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ERMATOLOGI

_STETIC
Medicina e Cirurgia Estética
SANDRA LYON
Dermatologista em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Graduação em Medici na pela Faculdade de Med icina da Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Res idência Médica em Dermatologia pelo Hospital das Cl ín icas da Universidade Federal de Minas Gera is
Mestrado em DermatOlogia pela Faculdade de Medici na da Un ivers idade Federal de Minas Gerais - UFMG
Doutorado em Medicina Tropical pela Faculdade de Med icina da U niversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Professora de Dennatologia do Curso de Medicina da Faculdade de Ecologia Huma na - FASEH,
Vespasiano, Minas Gerais
Professora de Dennatologia da Faculdade de Med icina da Un iBH, em Belo Horizonte, Minas Gerais
Professora dos Cursos de Pós-grad uação do Centro de Medici na Especializada, Pesqu isa e Ensino - CEMEPE
Preceptora-ch efe da Res idência Méd ica em DermatOlogia do Hospital Eduardo de
Menezes da Fu ndação Hospitalar do Estado de Minas Gerais - FH EMIG

ROZANA CASTORINA DA SILVA


DermatOlogista em Belo Horizonte, Minas Gerais
G raduação em Med icina pela Faculdade de Medicina - Escola Superior de C iências da Santa Casa de
Misericórdia de Vitória - EMESCAM
Mestrado em Medicina T ropical pela Faculdade de Medicina da Un ivers idade Federal de Minas Gerais - UFMG
Doutorado em C iências da Saúde: Infecrologia e Med icina Tropica l pela Faculdade de Med icina da
Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Professora dos Cursos de Pós-grad uação do Centro de Medici na Especial izada, Pesqu isa e Ensino - CEMEPE
Professora de Dermatologia do C urso de Med icina da Faculdade de Ecologia Humana -
FASEH, Vespasiano, Minas Gera is
Preceptora da Residência Méd ica em Dermato logia do Hospi tal Eduardo de Menezes da
Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais - FHEMIG

EDITORA CIENTIFICA LTOA.


DERMAT OLOGIA ESTÉTICA - Med icina e C irurgia Estética
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CI P-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PU BLICAÇÃO


SINDICAT O NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

L997d
Lyo n, Sandra
DermatOlogia estética: medicina e cirurgia estética/Sandra Lyon, Rozana Castorina da S ilva. · I. ed. · Rio de
Janeiro: MedBook, 2015.
640 p.: il.

ISBN 978-85-8369..006-1

L Dermatologia. 2. Ci rurgia pláStica. 3. Pele· Cuidado e higiene. I. Silva, Rozana Castori na da. li. Títu lo.

14-16521 CDD: 616.5


CDU: 616.5

02/ 10/2014 02/10/2014

Reservados todos os di reitos. É proibida a d uplicação ou reprodução deste volu me, no todo ou em parte, sob quaisquer
formas ou por quaisquer meios (eletrôn ico, mecâ nico, gravação, fotOcópia, distribu ição na Web, ou outros), sem permis-
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.
IV
Agradecimentos

Nosso principal agradecimen to a Rozana Castorina da Silva, pela


coautoria, e a Núbia de Souza Santos, pelo empenho na colaboração e
dedicação para que este livro pudesse chegar à fase final.

A todos os colaboradores, nossa gratidão por


d isponibilizar textos de qualidade.

À equipe do Centro de Medicina Especializada, Pesquisa e Ensino,


sempre aten ta às questões éticas e profissionais.

Agradecimento especial à Medbook Editora,


na pessoa do Sr. Jackson Alves de O liveira

Aos nossos alunos, que se empenham em


conseguir o melhor aprendizado.

Sandra Lyon

v
Dedicatória

Às pessoas que se inserem na busca estética saudável, mantendo o cuidado


equilibrado com o corpo, sem, no entanto, correr o risco de ficarem
aprisionadas no conceito deturpado e doentio da beleza.

VIl
"O ser humano tem uma relação de fidelidade absoluta com o espelho."

Sandra Lyon, 2014

IX
Colaboradores

ALDÊNIA PEREIRA DA SILVA


Psicóloga em Belo Horizonte, Minas Gerais
Graduação em Ps icologia e Formação em Psicologia pelas Faculdades Integradas Newton Paiva, em Belo
Horizonte, MG

ALEXANDER CORDEIRO TEIXEIRA


Graduação em Med icina pela Faculdade d e Medicina da Un iversidade de Montes Claros - Un imontes, MG
Pós-graduação em Dermatologia Aplicada pelo Centro Un iversitário Newton Paiva, Belo Horizo te - MG
Pós-graduação em Medicina Estética pelo Centro Un ivers itário Newton Paiva, Belo Horizonte - MG
Pós-graduação em Medici na Estética - ASIME/ RJ
Pós-graduação em Dermatologia pelo Centro d e Medicina Especializada Pesquisa e Ensino - CEMEPE

ANA CLÁUDIA LYON DE MOURA


DermatOlogista em Belo Horizonte, Minas Gerais
Graduação em Med icina pela Faculdade d e Medicina da Un iversidade Federal de Minas Gera is - UFMG
Mestrado em Microbiologia, Área de Concentração em Micologia, pelo InstitutO de C iências Biológicas da
Un iversidad e Federal de Minas Gera is - UFMG
Doutorado em C iências da Saúde: lnfecrologia e Med icina Tropical pela Faculdade de Medicina da
Un iversidad e Federal de Minas Gera is - UFMG
Preceptora da Res idência Médica em DermatOlogia do Hospital Eduardo de Me nezes da Fundação Hospitalar
do Estado de Minas Gerais - FHEM IG

ÂNGELA CARO UNA NASCIMENTO


Médica em Tangará da Serra, Mato Grosso do Sul
Graduação em Med icina pela Faculdade de Medicina da Universidade José Rosário Velano - UNIFENAS -
Alfenas, Minas Gerais
Especialização em Dermatologia pelo Centro de Medicina Especial izada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Especialização em Medicina e Cirurgia Estética pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino -
CEMEPE

XI
C xii Colaboradores

ANGELINA TOLEDO LYON


Méd ica em Belo Horizonte, Minas Gerais
Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina da Un iversidade do Vale do Rio Verde - UN INCOR
Bach arel em Di reito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gera is - PUC-MG
Especialização em Dermatologia pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ens ino - CEMEPE

ÂNGELO SILVESTRE DE SÁ
Graduação em Medicina pela Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Pós-graduação em Dennatologia pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Pós-graduação em Medicina e Cirurgia Estética pelo Centw de Medicina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Pós-graduação em Nu trologia pela Associação Brasileira de Nutrologia - ABRAN

-
ANTONIO MANUEL MARGARIDO GORMICHO BOAVIDA
Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina de Lisboa, Portuga l
Residência Médica em C línica Geral e Med icina Familiar pela Faculdade de Med icina de Lisboa, Portugal

BÁRBARA PROENÇA NARDI ASSIS


Dermatologista em Belo Horizonte, Minas Gera is
Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina da Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Residência Méd ica em Derma to logia pelo Hospital Eduardo de Menezes da Fundação Hospitalar do Estado
de Minas Gerais - FHEM IG
Mestrado em C iências da Saúde: Infecrologia e Med icina Tropical pela Faculdade de Med icina da Universidade
Federal de Minas Gerais - UFMG
Professora dos C ursos de Pós-grad uação do Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
PreceptOra da Residência Méd ica em DermatOlogia do Hospital Eduardo de Menezes da Fundação Hospi talar
do Estado de Minas Gerais - FHEMIG
Professora de DermatOlogia do C urso de Med icina da Un iBH em Belo Horizonte, MG

CARLUZ MIRANDA FERREIRA


Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina da Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Residência Médica em C irurgia Geral pelo Hospital Alberto Cavalcanti - FHEM IG
Residência Médica em C irurgia Plástica pela Fundação Hospita lar do Estado de Minas Gerais - FHEM IG
PreceptOr da Residência de Dermatologia do Hospi tal Eduardo de Menezes da Fundação Hospi talar do
Estado de Minas Gera is - FHEM IG

CLARA SANTOS
Graduação em Medicina pela Un iversidade Federal de Pernambuco - UFPE
Residência em Clínica Médica pela Un iversidade Federal de Pernambuco - UFPE
Pós-graduação em Dermatologia pelo Colégio Brasilei ro de Medicina e C irurgia Estética, MG

COR-JESUS LUZIA HELENO


Graduação em Medicina pela Faculdade de Momes C laros - Un imomes, MG
Bach arel em Direito pela Faculdade Isabela Hendrix - Belo Horizonte, MG
Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pela Santa Casa de Misericórd ia de Montes Claros - MG
Pós-graduação em Endocri nologia pelo Instituto de Pesquisa e Ensino Médico - IPMED
Pós-graduação em Med icina Estética pelo Colégio Brasileiro de Med icina e C irurgia Estética - CBMCE
Pós-graduação em Dermatologia pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Pós-graduação em C irurgia da Face - IT EP, SP
Pós-graduação em Gestão de Saúde e Marketing pela Fu ndação Getúl io Vargas - FGV
Pós-graduação em Adm inistração Hospitalar e Auditoria - UNAERP - Ribeirão Preto, SP
Pós-graduação em Perícia Médica pela Un iversidade da Un imed, em Belo Horizonte, MG
Colaboradores xiii ")

CRISTIANE RACHID
Graduação em Med icina pela Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Pós-graduação em DermatOlogia pelo Centro de Medicina Especializada, Pesqu isa e Ensino - CEMEPE
Pós-graduação em Medicina e Ci rurgia Estética pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino -
CEMEPE
Professora<olaboradora dos Cu rsos de Pós-graduação do Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino -
CEMEPE

DAGMAR TOLEDO LYON


Oftalmologista em Belo Horizonte, Minas Gera is
G raduação em Med icina pela Faculdade de Medicina da Un iversidade Federal de Minas Gera is - UFMG
Residência Médica em Oftalmologia pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, Minas Gerais
Especialização em Medici na e C irurgia Estética pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino -
CEMEPE
Precepcora<olaboradora da Residência Méd ica em Dermatologia do Hospital Eduardo de Menezes da
Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gera is - FHEM lG
Professora dos C ursos de Pós-grad uação do Centro de Med icina Espec ializada, Pesqu isa e Ens ino -
CEMEPE

DANIEL SEIXAS DOURADO


Médico em Belo Horizonte, Minas Gera is
G raduação em Med icina pela Faculdade de Medicina da Un iversidade Severino Sombra, Vassou ras, RJ
Especialização em Dermatologia pelo Centro de Medicina Especial izada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Especialização em Medicina e C irurgia Estética pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino -
CEMEPE
PreceptOr dos Cursos de Pós-graduação do Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ens ino - CEMEPE

DEBORA CRISTINA CAMPOZAN


Graduação em Med icina pela Faculdade de Med icina da Un ivers idade Federal de Mato Grosso do Sul -
UFMS
Pós-graduação em Nutrologia pela A~sociação Brasilei ra de Nutrologia - ABRAN
Pós-graduação em DermatOlogia pelo Colégio Brasileiro de Medici na e C irurgia Estética, Belo Horizonte, MG
Médica Responsável pelo Serviço de DermatOlogia dos Hospita is Madre Maria T heodora e Med icamp/
lntermédica - Campinas, São Pau lo
Professora dos C ursos de Pós-grad uação do Centro de Med icina Espec ializada, Pesqu isa e Ens ino -
CEMEPE

EDILAMAR SILVA DE ALECRIM


G raduação em Enfermagem pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUCMG
Enfermeira do Ambulatório de Dermatologia do Hospital Eduardo de Menezes da Fu ndação Hospitalar do
Estado de Minas Gerais - FHEMlG

'
EMANUELLA ACACIA ALVES BARBOSA
Graduação em Med icina pela Faculdade de Medicina do Vale do Aço, Minas Gerais
Pós-graduação em DermatOlogia pelo Centro de Medicina Especial izada, Pesqu isa e Ensino - CEMEPE
Pós-graduação em Medicina e Ci rurgia Estética pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino -
CEMEPE
C xiv Colaboradores

FABIANO KENJI HARAGUCHI


Graduação em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro PretO - UFOP
Especialização em Atividades Físicas e suas Bases Nutricionais pela Un iversidade Veiga de Almeida - UVA, RJ
Mestrado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Ou ro Preto - UFOP
Doutorado em Ciências Bio lógicas pela Un iversidade Federal de Ouro Preto - UFOP

FÁBIO LYON MOREIRA


C irurgião em Tangará da Serra, Mato Grosso do Sul
Graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina da Un ivers idade José Rosá rio Vela no - UN IFENAS -
Alfenas, MG
Residência Médica em C irurgia Geral pelo Hospital Geral Un iversitário de MatO Grosso - Cu iabá, MT

FERNANDA LYON FREIRE


Graduação em Ciências Biológicas pelo Instituto de Ciências Biológicas da Un ivers idade Federal de Minas
Gera is - UFMG
Graduação em Medicina pela Faculdade de C iências Médicas de Minas Gerais
Mestrado em Genética pelo InstitutO de Ciências Biológicas da Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG

GABRIELA MARIA DE ABREU GONTIJO


Dermatologista em Belo Horizonte, Minas Gera is
Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina da Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Residência Médica em C línica Médica pelo Hospital Municipal Odilon Behrens em Belo Horizonte, MG
Residência Médica em Dermatologia pela Faculdade de Med icina de Jundiai, SP
Especialização em Dermatologia Ped iátrica pela Univers idade de São Pau lo - USP

GLAUCIA MARIA DUARTE
Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
Residência Médica em Pediatria pelo Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, ES
Pós-graduação em Dermatologia pelo Colégio Brasileiro de Medicina e C irurgia Estética, MG
Pós-graduação em Med icina Estética no Colégio Brasileiro de Medicina e C irurgia Estética, MG

GUILHERME DE CASTRO GRECO GUIMARÃES


Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina da Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Residência Médica em C irurgia Geral do Hospital Municipal Odilon Behrens em Belo Horizonte, MG
Residência em C irurgia Plástica pelo Instituto da Previdência Social do Estado de Minas Gerais - IPSEMG
Precepto r da Residência Méd ica em C irurgia PláStica do Hospital J úlia Kubitschek da Fundação Hospitalar do
Estado de Minas Gera is - FHEM IG

GUSTAVO CÉSAR PARREIRAS CAVALCANTI


Graduando em DireitO pela Pontifícia Un iversidade Católica de Minas Gera is - PUCMG

HELENA LYON MOREIRA


Méd ica em Belo Horizonte, Minas Gera is
Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina da Un iversidade do Vale do Rio Verde - UN INCOR
Graduação em Odontologia pela Pontifícia Un iversidade Católica de Minas Gera is - PUCMG
Especialização em Endodomia pela Associação Brasileira de Odontologia - ABO - Regional Alfenas, MG
Especialização em Saúde Coletiva pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Especialização em Dermatologia pelo Centro de Medicina Especializada, Pesquisa e Ens ino - CEMEPE
Especialização em Medicina e Cirurgia Estética pelo Centro de Medicina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Colaboradores

IGOR FELIX CARDOSO


Ci rurgião Plástico em Brasília, Distrito Federal
Graduação em Med icina pela Faculdade de Medicina da Un iversidade de Brasília - UNB
Residência Médica em Cirurgia Geral do Hospital Regiona l da Asa Norte - SES/DF
Residência Médica em Cirurgia Plástica no Instituto Nacional do Câncer - INCA/R}

IZABEL CRISTINA SAD DAS CHAGAS


Graduação em Enfermagem pela Un ivers idade Severino Sombra - Vassouras, Minas Gera is
Enfermeira do Ambulatório de Dermatologia do Hospital Eduardo de Menezes da Fundação Hospitalar do
Estado de Minas Gerais - FHEM IG
Especialista em Esromaterapia pela Escola de Enfermagem da Un ivers idade Federal de Minas Gerais - UFMG
Preceprora<olaboradora da Residência Méd ica em Dermatologia do Hospital Eduardo de Menezes da
Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gera is - FHEM IG

JACQUELINE NETTO PARENTONI DONNABELLA


Médica Dermatologista em Belo Horizonte, MG
Graduação em Med icina pela Faculdade de Medicina da Un iversidade Federal de Mina Gera is - UFMG
Residência Médica em Ped iatria pelo Hospita l São Francisco de Assis, BH
Especialização em Dermatologia pela Faculdade Newton Paiva, BH
Especialização em Medicina Estética pela Faculdade Newron Paiva, BH
Pós-graduação em DermatOlogia pelo Centro de Medicina Especializada, Pesqu isa e Ensino - CEMEPE

JOANA FERREIRA DO AMARAL


G raduação em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro PretO - UFOP
Mestrado em C iências Biológicas pela Un iversidade Federal de Ouro Preto - UFOP
Doutorado em Imunologia pela Un ivers idade Federal de Minas Gerais - UFMG
Professora de Nutrição C lí nica e Social da Escola de Nutrição da Un iversidade Federal de Ou ro Preto - UFOP

'
JOSE ADALBERTO LEAL
Graduação em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro PretO - UFOP
Especialista em Nutrição Clínica pela ASBRAN/CFN
Pós-graduação em Nutrição Humana e Saúde pela Un ivers idade Federal de Lavras - UFLA
Mestrado em Ciências da Saúde: Infecrologia e Medicina Tropica l pela Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Minas Gerais - UFMG
Professor da Pós-graduação em Nutrologia do Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Coordenador do Curso de Nutrição da Faculdade Pitágoras, MG

JOSÉ OTÁVIO PENIDO FONSECA


Endocrinologista em Belo Horizonte, Minas Gera is
Graduação em Med icina pela Faculdade de Medicina da Un iversidade Federal de Minas Gera is - UFMG
Residência Méd ica em Endocri nologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórd ia de Belo Horizonte, MG
Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Doutorado em C iências da Saúde pela Université Catholique de Louva in - Bélgica
Professor Adjunto da Faculdade de Med icina da Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG

'
JUAN CARLOS LOPEZ
G raduação em Med icina pela Faculdade de Ciências Méd icas de Santos, SP
Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, SP
C xvi Colaboradores

JULIANA CUNHA SARUBI


Dermatologista em Belo Horizonte, Minas Gera is
Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina da Un iversidade Federal de Minas Gerais
Residência Méd ica em Dermato logia pelo Hospital Eduardo de Menezes da Fundação Hospitalar do Estado
de Minas Gerais - FHEMlG
Mestre em C iências da Saode: lnfecwlogia e Med icina Tropical pela Faculdade de Med icina da Universidade
Federal de Minas Gerais - U FMG
Precepto ra da Residência Méd ica em Dermato logia do Hospital Eduardo de Menezes da Fundação Hospita lar
do Estado de Minas Gerais - FHEMlG

LEANDRO RIBEIRO MAURO


Méd ico em Curitiba, Paraná
Graduação e m Medicina pela Un iversidade Federal do Paraná - UFPR
Pós-graduação em Dennatologia pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
lnternationa l Fellow in Hai r Transplantation sob tutela do Dr. Walter Unger, Nova York, EUA
Programa Acadêmico em C lín ica e Pesquisa e m Ci rurgia Dermatológica e Cosmética no Mount Sina i School
of Medicine, Nova York, EUA

LEONARDO OLIVEIRA FERREIRA


Méd ico em Vitória, EspíritO Santo
Graduação em Medicina pela Faculdade de Saúde e Ecologia Humana - FASEH, em Vespasiano, Minas Gerais
Mestrado em Gerontologia pela Pontifícia Un iversidade Católica de Brasília
Doutora ndo pela Pontifícia Un iversidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, Porto Alegre, RS
Fellow em Dermatologia pelo Hospita l de Santa Maria, Lisboa, Portugal
Professor de Dermatologia da Faculdade de Med icina do Centro Un iversitário do Espírito Santo - UNESC,
Colatina, ES
Professor de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Vitória - Mu ltivix, em Vitória, EspíritO Santo.

LÍGIA ALMEIDA BEZERRA


Méd ica em João Pessoa, Paraíba
Graduação em Medicina pela Un iversidade Federal de Campina Grande - PB

LOURANEIDE MACIEL TAVARES


Graduação e m Medicina pela Un iversidade Federal Fluminense - UFF
Residência Médica em Dermatologia pela Un iversidad e do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
Especialização em Med icina do Traba lho pelo Centro Univers itário Serra dos Ó rgãos - UN lFESCO/ RJ
Especialização em Med icina Estética pela Fundação Souza Marques, RJ
Professora coordenadora do ambulatório de Pós-graduação da Fundação Souza Marques - RJ

LÚCIA HELENA SAMPAIO DE MIRANDA


Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina do Plana ltO Central - FAMEPLAC - Brasília/DF
Graduação e m Psicologia pelo Centro de Ens ino Un iversitário de Brasília - UN lCEUB - Brasília/DF
Pós-graduação em Dennatologia pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Pós-graduação e m Med icina e C irurgia Estética pelo Centro de Medicina Especializada, Pesquisa e Ensino -
CEMEPE
Doutora em Ciências da Saode pela Universidade de Brasília - UNB - Brasília
Colaboradores xvii ")

LUÍS FERNANDO PIACITELLI LYON


Médico em Botucatu, São Paulo
Graduação em Med icina pela Faculdade de Medicina de Cata nduva, SP
Médico do Programa de Saúde da Família de Botucatu, SP
Especialização em Dermatologia pelo Centro de Medicina Especial izada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Especialização em Medicina e Cirurgia Estética pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino -
CEMEPE

'
MAISA NEIVA SANTOS HERNANDEZ
Médica em Belo Horizonte, Mi nas Gerai~
Graduação em Med icina pela Faculdade de Medicina da Un iversidade do Va le do Rio Verde - UN lNCO R
Especialização em Dermatologia pelo Centro de Medicina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Especialização em Medicina e Cirurgia Estética pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino -
CEMEPE
Mestra nda em Ciências da Saüde pela Santa Casa de Misericórd ia de Belo Horizonte, MG

MAR CUS HENRIQUE DE ALVARENGA MORAIS


Dermatologista em Belo Horizonte, Minas Gerais
Graduação em Med icina pela Faculdade de Medicina da Un iversidade Federal de Minas Gera is - UFMG
Residência em Clínica Méd ica pela Fundação Mário Penna e Hospital Luxemburgo, Belo Horizonte, MG
Residência Médica em DermatOlogia pelo Hospita l Eduardo de Menezes da Fundação Hospitalar do Estado
de Minas Gerais - FHEMIG
Coordenador do Serviço de DermatOlogia do Hospital Life Center

'
MARIA ALICE RIBEIRO OS ORlO
Médica Dermatologista em Belo Horizonte, Minas Gerais
G raduação em Medici na pela Faculdade de Medicina da Un ivers idade Federal do Estado do Rio de Janei ro -
UNIRlO
Preceptora da Res idência Médica em DermatOlogia do Hospital Eduardo de Menezes da Fundação Hospitalar
do Estado de Minas - FHEM lG

MARIA APARECIDA DE FARIA GROSSI


DermatOlogista em Belo Horizonte, Minas Gerais
Graduação em Med icina pela Faculdade de Medici na da Un iversidade Federal de Minas Gera is - UFMG
Mestrado em Dermatologia pela Faculdade de Medici na da Universidade Fede ral de Minas Gerais -
UFMG
Doutorado em Med icina Tropical pela Faculdade de Med icina da U niversidade Federal de Minas Gera is -
UFMG
Professo ra de Dermatologia do Cu rso de Med icina da Faculdade de Ecologia Humana - FASEH - Vespasiano,
Minas Gerais
Professora dos cursos de Pós-graduação do Cen tro de Med icina Especializada, Pesq uisa e Ens ino -
CEMEPE
Ex-coordenadora da Coordenação Estadua l de Dermatologia Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde de
Minas Gerais
Ex-coordenadora Geral do Programa Nacional de Controle de Hansen íase do Min istério da Saúde
C xviii Colaboradores

MARIA DA CONSOLAÇÃO DE OLIVEIRA


Médica em Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais
Graduação em Farmácia e Bioquím ica pela Universidade Federal de Ju iz de Fora - UFJF
Graduação em Direito pela Faculdade de DireitO de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais
Graduação em Medicina pela Faculdade de C iências Méd icas - UN lPAC/MG
Pós-graduação em Manipu lação e Cosmética Médica pelo PCCA Houston, EUA
Pós-graduação em Homeopatia pela A~sociação Médica Homeopática de Minas Gera is
Pós-graduação em Farmacologia C lín ica pela Associação Mineira Farmacêutica
Pós-graduação em Dermatologia, Med icina e C irurgia Estética pelo Centro de Med icina Especializada,
Pesquisa e Ensino - CEMEPE

MARIA DO CARMO SANTOS WANDECK


Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina da Un iversidade Federal de Medicina - UFMG
Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital MaterDei, Belo Horizonte, MG
Pós-graduação em Med icina Estética pela Sociedade Brasilei ra de Medicina Estética - SBME/RJ
Pós-graduação em Dermatologia pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE

MARIA INES VIEIRA


Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina da Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Graduação em Odontologia pela Pontifícia Un iversidade Católica de Minas Gera is - PUCMG
Especialização em Med icina do Traba lho pela Universidade de São Francisco Bragança Pau lista, SP
Pós-graduação em Dermatologia Aplicada pelo Centro Un ivers itário Newton Paiva - Centro de Estudo e
Pesquisas e Consu ltOria em Saúde - MG

MARINA DIAS COSTA


Dermatologista em Alfenas, Minas Gerais
Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina da Un iversidade José do Rosário Vellano - UNlFENAS
- Alfenas, Minas Gera is
Mestrado em Clínica Méd ica pela Santa Casa de Misericórd ia de Belo Horizonte, MG
Professora dos cursos de Pós-graduação do Centro de Medicina Especial izada, Pesquisa e Ensi no - CEMEPE

NAIARA RESENDE CORRÊA


Graduação em Medicina pela Faculdade de Med icina de Valença, RJ
Pós-graduação em Dermatologia pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Pós-graduação em Med icina Estética pelo Centro de Medicina Especializada, Pesqu isa e Ens ino - CEMEPE
Professora de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Va lença, Estado do Rio de Janeiro

OLÍVIA HELENA VEIGA RAFAEL


Graduação em Medicina pela Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Residência Médica em Pediatria pela Fundação Hospita lar do Estado de Minas Gera is - FHEM lG
Pós-graduação em Dennatologia pelo Centro de Med icina Especializada Pesqu isa e Ens ino - CEMEPE
Pós-graduação em Medicina e Cirurgia Estética pelo Cemw de Medicina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Pós-graduação em Ultrassonografia na CPU de Ribe irão Preto, SP

PALOVA AMISSES PARREIRAS


Graduação e m DireitO pela Faculdade de DireitO do Oeste de Minas - FADON
Mestrado em Ciências Penais pela U niversidade Federal d e Minas Gerais - UFMG
Doutoranda em Dire ito pela Un iversidade Lomas de Zamora, Buenos Aires, Argentina
Professora de Direito Penal da Faculdade de DireitO da Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG -
Faculdade de Direi to da Pontifícia Un iversidade Católica - PUCMG
Colaboradores xix ")

PATRICIA CRUZ GOMES


Graduação em Med icina pela Un iversidade de Pernambuco - U PE
Residência Méd ica em AnatOmia Patológica na Un iversidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Fellow em Dermawpawlogia pela Univers ité de Paris V
Pós-graduação em DermatOlogia pelo Centro Brasilei ro d e Ciências Méd icas - CEBCM
Professora e Coordenadora Acadêmica da Pós-graduação em Dermatologia C lín ica e Estética Médica pelo
Centro Brasilei ro de Ciências Médicas - CEBCM
Professora Convidada de Cosmetologia - AS! ME, CE

PRISCILLA CECY LAGES


Graduação em Nutrição pela Universidade Federal de Minas Gera is - UFMG

REGINA DE PAULA MEDEIROS


G raduação em Serviço Social pela Un iversidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
Doutorado em Antropologia Social e Cu ltu ral pela U nivers itat Rovira i Virgili, Tarragona, Espa nha
Professora Adjunta lll da Pontifíc ia Universidade Católica d e Minas Gerais, do Programa de Pós-
·graduação em C iê ncias Sociais e Departame ntO d e Re lações Inte rnac ionais, Belo Horizo nte, MG

ROBERTA ILHA OLIVEIRA CARDOSO


DermatOlogista em Brasília, Distrito Federal
G raduação em Med icina pela Faculdade d e Medicina da Un iversidade de Bras ília - UNB
Residência Méd ica em Dermatologia pelo Hospital Ed uardo de Menezes da Fundação Hospitalar de Minas
Gerais - FHEM IG

ROBERTA PATEZ FIGUEIREDO


G raduanda em Med icina pela Faculdade de Medicina da Un ivers idade de Vila Velha, ES

RONALDO RETTORE JÚNIOR


G raduação em Odontologia pela Un iversidad e Federal de Minas Gera is - UFMG
Especialização em C irurgia e Traumatologia Bucomaxilofacia l - PUCRS
Especialização em lmplantodontia pela Un iversidade de São Paulo - USP
Mestrado em C irurgia e Traumato logia Bucomaxilofacial - PUCRS
Douto rado em lmplantodontia pela Universidade de São Paulo - USP
Coordenador da Especia lização em lmplantodontia - CEO/IPSEMG

ROSANE DIAS COSTA


DermatOlogista em Alfenas, Minas Gerais
Graduação em Med icina pela Faculdade de Medicina da Universidade José do Rosário Vellano - UN IFENAS
- Alfenas, Minas Gerais
Mestrado em C lín ica Médica pela Santa Casa d e Misericórdia de Belo Horizonte, MG
Professora dos cu rsos de Pós-graduação do Cen tro de Med icina Especializada, Pesq uisa e Ens ino -
CEMEPE
C xx Colaboradores

SABY VANESSA VARGAS ROMERO


Grad uação em Medicina pela Un iversidade Católica de Santiago de Guaiaqu il - Equador
Pós-graduação em Dermatologia pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Pós-graduação em Med icina e C irurgia Estética pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino -
CEMEPE

SILVIA HELENA LYON DE MOURA


Dermatologista em Belo Hori zonte, Minas Gerais
Grad uação em Medicina pela Faculdade de Med icina da Un iversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Mestrado em C iências da Saúde: lnfecrologia e Med icina Tropical pela Faculdade de Med icina da Un iversidade
Federal de Minas Gerais - UFMG
Doutorado em C iências da Saüde: lnfecrologia e Med icina Tropica l pela Faculdade de Med icina da
U niversidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Professora de Dermatologia da Faculdade de Med ici na da UNI-BH, Belo Horizonte, Minas Gerais
Precepto ra da Residência Méd ica em DermatOlogia do Hospital Eduardo de Menezes da Fundação Hospi talar
do Estado de Minas Gerais - FHEMlG

TATIANA AMORA CRUZ


Grad uação em Medicina pela Un iversidade de Pernambuco - UFPE
Pós-graduação em Med icina Estética pela Fundação T écn ico Educacional Souza Marques, RJ
Pós-graduação em Dermatologia pelo Centro de Med icina Especializada, Pesquisa e Ensino - CEMEPE
Doutora nda em Ciências Médicas pelo Institu to Italiano de Rosário, Argentina
Coordenadora e Professora de Pós-graduação em DermatOlogia e Estética do Centro Brasilei ro de Ciências
Méd icas, PE
Prefácio

Senti-me honrada com o convite e é com gra nde prazer q ue apresento o livro Dermatologia Estética:
Medicina e Cirurgia Estética, pub licação q ue tra rá valiosa contribu ição para dermatOlogistas e dema is méd icos
q ue traba lham com a Medici na e a C irurgia Estética.
Sabemos que o ser humano gosta de ser saudável, bonitO, agradável, bem-vistO e querido por codos, mas
para tudo há de ter limi tes, mesmo q ue essa busca seja legítima e bem-intencionada, pois a juventude e a velhi-
ce são etapas bonitas e d ignas de serem apreciadas em seus diferentes aspectos.
Vale lembrar que não há processo mais eficaz para embelezar a face do que a alegria, como d iz o livro dos
Provérbios: "O coração alegre embeleza o rostO ..." (Pv 15: 13). O Eclesiastes alerta: "Alegre-se, jovem, na sua mo-
cidade. Seja feliz o seu coração nos d ias da sua juventude" (Ec 11 :9).
Não podemos esquecer q ue: ''O Sen hor fez a terra produzir os medicamentos: o homem sensato não
os despreza. O Senhor deu aos homens a ciência para que pudessem glorificá-lo por causa das ma ravilhas
criadas por Ele", conforme escritO no livro do Eclesiastes 38:4 e 6.
A dermato logia estética apresentou notáveis avanços nas últimas décadas, abandonando o empirismo
do passado e cami nhando com a med icina baseada em evidencias cientificas cada vez ma is sólidas.
Este avanço científico dentro da Dermatologia Estética cond uz o especia lista a aprofundar e atua lizar
seus conhecimentos para o pleno exercido de sua profissão, com segurança e ética.
Esta obra, q ue ora é apresentada, é o re flexo do desenvolvimento cientifico e tecnológico da Dermatologia
Estética, estando sob a coordenação das Professoras Sa ndra Lyon e Rozana Cascorina da Silva. Conta, ainda,
com a colaboração de autores e coautores em seus 98 capítulos, separados em 22 d iferentes pan es.
A obra abrange os diferentes temas da Derma tologia e da Ciru rgia Estética, desde os conceitos de
beleza, anatOm ia, fisiologia, classificação étn ica e cronológica da pele, cosméticos e cosmeceuticos, pas-
sa ndo pelos focoprotetores, despigmentantes e antioxidames, inclu indo cuidados com a pele sens ível,
acne, alopecia, alterações hormo nais e as condições inesté ticas, bem como as indicações e o rien tações
pa ra o uso dos peelings, toxina botulin ica, preenchimentos e laser, alerta para os be neficios da nutro logia
e da cir urgia dermatológica, até as orientações éticas e juríd icas.
Na certeza do sucesso desta obra, pa rabenizo as organ izadoras, bem como os colaboradores, pela qua li·
dade científica e pelo zeloso e ético trabalho realizado.

Maria Aparecida de Faria Grossi


Derma to logista da Secretaria de Estado da
Saúde de Minas Gera is

XXI
Apresentação

A busca incessante pelo rejuvenescimento tem dispo nibil izado grande n ll mero de tratamentos e proce-
dimentos com objetivo de manter os cu idados com a pele, a q ualidade da alimentação e o bem-estar físico
e emocional das pessoas.
A DermatOlogia Estética ga nha a cada dia mais espaço na medicina, agregando novos con hecimentos,
difund indo técn icas modernas, util iza ndo-se de mültiplas terapias com apo io de várias especialidades médi-
cas e d ifu ndindo novas conqu istas.
Este livro-texto pretende oferecer uma visão geral da Dermatologia Estética em seus aspectos clínicos e
cirllrgicos.
O conhecimento não tem fronteiras e, neste mundo globalizado, está acessível a todos os interessados
em aprender. Os tratamentos de rejuvenescimento são uma realidade ao alcance das pessoas. O ma is im-
portante é capacitar os profissionais para que possam cornar<;e aptOs a ind icar e executar proced imentos
q uali ficados.

Sandra Lyon
Rozana Castorina da SiJ,,a

XXIII
Sumário

PARTE 1: BELEZA. 1 11. Classificação Étnica e Cronologia, 52


Patricia Cntt Gomes
1. A Construção da Beleza: da Natureza à Cultura, 3
Regina de Paula Medeiros 12. Pele na Gestante, 65
Saby Vanessa Vargas Romero
2. Pele: Espelho da Saúde, 8
Sandra Lyon
3. A Represe ntação da Imagem Corporal e a PARTE IV: COSMÉTICOS E COSMECÊUTICOS, 73
1n tegridade do "Eu", 9 13. Cosméticos e Cosmecêuticos, 75
A ldên ia Pereira da Silva
Sandra Lyon
4. Visagismo, 14 14. Hidratantes, 79
Cristiane Rachid Sandra Lyon
Naiara Resende Corrêa
15. Regeneradores da Pele, 82
S. Cuidados com a Pele, 18 Sandra Lyon
Angelina Toledo Lyon
16. Cosméticos para Cuidados com os Cabelos, 84
Sandra Lyon
PARTE 11: PELE, 25 17. Cosméticos para Unhas, 88
Sandra Lyon
6. Anatomia e Fis iologia da Pele, 27
Bárbara Proença Nardi A ssis 18. Formulações Básicas em Dermatologia, 91
Sandra Lyon
7. Envelhecimento Cutâneo, 35
Sandra Lyon
PARTE V: DESPIGMENTANTES, 93
19. Despigmentantes, 95
PARTE 111: CLASSIFICAÇÃO ÉTNICA E Sandra Lyon
CRONOLOGIA, 39 ]ulia na Cunha Sa ntbi
8. Classificação da Pele, 41 20. Melasma, 101
Angelina Toledo Lyon Helena Lyon Moreira
9. Variabilidades Raciais e Étn icas da Pele, 44
Maria Ines Vieira PARTE VI: FOTOPROTEÇÃO, 103
10. Pele do Neo nato, 48 21. Fotoproteção, 105
Maria Aparecida de Faria Grossi Sandra Lyon

XXV
C xxvi Sumário

PARTE VIl: ANTIOXIDANTES, 113 PARTE XII: PEEUNGSFÍSICOS, 205


22. Antioxidantes, l15 38. Microdermoabrasão, 207
Sandra Lyon Olí11ia Helena Veiga Rafael
23. Luteína e a Saúde da Pele e dos O lhos, 123 39. Dermoabrasão, 209
Sandra Lyon Ro~ana Castorina da Silt<a
Dagmar Toledo Lyon 40. Criopeeling, 213
Fernanda Lyon Freire Sandra Lyon
41. Laser abrasão, 215
PARTE VIII: PELE SENSÍVEL, 127 Ro~ana Castorina da Silt<a

24. Pele Sensível, 129 42. Eletroabrasão, 217


Sandra Lyon Ro~ana Castorina da Silt<a
25. F1ushing, 131
Sandra Lyon
PARTE XIII: INTRADERMOTERAPIA, 219
PARTE IX: ERUPÇOES ACNEIFORMES, 133 43. l ntradermoterap ia, 221
Sandra Lyon
26. Acne, 135
Glá,cia Maria O..arte
Rozana Castorina da Silva
27. Erupções Acneiformes, 141
Rozana Castorina da Sil,,a PARTE XIV: TOXINA BOTULÍNICA, 229
28. Rosácea, 145
Rozana Castorina da Sil,,a 44. Tmdna Botulínica, 231
Sandra Lyon
29. Acne na Mulh er Adulta, 149
45. Pontos Básicos de Toxina Botulínica, 234
Rozana Castorina da Silva
Debora Cristina Cam pozan
46. Pontos Avançados de Toxina Botulínica, 242
PARTE X: ALOPECIAS, 153 Leonardo Oliveira Ferreira
30. Alopecia, 155 47. Complicações da Toxina Botulínica, 247
Sandra Lyon Sandra Lyon
31. Alopecia Androgenética Masculina, 161 48. Tmdna Botulínica em H iperidrose, 249
Sandra Lyon Louraneide Maciel Tat,ares
32. Alopecia Androgenética Padrão Feminino, 164
Maria Alice Ribeiro Osório
PARTE XV: PREENCHIMENTO CUTÂNEO, 255
PARTE XI: PEEUNGS, 113 49. Classificação dos Preenchedores, 257
33. Peelings Químicos, 175 Debora Cristina Cam pozan
Rosane Dias Costa 50. Ácido Hialurônico, 265
Marina Dias Costa Ro~ana Castorina da Silt<a

34. Peelings em Peles Pigmentadas, 183 51. Ácido Poli-L-lático: Melhores 1ndicações, 267
Maria da Consolação de Oliveira Lúcia Helena Sampaio de Miranda
35. Peelings Corporais, 191 52. H idroxiapatita de Cálcio: Melhores
Ta tia na Amora Cn•z 1ndicações, 271
36. Peeling de Feno) Atenuado, 195 Lúcia Helena Sampaio de Miranda
Louraneide Maciel Tamres 53. Complicações dos Preench imentos, 282
37. Exoderme®: Rejuvenescimento Facial Não Louraneide Maciel Tat,ares
Cirúrgico, 200 54. Preench imento em P acientes com HIV, 291
Clara Santos Sandra Lyon
Sumário xxvii ")

55. Combi nação das Técn icas de Preenchimento e 70. Avaliação do Consumo Alimentar e Terapia
Tmdna Botulínica, 293 Nutricional na Obesidade, 386
Leonardo Oliveira Ferreira Joana Ferreira do Amaral
Roberta Pate~ Figueiredo
71. Suplementos Nutricionais, 392
56. Rejuvenescimento de Lábios, Colo e Mãos, 296 Ângelo Silvestre de Sá
Helena Lyon Moreira
72. Nutrição nas Feridas da Pele, 395
Maísa Neitlll Santos Hemandez
José Adalberto Leal
Priscilla Cecy Lages

PARTE XVI: ALTERAÇÕES HORMONAIS. 301


57. Síndrome Metabólica, 303 PARTE XIX: ESTÉTICA FACIAL, 401
Sandra Lyon
73. A Odontologia na Estética Facial, 403
58. Manejo H ormonal da Acne, 306 Ronaldo Rettore Júnior
Lígia Almeida Bezerra
59. Reposição H ormo nal, 313
Sandra Lyon '
PARTE XX: CIRURGIA DERMATOLOGICA. 425
60. Modulação H ormo nal, 319
74. Pele: Aspectos Funcio nais e Anatômicos e a
Cor·Jesus Lu~ia Heleno
lmportãncia do Co nh ecimento da Cicatrização
no Manejo das Feridas, 427
Guilherme de Castro Greco Guimarães
PARTE XVII: CONDIÇÕES IN ESTÉTICAS. 323
75. Pele Artificial, 441
61. Escleroterapia, 325 /zabel Cristina Sad das Chagas
Luís Fernando Piacitelli Lyon Edilamar Silva de Alecrim
62. Estrias, 330 76. Anestesia, 445
Sandra Lyon Sandra Lyon
Clara Santos Helena Lyon Moreira
63. Celulite, 333 77. Fios, Agulhas e Suturas, 453
Tatiana Amora Cruz Fábio Lyon Moreira
64. C icatriz de Acne, 335 Ângela Carolina Nascimento
Daniel Seixas Do,rado
78. Biópsia em Dermatologia, 457
Alexander Cordeiro Teixeira
79. Eletrocirurgia, 470
PARTE XVIII: NUTROLOGIA. 347 Rozana Castorina da Silt'a
65. Nutracêuticos, 349 80. Criocirurgia, 472
Sandra Lyon
Rozana Castorina da Siltlll
66. Vitamina D : Mitos e Verdades, 366
81. Cirurgia das Unhas, 476
Tatiana Amora Cruz
Leandro Ribeiro Mauro
67. O Significado da Obesidade e da Imagem
Corporal no Estilo de V ida, 369 82. Transplante Capilar, 481
José Otávio Penido Fonseca Car/uz Miranda Ferreira
Fernanda Lyon Freire 83. Subcisão, 489
68. Fitoterápicos em Nutrologia, 372 Leonardo Olit>eira Ferreira
Leonardo Oli<!<!ira Ferreira Roberta Patez Fig,eiredo
69. Obesidade, Nutrição e Atividade Física, 380 84. Microagulhamento, 492
José Adalberto Leal Juan Carlos López
Fabiano Kenji Haraguclti Antônio Manuel Margarido Gormiclto Boat•ida
C xxviii Sumário

PARTE XXI: LASERS. 499 93. Complicações dos Lasers: Queimaduras e


Intercorrências, 534
85. Princípios da Luz do Laser: E nergia,
Emanuella A cácia Alues Barbosa
Potência e Fluência, 501
]acqueline Netto Parentoni Donnabella 94. Cavitação, Ultracavitação ou Ultrassom
Cavitacional, 541
86. Principais Tipos de Lasers e suas
Maria do Carmo Santos Wandeck
Aplicações, 504
Roberta Ilha Oliveira Cardoso 95. Medidas de B iossegurança na Utilização dos
/gor Felix Cardoso Lasers, 550
Rozana Castorina da Silva
87. Laser em Lesões Vasculares e Pigmentares, 507
]uliana Cunha Saru.bi
88. Lasers Ablativos, 515 PARTE XXII: ASPECTOS ÉTICOS E JURÍDICOS, 551
Rozana Castorina da Silva 96. Aspectos Éticos e Jurídicos da Publicidade
89. Luz Intensa Pulsada no Rejuvenescimento, 520 Médica, 553
Marcus H enrique de A lt,arenga Morais Palova A misses Parreiras
Gabriela Maria de A breu Gontijo Gustcwo César Parreiras Cavalcanti
90. Remoção de Pelos com Laser e Outras 97. Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de
Fontes de Luz, 526 Consentimento, 568
Dagmar Toledo Lyon Palova A misses Parreiras
Fernanda Lyon Freire Gustavo César Parreiras Cavalcanti
91. Terapia Fotodinâmica, 529 98. Sigilo Profissional e o CID nos Documentos
A na Cláudia Lyon de Moura Médicos, 594
Cor·lesus Luzia Heleno
92. Radiofrequência, 532
Silvia Helena Lyon de Mot<ra Índice Remissivo, 597
PARTE I

BELEZA
AConstrução da Beleza: da Natureza àCultura
Reg ina de Paula Medeiros

Os estudos sobre beleza e nquanto uma categoria abs- A construção do belo e do feio é tão antiga quanto a exis-
trata, materializada no corpo, foram uma preocupação dos tência do homem e, embora un iversa l, varia de contextO
d iferentes campos de con hecimento científico, além de te- histórico e social.
rem sido, ao longo da história, uma necessidade inerente Até o século VI a.C., o bon ito era baseado nas ciências
aos seres humanos para classificação de determinados pa- exatas e era apresentado em formas simétricas e proporcio-
d rões sociais. Fa lar sobre o belo é refletir sobre a constru- nais q ue inspiravam a o rdem, a harmo nia e a ma neira de
ção social de uma imagem em oposição ao feio, mas tanto compreensão do mundo, ou seja, pela perfeição das med i-
a beleza como a feiúra são propriedades contemplativas das. Em gera l, o nari z era desenhado com detalhes e tra-
que só podem ser compreendidas e comun icadas pela for- ços finos, os cabelos eram ond ulados e bem ali nhados e o
ma visível, seja por meio do corpo, q ue segundo Le Breton perfil era perfeito, como o de Apolo no templo de Delfus.
(2010) é o lugar privilegiado de contato com o mu ndo, seja Na Idade Méd ia, o bon itO estava associado à boa alma e ao
por meio da arte. A~ imagens construídas sobre a beleza e comportamento devoto, o rosto tinha o aspecto angelica l e
a fei úra expressam o contexto social, as emoções, os modos puro, os olhos recebiam a expressão de piedade e os lábios
singulares de conceber a corpore idade, os modos de for- eram finos. Essa imagem simbolizava fragil idade e doçura
mar, deformar e reformar os ví nculos sociais. O corpo é a e ausência de desejos carnais, como a figura de Vênus, de
estética da cultura (forma, deforma e reforma) que implica Lucas Cra nach. No período do Renascimento, o belo era
a experiência sensível dos ind ivíduos e dos grupos sociais. representado pelas formas roliças com ombros largos, bus-
A~sim, o conceito de belo e de feio consolidados no corpo to proeminente e os quadris d ilatados e arredondados, sig-
só pode ser compreendido por uma variedade de concep- nificando a volúpia, a nobreza e a ostentação ali mentícia,
ções de acordo com as vivências, sensibilidades coletivas e a q ue poucos tinham acesso, como pode ser observado no
o sistema de sign ificados culturais que são fu ndamenta is quad ro As n-ês Graças, de Rubens. No Modernismo, a be-
para a interpretação de uma realidade social, e não para as leza adq uire feição geométrica, e as formas ti nham um as-
leis (Geertz, 1989). pecto descontínuo e fragmentado, com caráter provocativo
As representações do belo e do feio recebem deter- e desafiante. Os corpos e os rostos eram traçados pelos ar-
minados atributos que são consagrados coletivamente e tistas de maneira a dar a ideia de movimentos instigantes,
se concretizam na relação entre o sujeitO q ue os adquire graciosos e estim ulantes, o que é mu ito bem representado
e aqueles que o observam o u com quais ele se relaciona. pelo q uad ro Lês demoiselles d'Atlignon, de Pablo Picasso.
Compreender esses sign ificados é entender parte da cul- Por fim, na comempora neidade, o belo está d ireta-
tura, é indagar sobre beleza, feiúra e o lugar em que elas mente relacionado com a figura jovem, de corpo magro, e
são produ zidas; a ideia e a perspectiva em um contexto com a expressão de alegria inabalável, quase mecâ nica da n-
especifico é d izer sobre o corpo, luga r e tempo de expres- do a impressão de felicidade. Ser feliz é o d iscurso central
são da sensibilidade e da manei ra de visualizar o mundo. que compõe o cenário contemporâneo, e a felicidade pode

3
PARTE I • Beleza

ser traduzida na busca obsess iva pela elevação da autoesti· os aspectOs físicos q ue marcam a beleza bras ileira, ou seja,
ma entendida por meio dos pad rões de beleza definidos o belo é simbolizado pela pele alva, cabelos finos, lisos e
cul tura lmente. Assim, a beleza é a senha para o sucesso louros e, ao contrário, os cabelos anelados e a pele negra,
profiss ional e para o reco nhecimento social, é a declaração que se aproximam da categoria dos escravos e africanos,
de saüde, da rea lização e do prestígio pessoal e a possibili- representam a feiú ra (Queiroz & Otta, 2000).
dade do amor e de prazer. O conceitO de beleza não é u niversal, e tampouco ri·
Na sociedade contemporâ nea, a beleza é representada gido. Ao contrário, é abstrato e mutável, e varia de acordo
pela figura da Barbie, um brinquedo criado nos EUA, em com a d iscernimento coletivo, o conjunto de significados
1959, q ue se transformou em uma boneca adolescente, q ue e os aspectos históricos, socioculturais, as percepções e in-
usa maq uiagem e acessórios, diferente da boneca bebê. O terpretações sobre si próprio e sobre o contexto social. De
novo brinquedo feminino ganha destaque en tre as crian- qualquer modo, a beleza está d iretamente relacionada com
ças, principa lmente adolescentes, e até entre os jovens, e a eterna b usca da perfeição, definida por meio de parad ig-
persiste ao longo do tempo exatamente pela capacidade de mas sociais, trad uzida na possibilidade de aproximação do
acompan har as transformações do mundo, dos costumes e transcendental e do idea l que é solidificado e se expressa
dos va lores que exigem flexibilidade de adequações e ino- no corpo, q ue, em ültima instância, é a espacialidade visí·
vações no cenário social. O sucesso da boneca pode ser in- vel, ma nipulável e versátil. Na lei tura de Mauss (2003), "o
terpretado pela aproximação da figura h umana como idea l corpo é o primeiro e o ma is natu ral instrumento do ho-
de feminilidade apontado em uma infi nidade de estilos. mem", pois, segundo Breton (2010), pode ser transforma-
A Barbie tem fam ília, registrada na figura das três irmãs, do "em um objeto a ser moldado, modificado, mod ulado
e um namorado moderno - Ken - , que acompanha os co nforme o gosto do dia; o corpo se equ ivale ao homem,
ül timos estilos de vestimenta, corte de cabelo e interesses no sen tido em q ue, mod ificando as aparências, o próprio
musicais. A figura da Barbie tem fantasias (Barbie fada), homem é mod ificado". Neste contexto, o corpo é "parcei-
tem romantismo (apa ixonada, noiva). Há ainda a Barbie ro" fiel do homem, pois é ele q ue confere sentido à exis-
profiss ional (fi~ ioterapeuta, médica, policia l, jogadora de tência h umana.
tên is) e a Barbie inteligente que acompan ha as artes, o No campo da antropologia, Mareei Mauss inaugu rou
cinema e a müs ica, entre tantas outras co nfigurações. O o estudo das técn icas corporais, entendendo que seria ne-
ül timo modelo Barbie, lançado em 2013, é uma boneca cessário produzir uma espécie de catálogo sobre os modos
careca criada com o objetivo de ajudar as crianças e ado- como os seres humanos, nas mais variadas sociedades e
lescentes a lidar com a perda dos cabelos ocasionada pelo contextos históricos, fazem uso de seus corpos no cotidia-
tratamento de câ ncer ou de alopecias de causas d iversas, no. Argumenta o auto r q ue é no corpo que se institu i a
q ue podem provocar perda de cabelo. Independentemente d icotomia entre a natureza e a cu ltura, ou seja, a u nida-
da configuração da boneca, inclus ive a careca, com a perda de biológica e a co nstrução social. E é por meio do corpo
de sua linda cabelei ra dou rada, a Barbie tra z sempre uma que a identidade cultura l é apresentada, tornando poss ível
expressão de felicidade, é magra, tem os cabelos lisos e lo u- compreender os sign ificados simbólicos de uma sociedade.
ros, é alegre, bonita, inteligente, amiga, compan heira, mei- Segundo Helman, existem dois corpos: o ind ividual, que
ga e correta. Além de rodos esses atributos, a bo neca tem é o físico e o psicológico - aquele que o sujeito recebe ao
carro, bicicleta, casa, an imais domésticos, raq uete de tên is, nascer - e o social, por meio do qual "a fis iologia do in-
sapatOs, maquiagens, roupas variadas e uma infin idade de d ivíduo é influenciada e controlada pelos princípios que
produ tos q ue podem ser enco ntrados nas prateleiras dos regem a sociedade em q ue vive" (Helman, 1994:33). O cor·
diferentes estabelecimentos comerciais. O corpo da Barbie po ordena e é o rdenado pelo sistema simbólico, espiritual,
pode e deve ser man ipulado, recriado e adaptado ao con- pelo lugar e pelos va lores sociais e, ao mesmo tempo, é alvo
textO social, portanto é corpo flexível ou dócil, na leitu ra e percepção de uma pessoa, de um grupo e de uma socie-
de Foucault. dade. O modo de expressão gestu al, o comportamento, os
De acordo com os estudos de Freyre (1986) e Sch ump cód igos de comun icação e a ma neira de exprimir a afetivi·
(1999), o Brasil tem a tendência de supervalorizar a figu ra dade e os sentimentos são decorrentes de um processo de
da loura. Segu ndo esses autores, isso se deve à chegada das socialização q ue varia de uma sociedade a ou tra, dando
bonecas de porcelana, de ol hos azu is e vestidos de seda, im- um ca ráter singular àquela sociedade. Ass im construída, a
portadas dos pa íses europeus para as cria nças ricas, filhas maneira de revelar a lógica social e cu ltural de dentro e de
de pessoas com altO poder aq uis itivo, e q ue passaram a ser fora dos próprios grupos se evidencia na relação dos seres
um modelo idea l de formosura feminina. A brancura e a h uma nos com o mundo por meio de ritua is de interação
lourisse, associadas à chegada dos imigrantes eu ropeus, e o e de sociabilidade, e nesse quesito o corpo/estética é o ele-
fim da escrava tura passam a ser fu ndamenta is para reforçar mento essencial nas relações h umanas.
Capítulo 1 • A Construção da Beleza: da Natureza à Cultura 5

A estética é uma d ramatização sociocultu ral q ue impli- a posição social em que o ind ivíduo se situa, como, por
ca a afetividade e a fisiologia e que pode ser compreendida exemplo, as maqu iagens, a toxina botu línica, as joias, as
e interpretada coletivamente, ou seja, consiste na mode- ci rurgias, os acessórios, as ma nicures etc.
lagem interna, percebida e apropriada pelo ind ivíduo, e Além disso, o rosto e as mãos protegem as partes inter-
na externa, q ue afeta o ou tro que o vê ou com o q ual se nas ou privadas que, de acordo com os padrões cultu ra is,
relaciona e desperta emoções e reações. não devem ser exibidas. Essas mesmas partes, exatamente
Exempli ficando, um rei, a partir do momento em por estarem expostas e serem importa ntes na interação so-
que recebe a coroa, deve se comportar corporeamente de cial, devem receber um cu idado especial, particularmente
acordo com as representações q ue esse luga r social exige, no q ue concerne à pele, para dar visibilidade ao aspectO
deve adota r uma postura corporal, fazer uso de acessórios agradável, bon ito, higiên ico e funciona l. A~sim, a pele pas-
e apresentar uma oratória peculiar correspondente à ima- sa a ser um elemento fundamental no que se refere à prote-
gem constru ída para o referido personagem. Além d isso, ção das partes internas, à estética, à imagem construída, ao
cabe ao rei incorporar os atributOs a ele conced idos, não wque com o corpo do outro, à sensibilidade e à constitui·
só pelo exercício do poder, mas pela licitude que um líder ção de uma barreira simbólica nas relações e no e ncontro
deve ter. Desse modo, a reação social, o recon hecimento e com o "outro".
as representações co nstru ídas em torno de rei são que o le- Clastres (1 988), em seus estudos sobre as sociedades
gi timam ou não. Assim, trata-se de um processo individ ual prim itivas, expl ica que a pele fu nciona como um sinal a
e ao mesmo tempo coletivo que implica necessariamente ser considerado, um marcador simbólico importante para
a interação social adequada aos pad rões culturais particu- a compreensão de uma sociedade. Por exemplo, em deter-
lares. Nesse caso, a imagem do rei constru ída subjetiva e mi nadas sociedades, em certOs rituais de passagem ou in i-
socialmente é an unciada pelo corpo ou por partes dele de ciação da vida ad ulta, a pele é marcada com faca o u pedra
acordo com o que ele prete nde propaga r desde o lugar em para demonstrar que aquele sujeitO está apto a viver em
que está inserido. sociedade, ser considerado cidadão ou casar-se. Em ou tras
Segundo Helma n, o corpo é dividido em partes inter- sociedades, q uando uma pessoa transgride alguma norma
nas e exte rnas, e isso tem uma in fluência capital na manei- social, é to rtu rada e é impresso em sua pele um símbo-
ra de interpretar a estrutu ra orgân ica, sua funcionalidade lo identificador de um desvio. Nessa perspectiva, a pele é
e na construção das imagens em torno delas. Ainda que uma espécie de envelope de correspo ndência e nviada a ou-
essas partes sejam classificadas de acordo com os parâme- trem que, ao mesmo tempo que esconde ou protege uma
tros de cada sociedade, usualmente o rosto e as mãos são intimidade, comunica algo a seu receptOr.
as partes públicas q ue, exibidas no contato com o "outro", Foucault (1987) ressalta que a tortu ra incluía a mar-
podem representar um facilitador, quando se aproximam cação da pele dos condenados com ferro quente ou brasa,
do ideal de esmero - bo nito, agradável, meigo etc. - o u para imped i-los de fugir e dar visibilidade social ao perigo
d ificultador, quando se dista nciam do no rmal e do mo- que eles representavam. De todas as maneiras, as marcas
delo de perfeição - manchado, e nvelhecido, malcuidado, na pele são uma espécie de inscrição de regulamento q ue
nojento e gordo - o que está associado à feiú ra, à indolên- sinaliza o desvio ou classifica as pessoas definitivamente
cia e à incapacidade de controlar seus desejos (Del Priori, como um estorvo ao esquecimento de determinada ação
2000; Giddens, 1997; Schu pn, 1999). É no rosto q ue estão ou comportamento. Então, a pele é um fato moral, uma
centrados os sentidos da visão, aud ição, olfato e com unica- máSca ra que, segundo Mauss (2003), pode "significa r pes-
ção, que permitem ao sujeito concretizar o mundo em que soa, mas pode ser também o perso nagem que cada um é
está inserido, se expor (ser visto) e testemun har a existência ou gostaria de ser".
do outro (ver). Segundo Le Brew n, "o rosto é, de wdas as A máscara acrescenta o sentido moral ao sentido jurí·
partes do corpo h umano, aquela onde se condensam os clico do d irei to, de ser consciente, independente, autôno-
valo res mais elevados. Nele se cristalizam os sentimentos mo, livre e responsável. Nos estudos de Lévi Strauss sobre
de identidade, se estabelece o reconhecimento do outro, se os índ ios norte-americanos da Costa do Pacifico, são real-
fixam as qua lidades da sed ução, se identifica o sexo etc.". çados o uso das máscaras e os mitos a elas associados. Para
Conti nua o autOr: "é o lugar mais valorizado, o mais soli- o autor, a máscara esconde o rostO real do sujeitO, imob il i-
dário do Eu" (Le Breton, 2010:71). za ndo a forma, a expressão das emoções, do sentido dado
As mãos possib il itam o wca r, o aproximar<;e e d istan- e das representações sociais.
ciar-se de acordo com os interesses. Por essas razões, essas A escol ha da máscara leva também à escolha do per-
mesmas partes são comumente man ipuladas para apre- sonagem, do caráte r e da simbolização, sendo assim uma
sentar e representar socialmente imagens pos itivas, com o ação consciente. O uso da "máscara" ou de uma alegoria
objetivo de ocultar imperfeições e para comun icação sobre não significa que a pessoa quer apagar<;e, desaparecer; ao
<s PARTE I • Beleza

contrário, q uer se afastar de sua norma lidade, de sua natu- o De saúde, traduzida na dispos ição e ânimo para qual-
reza, e deseja mostrar-se o u aproximar-se do "no rmal" ou quer tipo de atração, exercícios fís icos, viagens e traba-
apresentar características aceitáveis q ue podem facilitar a lho (nesse q uesi to, é considerável o uso de esroque de
visib il idade e o perten cimento. med icações como antidepressivos, reposição hormonal,
Na sociedade contemporânea, a prática de consumo vitaminas e estimu lantes, dentre outros).
de produros variados e de intervenções cirúrgicas, motiva- o Da forma física, delineada de acordo com o ideal dese-
da pela fantas ia de uma vida melhor e mais prolo ngada de nhado de um corpo sarado com os müsculos à mostra
juventude e beleza, fu nciona como máscara e, na leitura de e com ba ixo teor de gordura, obtido por meio de uma
Campbell (1987), pode também ocultar o estado constante sucessão de va riados tipos de regimes e uso de produros
de tensão e romper com a impessoalidade social tão ca rac- d ietéticos e anabolizantes.
terística da sociedade atua l. o De virilidade, apresentado nos modelos muitO bem d i-
Na segunda metade do século XX, o culro ao corpo vu lgados nos d iferentes programas de televisão e propa-
em favor da beleza ganhou uma dimensão impressionan- gandas d ifund idas nos variados meios de comun icação,
te em decorrê ncia da mercamilização, da difusão de in- motiva ndo especialmente o uso de med icações como,
formações e da supervalorização da imagem. Nesse cen á- por exemplo, o Viagra<~>, os hormôn ios, implante de si·
rio, a míd ia cria mensagens sedutoras e sensuais com o lico nes e estratégias s imilares. Esses parâmetros são em-
objetivo de desperta r paixão pela moda, motiva r o co nsu- p regados pela indústria cultu ral do corpo a fim de criar
mo de produros de beleza, cirurgias plásticas, frequência um padrão ú nico de estética, infligindo ao homem o
às academ ias de gi nástica, atividades esportivas, uso de dever para cons igo próprio.
maquiage ns, tatuagens, regimes rigorosos de emagreci-
mento, uso de aparelhos o rtodônticos para correção dos O culto ao corpo e o "cuidado de si próprio" podem
dentes, próteses dentárias, controle obsess ivo do peso, ser interpretados como cu ltu ra narcís ica (Lasch, 1979) e
uso de med icação para os mais variados "incômodos", passam a ser um mecanismo importante no processo de
cílios e unhas postiças. É notável também o co nsumo de co nstrução das identidades ind ividual e social e para defi-
uma infinidade de produtos diet e ligh.t existentes no mer- nição do estilo de vida. Nesse contextO, o corpo q ue não
cado, da moda efêmera para os gosros flexíveis, roupas de tem boa forma - o gordo, sujo, com os cabelos sem tin-
marcas e etiquetas importantes para a classificação dos tura, desalinhados, e o rostO sem maquiagem - inspira a
lugares sociais. imagem de debilidade, do feio, descuidado, deprimido.
Todos esses dispos itivos são arranjos constru ídos pelas É um s ímbolo de falência moral e vu lgar. Assim, o corpo
mensagens mid iáticas com a intenção de conferir ao sujei- que co nsome e que é consum ido tem um va lor simbólico,
to a respo nsabilidade pelo seu próprio corpo, por sua bele- b iológico, social e emocional/psicológico na raciona lidade
za, juventude e saúde, forjando a ideia de auronom ia indi- contemporânea.
vidua l e ma leabilidade para recriar, mudar, decid ir, alterar O cuidado de si na d itadura contemporânea da beleza
e tra nsgredir as possibilidades bio lógicas. Como ú nico res- e da felicidade impl ica necessariamente um investimento
ponsável por si, quando o ind ivíduo não tem sucesso em fi nanceiro para o consumo de todos os dispositivos neces-
seus empreend imentos pessoais, resta a sensação de culpa sários e d ispon íveis para atingir o ideal imaginário. Embora
e vergon ha. Temeroso, ele se impõe uma série de ações ob- as mensagens mid iáticas sejam divulgadas indiscri minada-
sessivas para manter ou atingir um imaginário contempo- mente, o acesso a esses dispositivos exclui determinados
râ neo ou para afastar e d issimular "defeitos" corpora is q ue grupos e classes sociais que comam com recursos escassos
podem comprometer sua imagem ou d istanciar-se do ideal para participar desse processo. Então, a autonomia expres-
de beleza, que se ancora nos segu intes parâmetros: sa nas narrativas contemporâneas sobre "hoje só é feio
o De magreza, que na atua lidade pode ser concretizada quem quer", "se reconheça como quem tem cuidado con-
por meio da lipoaspi ração, de intervenções cirúrgicas, s igo próprio e mude suas atitudes" ou apoiada no discurso
aplicação de prod utos e cl ín icas de massagens. da felicidade associada ao aurocu idado - "ser feliz é cu ida r
o De beleza, facilmente solucionada por meio de uma de s i próprio" e ''aprenda a cu idar de si próprio" - fu ncio-
parafernál ia de mecan ismos de apoio às "incorreções" na como verdadeiro manua l composto de d icas e truques
físicas naturais ou produzidas pelo tempo, como o uso sobre os modelos e cores mais adequados para determina-
abus ivo de uma lista infin ita de produtos fa rmacêuticos. dos tipos de corpo, especialmente para disfarçar as formas
o De juventude eterna, amparada no uso de d ispositivos ou deformações e se acercando do autoconhecimento, do
técnicos que podem ocultar ou fazer desaparecer especial- contro le das ações e, simultaneamente, da ndo a ideia de
mente as marcas do tempo, como, por exemplo, o botox, democratização da saúde, da juventude e do deleite de que
as atividades esportivas, academias e a alimentação. todas as pessoas podem e devem se aproxi mar.
Capítulo 1 • A Construção da Beleza: da Natureza à Cultura 7

O cuidado de si é um dever moral q ue associa a beleza, A representação da beleza t rad uz a eterna busca da
a obrigação e o p razer e pode ser trad uzido pela p resença per feição, tOrna ndo o corpo alvo de mudanças e elemento
e centralidade do próprio sujeito, destacando e retroali- essencial das relações h umanas.
menta ndo a autO nomia q ue fica comprometida quando se A beleza roma-se objeto de conquista, de p razer, de
coloca em q uestão o q ue é ser autônomo, em relação a desejo e representa t roféu a ser exibido, m uit as vezes, em
quê, d ia n te de q ue e em que contexto especifico. Assim, detri mento da qua lidade de vida .
ser a u tônomo implica uma ação coletiva e relaciona!,
como expl ica Castoriadis (1991). Para o autOr, a a u tono-
m ia é a capacidade de apropriação pela reflexividade sobre
Referências
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a experiência de sujeitOS e a habilidade para transformá-
Paz e Terra, 1991.
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Caswriad is ressalta q ue uma sociedade autônoma é aque- Alves, 1988.
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wma decisões, cria e define códigos no rmativos e regras nismo ostentatório na cultura americana. In: Sant:A.na DB (org.).
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de conduta, construindo assim u ma espécie de gr amática De I Priori M. Corpo a corpo com a mulher: pequena história das tras-
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Na perspectiva contemporânea, especialmente qua ndo plástica. estética e beleza. São Paulo: Senac, 2000.
Featherstone M et ai. The body: social process and cultural theory.
se refere à beleza, a autonomia não está inscrita na ação co-
Londres: Sage, 1992.
letiva; ao contrário, o autônomo é relacionado com a capa- Foucault M. A história da sexualidade. O cuidado de si. Rio de Janei-
cidade de um indivíduo se manter independen te e único ro: Graal, 198Z
em relação ao mundo exterior e, como tal, é capaz de negar Freyre G. Modos de homem, modas de mulher. Rio de Janeiro: Re-
cord, 1986.
a human idade e prod uzir certa transfiguração de si próprio,
Geertz C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
enquanto prerrogativa do autocon hecimento e do con trole Giddens A. Modernidade e identidade pessoal. Oeiras: Celta, 1997.
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espiritual, mas do belo fabricado de acordo com os padrões Helman C. Cultura, saúde e doença. Porto Alegre: Artes Medicas,
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culturais. É uma cond ição, um dever e obrigação de cuidar
Lasch C. The cultura of narcissism. Nova York: WWVorton, 1979.
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imagem conformada àS representações simbólicas. Levi Strauss C. A via das máscaras. Lisboa: Presença, 1981.
Segu ndo Feat herstone (1 992), a c ultu ra do consu- Maluf SW. Corpo e corporalidade nas culturas contemporâneas:
mo p rende-se a u ma co ncepção autopreservacionista abordagens antropológicas. Esboços, Revista do Programas de
Pós-Graduação em História, 2003.
q ue encoraja as pessoas a incor porarem estratégias para Maluf SW. O dilema de Cênis e Tirésias: corpo, pessoa e as me-
combater o desgaste natural do corpo . Ser autô nomo é tamorfoses de gênero. Texto apresentado na Mesa Redonda
u m exercício de solidão, de aprisionamento em si pró· "Corpo, sexualidade e representações'; do Fazendo Gênero 111,
p rio, é u ma liberdade co nstra ngida e maquiada q ue dá Universidade Federal de Santa Catarina, maio de 1998 (mimeo).
Matos MIS. Delineando corpos: as representações do feminino e do
contorno à individualidade obsess iva consigo p róprio e
masculino no discurso médico. In: O corpo feminino em debate.
afastada da ide ia da coletividade. Nesse contexto, a beleza São Paulo: Unesp, 2000.
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reco n hecer o ou tro é retroalimentada nas nar rativas que logia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
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tos para uma história do corpo no Brasil. In: Sant:A.nna D (org.).
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O ser h umano, ao longo da h istória da h uma nidade, Silva AM. Corpo, ciência e mercado: reflexões acerca da gestação
busca construir a imagem da beleza, tenta ndo promovê-la de um novo arquétipo da realidade. Campinas: Autores Associa-
com mudanças da imagem corporal. dos; Florianópolis: UFSC, 2001.
Pele: Espelho da Saúde
Sa ndra Lyon

A pele é o maior órgão do corpo humano, responsável preconceito. O estigma social em relação às doenças der-
por 15% do peso corporal e pela barre ira entre esse corpo matOlógicas na sociedade é bastante difundido, o que to r-
e o meio externo. na imperiosa a necessidade de abordar a q uestão referente
A pele desempenha inúmeras funções vitais e comple- à qualidade de vida.2
xas e é sede de vá rias manifestações emocionais e fisioló- A~ dermatoses crôn icas interferem na q ualidade de
gicas q ue acompanham o ser humano desde sua origem vida das pessoas de d iferentes manei ras, seja pelo prurido,
mais prim itiva. pela aparência inestética, seja por restrições causadas pelo
A pele constitui o meio através do qua l o mu ndo é per- próprio tratamento. Causam forte impacto nas relações
cebido e apresenta permanente relação harmon iosa com sociais, no estado psicológico e nas atividades cotid ianas
o restante do o rgan ismo. É o envoltó rio dos ind ivíduos, desses pacientes.2
podendo ser considerado o sistema q ue delineia a ind ivi- A qua lidade de vida é afetada pelo estado da pele, e o
dua lidade de cada um e que o coloca em contatO com o transtorno psicológico que acompa nha as derma toses de-
mundo e com as pessoas.' pende de farores externos decorrentes da d imensão social
De acordo com os ideais estéticos de cada sociedade, do ser h uma no, resultando em estigma e rejeição social. 1
no âmb ito dos grupos étn icos e de acordo com cada cul- A imagem corporal é um construtO psicológico que se
tura, o ser h umano mod ifica seu corpo, ornamentando a desenvolve por meio de pensamentos, sentimentos e percep-
pele de maneira temporária ou d efi nitiva em busca da me- ções das pessoas sobre a aparência geral das partes de seus
lhora estética e do rejuvenescimento cutâ neo. corpos e das estruturas e funções fisiológicas. No enta nto,
A~ doenças cutâ neas podem acometer somente a pele ou essas percepções podem ou não corresponder à realidade. 4
podem acometer o tegumento e os órgãos internos. E, ainda, Considera ndo que a pele é o espelho da saúde, cu ida r
por ser a pele um órgão de interface, as doenças sistêmicas do corpo e tratar da pele e das dermatoses existentes sign i-
podem apresentar manifestações cutâneas importantes. fica também tranquil iza r o espíritO e aquietar as emoções.
As doenças da pele provocam sentimentos como infe-
rioridade, depressão e falta de aceitação pessoa l. Afetam Referências
o estado emocional, alterando a vida tanto fís ica como
1. Galiá I. Psiquiatria e dermatologia: o estabelecimento de uma
psicologicamente, inclu indo a interação interpessoa l nos comunicação bidirecional. Junguiana 2002; 20:57-72.
momentos de trabalho e lazer. O aspecto da pele coloca 2. Bello RT. Qualidade de vida em dermatologia. Rev SPOV 2005;
as pessoas em situação de constra ngimento e tem grande 63:35-7.
3. Finlay AY. Ouality oi lite index. lndian J Oermatol Venereol Leprol
impacto nas atividades diárias dos pacientes e nas relações
2004; 70:143-8.
sociais, sobretudo q uando se leva em consideração que a 4. Hart EA. Avaliando a imagem corporal. In: Tritschler K. Medida e
principal d ificuldade enfrentada pelo portador de uma avaliação em educação física e esportes de Barrow & McGee. 1.
dermatose é tornar-{)e alvo constante de discri minação e ed. Barueri: Manole, 2003:457-88.

8
A Representação da Imagem
Corporal e a Integridade do "Eu"
Aldênia Pereira da Silva

A IMAGEM QUE SUSTENTA ÉA MESMA QUE pôde afirmar como a imagem se constitu i, é a partir dela que
DERRUBA Lacan vai afirmar a formação, ou seja, a constitu ição do eu.
Neste capítulo, tenho a intenção de refletir um pou- Para Lacan, a constitu ição do eu acontece a partir da
co sobre a q uestão da imagem na co nstitu ição do sujeito experiência da criança com sua imagem no espelho. Isso é
a partir do texto "O estád io do espelho", de Lacan, mas colocado por Laca n do segu inte modo:
também na vida do ser huma no. Valer-me-e i de Freud para
introduzi r a q uestão da imagem: Esse ato, com efeito, longe de esgotar-se, como no
caso do macaco, no controle - uma vez adquirido - da ina-
A fim de formar uma imagem dessa vicissi tude, nidade da imagem, logo repercute, na criança, uma Série
suponhamos que todo o processo menta l... exista, in i- de gestos em que ela experimenta lud icamente a relação
cialmente, em um estád io o u fase inconsciente, e que é dos movimentos aswmidos pela imagem com seu meio
somente dali que o processo se tra nsporta para o cons- refletido, e desse complexo virtual com a realidade que
ciente, da mesma forma como uma imagem fotográfica ela reduplica, isto é com seu próprio corpo e com as pes-
começa com um negativo e só se torna fotOgrafia após soas, ou seja, os objetos que estejam em suas imediações 2
haver-se transformado em pos itivo. Nem todo negati·
vo, co ntudo, transforma-se necessariamente em posi- Pelo que vimos, Lacan está di zendo que o macaco se
tivo; e não é necessário que todo o processo mental contenta em ver sua imagem e pronto, mas a criança pa-
inconsciente venha a se tornar consciente.' rece q uerer interagir com sua imagem, po is ludicamente
experimenta gestos e movimentos, os quais sua imagem
Nesse texto, de sua conferência XIX, Freud faz uma também executa. Laca n informa q ue esse comportamen-
analogia do sistema inconsciente/consciente com a q uestão to da criança acontece a partir de seu sexto mês de vida,
da imagem via fotografia: negativo/ positivo - posi tivo/ne- época em que a criança já tenta vencer os obstáculos q ue
gativo. Sabemos o quanto Freud trabalhou com a q uestão servem de entraves, seja a postu ra a inda não ereta, seja o
da imagem, principalmente em seu texto "A interpretação suporte dado por um andador. Assim d iz Lacan:
dos sonhos", mesmo assim há quem afirme que para ele,
Freud, a questão da formação da imagem permaneceu como (...) supera num azáfama jubilatório os entraves
um en igma. Q uem diria, ele que tanto construiu e ta ntO desse apo io, para sustentar sua postura numa pos ição
valorizou a q uestão da imagem, morreu sem poder afirmar mais ou menos inclinada e resgatar, para fixá-lo, um
como ela, a imagem, se origina. Será verdade? Não sei, mas aspecto insta ntâneo da imagem 2
isso va le uma pesqu isa, não acham/ O u será que alguém já
tem essa resposta. Eu não a tenho, porém, mais do que nu n- Nesse esforço da criança já se pren uncia o poder q ue
ca, estou d1eia de curiosidade. Se é verdade q ue Freud não a imagem vai exercer sobre o ser huma no; nesse momento

9
PARTE I • Beleza

é ainda, apenas, a própria imagem, mas outras vi rão ... E Imagem, identificação, eu imaginário, imagem do ou-
Laca n continua: tro e a própria imagem, quão importante se apresenta a
questão da imagem na vida da crian ça, do ser h umano,
a assunção jubilatória de sua imagem especular do sujeito, po is é a isso que Lacan quer chegar, ao sujeito.
por esse ser ainda mergu lhado na impotê ncia morora Motta afirma que
e na dependência da amamentação q ue é o filhote do
homem nesse estágio de infans parecer-nos-á po is mani· A rwolução fre.,diana ad.,ém para Lacan "do uso genial
festa r, numa situação exemplar, a matriz simbólica em que ele faz. da noção de imagem"(. ..) A imagem é assim um
que o [eul se precipita numa forma primord ial, ames conceito awal, q"e articula o conceito de estrutura psíquica
de se objetivar na dialética da identificação com o o u- ao que Lacan mi chamar o "sujeito ltumano".4
tro e ames que a linguagem lhe restitua, no u niverso,
sua função de sujeito 2 Na constitu ição do eu, em um primeiro momento, a
rea lidade para o sujeito é desorga nizada, a imagem do cor-
Até esse momento, vimos que Lacan está lidando com po, como intei ra, é a primeira apreensão dessa realidade de-
infans como h umano, mas não como sujeito, pois a crian- sorganizada, confusa, e é um momento fundante do sujei co,
ça, segundo ele, ainda não é habitada pela linguagem. A~ onde ele passa a experimentar uma articu lação do imaginá-
observações de Lacan vin ham se desenvolvendo a partir rio com o s imbólico, podendo ass im criar e experimentar
de experiências da ps icologia comparada, principalmente novas atitudes e comportamentos. Quem sabe já até sele-
pelas observações de Kõhler e Henri Wallon, q ue davam o cionar o que vai utilizar ou não para sua vida em nome de
nome de prova do espelho a tais experimentos: ganhar ou perder, de ter prazer ou desprazer, isso já em nível
consciente e inconsciente, pois esse sujeico que se funda no
(. ..) em 16 de junho de 1936, Laca n retomou a momento da formação do eu, e já é o sujeito do inconscien-
terminologia de Wallon, transformando a prova does- te, pelo menos é assim q ue eu percebo a questão.
pelho num "estádio do espelho", istO é, numa mistu ra SujeitO que se funda, mas que jamais estará pronto,
de posição, no sentido kleiniano, e estádio no sentido po is sua formação é um processo contínu o, em que o su-
freudiano. A~s im desapareceu a referência wallo niana jei to vai se fazendo, se desfazendo, se refazendo em um vi r
a uma dia lética natu ral: na perspectiva lacaniana, o a ser constante.
estád io do espelho já não tinha muitO a ver com um O espelho por si só é apenas um objeto que também
verdadeiro estádio nem com um verdadei ro espel ho, pode facil itar o recon hecimento e uma apropriação da
transformava-se n uma operação psíquica ou até onto- imagem de s i próprio em busca de uma identificação com
lógica, pela qual o ser humano se constitui n uma iden- o próprio corpo, mas esse espel ho pode perfeitamente ser
tificação com seu semel hante. 1 representado por um outro sujeito que auxilia a estrutu ra-
ção desse novo sujeitO o nde o social, o cultu ral, o ambien-
Identificação com seu semelhante é o q ue va i cons- tal e toda a h istória de cada um é, e será sempre, o suporte
tituir o ser humano como sujeito. É o que demonstra principa l, e é esse suporte que realmente conta na estru-
Lacan. Quando a criança se dá conta de sua imagem no turação psíqu ica, onde o sujeito possa se ver habitando o
espelho, também se dá co nta de uma aparente completu- corpo do qua l vê a imagem no espel ho.
de, até então desconhec ida, uma vez que até esse momen- O aparelho psíquico de o nde o sujeitO inconsciente
to se percebia como um corpo despedaçado. É com essa vai se man ifestar é formado, segu ndo Freud, conforme cita
imagem que a criança vai se identificar. Porém, se não Rod rigues:
for com essa imagem vista in icia lmente como imagem de
um outro, vista no espelho, será com o próprio outro, Aparelho ps íquico: para um melhor entendimen-
seu semelha nte, a q uem vê e com quem convive, que isso to das ideias de Freud, lembremos o que ele idea lizou
irá se da r, uma identificação. É nesse sentido que Laca n como aparelho ps íquico. Ele estaria formado por três
vai di zer q ue não precisa haver necessa riamente o objetO forças que se complementariam e q ue deveriam ten-
espelho, pois se vendo e se identificando com o outro, a der ao equilíbrio: o Ego, o ld e o Superego. O Ego é
criança passa a ter um referencial de si própria, o que va i nossa personalidade, nossa instância ma is consciente.
poss ibilita r a formação da co nstituição de um eu imagi- O Jd é a força instintiva e o Superego, nossa censura e
nário. cultura, ou seja, aprendizado, experiências repressoras,
A partir dessa identificação, tudo o que a criança iden- opinião dos outros. O Ego estaria colocado entre esses
tificar e perceber como comportamento seu servirá para dois impul~os: o Jd e o Superego, um busca ndo o pra-
continua r a fortalecer a constituição de seu eu. zer (Jd) e o outro reprim indo-o (Superego).;
Capítulo 3 • A Representa ção da Imagem Corporal e a Integridade do "Eu" 11

Pelo que vimos, o Superego não quer permiti r o pra- que marca para ele que é importante que ele exista para
zer. O ld, que é puls ional, só q uer satisfação. O Ego se alguém. Se assim não fo r, pelo menos é assim que deveria
encarrega de med iar, a fim de que o sujei to possa conviver ser, pois é esse ser importante para alguém q ue vai despertar
com as frustrações impostas pelos li mi tes das regras cul- nesse novo ser as cond ições, a motivação e o interesse em
turais, mas possa também obter alguma gratificação pelas conti nuar a existir. Quanto ao afero que é endereçado ao
man ifestações pulsionais como recompensa, tudo isso em pequeno ser vivente, poder-se-ia di zer que é tudo aqu ilo
nome de um equ ilíbrio ps íquico, o qual va i permitir ao su- que ele recebe além do básico para a preservação da vida,
jeito uma vida ma is ou menos "normal" em que ele possa um a ma is q ue acompan ha tudo aquilo q ue é báS ico e ne-
se reconhecer como sendo este que se vê na imagem de seu cessário para que ele se mantenha v ivo, e é esse um algo a
corpo q ue se reflete no espelho. mais q ue pode fa zer gra nde d ifere nça entre se manter vivo
Mas como se ver em uma imagem que descoa de um e v iver de fa to uma experiência de viver bem. Esse um algo
contextO, como a imagem de um sujeitO albi no em uma a mais, dentre outras man ifestações, vem na forma como
família de negros, e ainda levar em cons ideração suas fan- uma mãe olha, toca, sente, ali menta, aquece de um jeitO
tasias de ceguei ra, onde essa imagem no espelho parece ser maternal demonstra ao filho seu amor, seu carin ho, sua
o próprio negativo fotOgráfico, que ainda não foi revelado? proteção e segurança, enfim, uma mensagem de que ele é
A man ifestação de um sujei to com sua carga genética he- rea lmente desejado, q uerido e amado.
reditária q uer convencê-lo de que ele deve ser negro como Ao nascer, o ser h umano é expostO ao co ntextO ex-
roda sua família, mas q uando a imagem refletida no espe- terno ao abrigo até então experi mentado. Isso em si já
lho o denunciar como estranho, como ele se senti rá/ E ai? representa uma pri mei ra experiência q ue exige mu itO
O sujeito recusa essa sua rea lidade, ou pior, muitas vezes dele. É nesse momento, e ntão, que se fa z necessária a
é sua rea lidade famil iar que o recusa. Como integrar o su- interven ção de outros para q ue sua vida possa ser pre-
jeito a sua imagem ou como se estruturar como sujei to a servada, mome nto este muitas vezes crítico, pois q uem
partir dessa imagem/ deveria exercer a função de cu idar, a mãe, nem sempre
No mitO de Narciso, sua imagem ch eia de tanta beleza se e ncontra em cond ições de fa zê-lo. Isso pode s ign ificar
o a niqu ila, o leva à morte. Quando ocorre o contrário, a mais uma experiência nova, pois, caso seja a mãe q uem
imagem do sujeito é recusada por ele como sua, e ele a cuida, isso pode passa r a ilusão de contin uidade, mesmo
repele, como fica a formação do seu "eu", a estruw ração que já haja q uebra da suposta segurança de um primeiro
do sujei to? Isso também seria uma forma de morte? Nesse momento, o da gestação, que nem sempre é tão seguro
caso, a imagem q ue promove é a mesma que aniqu ila? A assim, bem se sabe!
imagem que sustenta é a mesma que derruba? Nessas primeiras experiências, a forma, a maneira, o
jeitO mesmo como o ser h umano é acolhido, cuidado e
amado ou não é o que va i poss ibilitar que ele se veja de um
A REPRESENTAÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E A jeitO próprio, satisfatório ou não para si próprio.
INTEGRIDADE DO "EU" À medida que o ser humano se desenvolve, partilha
Antes da concepção, potencialmente o corpo já exis· experiência com seu meio ambiente, consequentemente,
tia, representado por duas partes: pelo espermatozoide e com tudo e todos q ue compõem esse contexto no qua l
pelo óvu lo, à espera de um grande encon tro ... ou de um está inserido. Assim, nas man ifestações que acontecem,
milagre, en contro este que se dá no aro da concepção, as trocas vão se processando e o ser humano vai se tOr-
concepção de vida e de um corpo. Da í d izer q ue o corpo nando cônscio de si próprio. Recebe influências de cada
é algo posto para o ser v ivente desde sua co ncepção. Há elemento, umas ignora, o utras questio na, outras aceita,
mui tas d iscussões e questio namentOs a respeitO do ato e vai assim se constituindo, ta lvez se possa d izer, infin ita-
da co ncepção, principa lmente qua ndo se traba lha com a mente ... Corpo, mente, espírito ... Quem sabe? A~sim vai se
q uestão do aborto, claro parece esta r, porém, que a inda percebendo, ora se negando, ora se questio nando, ora se
não se pode explicar esse grande mistério. Aqu i o corpo é aceita ndo ... Para se aceitar é importante q ue o ser humano
defin ido como aq uilo que abriga e suporta roda a trama se perceba como algo visível palpável. É quando e ntão pas-
da experiência de viver, experiê ncia esta q ue comumente sa a se apropriar de uma imagem, co nstrução imaginária
chamamos de vida. Ao nascer, todo ser vivo contém em corpora l, q ue passa a representá-lo para si próprio, repre-
si, pelo que se percebe, certa fragil idade. No caso do ho- sentando aqu ilo que ele sente e pensa ser.
mem, essa fragilidade demanda mais atenção e cuidado, e Segundo Malr.z,
por um tempo ma ior, se comparado com o utros an imais.
Para o ser humano, esse corpo que é cu idado com (...) Quer saibamos disso, q uer não, cada um de
esse cu idado a mais também é investido com um afeto, nós traz co nsigo uma imagem menta l de s i mesmo.
PARTE I • Beleza

Ela pode ser vaga e de contornos mal defin idos para imagem corporal. Para ajudar a e ntender melhor isso,
o nosso o lhar consciente. Na verdad e, ela pode nem Freud deixou essa grande co ntrib uição em seu textO "O
sequer ser co nscientemente perceptível. Ela porém eu e O .ISSO " :
ali está, completa até o último detal he. Essa auto ima-
gem é a nossa própria concepção da "espécie de pes- (. ..) Em 1923, em O eu e o isso, o eu torna-{)e uma
soa q ue eu sou". Ela foi construída de conformidade das instâncias da segunda tópica, caracterizada por um
com as nossas convicções que temos a respeitO de nós novo d ualismo pu lsional, q ue opõe as pulsões de vida
mesmos. Mas essas convicções em sua maior pa rte se às pu lsões de morte.
formaram inco nscientemente, de acordo com nossas Se o eu continua a ser um ancoradou ro defensi-
expe riências, êxitOs e fracassos passados, nossas hu- vo em relação às excitações internas e externas, se seu
mil hações, nossos triunfos, e a maneira como outras papel realmente consiste em refrear os ímpetOs passio-
pessoas reagiram com relação a nós, mormente na pri- nais do isso e em substituir o princípio de prazer pelo
meira infâ ncia. De tud o isso, nós me ntalmente cons- principio de rea lidade, se, provido do que Freud de-
tru ímos uma perso nalidade (ou a imagem de uma nomina "calota acústica", lugar de recepção dos traços
perso nalidade). Desde q ue uma ideia ou convicção mnem icos deixados pelas palavras, o eu se enco ntra
que temos sobre nós mesmos entra nessa imagem, no cerne do sistema perceptivo, e se, por fim, ajuda-
ela se rorna "verdad eira". Jama is pomos em dúvida a do pelo supereu, ele part icipa da censura, a novidade
valid ez d ela, e passamos a agir, com relação a ela, tal reside, antes de mais nada, no faro de que uma parte
como se {ôsse t>erdadeíra .6
do eu, "e Deus sabe que pane importante do eu", insis-
te Freud, é inco nsciente. Não, esclarece ainda Freud,
Nessa passagem, Ma ltz mostra como essa imagem é no sentido latente do pré-consciente, mas no sentido
co ns truída e a importâ ncia q ue e la tem pa ra cada um.
pleno do termo inconsciente, já que a experiência psi-
Q uando, ao nascer e desenvolver, o acolhimento, a aten-
ca nalítica demonstra, precisamente, como é difícil ou
ção e os cu id ados são adequados e suficientes pa ra o
até impossível levar ao consciente as res istê ncias e nrai-
ser h umano, e ainda investido com aquele afetO a mais,
zadas no eu, que se comportam "exatamen te como o
que mostra pa ra o ser humano que ele é bem-vindo, a
recalcado".
vid a parece se desenvolver de um modo q ue faz com que
Nessa segu nda tópica, o eu "é a parte do isso que
em s ua imagem o ser h uma no se veja em sintonia com
foi mod ificada sob a in fluencia d ireta do mundo ex-
e la, aceita ndo-a como sua e como uma imagem boa.
terno, por interméd io do Pc-Cs (sistema percepção-
Imagem boa quer di ze r uma imagem corpo ral bem acei-
-consciência) (. ..), é como que uma contin uação da
ta, uma imagem co rporal que harmoni za com o corpo
e co1n o '•eu".
diferenciação superficial". Freud acrescenta que "o eu
É importa nte, necessário mesmo, que essa imagem, é, antes de ma is nada, um eu corporal". Por isso, é
esse ''retratO imaginário", possa representa r o corpo preciso aprende-lo como uma projeção menta l da su-
para a própria pessoa, que esse corpo abrigue essa ima- perfície do corpo.(...)l
gem, d ando um co ntorno para esse imaginário, que
pode então ser nomeado e representado por esse corpo Para conclusão deste capítulo, é importante lembrar
que pode ser chamado de meu. Nessa passagem, Magrini que o ser h umano é algo extremamente complexo, q ue
esc reve que: comporta ainda mu ito mistério. Na percepção do ser h u-
mano como corpo, mente e espírito, tem-se um contexto
(. ..) É pelo seu corpo que o ser humano se relacio- de fé que alimenta o imaginário de cada um. Na percep-
na com o seu eu e com o meio ambiente, assim trad u- ção da ciência há no ser humano esse corpo, essa imagem
zindo suas frustrações e/ou desejos. A imagem que o e esse e u que andam ju ntOs, sem ao q ue pa rece estar de
sujeitO faz de si e a sua persona lidade estão unidas, o fato ligado, mas sabendo-se que há algo que isso suste nta.
que torna possível expressar suas emoções. Ademais, é bom lembrar ainda que gerador de equ ilíbrio
A integridade do "eu", enq uanto representação integrador mesmo fosse q ue o corpo e a imagem pudes-
ps íq uica do corpo, pode ser constatada na linguagem sem ser habitados pelo eu e pudessem fica r sempre em
d iária, q ua ndo se fala de "meu corpo", po is por meio harmonia.
dele se entra em contatO com o meio ambiente.i Em se tratando de um contexto saudável, q ue o ser
h uma no pudesse se ver no corpo tal como se imagina e se
Para tanto é necessário que o eu, o corpo e a imagem sente ser, sem que o imaginário pudesse levar à distorção
se integrem como um todo, o q ue pode ser chamado de da realidade.
Capítulo 3 • A Representa ção da Imagem Corporal e a Integridade do "Eu" 13

