quando seu uso é associado ao de COCs
(HERSH; MOORE, 2008; ANDERSON; SCHWARTZ; LIEU, 2013; MESQUITA,
2016; SIMMONS et al., 2018b). A exposição a curto prazo a esses medicamentos pode
causar degradação dos hormônios citados sem levar a falhas no seu efeito contraceptivo,
porém, como eles estão associados ao tratamento da tuberculose, ou seja, exposição a
longo prazo, podem ser responsáveis pela redução da eficácia contraceptiva e aumento
do risco de gravidezes não-planejadas (DEROSSI; HERSH, 2002).
Além do mecanismo de indução das enzimas CYP, as interações causadas pela
associação do uso de antibióticos e COCs podem envolver o aumento da excreção fecal
dos componentes destes, motivado pela redução das bactérias constituintes da flora
intestinal como resultado do metabolismo dos antibióticos (TURCATO; CORREA,
2016; SILVA et al., 2017). Dessa forma, a circulação entero-hepática dos estrogênios é
reduzida, provocando a diminuição das concentrações de hormônios ativos circulantes.
Esse mecanismo explica interações que envolvem COCs, não abrangendo aqueles
constituídos por apenas componentes progestagênicos, em decorrência dos seus
metabólitos inativos não serem excretados na bile para posterior procedimento de
hidrólise (SILVA et al., 2017; TURCATO; CORREA, 2016).
Para os antibióticos diferentes das rifamicinas (rifampicina e rifabutina), muitos
utilizados nos tratamentos odontológicos e dermatológicos, os mecanismos de interação
com contraceptivos orais combinados mais elucidados envolvem a alteração da
microbiota intestinal (DE SOUZA et al., 2005; TURCATO; CORREA, 2016); não
sendo apresentados casos clínicos de indução enzimática do citocromo P450 por
antibióticos empregados na medicação odontológica (DEROSSI; HERSH, 2002;
HERSH; MOORE, 2008).
Os mecanismos de interação entre COCs e outros antibióticos (além da
rifampicina), ainda não é clara. Assim, até que mais informações estejam disponíveis, os
profissionais da saúde avaliem cautelosamente as situações específicas de cada paciente
(HOFFMANN et al., 2015) e as conscientizem acerca das possíveis interações as quais
estão sujeitas (MARSHALL; KANDAHARI; RAINE-BENNETT, 2018; SIMMONS et
al., 2018b).
Além disso, é aconselhável que métodos contraceptivos adicionais (diafragma,
preservativos, espermicidas) sejam empregados durante o tratamento associado e no
decorrer dos sete dias subsequentes (DE SOUZA et al., 2005; MESQUITA, 2016;

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TURCATO; CORREA, 2016), principalmente se a utente apresentar quadros de
vômitos, diarreia, distúrbios gastrointestinais ou irregularidades menstruais
(ANDERSON; SCHWARTZ; LIEU, 2013), sintomas muitas vezes decorrentes do uso
concomitante de antibióticos e COC’s (SUMMERS, 2008), o que aumenta o risco de
perda da eficácia contraceptiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os COs hormonais são muito eficazes quando utilizados de maneira correta.
Contudo, podem ter eficiência comprometida caso sejam administrados de forma
associada ao tratamento com outros fármacos, dentre eles os antibióticos. Estes podem
alterar a farmacocinética do mecanismo de ação dos COCs em diferentes graus,
dependendo do tipo de antibiótico administrado, da duração do prazo de tratamento e da
variabilidade da concentração dos componentes dos contraceptivos orais entre as
pacientes, principalmente.
A maior parte dos estudos clínicos acerca desse tipo de interação medicamentosa
envolvem a rifampicina, utilizada no tratamento da tuberculose. Outros antibióticos
foram elucidados, porém há limitações quanto às possíveis interações que podem
ocorrer durante o seu uso concomitante com COCs. Podem ser elas: indução das
enzimas hepáticas que metabolizam os componentes contraceptivos e alteração da
microbiota intestinal, reduzindo a sua absorção e aumentando a sua excreção.
A perda da eficiência contraceptiva pode ter como consequências sangramentos
intermenstruais, além de gravidezes não-planejadas. Por isso, destaca-se a importância
do papel do profissional da saúde no atendimento, avaliação, prescrição, e informação
prestados, a fim de que as pacientes usem corretamente os medicamentos adequados à
sua situação específica e, estando cientes das possíveis interações medicamentosas às
quais estão sujeitas, possam ter maior controle sobre os resultados do seu planejamento
familiar.

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CAPÍTULO 09
PREVENÇÃO DAS NÁUSEAS E
VÔMITOS EM PACIENTES
SUBMETIDOS A QUIMIOTERAPIA*

Vanessa Reis Castanheira


Graduado em Farmácia e Pós-Graduanda em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Dalton Souza Mamede Filho


Professor Universitário, Farmacêutico,
Especialista em Docência no Ensino Superior.

