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FACULDADE LS

CURSO BACHARELADO EM FARMÁCIA

ÊNIO ALVES CARVALHO, MARCELO RODRIGO SOARES SOUSA,


WANDERSON CHAGAS LUCAS

A IMPORTÂNCIA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA PARA A


PREVENÇÃO DA INTOXICAÇÃO POR PARACETAMOL

TAGUATINGA / DF

2018
ÊNIO ALVES CARVALHO, MARCELO RODRIGO SOARES SOUSA,
WANDERSON CHAGAS LUCAS

A IMPORTÂNCIA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA PARA A


PREVENÇÃO DA INTOXICAÇÃO POR PARACETAMOL

Trabalho de conclusão de curso apresentado por Ênio


Alves, Marcelo Rodrigo, Wanderson Chagas Lucas, à
Faculdade LS, como um dos requisitos para a obtenção
do título de bacharel em Farmácia.
Orientador(a): Me. Anna Maly de Leão e Neves Eduardo
mestre em Ciências e Tecnologias da Saúde - UNB

TAGUATINGA / DF

2018
ENIO ALVES, MARCELO RODRIGO, WANDERSON CHAGAS LUCAS

A IMPORTÂNCIA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA PARA A PREVENÇÃO DA


INTOXICAÇÃO POR PARACETAMOL

Monografia apresentada à Banca Examinadora como requisito parcial para a conclusão do Curso
Bacharel em Farmácia da Faculdade LS.

Aprovada em: / / .

Nota da parte escrita: _________

Menção Final: ______________________________________________

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________
Prof. Titulação e Nome Completo.(Membro 1- Orientador)
Faculdade LS

_______________________________________________
Prof. Titulação e Nome Completo.(Membro2)
Faculdade LS

_______________________________________________
Prof. Titulação e Nome Completo.(Membro 3)
Faculdade LS
AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus, pois sem ele nada seria possível, também aos nossos
familiares e a nossa orientadora Prof(a).Me. Anna Maly de Leão Neves Eduardo, a nossa
coordenadora Doutora Vivian Taís Fernandes Cipriano e ao nosso Prof(a).Me. João Flávio
Guimarães.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

5-HT - Receptores Serotoninérgicos


AINES - Anti-inflamatórios não-esteroides
ALT - Alanina Transaminase
AM404N - Araquidonoilfenolamina
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
APAP-CYS - Acetaminofem-Cisteína
AST - Aspartato Transaminase
ATP - Adenosina Trisfosfato
CIATOX - Centro de Informação e Assistência Toxicológica.
COX – Ciclo-oxigenase
CYP- Citocromo
DNA- Ácido desoxirribonucleico
EUA – Estados Unidos da América
FAAH- Hidrolase de ácido gordo
GSH -Sulfidrila da Glutationa.
GSTs -As Glutationas S-transferases
HIAE - Hospital Israelita Albert Einstein
MIPs - Medicamentos Isentos de Prescrição
NAC - N-acetil-cisteína
NAPQI -N-acetil-p-benzoquinonaimina
NMDA - N-metil-D-Aspartato
NO - Óxido Nítrico
NOS - Óxido Nítrico Sintase
PGs - Prostaglandinas
POX - Peroxidase
PRM - Problemas Relacionados aos Medicamentos
RNA - Ácido ribonucleico
SINITOX - Sistema Nacional de Informações de Intoxicação.
SNC - Sistema Nervoso Central
TRPV1 - Transient receptor potential cátion Chanel, subfamily V, member 1
UPA - Unidades de Primeiro Atendimento
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Molécula do paracetamol ------------------------------------------------------------------15
Figura 2 - Metabolismo do Paracetamol-------------------------------------------------------------19
Figura 3 - Principais causas da Intoxicação por paracetamol-------------------------------------42
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Principais motivações para automedicação em idade pediátrica--------------------22
Gráfico 2 - Fármacos mais utilizados na automedicação em Pediatria---------------------------23
Gráfico 3 - Principais anti-inflamatórios relacionados à intoxicação-----------------------------12
Gráfico 4 - Gênero prevalente em casos de intoxicação--------------------------------------------15
Gráfico 5 - Nomograma de Rumack-Matthew-------------------------------------------------------28
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Relação de casos de intoxicação conforme a idade-------------------------------------25
RESUMO

A automedicação costuma ser uma prática corriqueira não apenas no Brasil, mas se
estendendo, também, a outros países. No Brasil, onde o problema da automedicação não é
novo e o sistema de saúde não consegue atender a todos, ainda por questões culturais, o
problema acaba se agravando ainda mais, pois dos 160 milhões de brasileiros, 120 milhões
não possuem convênios e, ainda, encontram grandes dificuldades de acesso ao sistema de
saúde pública, ficando sem o atendimento. No Brasil, os medicamentos mais utilizados para o
tratamento de sintomas agudos como febre, dor, inflamação são os anti-inflamatórios não
esteroidais, e neste contexto um dos mais utilizados é o paracetamol. O presente trabalho teve
como objetivo avaliar a importância da atenção farmacêutica na prevenção de intoxicação
causada pelo uso indiscriminado de paracetamol. Portanto, conclui-se que o paracetamol é
seguro, quando utilizado dentro da posologia e dose adequada seguindo a orientação do
profissional da saúde, sendo necessário o farmacêutico estar atento ao fazer a dispensação
juntamente com a atenção farmacêutica.

Palavras-chave: Paracetamol; intoxicação; hepatotoxicidade; Atenção Farmacêutica.

ABSTRACT

Self-medication is usually a practice not only in Brazil but also in the to other countries.
Brazil, where the problem of self-medication is not new and the health system is not able to
attend to all, even for cultural reasons, the problem ends up becoming even worse, of the 160
million Brazilians, 120 milion do not have covenats, difficulties of access to the public health
system,without acess to care. In Brazil, the drugs most used to treat acute symptoms such as
fever, pain, inflammation are non-steroidal anti-inflammatory drugs, and in this context one of
the most used is paracetamol. The present study aimed to evaluate pharmaceutical care in the
prevention of intoxication caused by the indiscriminate use of paracetamol. Therefore , it is
concluded that paracetamol is safe, when used within the dosage and appropriate dose
following the guidance of the health professional , it is necessary for the pharmaceutical
professional to be attentive while doing the dispensation together with pharmaceutical care.
Keywords: Paracetamol; intoxication; hepatotoxicity; Pharmaceutical attention.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 09

2 DESENVOLVIMENTO.................................................................................................................................. 13

2.1 METODOLOGIA ...................................................................................................................................... 13

2.2 APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................... 13

2.2.1. Contexto histórico. ............................................................................................................................. 13

2.2.2 Paracetamol (Acetaminofeno) ............................................................................................................ 14

2.2.3 Farmacocinética ................................................................................................................................. 15

2.2.3.1 Da absorção.............................................................................................................................. 16

2.2.3.1.1 Das vias de administração....................................................................................................16

2.2.3.2 Da distribuição. ........................................................................................................................ 16

2.2.3.3 Do metabolismo ........................................................................................................................ 16

2.2.3.4 Da excreção. ............................................................................................................................. 17

2.2.4 Farmacodinâmica ............................................................................................................................... 18

2.2.4.1 Mecanismo de ação ................................................................................................................... 18

2.2.4.2 Prostaglandinas............................................................................................................................18

2.2.4.3 Canabinóides...............................................................................................................................19

2.2.4.4 Óxido Nítrico..............................................................................................................................20

2.2.5 Intoxicação ......................................................................................................................................... 20

2.2.5.1 Estresse Oxidativo .................................................................................................................... 21

2.2.5.2 Hepatotoxicidade ...................................................................................................................... 21

2.2.5.3 Risco em idade pediátrica ......................................................................................................... 22

2.2.5.4 Fatores agravantes ................................................................................................................... 23

2.2.5.5 Epidemiologia do paracetamol ................................................................................................. 24

2.2.5.6 Notificações de intoxicação ...................................................................................................... 25

2.2.5.7 Sinais e Sintomas.........................................................................................................................27

2.2.5.8 Diagnóstico .............................................................................................................................. .28


2.2.5.9 Tratamento ................................................................................................................................ 29

2.2.5.9.1 Trasplante de Fìgado............................................................................................................30

2.2.6 Papel do farmacêutico ........................................................................................................................ 31

2.2.7 Atenção Farmacêutica...........................................................................................................................31

2.2.7.1 Atenção Farmacêutica no Brasil ...............................................................................................34

2.2.7.2 Orientação sobre o uso irracional de paracetamol. ................................................................. 34

2.2.7.3 Contribuição do profissional farmacêutico.................................................................................35

2.2.7.4 Seguimento farmacoterapêutico. ................................................................................................ 36

2.2.7.5 Atuação farmacêutica na farmácia clínica ................................................................................ 38

2.3 DISCUSSÃO ............................................................................................................................................. 40

3 CONCLUSÃO ................................................................................................................................................. 44

4 REFERÊNCIAS............. ................................................................................................................................. 46

ANEXO ............................................................................................................................................................... 48
9

1 INTRODUÇÃO

Automedicação é o uso de medicamentos por contra própria ou por indicação de


terceiro não habilitado na área de saúde, para tratamentos de doenças e sintomas percebidos
pelo usuário sem uma avaliação prévia de um profissional de saúde (ANVISA, 2017).

A referida prática se estende para muitos outros países, não sendo comum apenas no
Brasil, onde o problema da automedicação não é novo e o sistema de saúde não consegue
atender a todos os pacientes, ainda por questões culturais, o problema acaba se agravando.
Dos 160 milhões de brasileiros, 120 milhões não possuem convênios de saúde e ainda
encontram grandes dificuldades de acesso ao sistema de saúde pública ficando sem o
atendimento (REVISTA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA, 2011).

Segundo Vilarino e colaboradores (1998), a prática da automedicação é difícil de ser


condenada, uma vez que é socioeconomicamente inviável o atendimento de todos os sintomas
da população. Uma prática complexa de ser freada, em que a população deveria ser informada
sobre os medicamentos e estimulada a procurar atendimento médico.