Referências
1. Freud S. Conferência XIX - Resistência e repressão. In: Obras clinicas e na prát ica psicanalítica. Rio de Janeiro: Livraria Sene
completas. Ed. Standard Brasileira. Vol. XVI. Rio de Janeiro: lma- Letras, 1995.
go, 1976:34Z 5. Rodrigues A. A magia dos sonhos. Biblioteca Rosacruz, 1991.
2. lacan J . O estádio do espelho como formador da função do eu. 6. Maltz M . liberte sua personalidade. Do original norte-americano
In: Os escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. "Psycho-Cybernetics - A New Way to Get More Living Out of
3. Roudinesco E, Plon M . Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Life'; tradução de Urbano M . Noronha. São Paulo: Summus Ed~
Jorge Zahar, 1998. torial.
4. Mona MB. Ovidio, Freud e Lacan. In: Escola Brasileira de Psica- 7. Magrini SF. Psicologia e estética. l n: Maio M . Tratado de medicina
nálise: A imagem rainha: as formas do imaginário nas estruturas estética. Vol. 111, São Paulo: Editora Roca, 2004.
Visagismo
Cristia ne Ra chid
Naiara Resende Co rrêa

INTRODUÇAO
- Fundamentação teórica do visagismo
O visagismo, palavra derivada de visage, que significa ros- Segundo Hallowel, cada face exterio riza seus senti-
tO em francêS, foi criado por Fernand Aubry, em 1937, com mentos med iante o registro marcado por suas linhas de
intuito de alinhar à arte de criar uma imagem pessoal a esse expressão e pelos elementos que correspondem a cada
mesmo conceito. Estudar o rosto é desnudar a face, reconhe- forma geométrica, com o temperamento predom iname.3
cendo, por meio da linguagem visual, as estruturas ósseas, Esses elementos são conhecidos como ar, terra, água e fogo
muscu lares, cartilagens, pigmentos que margeiam todas as desde a Antiguidade. Aristó teles (384 a.C.) reconhecia es-
particularidades de cada indivíd uo, ou seja, sua identidade, ses elementos e formulava, ainda, propriedades básicas: ao
os pomos fortes e os pomos não tão agradáveis à apreciação. fogo estão associados a secura e o calor; ao ar, o ca lor e
Aubry entendia que cada rostO seria único e que o con- a umidade; à água, a um idade e o frio; à terra, o frio e a
junto rosto e sua moldura constitu ía a sede da identidade secura•
do indivíduo. Considerado o paida med icina, (460.377 a.C.) Hipócrates
Philip Hallawel aplicou os conceitos de visagismo, ana- relacionou a teoria cósmica à saúde das pessoas e criou a teo-
lisando os formatos do rosto e suas feicões , e os correia- ria dos humores ou dos temperamentos. Os quatro humores
ciona ndo com a personalidade de cada um. Desse modo, físicos estariam ligados a temperamentos: sangue, bílis preta
cada face exterioriz.a seus sentimentos med iante o registro (atrabílis), bílis amarela (bílis) e fleuma (l infa).
marcado por suas lin has de expressão e pelos elementos Segundo Galeno (século 11 d .C.), méd ico e filósofo
q ue correspondem a cada forma geométrica, com o tempe- roma no de origem grega, o excesso de um dos humores
ramento predom inante.' provocava doenças no cor po e traços exagerados de perso-
A imagem de uma pessoa expressa sua identidade, seus nalidade. Ele ressa ltava a importância dos quatro tempe-
princípios, suas crenças, sua posição social, o "eu".1•1 ramentos, conforme o predomín io de um dos q uatro hu-
O método do visagismo não é intu itivo, por se basear mores: sa nguíneo, colérico, fleumático e melancólico. Em
nos fundamentos da linguagem visual e em con hecimen- cada pessoa predomina um dos quatro temperamentos, o
tos milenares da ciência - física óptica, geometria, a ntro- que tem possíveis influências externas e genéticas.4
pologia, psicologia, neu robiologia - e da arte. A palavra temperamento vem do latim temperare, que
Esse método tem por princípio : s ignifica equ ilíbrio. Conforme a teoria dos humores de
o Ana lisar o temperamento do individuo, que é expresso Hipócrates, o equil íbrio entre os elementos que compõem
pelas suas características fís icas. um ind ividuo é a condição para sua saüde.
o Ana lisar o comportamento de cada ind ivíduo e suas ca- Leonardo da Vinci, baseando-se nas observacões , do ma-
racterísticas psíqu icas. temático Luca Pacioli, em 1509, demonstrou q ue as propor-
o Ajudar o ind ivid uo a valorizar os pomos positivos de sua ções consideradas divinas estavam presentes em uma razão
imagem.1' 3 matemática conhecida como proporção áurea, q ue se baseava

14
Capítulo 4 • Visagismo

no número de pi. O número de pi (letra grega 7t), 1,618, tem • Beleza colérica (determinado): as pessoas desse grupo
um significado interessante porque determi na a proporção expressam mu ita atimde, força e decisão. São objetivas
perfeita e ideal. Os gregos criaram um retângulo de ouro, e e determ inadas, mas normalmente são te imosas.
tudo era construído a partir de suas proporções. - Rosto: retangular, lábios grossos, queixo pro nu ncia-
A profu ndidade dessa figura geométrica d ividada pelo do, nari z imponente.
comprimento ou pela altura seguia uma proporção equiva- - Estilo: clássico, podendo tender para o contemporâneo.
lente a 1,618. - Cabelos: ruivos ou tons acobreados.
De acordo com a equação de Pacioli e Leonardo da - Sobrancelhas: angulosas, mais retas, com uma curva
Vinci, o corpo e o rosto, q ua ndo belos, apresentavam uma acentuada na ponta.
determinada proporção matemática - I para 1,618 - deno- • Beleza fleumática (sensível): esse grupo é composto por
minada proporção áu rea. Esta seria a relação de eq uilíbrio pessoas de temperamento sereno, espirim alizadas, cons-
e simetria ideal para que um corpo ou rosto h uma no fosse tantes, fiéis e verdadeiras, pacificadoras e diplomáticas.
considerado bonito e harmon icamente estético. Levando Persona lidade frâgil, insegura, retra ída e reservada.
em conta essa regra, a largura de boca é 1,618 ma ior que a Além disso, cosmmam ser muitO amorosas e flexíveis.
largu ra do nari z; a largura da boca ideal, por sua vez, deve - Rosto: entre o quadrado e o redondo, olhar caído,
ser 1,618 maior que a distância e ntre seu canto externo e a mento retra ído.
ponta da bochecha e, no rosto de uma mulher, a distância - Estilo: na tura l, esport ivo e contemporâ neo.
en tre os olhos em relação à boca. Em estudos realizados - Cabelos: escuros.
com base nas proporções divinas, chegou-se à co nclusão - Sobrancelhas: arqueadas o u curvadas (suavizam a ex-
de que essas d istâ ncias seguem justamente a proporção do pressão).
número de pi q uando agradam visualmente aos olhos de
quem as vês -
CUSTOMIZAÇAO DA IMAGEM
Customiza r uma imagem é criar, produzir na pessoa
TIPOS DE BELEZA DE ACORDO COM O uma forma visual com o estilo individ ual e que, ao mesmo
PRINCÍPIO DO VISAGISMO tempo, atenda às suas necessidades.
O principio do visagismo d ivide a beleza de cada pes- Todo estilo identifica uma pessoa como sendo parte
soa de acordo com os quatro tipos de personalidade defini- de uma culm ra, uma classe ou um ser próprio.
dos por H ipócrates:6. 7 Nos tempos amais, é preciso compreender as atimdes,
• Beleza sanguínea (dinâmica): o temperamento desse os valores próprios e as qualidades para defin ição e custo-
grupo é caracterizado por extroversão, di nam ismo, ener- mização do estilo de um indivíd uo. Então, cuswm izar é
gia e despojamento. As pessoas desse grupo gostam de estilizar. ;,s
se destacar em relação aos outros, gesticulam muito, são
inq uietas e fa lam e riem alto. São autênticas, curiosas e
Customizar imagem colérica
odeiam a rotina.
- Rosto: formatO hexagonal, boca larga e nari z pron un- • Acenmar o terço inferior da face: mento e ma ndíbulas.
ciado, sobrancelha arq ueada, mento triangu lar, boca • Aumentar os lábios.
grande e nari z projetado. • Nivelar as sobrancelhas.
- Estilo: criativo. • Criar um rosto ma is retangular.
- Cabelos: louros e tOns de dourado.
- Sobrancelhas: mais a nguladas. Customizar imagem sanguínea
• Beleza melancólica (pacificador): nesse gru po se encai- • Acenmar o terço médio da face: ma lar e zigomático.
xam as pessoas elegantes, charmosas, sofisticadas e com • Aumentar os lábios.
gostos voltados para a arte. Verdadeiras pensadoras, são • Elevar sobrancel has.
sensíveis, qu ietas e introvertidas. • Criar um rosto ma is hexago nal.
- Rosto: formato ova l, com feições delicadas e regu la-
res, boca pequena e lábios estreitos.
- Estilo: tra nsi ta entre os estilos clássico, contemporâ- Customizar imagem melancólica ou fleumática
neo, criativo e romântico. • Criar lin has ovaladas, suavizando os ângulos faciais.
- Cabelos: entre louro-acinzentado e castan ho-claro. • Manter os lábios finos.
- Sobrancelhas: ligei ramente angu losas, com os fios • Dim in uir o arqueamento da sobra ncelha e di recio nar a
mais arqueados. cauda para baixo.
PARTE I • Beleza

Características em comum para q ue as mulheres sejam Quando se observa no perfil do paciente uma retração
cons ideradas bonitas de acordo com os pad rões atua is oci- de mento, percebe-se q ue ele passa uma ideia de pessoa in-
dentais: trovertida, retraída, melancólica ou fleumática. Já um nari z
o Região malar mais proeminente. proeminente remete a um perfil de pessoa sangu ínea.
o Leve depressão nas bochech as, formada pelas proemi- A~ sobrancelhas também têm grande importância,
nências dos ossos ma lar-zigomático de um lado e da po is formam a moldura dos olhos e podem modificar rad i-
mandíbula de outro. Essa depressão é denom inada efei- calmente a expressão de uma pessoa. O formatO de sobran-
to blu.sh por alguns especialistas. celha retO revela características coléricas: o formato curvo
o Uma ma nd íbula bem delineada, com proporções ade- está associado a caracteríSticas melancólicas e fleumáticas
q uadas entre seu ramo ascendente e o corpo, com um e o arq ueado, a características sa ngu íneas. A tendência de
â ngulo q uase retO entre essas duas partes. levanta r uma das sobrancelhas expressa uma característi-
ca colérica, e o aro de levantar ambas é uma propriedade
-
A CONSTRUÇAO DA IMAGEM, O ROSTO EA
sanguínea. A cauda ca ída das sobrancelhas promove um ar
melancólico.
IDENTIDADE O formatO do q ueixo é de grande importâ ncia, poiS é
A relação do rosto com a percepção q ue cada pessoa capaz de eq uilibrar o u desequil ibrar o conjunto das feições
tem da própria identidade é o aspectO mais importante na do rosto. Deve-se ana lisar sua projeção facial em perfil e de
construção da imagem pessoal. A imagem deve estar em frente. Ele revela o grau de força, estabilidade e determina-
si ntonia com o íntimo do ind ivíduo e expressar o que ele ção na personalidade de uma pessoa. O queixo de formato
tem de melhor em valores e qua lidades autênticas. quadrado ind ica força e poder, revelando a persona lidade
O eq uilíbrio entre a imagem do próprio rosto e a ima- de alguém na qual se impõem características coléricas. O
gem interna que o ind ivíduo tem de s i torna-se essencial queixo retra ído indica uma personalidade ma leável e sub-
para sua saúde men tal, emociona l e física, elevando sua missa, características dos melancól icos e fleumá ticos. O
au toestima e a auroconfiança.s·9 queixo pontudo e triangular, por sua vez, revela caracterís-
A co nstru ção da imagem pessoa l afeta o ind ivíduo tica sa nguínea.
nos níveis emocional e psicológico, pode ndo inclusive al- A boca pad rão apresenta uma largu ra q ue equ iva le a
tera r seu comportamento. A imagem é positiva quando d uas vezes e meia a altura. Bocas grandes e carnudas re-
realça os aspectos positivos da perso nalidade, proporcio- presentam características coléricas. Bocas largas denotam
na ndo bem-esta r e elevando a autoestima. Uma imagem características de temperamento alegre, extrovertido e san-
negativa tem efeito con trário. Não existem pad rões nem gu íneo. Bocas pequenas denotam características de tempe-
estilos predeterminados, sendo a beleza revelada quando ramento introvertido e melancólico. Boca do tipo cupido
o co njunto é harmônico e estético. O processo do visagis- expressa sensib ilidade, qua lidade dos melancólicos. Boca
mo é ind ivid ualizado e, mu itas vezes, torna-se necessário fina, especialmente o lábio superior, indica temperamento
para o paciente. frio, severo, aspectO também melancól ico.;·9•10
A análise do rostO fornece informações sobre a harmo-
nia das proporções faciais e se essas proporções se equili-
bram com o temperamento do ind ivíduo. Essa análise é A MEDICINA E OVISAGISMO
baseada no conceito da proporção áurea . A~ caracteríSticas físicas das pessoas muitas vezes reve-
Para uma análise in icial, devem ser identificadas li- Jam suas personalidades. A aná lise dessas características
n has incl inadas, verticais, horizontais e curvas, além de torna poss ível prever certos d istúrbios psicológicos q ue po-
seu di recionamento, no formatO de rosto e nas feições. dem leva r a doenças no corpo fís ico.
Basicamente, as lin has incl inadas para cima expressam A imagem pessoa l reflete um estado emocional e, ao
vigor, energia e d inamismo, características sangu íneas, mesmo tempo, leva à manu tenção desse estado. É impor-
e nquanto as lin has inclinadas para ba ixo nas feições são tante melh orar a autoestima dos pacientes, ajudando-os
determinantes de características melancólicas. a trabalhar a imagem pessoa l, dar um sentido positivo à
As lin has vert ica is são de estrutu ra e co ntrole, enq uan- vida. Por exemplo, pessoas coléricas, por serem intensas
to as linhas horizontais são de estabilidade. Essas linhas e explos ivas, tendem a ter problemas com infarto agudo
são dete rminantes de aspectos coléricos. do miocárd io, hipertensão arterial, colelitíase e bruxismo.
FormatOs redondos ind icam propriedade fleumática. Quando sua imagem é suavizada, estimulam-se as emoções
O perfil também ind ica personalidade e, portanto, ao posi tivas, não nocivas, que poderiam ser coadjuvantes das
se reparar no perfil de um paciente, pode-se tirar concl u- doenças físicas propriamente di tas. Já as pessoas de tem-
sões para cusrom izar sua imagem. peramento melancólico, por serem introvertidas, perfec-
Capítulo 4 • Visagismo

cionistas e ansiosas, tendem a apresentar problemas de 2. Hallawell P. Visagismo: harmonia e est ética. 2. ed. São Paulo:
Senac, 2004.
relacionamento, ba ixa autoestima e, até mesmo, depressão 3. Hallawell P. Visagismo integrado: identidade, estilo e beleza. São
e transtorno obsessivo-compu lsivo. Ao va lori zar a imagem Paulo: Senac, 2009.
pos itiva, esses pacientes podem desenvolver um sentimen- 4. Rooney A. A história da medicina. São Paulo: M. Books do Brasil,
to de capacidade e autoestima. 2013.
5. Martinez V. Os mist érios do rosto: manual de fisiognomonia. 4.
Desse modo, o visagismo pode ser usado no d iagnósti·
ed. São Paulo: Madras, 199Z
co e no tratamento de pacientes e para promover melhor 6. Pasquali L. Os tipos humanos: a t eoria de personalidade, São
qualidade de vida.;,s.Jo Paulo: Market, 2000.
Z Glas N. Os t emperamentos. São Paulo: Antroposófica, 1990.
8. Molinos O. Maquiagem. São Paulo: Senac, 2010.
Referências 9. Rufenach CR. Fundamentos de estética. Tradução: A.V. Ritter,
1. Hallawell P. Visagismo: harmonia e estética. São Paulo: Senac, São Paulo: Santos, 1998.
2003. 10. Marcussi S. Segredos em medicina estética. São Paulo: LMP. 2008.
Cuidados com a Pele
Angelina Toledo Lyon

A retenção de água na camada córnea é de vi tal im- d ifica ndo a pele, pois não retiram excess ivamente o mamo
portância para a manutenção de uma pele saudável. Os hid rolipídico.
corneócitOs contêm uma substância que retém água em A~ emulsões tipo 0/A (óleo em água) absorvem, ao
seu interior, o fator natu ral de hidratação (NMF). Ao re- mesmo tempo, as impurezas lipossolúveis e as hidrosso-
terem um grande volu me de água, os corneócitos d ilatam- lúveis, respectivamente, nas fases o leosa e aquosa. Essas
·se, prevenindo a formação de fissuras e fendas entre eles e em ulsões devem ser util izadas à noite, prosseguindo depois
mantendo o equil íbrio híd rico entre as camadas profundas com os ou tros cuidados.
da pele e o meio ambiente. A wn ificação remove a oleosidade e os res íduos dei-
A quantidade de água retida na pele também é impor- xados por sabonetes alcali nos na etapa de higienização e
tante para a man utenção da flexibilidade e elasticidade da normaliza o pH da pele.
pele. Os tônicos devem comer em suas formulações baixas
As principais etapas de tratamen to para manter uma co ncentrações de álcool, ativos calmantes e adstringentes,
pele sempre saudável, independente da idade e do tipo de como o extrato de hamamélis, e substâncias refrescantes,
pele, são: a limpeza, a wn ificação, a hidratação e a foto- como o mentol e a cânfora.
proteção. Os princípios ativos usados em formulações para a
Os produtOs devem ser apl icados em wda a superfí- pele normal são as ceramidas e as vitaminas A, C e E - que
cie da face, pois o objetivo é alcançar o mel hor resultado atuam na prevenção do e nvel hecimento cutâneo com os
possível, corrigindo e restaurando as funções fis io lógicas antioxidames.
da pele. O utro componente do fato r natural de hid ratação da
pele é o PCA-Na, que auxilia a reposição da um idade natu-
PRODUTOS E CUIDADOS PARA OS ral da pele e demonstra elevada capacidade de hidratação.
DIFERENTES TIPOS DE PELE Os fowprotetores devem ser usados d iariamente, inde-
pendentemente do tempo de exposição solar e das cond ições
Pele normal climáticas, no mínimo com fawr de proteção solar (FPS) 30,
É importante cumprir uma rotina de tratamento ade- em creme de texwra leve. Os filtros solares químicos podem
q uada para proteger a pele contra agentes externos e man- ser associados aos filtros físicos de modo a potencializar um
ter o equil íbrio fisiológico. espectro mais amplo de proteção solar. Os filtros solares q uí-
A higien ização é o pri meiro passo e cons iste na lim- micos formam uma barreira sobre a pele, refletindo ou di.""
peza da pele, removendo o excesso de secreções, como o persa ndo as radiações solares. A formulação poderá ser uma
suor e a oleosidade, as partículas de poeira, a maqu iagem emul~ão 0/A ou outra, livre de ó leo
e microrga nismos que se depositam na pele. Os produtOs Para a remoção de células mortas presentes na super-
cosmecêuticos de limpeza não penetram e não agem mo- fície da pele é ind icada a esfoliação, processo que retira

18
Capítulo 5 • Cuidados com a Pele

as impu rezas e o excesso de oleosidade, tornando a pele regu ladora, hidratante e previne, também, o e nvelheci-
mais fina e com aspecto de limpeza e frescor. Esse processo mento. A hidratação para pele oleosa deve ser feita com
facili ta a ação de hidratantes e deve ser feitO uma a duas gel, gekreme, loções aquosas livres de álcool ou emulsões
vezes por semana. OIA fluidas. A esses hidratantes podem ser acrescidos
As máScaras facia is são ind icadas também pa ra as peles princípios ativos, como vitam inas, aminoácidos, óleos ve-
norma is, pois formam uma película plástica tensora, aju- getais com ações terapêuticas e algumas substâncias absor-
dando a descongestionar e minim izar os sinais de cansaço. ventes de ó leo.
Portanto, a rotina de cuidados com a pele norma l deve Os derivados de vitamina A (ácido retinoico, reti no!),
consistir em limpeza, ronificação, correção e hid ratação no os alfa-hidroxiácidos (ácido glicólico, ácido lático), ácido
período noturno e, pela man hã, em limpeza leve, ron ifica- salicílico, propilenogl icol e ureia são os principa is agentes
ção, hid ratação e fotoproteção. de estimulo celular.

Pele oleosa Proteção


Higienização da pele oleosa Os fotoproterores são essenciais contra os efeitos no-
civos das rad iações solares. Os mais ind icados são os que
Esse tipo de pele é considerado frágil e, portanto, de-
contêm formulações isentas de óleo, como gel, emu lsão
vem ser usados produtos adequados que não retirem total-
ou base siliconada. À noi te, deve-se substitui r a proteção
mente o excesso de oleosidade e não provoquem irritação.
por correção e estimulo, com o uso de substâ ncias capazes
São recomendadas formulações para li mpeza da pele o leo-
de regu lar a secreção sebácea e retardar o e nvelhecimento.
sa em forma líquida, pois causam menos atrito, contendo
Para o tratamento de ma nchas, os despigmentantes,
solventes lipídicos e baixas concentrações de tensoativos,
como o arbutin e o ácido kójico, formulados em gel, são
além de um pH mais baixo, próximo ao da pele sã.
os ma is ind icados.
Os agentes de limpeza pa ra pele oleosa contem ingre-
A hidroqui nona é mu itO eficaz para o clareamento de
d ientes com ação secativa, como óxido de zinco, calamina
ma nchas e deve ser prescri ta em loções hid roalcoólicas, po-
e caolim, e para controle da oleosidade, como enxofre,
dendo também ser associada ao ácido fítico.
extrato de arnica, hamamélis, aliados à ação in ibidora da
Portanto, no tramemo da pele oleosa é importante rea-
piridoxina e do sulfato de zinco.
lizar uma limpeza efetiva, mas não vigorosa, tO nificar com
Esses produtos também ajudam a dim in uir a flora bac-
loção hidroalcoólica e usar protetOres solares não oleosos.
teriana, e clorexidina, germal 115 e eferol podem ser cita-
Está ind icado, também, o uso de máScaras de limpeza
dos como agentes que causam pouca irritabilidade.
e de controle da oleosidade. A~ máscaras mais ind icadas
Para peles o leosas com acne são usadas formulações
são as de argila adstringente, podendo ser adicionadas al-
com ácido sa licílico, enxofre ou resorcina. Ou tra recomen-
gumas substâncias, como oligoelementos, óxido de zinco
dação cons iste no uso de água fria, pois a água quente po-
ou ácido salicilico.
derá ativar a prod ução das glându las sebáceas.

PELE SECA
Tonificação
As loções tôn icas para pele oleosa contêm alta con- Limpeza
centração de álcool para remoção do excesso de sebo e A pele seca é muito ma is sensível e del icada devido áS
resíduos. Os princípios ativos, como hamamélis, ca lendu- frequentes alterações em sua função de barreira, podendo
la, hortelã, bétula, cânfora e mentol, ajudam a controlar ocorrer processos inflamató rios e descamações.
a o leos idade e têm ação anti-inflamatória. Esses agentes O ideal é o uso de tensoativos suaves de o rigem vege-
proporcionam, também, sensação de frescor e um leve es- tal, não iônicos, com ação detergente e hipoa lergen icos,
tiramento da pele. que podem ser encontrados em leites ou loções de limpeza.
Nos casos de pele o leosa mu ito espessa, podem ser uti· Esses te nsoativos promovem a limpeza e a hid ratação da
lizados esfoliames, que exercem ação descamativa do estratO pele seca e, combinados a ceras e ésteres emolientes, for-
córneo, ou abrasivos, que removem as escamas da superfície. mam um filme que protege a pele.

Hidratação Tonificação
A correção tem o objetivo de eliminar ou preven ir o As loções tônicas são aquelas que exercem ação des-
aparecimento de comedões. Tem ação descongestio nante, congestionante sem álcool e devem também conter ativos
Czo PARTE I • Beleza

h id ratantes, como PCA-Na, hial uro nato de sódio, gliceri- PELE MISTA OU COMBINADA
na e alantoína. O pH é corrigido pelo ácido cítrico e o
ácido lático.
limpeza
Esse tipo de pele é cons iderado uma variação da pele
oleosa e ca racteriza-se pela associação de áreas seborreicas
Hidratação com áreas de pele seca ou normal.
Esse tipo de pele necessita de formulações diferentes A~ áreas seborreicas são encontradas na zona T da
para sua hid ratação, como um creme ma is leve de manhã face, o u seja, testa, nariz e q ueixo, e no restante da face a
e uma hid ratação mais efetiva à no ite. pele apresenta-se seca ou normal.
Os emolientes promovem a retenção de água na cama- O uso de sabonetes em barra deve ser evitado, pois eles
da córnea, mantendo a umidade e d iminu indo as fissuras. podem obstruir os poros na parte oleosa da pele e causa r
Restauram, também, a barrei ra epidérm ica, prevenindo ressecamento na parte seca. A limpeza cons iste no uso de
a penetração de irritantes e alérgenos e evitando, assim, um sabonete líqu ido suave ou uma loção de limpeza, o que
o aparecimento de lesões eczemarosas. Devem ser usados deve ser feitO d uas vezes ao dia.
com muita frequência, de três a quatro vezes ao d ia, para
atingir o efeitO máximo.
Nas formulações para pele seca, as bases o leosas e as
Tonificação
emulsões 0/A ou A/0 são os veícu los mais utlizados. Após a limpeza, na zona T, deve-se fazer uso de um tô·
Dentre as substâncias mais empregadas nos cremes emo- nico com baixo teor alcoólico e com adstringentes suaves,
lientes, podem ser citados PCA-Na, vitami na C, ácido como hamamélis, câ nfora e mentol.
h ialurõn ico, ureia, ala nto ína, ó leo de prí mula e óleos de
sementes de uva, de macadãmia e de amêndoas doces. Hidratação
As ceramidas, substâ ncias ricas em ácidos graxos, são
Os hid ratantes para esse tipo de pele devem ser de tex-
e ncontradas em 65% dos lipídios do estrato córneo, con-
tura suave e não comedogênicos. É importante observa r
têm esfi ngosina em sua estrutu ra e formam parte da bar-
que o h id ratante para pele mista deve tratar a área lateral
rei ra cutânea.
do rostO e não acen tuar a o leos idade na zona T.
O uso tópico de ceramidas nas formu lações promove
Os hidratames para pele mista devem conter antioxi·
aumento substa ncial da hidratação e redução da aspereza
dantes que manten ham a água na pele, como ceramidas,
da pele, o que pode ser notado logo nos primeiros dias
PCA-Na e ácido hialu rôn ico. Na área ao redor dos olh os,
de tratamento. A ceramida 3 proporciona aumento signi-
é aconsel hável o uso de um creme especifico para essa
ficativo da capacidade de retenção h íd rica da pele, contri-
região.
buindo para a fu nção de barreira cutâ nea. A ceramida 3
é constituída de fitoesfingosina, obtida por biotecnologia,
media nte a fermentação de levedu ras. A~im, as ceramidas Fotoproteção
resultantes apresen tam a mesma configuração estereoqui- Os protetores solares indicados são aqueles livres de
mica das ceramidas presentes na pele humana, de alta pu- óleo em suas formulações e, no mín imo, com FPS 30.
reza e segurança.
Cuidados complementares
Foto proteção A esfoliação semanal pode ser feita com produtos à
Os filtros solares agem protegendo contra os danos ac- base de ácido salicílico ou outro agente abrasivo suave,
tín icos dos raios ultravioleta (UV) e, ao mesmo tempo, pre- evi tando-se as áreas ma is ressecadas.
vinem a desidratação da pele. As emul~ões cremosas são as A~ máscaras faciais podem ser util izadas para descon-
mais ind icadas, com um FPS 30, no mínimo, e devem ser gestionar e amenizar os s inais de cansaço, ass im como para
usadas diariamente pela ma nhã e repostas a cada 2 horas, contro lar a oleos idade. As máscaras que formam uma pe-
nos casos de exposição à luz solar, ven to ou água. lícula plástica tensora - peel off - são as mais indicadas. As
máscaras de argila devem ser aplicadas apenas na região do
T, evitando-se as o utras áreas.
Cuidados complementares
O tratamento para ma nch as hipercrõmicas deve ser '
fei to com despigmentantes, como hidroquinona, ácido PELE SENSIVEL
fitico e Antipollon H"f'l'. Essas formulações despigmeman- A pele sensível é muitO delicada e ma is vu lnerável às
tes podem ser man ipuladas em gekreme, loção o u creme. agressões exterio res. Diferentes farores, q ue podem ser iso-
Capítulo 5 • Cuidadoscom a Pele

lados ou combinado:., perm itc:m explicar os motivo.~ dessa tes o PCA-Na, as ceramida:., a hidroxietilureia e o extrato
:.ensibilidade, dentre: o,., quai> podem ser citados: de sálvia.
• Fawre:. ambiemab, como frio, vemo, tempo seco ou
poluição, poJem causar :.ensações de picada ou de quei- Proteção
madura na pele.
A radiação ultravioleta A ou B pro,,)C3 queimadura~,
• Fatore> de origem va>eular a>.'>OCiados à fragilidade da
reduz as defesa.., namrab e imunolôgica'> da pele e cau:.a en-
parede dos vaM)> :.anguineos e soh a inCiuência de de-
velhecimento precoce e câncer de pele. A pele :.ensivel, com
tetrninados fatore:. externo;., como o co11.~umo de álcool
a exposição solar, poderá ficar irritada. Ponanro, é impres-
ou especiarias.
cindível o uso de filtro, solare:. com, no mínimo, FPS 10, hi-
• O contato durante a aplicação de detenninada substân-
poalergenico, al~m do UM) de proterore:. (bicos. Atualmente,
cia que contenha um ingred ien te mal rolerado desenca-
encontra-1>e disponível uma grande variedade de filtros sola-
deia uma reação cutânea.
res, que oferecem, além da fotoprmeção, muitos beneficios
• Dermatite atópica - a pele sujeita a um eczema desse
que visam às necessidade.~ dos diferentes tipos de pele.
tipo fica predi;,posta a hiper-reatividade.

Ames do início da util ização de qualquer produto pela Cuidados complementares


primeira vez, recomenda-se que se proceda ao teste de sen- Além do que foi mencionado previamente, os cuida·
sibilização, aplicando o produto na parte interna do ame- dos com a pele sensível devem ser redobrados, pois a sen·
braço durante alguns d ias e observando se ocorrerá alguma sibilidade excessiva causa descon(ortO e, com o passa r dos
reação alérgica. anos, a pele perde a vitalidade, a nrmeza, o b ri lho, a flexi·
bilidade e, consequememente, ocorrem o envelhecimento
Limpeza prematuro e o aparecimento de ruga~- Não está recomen·
dado o uso de e>foliante> para esse tipo de pele, pOis esse
A limpeza da pele sensível deve ser realizada delicada-
procedimento a deixa mab expo.'!ta às agressões e.xternas.
mente, ob:.ervando<>e o pll e o equ ilíbrio da pele. Os sa-
bonete:. em hatra ou líquidos devem der evitados, pois re-
movem em e.xce>.'>O a proteção natural da pele. A milização PELE MASCULINA
de loçõe.'> ou gel de limpeza é fundamemal, uma vez que As diferenças genética'> e hormonai;. afetam a estrutura
efemam a higiene na medida certa, limpando de maneira e a função da pele, o que pode :.er percebido já na puberda-
adequada a pele :.en:.ivel, >em de.~idratá-la. Nos casos de de. A pele ma...culina é naturalmente mai' oleosa e espes-
re>.~ecamemo imen.'>o da pele, deve~e fazer uso de loções
sa e com mais pelos que a feminina, apre,entando vária.~
de limpeza :.em enxágue. É aconselhável, também, evitar imperfeições, causadas por brilho, poro:. dilatados, acne e
banhos muito quentes e lavar exceo;sivameme o rostO. Os pelos encravados.
produros para pele :.ensivd devem apresentar fónnulas
que não contenham álcool, ácidos concentrados, corantes
e fragrâncias. A água fria deve ser usada rotinei ramente na limpeza
limpeza da pele sensível. A limpeza da pele masculina deve ser feita com sahcme-
tes líquidos com princípios ativos que auxi liam o controle
da o leosidade excessiva, duas vezes ao d ia. Os produros para
Tonificação
pele mascul ina contêm um pl l mais próximo do neutro.
Os tônicos para pele sensível n5o devem conter álcool
em suas formulaçõe.~. mas devem dispor de propriedades
calmantes, como o extrnm de ca momila. Tonificação
A wnificação remove os re.~iduos e a oleo.~idade excessiva,
promovendo o equilíbrio das funções da pele. Os produtos
Hidratação
indicados para pele ma...cu lina ;ão compostos por soluçi'les
Para que a pde sensíve l se mrne novamente macia ao hidroalcoolicas e alguns contêm principi<~~ ntivos, como a
toque e re:.bteme às agre.~sôes do dia a dia, o equilíbrio e cânfora e o memol, que proporcionam :.ensação de fre~or.
a proteção devem :.er restaurados. A hidratação deve ser
feita diariamente com loçôes e cremes específicos para
esse tipo de pele. O hidratante não deve comer parabe- Hidratação
nos, fragrância, corante:. e outra> !ouhstllncias que possam Até mesmo a:. pele:. oleo~a~ são suscetíveis à perda de
provocar reaçõe:. alérgica~- São boa> opçi'les de hidraran- água, e a hidratação :.erve para repor a umidade perdida.
PARTE I • Beleza

Os cremes não gord urosos e com rápida absorção, gekreme Problemas de pele relacionados com o ato de se
e gel são os mais indicados. Os hidratames devem comer em barbear
suas formulações PCA-Na, ginkgo biloba ou oligoelemen- O ato de se barbear propicia uma piora do aspecto es-
tos; a ala mo ína acelera a cicatrização. Para evitar a formação tético da pele. A~ lesões de pele provocadas pelo ato de
de radicais livres está ind icado o uso de cosméticos com vi- se barbear o u por pseudofoliculite agravam problemas já
taminas E e C. existentes por infecções bacterianas.
A pseudofoliculite é uma doença in flamatória dos fo-
liculos, mais comum em ind ivíduos da raça negra ou mes-
Proteção
tiços, do sexo mascul ino. Ocorre quando o pelo é muitO
Os fotoproteto res devem ter textura leve e ser formu- enrolado ou em formato de mola, e também quando os
lados em veícu lo livre de ó leo, como as bases siliconadas, pelos são removidos com pinça.
emulsões o u em gel. O fator de proteção deve ser, no mí- Os pelos rornam-se encravados após o barbear-se, ou
nimo, 30. seja, introd uzem-se na parede folicular ou apresentam cres-
cimento retrógrado, com erupções de pápulas folicu lares
ou púsrulas no pescoço e sobre o ângulo da mand íbula.
Produtos para a barba
A depilação a laser é um dos métodos recomendados
O crescimento da barba está ligado a estados psico- para quem apresenta fol iculite da barba e para quem não
lógicos, como estresse emocional e tensão nervosa. O aro quer fazer a ba rba com lâminas ou aparelhos elétricos.
constante de barbear-se dan ifica a pele da face e do pescoço O laser trans fere calo r e energia ao folícu lo piloso, oca-
e resulta em pequenos arra nhões. A~ camadas superficiais sionando uma quebra da base do pelo, e praticamente eli-
do estratO córneo são retiradas ames mesmo de alcança- mina a possibilidade de crescer um novo pelo no mesmo
rem a fase de descamação espontânea. A~ formulações lugar.
usadas para barbear são mui to importantes para manter a Durante o tratamento, deve-se evitar expos ição da
integridade da pele, pois a esfoliação forçada a q ue a pele pele ao sol, e o uso de pro tetor solar é obrigatório nesse
é submetida, q ua ndo o homem se barbeia, expõe a fatores período.
externos as células que ainda não estavam tOtalmente ma-
duras.
A preparação da pele e da barba para o barbear manua l PELE NEGRA
o u elétrico é mu ito importa nte, com ando-o mais fáci l. A cor da pele está relacionada ao tipo, à forma e à
A pri meira etapa para um barbear perfeitO cons iste em cor dos melanossomas e sua distribu ição nos melanóci tos
amacia r os pelos com água morna, sendo suficiente esse e queratinócitos.
contato por 2 ou 3 min utos. Na pele negra, os melanossomas são maiores e perma-
A segu nda etapa cons iste na aplicação de um creme necem isolados dentro dos queratinócitOs, enquanto na
de barbear, de acordo com o tipo de pele do homem. As pele branca os melanossomas são menores, mais imaturos
formulações 0/A em emulsão não contêm sabonete ou e se agru pam no ci toplasma.
solventes e dispõem de agentes umectantes que formam Os foliculos pilosos tendem a ser mais tOrtuosos, os
um filtro o leoso sobre a pele, protege ndo-a do resseca- bulbos muito pigmentados e o pelo term inal apresenta
mento excessivo. São ind icadas para peles secas e sensí- uma configuração elíptica. Ou tra diferença estrutu ral re-
veis. side na q uantidade de glându las sudoríparas apócrinas e
As espumas de barbear em creme ou aerossol são in- écrinas, q ue são ma is equ ilibradas.
dicadas para homens com pele o leosa. Essas formulações O estrato córneo nas peles negras apresen ta maior nú-
contêm sabonetes ou detergentes sintéticos, umectantes, mero de camadas e maior conteúdo lipíd ico, aumentando
surfactames e estabilizadores de espuma. a adesividade intercelular e tornando-o mais compacto.
As mousses de barbear são emulsões mui to espumóge- Na pele negra é maior a prod ução de sebo na face e
nas, com cerca de 40% a 50% de ácidos graxos. nos braços em relação a outras áreas.
Os homens de pele norma l podem escolher o creme Esse tipo de pele apresenta, também, vasos sangu íneos
de barbear q ue preferirem, removendo-o com água morna e linfáticos mais calibrosos, ma io r perda de água transepi-
ao término do procedimento. dérmica após irritação e alta sensib il idade a agentes irri-
As loções pós-barba auxiliam o fechamento dos poros ta ntes.
e aliviam as irritações provocadas pela lâmina. Além disso, A~ funções da pele apresentam diferenças entre si e
têm propriedades cicatrizames. A~ loções pós-barba agem determinam respostas diferentes aos estímulos ambientais,
como adstringentes, ton ificam e perfumam a pele. às patOlogias e aos tratamentos.
Capítulo 5 • Cuidados com a Pele

Limpeza uma mistu ra de sebo e células descamativas, cuja fu nção é


A limpeza da pele negra deve ser feita com loção de lub ri fica r e ajudar na expu lsão na hora do parto; protege
limpeza ou com sabonete liquido, sendo os princípios ati· também contra infecções após o nascimento. Esse material
vos com propriedades desengordurames, como extrato de se acumula nas dobras da pele, é absorvido e desaparece
hamamélis, sá lvia e melaleuca, os mais indicados. normalmente 12 horas após o nascimento.

Tonificação Limpeza
O uso de um tôn ico adstringente suave está ind icado
Os agentes de limpeza ma is indicados são sabonetes
para retirada do excesso de o leos idade, podendo comer em
que contêm em suas formu lações lipídios e uma base alca-
sua formulação o memol, que proporciona uma sensação
lina, com pH neutro.
de limpeza e frescor à pele.
A limpeza da pele previne assad uras, istO é, reações in-
flamatórias causadas pelo contato da pele com a fralda, po·
Hidratação dendo apresentar feridas, pústulas e edema. Aconselham-
Quando a pele negra se encon tra desid ratada, ela se se trocas de fralda frequentes, limpeza da pele, e nxaguar
torna acin zentada e favorece o aparecimento de lesões es- e secar a pele do bebê, e o uso de pomadas e cremes para
branquiçadas na face. Assim, a hid ratação diária é essencial evitar irritações. São utilizados produtos com sa is de amô·
para restabelecer a umidade natu ral e a tOnalidade da pele, nio e matérias-primas q ue formam uma barrei ra proteto ra
tornando-a mais macia e aumentando sua elasticidade. Os e oclusiva.
produtos mais indicados devem conter em suas formu la-
ções princípios ativos com alta capacidade de hid ratação,
como PCA-Na, ceramidas, vitam inas A, C e E, ácido lático Fotoproteção
e óleos de gérmen de trigo e de semente de uva. A proteção para os bebêS até 6 meses de vida deve ser
feita por meio de chapéus, camisetas e guarda-sol. A expo·
Fotoproteção sição ao sol deve se dar no inicio da ma nhã e no final da
tarde. Após os 6 meses, podem ser usados filtros fís icos e
Após exposição solar, a pele negra apresenta engros-
filtros quím icos em baixa co ncentrações, sendo mais ind i-
samemo da camada córnea como mecan ismo de defesa e
cadas as loções cremosas.
tendência à formação de manchas esbranquiçadas. A~sim,
está ind icado o uso de protetor solar com FPS de, no min i-
mo 30, em gel ou loção cremosa, conforme o tipo de pele. Referências
Horibe E K. Estética clinica & cirúrgica. Rio de Janeiro: Revinter, Ltda;
PELE DO RECÉM-NASCIDO 2000.
Kede MPV. Sabatovich O (eds.). Dermatologia est ét ica. São Paulo:
Ao nascer, a pele do recém-nascido apresenta-se lisa, Atheneu, 2003.
avel udada e edemaciada e está coberta pelo vern iz caseoso, Maio M {ed.). Tratado de medicina estética. São Paulo: Roca, 2004.
PARTE 11

PELE
Anatomia e Fisiologia da Pele
Bá rbara Proença Na rdi Assis

A pele é um órgão complexo q ue cobre toda a superfí- queratinócitos, que representam 90% a 95% das células
cie corporal, em continuidade com as membranas mucosas epidérmicas. A epiderme contém ainda três outros ti pos
que revestem os o rifícios do corpo, e exerce mü ltiplas fun- de célu las: os melanócitos, as células de Langerhans e as
ções vitais, como a de proteção contra agressões externas. células de Merkel. 1•1 A espessura da epiderme apresenta
Trata-se do maior órgão do corpo, representando cerca de variações topográficas desde 0,04mm, nas pálpebras, até
15% do peso corporal.' 1,6mm, nas regiões pa lmoplantares'
A pele é formada por tecidos de várias origens (epitelial,
conjuntivo, vascular, muscular e nervoso), organizados em
trêS camadas: a epiderme, a derme e a h ipoderme (Figura 6. 1). Queratinócitos
Embriologicamente, a epiderme e os anexos cutâneos são Os q ueratinócitos se o riginam de d ivisões mitóticas de
de origem ecrodérmica, enquanto a derme e a h ipoderme células-tronco epidérmicas, presentes na camada basal. Os
são de origem mesodérmica. A estrutura da pele apresenta queratinócitos a í produzid os migram em d ireção à superfí-
variações regio nais em relação à espessura (de I a 4mm), a cie cutânea, enquanto passam por um processo bioquim i-
d istribuição dos anexos e na densidade dos melanócitos.' co e morfológico de d ifere nciação celu lar (queratinização).
Pele glabra (sem pelos) é encontrada em palmas e plantas, en- Esse processo de maturação resulta na prod ução de células
quanto pele fina e com pelos recobre o restante do corpo.'·1 anucleadas planas, chamadas corneócitOs, q ue even tu al-
A pele constitu i a barreira de proteção do organ ismo, mente se descolam da superfície cutâ nea.' O tempo de ma-
impedindo a penetração de agentes externos, ao mesmo tu ração de uma célula basal até atingir a camada córnea é
tempo que impede a perda de água, eletró litos e outras de aproximadamente 26 dias. 1
substâncias para o meio externo. Além d isso, confere prote- A síntese das várias moléculas que participam de seu
ção imunológica graças às células imunologicamente ativas ci toesqueleto constitu i parte do processo de d ifere nciação
presentes na denne. A pele participa ainda da tennorregu- dos queratinócitos.1 O ciroesqueleto dos queratinócitos é
lação, por meio da sudorese e da dilatação ou constrição essencialmente composto de citoquerati na, prote ína q ue
da rede vascular cutâ nea, e da percepção, por meio de sua perten ce à família dos filamentos intermediários.' Os fila-
complexa rede nervosa. Por fim, apresenta funções secreto- mentos intermediários co nferem estrutura tridimensiona l
ras, com a produção de sebo, suor, q ueratina e melanina. 1•4 àS célu las e são capa zes de se autopolimerizar, formando
uma rede citoplasmática responsável pela resistência me-
cã nica.1As citoqueratinas (CQ) têm uma distribuição teci-
EPIDERME dual especifica para cada epitélio e seus anexos. Na epider-
A epiderme, a camada mais superficial da pele, é me, por exemplo, as células basais expressam CQ 5 e 14,
constituíd a por epitélio estra tificado pavimentoso quera- as células suprabasais, CQ I e 10, e as células da camada
tinizado2 A~ cél ulas mais abundantes nesse epitélio são os granu losa expressam CQ 2 e 11.1•1

27
C zs PARTE 11 • Pele

Epiderme

Derme

Hipoderme

Veia

Figura 6 .1 Desenho esquemático de pele normal.

brana basa l subjacente. A~ célu las basais se ancoram na


membra na basal por meio de estrutu ras especia lizadas
de adesão, chamadas hem idesmossomos, e estão unidas
entre si e às cél ulas espinhosas suprajacentes através
dos desmossomosY Os filamentos intermediá rios (ro-
nofilamentos) se inserem nessas estruturas de adesão,
d irigindo-se ao interior da célula e em to rno do n úcleo,
forma ndo uma rede de filamentos que se estende de um
desmossomo a o utro e também aos hemidesmossomos,
no caso das célu las basais.1 As célu las basais apresentam
feixes frouxos de tonofilamentos, os q uais vão se tornan-
do mais numerosos à med ida q ue a célula ava nça para
a superfície. A camada basa l é rica em células-tro nco e
Figura 6 .2 Histologia da pele normal. (Fonte: acervo do Dr. Moi- apresenta imensa atividade mi tótica, sendo responsável
sés Salgado Pedrosa.) pela constante ren ovação da epiderme. Calcula-se que a
epiderme h umana se renove a cada 15 a 30 d ias, depen-
dendo, principalmente, do loca l e da idade da pessoa 2
Os queratinócitOs, em seus vá rios estágios de diferen- o Camada espinhosa ou malpigh iana: formada por cinco
ciação, irão compor a epiderme, com suas d istintas cama- a 15 camadas de células cuboidais, que vão se to rnan-
das celulares ' Vistas da derme para a superfície, observam- do ligeiramente achatadas em di reção à superfície. As
-se q uatro camadas (Figura 6.2): células espinhosas se ligam às célu las vizinhas por meio
o Camada basal ou germinativa: é co nstitu ída por camada dos desmossomos e contêm feixes grosseiros de tonofi-
ún ica de células cuboidais que repousam sobre a mem- lamemos.1·1
Capítulo 6 • Anatomia e Fisiologia da Pele 29

• Camada granulosa: constituída de uma a trêS fileiras de do soP Os melanócitos estão distribuídos regularmente na
célu las planas com citOplasma carregado de grâ nu los ba- camada basal, em uma razão de I melanócito para cada
sófilos, ch amados grânulos de querato-hialina. Esses grã- 4 a 10 q ueratinóci tos basais. Sua densidade apresenta va-
nulos contêm proteínas ricas em histidina (principalmen- riações topográficas, desde 500 até 2.000 célu las/ mm 1 de
te profilagri na) e citoqueratinas. Outra caracteríStica das superfície cutânea, atingindo densidade máxima na região
célu las gran ulosas, só visível à microscopia eletrôn ica, são gen ital. Em colorações habituais com hematoxil ina-eos ina,
os corpos la melares (também conhecidos como corpos de aparecem na camada basal como células claras, com núcleo
Odland ou queratinossomos). Essas organelas possuem pequeno e hipercromático e citOplasma transpa rente.1•1
conteúdo lipídico e estão envolvidas no processo de des- Os melanócitos são célu las dendríticas com n umerosos
camação e na formação de um mamo lipídico pericelu lar. prolongamentos q ue penetram em reentrâncias das células
Durante a tra nsição súbita da camada granulosa para a das camadas basal e espinhosa suprajacente. Apresentam
cómea, esses corpos se fu ndem com a membrana plasmá- organelas especiais, denominadas melanossomos, onde
tica e expul~am seu comeüdo para o espaço intercelu lar, ocorre a síntese de melanina. Os melanossomos co ntêm
onde o material lipídico se deposita, contribu indo para a enzi ma tirosinase, q ue transforma o aminoácido tirosina
formar uma barreira contra a penetração de agentes hi- em 3,4-diidroxifenilalanina (dopa). A tirosinase também
drofílicos exógenos e para tornar a pele impermeável à age sobre a dopa, prod uzindo dopaquinona q ue, após
água, impedi ndo a desidratação do o rganismoU várias transformações, converte-se em melan ina.1•1 O pig-
• Camada córnea: apresenta espessura muito variável e é mento melân ico compreende do is tipos de melanina, q ue
co nstituída por célu las mon as, achatadas, sem núcleo habitu almente se apresentam em mistu ra: a eumelan ina
e sem organelas, chamadas corneócitos. Os corneócitos (marrom a negra) e a feomelan ina (amarelo-avermelhada). 1
apresentam uma densa ma triz de q ueratina filamentosa Os melanossomos passam por quatro diferentes estágios
e um envelope celular córneo (camada proteica densa de maturação (I a IV). Melanossomos mad uros repletos
na parte interna da membrana cel ular, composta por de melan ina migram pelos prolo ngamentos dos melanó·
invol ucrina, loricrina e outras pro teínas).1•1 A camada citos e são injetados, por mecan ismos pouco con hecidos,
córnea su rge subitamente em razão da ocorrência s imul- no citoplasma dos queratinócitos adjacemes.1•1 Através de
tânea e rápida de vários eventos nas célu las da camada seus dend riros, cada melanócitO se correlaciona com 36
granulosa, dos q ua is se destacam: apoptose de n ücleos e queratinócitos, para os quais transfere sua melan ina, cons-
organelas; liberação e ativação da filagrina contida nos titu indo assim a chamada u nidade epidermomelânica 4
grânulos de q ueraro-hia lina, que promoverá a agregação Nas células epi teliais, os grân ulos de melan ina localizam-se
dos filamentos de queratina em feixes compactos; extru- em posição supranuclear, oferecendo proteção máxima ao
são do conteúdo dos corpos la melares, forma ndo a bar- DNA contra a radiação solar 2
reira lipídica extracelu lar; formação do e nvelope cel ular A cor da pele resulta de vários farores: conteúdo de
do corneócito; e destru ição progressiva dos desmosso- melan ina e caroteno na pele, quantidade de capilares na
mos, o q ue levará à descamação de células isoladas.4 derme e a cor do sangue nos vasos. Desses, a melan ina é
o pri ncipal determinante das d iferenças na cor da pele.1•6
Nas regiões pa lmoplantares, o estrato lúcido pode ser Embora o número de melanóciros varie segundo as regiões
vistO entre as camadas gran ulosa e córnea. É constituído anatõmicas, é aproximadamente o mesmo em todas as raças.
por uma delgada camada de célu las ach atadas, transl üci- Variações étnicas na pigmentação da pele são decorrentes
das, sem núcleos e sem o rga nelas. Os desmossomos ainda de diferenças na atividade dos melanócitos e no tama nho,
são visíveis entre as células 2 morfologia e distribuição dos melanossomos, que são elíp·
Os q ueratinóci tos, além da produção da proteína q ue- ticos qua ndo produzem eumela nina e esferoides q uando
ratina, são grandes s ítios pa ra biossí ntese de moléculas so- produzem feomelanina.1•4 •6 Na pele bra nca, os melanosso-
lúveis (cirocinas) importantes na regulação de células epi· mos são relativamente pequenos e se agregam, formando
dérmicas adjacentes, assim como para as células dérmicass grupos após serem transferidos para os queratinóciros. Na
pele negra, os melanossomos são maiores e perma necem
isolados após serem inj etados nos queratinócitos 6
Melanócitos
Os melanócitos são células que se o riginam da crista
neural dos embriões e invadem a pele entre a 12• e a 14' Células de Langerhans
semana de vida intrauterina 2 São responsáveis pela pro- As células de Langerha ns são células dend ríticas, apre-
d ução de melanina, q ue representa um importante filtro sentadoras de antígenos, q ue se originam de célu las pre-
endógeno con tra os efeitos danosos dos ra ios ultravioleta cursoras da med ula óssea e estão presentes em todos os
PARTE 11 • Pele

epitélios estratificados. Na epiderme, localizam-se entre nectam à lâmina densa por meio dos filamentos de ancora-
os queratinócitos, sendo mais frequentes na camada espi· gem. A lâm ina lúcida é uma camada elétron-transparente
n hosa, e representam de 3% a 6% do total de células epi- composta por várias glicoproteínas não colagênicas, como
dérmicas'·1 À microscopia eletrôn ica, caracte rizam-se pela a Jam in ina e a fibro nectina. Essas glicoproteínas apresen-
presença dos grânu los de Birbeck, q ue são estruturas com tam grande capacidade para se ligarem entre si e a o utras
formato de raquete de tênis 1 ·1 moléculas, colaborando para a adesão entre a membrana
As células de La ngerhans são capazes de captar antíge- da célu la basa l e a lâmina densa, embora seja a estrutura
nos exógenos depositados na pele, processá-los e apresentá· de adesão mais frágil da junção dermoepidérmica. A lã-
-los aos linfócitos T, pa rt icipando da estimulação dessas cé- mina lúcida é atravessada pelos filamentos de ancoragem
lu las. Portamo, elas têm um papel importante nas reações que se o riginam nos hemidesmossomos e vão se inserir na
ímunitárias cutâneas.'·1 lâmina densa. A lâmina densa é formada essen cialmente
por colágeno tipo IV. Por sua característica fibrilar, assume
a fu nção de barreira para a passagem de macromolécu las.
Células de Merkel Da lâm ina densa partem grossas e longas fibrilas de an-
A~ células de Merkel apresen tam características de célu- coragem, constituídas de colágeno tipo VII. Essas fibrilas
las epiteliais e neu roendócrinas e sua origem ai nda não está de ancoragem penetram a derme, na área da sublãmina
totalmente definida (crista neural o u céluJa..rronco epidér- densa, onde podem apresen tar terminações livres, inseri r·
mica). Localizam-se na camada basal da epiderme e frequen- -se em placas de ancoragem o u forma r alças e retornar para
temente se conectam com axônios sensoriais presentes na a lâmi na densa.1•1•4
derme. Sua distribuição apresenta diferenças regionais, sen- A zo na da membrana basal exerce várias funções .
do e ncontradas em ma ior quantidade em pa lmas e plantas, Além de seu papel fundamenta l na aderência da epiderme
especialmente na ponta dos dedos. Podem ser facilmente re- à derme, oferece suporte mecân ico para a epiderme, regu-
conhecidas na microscopia eletrônica devido à presença de la as trocas metabólicas entre esses do is compart imentos
grâ nu los citoplasmáticos elétron<lensos, que contêm subs- cutâ neos e serve como barre ira sem ipermeável, imped indo
tâ ncias neurotransmissoras. As células de Merkel parecem a penetração de moléculas de peso molecular elevado.1•1•4
funcionar como meca norreceptores para sensibilidade tátil,
embora existam algumas evidências de que também partici-
ANEXOS CUTANEOS -
pem do s istema neuroendócrino difuso.1•1
Anexos cutâ neos são estrutu ras que surgem de mod ifi-
cações da epiderme, a inda na vida embrionária, represen-
-
JUNÇAO DERMOEPIDERMICA
'
tadas por: folícu lo pilossebáceo, glând ulas sudoríparas e
unhas.4
A interface entre a epiderme e a derme é conhecida
como junção dermoepídérmica. Trata-se de uma complexa
membrana basal s intetizada pelos queratinócitos basais e Folículo pilossebáceo
pelos fibroblastos da derme. À microscopia óptica, a jun- Os folículos pilossebáceos são compostos de folí-
ção dermoepidérm ica é dificilmente visual izada em colora- cu lo piloso, glând ula sebácea e músculo ereto r do pelo.
ções de rotina, porém torna-se bastante evidente em cortes Percorrem a derme de ma neira oblíqua, com suas partes
corados pelo ácido periódico de Schiff (PAS), por ser rica mais profundas atingindo a hipoderme. Os folículos pi-
em mucopolissacarídeos neu tros.' A microscopia eletrôni- lossebáceos estão d istribuídos por rodo o tegumemo, com
ca demonstra que a junção dermoepidérmica é uma estru· exceção de palmas, plantas e algumas panes da gen itá lía (a
tura altamente complexa, co nstituindo o que se denom ina chamada pele glabra).'
zona da membrana basal. 1 O folículo piloso forma-se na vida embrionária como
Ultraestruturalmeme, a zo na da membrana basal uma projeção de queratinócitos mod ificados para dentro
é composta pelas segu intes camadas, vistas da superfície da derme. 4 Pode ser subd ivid ido em alguns segmentos, in-
para a profund idade: o polo inferior da membrana plasmá- cluindo da superfície para a profun d idade: (a) uma parte
tica do queratinócito basal com seus hemidesmossomos, intraepidérmica, chamada acrotríquio; (b) infund íbulo,
a lâm ina lúcida, a lâmina densa e a sublãmina densa. Os que é a porção entre a sa ída na epiderme e o pomo de
hemidesmossomos são complexos juncionais especializa- inserção da glândula sebácea; (c) istmo, q ue se estende
dos que contribuem para a adesão das células epiteliais à da abertura da glând ula sebácea até o pomo de inserção
membrana basal subjacente. Os filamentos de queratina do múscu lo ereror do pelo; (d) segmento inferior, que é a
do ciroesqueleto da célula basa l se inserem na placa hemi- porção restante, situada abaixo do músculo ereto r. Na por·
desmossôm ica. Os hem idesmossomos, por sua vez, se co- ção mais inferior do fol ículo e ncontra-se uma expansão, o
Capítulo 6 • Anatomia e Fisiologia da Pele 31

bu lbo piloso, que contém célu las da matriz, responsáveis lábios vaginais), os d uetos abrem-se d iretamente na super-
pela produção do pelo, e mela nócitos, responsáveis pela fície da pele. Já a pele pa lmoplantar não contém glândulas
pigmentação. No bulbo se introduz a papila, uma pequena sebáceas. 2 Estas são maiores na pele facial, onde se asso-
estrutu ra de tecido conjuntivo ricamente vascularizado e ciam aos pequenos pelos do tipo velus. Essas glând ulas são
inervado que contém fibroblasws papilares, importantes compostas de vários lóbu los, cada um dos quais apresenta
para o crescimento do pelo.' Na fase de crescimento, as uma camada periférica de células basa is e vá rias camadas
célu las da matri z multiplicam-se e d iferenciam-se em vários centrais de células mad uras, com citoplasma espumoso re-
tipos celulares que vão constitu ir as bainhas radiculares pletO de lipíd ios. A~ glândulas sebáceas são um exemplo de
e o pelo propriamente d ito.z A haste do pelo é produ to glândula holócrina, pois a formação da secreção resulta em
da queratin ização terminal do folícu lo e é constituída por ruptu ra e morte das cél ulas. A secreção sebácea é uma mis-
trêS camadas concêntricas.' A camada mais interna, a me- tu ra complexa de lipíd ios que contém triglicerídeos, ácidos
d ula do pelo, está presente apenas nos pelos terminais e graxos livres, colesterol e ésteres de colesterol. '·2 A atividade
é formada por células fracamente q ueratin izadas. Ao re- secretora dessas glând ulas é muitO pequena na infância e
dor da medu la diferenciam-se célu las mais q ueratin izadas torna-se plena na puberdade, quando é estimulada pelos
e d ispostas de ma neira compacta, forma ndo o córtex do hormôn ios sexuais. Depois, sua atividade dim inu i grada-
pelo. Células mais periféricas formam a cutícula do pelo, tivamente pelo resto da vida, paralelamente à d iminu ição
constituída por células fortemente queratinizadas que se dos níveis séricos de andrógenos suprarrenais (adrenais),
dispõem envolven do o córtex como escamas. Finalmente, que parecem ser seu regulador. 2•4
existem d uas bai nhas epiteliais que e nvolvem a haste do O músculo eretor do pelo dispõe-se obliquamente na
pelo em sua porção in icial: a bainha externa se conti nua derme e se insere, de um lado, na camada papilar da der-
com o epitélio da epiderme, ao passo que a bainha interna me e, do outro, no fol ículo pilossebáceo. A inserção no
desaparece na altura do ponto de inserção da glândula se- foliculo ocorre na altura da protuberância, que é uma área
bácea no folícu lo. 2 de concentração de células-tro nco. Trata-se de um músculo
A cor, o tama nho e a disposição dos pelos variam de liso e, porta nto, involuntário, cuja contração puxa o pelo
acordo com a raça e a região do corpo.2 O pelo fetal o u para uma posição mais vertical, tOrna ndo-o eriçado.1•2
lanugo é uma pilosidade fina e clara, assim como os pelos Do ponto de vista funcional, os pelos servem como
pouco desenvolvidos do adulto, denominados velus. Já o proteção nas áreas orificiais, nari nas, conduto auditivo,
pelo terminal é espesso e pigmentado e compreende os ca- olhos e no cou ro cabeludo (como proteção contra os raios
belos, a ba rba e os pelos das regiões pub iana e axilar.1 As ultravioleta). Nas áreas intertriginosas, reduzem o atrito e,
características dos pelos de certas regiões, como a face e a em virtude de sua abu ndante inervação, fazem parte do
região pubiana, são infl uenciadas pelos hormôn ios, prin- aparelho sensorial cutâneo.1 Os foliculos pilosos também
cipa lmente os hormôn ios sexuais. Os pelos são estru turas são fontes de célu las-tronco epi teliais capazes de regenerar
que crescem descontin uamente, intercalando fases de re- camadas superficiais da pele que foram rompidas por vá-
pouso com fases de crescimento. A d uração das fases de rios agentes hostis internos e externos.s A secreção sebácea
repouso e crescimento é variável de região para região. 2 A é importante para ma nutenção eu trófica da própria pele,
fase de crescimento, denominada anágen a, caracteriza-se particularmente da camada córnea, evitando a perda de
por intensa atividade mitótica da matriz. Segue-se a fase ca- água. Além disso, o sebum tem propriedades antimicrobia-
tágena, durante a qual os foliculos dimin uem de tamanho, nas e contém substâncias precursoras da vitam ina DI
interrompe-se a melanogênese e a proliferação celu lar di-
min ui até cessar. Na fase telógena, os folícu los mostram-se
completamente qu iescentes, estão reduzidos à metade de Glândulas sudoríparas apócrinas
seu tamanh o original, ou ainda menos, e há uma desvincu- Embriologicamente, as glând ulas sudoriparas apó·
lação completa entre a papila e o pelo, resultando em seu crinas derivam da invaginação epidérm ica que também
desprend i mento _~ No couro cabeludo do ser h uma no exis- produz os foliculos pilossebáceos. Portanto, estão invaria-
tem, em média, 100 mil folículos, dos quais 85% a 90% são velmente associadas aos foliculos p ilosos.' Nos seres h u-
anágenos, 13% telógenos e menos de I% são catágenos. As ma nos, as glândulas apócrinas são e ncontradas nas axilas,
fases anágena, catágena e telógena duram, em méd ia, 3 a 6 nas regiões perianal e pubiana e na aréola mamária. As
anos, 2 semanas e 3 meses, respectivamente, o que supõe a glândulas de Moll da margem palpebral , as de cerúmen do
poss ibilidade de queda de 70 a 100 fios por d ia• cond uto aud itivo e as glândulas mamárias são glândulas
As glând ulas sebáceas são glândulas multilobu lares, apócrinas modificadasu
holócrinas, que geralmente desembocam no folículo pilo- As glândulas apócrinas são tu bulares e compostas de
so ' Em certas regiões (láb ios, mamilos, glande e pequenos uma porção secretOra e uma porção ductal. A porção d uc-
PARTE 11 • Pele

tal desemboca no folícu lo piloso, logo acima do dueto da mediadores parassimpáticos. A~s im, agentes pa rassimpaw-
glândula sebácea. A porção secretOra está local izada na der- miméticos, como a acetilcolina e a pilocarpina, estimulam
me profu nda e na h ipoderme e sua morfologia varia com a sudorese e agentes parassimpatol íticos, como a atropina,
o decorrer do período secreto r. As célu las secretoras d imi- a in ibem.M
n uem de tama nho após secreta rem, dando a impressão de
terem sido decapitadas 1 ·1•4 Co ntudo, existem evidências de Unhas
q ue essas glând ulas secretam pelo processo merócrino e
A~ u nhas são placas de células querati nizadas localiza-
não apócrino (com decapitação e secreção de parte do cito-
das na superfície dorsal das falanges termina is dos dedos .1
plasma), mas o nome apócrino foi consagrado pelo usoU
Anawmicamente, a unha é constitu ída de três partes: a
Na puberdade, sob a ação de hormôn ios andrógen os,
raiz, a lâmina ungueal, que é uma placa de queratina dura
as glând ulas apócrinas aumentam de volume e entram em
aderente ao leito ungueal; e a borda livre, que se localiza
atividade.4 Essas glând ulas são inervadas por fibras ad re-
sobre o hipon íquio (camada espessa de epiderme).'
nérgicas e respondem a estímulos ad renérgicos. A secreção
A raiz ou matriz u ngueal é uma área semilu nar, parcial-
é pouco abundante, ligeiramente viscosa e sem cheiro, mas
mente vedada pela dobra unguea l posterior e parcialmen-
adqu ire um odor desagradável e característico pela ação
te visível em uma área mais clara, denominada lü nu la.1 A
das bactérias da pele. 1 O verdadeiro significado funcional
dobra unguea l cons iste nas camadas usuais da epiderme e
da secreção apócrina da espécie h uma na é desconhecido,
apresenta um prolongamento da camada córnea que reco-
mas admi te-se que represente alguma função sexua l vesti·
bre a porção proximal da unha, a cutícula. A raiz contém
gial, uma vez q ue su rge apenas na puberdade. 1
células epi teliais prol iferativas responsáveis pela formação
da un ha. A un ha é constituída essen cialmente por escamas
Glândulas sudoríparas écrinas córneas compactas fortemente aderidas umas às outras.
Essas escamas crescem deslizando sobre o leito ungueal,
As glând ulas sudoríparas écrinas são muito numerosas
um tecido co njuntivo al tamente vascu larizado que contém
e encontradas em toda a pele, porém não nas membra-
numerosas anaswmoses arteriovenosas 1 ·1 A velocidade de
nas mucosas, apresenta ndo densidade máxima em palmas,
crescimento da un ha é de cerca de O,lmm/dia nas u nhas
plantas, axilas e fro nte.' Essas glândulas são tubu losas s im-
dos qu irodáctilos, sendo esse crescimento mais lento nas
ples enoveladas, cuj a porção secretOra localiza-se na região
unhas dos pododáctilos. 1
inferior da derme ou na junção dermo-hipodérmica. O
dueto tem uma porção dérmica e ou tra epidérmica (acros-
siríngeo) e desemboca d iretamente na superfície da pele Derme
por meio de um pequeno orifício, o poro. O d ueto não A derme é o tecido conjuntivo onde se apoia a epi-
se ramifica e apresenta um curso em hélice ao atravessar a derme e fornece proteção para a epiderme, para os anexos
epiderme. 1·1 cutâ neos e para os plexos vasculares e neurais.' A epiderme
As glându las sudoriparas écrinas exercem um papel e a derme unem-se de maneira si nuosa e interpenetra nte,
vital na termorregulação do orga nismo, graças à secreção isto é, a epiderme penetra a derme por meio dos cones
do suor, q ue se evapora ao atingi r a superfície da pele, interpapilares (cristas epidérmicas) e a derme se projeta na
fazendo baixar a temperatu ra corporal.l.2 O suor é uma epiderme através das papilas dérmicas.4 A~ papilas aumen-
solução extremamente dil uída, que contém pouquíss ima tam a área de contatO entre essas d uas camadas da pele,
proteína, além de sódio, potássio, cloreto, ureia, amônia e reforçando a un ião entre elas, e são ma is frequentes em
ácido úrico. O fluido encontrado no lúmen das glândulas áreas sujeitas à pressão e ao atrito.1
é essencialmente um u ltrafiltrado do plasma sa ngu íneo, A derme apresenta espessura variável de acordo com
derivado dos abundantes capilares localizados em volta das a região anatômica, variando de I até 4mm e atingindo
porções secreto ras 2 A reabsorção de NaCI e HC0 1 pelas espessura máxima na planta dos pés.'·1 Composta por fi.
célu las ductais dá origem à secreção h ipotônica que che- bras colágenas, elásticas e reticulares, imersas em um gel
ga à superfície. A sudorese atinge, em méd ia, !OOmL/ dia rico em mucopolissacarídeos, a substância fundamental,
em uma pessoa bem aclimatizada e, durante exercícios in- a derme pode ser d ivid ida em três camadas, com limites
tensos, pode chegar a I a 2L/h ou aproximadamente essa pouco defin idos entre elas: a derme papilar, a perianexial
q uantidade em d ias de calo r extremo.4 e a reticular.1•1
As glând ulas écrinas são inervadas por fibras s impá- A derme papilar é delgada e constituída por teci-
ticas não miel in izadas com característica única, por utili- do conjuntivo frouxo que forma as papilas dérmicas.1
zarem a acetilcolina, e não a norad renalina, como neuro- Contém n umerosas célu las (fibroblastos, dendrócitos
transmissor. Fisiologicamente, porta nto, são regidas por dérmicos e mastóci tos), abundante substâ ncia fu ndamen-
Capítulo 6 • Anatomia e Fisiologia da Pele 33

tal, terminações nervosas e peq uenos vasos responsáveis Substância fundamental


pela n utrição e oxigenação da epiderme 1 · 2 Essa camada A substâ ncia fu ndamenta l cons iste em macromolé-
é composta por fibras colágenas organ izadas em feixes culas que preenchem os espaços entre as fibras e as células
frouxos e fibras elásticas finas, com disposição perpen- dérm icas, sendo ma is abundante na derme papilar e pe-
dicular à ju nção dermoepidérmica. Nas extremidades, ria nexial. Não é visível em colorações histológicas de roti·
especialmente nos dedos, a derme papilar contém cor- na, mas é levemente corada pela coloração de alcian blue.
púscu los tá te is, terminações nervosas especializadas que Bioquimicameme, cons iste em glicoproteinas e proteogli-
agem como meca norreceptores.' A derme peria nexial é ca nos (ácido hialurõnico, cond ro itinsu lfa tos, fibronectina,
estruturalmente idêntica à denne papilar, d ispo ndo-se, entre o utros) q ue interagem com os componentes fibrosos
porém, em torno dos anexos.1 e celulares da derme. ' Este gel viscoso contribui para a re-
A derme reticular é mais profunda e espessa, consti· sistência mecâ nica da pele a compressões e estiramentos. 1
tuida por tecido co njuntivo denso, 2 sendo composta por
fibras elásticas grossas e feixes de fibras colágenas ma is es-
pessas, com disposição paralela à superfície da pele.' Há
Células residentes da derme
proporcionalmente menor quantidade de fibroblasros e Os fibroblasros são as p rincipais células da derme e de
de substância fundamental em relação à der me papilar.1 rodos os tecidos conjuntivos. Apresentam formatos fus i-
A derme reticular contém as pa rtes profundas dos anexos formes ou estrelados e sintetizam todos os tipos de fibras
cutâneos, plexos nervosos e vasculares.' dérm icas e a substância fu ndamenta l.'
Os dendrócitos dérmicos representam uma população
heterogênea de células mesenqu imais dendriticas, às quais
Fibras podem ser reco nhecidas por meio de técn icas de imuno-
A grande maioria (mais de 90%) das fibras dérmicas é ·hisroquímica.' Os dendróci tos são capazes de apresentar
composta de colágeno, responsável pela resistê ncia mecân i- an tígenos e localizam-se em ma ior número nas porções
ca da pele. No ser humano existem d iversos tipos de coláge- superiores da derme, principalmente ao redor dos vasos.
no, predominando na derme os dos tipos I e lll.' Colágeno Os histióciros/macrófagos são representantes dérmicos do
tipo I é o mais abundante, representando 80% a 90% do sistema reticuloendotelial, derivados de células precursoras
colágeno dérmico do adultO. O tipo lll, que predomina da med ula óssea. Têm capacidade de fagocitar e apresentar
na vida embrionária, representa 10% do colágeno na vida antígenos, secretar moléculas imunomoduladoras, citOci·
adulta. 1•4 A~ fibras colágenas coram~e bem pela eosina e se nas e fatores de crescimento, além de propriedades micro-
arranjam em feixes, os quais são fi nos e com arra njo ma is bicidas e tumoricidas!
vertical na der me papilar, tornand~e ma is espessos e com Os mastócitos são células monon udeares o riginárias
disposição horizontal na derme profunda.1•4 da medu la óssea e estão distribuídos esparsa mente na d er-
As fibras elásticas são responsáveis pelas propriedades me perivascular e perianexial.' Coram~e metacromicamen-
retráteis da pele. Não se coram pelas técn icas rotineiras, te (isto é, com cor diferente da do corante) quando corados
mas podem servisua lizadas com a coloração de o rceí na.' Na pelo G iemsa o u pelo azu l de roluidina.1•4 Os mastócitos
derme papilar, são finas e orientadas perpend icu larmente desempenham importantes papéis na reparação dos teci-
à epiderme; na derme reticu lar, tornam-se mais grossas e dos, reação de hipersensibilidade do tipo I, defesa contra
dispostas paralelamente.1•1 As fibras elásticas oxitalâ nicas parasitas, qu imiotaxia, proliferação e ativação de eosinófi-
são as mais superficiais e dispõem-se perpend icu larmente los, promoção da fagocitOse, permeabilidade vascular, ação
à junção dermoepidérmica, estendendo-se até o lim ite en- antitumora l e na angiogênese!
tre a derme papilar e a reticular. São compostas por feixes
de microfibrilas revestidos por alguma elastina solúvel e
estão envolvidas na ligação entre a epiderme e a derme. As HIPOOERME
fibras eu lanin icas ocupam uma loca lização intermediária A hipoderme o u pan ículo adiposo é a camada mais
na derme, conecta ndo as fibras oxitalãnicas àS fibras elásti· profunda da pele, de espessura variável, sendo composta
cas maduras. As fibras elásticas maduras ocupam a derme por tecido ad iposo que, além de funcionar como depósitO
reticu lar e contêm cerca de 90% de elastina. Em razão de n utritivo de reserva, participa da termorregulação, do iso-
seu ma ior teor de elastina, estão envolvidas na absorção de lamento térmico, da proteção do o rga nismo contra lesões
choques e distensões na pele.1 mecânicas e facilita a motilidade da pele em relação às es-
Fibras reticu lares, visualizadas em colorações especiais truturas subjacentes.1•1
pela prata, consistem em uma mistura de fibras colágenas As principa is células da hipoderme são os adipócitOs,
fi nas e fibronectina.' grandes células arredondadas com ci toplasma repleto de
PARTE 11 • Pele

gordura e núcleo rechaçado para a periferia. Em colo rações receber estím ulos do meio ambiente. 2 A pele possu i uma
de rotina, essas célu las se apresentam com grandes vacúo- rica e complexa inervação, composta por uma via aferen-
los vazios, pois seu conteüdo de gordura é dissolvido no te e uma via eferente. A via eferente é composta por fibras
processo de fixação. Os adipócitos se arranjam em lóbu los, nervosas amielin icas do sistema simpático que regu lam
sepa rados por septos de tecido conjuntivo que contêm cé- a vasomotricidade, a secreção sudorípara e a piloereção.
lu las (fibroblastos, dend rócitos e mastócitos), pa rte profun- A via aferente é responsável pela percepção de variações
da das glându las sudoriparas, vasos e nervos.' e agressões provenientes do meio externo (tato, pressão,
vibração, dor, temperatura) e é composta por uma rede
-
VASCULARIZAÇAO E INERVAÇAO DA PELE
- de fibras sensoria is, terminações nervosas livres e corpús-
culos nervosos.' A~ sensações táteis, dolorosas e térmicas
Com exceção da epiderme, que é um tecido não vas- ocorrem principalmente nas te rminações livres.• Os cor-
cularizado, a pele apresenta uma rica rede vascular, q ue p üscu los nervosos são estruturas sensoria is orga nizadas
supera o necessário para seu suprimento metabólico e está existentes em algumas regiões corpóreas, como pa lmas e
e nvolvida na termorregulação, cicatrização de feridas, rea- plantas, láb ios e gen ita is. Os corpúsculos de Va ter-Pacini
ções imunológicas e no controle da pressão arterial. ' Os localizam-se na hipoden ne das regiões pa lmoplantares e
vasos que suprem a pele formam dois plexos horizonta is, funcionam como receptores de pressão. Os corpúsculos
os q uais se com unicam por meio de vasos que atravessam de Meissner d ispõem-se ao longo das papilas dérmicas,
a derme verticalmente. O plexo profundo se localiza pró- principalmente nas polpas dos dedos, e detectam as sen-
ximo à junção dermo-h ipodérmica e fornece artérias n u- sações táteis. Os corpúsculos de Krause, também chama-
tridora.~ para as glându las sudoríparas e para os foliculos dos órgãos nervosos termina is mucocutãneos, ocorrem
pilosos. O plexo superficial loca liza-se na interface en tre nas á reas de trans ição entre pele e mucosas (glande, pre-
a derme papilar e a reticular e fornece uma alça vascular p ücio, clitóris, vulva, láb io, língua, pálpebras e pele peria-
para cada papila dérmica. A alça vascu lar consiste em uma nal). Já os corpúsculos de Ruffin i são particu larmente nu-
arteríola ascendente, capilares formando uma curva e uma merosos na superfície planta r e estão relacionados com a
vênula descendente.1•2 Em algumas áreas, como dedos, lei- sensibilidade térm ica.'·l.4
to ungueal, o relhas e nariz, as arteriolas e as vênulas se
comun icam por meio de formações especiais, denomina- Referências
das glomos. Essas estru turas são anastomoses diretas en- 1. Kanitakis J. Anatomy, histology and immunohistochemistry of
tre arterío las e vên ulas, cujas paredes são compostas por normal human skin. European Journal of Dermatology 2002;
célu las endoteliais, cobertas por várias camadas de células 12(4):390-401.
2. Junqueira L, Carneiro J. Pele e anexos. In: Junqueira L, Car-
contráteis. Os glomos estão ligados fu ncionalmente à ter-
neiro J. Histologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
morregu lação.1•1 2008:359-70.
O sistema linfático é importante na drenagem de flui- 3 . Sampaio S, Rivin.i E. Anatomia e fisiologia. In: Sampaio S, Rivin.i
do extracelu lar e na regu lação da pressão do líqu ido inters- E. Dermatologia. São Paulo: Artes Médicas, 2007:1-3Z
4 . Sodre C, Azulay D, Azulay R. A pele: estrutura, fisiologia e em-
ticial e participa de reações imu no lógicas.' A rede linfática,
briologia. In: Azulay R; Azulay D. Dermatologia. Rio de Janeiro:
exclusivamente colerora, in icia-se nos capilares li nfá ticos Guanabara Koogan, 2006: 1-15.
com fundo cego, presentes na derme papilar, q ue drenam 5. Murphy G, Sellheyer K, Mihm M. A pele. In: Kumar V. Abbas
para o plexo subpapilar. Este se comunica, por meio de A, Fausto N. Patologia: bases patológicas das doenças. Rio de
vasos coletores verticais, com o plexo linfático profundo, Janeiro: Elsevier, 2005: 1283-329.
6. Jimbow K, Ouevedo Júnior W, Prota G, Fitzpatrick T. Biologia
na junção entre a derme e a hipoderme. 1•4 dos melanócitos. In: Freedberg I, Eisen A, Wolff K et ai. Fitzpa-
Uma das funções ma is importantes da pele, graças a trick: tratado de dermatologia. Rio de Janeiro: Revinter, 2005:
sua grande extensão e abundante inervação sensorial, é 192-219.
Envelhecimento Cutâneo
Sandra Lyon

O e nvelhecimento é um fenômeno b iológico progres- ma is suscetíveis ao da no solar, apresentando man ifestações


sivo e tempora l que envolve a redução da capacidade máxi- de e nvelhecimento mais evidentes.6
ma e da capacidade de reserva de rodo organ ismo, levando O tabagismo é o utro fawr que acelera o processo de
à morte.' e nvelhecimento cutâneo, levando ao aparecimento prema-
Envelhecimento cutâneo é um processo progressivo de tu ro de r ugas facia is.7•8
deterioração morfológica e fu ncional da pele. Trata-se de
um fenômeno d inâm ico e complexo q ue envolve o enve-
lhecimento geneticamente determi nado, ch amado intrín- PATOGÊNESE
seco, e o envel hecimento causado por agentes ambientais, Os dois mecan ismos do envelhecimento cutâneo, in-
denom inado extrínseco.z.J trínseco e extrínseco, interagem e atuam sincro nicamente
A~ alterações do envelhecimento intrínseco são parte no da no celular.
inevitável do processo de senescencia da pele dos humanos e A pele está constantemente exposta aos radicais livres, às
com o processo as pessoas envelhecem de ma neira distinta. O denomi nadas moléculas reativas de oxigênio (reactit>e oxygen
envelhecimento extrínseco é causado por exposição a agentes species - ROS) do meio ambiente e do próprio metabolismo.9
agressores externos, em especial a exposição à rad iação ultra· A rad iação ultravioleta (RUY) é absorvida pelos cromó-
violeta, produzindo o fotodano. Existem o utrOs agentes agre:;.. foros da pele, DNA e ácido araquidõnico, causando mod i-
sores, como tabagismo, alterações de umidade relativa do ar, ficações q uí micas nesses cromóforos e gerando os radicais
aquecimento ambiental, poluentes químicos, ventilação arti· livres, os qua is vão produzir o dano oxidativo da célula9
ficial do ar-condicionado e poluição ambiental. A luz q ue incide sobre o DNA celular leva ao desar-
ranjo dos q ueratinóci tos, produ zindo mutações e perda do
controle do genoma. Qua ndo a lu z incide sobre o ácido
EPIDEMIOLOGIA araquidõnico da epiderme, provoca oxidação da membra-
O envelhecimento cutâneo intrínseco in icia-se a partir na li píd ica e dano à integridade celu lar.9
dos 30 a nos de idade e é mais evidente nas mulheres, nas Na derme, o acúmu lo das ROS dan ifica as p roteínas,
quais passa a se acentuar na menopausa, em decorrência o ácido araq uidõ nico e seus metabólitos e promove o au-
das alterações hormonais. Os hormôn ios que cond icio- mento da produção do material elastó tico pelos fibroblas-
nam o e nvelhecimento intrínseco são estrógenos, testoste- tOS, levando à atrofia das fibras de colágeno.
ro na e hormôn io do crescimento, os q uais dim in uem com O fotoenvelhecimento é, por conseguinte, med iado
o avançar da idade cronológica.; pela absorção d ireta da RUV e pelas reações fotoquím icas
O envelhecimento cutâneo extrínseco está di retamen- med iadas pelas ROS.10•11
te relacionado com os fototipos mais ba ixos na classifica- A polu ição ambiental exerce efeitOS deletérios por
ção de Fitzpatrick. A~sim, pessoas de pele ma is clara são meio da geração de estresse oxidativo na pele e está rela-

35
PARTE 11 • A Pele

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO
ENVELHECIMENTO
Constituem ma ni festações clinicas do e nvel hecimento
intrínseco:
• Alterações da pele:
- Pele pálida, fina, com perda de elasticidade e da firmeza.
- Perda da gordura subcutânea, com alterações do con·
torno da face, do p reenchimento do dorso das mãos,
xerose, pr urido e dermatite seborreica, devido a alte·
rações da fu nção das glâ ndulas sebáceas.
- Aumento da suscetibil idade a infecções.
• Alterações dos pelos:
- Diminu ição do n úmero e volume de pelos em todo o
Figura 7 .1 Dano actínico. (Fonte: acervo da Ora. M aria Juliana corpo.
Saraiva de Almeida.)
- Diminu ição dos pelos no couro cabeludo de acordo
com o padrão genético e sexual.
- Branqueamento dos pelos com o ava nçar da idade.
- Espessamento e crescimento dos pelos nas regiões
dos supercílios, fossas nasais e orelhas.
• Alterações das unhas:
- Di minu ição da velocidade de crescimento a part ir da
terceira década de vida.
- Un has frágeis, estriadas, com perda de brilho e dis-
tróficas•

Constituem ma ni festações clinicas do e nvel hecimento


extrínseco:
• Perda do brilho, sensação de aspereza ao tato.
• Alterações de p igmentação com aparecimento e acen-
tuação de efélides, len tigos, melanoses solares e quera·
Figura 7 . 2 Fotoenvelhecimento cutâneo (Fonte: acervo da Ora. toses seborreicas.
Maria Juliana Saraiva de Almeida.) • Aparecimento de rugas finas e acentuação das rugas d i·
nãmicas e das dobras cutâ neas.
cionada com o aparecimento de s inais de envelhecimento • Nos fumantes, aparecimento de rugas perilabiais.
cutâneo extrínseco (Figuras 7.1 e 7.2).1 • Aparecimento da poiquilodermia de C ivatte na região
No e nvel hecimento intrínseco, o dano celular é causa· do pescoço.
do pelas ROS, formadas nas reações metabólicas normais • Outras alterações cutâneas: cútis romboidal, pú rpuras
da pele. actin icas, q ueratoses actin icas, queratoses seborreicas e
Constituem fomes endógenas de radicais livres: as reações tumores cutâneos•
metabólicas realizadas pelas mitocôndrias, o processo de fago·
cirose realizado por neutrófilos polimorfonucleares, as reações -
CLASSIFICAÇAO DO ENVELHECIMENTO
oxidativas das enzimas, a produção de ácido úrico e o metabo·
lismo de ácido araquidõnico das membranas celulares.4•9 CUTÂNEO
O tabagismo induz a superexpressão das metaloprotei- Em 1996, G logau propôs uma classificação de envelhe-
nas (MMP), responsáveis pela clivagem do colágeno e pelo cimento cutâ neo baseada em si nais de fotoenvelhecimento,
aumento da degradação do tecido conjuntivo dérmicon cicatriz de acne e uso de maquiagem. Em razão dos parâme-
As alterações hormonais contribuem para o envelheci· tros d iversificados, essa classificação é pouco utilizada_,.
memo intrínseco, sobretudo no sexo feminino, o hipoestro- A classificação de Rubim, de 1995,1; é ma is objetiva e
gen Lsmo, que ind uz a diminuição da quantidade de colágeno, baseia-se nos aspectos clínicos e hisropacológicos das altera·
e as alterações na concentração de glicosaminoglicanas e na ções visíveis. Os da nos são agr upados em trêS graus:
quantidade de água na pele. As alterações hormonaLs levam • Grau l: os sinais clín icos estão presentes apenas na
à diminuição da elasticidade e da extensibilidade da pele.n epiderme e referem-se às alterações de pigmentação e
Capítul o 7 • Envelhecimento Cutâneo 37

textura decorrentes do acumú lo de espessu ra do estratO A terapia de reposição ho rmonal com estrógenos atua
córneo. Incl uem efélides, lentigo e aspereza cutânea. de maneira benéfica no tratamento do envelhecimento
• Grau 2: os sinais clínicos são decorrentes de alterações cutãneo.18
na epiderme e derme papila r. Correspondem a todas as Os fato res de crescimento desempenham papel impor-
alterações de grau I, somadas a alterações de textura e tante para reverter os efeitos do e nvel hecimento da pele
pigmen tação mais acentuadas (por exemplo, q ueraroses em razão da ação cronológica e dos fatores ambien tais.19
seborreicas, aumento de rugas e acentuação do sulco na- O tratamento do envelhecimento cutâ neo consiste na
sogen iano). combinação de procedimentos preventivos, clínicos e cirúr-
• Grau 3: os sinais clínicos estão presentes na epiderme e gicos.
na derme papilar e reticu lar. Esse grupo é constituído de
todas as alterações dos graus I e 2, acrescidas de rugas Referências
acentuadas, pele espessada, coloração amarelada, come- 1. Landrau M. Patogênese do envelhecimento cutâneo. In: Costa
dos abertos e dispersos. A. Tratado internacional dos cosmecêuticos. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Koogan, 2012.
Em 2004, Gu inot propôs o Skin Age Score (SAS) para 2. Yaar M, Gilchrest BA. Biochemical and molecular changes in
avaliação do envelhecimento, envolvendo inúmeros fato- photoaged skin. In: Gilchrest BA. Photodermage. Cambridge:
Blackwell, 1995:168-84.
res, com o objetivo de qua lificar e quantifica r a intens ida-
3. Rhie G, Shin MH, Seo JY et ai. Aging and photoaging dependent
de do envelhecimento. São eles: idade, fenótipo, índice de changes of enzyme and nonenzynic antioxidants in the epider-
massa corporal, grau de exposição solar, número de anos mis and dermis of human skin in vivo. J lnvest Dermatol 2001;
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4. Arruda LHF. Castro CVB, Leite VP. Envelhecimento cutâneo. In:
ou tros.16
Ramos-e-Silva M, Castro MCR . Fundamentos de dermatologia.
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8. López Hernandez 8, Tercedor J, Rodenas JM, Simon Lopez F. Or-
No envelhecimento extrínseco há displas ia epidérmi- tega Del Olmo RM, Serrano Ortega S. Skin aging and smoking .
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10. Fisher GJ, Kang S, Varani J et ai. Mechanisms of photoaging and
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11. Chung JH, Seo JY, Choi HR et ai. Modulation of skin collagen
TRATAMENTO met abolism in aged and photoaged human skin in vivo. J lnvest
O tratamento do e nvelhecimento deve ser primeira- Dermatol 2001 ; 117(5}: 1218-24.
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O uso de substâncias antioxidantes pode d iminuir ou 93(6):47-53.
bloquear as reações de oxidação induzidas pelos radica is 14. Glogau RG. Aesthetic and anatomic analysis of the aging skin .
Semin Cutan Med Surg 1996; 15(3}:134-8.
livres presentes na pele. Entre os antioxidames que confe- 15. Rubin MG. Fotoenvelhecimento cutâneo e dermat<rheliose. In:
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A tretinoína tópica é considerada o pad rão-ouro em vir· de Janeiro: Affonso and Reichmann, 1998:26-43.
16. Guinot C, Malvy DJ, Ambroisine L et ai. Relative contribution of
tude de sua eficácia no foroenvelhecimento. São utilizados intrinsic versus extrinsic factors to skin aging as determined by
ainda a isotretino ína, o tazaroteno, os alfa..h id roxiácidos, os validated skin age score. Arch Dermatol2002; 138{11}:1454-60.
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como peelings q uím icos e físicos, subcisão, preenchedores, 19. Fitzpatrick RE, Rostan EF. Reversal of photodamage with topical
uso de toxina botulínica e laser.4 growth factors: a pilot study. J Cosmet LaserTher 2003; 4 :25-34.
PARTE 111