Jhonathan Gonçalves da Rocha


Mestre, docente do INPÓS

Diogo Marçal Machado de Oliveira


Mestre, docente do INPÓS

Yara Bandeira Azevedo de Alencar


Professora Universitária, Farmacêutica/Bioquímica,
Mestre, Diretora Geral da Empresa INPÓS

Ludimila Cristina Souza Silva


Doutora, Professora Curso de Especialização em
Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do INPÓS.

* Artigo científico apresentado à especialização em


Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica.

RESUMO: O esquema quimioterápico, o paciente chega a ter de 40 a 50 episódios de


vômitos. Isso acontece com aproximadamente 80 % dos casos. Náuseas e vômitos em
pacientes submetidos à quimioterapia, são efeitos colaterais que provocam desconforto
no tratamento oncológico, levando esse paciente a qualidade de vida negativa e
marcante. O objetivo deste estudo é o manejo, a prevenção e o tratamento das náuseas e
vômitos induzidos pela quimioterapia antineoplásica, evitando o desconforto e
desistência, dando continuidade ao tratamento. Os dados foram obtidos através da busca
em bases de dados virtuais em saúde, como BVS, LILACS e SCIELO. Através da
análise dos dados observou-se que a terapia antiemética tem como meta diminuir ou até
mesmo prevenir o surgimento dos efeitos colaterais da quimioterapia. Com isso, torna-
se necessário avaliar, se os antieméticos são eficazes no tratamento da êmese
proveniente da quimioterapia antineoplásica.
PALAVRAS-CHAVE: Antieméticos; Êmese; Tratamento; Desistência

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ABSTRACT: The chemotherapic scheme, the patient has 40 to 50 episodes of
vomiting. This happens in approximately 80% of cases. Nausea and vomiting in patients
undergoing chemotherapy are side effects that cause discomfort in cancer treatment,
leading to a negative and marked quality of life. The objective of this study is to manage
the prevention and treatment of nausea and vomiting induced by antineoplastic
chemotherapy, avoiding discomfort and withdrawal, giving continuity to treatment. This
is a scientific study. Data were obtained through the search of virtual health databases,
such as BVS, MEDLINE and SCIELO. Through data analysis it was observed that
antiemetic therapy aims to decrease or even prevent the onset of side effects of
chemotherapy. Thus, it is necessary to evaluate whether antiemetics are effective in the
treatment of emesis induced by antineoplastic chemotherapy.
KEYWORDS: Antiemetics; Emesi; Treatment; Dropout.

INTRODUÇÃO
Câncer é o definido como um conjunto de mais de 100 doenças que agrupam
entre si características de crescimento desordenado de células, que invade tecidos e
órgãos. Dividindo-se descontroladamente, estas células tendem a ser muito agressivas e
incontroláveis, determinando a formação de tumores, que podem espalhar-se para outras
regiões do corpo (INCA 2018).
Quando começam em tecidos epiteliais, como pele ou mucosas, são
denominados carcinomas. Se o ponto de partida são os tecidos conjuntivos, como osso,
músculo ou cartilagem, são chamados sarcomas. Outras características que diferenciam
os diversos tipos de câncer entre si são a velocidade de multiplicação das células e a
capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes, conhecida como metástase
(INCA 2018).
Assim como os sintomas, os exames para diagnosticar o câncer variam
dependendo do tipo e da localização do tumor. Os testes mais comuns incluem: biópsia
do tumor, exames de sangue (que buscam por substâncias químicas como marcadores
tumorais); biópsia da medula óssea (para linfoma ou leucemia), radiografia torácica,
hemograma completo, tomografia computadorizada e ressonância magnética
(CAPONERO,2017).
A maioria dos cânceres é diagnosticada por meio de biópsia. Dependendo da
localização do tumor, a biópsia pode ser um simples procedimento ou uma cirurgia
complexa. A maioria dos pacientes com câncer passam por tomografias
computadorizadas para determinar a localização e o tamanho exato do(s) tumor(es)
(CAPONERO,2017).

FARMÁCIA CLÍNICA & PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA – ISBN 978-65-87580-04-3 142