A automedicação é um procedimento caracterizado pela iniciativa de um doente, ou de


seu responsável, em obter, produzir e utilizar um produto que acredita que lhe trará benefícios
no tratamento de doenças ou alívio de sintomas (GONÇALVES, 2009).

No Brasil, os medicamentos mais utilizados para o tratamento de sintomas agudos


como febre, dor, inflamação são os anti-inflamatórios não esteroidais e, nesse contexto, um
dos mais utilizados é o paracetamol. Este é um analgésico-antitérmico derivado do p-
aminofenol, (GOODMAN e GILMAN, 2012).

Por ser isento de prescrição médica, o paracetamol é um dos analgésicos-antitérmicos


mais utilizados pela população e, além disso, o medicamento é de muito fácil acesso, o que
aliado, muitas vezes, à falta de orientação do profissional da saúde é utilizado em doses acima
da janela terapêutica. Por isso, é comum ocorrerem quadros de intoxicações, corroborando
com o registro do aumento dos números de casos (LOPES e MATHEUS, 2012).

O paracetamol causa hepatotoxicidade, promovendo uma lesão hepatocelular por meio


de três mecanismos: overdose, excessiva ativação enzimática e depleção de glutationa, que
podem ser de forma independente ou associada. A forma mais comum é a overdose com a
10

ingestão de uma dose superior a 10g/dia em adultos e 150 mg/Kg/dia em crianças


(GOODMAN e GILMAN, 2012).

A outra forma se deve a uma excessiva ativação do complexo enzimático Citocromo


(CYP) P450 associado a outros medicamentos indutores enzimáticos. Resultando em uma
interação do tipo Paracetamol versus medicamentos e Paracetamol e álcool crônico. Por
último, a redução dos níveis de glutationa, presentes nos hepatócitos, por ingestão alcoólica
na forma aguda (LOPES e MATHEUS, 2012; REIS et al. 2017).

Em um sistema de saúde prejudicado e distante, e devido a diversas dificuldades, ir à


farmácia representa a primeira opção da população. É nesse momento que a atenção
farmacêutica é negligenciada (REVISTA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA,
2011).

A atenção farmacêutica é um conceito de prática profissional. São ações executadas


pelo profissional em relação ao paciente, objetivando a melhoria da farmacoterapia e
qualidade de vida. Sendo o paciente o maior beneficiário das ações promovidas pelo
farmacêutico (BRASIL, 2007).

A atenção farmacêutica é uma prática moderna da atividade farmacêutica, com o


objetivo de orientar e acompanhar a farmacoterapia do paciente, sendo eficaz na redução dos
agravos das patologias em doentes crônicos e também na prevenção à intoxicação pelos
fármacos de maneira geral (PEREIRA e FREITAS, 2008).

Conforme Zuluaga (2013), a expressão: atenção farmacêutica do inglês


“pharmaceutical care”, é um modelo de prática que envolve atitudes, valores éticos,
habilidades, compromissos e corresponsabilidades em prevenir enfermidades e a recuperação
da saúde. Isso por meio da interação direta entre o farmacêutico e o usuário do medicamento,
melhorando assim a qualidade de vida dos pacientes em tratamento farmacoterapêutico.

Infelizmente, no Brasil, a prática da atenção farmacêutica ainda encontra diversos


obstáculos para a sua total implantação. Tais como dificuldade de acesso ao medicamento,
despreparo por parte de profissionais de saúde, que não promovem a atenção farmacêutica
eficaz, o quê acaba contribuindo para o aumento dos casos de intoxicação (PEREIRA e
FREITAS, 2008).
11

O presente trabalho teve como objetivo avaliar a atenção farmacêutica na prevenção


da intoxicação causada pelo uso indiscriminado de paracetamol e alertar quanto aos ricos da
automedicação. Neste cenário, o papel do farmacêutico, como especialista em medicamentos,
na produção, desenvolvimento, manipulação e orientação quanto ao uso correto dos fármacos,
em especial do paracetamol (BRASIL, 2007).
12

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 METODOLOGIA

A monografia teve como metodologia a pesquisa de artigos científicos em base de


dados como: Scielo, Bireme, Lilacs, Medline e Google acadêmico. Utilizaram-se os seguintes
descritores como parâmetros de pesquisa: paracetamol; intoxicação; hepatotoxicidade;
atenção farmacêutica, utilizados de forma associada. Os artigos utilizados tinham como
referência de 1998 a 2017 e apresentavam linguagem em português, inglês e espanhol.
Também foi utilizado o livro “As bases farmacológicas da terapêutica”, de Goodman e
Gilman, 12ª Edição (2012) e foi feito um levantamento de notificações presentes em artigos
referentes a dados retirados do Sistema Nacional de Informações de Intoxicação (SINITOX) e
Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATOX) para demonstrar a relevância do
assunto e que não deve ser negligenciado pelos profissionais da saúde e servir de alerta para a
sociedade.

2.2 APRESENTAÇÃO

2.2.1. Contexto histórico

De acordo com Terres (2015) e Santos, D. (2014), no ano de 1886, utilizava-se o


composto conhecido como Acetanilida, descoberto de forma acidental por Cahn e Hepp,
usado como antipirético e comercializado pelo nome de Antifebrina, mas este apresentou alta
toxicidade, sendo substituído pela Fenacetina, composto derivado da acetanilida.

Por volta de 1980, a fenacetina também foi retirada do mercado por estar associada à
nefropatia. Von Mering foi o primeiro a utilizar o paracetamol a nível clínico. No ano de
1950, Brodie e Axelrod anunciaram o paracetamol como sendo o princípio ativo da
Acetanilida e Fenacetina. A molécula do paracetamol pode ser vista na figura 1.

Figura 1- Molécula do paracetamol

Fonte: Goodman e Gilman, 2012.


13

2.2.2 Paracetamol (Acetaminofeno)

O paracetamol (Acetaminofeno), derivado do p-aminofenol, é um metabólito ativo da


fenacetina, responsável pelo efeito analgésico do composto. É um analgésico-antitérmico
considerado como uma droga segura, quando utilizada em suas dosagens recomendadas.
Possui propriedades analgésica e antitérmica. Já a sua propriedade anti-inflamatória é mínima.
Devido a isso, o uso do paracetamol é uma alternativa eficaz para pacientes que sofrem de
problemas gastrointestinais, ou que apenas desejam utilizar o medicamento como analgésico
ou antitérmico (GOODMAN e GILMAN, 2012; LOPES e MATHEUS, 2012; DANTAS,
2013).

O medicamento está disponível nas seguintes formas farmacêuticas: cápsulas, drágeas,


comprimidos de 500 a 1.000 mg, gotas ou solução, xarope, pós e pastilhas. Apresenta-se
sozinho ou associado (SEBBEN et al., 2010).

O uso do paracetamol vem trazendo uma maior atenção em sua utilização devido ao
seu fácil acesso, custo, via de administração, apresentações e por entrar na classificação de
Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs). Essas facilidades em obter o medicamento
ajudam a mascarar o poder tóxico que aquele pode vir a apresentar, caso seja utilizado de
forma indevida, podendo levar a níveis tóxicos e consequentemente dano hepático (SEBBEN
et al., 2010). Dentre outros medicamentos utilizados na automedicação relacionada à falência
hepática aguda medicamentosa, destaca-se o analgésico paracetamol e outros fitoterápicos
(OLIVEIRA et al., 2014).

Outro fator importante é a associação de medicamentos, ou seja, a combinação de


fármacos que possuem vários ativos, como analgésicos, barbitúricos, cafeína, anti-
histamínicos, descongestionantes, expectorantes, antigripais, antitussígenos e hipnóticos. O
quê acaba contribuindo com níveis mais elevados do fármaco sem o próprio paciente
perceber. Esses fatores reforçam ainda mais a atuação do farmacêutico em exercer uma
atenção farmacêutica junto à sociedade (GOODMAN e GILMAN, 2012).

A posologia indicada ou dose terapêutica para o paracetamol é de 325-650 mg a cada


4 a 6 horas, não podendo exceder a 4.000 mg a dose diária (GOODMAN e GILMAN, 2012).
Para crianças a posologia indicada é 10 mg/kg, não excedendo 5 doses diária (LOPES e
MATHEUS, 2012; TERRES, 2015).
14

2.2.3 Farmacocinética

Conforme Castro (2014), a farmacocinética é o estudo, em função do tempo, que


compreende os processos de absorção, distribuição, metabolização e excreção sofridos por um
fármaco, desde o período de sua administração até a chegada ao local de ação. Os modelos
farmacocinéticos são cruciais no desenvolvimento de medicamentos, que possibilitam a
compreensão da cinética e o metabolismo de substâncias no organismo.

O paracetamol possui boa biodisponibilidade, que é a quantidade de ativo que alcança


a corrente sanguínea sistêmica e escapa de qualquer eliminação durante a primeira passagem.
As concentrações plasmáticas alcançam o pico (dose terapêutica) em cerca de 30 a 60 minutos
e sua meia-vida é de 2 horas (SCHUH, 2007). O medicamento alcançou sua meia-vida
quando o tempo de seu ativo reduz a metade, ou seja, após determinado período de tempo a
concentração da dose inicial cai para a metade. O conhecimento sobre a meia-vida de um
medicamento é importante para definir posologia e evitar intoxicação, promovendo uma
indicação terapêutica segura (GOODMAN e GILMAN, 2012).

A sua distribuição ocorre de forma bem uniforme em todos os líquidos corporais e sua
ligação com proteínas plasmáticas como a albumina é variável sendo menor em relação aos
outros Anti-inflamatórios não-esteroides (AINES). O fármaco em sua metabolização sofre N-
hidroxilação, mediada por CYP hemoproteína presente no fígado responsável pela
biotransformação do fármaco, que forma um produto chamado NAPQI (N-acetil-p-
benzoquinonaimina), metabólito tóxico do paracetamol. Este é inofensivo em doses
terapêuticas, pois reage com o grupo GSH (Sulfidrila da Glutationa), porém, em altas
concentrações pode provocar a depleção dos GSH (GOODMAN e GILMAN, 2012).