-
,
CLASSIFICA"'AO
ETNICA E CRONOLOGIA
Classificação da Pele
Angelina Toledo Lyon

A pele constitu i a interface entre o cor po e o meio ex- A perda de colágeno e outros componentes dérmicos é
terno, e é um órgão imprescind ível à vida. Recobre o cor po responsável pelo afinamento da pele e ocorre em ambos os se-
e protege os tecidos ma is profundos contra traumatismos, xos. A densidade do colágeno é maior nos homens e resulta da
desidratação e invasão de microrganismos externos' ação dos hormônios androgênicos. Nas mulheres, a influência
A pele, como órgão mais externo do cor po h umano, dos hormônios ocorre sobre o estrato córneo e a> ceramida>,
serve como sistema primário de defesa. Entre o utras fu n- ocasionando, assim, diminuição da h idratação da pele.'
ções, age como ó rgão sensorial e regulador pri má rio da Com o aumento da idade ocorrem alterações estrum-
temperatu ra humana. rais e fu ncionais da microcirculação, levando ao apareci-
É fu ndamental a fu nção de permeab il idade da barrei- mento de telangiectasias. Ocorre ação di reta dos hormô·
ra epidérmica, a qual controla o movimento transcutãneo n ios sobre a parede dos vasos sanguíneos, como o estróge-
de água e o utros eletróliws' no, que induz vasoconstrição.'
O corpo humano tem em seus componentes algumas bar-
reiras naturaL>à penetração da radiação ultravioleta (RUY). A
Fototipos
pele e os cabelos conferem proteção fl>ica às superfícies mais
expostas, como o couro cabeludo. A camada córnea, o suor e A classificação de Fitzpatrick é utilizada para o estabe-
o sebo ajudam a bloquear a penetração da rad iação solar, da lecimento do forotipo. De acordo com a reatividade cutã·
RUY e da luz visível, absorvendo e refletindo a luz. nea da pele à luz solar, pode-se determinar o fototipo de
Os mecan ismos fisiológicos intrínsecos de defesa do um ind ivíduo, conforme o eri tema decorrente da radiação
ultravioleta (Quadro 8 .1).;
organismo são compostOs da melan ina, do sistema antirra-
d icais livres e do complexo de reparação do DNA.2
A pele reflete as características do cor po. A estrutura e a TIPOS DE PELE
fu nção da pele podem ser afetadas pelas diferenças sexua is,
hormona is e genéticas, ocasionando variações entre homens Pele normal
e mulheres. Os fawres ambientais e a idade também exer- A pele normal apresenta uma textura lisa, suave e fle-
cem d ifere ntes influências sobre homens e mulheres. xível, sem sinais visíveis de lesões ou sensação de desco n-
fortO; as secreções sebáceas e sudoríparas enco ntram-se em
equil íbrio. Tem aspecto liso e aveludado, com elasticidade
VARIAÇÕES ESTRUTURAIS EANATÕMICAS e não brilhante, q ue lembram a pele infantil. Apresenta
A espessura da pele é ma ior nos homens do q ue nas uma camada h id rolip ídica que recobre a camada córnea,
mu lheres em q uase todas as faixas etárias . Enquanto a pele auxil iando a coesão, lubrificação e proteção da pele.
fem in ina mantém-se constante até os 50 anos de idade, a As caracteríSticas da pele variam em um mesmo ind i-
do homem afina-se grad ualmente da infâ ncia até a velhice. víduo, conforme as d iferentes regiões anatômicas. Pri mei-

41
42 PARTE111 • ClassificaçAo ttnica e Cronologia

Quadro 8 .1 Class1hcação de F1tzpatrid< descamação. Há diminuição da barreira do e>trato córneo


Tipo de pele Cor de pele Cerecterlstice e consequente aurnemo da perda de água transepidérmica.
A pele é fina, opaca e com tendência à formação de rugas
Branca Sempre que1ma
precoces. É facilmente irritável e vulnerável à.~ altc:!rações
Nunca bronze~a
de temperatura e umidade amhiemab.
11 Branca Em geral que•ma. Exi.~tem dois tipo> principaL-. de pele ;eca:
bronzeando menos que a
• Ad qui rida: os fatore.., externo.., >ão ()'> principab respnn-
méd•a
sá,·eis, como radiação ;.olar, variaçi')e.' hru>cas de tem-
111 Branca Às vezes que1ma pouco, peratura, como frio, calor, ,·ento> e secura, expOsição a
bronzeamento ma1s ou
menosméd1o agentes químicos, como detergentes e solventes, e uso
de medicações tópica~ que levam ao re.-.seca menro da
IV Branca Raras vezes que1ma,
bronzeando ma1s que a
pele, como retinoides.
méd•a • Constitucion al: compreend e vários tipos de pele seca,
sendo as ma is graves a~ formas patológicas.
v Parda Raras vezes que1ma,
- Constitucional não patológica:
bronzeando profusamente
• Pele frágil ou se nsível: é inrenned iária entre a
VI Negra Raras vezes queima, sendo pele seca e a pele normal; mais frequente mente
profundamente pigmentada
enco ntrada em pessoas com pele mu itO d elicada.
Em geral, trata·se de uma pele suscetível a agentes
externos, com presença de eritema ou rosácea.
• Pele senil: entre as características mais evidentc:s
rameme, PtXIem >t!r citadas as glâ ndulas sebácea~, que es- desse tipo de pele estão o ressecamenro e a atrofia.
tão em maior quantidade na parte superior do corpo em • Pele seca minor (xerosis mlgaris): de provávd o rigem
relação à parte inferior, com a fronte apresentando em ror- genética, é geralmente encontrada em mulhere~ de
no de 300 glândula.-,fcml, o tronco, 60 glãmlula~/cml, e o fototipO muito claro, acometendo principalmente:
dorso 80 glãndu ta,/cm2. a face, o tlorl>O da., mão> e O> memhro;•.
Na face, a capacidade de ah;.orção cutânea é menor do - ConStitucional patológica:
que na> axila'> ou no couro cabeludo, e a taxa de renovação • lctio.-.e>: coru.btem em alteraçõe> da queratiniza-
córnea é mab elevada no> antebraço> que nos hraços e no ção de origem genética, que >e manife.'itam por
ahdome. descamação anormal da ;uperficie, o que altera
a função da barreira cutãnea. A., forma' mínima~
Pele oleosa ou seborreica assemelham...e à ictiose vul1,>ar.
• Dermatite atópica: a'>.'>Ociada a uma alteração ge-
A pele oleo;a é untuo;,a e brilhante, de aparência es-
pessa, poros di tarados, principalmente na região central da nética no meraholismo do, ácido.-. graxos essen-
ciais, apresenta-se como xerose difusa, com le.~ôes
fronte, na região na.,al, nos matares hilatc:rais e no mento.
Os orifícios pi lo;,;,eháceos e; tão aumentados e os come- em placas pruriginosas, principalmente em re-
giões de dobra~ cutãneas, muitas wzes com ecze-
dões apresentam-se abertos ou fechados. Em gera l, rrara-se
d e uma pele de aspecto pálido e facilmente irrir.:\vel, sobre- ma e inflamação.
tudo nas regiôes med iofaciais. A irritação e inflamação da
pele o leosa se deve à oxidação de substâ ncias graxas em PELE ENVELHECIDA
excesso, o que leva à conta minação hacteriana no foliculo
A pele envel hecida ca racteri za·se pela secura e a sen-
pilossebâsseo e à consequente inflamaç:in.
Esse tipo de pele pode esta r associado a acne, dermati· sação râtil de ondu lação, rugnsidades, flacidez, alteraçôes
irregulares da pigmentação e leslies actinicas causadas por
te sehorreica e rosácea, entre outras afecçtleS.
As peles mbta.-. alternam :\reas secas e oleosas, onde se exposição solar crônica.
O inicio de.~se processo dt! envdhecimento mani-
pode observar a associação entre placas seho rrt!icas e placas
de atrofia cmânea e tlescamação menos acentuada. festa-se por meio de alteraçôes na e;trutura liUimica das
proteina5, dos proteoglicano; e do ácido hialurõnico da
derme. Com o avançar da idade, o colát-:eno tipo III vai
Pele seca sendo gradativamente >Ub>tituido pelo colágeno tipo I,
A pele >eca apre>enta d.!ficit de água e lipídios e se com consequente diminuição da e.'>pe.'>-'>Ura da derme, le-
caracteriza pela >em.ação de e~tiramemo com a~pereza e vando a aumento da fragilidade cutãnea. Ocorre, também,
Capítulo8 • Classificação da Pele

diminuição dos proteoglica nos e do ácido hia lurõnico. Na ro pelo intestino delgado e a mobil ização do cálcio nos
hipoderme há dilatação dos vasos com espessamentO da ossos. S inteti zada na pele como resultado da exposição
parede e a perda da capacidade metabólica dos ad ipóci tos. à luz ultravioleta B, é carreada pelo sangue ligada a uma
O foroenvelhecimento é o resultado do acümulo de ex- proteína.
posição aos raios ultravioleta. Ao exame clinico, a pele apre- O nível de previ tamina 0 1 não é afetado pela quan-
senta-se com superfície irregular com vários sulcos e rugas, de tidade de mela nina presente na pele. Os negroides ne-
textura espessa, com distürbios de pigmentação e discromias. cessitam exposição à luz ultravioleta 12 vezes ma ior do
A pele com fowenvelhecimento pode também apre- que os caucasianos para a prod ução do mesmo nível de
sentar o utras afecções, como xerose, rosácea, telangiecta- vitam ina Dr
sias, querarose seborreica, quera tose actinica, net·'O rubi, Sabe-se que, nos caucasianos, entre 20% e 30% da ra-
flacidez cutânea e muscular e neoplasias, como carcinoma d iação ultravioleta B penetra a pele, enquanto nos negroi-
basocelular o u espinocelular6 des o percentual é de 2% a 5%w·11

DIFERENÇAS DE PELE RELACIONADAS MISCIGENAÇAO


-
COMA ETNIA
As etnias são determinadas por influências genéticas
A classificação racia l huma na, do ponto de vista an- das difere ntes raças. Além dos traços físicos, são defin idas
tropológico, d ivide a espécie humana em três grand es gru- também afi nidades cul tu rais de uma com unidade.
pos: caucasoide (brancos), negro ide (negros) e mongoloide A miscigenação criou uma variedade de forotipos com
(amarelos), embora algumas classificações levem em conta textu ra e firmeza da pele diferentes entre as raças.
critérios geográficos 7 A gra nde va riedade decorrente da miscigenação difi-
As diferenças de tonalidade da pele huma na advêm de culta, muitas vezes, a criação de uma rotina de cuidados da
fatores genéticos (raciais), hormonais, e ambientais, sendo pele e cabelos para todas as etnias.11
influenciadas, sobretudo, pela exposição solar. O fenôme-
no da miscigenação é o fator prepondera nte nas va riações
biológicas independente do fenó tipo. O padrão de respos- Referências
ta pigmentar negroide predomina na miscigenação. 1. Lee SH, Jeong K, Ahn K. An update of the defensiva barrier func-
A pele é o gra nde determ inante racial, mas as dife- tion of skin.Yonsei Med J 2006; 47(3):293-306.
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tornando a pele mais suscetível aos da nos actí nicos.8 perfusion during basilar and heated conditions determined by
A textura da pele e dos cabelos apresenta gra nde varia- laser doppler flowmetry. Microvasc Res 1993; 45:211-8.
bilidade individual en tre as diversas raças. Os cabelos são 5. Fitzpatrick T The validity and practicality of sun-reactive skin ty-
class ificados em três grandes grupos: pes I through VI. Arch Dermatol 1998; 124:869-71.
• lisótrico (mongoloide liso): orientais, asiáticos, nativos 6. Maio M. Tratado de medicina estética. Volume 1. São Paulo:
Roca, 2004.
americanos. Esse tipo de cabelo tem estrutura grossa e é Z Templeton AR. Human races: a genetic and evolutionary pers-
resistente. pectiva. Am Anthropol 1998; 100(3) :632-50.
• Sinótrico (caucasoide ondulado): encontrado em vá- 8. Del Bino S, Sok J, Bessac E, Bernerd F. Relationship between
rios grupos étnicos, sobretudo na raça europeia. Os ca- skin response to ultraviolet exposure and skin color type. Pig-
ment Cell Res 2006; 19(6):606-1 4.
belos são resistentes e respo nd em adequadamente aos
9. Wolfram L. Human hair: a unique physiochemical composite. J
tratamentos capilares. Am Acad Dermato12003; 48:S 106-14.
• Ulótr ico (negroide encaracolado): cabelo crespo, frágil 10. Archer CB. Functions of the skin. In: Rook A. Wilkinson DS,
e pouco resistente.9 Ebling FJG, Champion RH, Burton JL. Textbook of dermatology.
5. ed. Oxford: Blackwell, 1992:125-55.
11. Santos SNMB, Oliveira GV. Guedes ACM. Fisiologia da pele. In:
'
A PELE EA SINTESE DE VITAMINA D Ramos-e-Silva. Fundamentos de dermatologia. Rio de Janeiro:
Atheneu, 201 O.
A vitam ina 0 1 é essencial pa ra o desenvolvimento 12. Brenner FM. O arco-íris da pele brasileira. Senzatez, Revista So-
do esqueleto, pois controla a absorção de cálcio e fós fo- ciedade Brasileira de Dermatologia, 2012.
,
Variabilidades Raciais e Etnicas da Pele
Maria Ines Vieira

A defin ição de pele pigmentada ou pele de cor está o Capoides (tribo africana Ku ng San).
relacionada, di retamente, com os vários grupos racia is e o Austra loides (aborígenes austral ianos).
étnicos da espécie h uma na - Homo sapíens. Pele de cor e
reação da pele em relação aos fato res ambientais, como os Com base nessa classificação, muitOs desses grupos ra-
ra ios ultravioleta (UV) incidentes (que vêm da atmosfera) cia is consistiram em pessoas de pele de cor. Até mesmo
e os refletidos na superfície terrestre (a água aumenta a os caucasoides (ind ianos, paquistaneses e árabes) têm pele
intens idade da irradiação em 5%, a areia aumenta 25%, e p igmentada.; Nos EUA, a classificação racial e étnica de
a neve, 85%), bem como man ifestações óbvias de outro fe- ind ivíduos com pele p igmentada ou pele de cor é descri ta
nótipo, foram usadas para categorizar as subespécies (raças) como mostra o Quadro 9 .1.
do H omo sapíens. Estudos moleculares recentes apontaram Observa-se q ue a raça mongoloide clássica é consti tu ída
diferenças genéticas entre raças e grupos étnicos' por pessoas q ue evoluíram em clima frio e que evidenciam
Alguns antropólogos creem que a variação racia l certos fenótipos, como escassez de pelo pelo corpo.; Leva ndo
desenvolveu-se med iante o processo de seleção natural, em conta que o grau de pigmentação da pele influencia d ire-
consequente à necess idade de adaptação a determ inado tamente o efeitO que a radiação solar terá sobre o ind ivíd uo,
ambiente. Assim, pessoas q ue vivem próximas ao equador Fitzpatrick e Path ak, Ngh iem & Fi tzpatrick estrutu raram,
têm pele escura como forma de proteção contra os raios no fi nal da década de 1960, uma classificação dos tipos de
solares. Por outro lado, as q ue vivem no norte do equador pele q ue é util izada de maneira universal (Quadro 9.2).6•7
têm a pele mais clara com o objetivo de absorver adeq uada- Para o propósito deste capitulo, definimos pele pig-
mente os ra ios UV, promovendo a formação de vi tam ina mentada ou pele de cor como a pele que en contra o sis-
O na camada basal.1 Desse modo, cada raça tem caracterís- tema do forotipo de pele (SPT) IV para VI como cri tério.
ticas particulares (cor da pele, tipo do cabelo, conformação Esses tipos de pele raramente ou nu nca se queimam,
cra nial e facial, ancestralidade e genética), desenvolvidas ao quando expostos ao sol, e se bro nze iam prontamente.
lo ngo de várias gerações. 1 Estão incluídos nesse gru po ind ivíduos de vários gru pos
Do ponto de vista b iológico, porém, raças h umanas raciais o u étnicos.
não existem, existe apenas o Homo sapíens - a espécie h u- A maioria dos afro-americanos, norte<aribenhos e b is-
mana. O termo raça é uma construção social que divide a pano-america nos são classificados como tendo tipo de pele
espécie huma na, após categorização de todos os povos do Fitzpatrick IV a VI e mu itos norte-asiáticos (vietnamitas e
mundo, em cinco raças: 4 coreanos) e até pessoas de pele clara (árabes, paquista neses
o Caucasianos (europeus, árabes, indianos, paqu istaneses). e indianos), como tipos IV e V. Entretanto, um segmento
o Mongóis (asiáticos). de cada um dos grupos étn icos pode ser classificado como
o Congoides o u negroides (tribos africa nas, afro-america- tendo pele tipo lil o u até 11, em decorrência da miscigen a-
nos e afro-cariben hos). ção das raças por meio do intermatrimõn io 2

44
Capítul o 9 • Variabilidades Raciais e Étnicas da Pele 45

Quadro 9 . 1 Classif icação racial e étnica de indivíduos com Dessa maneira, afro-americanos contemporâneos cons-
pele pigmentada
tituem um mosaico de indígeno-africano, europeus brancos
Raça Povos representativos e nativos americanos. Padrões norte-americanos e intermatr~
Afro-americanos negros Incluindo negro norte-caribenhos môn ios, desde 1988, revelam as segui ntes taxas de casamento:
o 9% de brancos/negros,
Asiáticos e pessoas das Filipinos
o 19% de brancos/asiáticos,
Ilhas do Pacífico Chineses
Japoneses o 12% de brancos/nativos america nos,
Coreanos o 52% de brancos/hispânicos,
Vietnamitas
o 7% envolvendo outras mistu ras.
Tailandeses
Malasianos
Laotian ou descendente Hmolog Embora a classificação étn ica ou racial para descen-
Americanos nativos• dência ou inter-reprodução possa ser mais difícil de deter-
minar, um SPT ainda pode ser destinado a cada pessoa.;
Oriundos do Alasca e dos Esquimós (lnuit, Yupik)
Aleutas (América do Norte)
Com base na avaliação do fototipo de pele fo i possível
quantificar o efeito deletério do UVB pelo eritema obser-
Hispânicos ou México
vado na pele, fato que originou o índ ice FPS (facor de pro-
latino-americanos Cuba
Porto Rico teção solar), utilizado na mensuração da fotoproteção nos
América Central últimos 20 anos. Atualmente, tem sido dada importância
Descendentes hispânicos aos danos causados pela radiação UVA devido à fotosse-
Caucasoides Indianos nescência. Trata-se do envel hecimento extrínseco causado
Paquistaneses pelos raios UVA ao causa r danos crônicos às fibras colá-
Oriundos do meio-leste (árabes)
genas e dérmicas. O efeitO mais visível e mensurável dos
• Nome dado aos habitantes da Aménca antes da chegada dos europeus e raios UVA é a pigmentação cutânea imediata (fenômeno
seus descendentes atuais.
Fonte: Taylor SC. Skm of calor: bmlogy, structura, function and 1mphcations for de Meirowsky), secu ndária à oxidação da melanina já sinte-
dermatologic disease. J Am Acad Dermatol 2002; 46(2):$42·3. tizada e armazenada nos melanossomos.8

Quadro 9.2 Reatividade da pele humana à radiação solar baseada no fototipo da pele: I a VI

PlgmentaçAo de melanina

Fototlpo/pele Cor da pele MED (mJ/cm'l de Reatlvldade ou sensibilidade à Histórico de queimadura ao sol ou
UVB* RUV** bronzeamento-

Muito clara 15 a 30 Muito sensível ou reativa; + +++ Queima fácil e fortemente; nunca
bronzeia

11 Clara 25a 40 Muito sensível ou reativa; Queima facilmente, bronzeia


+++!++++ minimamente com dificuldade

111 Moreno-claro 30a 50 Pouco reativa ou sensitiva; +++ Queima moderadamente; bronzeia
moderadamente e uniformemente

IV Moreno 40a 60 Moderadamente reativa; ++ Queima m inimamente; bronzeia fácil


e moderadamente

v Mulato 6Da 90 Minimamente sensível; + Raramente queima; bronzeia


profusamente (marrom-escuro)

VI Negro 90 a 150 Menos sensível; +/- Nunca queima; bronzeia


profusamente (muito
marrom-escuro ou preto)

*MED (menor quantidade de radiação necessária para produzir eritema}; UVB: radiação ultravioleta B.
,..RUV - radJação ultravioleta - baseado em cerca de 5 a 6 MED de exposição (mJ/cm2), induztndo vermelhidão em até 24 horas.
' Baseado em cerca de 3 MED ou 90 a 120mJ/cm2 de exposição solar para bronzeamento da pele sem prévia expos1ção solar.
++++,reação muno forte, vermellllo.....,Jolãceo, edema, dor com ou sem bolllas; +++,reação forte, cor vermelho-brilhante com edema e dor;++, reação modera-
da, vermelhidão com edema e dor; +,reação fraca, vermelho-róseo: +/-:vermelhidão mfmmo.
Fonte: Taylor SC. Skin of colar: biology, structura, funcnon and 1mphcanons for dermatolog1c disease. J Am Acad Oermatol 2002; 46(2):$42-3.
46 PARTE 111 • Classificação Étnica e Cronologia

Embora util izado pela comun idade dermatOlógica, o tipos d e pele abrangeram SPT d e 11, Ill, IV e V, e não só o
sistema d e classificação do foto tipo de pele apresenta li- VI. Além disso, valores MED variaram d e 25 a 90mj/cm210
mitações. Po r exe mplo, o sistema de class ificação de SPT Leenutaphong mostrou que indivíduos da Tailândia
foi usado para pred izer a dose mínima d e eritema (istO é, a abrangem fototipos 11, III, IV e V e a pele de cor não cor-
MED ou a menor quantidade de radiação necessária para respondeu bem ao s iste ma d e Fitzpatrick e m um grupo de
produzir uma resposta perceptível d e eritema) para vários ind ivíduos ma is velhos. Além disso, houve também gra nde
tipos d e pele ou a mínima d ose melanogênica (MMD), co- variedade nos valo res MED, bem como sobreposição nos
n hecida como "bronzeamento" (Quad ro 9.3). valores e ntre diferentes tipos de pele 9
No entanto, o SPT tem sido irrelevante para pessoas Kawasa, reconhecendo as limitações do sistema proje-
d e pele de cor. Tem sido observado que e m alguns ind iví- tado para avaliar a pele cla ra, o qua l é aplicado à pele de
duos de pele de cor muitas vezes não há nenhuma relação outras raças, adaptOu o s iste ma SPT para melhor catego-
e ntre a cor da pele, o fototipo da pele e as MED. 9 rizar tipos de indivíduos japoneses. Ele criou um sistema
Youn e colaboradores demonstraram isso com relação de class ificação em três níveis, co m base na sensibilidade
aos as iáticos. Em seus estudos sobre a popu lação coreana, os aos ra ios UV. Outros s istemas para class ificação de pele,

Quadro 9.3 Dose mínima de luz ultravioleta necessária à indução de eritema (MED) e dose melanogênica mínima (MMD) de
acordo com o fototipo de pele

UVB (290 a 320nml UVA 1320 a 400nml

Fototlpo/pele MED, mJ/cm2 MMD. mJ/c m' MED. mJ/cm' MMD, mJ/cm2
I 15a 30 20a 35
li 25 a 40 15 a 25 30a 45 15a 20
111 30 a 50 17 a 25 40a 55 20 a 30
IV 45 a 60 20a 30 50 a 80 20 a 40
v 60 a 90 30a 35 70 a 100 30 a 50
VI 90 a 150 40a 80 ,. 100 30 a 50
Fonte: Pathak. Nghiem & Fitzpatnck, 1999:1606.

Quadro 9 .4 Lancer Ethinicity Scale (LES)

Geografia Fltzpatrick Tipo de pele - LES


África
Central. Leste, Oeste africano Pele tipo V LES tipo 5
Eritrea e Etiópia Pele tipo V LES tipo 5
Norte da África, Oriente Médio Pele tipo V LES tipo 5
Judeus sefarditas• Pele tipo 111 LES tipo 4

Ásia
Chineses, coreanos. japoneses, t ailandeses. vietnamit as Pele tipo IV LES tipo 4
Filipinos. polinésios Pele tipo IV LES tipo 4

Europeus
Ashkenazy judaica Pele tipo 11 LES tipo 3
Celtas Pele tipo I LES tipo 1
Europa Central. Lest e europeu Pele tipo 111 LES tipo 2
Nórdicos Pele tipo I a 11 LES tipo 1
Nordest e da Europa Pele tipo I LES tipo 1 a 2
Sudest e da Europa, Mediterrâneo Pele tipo 111 LES tipo 3 a 4

Américas Latina, Central e do Sul


Índios das Américas do Sul e Central Pele tipo IV LES tipo 4

América do Norte Pele tipo 11 LES tipo 3


Nativos americanos (incluindo esquimós lnuit)

+Israelitas do Onente Médio que se reuniram na Peninsula Ibérica por volta do primeiro milênio.
u Tipo 1: nunca bronzeia, sempre queima; Tipo 11 : ocasionalmente bronze1a, geralmente que1ma; Tipo 111: frequentemente bronze1a, âs vezes queima; Tipo fV:
sempre queima, nunca bronzeia; Tipo V: nunca queima; Tipo VI: nunca queima.
+t+LES 1: muito baixo risco: LES 2: batxo nsco; LES 3: nsco moderado; LES 4: risco sigmficavo; LES 5: nsco considerável.
Fonte: Taylor SC. Skin of color: b1ology, structura, function and implications for dermatologic disease. J Am Acad Dermatol2002; 46(2):S45.
Capítulo 9 • Variabilidades Raciais e Étnicas da Pele 47

baseados em outros fatores e não só no efeitO de rad iação da genética, mas também das práticas culturais exclusivas
UV, devem ser considerados." dos gr upos em questão. Fato res socioeconõmicos, escola-
O Lancer Eth in icity Scale (LES) foi desenvolvido como ridade e ocupação profissional podem exercer influencia
um p rotOcolo de avaliação cl ínica na determinação de uma na distribuição das e nfermidades dermatológicas em in·
melhor abordagem dos pacientes tratados com laser cosmé· d ivíduos de pele de cor. Esses resultados podem ser úteis
tico ou peelings qu ímicos. A taxa de cura pós-procedimen- na prática médica d iagnóstica e em programas de saüde
tO, o potencia l de complicações e o resultado final podem pública.
ser mais facil mente previstos quando a classificação de LES Pa ra tanto, faz~e necessário q ue a com un idade derma-
é considerada (Quadro 9.4). tológica esteja preparada para recon hecer e entender essas
Ind ivíd uos com pele de cor poderiam ser mais bem ava· prá ticas e hábitos cu ltu rais na ho ra de d irecionar a tera-
liados por um sistema de classificação de pele baseado em ou· pêutica. Obviamente, são necessárias pesquisas posteriores
rros critérios que não apenas a sensibilidade à radiação UV sobre ind ivíduos com pele de cor, que vêm rapidamente se
ou a eficácia de cura. Por exemplo, um sistema de classificação constitu indo na maioria das pessoas no mundo.
baseado na propensão da pele a se tomar hiperp igmentada
por estímulos inflamatórios e sustentar essa h iperpigmenta· Referências
ção durante períodos prolongados pode ser de valor, já que 1. Jin L, Underhill PA, Doctor V et ai. Distribuition of haplotypes from
essa característica é exclusiva da pele pigmentada.s a chromossome 21 regions distinguishes multiple prehistoric hu-
man migrations. Proc Natl Acad Sei USA 1999; 96:3.796-800.
2. Diamond JM. lhe third chimpanzee. NewYork: Harper Perennial,
1992.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 3. Alchorne MMA, Abreu MAMM. Dermatologia na pele negra. An
Bras Dermat ol 2008; 83(1 ):7-20.
Pessoas com pele de cor consti tuem uma larga variedade 4. Coon CS. The origin of races. NewYork: Alfred A. Knoph, 1962.
de gr upos étnicos e raciais, inclu indo africanos, afro-ame- 5. Taylor SC. Skin of colar: biology, structure, function and impli·
cations for dermatologic disease. J Am Acad Dermatol 2002;
ricanos, asiáticos, nativos americanos, h ispânicos e certos
46(2):541-62 .
grupos de pele clara. Essas pessoas foram categorizadas pelo 6. Fitzpatrick TB. lhe validity and praticality of sun reactive skin
sistema Fitztpatrick (SP1) como tendo peles do tipo IV a VI. type in through VI. Arch Dermatol1988; 124:869-71 .
Existem poucos estudos bem con trolados sobre pes. 7. Pathak MA, Nghiem P, Fitzpatrick TB. Acute and chronic effects
soas com pele de cor. Entre eles, muitos ava liaram as di· of l he sun. In: Freedberg IM, Eisen AZ, Wolff K et ai. {eds.)
Fitzpatrick's dermatology in general medicine. Vol. 1. New York
ferenças entre pessoas de pele clara com ascendência euro- (NY): McGraw-Hill, 1999:1598-608.
peia e afro-america na. Poucas conclusões definitivas sobre 8. Kede MPV, Sabatovich O. Fotoprot eção. In: Dermat ologia Estéti-
d iferenças racia is e étn icas na estr utura da pele, na fisio- ca. Rio de Janeiro: Atheneu, 2004:83-6.
logia e nos distúrbios dermatológicos podem ser ti radas, 9. Leenutaphong V. Relationship between skin colar and cuta-
neous response to ultraviolet radiation in Thai. Phot odermatol
especialmente na população bras ileira, por suas caracteri.~·
Photoimmunol & Photomedicine 1996; 11 (5-6):198-203.
ticas especiais relativas à miscigenação. A literatura apoia 10. Youn Jl, Oh JG, Kim BK et ai. Relationship between skin pho-
um d iferencial racial/étnico no conteúdo de melanina epi· totype and MED in Korean, brown skin . Photodermatol Photoim-
dérmica e dispersão de melanossomos em pessoas negras, munol & Photomedicine 1997; 13:198-203.
comparadas às pessoas de pele clara, bem como diferenças 11. Kawasa A. UVB-induced erythema delayed t anning, and UVA-
·induced ummediate tanning in Japanese skin. Phot odermatol
na estru tura do fibroblasro e do cabelo. 1986; 11 :198-203.
Qualquer d iferença racial ou étnica observada nos di.~­ 12. Lancer HA. Lancer Ethnicity Scale - LES (correspondance). La-
túrbios dermatológicos pode não ser somente decorrente sers Surg Med 1998; 22-9.
Pele do Neonato
Ma ria Apa recida de Fa ria Grossi

A estrutura da pele do neonato é semelhante à do para o vern iz caseoso na adaptação à vida extra uterina são:
adulto e ca racteriza-$e por ser fi na, frágil e sensível. A pele impermeabilização, umectação, limpeza, ação antibacteria-
é macia ao toque em razão da menor espessura da camada na, ação amioxidame, mamo ácido e cicatrizame. 4
córnea e pelo fato de a epiderme e a derme serem mais fi nas A pele do recém-nascido a termo é comparável à do
q ue as do ad ulto. A derme contém menor qua ntidade de adulto, sendo, porém, menos pigmentada, mais fina, me-
colágeno maduro e, por seu elevado teor de proteoglicanos, nos hidratada e contendo o verniz caseoso, que consiste
tem maior teor de água, além de menor conteúdo lipídico, em uma combinação de secreção sebácea e corneócitOs
em virtude da baixa atividade das glândulas sebáceas. Sua feta is destacados, existentes já no terceiro trimestre da
superfície apresen ta pH neutro, o que dimi nui de modo im- gravidez. O n úmero de glând ulas sudoríparas na derme é
porta nte a defesa contra a proliferação bacteria na.' menor q ue no adulto e essas glândulas só passam a ser fun-
In úmeras alterações fisiológicas, temporárias o u adap- cionantes a partir da terceira semana de vida s
tativas ao meio exte rno, ocorrem na pele do recém-nascido No neonato prematuro, a epiderme difere basta me da
no período neo natal, q ue se estende do nascimen to até o enco ntrada no recém-nascido a termo. O estrato córneo da
3Q!l dia de vida.1•2 Para alguns autores, e para o Ministério epiderme é limitado a uma fina camada de cél ulas ach ata-
da Saúde, o período neonatal vai até o 28"dia de vida .1 das entre a 24• e a 30' semana de idade gestacional. A epi-
O feto humano, em sua preparação pa ra o nascimen- derme só começa a desenvolver-se a part ir da 30• semana
to, experi menta profu ndas transformações estru turais e gestacio nal, sendo visível na 34' sema na e adqu irindo sua
fu ncionais du rante o terceiro trimestre da gestação. Como espessura definitiva na 4Ü"semanas Todavia, estudos mais
interface entre o organismo e o meio ambiente, a pele en- recentes evidenciaram que a barrei ra cutânea conti nu a a se
frenta no momento do nascimento ressecamemo brusco, desenvolver até 12 meses após o nascimento.6
perda de calor, estresse oxidativo, colon ização bacteriana Nas primei ras 2 semanas de vida dos neona tos prema-
e expos ição a trauma ambienta l e agentes nocivos. As de- unos, a fu nção de ba rreira da pele está muito dim in uída e
mandas da vida no ambien te extrauterino exigem uma é exercida q uase q ue exclusivamente pelo estrato córneo, a
barre ira epidérmica bem desenvolvida. Essa barrei ra é camada mais superficial da epiderme. Isso resu lta em per-
constituída, em grande parte, pelo estratO córneo. Como da de calor, água, calorias, eletrólitOs e proteínas. As perdas
a pele necess ita de uma interface aérea para atingi r a dife- insensíveis de água correspondem a cerca de 6mg/cm 2/h
renciação terminal e a formação de uma barreira epidér· na 25'semana gestacio nal, d iminuindo para 0,6mg/cm2/ h
mica competente, constitu i um verdadei ro mistério, uma na 37asemana. A barre ira cutânea é também débil aos trau-
façanha notável, o fato de o feto humano prod uzir essa matismos, assim como as bactérias, vírus, substâncias quí-
barre ira cremosa, natural, adequada e única, ch amada ver- micas, tóxicas, alérgenos e medicamentos.s
n iz caseoso, dentro do útero, em cond ições de completa A partir do nascimento, a epiderme do neo natO pre-
imersão aquosa. As principais funções b iológicas propostas maturo, independente da idade gestacional, sofre uma ma-

48
Capítulo 10 • Pele do Neonato

turação acelerada com aumento de espessura da epiderme A permeabilidade da pele do recém-nascido é muitO
e do estrato córneo, tornando-se, em cerca de 2 semanas, alta, principalmente nos primeiros 15 dias de vida. A pele
opaca, ictiosiforme, com comportamento semel hante ao do bebê vai se tornando cada vez ma is impermeável com a
do recém-nascido a termo.; idade, e esta impermeabilidade pode aumen tar em situações
O tecido adiposo marrom, ausente no ad ulto, pode de agressões mecâ nicas, como na área de contato com as
ser encontrado em algumas áreas corporais do neonato fraldas, ou com a utilização de lenços de limpeza, que pro-
prematuro, como nas regiões interescapular, pré-esternal, vocam a remoção repetida das célu las da camada córnea.10
cervical e abdominal. Esse tecido, q ue pode chega r a repre- A permeabilidade cutânea é muito alta entre a 24a e a
sentar 6% do peso corporal do neonatO, exerce a fu nção 28• sema na, dim in uindo progressivamente com o aumen-
de controle da temperatura após o nascimento mediante a tO da idade gestacional e assemelha ndo-se à do ad ulto a
oxidação dos ácidos graxos. 2•7 parti r da 38• a 40' semana de gestação.;
O neonatO prematm o experi menta no meio externo A absorção cutâ nea na pele do neonato está pa rt i-
d iversas experiências q ue deveriam ter sido vividas ainda cularmente aumentada nas áreas axilares, inguinais, re-
no período intraútero, com consequente interferência no troau riculares e escrotal. Como a relação superfície/peso
sistema nervoso centra l e na matu ração neurológica. O corporal é maior no recém-nascido, deve-se estar atento ao
pri meiro órgão a se desenvolver no neonato prematuro é uso de substâ ncias tópicas em áreas extensas da pele do
a pele, em sua fu nção sensitiva tátil, com o objetivo de bebê, especialmente nos prematu ros, nos quais a absorção
maturação neurológica ma is precoce, q ue perm ite reco- está aumentada em toda a superfície.2
nhecimento, reação e aprend izado d iante dos d iferentes A resposta sudoral, q ue se apresenta incompleta ao
tipos de coque. A pele do neonatO prematuro, recoberta nascimento, tende à normalização a partir do sexto dia de
pelo verniz caseoso, funciona como primei ra lin ha de defe- vida no bebê a termo e no 30Ud ia no prematu ro 2
sa e barreira contra infecções, regulação térm ica, proteção No Jactente, o filme hidrolipidico cutâ neo é gradativa-
contra toxinas do meio externo e percepção tátil. 8•9 Essas mente substituído por lipídios epidérmicos não gland ula-
funções atingem a maturação tOta l em 2 semanas de vida, res, menos eficazes na proteção cutânea. Por este motivo,
independente da idade gestacionals é necessá rio lembra r dos aspectos particulares da pele do
As terminações nervosas sensoria is estão bem desen- bebê du rante os cuidados e as prescrições para essa fa ixa
volvidas no neonato, independente da idade gestacio· etária.10
nal. A resposta flexora ao estímulo cutâ neo é útil para
explorar a sensibilidade ao tato e a dor. O feto intraútero
mostra atividade motOra quando a pele é tra umatizada. CUIDADOS COM A PELE DO NEONATO
Os prematuros, mesmo os ma is imaturos, têm reflexo de Cuidar do neonato de ma neira hu mana e ind ividua-
retirada do membro ante um estímulo. Tendo em vista lizada e nvolve muito mais do q ue conhecimentos e hab i-
q ue os estímulos recebidos através da superfície cutânea lidades técnicas. Saber cuidar é muito ma is abrangente e
exercem notável influê ncia sobre o cérebro do neonato, e nvolve o roque, a sensibilidade, o manuseio, a interação e
é compreens ível que a pele desempenhe um importante a comun icação com o bebê."
papel na dete rm inação do desenvolvime nto neu ro lógico Para manutenção adequada da estrutura da pele,
do bebê 7 o aleitamento materno é o ideal, uma vez que contém a
As principa is d iferenças entre a pele do bebê e a dos composição adequada em gorduras, minerais, vi tam inas,
adultos são: menor espessura da camada córnea, maior re- enzimas e imu noglobulinas que pro tegem a criança contra
lação superfície/vol ume corpóreo, número ma io r de folí· inúmeras doenças. 12
cu los pilosos veios e menor poder de tampãow Os cuidados com a pele do neonato devem preservar
Quanto menor a idade do bebê, mais evidentes são es· a integridade cutânea, prevenir a toxicidade e evitar exposi·
sas diferenças, especialmente nos prematu ros, implicando ções q uímicas prejudiciais à pele.11 Como a função de barrei-
maior suscetibilidade a agentes externos, potencialmente ra cutânea efetiva é de vital importância para a sobrevivência
prejud iciais, maior perda transepidérmica de líqu idos, me- do neonatO e seu fu ncionamento é li mitado pela imaturi·
nor capacidade homeostásica e maior absorção percutã· dade, cuidados com a pele são relevantes para prevenir a
nea, levando a maior roxicidade sistêmica.10 morbimortalidade associada ao bebê no período neonatal. 1
A pele do bebê é especialmente sensível às condições Imed iatamente após o nascimento, o vern iz caseoso
atmosféricas, aos microrga nismos do ambiente, aos ácaros, costuma ser li mpo com uma roalha, porém o momento
presentes na poeira das residências, ao excesso de secreções certo para o pri meiro ba nho do neonato permanece co n-
sudorais e sebáceas, às impurezas das fraldas (urina e fezes) troverso na literatu ra. A O rga nização Mu nd ial da Sa üde
e à oclusão pelo material das fraldas.10 recomenda q ue o primei ro ban ho seja dado apenas 6 horas
50 PARTE 111 • Classificação Étnica e Cronologia

após o parto, em virtude do risco de hipotermia, e nqua nto Os syndets, detergentes sintéticos, também chamados
o utros auto res ind icam q ue o ban ho seja dado após a esta- "sabões sem sabão", podem ser uma boa escolha para a
bilização da temperatura corpórea do neonato. 1 higien ização da pele do neonato, por não apresentarem as
A temperatu ra da água deve estar próxima à corporal, en- desvantagens dos sabões. São compostos na forma liqu ida
tre 37oC e 37,SoC, podendo ser menor, entre 34oC e J6oC. 1 ou sólida, com pH neutro ou ligeiramente ácido, com boa
Na higiene do neo natO devem ser evitados produtos ação detergente, fazem pouca espuma e provocam pouca
q ue contenham perfumes e corantes, em razão do risco de irritação na pele. 1
dermatite de contatO, além daqueles aditivados com aro- Quanto à higien ização dos cabelos, não existem fór·
mas de frutas e doces, para prevenir o risco de ingestão mulas padroni zadas para os xampus infantis, os quais são
inapropriada. 1 desnecessários enquanto o cabelo da criança for curto, fino
O banho diário pode representa r um ritua l de prazer e frágil, podendo ser usado no couro cabeludo o mesmo
na interação mãe-filho, o que é mu ito mais importante q ue produto para limpeza do corpo. Caso se opte pelo uso de
sua rea l necessidade. Exceto nas regiões q ue acumulam xampu, este deve ser suave, ligeiramente detergente e com
mais detritos, como a área das fraldas, o banho diário não pH próxi mo ao da lágri ma, para evitar irritação e ardência
é realmente indispensável w A frequencia do ba nho dos nos olhos e na pele.1
bebês varia muito entre regiões e países, dependendo do O uso contin uado de lenços umedecidos de li mpeza,
clima e da cultura, mas recomenda-se q ue não seja d iário. 1 embora práticos e de perfu me agradável, não é recomenda-
A orientação fu ndamen tal a ser seguida para o ban ho do do em razão do risco de remover o filme lipíd ico da pele
neonato consiste no uso de água e pouco detergente10 do bebê e provocar sensibilização e dermati tes de contato.
A super-hid ratação da pele durante o ban ho pode au- A limpeza d iária dos detri tos u ri nários pode ser feita com
mentar a espessura da camada córnea em razão do edema algodão umedecido em água morna, sem sabão. Para os
celular, provocado pelo excesso de água, podendo levar a detri tos fecais, são recomendados sabonetes suaves. 1
dim in uição da coesão entre as células, menor res istê ncia, A~ modernas fraldas descartáveis, superabsorventes,
maceração e outras alterações cutâ neas. Por este motivo, o com gra nde capacidade de manter seca a pele do bebê, de-
ban ho deve ter curta d uração, não excedendo a 5 min u- vem ser trocadas com freq uência. O uso diário de prepara-
tos. O ba nho do neo nato deve ser di rigido, especialmente, ções tópicas para prevenção de dermatite da área de fraldas
para as áreas q ue necessitam de ma ior atenção, como face, não é necessário para bebês com pele normal. 1
pescoço, pregas e região das fra ldas. O produtO idea l para Os emolientes são emulsões que contem lipídios,
limpeza da pele du rante o ba nho deve ter alguma deter- amaciam e restauram a elasticidade e a homeostase da
gencia, boa tolerância, ser agradável e respei tar o pH, a ca- pele e evi tam a perda transepidérmica de água. Os emo-
mada lipíd ica superficial e o ecossistema da pele do bebê. liemes tem propriedades umectantes, atraem água para
Os sabonetes e os agentes de limpeza devem ter pH menos a pele, e oclusivas, isto é, impedem que a água evapore.
alcali no e mais próximo ao neutro, e o enxágue deve ser Consequentemente, lubrificam e hid ratam a pele e pro te-
cuidadoso para a remoção total desses agentes de limpeza 10 gem a integridade do estrato córneo e da barreira cutânea,
Muitos prod utos d irecionados ao uso infantil contêm além de tratarem a pele seca. Assim, os emolientes são in-
substâ ncias pote ncialmente tóxicas e prejudiciais à pele do d icados para o cuidado d iário da pele seca, em dermatoses
neonatO. Mesmo produtos q ue apresentam em suas em- escamativas e nos atópicos, e sua eficácia aumenta quando
balagens frases como "dermatologicamente testado", "pH aplicados imediatamente após o banho, ainda com a pele
balanceado", "ingred ientes natura is o u o rgânicos" não ga- úm ida. Devem ser evitados os emolientes contendo perfu-
ra ntem segu rança em sua util ização 14 mes, corantes e co nservantes, em virtude do risco de irrita-
Os sabonetes em barra, em geral, têm boa detergência ção e sensibilização. Os emolientes em forma de pomadas
e prod uzem basta nte espuma, mas seu pH é alca lino, po- podem provocar mil iária, foliculite e acne, especialmente
dendo irritar e destrui r a camada lipíd ica da pele, levando em lugares muito q uentes e úm idos. Aqueles em forma de
ao ressecamento, e devem ser evitados nos neonacos. Os cremes ou loção têm ação umecta nte e são espalhados com
sabonetes de gliceri na podem levar a maior absorção de mais facil idade, colaborando com a adesão ao tratamento.1
água e causar ma is secura e irri tação na pele, e também A barreira cutânea proporcionada pela pele do neona-
devem ser evitados na pele do bebê.1 to prematuro é pouco eficiente, porém a utilização diá ria
O produ to de li mpeza ideal para a pele do neonatO profilática de emolientes nesses bebês ainda é motivo de
deve ser liqu ido, suave, sem sabão, sem perfumes, com pH controvérsias. Sabe~e que o emoliente d iminui a frequen-
neutro ou ligeiramente ácido, para não irrita r a pele e os cia de dermatite, previne ressecamentos e fissuras, dimin ui
o lhos e não alterar a barreira cutânea protetOra ácida do a perda de água transepidérmica e melhora a integridade
bebê. 1 da pele. No entanto, algu ns estudos não recomendam o
Capítulo 10 • Pele do Neonato

uso profilático dos emolientes na pele do neonato prema- www .I u soneona to logia. co m/s ite/upload/F il e/Cuidados o/o 20
com%20a%20pele%20do%20RN.pdf. Acesso em: 18/06/2013.
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9. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
A pele exerce uma fu nção única como ó rgão que se
Departamento de Ações Programáticas Estrat égicas. Atenção
relaciona com os meios externo e interno, formando a humanizada ao recém-nascido de baixo peso: Método Cangu-
fronteira e ntre o próprio e o não próprio, expressando as ru/ Ministério da Saúde, Secret aria de Atenção a Saúde, Depar-
reações dos níveis não físicos do ser e ligando-se aos gran- tamento de Ações Programáticas Estratégicas. 2. ed. Brasília:
des sistemas de regulação do corpo e da mente.'; Editora do M inistério da Saúde, 2011. Disponível em: hnp:/1
bvsms.saude.gov.brlbvs/publicacoes/metodo_canguru_manual_
Como vimos, a pele atua como interface entre o meio
tecnico_2ed.pdf. Acesso em: 18/06/2013.
ambiente e o meio interno e desempen ha fu nções especiais 1O. Oliveira ZNP, Fernandes JD. Prevenção e cuidados com a pele da
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Barueri-SP: Manole, 2009:455-63.
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Classificação Étnica e Cronologia
Patricia Cruz Gomes

A PELE DO IDOSO ocorrem as alteraçôes mais evidentes d o processo d e enve-


Um grande crescimento Ja população foi observado na lhecimento. A frequência e as caracterbticas das Jermato-
última década. Se no ano 1800 havia um bilhão de habitan- ses geriátrica~ são pouco estudaJas, levanJo a frequentes
tes no planeta, no ano 2000 pa>-'>aram a ser sei~ bilhões, que questionamentos ohservacionais: por q ue a pele dos iJosos
se transformaram em sete hilhõe:. no final de 1011. Além costuma ser maL~ fina e transparente! Por que O> ido;os são
disso, há a previsão de que n<):) próximo., 40 anos os maiores mais suscetíveis à~ queimaduras do :.<)1 e ao câncer de pele?
de 60 anos de idade - 605 milhôes contahilizados no ano Qual a explicação para a~ mancha> marrons que aparecem
2000 - pa,~arão a -,er dob hilhik~. ou -,eja, mai~ do que o na pele dos idosos? Por que a pele :.e torna mab frágil e en-
triplo. Dentro de 5 ano,, pela primeira ' -ez na história da rugada com a idade? Por que a pele idosa apre.<,enta maior
humanidade, ha,-erá mais iJo:.<):) de 65 ano.-, do que crianças suscetibilidade a J>etiUenas hemorragia;, e úlcera' por pre.'>-
menores de 5 e será alcançaJa uma expecratÍ\'3 de vida sem são? O que juStifica o fato de o ido"o -,emir mab frio que
precedentes. A, alteraçôe.'> Jemoj.rráfica., -,erão mab rápidas pessoas mais jovens? Por que a pele do ido:.o co:.ruma ser
e mais fones nos países Je baixa e média renda. maiS seca, áspera e repleta de :.arda;,? Por que O> cabelo:.
Por exemplo, enquanto a França demorou 100 anos dos idosos se tornam maL~ claro.~ (grisalho:. ou branco:.)
para elevar de 7% para 14% o gru po de pe>-~oa:. com mais com a idade? Po r que as unhas dos ido:.os são fraca-, e que-
de 65 anos em suas populaçôes, em países como Bra~il e b radiças, apesar de serem duras e espessm.?
China isso oco rreu e m 25 anos. 0:. alarmes demográficos No entanto, tod os e.'~es questionamt'nto.~. além de
dispara ram e a popu lação se pergunta se o planeta está pre- mu itos outros, têm a base fisio lógica como t'Xplicação, rati-
pa rado pa ra resistir a e.•;$a si tuação. ficando a necessidade d e cu idados diferenciados e exausti-
São co nsideradas iJosas as pessoas com ma is de 65 vos com a pele do idoso.
anos de idade. Es.~e referencial, entretanto , é válido para Para p romover um envel hecimento saudável, é impo r-
habita ntes d e países desenvolvidos. Nos países em desen- ta nte entender as alteraçôes da pele associadas ao enve-
volvime nto , como o Brasil, a terce ira idade começa aos 60 lhecimen to. Essa ava liação incide sobre as considerações
anos. Desd e a década de 1950, a maioria dos idosos vive especiais para algumas das doenças dermatológicas mais
em países d o Terceiro MunJo, fato a inda não apreciado comuns em idosos, fatOres contrihuintt>s e associação a
por muitos que continuam associanJo a velhice a países doenças sistêm icas.
mais desenvolvidos da Europa ou da América d o No rte.
Na verdade, já em 1960, mais Ja metade da~ pessoas
com mais de 65 anos vivia nos pabes do terceiro mundo ENVELHECIMENTO PERCEBIDO NA PELE E
(Nações Unida~. 1985). NO CORPO
A pele é o invólucro natural do :.er humano, que per- O proce.~~ de envdhecimenro atinge toJo o organL'>-
mite a imlividualidaJe com o meio ambiente, e é nela que mo, sendo mais perceptível no:. ôrgão' em que é alta a taxa

52
Capítulo 11 • Classificação Étnica e Cronologia 53

de multiplicação celu lar, particularmente na pele, por ser extracelular. A exposição UV crôn ica também leva à perda
mais exposta. progressiva da vasculatu ra cutânea.
As mudanças percebidas na pele dos ind ivíduos na ter- Um grupo heterogêneo de metabólitos não enzimá-
cei ra idade são alterações provenientes do próprio proces- ticos, conhecidos como produtOs de glicação avançada
so de envelhecimento cutâ neo, somadas às consequências (AGE), tem sido implicado no e nvelhecimento da pele
da constituição genética, fatOres ambienta is, repercussão e em o utras condições, como aterosclerose e doença de
cutânea do envelhecimento de outros órgãos e efeitos de Alzheimer. A porção glicada da hemoglobina, medida roti·
doenças da própria pele ou s istêmicas. Oiferenciam-{)e do is nei ramente para avaliação do controle do n ível glicêmico
fenômenos: o envelhecimento cutâneo propriamente di to de pessoas com diabetes, é provavelmente o precursor AGE
ou intrínseco e o envelhecimento de pele devido à rad ia- ma is conhecido. Os AGE acumulam-se ao longo do tem-
ção ultravioleta, conhecido como fotOenvelhecimento, so- po, embora de manei ra mais rápida em ind ivíduos com
mado às alterações provocadas pelas intempéries e exposi- n íveis mais elevados de glicose, em vários tecidos. Os AGE
ções ambientais, ou envelhecimento extrínseco. se mostram capazes de induzir a apoptose de fibroblastos
De modo geral, as principais alterações incluem: secu- e a degradação da matriz extracelu lar. Como agravante, a
ra, aspereza, rugas, flacidez, uma variedade de lesões benig- presença de AGE é perceb ida como um amplificador dos
nas e, por fim, as neoplasias malignas. efeitos nocivos da RUV.
Para compreensão das al terações visíveis a olho nu, A terapia hormonal (TH) com estrógeno dim in ui o
devem ser lembrados os achados histOlógicos e as funções envelhecimento da pele e as rugas, restaurando o colágeno
da pele que se encontram d iminu ídas nessa faixa etária da pele, a espessura e o teor de hidratação, bem como ace-
(Quadro I 1.1). lerando a cicatrização de feridas. A T H também aumenta a
O processo de e nvelhecimento, conforme será comen- densidade óssea e reduz o risco de fraturas osteoporóticas;
tado neste tópico, rorna a pele frouxa, e nrugada, com sua no enta nto, tem sido demonstrado que ela aumenta o ris-
integridade comprometida pela d iminu ição do fatOr de co de doença cardíaca coronariana, acidente vascu lar ence-
hidratação natural e déficit de componentes lipídicos na fá lico, complicações tromboembólicas e câncer de mama.
camada córnea, o que diminui a aderência da epiderme
à derme, com fluxo sanguíneo redu zido, juntamente com
PELE EANEXOS
a diminuição do número de glându las sudorípa ras e da
gordu ra subcutânea, a capacidade de regulação térmica é Epiderme
enfraquecida. O achatamento da junção dermoepidérmica e a dim i-
O foroenvelhecimentO - o dano cumu lativo à pele n uição das cristas epidérmicas red uzem a adesão e causam
causado pelas rad iações ultravioleta (RUY), faz com que déficit na d istribuição de n utrientes da derme para a epi·
haja um abuso dos mecanismos celulares semelhante ao derme. Por isso, o idoso é ma is suscetível a traumas super-
que ocorre com o envelhecimento cronológico, porém po- ficiais e à formação de bolhas em áreas de pressão.
tencializado. A RUY ativa as vias de s inalização que indu- As células epidérmicas sofrem red ução de volume e no
zem a ação de metaloprote inases, que degradam a matriz número de camadas, o que leva ao afinamento da epider-

Quadro 1 1 . 1 A lterações histológicas e funcionais, compatívei s com o envelhecimento

Epiderme Derme Anexos

Achatamento da junção dermoepidérmica Atrofia com perda de volume Cabelos despigmentados


Espessura variavel Diminuiçao dos fibroblastos Perda de pelos
Células de tamanhos e formas variáveis Diminuiçao dos mastócitos Conversão de pelos terminais em vellus
• Achatamento dos cones epidérmicos Diminuiçao dos vasos sanguíneos Lâmina ungueal anormal
(diminui 50% dos cones entre a Alças capilares encurtadas Diminuição de glândulas écrinas
3• e a 9• década de vida)
Terminações nervosas anormais
Atipia nuclear ocasional
• Retificação das papilas dérmicas
Melanócitos diminuídos
• Dim inuição progressiva da matriz
Células de Langerhans diminuídas extracelular
• Diminuição da renovaçao celular • Dim inuição da renovação celular
• Reduç<io da biossíntese lipídica pelo • Redução de fluxo sanguíneo e da
estrato córneo capacidade elástica dos vasos
54 PARTE 111 • Classifica ção Étnica e Cronologia

me, permi tindo q ue substâ ncias aplicadas na pele tenham A redução da rede vascular dérmica se estende até a rede
sua absorção e penetração aumentadas, o q ue se reveste de perianexial (glândulas e folículos pilosos), contribu indo para
importância no momento da escolha terapêutica. a atrofia dérmica. A diminu ição da resposta vascular das ar-
A camada córnea não apresenta alte ração no número teríolas, somada à perda de tecido celular subcutâneo, favo-
de camadas ou na espessura, mas há um déficit lipíd ico rece a tendência à h ipotermia no idoso. A d iminuição pro-
nessa camada, ocasionando uma barreira com men or efi- gressiva dos receptores de pressão (corpúsculos de Pacci ni) e
ciência. de tatO (Meissner) predispõem acidentes domésticos.
Além da redução dos lipídios e do faror de h idrata-
ção natural, na pele idosa ocorre red ução da expressão Pigmentação
das aquaporinas (AQ P-3), túbulos proteicos transmembrâ- A progressiva redução do número de melanócitos ati·
n icos capazes de tra nsportar água, glicerol e ureia com a vos por milí metro quadrado, variando em cerca de 10%
finalidade de manter a pele hidratada. a cada década, d iminu i a capacidade de b ro nzeamento e
A pele do idoso apresenta mecanismo de reparação leva à perda do papel protetOr da melan ina, sendo ai nda
celu lar ma is lento: e nquanto no jovem o tumover celular motivo de ava liação cautelosa o surgimento de lesões mela-
ocorre em 20 d ias, no idoso demora 30 dias, o que inter- nociticas em idade ava nçada.
fere e d ificulta processos de cicatrização, bem como é res-
ponsável pelo aspecto grossei ro e áspero da pele do idoso. Pelos
Homens e mul heres apresentam perda de cabelos no
Denne processo do envelhecimento. Ocorre d iminuição do d iâ-
A espessura da derme segue d iminu indo com a idade, metro do fio, da velocidade do crescimento e do n úmero
principalmente nos homens, os quais apresentam a derme de folicu los do cou ro cabeludo, e essa d iminu ição também
um pouco mais espessa que as mulheres. Em rorno da sé- ocorre nas axilas, na região pub iana e nas extremidades,
tima década de vida, ambos os sexos apresen tam espessu ra principalmente em mulh eres. Do mesmo modo, no pro-
similar e redução do conteúdo dérmico de mucopolissaca- cesso de e nvelhecimento ocorre o desenvolvimento de
rideos, dentre os quais se destacam os proteoglica nos e o pelos em á reas específicas no homem, nas narinas, no pa-
ácido hialurôn ico, o que se expressa pela d iminu ição do vilhão auricular e nas sobrancelhas, e nas mulheres, princi-
turgor cutâneo. pa lmente no mento e no lábio superior.
Os fibroblastos d iminu em em número e taman ho e Apesar de a can ície ser um dos s inais ma is evidentes
os feixes de colágeno estão menos compactados. As fibras do processo de e nvelh ecimento, a idade de surgimento e
elásticas, com certo grau de desintegração, tornam-se mais sua extensão são geneticamente determinados, sendo co-
grossas e fragmentadas. Essas alterações e desordens são ex- mum o embranq uecimento da barba e do bigode antes do
tensivas profundamente na derme, leva ndo, em conju nto, acometimento do couro cabeludo.
a perda da elasticidade e da resistência da pele, evidenciada
na forma de rugas temporárias e permanentes. O dano UV Glândulas sebáceas
crôn ico induz os fibroblastos a produ zirem fibras elásticas Aparentemente não ocorre red ução no número de
mod ificadas e mais suscetíveis à degradação enzimática glându las sebáceas com a idade. Em alguns homens, elas se
(Quadro 11.3). tornam h ipertrofiadas, resultando, em algumas situações,
em rinofima e hiperplasia sebácea. Todavia, há dim in uição
Vasos e nervos na produção de sebo, o que se atribui à d iminu ição con-
Com o envelhecimento, ocorre d iminu ição na celu la- comi tante na produção de andrógenos pelas gõnadas ou
ridade, no número e na espessu ra das pa redes dos vasos, suprarren ais (ad renais).
o que corrobora para a fragilidade capilar, uma das causas
do su rgimento da púrpura senil, q ue cons iste em um con- Glândulas sudoríparas
junto de petéquias e equ imoses, ou mesmo hematomas, Ocorre d iminu ição das glând ulas sudoriparas apócri-
q ue ocorrem principalmente no dorso das mãos, pu nhos nas e écrinas em número, taman ho e quantidade de mate-
e antebraços, deixa ndo cicatrizes h ipocrõmicas estelares rial secretado.
típicas. Não há tratamento para esse quadro, a não ser mi-
n imi zar os sinais mediante o uso de cremes à base de vita-
minas K, e Kl' que reduzem mais rapidamente as manchas Unhas
q ue, em geral, incomodam estética e emociona lmente os No processo de envelhecimento, ocorre d iminuição da
pacientes. velocidade de crescimento das u nhas, as q uais se tornam
Capítulo 11 • Classificação Étnica e Cronologia 55

mais opacas, amareladas e plan ificadas; além disso, ocor· linfócitos e das células naturaal killer (NK), o que explica a
re o desaparecimento o u a red ução da lãnula. As unhas alta incidência de câncer na população idosa (associada a
passam a ser mais espessadas e predom inam as distrofias fa lência dos mecan ismos de regu lação e controle celular
ungueais, que podem estar associadas a anormalidades na do organismo).
biomecã nica dos péS, com alteração na arqu itetu ra óssea Os idosos costumam apresentar índice elevado de anti·
e traumas repetidos. A~ un has das mãos, inversamente, corpos circulantes q ue atuam contra o próprio orga nismo.
são ma is frágeis e flexíveis. Todas essas alterações tornam Esses anticorpos explicam a gra nde propensão dos idosos a
prolongados os vários tipos de tratamento da on icomicose, desenvolverem vários tipos de doenças autoimunes.
tão prevalente nessa faixa etária. O volume e a composição do sangue pouco se alteram
Há dim inuição na taxa de crescimento das un has, che- com o passar do tempo, apesar de a quantidade de água
ga ndo a ser de 0,5% por ano dos 15 aos 90 anos. Nos no corpo de um idoso ser red uzida. A glicose de jejum no
indivíd uos de meia-idade começam a surgir sulcos longi· sa ngue tende a aumentar com a idade, mas isso não se deve
tudinais e distrofia lamelar, trad uzidos por unhas fracas a mudanças no sangue, e sim àS alterações relacionadas
e quebrad iças e com a borda fina l d ividida em camadas, com a insulina nos idosos. Além disso, os níveis séricos de
queixa muito frequente entre as mulheres, embora tenham lipídios aumentam 25% a 50% após os 55 anos de idade
a mesma prevalência em ambos os sexos a partir dos 60 em decorrência de um metabolismo alterado, e não de um
anos de idade. Com a idade, surgem também mudanças problema no sangue em si.
na pigmentação, que podem ser confund idas com sina is A quantidade de medu la óssea vermelha dim in ui com
secundários de outras doenças sistêmicas. É grande a inci- a idade, reduzindo a prod ução de células sanguíneas. Em
dência de un has esbranqu içadas e opacas (un has de Terry). situações normais, isso não faz tanta di ferença, uma vez
Nos indivíduos de raça negra ocorre pigmentação longitu· que a produção consegue manter um número norma l de
dina l nas unhas em cerca de 96% das pessoas com mais de células sa ngu íneas; entreta nto, em episód ios de sa ngra-
50 anos de idade. A o nicod istrofia é frequente (mais nos mento, há um problema: idosos demoram mais tempo
dedos dos péS), podendo ser confundida com onicomicose. para repor as cél ulas sa nguíneas, apresentando recupera-
Em gera I, as unhas das pessoas mais idosas são mais conve- ção mais le nta que o normal. Outro problema, já discutido
xas e têm a lâmina ungueal ma is espessa, podendo haver anteriormente, consiste no déficit da atividade de leucóci·
hiperq uerawse subu ngueal. Nos dedos dos pés a exostose tos, que afeta intensamente a imunidade dos idosos.
subungueal ocorre com bastante frequência, geralmente
após trauma, assim como a onicocripwse (popularmente
conhecida como "unha encravada") ou, ainda, uma u nha SISTEMA DE RECEPTORES CELULARES
hipertrofiada secundariamente a trauma ou pressão crônica, O envelhecimento é um p rocesso que pode ter co n-
a qua l pode se apresentar grossa e opaca e com alterações na sequências negativas para o organ ismo, uma das quais diz
coloração. Costuma-se e ncon trar on icólise, q ue cons iste na respeito à ineficiência na especificidade entre citocinas/
separação da lâmina ungueal do lei to na metade d istai, o hormônios e receptor, o que pode provocar d iversas alte-
que pode refletir uma circulação periférica prejudicada; há rações e ausência de respostas esperadas. Diversos fatOres
ainda a on icogrifose, em que a lâmina unguea l está espes- con tribuem para essas deficiências metabólicas nos idosos,
sada, alongada e encurvada, recebendo a denominação de entre os quais os radica is livres. Essas moléculas, oriundas
unha em garra. Por fim, pode ocorrer também a on icofose de resíduos metabólicos, desestab il izam diversas ou tras
ou h iperqueratOse subunguea l, q ue pode ser focal o u d ifu- molécu las, e como todos os receptores são constituídos de
sa, geralmente resulta nte de trauma local. molécu las ou complexos moleculares, os radicais livres pro-
vocam alterações conformacionais, o que resulta em inati·
' vidade nos receptores.
SISTEMA HEMATOIMUNOLOGICO Os mecanismos genéticos também podem estar asso-
Em idosos, a função dos linfócitos T e B torna-se um ciados a esse processo. Sabe-se que algu ns genes são ativa-
pouco e nfraquecida, assim como ocorre red ução na a tivi· dos e outros desativados à medida que os seres envelhe-
dade dos macrófagos. Portanto, é maior a probabilidade de cem. Esse complexo mecanismo talvez altere a s íntese dos
contrair infecções, e a recuperação também se tOrna ma is receptores ou dos intermediadores do processo de recep-
lenta. As infecções são co nceituadas como uma invasão do ção de h ormô nios/citocinas.
corpo por um patógeno (bactéria, fu ngo, vírus, paras ita) Todas as moléculas que não conseguem entrar nas cé-
que se mu ltiplica e causa danos ao organ ismo do portador. lu las por d ifusão s imples precisam de recepto res, o q ue é
Tu mores malignos também apresentam ma ior facilidade de extrema importância para acentuar as principais carac-
de instalação no corpo em virtude do défici t da fu nção dos terísticas do envelhecimento.
56 PARTE 111 • Classificação Émica e Cronologra

DERMATOSES COMUNS NO IDOSO Quad ro 1 1 .3 Alterações da pele fotoenvelhecida

Idoso:. desenvolvem doenças dermatológica:. cujas Alteraçlles da pele Achados clinicas


apresentações podem ser desencadeadas por fatores di- fotoenvelheclda
versos , e.~tando ainda associada' a doenças sistêmicas. Elastoma drfuso Placas amareladas localizadas na
Em estud o realizado por Ma rk & Lever ( 1990) com face e no pescoço nas quais a
pele se apresenta espessada e
20.000 pacientes de 65 a 74 anos de idade não institucio- com aspecto citrino
nalizados, constatou-se que 40% tinham algum problema
Mflio coloide Pápulas de 1 a 2mm, céreas
dermatólogico significativo. Mais recentemente, Vargas- ou acastanhadas, localizadas
Aivarado et ai. (2009), em estudo p rospectivo tran:.versal pnncipalmente na face e no
comparativo na avaliação de 200 pacientes com mais de dorso das mãos
60 ano:. de idade, verificaram que as condiçõe:. mab pre- Pele rombordal Sulcos profundos que drVIdem
valente:. eram xerose cutânea, nevo ruhi, púrpura :.enil, em losangos uma pele
espessa e de CQ( amarelada,
leucodermia gutata, ceratose sehorreica, alopecia andro- em geral na regrão da nuca
genética e doença de Favre-Racouchot (Quadro 11.2).
Elastoidose nodular a Crstos e grandes comedões
cistos e comedões abenos, localizados
de Favre-Racouchot principalmente nas regrões
Prurido no idoso malares
O prurido t! uma das queixas mais comuns na po- Nódulos elastótícos das Nódulos amarelados, pequenos.
pu lação geriátrica. As causas de prurido são numero- orelhas localizados simetricamente no
sas. Um exame minucioso da pele e a hiHória médica anto-hélix
podem revdar uma doença da pele subjacente, como Oueratoderma margrnado Hrperqueratose em faixa,
xerose, dermatite seborreica, penfigoide holh(hO ou palmar (Ramos & Silva) acompanhando as bordas
cubnal ou radial na face palmar
herpe;..zó:.ter. O ato repetido de coçar pode re.-.ultar das mãos ou dos dedos
em liquenificação, escoriação, infecção e púrpura trau-
Púrpura senil de Bateman Lesões purpúricas e equomoses
mática. Medicamentos podem induzir prurido, emhora resultantes de pequenos
raramente, o que deve ser considerado, dada a prevalên- traumas por ruptura dos
cia Ja polimeuicação em idosos. Prurido >em erupção caprlares dérmicos fragrlrzados
pode se r ca usado por doenças sistêmicas como linfoma, Pseudocicarrizes estalares Crcarrizes consequentes a
d eficiência de ferrn, polici temia ''era, anorma lidades da drlaceração da frágil pele
fotodanificada, principalmente
t ireo id e, disfunção hepática, insuficiência renal e infec- nos membros superiores
ção pe lo vírus da imunodeficiência humana . Um exame
Oueilite actfnica Perda de nitidez da lrnha de
médico comp leto deve ser real izado em caso de pruri- transição entre o vermelhão do
do de etiologia desconhecida (Quauros 11.4 e 11.5). O lábio e a pele, podendo haver
exame (i;ico Jeve incluir a pesquisa de quabquer outra~ descamação, fissuras, crostas
e exulcerações
mani(e..,taçôe:., tanto na pele como na unha, exame fisico
minucio:.o, incluindo palpação de órgão;. como (igado e Neoplasoas cutâneas Carcrnoma basocelular,
malignas carcrnoma esponocelular,
tireoide, e pe;.quba de alteraçôes em linfonodo:.. melanoma mahgno
Lentrgo solar Múltoplas máculas acastanhadas.
geralmente > 1em, localizadas
Quadro 1 1 .2 Dermatoses mais comuns no idoso preferencialmente no dorso
das mãos, face e antebraços
Patologia observada Prevalência nos Idosos Leucodermía solar Máculas acrõmico-atrófrcas
com 2 a 5mm de tamanho,
Eczemas 20,4% localizadas em áreas
Infecções fungrcas 15,8% fotoexpostas, principalmente
antebraços
Prundo 11,5% Oueratose actinrca Lesões maculopapulosas,
Infecções bactenanas 7.3% recobenas por escamas
secas, aderantes, duras,
lnf~c;ões voraos 6,7% de cor amarela a castanho-
escura e, em geral, de 0,5 a
Lesões pré-malrgnas/ 5,2% 1em, localizadas nas áreas
neoplasoas cutâneas fotoexpostas
l'onre: &fakYalan et ai.. 2006. Fonte: Barnos, 2009.
Capítulo 11 • ClassificaçAo ~tnica e Cronologia 57

Quadro 1 1.4 Avaliação bioquim1ca inicial no prurido DERMATOSES EXANTEMÁTICAS


Hemograma completo Eczema asteatósico
VHS
A xerose pOde se apresentar como ecrema asteatótico,
Ure1a e creatm1na
placas que pOdem ser e.'cammas e/ou t!ritematosa.-. com
Transallllnases, bthmJbtnas e fosfatase alcahna
fissuras. A localização clá.'>.'oica envolve a parte inferior da
Gbcem1a de reJum/hemoglob1na ghcos1lada
perna, mas pode tamhém acometer os braço,, e a> regiõe.~
TSH, T4l
anterior das coxas e inferior Ja;, costa.... O desenvoh·imento
Função da paraureo<de. cálc1o e fosfato
da doença generalizada em um adulto dt!\'e levantar a :.us-
Aad1ografia de tórax
peita de malignidade interna. Um tipo ~pecial de eczema
PPF senado e pesqUJsa de sangue oculto
asteatótico na.~ extremidaJes inferio re:., com aparência se-
Ferro sénco e ferntlna
melhante a porcelana rachada, é conhecido como eczema
Fonrs: adaptado de We•sshaar E. KuCBntc MJ. Fletscher JRAB. Prurnus: a re- craquelê.
vtew. Acta Derm Venereol2003: 2t3(suppi.):S-32.
A xerose é causa subjacente de eczema a.~teatótico em
razão de fatores adquirido.~ ou amhiemais que secam a pele
Quadro 11 .5 Avaliação subsequente e pioram a doença. Xerose também é con hecida como "ec-
Eletroforese de proteínas séricas
zema do inverno", porque o tempo frio, com menor um i-
lmunoeletroforese sérica
dade no amhiente, ou a permanência em ambientes com
FAN ar-co ndicionado extremamente frio vão agrava-lo. Ba nhos
Anti-HIV
frequentes com sabão e água q ue nte também ressecam a
Abordagem d1agnóstica alérg1ca. lgE total, RAST
pele e pioram o quad ro. O tratamento também é direcio-
Pr!Ck:resi/Parch resr nado pa ra evitar esses fatores agravantes e corrigir a xerose
Sedimento unnáno
subjacente, como com o uso de h idratantes tópicos.
Estudos de 1magens complementares
O prurido seni l está muitas veres relacionado com a
xerose cutânea em vinuJe do declínio funcional da bar-
Fonrtr. adaptado de We•sshaar E. Kucente MJ. Fletscher JRAB. Prumus: a re-
vtew. Acuo Derm Venereol 2003, 213(suppi.J:5-32. reira ante a redução Jo fator Je hidratação natural da
pele. Assim, a hidratação conti nua reduz o de...conforto do
prurido e o risco Je irritação. Pacientt!S dialisado:., com
Muitas veze.,, o prurido e.'otá relacionado com a xerose, insuficiência renal e hepática tamhém exibem pele xeró-
ou secura da pele. llidratam~ emoliente:. tópicos consci· tica, relacionada com distúrbios mt!tahôlicos prmeicos e
mem a modaliJade de tratamemo preferiJa e consistem lipídicos. O prurido constitui uma queixa frequente, e o
tipicameme em uma combinação de agente:. que hidratam uso de hidrarame.~ alivia es..-.e sintoma, prt!\'enindo esco-
e retem a água na pele. Vária.' formulações podem ser utili· riaçõt!S e auxili:mJo a prevenção de dermatit~ irritativas.
zada.~ em um paciente ate' a ohtt!nção do re.~u ltado médico São crt!Sceme.~ a.~ evidências de ttue o U:.<l de hidratante.~ é
e sensorial aJequado. Ali!m db..o, o U>O de agentt!S hipoli- üti l em casos de dermatose.~ que cu rsam com alteraçôe> da
pemiantes orais tem sido as.'oociado a xerose. barreira cutânea. A pele seca tem um limiar innamatório
Outros tratamentos que podem >er considerados in- reduzido; portamo, deve ser hidratada com a finalidade de
cluem os (fLie SLi h.~tituem uma sensação diferente, como o preven ir irritaç<ies e prurido. Nas dermatites, a hidratação
aquecimento ou o arrt!fecimento da pele. Agentes tópicos adequada tamhém é capaz de auxiliar a redução do uso de
como memol, cânfora ou feno! tambt'm podem ser utilizados corticnides tópicos.
pa ra induzir a sensação de arrefecimemo. O utros agentes,
como lidoca ína, um anestésico local, ou capsaici na e substân- Líquen simples crônico
cia P, também rem sido util izados com algum sucesso. Cond iç<ies psicocutã neas são e ncontradas com fre-
Na investigação do prurido, deve-se sempre avaliar a q uência na p rática Jermatológica. O líquen simples crôn i-
queixa do prurido e suas características. Idosos com pru· co (LSC) consiste em uma doença caracterizada por le.~ões
rido generalizado, intenso, persi~teme e inexpl icado de- eczematosas e coceira incessa nte. Na maioria dos ca.~os,
vem ser submetiJos à biópsia cutânea e, caso nenhuma surge em ind ivíduos geneticamente a tópicos e, como ta l, o
patologia seja encontrada, a causa pode ser prurido senil. LSC pode ser vistO como uma variante localizada de neuro-
Todavia, Jev~e estar atento a ansiedade, situações de es- dermatite atópica. Gatilhos comuns para o de.~envolvimen­
tresse no domicílio, animai; de e.'otimação, pólen, plantas, ro da doença incluem sofrimento p.-.icológico e problemas
lã e teciJos Je roupa de cama, fatore.~ a~sociados ao quadro ambientaiS locais, como calor, ~uJorese ou secura em ex-
de pruriJo no iJo,,o. cesso. LSC pode também Je.,em~JJ,-er~e como uma con-
58 PARTE 111 • Classificaçlio ltnica e Cronologia

dição sobrepOSta na pr~~nç.a de outras doenças. Prurigo as portas de entrada para as bactérias que participarão da
noJular e líquen simpk~ cn)nico ~ão duas condições frus- perpetuação do ciclo vicioso mencionado.
trantes cla~sificadas n~\Sa categoria. Muitas vezes são refra-
tárias ao tratamento dá..,.,ico com corticosreroides tópicos
Dermatite seborreica
e ami-histamínico,. Exacerhaç<k\ gravo e generalizadas
necéS.~itam de terapia ~iM~mica. Fototerapia, erirromicina, A dermatite sehorreica é uma forma crônica, recidi-
retinoitles, cido~porina, azatioprina, naltrexona, e psico- vame e geralmente leve de dermatite de origem de:.conhe-
fármacos (pirnozida, inibidoro :.eletivo:. da receptação de cicla que ocorre em área~ rica~ em glândula, :.ehácea:. (face,
serotonina e antidepr~...-ivo) foram empregatl~ com algum couro cabeludo, pane :.uperior do tronco, área' intertrigi·
sucesso. Exi>re relato de hoa re:.po~ta com a gabapentina. nosas). Evidência~ indireta> apontam para um papel pato-
Frequemernente persi~te o ciclo de coceira-coçar, mesmo gênico para a levedura Malasstzia.
quando os gatilho_~ ambientais são removidos e a doença Em geral, a terapia é direcionada para remoção das
subjacente é tratada. Por esse motivo, para uma terapia escamas e crno;tas, inibição da colon ização por leved ura~.
bem-sucedida é nece.,.;ária atenção não só com os fatores co ntrole da infecção secundária e redução do erirema e do
desencadeames, mas também para a reparação ela barreira pru rido.
cutânea dan ificada, red ução d a inflamação e superação do Adultos e idosos devem ser informados da natureza cn}
ciclo coceira-<:oçar. Os inibid ores da ca lcineurina ele uso nica ela doença e ente nder que a ternpia não e curativa, e
tópico tê m sido considerados uma importante arma no que trata mentos repetidos ou de manutenção a longo prazo
a rsenal te rapêutico. são muitas vezes nece.~sários. Os trata mentos d ispon íveis in-
cluem corticosteroides tópicos, agemes antifüngicos tópicos
e vários agenres tópicos não específicos com pmpriedade an-
Dermatite de estase timicrobiana, anri·inflamarória ou queramlftica.
Também chamada eczema hipo;,tático ou eczema vari- Corticosreroides r<~picos e agentes anrif(mgicos tópi-
coso, frt!quenté! em adulto:., principalmente em mulheres, cos são efetivos no tratamento da fase aguda da dermati·
é a~sociada à insuficiência valvular de varizes e às trombo- te seborreica, e o uso intermitente do antifúngico tópico
flebires. Outros fator~' determinam~' do eczema de esrase previne recaída~. No entanto, na maioria do~ ensaio;, con-
são obesidade e doença:. que pro\~lcam limitação do_~ movi- trolados com placeho, o tratamenw com placeho (veiculo)
mentos (artrite reumatoide, defeito:. ortopédicos, fraturas foi eficaz em um percentual ,uh,tancial de pacient~~ (em
nos membro_~ inferioro, trauma;, na região pré·tibial em geral, pelo menos 25%). Isso sugere que a lavagem frequen-
pes.~oas com idade avançada e/ ou insuficiência relativa te ou a urilizaçiio regular de emoliente' também pode >er
constitucional de retorno veno:.o). Tem como característi- benéfica no tratamento da dermatit~ ~eborrdca.
ca a pigmentação marrom e/ ou vermelho-aca\tanhada da Como a doença é crônica e imprevbivel, regime:. cui-
dermatite ocre que acompanha a in~uficit'ncia circulatória dadosos e não agressivos são recomendado,. Al,'énte:. anti·
de ré!rorno, típica das varizes. O edema e o eritema são -inflamatórios e, quando indicado:., al-!enr~' anrimicrobia-
sinal~ prodrõm icos do eczema de e;rm.e, o qual se localiza nos e amifüngicos devem ser utilizados.
principa lmente no terço inferior da perna.
Na fase aguda, o proce>Ml consiste em eczema vesicos- Dermatite seborreica do couro cabeludo
secretante, e na fase crônica predomina a liquen ificação. A Para pacientes com dermatite sehorreica do couro cabe-
superinft!cção hacteriana é com um, com celulite, eris ipela ludo é recomendado o tratamento com xampu antifüngico,
e ülcera crôn ica, associados a elementos d e sensibilização com ou sem elevada potência tópica de corcícosteroides.
a d istância. Xa mpus anti fü ngicos incl uem sulfeto de selên io
O uso de pomadas e cremes variados, com a intenção (2,5%), cetoco nazol (2%) ou ciclopirox ( I%). O xampu
de promovêr a cicatrização e a melhora do eczema, pode eleve ser deixado agir por 5 a 10 minutos ames do enxá·
sensibi lizar secundariamente e promover a cron ificação e a gue. Pode ser admin istrado diariamente ou, pelo menos,
resistência do processo. A fomssens ihilização pode ser ele- duas ou trê.~ vezes por sema na, dura me várias semanas, até
corrente da sensibilizaç.io aos medicamentos, associada à que se atinja a rem issão. Posteriormente, pode ser utilizado
exposição à luz solar. uma vez por semana, para evitar a recidiva.
A persistência do círculo vicioso eczema-úlcera-<:elu- EfeitOS adversos graves não foram relatados com xam-
lite-linfangite-erisipela leva à fihrose dos tecidos, que se pus amifungicos. Irritação e/ou :.ensação de queimação fo-
consolida e prom<We a dermato~-clero;,e e a elefamia~ da ram relatada~ em 1% a )% de pacienr~'>. Algun; paciem~~
perna. Não é rara a exi\tt'ncia de focn' de fungos entre se queixam de secura do cabelo, que pode ser tratada com
os dedos dos pé.' e na;, unha'>, conrrihuindo para manter o uso de um condicionador.
Capítulo 11 • Classificação Étnica e Cronologia 59

A in flamação e o prurido podem ser controlados com Candidose


con icostero ides tópicos de elevada potência em xampus, Zo nas intertriginosas são mais comuns abaixo dos te-
loções ou espumas, aplicados uma vez ao d ia, durante 2 a cidos redundantes e flácidos na popu lação idosa. A ca nd i-
4 semanas. dose intertriginosa ocorre principalmente na região infra-
mamária, na região ingui nal, nas nádegas, na bolsa escrota!
Dermatite seborreica da face e nas dobras axilares. Caracteriza-se por lesões eritemato-
Cremes com corticosteroides tópicos de baixa potên· sas, úmidas e secretantes, que podem destrui r a epiderme,
cia, um agente antifúngico tópico, ou a combinação dos formando erosões ou fissuras. As pOstulas por Cândida
dois, podem ser util izados para pacientes com dermatite podem surgir no dorso de doentes acamados, principal-
seborreica da face. mente daqueles que apresentam estados febris e sudore-
Qualquer corticosteroide tópico de baixa potência pode se. Acometimento oral ocorre, pri ncipalmente, em idosos
ser usado. O creme é aplicado nas áreas afetadas uma ou com higiene bucal inadequada ou com próteses. FatOres de
d uas vezes ao dia, até que ocorra a rem issão dos sintomas. exacerbação incluem diabetes melito, medicações sistêmi-
Alternativas tópicas incluem agentes antifúngicos cas, fatores nu tricionais e d iminu ição da fu nção salivar. A
como cewconazol creme a 2%, outros azó is em creme e balanite candidiáS ica e a candidose vu lvovaginal podem ser
ciclopirox creme a I% . Eles podem ser usados como trata· provocadas por uma combinação de fawres.
mento alternativo para a dermatite seborreica. Os agentes
antifúngicos tópicos são aplicados nas áreas afetadas, uma Infecções bacterianas
ou duas vezes ao dia, até a d imi nu ição dos sintomas. O
A celulite nos idosos pode não apresentar os sinais cláS-
controle a longo prazo pode ser feito com a aplicação de
sicos, e o edema pode ser a única manifestação cl ínica. Os fa.
um creme antifúngico tópico para as áreas envolvidas, uma tores pred isponentes incluem insuficiência arterial e venosa,
vez por semana; como alte rnativa, xampu com cewcona·
diabetes melito, trauma não percebido e portas de entrada
zol a 2% pode ser usado para lavagem facial uma vez por criadas por tinha do pé ou até mesmo xerose e eczema astea-
semana. O uso contínuo e prolongado de corticosteroides
tósico. Nos idosos, surgem em loca lizações específicas, como:
tópicos, mesmo q ue em peq uenas doses, pode resu ltar em celulite orbitária, prod uzida principalmente pelo Srreptococcus
telangiectasias e atrofia perma nente, devendo, portanto,
viridans exclusivo ou combi nado com bactérias gran-vnegati-
ser evitado.
vas e a celulite da orelha, causada por Pseudomonas.
Homens com dermatite seborreica da face que têm bi·
godes e barbas exigem atenção especial. Nesses pacientes, as
Infecções virais
áreas da ba rba e do bigode podem ser lavadas com xampu
com cewconazol a 2% d iariamente até que ocorra a remis- O herpes zóster acomete ma is frequentemente os ido-
são e, em seguida, uma vez por semana. Con icostero ide de sos, e o quad ro pode ser mais grave nesse grupo . Isso ocor-
baixa potê ncia pode ser adicionado ao tratamento in icial re principalmente em virtude da neuralgia pós-herpética,
para controle da in flamação e do prurido. que é mais intensa e prevalente nessa faixa etária. O risco
de neura lgia pós--herpética gira em torno de 20%, alca n-
ça ndo 50% dos pacientes com ma is de 60 anos de idade.
Infecções O quadro clínico caracteriza-se por ves ículas agrupadas que
seguem o trajeto de um nervo, unilateral, acompa nhadas
Infecções fúngicas
ou preced idas de dor neural e febre. Os dermátomos mais
Infecções por dermatófito acometidos são os tOrácicos e os cran ianos, especificamen-
A tinha do corpo e a do cabelo são raramente adq ui· te o ramo oftálmico do nervo trigêmeo, podendo compro-
ridas na velh ice, porém a infecção superficial por derma- meter a córnea. O início precoce do tratamento com aci-
tófi tos, especialmente dos pés, piora com a idade. A pre· clovir sistêmico pode preven ir a neuralgia pós--herpética. O
valência do quad ro é determinada por múltiplos fatores, uso concomitante de cortico ides sistêmicos é controverso,
como d iminu ição de cuidados locais e red ução da re nova- sendo contra indiciado em imunossuprimidos.
ção epidérmica e do funcionamento da imunidade celular.
A tinha do pé frequentemente se associa à o nicomicose Dermatoses bolhosas
e acomete além do quarto espaço interdigital, ch egando
até o dorso do pé. Além disso, as on icom icoses e a ti nha Penfigoide bolhoso
do pé podem servir de porta de entrada para múltiplos Trata-se de uma doença bolhosa autoimune que aco-
microrganismos, favorecendo infecções bacterianas, como mete, principalmente, ind ivíduos idosos de ambos os se-
a eris ipela. xos. Caracteriza-se por bolh as grandes e tensas sobre pele
60 PARTE 111 • Classifica ção Étnica e Cronologia

normal ou eritemawsa. Tem distribuição generalizada e te é deixar claro que, qua lquer que seja o tratamento, este
pred ileção pelas áreas flexurais. O acometimento mucoso nunca terá resultado definitivo, pois outras lesões surgirão
é menos frequente, sendo, na maioria das vezes, restrito à com o passar do tempo.
boca. Consiste em uma pato logia mediada por auwa nti-
corpos com imunocomplexos, complemento e leucócitos aueratose seborreica
ativados na zona da membrana basal, levando à formação
A querarose seborreica é uma neoplasia benigna co-
de áreas de clivagem na junção dermoepidérmica. Os an-
mum da epiderme que se apresenta sob mültiplas aparên-
ticorpos reconhecem do is antígenos do hemidesmossomo:
cias clinicas. De etio logia desconhecida, co nsiste em lesões
uma proteína de 230kDA e outra de J80kDA.
verrucosas, de coloração variável, de rosa a marrom-escuro,
As alterações decorrentes da idade, particularmente a
que podem aparecer em qua lquer parte do corpo, exceto
menor coesão dermoepidérmica e o declínio da fu nção das
nas mucosas. São lesões benignas q ue não sofrem transfor-
células T, provavelmente explicam a maior incidência do
mação, sendo sua retirada de cun ho tOtalmente estético.
penfigoide bolhoso nessa fa ixa etária. Sugere-se também a
São conhecidas múltiplas variantes com difere ntes distri-
existência de uma perda da regulação das células p, o que
bu ições e aparências.
norma lmente promove a autorreatividade reprim ida em
A dermatose papu losa nigra é uma forma de queratose
clo nes das células p.
seborreica que ocorre em indivíduos negros o u descenden-
tes e que se apresenta como pequenas pápulas hi perpig-
Epidermólise bo/hosa adquirida mentadas. Essa forma de queratose aparece como pápu las,
A epidermólise bol hosa adquirida (EBA) é decorrente as quais são facil mente removidas com sangramento mí-
da formação de autoa nticorpos anticolágeno VIl e está as- nimo.
sociada ao HLA-DR2. Em geral, o q uad ro se instala na ida- Não está claro se a exposição ao sol é um fator de ris-
de adulta (maior incidência aos 50 anos), com predom ínio co independente para o desenvolvimento de queratose se-
no gênero femi nino. Pode estar associada a outras doenças, borreica e não h á evidências conclusivas que a associem a
como diabetes melito, tireoidites, doença de Crohn, lúpus neoplasias ma lignas da pele. No entanto, observa-se algu-
eritematoso sistêmico, li nfoma, a nemia pern iciosa e trom- ma sobreposição q uanto ao aspecto clin ico das neoplasias
bocitopenia autoimune. malignas da pele e da querawse seborreica. Em geral, qual-
Há duas formas clínicas: a mecanobolhosa (mais co- quer lesão atípica na aparência ou que sofreu alterações in-
mum) e a inflamatória. flamatórias recentes deve ser examinada h istologicamente
Na forma mecanobolhosa, as lesões ocorrem em áreas de para descartar malignidade. Finalmente, o aparecimento
trauma e evoluem com a formação de cicatrizes atróficas e mi- súbitO de múltiplas queraroses seborreicas pode ser, na ver-
lia. São frequentes lesões nas áreas fotoexpostas, impondo-se, dade, a manifestação para neoplásica de um tumor interno,
nesses casos, o diagnóstico diferencial com porfiria cutâ nea também co nhecido como s índ rome de Leser-Trelat.
tardia. Podem ocorrer lesões em mucosas (sobretudo oral), Queratoses seborreicas são comumente removidas por
alopecia cicatricial e o nicodistrofia. O exame anatomopato- motivos estéticos, embora outros motivos, como sangra-
lógico revela bolha subepidérmica, em geral sem componen- mento, cocei ra, dor ou obstrução da visão, tornem a re-
te inflamatório. A imunofluorescência direta (IFO) mostra moção clinicamente necessária. Normalmente, a remoção
depósitos lineares de IgG e C3 na zona de membrana basal se dá por meios operacionais, apesar da dispon ibilidade
(ZMB) (ocasionalmente, lgA e IgM também estão presentes). do laser ablativo e das técn icas de crioterapia. Essas técni-
cas alternativas não permitem a coleta de amostras para o
diagnóstico definitivo e não devem ser utilizadas se houver
Neoplasias benignas/malignas d üvida quanto à benignidade das lesões. Em caso de lesão
Melanose solar melanocítica suspeita, deve-se optar sempre pela coleta ci-
rúrgica trad icional com bisturi a frio.
Também impropriamente ch amada de lemigo sen il ou
mancha senil, é causada pela ação da RUY em que ocorre
aumento do nümero e atividade dos melanóci tos; trata-se, Acrocórdon
portanto, de uma fowdermarose por irritação primária pro- Também denominado papiloma fibroepitelial (envol-
gressiva. Visua lmente, cons iste em manchas de cor casta nho- vendo derme, q uerati nócitos e melanócitos), não tem signi-
<lara a escura q ue surgem nas áreas do corpo expostas ao ficado clínico, mas apenas estético, ou se tOrna preocupan-
sol. É prudente a exclusão de lesões melanociticas malignas. te quando sua localização predispõe a traumas constantes.
O tratamento consiste no uso de cremes com despig- Histopatologicamente, trata-se de um hematoma no qual se
mentantes, nitrogênio líquido, ácidos e laser. O importan- percebe feixe fibroso vascular recoberto por epiderme normal.
Capítulo 11 • Classificação Étnica e Cronologia 61