A quimioterapia é uma modalidade terapêutica imprescindível para o câncer,
representada pelo emprego de substâncias químicas isoladas, ou em combinação, que
interferem no processo de crescimento e de divisão celular, destruindo às células
tumorais. Os quimioterápicos também agredem as células normais, que possuem
características semelhantes (GUIMARÃES, 2015).
Atualmente, a quimioterapia é, entre as modalidades de tratamento, a que possui
maior incidência de cura em diversos tumores, e a que mais aumenta a sobrevida do
portador de câncer. Pode-se classificá-la em quimioterapia neoadjuvante, quando
administrada antes de um procedimento cirúrgico, com os objetivos de avaliar a
resposta antineoplásica e de reduzir o tumor; e, em quimioterapia adjuvante,
administrada após o tratamento cirúrgico, com a finalidade de erradicar possíveis
micrimetástases (GUIMARÃES, 2015).
Os efeitos colaterais da quimioterapia apesar de temporários são bastante
desagradáveis e podem ser exacerbados nos casos em que a quimioterapia e radioterapia
são aplicadas simultaneamente. Alguns desses efeitos são bastante previsíveis,
variando apenas sua intensidade de pessoa para pessoa (FONSECA, 2000).
Outros ocorrem em consequência da sensibilidade individual,
manifestando-se em pequeno número de pacientes. O conhecimento dessas reações se
faz necessário pra que se possam ter subsídios para prestar assistência de
enfermagem adequada a esses pacientes, visando a melhoria da qualidade de vida,
muitas vezes prevenindo possíveis complicações decorrentes do tratamento
(FONSECA, 2000).
A incidência de náuseas e êmeses está relacionada primariamente com o próprio
potencial emético das drogas, alternando desde muito alto, quando provocam vômitos
em mais de 90% dos pacientes, até potencialmente baixo, que ocasionam menos de
10%. Também está associada a variações como sexo, idade, ansiedade, consumo de
álcool, radioterapia no trato gastrintestinal e expectativa de desenvolvimento de náuseas
e vômitos (GOZZO, 2013).
Fatores relacionados ao quimioterápico que podem influenciar na ocorrência
destes eventos são: a própria droga utilizada, a dose, a combinação de drogas, a via, a
velocidade de administração e o número de ciclos recebidos. Os antieméticos são
medicamentos que possuem como característica principal o alívio dos sintomas
relacionados com o enjoo, as náuseas e os vômitos, e são normalmente prescritos como
terapia adjuvante a quimioterapia (GOZZO, 2013).

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A êmese prolongada leva à exaustão, desidratação, hiponatremia, hipocloremia
e, quando severa, até mesmo alcalose, devido à perda exacerbada do ácido
clorídrico gástrico. Nesses casos, faz-se necessário o uso de antieméticos, que podem
agir tanto localmente, diminuindo a irritação gástrica, como no Sistema Nervoso Central
(SNC). Cada tratamento quimioterápico necessita de medicamentos antieméticos
adequados, porém, nem sempre esses antiemeticos são os corretos para o determinado
tratamento, podendo haver gastos desnecessários com esses medicamentos (HUGHES,
2016).

Alguns fármacos inovadores demonstram resutados mais cômodos e toleráveis.


No entanto, as doses dos medicamentos são caras e não englobam algumas portarias
imprescindíveis para a implementação no Sistema Único de Saúde (SUS)
(HARGREAVES, 2011; NARDIN, 2019). Fámacos alternativos, como derivados
canabinoides, também têm sido propostos, mas ainda sem implementação ampla no
Brasil (BECKER, NARDIN, 2011). Diante desse contexto, o objetivo desse estudo é
indicar à prevenção e o tratamento das náuseas e vômitos induzidos pela quimioterapia
antineoplásica, evitando o desconforto e desistência, dando continuidade ao tratamento.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, a qual refere-se a um método
que analisa e sintetiza as pesquisas de maneira sistematizada, e contribui para
aprofundamento do tema investigado, e a partir dos estudos realizados separadamente e
possível construir uma única conclusão, pois foi investigado problemas idênticos ou
parecidos (MENDES, 2008). A questão norteadora do presente estudo foi: “As náuseas
e vômitos em pacientes submetidos à quimioterapia podem ser controladas por
antieméticos?”.
O estudo foi realizado por meio de busca online das produções científicas
nacionais sobre o manejo das náuseas e vômitos em pacientes submetidos à
quimioterapia, no período de 2000 a 2018. A obtenção dos dados ocorreu através de
buscas processadas por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo utilizadas
principalmente as bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Os descritores
utilizados para a busca foram: náuseas, vômitos, quimioterapia, antieméticos, êmese.

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Para a realização de uma pesquisa bibliográfica de qualidade, o primeiro passo é
localizar a terminologia autorizada e reconhecida mundialmente. O descritor controlado
é parte de um vocabulário estruturado e organizado para facilitar o acesso à informação.
Esses vocabulários são usados como uma espécie de filtro entre a linguagem utilizada
pelo autor e a terminologia da área (PELIZZON, 2004).
Foram considerados os seguintes critérios de inclusão: estudos que abordaram o
câncer, a quimioterapia e seus efeitos e o manejo de antiemeticos, sem limite de data de
publicação, publicados no idioma português. Foram excluídos artigos que não
responderam à pergunta norteadora. O acesso à base de dados e a coleta de dados foram
realizados em novembro de 2018. Em seguida todos os estudos foram lidos na íntegra.
Após a leitura na íntegra de cada um dos artigos, foi preenchido um instrumento,
elaborado pelas autoras contendo: identificação do artigo, ano e país de publicação,
idioma, tipo de instituição onde foi realizado o estudo, metodologia empregada, nível de
evidência e o objetivo é analisar se os antiemeticos são eficazes na prevenção do
tratamento da êmese induzida pela quimioterapia antineoplásica promovendo ao
paciente alivio no árduo tratamento contra a êmese.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 28 artigos. No entanto, apenas 23 artigos foram utilizados,
por atender aos critérios de inclusão do estudo. O ano com maior índice de publicação
foi 2017 com (16,66%) e o ano que teve menor índice de publicação foi 2000, com
(4,16%). A distribuição dos artigos selecionados por título, autor, ano e periódico
publicado encontra-se no quadro 1.