A GSH hepática tem um grande papel na metabolização do paracetamol, visto que são
responsáveis por eliminar os xenobióticos (substâncias estranhas ou metabólitos que devem
ser excretados). A glutationa possui papel central na biotransformação e eliminação de
xenobióticos e na defesa das células contra o estresse oxidativo (HUBER e ALMEIDA,
2008). Em doses elevadas, esta enzima perde a função e acaba não eliminando o NAPQI,
metabólito tóxico do paracetamol, contribuindo significativamente para efeitos tóxicos
(GOODMAN e GILMAN, 2012).
15

2.2.3.1 Da absorção

O paracetamol administrado pela via oral, levando em consideração o tempo de


esvaziamento gástrico, é bem absorvido no intestino delgado de forma rápida e quase total. A
concentração plasmática atinge o pico por volta de 30 a 60 minutos e a meia-vida é atingida
cerca de 2 horas após a ingestão em dose terapêutica (SCHUH, 2007).

O paracetamol está submetido a um metabolismo de primeira passagem, apresenta


uma taxa de extração hepática de 0,11 - 0,37 em adultos, sendo assim, a biodisponibilidade
pela via oral é de aproximadamente 60 a 89%, possuindo tempo de meia-vida de absorção
próxima aos 4,5 minutos (SANTOS, D. 2014).

2.2.3.1.1 Das vias de administração

De acordo com Santos, D. (2014), as principais vias de administração do paracetamol


são por via oral, retal ou intravenosa. No entanto, a via intravenosa não é utilizada no Brasil
(BUCARETCHI et al., 2014).

2.2.3.2 Da distribuição

O paracetamol é distribuído no organismo de forma relativamente uniforme na maioria


dos tecidos, com a exceção do tecido adiposo (CASTRO, 2014). Onde o volume de
distribuição é de aproximadamente 1-2 1/kg em adultos e de 0,7-1 1/kg em crianças. Uma
fração relativamente pequena, correspondente a 10% a 25%, liga-se às proteínas plasmáticas,
Porém, nos casos de intoxicação aguda, 20% a 50% do paracetamol podem estar ligado às
proteínas plasmáticas (BERTOLINI et al., 2006; CASTRO, 2014). O paracetamol possui a
capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica e a barreira placentária sendo
metabolizado pelos hepatócitos fetais (SCHUH, 2007).

2.2.3.3 Do metabolismo

Segundo Lopes e Mateus (2012), a via principal de metabolização do paracetamol é a


hepática (figura 2), ocorrendo por meio de três mecanismos metabólicos: conjugação com
ácido glicurônico (glicuronidação), sulfatação e oxidação. A via oxidativa, por sua vez,
produz um metabólito altamente tóxico, dentro das condições terapêuticas, une-se a glutationa
promovendo a formação de conjugados de cisteína e ácido mercaptúrico.
16

Conforme Lopes e Mateus (2012), a glicuronidação e a sulfatação não produzem


metabólitos tóxicos. Doses superiores a 4 g/ dia, logo após a saturação das vias metabólicas
principais, faz com que o paracetamol sofra reações de oxidação, gerando o composto
metabólito tóxico NAPQI. Dentro da dose usual (terapêutica), a maior parte do paracetamol
sofre glicuronidação ou sulfatação, sendo eliminado através da excreção renal ou biliar,
conjugada ao ácido glicurônico ou sulfato.

Apenas uma pequena fração é metabolizada pelo sistema (complexo) microssomal


P450 e produz NAPQI, que rapidamente é conjugada com a glutationa para posterior excreção
pela via renal. Entre 90 a 100% do fármaco ingerido dentro da dose terapêutica é encontrado
na urina logo no primeiro dia de uso (SCHUH, 2007).

Figura 2 - Metabolismo do Paracetamol

Fonte: Lopes e Matheus, 2012.


17

2.2.3.4. Da excreção

Conforme Schuh (2007), a fração do paracetamol metabolizada pelo sistema


microssomal P450 é rapidamente convertida em metabólito quinona, a NAPQI, e neutralizada
pela Glutationa S-Transferase (GSTs). As GSTs são um conjunto de enzimas que apresentam
como característica a especificidade comum em relação ao substrato aceptor eletrofílico
(TORRES et al., 2004). Por meio da conjugação com a glutationa, formam-se compostos de
cisteína e ácido mercaptúrico, posteriormente excretados do organismo (MUHLBAUER,
2016).

Em conformidade com Bertolini e colaboradores (2006), o paracetamol apresenta uma


depuração de 13,5 l/h na urina. Segundo Castro (2014), cerca de 90 a 100% do paracetamol
está presenta na urina após o primeiro dia de uso do medicamento.

2.2.4 Farmacodinâmica

2.2.4.1. Mecanismo de ação

Em conformidade com Santos, D. (2014), o paracetamol é um analgésico e antitérmico


equiparado aos AINEs, em especial aos seletivos da ciclooxigenases-2, no entanto, a sua
função ou efeito analgésico é inferior quando comparado aos coxibes, em processos
inflamatórios já instalados.

Muhlbauer (2016) diz que apesar de o Paracetamol ser farmacologicamente


classificado como pertencente aos AINEs, o mesmo não compartilha os efeitos terapêuticos e
colaterais característicos da classe. Promove o efeito analgésico e antitérmico, mas não possui
ação anti-inflamatória, o que demonstra uma incoerência compará-lo a um AINE. No que se
refere aos efeitos colaterais, não apresenta interferência na agregação plaquetária, nem
promove efeito ulcerogênico comum à classe dos AINEs. Desta forma, embora seja
considerado AINE, existem diferenças em seu mecanismo de ação.

Mesmo o paracetamol estando em uso clínico há mais de um século, seu mecanismo


de ação ainda continua sendo foco de investigação e debate (ANDERSON, 2008; SANTOS,
D., 2014; MUHlBAUER, 2016).

Mecanismos de ação, como inibição da via do óxido nítrico, mecanismos


antinociceptivos da serotonina, canabinóides e opióides estão sendo propostos e discutidos
(ANDERSON, 2008; SANTOS, D., 2014).
18

2.2.4.2 Prostaglandinas

As Ciclooxigenases (COX-1 e COX-2) são enzimas que possuem papel fundamental


em catalisar a biossíntese das prostaglandinas e são denominadas, também, de Prostaglandinas
sintetase ou prostaglandina endoperóxido-sintetase. Foram isoladas em 1976 e clonadas em
1988 (CARVALHO et al., 2011).

Santos, D. (2014) expõe que as enzimas, COX-1, COX-2, são as duas formas
principais da prostaglandina H2 Sintetase, responsáveis pelo processo de conversão do ácido
araquidônico em prostaglandinas (PGs), tromboxanos e prostaciclinas. Tanto COX-1, quanto
COX-2 assumem bifuncionalidades, possuindo atividades distintas, como, a atividade ciclo-
oxigenase (COX) e peroxidase (POX). A atividade COX possibilita a oxidação do ácido
araquidônico em prostaglandina G2 (PGG2), um hidroperóxido, já a atividade POX é
responsável por catalisar o metabolismo da PGG2 em prostaglandina H2. Essas enzimas
ciclo-oxigenases são sensíveis a ambiente de oxidação, sendo necessário um agente redutor
que as converta da forma ativa (Fe4+) para a forma inativa (Fe3+). Nesse âmbito, o
paracetamol age como redutor, inativando as enzimas.

Os AINEs possuem, como mecanismo de ação, a inibição da Ciclo-Oxigenase, ou


seja, possuem a capacidade de inibir a produção de prostaglandina (MUHLBAUER, 2016).

A COX é dividida em duas formas. A COX 1 está associada a manutenção da proteção


epitelial gástrica e hemostasia: conjunto de mecanismos pelos quais se mantém o sangue
fluído dentro dos vasos sanguíneos sem coagular (trombose) e extravasar (hemorragia). Já a
COX-2 está associada às funções pró-inflamatória por indução. A maioria dos AINEs possui,
como efeito adverso, a irritação gástrica, surgindo à necessidade de elaborar formulações mais
seletivas para COX-2, no entanto, notou-se um desequilíbrio nos fatores de coagulação,
apresentando efeitos adversos bem mais graves (GOODMAN e GILMAN, 2012).

O paracetamol é um anti-inflamatório que age inibindo as COX, porém sua ação é


muito baixa em relação a inflamação, pois sua seletividade não é específica para cox-1 ou
cox-2, mas age no sistema nervoso central inibindo a COX-3 (variante da COX-1) que é alvo
dos antitérmicos, por esse motivo sua ação como antipirético é excelente, já sua ação
analgésica é intermediária (LOPES e MATHEUS, 2012).
19

2.2.4.3 Canabinóides

De acordo com Castro (2014), um possível mecanismo de ação foi sugerido referente
ao efeito analgésico do paracetamol que pode está relacionado por ação indireta em receptores
canabinóides CB1. O paracetamol não se liga aos receptores canabinóides, contudo, possui
metabólito com atividade similar aos canabinoides ativando-os de forma indireta (SANTOS,
2014).

O paracetamol sofre desacetilação a p-aminofenol no fígado. Nas regiões cerebral e


medular, o p-aminofenol sofre conjugação com o ácido araquidônico formando N-
araquidonoilfenolamina (AM404) por meio da enzima Hidrolase de ácido gordo (FAAH). Um
canabinóide intrínseco que atua como agonista dos receptores Transient receptor potential
cátion Chanel, subfamily V, member 1 (TRPV1) inibidor da captação de anandamida, que
leva ao aumento dos níveis de canabinóides endógenos o que, consequentemente, aumenta a
atividade dos receptores serotoninérgicos (5-HT) que atuam inibindo a transmissão de
estímulos nocivos, levando a analgesia (CASTRO, 2014).

2.2.4.4 Óxido nítrico

Conforme Santos (2010), o óxido nítrico (NO) é uma das moléculas presente no
Sistema Nervoso Central (SNC) responsável, entre outros, pelo relaxamento da musculatura
lisa em vasos. Aquele é sintetizado através da enzima óxido nítrico sintase (NOS), por meio
da reação de Biossíntese de L-arginina em L-citrulina. Todavia há diferentes subtipos de
NOS.