O tratamento consiste em exérese ci rúrgica (vários mé· mens, e a ma ioria dos casos ocorre em pessoas com mais
rodos: shaving, eletrocirurgia com bisturi comum o u de alta de 40 a nos de idade.
frequência, ou bistu ri de lâmina e sutura). O tratamento pode ser realizado com curetagem ou
criocirurgia, com taxas de sucesso em 90% dos casos; cre·
Angioma rubi mes com imiqu imod ou 5-fluorouracil e a terapia forod i·
Ou simplesmente nevus rubi, cons iste em pequenas nâmica têm sucesso em 80% dos casos e a ci rurgia com
pápulas esféricas, de I a 5mm de diâmetro, de cor ver· retirada da lesão oferece 100% de resolução.
melho-brilhante a escu ra (vinhosa), que se assemel ham a
pequenos rubis. Trata-{)e de uma lesão composta por capi· Carcinoma basoce/ular
lares neoformados e d ilatados, que com o tempo tendem Também denominado epitelioma basocelular, é o mais
a aumentar em tamanho e n úmero. Não tem qualquer benigno dos tumores malignos, sendo constituído por cé·
significado sistêmico, sendo o ún ico fato desagradável o lu las que se assemelham às células basais da epiderme.
sangramento acidenta l. Pode ser co nsiderado incapaz de o riginar metástases, entre-
O tratamento cons iste em coagu lação com bistu ri elé· tanto apresenta malign idade local, invad indo e destruindo
trico, bisturi de alta frequência, bisturi bipolar ou, moder· tecidos adjacentes, inclus ive o osso. Trata-se da neoplas ia
namente, com laser vascular (o qual não deixa qualquer epitelial mais frequente (65% do total}, e os farores pre·
cicatriz). d isponentes são exposição à luz solar e pele clara. Outras
causas desencadeantes incluem a rad ioterapia e a absorção
aueratose actínica de compostOs de arsên io. Localiza-se preferencialmente
Lesão extremamente frequente, ocorre em áreas expos· nos dois terços superiores da face (acima de uma linha
taS à luz e se caracteriza por ser macu lopapulosa, recober· imaginária que passa pelo lobo das orelhas e comissuras
ta por escamas secas, du ras, de superfície áspera, de cor labiais) e é menos comum em outras áreas, não ocorrendo
amarela a castanho-escura e de tamanho variável, poden- em mucosas nem na palma das mãos ou na planta dos pés.
do confluir, formando placas. As escamas são aderentes Clinicamente, caracteriza-se por uma pá pu la rósea, de
e, quando destacadas, podem causar pequenos sangramen- borda perlácea, brilhante, podendo, na ma ioria das vezes,
tos. Quando há prod ução exagerada de camada córnea, é apresentar finas telangiectasias con fluentes para o centro
chamada corno cutâneo. e, em algu ns casos, centro elevado ou ulcerado. Cresce pro·
O tratamento cons iste na remoção com aplicação de gressivamente, podendo haver extensão em superfície ou
nitrogênio líqu ido, neve carbôn ica, eletroci rurgia, laser, mesmo em profundidade ou, ainda, vegetante. Pode ainda
Coblation ou ainda, recentemente, com o uso de imuno- apresentar uma variante clínica escleroatrófica, caracteriza·
modulador tópico, em creme (im iquimod a 5%), na poso- da por uma placa bra nco-amarelada, dura, lisa, translücida,
logia de trêS vezes por semana até o desaparecimento total com algumas telangiectasias, lembrando esclerodermia. A
da lesão. O uso de 5-fluorouracil a 2% ou 5% em creme grande ma ioria dos casos, entretanto, apresenta bordas li·
também é bastante eficiente em algu ns casos, porém causa sas e perláceas.
erosão do local. A opção de tratamento para a grande ma io ria cons iste
na exérese ci rúrgica da lesão com averiguação de margens
por meio de exame anatomopato lógico, embora trabalhos
Doença de Bowen multicêntricos recentes mostrem excelentes resultados com
A doença de Bowen é uma forma mu itO precoce de o uso tópico de um imunomodulador em creme (imiqu i·
câncer de pele que surge como um crescimento lento na mod a 5%). A ci rurgia pode ser rea lizada pelo método de
pele, que se apresenta com placa de cor vermelha e escamo- Mohs (no qua l o tumor vai sendo fatiado pouco a pouco
sa. Na doença de Bowen, o câncer de pele situa-se apenas e, simultaneamente, procede-se à avaliação microscópica,
na epiderme. Raramente, o câncer de pele pode invad ir a até que seja atingido tecido são) ou pode-{)e simplesmente
derme, passa ndo a ser chamado carcinoma de células esca- proceder à curetagem cirúrgica, seguida de eletrocoagula-
mosas invas ivo. ção ou crioterapia.
A doença de Bowen pode ocorrer em qualquer parte
do corpo, embora as pernas sejam mais comumente afeta·
das. É facilmente confundida com psoriase. Carcinoma espinocelular
A pele clara e a exposição ao sol são os principais fato- Também denominado carcinoma epidermoide ou
res de risco para a doença de Bowen, todavia expos ição ao epitelioma espinocelular, consiste em um tumor maligno
arsênico e estado de imunossupressão também são fato res constituído por proliferação atópica de células da cama-
importantes. A~ mulheres são mais suscetíveis que os ho- da espinhosa, de caráter extremamente invasivo, podendo
62 PARTE111 • ClassificaçAo ttnica e Cronologia

causar metásta:;e. Re:.ponde por cerca de 15% dos mmores O QUE AVALIAR
epiteliais maligno;, frequentemente se originando na que- Como o paciente com xero:;e geralmente tem prurido,
ratose :.olar ou actinica, leucopla,ia, radiodennite crônica, não se de--e e~quecer de correlacionar e.'l.~e quadro com a
arsenical, actínica, xeroderma pigmentoso, úlceras crôni- possibilidade de endocrinopatia.., e neoplasia~. Oe,-em ser
cas e cicatrize.., decorrentes de queimaduras ou de cicatri· evitados hanhos quentes prolongado.., e ;e preferido o uso
zação por :.egunda intenção. A., localizaçõe:. mais comuns de sabonete!> pouco alcalinos, com hidratante'> e dos synder.
são: terço inferior da face, orelha;, lábio inf<!rior, dorso das O uso de hidrarantes ~recomendado, e des devem ser rea-
mãos, mucosa hucal e genitália externa; no entanto, pode plicados de dua~ a tri!s veze.~ ao dia, principalmente aqueles
ocorrer em qualquer outra região do corpo. A~ metãstases com alfa-hidroxiácidos (ácido lático, ácido glicôlico, ácido
podem ocorrer a pó; me:;es ou anos, sendo mal~ frequentes pirúvico), por serem hidratames e por promoverem a e.~fo­
e precoce.~ nos carcinomas das muco:.as, dorso das mãos e liação da pele. Caso a xerose e.'>teja imensa, um queratolíri-
cicatrizes de queimaduras. co, como ácido salicilico, ureia ou propilenoglicol, deve ser
A exérese cirúrgica e a avaliação anatomopatológica usado antes do hidratame.
das margens são imprescindíveis para se conhecer o grau Alguns idosos acred itam que a exposição solar se re-
de profund idade e de invasão. A ressecção deve ser feita fere somente à exposição na praia ou pisci na, apesar de
com imu iro de obr~r margens livres em rodas as dí reçôes, sofrerem mais com o déficit de vitamina O. Qua ndo o ido-
o que melhora o prognóstico, prin cipalme nte pa ra os casos so expõe o dorso das mãos, o antebraço e a face (27% da
recentes e adequadam~me Cl·amdos. superfície corporal) d uas a três por semana, em um terço
a metade do tempo da dose eritematosa mí nima, é pro-
d uzida vi tam ina O suficiente. Cabe ao médico e~clarecer
CUIDADOS NA PRESCRIÇÃO AO IDOSO
quanto ao u~o adequado de fotoprott!tOr, em quantidade
O atendimento mt!dico deve ampliar seus con heci- adequada e no veícu lo certo.
mentos sobre as doenças mais frequentes desse segmento A higiene é um hábito diário muito importante. O pH
etário, além de aumentar a capacidade de identificação de dos sabonetes em barra oscila entre 10 e 11, o que causa
ido:.os :.ob maior rbco de de.~envolver doença~ mais sérias e ressecamento e alteração da flora normal da pele. Os pro-
incapacitante:.. t: de fundamental importância que o médi- duros synder consistem em sal1<metes sintéticos com ácido
co derrnarologbra, como qualquer outro e.~pecialisra, apro- esteárico, que, além de limpar, hidrara e tem pll - 5,5. 0..
funde seus conhecimemos sobre o:. mecanismos respon- sabonetes emolientes que hidratam a pele tarnl><!m consti-
sá,-el~ pelo proce:...,o do envelhecimento e a~ dermatoses
tuem uma opção.
maL~ prevalentes ne:,..,a faixa etária, adquirindo suhsidios
nece.'l.'>ários e fundamentai\ para uma conduta adequada,
tantO diagnó.'>tica como terapcutica. Viver mais é impor- Referências
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Capítulo 11 • Classificação Étnica e Cronologia 63

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Pele na Gestante
Saby Vanessa Vargas Romero

A gravidez n~pr~sentn um período de intensa~ modifi-


cações para a mulher e praticamente tO<.Io.~ os si~temas do
organismo são afetados, dentre eles a pele.'
A~ modificaçôes cutâneas fisiológica~ decorrem, em
(,>era!, da maior atividade glandular e, de modo particular,
da maior produção do~ hormônios esteroides (progesterona
e estrógeno). Não t' infrequente que o período ~racional
condicione o comportamemo de muitas doença'> imunoló-
gica-,, endócrina~. metahólica., e va<;culares. A'> doenças au-
wimunes, como o lúpu~ eritemat~o ~iStêmico, a esclenxler-
mia, a dermaropoliomio>ite, <, ~nfigos e a parfiria cutânea
tardia, c~rumam sofrer "h'T'avamento. A psoriase em placas
pode melhorar, entretanto uma mO<.Ialidade de psoriase
pusrulosa grave, o impetigo herpetiforme, é caraCteríStica da Figura 12.1 Mancha castanho-clara na face de gestante.
gestação. O eritema nodoso, o eritema nodoso hansênico e
o pioderma gangrenoS<l pO<.Iem surgir nesse periodo. 2 face (regiões frontal, temporal, mala r e mandibular, supra-
labia l, dorso nasal)1 (Figura 12. 1).
O grau de hiperpigmenração mostra ce rta relação com
ALTERAÇÕES CUTÂNEAS FISIOLÓGICAS DA o tipO de pele da mulher, ou seja, mu lh<!res com pele mais
GRAVIDEZ clara, geralmente, aprt!sentam m~nor grau de pigmenta-
ção. Em mulheres suscetívds, a expos ição aos raios solares
Distúrbios da pigmentação
pode provoca r exacerbação dessa hi perpigmemação, sen-
As alteraçôes pigmenwres são comuns na gravidez, do, portamo, o fator desencadeante mais impo rtantt. 8
oco rrendo em 90% das gestantes. A~ causas são d escon he- O mela~ma costuma desaparecer complewmente até I
cidas, e alteraçôes hormonais relacionadas com estrógenos, ano após o parto, ma~ cerca de '30% das paciemes evoluem
progesterona e hormô nio melanócito--estimu lante (MSH) com alguma sequela da mancha. Recorrências são comuns
podem ter papel fundamental na gi!ne-~e das alteraçôes. ><>. em gestações suhsequentes.•
O mela~ma cau~a impacto negativo na qualidade de
Me/asma vida, principalmente por acometer a face e comprometer
Melanodermia que se caracteriza pOr mancha de co- a imagem corpOral. Em virtude de insatisfação com a apa-
loração ca>r-anho-clara a e"cura, que se pode iniciar ou rência, a~ pacient~ apre~entam comprometimento da au-
imen,ificar na s:ravidez. Na maioria das vezes, limita~e à toestima com repercw,,õe., na vida pe:...,oal e profis..,ional."'

65
66 PARTE 111 • Classificação Étnica e Cronologia

Um dos cuidados essenciais com a pele nesse período Apesar de a etiologia das estrias não ser bem com-
cons iste no uso diário de filtros solares, que podem ser preend ida, aceita-se q ue a combinação de estiramento me-
físicos ou qu ímicos. Os proteto res solares com va lores de cân ico da pele com fato res genéticos, alterações endócrinas
fator de proteção solar (FPS) maiores que 30 representam, e, eventualmente, secreção de relaxina durante a gravidez,
na gravidez, exposição desnecessá ria e imprudente-" isolados o u associados, tem papel sign ificativo em seu apa-
Para os casos de não regressão completa do melasma recimento.1;·16
gravid ico, é necessá rio proceder ao tratamento com des- Em estudo rea lizado em prim íparas, as estrias foram
pigmentantes, q ue podem ser ind icados a part ir do quartO mais frequentes em pacientes mais jovens, nas que adquiri-
mês após o final da gravidez, segu ndo algu ns autores.12 ram mais peso na gestação e/ou nas que deram à luz bebês
Os despigmemames perm itidos durante a gestação mais pesados. Esse estudo sugere que a id ade materna mais
são: Antipollon HT» (2% a 5%), o VCPMG (fosfato-ascor- ava nçada poderia ser um fato r con tra a presença de estrias
baw de magnéS io) nas concentrações de I% a 3%, o ácido na gestaçãon
azelaico (10% a 20%), o ácido kójico (1% a 3% com pH 3 A~sim, na gravidez, a utilização de hidratantes é impor-
a 5), os alfa-hidroxiácidos (pH < 3,5, concentração< 10%), ta nte devido ao aumento da distensão da pele, auxiliando
o skin whitening complex (2% a !O%)n a prevenção de formação de estriasn

Outras hiperpigmentações da gravidez Distúrbios vasculares


Cerca de 90% das mu lheres grávidas apresentam hi- O excesso de estrógeno circulante ocasiona vasodilata-
perpigmentação, habitualmente d iscreta, de algumas áreas ção, vasolabil idade e proliferação vascular.
corpóreas, como mamilos, aréolas mamárias, axilas, face
interna das coxas e geni tais e linea alba do abdome, que na Telangiectasias
gravidez é des ignada l.inea nigra.i É importante lembrar que Pequenos vasos na derme se tornam visíveis em vi r-
cicatrizes, nevos e sardas preexistentes também se w rnam tude da dilatação ou da neoformação vascular durante a
mais pigmemados.14 gravidez. 18 As telangiectasias são formadas por um vaso
central maior, de coloração avermelhada, a partir do qual
Distúrbios do tecido conjuntivo se ramificam pequenos vasos menores em várias d ireções.
Principalmente localizadas na face e na porção anterior do
Estrias tro nco, em cerca de 67% das pacientes brancas aparecem
Nas gestantes, as estrias ocorrem em mais de 70% das entre o segundo e o qu into mês de gravidez, desaparecen-
pacientes e são e ncontradas mais comumente no abdome, do cerca de 3 meses após o parto;• se permanecerem, po-
no quad ril, nas nádegas e nos seios.'; Elas tendem a se de- dem ser usados eletrocoagulação, eletrofulguração, rad io-
senvolver a parti r da 25• semana gestacional, apresentam freq uência e laser.
coloração eri temawsa, esmaecem no puerpério e permane-
cem como cicatrizes prateadas (Figura 12.2). Eritema palmar
Constitui-se em hiperemia assintomática de wda
a região palmar, o u somente das regiões tenar e hipote-
nar, como resultado do aumento de sangue para as mãos.
Frequente na gravidez, a tinge 70% das mul heres brancas e
30% das mulheres negras, surgindo, em geral, no primeiro
tri mestre. 4
Desparece espontaneamente após o partO, não necessi-
ta ndo, portanto, de tratamenton

Instabilidade vasomotora
Fenômenos de instabilidade vaso motOra, palidez, sen-
sações de calor e frio, cútis marmorata nas pernas, rubor
facial, dermografismo, lesões urticariformes e exacerbação
de fenômeno de Raynaud preexistente são frequentes na
gravidez. Lesões purpúricas nas pernas são comuns na se-
Figura 12.2 Estrias em região abdominal em gestante. (Fonte: gu nda metade da gravidez, por aumento da pressão hidros-
. •
acervo da autora.) t á tJca.
Capítulo 12 • Pele na Gestante

Edema níio depressíve/ Alterações ungueais


Ocorre em 50% das ge;,tanres, ;,endo mais imenso pela Duranre a gestação, podem ;,er oh;,ervada.., alterações un-
manhã e diminuindo ao longo do dia. Localiza-se em re- gueaiS, corno onicóli.se, fragilidade ungueal, !>lllcO!> rran.o;-.~rsos
gilles da face, pâlpebrm,, pé.., e mãos. É importante o diag- e hiperqueratose suhungueal. Admi~ a po:...,ibilidade de,
nóstico diferencial com edema de origem cardíaca, renal na gravidez, esses quadro;, ~-rarem relacionadO!> com a expo-
ou rdacionado com pn~-«lâmp~ia.' liação que esse estado fi.~iológico ~pecial pode pml'ocar.

Granuloma gravidarum
DISTÚRBIOS FUNCIONAIS DAS GLÂNDULAS
O granu loma piogênico da J.'favidez aparece em 2%
das grávidas, H consistindo em uma rumo ração benigna ori- DA PELE
ginada de proliferação va..,cular, que pode ocorrer em gen- O aumento da atividade da:. glândula.., écrina.~ durante
givas, lábios e dedos, entre o segundo e o terceiro trimestre a gravidez ocasiona aumento da sudore,e, à exceção Ja.~
da gestação. Lesão papu lonodu lar e vinhosa, sangra facil- regiões palrnoplantares, na.~ quais há diminu ição da ativi-
menre após trauma.~ Regride semanas após o pa rro; caso dade écri na.
contrário, d eve-se indicar eletrocoagulação (Figura 12.3). O aumento Ja atividade das glôndu las sebáceas é co n-
troverso. Alguns estudos revelam dim inuição da atividade
Hiperemia gengiva/ dessas glândulas. Outros autOres afirmam que a atividade
apócri na aumenta no te rceiro trimestre da gravidez em de-
A ma ior parte das grávidas expe rimenta graus variáveis
corrên cia do aumenro do estrógeno circulante.
Je hipe remia gengiva) com edema e vermelhidão, a qual se
O aumenm das glâ ntlulas sebáceas da aréola mamária
Jese nvolve a partir do terceiro trimestre e regride no pós·
forma os chamados ruhérculos de Mo ntgo mery.
-parto. A~ alteraçôes gengivais rnt!nores podem beneficia r-
-se de vitamina C, e as medidas de higiene ora l devem ser
intensificadas na gravidez.~· 19 Acne na gravidez
Motivo de consulta e preocupação, a acne pode estar
Outras alterações vasculares presente em 25% das pacientes ou exbtir previamente.
Durante a gravidez, o -.ulume de :;angue intrava.scular Os elevados níveis de proge>terona no primeiro trimes-
aumenta 50%, o que, devido ao aumento do ütero, leva à tre da gestação exercem influência na patologia,10 merecen-
compres.são da maioria da.., veia.., abdominais, produzindo do atenção especial quanto ao tratamento.
varizes de veia, na.' perna,, vulva e ãnu, (hemorroida)_s.:ro Para o inicio do tratamento, recomenda...e o U.'>O de
O eritema da região do ve~tibulo e da vagina, decor- sabonete neurro na higienização da face e bloqueador !>Olar
rente de vasodilatação que ,urge precocemente na gra- livre de óleo; em ca.~o de quadro clinico itl.'>idioso, ptXIem
videz, é conhecido como smal de ]acquemitr-Chadu•hick. ser usados erirromicina oral ou tópica e outros agem~ tó-
A coloração azulada na cérvice, em virtude do aumen- picos, como clindamicina, peróxido de henzoila, metroni·
to da vascularização da região, é denominada si nal de dazol e ácido azelaico. 11·n
Goodel J.i

DISTURBIOS DOS PELOS
Hirsutismo
A maio r parte Jas gesta ntes apresenta cerro grau de
h irsuris mo, ma is frequentemente na face e nas extremida-
des, em razão Je alreraçôes honno na is próprias da gravi-
dez. Em geral , esse quadro regride em meses após o parto.
Quando, durante a gravidez, o h irsutis mo e muito intenso,
deve-se cons iderar a possibi lidade de rumores andrógeno-
-secretanres, luteomas ou ovários policisticos, podendo
ocorrer a viri li zação dos fetos dos sexos femininos.'

Eflúvio telogênico agudo gravídico


Figura 12.3 Granuloma p1ogêmco gengiva! em gestante. (Fonte: Em condiçôes normais, 15% a 20% do, pelos e.\tão em
acerw da autora.) fase telógena, mas na gravidez a porcentagem de pelos na
68 PARTE 111 • Classifica ção Étnica e Cronologia

fase telógena cai para 10% no segu ndo e tercei ro trimestres a lmg/kg/dia) o u dapsona, na dose de !OOmg/dia. Mu itas
e aumenta d rasticamente para 30% o u mais logo após o pacientes podem ser tratadas apenas com corticosteroides
parto, levando, ass im, a uma q ueda brusca de cabelos. 21 tópicos e anti·histam ínicos ora is. Existe discordâ ncia entre
Cada pelo perdido será substituído por outro em pou- os auwres quanto à mortalidade fetal. 10
cas semanas, sem necessidade de tratamento. Assim, ge-
ralmente, os cabelos retornam ao estado norma l de 6 a 15
Erupção polimorfa da gravidez
meses após o parron
Esse q uadro, anteriormente con hecido como PU PPP
'
(pruritic urticarial pap,.les and plaque.s of pregnaney), ocorre,
DERMATOSES PROPAlAS DA GRAVIDEZ em geral, no final do te rceiro trimestre e é quase exclus ivo
Penfigoide gestacional das primíparas. Não afeta o concepto. 11
O q uad ro clin ico é caracterizado por pequenas pá pulas
Também chamado herpes gestacional, o penfigoide ges-
u rticariformes, mu ito pruriginosas, q ue podem apresenta r
tacional (PG) é uma doença auto imu ne rara, que ocorre em co nfiguração policíclica. As lesões se in iciam no abdome
mulheres multiparas na terceira e q uarta décadas, entre a inferior, entre as estrias, não atingindo o umbigo, e se es-
28• e a 32• sema na de gestação ou no pós parto-imed iatO.
tendem para braços, nádegas e coxas, raramente atingindo
Ocasionalmente, pode estar relacionado com ru mores fib ro- as extremidades inferiores, a face, as palmas e as plantas
bláSticos.24 Ocorre em I de cada 50 mil gestantesn O s into-
(Figura 12.5). Vesículas são raras. Regridem após o pa rto e
ma inicial é o prurido, seguido por lesões eritemaromaculo- não recid ivam nas gestações seguintes. 12
papulosas anulares confluentes com vesículas e bolhas pre-
A h istO patologia mostra edema da derme com infiltra-
domina ntes no umbigo, mas q ue comprometem também do li nfo-histiocítico na derme superior e média e n úmero
antebraços, coxas, tronco, região mamária e nádegas (Figura variável de eosinófilos; na ma ioria das vezes a epiderme é
12.4).24 A d isposição das vesículas lembra o herpes, enqua n-
normal. 11
to as bolhas tensas fazem diagnóstico d iferencial com penfi- O tratamen to é fei to com cort icoide e antiprurigino-
goide bolhoso e lúpus bolhoso.26 Cosru mam regredir após
sos tópicos. Raramente há necessidade de med icação sis-
o parto, em um período variável de I a 17 mesesn Formas temica. 11
prolongadas da doença, com d uração superior a 6 meses
após o parto, são consideradas crõn icas. Essas formas são
vistas em mulheres mais velhas com h istória de PG em ges- Foliculite pruriginosa da gravidez
tações anteriores e apresentam envolvimento das mucosas.28 Inicia-se no segundo ou terceiro tri mestre da gestação e
Nas gestações segui ntes pode haver recid iva em até 50% acomete indiferentemente prim íparas ou mu ltíparas, com
das pacientes. À histopatologia, a bolha é subepidérmica e regressão espontâ nea 2 semanas após o partO . As lesões
a imunofluorescencia d ireta (IFD) mostra depósito linear ocorrem predom inantemente no tronco, mas podem se
de C3 na membrana basal. No sa ngue encon tra-se o faror espal har para os braços e as pernas, e se apresentam como
HG (uma imunoglobulina IgG), detectado pela fixação do peq uenas pápulas eri tematosas e pruriginosas. A h istopaw-
complemento. 29 O tratamento é feitO com predn isona (0,5 logia mostra foliculite não específican

Figura 12.4 Penfigoide gestacional - lesões eritematomaculo-


papulosas anulares confluentes com vesículas e bolhas. A dispo- Figura 12.5 Gestante no terceiro trimeste com erupção poli-
sição das vesículas lembra o herpes. (Fonte: acervo da autora.) morta da gravidez. (Fonte: acervo da autora.)
Capítulo 12 • Pele na Gestante

Prurigo da gravidez ficiência placentá ri a e diminuição do fluxo imerviloso


A~ le.~ões são eritematopapulosas, pruriginosas, pre- placentário possam aumentar o risco de morre fetal. 16
dominantes no abdome, ma~ podem se estender para os Para alguns amores, trata-se de uma forma de psoríase
membros inferiore,, punhos e mãos, desaparecendo no pusrulosa na gravidez, 11 enquanto para outros é uma en-
pós-pano imediato. Não há recorn!ncia. Podem surgir em tidade separada. 18
qualquer trimestre da gestação, com exceção do primei· A reposição endovenosa de fluido e eletrólitos, nota-
ro, e raramente acometem primiparas. A lgE sérica pode damente cáldo, é obrigatória. A corticmerapia com pred-
estar elevada, e não é infrequeme hi>tória pessoal ou fa. nisona (60mg/dia) é o tratamento de escolha. Outra opção
miliar de atopia. Na hbropawlogia, ohserva-se infiltrado válida consiSte no uso de cidosp()rina."'
rnononuclear periva;.cular sem eosinófilos ou vasculite.ll
Colestase intra-hepática da gravidez (pruritus
lmpetigo herpetiforme gravidarum)
Doença rara, não inreccim.a e potencialmente fata!,l• In icia-se no segundo ou terceiro trimestre e é decor-
é exacerbada, notada mente, pelas alterações honnonais da rente da colestase intra-hepática, JXJdendo ocorrer icterícia
gravidez, a inda que ten ha sido diagnosticada em homens, em 20% dos casos. É encontrado um percentual (0,02% a
em mulheres no d imatério, puêrperas e em usuá rias de 2,4% das gestaçôes), com prurido intenso, principalmente
con tr~cepç:io hon nonal. Apesar d e rara, mais de 200 casos abdominal, que piora à noite, mas q ue pode se generalizar e
já fo ram puhlicados. 11 acometer palmas e plantas. A icterícia é de intensidade va riá-
Em gera l, ocorre no início do terceiro trimestre da vel, e as e nzimas hepáticas estão alteradas. O exame clínico
gestação e caracteriza-se por lesõe.~ pustu losa.~ estéreis em mostra escmiaçc"\e.~ sem qua lquer dermatose específica, e o
regiôes ingu inais, axilas e pescoço. Raramente há compro- pru rido de.>aparece no pó:>-parto im~l iato. Na maioria da.~
metimento de face e regiôes palmoplanta res (Figura 12.6). vezes o tratamento é sinromático, eventualmente exigindo
A~ lesôes são acompan hada.~ por febre, a.~ten ia , náuseas, terapêut:ica sisrêmica, como a cole.,tiramina. 11
vômito, diarreia, ddirio, desidratação, taquicardia, artral-
gia~. terania, convulsôes e risco de ahorro causado pela
INFLUÊN~IA DA GRAVIDEZ NAS DOENÇAS
insuficiência placentária. Em sej,'llida, a.., lesôe.~ tornam-se
crostosas e Os exames de laboratório revelam Ieucocitose, IMUNOLOGICAS
elevação da vdocidade de s~limentação da.~ hemácias, Lúpus eritematoso
anemia, hipoalbuminemia e, raramente, hipocalcemia. No
O lúpus eritematoso dhcoide não se altera na gravi-
exame hisropatológico, ohserva-:.e púsrula neutrofilica es-
dez. Sessenta por cento das pacientes com a forma ~L~tê­
pongifonne de Kogoj na epiderme.'1
mica apre.~enram exacerbação cutânea durante a gestação,
O curso da doença t! progre:...'>i,·o, com remissão após
havendo até 60% de chance de premamridade e dua.~ a
o pano, hawndo casos em que há recidiva em o utra
quatro vezes mais chances de a horto quando a doença está
gestação. Ra ras são as mortes matemas, embo ra insu-
ativa. A gravidez pode ser hem tolerada se o lúpus eritema·
toso sistêmico estiver em remissão por pelo menos 3 mese.~
ames da co ncepção. O risco de lúpus neonaral, em que
o recém-nascido pode apre.,entar eri tema cutâneo trans i·
tó rio, está relacionado co m a transferência de anticorpos
ami-Ro (SSA) e anti-La (SSB).""

'
• Psoríase e artrite psoriásica
Na maioria das vezes, apresentam melhora na evolu-
ção da doença durante a gestação, com exacerbação no
pós-parto. Por o utro lado, a gravidez pode repre.~enrar um
gati lho para o comprometimento articular."
O tratamento da psoriase e da artrite psoriá~ica na gesta-
ção é um desafio. Duranre o tratam•mto, pode ser utilizada
a dclosporina. Até o momento, não há relato> de compli-
Figura 12.6 lmpetogo herpetrforme em gestante. (Fonte: aceF- caçôes na~ padentes que usavam agente> biológico;, ao en-
110 da autora.) gravidar, mas esres não devem ser iniciado.'> nes..,e período. •1
70 PARTE 111 • Classificaçlio ltnica e Cronologia

Esclerose sistêmica e dermatopolimiosite 13. Rodrigues A, Soares L. Estétoca e gravidez. In: Vlllarejo MP. Sa-
batovich O. Dermatologia estétoca. 2. ed. São Paulo: Atheneu,
O fenômeno J~ Raynaud podt! piorar em pademes 2009:408-25.
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Capítul o 12 • Pele na Gestant e

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PARTE IV

,
COSMETICOS E
1\.

COSMECEUTICOS
Cosméticos e Cosmecêuticos
Sandra Lyon

Cosméticos são produtos que devem ser utilizad os na Nas escavações de um templo roma no do século 11
pele com o objetivo de melhorar a apa rência, sem alterar a d .C . foi encontrada uma lata contendo creme cuja compo-
estrutu ra ou a função do tegumento. Assim, os cosméticos sição consistia em gord ura an imal, amido e óxido de esta-
seriam substâ ncias inerentes à pele q ue não ocasionariam n ho, o que conferia uma cor esbranqu içada a esse creme.
mudanças estruturais nem funcionais q ua ndo em contato Os pesquisadores acreditam q ue se tratava de prod utO com
com ela. natu reza cosmética.'
Os fármacos, no entanto, são prod utos cujo objetivo Por wda a história da huma nidade registra-se a pro-
é aliviar, preven ir o u tratar doenças, com necessidade de cura pela beleza, e é cada vez maior a quantidade de pes-
comprovação de segu ra nça e eficácia prévias a seu registro soas q ue desejam obter uma aparência ma is saudável e
e comercialização. jovial. No entanto, foi o méd ico Albert M. Kligma n, em
Os cosméticos são, portanto, preparações constituídas 1984, quem introd uziu o co nceito de cosmecêu ticos com
de substâncias natura is ou sintéticas, de uso externo nas possibilidades preventivas e não restri tos excl usivamente
d iferentes pa rtes do corpo: pele, cabelos, unhas, lábios, ao embelezamento.•
dentes, mucosa oral e genitália externa. Esses produtOs ne-
cessitam, no entanto, de comprovação de sua segu rança '
para registro e autorização de comercialização. COSMETICOS
Cosmecêuticos são produtos mais elaborados com o Os cosméticos abrangem os produtOs de uso d iário
objetivo de melhorar as alterações cutâneas, tendo, por para os cuidados com a pele. Podem ser englobados em
conseguinte, ação cosmética e regeneradora. São prod utos três categorias básicas: agentes de limpeza, adstringentes e
de uso tópico que, em conta to com a pele, anexos cutâneos hidratantes.
e mucosas, podem proporcionar muda nças estru turais e Os agentes de limpeza são utilizados para remover su-
funcionais com possibilidade preventiva sem, no entanto, jidades da pele, sem alterar a barrei ra lipídica, assim como
ter ação terapêutica.' retiram do tegumento corneócitos descamativos, bactérias
e fungos. São enco ntrados sob a forma de sabões em bar-
' ra, líquidos, loções cremosas e mousses. Esses produtos de-
HISTO RICO vem ter pH fisiológico para não serem agressivos à pele e
Na Antiguidade, por volta de 3000 a.C., já se utili- romperem a barre ira lipídica, tornando-a seca e escamati-
zavam cosméticos de o rigem an imal o u minera l. Existem va. Podem ser associados aos sabões agentes hid ratantes e
relatos de achados de pós cosméticos preservados em ala- emolientes, possibilitando a limpeza da pele e, ao mesmo
bastros e potes de junco nas escavações egípcias. É le ndá- tempo, corrigindo a ruptura da barrei ra cutânea, dim i-
rio o hábito de C leópatra ban har-se em leite de cabra para n uindo a perda de água transepidérmica e melhorando a
manter a pele macia e renovada.1 suavidade da pele.

75
76 PARTE IV • Cosméticos e Cosmecêuticos

Os adstringentes o u tOn ifica ntes são util izados após os Os AHA foram descritos in icialmente para o trata·
agentes de li mpeza pa ra a retirada de res íduos lipíd icos. mento de al terações xeróticas da pele em razão de sua ação
Não há necess idade de retirá-los com água, podendo per· na red ução da espessura do estrato córneo e posteriormen·
manecer na pele por mais tempo. te foram descobertos seus efei tos no tratamento do enve·
Os hid ratantes são produtos cuja fi nalidade cons iste lhecimento cutã neo10
em restaurar os teores hídricos normais da pele, preservan· Os principais AHA são:
do sua estru tura e fu nção.s o Ácido glicólico: está presente na natu reza na ca na-d e·

A classificação dos hidratantes baseia-se no mecan is- -açúcar. A cadeia apresenta dois carbonos, constitu indo
mo de hid ratação predominante, q ue é atribuído pela com· a menor molécula e, por isso, penetra mais rapidamente
binação de ingred ientes. na pele. É mui to solúvel em água e apresenta d iferentes
Os hid ratantes podem ser classificados como: pH em solução aquosa, dependendo de sua concentra·
o Oclusivos, cuj o meca nismo de ação consiste em evitar ção. Pode causar eritema, formigamento e prurido na
perda de água por efeitO fil mógeno (p. ex., óleo mineral, pele. A concentração é de 5% a 10% em formulação e de
lanoli na, petrolato, silicone). 50% a 70% em peeling.
o H igroscópicos, os quais retêm água por afin id ade (p. o Ácido málico: encontrado em frutas como maçã, uva e

ex., glicerina, ureia, ácido hia lurõn ico, pantenol). laranja, é um d icarboxílico com agrupamento hidroxila
o Restauradores de barreira, os quais repa ram a barreira na posição alfa . É util izado na composição de hidratan·
fis iológica (p. ex., fator d e hidratação natura l IFHN tes na concentração de 2% a 4%.
ou N MF - natural moistt<ring factor], composto por ami· o Ác ido tartárico: enco ntrado nas uvas, exerce sign ifi·

noácidos, ceramidas, ácido ca rboxílico pirrolidõnico, cativa ação antioxi da nte. Trata-se de um ácido clicar·
ureia, eletró liros, como sód io e cálcio, glucosam ina e boxílico com dois agru pamentOs hidroxila nas pos i·
lactaro).6 ·7 ções alfa, similar ao compostO formado por d uas mo·
lécu las d e ácido glicóli co. A concentração é d e 0,02%
Os umectantes são produtos que têm a capacidade de a 0,3%.
atrai r água, mas só conseguem hidratar a pele a parti r do o Ácido cítrico: enco ntrado nas frutas cítricas, é um tri·

meio amb iente quando a um idade atmosférica excede a carboxílico com um gru pamento hid roxila na posição
70% (p. ex., glicerina, sorbirol). alfa d e um grupamento ca rboxila e, ao mesmo tempo, o
Constituem ainda o grupo de cosméticos ns xampus e gru pamento hidroxila também está na posição beta d os
os cond icionadores. do is grupamentos carboxila resta ntes. Apresenta bene·
Os xampus têm a fu nção de li mpar os cabelos median· fícios antienvelhecimento. A concentração é de I% em
te a remoção do sebo, microrga nismos, descamação do es· formulações e 10% em peeling.
trato córneo e sujeira ambienta is o Ácido mandélico: obtido a partir da hidrólise do extra·

Os co ndicionadores têm como funções a reversão do to da amêndoa amarga, é denominado ácido fenilglicó·
da no provocado ao fio do cabelo, aumento do brilho e lico. Trata-se do AHA de maior peso molecular - tem
dim in uição da fragilidade q ue se forma com a lavagem ex- cad eia de o itO carbonos. É utilizad o em fototipos mais
cessiva dos cabelos.9 alros por apresen tar menor potencial de irri tação. A
concentração é de 2% a 10% nas formulações para uso
d iário e de 50% para peeling.
o Ácido pirúvico: é um alfacetoácido . É pH-dependente;
COSMECÊUTICOS
uma solução aquosa de ácido pirúvico a 5% tem pH =
Os cosmecêuticos combinam efeitos cosméticos de· I,6% e a 98% tem pH = O,I. Está ind icado para trata·
sejáveis com ação farmacológica na pele, principalmente mento de peles o leosas pela ação lipofílica. É usado a
contra o envelhecimento cutâneo. 40% a 70% em peeling.
Os cosmecêuticos clássicos são: o Protacid®: pertence à nova geração de AH A, com ca-

deias de proteínas ou polissacarídeos acoplados. Trata·


-se de um ácido glicólico acoplado à pro te ína da soja.
Alfa-hidroxiácidos Apresenta-se com potencial menos irrita nte que o ácido
Alfa-hidroxiácidos (AHA) são ácidos carboxílicos or· glicólico. A concentração é de 5% a 15%.
gãn icos com um grupamento hid roxila (- OH) ligado na o M ixed Fruit Acid Complex (MFA Complex*): cor·

posição 2 do grupamento carboxila. Os grupos hidroxila e respo nde a uma associação de d iferentes AHA (ácid os
carboxila estão d iretamente ligados a um átomo de carbo- lático, cítrico e mál ico) e chá-verde. É utilizado como
no ali fático o u alicíclico. hid ratante, antienvelhecimento e regenerador da pele.
Capítulo 13 • Cosméticos e Cosmecêuticos 77

O chá-verde tem ação antioxidante e calmame. A con- da.~ queratoses actínica.' e dareamento de lemigo.~ solares.
centração é de 1% a 7,5%.1<" 2 É apresentado em creme de 0,01% a O, 4%.
• R eri naldeído: trata~e de um precur>or intermediário
na síntese c.la tretinoina. A~ar de meno.~ irritativo, sua
Beta-hidroxiácidos
eficácia é inferior à da rretinoina. É formulado em cre-
0.. beta·hidroxiâcido~ (BIIA) ~o ácidos carboxilicos me, gel e loção a 0,05%.
orgânicO> que apre.-.entam um grupamemo hidroxila liga- • Trerinoína o u \"Ítam ina A ácida (ou ácido retinoico ou
do à pru.ição ll<!ta do grupaml!nto carboxila. ácic.lo all-transretinoico; t<'m como função o rt'juvene~ci­
Alguma., moléculas são, ao mesmo tempo, AHA e mento cutâneo devido à capacidade dt' acelerar o rumo-
BHA, poi;, conrêm um grupo hidroxila na posição alfa do ooer celular e e;rimular a neocolagênese. É considerac.lo
grupo carboxila e o outro na posição hera de ourro grupo o pac.lrão-ouro na abordagem ao fotoenvelhecimenro;
carhoxila. O ácido má lico é um exemplo de molécula dessa no entantO, apre.~enta efeitos ad,•er~os limitante.~. como
categoria . ardor, eritema, xerose e descamação. Apresentado em
O ácido sa licilico é um hera-hid roxiácic.lo que apresen- concentraçôe.~ divers ificadas de 0,025%, 0,05% e 0,1%
ta estrutura em anel c.le benzeno, sendo d eno minado, tam·
em cre me, pode ser e ncontrad o ainda nas fo rmulaçôes
bém, ácido 2-hidroxibenzóico. em gel, solução e loçôes.
Utilizado em fo rmulaç.'io de 0.5% a 2% com ação q ue- • lsotretinoína (9-ds ácido rerinoico e I1-cis ácido retinoi·
rarolítica de 1% a 5% I! em peeling a 10%, não d eve ser llti· co): util izado em gel a 0,05% para controle da acne e como
lizado em gra ndes áreas em vi rwde do risco de sa licilismo alternativa no tratamento do fi)(oenvelhecimenw cuc1nen.
(intoxicação sistêm ica). • Adapaleno: um derivado d o ácido nafwico com ativi·
dac.le anti-inflamatória comedo litica e antiproliferativa,
Poli-hidroxiácidos é utilizac.lo na abordag<'m à acne e no fotoenvelhecimen·
o, poli-hidroxiácidos (Pi lA) são ácido.~ carboxilicos to. É utilizado na concentração de 0, 1% a O, 1% em gel.
orgânicos com doi!. ou mais grupamentos hic.lroxi la ligados • Tazaroten o: tem capacidade antiprol iferativa, anti-infla-
a átomo.\ de carbono de uma cadeia ali fática ou alicíclica. matória e normalizadora. 15•16
A gluconolactona é o PilA mais utilizado para trata-
mento de pele, pob fortalece a barreira cutânea e tem ação Há muita e.peculação em torno da ah,orção >istêmica
hidratame e amioxidante. É utilizada em formulações de com o uso crônico do> retinoide.,. No entanto, em concen-
!%a 15%.11 trações habituab, ~ retinoides >àO >eguros para uso tera-
pêutico e/ou cosmérico.11
• V itamina C o u ácido ascórbico: >UI'í.tância com efeitos
Biônicos antioxic.lantes e fowprott'tore.,, atua na síntese do colá-
Os ácidos biônico> (AB) são formados por um monõ- geno, aginc.lo diretament<' no> mecanismos de foroen-
mero de carboidrato ligado a um ácido aldõnico-PHA. São velhecimento. A vitamina C apre>enta dois problema.~
exemplos de.,;,a catl!goria: ácido lacrobiôn ico (AL), ácido báSicos em sua.~ fonnulaçôe>: a haixa ahsorção do ácic.lo
ma lrobiônico e ácido celobiônico. a.~córbico na camada córnea e >Ua rápida inarivação atra-
O ácido lacrohi<)n ico é utilizado como antioxidante vés da oxic.lação quando exposta à luz. 17
em formu laçôes com a concentraç;io de 2% a 10%.14

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78 PARTE IV • Cosméticos e Cosmecêuticos

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Hidratantes
Sandra Lyon

H idratames são cosméticos que apresentam a capa- como a pintura dos o lhos, para suavizar os efeitOs do sol, e
cidade de bloquear a perda transepidérmica de água por de compostos à base de gordura vegetal, cera de abelhas, mel
meio da ocl usão e restauração da barreira lipídica. e lei te, para preparação de cremes para a pele. A Claudius
Os hidrata ntes são produtOs passivos ou de barreira, Galenus (1 29 a 200 d.C .), na Grécia, foi atribuída a inven-
quando apenas retêm a água na pele, o u produtOs ativos, ção do primeiro hidrata me documentado. No entanto, foi
quando não apenas executam essa fun ção, mas também percorrido longo cam inho, desde então, até que o primei-
proporcionam a absorção ativa de água pela pele. ro hidratante fosse produzido em escala mund ial. Em 1911
Para manter suas propriedades fis iológicas de proteção surgiu o primeiro hidratante, a partir de uma pesquisa que
contra as adversidades do meio ambiente externo, a pele revelou um ingrediente ativo que unia a água ao óleo.z
deve ma nter-se íntegra. A h idratação desempenha impor·
tante papel de man utenção do conteúdo de água na epi·
derme e na integridade da barreira epidérmica. A BARREIRA CUTÂNEA
A barreira cutâ nea promove pro teção mecân ica e per- A principal fun ção da pele é a proteção dos tecidos
meação seletiva de moléculas, além de restringir a proli- internos contra as agressões mecân icas, quím icas, térm icas
feração de microrganismos patOgênicos e manter concen- e microb ianas e as radiações do ambiente externo. Além
tração adeq uada de água. O equil íbrio cutâneo de água é d isso, apresenta-se como barreira para co ntrolar a perda
essencial para a integridade do tegumento e a manutenção de água e de calor. Para exercer todas essas funções, a epi·
de sua aparência normal. derme exige um grau de hidratação, ma ntendo assim sua
homeostase e permitindo a proliferação, a d iferenciação e
' a integridade fisiológica de suas célu las.
HISTO RICO A pele seca ou xerótica é uma queixa frequente entre
O Museu de Lond res apresenta um pote milenar, a população, podendo se apresenta r de maneira transitó·
encontrado em um templo celta-romano, que foi possi· ria ou ser um sintoma de doença crôn ica, como eczema e
velmente a pri meira espécie de hidratante da qual se tem dermatite atópica. Alguns fato res podem estar d iretamente
noticia, à base de leite de cabra. Cleópatra já usava o leite relacionados com a causa da pele seca, como o hábito de se
de cabra para se ban har, acredita ndo em sua util idade para lavar com muita frequência, contato com produtos q uím i-
conservação de uma pele macia e mais jovem. cos, temperatu ras frias e secas, ventos e fato res e ndógenos,
O lei te em q uestão contém, de fatO, micro moléculas de como doenças de base e idade.
gordura que se incorporam com facilidade à pele e recom- Para manter a pele hidratada e com suas fu nções ade-
põem a camada lipídica e natural. É ainda uma fome impor- quadas, devem ser adotados algu ns cuidados com o ba nho
ta nte de vitaminas A e D. Há mais de 3.000 anos, no Egito e o uso correto de sabonetes, além da aplicação de prod u-
Antigo, já havia registros do uso de cosméticos protetores, tOS h id ratantes.

79
80 PARTE IV • Cosméticos e Cosmecêuticos

A água é vital para o funcionamento fisiológico, a manu- orgân icas ou não, q ue constituem estruw ras fu ndamentais
tenção e a aparência saudável da pele. A perda de água atravéS para a manutenção de hidratação da pele.
da pele é principalmente regulada pelo estratO córneo. Mecanismos dinâmicos da h id ratação cutânea: FHN,
O estrato córneo é formado por corneócitOs ach atados lipíd ios intercelulares e bombas iôn icas.
e alongados que contêm em seu interior proteínas com O FHN e os li píd ios intercelulares desempenham pa-
características higroscópicas. Os corneóci tos estão ligados pel importante na retenção das moléculas de água, impe-
entre si através dos desmossomos e envolvidos por um ma- d indo sua evaporação para o meio amb iente.
terial lipíd ico. O estratO córneo representa uma camada O FH N é representado por um conjunto de estrutu-
física e de retenção hídrica essencial para a hid ratação e a ras higroscópicas que interagem entre s i. É constiwído de
descamação da pele. Assim, a hid ratação efetiva da pele de- aminoácidos (40%) derivados da proteína filagrina, tendo
pende da presença de fator de hid ratação natural (FHN), ai nda em sua compos ição: ácido carboxílico pirrolidona
presente nos corneócitos e da integridade da camada de (1 2%), lactatO (1 2%), ureia, (7%), o conjunto de amôn ia,
lipíd ios intercelu lar, q ue agem como barreira à perda de ácido úrico, glicosamina, creatinina e citraco (1 ,5%), os
água tra nsepidérmica. íons sód io (5%), potáSsio (4%), cálcio (1 ,5%), magnéS io
A h id ratação cutâ nea depende de: (I ,5%), fosfato (0,5%) e cloreto,6 além de açúcar, ácidos
o Presença de FH N nos corneócitos. orgân icos, peptid ios e outras substâncias indefinidas, per-
o Glicerol endógen o como agente umectante nawral. fazendo 8,5% do tOtal.
o Lipíd ios d ispostos em arranjo lamelar no estratO cór· Os li píd ios inte rcelula res co ntrolam a permeabilida-
neo, forma ndo uma barrei ra à perda de água transepi- de e o movimento intercelular da água e selam o FHN
dérmica (T EWL, do inglês transepidermal water loss). nos corneócitos, mantendo o contéudo li pídico interce-
o Presença das tight junctions, q ue permitem a distribu ição lu lar: ceramidas (40%), co lestero l (27%), ácidos graxos
de água do meio extracelular. ( 10%), s ulfatO de colesterol (7%) e ésteres de colesterol
(5%).
As porções mais superficiais do estratO córneo contêm A~ ch amadas bombas iôn icas são ca nais de ação rápi·
uma q uantidade de água altamente dependente da umi- da, íons seletivos, q ue awam sob demanda, o u seja, são re-
dade relativa do ambiente, e nquanto suas porções mais qu isitadas quando há deseq uilíbrio iônico entre os meios.
internas apresentam maior quantidade de água. Assim, Fazem parte dos ca nais iônicos as bombas Na"/K" e os
um estrato córneo sa udável é capaz de manter o nível ade- ·tons C a 2" , Cl· e H".
q uado de água, imped indo sua evaporação diante de um A~ aquaporinas são proteínas de membranas localiza-
ambiente com baixa umidade relativa. das nos queratinócitOS da epiderme representam um canal
A quantidade de água retida no estrato córneo depen- de permeabilidade, con trolando a h idratação cutânea. A
de da p resença do FHN, que é formado por d iversas subs- aquaporina-3 (AQ P3) destaca-se por ser permeável à água
tâncias umectantes e confere a elasticidade cutânea. e a moléculas como glicerol e ureia, importantes agentes
Mutações no gene da filagrina são identificadas como h id ratantes cutâneos, sendo denom inadas aq uagliceropo-
fatores pred isponentes para dermatite atópica e ca usadores rinas.
da pele seca. A filagrina fo rma o FHN, além de ser essen- O funcionamento adequado da barreira cutânea confe-
cial durante a formação do envelope corneificado J re integridade, equilíb rio hídrico, hidratação e descamação
corneocitica o rganizada à pele. Na vigência de distú rbio de
• um desses compo nentes da barreira, ocorre a umento da
MECANISMOS FISIOLOGICOS DA BARREIRA perda de água transepidérmica, resultando em xerose cutâ-
CUTÂNEA nea. A pele seca apresenta as características de descamação,
A barre ira cutâ nea é composta por matri z proteica ce- fissura, tensão e rubor.
lu lar e matriz intercelu lar. A matri z proteica cel ular é co ns- O conteúdo normal de água no estrato córneo varia de
titu ída pelos q ueratinócitos dispostos em camada li mitada 20% a 35%; quando inferior a 10%, observam-se os sinais
superficialmente pelos corneócitos; a matriz intercelular de xerodermia. A xerose cutâ nea altera o ritmo normal da
apresenta dupla camada proteica.4 mawração e descamação dos corneócitos.
As camadas celu lares epidérmicas superficia is repelem Existem inúmeras cond ições intrínsecas e extrínsecas
água, e nquanto as profundas a retêm para que haja equilí- que contribuem para a xerose cutâ nea, como um idade am-
brio entre os compartimentos celulares proteico e interce- bienta l, radiação solar, idade, estresse emocional, traumas
lu lar lipíd ico, alcançando o balanço h ídrico norma l. físicos e doenças in flama tó rias cutâneas.4
Além dessas estruw ras proteicas e lipíd icas dos meios Cond ições necessárias para ma nter as propriedades
intra e extracel ulares, existem outras partículas químicas, mecân icas da camada córnea:
Capítulo 14 • Hidratantes

• Existê ncia de membranas celu lares e espaços intracelu- postos o leosos e lipíd icos não gordurosos q ue se espa lham
lares intactOs que mantenham os lipídios da estrutura facilmente na pele, com elevada capacidade cosmética (p.
celular e evi tem a sa ída dos constituintes do FHN. ex., ceramidas, óleo de jojoba e esteróis de soja).45
• Presença do FHN capaz de reter água no interior das Atualmente, vêm sendo desenvolvidas d uas novas clas-
células. ses de hidratantes cutâneos: os reparadores proteicos e os
• Presença de água em quantidade suficiente no interio r restauradores de barre ira.
da camada córnea. Os reparadores prote icos são compostos proteicos em
sua formu lação que retêm água na epiderme e na derme,
Fawres responsáveis pela desid ratação cutâ nea: ajuda ndo a reparar estrutu ras proteicas dérmicas da nifica-
• Vento e muda nças b ruscas de temperatura, que favore- das (p. ex., colágen o).
cem a evaporação da água da superfície da pele, d imi- Os restauradores de barrei ra são produtos que têm afi-
nu indo o grau de h idratação da camada córnea. nidade pelos lipíd ios cutâneos que formam a barrei ra cutâ·
• Dermatoses, como ictiose, psoríase e dermatite atópica, nea, restaurando a barre ira do estrato córneo, regu lando o
que provocam alteração na camada córnea, rornando-a fluxo hídrico da pele e, com isso, dim in uindo a perda de
incapaz de fixar e reter água. água tra nsepidérmica (p. ex., lipossomas, ceramidas, com-
• Uso de substâncias quím icas tensoativas, como deter- plexo õmega-3 e N-pa lmiwl-eta nolamina).6
gentes e solventes orgân icos, q ue elim inam os lipíd ios
cutâ neos.
CONSIDERAÇOES FINAIS
-
Cu idados para evitar desidratação cutânea:
• Evitar exposição solar excessiva. A epiderme precisa de umidade suficiente para manter
• Fazer uso de protetores solares. a aparência saudável e jovem. A pele e nvelhecida perde os li-
• Evitar loções tôn icas com alto conteúdo alcoólico. píd ios organ izados da epiderme e as estruturas q ue mantêm
• Não utilizar substâ ncias q uím icas isoladas, como a glice- a vedação da barreira de umidade, resultando em secura e
rina, devido a seu grande poder h igroscópico, q ue tanto consequente da no à epiderme e à derme. Com a descoberta
pode retirar água da atmosfera como da epiderme. da d istribu ição de água, do papel das aquaporinas, do ácido
• Evitar loções muitO alcalinas, com pH não fisiológico. h ialurõnico, do FHN e das tight j1<nctions na pele h umana e
da ligação da água à atividade de descamação e nzimática, os
-
CLASSIFICAÇAO DOS HIDRATANTES
últimos 10 anos trouxeram novas e importa ntes metas para
a melhoria dos n íveis de transporte de água na pele.
De acordo com o mecan ismo de ação de seus com- Esses achados indicam também importantes papéis
ponentes, os hidratantes são classificados em oclusivos, desempenhados por diversas substâncias que retêm água
umectantes e emolientes. no estrato córneo, regulando o teor dessa substância. Isso
Os h id ratantes oclus ivos formam um filme lipíd ico pode explicar por q ue tratamentos h idratantes são essen-
que não permite a passagem e a saída de água da epiderme. ciais para a pele, principalmente aquela exposta aos raios
São produ tos ricos em componentes oclusivos, os q ua is ultravioleta, e por que a utilização de produtos hid ratantes
reta rdam a evapo ração e a perda epidérmica de água me- é considerada gesto báS ico e impresci nd ível no tratamento
d iante a formação de um fil me h idrofóbico na superfície antienvelh ecimen to.
da pele e no interstício entre os queratinóci tos superficiais.
São prod utos gordurosos obtidos de o rigem animal, mine- Referências
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Regeneradores da Pele
Sand ra Lyon

Os regeneradores da pele cons istem em cosmecêuticos o Tripeptídio sintético glicil-histid il-lisina, na concentra-
com o objetivo de otimização da aparência e a prevenção ção de 5%.
o u minimização do e nvelhecimento cutâneo. Não são o Aquaporinas, na co ncentração de 2 a 5%, aumentam a
exatamente cosméticos, nem agentes terapêuticos, mas se permeabilidade das membranas celulares e a passagem
destinam a melhorar o aspecto da pele ou retardar o en- osmótica de pequenas moléculas como água, glicerol e
velhecimento. São util izados nos cuidados para manter a u reia?·5
pele saudável.
A capacidade de permeação cutânea depende de dife- Os peptídios inib idores de neuro tra nsmissores m l·
rentes fato res, entre os quais pH, peso molecu lar, estabili- bem a concentração muscular, redu zindo linhas e rítides
dade q uím ica, capacidade de ligação, solub il idade e tempo secundárias à mímica facia l, com a ma ioria agindo no
necessário para permeação do produto. complexo Snare (N-erhylmaleimide~sensitit'e factiYY attachment
Para alca nçar efeitOs benéficos, essas substâncias protein receptor), responsável pela liberação de acetilcolina
co ntam com a influê ncia, também, de outros fato res, e consequente concentração, na tentativa de mimetizar os
como a integridade cutâ nea, a espessura da pele, o meta- efei tos da tOxina botulínica. Entre os principais peptídios
bolismo cutâneo, o local e a freq uência da aplicação, os inibidores de neu rotransmíssores destaca-se a argireli na,
veículos utilizados e o tempo de d isponibilidade antes da na concentração de 3% a 10%.
apl icação.' Os peptídios tensores e firmadores são pro te ínas de ca-
Entre os regeneradores da pele estão os peptid ios, q ue racterística filmógena, ou seja, produzem sensação tensora,
são moléculas de origem proteica com maior atividade an- tornando a pele mais fi rme e lisa após a aplicação.
tienvelhecimento, os q uais são d ivididos em sinalizadores, A tensina é um tensor de o rigem vegetal, obtido
in ibidores de neurotransmissores, transportadores e inibi- das proteínas da semente de trigo, com efeito cinderela.
dores de enzimas, de acordo com seus efeitos fu ncionais.2 Aumenta a d urabilidade e a perma nência da maquiagem,
Os peptídíos sinalizadores estimu lam os fibroblastos, sendo util izado na concentração de 3% a 10%.
aumentam a produção de colágeno ou elasti na e reduzem A rafermína é u m potente agente firmador extraído
a ação da colagenase. Atuam aumentando a q uantidade de de frações especiais da soja, rico em glicopro teinas (ex-
glicosaminoglicanos, proteoglicanos e fibro nectina. tens iva) e polissacarídeos (pectina). Tem efeito firmador
Entre os principais peptídios sinalizadores são encon- prolongado na pele, por atuar d iretamente sobre a co n-
trados: centração das fibras de colágeno, mantendo esse efe ito
o O pentapeptídio (KTIKS), formado pela sequência lisi- por vá rios dias após a aplicação. Utili zado nas conce n-
na-tion ina-tío nina-lisina-serina na concentração de 3%. trações de 2% a 5%, tem sido associado à tensina na pro-
o Val ina-glicina-valina-alan ina-proli na-gl ici na (VGVAPG) moção de efe ito imedia to (tens ina) e de lo nga duração
na concentração de 2% a 5%; (rafermina) M

82
Capítul o 15 • Regeneradores da Pele 83

0:. peptítlio:. tramportadores estabilizam e transferem O uso de fawre.s de crl!:.cimento e citocina.~ para reju-
mezab como o cobre, importantes para cicatrização e de- venescimento e re-.-er;,ão do fotoem-elhecimento tem sido
.empenho do:. proce:.:.o;, enzimático;,. O cohre age como largamente empregado. A aplicação tópica de fatores de
cofawr da :.uperóxido di:.muta>e, enzima antioxidante, e crescimento humano;, proporciona a redução de sinais e
é cofator da lbil oxida;.e, ligada à produção de colágeno e sintomas do em-elhecimento da pele, incluindo a reduç.'io
elastina.• significath-a da., linha., e ru1,>a.,, além do aumento da síntese
O. peptidio:. inibidore> de enzimas são cosmecêuricos do colágeno dém1ico.12•11
derivados de proteína:. da ;,oja, do arroz e da proteína da
seda. 0:. peptidios derivados da proteína da soja inibem
a ação da;, proteina.,e:. e :.ão utilizados como agentes anti- CONSIDERAÇÕES FINAIS
-idade, hidratante:. cutâneos e fotoproterores.
Os peptídios derivados do arroz inibem a atividade da Os regeneradores da pele comtituem classe de cosme-
metaloprmeinase e induzem a expressão do gene da hia lu- cêuticos com ampla utilização no tratamento do envelheci-
ronida.~e sintetase 2, sendo utilizados como agentes antien- mento cutâneo, amen izando os efdtos do tempo e do sol e
velhecimento e formadores de fi lme. apresentando d iversidade de mecanismos pelos quais a ruam
As prote ínas da seda têm alta afin idade pelo cobre, nos mais d istintos efeitos do envelhecimento da pele.
além de inibirem a peroxidação de lipíd ios, a atividade da
tirnsinase e a apoptose dos queratinóciros. Tem p roprieda-
des h idratantes e antiox ida ntts. 9 Referências
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Cosméticos para Cuidados com os Cabelos
Sand ra Lyon

No contexto da beleza, os cabelos devem ser saudáveis, • lnocuidade tOxicológica.


ter boa aparência e contribui r para a p reservação da au- • Solubilidade em água.
toestima. Cabelos saudáveis são aq ueles q ue preservam a • Não irritantes dos o lhos e mucosas.
textu ra sedosa e o brilho. • pH fisiológico ligei ramente ácido, sendo desejável entre
Os cabelos estão sujeitOS a danos em sua estrutu ra em 6 e 6,5, regulado com solução de ácidos cítrico, lático,
consequencia de tratamentos químicos, tin turas e uso fre- fosfórico o u glicólico ou h idróxido de sód io.
q uente de secador de cabelos, que in fluenciam o brilho e a • Detergencia com o objetivo de limpar os cabelos e o
maciez dos fios. O vemo, o frio, a polu ição, o sal marinho couro cabeludo, sem deixar os cabelos com aspecto res-
e o cloro das piscinas contribuem para dan ificar os fios. O secado. A ad ição de te nsoativo primário é o elemento-
e nvelhecimento dos cabelos, assim como da pele, pode ser -chave do xampu: lauril-sulfaw de sód io e lauril-sulfato
intrínseco ou extrínseco. O envelhecimento intrínseco é fi- de amõn io. Para xampus infantis u tilizam-{)e os tensoati·
siológico e se manifesta de modo ind ividua l, representado vos anfóteros, como propionato, o u sulfatOs altamen te
pela can ície e alopecia and rogenética. O envelhecimento carboxilados e etoxilados. Tensoativos secundários são
extrínseco depende de fato res, como rad iação ultravioleta usados para redu zir o efeito de ressecamento do ten-
(RUY), tabagismo, poluição atmosférica, estilo de vida e soativo primário: lauril-éter-{)ulfato de amônio, betaína,
n utrição. sarcos inato, sulfossuccinato, ta uratO, éter-{)ulfato, glico-
O tabagismo provoca efeitos na microci rculação da pa- s ídeo e glutamatos.
pila dérm ica e causa alterações no DNA do folículo p iloso, • Espuma abunda nte: o agente tensoativo é o agente es-
responsável pela reconstrução tecid ual du ra nte o ciclo de pumante. Os rea lçadores e estabilizadores de espuma
crescimento do pelo.'·1 têm o objetivo de aumentar a espuma (p. ex., óxido de
amina, sarcosinaw, lactilato, goma).
CUIDADOS COM OS CABELOS • Maleabilidade: o doador de viscosidade controla a visco-
s idade do produto (p. ex., alcanolamida, óxido amina,
Xampus são preparações cosméticas que tem a finali-
PEG-cliestearato, betaínas, cloreto de amõnio).
dade de promover a h igiene dos cabelos e do couro ca-
• Brilho e facilidade do pentear-se: são utilizados os agen-
bel udo, eli minando a o leosidade, as células epidérmicas
tes co ndicionadores (poliquat, s ilicone) e umectantes
escamativas, os resíduos cosméticos e as sujidades do meio que alteram a viscos idade (propilenoglicol, glicerina)-'·6
ambiente.4
Os xampus devem ter ainda sequestrantes em sua
Propriedades desejadas dos xampus compos ição, q ue eliminam íons metálicos e antioxidames,
Os xampus devem ter algu mas propriedades que man- que conservam a estabil idade da formulação, evitando a
tenham suas características cosméticas: oxidação de alguns componentes, além de quelames e con-

84
Capítulo 16 • Cosméticos pa ra Cuidados com os Cabelos 85

servantes, que estabilizam a cor e o perfume e realçam o dão brilho, restau rando as escamas das cutículas. O lea<lt! in
preservante (p. ex., parabeno, sal de EDTA). Os agentes de é um processo necessário quando se deseja alterar a estru-
suspensão evitam a sed imentação de determ inados ingre- tu ra do fio crespo e torná-lo liso, utilizando um secador em
d ientes (p. ex., goma xantana, carbõmero, goma guar). Os potê ncia máxima, o que danifica a cuticula.s
colo rantes e as essências para dar fragrância podem turvar
ou alterar a viscos idade do xampu. Mu itas vezes costuma-se
adicionar ingred ientes ativos aos xampus (p. ex., piri tiona- HAIRGLOSS
to de zinco, licor carbonis detergens ILC D], ácido salicilico, Util izado em terapias mais fortes, com hid rata ntes
proteínas, vitam inas, aloe •'era). densos, quando os cabelos estão mu ito ressecados, dan ifi-
Os componentes mais importantes de um xampu são cados ou tingidos. Deve-se evita r a to uca térmica ou infra-
os surfactantes, para limpeza, ativos cond icionadores pa ra vermelho por se tratar de calor seco.4
proteção da fibra e modificadores de estabilidade. s.6

FIXADORES OU MOUSSES
CONDICIONADORES Constituem soluções hid roalcoólicas q ue facil itam o
Condicionadores são cosméticos que proporcionam penteado, promovendo a moldagem e o brilho dos cabe-
aos cabelos maleab ilidade pelo decréscimo da eletricidade los. São produzidos à base de resi nas e silicone ou de copo-
estática resultante da deposição de íons carregados posi- límeros não iôn icos e de escassa viscosidade.4
tivamente no fio, que se contrapõem às cargas negativas
induzidas pela escovação e pelo penteado. Redu zem, ain-
da, a fricção entre os fios de cabelo med iante o aumento LAQUÊS
da adesividade das escamas das cutículas ao fio. A fórmula São produtos que permitem fixar o cabelo na posição
básica dos cond icionadores deve conter: proteí nas hid ro- final do penteado, promovendo ma ior du ração do efeitO
lisadas, ceramidas, matérias graxas, silicone e compostos estético. São constituídos de polivinilpirrolidona; atu al-
quaternários.s.6 mente, tem sido utilizada uma nova res ina de copolimeros
acrilados.4
Propriedades dos condicionadores
• Condicionamento: el iminação de cargas elétricas. Po- TINTURAS
límeros catiõnicos, proteínas hidrolisadas e sil icones, A cor dos cabelos é determinada pelos melanócitos e n-
como a d imeticona, contêm alta viscosidade e proprie- con trados apenas na área da matriz do foliculo, na base do
dades cond icio nadoras. córtex, acima da papila folicular. O pigmento melãnico é
• Formação de filme lubrificante: o pantenol é absor- encontrado no córtex do pelo e somente transferido para
vido pelo fio e atua como umectante, promovendo hi- as cél ulas cort ica is na fase a nágena.
d ra tação. Existem do is tipos de pigmento melãn ico: a eu melan i-
• Facilidade de pentear: o co ndicionador desembaraça os na, e ncontrada em cabelos escuros, e a feomelan ina, q ue
cabelos e cobre o fio com uma fi na pelícu la que d iminui predomina nos fios de cabelos lo uros e ruivos. A tO nalida-
sua rugos idade, amaciando-e devolvendo ao fio a malea- de dos cabelos é determi nada pela quantidade de eu mela-
bilidade e a suavidade. nina e feomelanina.
• Brilho e redução da fragilidade: os cabelos readqu irem Os cabelos brancos são co nsequência natural do e n-
o brilho e a oleosidade e o pH natu ral do fio compro- velhecimento devido à progressiva redução da fu nção do
metido pela ação detergen te do xampu são restabeleci- melanócitO e, em menor grau, de seu número. s.J
dos .s.6 O uso de tintura para os cabelos é un iversa l. São ra-
ras as reações alérgicas e não têm potencial cancerígeno.
LEAVEIN Podem, no entanto, causar ressecamemo e lesões na haste
do fio, como tricorrexe nodosa.s."
Trata-se de um processo util izado para desembaraçar e
facilitar o penteado. Leatlt! in é um condicionador te rmoa-
tivado, protetor térmico, q ue contém em sua fórmula subs- Classificação das tinturas
tâ ncias hidratantes que só são liberadas no fio ao serem • N aturais: são tinturas obtidas a parti r de vegetais:
aquecidas por secador de cabelos o u por placas, formando - Hen na<B>: obtida do pó das fol has da planta Lawsonia
uma película protetora ao redor do fio. Permanecem nos alba, cuj o uso remonta à terceira d inastia do Egito,
fios após lavagem, protegem e aumentam a resistência e há 4.000 anos. Produz corante alaranjado, aplicado
86 PARTE IV • Cosméticos e Cosmecêuticos

nos cabelos em forma de emplasto, de ação duradou- chas são separadas por pente e prancha, onde é aplicado o
ra e resistente. produto descolorame.
- Camomila: extra ída das flores secas de Arthemis no- O uso contínuo dos descolorames deixa os cabelos
bílis e da Matricaria chamomil/a, contém o corante sem brilho e quebradiços.;
amarelado apigeni n, que produz rom alou rado nos
cabelos. É utilizada em xampus e cremes rinses.
- lndigo: obtido das plantas ind igófera, sálvia, ru ibar- PERMANENTES
bo e al hena, com poucas cores variadas; não lesa a A~ permanentes têm por objetivo a formação de cachos
queratina•·s nos fios, utilizando escovas de pequeno diâmetro ou rolos.
o Graduais: utilizam corantes metá licos, como sais de O processo a ser realizado pode ser:
ch umbo, bismuto o u prata. As partículas do metal in- o A q uente: há ruptura das pontes d issulfuradas e neofor·

teragem com res íduos de cisteina dentro da cutícula, mação de novas pontes. Causa ressecamemo e perda de
formando su lfetOs cujas part ículas se depositam lema- brilho.
mente nos fios dos cabelos, que vão gradualmente escu- o A frio o u química: não altera a estrutura intima do fio

recendo para a cor amarelo-acastan hada e depois para do cabelo.


o castanho-escuro. Os cabelos ficam opacos e quebradi-
cos."·12

Há ruptu ra das pontes de enxofre (redução) e recons-
o Tempo rárias: os corantes têm elevado peso molecular titu ição dessas pontes (oxidação). O processo de redução
e não penetram a cutícula. Colorem superficialmente é feito por agentes redutores ou por agentes alcalinos que
os fios e são facilmente eli minados com a lavagem. Não alteram a estrutura dos fios, reduzi ndo as ligações dissul-
agridem os fios por não conterem oxidames. São apre- fídicas com a quebra das pontes de cistina, deixando-os
sentadas sob a forma de géis, espumas o u xampus. maleáveis para serem moldados da mane ira desejada.
o Sem ipermanentes: contêm pequenas molécu las quepe- A~s i m, ao ser penteado, e le alisa; ao ser enrolado, forma
netram a cutícula. São boas tinturas ronalizames e revi· cachoss
ta lizam a cor original, intensificando-a. São usadas para
escurecer e não têm o poder de clarear, por não come-
rem amô nia. A cor sa i naturalmente com o processo de ALISAMENTO
lavagem. Os alisames têm o objetivo de rornar liso o cabelo
o Pe rmanentes ou definitivas: a coloração é processada crespo. Transformar a queratina alfa em queratina beta
dentro das fibras capilares como resu ltado da oxidação (forma estirada). Para isso, são usados secadores potentes,
promovida pelo peróxido de hidrogênio. Esse método chapas de metal ou cerâm ica e escovas modernas. O alisa-
pode clarea r ou escurecer os cabelos, oferecendo maior mento é temporário, mediante a modificação das pontes
gama de cores. de hid rogên io. Em maior ou menor grau, esse procedi-
Utilizam-se o peróxido de hid rogênio, que é oxidan- mento dan ifica a estrutura capilar. Os cabelos devem ser
te, e a amônia, que altera a cutícula pa ra o oxidame hidratados e revitalizados. Denomina-se queratin ização
penetrar e alterar a cor do fio, substituindo os pigmen- o tratamento que tem como função reestruturar o fio,
tos naturais por seus corantes art ificiais . A cor só sa i repondo a queratina que é eliminada nos processos de
quando os cabelos crescem.12 alisamento ou permanente, tintura ou mesmo pela ação
o D esco ran tes: os descorantes são utilizados para clarear do sol, cloro e sal.;
permanentemente o cabelo, oxidando a melan ina do
córtex. Alteram a estrutu ra da cutícula e fragilizam o
fio, tornando-o quebradiço. Existem três tipos de desco- PERUCAS
lorames: em óleo, em creme e em pó, aos quais é acres- O uso de perucas está ind icado em casos de alopecia
centado o peróxido de hidrogênio. Os descolo rames irreversível ou muito graves. As perucas melhoram a q ua-
penetram a cu tícula do fio . lidade de vida, uma vez que os cabelos têm importância
inquestionável na aparência e na autoestima das pessoas.
O processo de descoloração se dá sob três formas: lu- Elas podem ser fixadas com grampos ou ades ivos. Entre
zes, reflexos e balaiagem. No processo de luzes é usada uma os tipos de perucas dispon íveis, há o entrelace, uma peruca
touca de sil icone com orifícios através dos quais os cabelos fixa na haste do cabelo, e o megahair, constituído de tufos
são puxados com ganchos metá licos. Para os reflexos, as de cabelos colocados com silicone de modo a aumentar o
mechas dos cabelos são separadas ma nualmente e envolvi· comprimento. Esse tipo de peruca pode levar à alopecia
das em papel lam inado. No processo de balaiagem, as me- de tração•
Capítulo 16 • Cosméticos para Cuidados com os Cabelos 87

DIETA ADEQUADA E VITALIDADE DOS Referências


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da identidade. cosmecêuticos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
Cosméticos para Unhas
Sand ra Lyon

Os cosméticos para unhas têm por objetivo rea lçar sua A renovação completa de uma un ha da mão ocorre em
beleza. Os cuidados com as u nhas constituem h ábi tos so- cerca de 6 meses e das unhas dos pés, 12 meses.
ciais, os q uais são fu ndamentais para manutenção d a au- A velocidade de crescimento é influenciada por d iver-
toestima das pessoas, representando, ainda, uma forma de sos fatores, como desnutrição e doenças metabólicas e sis-
adorno e de expressão pessoal d itada pelas tendências da têmicas. Ao nascimento, o crescimento é lento e aumenta
moda. Ass im, os tratamentos cosméticos e cosmecêuticos d urante os pri meiros anos de vida, atingindo o pico máxi·
incluem u nhas esmaltadas, un has artificiais, alongadores mo entre a segunda e a terceira década de vida e dimin uin-
de un has e produtos d e tratamento. do após os 50 anos de idade.;
A velocidade de crescimento das unhas está aumenta-
da em casos de gravidez, psoríase, on icofagia, traumatismo
CARACTERÍSTICAS DA LÂMINA UNGUEAL dos dedos e ingestão de retinoides orais e itraconazol. 6
A lâmina u ngueal é constituída de uma proteína fila-
mentosa de baixo teor de e nxofre, a q ueratina, imersa em
uma matri z amorfa e composta por pro te ínas de alto teor
COSMÉTICOS PARA UNHAS
de e nxofre ricas em cistina. A lâmina ungueal contém ain- Esmaltes
da água, lipíd ios e o ligoelementos. Os esma ltes são produtos constituídos por solvente vo-
As q ueratinas da unha contêm 80% a 90% de q uerati· látil e pigmentos suspensos. Formam um fil me brilhante
na dura, do tipo pilar, e 10% a 20% de queratina mole, do e flexível que se deposita na superfície da u nha. Os pig-
tipo epidérmica.' Em cond ições norma is, a água represen- mentos utilizados para formar a pelícu la colo rida podem
ta 18% do peso tOtal da lâm ina e está localizada na porção ser minerais, o rgâ nicos na turais ou sintéticos e perolados 7
intermediária 2 A lâmina ungueal contém menos de 5% de Os componentes dos esmaltes são:
lipídios, sobretudo colesterol, e traços de oligoelementos, • Formadores de filme (1 5%), à base de nitrocelulose.
em particular ferro, zinco e cálcio.1 • Resi na termoplástica (7%) para promover a adesão en-
A lâmina u ngueal é dura, elástica, flexível e resistente. tre o esmalte e a unha, sendo utilizada a resina de fomal-
A du reza e a resistência são devidas ao elevado conteúdo deído to lueno su lfonamida (TSFR).
de queratina dura e d e proteínas ricas em enxofre, enq uan- • Plastifica nte (7%) como d ibutil ftalato e cânfora.
tO a elasticidade e a flexibilidade são consequentes à pre- • Diluentes (70%) para que componentes do esmalte per-
sença de água e aumentam com a h id ratação da lâmina• maneçam na forma líqu ida . São utilizados butiltolueno,
O crescimento da lâmi na u ngueal é contínuo por toda acetato de etila e álcool isopropílico.
a vida. A~ unhas das mãos crescem mais rapidamente q ue as • Mod ificadores de viscos idade: substâncias tirotrópicas
unhas dos péS, sendo a velocidade de crescimento méd ia de como esteralcõnio hectorite.
3m m/ mês para unhas das mãos e I mm/mês para as dos péS. • Pigmentos (0% a I%): são adi tivos de cores.7•8

88
Capítulo 17 • Cosméticos pa ra Unhas

Fortalecedores de unhas Unhas fotocoladas


Os fortalecedores de unhas são produtos que promo- As unhas fotocoladas são formadas de acrílico escul-
vem a força de unhas quebradiças. São formulados a partir pido sobre a placa u ngueal sob luz de magnésio por I a 2
de substâ ncias como q ueratina, vitam inas, cálcio, óleos e mi nutos.
fibras natu rais. Além d isso, é utilizado o formaldeído, na
concentração de I% a 2%, substância q ue pode alterar per- Unhas postiças
manentemente a estrutura da placa ungueal pela reticu la-
Un has postiças são unh as sintéticas pré-moldadas, as
ção da queratina.9
qua is são aplicadas sobre a u nha natural com o uso de cola
à base de etilcianoacrilato 8 •9
Removedores de esmalte
ProdutOs utilizados para remoção do esmalte, os remo-
EFEITOS ADVERSOS DO USO DE
vedores contêm solventes como aceto na, álcool, acetatO de
etil ou acetato de butil. Há removedores condicio nantes,
COSMECÊUTICOS PARA UNHAS
com material lipídico, como álcool cetílico, cetil palmitato, Dermatite ectópica
lanolina, óleo de rícino ou outros óleos sintéticos. Os remo- A dermatite de contato alérgica ao esmalte é comum e
vedores cond icionantes agem como hidratantes das unhas.7 se apresenta como rubor, edema e dor nas fa langes dista is,
podendo evolu ir com onicólise. Ocorre dermatite a d istâ n-
Removedores da cutícula da unha cia, e as áreas comumente mais afetadas são as pálpebras
Os removedores de cutícula têm como objetivo des- e metade inferior da face, as latera is do pescoço e a parte
trui r a q ueratina, el iminando as ligações de d issulfeto de superior do tórax.
cistina. Esses produ tos contêm materiais alcalinos em base O principa l alérgeno nos esmaltes de unhas é a resina
liquida o u cremosa, sendo os mais usados o h idróxido de tem1oplá~tica (fSFR), resina secundária formadora de filme,
sód io e o hidróxido de potássio, na co ncentração de 2% a o formaldeido wlueno sulfonamida. Esferas misruradoras de
5%. Umectantes como glicerina e propilenoglicol podem n íquel, colocadas nos vidros de esmaltes de unha para manter
ser adicionados para d iminu ir a irritação e a evaporação de o estado liquido, podem causar reações a d istância e o nicólise.
água, bem como para aumentar a viscosidade. O esmalte de unh as hipoalergên ico, no qua l é usada
Existem formu lações ma is suaves q ue contêm sa is inor· res ina de poliéster ou butirato acetato de celulose, d iminu i
gâ nicos de fosfato trissód ico ou pirofosfato tetrassód ico. dermatites de natu reza alérgica, podendo ainda apresentar
Bases orgân icas com trolamina (trielanolamina) po- sensib ilidade. Os testes de contato alérgico (patch. test) estão
dem ser usadas. 7 ind icados.
O uso de esmaltes pode levar à descoloração da lâm ina
u ngueal devido ao uso de pigmentos d issolvidos no esmal-
Hidratantes para as unhas
te, em vez de pigmentos em suspensão, mais comumente
As u nhas sofrem ressecamento em razão do contato em esmaltes vermelhos. O tratamento indicado co nsiste na
com água, sabões e detergen tes, necessi tando, portanto, descontinuação do uso do esmalte.
de cremes e loções h idratantes. São util izados vaselina, la- Manchas brancas finas e superficia is (granu lações de
nolina e propilenoglicol. A ma ioria das preparações hidra- queratina) e pseudoleuconíquia podem ocorrer, quando se
tantes para unhas contém alfa-hidroxiácidos, ureia e ácido aplicam novas camadas de esma lte sobre as camadas anti·
lático. Para manter a um idade e h idratação das u nhas são gas, sem o uso de removedor.
usados ainda ó leos de jojoba, pantenol, b isabolol, vitami· Por outro lado, o uso de esmal te fun ciona como uma
nas e aminoácidos.7•8 barreira fís ica, impedindo o contato diretO com sabões e
detergentes e as agressões da radiação ultravioleta, respo n-
REVESTIMENTOS DAS UNHAS sáveis pela sindrome das unhas frágeis 1 0•11
Outros efei tos adversos de cosméticos para un has:
Unhas esculpidas o Enrijecedores de u nhas: o uso de fonnaldeído pode pro-

As u nhas escu lpidas co nsistem em unhas moldadas vocar dermatite de contatO alérgica, dermatite de contatO
sobre a u nha natural, podendo ser de porcelana, gel o u por irrita nte primário, onicólise, querawse subungueal, he-
acrílicas. Nas un has acrílicas é usada a combinação de mo- morragia subungueal reversível, coloração azulada da placa
nõmenos líqu idos e pol ímeros em pó. As u nhas em gel são ungueal, o nicalgia e ressecamento da lâmina ungueal.
misturadas à base de etilcia no acrilato e mô nomeros de o Removedores de esmaltes: dermatite na região periu n-

polimetilmetacrilaw. gueal, fragilidade da lâmina u ngueal, un has secas e


90 PARTE IV • Cosméticos e Cosmecêuticos

q uebrad iças e onicosquizia. Deve-se evi tar acewna para O cu idado com as unhas pode ajudar a manter sua
remover o esmalte das u nhas e utilizar etilacetato, emo- função, embelezamento e saúde.
lientes e óleos, que ajudam na hid ratação.
o Removedores de cutículas: provocam dermati te de con-
tato e dan ificam a lã mina ungueal devido à superidrata- Referências
ção e ao amolecimento. 1. Lynch MH, O'Guin WM, Hardy C et ai. Acidic and basic hair/nail
{" hard") keratins: their co-localization in upper cortical and cuti·
o Hidratantes da lâm ina ungueal: a ureia, ácido lático,
ele cells oi the human hair lollicle and their relationship to "soft"
lactato de amõnio e ácidos alfa-hidroxi podem ca usar keratins. J Cell Biol1986; 103:2593-606.
dermatite de contato e ardor. 2. Jemec GBE, Serup J. Ultrasound structure oi the human nail
o Alongadores ungueais: as unhas de plástico podem ca u- plate. Arch Dermatol 1989; 125:643-6.
sar dermatite de co ntato em razão da utilização de cola 3 . Runne U, Orfanos CE. The human nail. Curr Probl Derm 1981;
9:102-49.
à base de metacrilato e mistura acrílica (monõmero de
4 . Finlay AY. Frost P. Keith AD et ai. An assessment oi lactors in-
polímero) para adesão. l luencing llexiblility oi human lingernails. Br J Dermatol 1980;
o As unhas fotocoladas podem provocar foto-on icólise e 103:357-650.
parestesias, e a remoção traumática pode a inda levar à 5. Bean WB. Nail growth: 30 years oi observation. Arch lntern Med
1974; 134:497-502 .
on icosqu izia e ao píttíng unguea l.
6 . Berker D, Augus B. Prolilerative compartment in the normal nail
o As unhas artificiais podem levar a prurido no leitO unit. Br J Dermatol 1996; 135:555-9.
ungueal, onicalgia, pa restes ia, on icólise, pa roníquia 7. Baran R, Schoon D. Nail beauty. J Cosmetic Dermatol 2004;
e dermatite de contato, além de aumentar a poss ibi· 3:167-70.
8 . Draellos ZD. Nail cosmetic issues. Dermatologic Clinics 2000;
lidade de onicomicose e o risco de infecções bacteria-
18(4):675-83.
nas.'o.n
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2009. Emedicine.mescape.com
-
CONSIDERAÇOES FINAIS
10. Baran R, André J. Side effects oi nail cosmetics. J Cosmetic
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11. Nakamura R, Bagatin E, Leverone AP. Guadanhim LRS. Unhas.
O uso de cosméticos e cosmecêuticos pode influenciar In: Tratado internacional de cosmecêuticos. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Koogan, 2012.
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da lâmina ungueal e da cutícula e traumas constituem fato- Castro MCR. Fundamentos de dermatologia. Rio de Janeiro:
res que acarretam distrofias ungueais. Atheneu, 2010.
Formulações Básicas em Dermatologia
Sandra Lyon

A pe le, como órgão mais externo Jo corpo huma- APRESENTAÇÃO DAS FORMULAÇÕES
no, ;erve como sistema primário Je Je(esa. Entre as As formulações para os cuidados com a pele JXXlem ter
muita; (unções importante> executatla:. pelo tegumen- apresentaçtie:. Jiver:.ificada~ conforme o veiculo e a forma
to encontra-se a permeabilidaJe da barreira epidérmi- farmacêutica. A., principais fom1as farmacêutica., ~ão:
ca, que controla o movimento tramcutãneo de água e • Soluções: produtos obtidos pela incorporação de um
eletróliros. sólido, um liquido ou um gáS em outro liquiJo, consti-
A pele saudável, com suas camaJas anatomicameme tuindo uma miswra homogênea. As soluçtie.~ são utiliza-
Ji(eremes, pode ser permeável a várias substâncias e é a(e- das para as (ases agudas das dermatOses sob a forma de
tatla por contliçties do meio e trauma fís ico, e esta permea- compressas o u banhos. As suspensões são (ormulaçi\es
hilidaJe pode ser aumentada por vários agente.~. permi- em que há a solu hilização incompleta do sol um, o qua l
tintlo a absorção de medicamentos tópicos. A hitlratação permanece suspenso no solvente, precipitando quando
aumenta a permeabilidade do estrato córneo.' em repou~o. É. necessário agita r a formulação antes do
A capacidade de atravessar a barreira cut..'inea é ine- uSQ. 1 0:. vernizes constituem uma forma especial de Ml-
rente às propriedades dos produto.'>, cujos princípios ativos lução que apresenta um dispersante em duas (a_.,es: uma
podem ser de origem animal, vegetal e mineral, os quais volátil e outra que permanece no tegumemo, (ormanJo
apre..,entarão di(eremes capacidades de penetração percu- um mme com o;, ativos (p. ex., esmaltes terapi':utico:.).1
tãnea, em ordem decrescente: • Coloide: (ormulaçõe.~ que apresentam ela.,ticidade
• Contatação: quando o produto atinge apenas a camada quando pertlem o componente volátil (p. ex., colódio
emu lsionada. elástico salicilado para tratamento de verru~:as).
• Permeação: quando atinge até a camada lúcida. • Pós: (ormulaçôes constituídas de pequenas particulas
• Abso rção: quando penetra wdas as ca madas do tegu- inorgân icas q ue ahsorvem moléculas de água (p. ex., pós
mento.2·1 antissépticos).
• Po madas: formu laçtie,~ à base de óleo.~. cera~ e graxas e
A formulação magistral tem sido ha:.tante utilizada na com baixo teor de água. As pomadas graxa~ têm como
terapi!utica dermatológica e é considerada uma ane. caracterbtica principal a untuosidade, já as hiJro(ilica~
A (onnulação varia conforme :.ua CinalidaJe e apre- são umectame.~ e higroscópicas e apresentam na comJX'l-
senta características particulares. Para o de.'>elwolvimemo sição a lanolina etOxilada.
de uma formulação magistral é u...ado um veiculo ou exci- • Emulsão: preparação re.sultame da disper:.ão de um
piente e os princípios ativos. Esses ati\\)> :.ão incorporados liquido "imbciwl" no seio de outro devido à ação de
no veiculo, além de ingrediente.~ auxiliare:., conservame.~ um ageme emulsi(icame. As emulsões con;ricuem for-
e fragrâncias. Os pri ncípios ativos confê'rem ao produtO a mulações com duas Cases não misciveis que se dbper:.am
atividade terapêutica da formulação.• pela ação de um emu lsi(icante. As emul~ões podem ser

91
92 PARTE IV • Cosméticos e Cosmecêuticos

líquidas (leites) ou pastosas (cremes) e, de acordo com transparentes e com altas viscosidade e estabilidade em
o predomín io do meio dispersante, são classificadas pH de 4 a 9. Ao contrário dos polímeros trad icionais,
em emulsões ó leo em água (predomina a fase aquosa) confere sensação agradável à pele, sem toque pegajoso e
e água em ó leo (predomina a fase o leosa). Atualmente, estável, até mesmo com ativos d ifíceis de trabalhar.
são encontradas emulsões trifásicas: água/óleo/água ou o Gel siliconizado: base segura e estável que permite for-
ó leo/água/óleo. Às emulsões são incorporados princí- mulações contendo ampla variedade de pri ncípios ati-
pios ativos de acordo com a formulação, a solub ilidade, vos e apresenta excelentes propriedades sensoriais.
o pH e a ação desejada.6 •7 o Gel-creme: emu lsão com alta porcentagem de água e
o Creme: emulsão mais cons istente de aspecto cremoso: baixa porcentagem de óleo, com toque agradável e mui-
o Creme lanette: composto por cera aniônica, forma tO estável.
uma emulsão extremamente estável à qual podem ser o Gel-creme suave: apresenta em sua composição qu ímica
incorporados emolientes, umectantes, hidratantes e o u- a "mante iga de karité" (sltea butter), com propriedades
tros ativos cosméticos. É uma base mais o leosa. hid ratantes, anti-idade e anti-inflamatórias, deixando
o Creme polawax: emulsão composta por cera não iônica na pele um coque suave, seco e mu ito agradável, ideal
também compatível com a ma ioria dos adi tivos com u- para peles o leosas.
mente usados. Menos estável que a loção lanette, apre- o Serum: gel de co nsistência ma is flu ida, o q ue possibilita
senta um toque ma is leve. a aplicação de gotas nos locais de tratamento, tem um
o Creme suave: em ulsão estável q ue permi te formulações sensorial bem leve e agradável.9
contendo ampla variedade de princípios ativos, além de
oferecer boa espa lhabilidade e deixar um toque macio
sobre a pele. CONSIDERAÇOES FINAIS
-
o wção: emulsão ma is líqu ida com aspecto leitoso.
o wção lanette: é o creme lanette mais fluido . A~ formu lações dermatológicas são amplamente pres-
o wção polawax: é o creme polawax mais flu ido. critas, o que corna necessário conhecer os veículos e os
o wção dermatológica 0 / A ou infantil: COntém agente ativos utilizados para q ue o prod uto possa ser cosmetica-
tensoativo de o rigem vegetal com propriedades hidrata n- mente aceitável, além de efetivo e segu ro.
tes, hipoalergenicas e não comedogenicas, deixando a
pele com uma agradável sensação de frescor e suavidade. Referências
o Géis: formulações preparadas a partir de macromolé- 1. Lee SH, Jeong K, Ahn K. An update of t he defensive barrier func-
culas orgânicas, contem dispersantes como hidrofílicos t ion of skin. Yonsei Med J 2006; 47 (3):293-306.
ou hid rogéis, alcoólicos e hid rofóbicos ou oleogéis. As 2. Predeteanu C. The ABC's of cosmetics. M ichigan: lnstitute Pre-
det e, 198Z
substâ ncias gel ificantes ma is comu ns são carbopol, na- 3. Harding CR. The st ractum corneum: structure and function in
trosol e aquagel, com características, solubilidade e pH health and disease. Dermatol Ther 2004; 17 {S1) :6-15.
distintos. 7•8 Assim, o gel consiste em uma preparação re- 4. Anfarmag - Manual de recomendações para aviamento de for-
sultante da dispersão de um sólido em um liquido: mulações magist rais: boas prat icas de manipulaç<io. sao Paulo:
Anfarmag, 199Z
o Gel d e natrosol: gel à base de celulose com caráter an iô- 5. Farmacopeia brasileira. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 1988.
nico, q ue tolera pH ácido, sendo ind icado para incorpo- 6. Fonseca A, Prista LN. Manual de terapêut ica dermatolõgica e
ração de vários ativos. cosmet ologia. São Paulo: Roca, 1984.
o Gel carbopol: formu lação à base de um polímero an iô- 7. Ponzio HA, Azevedo LP. Principias das formulações dermatológi-
cas. In: Ramos-e-SilvaM, Cast ro MCR. Fundamentos da derma-
nico para veiculação de ativos dermatológicos. É incom-
t ologia. São Paulo: At heneu, 2010.
patível com agentes fortemente ácidos. 8. SouzaVM . Ativos dermatológicos. São Paulo:Tecnogress, 2004.
o Gel aristoflex: gel à base de um polímero sintético pré- 9. Ferreira AO. Guia prático da farmácia magistral. Juiz de Fora: Ed.
-neutralizado, fácil de preparar. Dá origem a géis aquosos Anderson O liveira Ferreira, 2002.
PARTE V

DESPI GMENTANTES
Despigmentantes
Sa ndra Lyon
Julia na Cunha Sa rubi

Uma das maiores preocupações estéticas e de d ifícil O pigmento melãnico compreende dois tipos de me-
manejo, as hipercrom ias são o resultado da prod ução exa- lan ina, que habitualmente se apresentam em mistura: a
gerada de melanina. eumelam ina, polímero marrom derivado da conversão da
Os melanócitos originam-se da crista neural e migram tirosina, e as feomelan inas, compostos amarelo-averme-
para a epiderme, onde produzem a mela nina, o ma ior pig- lhados, q ue também se o riginam da tirosina, na q ual um
mento natu ral da pele, responsável por absorver a rad iação composto intermed iário, a dopaqu inona, combina-se com
e pro teger a pele da luz u ltravioleta. cisteina o u glutationa, formando cistenildopa .
Os melanócitos são d istribuídos na proporção de uma A eu melan ina é responsável pelo pigmento casta nho ou
célu la para cada q uatro a dez queratinócitos basais com negro e a feomelanina, pelo pigmento amarelo-avem1elhado.
variações regionais, apresentando densidade máxima na
região genital. SÍNTESE DA MELANINA (FIGURA 19.1)
A melani na é produ zida pela atividade en zi mática da
tirosinase a partir da tirosina e a rmazenada em un idades
denom inadas melanossomas. Cada melanócito forma 36 Tirosina
querati nócitos adjacentes, a unidade de melanina epidér·
mica.'·1
l
Tirosinase
A quantidade de melan ina presente nas célu las basais ~
varia e ajuda a determinar a cor da pele. O n ümero de mela- Dopa
nócitOS varia nas d iversas regiões d o corpo e aumenta após
a exposição repetida à luz ultravioleta. A~ variações étnicas
l
Tirosinase
na pigmentação da pele são causadas, principa lmente, por ~
d iferenças na atividade dos melanócitos e na distribuição Dopaquinona
dos melanossomas na epiderme, e não por d iferenças no
número de melanócitos. No entanto, a cor da pele não ~
Oxidação
depende apenas da melanina, sendo influenciada também
~
por outros pigmentos, como os ca rotenoides (amarelos),
pigmentos dérmicos como a oxiemoglobina (vermel ha) e a
I Melanina I
l l
hemoglobina red uzida (vermel ho-azu lada). A cor da pele é
o resultado de fenômenos de re flexão da luz sobre a pele
.---E-u-
m-e-la- 'l
n~in_a__ F_e_o~m-e-la-n-in_a__'
r i_ _

e depende, portanto, além da presença maior o u meno r


desses pigmentos, de o utros fatores, como espessura da epi- Figura 19.1 Síntese da melanina. (Fonte: adaptação de Sulai-
derme ou do tecido conjuntivo subjacente.1•4 mon et ai.)