Quadro 1 – Distribuição ordenada dos trabalhos selecionados quanto ao ano, autores,


periódico e título.
n Ano Autores Titulo
INCA-Instituto Nacional do O que é câncer?
1 2018 Câncer - gov.br/

Câncer, sintomas, tratamentos e


2 2017 Ricardo Caponero, et al causas
Câncer: sintomas, tratamentos e
3 2017 Ricardo Caponero, et al causas

4 2015 Rita de Cássia Ribeiro Guimarães, Ações de enfermagem frente às


reações de quimioterápicos em

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pacientes oncológicos
Manual de quimioterapia
5 2000 Fonseca; Almeida; Massunaga
antineoplásica.
Náuseas, vômitos e qualidade
de vida de mulheres com
6 2013 Thais de Oliveira Gozzo
câncer de mama em tratamento
quimioterápico
Manejo da Êmese em uma
7 2014 Raquel G. Lima Almeida Unidade Oncológica

Antieméticos
Débora Carvalho Meldau
8 -

Avaliação do uso de
9 2016 Hughes; Shead, Ragghianti
antieméticos em quimioterapia
Development of aprepitant, the
first neurokinin-1 receptor
antagonist for the prevention of
Hargreaves R, Ferreira JCA,
chemotherapy-induced nausea
2011 Hughes D
10 and vomiting
Olver I, Shelukar S, Thompson
Nanomedicines in the
KC
treatment of emesis during
chemotherapy: focus on
aprepitant. Int J Nanomedicine
Estudo da utilização de
antieméticos em pacientes
Faccin ACB, Andrzejevski VMS, adultos em tratamento com
11 2008 Nardin JM anti-neoplásicos de alto
potencial emético no Hospital
Erasto Gaertner.

Utilização de antieméticos no
Becker J
12 2019 tratamento antineoplásico de
Nardin JM
pacientes oncológicos.
13 2004 Rosely de Fátima Pellizon Pesquisa na área de Saúde
Diretriz da Sociedade
Kris, Hesketh, Somerfield Americana de Oncologia
14 2006
Clínica para antieméticos em
oncologia: atualização
Karen Cristiane Ragghianti Avaliação do uso de
15 2017
antieméticos em quimioterapia
Karen Cristiane Ragghianti Avaliação do uso de
16 2017
antieméticos em quimioterapia
Estudo da utilização dos
Ana Angélica Martins Costa, et antieméticos em um hospital
17 2009 al. público

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Hévila Maciel Queiroga et al. Avaliação de náusea e êmese
em pacientes sob quimioterapia
18 2017 em uma Unidade de Alta
Comp. S. de V. da
Conquista/BA

Lewaschiw, E.M.; Pereira, I.A. & Ondansetrona oral na


19 2005 Amaral, J.L.G prevenção de náuseas e
vômitos pós-operatórios.

Aval. de náusea e êmese em


pacientes sob quimioterapia em
20 2017 Karen Cristiane Ragghianti
uma Unid. de Alta Comp. S. de
V. da Conquista / BA-

O manejo da Êmese em uma


Raquel Guedes Lima Almeida et unid. oncológica: a necessidade
21 2015 de interv. farmacêutica em
al
tempo real.

Uso de antieméticos no trat. de


Maria Cândida Ramos de náuseas e vômitos em
22 2011
Castilhos pacientes oncológicos.

José Zago Pulido, Sabina Oncologia baseada em provas


23 2005 Bandeira Aleixo

Segundo uma pesquisa em que foi abordado o impacto da náusea e do vômito na


qualidade de vida de pacientes em tratamento de quimioterapia, apontaram que os
sintomas de fadiga, náuseas e vômitos foram aqueles de maior impacto na qualidade de
vida dos pacientes submetidos à quimioterapia, quando comparados à qualidade de vida
do paciente antes do tratamento (RAGGHIANTI,2017).
A partir dos dados obtidos no setor de quimioterapia pôde-se constatar que a
maioria dos agentes quimioterápicos são administrados como parte de várias
combinações, confirmando o que foi encontrado na literatura, pois, segundo
KOROLKOVAS, as associações de antineoplásicos proporcionam geralmente
resultados melhores que a monoterapia, com redução dos efeitos tóxicos, aumento da
ação antineoplásica e retardamento do início da resistência (COSTA et al., 2009).
A identificação do melhor tratamento antiemético na prevenção de náuseas e
vômito nos processos cirúrgicos tem sido objetivo de vários estudos científicos, sendo
constatado que outros antieméticos apresentam melhor segurança e efetividade que a