O mecanismo que contribui na ação analgésica do paracetamol, afirma Santos (2014),


é a inibição da enzima NOS, sendo a via L-arginina-óxido nítrico ativada pela substância P e
pelo N-metil-D-Aspartato (NMDA), onde sua ativação favorece a transmissão da nocicepção
e a inibição da síntese de NO. Entretanto, estudos sugerem que o paracetamol seja um inibidor
da enzima NOS.

2.2.5 Intoxicação

A intoxicação é entendida como a percepção dos efeitos, por meio do aparecimento de


sinais e sintomas prejudiciais, produzidos no organismo decorrente do contato e interação
desses com o agente tóxico (MOTA et al., 2015).
20

A administração acima das doses recomendadas de paracetamol pode levar a


intoxicação medicamentosa e causar desde danos hepáticos até a morte (SANTOS, 2014). A
ingestão aguda de mais de 7,5 g do fármaco, pode resultar em toxicidade apresentando efeitos
adversos, como necrose hepática, que pode ser fatal, necrose tubular renal e coma
hipoglicêmico (GOODMAN e GILMAN, 2012).

A principal causa de o paracetamol provocar um quadro tóxico está relacionada ao


produto formado na metabolização do fármaco, o NAPQI. Este é formado quando as vias de
conjugação com glicuronídeo e sulfato saturam-se e sofrem N-hidroxilação mediada por CYP.
Em doses terapêuticas, a GSH consegue eliminar esse metabólito pela urina, já em doses
elevadas a GSH sofre depleção, com isso o NAPQI liga-se covalentemente a macromoléculas,
promovendo disfunção dos sistemas enzimáticos, desordem estrutural e metabólica. As
reservas de glutationa quando chegam a menos de 30%, o xenobiótico exerce sua função
tóxica. Com isso os hepatócitos sofrem elevado estresse oxidativo celular, induzindo a
apoptose, ou seja, necrose hepática (GOODMAN e GILMAN 2012; SEBBEN et al., 2010).

2.2.5.1. Estresse oxidativo

Barbosa e colaboradores (2010) pesquisaram que o processo de geração de radicais


livres constitui um sistema contínuo e fisiológico (natural), cumprindo funções biológicas
importantes nos processos metabólitos. Os radicais atuam como mediadores na transferência
de elétrons nas várias reações bioquímicas, onde sua produção, dentro das proporções ideais/
adequadas, possibilita a geração de energia (ATP). A produção contínua desses radicais livres,
em processos metabólicos, leva ao desenvolvimento de mecanismos de defesa antioxidante.
Neste contexto, o estresse oxidativo emana da existência de um desequilíbrio entre compostos
oxidantes e antioxidantes, que em grande quantidade de radicais livres, leva a oxidação de
biomoléculas, o que resulta em perda de suas funções biológicas e desequilíbrio homeostático.

Conforme Huber e Almeida (2008), a glutationa exerce papel fundamental no


biotransformação e eliminação de xenobióticos, atuando na defesa das células contra o
estresse oxidativo.

O estresse oxidativo é uma das formas de indução de hepatotoxicidade. Por meio do


aumento da NAPQI, a glutationa passa a estar em baixas quantidades e atividade reduzida, o
que leva ao acúmulo de peróxidos e posterior lesão celular (CASTRO, 2014; SCHUH, 2007).
21

2.2.5.2. Hepatotoxicidade

A hepatotoxicidade, condição de níveis elevados de metabólitos tóxicos presentes no


fígado, em adultos ocorrerá com administração de uma dose única entre 10 a 15 g (150 - 250
mg/ kg) de paracetamol. Já as doses mais elevadas, entre 20 a 25 gramas, serão
potencialmente fatais. Fatores como álcool, jejum e má nutrição podem favorecer as lesões
hepáticas (GOODMAN e GILMAN, 2012).

2.2.5.3. Risco em idade pediátrica

O risco de intoxicação deve ser monitorado em todas as faixas de idade. Nas crianças
ocorre uma menor metabolização pelas enzimas CYP, acarretando menor produção de
NAPQI, portanto estas estão menos suscetíveis a hepatotoxicidade por paracetamol, porém
isso não as isenta de risco e de um monitoramento (LOPES e MATHEUS, 2012).

Há uma estimativa que as intoxicações pediátricas, ocasionadas por paracetamol, estão


entre 10 a 20% em vários países, já a nível nacional, essa estimativa caiu para 2,7%
(MARQUES, 2012).

A maioria das intoxicações (gráfico 1) em crianças está, principalmente, relacionada


com a irresponsabilidade dos pais em tentar solucionar problemas simples com a
automedicação, representando 66,5%, Em seguida a causa de vivência de situação anterior
representa 54,6% dos casos, já os casos de evitarem serviço de urgência, representam 24,3%.
Ainda há outros motivos, como custo, por ser mais prático, falta de médico, acessibilidade e
dificuldade no deslocamento para o serviço de saúde (BELO et al., 2017).
22

Gráfico 1 - Principais motivações para automedicação em idade pediátrica

Principais motivações para automedicação em idade pediátrica


Considerar o problema simples 66.50%
Vivenciado situação anterior 54.60%
Evitar recurso aos serviços de emergência 24.30%
Para evitar gastar dinheiro com consulta 1.60%
Mais prático 1.10%
Não ter médico assistente 1.10%
Distância aos serviços de saúde 0.50%
Gastar dinheiro com deslocamento a serviço de saúde 0%
Outros 9.70%

Fonte: Belo et al., 2017.

Em relação aos fármacos mais utilizados para prática de automedicação (gráfico 2), o
paracetamol mostrou-se com um índice mais elevado, comparado a outros medicamentos.
Apresentando um índice de 84,7%, seguido do ibuprofeno, com 53,1% e xaropes para tosse
com 20,6%, entre outros com menos taxa de indicação (BELO et al., 2017).

Gráfico 2 - Fármacos mais utilizados na automedicação em Pediatria

Fármacos mais utilizados na automedicação em Pediatria


Paracetamol 84.70%
Ibuprofeno 53.10%
Xaropes para tosse 20.60%
Anti-histamínicos 17.70%
Anti-obstipantes 15.30%
Salbutamol 6.20%
Ácido fusídico 6.20%
Brometo de ipratrópio 4.80%
Betametasona 3.80%
Anti-diarreicos 3.30%
Corticóides tópicos 2.90%
Antieméticos 1.90%
Ácido acetilsalicílico 1.00%
Predinisolona 0.50%
Amoxicilina+ clavulanato 0.50%
outro 16.30%

Fonte: Belo et al., 2017. Adaptado.


23

2.2.5.4 Fatores agravantes

A intoxicação por paracetamol pode ser potencializada por alguns fatores, como
administração simultânea de fármacos indutores de enzimas, ou seja, que aumentam a
atividade das enzimas no fígado, como algumas variações do CYP, a isoniazida e halotano
(enzima CYP2E1), fenitoína, fenobarbital, carbamazepina e rifampicina (enzima CYP3A4),
tal interação promove a elevação do NAPQI (LOPES e MATHEUS, 2012).

O erro médico é outro ponto importante em caso de intoxicação. A imperícia pode


ocasionar quadros de doses inadequadas em pacientes. A falta de comunicação, alinhamento
entre as unidades hospitalares e a resistência dos médicos em adotarem sugestões de outros
profissionais, potencializam as chances de erros em dosagens de medicamentos,
principalmente em crianças, em que a dose deve ser ajustada conforme o peso (BRENER et
al., 2013).

Além desses agravantes, outros fatores também contribuem para a intoxicação, como o
álcool que aumenta a atividade da CYP2E1 e causa depleção nos níveis de glutationa, o
tabagismo que aumenta a atividade da enzima CYP1A2, a genética, estado nutricional,
hepatopatias e idade. O fator idade demonstra uma menor influência em crianças e uma
maior influência em adultos, devido à atividade crescente da enzima de produzir xonobióticos
de acordo com a idade (LOPES e MATHEUS, 2012).

2.2.5.5. Epidemiologia do paracetamol

O estado clínico de um paciente intoxicado por paracetamol pode ser classificado em


algumas etapas. Inicialmente, nas primeiras 24 horas, pode ocorrer um quadro assintomático
ou haver leve mal-estar, náuseas, vômitos, palidez e dor de estômago. Entre 24 e 72 horas
podem assemelhar-se as primeiras 24 horas ou apresentar dores no hipocôndrio direito. A
partir de 72 horas ocorre o período de maior expressão hepatotóxica, podendo evoluir para
falência hepática aguda (SEBBEN et al., 2010).

Segundo Bertolini e pesquisadores (2006); Castro (2014), a toxicidade apresenta-se


em quatro fases, com as seguintes manifestações clínicas:

1° fase (0,5-24 horas): sintomas não específicos, caracterizado por mal-estar, êmese,
náuseas, anorexia. Nesta fase alguns pacientes podem não apresentar sintomas.
24

2°fase (24-72 horas): Surge o aparecimento de lesões hepáticas, sintomas como dor no
quadrante superior direito do abdômen, aumento da produção das transaminases hepáticas,
alanina transaminase (ALT) e aspartato transaminase (AST), assim como aumento da
bilirrubina, hipoglicemia, acidose metabólica e também insuficiência renal aguda. Os
sintomas dessa fase são bem parecidos com os da hepatite infecciosa (BERTOLINI et al.,
2006). Níveis de AST ultrapassando 1000 UI/L; já são confirmatórios de hepatotoxicidade.
3°fase (72-96 horas): hepatotoxicidade máxima, os quadros de insuficiência hepática
fulminante, hemorragia, infecção generalizada, edema cerebral, síndrome da angústia
respiratória, falência múltipla de órgãos e morte.
4°fase (96 horas a 2 semanas): pacientes que venham a sobreviver à 3° fase,
normalmente se recuperam completamente não apresentando sequelas.

2.2.5.6 Notificações de intoxicação

Gráfico 3 - Principais anti-inflamatórios relacionados à intoxicação

Fonte: Carvalho et al., 2017. Adaptado.

O gráfico 3 mostra os casos de intoxicações de medicamentos registrados no DF, no


período de 2011 a 2016, neste gráfico está presente o clonazepam, responsável pela maior
incidência de intoxicação, somando 503 intoxicações, quase o dobro da segunda medicação.
Já o paracetamol soma 246 intoxicações e o ibuprofeno 186 intoxicações. Os dois são AINEs
e representam 4,17 % e 3,10% dos casos totais de intoxicação por medicamentos no centro de
informação e assistência toxicológica do Distrito Federal (CIATOX - DF 2011 a 2016).