95
( 96 PARTE V • Despigmentantes

O sol emite radiaçi'les compo,tas de raios infra,·erme- PRINCIPAIS DESPIGMENTANTES


lhos, visíveis, e ultravioleta (UV), que afetam a pele. Os
raios UVB são re.'>J.Xlthâveis pdo bronzeamento e, ao longo Hidroquinona
do tempo, contribul!m para o envelho.!Cimento cutâneo e o A hidroquinona é um compo;.to fenólico que apresen-
desenvolvimento de câncer de pele. ()., raio:. UVA pene- ta a capacidade de inibir a atividade da tir<}:)ina:.e em 90%,
tram mais profundamente a pele e são re.ponsáveis pelos reduzindo a convers.'io de dopa em mdanina.
danos crônicos, particularmente o envelhecimemo cutâ- Ourros mecanismos de ação de~'a ,uh~tância são: de.v
neo e o desenvolvimento do câncer. rruição dos melanôcitos, degradação do,., mdano:..-.oma:. e
Os raios UV e'>timulam (}:) melanócito:. ativos e a ti- inibição da síntese de DNA e RNA.s
rosinase, levando à produção aumentada da melanina, o A hidroquinona, utilizada na conc~ntração mâxima de
que acarreta hronzeaml!nto, fotoenvelhecimemo e hiper- 4%, apresenta efeitOS adversos, como dermatite de conta-
crom ias. tO, fotossensibilizaçiio, despigmentação em confere e ocro-
A~ hipercromias exigem tratamento com base na utili- nose. Não pode ser utilizada na gravid~z.
zação de filtros solares e agentes tlespigmema ntes. Quando util izada na concentração de 2,5% como
componente da fórmula de Kligman associada à tretinoina
a 0,05% e com corticoide tópico (dexa metasona a 0,05%),
AGENTES DESPIGMENTANTES aumenta o poder despigmenta nte e dim inui os efeitos ad-
Despigmenmntes são substâ ncias que atuam direta- versos.M
mente na região discrOm ica hiperpigmematla. A maior
parte dos desp igme nrantes utiliza in ibidores da tiros inase lnibidores da tirosinase (Quadro 19.1)
para reduzir a produção d e melanina. Os despigmemames
devem ser aplicados à no ite. Arbutin
O arbutin é um derivado da hidroquinona ligado à
glicose (hidroquinona-bew-D.gl icopi ranosideo) extra ido
Mecanismo de ação das folhas uva-ursina (Arctosraphylos ul'll uni). De~sa' folha.~
Duran te da síntese de melanina pode ainda ser e.xtraida a metilhutina, que t~m proprieda-
L lnibidores da tinhinao,e: des dareadoras da pde. A arhutina age principalmente me-
• Hidroquinona diante a inibição da atividade da tiro,ina.-.e melano~-.ômica
• Arbutina e pela supressão da síntese da tinhina.-.e. A concentração
• Ácido azdaico ideal é de I% a 3%, e o seu efeito dareador é potenciali-
zado quando se utiliza a alfa-arhutina na concentração de
• Ácido fítico
0,2% a 2%. 5
• Ácido kójico A arbutina não deve ser associado a âcido e à hidroqui-
• Aqua licore JYr nona, pois atinge melhor efeito com pll de 5 a 8.
• Melfade
• Melawhite Alfa-arbutin
2. Rewrsão das reaçôes de oxidação
O alfa-arbutin, uma versão mais nova e moderna da
• Vitamina C (âcido L-a.~córbico) beta-arhutin, é um ingrediente ativo puro, hidrossolúvel e
• Asco rb il fosfatO d e magnésio (VCPMG) b iossintético. Atua bloqueando a hiossí ntese da melanina
Após a sín tese de melan ina mediante inibição da oxidação enzimática da tirosina a
• Degradação da tin)s inase: dopa. Estn.1 tu ralrneme, a alf.'l-arhutina (4-hydroxiplumyl-al-
- Ácido linoleico pha-D-glucopyranoside) é um alfaglicosideo. A ligação alfagli-
cosideo oferece maio res estab ilidade e eficácia que a forma
• Inibição da transfer~ncia dos melanossomas:
beta do arbutin. A concentração reco mendada é de 0,5%
- Soja
a 2%, e não est.1 indicado para gr:\vidas o u mulhere.~ no
- Nicorinamida periodo da amamentação.
• Dispersão dos grânulos de mdanina:
Ácido retinoico -
Acido azelaico
- Ácido glic<\lico O ácido azelaico é um ácido dicarhoxilico saturado,
- Ácido lãtico não ramificado, atóxico, derivado do Piryrosponrm ol'llle.
- Ácido mandélico Não apre.~enta fotossensibilidade, pod~ndo :.er usado du-
Capítul o 19 • Oespigmentantes

Quadro 19. 1 lnibidores da t irosinase

Ativos Considerações ConcentraçAo usual pH de estabilidade

Hídroquínona • Ação imediata: inibe a t irosinase (90%) 2% a 4% 3,5 a 5,0


• Ação tardia: acelera a degradação do melanócit o
• Altas concentrações e/ou uso prolongado:
- Hipopigment ação definitiva
- Ocronose exógena (raro)

Arbutín natural; • Ação inibidora da tirosinase 1% a 3% 5,0 a 8,0


extraído da uva-ursi • Baixo potencial de irritação

Ácido azelaico • Diminui a hiperat ividade dos melanócitos 20% 3,5 a 4,5

Ácido trtico • Forte propriedade de quelar íons cobre e ferro 0,5% a 2% 4,0 a 4,5
natural: derivado de • Antioxidante
cereais • Hidratante
• Bem tolerado em peles sensíveis

Aqua Licorice PT" • Reduz em 50% a at ividade da tirosinase 0,5% a 1o/o 5,0 a 7,0
Natural: extraído da raiz • Ação ant ioxidante e bact eriostática
da G/ycirrhiza glabra • Apresent a baixo potencial irritat ivo

Vitamina C - • Reverte as reações de oxidação, lo/o a 3% 3,0 a 4,0


Ácido particularmente tirosina a dopa
L-ascórbico • Potente antioxidant e
• Ação na fotoproteção
• Estimulo de síntese de colágeno
• Clareador importante para área dos olhos e
trat ament o do fotoenvelhecimento

Ácido retinoico • Aument a a renovação da epiderme • 0,01% a O, 1%, uso diario 4,0 a 5,5
• I nibidor competit ivo da tirosinase • 3% a 5o/o, peelings

Ácido glicólico • Promove a esfoliação química dos corneócitos • 5% a 10%, uso diário 2,8 a 3,7
hiperpigmentados • 50% a 70%, peeling Peeling de ácido glicólico:
• Combinado com despigmentant es, afina 30% pH = 1,3
a córnea, facilitando a penetração do 50% pH = 1,2
despigmentante até o melanócito 70% pH = 0,5

Fonte: autoras.

rante o dia, e não tem tOxicidade sistêmica, podendo ser - kójico


Acido
usado por gestantes.
O ácido kój ico, um inib idor da tirosinase derivado
O ácido azelaico é um inibidor da tiros inase e inibidor
de fungos como Aspergillus e Penícillíum, é usado como
competitivo das enzimas de oxidorredução. Além da ação
conservante al imentar para impedi r o escurecimento e o
despigmentante, exerce ação amisseborreica e amiacnei-
apodrecimento de morangos. Inibe a ação da tirosinase
ca. A concentração ideal é de 20%. Associações possíveis:
através da quelação de íons cobre e promove a d imin ui-
ácido retino ico e hidroqu inona. Deve-se evitar associar
ção da eu melanina. Utilizado na concentração de I% a
VCP-MG e gel carbopol.s·9
3%, pode ser associado a ácido retinoico, ácido glicólico
- fítico e hidroqu inona. Não deve ser associado a VCP-MG e gel
Acido carbopol. s,,,
O ácido fítico, ou hexofosfato de inositol, é um princí-
pio ativo retirado de cerea is como arroz, aveia e germe de
trigo. Inibe a ação da ti ros inase e é um agente antioxidante Aqua licorice PT
e sequestra nte de ferro e cobre, podendo ser utilizado em Obtida da ra iz Gl:ycyrrhi~a glabra línneva, licorice (alca-
produtos despigmentantes e anti-idade. Pode ser associado çuz), a aqua licorice PT é um extrato vegetal com importan-
ao ácido glicólico, sendo utilizado nas concentrações de te papel despigmentante. Pode ser associada a aden in e é
0,5% a 2%_S.IO utilizada na concentração de 0,5% a I%.11
PARTE V • Oespigmentantes

Vitamina C Me/fade
A vitamina C é um amioxidante enco ntrado, princi- O melfade constitui um extratO vegetal da uva u rsina e
palmente, em frutas cítricas e vegeta is de folh as verde-escu- bearberry (Arctostaplrylos ut~a-ursi) util izado na concentração
ras . Existem três formas de vitam ina C: ácido L-ascórb ico, de 2,5% a 8%. In ibe a ação da tiros inase, degrada a mela-
ascorbila-6-palmitatO e ascorbil fosfato de magnésio. nina já formadan
Apresenta propriedades despigmemantes, interferindo na
síntese de melan ina por meio da interação com os íons de DOA White
cobre no local ativo da tirosinase e redução da dopaqui-
Ácido octadecenodioico, clareia a pele med iante a redu-
nona.
ção da síntese da mela nina. Apresen ta também ação anti-in-
Concentração: I% a 3%. Pode ser associada à arbutina
e ao antipollon HT.'o.tz flamatória e anti-idade. É utilizado na concentração de I%.

Melas/ow
Reversão das reações de oxidação
Extrato d e Citrus reticulata blanco (ta ngerina japo nesa),
VC-PMG apresenta ação inibidora da melanogênese. É util izado na
O ascorbil fosfato de magnéS io (VCPMG), um deriva- co ncentração de 5%.
do da vitamina C com maior estabilidade qu ímica e q ue
in ibe a tirosina, é util izado na co ncentração de 2%, pH 7 Chromabright
a 8 e apresenta incompatibil idade de associação com ácido
De ação dareadora semelhante à h idroquino na, mas
azelaico, ácido kójico, ácido glicólico, tretino ína, isotreti-
sem a tOxicidade dsta, in ibe a ação da tirosinase. Mais efi-
noína e hidroquinonan
caz que o ácido kójico e a arb utina, não é fowssensivel.
Apresenta também ação fotopro terora. É utilizado na con-
AA2G centração de O, I% a 0,5%.
Vi tam ina C pu ra e estável, é util izada na concentração
de 2%n Synovea HR
Apresenta como componente ativo o Hexylresorcinol,
Ascorbosilane C derivado fenólico que tem efeito antioxidante e clareador.
Ácido ascórbico puro vetori zado no sil ício orgân ico, Bloqueia as etapas da melanogênese. De efeitO antiglica-
atua combatendo os radicais livres e in ibindo a melano- ção, para proteção do DNA das células e das proteínas da
gênese. A associação da vitamina C aos silícios orgân icos pele, é util izado na concentração de 2% a 5%.
confere maior estab il idade ao ácido ascórbico. É util izado
na concentração de 3% a 5%. Phloretin
De ação amioxidante e despigmemante, é util izado na
-
Acido ferúlico co ncentração de 0,5% a 5%, e também por via oral, na
O ácido ferú lico é um potente amioxidame fenólico dose de 50mg.
e ncontrado em altas concentrações em plantas, principal-
mente no farelo de arroz e de milho. Com alto potencial Cosmocair
fotopro tetOr, age como uma barrei ra de membrana celu lar, O cosmocair é um derivado do am inoácido metil-
imped indo a ação dos rad icais livres e min imi zando os efei- ·hida moina com efei to clareador e anti-idade. Impede a
tos dos d ímeros de timina, agentes carci nogênicos resul- transferência de melan ina dos melanócitos para os querati-
tantes da exposição da pele à rad iação UV. Exerce ação ini- nócitOS e inibe moderadamente a tirosinase. Não irritante
bitória no processo de síntese da melanina. Normalmente da pele, pod e ser usado durante o dia, na co ncentração de
associado ao ácido L-ascórbico, é util izado na concentra- O, I% a 3%-"·12
ção de 0,5% a 10%.
Whitessence
Melawhite Agente despigmentante natura l extraído das sementes
O melawhire é obtido a parti r de extratO aquoso de da jaca asiática, suas proteínas especificas inibem a trans-
leucóci tos e utilizado na concentração de 2% a 5%. ferência de melan ina dos melanóci tos para os queratinóci-
lnib idor da ti rosinase, pode ser associado à arbutina e à tos . Não apresenta forossensib il idade. É utilizado na con-
vitam ina C. 12 centração de 2%.
Capítulo 19 • Oespigmentantes

Antipollon HT do ser utilizado em fototipo;, altos. A concentração varia de


O amipollon IIT é um silicato de alumínio sintético, 5% a 10% em pH de 2,8 a 3,2.11•12
(i na mente granulado, de ação adsorveme de melanina de-
po.'>itada no.-. queratinócito.,. É o único despigmemante de
Ácido tático
ação (bica que atua apó;, a ;intese da melanina (pH = 4 a Encontrado no leite e no tomate, o ácido lático é uti-
10), pode .er a:....ociado a VCP-MG, melawhite, ácido kóji- lizado na concentração de 2% a 5% e é pll-dependente.
co e arhutin. Deve ser evitado seu uso em associação com
gel carhopol e creme• gorduro;.os. 11 •11
Ácido cítrico
Encontrado nas frutas cítricas, nas formulações cosmé-
ticas é muito utilizado como regulador de pll, alo!m de au-
Adenin menta r a efetividade de amimicrohianos e apresemar ação
Adenin (N-fosfori ladenina) rem ação despigmentante antioxidante.
e rejuvenescedora e melhora a aspereza da pele e as rugas
finas. Não aprt>senta fotossensihil idade. Concentração de Ácido mandélico
0,05% a I %. 11 O ácido mandélico, também denom in ado ácido fe-
n ilglicól ico, é obtido por meio da hidrólise do extratO de
-
Acido glicirrízico
amêndoa-ama rga. É utilizad o como agente despigmenta n-
te na co ncen tração de 5% a lO%.
O ácido gl icirrízico é u m derivado do alcaçuz que exer-
ce fu nção regeneradora da pele e anti-i nflamató ria, além Ácido pirúvico
de apresentar efeito despigmentante ind ireto. É utilizado
O ácido p irüvico é convertido na pele em ácido lático
na concentração de 0,5% a 1% em pl I - 1.11
pela ação da enzima lactato desidrogenase. Apresenta alta
penetração no meio lipofílico da pele. 11 •12
-
Acido retinoico
O âcido retinoico é um agente dareador que inibe a Outros despigmentantes alternativos
tran;crição da tiro•ina-.e e a dispersão de grânulos de pig-
A idehenona é um análogo sintético da coenzima Q-10
mentos nos queratinócito.'>. Provoca descamação, acentua a
que apre.~ema propriedade.., amioxidantes e clareadoras. A
renovação de co!lulas epidérmicas e reduz o tempo de con-
molécula da idebenona a.'~emelha--:.e quimicamente à mo-
tato entre os queratinócit<h e melanócitos, promo,·endo a
l&ula de hidroquinona, sem apre.,entar o;, efeitos adversos
perda râpida do pigmento por meio da epidem1opoese. Os
deste.
efeitos adverso., .ão eritema, fotossensihilização, sequidão
A concentração da idehenona pura varia entre 0,5% e
da pele com descamação e desenvolvimento de talangiec-
1%, a da idehenona lighr varia de 5% a 10%, e a cicloidehe-
tasias. A concentração utilizada é de 0,01% a 0,1%. Estâ
nona, de 0,5% a 3%.5
contra indicado na gravidez. 1•12
A IDB lighr (idehenona lipossomada) garame a esta-
bilidade da molécula e otimiza :.ua penetração na pele.
Dispersão dos grânulos de melanina Aná logo da coenzima Q IO com peso molecu lar 60% me-
nor, consegue penetrar até a derme, onde promove sua
Alfa-hidroxiácidos ação antioxidame e despigmentante. É utilizada na co n-
Os alfa-hidrox iácidos são ácidos ca rhoxilicos orgân icos centração de até 10%.
com um grupame mo hidroxi la (·O I I) ligado na posição
alfa do grupa mento carboxila. Os principais al fa-h id roxiá- Ácido tranexâmico
cidns são: ácido glicólico, ácido lático, ácido mandélico, O ácido tra nexãmico e uma substõncia hidrofílica, in i-
ácido cítrico e ácido pirúvico. São produtos utilizados bidora d a plasmina, utilizada como antifihri nol ítico com
como adjuvantes na despigmentação cutânea. É importan- propriedades despigmentantes. É usado em gel, na co ncen-
te a determ inação do p l l da formu lação para garantia de tração de 3%, associada ao uso intraderm ico intrales ional
sua eficácia. 12 na dosagem de 4mg/dL como alternativa no tratamento
do melasma. 11-'i
Ácido glicólico
Pre.'>ente na cana~le-açúcar, o ácido glicólico reduz a es- Picnogenol
pe:s:.ura da camada córnea e a coesão entre os corneóciros. O picnogenol é um derivado do extrato de pinheiro-
Tem ação despigmentante e rejuvenescedora, não poden- -marítimo, francê;,, Pinu.s pma.sr~. cultivado na costa sudes-
PARTE V • Oespigmentant es

te da Fra nça. Este princípio ativo contém bioflava noides: de sua localização na pele, além da escolha dos produtos des-
catequina, epicatequ ina, frutOs ácidos fenólicos (como o pigmentames criteriosa mente combi nados e por fim, obvia-
ácido ferúlico e o ácido cafeico) e taxifolina. É utilizado na mente, da recomendação constante de protetores potentes.
apresentação tópica de 0,05% a 0,2%. A suplementação
de picn ogenol o ral é útil na adjuvãncia fowprotewra por Referências
aumentar a dose e ritemawsa mín ima•s
1. Alberts B, Bray O, Lewis J et ai. Biologia molecular da célula. 3.
ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

-
CONSIDERAÇOES FINAIS
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marrom e azul) são determ inadas por quatro pigmentos -e-Silva MCR. Fundamentos de dermat ologia. Rio de Janeiro:
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necessária a identificação correta do p igmento e nvolvido e prevalência e tratamento, Fasclculos Roc, 2012.
Melasma
Helena Lyon Moreira

Melasma é urna hipermelanose adquirida caracteriza-


da pela presença de máculas irregulart!l!, t'm geral bilateraiS
e ~i métricas, de cor acasranhada, que ocorrem em áreas de
pde <'X~tas à radiação ultravioleta (RUV).
Predomina na face, em regiões malar<!-~, fronte, láhio
,uperior, memo e região mandibular. Pode acometer ou-
tras áreas, corno a porção anterior do t<~rax e a face exten-
sora dos membros superiores.'
O mebsma acomete sobretudo a~ mulheres e eventual-
mente os homens, sendo mais prevalenre em indivíduos de
fomtipos altos. C lassificada como cenrrofacial, mala r ou man-
Figura 20 .1 Melasma. (Fonte: Centro de Medicina Especializa-
d ibular, p<Xle se apresentar como mácu las policiclica~, irregu-
da, Pesquisa e Ensino lCEMEPEJ.)
lares, com manifestação circular, gutaca, linear ou em confere.2
Con~tiruem fatores predbponent<!-•.: predisposição ra-
cial ou familiar, RUY, uso de anriconct'pcionais hormo-
nai'> e gravidez. O exame pela luz de W<xxl torna pos.~ivel
cla,~ificar o rnela~ma em quatro tipo"
• Epidérmico (70%): à luz de Wood, a cor torna-se mais
acentuada. Nesse tipo, a melanina e'tá deposimda na
epiderme, nas camadas hasa l e suprahasaL
• Dé rmico (10% a 15%): à luz de Wood, há acentuação
ou nenh uma alteração de co r. A melani na está deposita-
da na epiderme e na derme superficial e profunda.
• Misto (I 5% a 20%): exL~tem áreas em que ocorrem
acentuação e área~ de atenuação da cor.
• lnaparcntc: as manchas, vL~íveb à luz do dia, tornam-se
inaparentes à luz de Wood. 3

O diagnóstico de melasma ~clínico.


O diagnóstico diferencial deve ser feito com hipercro-
mias pós-inflamatórias, medicamentos pm agentes exóge- Figura 20. 2 Melasma. (Fonte: Centro de Medicina Especializa-
nos e com nevo de O ta bilateral. 4 da, Pesquisa e Ensino JCEMEPEJ.)

101
< 102 PARTE V • Oespigmentant es

O,Scm de área tratada, com intervalo de 30 d ias para


cada aplicação, necess itando de, no mín imo, lO sessões.
É necessário o uso tópico de ácido tranexãm ico em gela
3%, para manu te nção.
2. Peelings quím icos com agentes desp igmentames, como,
por exemplo, ácido retinoico a 8% e ácido mandélico
a 50%, sendo necessário o uso de substâncias clarea-
doras entre uma sessão de peeli ng e outra para evitar
recorrências.
3. Laser para melasma de d ifícil manejo, mas com resulta·
dos contradi tó rios.
Figura 20.3 Melasma. (Fonte: Centro de Medicina Especializa-
da, Pesquisa e Ensino ICEMEPEI.)
CONSIDERAÇOES FINAIS
-
A abordagem te rapêutica do melasma constitui um
TRATAMENTO gra nde desafio. Apesar do grande arsenal de clareado res
O tratamento é amplamente indicado porque o melas· cutâneos d isponível, as recorrê ncias são frequen tes e os
ma compromete a qualidade de vida das pessoas. Deve ser efeicos adversos são bastante comuns, devendo ser leva-
rea lizado por etapas e cons iste em: da em con ta a infl uênc ia ho rmona l na etiopatoge nia do
• Produtos despigmenta ntes potentes. melasma. É fundamental a utilização diária e contín ua
• Produtos clareadores de manutenção, pa ra evitar recor- de filtro sola r de amplo espectro, sem o q ual o cla rea-
rência. mento não é alca nçado e as recorrências se tornam fre·
• Uso de fotoproteto res de amplo espectro com proteção q uentes.
UVA, UVB e luz visível.
• Med idas complementares, como uso de chapéus, vesti· Referências
mentas adquiridas e tecidos que dim in uam a passagem 1. Victor FC, Gelber J, Rao 8. Melasma: a review. J Cutan Med
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PARTE VI
Foto proteção
Sandra Lyon

O sol gera uma quantidade e norme de e nergia radian- e ultravio leta. A longa, o u RUVA I (340 a 400nm), é
te que se propaga sob a forma de ondas. O espectro eletro- pouco eritematogenica e é capaz de atravessar o vidro.
magnético abra nge rad iações em d iversos comprimentos • Radiação (luz) visível (400 a 760nm): subd ividida em
de o nda, desde raios cósmicos, raios X io nizáveis, ultravio- seis faixas de cores, são capazes de estimular a retina
leta, luz visível e infravermelho, a té ondas de rád io. As ra- humana.
d iações ultravioleta são responsáveis pela maior parte das • Radiação infravermelha (760nm a I mm): responsável
mudanças fotocutã neas provocadas na pele. Algumas alte- pela produção de calor.'
rações biológicas são benéficas, como a síntese de vitamina
D, que controla a absorção de cálcio e fósforo pelo intes· Cerca de 50% da energia total emitida pelo sol, e que
tino delgado e a mobilização d o cálcio nos ossos. Outras atinge a pele, e ncontra-se no espectro infravermelho (IR)
alterações biológicas são consideradas maléficas, como os com compri mentos de onda que variam de 760nm a lmm.
danos crôn icos do envelhecimento cutâneo e o desenvol- Além disso, dentro do IR, os raios IRA (760 a 1.400nm)
vimento d e câ ncer de pele. Ass im, a interação da rad iação representam um terço da energia solar total que penetra a
ultravioleta (RUV) com o DNA é a pri ncipal causa de pro- pele, afetando as células loca lizadas na epiderme, na d er-
blemas associados aos danos causados à pele pelo sol' ·1 me e no tecido subcutâ neo. }á as radiações IRB ( 1.400 a
3.000nm) e IRC (3.000nm a lmm) são completamente ab-
' sorvidas pela epiderme (I RC) ou penetram a derme e, em
ESPECTRO ELETROMAGNETICO pequena proporção, o tecido subcutâneo (IRB).
O espectro solar terrestre compreende três zonas fun- Essas radiações são pri mariamente responsáveis pelo
damentais: aumento da temperatura da pele, incluindo desde um
• Radiação ul travioleta (RUV) (200 a 400nm): constitui aquecimento leve até a sensação de q ueimação.
a rad iação de maior atividade biológica, subd ivid ida em O papel da rad iação IR no dano actínico está bem es-
três diferentes fa ixas, conforme seu comprimento de tabelecido e contribui sign ifica tivamente para o fotoenve-
o nda e ativid ade: lhecimento.3
• Radiação ultravioleta C (RUVC) (200 a 290nm): não Existem fatores que in fluenciam a quantidade de RUY
atinge a superfície d a terra por ser filtrad a pela atmosfe- que atinge a Terra. A RUVC e parte da RUVB oscilam d u-
ra, particularmente pela camada de ozônio. rante rodo o dia, sendo mais altas ao redor do meio-<lia
• Radiação ultravioleta B (RUVB) (290 a 320nm): tem e há ma io r incidência das 10 às 14 horas; além d isso, são
como característica biológica o faro d e ser capaz d e pro- ma is intensas em lugares próximos ao Equador e a grandes
d uzir eritema. Não atravessa o vidro comum. altitudes. A cada 300 metros de altitude aumenta em 4%
• Radiação ultravioleta A (RUVC) (320 a 400nm): subdi- a capacidade das radiações causarem eritema. Em d ias nu-
vidida em ultravioleta A curta ou RUVA (320 a 340 nm) blados, aproximadamente 90% dos raios ultravioleta atra-

105
PARTEVI • Fotoproteção

vessam as n uvens; em torno de 95% dos raios penetram a A melan ina é sintetizada por melanócitos na cama-
água. À sombra, pode-se receber 50% das RUY, e dentro da basal da epiderme e transferida aos q ueratínócitos em
de casa, de 10% a 20% das radiações. melanossomas. A melanina, o principal cromóforo epi-
A água, a neve e a areia refletem os segui ntes percen- dérmico, desempen ha um papel na absorção, reflexão e
tuais de rad iação: neve: 80%; areia: 25%; água do mar: dispersão da RUY. O impacto da proteção da melan ina
20%; água de piscina: !O%.'·l.4 está relacionado com sua d istribuição na epiderme e é
A RUYA é cerca de 20 vezes ma is abundante q ue a determinado co nstituc ionalmen te. A melan ina absorve
RUVB; no entanto, sua incidência na superfície terrestre de maneira contin ua tOdo o espectro ultravioleta, e sua
perma nece inalterada ao lo ngo de tOdo o ano, mantendo- capacidade de absorção cai expone ncialmente da RUY
-se estável nos d iferentes horários, altitudes e cond ições para o espectro visivel1 0
atmosféricas.;
Há controvérsia quanto áS orientações méd icas rela-
cionadas com a exposição solar da criança no que se refere BARREIRAS FÍSICAS
ao metabolismo da vitamina O. No entanto, os níveis de A~ roupas utilizadas durante a expos ição solar, assim
vitam ina O podem ser mantidos com uma dieta adequada, como chapéus e óculos, podem proporcionar proteção con-
apesar da fotoproteção intens iva. A~s im, a exposição solar tra a RUY e são importantes med idas de proteção solar.
diária na infância não deve fazer parte das o rientações mé- A~ roupas com fator de proteção ultravioleta (FPU)
dicas de ro tina.t\.8 têm sido util izadas pela ind üstria de tecidos com fotopro-
teção. O FPU é calculado in vitro pela alteração na quanti·
dade de radiação que pode ser detectada quando se coloca
BARREIRAS CUTÂNEAS FISIOLÓGICAS o tecido en tre o detector e uma fome de ultravioleta com
A pele tem mecan ismos de defesa contra os danos ac- espectro de em issão con hecido. O FPU é diferente do fa-
tínicos. Os danos moleculares, que podem causar carcino- tor de proteção solar (FPS), o q ual é estimado a parti r de
gênse, imu nossupressão ou fotaenvelhecimemo, ocorrem alterações in vitro na dose mínima de rad iação capaz de
antes de quaisquer sinais clínicos representados pelos da- produzir eritema na pele.
nos no DNA e do aparecimento de rad icais livres, respon- A transmissão da RUY atravéS dos tecidos varia de
sáveis po r da nos oxida tivos nas células. acordo com fatOres como o tipo de fibra, a cor e a co-
Diversos componentes da pele, conhecidos como cro- bertu ra da trama. Os tecidos ma is compactos e espessos
móforos, absorvem as radiacões.•
Entre eles estão a melani- oferecem proteção ma ior. A desvantagem da utilização de
na, a oxiemoglobina, a tiros ina, o tripcofano, a histid ina, roupas com FPU é q ue a vestimenta só protege a região
as porfirinas, os carotenos, o deidrocolesterol, o DNA, o coberta, e mu itas vezes, devido à moda e ao calor, as roupas
RNA, o ácido urocãn ico, a q ueratina e outras proteínas da cobrem pequenas áreas corpora is.
epiderme. A~ cores escuras, como vermelho, pretO, verde e azu l-
O deidrocolesterol absorve ondas em co rno de 270 a -escuro, costu mam oferecer maior proteção, embora possa
280 nm, util izando-as para síntese de vitam ina O. A mela- haver variações de proteção em d ifere ntes peças de roupas
nina tem poder de absorção máxima de ondas abaixo de da mesma cor em virtude da variação das tintas util izadas."
300nm e a oxiemoglobina, por sua vez, na fa ixa de 420nm.9 A~ roupas absorvem grande parte da rad iação visível,
Os raios UY também aumen tam a síntese de citoci- o que não ocorre com as faixas da RUY. Com o tempo a
nas lL-1 alfa pelos querati nócitos. Adema is, a absorção da tinta dos tecidos descora e ocorre a dim inu ição do FPU."
radiação pelos lipíd ios epidérmicos, incluindo a vitam ina Com o estiramento das fibras, a proteção oferecida
O, pode contribuir para a proteção cutânea, absorvendo a pelas roupas é alterada, por ocorrer aumento das lacunas
radiação incidente. com a expa nsão do tecido''
Produ tos de degradação de proteínas epidérmicas de A capacidade protetora dos tecidos pode ser acrescida
baixo peso molecular, como o ácido urocã nico, um cro- pela adição de substâncias que aumentem a adesão das fi-
móforo presente na epiderme cuja forma tmns se isomeriza bras, como resinas, ou substâncias proteto ras adicionadas
em forma eis na presença de RUY, têm papel relevante na aos detergentes ou amaciantes. Tra ta-se de filtros de amplo
absorção das radiações 9 •10 espectro com afin idade pelo algodão e que se depos itam
A pele tem duas barreiras para a RUY: a barreira da nas fibras com aumento do FPU oferecido''
melanina na epiderme e a barreira prote ica, co ncentrada O uso de chapéus pode contribuir para proteção solar
no estrato córneo. Ambas as barreiras visam d iminuir a de couro cabeludo, face, orelhas, pescoço e olhos. Essa pro-
absorção da rad iação, protegendo o DNA e o utros consti· teção dependerá de algu ns fatores, tais como tipo de tecido
tu intes celulares dos danos provocados pela rad iação. u tilizado, formato e tamanho da aba.9
Capítulo 21 • Fotoproteção 107 ")

A aba do chapéu deve se estender ao redor de toda a helicoidais. Esses d ímeros de pi ri midina podem levar a
cabeça e ter pelo menos 7 ,Sem de largu ra. A proteção ofe- mutações celularesw
recida pelos bo néS não co nfere cobertura adeq uada para A pele promove a fowrreparação como defesa das
wda a face." agressões ao DNA. Os mecanismos regenerativos são co n-
O uso de óculos escu ros pode promover o bloqueio de trolados enzimaticamente por meio do reparo por excisão
99% de todo o espectro u ltravioleta, sendo recomendada de n ucleotídeos alterados.
como medida complementar'' Os mecanismos regenerativos são controlados enzi-
As janelas de vid ro podem bloq uear a RUVB, mas per- maticamente para elim inar os danos sofridos e recuperar
mitem a passagem da RUVA.8 o DNA lesionado. Se esses meca nismos são ativados com
frequência em exposições repetidas, as en zi mas se esgotam,
prod uzindo danos perma nentes.
EFEITOS AGUDOS
A radiação solar causa eritema, fowssens ibilidade e al-
terações imunes. O eritema é reação cl ín ica mais aparen te,
-
ALTERAÇOES IMUNES
causando danos às membranas celu lares - DNA e RNA - e As RUY podem provocar alterações imu nes que co n-
à s íntese proteica. tribuem para a instalação de doenças como herpes simples
A rad iação actí nica por exposição exagerada pode cau- e d oenças do colágeno.
sar queimadura solar com eritema, sensação de calor e bo- A rad iação solar d iminu i em 20% a 50% o nü mero de
lhas na pele. células de La ngerhans da epiderme, o q ue contribu i para
A radiação UVB lesa as células epiteliais com forma- o risco de câncer de pele pelo efeitO imunossupressor da
ção de substâncias vasod ilatadoras, sobretudo as prosta· luz solar10
gland inas, q ue iniciam a reação inflamatória aguda . O eri·
tema provocado pela RUVB inicia-se algumas horas após a
exposição e atinge um pico em 12 a 24 horas.10 FOTOCARCINOGÊNESE
O bron zeado consiste na melani zação dos queratinó- O desenvolvimento do câncer cutâ neo está ligado ao
citOs. A RUVB estimula a produção dos corpúsculos de acúmu lo de numerosas al terações genéticas causadas por
melanina, q ue deve ser oxidada para escurecer. A RUVA lesão não reparadas do DNA. Os fowprod utos mutagên i-
oxida a melanina, causando a pigmentação d ireta. cos do DNA causam a liberação de cicocinas q ue supri mem
A pigmentação solar pode ser imed iata ou tardia: as respostas celulares imunes e possibilitam a oncogênese.
• P igm entação imed iata: o bron zeamento pigmentar Os comprimentos de onda mais potentes para ind uzir a
imed iatO, denom inado fenômeno de Mei rowsky, in icia- carcinogênese correspondem às RUVB. RUVA também
·se alguns minutos após a exposição solar e desaparece podem causar câncer cutâ neo naqueles ind ivíduos que se
gradualmente algumas horas depo is. Esse efei to é de- expuseram a essas radiações por longo tempo sem proteção
corrente da fowxidação da melan ina preformada e sua adequada.
transferência aos queratinócitos. O espectro responsável Os IR também têm ação o ncogênica nos processos de-
s itua-se na faixa da RUVA e lu z visível até 450 nm. generativos em q ue ocorrem reações termodependentesm· 12
• P igm entação tardia: o escurecimento da pele pode ser
notado a partir do tercei ro d ia e é decorrente do aumen-
to da prod ução de melan ina em razão da ma ior ativida- FOTOENVELHECIMENTO
de dos melanócitOs. A p igmentação ta rd ia depende da O fotoenvelhecimento o u dermatoeliose consiste em
RUVB, com participação da RUVA e da luz vis ível. 10 alterações na aparência e função da pele como resultado
de exposições repetidas à luz solar.

DANOS E REPARAÇAO DO DNA


- As rad iações solares que atingem a derme são as res-
ponsáveis pelas alterações nas fibras elásticas e colágenas.
O DNA (ácido desoxirribo nucleico) é formado por Os s inais histológicos que traduzem uma pele fotoen-
um n ucleotídeo composto de tréS partes: um ácido fosfó- velhecida são a deposição de material elastótico na derme
rico, um açúcar (desoxirribose) e uma base n itrogenada. e a desorgani zação das fib ras colágenas."
As bases n itrogenadas são quatro: duas pu ri nas (aden i·
na e guan ina) e duas pirimid inas (timina e citosina). -
FORMAÇAO DE RADICAIS LIVRES
Os raios UV provocam a d imerização da ti mina, uma
das bases nitrogenadas, induzindo falha na un ião da cadeia Os radicais livres constituem o conjunto de moléculas
normal do DNA com consequente d isto rção das cadeias quím icas q ue possuem um elétron livre, não ligado.
< 108 PARTE VI • Fotoproteção

São substâ ncias muitO reativas, originadas de um A outra leitura é realizada 2 horas após doses de 8 a 25J/
desgaste celu lar produzido pela respi ração mitocondrial cm2 de RUVA, com fototipos li e IV, sendo classificada como
na cadeia de ox irredução e pela rad iação solar. A RUY é pigmentação persistente, ou persistem pigment darkeníng (PPD):
responsável pela formação de radica is lipoperóxidos que
modificam as características da membra na celu lar e pro- Dose pigmentante mín ima com protetor solar
vocam alterações no DNA, levando a da nos cromossõmi- PPD = ---------------------------
cos.JO,ll,l4 Dose pigmentante sem protetor solar

Considera nd o que a RUY desempenha papel impor-


METALOPROTEINASES tante na indução do câ ncer de pele, no e nvel hecimento
As metalopro teinases da matriz extracel ular são enzi- cutâ neo e na indução de imunossupressão, deve-se consi-
mas proteolíticas que degradam o colágeno, a elastina e derar, em relação aos protetOres solares, o fator de pro te-
o utras proteínas do tecido conjuntivo e dos ossos. ção para mutações (FPM), o fato r de proteção imunológico
A remodelação do colágeno é imprescindível pa ra o re- (FPJ) e o faror de proteção contra fotocarcinogênese."'' 8
paro de ferimentos. 14·1; A exposição à RUY induz a forma-
ção de metaloproteinases: colagenase, de gelatinase 92 Kd e
estromelisina-1, as q uais podem degradar o colágeno e são Classificação dos filtros solares
causas de fotoenvelhecimento-'; Os filtros solares são classificados em s istêmicos e tópi-
O ácido retinoico tópico é util izado para restaurar o cos, os q uais se dividem em químicos, físicos e biológicos.
procolágeno tipo I em n íveis próximos aos de pele não ex- Os filtros qu ímicos ou o rgâ nicos absorvem a RUY, so-
posta e in ibe a expressão das metaloprote inases da matriz bretudo a RUVB, por reação fotoqu ímica d iminu em seus
extracelu lar derivadas da RUVY·14 níveis energéticos, d iminu indo o dano às estrutu ras celula-
res. São usados combinados para ga ranti r o efeito em fai-
xas mais amplas do espectro da RUY em razão de sua ação
FILTROS SOLARES restrita q uando usados isoladamente.19
Filtros solares são substâncias incorporadas em for- Os agentes qu ímicos estão agrupados em categorias:8
mulações com o objetivo de redu zir os efeitos das RUY • Ácido para-am inobenzoico (PABA) e seus ésteres:
sobre a pele por meio da reflexão ou espalhamento da luz - Etil d iid roxipropil PABA.
incidente. A proteção da pele deve ser contra os RUVA, - Octil d i meti! PABA (Eusolex 6007, Pad imaro 0 ).
RUVB e IR. - Gliceril PABA.
O FPS é defin ido como a dose de RUY necessária para • Benzofeno nas:
indu zir eritema (dose eritematosa mínima [DEMI) em pele - Oxibenzona.
protegida com 2mg/cm 2 de filtro, dividida pelo DEM em - Dioxibenzona.
pele não protegida: 16 • C inamatos:
- Cinoxato.
DEM em pele protegida com filtro solar - Ocrocrileno.
FPS= ------------------------ - Meroxicinamaro de octila (Parsol"' MCX).
DEM em pele desprotegida - Meroxicinamaro de isoamila.
• Antra n ilatOS:
Considerando que a RUVA é pouco eritemawgênica, - De metila.
util iza-se o método foto-oxidativo ou pigmentação imed ia- - De N-acetil h omomentila.
ta, baseado no fenômeno de Meirowski, ou seja, o apareci- • Salicilatos:
mento de pigmentação imediatamente após a exposição à - Etil-hexil sal icilaro.
RUVA de 320 a 420nm. - Homossalaro.
São rea lizadas d uas leituras, uma delas 15 minutOs - Salicilato de octila.
após a exposição à RUVA em doses de I a 5J/cm 2, em fo- • Diben zo il metano:
totipos Ill a V, denominada pigmentação imed iata, o u im· - Avoben zo na (Parsol"' 1789).
media te pígment darkening (IPD), e expressa pela proporção: - Isopropil diben zoil metano (Eusolex 8020).
• Derivados da cânfora:
Dose pigmentante mínima com protetor solar - Meti! benzilideno cânfora (Eusolex 6300).
IPD = ------------- • Miscelânea:
Dose p igmentante sem proteto r solar - Ácido 2-fenil ben zi midazol-5-sulfõ nico (Eusolex 23 2).
Capítulo 21 • Fotoproteção 109 ")

A avobenzona é cons iderado o mais efetivo dos prote- e a supressão da h ipersensibilidade de contato induzida
to res contra UVA e absorve UVA longo. pela RUVA. 20
As benzofenonas absorvem UVB e até 60% de UVA. Os betacarotenos têm propriedades amioxida mes q ue
C inamatos e amran ilaws absorvem UVB e pequena ajudam a neu tralizar os radicais livres.
quantidade de UVA. O D-pamenol constitu i uma provitamina que penetra
O metoxicinamato de isoamila apresenta eficiência e a pele, transforma ndo-se em ácido pamotê nico (vitam ina
segurança máxima em UVB. B;), e confere proteção contra o eritema.
O PABA absorve UVB, embora manche roupas e pos- A eu melanina (Sepiamela nink(l!)), extraída do molusco
sa ocas ionar reações.10 Sepia offícinalis e dispon ível na forma de suspensão colo i·
Os filtros físicos ou inorgân icos são substâncias opacas da l, protege a pele dos efeitOs da RUV com ação amirra-
que agem por reflexão, absorção e espal hamento da luz e dica is livres.
d iminuem os efeitOs da nosos da rad iação solar em wdos Outros amioxida ntes, como a alfaglicosilrutina, o áci·
°
os com pri memos de onda 2 Constituem filtros físicos o do ferúlico e o acetato de rocoferol, red uzem sign ificativa-
d ióxido de titânio e o óxido de zinco micro nizados ou mi· mente as lesões de reação poli morfa solar e o pruridon
cropulverizados, podendo ainda ser utilizadas o utras subs-
tâ ncias, como filtros físicos: petrolaw vermelho, óxido de
ferro, cau lim, bemon ita, sílica, mica e talco.11 Precauções no uso dos fotoprotetores
A proteção por filtros físicos é a mais efetiva e está ind i- O filtro solar deve abranger os espectros de RUVA e
cada para aqueles indivíd uos que necessitam se expor por RUVB, luz visível e IR.
longas horas ao sol ou que tenham doenças relacio nadas Os veícu los devem ser escolhidos de acordo com o
com a radiação solar, como lúpus eritemaroso, erupção po- tipo de pele pa ra proporcionar uma cosmética elegante.
limorfa à lu z e xeroderma pigmemoso. Constituem ainda características dos filtros solares: hipoa-
Os fil tros biológicos abrangem extratOs vegeta is capa- lergenicidade, não comedogênicos e fowestabilídade.
zes de absorver RUV. São util izados associados aos filtros Sua aplicação deve ocorrer 20 minutos ames da expo-
sintéticos. sição solar, sendo necessárias reaplicações a cada 2 horas.
Extratos vegetais também contêm substâ ncias qu ími· O suor, o contato com areia e a água retiram o protetor da
cas capazes de absorver RUV. Entre esses extratOs estão: pele, e por isso são necessárias aplicações mais frequentes.
• ExtratO de semente de girassol (helioxi ne). Para se consegu ir a dose ideal de proteto r para atingir
• ExtratO de aloe (UVB) - derivados amracênicos (aloína, o FPS ind icado na emba lagem seriam necessários 2mg/
aloemodina, isomod ina, crisofanol). cm1. Para obter a cobertura desejada em todo o corpo, um
• ExtratOs de camomila e calêndula (UVB) - flavo noides ad ultO deveria gastar cerca de 30m L de filtro a cada aplica-
(apigen ina, quercimetrína). ção.'; Desse modo, a quantidade de protetor aplicada sem-
• ExtratOs de h amamélis e ratãnia (UVB) - derivados do pre fica aquém do necessá rio, conferindo apenas um terço
ácido gálico. da proteção real descrita no rótu lo do produto.n
• ExtratO de alecri m (UVB). Apesar de pouco comuns, podem ocorrer reações alér-
• ExtratO de frãngu la (UVB) - derivados amracênicos (gli· gicas e foroalérgicas aos ingred ientes ativos. As ben zofeno-
cofrangulina). nas constituem os componentes mais propensos a causar
• ExtratO de própolis (UVB). reações alérgicas.
• ExtratO de hena e nogueira (UVB) - natoq uinonas (law- Os proteto res não devem ser usados em combinação
so na e juglona). com repelente de inseto co ntendo DEET, o q ual red uz o
• ExtratO de café-verde (UVB). fa to r de proteção.
• ExtratO de amor-perfei to (UVA). Indivíd uos atópicos são mais propensos à sensibiliza-
• ExtratOs de alga Cara!lina officinalis - Phycocorail (IV). ção cutânea.
De modo geral, os filtros solares são co nsiderados
A vitamina E é um antioxida me in ibidor da peroxida- substâ ncias segu ras e eficazes, sem potencial sistêmico de
ção lipídica e pro tege o sistema imun e com um fator de pro- roxicidade, e devem ser recomendados para mu lheres grá-
teção solar de I, 2. O wcoferol inibe o eritema e o dano in- vidas para prevenção de melasma.
d uzido pela RUVB e a depleção das células de Langerhans. As crianças com menos de 6 meses de idade têm maior
A vitam ina C promove uma proteção relativa co ntra absorção percutânea e de seu sistema excretório; porta n-
RUVB e RUVA, neutraliza ndo radicais livres. tO, recomenda~e atenção especial em razão da maior pro-
O ácido ascórb ico pode preven ir danos oxidativos cau- porção de á rea superficial em relação ao volume corpora l.
sados pela RUVB, a secreção de enzimas pro inflamató rias Q ua ndo a criança não pode ser adequadamente protegida
( 110 PARTEVI • Fotoproteção

com ve>timema, utiliza-:.e o fotoprotetOr na face e nas áreas oxidação, o que confere coloração alaranjada à pele. A pro-
fowexpo:,ta.'>. 4 teção contra RUY da DI IA é de aproximadamente 6 ho-
No Je..-,envolvimento de um fotoprOtetor infantil, de- ras. Ao creme com DHA podem ser incorporados extratos
vem ser levada.., em con,ideração algumas peculiaridades de hena e nogreim (lawsona e juglona), que acentuam o
da pele da criança: escurecimento da pele. 26
o Estrato córneo 10% ma h dds:ado que o do adulto, sen-

do mab permeável a >Uhstâncias aplicadas na pele.


Fotoprotetores sistêmicos
o A~ célula.., da epiderme >âo menores.
Muita.~ substâncias de uso oral têm sido :.ugeridas
o Produz menos famr de hidratação natural (FHN), tendo

maior tend~ncia ao re>secamenro pOr não reter a água como agentes fotoprmetores. Enrre ela.., estão a indomera-
de maneira eficaz. cina, o ácido acetil~alicílico (inihidores da pro:.taglandina),
o Maior pH ao na..,cimemo com barreira cutânea ainda
o celecoxibe (inibidor da ciclo-oxigenase 2), o chá-verd e
(pOr conter polifenóis), a.~ vitaminas E e C, o heracaroteno
imatura.
o Maior relação entre a superfície da pele e o peso da
(antiox idantes), ami-histamínicos e corticoides (imunomo-
criança, com maior vulnerabi lidade ao uso de produtOs du ladores)n
que possam irrirar a pde. O extratO de Pol~podíom• le.,cotornos tem efeito foropro-
o Menor grau de pigmentação, sendo mais sensível à
teto r por meio de ação amioxidante e anti-innamatóri a. 2s.19
A gen isteina das isnflavonas tem efeito in ihidn r na fn-
RUV. 4
tocarcinogênese.10
Fotoproteção capilar
O sol causa danos aos cabelos, ressecando os fios em CONSIDERAÇÕES FINAIS
virtude da perda de água e o enfraquecendo, em razão da
destruição da.~ ponte> de enxofre. A radiação solar tem enorme impacto em diferentes
Os cabelos mrnam-:.e :bperos e perdem o brilho e a condições da saúde humana, particularmente naquelas re-
cor. O fio do cabelo apre>enta menor resist~ncia à tensão lacionadas com o tecido cutâne<J, que sofre diretamemt!
e menor ela.-,ticidade pm prejuízo das prOteínas da.~ cutí- com essa ação. Para evitar os efeitO.'> deletério> da radiação
cula>. solar, os quab levam ao de....em"lvimento de neoplasias
O cabelo castanho de...,cora devido à fotOxidação da cutâneas e fotoem-elhecimemo, de,-em ;er adoradas me-
melanina, e no cabelo louro ocorre a fotO<.legradação de didas fotoprotetora.., eficieme..,, ;ohretudo o u.'o correto
resíduos de cbtina, rirosina e triptofano. H.H de fotoprotetores tópicos eficiemes em toda.' a.'> etapas da
O fator de proteção do cabelo (FPC) é uma medida vida, iniciando na infância.
ba.~eada na modificação das propriedades mecânicas do Ourros agente..~ fotoproterores, inclusive o vestuário
cabelo em decorrência da ruptura de ligaç<'les de querati· com especificaçõe..s e..'tpeciab e os óculos, demon;,tram rer
na. O FPC é medido pela relação da força rensora sobre o efeitos benéficos.
cabelo sem proteção 1-ersus a força censora sobre o cabelo A foroproteção sistêmica tem se mostrado importante,
tratado. 25 uti lizando-se agentes orais farmacologicamente capazes de
A~ benzofenonas protegem melhor a cor e a morfolo- inibi r ou reverter o fotO<.Iano em pde normal ou alterada.
gia do fio, sendo as mais estáveis. Os fi ltros solares capi·
lares devem apresentar propriedades de boa ade rência ao
fio pa ra proporcionar boa absorção de raios ulrraviolera 25 Referências
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Capítulo 21 • Fotoproteção 111 ")

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PARTE VIl

ANTI OXI DANTES


Antioxidantes
Sandra Lyon

O envelhecimento cutâneo é um processo progress ivo GÊNESE DO ENVELHECIMENTO CUTÂNEO


de deterioração morfológica e fu ncional da pele causado Do is fenômenos moleculares principais são apontados
por uma comb inação de farores. O envelhecimento pode como ca usadores do envelhecimento cutâ neo: a glicação
ser intrínseco ou extrínseco. dos tecidos e a oxidação celu lar.
O envelhecimento intrínseco é o envelhecimento pro-
veniente da idade, o u seja, sem influência de agentes exter-
nos, e é facilmente observado em áreas pouco expostas ao Glicação
sol. Causa atrofia da derme com dim in uição da q uantida- G licação o u glicos ilação co nsiste em uma lenta reação
de de elastina e colágeno, com afinamento da epiderme, quím ica não e nzimática q ue aco ntece en tre grupos am ino
porém a textura da pele é lisa e homogênea e há meno r livres em proteínas (primeiramente lisina) e um açúcar re-
número de ma nchas e rugas. dutor, como a glicose ou a ribose. Na pele, essa reação cria
Existem raças e famílias que apresentam ma io r longe- novos resíduos ou induz a formação de ligações cruzadas,
vidade, o que reforça a teoria da influência genética no denominadas produtos finais de glicação ava nçada (adt<an·
envelhecimento. O envelhecimento extrínseco ou fotoen- ced g!ycation end - AG E), na matri z extracelu lar da derme.
velhecimento é um processo q ue se dá de modo grad ual Prote ínas com meia-vida longa e de renovação lenta po-
ao longo de décadas de expos ição solar, afetando todos os dem ser afetadas por esse fenômen o in 11íoo. Den tre essas
indivíd uos, sendo cumulativo e tendo in ício desde a pri· proteínas, podem ser citados o colágeno, a fibronectina, a
me ira exposição solar na infância. Trata-se de um e nvel he- laminina e a elastina.1
cimento in fluenciado por agentes externos, como o fu mo, Du rante a primeira etapa da glicação, os açúcares re-
o excesso de álcool, a ali men tação e a exposição ao sol, dutores reagem com um grupo amino ou guanid ino primá-
sendo mais agressivo à pele' rio. Esses produtOs iniciais de glicação passam por reações
• Principais alterações epidérm icas no processo de en· complexas para formar ligações cruzadas irreversíveis, co ns-
velhecimento cutâneo: d iminu ição das célu las de Lan- titu indo um amplo espectro de p rodutOs fluorescentes e
gerhans e de melanóciros; d iminu ição da s íntese de me- marrom-amarelados (AG E). Entre esses produtos incl uem-
lanossomas; d iminu ição das células germ inativas; varia- ·se a carboximetillisina (CML) e compostOs relacionados.1
ção na espessura da epiderme, com atrofia e h iperplasia; A formação dessas ligações cruzadas entre macromo-
p igmentação irregular. léculas pode ser responsável pela perda de elasticidade ou
• Principais alterações dérmicas no processo de envelh e- mod ificação de o utras propriedades da derme observadas
cimento cutâneo: dim in uição das fib ras de colágeno e durante o envelhecimento.
elastina; d iminu ição dos folículos pilosos; alteração em Na pele, a quantidade de AGE aumenta d ura nte o e n-
glându las sudoríparas e sebáceas; alteração na matri z ex- velhecimento intrínseco e também no fotoenvelhecimento.
trace lu lar (glicosaminoglica nos).' O acúmulo de AGE altera a estrutu ra e as propriedades da

115
< 116 PARTE VIl • Antioxidantes

pele. Por exemplo, foi comprovado que os AGE induzem A~ agressões ambienta is, co mo a radiação UV, o fumo
alterações nas propriedades bioqu ímicas e biomecãnicas e a polu ição, aliados ao e nvel hecimento cro no lógico, con-
da pele, mudanças nas propriedades do colágeno, acúmulo tribuem com a liberação de radicais livres e de ROS que
de elastina amorfa durante a elastOse solar e produção de estimulam a inflamação da pele.
espécies reativas de oxigênio após a expos ição aos raios ul- A curto prazo, os UV degradam as defesas antioxi·
travioleta A - UVA (como ânions superóxido, peróxid o de dantes (celulares e enzimas como a superóxido di.smutase
hidrogênio e radicais hidroxila) - esta ndo também envolvi- ISODI e catalase), fragmentam o DNA, provocando a for·
dos em disfunções de fibroblastos dérmicos. Reunidas, to- mação de dímeros de timina e desencadeiam a imunossu-
das essas comprovações enfatizam o fato de que a glicação pressão e a liberação de mediadores proinflamatóri os, que
prod uz muitos efeitos adversos na pele. aumentam a permeabilid ade capilar, com consequente a ti·
vação e liberação de célu las fagocitárias na pele.
Como resultado dessas reações, as elasrases e proteases
Oxidação (catepsina G) ativam as metaloproteinases (MPM), prejudi-
A inflamação e o acümulo de espécies reativas de oxi· cia is à matriz extracelular. Em paralelo, a inflamação e as ROS
gên io (reacrive o.x-ygen species - ROS) resultantes desse pro- degradam as proteínas, lipídios e carboidratos celulares, cujos
cesso desempenham papel importante no envelhecimento subprodutOs contribuem na etiologia do fowenvelheci memo.
cutâneo intrínseco e extrínseco. A Figura 22.1 si ntetiza a integração desse processo.

Ação protetora Liberação Liberação de Geração de ROS


neuroendócrina mediadores
l inflamatórios l
Danos no DNA Depleção dos
~
Ativação !o sistema all-1 e TNF-a antioxidantes
neuroendócrino da são liberados celulares
Fomnaçãode pele e liberação de
~
dos quertinócitos
dlmeros de n europeptídeos,
timidina histaminas ~ Oxidação
celular e lipídica
~
Síntese e liberação
~ pelas células da pele
Ativação dos Ativação dos de prostaglandinas, ~
mel anócitos fatores de leucotrienos e Morte celular,
transcrição citoquinas secundarias peroxidação
(A P-1, NFKB) (ll-6 e IL-8) lipídica
Bronzeamento/ uv
escurecimento da pel e ~ ~
~
l Ativação dos Acúmulo
anormal de
neutrófilos,
Inflamação macrófagos proteínas
Proteção contra
futuros danos
provocados pela
l ~
radiação UV At ivação da Geração de radicais
transcrição livres, acúmulo de
deMMP ROSe NOS

( Liberação de
elastases

Degradação
+
Desequilíbrio
anormal da entre protease e
matriz antiprotease

~
( Acúmulo de
componentes matriciais
não funcionais
(
Fotoenvelhecimento

Figura 22.1 Resumo dos d iferentes mecani smos desencadeados pe la radiação UV que resultam em geração das ROS, inflamação
e fotoenvel hecimento da pele.
CapíiUio 22 • Antioxidantes m)
Entre as estratégias de pren~nção da fotodegradação danos celulares pelos radicais livres tem sido chamado de
pr<m>eada pela radiação UV estão: aplicação de um filtro estresse oxidatim.1
;.olar físico e/ou qui mico, bloqueio da ação das ROS por
mdo de antiox idames e util ização de ativos anti-inflama-
FONTES ENDÓGENAS E EXÓGENAS DE
tórios.
GERAÇÃO DE RADICAIS LIVRES
• Endógenas: respi ração aerób ica, in flamações, peroxi:>-~o­
TEORIA DOS RADICAIS LIVRES, ESTRESSE mos, enzimas do citocromo P450.
OXIDATIVO E DEFESA ANTIOXIDANTE • Exóge nas: ozônio, radiações gama e UV, malicamen-
A' moléculas orgânicas e inorgânica.' e <» átomos que tOS, dieta e cigarro.8
cont~m um ou mais elétrons não pareado'>, com existência
independente, podem ser da.'lsificados como radicais li- A ocorrência de e.-.tresse oxidati,·o moderado é fre-
vre.' (Figura 22.2). Essa configuração faz do., radicais livres quentemente acompanhada do aumento das defesas a mio·
moléculas altamente instá,·eL'I, com mda-vida curtíssima xidames enzimáticas, ma.'> a produção de grande quantida-
e quimicamente muito reativa.'>. A presença dos rad ica is é de de radicais livres pode causar danos e morte cdu lar. Os
crítica para a manutenção de muita.'l funçôes fisiológicas danos oxidativos induz idos nas células e tecidos têm sido
norma .•s. 1 relacionados com a etiologia de vá rias doenças, incl uindo
Os radicais livres podem ser gerados no citoplas ma, d oenças d egenerativas como cardiopatias, ate rosclerose e
nas mitoct'md rias ou na membrana, e seu alvo celular (pro- problemas pu l mo na re.~. 9• 10 Além d isso, os d anos ao DNA
teínas, lipídios, carboid ratos e DNA) e;tá relacionado com causados pelos radicais livres também têm papel importa n-
seu sitio de formação. Entre a.'l principais forma.'\ reativas te nos proces>O> de muta.gênese e carcinogênese.11
de oxig~nio, o 0 1 apresenta baixa capacidade de oxidação Alguma.., doença> relacionadas com a geração de rad i-
e o 011 mostra j)e(.tuena capacidade de difusão e é o mais cais lh·re;, ;,ão: artrite, aterosclerose, câncer, cardiopatia.-.,
reativo na indução de lesôeS na;, molécula., celulares. O catarata, diabetes, di;,função cerebral, doença.' do ;btema
1120 2 não é considerado um radical livre verdadeiro, mas imune, enfbema, envelhecimento, esderose múltipla e in-
é capaz de atravessar a membrana nuclear e induzir danos flamações crônica,.!
na molécu la de DNA por meio de reaçôes enzimáticas.5 A produção continua de radicais livres durante os
A formação de rad icaL'\ livre..'l in ••it>o oco rre via ação processos metaból icos leva ao desenvolvimento de muitos
catalitica de enzimas, durante os proce..'ISOS de trans ferên· mecan ismos d e d efesa a ntioxidante para lim itar os n íveis
cia d e elétro ns no metabolismo celu lar e pela expos ição a intracelulares e imped ir a indução d e d anos. Os antiox i·
fatore.'~ exógenos. Co ntudo, na co nd ição de pro-oxid ante, clames são agen te.'~ re..~ponsáveis pela in ibição e redu ção das
a co ncentração desses radicais pode aumentar devido à lesões causadas pelos rad icais livres nas célu las. Uma am-
maior geração intracelula r ou em razão da deficiência dos pla definição de antioxidame é "qualquer >Ubstãncia que,
mecanismo;, antioxidantes. 6 O de..\equilihrio entre molé- presente em baixa' concentraçôes quando comparada à do
cula" oxidantes e antioxidantes que re...,ulta na induç.'io de substraw oxidávd, atra.~a ou inibe a oxidação de...,te suh;,rra-
to de maneira eficaz".1
Os antioxidame..~ atuam em diferente.'> niveb na pmre-
ção do organbmo:
Perda de elétron • O prime iro mecan ismo de defesa contra os radicais li-
1

. -- .......
0 vre.'l consi;,re em imped ir sua formação, pri ncipa lmen te
med ia nte a inihiç<io das reações em cad eia com o fe rro e
o cobre.
• Os amioxida nte..~ são capazes d e intercepta r os radicais
Átomo
normal de livres gerados pelo metabolismo celu lar ou por fo nte.~
oxigênio exógena.,, impalindo o ataque sobre os lipídios, os
aminoâcido., da" proteínas, a dupla ligação do., :\cidos
graxo~ poli-in>aturados e as bases do DNA, evitando a
Radical livre formação de leM'Jes e a perda da integridade celular.
• Outro mecanbmo de proreção consL'Ite no repam das
Figura 22.2 Representação da formação de um radical livre. lesôes causada' pelos rad icaL~. Esse proce..'>so e;,tá relacio·
(Oisponivel em: www.google.eom.br/imgres?imgurl;http:/twww. nado com a remoção de danos da molécu la de DNA e a
nqipower.com.br/imagens/radical_livre.gif. Adaptada.) reconstitu ição das membranas celulares dan ificadas.
( 118 PARTE VIl • Antioxidantes

• Em algumas sitUações, pod~ ocorrer uma adaptação do d iatameme disp<)nivds para combater a luz ~olar danosa
organismo ~m r~p<Na à g~ração de.....,es radicais, com à pele são consumidos durante e.'>;.e proce;.;.o de proteção.
aumenro da sinte.~ de enzimas antioxidame.~. Os outros dois processos citado> (ação dos melanócitos e
aumento da atividade mirórica) prop<lrcionam uma re>p<)s-
O controle do nivd da.., enzima.., antioxidante.~ nas ta tardia, tornando a capacidade antioxidame da pele um
célula.~ é extremamente imp<)rtame para a sobrevivência fator extremamemt! importante.19
no ambiente aeróbico. 0;. organbmo:, eucarioto:, comêm
enzimas amioxitlante.\, como a ~uperóxido dil.mutase, -
CLASSIFICAÇAO DOS ANTIOXIDANTES
a catalase e a glutationa peroxiJa...e, que reagem com os
comp<)StO> oxidante> e protegem a.-. célula.~ e os tecidos Jo Os amioxidant~ são clas:.ificados de acordo com a so-
estresse oxidativo. 12 lubilidade:20
o Lipossolúveis: vitami na E, uhiqui no na (coenzima Q-10),
Espécies reativas Je oxig~n io podem causar efeitos no-
civos nos q ueratinócitos e fibrohlasws quando os mecan is- idebenona, licopeno e curcum ina.
o Hidrossolúvcis: vira mina C , glutatio na, chá-verde, silima·
mos de defesa antioxidantt's estão esgmados; além disso,
há crescenres evid ências de q ue espécies reativas d e oxigê· rina, coffea arabica e Coffee Berr/'', Polípodium leucotomas,
n io desempen hem um papd crucial no processo d e enve· resveratrol, extrato de semente de uva e pomegranaro.
lh ecimen ro. Como a barreira ma is externa do corpo, a pele • Outros antioxidantcs: picnogenol, n iacinamida, selê·
e.~tá ex posta a vá rias fontes exógenas d e estresse oxidativo, nio, ca rnosina e luteína.
e m especial os raios UV. E-~tes são considerados os re.~pon·
sáveis pelo tipo extrínseco do ~nvelhecimento da pele, de- Lipossolúveis
nominado fotoenvel heci mento. Por este motivo, é razoável
Vitamina f
uti lizar a supleme ncnção oral com nutrientes anrioxidantes
para prevenção ou tratamento dos transrornos da pele, es- A vitamina E (rocoferol) é um antioxidante pre.~eme
pecialmente aqueles metliados pela radiação UV. 11 na pele e em d iversos al imentOs, como legumes e carne.
Os niveis de carot~noide;. na pele aumentam com a Age dentro de membranas biológica.., para travar a pero-
suplementação oral.14•1s A pd~ e o> olhos são os únicos ó r· xidação lipídica da formação de ratlicai~ livre;,. Exi'>tem oito
gãos que estão comtanrememe ;,ujeito~ aos danos causados isofonnas ativas, a~ quais são agrup.1da.-. em doi.'> grupos:
pela exp<)sição ao amhiente, .endo agredidos pela luz (par· rocoferóis e tocotrienóis. Dos quatro tocoferóis (alfa, hera,
ticularmente a UV e <h comprimento;, de onda visiveis) e gama e delta), o alfatocoferol é o que rem atividade maior.
a poluição ambiental. E,..,a exp<hição p<hle criar e>pécies A vitamina E tt!m ação protetora na pele, quando u:.a-
reativa.~ de oxigênio, levando ao aparecimento de radicais da ames da exp<)sição solar, promovendo eft!it(h fotoprote·
livre.~ que le.~ionam a~ célula;.. Portamo, e.'>.~e> dois órgãos rores com redução do número de célula.-. de queimadura
claramente neces...,itam de proteção.16 de sol (sunbum cells) e do dano provocado pda radiação
A~ células da pele são protegida., dos danos ambientais ultravioleta B (RVUB) e inibindo a (mocarcinogênese.
por meio de v;\ riO> mecani;.mos: 16•17 O tocoferol previne o dano celu lar ao inihir a peroxida·
• Pda presença de um sistema antioxidame natural q ue ção lipíd ica e a formação de radicais livre!>. Alivia ~imaçõe:.
neurral iza os rad ica is livrt!s produ zidos pela luz solar. de estresse oxidativo, preven indo a oxidação espontãnea
• Pela ação dos melanócims, célu las específicas q ue de· dos elementos po li-i nsaw rados e prmt!gendo estruturas ce-
posita m melanina na pele que, por sua vez, filtra a luz lulares impo rtantes d os tecidO-~.
solar. A vita mi na E é utilizada em creme d e 5% a 8% e por
• Pelo aumen to d a atividade mitótica da pele em respos- via sistêmica, 400 mg/d ia.
ta à superexpos içào ao sol. E-~se processo, cham ado h i-
perplas ia, rorn a a epiderme mais espessa, au menta ndo, Ubiquinona (coenzima D-10)
assim, o ca min ho por o nde d eve passa r a luz solar pa ra A ubiqu inona é u m antioxidante lipofi lico, compo·
atingir os niveis in feriores da pele. nem e da cadeia resp irató ria, encontrado em al imentos
como peixes e moluscos.
Dentre os três mecan ismos citados, os amioxidantes Age supri mindo a expressão da colagena.e que aparece
presenres na pele no momento da exposição à luz solar após a radiação ultravioleta A (RUVA). Age na.~ camada~
fornecem a única forma imediata de proteção. No entan- mais profunda.~ da pele fmoenvelhecitla. Por seu efeito an·
tO, e.~dos têm mo,trado que a exp<)~ição à luz solar pode tioxidame, prorege os queratin<'lcitos e fihrohla;,ro;, dos da·
provocar redução ~ignificativa Je..,_..a capacidade amioxi· nos ao DNA e é utilizado por via tópica ou oral, em doses
dame.18 ls.w ocorre p<lrque <h amioxidame.~ que e.~tão ime- de 30 a JOOmg. W.ll
Capítulo 22 • Antioxidantes 119 )

/debenona tetra-hidrofolaw, até a sinte..~e da noradrenalina e a manu-


A idehenona é um análogo •intético da ubiquinona tenção da atividade funcional da vitamina E, do merabo·
que apresenta propriedade, antioxidames e dareadoras. O lismo de prosraglandina e pnNacidina, e do tran.'>pone de
efeito despigmenrame da idehenona •e deve à semelhança ácidos graxos de cadeia longa por meio de memhranas.ro
química com a molécula de hidroquinona, •em os efeitos Mais rele\-ante para a fi~iologia da pele é o ácido ascór-
adverMlS da hidroquinona. bico, que tem ação fundamental na :.int~e de colágeno e
IDB-lighr• é a idehenona comercializada na fonna li- elasrina, sendo cofator para pmlil e lbil hidrosila.~. que
pQ.'\SOmada, o que aumenta a pem1eação do princípio ativo caralL>am a formação de hidroxiprolina e hidroxilL~ina. O
e o protege do proce:..'o de oxidação. ácido ascórbico atua como importante amioxidame da
A cicloidehenona é outra apre•emação da idebenona, pele, modulando efeitos da RUY, os quab provocam os
encapsulada por ciclodextrina, o que promove liberação danos das ROS (reacrit"' oxygen sp.edes). 20
gradativa e o efeito hidrarante proporcionado pelas cido- Na pele, a vitamina C é predominamememe u~ada
dextrinas. A concentração de idebenona pura varia entre para proteger os ambientes hidrofil icos, enquanto a vita·
0,5% e I%, a da IDB-light• varia de 5% a 10% e a da cidoi- mina E evita o comprometimentO das estruturas lipídica.~
debenonn, de 0,5% a 1%.21 como a> membranas celu lares. Es.~as vitaminas funcionam
de manei ra sinérgica: a vitamina C é capaz d e regenerar a
Licopeno vitamina E fot()-{)x idada, recuperando seus benefícios.
Além das p ropriedades antioxidantes, cada uma dessa>
O licopeno é um antiox idante ca rmenoide encontrado
vitam inas desempen ha um papel imporranre no tratamen-
no tOmare, no mamão-papaia e no grapefruit. É facilmente
tO do fowenvelhecimenro. A apl icação tópica da vitamina
absorvido mesmo na forma in nawra, e tem alta biodispo-
E ames da exposição à radiação UV reduz as respostas fo-
n ib ilidade, representando 50% dos carotenoides séricos.
totóxicas agudas e as alteraçôes no DNA e na imunossu-
Após absorção, é transportado via lipoproteinas para a
pressão. Com a ação complementar, a vitamina C inibe
pele, o fígado, os rins, as suprarrenais e a próstata.
a tirosina...e e estimula a sínte..'>e de colágeno e inibidore..~
O licopeno confere fmoproteção e ação anticarcino-
da metaloproteinase I, evit.ando a con., equenre def,'l"adação
gênica. Inibe a ornitina decarhoxilase epidérmica e o blo-
do colágeno. n
queio à apopto:.e induzida pela radiação.U
A concentração máxima para absorção percutánea é
de 20% com pH de formulação menor que ),5. 24
Curcumina
A curcumina ou diferuloilmetano é um pigmento Chá-verde
amarelo extra ido da raiz de uma planta tumérica, Curcuma
O d1á-verde é extraído da planta Camdlia sinensis, que
longa, derivada do tempero indiano rumérico, encontrado
apresenta propriedades antioxidante•, ami-inflamatórias
no pó de cmry.
e amicarcinogi!nicas. O polifenol do chá-verde pode ser
Os ruméric(~ apr~entam um componente solúvel em
administrado o ral ou topicamente. A concentração dos
água, a rumerina, e um componente lipo..o lúvel, a curcu-
fenóis não é padronizada, e produto; com chá-verde t~m
mina.
coloração ocre. 10
A curcum ina apre..~enta ação anti-inflamatória, amicar-
ci nogênica, antioxidante, antim icrob iana e cicatrizame.
Em uso tópico, promove co r amarela na cútis, a qual é Silimarina
difíci l de ser eli minada. Não há dose definida pa ra seu uso, A si limarina é um bioflavonoide extra ído da fruta do
mas recomenda-se uma col her das de chá a cada refeição.22 Silyb"m marian11m (ca rdo-ma riano). A si limari na e seu isô·
mero, a silibini na, s:io oxidantes capaz~s de reagir com n u-
merosos radica is livres. Ap resenta efdtos roroproterores de
Hidrossolúveis aplicação tópic.1 da libi lin ina antes o u após a irrad iação de
Vitamina C fotoprotewres h iológicos.
Vitamina C ou ácido ascórbico é uma vitamina hid ros-
solüvel encontrada em frutas cítricas e vegetais folhosos Coffea arabica/Coffee Ser,.,..
de cor verde-escura. O ácido ascórbico e..~tá envolvido em O Coffee Berry" é um complexo amioxidame natural
numerosas reaçõe..~ pelo corpo, na maioria das vezes como extra ido do fruto semimaduro da Caffea arabica.
cofaror que fornece oxigênio molecular. A potente ação amioxidanre somente é processada
O ácido asc(\rhico é um componente necessário para antes da maturação, o que evita a contaminação por mi·
reaçõe.~ que variam do folaro, tliidrofolato e redução de cotoxinas.
< 120 PARTE VIl • Antioxidantes

O extratO de Coffee Berry"' é rico em polifenó is, incluin- O selênio é e ncontrado no solo e em adubos, e a quan-
do o ácido clorogên ico (ácido cafeico e ácido qu ínico), tidade de selênio e ncontrada em grãos e cerea is vai depen-
proantocianidinas e ácido ferúlico. der da porção util izada na adubação do solo.
Sua co ncentração de uso tópico varia de O, I% a Pode ser encontrado em carnes e ali mentos o riundos
1,5%_20,22 do ma r. A castan ha<lo-pa rá e as nozes constitu em fomes
de selênio.
Resveratrol A~ propriedades de captação de rad icais livres do se-

O antioxidante resveratrol (trans, 3,4,5-tri-hidroxitil· lênio biodispon ível tornam esse elemento essencial na
beno) é um composto polifenólico encontrado em uvas, formulação de cosméticos e protetores solares, visto que o
nozes, frutas e vin ho tinto. É um potente antioxidame com selênio auxilia a neutralização dos radicais livres formados
propriedades anti-inflamatórias e antiproli ferativas.10 pelas radiações UVA e UVB.16

Romã Carnosina
O extrato de pomegranato pode ser obtido da fruta A carnosina (j3-a lan il L-histid ina) é um dipeptídeo sin·
Punica granatum (romã), tanto do suco como da casca. Seus tetizado a part ir da 13-alan ina e da L-histid ina pela e nzima
componentes fenólicos têm potente ação amioxidante. O carnos ina sintase. Estudos util iza ndo cul turas de célu las
extratO da fruta melhora os danos mediados pela RUVA e revelaram que esse dipeptídeo é s intetizado por células
protege contra efeitOS adversos da radiação UVB. O extra- muscu lares, células gliais e oligodendrócitos.
to da casca, utilizado topicamente, restabelece a atividade Muitos estudos indicam que a camosina apresenta ampla
da catalase e da peroxidasew gama de fu nções homeostáticas que, j unta.~. ajudam a supri·
mir muitas das alterações bioquímicas em macromoléculas,
Genisteína características dos processos de envelhecimento e também
A genisteína é uma isoflavona derivada da soja com de um grande nümero de cond ições patológica.~. Existem al-
capacidade de in ibir o dano oxid ativo ao DNA provocado gumas evidências q uanto àS propriedades da carnosina que
pela RUY. Pode ser usada ropica ou sistemicamente para contribuem para sua ação antienvelhecimento, incluindo
proteção da pele e co ntra o fotodano. ação antiglicação, propriedades antioxidantes, ação intensa
na melhora de queimaduras, agente anti-inflamatório etc.
Polypodium /eucotomos Um dos processos macromoleculares relacionados
Extraído de uma variedade de samambaias que crescem com o envelhecimento é denominado glicos ilação protei·
em climas tropica is nas Américas, tem propriedades anti· ca não en zimática, atu almente denominada glicação. Esse
-inflamató rias, antioxidantes e de fowproteção. Utilizada processo envolve a reação de um açúcar red uto r (como
na dose de 240mg ao d ia, atua sobretudo reduzindo o n ü· a glicose) com um grupamento am ino de uma proteína,
mero de célu las danificadas pela agressão ambiental. produzindo um complexo de coloração marrom-amarelada
denominado AGE.
A atividade antienvelhecimento da carnosina foi de-
Outros antioxidantes monstrada no início de 1990. In icialmente, essa ação era
creditada às propriedades amioxidantes desse ativo. Mais
Niacinamida ou nicotinamida
tarde, observou<;e q ue a estrutu ra da carnos ina apresenta·
A niacinamida é o am ido biologicamente ativo da vi- va semelhanças com os sítios proteicos p referencia is nas
tamina B,. Apresenta efeito antienvelh ecimento, agindo reações de glicação, demonstrando que esse dipeptídeo
como antioxidante, melhora a função de barreira epidér- apresentava de faro atividade antiglicação. A carnosina
mica, dim in ui a h iperpigmentação cutânea e redu z linhas inibe a glicação proteica e, subsequentemente, a ligação
finas e rugas. Além disso, reduz a pigmentação amarelo- cruzada e a formação de AGE ind uzida por uma variedade
-citrino do e nvelhecimento cutâneo e melhora a elasticida- de compostos (glicose, desoxirribose, frutose e d iidroxiace-
de da pele.1; tona, entre outros).
Existem também evidências de que a carnos ina exerce
Selênio ação antioxid ante, inibindo a oxidação de lipídios e pro·
O selênio é um mineral essencial no corpo humano com teínas. O d ipeptideo é um excelente varredor de radicais
importante papel no sistema de anti oxidação do o rgan ismo, livres, aw ando sobre rad ica is hidroxila, as mais danosas
protegendo células contra os efeitOS dos radica is livres pro- espécies reativas de oxigên io potencia lmente deletérias, os
duzidos durante o metabolismo norma l do oxigênio. ãn ions h ipoclori to (OCL) e o peroxin itrito (ONOO)ll
Capítulo 22 • Antioxidant es 121 ")

PycnogenoJ® de regeneração. O processo de glicação cond uz as células


O extrato do pinheiro bravo (Pinus pinaster) co nsiste dan ificadas q ue aceleram o e nvelhecimento cutâneo.
em uma combinação de procia nid inas, polifenóis e áci- A teoria dos radicais livres e a da glicação estão fortemen-
dos fenólicos, que pode ser usada oral ou ropicamente. te relacionadas, uma vez que os rad icais livres têm participa-
Procia nid inas são b iopolimeros constitu ídos por un idades ção efetiva no aumento das reações de glicação e, ao atacarem
de catequinas ou epicateq uinas, com comprimentos de ca- a glicose e/ou as proteínas, criam pontos ma is reativos.
deia entre 2 e 12 un idades monoméricas.
O Pycnogenol"' tem sido usado na med icina trad icio- Referências
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A~ MMP podem ser ativadas por espécies reativas de oxi- Arch Biochem Biophys 1998; 355:271-4.
gênio; assim, ambas contribuem ativamente para a rede de 16. Kochevar I, Pathak M, Parrish J. Photophysics, photochemistry
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CONSIDERAÇOES FINAIS
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rante toda a vida de um ind ivíduo, provocando mod ifica- 19. Jurkiewicz-Lange B, Buettner G. Electron paramagnetic reso-
ção nas molécu las ao longo do tempo e em sua capacidade nance detection of free radicais in UV-irradiat ed human and
PARTE VIl • Antioxidantes

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Luteína e a Saúde da Pele e dos Olhos
Sa ndra Lyon
Dagmar Toledo Lyon
Fernanda Lyon Freire

A pele e os olhos estão constantemente expostos aos defesa amioxidante, destacam<;e algu ns minera is (cobre,
danos causados pela exposição ao ambiente e são agred i- ma nganês, zinco, selê nio e ferro), vitaminas (ácido ascórbi-
dos pela luz, particularmente a rad iação ultravioleta (RUV) co e vitaminas E e A), tan inos (catequ inas), bioflavono ides
e a luz visível. (gen iste ína e quercetina) e carote noides (betacaroteno, li-
Essa exposição pode criar espécies reativas de oxigênio, copeno e luteina)• ·s
levando ao aparecimento de radicais livres que lesionam A luteina, carotenoide d iid roxilado pertencente à
as células, causando efeitos nocivos nos queratinócitos e classe das xantofilas, de coloração amarela, atu a como
fibroblastOs ' amioxidante, protegendo as célu las dos danos oxidativos
As células da pele são protegidas dos da nos ambienta is e, consequentemente, reduz o risco de desenvolvimento
por meio de vários meca nismos: de algumas doenças crôn icas degenerativas, uma vez q ue
• Pela presença de um s istema antioxidante natural que o estresse oxidativo e a atuação dos radicais livres são os
neutraliza os radicais livres produ zidos pela luz solar. principais fatores associados à iniciação e à propagação do
• Pela ação dos melanócitos, células específicas que de- desenvolvimento dessas doenças. 6
positam melan ina na pele q ue, por sua vez, filtra a luz A luteina e a zeaxantina apresentam estrutura q uím i-
solar. ca mu ito similar, o q ue w rna d ifícil disti ngu i-las analitica-
• Pelo aumento da atividade mitótica da pele em resposta mente. Ambas contêm o mesmo número de ligações d u-
à superexposição ao sol. 2 plas na cadeia, porém há uma diferença na posição de uma
dessas duplas ligações no anel (Figura 23.1). Essa d iferença
Os rad icais livres agem continuamente no orga nis- fa z da zeaxamina um melhor antioxidante por apresentar
mo, podendo desencadear danos cel ulares e tOrnar-se os uma dupla ligação conjugada a mais que a luteína.7
responsáveis pelo desenvolvimento de câncer e doenças A atividade antioxidante da lute ína consiste na inati-
crô nicas. vação dos radicais livres, na complexação de íons metálicos
Compostos naturais, comendo d uplas ligações co nju- ou na red ução dos h id roperóxidos.8 Por exercer funções
gadas, exercem efeito amioxidame na eliminação de rad i- amioxidantes em fases lipíd icas, bloqueia os rad icais livres
cais livres. Um exemplo desses compostOs co nsiste nos ca- que da nificam as membranas lipoproteicas.s
rotenoides da dieta ou de formulações medicamentosas, os
quais podem desempenhar efeito benéfico no organismo
huma no mediante o seq uestro e a extinção desses radicais.1 FONTES DE LUTEÍNA
O sistema de defesa amioxidante do o rga nismo é for- Os ca rotenoides da dieta humana são e ncontrados em
mado por compostos en zimáticos e não enzimáticos, os plantaS, onde estão local izadas nas raízes, folhas, brotos e
quais estão presentes tanto no organ ismo como nos ali- flores e, em menor quantidade, em produtos avículas e de-
mentos ingeridos. Dos componentes não en zimáticos de rivados de algas.