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metoclopramida. Das múltiplas possibilidades existentes, a ondansetrona, pela
efetividade e menores efeitos colaterais, encontra-se entre os agentes mais largamente
empregados no controle de Náuseas e Vômitos no Pós-Operatório (NVPO). Apesar de
apresentar resultado mais eficaz que a metoclopramida, o custo elevado das preparações
intravenosas de ondansetrona tem ainda limitado sua utilização (LEWASCHIW, 2005).
As drogas quimioterápicas com potencial emetogênico devem seguir esquema
antiemético específico ao seu nível (RAGGHIANTI, 2017). Todo o esquema
quimioterápico deve abranger a consideração pela toxicidade do mesmo, adequando-se
a cada paciente (KRIS; HESKETH; SOMERFIELD, 2006; QUEIROGA, 2017). Ainda
assim, apesar da ampla gama de medicamentos antieméticos disponíveis, nem sempre
eles são utilizados de forma adequada (ALMEIDA, 2015).
Atualmente, tem-se, no mercado, diversos antieméticos têm sua eficácia
comprovada, porém o uso inadequado destes, além de aumentar o surgimento de
reações adversas, eleva o custo para as instituições devido ao excesso de medicamentos
desnecessários para o tratamento desta patologia. Assim, torna-se imprescindível o
conhecimento do grau emetogênico dos antineoplásicos, ou a sua determinação em
casos de combinações de fármacos, para a adequada escolha dos antieméticos
(CASTILHO, 2011).
Torna-se importante também considerar o aperfeiçoamento profissional e
atualização dos guias de utilização dos medicamentos (guidelines). Assim, garante-se o
melhor tratamento para cada paciente de maneira eficaz e efetiva (PULIDO, ALEIXO,
2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No tratamento de quimioterapia, o paciente chega a ter de 40 a 50 episódios de
vômitos. Isso acontece com aproximadamente 80% dos casos. Hoje, existem vários
recursos medicamentosos para diminuir esses eventos de enjoo e êmese. Alguns
medicamentos são mais caros, dificultando o acesso a pacientes submetidos ao
tratamento pela rede pública.
Até a década de 90, os medicamentos mais usados eram os da classe dos pró-
cinéticos, depois, os antieméticos, antipsicóticos, benzodiazepínicos, corticoides, anti-
histamínicos, antiespasmódicos, podendo associá-los e obter bons efeitos terapêuticos.
E por último, os agentes canabinóides, estão sendo muito úteis, com resultados bem
revolucionários, Isso vai de cada caso ou tipo de câncer. Portanto, acredita-se que o

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paciente pode aderir mais ao tratamento quando o acompanhamento for feito pelo uso
correto e adequado destes medicamentos.

REFERÊNCIAS

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pacientes oncológicos – Revista Bras. Hosp. Serv. Saúde. v. 2, n.3, p.18-22, 2011.

CASTILHOS, Maria Cândida Ramos De, et al. Uso De Antieméticos No Tratamento


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FARMÁCIA CLÍNICA & PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA – ISBN 978-65-87580-04-3 150


CAPÍTULO 10

OS EFEITOS DO USO DO TOPIRAMATO


NO TRATAMENTO DE ENXAQUECAS*

Cintya Lorena de Oliveira Neves


Graduado em Farmácia e Pós-Graduanda em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo INPÓS

Dalton Souza Mamede Filho


Professor Universitário. Farmacêutico, Especialista em
Docência no Ensino Superior

Jhonathan Gonçalves da Rocha


Mestre, docente do INPÓS

Diogo Marçal Machado de Oliveira


Mestre, docente do INPÓS

Yara Bandeira Azevedo de Alencar


Professora Universitária, Farmacêutica/Bioquímica,
Mestre, Diretora Geral da Empresa INPÓS

Ludimila Cristina Souza Silva


Doutora, Professora do Curso de Especialização
em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do INPÓS.

Ludimila Cristina Souza Silva


Doutora em Ciências da Saúde. Mestra em Enfermagem.
Especialista em Unidade de Terapia Intensiva

* Artigo científico apresentado à especialização em


Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica.

RESUMO: A enxaqueca é uma doença que afeta grande parcela da população,


ocasionando alto grau de incapacidade e, por isso, afeta a qualidade de vida das pessoas.
O objetivo deste estudo é avaliar os efeitos do uso do topiramato no tratamento de
enxaquecas. Trata-se de um estudo feito através de pesquisa bibliográfica, com
levantamento de dados através de artigos, publicações em revistas cientificas e
dissertações. A pesquisa bibliográfica teve abordagem por meio do método
exploratório. Os dados foram obtidos através da busca em bases de dados virtuais em

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saúde, como Saúde (BVS), sendo utilizadas principalmente as bases de dados:
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific
Eletronic Library Online (SciELO). Através da análise dos dados observou-se que a
enxaqueca requer das famílias, dos profissionais de saúde e principalmente do paciente
esforços conjuntos para que a qualidade de vida possa ser atingida e o tratamento possa
ser satisfatório, a fim de reduzir a gravidade e a frequência das crises. Com isso torna-se
necessário os tratamentos farmacológicos profiláticos, dentre esses tratamentos, o
topiramato é uma opção.
PALAVRAS-CHAVE: Migrânea, Tratamento Profilático, Medicações.