No Brasil, o paracetamol é uma das medicações que mais causa intoxicação. Segundo
Carvalho (2017), no CIAT-BH, em 2015, registrou-se 418 intoxicações por AINEs, dos quais
25

o paracetamol foi um dos majoritários, 50% dos casos (210). Já o relatório anual, referente a
2014, do Centro De Informação Toxicológica Do Rio Grande Do Sul, mostrou que o
paracetamol foi responsável por 62,2% do total de casos de intoxicação por medicamentos
dessa classe.

De acordo com pesquisas de Carvalho (2017), em 2016, destacou-se que o


paracetamol foi o medicamento, entre os AINEs, com maior índice de intoxicação
medicamentosa em um hospital da rede pública em Belo Horizonte, representando 63% do
total de casos.

Gráfico 4 - Gênero prevalente em casos de intoxicação

Fonte: Carvalho et al., 2017. Adaptado.

Podemos analisar que em relação ao sexo, o gráfico 4 demonstra que o sexo masculino
tem menos casos de intoxicação por medicamentos do que o sexo feminino. De acordo com o
SINITOX, foram registrados, em 2011, 30.249 casos de intoxicação medicamentosa e o sexo
feminino foi o mais atingido, com 52% dos casos. Os estudos mostram que as mulheres, que
buscam um cuidado maior pela própria saúde, têm a tendência de utilizar mais medicamentos
do que os homens.

Segundo Schuh (2007), a pesquisa foi realizada com base nos dados do Centro de
Informações Toxicológicas de Santa Catarina (CIT/SC), na tabela 1 é feita uma comparação
entre as idades dos pacientes, que variaram de um mês de vida há 81 anos e também em
questão de intoxicação conforme o sexo dos pacientes. Observou-se que com menores de um
ano o número de intoxicação são de 25 (4,18%), os pacientes da faixa etária de 01 a 04 são
208 casos (40%), com o maior pico de intoxicação entre todas a idades de 5 a 9 anos, 21
(4.04%) entre 10 a 14 anos, 29 (5.58%), entre 15 a 19 anos são 66 casos de intoxicação
(12.69%) entre 20 a 29 anos é o segundo maior pico de intoxicação, nesse caso, foram
26

registrados 98 casos (18.85%), entre 30 a 39 anos são 32 casos ( 6.15%), entre 40 a 49 anos, 9
casos ( 1.73%), entre 50 a 59 anos foram 15(2.88%), entre 60 a 69 anos foram 2 (0.38%) entre
70 e 79 anos foram registrados 3 casos de intoxicação (0.58%) e pacientes com mais de 80
anos expressou o menor índice de intoxicação, registrando apenas um caso de intoxicação
(0.19%), 11 dos casos não tinham especificado a idade dos pacientes que representam 2.12%
do total.

Segundo Schuh (2007), em questão ao sexo dos pacientes que sofreram intoxicação, a
maioria foram mulheres, quase o dobro dos casos masculinos, foram 338 casos (65.00%) do
sexo feminino, já o sexo masculino foram 178 casos (34.23%) e também têm 04 casos que o
sexo não foi definido (0.77%).

Tabela 1- Relação de casos de intoxicação conforme a idade

Idade (anos) N° de Casos Sexo %

Feminino

<1 25 338 65.00%

1-4 208 Masculino

5-9 21 178 34,23%

10 - 14 29 Ignorada

15 - 19 66 4 0.77%

20 - 29 98 TOTAL

30 - 39 32 520 100%

40 - 49 9

50 - 59 15

60 - 69 2

70 - 79 3

>80 1

Ignorada 11

TOTAL 520

Fonte: Schuh, 2007. Adaptada.


27

2.2.5.7. Sinais e sintomas

Os principais sintomas apresentados em quadros de intoxicações agudas são agressão


gástrica (náuseas, dor abdominal e anorexia) (TERRES, 2015). Já a lesão hepática pode
manifestar sintomas entre 2 a 4 dias após ingestão de doses tóxicas apresentando quadro
clínico de dor subcostal direita, hepatomegalia dolorosa (aumento do tamanho do fígado),
icterícia (coloração amarelada da pele) e coagulopatia (distúrbios da coagulação sanguínea),
podem ocorrer lesões ou insuficiência renal, além disso, pode ser precursor de uma
encefalopatia. Nos casos de overdose, considerado uma emergência médica, ocorrem danos
hepáticos em 90% dos casos (GOODMAN e GILMAN, 2012).

O rim, em segundo lugar, é alvo da toxicidade do paracetamol, apresentando disfunção


em aproximadamente 25% dos casos de hepatotoxicidade e mais 50% em casos em que
ocorre a insuficiência hepática (CASTRO, 2014).

2.2.5.8 Diagnóstico

O diagnóstico de uma intoxicação por paracetamol pode ser feito através de exames,
como a dosagem sérica do fármaco após 4 horas da administração. Para detectar níveis
elevados, utilizam-se, comumente, exames de transaminases para analisar os níveis séricos de
ALT e AST, pois estes se elevam com administração de paracetamol, exames de albumina
(níveis de pré-albumina caem e permanecem reduzidos), Bilirrubina, glicemia, amilase e
coagulograma. (LOPES e MATHEUS, 2012; SCHUH, 2007).

Nos casos de já haver dano hepático, os níveis detectados em exames são baixos,
sendo necessários exames mais específicos, como diagnóstico de expressão de genes de
células sanguíneas ou biomarcador específico para acetaminofem-cisteína (APAP-CYS)
(LOPES e MATHEUS, 2012).

No diagnóstico de intoxicação é importante analisar a quantidade de concentração


sérica presente. Para isto, utiliza-se uma ferramenta muito útil: o nomograma de Rumack-
Matthew (gráfico 5). Este, além de confirmar o diagnóstico, avalia o risco de
hepatotoxicidade orientando a administração de um antídoto específico como a acetilcisteína,
em que é possível cruzar dados, como a dosagem presente com o tempo após administração
do fármaco (SEBBEN et al., 2010).
28

Gráfico 5 - Nomograma de Rumack-Matthew

Fonte: Sebben et al., (2010).

2.2.5.9 Tratamento

O objetivo do tratamento é prevenir e minimizar a possível lesão hepática. O risco de


ocorrência está diretamente relacionado à dose ingerida e o tempo decorrido desde o momento
da ingestão, mesmo em dose acima de 150mg/kg ou uma dose desconhecida precisam ser
vistas como potencialmente tóxicas (SANTOS, D., 2014).

Conforme Bertolini e colaboradores (2006), a identificação precoce da intoxicação,


assim como o tratamento de pacientes intoxicados são essenciais visando minimizar a
morbidade e mortalidade. Porém, esta tarefa não é fácil, visto que pela falta de indícios
clínicos nas primeiras horas da intoxicação e ausência de sintomas no paciente não deve ser
motivo de tranquilidade pela parte médica. Isso porque, os sintomas logo após a superdose
podem ser os da lesão hepática, que geralmente se desenvolvem horas após a ingestão,
quando a terapia com antídoto já não exerce a mesma eficácia.

Em caso de intoxicação por paracetamol, a medida a ser adotada é a utilização de


carvão ativado. Se administrado em até 4 horas reduz a absorção do fármaco em 50% a 90%
sendo um método muito eficaz contra intoxicação (GOODMAN e GILMAN 2012; RASO et
al., 2003).

Foi realizado um estudo comparativo entre os métodos mais empregados para redução
da absorção do paracetamol: a lavagem gástrica, carvão ativado e xarope de ipeca.
29

Os resultados mostraram que administração oral de carvão ativado foi o método mais
eficaz, produzindo uma redução na concentração do fármaco em 52%, lavagem gástrica 39%
e xarope de ipeca 41% (SANTOS, D., 2014).

Nos casos de risco de lesão hepática é indicada a administração de N-acetil-cisteína


(NAC) ou acetilcisteína. Esta, além de agir como substituto, repõe os níveis de GSH, possui
propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias que protegem de danos hepáticos, auxiliando
na redução dos impactos negativos das toxinas, metabolismo e excreção do metabólito tóxico
do paracetamol (NAPQI) (GOODMAN e GILMAN, 2012).

A Acetilcisteína é considerada um antídoto muito eficaz e seguro, pois introduz grupos


sulfidrílicos que neutralizam o agente tóxico (LOPES e MATHEUS, 2012). O tratamento
consiste na descontaminação gastrointestinal precoce e na administração do antídoto NAC. A
NAC é um precursor metabólico do glutation que se conjuga ao metabólito tóxico do
paracetamol anulando o seu efeito hepatotóxico. Esse processo é extremamente eficaz na
prevenção da lesão hepática, desde que administrado nas primeiras oito horas após a ingestão.
Posteriormente a este período sua eficácia diminui (REIS et al., 2017).

A NAC atua no fornecimento de grupos Tiol, adicionais que se ligam com os


metabólitos reativos, portanto, eliminando o NAPQI e promovendo a redução dos níveis de
paracetamol, o que não inibe sua produção. A lavagem gástrica atua diminuindo a absorção de
paracetamol e deve ser realizada até 4 horas após a ingestão (SCHUH, 2007). Segundo Raso
et al., 2003.; Schuh, 2007 a utilização de carvão ativado também é recomendada.

2.2.5.9.1 Transplante de fígado

A hepatotoxicidade causada pelo paracetamol pode levar a danos hepáticos graves e


irreversíveis, sendo necessário um transplante de fígado para a chance de sobrevivência do
indivíduo. Na maioria dos casos o transplante é eficiente, todavia a falência de múltiplos
órgãos associada à progressão rápida da lesão hepática podem limitar a opção de transplante
(SANTOS, D., 2014).

Além dos cuidados anteriormente mencionados, é importante monitorar o paciente em


casos mais graves com marcadores que avaliam a função renal e hepática. A insuficiência
hepática pode provocar quadros de hipoglicemia, portanto é indicado monitorar a glicemia.
30

Em quadros mais graves, como falência hepática, é indicado um transplante de fígado com
urgência (GOODMAN e GILMAN, 2012).