123
( 124 PARTE VIl • Antioxidantes

Ocorre d iminu ição da geração da, espécie> reativas de oxi·


gên io (ROS).16
As RUY agem sobre a pele, reduzindo a capacidade
HO antioxidame, e a lutei na tem se mo:.trado t!ficaz na redução
Luteina
do risco de lesões das células ao e.'tre>.'< oxidathll ao indu-
zir os efeitos da radiação UVB com diminuição da reação
Conjugada inflamatória aguda.'l
Os comprimentos de onda da luz vbivel também são
capazes de produzir radicais livres na pele.
Isso significa que a pele é exposta aos dano; causado:.
HO pela luz a todo instantt!, independentemente de o indh·í·
Zeaxantina duo estar ou não ao ar livre. Além disso, como o compri·
mento de luz azul parece ser aproximadamente 100 vt!zes
Figura 23.1 Estrutura qufmica da lu terna e da zeaxantina. mais eficaz na produção de rad ica is livres do que os com·
p rimentos de onda menos energéticos de luz vermelha,
observa-se uma necessidade impo rtante d e prover prote·
A lutei na é abundante e m hortaliças J e (olhas verdes, ção pa ra a pele com ra os comprimentos de onda poten-
principalmente em espinafre, couve, acelga, rúcula, mos· cialmente nocivos da luz azu l visível, de aproximadamente
tarda, agrião e brócolis. Em menor quantidade, pode ser 400a 500nm.
e ncontrad a e m frutas e hortaliças como kiwi, laranja, mi- Mesmo os melho res agentes d e proteção solar dispo·
lho e pimenta. níveis não são capaze.~ de fornecer proteção significativa
Constitui um dos carotenoides principais das frutas contra os comprimentos de onda visíveis.
tropica is, como camu<amu e pequi. EMá presente em hoa A lutei na demonstra ser capaz de absorver os compri·
quantidade em vegetais não conwncionaL~, de consumo re- memos de onda da luz azul visível na pele, reduzindo pos·
gionalizado, como ora-pm-nobb, :.erralha, almeirão e taio- siveis danos'"'9
ha. Quiabo, pimentão, jil<\ vagem e repolho não fontes de Assim, a luteina é impOrtante antioxidante contra o
lmeina.9. 11 Alguns alimento> podem :.er enriquecidos com envelhecimento cudineo causado pelos radicais livre.~. que
lmeina extraída de flore> de tagere.-. e de calt'ndula, como são formados pela expOsição exce>siva à radiação e capazes
bebida~ láctea~. molho,, iogurte e sorwte>. 12 de provocar alteração no DNA das célula..,, principalmente
De todos os carotenoide.-. pre..,eme.., no plasma huma- dos melanócitos (célula> de pigmentação) e dos (ihrobla.-,.
no, como lutc!ina, zeaxantina, betacarmeno, licopeno, al(a- tOS (células resp<>ns.-'tveis pela produção de colágeno).
caroreno e criptoxantina, :.<Jmente a lutei na e a zeaxantina
se encontram dep<>,itadas no globo ocular na retina e má·
cuia, constituindo o pigmento macular (PM). A luteina é,
LUTEÍNA E A SAÚDE DOS OLHOS
assim, o antioxidante p~lominame no olho, protegendo No cenrro da retina, região de elevada acuidadt! visual,
os tecidos da oxidação ao fi ltrar a luz azul (comprimento de é possível a visual ização de urna mancha amarela chamada
onda de 400 a 500nm) e ao neutralizar os rad ica is livres. O mácula, pigmento da retina re.~ponsável pela vbão nítida
organismo não produz lutt!í na, mas pode obtê-la da d ieta das imagens (Figura 23.2). Sua cor amarela explica-se pela
por meio de suplementOs dietéticos. p resença de luteína e zeaxantina, os do is ú nicos ca rotenoi·
des presente.~ no ol ho, em qua ntidade muito maior do que
em q ualq uer ou tro tecido humano. 2~
LUTEÍNA E A SAÚDE DA PELE O pigmento da máwla protege a retina. De maneira se·
A luteína apresenta importante papel an tioxidante, letiva, a mácula concen tra lutdna e zeaxantina em uma fina
exercendo seu efe ito foto protetor das segu intes maneiras: camada de tecido reti nia no que cobre essa á rea do olho. 7
• Reage contra a proliferação cel ular induzida pela RUV. 11 A degeneração macular relacionada com a idade
• Dim inui a inflamação e a imunossupre~são induzida (DMRI) é uma doença ocula r grave capaz de causar ceguei·
pela RUV.H ra nas pessoas com mais de 65 anos de idade. 21 A DM RI
• Inibe a fotocarcinog<!nese.'s atinge a capacidatle visual, causando redução da clareza vi·
sua!, podentlo ainua resultar em perda da visão.
A suplementação da lutei na reduz a peroxidação lipídi- Pessoas com degeneraç.'io macular vão perdendo a vi·
ca e aumenta a ela,ticidade da pele, aumentando também são central e enxergantlo com se houve,_.,.! uma mancha
os lipídios superficiaL~ e, simultaneamente, a hidratação. no cenrro da imagem Cocada, o que di(iculra a leitura. No
Capítulo 23 • Luteína e a Sa úde da Pele e dos Olhos 125

A catarata provoca a opacificação do cristalino por


várias etiologias, como traumática, congênita, por uso de
med icamentos e pela idade. A causa ma is comum é a cata-
rata senil, que acomete cerca de 50% das pessoas com mais
de 60 anos de idade. A turvação progressiva do cristalino
interfere na absorção de luz que ch ega à retina, causando
visão progressivamente borrada. 10
A retinopatia diabética é causa importante de ceguei ra,
a qual se deve à ma ior produção de radica is livres e à redução
dos sistemas de defesa amioxidante. O diabetes pode causar
dois tipos de alteração: a retinopatia não prol iferativa, e a
retinopatia proli ferativa. Na retinopatia não proliferativa os
Figura 23.2 Pigmentos maculares no olho humano. (Fonte: pequenos capilares da retina se rompem e extravasam sa n-
adaptada de Alves-Rodrigues e Shao, 2004.) gue, causa ndo pequenas hemorragias retin iares que podem
distOrcer o campo visual, próximas da mácula, borra ndo a
entantO, sua visão periférica fica preservada, fatO pelo qual visão. Na retinopatia pro liferativa, a neofonnação de vasos
a DMRI é conhecida como visão periférican sa nguíneos pode levar a sa ngramento no interior da cavida-
À med ida q ue as células da mácu la se deterioram, a de vítrea, causando descolamento da retina. A retinopatia
acuidade visual começa a ser alterada. Os objetOs diante dos proli ferativa pode levar à ceguei ra tOtal.9
olhos começam a mudar de forma, tamanho o u cor e pare· A retin ite pigmentosa consiste em uma degeneração
cem se movimentar, ou até mesmo desaparecem. Não é po:;.. ocular rara, caracterizada pela atrofia dos fowrrecepwres
sível ver as imagens centrais porque a DMRI pode evolui r da retina, responsáveis pela visão em cond ições de ba ixa
para uma área de ceguei ra, afeta ndo a q ualidade de vidan luminosidade. Essa disfu nção leva ao prejuízo da visão no-
A DMRI pode apresentar-se de duas formas: DMRI seca turna. Ao longo do tempo, ocorre perda gradua l da visão
ou não neovascular e DMRI úmida ou neovascular. Na de- periférica.
generação do tipo seca, a parte central da retina começa a fi- Na retinite pigmentosa avançada, o ind ivíduo apresen-
car distorcida, pigmentada e afilada. Na degeneração úmida, ta uma pequena área central de visão e pouca visão peri fé-
a retina pode desaparecer e não poderá ser recuperada, dan- rica, denom inada visão em túnel. A suplementação com
do a impressão de existir um buraco no centro da retina.7•9 lute ína tem sido recomendada para reta rdar o processo
O meca nismo de proteção da retina pela luteina e a degenerativo e melhorar a acuidade visual. 26. 11
zeaxantina é decorrente da limitação do estresse oxidativo A retin ite pigmentosa pode ser típica ou se apresentar
e de sua capacidade de filtrar a luz azu l danosa aos tecidos.9 associada ao d iabetes, à obesidade o u ao uso de medica-
A lute ina e zeaxanti na absorvem de 20% a 90% da luz azul mentos.
incidente na retina, reduzindo a extensão do da no fotoxi·
dativo. Os p igmentos maculares estão d iretamente envol-
vidos na quebra de propagação da oxidação dos radica is OUTRAS PROPRIEDADE DA LUTEÍNA
peróxidos e interceptação do oxigên io s inglete.n. 2• A luteína destaca-se na prevenção do câncer. O pro-
A luz azu l na retina provoca erros, q ue encabeçam a cesso ca rcinogênico é ca racte ri zado por um estado oxi-
peroxidação das membranas lipíd icas. A baixa concentra· dativo crôn ico. A lute ína e ou tros antioxidantes podem
ção de lu teina e zeaxantina na região ocular aumenta o red uzir o risco de câncer ao in ibir os danos oxida tivos do
risco de DMRI. Por se tratar de uma doen ça irrevers ível, a DNA. 12
prevenção da DMRI com o consumo de luteína e zeaxan- A aterosclerose é uma doença a nti-in flamatória crôn ica
tina é muitO importante.9 A suplementação de 40mg/dia que evolui com formação de placas no interio r das artérias,
de luteína pode melh orar a acuidade visual e aumentar o os ateromas, os q uais ocluem os vasos e levam a s índ romes
campo de visão central dos pacientes com DMRI, elevando isquêmicas graves, como o infarto agudo do miocárdio. A
a pigmentação macular em 20% a 40% 1 9.H lute ína tem a propriedade de proteger o endotélio das li-
Em ind ivíduos fumantes, a co ncentração de luteína e poproteínas de baixa dens idade (LDL), as q uais lesionam
zeaxantina no soro é cerca de 14% men or, e é menor a o endotélio com a oxidação. O efeitO pro tetOr dos carote·
densidade desses p igmentos na mácula 2 6 noides está associado à redução da oxidação do LDL, do
Além da DMRI, a suplementação ali mentar com lutei- estresse oxidativo e da formação de plaquetas. A ingestão
na tem apresentado efeitos positivos no controle da cata· de lu teina protege o organismo do desenvolvimento da ate·
rata, da retinopatia diabética e da retinite pigmentosan·29 rosclerose precoce. 11•14
< 126 PARTEVIl • Antioxidant es

-
CONSIDERAÇOES FINAIS
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prod ução excessiva de rad ica is livres ori undos da RUY e 16. Lee EH, Faulhaber D, Hanson KM et ai. Dietary lutein reduces
da luz azul, a lém de aumentar a hidratação, a elasticidade ultraviolet radiation-induced inflammation and immunosuppres-
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sintetizar os carotenoides, é necessária uma dieta de vege- 18. Ham Jr W, Mueller H, Sliney D. Retinal sensitivity to damage
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PARTE VIII

,
PELE SENSIVEL
Pele Sensível
Sandra Lyon

Pele sensível corresponde a um conjunto de sintomas e • lndividuos que apresentam sensaçôes anormais e desa·
sinais sensoriais, como desconforto facia l, queimação, pru- gradáve is na pele sem relato de agentes tópicos.3
rido relacionado com mudanças de temperatura o u uso
tópico de substâ ncias que normalmente são bem roleradas. Os ind ivíduos de pele sensível apresentam d iferentes
Pele sensível é a pele q ue apresenta como característica graus de sensibilidade:
presença maior grau de sensibilidade, reagindo facilmente • Peles muito sensíveis que reagem a muitos fatores e n-
a estímulos físicos e q uím icos, o que provoca irritações, dógenos e exógenos, com sintomas agudos e crô nicos e
alergias e ou tras complicações. Essa sensibilidade é repre- componente sensorial importante.
sentada por disfunção da barreira epidérmica.' • Reatores ambienta is: pele clara, fi na e seca, que tende
Existem três tipos de sensibilidade: a ficar rubori zada (blush ou flush) a part ir de muda nças
• Induzida: que recebe influências de fatores externos, ambienta is.
como uso de cosméticos inadequados, alimentos, mu- • Reatores cosméticos: reativos tra nsitórios a algum agen-
danças climáticas, ingestão de med icamentos, peel.ing, te específico ou produto indeterminado.'
laser, d isfu nção endócrina e doenças autoimunes.
• Hereditária: representada por processos atópicos. Os fatores que desencadeiam sensibilidade na pele
• ldiopática: presença de rubor a qua lquer estímulo 2 são: frio, calor, estresse, expos ição solar, vento, uso de sa-
bonetes, banhos, cosméticos e atriro.1•1
- '
MANIFESTAÇOES CLINICAS DA PELE
Na fisiopatologia da pele, considera-{)e o desenvolvi-
mento do aumento da permeabilidade do estrato córneo
SENSÍVEL associado à exacerbação da resposta neu ro imunoendocri-
A pele sensível é caracterizada por sintomas subjetivos nológica da pele.
neurossensoriais (coceira, ardor, ca lor), q ui miossensoriais Há a penetração anormal de substâncias na pele em
(ind uzidos por substâ ncias qu ímicas) e ps icológicos. decorrência da disfunção da barreira cutânea, desenca-
De acordo com a classificação de Mill~ & Berger, de deando uma reação inflamatória não específica.
1991, existem quatro categorias de pele sensível: O principa l mecan ismo util izado pelas cél ulas epidér-
• Portadores de d oenças crônicas dermatológicas: der- micas para ativar e participar da resposta imu no lógica e
matite a tópica, dermatite seborreica e rosácea. inflamatória cons iste na produção de citocinas pelos que-
• Portadores de doenças demutológicas inaparentes: como ratinócitos, melanócitOs e célu las de Langerhans.
a tópicos que apresentam pele xerótica e descamativa. Entre os estímulos ambienta is estão os carcinógenos,
• Portadores de lesôes sequelares de queimadura, trau· a rad iação ultravioleta e agentes qu ímicos que ind uzem os
mas por agentes agressivos el\1:ernos ou dermatite de queratinócitos a prod uzi rem as cirocinas. A d iminuição do
contato de natureza alérgica. limiar de tolerância da pele leva às inflamações cutâneas e

129
< 130 PARTE VIII • Pele Sensível

aos sintomas cl ín icos da pele sensível, como prurido, ardor fora . Estão indicadas as águas termais, que proporcionam
e sina is neurossensoriais.4 frescor e têm ação descongestionante.25•6
Os protetOres solares devem ser formu lados em base de
gelou emu lsões (água/óleo) muito leves, sem fragrâ ncia.
CUIDADOS COM A PELE SENSÍVEL
A maquiagem é um faror importante em caso de eri te-
São necessários cuidados gera is especiais, alimentares, ma facia l relevante, util izando bases fluidas, siliconadas e
medicamentosos, ambientais e loca is para os portadores h ipoa lergenicas.
de pele sens ível. Recomenda-{)e a redução ao mí nimo do O cuidado adequado da pele sensível aumentará sua
consumo de bebidas alcoólicas e alimentos picantes e mui- resistência às agressões externas, melhorando sua aparên-
to condimentados. cia e to rnando-a saudável. 2·;·6
Torna-se necessário evitar muda nças b ruscas de tem-
peratura, q ue podem romper vasos capilares, prod uzindo
rubor na pele. CONSIDERAÇOES FINAIS
-
Devem ser evitados amb ientes quentes e úm idos, so-
bretudo saunas e ba nhos a vapor. A pele sens ível é muitO vulnerável a agentes externos,
A limpeza da pele deve ser realizada com produtos sua- produzindo desconforto, sobretudo na face, com eritema
ves q ue não agridam a epiderme. A forma cosmética idea l e prurido. Essa sensibilid ade, representada por disfu nção
é a emulsão. As em ulsões A/0 são indicadas para as peles da barreira epidérmica, exige cuidados especiais e o uso d e
muitO secas, util iza ndo-se veículos de textu ra oleosa, como produtos com pri ncípios ativos leves, sendo os resultados
ó leo mineral e petrolaro. As em ulsões emolientes com veí- terapêuticos, mu itas vezes, med íocres ou irrelevantes.
culos fluidos A/0 do tipo umectantes são evanescentes
e bem toleradas. Podem ser util izados ativos com efeitO
Referências
anti-in flamató rio, como bisabolol, alantoína e polifenó is,
1. De Lacharriere O, Baverel M, Reichel L et ai. Sensitive skin: an
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Floshing
Sandra Lyon

O flushing co nsiste no eritema permanente ou transitó- abacaxi, ameixa, vi nho tinto, tomate e alimentos con·
rio anatomicamente mais sintomático na face e na porção d imentados.
superior do tronco. Pode ser fisiológico ou um componen- • Síndrome carcinoide: a síndrome carcinoide está asso-
te da rosácea, podendo ainda ser desencadeado por fár· ciada a sintomas como f!,L~hing e diarreia, e a med iadores
macos, alimentos, por mediadores vasoativos da síndrome vasoativos, como 5-hidroxitriptami na, seroron ina, prosta-
carci noide ou, a inda, te r o rigem sistêmica.' glandi nas, gastrina, motitin, soma tostatina, calcito nina,
O flushing fisiológico deve ser avaliado pelo históri· polipeptídeo pancreático e taqu iqu ininas (substância P e
co e d ividido em duas categorias: o flushing úmido tem neuropeptídeo K).
o rigem a utônoma, e nquanto o seco tem como o rigem • Causas sistêmicas d o flushi ng: envenenamento por
fatores externos e está relacio nado com o uso de med ica- peixe escombrideo, alimentação, gustativa, mastocitO·
mentos e outros agentes q ue atuam diretamente na rede se, carcinoide, carcinoma med ular da tireoide, tumo-
vascular2 res pancreáticos, inclu indo insu linem ia, sindrome de
Causas de flushing e síndrome de flushing:> Poems e hormô nios (and rogênios, estrogênios e meno-
• Medicamentos su bstanciais que provocam flushing: pausa).
- Dissulfiram com ingestão de eta nol.
- C lorpropamida com ingestão de etanoI.
- Metro nidazol com ingestão de etanoI. TRATAMENTO
- lnibidores da enzima conversora da angiote nsina (ra- No tratamento, é importante determina r a causa e
mipril, capropril). evitar os eventos desencadeadores. Algumas formas de flu-
- Bloqueadores do canal de cálcio (verapamil, nifed ipi- shing respondem a salicilatos e anti-inflamató rios não este-
na). roides. A pentoxifilina e agentes betabloqueadores podem
- Antagon istas receptOres 5 HT3 (odansetra n). ser utilizados com beneficio. A brimonid ina 0,33% em gel
- Betabloqueadores 3 (fluvoxam ina). tópico tem mostrado boa eficácia. A duração do tratamen-
- Ácido nicotin ico. tO é variável e constitu i um desafio clin ico.'
- Niacina.
- Nitratos (isossorbina GTN).
- Sildenafil. -
CONSIDERAÇOES FINAIS
- Eta nol.
- Prostaciclina. O fi,L!Iting é uma ocorrência bastante comum em
- Prostagland ina E. mu itos pacientes. Trata-se de um sintoma que desafia o
• Alimentos/ substâncias que provocam flushing: ál- tratamentO. Apenas pa rte da popu lação apresenta sinto-
cool, berinjela, abacate, ba nana, chocolate, noz, kiwi, mas de f/,L!hing regu larmente como um compo nente de

131
< 132 PARTE VIII • Pele Sensível

sua fisiologia. Devem ser ava liados o histórico, a perio- Referências


d icidade ou cro nicidade do processo, estím ulos desen- 1. Wilkin JK. lhe red face: flushing disorders. Clin Dermatol 1993;
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constitui um desafio. Atheneu, 2010.
PARTE IX

-
ERUP-OES ACNEIFORMES
Acne
Rozana Castorina da Silva

A acne é uma doenca •


in flamatória crôn ica da un ida- Etiopatogenia
de pilossebácea, ca racterizada pela presença de comedos
Herança
abertos e fech ados, pápu las, pústu las, cistos e, muitas vezes,
com formação de cicatri zes. o O taman ho da glândula sebácea, sua atividade na pu-
berdade e a q ueratin ização anômala folicular podem ter
in flu encia genética.
'
HISTO RICO o Caráter autossôm ico domina nte.
O termo acne fo i empregado pela pri me ira vez no o Se ambos os pais têm acne, a possibilidade de apareci-
século VI D.C., po r Aetius Amidenus, méd ico do impe- mento é de 50%, com gravidade variáveJ.l
rador Justiniano.' Du rante roda a história da medic ina
foram registradas mu itas definições e p ropos tas de tra- Distúrbio da queratinização fo/icular
tamento pa ra a acne. No século XIX, médicos ingleses Há queratin ização infund ibular anômala, com h iper-
relac io na ram a acne a distúrb ios gástricos e p ropuseram queratose, a qual produz obstrução do orifício folicu lar,
terapêuticas para a regressão das ma ni festações cutâ· levando à formação do comedo:
neas.z
Atualmente, a acn e constitui doença comum que aco- Microcomedo
mete milhões de pessoas, envolvendo morbidade ps icosso-
!
cial, porque a gravidade da acne está relacionada com a Comedo fechado
d iminuicão das atividades sociais e do rend imento escolar
• !
e ao aumento do desemprego.J.; Comedo aberto

No início, há o microcomedo (i nvisível clin icamente),


ACNE VULGAR constitu ído por corneócitos no infu ndíbulo. O acúmulo de
Uma das dermatoses mais freq uentes, apresenta lesões corneócitos leva à formação do comedo fech ado o u cravo
evidentes, polimorfas, de intensidade variável, que surgem branco (lesão esférica, semelhante ao milium, com orifício
na puberdade em quase rodos os jovens de ambos os se- central pouco vis ível}. O acúmulo de corneócitos e sebum
xos. Sem tratamento adeq uado, deixa cicatrizes inestéticas ocasiona a formação do comedo aberto ou cravo prero.8
e indeléveis.
Afecção de folic ulos pi lossebáceos q ue contém uma
glândula sebácea hipertrofiada e pelo fino rudimen- Hipersecreção sebácea
ta r, loca liza-se na face e na região ante roposterior do Cons iste no segu ndo fawr fundamental para o de-
tó rax. 6 senvolvimento da acne. O desenvolvimento das glândulas

135
< 136 PARTE IX • Erupções Acneiformes

sebáceas ocorre na puberdade, em vi rtude da ação dos an- Acne grau I


drogênios (testosterona e seus derivados). Há a presença de comedos, sem sinais inflamatórios.
Pode haver algumas pápulas e raras púsrulas. Existem três
Mecanismos tipos de comedos:
• M icrocomedo: acú mulo de corneócitos no infund i-
• Há hipersecreção da glâ ndula sebácea ao estímulo an-
b ulo, levando à d ilatação folicula r. Queratose foli-
drogênico (fatores genéticos o u co nstitucionais). A pele
cular na fronte o u no dorso do na riz e no início da p u-
acneica converte em ma ior grau a testostero na em dei-
berdade.
drotestosterona, que é o hormônio ativo.9
• Comedo aberto ou cravo preto: resulta do acúmulo de
Assim, a terapêutica é d irecionada para o uso de:
corneóci tos e seb,.m e da colon ização do P. acnes. A cor
- Estrogênios em altas doses: diminuem a atividade das
escura é derivada da presença de melanina. À luz de
glândulas sebáceas.
Wood, encontra-{)e cor vinho, em razão da produção de
- Amia ndrogênios: ciproterona, bloq ueia os receptores
porfirina pelo P. acnes.
androgênios da glândula sebácea.
• Comedo fechado ou cravo bra nco: decorren te do
- lsotretinoína: é o agente eletivo aw al para o trata-
acúmu lo de corneóciros no infund íbulo, aprese nta-
mento da acne, com ação di reta sobre a glându la se-
-se de forma esférica, com o u sem orifício visível no
bácea e a queratinização folicular.
ce ntro, esbranquiçado ou da cor da pele, semelhante
• Por aumento dos androgênios circulantes, por exemplo,
ao milium. Pela espremed ura, extrai-se massa esbra n-
a síndrome SAHA (seborreia, acne, hirsutismo e alope-
quiçada (Figura 26. 1).9
cia) e sínd romes virilizantes (Cushing e iatrogenia). É
um mecan ismo mais raro.10•11

Bactérias
A popu lação bacteriana da face é formada por:
Propíoníbacterium acnes, P. granulosum e P. parvum, que se lo-
calizam na porção profunda do folículo pilossebáceo.
O ciclo da doença cons iste em: retenção sebácea ->
proliferação -> hidrólise dos triglicérides do sebum -> áci-
dos graxos-> irritantes da parede folicu lar e sua q ueratini-
zação -> processo infamatório com antico rpos, linfócitos,
neutrófilos, macrófagos e linfocinas.
Os Staphylococcí epidermidis prod uzem lipase e agravam
o quad ron.n
Outros fatores, como tensão emocional, ciclo mens-
trual, ali mentos e med icamentos, podem agravar o q uadro
de acne.

Manifestações clínicas
O q uadro clínico é polimorfo, caracterizado por come-
dos, pápulas, pústu las, nódu los e abscessos loca lizados na
face, nos ombros e na porção superior do tó rax, gera lmen-
te associado a seborreia 14 Figura 26.1 Acne grau I (Fonte: acervo da Ora. Maria Juliana
Saraiva de Almeida.)

Classificação da acne
• Acne comedônica ou grau I: acne não inflamatória. Acne grau 11
• Acne papulopustulosa ou grau II: acne inflamatória. Presença de comedos abertos, pápulas, com ou sem
• Acne nódulo-abscedante ou grau III. eritema, e pOstulas. O quadro apresenta intensidade variá-
• Acne conglobata ou grau IV. vel, com reação inflamatória de leve a intensa. A seborre ia
• Acne fulm inante ou grau V.9 também está presente (Figu ra 26.2).9
Capítulo 26 • Acne 137 ")

Acne grau IV
Forma grave de acne, caracteriza-se pela acne grau lll
associada a nódulos purulentos numerosos e gra ndes, for-
mando abscessos e levando a brida.~ e lesões quelo idianas.
Comum nos homens, acomete face, tórax e até mesmo a
região gl útea. Constitu i a acne conglobata (Figura 26.4) 9

Figura 26. 2 Acne grau 11 (Fonte: acervo da Ora. Maria Juliana


Saraiva de Almeida .)

Acne grau 111


Há comedos abertos, pápulas, pústulas e seborre ia.
Reação inflamatória em virtude da ruptura da parede foli-
cular e colo nização de bactérias, que atinge a profundidade
dos pelos, formando nódu los furuncu loides. Estes elimi·
nam queratina e pus, impropriamente ch amados de cistos
(Figu ra 26.3).9
Figura 26.4 Acne g rau IV em uso de isotretinoína. (Fonte: acer-
vo da autora.)

Acne grau V
Forma rara em nosso meio, caracteriza-se por acne con-
globata associada a sintoma.~ s istêmicos com febre súbita,
leucocirose, poliartralgia, eritema, necrose ou hemo rra-
gia em algumas lesões. É denom inada acne fulminans . Ao
exame hisroparológico, ocorre vasculite leucocitoclástica
(Figura 26.5).9

..

Figura 26. 5 Acne conglobata com infecção secundária. (Fonte:


Figura 26.3 Acne grau 111 (Fonte: acervo da autora.) acervo da autora.)
< 138 PARTE IX • Erupções Acneiformes

Melanodermias e cicatrizes residuais • Outras opções:


A acne pode ocasionar ma nch as resid uais por tra u- - Estearaw de eritromicina, 500mg duas vezes ao d ia,
matismo em peles tipos 111 e IV. A acne conglobata deixa também longe das refeições.
cicatrizes deformantes, com brida.~. fibroses e lesões que- - Azitromicina, 500mg uma vez ao dia por 3 d ias. Inter-
lo idianas. romper por 7 dias e repetir ci nco pulsos.
• Antibiótico de escolha para a adm inistração com a iso·
tretinoína:
Diagnóstico - Minociclina ou doxicicl ina IOOmg/dia.
As lesões da acne são muito comu ns e características, - Sulfametoxazol-tri mewprima, 400/SOmg, duas vezes
não necess itando de diagnóstico d iferencia l. Podem, no ao d ia. Usar por 2 a 4 meses e red uzir as doses quan-
entanto, ser diferenciadas de rosácea, pioderma facial e do houver melhora superior a 80%. Os tratamentos
erupções acneiformes.'; com med icação tópica ou antib ióticos não curam a
afecção, promovendo somente o co ntrole, devem ser
Tratamento mantidos por anos até a cura natural da acne.' 8
O tratamento é rea lizado em trêS períodos.
Terceiro período
Primeiro período Nesse período é introduzido o uso de isotreti noína,
Antes do uso de antib ióticos e qu imioterápicos, proce- atua lmente indispensável no tratamento da acne e ind ica-
de-se à terapia tópica: loções desengordurantes, antissépti· da para acne graus 111, IV e V e para aqueles ca.~os de acne
cas, preparações esfoliantes (e nxofre, ácido salicílico, resor· grau 11 resistentes ao tratamento tópico.
cina), retirada de comedos, aplicações de ultravioleta etc. A isotretinoína possib il ita a cura da acne, evita anos
Esses recursos eram usados co ntinuadamente por anos até de tratamento e melhora as cicatrizes. Trata-se do ácido
a cura da acne após a adolescência. Nas formas resistentes, 13-cis-retinoico, derivado do retino! (vi tam ina A). Atua so-
a rad ioterapia já foi aba ndonada. bre a glândula sebácea, d iminu i a sebogênese e normaliza a
querati nização, interrompendo a.~ cond ições para a prolife-
Segundo período ração bacterian a. Tem efeito prolongado.
Nesse período são usados fánnacos e antib ióticos tópicos É usado na dose de I a 1,5mg/kg/dia, dividida em
e sistêmicos, que promovem o controle da erupção sem a cura d uas a três doses, durante ou após a.~ refeições, com do-
defin itiva da acne. Têm indicação no tratamento da acne CO· sagem mín ima acima de 0,5mg/kg/dia. O período mín i-
medõnica não inflamatória e da forma papulopusrulosa: mo de tratamento é de 5 meses e dose total deve alcan-
• Acne grau 1: çar 120mg/kg o u, no máximo, 150mg/kg. A maioria dos
- Tretinoína a 0,05%, aplicada à noite e retirada pela casos respo nde ao tratamento e apresenta cura defin itiva
ma nhã. Evi tar a exposição solar. da acne. Algu ns pacientes exigem período de ma nutenção
- lsotretinoína a 0,05% tem substituído a tretinoína entre 6 a 10 meses. Em geral, trata-se de q uad ros acneicos
por ser menos irrita nte e tão efetiva q uanto. de forma grave e mulheres com sind rome dos ovários po-
- Ácido azelaico a 15%, duas vezes ao dia, é a segunda licísticos.
escolha, e pode ser usado nas gestantes. Em caso de nova recidiva, pode-se repetir a isotretinoí-
- Extração manual de comedos abertos não é necessá- na na mesma dosagem, porém por período de tempo me-
ria, havendo melho ra temporária e risco de infecção. nor, sem qua lquer inconven iente.19•10
Os comedos fech ados podem ser abertOs com agu lha • Efeitos adversos: é med icação segura, sendo o único
ou eletrocautério. risco o de teratogen icidade; portanto, deve ser adm inis-
• Acne grau 11: trada somente quando estiver excluída a gravidez. Usa r
- Peróxido de benzoíla de 2,5% a 10%, uma ou d uas anticoncepcionais ora is em ca.~o de risco de gravidez.
vezes ao dia, é o tratamento de escol ha. Reações ad- No in ício, há exacerbação da.~ lesões, mas no final do
versas: irritação e sensibil ização. primei ro ou segu ndo mêS ocorre melho ra importa nte.
- Antibióticos tópicos: eritromicina a 2% em solu ção As reações colaterais geralmente não são ind icação de
ou gel e clindamicina a I% em solução alcoólica. interrupção do medicamento. São elas:
- Antibióticos s istêmicos: utilizados quando o tratamen- - Secura labial (1 00%) e queilite (95%): usar manteiga
tO tópico é ineficaz. Tetraciclina, 500mg, d uas vezes ao de cacau o u pomada de dexpantenol.
dia, 30 min utos a mes ou 2 horas e meia depois das - Q ueilite angular (90%): usar pomada à base de anti·
refeições. Contra indicada na gravidez. ' 6·'1 biótico ou cewconazol.
Capítulo 26 • Acne 139 ")

- Secu ra das mucosas nasal (50%), oral (40%) e ocular androgên ios maternais. Nas crianças maiores, é causado
(20%): solução sa lina, colírios e bochech os. por androgên ios das gõnadas o u suprarrenais (ad renais).
- Eritema e/ou dermatite na face (40%): cremes hidra- O tratamento consiste no uso de tretinoína ou isotre-
tantes. tinoína tópica, adapaleno, peróxid o de benzoíla e eritro-
- Epistaxe (30%). micina tópica.
- Prurido (25%) causado pela asteatose.
- Eflúvio telógeno (25%).
Acne escoriada
- Conjumivite (20%).
- Dermatite asteatósica (20%): principa lmente nos mem- A acne escoriada, observada quase que excl usivamente
bros. Utilizar cremes hidratantes. e m mulheres, caracteriza~e por escoriações e cicatrizes na
• Reações sistêmicas: face. Trata-se de um quadro neu rótico o u ps icótico com co-
- Mialgia, amalgia, cefaleia, obstipação intestinal. medos e pá pu las que o d oente traumatiza constantemente
- Hiperte nsão intracraniana benigna: relatada em pa- (Figuras 26.6 e 26. 7).
cientes q ue usaram tetraciclina associada à isotreti· O tratamento cons iste no uso de doxepina, lOmg/dia,
no ína. e no tratamento da acne, co m acompanhamento psicotera-
- Hiperostose. pêutico, se necessário.
- Agravamento da depressão.
• Controle laboratorial: são necessários os segu intes exa-
mes:
- Hemograma e transaminases.
- Colesterol e triglicérides: se > 400, interro mper e
readm inistrar após normalização.2'·2'
• Grupo de risco: adolescentes obesos, diabéticos, hi.~tó­
ria familiar d e hipercolesterolemia e doenças si.~têmicas.
- Intercorrências: foliculite gram-negativa.
- Antibióticos: são usados d evido à exacerbação da acne
no in ício do tratamento. Antibióticos tópicos são usa-
d os nos casos de acne grau lll; nos dema is, usam-se
antibióticos sistêmicos, exceto as tetraciclinas. Na acne
abscedens o u cística, conglobata e fulminans, deve ser
usado isotretinoina com antibiótico: I a 2mg/kg de
isotretinoina e l,Sg/dia d e eritromicina, em duas a
trêS doses de SOOmg, ou cefalospori nas, ou azitromi-
cina, SOOmg, uma vez ao dia por 3 d ias. Interromper Figura 26 .6 Acne androgênica escoriada. (Fonte: acervo da
por 7 dias e repetir cinco pu lsos. Este é o antibiótico Ora. Maria Juliana Saraiva de Almeida.)
d e escolha pa ra adm in istração com a isotretinoina.2324
• Corticoides: na acne cistica e conglobata pode-se usar pred-
nisona, 20mg/d ia, reduzind<Y<~ progressivamente. Na acne
.fulminans, a admin istração de prednisona é indispensável.
• Antiandrogênios: ciproterona + etin ilestradiol estão indi-
cados nas seguintes condições: como anticoncepção, na
s índrome SAHA e na sindrome dos ová rios policisticos.
• Procedimentos ci rúrgicos:
- Dre nagem de abscessos.
- Dermatoesfoliação: nas cicatrizes de acne p rofu nda.
- Técnicas de preenchimento.2526

VARIANTES DA ACNE
Acne infantil
Caracteriza~epor pápu las e comedos que surgem na Figura 26.7 Acne androgênica. (Fonte: acervo da Ora. Maria Ju-
face durante a infância. No neonatO, o q uad ro se deve aos liana Saraiva de Almeida.)
PARTE IX • Erupções Acneiformes

-
CONSIDERAÇOES FINAIS
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As lesões podem ser mín imas em alguns; em outros, no rium leveis in patients with and w ithout acne vulgaris. J lnvest
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Erupções Acneiformes
Rozana Cast orina da Silva

Erupções acneiformes são cond ições semelhantes à Acne por medicamentos tópicos
acne, de aspecto monomórfico, q ue acometem o utras Causada pelo uso de pomadas e cremes medicamen-
áreas além da face. A lesão inicial é inflamató ria, tipica- tOsos, pode ind uzir a formação de comedos e pápulas. É
mente uma pápu la ou pústula, sem a presença do comedo. causada por veículos como vaselina, lanolina ou por com-
ponentes de corricoides.2
PATO GÊNESE
Acne por fricção
Não é conhecido o mecanismo patogênico das erup-
ções acne iformes. As reações ma is comuns são desencadea- Causada pelo contato com faixas, carneiras de chapéus
das por medicamentos, levando a uma ação d ireta sobre o ou capacetes, no pescoço pode ser causada por apo io de
epitélio folicular com degeneração focal e reação inflama- violino. Forma, por ação irritativa e infecção secundária,
tó ria neutrofílica intrafolicu lar e perifolicu lar.' pápu las e püstulas co nsequentes à oclusão folicular. O tra-
As erupções acneiformes podem ser causadas por tamento co nsiste na exclusão da ca usa e, se necessário, no
agentes contatantes, que atuam d iretamente sobre a pele, uso de med icação tópica 2
ou por agentes endotata ntes, que atuam por absorção, in-
gestão, inalação ou injeção. Acne estiva/
Alguns autores atribuem o aparecimento desse tipo de
CLASSIFICAÇAO
- acne de verão à sudorese excessiva com edema do orifício
folicular e inflamação subsequente, associada ao uso de
Acne por contatantes cremes foto protetores. O tratamento consiste no uso de sa-
Acne por cosméticos bonetes antiacneicos, loções de antibiótico e até mesmo
A forma mais frequente, ocorre em mulheres na pós· antibiótico oral por I a 3 semanas, q uando necessá rio.
-adolescência, na tercei ra e quarta décadas de vida, em ra-
zão do uso de cosméticos. Acne ocupacional
Caracteriza-se por comedos e pá pulas, e raras pústu las, Ocorre em trabalhadores e é ca usada por contatantes
na face de mulheres com passado de acne, seborreia e que ocupacionais. Os tipos ma is frequentes são:
usam cremes facia is. C inq uenta por cento dos cosméticos • Acne dó rica ou d oracne: causada pelo cloro absorvi·
contêm substâncias comedogênicas. do por via cutâ nea ou pulmona r. Pode haver alterações
As peles seborreicas não devem ser submetidas a pro- pulmonares, hematológicas, neurológicas, metabólicas e
d utos oleosos, excetO as pá lpebras. Q uando necessário, usa- cutâneas, com co medos e lesões in flamatórias nas áreas
-se retinoide tópico, peróxido de benzoíla ou a ntibiótico. 2 expostas.

141
< 142 PARTE IX • Erupções Acneiformes

• Acne dos pesticidas: ocorre em trabalhadores agrícolas DIAGNÓSTICO


q ue man ipulam produtos clorados orgân icos (pentaclo- O d iagnóstico é eminentemente clinico, pois o quadro
rofenol !PCPI, pen tacloronitrobenzeno !PCNBI, clo- é compostO por lesões predomi nantemente monomórfi-
rotalonil e ácido triclo rofenoxiacético). O tratamento cas. A a namnese é pri mordial para apontar a correlação
cons iste no uso de treti noina tópica e, nos casos graves, com uso de agentes sistêmicos, uso de cosméticos o u q ues-
hospi talização 2 tão ocupacional.•
• Acne dos óleos e graxas (elaiocon iose): causada por
contatO com óleos e graxas, que promovem a oclusão
dos óstios folicu lares, com pápu las e nódulos inflama- Histopatologia
tórios e po mos negros nos óstios fol iculares. O trata- O exame hisropato lógico revela espongiose infu ndibu-
mento consiste na prevenção do comatante e no uso lar, hiperquerarose e formação de microcomedos, ru ptura
de tretinoina tópica e tetraciclina, se houver infecção do epitélio folicular e infiltrado inflamatório inespecifico•
bacteriana.
• Acne por asbesto: é encontrada em trabalhadores da Exames laboratoriais
indústria de asbesros 2
Os exames laboratoriais são úteis nos casos de imoxi·
cação. Por exemplo, servem para excluir a possibilidade de
Acne por endotatantes doença linfopro liferativa sistêmica como causa de anemia
Alguns fármacos podem agravar a acne o u induzir o e pa ra identificar leucocirose, geralmente persistente. 7
aparecimento das erupções acneiformes. Os medicamen-
tos ma is comuns são:
Diagnóstico diferencial
• Corticoides, ACTH, andrógenos, anticoncepcionais orais.
• Ha lógenos (F, Cl, Br), vitaminas B,2' B6 e B, e 0 1 , iso- O diagnóstico diferencial se faz com as seguintes afec-
niazida, ri fampicina, etionam ida, fenobarbi túricos, hi- cões:

dantoina, lítio, hidrato d e cloral, qu inina e dissulfi ram, • Face: tin ha de barba, acne, rosácea, dermatite perioral,
tiouracil, tioureia e ciclospori nas.l querarose pilar, pseudofolicu lite da barba e miliária.
• Couro cabeludo: acne necrótica.
A erupção acneiforme causada pelo uso de corticotera- • Tronco: acne vu lgar, miliária pustu losa, doença acamo-
pia sistêmica é muito comum. O carbonatO de lítio, utili- lítica trans itória (doença de Grover) e escorbutO.
zado no tratamento de distúrbios man íacos induz eru pção • Extremidades: q ueratose pilar e escorbutO.
acneiforme e outras dermatoses, como foliculite, psoríase, • Axilas e virilhas: hidradenite supu rativa.
sobretudo psoriase pustulosa, e pustu lose palmoplamar.45
Eru pção acneiforme importante é causada pelo uso de O diagnóstico diferencial da erupção acneiforme fa-
medicamentos para tratamento de tuberculose (ison iazida, cial aguda inclui lúpus eritemaroso, e rupções ind uzidas
etambutol, etionamida e rifampicina)• pela luz, acne indu zida por medicamentos e infecção bac-
O uso de suplementos ali mentares provoca uma va- teriana•·8
riante de acne indu zida por estero ides anabolizantes-an-
drógenos e/ou vitaminas do complexo B. A suplementa- -
OUTRAS ERUPÇOES ACNEIFORMES
ção alimentar pode desenvolver q uadro acneico, inclusive
acne fulminans, pele e cabelos oleosos, alopecia androge- Foliculite por gram-negativo
nética, hirsutismo e ginecomastia. Outros efei tos do uso A folicul ite por gram-negativo é um pioderma folicu lar
de anaboliza ntes-a ndrógenos incluem alterações da lib ido, e não uma variante de acne, mas pode estar presente como
aumento da agressividade, alterações de h umor, hepatite complicação causada pelo uso de antibioticoterapia sistê·
colestática, tumores hepáticos e doenças cardiovasculares, mica por período prolongado, especialmente tetraciclinas.
como a miocardiopatia.' O tratamento consiste na combinação de cefalosporinas,
por 2 semanas, com isotretino ína, 0,5 a 1,2mg/kg/d ia por
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 4 a 5 meses.'
O quadro clínico das erupções acneiformes caracteriza-
-se por pápulas pequenas ou papu lovesicopustu losas disse- Acne necrótica
minadas, atingindo face, pescoço, tronco, ombros, braços, A acne necrótica é denom inada acne necrótica miliaris,
região glútea e coxas. Raramente há co medos que, quando acne variol iforme, acne fro ntalis, acne atrófica, perifolicu lite
ocorrem, aparecem tardiamente na erupção.1 pustular ou foliculite linfocítica necrosante. Trata-se de uma
Capítulo 27 • Erupções Acneiformes 143 ")

erupção folicular papulopustulosa que leva ao aparecimento apresentar um q uad ro acne iforme, com lesões periorais,
de cicatrizes deprimidas superficiais, semelhantes à varicela. auricu lares, ou agrupadas em placas . A evolução é cicatri-
In icia-se com aparecimento de lesões perifoliculares cia l e atrófican
papulopustu losas que aumentam de taman ho e evoluem
com centro deprimido e crostas secas e necróticas. As le-
Síndrome de Behçet
sões deixam cicatrizes va rioliformes.
A artrite e as lesões papulopustulosas constituem ma-
O tratamento cons iste em antibioticoterapia sistêmica
n ifestações da doença de Behçet. H istoparologicamente,
associada a isotretinoína e corticosteroides. 4
essas lesões não se diferenciam da acne.
Associação clín ica de artrite e acne foi descrita na sín-
Acne agminata d rome SAPHO (s inovite, acne pusrulosa, hiperostose e os-
Denom inada lupus miliaris disseminattts faciei, co nsiste te ite) e na artrite psoriásica.
em er upção com pápulas ver melho-acastan hadas que evo- Os agentes implicados na artrite psoriásica são os es-
luem para pústu las e involuem em 2 a 6 semanas, deixando treptococos e, na síndrome SAPHO, o P. acnes. 11
cica tri zes pigmentadas.
As lesões acometem a região periorbimria, a área cen- Dermatite perioral
tral da face e os membros.
A dermatite perioral é uma erupção acneiforme com
O exame h istoparológico revela granuloma com necro-
pápu las eritematosas, púsrulas e vesículas agrupadas, loca li-
se central caseosa. 9
zadas nas regiões perioral e memoniana, poupando o sulco
central do lábio superior.
Foliculite eosinofílica/foliculite estafilocócica Embora de etio logia desconhecida, são co nsiderados
A foliculite eos inofílica e a foliculite estafilocócica são prováveis farores desen cadeadores: cosméticos, hidrata n-
complicações comu ns da sí ndrome da imu nodeficiência tes, cremes dentais fluorados e conicoides tópicos .
adqui rida. O tratamento pode ser feiro com metronidazol tópico,
A foliculite eosi nofílica é representada clinicamente por sob a forma degela O, 75%, n icotinamida, a 4% em gel, eri-
lesões eritematopapulofoliculares, pustulosas ou não, acom- tromicina tópica, em gel a 2%, ou eritrom icina sistêm ica.14
panhadas de crostas e escoriações. Loca lizam-$e preferencial-
mente em tronco, face e braços. Em geral, acompan ha-se de TRATAMENTO
eosinofilia periférica e ocorre qua ndo a contagem de linfó-
O tratamento das erupções acneifonnes varia de acor-
citos CD4 encontra-se inferior a 200 células/mm 1. O exame
do com a causa básica. Se a origem é medicamentosa, deve-
histopatológico é representado por infiltrado inflama tório
·se suspender o med icamento. O diagnóstico d iferencial na
mononuclear per meado por eosi nófilos que podem destrui r
origem das erupções acneifor mes é fundamental para que
o folículo piloso.10
se te nha sucesso no tratamento.

Foliculite pitirospórica
A foliculite p iti rospórica apresenta erupção acneifor·
-
CONSIDERAÇOES FINAIS
me, e o diagnóstico é defi nido a partir da presen ça do P.
ot,ale nos folículos pilosos mediante biópsia-" As erupções acneiformes são muitO comuns e devem ser
diferenciadas da acne vu lgar. Essas eru pções podem ser cau-
sadas por contata ntes ou endotantes, sobretudo pelo uso de
Lúpus eritematoso crônico med icamento. É extensa a relação de fám1acos/substã ncias
O lú pus eritematoso crô nico (LEC) com aspecto ac- q ue provocam er upções acneiformes (Quad ro 27.1).
ne i forme é uma for ma cutâ nea de lúpus q ue pode se ma- É necessária anamnese criteriosa para que se possa es-
n ifestar isoladamente ou, em 10% dos casos, associada tabelecer a correlação com o uso de agentes s istêmicos ou
ao lúpus eritematoso agudo disseminado. O LEC pode cosméticos, a lém da questão ocupacional.
PARTE IX • Erupções Acneiformes

Quadro 27 . 1 Agentes que costumam provocar erupções acneiformes•

Aciclovir Desipramina Lansoprazol Qui nino


Ácido fólico Diazepam Levotiroxina Ramipril
Ácido valproico Diltiazem Utio Riboflavina
Alprazolam Dissulfiram Maprotilina Rifampicina
Amitriptilina Eritromicina Medroxiprogesterona Risperidona
Amoxapina Estazolam Mefenitofna Ritonavir
Atorvastatina Etionamida Mesalamina Saquinavir
Azatioprina Famotidina Metiltestosterona Sertralina
Betaxolol Felbamate Metotrexato Sibutramina
Bisoprolol Fenobarbital Metoxsalem Sparfloxacina
Buspirona Fenoprofem Minoxidil Stanozolol
Cabergolina Fexofenadina Nabumetona Tacrina
Carteolol Fluconazol Nafarelina Testosterona
Cefamadol Fluoxetina Naratripatam Tetraciclina
Ceftazidima Fluoximesterona Nefazodona Tiagabina
Celpodoxima Fluvoxamina Nimodipina Tizanidina
Cetirizina Foscarnet Nisoldipina Topiramato
Ciclosporina Gabapentina Nizatidina Trimetadiona
Ciprofloxacina Ganciclovir Olsalazina Trioxsalem
Clofaimina GCSF Ouro Trovalfoxacina
Clomifeno Grepafloxacina Parametadiona Venlafaxina
Clomipramina Haloperidol Paroxetina Verapamil
Contraceptivos orais Herofna Pentostatina Vimblastina
Corticosteroides Hidrato de cloral Pergolida Vitaminas do complexo B
Cortisona lnterferons Pirazinamida Zalcitabina
Dactinomicina lodeto de potássio Primidona Zidovudina
Danazol lsoniazida Propafenona Zolpidem
Dantrolene lsossorbida Propranolol
Deferoxamina lsotretiofna Psoralenos
Demeclociclina Lamotrigina Ouinidina

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Rosácea
Rozana Castorina da Silva

Rosácea é uma afecção crôn ica da face caracterizada por dano actín ico, levando à dilatação dos pequenos vasos, o
eritema, telangiectasias, pápulas e, às vezes, pústulas e nó- que desencadeia f!uslting, eritema e telangiectasias, de d is·
d ulos. Trata-5e de uma e ntidade defi nida, q ue não tem rela- tribuição simétrica na face. A incompetência vascular e a
ção com a acne vu lgar o u a erupção acneifonne, exceto por d istribu ição dos vasos dérmicos, provocando lin fedema
loca lizar-5e na face e apresentar pá pulas, pústula.> e nód ulos.' e extravasamento de med iadores in flamató rios, evoluem
para pá pulas, pústu las e nódulos.;
' Existe ainda o co ncei to do envolvimento da infecção
HISTO RICO da mucosa gástrica pelo Helicobacter pylori, em caso de rea-
Durante muitos anos a rosácea foi associada a um pro- tividade vascular anormaP·6
blema dos celtas, sendo por isso den om inada "maldição Outro fator etiológico propostO é a prol iferação do
dos celtas" . Mais tarde a rosácea fo i associada ao f!uslting na Demodex folliculorum, ácaro extremamente comum na pele
face. Hoje a rosácea é cons iderada uma doença de instabili- dentro dos fol ícu los, desencadea ndo a reação inflama
dade vascular, de vermelh idão reativa da face, q ue acomete tória'' 8
mu itOS ind ivíduos em wdo o mundo.2 Abordagens mais novas e básicas pa ra a compreensão
da rosácea incluem os estudos sobre marcadores da doença
e perfil da expressão genética. Os moduladores de PPAR2
EPIDEMIOLOGIA (peroxisome proliferator-activat.ed receptor) e seus ativadores pa-
A rosácea acomete 10% da popu!ação, preferencialmen- recem modular fatores de crescimento vascu lar e epi telia l,
te ind ivíduos de pele clara, mais mulheres do q ue homens, o que correspo nde à principal suspeição em caso de tela n-
na proporção de 3: I, na faixa etária de 30 a 60 anos, e com- giectas ia progressiva. Esses ativadores estariam envolvidos
promete predom ina ntemente as áreas convexas da face. já o na liberação de óxido n itroso e a geração de superóxido.9
rinofima, que pode ocorrer d urante a evolução da rosácea, é As proteínas catelicidinas do sistema imu ne inato pode-
consequente à hiperplasia das glândula.> sebácea.> e man ifes.- riam in iciar o processo como uma resposta não específica
ta-5e quase que exclusivamente nos homens. 1•4 aos "insultos" à pele. 10

ETIOPATOGENIA FATORES DESENCADEANTES10


A ca usa é desconhecida. Ocorre resposta vascular au- o Ambien tais: sol, vento, umidade, calor.
mentada, responsável pelos su rtOs eritemawsos, que no o Alimentares:
início são efêmeros e depois se tornam persistentes. Bebidas: álcool, vinh o ti nto, cerveja, uísque, gim,
Ocorrem alterações degenerativas dos tecidos elásti· vodca, champan he, cafeinados (café, chocolate, chá),
co e colágeno vascular e perivascular dérm ico, devido ao água quente e sidra quente.

145
PARTE IX • Erupções Acneiformes

- Comidas: q uentes, pica ntes, chocolates, queijos, deri- • Rosácea papulopustulosa (grau 11): pápulas e pústulas
vados do leite, baunilha e molhos à base de soja. nas áreas eritematosas, edema e maior componente in-
• Medicamentos: esteroides fluorados, vasodilatadores, flamatório, estendendo-se à á rea de implantação dos
ácido nicotínico, inibidores da enzima conversora de an- cabelos, regiões retroauricular e pré-esternal.'
giotensina, bloqueadores de canal de cálcio e estatina. • Rosácea infiltrativa-nodular (grau 111): placas eri tema-
• Cosméticos: prod utOs adstringentes, sabões e fragrâncias. toedematoinfiltrativas nas regiões memoniana e nasal e
nódulos por hiperplasia sebácea, às vezes, com absces-
sos. A rosácea fimawsa, a forma mais frequente, inicia-
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
-se por eritema, edema, d ilatação dos poros, acúmulo de
As características clinicas incluem sempre pelo menos queratina e tecido glandular, seguido por tecido fibro-
um dos sinais primários ou a associação de s inais primários so. O processo fima toso pode se manifestar em o utras
e secundários." áreas, como me mo, fronte, bochechas e orelhas.;
• Rosácea fulminans {grau IV): co nstitui quadro agudo
Sinais primários de aparecimento súb ito, imensa reação inflamatória,
• Flushing: o transtOrno mais precoce. nódulos e abscesso. As lesões são eritematocianóticas
• Vermelh idão facial persistente: o sinal mais comum de com nód ulos pu rpúricos em toda a face. Abrem-se o ri-
rosácea. fícios confluentes q ue elimi nam material seroso, sero-
• Pápulas e pústulas: lesões acneiformes, sem a presença purulemo ou mucoide de odor fétido. Constitui o pio-
de comedos. derma facial. Não ocorrem s intomas s istêmicos como
• Telangiectasias. na acne fu lminante e não há e nvolvimento ocular nem
recorrência.'
• Rosácea granulomatosa: quadro clinico de pápu las eri-
Sinais e sintomas secundários temawacastanhadas ou pequenos nódulos na face di-
• Irritação dos o lhos: lacrimejamemo e hiperemia con- fusameme eritematosos e espessados. Histopawlogica-
juntiva!. mente, eviden cia-se a presen ça de gra nulomas epitelio i-
• Sensação de queimação e prurido na face. des. O curso é crô nico e não recid iva me. O diagnóstico
• Aspecto xerótico da face com predom ín io na região cen- diferencial inclu i dermatite perioral, sarco idose nodu lar
tra l. e !Opus miliar disseminado da face. 12
• Placas eritemawsas elevadas e circundadas pela pele nor- • Rosácea conglobata: quad ro grave e crô nico que lembra
mal. acne conglobara com eritema intenso, placas induradas,
• Espessamento e alongamento da pele, em especial no nódulos e abscesso hemorrágico.;
nari z, constituindo o rinofima. • Rosácea ocular: relacionada com a frequência dos
• Edema facia l. surtos e não com o grau da rosácea, acomete 50% dos
• Acometimento de regiões não faciais: tórax, couro cabe- doentes, podendo haver blefarite, conjumivite, episcle-
ludo e orelhas. rite, iri te e queratite."

CLASSIFICAÇAO
- DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
A rosácea manifesta-se cl inicamente, na fase pré-rosácea, O diagnóstico diferencial deve ser feito com dermatite
com eritema d iscreto na face (couperose), que se agrava com perioral, acne inflamató ria, doenças que cursam com fo-
surtos (jlu.shing) de duração variável, os quais surgem espon- tossensibilidade, fa rmacodermias, erupção polimo rfa à luz,
taneamente ou pela ação de fatores diversos, como luz, ca- !Opus eritemawso e sindrome carcinoide.
lor, frio, vemo e o consumo de álcool e alimentos quentes. A sindrome de Haber é uma genodermawse in iciada
De acordo com a frequência e o desenvolvimento das na infância e que se apresenta com lesões rosácea-símiles,
lesões, a rosácea apresenta quatro subti pos e variantes com pigmentação acasta nhada, pápu las e nódulos verruci-
caracte rísticas próprias: subtipos vascu lar ou eri tematote- formes nas axilas, no pescoço e no dorso. A doença de
langiectáSico (grau 1), papu lopustuloso (grau 11), rosácea Dowling-Degos é familiar, inicia-se na infância e apresen-
infiltrativa-nodular (grau lll) e rosácea fu.lminans (grau IV); ta pigmentação reticulada das flexu ras, além do aspectO
e variantes granu lomatosas, conglobat.a e ocu lar.' rosácea-símile da face.
• Rosácea eritematotelangiectásica (grau 1): eritema per- A forma infiltrativa nodu lar deve ser diferenciada de
sistente e telangiectasias que afetam a face, o centro fa- algu ns casos de bromoderma o u iododerma e, ainda, de
cial com surtOs agrava ntes por diversos fato res.' tubercúlides.
Capítulo 28 • Rosá cea 147 ")

O uso de cortico id es fluorados na face pode ind uzir gia de uma tomada diária, a não interação com o cálcio e a
quadro semelhante à rosácea com atrofia, aumento da te· possibilidade de admi nistração com as refeições.
langiectas ia, e ritema escuro ou lívido, pápulas, püsru las e • Metron idazo l, 500mg três vezes ao d ia, interage com ál·
co medos. Q uand o o con icoide é retirado, ocorre a exacer· cool, varafarina e fenitoína. Por mais de 3 meses de uso,
bação do quadro.' pode causar neuropatia periférica.
• lsotretinoina é util izada para casos refratórios e, sobre·
tudo, q uando há rinofima.
HISTO PATOLOGIA
• lvermectina na dose de 100 a 200J.!g/kg em dose ú nica.
O quadro h istoparológico va ria de acordo com a forma • Na rosácea ocular, deve~e usar tetraciclina até a regres-
clín ica: são total do quadro.
• Rosácea grau I: capilares d ilatados na derme e infil tra· • Laser e lu z pulsada pod em ser ú teis no con trole d as ma-
do inflamatório li nfo-h istiocitário inespecífico. n ifestações vasculares com telangiectasias.
• Rosácea grau li: infiltrado inflamatório com neutrófilo
peri folicular.
• Rosácea grau III: aumento das glându las sebáceas com RINOFIMA
material q ueratinoso, vasos d ilatados e infiltrado in fla- A pa lavra grega fima s ignifica inchaço ou tu mefação.
matório crô nico. Rinofima é um in tumescimento progressivo do nari z, ob·
servado em homens e frequentemente associado à rosácea.
Em 10% dos casos ocorre infiltrado gran uloso com Ocorre progressiva h iperplasia de glând ulas sebáceas e do
célu las epi telioides e gigantócitOs e aspecto tu rberculoide.' tecido conjuntivo, associada a a lterações vasculares.
Outros tipos de fi mas são gnatofima (intumescimento
TRATAMENTO do queixo), metofima (da fronte), otofima (das orel has) e
blefarofima (das pálpebras).'
O tratamento da rosácea baseia-se em:

Manifestações clínicas
Medidas gerais
Existem duas formas de rinofima:
• Afastar fatores desencadeantes o u agravantes: exposição
• Forma fibroangiomatosa; há intumesciemnto nasa l,
solar, vento, frio, bebidas alcoólicas e ingestão de ali·
com eritema e púsrulas.
mentos quentes.
• Forma glan dular: aumento do nariz, com a presença
• Uso de proteto res solar de amplo espectro.
de nód ulos . Com a evolução, o intumescimento nasal
• Evita r o uso excessivo dos sabões e soluções alcoólicas.
torna-se proeminente e lobulado, assimétrico, separado
Preferi r sabonetes à base de e nxofre.
por sulcos.

Os poros sebáceos estão d ilatados e, à expressão, elim i·


Terapia tópica 14·15
nam substância branco-amarelada fétida.'
• Metron id azol em gela 0,75% e I% aquoso reduz o eri·
tema, as pá pulas e as pústulas.
Tratamento
• Ácido azelaico em gel a 15% ou creme a 20% d iminui
as lesões inflamató rias e a intensidade do eritema. Nos quadros associad os à rosácea, o uso de tetracicl ina
• Outros med icamentos tópicos: adapa leno a I%, nicoti· mel hora o q uad ro clinico.
nam ida a 4%; antibióticos: eritromicina a 2% e cl ind a- Nas formas incipientes, associadas o u não à rosácea,
mici na a 1%. recomend a-se a isotretinoína no mesmo esquema terapêu·
• Brimo nid ina 0,33% em gel. tico empregad o para os casos de acne.
• Loções de enxofre a 5% ou sulfacetamida a 10%, quan- Pode-se recomendar aind a o uso de n itrogên io líqu ido,
do há lesões in flamató rias. Os corticoides tópicos não eletrocoagu lação das telangiectas ias, cirurgia com shaving,
devem ser usados. dermoabrasão e laser de COz-' 4
• Na rosácea fulminante, utiliza-se cortico ide o ral.
-
CONSIOERAÇOES FINAIS
Tratamento sistêmico14
• Antibióticos: tetraciclina e eriuomicina na dose de 250mg, A rosácea é um distú rbio crôn ico loca lizado na face,
duas vezes ao d ia. O utras dclinas, como minociclina, lime- com flare-ups e remissões, que se inicia após os 30 anos de
cicli na e doxicicli na, apresenta m como vantagens a posolo- idade.
PARTE IX • Erupções Acneiformes

Os sinais e s intomas podem ser: fluslti ng, vermelh idão, 5. Crawford GH, Pelle MT, James WD. Rosacea: etiology, pathoge-
nesis and subtype. J AmAcad Dermato12004; 51(30):499-512.
pápulas, púsrulas, telangiectasias, ardência, irritação nos 6 . Lehmann P. Rosacea: clinicai features, pathogenisis and therapy.
o lhos, pele seca, placas eri temawsas, edema e rinofima. Hautarzl 2005; 56(9):871-85.
Existem q uad ros incipientes e outros graves. 7. Dahl MV Pathogenesis of rosacea. Adv Dermato12001; 17:29-45.
A rosácea ocular pode evolu ir para dano córneo e per- 8 . Milikan L. The proposed inflammatory pathophysilogy of rosa-
cea: implications for treatment . Skin Med 2003; 2:43-7.
da da visão.
9 . www.rosacea.org/grants /awards.html. 2003
A rosácea exige uma rotina de cu idados com a pele e 10. Millikan L. Rosácea. In: Ramos-e-Silva M, Castro MCR. Funda-
terapia apropriada para o quad ro clinico apresentado por mentos de dermatologia. Rio de Janeiro: Atheneu, 2010.
cada paciente. 11. Wilkin J, Dahl M, Detmar M et ai. Standard classification of rosa-
cea: report of the National Rosacea Society Expert Committee
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t o12004; 50:907-1 2.
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2. M illikan L. Recognizing rosacea: Could you be misdiagnosing 13. Tanzi EL, Weinberg JM. The ocular manifestations of rosacea.
this common skin disorder? Postgrad Med 1999; 1051 :149-58. Cutis 2001; 68(2): 112-4.
3. Blount BW, Polletier AL. Rosacea: a commom, yet commonly 14. Gupta AK, Chaudhry MM . Rosacea and its management: an
overlooked, condition. Am Fam Physician 200; 66(3):435-40. overview. J Eur Acad Dermat o1Venereol 2005; 19(3):273-85.
4. Kyriakis KP. Epidemiologic aspects of rosacea. J Am Acad Der- 15. Nally JB, Berson DS. Topical therapies for rosacea. J Drugs Der-
mat ai 2005; 53(5):918-9. matai 2006; 5(1 ):23-6.
Acne na Mulher Adulta
Rozana Cast orina da Silva

A acne na mul her adu lta ocorre após os 20 anos de ida- anormal do estrógeno (o estradiol pode estar normal no
de, podendo também pers istir da adolescência até a idade in ício o u no meio da fase folicular, porém não apresenta
adulta, sendo denominada acne persistente, o u aparecer aumento fisiológico no período pré-ovu latório ou na fase
subitamente nessa faixa etária devido a distúrbios endó- lútea) e aumento da tescosterona livre.
cri nos sistêmicos. Além disso, pode refletir mod ificações Ocorrem aumento da androstened iona, alterações me-
hormonais que ocorrem após os 35 a nos de idade, sendo tabólicas como hiperinsulinemia, aumento da resistência
denom inada acne peri menopausa e acne pós-menopausa. à insu lina, redução da globulina carreadora de SH BG (sex
Pacientes portadores da síndrome dos ovários pol ici.~­ hormone-bíndíng glob,.lin), a qual aumenta o percentual de
ticos ou sínd rome de SAHA (seborreia, acne, h irsutismo e testostero na bioativa.1•1
alopecia) podem apresentar o ra acne persistente, ora um
quadro de aparecimento súbi to. Ambos os grupos têm hi.~­ SÍNDROME DE SAHA
tó ria patOlógica negativa para acne.' A s índ rome de SAHA compreende quatro sinais clín i-
cos: seborreia, acne, h irsutismo e alopecia, man ifestações
comuns do hiperand rogenismo. Essa síndrome compreen-
SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
de os quad ros de hiperandrogenem ia decorrentes da pi-
A s índ rome dos ovários policísticos constitui distúrbio tuitária (prolacti noma), de distú rbios da função ovaria na
comum durante a idade reprodutiva da mul her e é caracte- (tumor ovariano and rógeno-ativo) e da função suprarrenal
rizada por achados clín icos e bioquímicos. Está associada (tumor da glândula suprarrena l, hiperplas ia suprarre nal).5
a h iperand rogen ismo com anovulação crôn ica sem doença
de base específica das glând ulas suprarrenal e pituitária.1•1
Ocorre frequentemente na faixa etária dos 15 aos 30
PATOGÊNESE
anos. O quad ro cl ín ico inclu i h irsutismo, acne, alopecia Os hormôn ios cumprem importante papel na fisiopa-
and rógeno-dependente, d isfu nção menstru al (amenorreia cologia da acne.
ou o ligomenorreia), infertil idade, ovários policísticos e
obesidade, na maioria dos casos.' O exame ultrasso nográfi- Hormônios andrógenos
co mostra ovários geralmente aumentados de volume, com As gônadas (ovários e testículos) e a glând ula suprar-
parênquima heterogêneo, e vários pequenos cistos folicu la- renal produ zem a ma ioria d os andrógenos circulantes. A
res, comumente situados na periferia do ová rio, subcapsu- glândula sebácea pode prod uzir andrógenos a partir do
lares, no mesmo estágio de desenvolvimento, com aproxi- precu rsor da suprarrenal, o DHEAS (sulfatO de diidroe-
madamente 6 a 7mm de d iãmetro '·4 piand rostero na).
Os exames complementares podem apresentar eleva- A teswstero na e a d iidrotestosterona interagem no re-
ção da secreção do hormôn io lutein iza nte (LH), secreção ceptor and rogên ico.

149
( 150 PARTE IX • Erupções Acneifonnes

O aparecimento :.úbito da acne ou a resisr<!ncia ao tra- DIAGNÓSTICO LABORATORIAL


tamento do quadro acneico p<xle e:.tar relacionado com • Em ca.so de disfunção ovariana (hiperandrogenismo e
o hiperandrogenbmo devido a tumores ovarianos ou su- hipoesrrogeni.-,mo), :.ão :.olicirado.., DIIEAS, te>t<l.~tero­
prarrenab, ovário:. p<)licbtico• ou hiperplasia congênita da na toral, te:.wsterona livre, horm('mio luteinizante (LH)
suprarrenal. Porradora.'> de acne p<xlem ter produção local e honnônio foliculoe:.rimulame (FSII).
de andrógeno:. na.., glândula.., •ehácea> e apresentar andró- • Em ca.w de produção exce;,..,iva de andrógeno:. ;uprarre-
genos :.~rico:. denrro da normal idade. Na R~ioparologia da naiS, solicita-se, além do DIIEAS, a 17-hidroxiprogesre-
acne, de,-em :.er levado., em conra tanto a produção local rona. Valores de DHEAS entre 4.000 e 8.000ng/mL pO-
de andrógeno:. como o.' andrógomos séricos' dem esrar a.>sociados à hiperpla;ia ;uprarrenal cong<!nira.
O DHEAS é pr<xluzido em larga escala na zona reri- • Em ca.so de excesso de andrógeno de origem ovariana, a
cularda glândula suprarrenal. A enzima 31}-hidroxiesreroide testosterona tora I p<xle e:.tar elevada.
desidrogenase 013-IISD) atua na DHEA, convertendo-a • Na sindrome dos ovários p<)licisticos p<xle ocorrer au-
em androsrenediona, que posu:riormeme é convertida em mento da restosterona total ou da rdação LII/FSII.
resrosrerona nos tecidos periféricos, como a pele, por meio • Outros exames complementares: hetaestradiol, 17.QH.
da ação da enzima Sa-redurase. -progesterona, prolactina, FSI I, LI I, DI IEAS, and roste·
A atividade da Sa-redurase é ma io r nas glându las sebá· ned iona, restosrerona e SIIBG, alem d e função ti reoi·
ceas da pele da face.'·" d iaoa.

Estrógenos Fases do ciclo em que são solicitados os exames bho.


O esrrógenn mais ativo é o estrad iol, produzido a par· raroriais:
rir da tesrosterona sob a ação da enzima aromarase, que • No primeiro dia do ciclo menstrual, perto da fase ovu.
latória, para identificar a presença de ciclos anovu lató-
é ativa no ovário, no tecido adi!X)SO e em outros tecidos
periféricos. Os e:.rrógeno; atuam em oposição direta aos rios.
• No inicio da fa.,e folicular, enrre o terceiro e o qu into
efeitos dos andrógeno:., inibem a produção de andrógenos
dia do ciclo men:.trual, é po., ,ivel identificar uma pro-
pelo tecido gonadal e regulam <>;. genes que influenciam
vável redução do eHradiol em paciente.~ no período de
negativamente o cre.,cimenro da> glându la.~ sebáceas ou a
perimenopalL~a ou p<)..,.menopau:.a.
produção de lipídio., .'·"

Em ca.w de ~índrome do:. 0\'ário; policl'>ticO>, solicim-se


Hormônios do crescimento ulrrassonografla para evidenciação de <l'>ário:. p<)licisticos.
O hom1ônio do cre...cimenm é ;ecrerado pela bipófise As alterações lahoramriab con:.btem em:
e atua no fígado e no:. tecido; periféricos, estimulando a • Aumento do LH, que e,.,timula a produção de andróge-
produção dos fatores in:.ulina-similes (IGF-1 e IGF-11). Os nos pelas c~lulas da teca ovariana.
IGF são ma i:. prevaleme.' na adolesc<!ncia.• • Níveis reduzidos de FSII, o que r~luz a aromarização
do andrógeno em e.~trógeno, re;ulrando em exce.~so de
and rógeno.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Elevação da testo>terona total ou livre.
A acne na mulher adulta caracteriza-se por uma pele • Elevacão

da androstenediona .
facial com rexrura androgênica e les<~es in flamatória.~ no • Podem ser solicitados o te;te de supressão d e dexameta·
terço inferior da face com poucos comedos. O grau de sona, co rticotrófica e reste de estimulo do GnR II (hor·
o leos idade t! pequeno. mônio liberador de gonadotrofina).
• Obesidade, hiperlipidem ia e redução da secreção do
hormônio de crescimento ocorrem na síndrome do ovfi.
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
rio policistico.1•6
O diagnóMico clínico haseia-se na hi~tória de apare-
cimento súbito da.~ lesões de acne, sem relato de acne na
adolescência. A faixa etária varia de 20 a 40 anos. A pa· TRATAMENTO
ciente tem regi;rro de alteraçôes do ciclo menstrual e au- • T ó pico: com uso de sabonete:., ácido azdaico, retinoi-
mento de pe:.o e pelo:.. A., le;ôe:. inflamatórias localizam-se des e amimicrobiano; tópico:..
no terço inferior da face, acompanhando a região maxilar • Sistêmico: antibiótico;, como azitromicina, retraciclina
e mental, com exacerbação da> le.<;tk~ ou aparecimento de e limeciclina, podem ;er úteb na fa.>e inflamatória. A
nódulo~ no peri<xlo prt!-men>trual. resp<)sta à isotretinoina não é .atbfatória.
Capítulo 29 • Acne na Mulher Adulta 151 )

Terapia hormonal nível de andrógenos. O contracepti\'O mais utilizado


A rerapia hormonal é importante no tratamento da é o que comhina o erin ibtradiol com o acetato de
acne da mulher adulta com ou :.em níveis de andrógenos ciprorerona. Ourros contraceptivo;, utilizados são
elevados: aqueles com baixa.~ do;,e:, de e;trógeno,., - 20mg de
• Bloqucadores de receptores and rogênicos: etinilestradiol - a~sociado;, a le"morge..,trel, desoge...-
- E.~pironolactona, na do;e de 50 a IOOmg, reduz a ex- trel ou acetato de noretindrona, com o objetivo de
creç.io de :.eho e inibe a 17-j} IISD tipo 2 (hidroxies- reduzir os efeitos adverso;, do;, e.'>ttógeno..
teroide de.,idrogena!>t!). 0.. efeito> adversos são ma·
mas dolorida.~ e irregularidade.., men;rruais! Deve-se
proceder à monitorização do> eletrólitos séricos em CONSIDERAÇÕES FINAIS
mulheres com mab idade.
- Acetato de ciproterona inibe a ovu lação ao bloquear Na acne da mulher ad ulta evidencia-se a importância
o receptO r androgt'nico. É milizado na dose de 2mg/ dos hormônios na fisiopatologia da acne, como os andró·
dia em co mbinação com eti nilesrrad io l sob a forma genos (diidroresrosrero na, testosterona ITJ), precurso r su-
oral entre o quinto e o 14• d ia d o ciclo rnenstrual. 7 prarrenal (DHEAS) e o.~ estrógenos (como estradio l), além
• Bloqueio da produção androgê nica: de o utros hormônios, como o hormôn io do crescimento.
- Glicocorti coidcs: na hiperplasia supr.:m enal congê- Exames hormona is complementares são importante.~
nira, em que ocorre um defe itO nas enzimas 21-hi- pa ra defin ição do tipo de acne e a e.~colha do tratamento
droxi lase o u 11-hidroxilase, que resulta na produção ma is adequado, com melhor resultado cosmético.
d e andrógenos, uti lizam-se contraceptivos orais asso-
ciados a haixas doses de glicoconicoides (2,5 a Smg Referências
d e prednisona). Mon itori zação: dosagem de DHE.AS 1. Guimarães CMDS. Acne na mulher adulta. In: Ramos-e-Silva M.
para redução ou normalização dos níveis séricos.7 Castro MCR. Fundamentos de dermatologia. Rio de Jane~ro:
Atheneu, 2010.
• Bloqucadores androgênicos ovarianos: 2. Plewig G, Kligman AM. Post adolesoent acne m women pre-
- Antago nistas da liberação de gonadotrofina: blo- menstrual acne, penmenopausal and post menopausa! acne.
queiam a ovulação por meio da interrupção da libe- policystic CNary syndrome and SAHA syndrome. In: Plewig G,
ração do FIIS e do LII a partir da hipófise. Utilizam- Kligman AM. Acne and rosacea: 3 completely rev~sed and enlar-
ge edition. Spnnger, 2000:365-71.
-se a hu;,erdina, a nafarelina ou o leucoprolide na
3. Scarpína AM, Smagra D. Polycysuc f:N3rV syndrome: an endocnne
forma injetáwl ou spray na..,al. E..,;,e.~ medicamentos and metaboloc d:sease. Gynecol Endocnnol 2000. 14(5):392-5.
;,uprimem a produção de andrógenn.., e também dos 4. Carneiro AF. Panzo Filho MD. Couto RB. Ultra-som em g:necolo-
estrógeno;, p<xlendo ocorrer o aparecimento de sin- gia. In: Viana LC, Geber S. Martons M . Gonecologoa. Roo de Janei-
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ainda cefaleia e perda ó~\ea. 8 3l ed. Caracas: Corpográfia, 2000:121-30.
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7. Thiboutot DM. Update and futura of hormonal therapy in acne.
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Dermatology 2003; 206(1}:57-67.
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PARTE X

ALOPECIAS
Alopecia
Sandra Lyon

O corpo h uma no contêm 5 milhões de folículos pilo- Fase anágena


sos, dos qua is 100 mil estão no couro cabeludo. Cerca de 85% dos folículos encontram-se nessa fase.
O pelo é uma estrutu ra filiforme formada por células Nos pelos do couro cabel udo, sua d uração varia de 2 a 6
querati nizadas produzidas no foliculo piloso. Há o pelo anos. A fase a nágena é subd ividida em seis estágios, sendo
t>e!lus, o u lanugo - um pelo fino e claro - e o pelo terminal os cinco primeiros coletivamente denominados proaná-
- grosso e pigmentado (cabelo, barba, pilosidade axilar e geno, fase esta defi nida pelos d iferentes n íveis alca nçados
pubiana). pela haste pilosa em seu trajeto à superfície. O sexto está-
O foliculo piloso é constituído pelas seguintes partes: gio, ou metanágeno, traduz o momento da sa ída do pelo
• lnfundíbulo: local iza-se entre a abertura e a inserção da na superfície.1
glându la sebácea.
• Acrotríquio: porção intraepidérmica do folículo.
Fase catágena
• Istmo: localiza-se entre a abertura da glând ula sebácea e
a inserção do músculo ereto r do pelo. Cerca de 1% dos folículos e ncontra-se nessa fase, q ue
• Segmento inferior: este nde-se até a parte inferior, onde apresenta duração med ida de 2 a 3 sema nas.
se d ilata, formando o bulbo piloso, q ue recebe uma por- Du rante esse estágio, o folículo atravessa um processo
ção da derme vasculari zada e inervada, chamada papila. de involução, o qua l reflete um mecanismo de morte celu-
• A haste do pelo no segmento inferior apresenta as se- lar profu nda dos q ueratinócitos da matri z e que é denom i-
guintes camadas, de dentro pa ra fora: med ula, córtex, nada apoptose. 2
cutícula, bainha interna com as d uas camadas (Huxley e
Henle) e bainha externa ou triqu ilema' Fase telógena
A porcentagem de fol ículos nessa fase é de 15% no
CARACTERÍSTICAS DO PELO couro cabeludo, com duração de 2 a 3 meses. O pelo ad-
O principal componente do pelo é a queratina. O pelo é qui re a forma de "clava" em sua extremidade e é derrubado
resistente, flexível e eláStico. A cor básica dos pelos é determi- durante sua fase telógena ou na anágena subsequente. Em
nada pelos melanócitOs qua ndo estão em crescimento, pois geral, perdem-se de 50 a 150 fios de cabelo por d ia por
a atividade dos melanócitos foliculares está na fase anágena. entrarem nessa fase do ciclo 2

Ciclos de crescimento ALOPECIAS


Cada fol ículo é submetido conti nuadamente a três As alopecias são quadros clínicos em que ocorre d i-
estágios de crescimen to: fase anágena (crescimento), fase mi nu ição excessiva de pelos. Elas podem ser difusas ou
catágena (involução) e fase telógena (repouso). ci rcunscritas.

155
( 156 PARTE X • Alopecias

São clas.,ificatla, em alopecia:. não cicatricia~ e cicatri- Quadro clínico


ciab.1 A perda de pelo; é ;úbira e a....,inmmática. Acomete
qualquer área pil~a tio corpo, com predomínio no couro
cabeludo, área de barba, ;upercílio e púhb•. Caracteriza-se
Alopecias não cicatriciais por áreas circulare.' ou ovalada, única; ou múltipla,, com
(}..quadro., mab comun• ti~ alopecia~ não cicatriciaiS ausência tocai de fi~.
são: alopecia areara, eflúvio td6g~no, eflúvio anágeno e Pelos em pomo tle exclamação ;ão geralmente obser-
alopecia antlrogent'tica.' vados na periferia das placas, a_, quais indicam a atividade
da doença.
Alopecia areata
A alopecia art!ata (AA), denominada pelada, é crônica, Formas atípicas
frequente e tle tlbtrihuição universal, acometendo ambos os • Ofíase invertida: inverso Ja alopecia ofiásica.
sexos, principalmente jovens e crianças. Caracteriza<;e por • AA reticulada: várias placas separadas por fa ixas de ca-
perda rápida de pelos em áreas circunscritas (Figu ra 30.1).' belo preservado, promovendo um aspectO reticubtlo.
• AA difusa: dim inu ição da densidade dos cahelos em
Etiopatogenia rodo o couro cabeludo; a maioria dos casos evolui para
A AA é cons id erada d oença autoimu ne com substra- alopecia tOtal ou universal.
tO genético, de etiologia mu ltifatOrial. A teo ria autoirnune
fu ndamenta-se na interação de células T com a expressão Classificação
de antígenos li LA-O R aberrantes pele~~ queratinócitos dos • AA em placa única: placa redonda ou ova l, única; é a
foliculos pilosos.~ O fator genético está implicado em sua forma mais comum.
gênese, sendo a herança tio tipo autossõmica dom inante • AA em múltiplas placas: várias ár~as de alopecia.
com penetrância variável.~ • AA ofiásica: perda de pelo; da região occipital, se e.~ten­
Fatore> imune. e.tão a;;ociatlos à AA, relacionando-a dendo para a frente pela orla do couro cabeludo; mais
a dbtúrhio.' da tireoitle, vitiligo,lúpu; eritematoso, anemia comum em criança,.
pemici~a. colite ulcerativa, líquen plano, artrite reumatoi- • Alopecia total: perda total do> pelm do couro cabeludo.
de e diabete. mel ito. S.b • Alopecia unh·ersal: perda total do> pelo;, do couro cabe-
Na etiopatogenia, d~v~m >er consideradas herança ludo e do corpo.
poligênica, hbtória familiar po,itiva (há maior incidência
em portadore. de ;indrom~ de Down) e as.~iação com Em-oh'imento extrafolicular ocorre, principalmente,
aropia. nas formas mais grave.' e apre.~enta:
E.-~:re..'e fi~ico e/ ou emocional constitui fator desenca- • Alterações ungueais.
deame ou agrava me tia AA. • Alteraçôes oculares.
• Associação com mancha >almão.

O acometimento un~'\Jeal tem prognóstico desfavorável:


• Corresponde a 100,{, ca~os.
• Pode preceder, coincidir ou ocorrer após regressão tle AA.
• Acomete uma ou vá rias un has.
• Alterações mais com uns: depres.~ões puntiformes.
• Outras man ifestaçôes: cn iloníquia, trnq uio níqu ia, oni-
comadese, leuconiquia pontuada, estrias lo ngitud inais
e on icorrexe.
• Mais frequente no.~ casos ma is graves e em crianças.

As alteraçôes oculares se caracterizam por:


• Disfunções do epitélio pigmentar tia retina.
• Hipopigmentação tia retina.
• Opacificação do crbtalino.
Figura 30.1 Alopecta areara. (Fonte: acervo da Ora. Maria Julia- • Cararata subcapsular po.,terior.
na Saraiva de Almetda .) • Diminuição tia acuidade visual.
Capítulo JO • Alopecia 157 ")

Manch a salmão lmunoestimu/adores


Frequência aumentada de hemangioma plano nas for· • Mecan ismo imu nomod ulador.
mas ma is graves de AA (tota l, un iversal e ofiásica) • Ind icação: casos crônicos.
J, • Sensibilizantes de contato:
Prognóstico menos favorável. - Oinitroclorobenzeno (DNCB) - mutagên ico.
- Dibutil éSter do ácido esquárico (SADBE).
Evolução - Oifencipro na (DPCP) - mais segu ra.
• Imprevisível. • Eficácia variável de 9% a 85%.9
• Repilação espontânea em poucos meses, na ma ioria dos
casos. Tratamento intra/esional
• Recorrência comum. Corticoide intralesional constitui o tratamento de pri-
• Pode progredir com surgimen to de novas lesões e con- meira escolha e está ind icado em casos com mais de 50% de
fluência - alopecia tota l (couro cabeludo) ~ alopecia perda de pelos do couro cabeludo. Pode-se util izar o acetatO
un iversal (tOdo o corpo). de metilpredn isolona ou o aceton ido de triancinolona.
São necessárias múltiplas injeções imradérmicas com
Diagnóstico clínico aplicações a cada 4 a 6 semanas.
• Alopecia de aparecimento súbitO. O principa l efei to adverso é a atrofia.
• Placas alopécicas arredondadas, não inflamatórias. O tratamento intralesional constitui o recurso mais
• Pelos em ponto de exclamação na peri feria das placas. efetivo e o tempo necessário para repilação é de 2 a 6 se-
ma nas10
Diagnóstico diferencial
O d iagnóstico d iferencial é feitO com: tin has, sífilis se- Tratamento sistêmico
cundária, tricotiloman ia, alopecia de tração, eflúvio telóge- O tratamento s istêmico é feitO com:
no, alopecia androgenética e alopecias cicatriciais. • Corticoide sistêm ico:
- Uso controverso.
Tratamento - Recorrência após interrupção.
O tratamento tópico é feito com: conicoide, minoxi· - Efeitos adversos in ibem seu uso.
d il, antralina, imunoterapia e fatoquim ioterapia. O trata- - Ind icação: formas d ifusas(> 50% couro cabeludo afe-
mento escolhido dependerá da idade do paciente, da ex- tado).
tensão do quadro e das doenças associadas. - Prednisona, 40 a 60mg/dia, diminuindo 5mg/semana.
- Pulsoterapia com metilpred nisolo na, 250mg EV, po r
Antralina 3 d ias.
• Ação irritativa. - O acompanhamento deve ser rigoroso.
• Boa escolha para crianças. • Fotoquim ioterapia;
• Concentração utilizada: 0,25% a I%. - PUVA (psoraleno ultravio leta A).
• Aplicações diárias, tempo crescente de expos ição. - Meca nismo de ação imunomodulador.
• Resposta a partir de 12 sema nas de tratamen to. - Psoraleno o ral ou tópico + UVA.
• Evita r a área dos ol hos, áreas imertriginosas e mucosas 7 - Duas a três sessões por semana.
- Recidiva alta após tratamento.
Corticoide tópico - Efeitos adversos: náusea, eritema, pru rido, q ueima-
• Pouca eficácia quando util izado isoladamente. d ura, b ron zeamento, envelhecimento e carcinomas
• Dipropionato de betametasona, clobetasol. (só poderá ser usado por ad ultos).
- Contra ind icado em crianças.
Minoxidil - O psoraleno de escolha é o 8 MOP em concentrações
• Efeito na pro liferação e diferenciação folicular. variadas, seguido de exposição à UVA. A dose inicial
• Concentração recomendada: 5%. deve ser de 15 a 75cm1. Q uando usado por via ora l,
• Aplica r duas vezes ao dia. a dose de 8 MOP é de 0,15 a 0,30mg/kg, ingerido 2
• Repilação a partir de 12 sema nas de tratamento. h oras ames da fotoexposição. A dose inicia l de UVA
• Associação com cortico ide tópico e amralina. deve ser de 15 a 95cm 2 O efeito colateral ma is co-
• Sem efeito na alopecia tota l e na un iversal. mum é a náusea. O pelo tipo vel!"s aparece ao redor
• Efeitos adversos: hipertricose, irritação loca l, raramente de 30" sessão e a completa repilação é, em geral, ob-
eczema de co ntatO alérgicos servada entre a soa e a soa sessão.11 •12
PARTE X • Alopecias

• Cidospori na: Para o exame h istopatológico são neces~ários dois frag-


- Formas difusas, resistentes. mentos de biópsia, um para o corte longitudinal e o outro para
- Altas taxas de reco rrência. o corte transversal. A biópsia transversal mostra númew au-
- Inibe linfócitos T CD4 e produção de linfocinas. É mentado de fios telógenos (índice anágeno/telógeno de I :4).
imu nossu pressor. Exames laboratOriais: dosagem de ferro, ferri tina e zin-
- Dose in icial: 2,5 a 3mg/kg/dia; não ultrapassar 5mg/ co, hemograma, T4 livre e T SH u ltrassensível. Dosagem de
kg/dia. ferritina menor que 60 exige correção.
- EfeitOs adversos: al teração de função re nal, hiperten-
são, náusea, hipertricose e parestesias. Risco de neo- Tratamento
plasias. Nos casos associados a eventos agudos, como uso de
- Pode ser usada tOpicamente de 5% a 10% com resul- med icamentos, gravidez e al terações hormonais, a q ueda
tados variáveis 13 de cabelos é autolim itada.
- Sulfassa lazina, 500mg, é util izada na dose de até 2g/ Nos casos de longa d uração, devem ser identificados
d ia. Os resultados são co ntroversos. os fawres causais e institu ído o tratamento:
• Suplementos vi tam ín icos, minerais, como zinco, e pro-
Eflúvio telógeno teicos, como a cisteina e a piridoxina nas dosagens de
O eflúvio telógeno é uma forma d e alopecia d ifusa 100 a 200mg/dia.
causada pela transformação prematu ra dos pelos em fase • Reposição de ferro na forma de su lfato para pacientes
de crescimento (anágeno) para pelos em fase de repouso com ba ixa reserva desse mineral.
(catágeno) ou telógeno. • Minoxidil tópico, na dose de 2% a 5%, duas vezes ao
Pode estar relacionad o com uma grande va riedade de d ia, podendo causar prurido e hipertricose e recorrên-
fatores: pós-parto, uso de contraceptivos o rais, uso de subs- cia da queda após interrupção do med icamento.
tâncias como heparina, cumarínicos ou lítio, regime de • Espironolacrona, na dose de 50 a 200mg/dia, podendo
emagrecimento, deficiência proteica, deficiência de ferro e provocar efeitOs adversos, como hiperpotassemia, anoma-
ferritina, zinco, doen ças sistemicas e estresse... lias menstrua is, aumento de mamas, h irsutismo, sonolên-
cia, confusão mental, cefaleia e urticária. A espironolacto-
Quadro clínico na é um antagonista da aldosterona q ue reduz a pwdução
de andrógenos e bloqueia seu efeitO em nível celular.';
O principal s intoma é a queda de cabelo, geralmente
de 3 a 5 meses após o estímulo desencadeante. A densi-
dade no rmal do cabelo pode estar reduzida em até 50% Eflúvio anágeno
a ntes de se to rnar clinicamente evidente. Cerca de 30% O e flúvio anágeno é uma alopecia difusa, q ue ocorre de
dos pacientes relatam tricodin ia o u sensação dolorosa no ma neira abrupta, em geral associada ao uso de agentes q ui-
couro cabeludo. O eflúvio, com duração de 2 a 6 meses, mioterápicos e eventos sind rõmicos. A~ causas mais frequen-
tem recuperação completa e é considerado a forma agu- tes são: agentes quimioterápicos, radioterapia, infecções gra-
da . Duração mais prolongada consti tu i a forma crô nica do ves, intervenções cirúrgicas pro longadas e sífilis secundária.
eflúvio telógeno.
Etiologia
Diagnóstico Med icamentos que alterem o ciclo celu lar ou a produ-
O d iagnóstico é clínico, baseado em anamnese cuida- ção de algum componente especifico para o pelo podem
dosa . Deve~e indaga r sobre: tempo de queda de cabelo, provocar interrupção no desenvolvimento do fio ou a alte-
h istória de períodos menstruais prolongados, uso de con- ração do folículo e resultam em alopecia. Os quim ioterápi-
traceptivos orais, gravidez recente, regime alimentar e d ieta cos têm grande potencial mitótico das cél ulas dos folículos
restrita de proteínas. pilosos. O utros fármacos podem causar queda de cabelos,
Ao exame físico, o teste de tração ou de puxamento leve como colchicina, metotrexato e mostarda nitrogenada.
consiste em uma técnica simples q ue promove a qua ntifi- Estão relacionadas com eflúvio anágeno: ácido bórico, me-
cação da queda capilar. Envolve a tração de 25 a 50 fios de ta is pesados, tál io, mercú rio e arsen io.
cabelo por vez, e considera-se normal o destacamento de até
ci nco fios; valores acima de cinco fios sugerem q ueda pato- Quadro clínico
lógica. A queda dos cabelos é abrupta e em geral se in icia de
O tricograma mostra índice anágeno/telógeno inverti- I a 2 semanas após o inicio da quim ioterapia, tornando-se
do no e flúvio telógeno (índ ice norma l de 4: I). vis ível de I a 2 meses após o in ício do tratamento.
Capítulo 30 • Alopecia 159 )

Tratamento
Dieta rica em proteína~. vitamina~ e minerais, corticoi-
de tópico e minoxidil tópico.
A repilação pode ;,er de cor, rextura e formato diferen-
tes, e ~sas caracterhtica.'> podem perdurar.