ABSTRACT: Migraine is a disease that affects a large portion of the population,


causing a high degree of disability and, therefore, affects people's quality of life. The
aim of this study is to evaluate the effects of topiramate use on migraine treatment. This
is a study made through bibliographic research, with data collection through articles,
publications in scientific journals and dissertations. The bibliographic research was
approached through the exploratory method. Data were obtained by searching virtual
health databases, such as Health (VHL), using mainly the databases: Latin American
and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS), Scientific Electronic Library
Online (SciELO). Through the analysis of the data it was observed that migraine
requires from families, health professionals and especially the patient joint efforts so
that the quality of life can be achieved and the treatment can be satisfactory in order to
reduce the severity and frequency. of crises. Thus, prophylactic pharmacological
treatments are necessary, among these treatments, topiramate is an option.
KEYWORDS: Migraine, Prophylactic Treatment, Medications.

INTRODUÇÃO
Enxaqueca
Enxaqueca é um distúrbio de alta prevalência, com importantes repercussões nas
atividades cotidianas dos indivíduos. É causada por vários fatores, caracterizada por
episódios recorrentes de cefaleia, náuseas, vômitos e em alguns pacientes, sintomas
neurológicos de aura (foto e fonofobia). Estudos epidemiológicos têm documentado alta
ocorrência de enxaqueca, afetando de 12% a 15% da população geral. A enxaqueca se
inicia com a neuroinflamação de nociceptores meníngeos, sensibilizando neurônios
periféricos e subsequentemente resultando em hiperexcitabilidade do sistema nervoso
central (WANNMACHER, 2011).
As tentativas de aliviar o sofrimento causado pela enxaqueca alcançam milênios
e abrangem desde tratamentos primitivos, como trepanação do crânio, até o uso de
medicamentos cada vez mais específicos que atuam sobre subtipos de receptores
envolvidos na fisiopatologia da enxaqueca (BIGAL; KRYMCHANTOWSKI; HO,
2009).

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Tratamento
Para os tratamentos preventivos em enxaqueca crônica têm sido testados
medicamentos como: Topiramato, Gabapentina, Tizanidina e Toxina botulínica de tipo
A. E para o tratamento não medicamentoso inclui a alimentação e atividade física
(WANNMACHER, 2011). Estudos epidemiológicos têm mostrado que a enxaqueca tem
ocasionado elevados impactos socioeconômicos, pois vários são os fatores limitantes a
enxaqueca: predisposição familiar, estresse, ingestão de álcool (principalmente o vinho
tinto), fumo, falta de alimentação e sono, odores e perfumes, menstruação, variações
climáticas, e uso de contraceptivos orais (NAGEL; OBERMANN, 2010).
Os pacientes com dores de cabeça frequente, raramente respondem as
medicações preventivas, pois geralmente fazem o uso excessivo de medicamentos sendo
uma informação clinicamente importante para o diagnóstico e tratamento. Por isso o
tratamento da enxaqueca deve ser personalizado, ou seja, faz-se necessário tratar o
enxaquecoso e não a enxaqueca propriamente dita (CHAVES, 2009).
Considerando que o homem sempre procurou aliviar a dor, conforme abordado
em alguns registros históricos, e que alguns psicofármacos da classe dos
anticonvulsivantes, como o topiramato e a gabapentina, podem ser utilizados com
finalidade analgésica, é de grande importância um estudo que revise a fisiopatologia de
processos dolorosos, como a dor neuropática e a enxaqueca, e os mecanismos de ação,
os efeitos colaterais dos fármacos citados, tanto na profilaxia como no tratamento desses
processos (CAMPESATTO; 2012).

O uso do Topiramato
No final da década de 90 apareceram os estudos demonstrando a eficácia e a
tolerabilidade do Topiramato para o tratamento preventivo da enxaqueca. Considerado
como novo agente farmacológico, atualmente seu uso tem sido recomendado tanto para
a prevenção da migrânea episódica como para a migrânea crônica transformada em
cefaleia crônica diária (KRYMCHANTOWSKI, 2004).
Esse anticonvulsivante possui estrutura química individual, foi sintetizado a
partir de um projeto de pesquisa para descobrir substâncias análogas à frutose 1,6-
disfosfato inibidores do processo de gliconeogênese. Sua cadeia estrutural apresenta
semelhanças com um radical químico existente na molécula de acetazolamida e isso
desencadeou o interesse pela possibilidade do Topiramato exercer ação antiepilética
(KRYMCHANTOWSKI, 2004).

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Além disso, a ação múltipla do Topiramato em canais de voltagem de cálcio,
sódio e nos receptores GABAa e Kainato/AMPA também despertou o interesse pela
possibilidade de sua utilização e prevenção da migrânea (KRYMCHANTOWSKI,
2004). Os anticonvulsivantes, especialmente o Topiramato, tem sido avaliado no
tratamento preventivo da enxaqueca crônica demonstrando modestos benefícios e
redução na frequência mensal de crises (WANNMACHER, 2011).