Santos, D. (2014) diz que determinar e interpretar os níveis plasmáticos de


paracetamol é a “chave” para o diagnóstico e tratamento, mesmo que os sintomas ainda não se
façam presentes devido ao tardio aparecimento das manifestações clínicas. O nomograma de
paracetamol é uma importante ferramenta de fornecimento de dados, que dá aos médicos um
método em que é possível prever se os doentes irão ou não desenvolver um quadro de
toxicidade hepática. O procedimento também indica a administração de NAC conforme a
concentração plasmática de paracetamol (mcg/ml) relacionada com o intervalo decorrido
(horas), este período vai desde a ingestão do paracetamol até o momento que é realizado a
coleta sanguínea. O nomograma serve apenas para conciliar uma decisão médica nos casos de
intoxicação aguda e não se aplica ao fornecimento de informações em casos de intoxicação
crônica, tempo superior a 24 horas após a ingestão, sobre dosagem escalonada ou pacientes
com história de ingestão supra terapêutica repetida. Todavia, o nomograma de paracetamol
que inclui seu uso e limitações é estudado e discutido (RUMACK, 2002 apud SANTOS,
2014).

2.2.6 Papel do farmacêutico

O farmacêutico é o profissional capacitado e que possui conhecimentos avançados


sobre medicamentos, com objetivo de exercer a atenção farmacêutica promovendo a
assistência necessária ao paciente, uso racional do medicamento e planejamento da
farmacoterapia para melhoria da qualidade de vida do paciente (RDC 492/2008); (PEREIRA
e FREITAS, 2008).

O grande problema relacionado a intoxicações medicamentosas é a automedicação,


definida como seleção e uso de medicamentos por pessoas para tratar sintomas ou doenças
com ausência de diagnóstico e sem a devida prescrição de profissional competente (BELO et
al., 2017). O usuário, então, recorre a esse processo com o intuito de “tratar” sintomas leves,
sem consulta, acreditando que este lhe trará benefícios e alívio de seus problemas
(PFAFENVACH, 2010).

2.2.7 Atenção Farmacêutica

A atenção farmacêutica é um conceito de prática profissional, são ações executadas


pelo profissional farmacêutico em relação ao paciente, objetivando a melhoria da
31

farmacoterapia do paciente e qualidade de vida. Sendo o paciente o maior beneficiário das


ações promovidas pelo farmacêutico (BRASIL, 2007).

A profissão farmacêutica, assim como todas as outras, vem passando por


transformações no decorrer do tempo. Essas transformações foram motivadas pelo
desenvolvimento e mecanização da indústria farmacêutica, padronização de formulações e
produção em escala. O que levou a diminuição e quase esquecimento dos laboratórios
magistrais das farmácias, onde o farmacêutico desempenhava sua atividade principal. O
farmacêutico passou, então, a ser visto como um simples vendedor de medicamentos, perante
a sociedade (PEREIRA e FREIRAS, 2008).

No ano de 1960, um grupo da Universidade de São Francisco (EUA) inicia o


movimento intitulado como “Farmácia clínica”. O movimento tinha como proposito o de
aproximar o farmacêutico ao paciente e à equipe de saúde, proporcionando o desenvolvimento
das habilidades referentes à farmacoterapia (PEREIRA e FREIRAS, 2008; MENEZES, 2000).

Posteriormente ao movimento, na década de 1970, autores relacionados à farmácia


buscaram redirecionar a atuação do farmacêutico em relação ao paciente, uma vez que a
Farmácia Clínica estava mais centrada ao ambiente hospitalar e sua atenção em análise da
farmacoterapia dos pacientes, e o farmacêutico interagia apenas com a equipe de saúde
(PEREIRA e FREITAS, 2008).

Com a intenção de aprimorar a atuação do profissional Farmacêutico nas ações de


atenção primária em saúde, sendo o paciente o foco principal, Mikel e pesquisadores (1975)
iniciaram o conceito de Atenção Farmacêutica, em que essa terminologia só foi definida na
década de 1980. No artigo, os autores defendem que é “a atenção que um dado paciente
requer e recebe com garantias de uso seguro e racional do medicamento” (apud PEREIRA e
FREITAS, 2008).

Esta proposta definida por Mikel e colaboradores (1975) foi aprimorada por Brodie,
Parish e Poston no ano de (1980) (apud PEREIRA e FREITAS, 2008). Foi sugerida a inclusão
do seguinte conceito:

A determinação das necessidades de medicamentos para um dado indivíduo e a


provisão não somente do medicamento requerido assim como também dos serviços
necessários (antes, durante e depois do tratamento) para assegurar uma terapia
perfeitamente efetiva e segura (MEINERS, 2001).
32

Em Hepler (1978) contribuiu ampliando os conceitos publicados por Brodie, Parish e


Poston , definiu que no decorrer do processo de atendimento farmacêutico, era necessária
uma relação apropriada entre o profissional e o paciente, sendo aquele o responsável pelo
controle no uso dos medicamentos devido aos seus conhecimentos e habilidades. No ano de
1990, Hepler e Strands foram os primeiros a utilizar o termo “Pharmaceutical Care” na
literatura científica, traduzido como Atenção Farmacêutica (apud PEREIRA e FREITAS,
2008).

A terminologia atenção farmacêutica foi oficializada no Brasil pela Organização Pan-


Americana de Saúde (OPAS), OMS (Organização Mundial da Saúde) e Ministério da Saúde
(MS). que assim a definiu:

um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência


Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades,
compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e
recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do
farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e obtenção dos
resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida.
Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as
suas especificidades biopsicossociais, sob a ótica da integralidade das ações de
saúde (PEREIRA e FREITAS, 2008, p. 16-21).

Segundo a OMS:

um conceito de prática profissional na qual o paciente é o principal beneficiário das


ações do farmacêutico. A atenção farmacêutica é o compêndio das atitudes, os
comportamentos, os compromissos, as inquietudes, os valores éticos, as funções, os
conhecimentos, as responsabilidades e as habilidades do farmacêutico na prestação
da farmacoterapia com o objetivo de obter resultados terapêuticos definidos na saúde
e na qualidade de vida do paciente (OMS, 1993).

Em conformidade com Reis (2003), o impacto da atenção farmacêutica foi realizado


pela primeira vez nos Estados Unidos com os dados do Projeto Minnesota de atenção
farmacêutica. Os dados obtidos mostram que depois de um ano houve aumento no número de
pacientes que alcançaram resultado terapêutico satisfatório.

Estudos promovidos por Hepler, e colaboradores (1978), denominado TOM


(Therapeutic Outcomes Monitoring), para avaliação da atenção farmacêutica utilizando como
modelo a asma, forneceram dados positivo da atenção farmacêutica (apud REIS, 2003).
33

Estudos realizados na Europa de atenção farmacêutica em idosos de caráter


multicêntrico apresentaram redução de custos, controle da doença, melhoria e aumento na
qualidade de vida dos pacientes (REIS, 2003).

Pesquisa realizada na Espanha, denominado TOMCOR, comparou os efeitos da


atenção farmacêutica em pacientes coronarianos em relação ao modelo tradicional. O estudo
demonstrou diminuição da taxa anual de novos casos de infarto no grupo de investigação e
menor reincidência aos serviços de saúde (REIS, 2003).

2.2.7.1 Atenção Farmacêutica no Brasil

Segundo Bovo e colaboradores (2009), a atenção farmacêutica no Brasil é implantada


de forma gradual devido a alguns problemas, como despreparo de profissionais. Grande parte
não possui uma formação voltada para tal. Outro fator relacionado é o acúmulo de tarefas
burocráticas que afastam o farmacêutico do paciente.

Outra condição preponderante no Brasil é que os farmacêuticos têm vivido por muitos
anos com a situação das Farmácias sendo simples locais de comércio, onde a assistência
farmacêutica, muitas vezes, é negligenciada e apenas se entrega os medicamentos (BOVO et
al., 2009).

Conforme uma tendência mundial, o Brasil passa por um momento de grande


reestruturação na área de medicamentos que envolvem o sistema de saúde e formação prática
dos profissionais de saúde, o que favorece mudanças e possibilita as práticas. Porém, a forma
como estão estruturadas as unidades de saúde ainda dificulta o modelo de atenção
farmacêutica (PEREIRA e FREITAS, 2008).

A atenção farmacêutica pode ser vista como a filosofia de fornecer orientação ao


paciente, dentro de uma visão integral e complexa do paciente em relação ao medicamento. A
mesma trouxe novo sentido na relação profissional do paciente e medicamento. É a atividade
que coloca o farmacêutico próximo ao paciente e vem ganhando brilho e estatus de mais belo
quadro da atividade farmacêutica como alma da profissão, por trazer diversas vantagens,
como segurança para o usuário, melhora na adesão ao tratamento, controle e identificação de
doenças, facilitação do acesso à assistência médica e barateio dos custos de saúde
(MENESES, 2000).
34

2.2.7.2 Orientação sobre o uso irracional de paracetamol

O acompanhamento do farmacêutico no processo de atenção à saúde é de extrema


importância na prevenção dos possíveis danos causados pelo uso irracional de medicamentos
(REIS, 2003).

O profissional farmacêutico tem que ser visto como um agente da saúde, com a
responsabilidade de fornecer orientações técnicas sobre medicamentos e o uso correto,
decorrentes de sua formação, desenvolvendo, também, conhecimentos e habilidades em outras
áreas como ética e humanização. (CARDINAL e FERNANDES, 2013).

Hoje, espera-se deste profissional nas atribuições de sua função conhecimentos,


habilidades e atitudes, que o permitam ao mesmo tempo interagir com a equipe
multidisciplinar de saúde, com o paciente e com a comunidade, contribuindo para a
otimização da farmacoterapia e qualidade de vida, promovendo o uso racional de
medicamentos (REIS, 2003).

Conforme Galato e colaboradores (2015), em lugares onde o sistema de saúde não


consegue oferecer um atendimento eficaz e as enfermidades da população passam
despercebidas, naturalmente, o medicamento passa a ser visto como uma solução para os
problemas.