Tricotilomania
A tricotilomania é um tipo de alopecia de tração cau·
sada por um tli>tllrhio compul.in) de puxar os próprios
cahelos.
O quadro clínico consi:.te em placa:. ou alopecias di-
fusas, com hordas irregu lart~s. contendo pelos de diversos
tamanhos.
Os principais d iagnósticos diferenciais são: tinha da Figu ra 30.2 Alopecia androgenética (Fonte: acervo da Ora. Ma-
caheça e AA. ria Juliana Saraiva de Almeida.)

Tratamento
• Psicoterapia. A a lopecia and rogenética surge após a puberdade, pe-
• MedicamentOs: doxepina, IOmg/d ia, clomipramina, 25 ríodo no qua l os androgênios passam a interagir com ns
a 100mg/dia, e in ihidores de recaptação de serown ina 16 folículos pilnsos a ndrogênio·sensíveis ge neticameme de-
terminados, resulwndo em uma sequência de evemos que
inclui a miniawrização folicu lar e a alteração do ciclo de
Alopecia de pressão/tração crescimento capi lar levando ao afilamenro progressivo e à
A alopecia de tração ~ uma condição em que ocorre queda definitiva dos cabelos (Figura 30.2).
tração dos cahelo;. na região temporal ou na orla do couro
cabeludo. Pode ;.er calt',ada pelo UM) de chapéus, bonéS ou Etiopatogenia
de mega·haír. O padrão e o grau da alopecia androgent!tica ~o de-
terminados pela distribuição do, receptor~ andrógenos e
Alopecia mucinosa das enzima~ conversora~ de andn')geno~ no.., folículo.., da~
Ocorre depô:.íto de mucina no:. folículos pilosos do diferentes regiões do couro cabeludo. A enzima 5-alfa-
couro cabeludo e da face, acarretando :Ir~ de alopecia. ·redutase caralisa a conver~ão de teMo~terona em DHT. A
H:\ formação de pápula., foliculosa.,, placa~ papulosas DHT é considerada respnn:.ável pela progressiva miniatu·
ou infiltraçiío nodular. A alopecia mucinosa geralmente é rização dos foliculos pilo..,o; geneticamente determinados,
temporária, exceto se houver destruição do folículo piloso encurtando a fase de crescimento anágeno do; cabelos e
pela mucina. A mucino;,e folicular consiste na deposição reduzindo o volume da matriz celular dos folículos. Em
de mucina no folículo, sem causar alopecia. homens com alopecia androgenética, é elevada a conversão
Existem dois tipos de alopecia mucinosa: de testo.~rerona em DIIT.'7
• A q ue ocorre em crianças e adu ltos jovens e não é asso- M ulheres com alopecia androgenêtica apresentam me-
ciada a li nfoma, regridindo espontaneamente. nores concentraçôes de andr6genos e de enzima 5-alfa-red u-
• A que ocorre em ad ulros e pode estar associada a !in· tase, bem como níveis elevados de aromata.~e e da enzima
foma 17 conversora de tesrosterona em e.~tradiol. Antt•s da menopau-
sa, os esrrógenos arua m como agen t~ antia ndrógenos.
Alopecia androgenética A e nzima citocromo P450 aromatase converte os a n-
d rógenos, tesrostero na e and roste nediona, em esrrôgenos
A alopecia a ndrogenética, a mais frequente das alo-
esrradiol e esrrona, respectivamente. Nas mul heres, os ní-
pecias, acomete homens e mu lheres. Trata-se de quadro
veis de a romarase no couro cabeludo ;ão de duas a cinco
genericamente determinado com participação de hormô-
vezes maiores que nos homens.
nios androgo:!nios. O mecanbmo hereditário é de herança
aurossõmica dominante com ou ;,em penerrãncia variável.
A instalação do quadro depende da ação androgênica e a Alopecias cicatriciais
diidrotesro~térona (DIIT), um meraiX>Iito da resrosrerona, As alopecias cicatriciah comtituem o re..,ultado do
rem papel preponderante em sua erioparogenia. dano à região da~ célula;, precursora'> do folículo piloso
PARTE X • Alopecias

causado por doenças inflamatórias ou outros processos pa- Foliculite queloidiana da nuca
tológicos que deixem cicatrizes. Caracterizada por púsrulas foliculares na nuca, que evo-
As principais parologias envolvidas são: lúpus discoide luem para lesões queloidianas, é ma is comum nos homens de
crôn ico, líquen plano pilar, pseudopelada de Brocq, folicu- raça negra que apresentam politríquia, ou seja, fusão de foli-
lite decalvante, foliculite dissecante e foliculite q uelo idiana culos na superfície da pele, onde surgem dois ou três pelos.
da nuca.

Lúpus discoide crônico CONSIDERAÇÕES FINAIS


O lü pus e ritematoso cutâneo crô nico é ca usa impor- A~ alopecias constituem q uadros cl ínicos comuns com
tante de alopecia. O envolvimento do foliculo piloso, q ue man ifestações clínicas variadas e múltiplas etiologias nas
exibe hiperquerarose folicular, é um sinal proeminente. O quais devem ser bem definidas para que o tratamento apre-
e nvolvimento do cou ro cabeludo pode levar à alopecia ci- sente resu ltados sa tisfatórios.
catricial irreversível, destruição folicular mui to frequente
no curso da doen ça 18 Referências
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cutâneo crônico e/ou ao líquen plano pilar. 20 11. Claudy AL, Gagnaire D. Puva treatment of alopecia areata. Arch
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Alopecia Androgenética Masculina
Sandra Lyon

A alopecia androgenética é um tipo de alopecia and ró- anágena w rnando-se de menor d uração e aumenta ndo a
geno-dependente geneticamente med iada de hera nça au- fase telógena. A alopecia é causada por progressiva minia-
tossõmica dom inante com penetrãncia variáveL Ocorre em tu rização do folículo piloso.1•1
50% dos homens e também em mulheres. lnicia-{)e entre a
terceira e a quarta década de vida, podendo, no entantO,
começar imed iatamente após a puberdade. Os fatores etioló- MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
gicos da alopecia androgenética são igua is tanto nos homens A calvície mascu lina inicia-se pela perda de cabelos
como nas mulheres, d iferindo na expressão fenotípica' na linha frontal do cou ro cabeludo com en tradas laterais
e/o u no vértex. A progressão pode ser lenta o u rápida, e
qua nto ma is precocemen te se inicia r, ma is intenso se rá
ETIOPATOGENIA o processo. Quando se inicia na puberdade, a evol ução
O crescimento do cabelo med iado por andrógeno exi- é mais rápida e a ca lvície atinge quase wdo o co uro ca-
ge a formação de um complexo andrógeno-receptor andró- bel udo, poupando somente as têmpuras e o occipício.
geno que se liga ao elemento andrógeno-efetor, levando Com a d imin uição dos cabelos a nágenos, aumentam
ao loca l de ligação do DNA para tra nscrição de algumas os cabelos telóge nos. Os cabelos el iminados são finos e
proteínas. Andrógenos são estruturas esteroides-carbo- descamados, e progressivamente desaparecem os cabelos
no-19 produzidas pela glândula suprarrena l e as gõnadas. terminais. Na fase final do processo, permanecem pelos
Os a nd rógenos mais potentes, di id roepiandrosterona e do tipo vellus .
and rostenedio na, têm importância na interconversão para A alopec ia a nd rogenética é acompa nhada de quadro
os andrógenos ma is potentes no ó rgão-alvo' A perda de seborre ico, o q ual representa um fator agravante da cal-
cabelos q ue ocorre na alopecia and rogenética é diidrotes- vicie. 45
tosterona<lependente. A transfo rmação de testosterona
em d iidrotestosterona exige a e nzima 5a-red utase, que '
apresen ta dois tipos - I e 2 - os quais estão localizados nos DIAGNOSTICO
cromossomos 5 e 2, respectivamente. O diagnóstico é clinico, podendo ser fu ndamentado
A e nzima 5a-red utase tipo 2 é encontrada nos tecidos nos a ntecendentes familia res, no pad rão de alopecia e na
gonada is e nos folículos do couro cabeludo, em que ocorre história clínica. Não exige exames laborato riais.
a miniaturização do pelo. Ao penetrar a célula, a testostero- Os critérios u tilizados para o diagnóstico clínico são:
na é reduzida pela 5a -red utase em d iid rotestostero na, que in ício do q uad ro após a puberdade, padrão de recesso e
se liga a uma proteína receptOra de andrógeno. afilamento capilar bitemporal, frontal ou de vértex, mi-
Esse complexo penetra as células pilosas e pode deter- niaturização visível dos fios, história familiar de alopecia
minar depressão no desenvolvimento do pelo, com a fase and rogenética em parentes de primei ro o u segundo grau s·6

161
< 162 PARTE X • Alopecias

11 liA

111 111 Vertex IIIA

IV v IVA

VI VIl VA

Figura 3 1.1 Classificação de Hamilton-Norwood da alopecia androgenética masculina. (Fonte: http://www.joriosantana.com.br/tipos-


de-calvicie.html)

TRATAMENTO na papila do pelo, próstata e aparelho gen itu rinário. É


Tratamento tópico u tilizada na dose de I mg/dia. Entre os efeitOs adversos
estão a diminu ição da libido e/ou a d isfu nção da ere-
• M inoxidil: o su lfato de minox idil é o metabólito ativo
ção, os q uais são raros e cessam com a interru pção do
responsável pela estimulação do foliculo piloso, com
med icamento. Como podem ser encontradas q ua ntida-
mecanismo de vasod ilatação, angiogênese e mel hora
des míni mas do medicamento no sêmen, a gravidez da
da proliferação cel ular. É uti lizado em solução alcoó-
parceira deve ser evitada.
lica de 2% a 5%, duas vezes ao d ia. Reduz o número
• Dutasterida; a dutasterida é um inibidor da 5a.-redu-
de pelos telógenos, revertendo o processo de miniatu-
tase I e 2 util izada na dose de 2,5mg/dia.
ri zação. Não ocorrem efeitos adversos, e o medicamen-
tO deve ser ut il izado indefinidame nte, pois os cabelos
vol tam a ca ir q uando o tratamento é interromp ido .6
Tratamento cirúrgico
• Alfaestradiol: a form ulação tópica de alfaestrad iol a
0,025%, uma vez ao d ia, reduz a formação de d iidro- O tratamento ci rúrgico para implantação de mini e
testosterona e aumen ta a co nversão de testoste rona em microenxertos capilares apresenta resu ltados cosméticos
o utros estero ides menos ativos. excelentes. 7
• Xampus: os xampus para diminu ição da dermatite se-
borreica devem ser precon izados no tratamento da alo-
pecia androgenética, a qua l é acompanhada de seborreia -
CONSIDERAÇOES FINAIS
em razão do estimu lo andrógeno das glându las sebáceas.
A alopecia androgenética mascu lina acomete grande
Tratamento sistêmico parte da população, sendo autossôm ica dom inante com
• Finasterida: a finasterida é um composto sintético penetração variável. Deve ser institu ído tratamento preco-
4-azateroide, in ibidor da 5a-red utase tipo 2, existente ce, com apoio psicológico.
Capítulo 31 • Alopecia Androgenética Masculina 163

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tologia. 5. ed. Vot. I. Aoo de Jane~ro: Aevonter. 2005.
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androgenetoc alopecoa. Dennatol Clon 1996; 14:697
Alopecia Androgenética Padrão Feminino
Ma ria Alice Ribeiro Osório

A alopecia androgenética na mulh er co nstitui uma Figu ra 32.4) e S incla ir identificou cinco estágios distintos
entidade clínica de interesse relevante, principa lmen- que podem ser usados para acompanh ar a evolução cl ín ica
te, por motivos cosméticos e por sua in fluência na ba ixa e a resposta ao tratamento (Figu ra 32.5) 2 Ludwig também
autoestima. Como não está bem estabelecido o papel de- descreveu a alopecia and rogenética femin ina padrão mas-
sempen hado pelos a ndrógenos em seu desenvolvimento, cu li no (FAGA.M) (Figura 32.6), q ue é observada em mu-
tem s ido propostO que a expressão a lopecia androgenética, lheres com níveis altos de testosterona ou com sensibilida-
amplamente utilizado para as mulheres, seja substituída de folicular aumentada aos a ndrógenos. A FAGA.M deve
por female pattern haír loss (FPHL).' Pode ocorrer após a ser subclassificada conforme a classificação de Ham ilwn-
puberdade, porém é ma is frequente na terceira e quarta Norwood ou de Ebling. Ela pode estar presente na s índ ro-
décadas de vida e na perimenopausa. Caracteriza~e pelo me associada a adrenarca, na alopecia causada por m mor
afi namento difuso dos cabelos na região superior do couro ovariano ou suprarre nal ou na alopecia involutiva. A classi-
cabeludo com preservação da lin ha de implantação fronta l ficação mais recente é a de OL~en, que permi te diferencia r
(Figuras 32.1 a 32.3). Ludwig il ustrou os estágios de pro- a queda de cabelos de in ício precoce ou tard io com o u sem
gressão de FPHL em três graus (Ludwig graus I, 11 e Ill - aumento de andrógenos séricos.

Figura 32.1 A e B Tipo I. (Fonte: acervo da autora.)

164
Capítulo 32 • Alopecia Androgenética Padrão Feminino 165

Figura 32. 2A e B Tipo 11. (Fonte: acervo da auto ra.)

Figura 32 .3A a C Tipo 111. (Fonte: acervo da autora.)


PARTE X • Alopecias

A Tipo ! Tipo 11 Tipo 111 B Tipo ! "Tipo li Tipo 111


Figura 32.4A e B Classificação de Ludwig.

Grau I Grau 11 Grau 111 Grau IV Grau V

Figura 32.5 Escala de Sinclair.

Figura 32.6 FAGA.M .


Capítulo 32 • Alopecia Androgenética Padrão Feminino 167

PATOGÊNESE E PATOLOGIA (SH BG) podem contribu ir pa ra a apresentação da FPHL. 10


A d inâmica do ciclo capilar é alterada na FPHL. Ocorre O Ha irOXTM é um teste dispon ível no mercado, baseado
aumento na proporção de folículos min iaturizados (cabelos no poli morfismo genético, que prediz as cha nces de desen-
tlfllus símiles), manifestada na razão pelo termi nal: ,.,1/us volvimento futuro de AGA (androgentic a!opecia).
menor que 4: I (normal 7:1). Essa alteração na relação pelo ,
term inal: 1lfllus se deve à mi niaturização não u ni forme do fo- QUADRO CLINICO
liculo piloso dentro das unidades foliculares por ciclos aná- O in ício da alopecia and rogenética padrão femin ino
genos progressivamente menores, enqua nto o taman ho do pode ocorrer em qualquer fase após a menarca, mas a maio·
ciclo telógeno permanece constante. Os cabelos t<ellus-$imiles ria das mulheres afetadas desenvolve os primeiros sinais
são fi nos, claros e cu rtos. A min iarurização não termi na com após a idade de 50 anos." A~ pacientes podem apresentar
a formação do foliculo ,.,1/us, mas progride para supressão fo- q ueda de cabelos de modo intermitente ou queda contínua
licular.1Há também prolo ngamento do período de repouso associada ou não à perda de volume (afinamento) confinada
no final da fase telógena, q uando o foliculo perma nece vazio na região superior do couro cabeludo com preservação da
depois que o pelo telógeno é liberado e antes de o pelo aná- linha frontal de implantação dos cabelos. Na maioria das
geno emergir, fase chamada de quenógena.4 Em mulheres vezes entre a segu nda e a quarta década de vida, as mulheres
com alopecia do padrão fem inino, esse aumento na d uração se queixam da presença gradativa de fios ma is finos, levando
da fase quenógena contribu i para a red ução da densidade a um couro cabeludo mais abertO, semelhante a um padrão
capilar e é responsável pelos óstios foliculares vazios aos exa- de árvore de natal na linha central do couro cabeludon
mes cl ínico e dennawscópico. As mulheres portadoras de alopecia and rogenética
Os fol ículos do couro cabeludo humano existem den- apresentam redução na autoestima, responsável pela p iora
tro das unidades foliculares, que são compostas de um folí- na qualidade de vidan
culo pri má rio maior ci rcundado por foliculos secundários
menores. Um ún ico músculo ereto r do pelo liga1>e ao fo- ,
liculo primário e de modo variável aos ou tros folículos se- DIAGNOSTICO
cundários. O padrão de perda difusa dos cabelos na FPHL O diagnóstico é principalmente clin ico, fundamenta-
é resultante de uma sensibilidade and rógena seletiva dos do nos antecedentes familiares, no pad rão de a lopecia e na
fol ículos secundários, levando à min iatu rização com con- história clí nica. Os exames mais usados para avaliação do
seq uente perda de volu me capilar.; grau de acometimento são: teste de tração, biópsia, derma-
wscopia e tricograma.
Como o teste de tração posi tivo ind ica perda aumenta-
PAPEL DOS ANDRÓGENOS da de fios telógenos, ele pode ser empregado na fase ativa
O papel dos andrógenos no desenvolvimento da FPH L recente da alopecia androgenética ou eflúvio telógen o crô·
não está bem estabelecido.6 Menos de 40% das mulheres n icoH Em geral, o teste de tração é negativo na alopecia
com FPHL apresentam alteração nos andrógenos plasmá ti· and rogenética femin ina.
cos, mesmo com sinais de hiperandrogenismo, como acne, A dermawscopia, quando utilizada sem imersão, mos-
hirsutismo, irregu laridades menstru ais e aca nrose nigrican- tra a variedade de diâmetros capilares, principalmente na
tei Os recepto res de anel rógenos e os n íveis de 5a -red utase região central do couro cabeludo, refletindo a min iaturi za-
estão aumentados na região central do couro cabeludo e os ção dos fios (Figura 32.7).1s A redução na méd ia do n L! me-
n íveis de aromatase (responsável pela conversão de testos- ro de fios terminais por un idade folicular é vista na região
terona em estrógenos) estão ma is elevados na área occipital
e na linh a frontal femi nina.8

GENÉTICA NA ALOPECIA FEMININA


Há evidências do e nvolvimento genético na alopecia
and rogenética, mas o quadro ainda não está tOtalmente
elucidado. A~ ma iores evidências da pa rticipação genéti·
ca decorreram do sequenciamento do gene do receptOr
de and rógeno con hecido como gene AR (androgen recep-
--
tor) em homens ca lvos e não calvos.9 Além do polimorfis-
mo do gene AR, os genes que codificam a 5a.-redutase,
a aromatase e a globulina ligadora de hormônios sexua is Figura 32.7 Dermatoscopia. (Fonte: acervo da autora.)
< 168 PARTE X • Alopecias

Figura 32.8A Miniaturização dos folículos. B Pigmentação em Figura 32.9 Derme superficial com visível variação no diâmetro
favo de mel. C Halo castanho peripilar. O Pontos amarelos. (Fon- das hastes capilares.
te: acervo da autora.)

central do couro cabeludo, quando compa rada à região oc-


' .
cipital. S inais peripilares com halo peri folicular enegrecido
refletem a presença de infiltrado linfocitário peri folicular
caracte rístico d o estágio inicial da doença. 16 Pomos ama-
relos são e ncontrados e representam os óstios foliculares
vazios com as glândulas sebáceas ativas após a miniaturi-
zação avançada dos folicu los.'i Muitas vezes, é encontrada
pigmentação em favo de mel no couro cabel ud o em razão
da exposição solar (Figura 32.8).
A histologia do couro cabeludo de pacientes acome-
tidas de alopecia and rogenética mostra a q uantidade de
pelos termina is comparada com o n ümero de pelos ''el/,4.5.
A relação T:V < 4: l é característica de alopecia and rogené-
tica (índice< 3: l é considerado defini tivo) e a relação T:V
> 7: I é indicadora d e efl úvio telógeno crõn ico.18 Pode ser Figura 32.1 O Hipoderme com relação de folículos pilosos ter-
minais/ve//us (T:V) de 1.3:1 normal - relação folículos terminais/
observado aumento do volu me das glând ulas sebáceas e do
vellus 7:1.
número dos tratos fibrosos.19

HISTOPATOLOGIA (FIGURAS 32.9 E32.10) TRATAMENTO


As pacientes que apresentam sinais de hiperandroge- A FPHL permanece como um desafio terapêutico,
nismo devem submeter-se a avaliação laboratorial com do- uma vez que o con hecimento atual a respeitO da parti-
sagem dos ho rmônios luteinizante (LH) e fol ículo-estim u- cipação de to dos os mecanis mos biomoleculares ainda
lante (FSH), sulfato de d iid roepiandroste rona (DHEAS) é modesto. O principa l objetivo do tratamento é rever-
e testosterona total, que ava liam as funções ovariana e ter o u estabilizar o processo de miniaturização. Quanto
supra rrena l e a produção extra de andrógenos, respectiva- mais precoce for iniciado, melhor será a resposta. Como
mente. A dosagem sérica da ferritina e do hormôn io ti- a FPH L consiste em um processo biológico determ inado
reoestimulante (TSH) pode ser útil porque suas alterações por sensibilidade aos and rógenos mediada geneticamen-
pod em estar relacionadas co m eflúvio telógeno associado te, as opções de tratamento baseiam-se e m modificadores
à alopecia androgenética.9 da resposta biológica, modi ficadores da ação andróge na
O tricograma na alopecia androgenética chega a 95% (alte ração na produção, transporte e metabolismo dos a n-
d e fios telógenos quando a alopecia se apresenta clinica- d rógenos) e tratamento ci rúrgico 21 Pode ser necessá rio
mente evidente, e estes fios são pequenos e não caem com o tratamento por 6 a 12 meses antes que se apresente
facil idade co mo no eflúvio telógeno.10 alguma mel hora clínica.
Capítulo 32 • Alopecia Androgenética Padrão Feminino 169

Tratamento tópico agem por meio da inibição da 5o.-redura~. bloqueando a


• Minoxidil: o •ulfaro d~ minoxidil, o metabólito ativo conversão de testosterona em DIIT.
r~pOnsáwl pela ~timulação do folículo, está associado
a va'>Odilaração, angiogênt!.~~ e melhora da proliferação Antagonistas dos receptores androgênicos
celular. Em e'tudo' realizado' em animais, aumenta a Acetato de ciproterona
propOrç:io de cabelo;, anágeno> e o tamanho do foliculo A dose em mulheres na pr~menopau;.a ê de 50 a
piloso, reduzindo o número de pelo. telógenos. Reverte JOOmg/dia VO, do quinto ao 15• dia do ciclo men>trual,
o proce:.-'o de miniaturização do pelo. O pico de ação é pOr 6 meses; nos próximos 18 me~>, a do~ ê de 2mg/dia,
notado com 16 ~mana' de u..o e, ap<x, 6 meses de sus- do primeiro dia do ciclo men;,m1al atê o 21• dia, com I se-
pensão, o quadro retoma a >eu 1!.\tágio inicial. Seu uso é mana de repouso. Como a ciproterona calL~ feminização de
preconizado em concenrraçôe> de 2% a 5%, duas vezes feto ma~ulino, a~sim como alteraçôes mensrruab, é neces-
ao dia. Pode aprt!.~entar prurido, irritação local e hiper- sário adicionar contraceptivos oraL~. como o etinibtradiol.
tricose com a concentração de 5%, embora a presente Em mu lheres na pós-menopausa, pode >er adm inbrrada a
melho re~ resultados nessa concentração. 22 dose de 50mg/dia sem imerrupção. Os efeitos adversos são:
• Alfacstradiol: como os foliculos pilosos contêm recep- perda de libido, fadiga , l(.lnho de peso, mast(xlinia, hiper-
tores e~trogên i cos, acred ita-se q ue os estrógenos tópicos tensão, hepati te, depressão e irregularidade mensrrual, sen-
possa m pro mover o crescime nto agindo d ireta mente d o o med ica me mo contrai ndicado em hepatopatas.21
sobre os fol ículos ou como antago nistas da ação and ro-
gên ica. O alfaestrad íol, em sua formulação tóp ica, red uz Espirono/actona
a fo rmação de di-hidroteW)sterona (DHT) e aumenta a Antagon ista da aldosterona, tam bém exerce atividade
conversão de testosterona em ourros e~tero ides menos amiandrógena, dim inuindo os níve is da te>to>terona to·
ativos. É usado uma wz ao dia, associado aos ourros tra· tal. Inicia-se com a dose de 50mg/dia, aumentando 50mg
mmentos. por mês até a dose final de 200mg/dia. Deve ser usada
• Cctoconazol: seu uso em xampu a 2% tem sido avaliado por pelo menos 6 meses, quando a melhora do quadro é
em razão de ;.ua ação antifúngica para beneficiar as pa- maiS evidente. O risco de hiperJX)ta"emia é baixo, ma~
ciente~ que apr.:.-.entam AGA com inflamação folicular a paciente deve ser orientada a ing~rir JXmco; alimentos
e para promover o cre..cimenm capilar pOr meio de sua ricos em pOtá&~io. Letargia, menorragia e dor epigástrica
ação amiandróg~na. são efeitos colaterais tran,, iu\rim qu~ ;,e rt!.~oh-em após 2
• Laser: embora haja evidência, de que o laser pOde esti- ou 3 meses de terapia.
mular o crescimento do cabelo, >eu mecanismo bioló-
gico ainda não está bem definido. Fotobiomodulação é Estrógenos
o termo u;.ado para de\Crever o efeito do la..er sobre o Os esrrógenos suprimem o LII e a produção o'·a-
tecido. Aprovada pela Food anti Drug Administration riana de andrógenos, além de aumentarem a produção
(FDA), a terapia com luz de baixa energia provoca au- de SHBG pelo fígado, reduzindo a tt!sto.rerona livre e
mento dos pelos terminab, aumento do diãmerro da a 5a-reduta~e. Podem ser usados em pílula., anticoncep-
ha~te capilar e dim inuição dos pelos t-ellus. cionais, como o etinilestrad iol, ou em combinação com
• Análogos da prostaglandinas F2 a (latanopost e bima· progestágenos antiandrógenos, como o norge>timato e o
topost): antes usados no tratamento da hipertensão e desogestro l.
do glaucoma ocular, causavam como efeims colaterais
aumento dos cílios com híperpigmentação. Um estudo lnibidores da 5-a-redutase
piloto com lamnopost, apl icação de 50Ul d iariamente Finasterida (inibidor da 5-a-redutase tipo 11)
po r 24 semanas no couro cabeludo, demonstro u au- A finasterid a tem sido usada em mul heres na pré·
mento da densidade dos pelos terminais e t•eiii.IS. 21 -menopa usa e na pós-menopausa. Entretanto, em mu-
lheres a ntes da menopausa deve ser usado um métOdo
a nti concepcional seguro, em razão do risco de femini·
Tratamento sistêmico zação de few mascul ino. Estudos mo;tram que a finas-
terida é mais efetiva em mulheres com início precoce
Terapia antiandrogênica de alopecia e naquelas que têm atividade andrógena
Inclui acemm de ciproterona, e;pironolactona, dros- envolvida na parogênese da FPIIL. A fina\terida deve
perinona, fina>t~rida e duta,terida. o, antiandrógenos de ser administrada em dose maior que a ma;culina, com
ação central inibem a li)!ação da 5o.-redura~e com o recep- dosagem mínima de I,25mg/dia, para alcançar resulta-
tor androgênico e <h antiandrógenos de ação periférica dos favoráveis. H
< 170 PARTE X • Alopecias

Dutasterida (inibidor da 5-a -redutase tipos I e /1} Trifolit<m pratense) estão disponíveis no mercado. Outros
Só deve ser usada em mu lheres na pós-menopausa, produtos com diversas propostas de ação podem conter
na dose de 2,5mg/dia. Mais estudos devem ser fe itos biotina, cafeína, melatonina e complexos de cobre.16
para demonstrar a dose que influi no crescimento dos
cabelos.H
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Capítulo 32 • Alopecia Androgenética Padrão Feminino 171

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PARTE XI

PEELINGS
Peelings Ouímicos
Rosane Dias Costa
Marina Dias Costa

Dentre os vários proced imentos empregados para valo- de ped ras--pomes. C leópatra utilizava leite fermentado para
rizar a beleza e min imizar os efeitos do tempo sobre a pele, ma nter a pele limpa, suave e livre de impurezas e, a inda
destacam-se os peelings. que não soubesse, obtin ha tais efeitos por usar o ácido lá-
O peeling q uím ico, também chamado resurfacing q ui- tico, um alfa-hid roxiácido. Já na Idade Média, as mulheres
mico, quimiocauterização ou q ui mioesfoliação, cons iste na francesas utilizavam "vin ho envelhecido" para obterem re-
aplicação de uma ou ma is substâ ncias cauteri zantes ou es- sultados semelhantes.
foliantes na pele, as quais promovem destruição controla- Os dermatOlogistas foram os pri meiros a usar o peeling
da de camadas da epiderme e/o u derme e sua co nsequente cutâneo visando a seus efeitOs terapêuticos benéficos. Em
reepi telização. A utilização desses agentes q uím icos resulta 1882, o dermatologista alemão Unna descreveu as proprie-
em um processo de renovação celu lar intenso, auxiliando dades do ácido salicílico, do resorcinol, do feno I e do ácido
o rejuvenescimento, a red ução o u o desaparecimento de al- tricloroacético (ATA ou TCA). Em 1903, o dermatOlogista
terações actin icas, normalizando discromias pigmentares, inglêS George Miller Mackee, chefe do departamento de
atenuando imperfeições e mini mizando rugas e cicatri zes dermato logia da New York U niversity (NYC), começou a
superficia is. usar peelings de feno! pa ra tratar cicatrizes de acne e, junto
Os peelings qu ímicos causam alterações na pele por com Florentine Karp, publicou seus resu ltados mais tarde.
meio de três mecanismos: estimulação de crescimento epi- O interesse dos americanos nesse campo aumentou com
dérmico mediante remoção do estrato córneo, destru ição o ingresso de dermatologistas eu ropeus em 1930 e 1940.
de camadas especificas da pele de acordo com a profu nd i- Em 1941, Eller & Wo lff empregaram a escarificação e o
dade da lesão tratada e ativação de mediadores da in fla- peeling cutâ neo no tratamento de cicatrizes. Esses autOres
mação, e a partir desses mecanismos ocorre a prod ução de descreveram a pasta de enxofre e resorci no l e detalharam
colágeno novo e substâ ncia fundamental na derme.' ... o uso do feno] e seus efeitos nefrotóxicos, as combinações
de ácido salicilico e da neve carbônica como agentes esfo-
'
liantes, além de ressa ltarem a importâ ncia do desengord u-
HISTO RIA ramento da pele antes da apl icação do agente esfoliante.
Desde a Antigu idade o ser huma no percebeu que, Após a Segunda G uerra Mu nd ial, começaram a surgi r cada
após a utilização de substâncias va riadas (óleos de animais, vez mais publicações sobre o uso de substâ ncias d istintas.
sal e alabastro), abrasões ou esfoliações, a pele apresentava Ayres, em 1960, e Baker & Gordon, em 1961, introd u-
a surpreendente capacidade de renovar-se a partir de suas ziram a "era moderna" dos peelings qu ímicos, com documen-
camadas ma is profundas, mantendo-se sad ia e com aspecto tação fotOgráfica dos resultados favoráveis obtidos com os
jovial. A população indiana foi uma das primeiras a fazer casos estudados. Em 1974, Van Scott & Yu introduziram os
as ch amadas "trocas de pele" por meio de queimaduras su- alfa-h id roxiácidos (AHA), e a descoberta do ácido retinoico
perficiais utilizando fogo ("ch amuscadas" na pele) ou uso por Kligman se deu em 1976. Em 1986, Brody & Hailey

175
< 176 PARTE XI • Peelings

combinaram dois agentes superficiais (dióxido de carbono rior. Utiliza como substâ ncias ativas a resorcina, a solução
sólido e ATA) para prod uzir um peeling de profu ndidade de Jessner, a tretinoína, o ácido glicólico, o 5-fluorouracil
média, e em 1989 Moh neit utilizou outra técnica de com- (5-FU), o ácido salicilico e o ácido tricloroacético, em geral,
binação de agentes qui micos. Hernández Peréz, por sua vez, utilizados de modo combinado. O peeling méd io apresenta
impulsionou o renascimento da resorci na a 23% e 54% em a mesma indicação dos peelings superficiais, além de ser in-
1990, o que persiste até a atualidade. Nessa época, os AHA d icado para o tratamento de lesões epidérmicas. Possibilita
foram acrescentados ao arsenal de agentes esfolia mes d is- melho r resultado que o superficial, mas tem maior risco
poníveis e conqu istaram o interesse generalizado dos meios de complicações, exigindo período mais lo ngo de recupe-
de comunição, em um evento sem precedentes na história ração. Para tanto, o agente q uím ico ideal seria aquele capaz
dos peelings qu ímicos. Coleman & Futrell combi naram esses de ind uzir o máximo de neoformação tecidual, provocan-
compostos com ATA para rea liza r peelings de profu ndidade do o mínimo de necrose poss ível, ideia que serve de apoio
média. A introd ução do peeling a laser, isolado ou combina- à realização repetida de peelings superficiais e de média pro-
do, caracteriza a evolução no uso dos peelings, o que possibili- fundidade, que criam beneficios cumulativos e implicam
ta a realização de avaliações hi~tológicas, clínicas e cientificas baixo risco.
e a comparação de técnicas modernas com as já existentes. ;.11 O peeling profu ndo tem ação na derme reticular. São
utilizados como componentes ativos o ATA a 50% e o
feno! (solução de Baker-Gordo n), entre outros. Por ser o
CLASSIFICAÇÃO E INDICAÇÕES feno! uma sustância cardiotóxica e nefrotóxica, esse pro-
Os peelings têm a capacidade de criar uma epiderme cedimento necess ita de mon itoração e cu idados especiais,
mais espessa, mais colágeno e glicosam inoglica nos na der- sendo, porta nto, rea lizado em ambientes cirúrgicos. Os
me papilar e reticu lar, bem como mais fibras eláSticas na peelings profundos são ind icados para melhorar lesões epi-
derme. O resultado fi nal dessas alterações histOiógicas é dérmicas, manchas, cicatri zes, discromias actinicas, lemi-
um aumento no volume tecidual, que comprime as cama- gos, rugas moderadas e queratodermias.n
das cutâneas ma is superficiai~, amenizando as rugas. As al- É d ifícil estabelecer uma classificação definitiva d os
terações dérm icas são d iretamente proporcionais à profun- agentes es folia ntes como superficiais, méd ios ou profun-
didade do peeling, ou seja, q uanto mais profundo este for, dos, pois a profundidade depend e de muitas variáveis,
maior a deposição de colágeno e de glicosaminoglicanos. dentre as q uais: características e concentração do agente
Porta nto, peelings mais leves podem ajudar a suavizar rugas esfoliame escolh ido, q uantidade de camadas aplicadas,
mais superficiais, en quanto um peeling mais profu ndo, q ue técn ica d e aplicação, tipo de pele (p. ex., fina ou espessa),
resulte em aumento sign ificativo de colágeno, costuma ser limpeza e desengord uramemo ames do procedi mento, pre-
necessário para melhorar rugas profundas. paro prévio d a pele ("pré-peeling"), localização ana tômica
O peeling químico é, consequemememe, class ificado da descamação (face o u área corporal) e du ração do coma-
em trêS tipos, de acordo com a profu nd idade da necrose te- to da substâ ncia com a pele. Assim, diante de ta ntas variá-
cid ual provocada pelo age me esfolia nte: superficial, médio veis relacionadas com a profund idade do peeling, qualquer
e profundo. No entanto, algu ns auwres d ividem os n íveis classificação dos agentes esfoliantes não pode ser absoluta,
de peelings em quatro grupos, com base nos li mi tes h isto- somente "aproximada", já q ue um agente qu ímico que pro-
lógicos do n ível de necrose e, assim, seria acrescentada à d uz descamação superficial em um paciente pode ind uzir
classificação o peeling mu itO superficial, caracterizado por descamação de média profu ndidade em ou tro.
esfoliacão
' muitO leve e afinamento ou remocão . somente Do pomo de vista anatôm ico, a pele da face se d ife-
do estratO córneo, sem lesão do estrato gran uloso. rencia de ou tras regiões corporais pela q uantidade relativa-
O peeling superficial tem ação em qualq uer porção da mente alta de un idades pilossebáceas por un idade cosmé-
epiderme até a derme papilar. As substâncias utilizadas tica, o que propicia uma reepitelização mais rápida. Além
para esse fim são de baixo risco, bem aceitas pelo paciente, disso, a pele de wdos os pacientes que serão submetid os
e podem ser empregadas repetidamente. U tilizam-se como à realização d e um peeling deve ser prepa rada, ou seja, eles
substâ ncias ativas de eficácia comprovada os AHA, os beta- devem ser orientados a fazer uso de substâncias esfolian-
·h id roxiácidos (dentre eles, o ácido sa licílico), o resorcinol, tes leves o u dareadoras em dom icilio, para que haja uma
a solução de Jessner e o ácido retinoico (tretinoína). Esse penetração un iforme do agente escol hido e o afinamento
tipo de peeling pode ser indicado para os casos de acne, do estra to córneo (cuj a espessura é variável nas d iferentes
fotoenvelhecimemo leve, eczema hiperq ueratósico, q uera- áreas corporais). Os agentes ma is comumente utilizad os
tose actín ica, rugas fi nas e melas ma. no preparo pré-peeling são o ácido retinoico, os AHA, a
O peeling médio, por sua vez, tem ação na destru ição h id roqu inona, o ácido kójico, a vitamina C tópica e os
q ue se estende da der me papila r até a derme reticu lar supe- protetores solares d e amplo espectro.
Capítulo 33 • Peelings Químicos m")

O utros objetivos do preparo prévio da pele para o pee- • História de uso de isotreti noína; evidências sugerem q ue
ling são: red uzir o tempo de cicatrização, acelerando a ree- os pacientes que fizeram uso da medicação devem aguar-
pitelização, o q ue d iminui o risco de infecção, bem como dar no mínimo 3 meses para a real ização do peeling.
auxiliar na remoção do ó leo e outros restos celulares. Além • Gravidez: como a segurança dos agentes esfoliantes na
desses, podem ser citados a d iminu ição do risco de hiper- gravidez ai nda não fo i verificada, considerações clinicas
pigmentação pós--inflamatória, o reforço do conceito de e legais recomendam q ue não se façam peelings químicos
manutenção e a determinação dos prod utos que a pele do em mulheres grávidas.
paciente to lera, estabelecendo a aderência deste tratamen- • Angi na; q ualquer peeling pass ível de causar queimad ura
to e elimina ndo o paciente inadeq uado. O tempo mínimo grave é contraind icado aos portadores da afecção, que
de preparo da pele é de 2 semanas. Recomenda-se, ainda, devem evitar qualquer descamação que não seja muitO
a elaboração da documentação clínica, que deve ser fei ta superficiaL
com registro fotográfico de controle do paciente, ass inatu· • Estresse físico ou mental grave: todo peeling implica le-
ra do termo de consentimento livre e esclarecido q ue con- são cutânea e descamação. A~sim, os pacientes precisam
tém todas as informações referentes ao proced imento em ser capazes de se programar com respeito ao processo de
questão e fornecimento de instruções (por escrito) a serem cicatrização para obtenção dos resu ltados. Deve-se ava-
seguidas no pós-peeling. 14•14•1s liar, então, a aceitação dos riscos e a d isponibilidade de
tempo por parte do paciente.1•1

CONTRAINOICAÇOES
-
Como em q ualq uer outro procedimento, algu ns pa- PEELINGS QUÍMICOS CLÁSSICOS
cientes têm maior risco de complicações ao realizar os pee-
Alfa-hid roxi ácidos
lings químicos.
Vale lembrar q ue o méd ico, ao indicar um peeling, deve Os alfa-hid roxiácidos (AHA) constituem um grupo de
informar ao paciente a poss ibilidade de exacerbação de vá· ácidos orgâ nicos presentes naw ra lmente em frutas, cana-
rias cond ições, como herpes simples, dermatite perioral, -cle-açCJ car e iogurte. 16•11 Incluem esse gru po o ácido gl icó-
rosácea, acne ativa, telangiectas ias, derma tite seborre ica, lico, o ácido lático, o ácido má lico, o ácido tartárico e o
dermatite atópica e verrugas planas. ácido cítrico. Existem, ainda, outros AHA, como o ácido
O utras situações devem ser levadas em consideração, glicérico, o ácido tartrôn ico, o ácido ascórbico, o ácido glu-
como: cõnico, o ácido ma ndélico e o ácido benzílico. Desses, os
• Exposição solar: qualquer paciente q ue pretenda se sub- ma is frequentemente utilizados em cosméticos são o ácido
meter à realização de um peeling deve se proteger adequa- glicólico e o lático. 17 Essas substâncias têm sido utilizadas
damente do sol, a fim de evitar hipercromias. na dermatOlogia há mais de 40 anos, principalmente como
• Histó ria de herpes simples labial: pacientes portadores agentes de descamação (peeling) e emol ientes da pele.
da enfermidade podem se submeter ao peeling q uímico se O mecanismo de ação dos AHA ainda não é totalmen-
fizerem uso de aciclovir oral profilático, desde q ue o pro- te con hecido. Entretanto, teorias atua is sugerem q ue bai-
ced imento não seja realizado em áreas de infecção ativa. xas concentrações de AHA exercem efeito plastificante so-
• H istória d e cicatriz queloidiana: é mais segu ro fazer bre o estrato córneo por meio de sua adsorção à queratina.
apenas peel.ings superficiais nesses pacientes ou evi tar Em concentrações elevadas, essas substâncias apresentam
qualquer descamação. ma ior penetração cutâ nea, causando epidermólise e, tam-
• Lesão recente da cabeça ou pescoço: deve-se evitar rea- bém, efei tos dérmicos.'8
lizar pee.ling em qualquer área lesionada ou submetida a •
cirurgia recente por, no mín imo, 2 a 3 meses. Acido glicó/ico
• Feridas abertas ou lesões d e acne ativas na área a ser O ácido glicólico é um AHA que contém um grupo
descamada: a descamação sobre uma área de solução de hidroxila ligado a um carbono alfa. Pode ser e ncontrado
continuidade ou lesão de acne inflamada pode inten- na ca na-cle-açCJca r, na beterraba, na uva, na alcachofra e
sificar a profund idade do peeling e, portanto, é melhor no abacaxi. Trata-se de um agente queratol ítico, capaz de
evi tar aplicar o agente esfoliante nessas áreas ou ad iar o d iminu ir a coesão entre os queratinócitOS e estimular a
procedimento. prod ução de colágeno e a síntese de glicosam inoglica nos.
• Escoriação neurótica: pacientes que escoriam constan- Em ba ixas concentrações, o ácido glicólico apresenta
temente a pele têm ma ior risco de lesionar a pele desca- efeito de plasticidade-hidratação, e em altas concentrações
mada, poss ivelmente ocasionando cicatrizes o u d iscro- (6% a 20%), efeito esfoliante<lescamante. É usado como
mias. peeling nas concentrações de 30% a 70%, geralmente na
< 178 PARTE XI • Peelings

forma de gel, devendo o pH ser inferior a 1,7 (mais com u- intercelular) e/ou ao aumento da proteólise dos corneo-
mente entre 0,5 e I,0). O peel.ing de ácido glicólico pode ser desmossomas.24
utilizado em todos os tipos de pele e em qualquer região Em concentrações de 3% a 5%, é queratolítico e fa-
corporal para tratar focoenvelhecimemo, queracoses acti· cilita a penetração tópica de outros agentes; aba ixo de
nicas, acne, estrias e melanodermias. Para a realização do 3%, é queratoplástico. Para quimioesfoliação, o ácido sa-
peeling, deve-se, primeiro, efetuar limpeza adequada da pele licilico é uti lizado nas concentrações de 20% a 30% em
com agente desengordurame. Em seguida, aplica-se o áci- solução hidroalcoólica ou a 50% em pasta>.n Não deve
do glicólico com a ajuda de uma gaze ou dedo e nluvado na ser utilizado em áreas muito extensas pelo risco de salici-
região a ser tratada. Os estágios das alterações produzidas lismo e, na face, o peeling pode ser indicado para auxiliar
na pele com o ácido glicólico, em ordem crescente de pro- o cla reamemo da pele, aten uação de rugas e tratamento
fu ndidade da lesão, são: eritema róseo, e ritema vermel ho, de comedões, sendo aplicado em solução alcoólica por
edema e branqueamento ("enregelamemo"). O eritema cerca de 5 minutOs, seguido de lavagem com água. É re-
corresponde a algum nível de dano inrraepidérmico, sendo comendável aguarda r o desaparecimento do ardor, que é
o vermelho mais profundo q ue o róseo; o enregelamento rápido e passagei ro, e o branq ueamento, devido à crista-
verdadeiro parece ser um indicador de lesão dérmica, mas lização e à consequeme depos ição do ácido na pele, para
ainda não há estudos científicos suficientes que corrobo- reaplicá-lo, caso necessário.
rem essa conclusão. Em virtude de sua natureza lipofílica, o ácido sa licí·
Enquanto o ácido encontra-se sob re a pele, a maioria lico apresenta forte efeito comedolítico e os princípios
dos pacientes relata sensação de formigamento, prurido ou do tratamento da acne com o peeling baseiam-se no efei to
ferroadas discretas, o que pode ser aliviado com o uso de queratolítico, bacteriostático, fungicida, anti-microbiano
um ventilador. Não há um pomo final definido para esse e amiinflamatório (por sua atuação na cascata do ácido
tipo de peeling, e o tempo de permanência do ácido sobre araqu idôn ico), visando à correção do defeito na queratini·
a pele deve ser o suficiente para a formação do eritema, zação folicular, red ução da atividade sebácea e dim inuição
q uando, então, neutraliza-se a região com solução aquosa da população bacteriana e dos processos inflamatórios.u;.Js
de bicarbonato de sód io a 10%, para inte rromper sua ação Além da segurança e eficácia demo nstradas no trata-
e não deixar o ácido continuar a penetrar. Assim que o mento de pacientes com acne vulgar, o ácido salicílico tam·
ácido for neutralizado, qua lquer desconforto deverá cessar bém pode ser utilizado em fototi pos mais altos (IV e V),
com razoável rapidez.'·'·19' 11 devido à sua característica de auconeutralização. Apresenta
baixa incidência de complicações, já que o veicu lo volátil

Acido mandé/ico rapidamente evapora, o que não possibil ita um aprofunda-
O ácido mandélico é um AHA derivado da hidró lise mento do ácido. 1•19•10
do extratO de amêndoas amargas. Dentre os AHA, é o de
maior peso molecular, promovendo um efeito uniforme •
Acido retinoico
na pele e também atenuando transtornos decorrentes da
aplicação de outros ácidos. Está indicado para o tratamen- O ácido retinoico é um derivado da vitamina A que
to de fotoenvelhecimemo, melanodermias, estrias e acne, provocou uma verdadei ra "revolução" no tratamento não
agindo no processo infeccioso desta última, combatendo e cirúrgico da pele fotolesionada . Ames de seu advento, a
prevenindo a formação de novas bactérias e acelera ndo o esfoliação química não era muito popular e não existiam
processo de cicatrização, além de cooperar no tratamento terapias tópicas com eficácia cientificamente comprovada
de even tu ais sequelas.n,n Pode ser utilizado, em especial, para o tratamento da dermato-heliose ou fotoenvelheci-
nas peles orientais e morenas, que costumam apresentar memo. Seu uso está justificado por promover compacta-
alguma resposta inesperada aos dema is ácidos. As co ncen- ção da camada córnea e espessamento epidérmico e por
trações util izadas do ácido mandélico para peeling va riam aumentar a síntese de colágeno. O ácido retinoico estimu-
de 30% a 50%, sendo geralmente aplicado na forma de gel la os queratinócitos a produ zirem uma no rmalização epi·
o u solução alcoólica' Segu ndo relacos, costuma ser menos dérmica e melhora a distribuição dos melanócicos. Além
irritativo e prod uz menos eritema que o ácido glicólico.' disso, elimina os queratinócitos atípicos e impede a forma-
ção de queracoses, atua ndo, também, em pacologias que
• cu rsam com hiperquerati nização .
Acido salicílico O ácido reti noico é utilizado como coadjuvante no
O ácido salicilico é um beta-hidroxiácido extraído do tratamento de melasmas e estrias e, associado a agentes
Salix alba (salgueiro-bra nco), cuja ação esfoliame sobre a despigmemantes, no tratamento de hi percrom ias. Muito
camada córnea se deve à dissolução das !ameias (cimento utilizado no tratamento da acne por sua ação comedolítica
Capítulo 33 • Peelings Químicos 179 ")

e esfoliame e largamente utilizado no pré-peelíng q uím ico lizados para a realização de peelings combinados. Contém
e a laser como preventivo da hiperpigmemação pós-infla- resorci nol, ácido salicilico e ácido lático, nas concentrações
mató ria, garante un iformidade na aplicação do agente se- de 14% cada, em veículo etanol. Trata-se de uma solu ção
cundário e promove reepitelização ma is rápida. O ácido transparente ou ama relo-rosada pá lida, com odor de ál·
retinoico pode ser utilizado na face, pescoço, colo, braços, cool. O peeling com solução de Jessner varia de superficial
mãos e dorso. 1•24 a médio e é controlável: quanto ma ior a repetição da apli·
O ácido retinoico está d ispon ível em co ncentrações cação do agente sobre a pele, ma is profunda será sua ação.
que vão desde 0,01% a 0,1%, sob a forma de cremes ou Provoca descamação em grande quantidade, assim como
géis para uso pelo próprio paciente e em co ncentrações sensações de ardor e q ueimação, devendo ser aplicada com
mais elevadas (I % a 10%) para uso em consultório, sob dedo enluvado, gaze, pincel ou cotonete. A q ui mioesfolia-
supervisão médica. Neste último caso, as aplicações podem ção com a solução de Jessner tem sido utilizada para tra·
ser feitas a cad a I ou 2 sema nas, por um períod o mínimo tar as alterações do fowenvelhecimemo, no melasma, na
de 6 horas e em número variável, de acordo com a resposta acne comedogênica e também em áreas não facia is com
de cada paciente; a descamação inicia-se entre o segundo e alterações de cor (pigmentações e melanoses) e de textura
o terceiro dia pós-peelíng.l,ll (querawses), que respondem muitO bem a uma ou duas
A mel hora clínica é resultado de uma regu lação na di- aplicações mensa is da solução. Pode causar wxicidad e de-
ferenciação celu lar, com incremento da fibroplasia, colagê· vido ao resorci nol ou ao ácido salicilico.
nese e a ngiogênese_ll·ll Atualmente, a solu ção de Jess ner está sendo combina-
É conven iente lembrar que o uso do ácido retino ico da ao 5-FU para o tratamento de querawses actínicas, com
aumenta a arbori zação capilar na derme e que o fluxo san- excelentes resultados após 8 sema nas. Limpa-se previamen-
guíneo aumentado tanto pode levar a um aspecto rosad o te a pele com solução desengord ura nte e aplicam-se várias
saudável como pode agravar telangiectasias preexistentes camadas da solução de Jessner, seguido da aplicação direta
ou manter a pele constantemente avermel hada 2 Contudo, do 5-FU a 5% com a mão e nluvada. 1
a ocorrência de reação cutânea do tipo eritema é fator limi·
tador para o uso regular dos retino ides em altas concentra· •
ções. Esse efei to pode ser amen izado pelo emprego de cre- Acido pirúvico
mes ou emulsões comendo con icoides de ba ixa potência O ácido pirúvico faz parte de um grupo de alfacetoá·
no pós-peelíng imediat0. 1 ciclos, que têm propriedades tanto dos ácidos como das
cew nas. 14·l; Esse ácido é co nvertido por reações fis iológicas
Resorcina em ácido lático, que é um AHA. Embora os ácidos lático
e pirúvico possam ser convertidos um no ou tro, o último
A resorci na é um agente cáustico do grupo dos fenóis,
tem propriedades ad icionais que o tornam part icularmen-
mas com propriedades d iferentes, oferecendo maior segu-
te potente como agente esfoliame tópico. 16 Apesa r disso,
rança em sua utilização; pode ser empregada como esfo-
tem a possibilidad e de produzir cicatrizes.
liame na forma de pasta, em concentrações que variam de
No peeling cutâneo, esse ácido não deve ser usado em
10% a 70%, o u associada a outras substâncias, como na so-
preparação concentrada, e estudos rea lizados com mode-
lução de Jessner. A pasta pode ser aplicada sobre a pele por
los huma nos d emonstraram que as dilu ições com eta no]
meio de espátula de madei ra ou com os dedos enluvad os
em to rno de 50% aumentam a homogenei zação da derme
e deixad a em contato com a pele por até 20 minu tos, de
papila r e a penetração nas camadas superiores da derme re-
acordo com o estado da pele. Depois de seca, a máscara é
ticular. A água d iminui a potência d o ácido pi rúvico e não
retirada com a espátula e o q ue restar, com gaze embebida
é recomend ada como d iluente. Sua aplicação é dolorosa e
em água. A~ vantagens são a estabilidade e o ba ixo custo
existem casos descritOs de cicatri z facial após a utilização
da substâ ncia e as d esvantagens co nsistem na possibilidade
desse agente na concentração de 80%.
de reação alérgica e intoxicação, que aumentam com as
O meca nismo de ação do ácido pi rúvico é desconhe-
passagens múltiplas do produto. A resorcina está indicada
cido. A solução pode ser aplicad a com cotOnetes na pele
para o tratamento de acne, discromias, peles rugosas e hi·
previamente preparada com ácido retinoico e levemente
perpigmemação pós-inflamatória, podendo, inclusive, ser
desengord urada, e não se deve fazer qualq uer tentativa de
utilizada com cautela em peles ma is escu ras 2
remoção do estratO córneo por esfregação vigorosa. Após 2
a 5 minutos, o u quando houver e nregelamento suficiente,
Solução de Jessner a região deverá ser lavada com água, ma is para confortO do
Trata-se de um preparado usado apenas para descama- paciente do que para neutra lizar a sol ução. A reepiteliza-
ções leves o u como um dos agentes esfolia ntes mais uti· ção ocorre dentro de 7 a 14 d ias.
< 180 PARTE XI • Peelings

Embora o ácido pirúvico não pareça prod uzir destrui- do ácido e sua concentração. Os n íveis de enregelamento
ção tão profunda quanto o feno! de Baker, não prod uzindo (frosting) criados pelo peeling de ATA, em ordem crescente
efeitOs tóxicos sistêmicos detectáveis e não causando h ipo- de profund idade da lesão, são: ausência de cobertura bran-
pigmentação tão facilmente quanto o feno!, são necessários ca, cobertura bra nca leve e irregular, cobertu ra bra nca com
estudos adiciona is para esclarecer melhor sua fa ixa desco- fundo rosa e cobertu ra branca sólida.
n hecida de penetração com a dose usada e seu potencial A~ sessões podem ser re iteradas a cada 30 a 40 dias e o
para produ zir cicatrizes. Como é difícil padron izar sua pe- peelíng de ATA pode ser feitO isoladamente o u associado a
netração imprevisível, deve-se usar esse ácido romando-se outros agentes, como o ácido glicólico e a solução de Jessner.
extrema cautela e aplicar o peelíng em roda a face. Alguns Estes últimos realizam um trabalho superficial mas, quando
pesquisadores também descreveram a aplicação localizada associados ao ATA a 30% ou 35%, podem transformá-lo e
do ácido pirúvico na concentração de 60% por 2 a 5 mi- aprofundá-lo, lembra ndo que o uso do ATA a 50% apresen-
nutos, até que haja branqueamento, pa ra tratar queratoses ta grandes riscos de provocar cicatrizes inestéticas. 1•11•39
actí nicas, com bons resultadosH,ll.>s


PEELINGS COMBINADOS
Acido tricloroacético Durante anos, tentou-se acentuar a penetração de um
Os peelíngs com esse tipo de ácido são excelentes para o ácido de inúmeras maneiras. Atua lmente, alguns adi tivos
tratamento da pele actinicamente dan ificada. Apresentam têm s ido incorporados a alguns ácidos (particularmente ao
menor risco de complicações quando compa rados aos pee- ATA) para alterar sua capacidade de penetração, promover
lings ma is profundos, como o de feno!, por criarem feridas distribuição mais uniforme, causar menos irritação e pos-
que só atingem a der me superior. Por outro lado, por sua s ibilitar o acompanhamento de um frost:ing mais seguro. A
natu reza mais superficial, o referido ácido não tem a mes- combinação de dois agentes esfoliantes o u agressores tem
ma eficácia dos peelings de feno] em melhorar sign ificativa- por objetivo utilizar concentrações mais baixas do que as da
mente cicatrizes e rugas profundas. substância isolada e, assim, minimizar o risco de distúrbios
O ácido-tricloroacético (ATA ou TCA) tornou-se o cicatriciais. Os peelings combinados de uso ma is comum são:
ácido preferido para os peelíngs q uímicos de profund idade solução de Jessner e ATA, d ióxido de carbono sólido e ATA,
superficial e média, apesar de poder ser utilizado em pee- ácido glicólico e ATA e solução de Jessner e ácido glicólico.
lings profundos (embora exista um consenso de q ue nesta Popularizado pelo Dr. Gary Mo nheit, no peeling com-
última situação seja, geralmente, um proced imento mais binado de Jessner e ATA, após o preparo habitua l da pele,
arriscado do q ue o peelíng profundo com feno!). Parece que uma a quatro camadas de solução de Jessner são aplicadas
o ATA, nas concentrações de 50% ou superiores, tem a até alcançar um eritema un iforme com áreas de frost leve.
possibilidade de criar mais cicatrizes do que outros agentes Assim, ao ser aplicado o ATA a 35%, a penetração será
de peelíngs usados em procedimentos de profund idade se- mais rápida, mais u ni fo rme e profu nda, com evidência his-
melhante. Por este motivo, deve ter seu emprego reservado tológica de deposição de colágeno novo, obtida com essa
a peelíngs de profu ndidade superficial e média. descamação comb inada.
Diferentemente de ou tros agentes de peelíngs, o Ata O peelíng de ATA e d ióxido de carbono sól ido tornou-
não apresenta coxicidade sistêmica con hecida nem relatOs -se popular graças ao Dr. Hal Brody, que mostrou que
de reação alérgica. Não apresenta melanocoxicidade asso- esse peelíng provoca descamação sign ificativamente mais
ciada ao feno!, seu custO é baixo e demonstra boa estabili- profu nda do que com o ATA isolado, o u mesmo quan-
dade. A~ concentrações usuais variam de 10% a 75% em do combinado com a solução de Jessner. Quanto maior
solução aquosa e pode ser aplicado com gaze ou cotonete, a pressão na aplicação do dióxido de carbo no sólido na
evitando-se pincel, já que a pele deve ser esfregada com pele, ma ior a profundidade, o que prod uz desconforto em
o produto; quando a lesão tratada adq uire a cor branca muitOs pacientes. A desvantagem de seu uso res ide na difi-
(frost), sign ifica a precipi tação de pro te ínas, já que o ATA cu ldade de armazenamento do dióxido de carbono sólido
é um cauterizante químico. O conceitO antigo de neutra- no consultório.
lização com álcool o u água logo após o "enregelamento" é O peeling combinado de ácido glicólico e ATA foi pro·
inútil para reverte r o efeito imediato da aplicação, já que postO pelo Dr. W illiam Colema n, também com o objetivo
ele é diluído apenas se for acrescentada água ao recipiente. de alcançar um peelíng mais uniforme e profundo do que
Quanto maior a quantidade de camadas aplicadas do com ATA isolado. Antes da aplicação h abitua l do ATA a
ácido, maior a penetração deste. A profundidade do peelíng 35%, o ácido glicólico a 70% é aplicado na pele e deixa-
também va i depender de o utros fatores, como tipo de pele do por cerca de 2 min utos, sendo depo is lavado com água
do paciente, preparo prévio da pele, técnica de aplicação corrente.
Capítulo 33 • Peelings Químicos 181 ")

Na combinação da solução de Jess ner e ácido glicóli- após a fase de descamação; a verdadeira erupção acnei-
co por sua vez, descrita pelo Dr. Larry Moy, a solução de forme (múltiplas pápulas foliculares eritematosas) deve
Jessner destró i a função de barreira da pele, possibilitando ser diferenciada da oclusão folicular (púsw las superfi-
que o ácido glicólico promova uma descamação profunda ciais) ca usada por emolientes e pomadas usadas durante
mais uniforme.l.l;.19 o período de cicatrização e que responde pro ntamente à
Várias propostas terapêuticas têm sido indicadas, e terapia antibiótica utilizada para a acne.
geralmente opta-se por associar d uas o u mais modalida- • Equimoses: rupwra de pequenos vasos do plexo dérmi-
des não cirúrgicas e/ o u cirúrgicas para otimização dos re- co, em geral em pacientes com lesão actínica signi ficati·
sultados no comba te ao envelhecimento e no tratamento va e acenwada atrofia da pele.
de cicatrizes pós-acne e de estrias, dentre o utras alte ra- • Eritema persistente: algum grau de eritema em áreas
ções. A seleção apropriada do paciente e a correta avalia- distintas por várias semanas após o peelíng; trata-se de
ção da intensidade do quadro são cruciais para a escol ha uma complicação rara e geralmente autolimitada.
da opção adequada ao tratamento. Peelíngs s uperficiais • Hiperpigmentação pós-inflamatória: inflamação sign i-
seriados, peelíngs médios e lasers fracionados não ablativos ficativa é a lesão precursora desse ti po de hiperpigmen-
e ablativos, combinados com toxina botulínica e preen- tação; não é comum em peelíngs superficiais.
chimento, têm sido utilizados pa ra este fim, assim como • Hipopigmentação: suas chances aumentam com a pro-
os peelíngs de fe noJM 0 As propriedades químicas do feno] fund idade do peelíng e aqueles que atingem a derme re-
promovem o remodelamento do colágeno e das fibras ticular sempre causam algum grau de hipopigmentação
elásticas•·•'·42 permanente, com demarcação contrastante da coloração.
• Reações alérgicas: são raras, sendo a resorcina respo n-
-
COMPU CAÇOES
sável pela maior incidência de dermatites de contato.
Reconhecê-las e tratá-las prontamente é necessário para
As complicações dos peelíngs costumam estar relacio- recuperação mais rápida e menor risco de complica-
nadas com a profundidade do procedimento e incluem as ções. Deve-se suspeitar de reação alérgica se o paciente
seguintes: q ueixar-se de prurido o u apresentar edema poucas ho-
• Lágrimas que escorrem pelo pescoço: as lágrimas po- ras após o peelíng, eritema e edema visíveis em áreas q ue
dem escorrer pelas bochechas, misturando-se ao ácido, e não foram submetidas à descamação o u perante o surgi-
continuar a escorrer pelo pescoço, formando uma faixa mento de lesões de urticária no corpo.
de pele o nde vai haver descamação; isso pode se tornar • Cicatriz: deve-se à lesão dérmica decorrente dos peelíngs
um problema particularmente grave se a concentração o u ao desenvolvimento de infecção que não é tratada da
do ácido for alta, po is o pescoço tende à fibrose com maneira adequada. 2•1
mais facil idade. Já foram relatados casos de cicatriz hi-
pertrófica em decorrência de lágri mas que levaram o '
ATA a 50% para o pescoço. CUIDADOS POS-PEELING
• Herpes labial: como o peelíng é uma queimadu ra ácida Para a obtenção de bom resultado pós-peelíng, é neces-
na face, pode desencadear um quadro de infecção her- sário informar ao paciente que sensações de ca lor e "re-
pética. Justifica-se a administração profilática de aciclo- puxamento" são no rmais e que ele deve ter o cu idado de
vir nos pacientes apropriados. não friccionar a área tratada, lavando-a suavemente com
• Infecção: complicação rara, a menos que a descamação água corrente e secando-a delicadamente com uma toalha
seja aciden talmente excessiva e a lesão não cuidada de macia. O emprego de corricoides tópicos de baixa potência
maneira apropriada; patógenos bacterianos comu ns (es- para alívio do prurido e do eritema pode se fazer neces-
ta filococos e estreprococos), patógenos bacteria nos in- sário por tempo limitado. Não se recomenda a retirada
comu ns (espécies de Pseudomonas e Enterobact.er) e Candí- dos pedaços de pele que se descolam e se soltam, evi tando
da podem estar envolvidos. puxá-los, o que pode aca rretar a descamação prematura de
• Descamação excessiva inadvertida em algumas áreas: uma pele que está protegendo a nova e sa ud ável que está
formação de crostas superficiais, semelhantes à aspereza se formando logo abaixo. Assim, a remoção prema tura aci-
decorrente de q ueimadura em áreas de epidermólise; dental ou propos ital da pele expõe uma camada de tecido
qualquer área com formação de crosta está propensa a imaturo e frágil e aumenta a suscetibilidade a complica-
uma infecção incipiente e, portanto, deve-se dispensar ções, como infecções, eritema pers istente, hiperpigmen-
tratamento apropriado a este fim. tação pós-inflamató ria e fibrose. Além d isso, para que se
• Erupção acneiforrne: pequena porcentagem de pacien- obte nha uma recuperação uniforme da pele, é obriga tó rio
tes apresenta erupções acneiformes durante ou logo o uso de fotoprotetOr regu larmente.l.l
( 182 PARTE XI • Peelings

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Peelings em Peles Pigmentadas
Maria da Consolação de Oliveira

Renomr é preciso, e quando meus olhos 11êem um dos, seu uso é frequente, rotineiro e pulverizado em rodo
creme no pote, as ntgas retraem; q~<ando sinto a o mu ndo.
textura e a proposta de um novo peeling, alegro-me pela Os melanócitos são derivados da crista neural embrio-
possibilidade de morrer ja<;em o mais tarde possível... nária e, portanto, se irri tam na devida proporção de sua
O mercado corre sem fôlego (efen;escente) na busca concentração. Dentro desse melanócito ocorre a perfeita
de ati~'Os para alargar a vida dos fibroblastos e bioquímica da transformação da tirosina em dopa que, pela
adiar a senescência ... ação da tirosinase, vira dopaq uinona e forma a melan ina,
que será transferida aos queratinócitos. Essa melan ina se
(Maria da Consolação de Oliveira, 2013) depos ita sobre o núcleo das células, protegendo-as, o q ue
explica por que a pele de fototipo alto tem menos chance
As propostas são inúmeras: aparelhos, fármacos, de desenvolver câncer e sofre menos forodano, mas, em
rollers, novos ativos, intradermoterapias, células·tronco, contrapart ida, em caso de manchas, esta gera lmente é de
mas os peelings qu ímicos ou a qu imioesfoliação médica d ifícil tratamento.
contin uarão a promover os melhores recursos, mediante As melhores e ma is seguras estratégias para a realização
o uso de substâncias ác idas ou cáus ticas d iferenciadas, de peelings em peles pigmentadas cons istem em:
uma vez que determ inam esfo liação cutânea e poste· o Checar a personalidade do paciente, ouvindo-o e desco-

rior renovação cel ular e reorganização dos e lementOs brindo seus desejos e aversões.
estrutura is cel ulares com estimulação da telomerase e o Definir e registrar no protocolo o fototipo e o grau de

aumento do vo lume da derme pelo depós ito de gl icosa· acometimento das lesões na área a ser tratada.
minoglicanas. o Ava liar doenças e comorbidades já existentes e evi-

A cor da pele resu lta de vários fatores, sendo os ma is ta r aplicar peeling nas segui ntes cond ições: viroses
importantes: conteúdo de melanina e carote no, q uantida· (herpes), angina de peitO (o ardo r eleva a frequê ncia
de de capilares na derme e a cor do sangue nesses capila· cardíaca), derma tite seborreica, dermati te a tópica,
res. Em 1999, Fitzpa trick assim classificou a pele. As peles quelo ides, acne rosácea, repos ição hormona l e uso
pigmentadas são dos tipos IV, V e VI, e o segredo para a de contraceptivos hormona is, q ue podem pred ispor
escolha e o manuseio de peelings nesses forotipos é decis ivo o apa recimento de pigmentação pós-in flamatória e
para ganhar ou perder de vez o(a) paciente. doe nça pelo HIV; enfim, saúde física e mental é o
Embora os peelings químicos constituam um dos pro- desejável.
cedimentos cosmiátricos mais comumente utilizados em o Esclarecer sobre todas as possibilidades e o tempo de re-

fototipos baixos, é restrita a literatura científica consistente cuperação, bem como a necess idade do uso de produtos
sobre o uso dessa técnica em pele pigmentada. Apesar da no domicílio para auxil iar a reepitelização, o cla reamen-
escassez de estudos controlados, duplos<egos e random iza· tO e a foropro teção.

183
< 184 PARTEXI • Peelings

Quadro 34. 1 Sugestão de fórmula CH, CH, OH

Vitamina C 500mg
H,C CH, ~
Zinco 30mg I
Ouercetina 100mg

Polipodium Jeucotomus 120mg CH,


Figura 34.1 Ácido retinoico. (Fonte: http://qnint.sbq.org .brf}
Ácido pirúvico ou luteina 60mg

Posologia 1 capsula após o café da manhã


Os recepto res retinoides estão loca lizados dentro do
núcleo celu lar, onde exercem diferentes efeitOs biológicos,
o Prescrever, sempre que poss ível, um potencia lizador do afetando o cresci mento e d iferenciações celu lares, ações
efeito do peeling; de uso diário (Quadro 34 .l). imuno modulatórias e alteração na coesão celular.
o Antes do peeling em peles pigmentadas, p rescrever,
quando possível, fórmu las cla readoras e esfoliantes Efeitos desejáveis (Quadro 34.3)
co ntendo hidroqu inona (i nibidora da tirosinase) ou
tretinoina (dispersa grânulos de melanina, evitando Quadro 34.3 Efeit os desejaveis
seu depósito na ep iderme), como pré-peelings, ou áci· Na epiderme Causa aumento da espessura epidérmica,
do mandélico a 10% em gel-base. Sempre se deve op- eliminação de displasias e atipias e melhor
ta r pela aplicação noite s im, no ite não, pelo menos distribuição do conteúdo de melanina
20 no ites antes do procedimen to de peeling em con· e redução da hiperpigmentação pós-
inflamatória em negros. Contudo, o efeito
su ltó rio. mais bem documentado do ácido é o
o Decidi r o nivel de penetração do peeling conforme o estímulo à proliferação e à diferenciação
Quadro 34.2. dos queratinócitos da camada basal,
provocando a descamação e renovação do
o Em ordem de segu rança e impo rtância, escolher o pee-
epitélio e a diminuição da aspereza e da
ling ideal: flacidez da pele
- Peeling de ácido retinoico plus belides.
Na derme Aumenta o colágeno, melhorando a
- Peeling de ácido mandélico AHA nutri. elasticidade cutânea e reduzindo as rugas
- Rejuvepeel®(ATA + diidroxibenzol). finas superficiais. Após o uso de retino ides
em peelings e o uso domiciliar, verificou-se
que a zona de colageno induzida foi duas
Quadro 34.2 Mecanismo de ação vezes mais profunda

Peelings Age no nível da epiderme e auxilia o Fonte: adaptado de Azulay. 4' ed., p.180.
superficiais tratamento de queratoses actfnicas.
melasma epidérmico, rítides iniciais,
poros dilatados e comedos
Belides e seus benefícios
Peelings médios Age mais profundamente na derme
papilar - atua em melasma dérmico e Obtido das flo res de Bellis perennis (margarida), o beli-
epidérmico, cicatrizes de acne, estrias, des é um excelente clareador, rico e m diversas moléculas
rugas e flacidez b ioativas, como sapon inas, poli fenóis, glicosid eos flavôn i-
Fonte: de Maoo M. 2004.
cos, polissacarideos e inulina, e com uma surpreendente
capacidade de in ibição da melanogênese.

PEELING DE ÁCIDO RETINOICO PLUS BELIDES Mecanismo de ação


Conceito Quando a radiação solar UVB ati nge a pele, ela esti-
Util izado desde 1976, o ácido retinoico, derivado da mu la os queratinócitOS a liberarem med iadores pro infla-
vitam ina A, é uma molécula de 20 carbonos e m anel ci- matórios como a e ndotelina I (ET-1). A ET-1, quando em
cloexenil (C6H 10), uma cadeia latera l com duas duplas ar- grand e quantidade, faz aumentar a síntese de tirosinase
ranjadas em configuração transe com um grupo alcoólico e a p ro liferação, migração e formação dos dendritos dos
no final (Figura 34.1). A oxidação desse grupo alcoólico melanócicos. A inibição da expressão da ET-1 é capaz de
resulta na formação de um aldeído (retinaldeído) que pode inibi r a melanogênese antes mesmo de seu início. Testes
ser oxidado, formando a tretinoína. rea lizados na Alemanha mostraram que o belides age,
Capítulo 34 • Peelings em Peles Pigmentadas 185

Quadro 34.4 Indicação do peeling de tretinoína plus belides Quadro 34.5 Sugestão de fórmula clareadora

Acne em peles Uma série de peelings pode melhorar a Ácido retinolco 8%


morenas acne ativa em período curto através da
comedólise e t ambém epidermólise Belides 5o/o
para as pústulas. Importante rigor no
Dióxido de titânio 2%
acompanhamento

Discromia Com boa segurança em fototipos altos


Fator estabilizador qs pH = 4 a 5,5
Neutracolor qs
Melasma Ha duas respostas possíveis: respostas
Obs.: conforme fototipo da pele
positivas em alguns pacientes
e melhoras surpreendentes em loção cremosa base qsp 30ml
outros(as)
Fonte: autora.
Dano actínico, rugas As melhoras são significativas
finas e ressecamento

Tratamento corporal Peelings em mãos, cicatrizes e estrias Modo de aplicação


altamente benéficos
Após lavar a face com sabonete de hamamélis, secar
Fonte: Salles AG. Tratado de Mediana Estética. Vol. 11. Cap. 36. 2004:739. bem e, com uma toru nda, aplica r o desengord urante (p.
ex., álcool/éte r, licor de Hoffman); com a mão enluvada,
também, bloqueando os receptores do hormôn io a,.MSH aplicar uma camada generosa do peeling em cima , espa-
(alpha-melanoeyte stimulating honnone). Quando consegue lhando em toda a extensão da face, inclu indo orel has e
se ligar a seu receptor nos queratinócitOs, esse hormô nio pescoço. Evi tar as pálpebras superior e inferior e os lá·
estimu la a ativação da enzima tiros inase e a produção de bios. Aguardar, em méd ia, 8 horas. Retirar o excesso com
eumelanina. A associação de belides à tretinoína poten- algodão umedecido em água e, em seguida, lavar bem
cializa o efeito clareador através da sinergia do ácido re- com água e sabonete líquido de hamamélis glicerinada.
tinoico, q ue d ispersa os grâ nulos de melan ina, evitando Apl icar filtro solar três vezes ao d ia. Dentro de 48 horas
seu depósi to na epiderme, bem como dim inuindo a sín- in icia-se uma descamação, que pode du rar até 5 dias. Em
tese da tiros inase. caso de irritação em alguma área, pode-se usar creme de
hid rocortisona a I% o u deson ida a 0,05%. Repeti r a cada
qu inzena, até um tOtal de cinco sessões
Cuidados pré-peeling
Para q ue um peeling seja eficaz, é importante o pre-
pa ro da pele de 2 a 6 semanas antes do procedimento, Vantagens
com a finalidade de deixar a pele ma is homogênea e A~ vantagens desse peeling são: ausênc ia de ardo r e
uniforme para receber o peeling e restau rar-se ma is rap i- que imação, não causa frosr, custo baixo, fácil aplicação
damente. e não req uer afastamento das atividades diá rias. Tem
Produtos que podem ser usados com essa finalidade: grande aceitação e otimi za a adesão ao tratamento do-
• Hid roqu ino na a 4%. m iciliar.
• Ácido retinoico a 0,05% o u ácido kójico a 4% ou ácido
fítico de 2% a 4%. PEELING DE ÁCIDO MANDÉLICO (AHA-NUTRI)
• Hid rocortisona a I% .
• Antioxidante, qs. Conceito
• Loção não iôn ica qsp 30mL. O ácido mandélico, um alfa-hid roxiác ido (AHA)
obtido do extratO de amêndoas amargas, é considerado
Passar uma camada fina ao dei tar, noite sim, noite o ácido de maio r peso molecu lar, o que explica sua ab-
não; em seguida, lavar e secar bem a face. sorção lenta, favorecendo um efeitO uniforme e minimi-
Sempre aplicar filtro solar três vezes ao dia. O preparo zando os transtornos comu ns com a aplicação de ácidos
descri to aqu i é vá lido pa ra os demais peelings. (Figura 34.3).
O peeling de ác ido mandél ico é o menos irrita nte
Contra indicações para a pele, em compa ração com outros ácidos já co nhe-
Gestação, feridas ou processos inflamatórios infeccio- cidos. Em razão da excelen te to lerabilidade e do menor
sos, herpes e o uso de vi tam ina O tópica , uma vez que esta grau de irritação, pode ser aplicado rodas as semanas.
concorre pelos mesmos receptores da tretinoína. Apresenta efeitos compa rativamente vantajosos pa ra o
A formu lação básica é apresentada no Quad ro 34.5. rej uvenesc imento de peles de fototipo altO (as peles mo-
< 186 PARTEXI • Peelings

A formulação básica é apresentada no Quadro 34.6.

Quadro 34.6 Formulação basica

Ácido mandélico 50%

Cosmacair 3,0%

Acido cítrico 0,5%

Fator estabilizador qs

Gel de Aristollex qsp 50g

Fonte: autora.

Modo de aplicação
o Lavar a pele com sabonete de hamamélis.
o Massagear a pele com esfoliante de apricot ou esfoliante
com microesferas de pol ietileno.
o Enxaguar com água.
o Secar bem.
o Aplicar licor de Hoffman com to runda; agua rdar alguns
segundos, até a pele secar totalmente.
o Aplicar uma camada generosa de ácido ma ndélico a
50% com mão en luvada, na face, no pescoço, nas ore-
lhas e nas demais áreas a serem tratadas.
o Aguardar de 2 a 5 minutos (geralmente oial paciente
Figura 34.2A a O Paciente em acompanhamento após 60 dias reclama de ardor tolerável).
em uso de Kligman domiciliar. filtro solar e luteína via oral. (Fon- o Neutralizar, lavando com água em abundância o u solu-
te: acervo da autora .) ção de bicarbonato de sód io.
o Aplicar gel desco ngestivo e calmante com alantoína,
Hid roviton"', camomila e calêndula o u Nutre!<~>, q ueres-
OH taura e promove sensação de conforto, se necessá rio.
OH
o Aguardar algu ns minutOs.
o o Aplicar filtro solar com Tinosorb"' e complexo antirradi-
cais livres.
Figura 34 .3 Radial de ácido mandélico. (Fonte: Merck lndex. o Manter a pele hidratada em dom icilio.
11•• ed.l o Retornar à aplicação do pré-peeling de uso domiciliar
após 3 a 4 dias, até o próximo peeling.

renas). Atua inib indo a s íntese de melan ina, bem como


na melanina já depositada, auxiliando a remoção dos Fórmulas
pigmentos hipercrôm icos. É pH-dependente, variando Desengordurante leve para a pele (Quadro 34.7).
de 0,5 a 1,7, sendo usado prefe rencialmente em gel es-
pecífico.
Quadro 34.7 Desengordurante para a pele

lauril sulfato de sódio 0,5%


Indicação Éter tO%
o Como coadjuvante no tratamento de acne.
Água de rosas 20%
o H iperpigmentações.
Água destilada 50%
o Focotipos elevados.
o Cicatrizes. Álcool etmco 50%
o Fotoenvelhecimento. Fonte: autora.
Capítulo 34 • Peelings em Peles Pigmentadas 187

Licor de Hoffman (Quadro 34.8). que o número de capilares é maior na pele tratada do q ue
na pele sem o tratamento. Além d isso, a q ua ntidade relati·
Quadro 34 .8 Licor de Hoffman va de melan ina é menor do que na pele sã, o q ue permi te
Álcool afirmar que a pele tratada é eritemarosa e hipocrõmica.
170%
Éter
Desse modo o RejuvepeeJ®, uma combinação de ATA com
30%
d iid roxibenzo l, é uma opção mu ito interessa me para peles
Fonte: Virgilio Lucas. Formulário Médico Farmacéutico Brasile•ro. 11 ed. 1954.
hiperpigmentadas, promovendo clareamento e rejuvenes-
cimento e trazendo mais viço, sedosidade e luminosidade
à pele.
Contra indicações
Em geral, trata-se de um procedimento seguro, e as
contraindicações são: Química do ácido tricloroacético
• Escoriações.
O TCA é um ácido orgân ico, derivado do ácido acé-
• Processos infecciosos e in flama tó rios.
tico pela substituição dos três átomos de hidrogênio do
• Cicatrizes recentes e pós-trauma.
rad ical meti! por três átomos de cloro (Figm a 34.5).
• G ravidez.

REJUVEPEEL® H O O
H
H
CL
Conceito CLH
H OH CL OH
O ác ido triclo roacético (ATA ou T CA), compone n-
te mais importante do Rejuvepee J®é um prod uto de uso Figura 34.5 Ácidos carboxílicos. (Fonte: Carlos Roberto O. Sou-
secular e de eficácia comprovada. Pe rmite a passagem to, Humberto Conrado Duarte. 2012: 19.)
de um peeling superficial (intraepidérmico) pa ra médio
(a lca nça a derme papilar) a profundo (até a derme re-
ticula r superior). Contudo, esse peeling é mais segu ro Determinação da força do ácido
como peeling superfic ial e méd io na pele hiperpigmenta-
d a. O T CA não apresenta toxicidade sistêmica e é qua- [H+ j
pH = pKa + log,0 [HA j
se desprovido de reações adversas e alergias. Aprese nta
concentrações seguras, que va riam de 10% a 35% em
Figura 34.6 Fórmula do pH.
sol ução aquosa.
O peeling méd io se assemelha à q ueimadura de segu ndo
grau. A cura é espontânea e se dá por restauração da pele. • pKa alto --+ alta dissociação --+ aumenta a concentração
Estudos mostram que há aumento no volume de ele- de W livre.
mentos estrutu rais dérmicos, como colágeno e elastina, e • Ácido fon e --+ ma ior penetração.

Figura 34.4A e B Acompanhamento de tratamento por 45 dias. Foram feitas três aplicações do peeling de ácido mandélico e ma-
nutenção domiciliar com ácido mandélico a 10 % em gel em noites alternadas com solução de Kligman. (Fonte: acervo da autora.)
PARTEXI • Peelings

o Q uanto ma ior o pH, ma io r a ac idez e menor a h idra- o Gel neutralizador com nafazo lina (Quadro 34 .lO).
tação.
Quadro 34.1 O Fórmula de máscara calmante
o Quanto menor o p H, ma ior a acidez e maior a esfolia-
ção, com aumento da população de fibroblasw. Por Algas marinhas (extrato) 1%
isso, é importante deixá-lo no pH mais baixo possível.
Nafazolina 1%

Gel qsp 50g


Mecanismo de ação
Fonte: Lyon S. Apostila do curso de Dermatologia e Estética Médica. 2010.
o Coagulação das proteínas.
o Estimu lação do espessamento da epiderme e remoção
da camada córnea, substituindo-a por tecido regenerado
e reorga nizado. Modo de aplicação
o Aumento do volume da derme pelo depós ito de coláge- o Limpar a pele com a solução desengordura nte Rejuve-
no e glicosaminoglica nos (GAG). peel"'.
o Aplicar o ATA associado em preparação extemporâ nea.
Manter~e atento ao aparecimento de ardor, eritema ou
Indicação o

{rost.
o P eeling superficial (i ntraepidérmico):
o Aplicar a máscara neutra lizadora Rejuvepeel"' rapida-
- Querawse actín ica.
mente, se necessário.
- Melasma.
o Suspender tratamentos domiciliares até finalizar a des-
- Li nhas fi nas.
camação.
- Poros d ilatados.
- Comedões.
A profu ndidade do Rejuvepeel"' depende de:
- Verrugas.
o T ipo de pele (fowtipo).
- Lentigos.
o Local da aplicação;
- Efélides etc.
o Tratamentos prévios e preparo da pele.
o P eeling médio (age até a camada papilar): atua na ma io-
o Técnica de aplicação (pressão).
ria dos p roblemas cutâ neos epidérmicos e dérmicos pa-
o N úmero de camadas aplicadas.
pilares, como melas ma dérm ico e epidérmico, melanose
o Concentração e da duração do contato do agente com a
actín ica, poros d ilatados, cicatrizes superficia is, telan-
pele.
giectasias d isseminadas, rugas finas etc.

Resultados esperados do Rejuvepeel®


Contraindicações
o Peeling su perficial (intradérmico):
C icatri zes extensas e rad iodermatites, cicatri zes que-
- Embra nquecimento suave e irregular.
lo id ianas, pele forotipos V e VI, sem preparo e cuidado
- Fu ndo cor<le-rosa aparente.
adeq uado; pacientes ps iquiátricos e gestantes.
- Edema insignificante.
O Rejuvepeel"' é um peeling qu ímico associado de ATA
- C ura em méd ia em 7 d ias.
+ d iid roxibenzo l isento de roxicidade sístêmica.
- O peeling pode ser repetido sem li mi tes.
o Peeling médio (derme papilar):
Formulação básica - Embra nquecimento u niforme.
- Fu ndo cor<le-rosa mantido e aparente.
o Peeling (Quadro 34.9).
- Edema é ma is aparente.
- C ura usualmente entre 7 e 10 d ias.
Quadro 34.9 Fórmula do peeling Rejuvepeel" - O peeling pode ser repetido a cada 3 a 4 sema nas, sem
limites. Apesar de mu ito seguro, em caso de infecção
Ácido tricloroacético 20%
o u irritação intensa, pode levar à descoloração transi-
Oihydroxybenzol 2% tória da pele.
Estabilizador de vitamina C qs
Observações
Água bidestilada 50ml
o O frost de mão e antebraço deve ser menos intenso em
Fonte: autora. razão da escassez de un idade pilossebácea.
Capítulo 34 • Peelings em Peles Pigmentadas 189

o Se necessário, usar corticoide de baixa potência (deson i- Quadro 34 .12 Fórmula de regenerador da pele

da a 0,05%). Tensine 1%
o Durante a descamação, prescrever bálsamo para a área
Raffermine 1%
de o lhos e creme nutritivo para a face, ambos ao deitar.
A formu lação pode ser de uso constante. Upossomas AJE 1%
- Aplicar na área de o lhos duas vezes ao d ia. Ácido hialurônico 3%
- Aplicar na face ao deita r.
o Fotoproteção sempre. Óleo de Argan 0,5%

Óleo de romã 1%
Quadro 34 .11 Fórmula de regenerador da pele
Creme gel 30g
Hyaxel 5%
Fonte: autora.
AA2G 2%

Upossomas AJE 1%

Tensine 1% CONSIDERAÇÕES FINAIS


Raffermine 1% Enquanto a ciência não atinge decididamente a faça-
Óleo de romã 1% nha de fazer parar o e nvelhecimento, os méd icos deverão
continuar a formular, a cuidar e a med ical izar com se-
Base gold qsp 15
gurança e responsabilidade na arte de morrer jovem e o
Fonte: autora. mais tarde possivel.

Figura 34.7A a O Paciente em tratamento há 45 dias. Foram feitos dois peelings. Paciente em uso de hidroquinona a 4% com tretinoí-
na a 0,05% em gel creme à noite. Filtro solar três vezes ao dia e Po/ypodium /eucotomus pela manhã. (Fonte: acervo da autora.)
PARTE XI • Peelings

Referências Parada MB. Peeling de a-hidroxiacidos. In: Maio M. Tratado de medi-


cina estética. São Paulo: Roca, 2004:745-56.
Enokihara MY. Pecara CS. Peelings qufmicos: indicação e seleção de
pacientes. In: Maio M. Tratado de medicina estética. São Paulo: Pimentel AS. Peeling, mascara e acne: seus tipos e passo a pas-
Roca, 2004:711-20. so do tratamento estético. São Paulo: Livraria Médica Paulista,
Horibe EK. Peeling de acido tricloroacético. In: Maio M . Tratado de 2008. 336p.
medicina estética. São Paulo: Roca, 2004:777-800. Salles AG. Peeling de ácido retinóico. In: Maio M. Tratado de medici-
Junqueira LC, Carneiro J. Histologia basica. 10. ed. Rio de Janeiro: na estética. São Paulo: Roca, 2004:735-44.
Guanabara Koogan, 2004. 488p. Sampaio SAP. Rivini EA. Dermatologia. 3. ed. São Paulo: Artes Mé-
M ineiro J . Curso de pharmacologia. Belo Horizonte: Imprensa Oficial dicas, 2008. 1585p.
UFOP. 1926. 1110p. Sinart JAS, Pires MC. Discromias. In: Sinart JAS, Pires MC.
Nakamura RC, Abulafia LA, Azulay RD. Discromias. In: Azulay RD, Dermatololgia para o clinico. 2. ed . São Paulo : Lemos, 1998:
Azulay DR, Abulafia LA. Dermatololgia. 5. ed . Rio de Janeiro:
235-42.
Guanabara Koogan, 2011:97-114.
Peelings Corporais
Tatiana Amora Cruz

Peeling consiste em um processo de esfoliação-abrasão- Diante dessa d iferença histológica, é fácil concluir que
<lescamação de células superficiais de pele para acelerar os peelings corporais têm cica trização mais lenta que na
o tumOtc, o u seja, a troca, a reparação das células da epi· face, sendo uma área de grande risco para atrofias, hiper-
derme, e iniciar um processo inflamatório controlado que trofias, d ificuldade de cicatrização e até mesmo a formação
leve a uma reorga nização da estrutu ra dérmica, resultando de q ueloides.
na melhora de inestetismos e na qualidade da pele. Além disso, observa-se maior exposição dessas áreas ao
O processo visa melhorar a textura da pele, promoven- sol, não sendo incomuns nos peelings corporais complica-
do ma is lum inosidade, tirar ma nchas, melhorar o processo ções como eritemas e hipercromias.
acneico e aten ua r as cicatri zes de acne, red uzir as marcas Deve ser lembrado ainda da cautela necessária nes-
superficiais, clarear manchas, d iminuir a textura áspera da ses peelíngs, uma vez que essas áreas são muito propensas
pele, melhorar cicatrizes e até mesmo cicatrizes atróficas, à dermatite de conta tantes no trabalho ou pelo uso de
como as estrias, melhorar a elasticidade, dim inui r rága- perfumes.
des e rugas, reduzindo sign ificativamente a velocidade do
processo de e nvelhecimento, reverter atipias e melhorar a ESCOLHA DA PROFUNDIDADE
qualidade da pele.
Diante do exposto, os peelings preferidos para essas
Os agentes de peeling podem ser físicos (p. ex., laser e
áreas são os peel.íngs superficiais e seriados ou, mu ito even-
dermoabrasores) ou q uím icos (usa ndo agentes q uím icos
tualmente, os peelíngs médios.
para o processo de exfoliação, como ácidos e soluções).
São totalmente contraind icados os peelíngs profundos,
Neste capítulo serão abordadas as particularidades dos
em vi rtude do risco de cicatrizes, hipertrofias e queloides, e
peelíngs q uím icos quando aplicados a áreas extrafaciais e
até mesmo em razão do risco de não cicatrização.
corporais.

PRECAUÇOES
-
CICATRIZAÇAO
- Nos peelings corporais, deve ser sempre levada em co n-
Após exposta ao processo de peeling, a pele sofre repa- sideração a exposição profissional do paciente, seus háb i·
ração e cicatrização através das stem cells, ou seja, célu las tos, seu fototipo e o risco de fowexpos ição.
que estão presentes no bulge do folícu lo piloso. Além disso, é necessário conhecer em que camada da
A face tem excelente cicatrização por ser uma área rica pele está o problema a ser tratado, para garantir a efetivida-
em folículos pilossebáceos. O pescoço e o tó rax têm 30 ve- de do peeling proposto.
zes menos unidades pilossebáceas que a face, d iferença que Fotoproteção adequada e uso precoce de hid ratames e
ainda é maior no dorso, na mão e nos membros, que têm despigmemantes são excelentes medidas de prevenção de
quase 40 vezes menos u nidades pilossebáceas que a face. complicações.