Efeitos adversos do uso de Topiramato


A presença de efeitos adversos tais como: parestesia, fadiga, náuseas e diarreia
foram as principais causas de suspensão do tratamento com o Topiramato, mas a
diminuição da dose de forma mais lenta e gradual pode possibilitar a manutenção da
terapêutica (CAMPESATTO, 2012). Os efeitos mais comuns incluem sedação,
sonolência, anorexia, perda de pelo, tontura, ataxia, visão dupla e efeitos cognitivos,
como dificuldade para evocação de palavras, raciocínio lento, dificuldade de
concentração e memória (YACUBIA, 2002). Em alguns casos podendo ainda ocasionar
cálculos renais, decorrentes da inibição da anidrase carbônica (McNAMARA, 2006).
Portanto o objetivo deste estudo é identificar através da revisão da literatura os
efeitos do uso do topiramato no tratamento de enxaqueca e destacar os cuidados com a
prescrição desse fármaco.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, a qual refere-se a um método
que analisa e sintetiza as pesquisas de maneira sistematizada, e contribui para
aprofundamento do tema investigado, e a partir dos estudos realizados separadamente é
possível construir uma única conclusão, pois foi investigados problemas idênticos ou
parecidos (MENDES, 2008). A questão norteadora do presente estudo foi: “O uso do
topiramato é eficiente no tratamento da enxaqueca?”.
O estudo foi realizado por meio de busca online das produções científicas
nacionais sobre os efeitos do uso do topiramato no tratamento de enxaquecas. A
obtenção dos dados ocorreu através de buscas processadas por meio da Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS), sendo utilizadas principalmente as bases de dados: Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic
Library Online (SciELO). Os descritores utilizados para a busca foram: Topiramato,
enxaqueca, tratamento.

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Para a realização de uma pesquisa bibliográfica de qualidade, o primeiro passo é
localizar a terminologia autorizada e reconhecida mundialmente. O descritor controlado
é parte de um vocabulário estruturado e organizado para facilitar o acesso à informação.
Esses vocabulários são usados como uma espécie de filtro entre a linguagem utilizada
pelo autor e a terminologia da área (PELIZZON, 2004).
Foram considerados os seguintes critérios de inclusão: estudos que abordaram o
uso do Topiramato no tratamento da enxaqueca, sem limite de data de publicação;
publicados no idioma de língua portuguesa. Foram excluídos artigos que não
responderam à pergunta norteadora. O acesso à base de dados e a coleta de dados foram
realizados em julho de 2018 a julho de 2019. Em seguida todos os estudos foram lidos
na íntegra.
Após a leitura na íntegra de cada um dos artigos, foi preenchido um instrumento,
elaborado pelas autoras contendo: identificação do artigo, ano e país de publicação,
idioma, tipo de instituição onde foi realizado o estudo, metodologia empregada, nível de
evidência e buscando argumentos que justificam a eficácia do topiramato no tratamento
da enxaqueca.
A avaliação do nível de evidência foi classificada em: Nível I – revisões
sistemáticas ou metanálise de relevantes ensaios clínicos; Nível II – evidências
derivadas de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado;
Nível III – ensaios clínicos bem delineados sem randomização; Nível IV – estudos de
coorte e de caso-controle bem delineados; Nível V – revisão sistemática de estudos
descritivos e qualitativos; Nível VI – evidências derivadas de um único estudo
descritivo ou qualitativo e Nível VII – opinião de autoridades ou relatório de comitês de
especialistas. As evidências pertencentes aos níveis I e II são consideradas fortes, de III
a V evidências moderadas e VI e VII evidências fracas (MILANI et al., 2011).

RESULTADOS e DISCUSSÃO
Foram encontrados 16 artigos, porém somente 5 artigos foram utilizados, pois
atenderam aos critérios de inclusão do estudo. O ano que mais publicou foi o ano 2012 e
o ano que teve menor índice de publicação foi 2005 e 2006, conforme exposto no
quadro 1.

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Quadro 1 – Distribuição ordenada dos trabalhos selecionados quanto ao ano, autores,
periódico e título.

n Ano Autores Periódico Titulo


Influência de tratamentos
Stefane,T.
REBEn – Revista para enxaqueca na
Napoleão, A.A.
1 2012 Brasileira de qualidade de vida: revisão
Sousa, F.A.E.F.
Enfermagem. integrativa de literatura.
Hortenese, P.

Uso de gabapentina no
tratamento da dor
Campesatto, E.A. Revista Saúde e
2 2012 neuropática e do topiramato
Marques, C.E.B.S. Desenvolvimento.
na enxaqueca.

Tratamento de enxaqueca
3 2011 Wannmacher, L. Horús. OPAS escolhas racionais.

Conhecendo sobre as
Chaves, A.C.P. enxaquecas.
Revista Saúde e
4 2009 Mello, J.M.
Pesquisa.
Gomes. C.R.G.

Topiramato no tratamento
Krymchantowski A.V. preventivo da migrânea:
5 2004 Tavares, C. Penteado, SciELO Brasil. Experiência em um centro.
J.C . Adriano. M. terciário.