Medicamentos têm função fundamental no sistema de saúde, quando empregados de


maneira correta cumprem sua função restabelecendo a homeostase e efeito terapêutico
desejado e financeiramente viável, mas quando administrados de forma incorreta, que
resultam no uso irracional, levam a consequências graves à saúde da população como
interações medicamentosas, agravo do quadro clínico e até mesmo a morte (CARDINAL e
FERNANDES, 2013).

Tanto na medida de prevenção, quanto na de tratamento da doença é necessário que


haja estrutura de apoio adequada, com educação e informação a população. Se essas medidas
estiverem em todo o processo, os medicamentos podem trazer grandes benefícios. Porém, a
forma ilusória como são vistos pela população, sem o conhecimento aprofundado, leva ao seu
uso irracional (VIEIRA, 2007).
35

Conforme Vieira (2007), nos EUA as reações adversas a medicamentos, estima-se que
estejam entre a quarta ou sexta causa de morte, sendo superior às mortes decorrentes por
pneumonia e diabetes.

2.2.7.3 Contribuição do profissional farmacêutico

Hoje, um dos desafios para a profissão farmacêutica é modelar as condutas que estão
incorporadas na prática profissional e implantar o modelo de assistência que possibilite ao
farmacêutico atuar com responsabilidade, buscando o sucesso da farmacoterapia do paciente,
trabalhando como um promotor do uso racional de medicamentos, garantindo segurança,
efetividade e qualidade de vida (REIS, 2003).

2.2.7.4 Seguimento farmacoterapêutico

O seguimento farmacoterapêutico é um dos elementos presentes dentro do ciclo da


atenção farmacêutica. Neste processo, o farmacêutico assume a responsabilidade pelas
necessidades do paciente, que estão relacionadas ao medicamento, de forma que o
farmacêutico atua detectando, prevenindo e resolvendo Problemas Relacionados aos
Medicamentos (PRM). Está prática é realizada de forma sistemática, continuada e
documentada e almeja a melhoria da qualidade de vida do paciente, assim como efetividade
do tratamento e segurança (CARVALHO et al., 2011).

Desse modo, existem fatores que influenciam de forma direta nos resultados
terapêuticos, como a não adesão ao tratamento, a própria patologia, os medicamentos
utilizados, a relação entre os pacientes, profissionais de saúde e serviços de saúde. (URRUTH
et al., 2016).

Conforme Amarante e colaboradores (2010), a adesão é uma postura de conduta que o


paciente tem em relação ao uso do medicamento, o seguimento de uma dieta, mudança de
determinados hábitos de vida que implicam em seu tratamento, e essa conduta coincide com
as orientações fornecidas pelo médico e os outros profissionais da saúde.

Foppa e pesquisadores (2008) nos revela que os PRM podem ser prevenidos e
solucionados, desde que se conheça claramente suas causas; portanto, é fundamental a
identificação e classificação do problema e sua causa.
36

Segundo Amarante e pesquisadores (2010), a não adesão recebe algumas


classificações como: a) Voluntária ou Intencional, em que o paciente não segue a orientação
por acreditar que a medicação está em excesso ou por medo das reações adversas; b)
Involuntária ou não intencional, quando o paciente deixa de usar a medicação ou não segue a
orientação por motivo de esquecimento ou ainda tem dificuldade de entender as instruções
passadas pelo médico.

Outra forma de não adesão é descrita como a não adesão inteligente, em que o
paciente, consciente de suas ações, promove, por conta própria, alteração da terapia prescrita,
seja reduzindo a dose por receio de reações adversas, fatores como diagnóstico errôneo,
prescrição incorreta, ou o paciente experimenta reações adversas ou até mesmo aparecimento
de outra patologia no decorrer do tratamento. Estes fatores podem levar o paciente a não
adesão inteligente. (AMARANTE et al., 2010).

Outra causa que contribui para o problema de PRM é o abandono, ausência familiar.
Neste cenário, o abandono ou a falta de um cuidador para ajudar no uso dos medicamentos e
tratamento favorece o aparecimento de problemas relacionados a medicamentos. Um cuidador
despreparado para determinada situação também contribui para o aparecimento de PRM
(FOPPA et al., 2008).

Todavia, o problema da não adesão ao tratamento prescrito tem sido foco de debate e
investigação sendo tratado com importância nas últimas décadas e incluído na prioridade dos
profissionais de saúde em conjunto com outros fatores que influenciam sobre o uso racional
de recursos terapêuticos (LEITE e VASCONCELLOS, 2003).

Estudo realizado na Espanha por Chamorro e colaboradores (2006) demonstrou que


18,61% dos pacientes não utilizavam o medicamento por desconfiar do tratamento; 16,28%
por acreditarem já estarem curados da patologia; 11,62% devido à ocorrência de reações
adversas; 9,30% por acharem excesso de medicamentos prescrito; 4,65% por não acreditarem
no médico e 2,33% por não aquisição do medicamento. A não adesão por motivo de
esquecimento ou dificuldades de compreender as instruções correspondeu a 11,62% dos casos
e por fatores econômicos 2,33% e 2,33% forçado (AMARANTE et al., 2010; CHAMORRO
et al., 2006).

Outra investigação, realizada por Climente e colaboradores (2001), demonstra as


quatro principais causas de incidência hospitalar, na qual se verificou que 56,3% dos casos
37

são devidos a não adesão, 53,3% ao uso inadequado de medicamento, 40,7% a necessidade de
tratamento complementar e 30% devido a reações adversas (apud AMARANTES et al.,
2010).

Sendo assim, a não adesão é tida como multidimensional e é determinada pela


correlação de um conjunto de fatores, que diretamente ou indiretamente afetam o
comportamento e implicam na capacidade do paciente de continuar o tratamento. (URRUTH
et al., 2016).

Portanto, o resultado que se espera do tratamento Farmacológico está diretamente


relacionado a múltiplos eventos, fatores e condições em sistemas complexos que em sua
maioria não podem ser previsto em sua totalidade (CORRER et al., 2011).

2.2.7.5 Atuação farmacêutica na farmácia clínica

Como já mencionado, a farmácia clínica tem sua origem no ano de 1960, decorrente
da indignação do afastamento existente entre o farmacêutico e o paciente, o que levou
professores e alunos da Universidade de São Francisco (EUA) ao movimento que iniciou o
conceito de Farmácia clínica (PEREIRA e FREITAS, 2008).

A farmácia clínica é definida como “área da farmácia voltada à ciência e prática do


uso racional de medicamentos, na qual os farmacêuticos prestam cuidado ao paciente, de
forma a aperfeiçoar a farmacoterapia, promover saúde, bem-estar e prevenir doenças”. (CFF,
2013).

O Farmacêutico clínico desempenha suas atividades para a promoção da saúde,


prevenção e monitoramento de eventos adversos, contribuindo para a prescrição médica, com
o objetivo de alcançar resultados clínicos satisfatórios, melhorando a qualidade de vida dos
pacientes, e sempre tendo em vista o custo benefício (FERRACINI et al., 2011).

No âmbito de sua aplicação, a farmácia clínica;

expande-se a todos os níveis de atenção à saúde. Esta prática pode ser desenvolvida
em hospitais, ambulatórios, unidades de atenção primária à saúde, farmácias
comunitárias, instituições de longa permanência e domicílios de pacientes, entre
outros. (BRASIL, 2007).
38

Segundo Cardinal e Fernandes (2013), as instituições de saúde, ao longo dos últimos


anos, têm demonstrado bastante preocupação em relação à segurança e qualidade do
atendimento e tratamento fornecido ao paciente, em que medidas preventivas e intervenções
clínicas têm sido implantadas no sistema de saúde, como por exemplo, a detecção e prevenção
de erros de medicação. Contudo, os PRM aparecem como um dos principais problemas sendo
o causador de eventos adversos, que poderiam ser facilmente evitados, esses erros na
prescrição contribuem significativamente para o aumento do tempo de internação,
consecutivamente aumento da morbidade, mortalidade e nos custos hospitalares, esses
problemas podem ser resolvidos por meio da intervenção clínica farmacêutica.

Conforme Miranda e colaboradores (2012), estudos recentes demonstram que a


iniciativa de intervenções farmacêuticas nas Unidades de Primeiro Atendimento (UPA) são
favoráveis nas reduções de custos e o farmacêutico clínico pode contribuir para aumentar a
qualidade do cuidado ao paciente, assim como, a segurança e otimização da farmacoterapia,
identificando e prevenindo erros de medicação.

Em estudo desenvolvido por Ferracini e colaboradores (2011), de caráter prospectivo,


realizado no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), entre o ano de 2003 a 2010 com a
maior participação do farmacêutico clínico junto à equipe multidisciplinar. Demonstrou
aumento nos tipos e números de intervenções que foram de 1.706 em 2003 para 30.727 em
2010. Os resultados demonstraram que a adesão por parte da equipe médica no período de
2003 era 93,4% e chegou a 99,5% em 2010. O estudo demonstrou resultados positivos no
número de intervenções realizadas pela farmácia clínica, o que implica diretamente no
aumento da segurança do paciente, qualidade de vida e promoção do uso racional de
medicamentos.

Outro estudo retrospectivo realizado no período de 1° de janeiro de 2010 a 31 de


dezembro em uma UPA, no Hospital Israelita Albert Einstein, por Miranda e colaboradores
(2012), avaliou 3.542 prescrições, no qual foram realizadas 1.238 intervenções, quanto à
justificabilidade da medicação, frequência, acerto da dose, e também vias de administração. O
estudo demonstrou a importância da atuação do farmacêutico clínico na UPA e a contribuição
dos serviços clínicos, ajudando no uso racional de medicamentos e melhoria da qualidade de
vida e segurança do paciente.
39

São inegáveis as contribuições do farmacêutico clínico e como a sua presença tem se


tornado um dos parâmetros para a promoção da saúde, em grande parte dos países
desenvolvidos, nos últimos 10 anos. Esse campo de atuação do farmacêutico vem
contribuindo e poderá liderar as mudanças aguardadas para a saúde. A prescrição
farmacêutica em conjunto com as atribuições clínicas têm aberto novos caminhos, um novo
horizonte, tanto para o profissional farmacêutico como para a sociedade, saúde e mercado
(PHARMACIA BRASILEIRA, 2014).
40

2.3 DISCUSSÃO

Os resultados obtidos no presente trabalho demonstram que o fármaco só apresentou


um potencial hepatotóxico quando utilizado em doses acima da dose terapêutica, superiores a
4g/dia, sendo o mesmo considerado seguro para a utilização em doses terapêuticas, já
hepatotoxicidade manifestou-se aumentada quando a mesmo foi associada ao álcool,
tabagismo e idade. Em doses prescritas e orientadas por um profissional da saúde, como um
farmacêutico, o paracetamol não demonstrou irritação gástrica, não interferiu na função
plaquetária e não causou nefropatia ou hepatotoxicidade sendo raros os casos dentro da dose
terapêutica, chegando a um consenso entre os autores nestes pontos (LOPES e MATHEUS,
2012).