Quanto à metodologia de pesquisa utilizada, 100,0% dos artigos são estudos


descritivos, a maioria com abordagem quantitativa e classificados com nível V e VI de
evidência.
A análise revela que pacientes com episódios frequentes de enxaqueca requerem
tratamento preventivo e as drogas utilizadas nos últimos trinta anos incluem o
topiramato, que é um medicamento anticonvulsivante com múltiplos mecanismos de
ação, eficaz no tratamento da epilepsia e na profilaxia (prevenção) das crises de
enxaqueca.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tratamento das cefaleias nas crises de enxaqueca deve ser avaliado de forma
individual, levando-se em conta o estilo de vida de cada paciente, pois o objetivo do

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tratamento da enxaqueca é diminuir o impacto da dor de cabeça na qualidade de vida do
enxaquecoso, por isso o paciente precisa entender que o tratamento não vai eliminar
crises, mas diminuir a intensidade e a quantidade das mesmas; é importante que o
paciente reconheça os fatores desencadeantes das crises, pois o mesmo poderá adotar
medidas preventivas, como mudanças no estilo de vida com horários fixos para o sono,
dietas com diminuição e até a eliminação de algumas substâncias.
As classes de medicamentos mais utilizados para o tratamento profilático são os
antidepressivos tricíclicos como a amitriptilina, nortriptilina, e os anticonvulsivantes
como: divalproato de sódio, gabapentina e o topiramato. Como as crises frequentes de
enxaqueca requerem tratamento preventivo, os estudos revelaram que os
anticonvulsivantes têm sido recomendados baseados na importância progressiva da
hiperexcitabilidade cortical na fisiopatologia da migrânea.
Diante dos estudos realizados ficou evidente que o uso do topiramato que é um
medicamento utilizado no tratamento de convulsões, apresentou ótimos resultados no
tratamento da enxaqueca. A pesquisa revelou também que os medicamentos muitas
vezes não são totalmente eficazes sem modificações no estilo de vida e comportamental
do paciente. É nessa perspectiva que o profissional farmacêutico clínico é de
fundamental importância, pois irá auxiliar esses pacientes, sobre a importância de seguir
um tratamento medicamentoso, aliados com dietas e atividades físicas, orientados
também por outros profissionais da área.

REFERÊNCIAS
BIGAL, M.E., KRYMCHANTOWSKI, AV., HO, T. Migraine in the triptan era. Arq.
Neuropsiquiatr., v. 67, n. 2-B, p. 559-569, 2009.
CAMPESATTO, E.A.; MARQUES, C.E.B. S. Uso de gabapentina no tratamento da dor
neuropática e do topiramato na enxaqueca. Revista Saúde e Desenvolvimento, v. 2, n.
1, p. 08-19, 2012.
CHAVES, ACP., MELLO, JM., GOMES CRG.. "Conhecendo sobre as
enxaquecas." Saúde e Pesquisa, v. 2, n. 2, p. 265-271, 2009.
KRYMCHANTOWSKI, AV.; TAVARES, C.; PENTEADO, JC. e ADRIANO,
M. Topiramato no tratamento preventivo da migrânea: experiência em um centro
terciário. Arq. Neuro-Psiquiatr., v. 62, n. 1, p.91-95, 2004.
McNAMARA, J.O. Farmacoterapia das epilepsias. In: BRUNTON, L.L.; LAZO, J.S.;
PARKER, K. L. Goodman & Gilman: as bases farmacológicas da terapêutica. 11. ed.
Rio de Janeiro: McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2006. cap. 19.

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MENDES, K.D.S.; SILVEIRA, R.C.; GALVAO, C.M. Revisão integrativa: método de
pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto contexto
- enferm., v. 17, n. 4, p.758-764, 2008.
MILANI, R.M.; CANINI, S.R.M.S.; GARBIN, L,M.; TELES, S.A.; GIR, E.;
PIMENTA, F.R. Imunização contra hepatite B em profissionais e estudantes da área da
saúde: revisão integrativa. Rev. Eletr. Enf., v. 13, n. 2, p. 323-330, 2011.
NAGEL, S.; OBERMANN, M. Topiramate in the prevention and treatment of migraine:
efficacy, safety and patient preference. Neuropsychiatric Disease and Treatment, v.
6, p. 17-28, 2010.
PELLIZZON, R.F. Pesquisa na área da saúde: 1. Base de dados DeCS (Descritores em
Ciências da Saúde). Acta Cir. Bras., v. 19, n. 2, p. 153-163, 2004.
STEFANE, T.; NAPOLEÃO, A.A.; SOUSA, F.A.E.F.; HORTENESE, P. Influencia de
tratamentos para enxaqueca na qualidade de vida: revisão integrativa de literatura.
Revista Brasileira de Enfermagem, v. 65, 2012.
WANNMACHER, L.; OPAS. Tratamento de enxaqueca: escolhas racionais. OPAS.
Uso racional de medicamentos: temas selecionados-6. Brasília: OPAS, p. 55-65, 2011.
YACUBIAN, E.M.T. Proposta de classificação das crises e síndromes epilépticas.
Correlação videoeletroencefalográfica. Revista Neurociências, v. 10, n. 2, p. 49-65,
2002.

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