O paracetamol é um medicamento considerado seguro, apresentando vantagens em


relação aos outros, como ausência de alguns efeitos adversos (GOODMAN e GILMAN,
2012). Aquele se torna, em muitos casos, um medicamento de primeira escolha para tratar os
quadros clínicos leves e de pouca importância para o paciente (PFAFFENBACH, 2010),
identificando, em primeiro momento, a necessidade de não consultar um médico. Além disso,
o paciente desconhece qualquer tipo de efeito tóxico que o medicamento pode vir a causar
devido a facilidade em obtenção nas farmácias, utilizando-o, então, de forma irracional
(VIEIRA, 2007).

Isso realçou o objetivo principal do trabalho, pois a atuação do farmacêutico tem


grande importância na prevenção da intoxicação e agravo da saúde do paciente. Como foi
dito, o problema da automedicação no Brasil é antigo, de grandes proporções e cultural
(REVISTA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA, 2001).

Apesar das evidências mostrarem a segurança e eficácia do medicamento, os dados


comprovam que doses acima do recomendado podem levar a quadros tóxicos através de um
processo de metabolização que produz um elemento tóxico induzindo as células do tecido
hepático a sofrerem estresse oxidativo, promovendo a morte do tecido do fígado. Ressalta-se,
ainda, que vários agravantes podem favorecer um quadro de intoxicação como medicamentos,
tabagismo, estado nutricional, álcool, idade e patologia que induzem a ativação contínua de
enzimas (citocromo P450) que são responsáveis pela metabolização dos xenobióticos
(GOODMAN e GILMAN, 2012).
41

Outro ponto bastante relevante é o encaminhamento do paciente ao serviço


especializado. Identificado o risco de intoxicação, recomenda-se a administração de carvão
ativado para diminuir a absorção do fármaco, tendo capacidade de reduzir entre 50 a 90% da
absorção do fármaco e representa 52% de eficácia se comparado com outros métodos. Em
caso de haver risco de dano hepático é indicado a administração da acetilcisteína, que auxilia
na eliminação de agentes tóxicos. Utilizam-se exames específicos para mensurar o grau de
intoxicação para tomar medidas correspondentes ao quadro clínico do paciente, aumentando
as chances de recuperação sem efeitos hepatotóxicos (GOODMAN e GILMAN, 2012;
BERTOLINI et al., 2006).

Ainda, os dados coletados de notificações de intoxicações reforçam a importância em


ter um acompanhamento profissional. Dentre os anti-inflamatórios, o paracetamol ocupou o
segundo lugar em casos de intoxicação, perdendo apenas para o clonazepam. As mulheres
apresentaram maior índice de intoxicações, com 52%, homens com 12% e casos ignorados
com 36% (CARVALHO et al., 2017). Já as causas de automedicação em crianças apresentou
84,7% como medicamento de escolha entre os anti-inflamatórios e o motivo da utilização
como o responsável considerar o problema de saúde simples com 65,5% (BELO et al., 2017).
Comparando-se os casos de Santa Catarina (2007) com o Distrito Federal (2016), as mulheres
continuam sendo as principais envolvidas em casos de intoxicação, evidenciando, também,
que as mulheres preocupam-se mais com a saúde, mas também se descuidam na
automedicação sem orientação (SCHUH, 2007; CARVALHO et al., 2017).

Uma questão importante a ser abordada é o grande papel do farmacêutico em


promover a educação à sociedade de forma a utilizar o medicamento com orientações
específicas. O estabelecimento que atende o paciente sem o profissional farmacêutico
negligencia a atenção farmacêutica. Tendo a visão voltada apenas aos lucros, inteiramente
comercial (BOVO et al., 2009).

Em estudos recentes por Miranda e colaboradores (2012), ficou evidente que a


participação do farmacêutico, em conjunto com equipe multidisciplinar nas UPAs, não só foi
responsável pela diminuição dos custos, mas também, obteve diminuição em erros de
medicação e otimização da farmacoterapia.

O que também é comprovado, segundo estudos de Ferracini e colaboradores (2011), é


que com a participação do farmacêutico, houve um aumento da adesão por parte da equipe
42

médica, aumento nas intervenções na farmácia clínica, demonstrando resultados positivos no


reforço da segurança e qualidade de vida do paciente. O que justificou, também, o aumento do
número de profissionais atuando no quadro da empresa.

Isso reforça, de forma geral, que o farmacêutico atuando constantemente atenua a


chance de o paciente praticar qualquer tipo de automedicação sem nenhuma orientação
especializada, além de passar maior segurança e garantir uma maior adesão ao tratamento
pelo paciente (CARVALHO et al., 2011).

Além disso, por ser mais acessível e mais próximo da comunidade, a disponibilidade
do profissional em farmácias comunitárias ajuda a identificar casos de automedicação
comuns, que a princípio parecem inofensivos, mas que em longo prazo podem levar a danos
hepáticos ou renais, cabendo ao farmacêutico encaminhar o paciente para avaliação junto ao
médico (LOPES e MATHEUS, 2012).

Há ainda que ressaltar que a atenção farmacêutica em pequenos casos é também


prejudicada pelo próprio usuário. Podendo o tratamento ser prejudicado pelo paciente de
forma voluntária ou involuntária. O paciente, muitas vezes, acaba indo embora sem esperar as
devidas informações passadas pelo farmacêutico ou por achar que é irrelevante aguardar
orientações, uma vez que o medicamento seja isento de prescrição ou já tenha o utilizado sem
nenhuma informação pertinente ao medicamento. Dados demonstram que das desistências ou
não adesão ao tratamento, 18,61% desconfiavam do tratamento; 16,28% achavam que
estavam curados; 11,62% foram por reações adversas; 9,30% por excesso de medicamentos
(AMARANTE et al., 2010; CHAMORRO et al., 2006).

Portanto, relacionado a tal problemática apresentada, os dados coletados confirmam


uma grande adesão deste medicamento em relação a outros anti-inflamatórios e que a
automedicação é o principal precursor de problemas relacionados com quadros clínicos de
intoxicação (GOODMAN e GILMAN, 2012).

A atuação de um profissional habilitado e capacitado é essencial para minimizar os


problemas associados a medicamentos. Acolher, orientar e acompanhar é fundamental para
transmitir ao paciente a segurança de iniciar o tratamento e obter resultado positivo em
relação ao quadro clínico. Nota-se também uma melhoria da prestação do serviço ao paciente,
o conjunto de ações integradas entre os profissionais da saúde agrega maior eficiência e
43

resultado efetivo ao paciente (REIS et al., 2017). A figura 3 apresenta as principais causas de
intoxicações por paracetamol.

Figura 3 - Principais causas da Intoxicação por paracetamol

Goodman e Gilman, 2012; et al. Adaptado.


44

3 CONCLUSÃO

Conclui-se que o fármaco paracetamol é considerado seguro, quando utilizado dentro


da posologia e dose adequadas. Quando as orientações do profissional da saúde, em especial
do Farmacêutico, são seguidas, a segurança em relação ao uso desta medicação aumentam
consideravelmente.

O farmacêutico deve orientar o paciente desde o início dos sintomas que levarão ao
uso da medicação, avaliando todas as evidências clínicas do paciente e coletando as
informações necessárias para se fazer uma anamnese.

Portanto, o processo de dispensação do medicamento será realizado dentro das


atividades da atenção farmacêutica, que proporcionará uma maior interação entre a população
e o farmacêutico, ocorrendo à promoção do uso racional do medicamento, uma segurança
medicamentosa, efetividade terapêutica e uma maior qualidade de vida ao paciente.

A atenção farmacêutica não é uma prática fácil, porém não é impossível, cabe ao
farmacêutico contribuir para que a mesma se torne, a cada dia, mais próxima da realidade,
pois este tem um papel fundamental no acompanhamento do paciente.

Essa atividade clínica é função exclusiva do farmacêutico, uma vez que suas atuações
irão envolver o seguimento farmacoterapêutico, ou seja, o acompanhamento do tratamento
farmacoterapêutico do paciente.

Quando se trata do fármaco paracetamol, que se utilizado de maneira irracional e sem


a orientação do Farmacêutico quanto aos seus riscos e possíveis efeitos tóxicos, pode levar um
paciente até ao óbito, Por isso a importância de um acompanhamento profissional se torna
indispensável.

Ainda que ocorra uma intoxicação causada pelo paracetamol, como os problemas
hepáticos, a presença do profissional farmacêutico em todas as etapas do tratamento do
paciente será preponderante para a cura e a não recidiva do problema de saúde.

Exercendo uma atenção farmacêutica ampla e de qualidade, o usuário de


medicamentos, seguindo corretamente todas as orientações, como os que utilizam o
paracetamol, terão a garantia de um tratamento efetivo e seguro. Todavia, mais estudos são
necessários para a completa compreensão da farmacodinâmica do paracetamol.
45

Será alcançado então, o que todos os profissionais farmacêuticos tanto almejam no


exercício da sua profissão, o reconhecimento pela população da importância deste profissional
em todas as esferas da saúde. Assim, o exercício profissional de excelência é totalmente
viável através da atenção farmacêutica.
46

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49

ANEXO A

Figuras de metabolismo

Figura 1 – Molécula do Paracetamol

Fonte: Goodman e Gilman, 2012.

Figura 2 – Metabolismo do Paracetamol

Fonte: Lopes e Matheus, 2012.

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