191
< 192 PARTEXI • Peelings

A B

c o
Figura 35 .1A a O Reepitelização de lesào induzida por peeling químico. mostrando renovação da epiderme. (Fonte: acervo da autora.)

REEPITELIZAÇÃO
Ocorre a partir das steam cel/s localizadas no foliculo piloso

N• de unidades pilossebãceas

Face 30 X + pescoço e tórax

Face 40 X + região dorsal dos braços e mãos

Figura 35 .2 Reepitelização. (Fonte: acervo da autora.)


Capítulo 35 • Peelings Corporais 193 ")

Quadro 35 . 1 Indicações dos peelings corporais

1 - MAos. membros superiores e Inferiores Rejwenescimento


Melanoses solares
Manchas por hemossiderina {dermatit e ocre. pós-cirurgias vasculares.
pós-esclerose de varizes)
Oueratoses seborreicas
Oueratoses actinicas
Neoplasias
2 - Colo e pescoço Rejwenescimento
Melanoses actínicas
Poiquilodermia de Civatte
Oueratoses seborreicas
Oueratoses actinicas
Neoplasias
3 -Tórax posterossuperíor-dorso (costas) Acne
Foliculite
Hipercromia pós-inflamatória
Oueratose pilar
Estrias
4 - Genítália Rejwenescimento
Hipercromias

5 - Estrias: protocolos de peelings sugeridos

Mãos. membros e colo


São muito bem indicados os peelings list ados a seguir:

• Ácido mandélico a 30% ou 50%


• Ácido glicólico a 35% ou 70%
• Solução de Jessner - 2 a 3 passadas com gaze Deixar por 5 a 1O minutos e lavar
• Ata a 30% a 50% (pontuado) - lesões

Associar ou não a peelings de ácido retinoico de 3% a 8% por 6 a 8 horas.


São necessárias de 6 a 12 sessões e posterior reavaliação do inestetismo.
No caso de queratoses actínícas. a associação deve ser feita com 5-fluorouracíl de 5% a 10% por 6 a 8 horas. Devem ser feitas três
ou mais sessões. a depender da avaliação cllnica.

Fonte: autora.

DORSO/COSTAS São necessárias de 6 a 12 sessões e posterior reavalia-


Na vigência de acne, foliculite, hipercromia ou q ue- ção do i nestetismo.
ratose pilar, a preferência é pelos peelings com alfa-hid ro-
xiácido ou solução de jessner, combinados com o ácido GENITÁLIA
retinoico, por 3 a 8 horas.
Para os peelings íntimos, a preferência é por aqueles
Nesse caso, não se deve escolher o ácido salicilico isola-
com alfa-hidroxiácidos, seguidos ou não de ácido retinoico.
damente, por se tratar de uma área extensa, evitando ass im
o risco de sa licilismo.
São muito bem ind icados os peelings a segu ir:
São muito bem ind icados os seguintes tipos de peelings:
• Ácido mandélico a 30% ou 50% Deixar por
• Ácido mandélico a 30% ou 50% • Ácido glicó lico a 35% ou 70% 5 a 10 minutos
Deixar por e lavar
• Ácido glicólico a 35% ou 70%
5 a 10 minutos
• Solução de }essner -
e lavar
2 a 3 passadas com gaze Associar ou não a peelings de ácido retinoico de 3% a
8% por 3 a 8 horas.
Associar ou não a peelings de ácido retinoico de 3% a São necessá rias de seis a o ito sessões e posterior reava-
8% por 3 a 8 horas. liação do inestetismo.
( 194 PARTE XI • Peelings

HIPERCROMIAS POR HEMOSSIDERINA • Ácido lático 20%


A prefert!ncia é pelo ~~ling com tioglicól ico de 10% a • Solução alcoólica li'P 100mL
30%, de 5 a 15 minuw>, uma vez a cada 15 dias, em duas
a oitO ~ôe:> quimenab. Uma ou dua' p:h\ada..,, a.'>sociada, ou não a ácido reti-
noico de 5% a 8% pOr 6 a 8 hora.., - a cada 15 ou 21 dias.

ESTRIAS
Alguns peelings de grife para estrias
A~e..tria... Nio cicatriz~ atrMica.~ e, pOrtamo, de difícil
tratamento. Os ~elrngs ,ão l><!m indicados quando se so- Estriapee~
mam outra.~ técnica..., como inrradermorerapia, carhoxite- • Ácido mandélico + ácido retinoico
rapía e até me; mo o laser. • Indicação: fotoripOs IV, V e VI
São vária.~ a.~ po;sihilidades de combinação de ~elings • Reco mendado para:
para o tratamemo e a mdhora das estrias. - Estrias vermelhas - ótimos resultados.
Muita.~ vezes é possivd unir em uma única se.>SâO os - E.mias branca.~- bons resultados.
peelings de cristal e d iamanmdos (pulings físicos) com peelin·
gs de ácido retinoico. Estriapee/ com feno~+ ácido retinoico
Além disso, peelings d e alfa-h idrox iácidos (glicól ico ou
• Indicação: fowtipos I e 11
mandélico) podem ser associados a peeling de ácido retinoi-
• Recomendado para:
co em uma única sessão.
• Estrias vermelhas - ótimos resultados.
Existe ai nda uma enorme variedade d e peelings de gri·
• Estrias branca.~ - ho ns re.~u lrados.
fe, comercializados por farmácias e indústrias, específicos
para as estrias.
Estriapee~ com Emblica + OMAE + Matrixici,-
A segu ir e'tão preconizado.~ os tipo.~ de peelings usados
para o tratamento de estrias. • Indicação: forotipo:. I, 11 e 111.

Protocolo básico
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Peeling de cri.-. tal a ácido retinoico de 5% a 8%.
• Peeling de diamante com 4 a 6 hora;. Muito üteis na prática médica, o:. t-lings corpOral~ de-
• Ácido glicólico a 30% ou 50% ocluído ou não. ' -em ser feitos sempre com muita cautela devido à dificulda-
de de reepitelização local e à facilidade em deixar manchas e
Solução de je..,,ner 15/ 15 dias. cicatrizes inesto!tica.~ quando :.ua condução não é ~,ti,farória.
Mandélico a 30% ou 50%: A.,sociado ou não a car- Treinamemo, hoa e.-;colha do agente, hoa indicação,
hoxirerapia e/ou inrra- pré e pós-peeling hem feito; e hoa técnica Nio algumas me-
dermorerapia. didas que ajudam a minimizar e;;as complicações.

Protocolo 2 para estrias com Jessner


Referências
Modificado + ácido retinoico Brody HJ. Peeling químico e resurfacing. 2. ed. Rio de Janeiro: Rei-
chmann & Affonso, 2000:163-89.
• Ácido lático 17%
Rubin MG. Manual of chemical peels superfocial and medium depth.
• Ácido sa licílico 17% Philadelphia: Lippincott. Willians &Wilkins. 1995.
• Ácido mandelico 30% Rubin MG, Dover JS, Alam. Peeling qufmico. Série Procedimentos
• Ácido p irüvico 10% em dermatologia cosmética. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007:51-5.
Peeling de Feno I Atenuado
Louraneide Maciel Tavares

Os peelings de fenol atenuado surgiram como excdeme CARACTERÍSTICAS


opção para diversificar e ampliar o uso do fenol, um dos Quando aplicado sobre a pele em haixas concemra-
mdhores ácidos para rejuvenescimento de pele, principal- çi'>e' O% a 4%), o fenol é !XlUCO irritante e age como antis-
mente como e:.timulador do colágeno, :.em os ri.\co' dos séptico. Em altas concemraçôes (70% a 88%), é altamente
efeitos colaterais do fenol mais profundo. irritante, provocando violenta sensação de queimadu ra e
A fórmula d:lssica de Baker-Gordon é hepatotóxica, ne- bra nqueando a pele por queratocoagulação. Na~ concen-
frotóxica e cardiotóxica, ~ndo a arritmia cardíaca a princi- traçôes normalmente usadas para peeling (45% a 60%), é
pal complicação. Exige ambiente hospitalar, monitorização querarolitico.
e acompanhamento de ane,tes ista, sendo indicada somen- A eficácia máx ima é obtida em torno de fonnulaçôes a
te pa ra fototipos de I a lll da classificação de Fitzpatrick. 50%. A explicação para isso parte do princípio de que a ne-
b,o implica a avaliação de rbco cirúrgico com pesquba das cr(~e de coagulaç:'io da> proteínas epidérmicas acarretada
funçôes hepática, renal, dCY.>agem de eletróliros e eletroear- pelo fenol é ma i;. rápida e total quando ;.e usa uma concen-
dioj.,'rama. Esses procedimentos são dispensáveis ou minimi- tração de 88%, cuja ação impede a penetração profunda
zados quando da utilização do fenol atenuado, cujo uso é
do fenol ao formar um tipo de barreira.
!Xl>-'ivel em fototipos mab altos e em consultório. Quanto mais diluído, mais o fenol penetra. Do fenol
-
HISTORICO
absorvido, 7 5% são excretados pelos rins e 25% são mer:a-
bolizados pelo fígado. É aconselhável hidratar o paciente
Durante a Primeira Guerra Mundial, o fenol era usa- durante a aplicação do fenol, mas sua apl icação em peque-
do para tratamento da~ queimadura> causadas por pólvo- na' área~ não causa arritmia. A neutralização, se necessá-
ra. Data de 1941 a primeira documentação sobre o ~ding, rio, deve ser feita com óleo ou álcool.
quando Eller & Wolf d iscutiram sobre o fenol, suas com- O fenol é um veneno: após a ingestão de lSg, a mo rte
hinaçt>es e efeitos. ocorre em minutOs. Em concentraçôe> adequada,, ê um
A fórmula de Baker-Gordon data de 1962 e é utilizada excelente agente de peeling. Mais importante que a concen-
até os dias aruais. ConsL~te em: tração, a toxicidade do fenol se deve ao tempo de duração
• Fenol a 88%. da aplicação e à extensão da área aplicada.
• Ó leo de cróton: 3 gotas. O ó leo de cróton é adicionado à fórmula para aumen-
• Água de>tilada: 2mL tar a capacidade de coagular a queratina e é usado para
• Sabão liquido: 8 gota~. promover melhor penetração cutânea, além de aumemar
No mesmo período, Litron já h avia publicado alguns a vascularização locaL É altamente tóxico e insolúvd em
e:.tudos sobre o uso de fenol para peelmgs, cuja fórmula é água. Vale m,altar que a venda des., e óleo encontra-se
:.emelhante à anterior. proibida no Bra:-il por re>olução da Anvisa de 2006.

195
PARTEXI • Peelings

O peeling de feno! profu ndo fo i recentemente desm isti·


ficado. Atua lmente, sabe-se que, q uando bem usado e bem
ind icado, os efeitOs colaterais são minimizados. Trata-se de
uma técn ica di fícil que dema nd a co nhecimento e tempo
para sua aplicação, mas q ue apresenta excelentes resulta-
dos pa ra uma pele fotoenvelhecid a e com foto tipo baixo.

FENO LATENUADO
Consiste no feno] empregado em concentrações mais
baixas, tamponado, associado a o utros ácidos ou a subs-
tâncias moderadoras, de menor toxicidade, com o objetivo
de otimizar os resu ltados e redu zir os riscos. Em virtude da
possibilidade de repetição do procedimento, obtém-se um
resultado semelhante ao de um peeling profundo. Figura 36.1 Descamação 7 dias após fenol light. (Fonte: acervo
Várias formu lações encontram-se disponíveis na in- da autora.)
dústria farmacêutica. Em geral, são e ncontradas apresen-
tações comendo feno] em concentrações de 30% a 35%,
conjugado com outros ácidos e acompan hado ou não de
nesse primei ro peeling criaria uma ba rreira pa ra a pene-
um creme peeling, com alguns despigmema ntes, como o
tração do feno!. Diversas formulações estão à d isposição,
ácido kójico, arbutin, ácido fitico e o utras s ubstâncias an-
poss ibil itando uma escolha específica de acordo com cada
tioxidames e hidrata ntes, ou ainda pomadas usadas para
caso (Figura 36.1).
ocl usão.
Além de seguir os protocolos dos fabricantes, é reco-
mendável um treinamento com ou a orien tação de profis- Indicações do feno I atenuado
sio nais com experiência prática no uso desse produtO. • Efélides.
O objetivo dessas preparações é dim in uir a irritabilida- • Melasma.
de do feno I, min imiza ndo as complicações locais e sistêmi- • Fotoenvelhecimemo.
cas associadas às formulações clássicas de feno!. Obtém-se • Cicatri zes de acne.
maior segu rança a partir da modificação dos componentes • Hipercromias pós-inflamató rias.
q uím icos da solução com ativos moduladores. Estes são • Fechamento dos poros.
verdadei ros tampões que aumentam a penetração epidér·
mica ao causa r liquefação e lim itam, concomita ntemente, O médico deve ter conhecimento da pato logia em
a absorção dos agentes qu ímicos na junção dermoepidér- questão e fazer uma avaliação da profund idade do peeling,
mica. Esses tipos de preparações afetam seletivamente as que pode ser u tilizado até em peles com fototipo V. É im-
camadas superficiais da pele, resultando em liquefação portante ter conhecimento do produtO e capacitação ade-
dessas camadas e na preservação parcial dos melanócitos quada, avalia ndo os riscos e beneficios.
na camada basal. O paciente deverá estar bem informado q uanto à téc-
Quando o feno] passou a ser usado associado a ou- nica e, principalmente, sobre o que ocorre rá d urante e no
tras substâ ncias, elim inou-se a necessidade de internação período pós-peeling, q uanto a descamação e coloração, e se
em amb iente hospitalar e aumentaram as opções de um poderá manter ou não suas atividades cotidianas. Além
peeling com profu ndidade d iversa: superficial, méd io e disso, deve ser orientado sobre a fotoproteção correta,
méd io-profu ndo. Outra excelente opção co nsiste em reali- usando um foroprotetor fís ico ou aquoso, uma vez q ue o
zar no mesmo dia um peeling combinado, associando-o ao uso de um veículo alcoólico provocará ardência imensa e a
peeling de feno! atenuado, visando a maior aprofu ndamen- não adesão. As complicações mais frequentes ocorrem por
to. O outro peeling, antecedente, pode ser feito com ácido fotoproteção inadequada.
tricloroacético (TCA) a 20% ou com a solução de Jessner, Pacientes com problemas emocionais devem ser desa-
e seu objetivo é consegu ir um frost grau I. Em segu ida, co nsel hados a usar esse tipo de peeling. Torna-se necessário
aplica-se a solução do fe no! e, posteriormente, o creme uma boa orientação q uanto aos resultados para que não
q ue o acompanha. O uso de concentração ma is alta do seja criada uma expectativa falsa, visto que a pa lavra feno] é
TCA com frost maior provocaria queratocoagulação e im- prontamente associada a peeling profundo, cuja divulgação
ped iria a penetração de feno!. O aprofu ndamento ma ior pela míd ia tem contrariado a ética médica.
CapíiUio 36 • Peelings de Fenol Atenuado 197

Procedimentos de peeling atenuado


Alguns ~dings comerciais já se encontram disponíveis
com um kit associado, como referido anteriormente. O
preparo da pele deverá ser sempre realizado de 14 a 28 dias
antes do procedimentO e suspenso) dias a ntes.

Preparo da pele (uso domiciliar)


• Ácido retinoico a 0,025%.
• llidroquinona a 4%.
• li idrocortisona a l %.
• Gd creme qsp.

A'> concentrações do ácido retinoico e da hidroquino- Figura 36 .2 Peeling de fenol atenuado. (Fonte: acervo da au-
na podem variar, não sendo recomendado o uso de hidro- tora.)
quinona acima de 5%. Outra variação para uma pele mais
sensível seria o uso de um alfa-hidroxi:lcido (AliA) como o
Quando o(a) paciente informa que a ardência cessou,
gl icólico ou o mandélico (Quadro 16. 1).
pa.~~a-se para uma outra área. Surge um frost bra nco-aci n-
Deve ser sempre enfatizada a necessidade de fotoprote-
zentado, que desaparece rapidamente, dando lugar a um
ção intensa e consmme com FPS acima de )0.
eritema. Ca.~o venha acompanhado do creme, e:.pera-!>e de
lO a 15 minutos e, ;em lavar, aplica-se o creme, ~endo o
Técnica de aplicação paciente orientado a mam~lo durante 24 hora.'>.
A me...a auxiliar deve ser revisada com os produtos a Quando ~e d~eja um aprofundamento maior, o pa-
.erem utilizados, verificando os rótulo~ e a validade dos ciente deve retornar ao con,sultório no dia segui me. O cre-
produtos. Deverá comer, também; gaze, algodão, cotone- me den~rã então .er retirado e repetido o me..,mo procedi-
te, compressas e gelo. Para evimr eventuais acideme.s, deve mento do d ia anterior.
contar com água, álcool e óleo, lembrando que a neutrali- No protocolo de alguns desses peelings atenuados
zação do feno! é feita com álcool ou óleo. consta uma o ri entaç;io pa ra repetição no terceiro dia.
Todos os casos devem ser forografados antes e depo is No entanto, no terceiro dia já existe uma crosta rormada,
do procedimento, do mesmo modo que deve ser assinado o que pode causa r irregula ridade na abso rção. Por isso,
o termo de consentimento esclarecido. adota-se a repetição no segu ndo dia o u o uso, previamen-
A pele deve ser desengordurada com álcool a 70> ou te, de outro puling para aprofundamento (TCA a 20%
acetona. ou Jes;ner).
A solução é aplicada na face com um cotonete gran- No aprofundamentO com ~eling de TCA, utiliza-!>e
de e e~fregada para a obtenção de mdhor penetração uma, dua; ou mah camada.~. até a obtenção de um frost
do feno!. A ardência será muito fone, a qual desaparece grau L (,.,o é nece.~;..irio para abrir caminho para uma
rapidamente. Para diminuir esse de;conforto, a aplica- maior penetração do feno!, que será usado conforme de.~­
ção é feita por á reas, dividindo a face em quatro á reas: crito anteriormente, após cessada a ardência causada pelo
frontal, hemiface d ireita, hem iface esquerda e nasal/ TCA. Quanto mais o feno! for esfregado, maior será a pe-
perihucal. netração, o que el iminará a necessidade de repetição no
segundo d ia (foigu ra )6.2).
Quadro 36 .1 Sugestão de fórmula
Cuidados pré e pós-peeling
Ácodo glocóloco 8% Fotoprotl!tores não alcoolicos, com FPS acima de 10,
Hodroquonona 3% devem ser u:.ado:. de três a cinco vezes ao dia. Como efl!ito
colateral imediato, pode ocorrer ardência moderada, que
Ácodo kÓJICO 2%
se mantém pelo período máximo de 2 horas. O; paciente.'>
ÁcJ.do litoeo 1% de,·em ser orientados a não retirar precocemente a~ cros-
Alfabosabolol 1% tas. Deve--.e evitar o excesso de mímica faciaL
No pré-pee!ing, dep ilação, barbeamento e eletrólise de-
Gel creme qsp
vem ser evitados poucos dias antes do procedimento. Em
( 198 PARTE XI • Peelings

caso de tratamemo com i>otretinoína o ral, o procedimen-


tO só t! recomendado 6 me>e> apó~ interrompido seu uso.
Algun!> aumre~ contraindicam pulings profundos
em paciente IIIV-po~itivo. No entanto, não há qualquer
ju~ti ficativa para comraindicação de pulings de fenol
atenuado.
Há comraindicação em paciente;. suhmdidos a ci-
rurgias recentes, devido à maior possibi lidade de com-
plicações.

PEELING FENOL PERIORAL


Para esse tipo de procedimemo é usado o feno! a 88%. Figura 36.4 Sete dias após uso de fenol a 88% . (fonte: acervo
Nessa concentração, a queratocoagu lação ocorre rapida- da autora.)
mente, não permitindo o aprofundamento até a derme
reticular. O procedimento pode ser feito d e maneira se-
torizada, na região perioral , abrangendo um dermátomo Técnica
ou, simplesmente, no contOrno da hoca e nas rítides, apre- O paciente deverá comparecer ~em maqu iagem, e mes-
sentando excelemes resultados. Para isso usa~e um palitO mo assim a área deve ser limpa com so ro fis iolójlico ou
ou e.~tilete fino com pouquíssimo algodão na ponta. A ar- loção de limpeza para os olhos. A cabeça do paciente é in-
dência é intensa, mas melh ora rapidamenre e é facilmente clinada a 45 graus para evimr acidemes com a penetração
suportáveL do ácido nos o lhos.
Os cantos dos olho~ deverão >er prOtegidos com vaseli-
BLEFAROPEEL/NG DE FENOL na e, com a pele bem e>ticada, fa:vse um leve toque na área
com o cotonete emhehido no feno I a 88%.
Trata-M! do pecling efetuado na região periocular. Nessa Mantém~ a pele ~ticada até que ~reja totalmente seca.
área, por ~era mab fina do corpo, o fenol a 88% adqu i-
A ardência é inten~a. ma.., alivia rapidamente, e o pro-
re caracteri.\tica., de um pe~ling profundo com frosr maiS
ced imento deverá ~er realizado por etapa'>. A~ pálpebras
den~o, promovendo um excdente re~ultado na flacidez
são dhididas em du~ área..,, interna e externa. Quando
palpebral e no clareamento da., olheiras. A coloração e a
o paciente sinalizar que parou a ardência, realiza-l-e o pro-
flacidez melhoram com o puling, porém, em caso de de-
cedimento em outra área. Na pálpebra inferior, deve~e
pre.<>são formada ahaixo da pálpebra inferior medialmeme
manter uma distãncia de I a 2mm dos cílio;,. Na pálpebra
em direção ao dueto lacrimal (olheiras de profundidade), superior, o procedimento é realizado até o limire superior
faz~e nece.'l.,ário o preenchimento da goteira lacrimal com
da conjuntiva tarsal (Fi~'Ura 16.5).
o ácido hialurônico. Portanto, os dois tratamentos se com-
plementam (Figuras 16.1 e 16.4).

Figura 36 .5 Área de aplição do peeflng (Fonre. acer110 da au-


Figura 36.3 Frost no blefaropeelíng. (Fonte. acer110 da autora.) tora.)
Capítulo 36 • Peelings de FenoI Atenuado 199

Como se trata de um proced imento indicado para fo- nados cuidados, treinamento e conh ecimento da formu-
totipos de I a III, nos pacientes de pele com foto tipo ma is lação utilizada. Não há necessidade de internação, nem
alto deve-se opta r por outras formulações do feno! disponí- oclusão, e é versátil nos vários níveis de aprofundamento.
veis no mercado (p. ex., uma formu lação com feno! a 24% Diferentes associações com o utros ácidos podem ser rea li-
com ácido retinoico e pirúvico, também para pálpebras). O zadas com o objetivo de melhorar os resultados. Sua rea-
mesmo produto poderá ser usado fui! face e, caso se deseje plicação é viável e seu custo é baixo ta nto para o méd ico
um maior aprofundamento, deverá ser fei ta a oclusão com como para o paciente.
pomadas apropriadas.
Referências
FENO L EM CICATRIZ DE ACNE - PEELING Brasil - Anvisa. Resolução RDC n• 48, de 16 de março de 2006.
PONTUADO Aprova o Regulamento Técnico sobre Lista de Substâncias que
não podem ser utilizadas em Produtos de Higiene Pessoal,
O feno! a 88% também apresenta excelentes resultados Cosméticos e Perfumes. Disponível em: hnp://portal.anvisa .
nas cicatri zes de acne tipo ice picks. Enrola-se uma pequena gov.br.
quantidade de algodão em um pa lito ou estilete, e tocam-se Dailey RA et ai. Histopathologic changes of the eyelid skin following
essas lesões depri midas, onde se formam pequenos po ntos trichloroacetic acid chemical peel. Ophthalmic Plastic and Re-
constructive Surgery 1998; 14(1):9-12.
com frost . O paciente será orientado a não retirar as peque- Edison RB. Phenol peeling: new standards o f excellence. Aesthetic
nas crostas escuras que se formam a partir do dia segu inte Plastic Surgery 1996; 20(1):81-2.
ao proced imento, as q uais deverão cai r espontaneamente. Epstein JS. Management of infraorbital dark circles: a significant
cosmetic concern. Arch Facial Plast Surg 1999; 303-7. Dispo-
nível em: http://archfaci.jarnanetwork.com/article.aspx?arti·
Complicações locais cleid=479744.
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em: hnp://wWw.ncbi.nlm .nih.gov/pubmed/10626996.
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• Dor, prurido. The lay peelers and their croton oil formulas. Plast Reconstr
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The plastic surgeons role. Plast Reconstr Surg fev. 2000. Dispo-
Em caso de herpes simples (HVH), podem ocorrer nível em: hnp://wWw.ncbi.nlm .nih.gov/pubmed/10697190.
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preconizado para HVH . Face peel results w ith different concentrations of phenol and
Quanto ao tratamento preventivo para herpes e infecção crotonoil. Plast Reconstr Surg mar. 2000. Disponível em: hnp:/1
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antibioticoterapia preventiva, apenas em imunossuprimidos. prática no consultõrio médico. São Paulo: AC Farmacêutica,
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Janeiro: Elsevier, 2007:69-90.
Tayani R, Rubin PA. Aesthetic periocular surgery including brow, mid-
O peeling com feno! aten uado é um proced imento se- face, and upper face. Current Opinion in Ophthalmology 1999;
guro com excelente grau de satisfação, mas exige determi- 5:362-7.
Exoderm®: Rejuvenescimento Facial Não Cirúrgico
Cla ra Santos

O ~nvdh&imento diz respeito a um proce.'>SO multi- INDICAÇÃO


dimemional, fi.,ico e psicológico. Os fatore. po~itivos do Por ser a árl!a mab exposta do corpo, a face mo,tra
erwdh&imemo e do amadur&imemo são o aumento da de modo mai~ vi~ível o~ ~inaL~ de envelhecimento. Ruga'>,
maturidade e o da ~abedoria, enquanto o lado ne~:ativo é o queraroses sehorreicas ~ flacidez aparecem como manife..,_
declínio da forma e da beleza.
rações do envelhecimt!nto intríns&o na população mais
O pacieme que apresenta sinais de envdhecimenro
velha, enquantO queratoses ou lentigos solare.~, mebnose.~.
mostra o desejo Je resgatar pelo menos em parte sua apa-
rugas e flacidez em grau acentuado podem ser vistos em pa-
rência. Diz que e.ml se "vendo" e nvel hecido, mas não se
cientes ainda jovens q ue se submete ram a exposição solar
"sente" tão velho qua nto está apa renta ndo. Isso significa
abusiva, como forma de envelhecimento extrínseco. Todos
que ainda tem vigor, energia e expectativa; portanro, pre-
esses sinais co nrr ihuem para a perda da beleza, causando
cisa de uma apart!ncia mais jovem. Hoje é mais fácil reju-
problema~ estéticos e de auroe.-;tíma.
vene.o;cer que no passado. Graças aos avanço:. da ci~ncia,
Entre as diversa~ técnica-; de rejuvenescimenro, o
muito pode :.er feito por meio de método:. não invasivos
ou minimamente irwasivos. Exoderm• apre.~nta~e como excelente ferramenta no ar-
O f~nol é o agenre quimico dá.'\,<;ico do peeling pro- senal terapêutico não cirúrgico contra o envelhecimento
fundo, sendo conhecido por suas propriedades de ren~r­ da face. O Exoderm é um peelíng desenvolvido há mais de
ter os sinais de envelhecimento da pele. Durame muitos 25 anos pelo Yoram Fint.'>i.
anos, o peelíng de feno I não conseguiu a popularidade por A composição é o resultado de muitos anos de pe.v
suas açôes tóxicas tanro do ponto de vista dermamlógicn qu isa que termi nou em uma solução tamponada com 12
como sistêmico. Em 1986, Yora m Fints i (1951-2001) de- co mponentes, inclui ndo fenol, reso rcina, ácido cítrico e
senvolveu uma fó rmula de feno! ta mponado e a chamou uma variedade de óleos.
de "Exod~rm". Mais de duas décadas de experiência, e ma~~ de 25 mil
O Exoderm~ mudou completamente o conceito do pacientes trat:tdos em 35 países, mostram que o Exoderm 11
peelíng profundo. Graças a seu sistema de tamponamento, é seguro e eficaz. Os re~ulrados são extremamente expres-
o Exoderm' é autohloqueado e não ultrapa;,.-.a a dem1e re- sivos e duradouros, trazendo aos pacientes alto nivd ti~
ticular, ~itando com isso rodas as alteraçôe.., sist~micas e satisfação (Figuras 37.1 a 37. 3).
Jermamló~:ica'> possíveis no peeling de fenol convencionaL O Exoderm é usado como uma técnica substituta da
O Exoderm~ tli;....olve a epiderme e estimula a formação de cirurgia convencional para o rejuvenescimento da face.
uma faixa de colãgeno e fibras elásticas que é respon:.ável Existem casos especifico~ com indicação para Exoderm..,
pelo aspecto de renovação da pele e pela contração, for- assim como ca~os com ind icação para cirurgia e casos em
mando o lifting interno. que uma técnica pode complementar a outra.

200
Capítulo 37 • Exoderm<>: Rejuvenescimento Facial Não Cirúrgico 201

-
SELEÇAO DO PACIENTE
O paciente idea l deve ter fototipo entre I e lll. O
Exoderm<~> deve ser ind icado para pessoas saudáveis e cl i-
n icamente estabilizadas, se portadoras de cond ições como
h ipertensão arterial sistêmica (HAS) ou diabetes tipo I,
com pele clara.
Pacientes que apresenta m rugas periora is o u buca is,
rugas de mario nete, lentigos, querawses seborreicas ou so-
lares, flacidez leve da face ou flacid ez leve ou moderada
da pele das pálpebras constituem uma excelente indicação
para o Exod enn<~>.
Esse peeling apresenta co mo contraind icações relati·
vas fototipos ma is altos e flacid ez de moderada a severa
da face. Como contraind icações absolutas encontram-se
Figura 37. 1 Exoderm"': antes e 1 m ês depois. (Fonte: acervo
os pacientes fototipo VI, diabéticos insulinod ependente e
da autora.)
pacientes com doenças sistemicas não controladas e com
expectativa irreal acerca do procedimento.
Para se submeter ao Exoderm<~> é necessá ria uma avalia-
ção sanguínea co m hemogra ma, glicemia de jejum, ureia e
creatin ina. Além d isso, é necessário um eletrocard iograma
com parecer cardiológico, uma vez q ue o paciente será sub-
metido a uma sedação venosa co nduzida por anestes io lo-
gista.

'
TECNICA
Ao contrário do habitual, para realizar o Exoderm<~>
não é obrigatório o preparo prévio da pele. Em algu ns
casos, esse proced imento poderá ser inte ressante, como
qua ndo o paciente apresenta inte nsa elastose solar (pele
coreácea) ou em caso de algu ma desordem com h iperpig-
mentação.
Figura 37 .2 Exoderm" : antes e 2 meses depois. (Fonte: acervo Após a rea lização dos exames normais, o paciente deve
da autora.) estar de acordo com o proced imento cirúrgico, uma vez
que o Exoderm<~> será realizad o em centro cirürgico.
O paciente deve fazer jejum de 8 horas e vi r e voltar com
acompanhante, não sendo autOrizado a cond uzir veiculo.
Com a presença do anestesiologi~ta para proceder a
uma sedação e ndovenosa leve, o Exod erm<~> é feitO em um
intervalo méd io de I hora e meia.

APLICAÇÃO DO EXODERM®
Inicialmente, a pele deve ser desengord urada com ál-
cool e gaze.
A marcação do limite inferior deve ser feita com o
paciente em pé, cons istindo em u ma linha de I a 1,5cm
abaixo da mandíbula.
A técnica deve segu ir a aplicação sistematizada da so-
lução do Exoderm<~>, o q ual deve ser aplicado em pequenas
Figura 37 .3 Exoderm"': antes e 28 dias depois. (Fonte: acervo áreas reta ngu lares de ma is ou menos I por 2cm em wda a
da autora.) face, incluindo as pálpebras superiores e inferiores. Após a
< 202 PARTEXI • Peelings

Figu ra 37.4 Máscara de Micropore"'. (Fonte: acervo da autora.) Figura 37. 5 Máscara de subgalato de bismuto. (Fonte: acervo
da autora.)

primeira camada, é feita uma segunda camada e, a segu ir, ção de vaselina em pomada, na forma de massagens circu-
procede-se a oclusão da face com Micropore"', formando a lares repetidas até sua completa remoção.
primeira máScara (Figu ra 37.4). A retirada da máscara é acompan hada por muita ale-
gria e grande satisfação do paciente, que poderá ver seu rOS·
to novo e rejuvenescido, sem rugas, manchas o u flacidez.
PÓS-PEEUNG
No período in icial, está presente uma h iperem ia imensa e
A característica ma is marca nte desse peeling é o edema. d ifusa bem evidente, além de um leve edema.
O paciente deve ser advertido de que ficará com o rostO A h iperem ia vai regredindo grad ualmente ao longo
muito inchado e que este inchaço será ma io r nos primei ros dos próximos 2 a 3 meses (Figura 37.6).
dias. Não é esperado eritema persistente com o uso de
A d ieta será líqu ida e com canudo, e a higiene oral será Exoderm"' e, se houver, será uma exceção à regra.
fei ta com sol uções antissépticas em forma de bochech as,
também com ca nudo.
COMPU CAÇOES
-
As medicações para o pós-peeling incluem analgésicos e
amiviral, apen as na eventua lidade de o paciente apresentar Além dos excelen tes e expressivos resultados, o me-
a nteceden te de herpes. Nesse caso, vale a pena in iciar essa lhor do Exoderm"' é a segurança. A sol ução tamponada
medicação 2 dias ames do proced imento e mantê-la du ran- não penetra as camadas mais profu ndas da pele, de modo
te todo o p rocesso de pós-peeling. que complicações dermatológicas, como cicatri zes e acro·
Habi tu almente, não há q ueixas de dor no período pós· mias, não são esperadas quando a técnica é bem executada.
-proced imento. Complicações s istêmicas, como a rritm ia.~ e dano a órgãos,
principalmente os rins, também não foram registrada.~ .
RETIRADA DA PRIMEIRA MÁSCARA E
-
COLOCAÇAO DA SEGUNDA
Após 24 horas, a primei ra másca ra deverá ser retirada
e colocada a segu nda máScara, feita com subga law de bis-
muto. A segu nda máscara permanecerá no rosto por 7 dias
(Figura 37.5).

RETIRADA DA SEGUNDA MÁSCARA


No oi tavo d ia já não existirá mais edema e a másca·
ra de b ism uto apresentar-se-á fissu rada e menos aderida à
pele. A remoção da segu nda máScara é feita com a aplica- Figura 37 .6 Pré e pós-peeling. (Fonte: acervo da autora.)
Capítulo 37 • Exoderm<>: Rejuvenescimento Facial Não Cirúrgico 203

DISCUSSAO
- Apos 8 dias, o paciente está apto a reassum ir suas ati·
Várias técn icas estão d ispon íveis para o tratamento do vidades normais.
envelhecimento da face. O resurfacing com laser oferece um
pós-operatório ma is longo com pote ncial de infecção bac- -
CONSIDERAÇOES FINAIS
teria na e vi ra!, exigindo profilaxia para ambas as infecções
em wdos os casos. O Exoderm"' representa a melhor e mais segura solu-
Outros procedime ntos, como tOxina botulínica e ção para peeting profundo. A fração de feno! presente na
preenchi mentOs, têm um papel especial na batalha co n- fórmula não representa um problema graças ao sistema de
tra o envelhecimentO, podendo e devendo ser usados tampo namemo, que bloqueia sua penetração nas camadas
com o Exoderm<~>. EntretantO, apesar de seus resu ltados ma is profu ndas e, consequentemente, impede que ocorra
expressivos, não revertem o e nvel hecimen to propria- absorção sistêmica.
me nte d itO. A e no rme satisfação dos pacientes e a ma nutenção dos
O Exoderm"' representa uma excelente solução para o resultados mostram que o Exoderm"' cumpre seu objetivo
fenômeno do envelhecimento, além de ser executado em de obter resultados d uradouros e comprovados clínica e
regime ambulatOrial sob sedação endovenosa. histologicamente (Figura 37.7).

• • ... ..

Figura 37.7 Objetivo do Exoderm"' e melhora e manutenção do resultado clínico e histológico. (Fonte: acervo da autora .)
PARTE XII

,
PEELINGS FISICOS
Microdermoabrasão
Olívia He lena Veiga Rafael

Microdermoabrasão consiste na remoção mecânica e PROCEDIMENTO


controlada dos extratos superficiais da pele, ativando a re- Peeling de cristal
generação celular natural e promovendo a estimulação de
Util izam-se microcristais de óxido de al umín io obtidos
colágeno com melhoria da elasticidade da pele.
a partir da micro nização de minerais que aparecem em ro-
A microdermoabrasão é cons iderada p roced imento
ch as de alumínio, conhecidos como cristais de coridón.
fís ico de abrasão q ue respeita o lim ite da epiderme até a
Têm forma hexagona l e extraord inária dureza, proporcio-
junção dermoepidérmica e a derme papilar. 1
nando esfoliação bastante eficaz na pele.
O aparelho é composto por um d uplo sistema de aspira-
ção e compressão. Pulveriza e, ao mesmo tempo, aspira mi-
TIPOS DE TÉCNICAS crocristais de h id róxido de alumínio, com fluxo consta nte.
• Peeling de cristal: técn ica de esfoliamento não cirúrgi- A imensidade é controlável, não traumática e assi ntomática.
co q ue cons iste em projetar sobre a pele uma q uantida- Utiliza-se uma peça manual com um orifício em sua extre-
de de microcrista is de hid róxido de al umínio (AI10 1) midade, descartável e de d iâmetros va riáveis, q ue permi te os
qu imicamente inertes, com pressão ass istida. movimentos de vaivém necessários à execução da técnica.
• Peeling de d iamante: técnica de esfoliamento não ci- O eq uipamento projeta jato dos microcristais sobre a
rü rgico que consiste em fricção com movime ntos de pele com pressão assistida e, simu ltaneamente, faz a aspira-
va ivém sobre a pele, utilizando u ma ponteira d iaman- ção desses cristais (Figura 38.1).
tada. O jato de microcristais sai com alta pressão, bombar-
deando a pele, ao mesmo tempo q ue a aspiração imed iata
recol he os detritos. Provoca uma esfoliação mecân ica, su-
-
IN DI CAÇOES perficial, promovendo apenas a escamação da epiderme.
Não é proced imento doloroso, constitu indo técn ica
• Prevenção e tratamento do fotoenvelhecimento: linhas
ambulatorial, sem riscos de a lergia.Z·1
de expressão, rugas superficia is e envelhecimento da
face, dorso das mãos, braços e colo.
• Lesões actí nicas, como elastose, efélides, querawse actí· Peeling de diamante
nica e lentigo. Util izam-se microesferas, prod uzidas a partir da micro-
• Querarose seborreica. n ização de diamante s intético, colocadas na superfície de
• Estrias. lixas esféricas. A minilixa é colocada na superfície da pele,
• Cicatrizes de acne e cicatri zes traumáticas. tracio nando-a para deixá-la d iste ndida para a ação da lixa.
• Enxertos de pele h iperpigmentados. A pressão da mão sobre a lixa determinará a profundidade
• Rinofima 2 da abrasão.

207
< 208 PARTE XII • Peelings Físicos

Se houver alguma infecção, o proced imento está con-


traind icado. Em caso de antecedente de herpes simples,

-
deve-se administrar aciclovi r VO I d ia antes do proced i-
mento, na dose de 400mg, cinco vezes ao d ia, até comple-
0 tar 5 dias. Após o procedimento, li mpa-se a região com
gaze, para retirada dos res íduos dos cristais, e utiliza-se soro
fis iológico ou água termal para lavar a área.
Deve-se evi tar a expos ição solar, mantendo o uso regu-
lar de protetor solar.
Recomenda-$e a repetição das sessões a cada 15 dias, no
mínimo de q uatro a seis, ou de acordo com a dermatose.5

VANTAGENS
A microdermoabrasão é uma técnica de esfoliação sua-
ve, controlada e un iforme. Proporciona perfeita visibilida-
Figura 38 .1 Aparelho para pee/ing de cristal e diamante. de da profundidade da esfoliação. A regeneração tecid ual é
rápida com incremento da prod ução de colágeno. Trata-se
de um p rocesso sem riscos de contami nação. Não há ne-
cessidade de anestesia.
Para proporcionar um aspecto u niforme à superfície
abrasada, é co nveniente realizar o proced imento na face
toda. COMPU CAÇOES
-
Pode-se também rea lizar a microdermoabrasão seto- Praticamente não ocorrem complicações. O eritema
ri zada (p. ex. , o tratamento de rítides fi nas periorbitais e produzido é leve, com ardor passagei ro, ressecamento tran-
fronta is e de hipercrom ia em pá lpebras inferiores). s itório da pele e descamação suave.
Os movimentos manuais devem ser cuidadosos para
q ue a pele não dobre.
Para q ue não se aprofu nde excessivamente, o ponto de CONSIDERAÇÕES FINAIS
referência consiste no in ício do aparecimento de pontos
sa ngrantes.45 A microdermoabrasão é um procedimento de grande
valia por ser de fácil e rápida execução. Realizado ambula-

PRECAUÇOES
- toria lmente, proporciona a sensação de fi rmeza na pele.
Tem grande acei tação e satisfação por parte dos pacientes.
O proced imento deve ser realizado com o(a) paciente
deitado(a) com os ol hos fechados, cobertos com gaze, para
evitar irritação dos o lhos. Referências
1. Bernard RW, Beran SJ, Rusin L. Microdermoabrasion in clinicai
In icia-se o procedimento pela testa, vi ra-se a cabeça e
practice. Clin Plast Surg 2000; 27(4):571-Z
faz,.se a microdermoabrasão na região ma la r, do lábio supe- 2. Stegman SJ, Tromovitch TA, Glogan RG. Dermabrasion. In: Cos-
rior e mento. Em seguida, este nde-se o proced imento para metic dermatologic surgery. Chicago: Year-Book 1990:59-81.
o ou tro lado da face, segu ido pelo pescoço e o colo e, por 3. Freeman MS. M icrodermabrasion. Facial Plast Surg Clin North
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4. Koch RJ, Hanasono MM . M icrodermabrasion. Facial Plast Surg
Deve-se te r extremo cuidado com o contorno dos Clin North Am 2001; 9(3):377-82.
o lhos. Não se deve fazer a microden noabrasão sobre a pele 5. Ruiz RO. Microdermabrasão. In: Maio M . Tratado de medicina
irritada, dan ificada ou recém-depilada ou barbeada. estética. Vol. 11. Rio de Janeiro: Roca, 2004.
Dermoabrasão
Rozana Cast orina da Silva

O processo de dermoabrasão co nsiste na abrasão su- DERMOABRASOR


perficial da pele para tratamento de pato logias cutâneas e Existem vários formatos para que se assegure a abrasão
correção de defeitOs cutâ neos. e m todas as áreas da face. A~ lixas e m forma de pera são
utilizadas na abrasão da asa nasa l, trágus, base do nariz e
' fu ndo de cavidades, como o philtrnm. A~ lixas em forma
HISTO RICO de bala são usadas em áreas planas. A~ lixas cilínd ricas são
A técn ica ci rü rgica foi desenvolvida por Kromayer, destinadas a áreas ma iores (Figuras 39.1 e 39.2).
em 1905, como métOdo para tratamento das cicatrizes de
acne. Em 1947, lverson relatou a re moção de tatuagens -
SELEÇAO DE PACIENTES
pós-trauma na face com uso de lixa de papel. Em 1953,
Kurtin relatou o uso de dermoabrasão usando motOr de A dermoabrasão é um procedimento que proporcio-
rotação para d entista. na bons resu ltados terapêuticos, devendo ser utilizada em
ad ultOs de ambos os sexos com fototipos de I a IV. Nas
consu ltas pré-operatórias, é impresci ndível uma avaliação
PROCEDIMENTO crite riosa do paciente, o qual não pode apresentar doenças
A dermoabrasão promove a remoção mecânica da epi· sistêmicas e d eve ser psicologicamente estável.
derme e da derme superficial da pele por meio de lixas
abras ivas manua lmente controladas, reco nstru indo uma
nova camada epid érmica e d érmica superficial, a partir de
anexos da derme profunda.
O apa relho de dermoabrasão deve ser capaz de girar
na faixa de 1.500 a 33.000 ro tações por minutO (rpm) e
ter bom to rque, o u seja, pressão exercida sobre a superfície
BlE
cutâ nea durante a abrasão. Deve, ainda, girar em ambos os
sentidos, horá rio e anti-horário, para que não ocorra lesão
....
das bordas livres (p. ex., lábios, ol hos).
As lixas uti lizadas no procedimento são lixas de su-
perfície adiamantada e escovas de aço. São classificadas
pela textu ra, como extracoarse, coarse e standard o u re-
gu lar. A capacidade de abrasão é ma io r com lixas extra-
coarse e decresce proporcionalmente com as lixas coarse .'
e regula r. Figura 39 .1 Dermoabrasor.

209
< 210 PARTE XII • Peelings Físicos

o Acne em atividade.
o Uso de isotretinoína oral.
o Cicatrizes hipertróficas e queloides.
o Vitiligo.

CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS
Os pacientes selecionados devem ser fotodocumema-
dos ames do proced imento e submetidos a exame derma-
tológico cuidadoso.
Está indicado preparo prévio da pele nos segui ntes casos:
o Fototipos 1 e 11: está indicado o tratamento tópico com-

binado de ácido retinoico associado à hidroquinona du-


rante 2 a 4 semanas.
o Fototipos 111 e lV: está ind icado o uso de dareadores
Figura 39 .2 Dermoabrasor.
como ácido kójico, ácido glicólico, hidroquinona, uma
a duas vezes ao dia, por 2 a 4 semanas.

INDICAÇOES
-
A fotoproteção com filtros solares químicos ou fís icos
Constituem indicações de dermoabrasão: sequelas de é imperativa.
acn e, queratoses actínicas, queratoses seborreicas, cicatri- O preparo da pele tem por objetivo modular a dife-
zes cirúrgicas e traumáticas, sequelas de varicela, efélides, renciação epidérmica, minimizar o risco de discromias e
rugas finas e médias, siringomas, estriais, leucodermias, fo- aumentar a velocidade de maturação dos queratinócitOS.
toenvelhecimento, angiofíbroma, tricoepítelioma, poiqui- O risco cirúrgico deverá inclu ir estudo h ematológico,
lodermia, lemigos solares, rinofima e tatuagem. coagulograma, bioqu ímica e ava liação cardiológica.
A profilaxia para infecção herpética, em pacientes com
CONTRAINDICAÇOES
- antecedentes de herpes simples, deve ser rea lizada com aci-
São consideradas contraindicações absolutas e relativas: dovir, 400mg, cinco vezes ao dia, iniciada 48 horas ames
do proced imento, por um período de 5 dias.
Contraindicações absolutas
o Portadores de vírus da imunodeficiência adquirida (HIV). TÉCNICA CIRÚRGICA
o Doenças sistêmicas: diabetes melito, doenças cardiovas- O procedimento é rea lizado em centro cirúrgico com o
culares graves. paciente monirorizado. O médico deverá estar paramenta-
o Lúpus eritematoso disco ide. do com aventa l, gorro, máscara e ócu los. A face do pacien-
o Hepatite B.
te deve ser lavada com soro fisiológico e sabão antisséptico.
o Hepatite C.
A sedação e ndovenosa do paciente é real izada e faz..
o Gravidez.
-se o bloqueio dos troncos nervosos com xilocaína a 2%.
o Lactação.
Utiliza-se azul de metileno pa ra fazer a marcação das áreas
o Radiodermites.
a serem operadas.
o Forotipos V e VI. O equ ipamento utilizado é um dermoabrasor com
o Proses .
motor elétrico e brocas com lixas de diferentes formatos
e revestimentos. A velocidade dadas às lixas dependerá da
Contraindicações relativas s ituação clínica, da região anatômica e do treinamento do
o Pacientes psicologicamente instáveis. cirurgião.
o Condições atróficas da pele: a trofia cutá nea por radia- lnicia~e a dermoabrasão com lixa cil índrica, robus-
ção, queimaduras extensas, e nxerto cutâneo, escleroder- ta na extrem idade dista i, superficialmente, sem provocar
mia. degrau, aprofu ndando-se de acordo com a necessidade.
o Doenças que apresentem fenômeno de Kobner, como A profu ndid ade recomendável é até a derme superficial.
psoríase, dermatite atópica e líquen plano. Cuidado especial deve ser dado à região peripalpebra l.
o Doenças infecciosas: h erpes, verruga vulgar e molusco Durante o procedimento, deverá ser mantida uma ten-
contagioso. são uniforme na pele em todos os pomos.
Capítulo 39 • Oermoabrasão 211 ")

Após o proced imento, irriga-se a pele com soro fisioló- semanas ocorrerá proliferação fibroblástica com rede sube-
gico gelado com suave compressão por 5 a 7 min utos. pidérmica hori zontal e fenômeno de retração da derme.
Os pontOs de sangramento devem ser tratados com Há restauração da epiderme.
soro fisiológico e adre nalina d ilu ídos a I :80.000. No primei ro mês do procedimento haverá restau ração
À inspeção visual, podem ser observados os n íveis de da arq uitetura e da espessura da derme superficial e da epi·
profund idade em áreas com saliências e degraus. derme. Não há alteração da estrutura básica da pele após
Nas áreas não abrasadas, é possível associar ácido tri· a dermoabrasão.
cloroacético a 35% e 40%.
Finalizando o procedimento, a área abrasada é coberta
COMPLICAÇOES
-
com gaze umedecida em soro fisiológico gelado.
São recomendados a inda curativos oclusivos. Durante Constituem complicações da dermoabrasão:
o aro cirúrgico, pode ser adm inistrado lg de cefalosporina • Eritema, que regride após as primeiras duas semanas.
de primei ra geração EV, prosseguindo com a prescrição a • Milia.
cada 8 ho ras. Com o objetivo de d iminu ir o edema pós· • H iperpigmentação resid ual.
-operatório, está recomendada a prescrição de dexametaso- • H ipercrom ia melãnica, que pode persistir por vários
na, 8mg EV no in ício da cirurgia, e uma dose ad icional de meses.
4mg EV ou VO 12 horas após a cirurgia. • Infecções (vi ra!, fúngica o u bacteriana) são raras.
• C icatrizes h ipertróficas.
• Telangiectasias.
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS • Degraus lineares.
No pós-operatório, é mantida a profilaxia para infec-
ções com cefalexina, 500mg, a cada 6 horas. Está ind icado -
DERMOABRASAO SUPERFICIAL
o uso de ana lgésicos (pa racetamol). Após 24 horas, as cros-
tas sem itransparentes tornam-se visíveis em pacientes sem A dermoabrasão superficial é um proced imento rea-
curativos oclusivos. lizado com o uso de dermoabrasor com pontas revestidas
Após a formação das crostas, devem ser tomados al- de d iamantes finos e com rotações ba ixas, sendo utilizada
guns cu id ados: para tratamento das dermatoses inestéticas superficia is,
• Util ização frequente de vaselina líqu ida o u sólida. ati ngindo a epiderme e a der me papila r.
• Não remoção das crostas.
• Manter limpeza constante da área tratada.
Indicações
• Se houver prurido ou irritação, util izar cremes o u poma-
das de h idrocortisona a I% . Constituem ind icação para a dermoabrasão superfi-
• A crosta deverá se desprender entre o q uarto e o sexto cial: rugas finas labiais, rugas periorbitárias, rugas da testa,
dia, q uando, então, deverá ser iniciada a utilização de lóbulos das orelhas, nariz, estrias na região glútea e mamas,
filtro solar. cicatrizes superficia is nos membros superiores e inferiores,
• Após a segunda semana, fazer hidratação com água mi· queratoses actí nicas, dorso das mãos, hipercromias nos lá-
neral borrifada. bios superiores e região zigomática.
• Na terceira e q uarta sema nas, manter foroproteção e hi-
d ratação. Contraindicações
Constituem contraindicação para a dermoabrasão su-
O acompa nhamento médico mensal deverá ser fei to
perficial: pacientes com história de queloides ou cicatrizes
até o sexto mês. O paciente só será liberado para exposição h ipertróficas, portadores de diabetes melito, s índ rome da
solar de 180 a 200 dias após o proced imento.
imunodeficiência adqu irida (H IV), alterações dermato lógi-
cas d iferen ciadas (psoriase, vitiligo, doenças do colágeno) e
RESULTADOS problemas psiqu iátricos relevantes.

Quanto mais superficial a dermoabrasão, mais rápida


a restauração e menor a ch ance de cicatrizes hipertróficas Técnica
ou discrõmicas; por outro lado, também é menor o resul- A técn ica aplicada é a mesma da dermoabrasão clãssi·
tado estético. ca, com as segu intes d iferenças:
Nas pri meiras 24 horas, observa-se inte nsa prolifera- • Movimentos de va ivém suaves e seguros, sem provocar
ção epi telia l proven iente dos anexos da pele. Nas primeiras sa ngramemo. Em geral, não é necessária anestesia loca l
< 212 PARTE XII • Peelings Físicos

infiltrativa. Util iza-se anestésico tópico o u nitrogênio li- permite retorno imed iato à vida social e profissional. Tem
q uido em spray. grande importância nas dermatoses inestéticas.
• No pós-opera tó rio imed iato, utilizam-se cremes ca lman-
tes à base de camomila, hamamélis e azuleno. Referências
• Após 24 horas, há formação de crosta fina, q ue vai sen- Alt TH. Dermabrasion. Facial Plastic Surg Clin North Am 1994;
do substitu ída por novo epitélio. 2(1 ):43-6Z
• O eritema leve desaparece em 2 a 3 sema nas. Brody HJ. Peeling químico e resurfacing . Rio de Janeiro: Reichmann
• A util ização de filtro solar é obrigatória durante o pro- & Affonso, 2000.
Colemann WP. Dermabrasion and hypertrophic scars. lnt J Dermat ol
cesso de recuperação. 1991; 30:629-31 .
Dzubow LD. Cosmetic dermatology surgery. In: Dermabrasion. Phil-
O procedimento pode ser repetido de trêS a cinco ve- adelphia: Lippincon-Raven, 1998:75-1 45.
zes na mesma área com intervalos de 6 a 8 semanas. Mandy SH. Tretinoin in the preoperative and postoperative manage-
ment of dermabrasion. J Am Acad Dermatol1986; 15:878-9.
Trata-se de um procedimento que exige acompa nha- Mariz S, Silva M, Pitanguy I. Cuidados pré, pós-operatórios na der-
mento dermato lógico e fowdocumentação . moabrasão da face, prevenção das complicações. Rev Bras Cir
1988; 78(3): 197-204.
Orentreich N, Durr N. Dermabrasion. Aesthetic Plastic Sugery 1996;
44:919-31 .
Complicações Perkins WS, Skalarew CE. Prevention of facial herpetic infections ai-
As complicações da dermoabrasão superficial são ra- t er chemical peel and dermabrasion: new treatment strategies
ras, sendo as mais comu ns o eritema pro longado e a hipo- in the prophylaxis of patient s undergoing procedures of perioral
area. Plast Reconstr Surg 1996; 3:427-35.
crom ia resid ual de resolução espontâ nea. Pinsk JB. Dressings for dermabrasion: new aspects. J Dermat ol
Surg Oncol 1987; 13:673-Z
Rubenstein R et ai. Atypical keloids after dermabrasion of patients

-
CONSIDERAÇOES FINAIS
t aking isotretinoin. J Am Acad Dermatol 1986; 15:280.
Ruiz AO. Microdermoabrasão. In: Maio M. Tratado de medicina esté·
tica. Vol. 11. São Paulo: Roca, 2004.
Souto LA. Dermoabrasão. In: Ramos-e-Silva M, Castro MCR. Funda-
A dermoabrasão é um proced imento esfoliante clássi· mentos de dermatologia. São Paulo: Atheneu, 2010.
co que tem critérios e indicações precisos. Bem to lerado, Yaraborough J . Dermabrasive surgery. Clin Dermatol 1987; 5:75-80.
Criopeeling
Sandra Lyon

O criopeeling constitu i um peeling criocirúrgico em que


se utiliza o n itrogên io líquido aplicado di retamente sobre
a pele, promovendo esfoliação, acelerando a troca epidér·
mica e a elimi nação de lesões superficiais, estimulando sua
renovação e tornando-a macia e com viço.'

'
HISTO RICO
Karp, N iema n & Lerner, em 1939, utiliza ram a neve
carbôn ica (C01, acetona e enxofre) na face para esfolia-
ção superficial da epiderme no tratamento da acneJ Em
1970, G raham utilizo u o nitrogênio líqu ido em spray para
tratamento de cicatriz de acne, fazendo um peeling tOtal. 1
Em 1992 e 2000, Grah am publicou trabalhos sobre a uti·
lização de criopeeling no tratamento de queratoses actí nicas
mú ltiplas, melanoses solares e o utras lesões actínicas.4
Figura 40.1 Criógeno e ponteiras para criopeeling.

EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS
Entre os acessórios são necessárias pontas para o spray
Os equ ipamentos necessários para a realização do crio- abertas com orifícios de diferentes d iâmetros (Figura 40.1).'·;
peeling são: um criógeno, um galão (contêiner), um apare-
lho portátil de criocirurgia e os acessórios.
O criógen o utilizado é o n itrogên io líqu ido (NL) a PROCEDIMENTO
- 195,8oC, q ue é não tóxico e não inflamável e apresenta Proced imento ambulatOrial utilizado para tratamento
eficácia comprovada no tratamento de lesões cutâ neas. de a lterações cutâneas p rovocadas pela expos ição solar e
O galão ou contêiner utilizado para armazen ar e trans- pelo envelhecimento intrínseco, o criopeeling está ind icado
portar o N L é um recipiente de aço inoxidável ou alumín io para fototipos I, 11 e Il1 com queraroses actinicas, rugas fi-
de paredes d uplas, separadas por um espaço com vácuo e nas ou elasrose solar na face, dorso das mãos e antebraços.
com uma válvu la para alívio da pressão. A pele deve ser limpa com produtos degermantes e
O aparedho de criociru rgia é desenvolvido a partir do aplicado anestésico tópico.
modelo de uma garrafa térmica com capacidade de 250 a A área da pele a ser tratada é marcada com mL! Itiplos
l.OOOmL. retângulos de 3 x 4 em o u 3 x Sem.

213
< 214 PARTE XII • Peelings Físicos

Aplica-se o nitrogênio líquido por área, util izando-se a ser rompidas. Podem ser adm inistrados antibióticos por
técnica de spray em o ndas. via sistêmica. 8•9
O criógeno é liberado em jatos através de po nteiras de A foroproteção é uma recomendação ind ispensável.
diâmetros variados.'·s·6

CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONTRAINDICAÇÕES
Constituem contraindicações ao criopeeling: sensibili- O criopeeling é uma alterna tiva no tratamento de le-
dade ao frio, como crioglobulinemia, criofibrinogenemia, sões cutâneas decorrentes do envelhecimento intrínseco
urticária ao frio e fenômeno de Raynaud, diabetes, fototi· e extrínseco. Trata-se de um procedimento relativamente
pos altos e distú rbios de coagulação. simples, seguro e que pode ser utilizado na gravidez e nos
portadores de marca-passo. Não necessita de a nestesia e
pouco restringe as atividades do paciente.
COMPLICAÇÕES
As complicações e as reações adversas do criopeeling Referências
são: dor, cefaleia, edema, formação de vesicobolhas, reação 1. lshida CE . Criocirurgia. ln: Ramos-e-SilvaM, Castro MCR . Funda-
sistêmica febril nas pri meiras 24 horas, hiperpigmentação mentos de dermatologia. Vol. 2. Rio de Janeiro: Atheneu, 2010.
2. Karp F, Nieman H, Lerner C. Cryotherapy for acne and its scars.
trans itória e hipopigmentação, qua ndo ocorre congela-
Arch Dermatol Syphilol 1939; 39:995-8.
mento profundo. 6•7 3. Graham GF. Cryosurgery for acne. In: Epstein E, Epistein Jr E.
Skin surgery. 5. ed. Springfield: Charles C. Thomas, 1982:59-76.
4. Chiarello SE. Full-face cryo-(liquid nitrogen) peel. J Oermat ol
CUIDADOS APÓS OPROCEDIMENTO Surg Oncol 1992; 18:329-32.
A reação do tecido depende da profundidade do con- 5. Chiarello SE. Cryopeeling (extensiva cryosurgery) for treatment
of actinic keratoses an update and comparison. Oermatol Surg
gelamento. Algumas reações são esperadas e consideradas
2000; 26:728-32.
normais após o congelamento, como eritema, edema local 6. Kuflik EG . Cryosurgery updated. J Am Acad Dermatol 1994;
de imediato, edema regional após algumas horas, com d u- 31(6):925-44.
ração de dias o u semanas, formação de vesículas, bolhas e Z Dawber R, Colver G, Jackson A. Cutaneous cryosurgery: princi-
exsudação e formação de crostas. pies and clinicai practice. London: Martin Dunitz, 1992. 167p.
8. Torre O, Lubritz R, Kuflik E. Practical cutaneous cryosurgery.
Os cuidados no pós-procedimento consistem em hi- Connecticut: Appleton & Lange, 1988. 127p.
gienização local, e o edema pode ser minim izado com in- 9. Graham GF. Barham KL. Cryosurgery. Curr Probl Oermat ol 2003;
jeção in tramuscular de corticoide. A~ bolhas não devem 15(6):225-50.
laserabrasão
Rozana Castorina da Silva

A interação do laser (light amplification by stimulated No laser de C0 2 fracionado, os raios laser são fortemen-
emission of rad.iation) com os tecidos poss ibilitou o desen- te absorvidos pela água tecidua l, pois a penetração depen-
volvimento de mui tas técnicas para o tratamento das inú- de da água e independe da melanina ou da hemoglob ina.;
meras desordens cutâneas. A laserabrasão co nstitui um
procedimento de abrasão realizado atravéS do laser de col IN DI CAÇOES
-
fracionado. O método baseia-se no principio da fototermó-
o Fotoenvelhecimento cutâneo.
lise seletiva.'
o Lesões pigmentadas.
o Queraroses actínicas.
o C icatrizes de acne.
MECANISMO DE AÇAO
- o Quera toses seborreicas.
o H iperplasia sebácea.
A fototermólise seletiva pode associar temperaturas
elevadas em estrutu ras especificas, com risco mínimo de
cicatrização exacerbada, po is o calor dérmico é minimi- EFEITOS ADVERSOS
zado. o Edema pós-operatório.
A e nergia se fixa apenas nos locais de absorção. Os o Eritema trans itório.
compri mentos de onda que penetram a pele são prefe- o H iperpigmentação.
rencialmente absorvidos pelas estruturas cromóforas, o Prurido.
como vasos sa nguíneos, ou estruturas celulares contendo o C icatrizes hipertróficas.
mela nina.1·l A água é o alvo principal do laser de C0 2,
q ue atua em um comprimento de onda de J0.600nm,
na porção in fravermelha do espectro e letromagnético. O PROCEDIMENTO
raio do laser de col incide sobre a epiderme, e as célu- A pele deve ser rigorosamente li mpa e seca. Não de-
las do tecido atingido são vaporizadas com a elevação de vem ser deixados resquícios de a nestésicos tópicos que pos-
temperatura. sam interferir na penetração e atuação dos raios laser na
Assim que o ca lor é criado, ele é d issipado por condu- pele. Antes do início da sessão, os parâmetros devem estar
ção e transferência rad ioativa, de modo q ue se cria uma defi nidos e podem ser alterados de aco rdo com a sensação
competição entre o aquecimento ativo e o resfriamento de dor do paciente. Cada equ ipamento contém parâme-
passivo. Quando a exposição ao calor é menor ou igua l ao tros próprios.
tempo necessário ao resfriamento, ocorre a fototermólise Antes de iniciada a sessão, o protetor intraocular deve
seletiva. No caso de laser fracionado, ocorre a fototermólise ser colocado. Após a sessão, permanece a sensação de ca-
fracionada.4 lor, que dura horas. Util izam-se compressas geladas.

215
< 216 PARTE XII • Peelings Físicos

-
CONSIDERAÇOES FINAIS
Referências
1. Dover JS, Arndt KA. Geroneumus RG, Arndt K, Atora MBT. lntro-
duction to lasers. In: lllustrated cutaneous and aesthetic laser
A laserabrasão utilizando o laser de C01 fraciona- surgery. 2. ed. Connecticut: McGraw-Hill, 1999.
do constitui um proced imento seguro com resul tados 2. Barlow RJ, Hiruza GJ. Lasers e interações da luz nos t ecidos. In:
satisfatórios, sem danos à pele e, consequemememe, Laser e luz. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
sem seus riscos, complicações e com melhora de rugas 3. Boechat A. Laser: princfpios, efeit os e aplicações. In: Laser em
dermatologia. São Paulo: Roca, 2002.
e cica trizes. 4. Borelli SS, Crocco El. Introdução ao laser. In: Ramos-e-Silva M,
Castro MCR. Fundamentos em dermatologia. Vol. 2. São Paulo:
Atheneu, 2010.
5. Fitzpatrick RE, Goldman MP. Carbon dioxide resurfacing of the
face. In: Cosmetic laser surgery. St. Louis: Mosby, 2000.
Eletroabrasão
Rozana Cast orina da Silva

A cirurgia de alta frequência (CAF), o u loop excision Sua principal fu nção é o tratamento subablativo para
electric plasma (LEEP), co nstitui modalidade cirúrgica em renovação e rejuvenescimento da pele.
que se utiliza o nda de rád io de 4.000 hertz ou 4MHZ. Não Há a distribuição randõm ica de energia, promovendo
é util izada energia elétrica como nas eletroci rurgias con- tempo de relaxamento térmico da pele, que mantém os te-
vencionais q ue carbon izam os tecidos. Na eletrociru rgia cidos adjacentes aos micropontos de desnaturação prote ica
convencional (bisturi elétrico) utilizam-se 500 mil ciclos completamente íntegros e sad ios pa ra a formação de um
por segundo (500KHZ). O eq uipamento de CAF prod uz colágeno novo.
gra nde energia de ondas de rádio e, ao tocar a pele, essa Promove a regeneração da derme papilar e reticular
energia é transferida para a célu la, promovendo imensa med iante a estimulação de fibroblasros com conseq uente
movimentação de elétrons e elevando a temperatura da simese de colágeno e fibras, bem como regeneração epidér-
célu la até próximo de !OO•c. Essa temperatura leva à eva- mica por migração de queratinócitos.
poração da água da célula, causa ndo sua vaporização.
A vaporização ocorre porque a frequência de correntes
IN DI CAÇOES
-
de elétrons atinge 3.800 ciclos por segundo ou 3,8MHZ,
levando a intensos movimentos dos elétrons dentro e fora o Flacidez.
das células, o que provoca a geração de ca lor tão grande o Rítides.
que eleva a temperatura acima de JOo•c em poucos segun- o Cicatriz de acne.
dos. Essa temperatura tão alta gera forças de tensão intra- o Estrias.
celu lar por aumento de volu me da água em ebulição, o que o O lhei ras.
esto ura a célu la. É o fen ômeno da vaporização, também
observado com o laser de CO r
VANTAGENS
Forma apenas crostículas, q ue se soltam entre 5 e 7
EQUIPAMENTO dias, e o tempo de recuperação é rápido.
O equ ipamento utilizado é o Wavetronic~. acoplado
ao Megapulse HF Fraxx~. um acessório de uso exclusivo do
Wavetron ic 5000"' digital, o q ual proporciona a aplicação
-
CONSIDERAÇOES FINAIS
de energia de alta frequência de maneira fracionada atra-
véS de um eletrodo de mültiplas micropo ntas. Além d isso, A radiofreq uência fracionada é um procedimento
proporciona a aplicação de e nergia de alta frequência de subablativo que utiliza o princípio da ci rurgia de alta fre-
modo pulsado ou contín uo nos tecidos humanos, através quência com resultados estéticos satisfatórios e próximos
de eletrodos específicos. aos resultados do laser de cor

217
< 218 PARTE XII • Peelings Físicos

Referências
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matol 1987; 16:862-7.
Bridenstine JB. Use oi ultra-high frequency electrosurgery for cos-
metic surgical procedures. Dermatol Surg 1998; 24:397-400.
Hirata SH, lshioka P. Eletrocirurgia. In: Belda Jr W. Di Chiacchio N,
Criado PR. Tratado de dermatologia. São Paulo: Atheneu, 2010.
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surgery in patients with implantable cardioverter-defibrillators
and pacemakers. Dermatol Surg 1998; 24:233-40.
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tery. In: Robinson J K, Hanke CW, Sengelmann RD et ai. Surgery
oi the skin. Madrid: Elsevier Mosby, 2005:177-90.
Figura 4 1.1 Radiofrequência fracionada- Fraxx.
PARTE XIII

INTRADERMOTERAPIA
lntradermoterapia
Sandra Lyon
Gláuc ia Maria Duarte

A intradennoterapia cons iste em uma técnica de ad- As agu lhas utilizadas na intradermoterapia, idealizadas
ministração de fármacos por via intradérmica, em doses por Lebel, são de aço fi no, med indo 4 mm de comprimen-
mu ito baixas, com a finalidade de obter um efeitO farma- tO, com diâmetro de 4mm (27G). Apresentam bisei corta-
cológico e um efeito estimulante físico (pu mura), os q ua is do, o q ue facilita a introdução na pele.
são úteis no tratamen to de várias patOlogias.

' TÉCNICA DE APLICAÇÃO


HISTO RICO
Util iza-se injeção intradérmica superficial de, no má-
Há relatos de que Hipõcrates (400 a.C.) utilizou espin ho
xi mo, 2mm de profundidade, com ma ior número possível
de cacto para tratamento da dor no ombro de um pastOr.
de pu muras e menor dose possível por loca l da injeção.
A acupu ntu ra já era conh ecida dos ch ineses 2.000
anos atrás.
Em 1910, na Bélgica, Lema ire tra to u a neuralgia do EFEITOS ADVERSOS
trigêmeo com injeções de procaína. Em 1934, Lerich e uti· Os efeitos adversos da intradermoterapia são: dor, eri-
lizou injeções intradérmicas para tratamento de lesões do tema, prurido, hematomas e necrose cutânea.
sistema osteoarticular.
Em 195 2, Michel Pistor tra to u crise asmática com in-
jeções intradérmicas de procaína e Lebel desenvolveu uma FÁRMACOS UTILIZADOS NA
agu lha de 3mm de compri mento. INTRADERMOTERAPIA

Em 1958, Pistor propôs o uso do termo intradermote- Acido alfalipoico
rapia para descrever essa técnica. Em 1961, publicou o seu
O ácido alfa lipoico exerce ação antioxidante e também
pri meiro livro e, em 1964, criou a Sociedade Francesa de
age como cofaror de algu mas e nzimas relacio nadas com a
Mesoterapia. Somente em 1993 foi fundada a Sociedade
elim inação do colágeno dan ificado, melhorando a flexib i-
Brasilei ra de Mesoterapia.
lidade da pele.
'
Está ind icado na prevenção do envel hecimento intrín-
PRINCIPIOS seco e do fotoenvelhecimento.
O princípio da intradermoterapia baseia-se na interfa- Na intradennoterapia, tem ação anti-inflamatória e
ce meso de Kaplan, a qua l representa a superfície de conta- anrioxidanre e previ ne o eritema associado à exposição de
tO entre o lei to a ser tratado e a técn ica e os fármacos em- rad iação u ltravioleta.
pregados. Nesse contexto, quanto ma ior a quantidade de Apresentação:
puntu ras e menor o volu me injetado em cada local, ma io r o Ácido alfalipólico a 2,5%.

será a área de tratamento. o Solução injetável qsp 2mL

221
PARTE XIII • lntradermoterapia


Acido desoxirribonucleico Tem ação li porredutora d iscreta e é usada pa ra drena·
O ácido desoxirribonucleico (ADN) é responsável pela gem de líquido extracel ular.
duplicação celu lar e a transmissão de material genético. Apresentação:
o Alcachofra a 40mg.
Comanda a síntese de proteínas. Exerce tripla ação: cicatri·
o Solução injetável qsp 2m L.
zante, hidratante e antioxida nte.
Está indicado em caso de rejuvenescimento facial, ru·
gas finas, flacidez corporal e facial e lipodistrofias. Aminofilina
Apresentação:
A aminofilina é um complexo constituído pela com·
o Ácido desoxi rribon ucleico a 2,4%.

o Ácido hialurõnico a 1,5%.


binação de teofil ina e etilenodiam ina. O pH da solução
é de 8,6.
o Solução injetável qsp: 2mL.
Tem ação liporredutora (Figura 43 .1).
• Está contraindicada em pacientes com diagnóstico de
Acido glicólico taqu icard ia, card iopatia.~ e doenças rena is e hepática.~ .
O ácido glicólico é um alfa-hidroxiácido de origem ve- Apresentação:
getal com poder de regu lar a queratogênese e limitar a hi· o Aminofil ina a 2%.

percoesão corneocitária. Tem ação hid ratante sobre a pele, o Solução injetável qsp 2m L.

com melhoria do tõnus muscu lar.


Em intradermoterapia, estimula a neocolagênese e in·
Benzopirona
crementa a síntese de glicosam inoglicanos.
Apresentação: Pertencente à fam ília das cumarinas, a benzopirona
o Ácido glicólico a I%.
tem ação anticoagu lante específica sobre os fatores 11,
o Solução injetável qsp 2mL.
VII, IX e X. Exe rce ação de ativação sobre os macrófagos
no loca l da inflamação e aumenta a secreção de e nzimas
• proteolíticas, facilitando a reabsorção de p rote ínas em
Acido hialurônico
pequenos fragmentos pelos vasos sa nguíneos. Reduz a
O ácido hial urõn ico é um glicosaminoglicano o u mu· inflamação crô nica, o volume de edemas prote icos e a
copolissacarídeo não sulfatado constitu inte da matriz ex- permeab ilid ade capilar. Tem ação varredora de radicais
tracelu lar que e nvolve as fibras colágenas, fazendo parte da livres e aumenta a res istência da parede vascular e o fluxo
substâ ncia amorfa ou do cimento intercelu lar que preen· sa nguíneo.
ch e o espaço da maioria dos tecidos. Em intradermoterapia, é utilizada para tratamento de
Está ind icado para o tratamento de estrias, flacidez celulite, edema e O!ceras de membros inferiores.
corporal e facial, rejuvenescimento e rugas. Apresentação:
Apresentação: o I ,2-Benzopi ro na, O,Sml./mL.
o Ácido hialurõnico a 0,6%.
o Solução injetável qsp 2mL.
o Solução injetável qsp 2mL.


Acido mandélico
Atua na inibição da síntese de melanina e aumenta o
turnover celular, renovando a derme mediante a sí ntese de
colágeno.
Em intradermoterapia, é utilizado em caso de flacidez
cutânea e hiperpigmentação.
Apresentação:
o Ácido mandélico a 0,01%.

o Veícu lo injetável estéril qsp 2mL.

Alcachofra
O extrato de alcachofra (Cynara scolymus) tem ação co-
lorética e de estimulação hepática e diurética. Somam-se os Figura 43 . 1 Aplicação de intradermoterapia em caso de gor-
efeitOs sobre o metabolismo do colesterol e sua ação sobre dura localizada (culote). (Fonte: acervo da Ora. Gláucia Maria
o metabolismo lipídico. Duarte.)
Capítulo 43 • lntradermoterapia

17-betaestradiol Crisina
Os estrógenos são importantes no desenvolvimento e Perte ncente à fam ília dos flavo no ides, a cris ina é en-
na manutenção do s istema urogen ital femin ino e dos ca- contrada na Passiflora incarnara L. Este pri ncípio ativo
racteres sexua is secundários. é respo nsável pelo efeitO ansiolítico da pass iflora, e seu
O 17-betaestradiol é utilizado para aumento da hidra- mecan ismo de ação ocorre por afinidade com os recep-
tação dérmica, do brilho da pele e da reestruturação das fi- tores GABAA, exercendo, assim, efe ito s imilar ao do d ia-
bras colágenas, com consequente melhoria na elasticidade zepam.
cutânea e na seborregulação cutânea, além do estimulo da Na intradermoterapia, está ind icada para o tratamento
proliferação de fibroblasto. de lipodistrofia gino ide associada ou não à flacidez.
Apresentação: Apresentação:
• 17 -betaestrad ioi a O, l %. • Crisina, SO~tg/mL.
• Solução estéril qsp 2m L. • Solução injetável qsp 2mL.

Biotina Desoxicolato de sódio


A biotina (vi tam ina H o u 8 8 ) é uma vitamina h idrosso- O desoxicolaro de sódio é um sal de bile q ue forma
lúvel do complexo B envolvida na gliconeogênese, na sín- compostos de inclusão multimoleculares com uma varie-
tese e oxidação de ácidos graxos, na degradação de alguns dade de substâncias orgânicas.
aminoácidos e na síntese de pro te ínas. Em intradermoterapia, é util izado para redução de
Está ind icada no tratamento de alopecias, dermatite gordura localizada.
seborreica e acne. Apresentação:
Apresentação: • Desoxicolato de sód io de 2,44% a 6%.
• Biotina, lOmg/2mL. • Solução injetável qsp 2m L.
• Solução injetável qsp 2mL.
Dimetilaminoetanol
Buflomedil Encontrado em peixes, como salmão e anchova, o d i-
O buflomedil é um vasoativo que age em n ível micro- metilam inoetanol (DMAE) apresenta ação de concentra-
circulatório, mediante a abertura dos esfíncteres pré-capila- ção muscu lar pela atuação da acetilcol ina, neurotransm is·
res, aumentando o fluxo sa ngu íneo periférico. sor que faz ponte entre o nervo e o músculo.
Em intradermoterapia, é util izado nas lipodistrofias, Está indicado em caso de flacidez muscular.
na drenagem linfática e em alopecias. Apresentação:
Apresentação: • DMAEa 7%.
• Buflomed il, lOmg/mL. • Solução estéril qsp 2m L.
• Solução injetável qsp 2mL.
0-pantenol
Cafeína O 0-pantenol o u vitamina B; faz pa rte do metabolis-
mo de lipíd ios, açúcares e proteínas. Dá o rigem ao ácido
A cafeína pertence à fam ília das xantinas, como a teo-
pantotênico, grupo postético da coenzima A, q ue é essen-
filina e a teobromina, e é e ncontrada em mu itas espécies
cial no ciclo de Krebs. Está associado à s íntese de acetilco-
vegeta is, como, por exemplo, no café, no guaraná, no chá e
lina, do cortisol e ou tros esteroides.
no cacau. Exerce seus efeiros farmacológicos, principalmen-
O 0 -pantenol está indicado no tratamento de alope-
te, por meio do antagonismo dos receptores de adenosina.
cias do couro cabeludo não associadas a níveis elevados de
Aplicada intradermicamente, exerce sua ação periféri·
d iid rostestostero na (padrão masculino).
ca lipolítica por inibição da fosfod iesterase do AMP cíclico.
Apresentação:
Está contra indicada em pacientes h ipertensos, na pre-
• 0 -pantenol, 40mg/ l mL.
sença de problemas cardíacos graves, disfunção hepática,
• Solução injetável qsp 2m L.
úlcera peptídica e insôn ia.
As reações adversas incluem náuseas, taqu icard ia, agi-
tação, vôm ito e insônia. Finasterida
Apresentação: A finasterida é um in ibidor competitivo e específo da
• Cafeína, SOmg/mL. 5-u-redutase. A inibição dessa enzima impede a co nversão
• Solução injetável qsp 2mL. periférica da testostero na ao andrógeno Su.diid rostero na
< 224 PARTE XIII • lntradermoterapia

(DHn , resultando em dim inu ição significativa das con- Está ind icado para o tratamento de estrias, flacidez e
centrações de DHT. rugas.
Está ind icada em caso de alopecia and rogenética e é Apresentação:
contra indicada em mulheres em idade fért il. • G licosam inoglica no a 17 ,2%.
Apresentação: • Solução injetável qsp 2m L.
• Finasterida a 0,05%.
• Solução injetável qsp 2mL. loimbina
A ioimbina é um alcaloide extraído da casca de uma
Fosfato de cálcio planta africana, a Corynanthe yohimbehe.
O fosfato de cálcio tem poder eutrófico, com diferen- lnibidor alfa, com maior afi nidade pelos recepto res
ciação dos fibroblasws em fibras de colágeno e elastina. alfa-2, a io imbina inibe os adrenorrecepwres pré-sinápticos
Está ind icado para o tratamento de estrias. alfa-2, levando a aumento da liberação da norad renalina.
Apresentação: Apresenta ação liporreduwra devido ao aumento de
• Fosfato de cálcio a 20%. norad renalina na fenda sináptica, resu ltando em aumento
• Suspensão estéril qsp lmL. de lipólise por meca nismo agonista beta-adrenérgico.
Está indicado para o tratamento de gordura loca lizada
Ginkgo biloba e da lipodistrofia ginoide.
Apresentação:
O extrato de ginkgo biloba contém alta concentração
• loimbina a 0,5%.
de flavo noides como quercitina, ru tina, ginkgetina, bilobi-
• Solução injetável qsp 2m L.
tina e substâ ncias tri terpên icas como ginkgolides, diterpe-
nos e sesquiterpenos.
L-carnitina
Exerce ação antirradica is livres, antioxidantes. Previ ne
o envelhecimento cutâ neo e promove aumento na irrigação A L<:arnitina é um componente essencial para a tra nsfe-
dos tecidos, agi ndo sobre a circulação nos capilares e veias. rência de ácidos graxos atravéS da membrana mitocond rial,
Está indicado para o tratamento de lipodistrofias e processo que antecede a oxidação enzimática dos lipíd ios.
flacidez corporal e prevenção do envelhecimento cutâneo. Essa propriedade torna possível a transferência de lipídios
Apresentação: para o interior da mitocônd ria para obtenção de energia.
• Extrato de ginkgo biloba, 5mg/mL. Está ind icada para o tratamento de lipod istrofia.
• Solução estéril injetável qsp 2m L. Apresentação:
• L-carn itina, 300mg/mL.
• Solução injetável qsp 2m L.
Gluconato de cobre
O íon cobre desempenha no organismo um importan- L-glutamina
te papel como cofator para as enzimas superóxido desm u-
A glutamina é um am inoácido não essencial que atua
tase (SOD), citocromo oxidase, dopamina-beta-h id roxilase,
na glicogênese.
lisiloxidase e tiros i nase.
Induz a síntese de colágeno e a expressão do procolá-
Normaliza a tonalidade da pele, sendo um cofator
geno tipo I.
da tirosinase, primei ra en zima da cadeia metabólica q ue
Está ind icado para o tratamento de estrias, flacidez e
transforma a tirosina em melan ina. Melhora a estrutura da
envelhecimento cutâ neo.
pele, e também é cofawr da lisil oxidase, responsável pelo
Apresentação:
crosslinking do colágeno.
• L-glutamina, 120mg/2mL.
Está indicado para o tratamento de estrias brancas.
• Solução injetável qsp 2m L.
Apresentação:
• Gluconato de cobre a 0,28% (cobre metal a 0,725mg/
lidocaína
2m L).
• Solução injetável qsp 2mL. Anestésico local util izado em intradermoterapia em
virtude do eficiente poder a nestésico.
Entre seus efeitos adversos estão: tremores, distOrção
Glicosaminoglicano visual, confusão, agitação, depressão respi ratória, coma,
O glicosaminoglicano (GAG) é uma mistura de muco- h ipotensão e bradiarri tmias.
polissacarídeos semelhante aos encontrados na derme, res- A~ comra indicações incluem relatOs de hipersens ibili-
ponsável por sustentar, melhorar e ligar as fibras de colágeno. dade a anestéS icos e síndrome de Swkes-Adams.
Capítulo 43 • lntradermoterapia

l nterage com outros fármacos, como cimetidina, pro- Melilotus + rutina


pranolol, procainam ida e bloqueadores neuromuscu lares. A combinação melilotus + rutina soma as ações desses
Apresentação: dois ativos, sendo a cumarina a substâ ncia ativa do extratO
• Cloridrato de lidocaina a I% o u 2%. de melilotus e a r utina um flavonoide inibidor das enzimas
• Solução injetável qsp 2 ou lOm L. ciclo-xigenase e lipo-oxigenase.
Está ind icada para o tratamento de celulite, em caso
Luteolina de deficiência microcirculatória com aumento de permea-
A luteolina pertence à classe dos flavonoides, encontra- bilidade capilar, edema, extravasamento proteico e fluxo
dos em fr utas e em outros vegeta is. Exerce as segu intes ações: sanguí neo capilar lento.
• Ação lipolitica pela inib ição da fosfod iesterase, respon- Apresentação:
sável por cata lisar a conversão de AMP (adenosina mo- • Ruti na a 2,5%.
nofosfato) cíclico para AM P. Assim, com o aumento do • ExtratO de meliloms a 10%.
AM P cíclico nos tecidos, há estimulação da lipólise. • Solução injetável qsp: 2m L.
• Ação anti-inflamatória pelos segu intes mecanismos:
• Modu lação da enzima ciclo-oxigenase (via do ácido ara-
qu idôn ico). Mesoglicano
• Modu lação de células envolvidas na inflamação (l infóci· O mesoglicano é uma mistura de mucopolissacarídeos
tos e neutrófilos). com ind icação para patOlogias vasculares com risco trom-
• l nib ição da produção de cicocinas pro inflamatórias bótico em razão de seus efeitOs antiaterógeno, anti trombó·
(TNF-alfa e TL-1 ). tico e fibri nolitico.
• Modu lação da enzima formadora de óxido nítrico. Está ind icado para o tratamento de celu lite graus IIl
A luteolina está indicada para o tratamento da celulite e IV.
e da gorei ura localizada. Apresentação:
Apresentação: • Mesoglicano, 30mg/mL.
• Luteolina a 0,25%. • Solução injetável qsp 2m L.
• Sol ução estéril qsp 2m L.
Minoxidil
Madecassol
Por sua ação vasodilatadora, o minoxid il estimu la o
O madecassol exerce as segui ntes ações: p roli feração de crescimento dos querati nócitos e dos pelos e cabelos em
fibroblascos, aumento da síntese de colágeno e glicosamino- portadores de alopecia.
glica nos, aumento da velocidade e qua lidade da fom1ação, Está indicado para o tratamento da alopecia and roge-
da maturação e das interligações das fibras de colágeno. nética em homens e mul heres (Figura 43.3).
Está indicado para o tratamento de estrias e flacidez Apresentação:
(Figu ra 43.2). • Minoxid il a 0,5%.
Apresentação: • Solução injetável qsp 2m L.
• Madecassol, 5mg/mL.
• Veículo injetável qsp 2m L.

Figura 43 .2 Aplicação de intradermoterapia em estrias. (Fonte: Figura 43.3 Aplicação de intradermoterapia no couro cabeludo.
acervo da Ora. Gláucia Maria Duarte.) (Fonte: acervo da Ora. Gláucia Maria Duarte.)
< 226 PARTE XIII • lntradermoterapia

Pentoxifilina o Ação lipolitica, atua ndo no metabolismo dos ácidos


Derivada de base xantin ica, com efeito liporredutor, graxos:
o mecanismo de ação da pentoxifilina co nsiste no aumen- o Induz o acúmu lo de AMPc pela inib ição da fosfodieste-
to do ATP em AM Pc por duas vias bioq uímicas distintas: rase, a enzima que converte AMPc em S'AMP.
ativacão da adenilciclase ou in ibicão da en zi ma fosfod ieste- o Os derivados de silícios orgân icos ind uzem a estimula-
• •
rase. A pentoxi filina é também um agente antib iótico por ção do AMPc, sem acúmu lo, provavelmente pela ativa-
in ib ir a agregação das plaquetas e facil itar a deformação ção das membra nas enzimáticas, como, por exemplo, a
dos glóbulos vermelh os, melho rando a microci rculação e a adenilatociclase.
irrigação dos tecidos. o Ação sobre a lipoproteína lipase: inibe a função da lipo-
Está ind icada para o tratamento de celulite e gordu ra prote ína lipase ao d iminu ir a formação e o armazena-
loca lizada. mento de triglicerideos nos ad ipócitos.
As reações adversas incluem náusea, taqu icardia e tOn-
teira. Está indicado para o tratamento de gordura loca lizada
Apresentação: e celulite.
o Pentoxifil ina, 20mg/mL. Apresentação:
o Solução injetável qsp 2mL. o Siloxanetriol alginatO e cafeína (SAC), Smg/mL.

o Veículo estéril qsp 2mL.

Piruvato de sódio
O pi ruvato de sód io está e nvolvido no processo de res- Sulfato de condroitina
pi ração cel ular ta nto aeróbio (ciclo de Krebs) como anaeró-
O su lfatO de cond ro itina A C, é um mucopolissaca-
bio. É responsável pelo aumento do transporte de glicose rídeo constituído por sequências repetidas e bem definidas
para os músculos.
de dissacarideos, tem a capacidade de reter grande quanti-
Está ind icado para o tratamento de flacidez muscu lar.
dade de água.
Apresentação:
Está ind icado para o tratamento de estrias, cicatrizes,
o Piruvato de sód io a I%.
flacidez e pele e nvelhecida.
o Solução injetável qsp 2mL.
Apresentação:
o SulfatO de co ndroiti na 200mg/2mL.

o Solução injetável qsp 2m L.


Procaína
A proca ína apresenta as segu intes ações:
o Anestésica local.
o Sistema card iovascular: acão antiarritmica (coracão) e Timomodulina
• •
vasodilatadora (vasos). Os peptídeos do ti mo melho ram a atividade celular da
o Muscular: fibra muscular lisa (efeitO espasmolitico). pele, promovendo a proli feração de fibroblascos e atuando
o Respiração: em pequenas doses, acelera o ritmo e ampli- como imu nomod uladores, aumentando os linfócitos T e
tude; em altas doses, causa depressão respi ratória. as células do sistema complementar.
o Hemorreológica: aumento da propriedade de deforma- Está indicada para o tratamento de estrias e flacidez
bilidade dos glóbu los vermelhos. corporal e facial.
Apresentação:
A procaina é ad icionada às mesclas de intradermote- o T imomod ulina 25mg/mL.

rapia por sua ação vasod ilatadora, melhorando a difusão o Solução injetável qsp 2m L.
dos o utros fármacos. Demonstra incompatibilidade pelas
sulfamidas.
Apresentação:
Toraxacum officinale
o Clo ridrato de procaina a 2%.

o Solução injetável qsp 2 o u lOm L.


O Toraxacum officinale, conhecido como dente-de-leão,
é util izado na lipodistrofia ginoide associada ou não à fla-
cidez.
Siloxanetriol alginato e cafeína Apresentação:
O sil ício orgâ nico associado ao alginaro e à cafeína o Toraxacum officinale (dente-de-leão), JOmg/mL.

exerce as segu intes ações: o Solução estéril qsp 2m L.


Capítulo 43 • lntradermoterapia

Trissilinol Vitamina C
O silício é um elemento ind ispensável pa ra o cresci- A vitamina C é essencial para a síntese do colágeno,
mento norma l d o tecid o conjuntivo, promovendo rege- por ser requerida na hidroxilação da proli na no colágeno.
neração d e colágeno e elastina. Catalisa as reações que Está indicada para o tratamento d e estrias, flacid ez e
ocorre m para síntese de colágeno e elastina. Exerce ação rejuvenesci mento facial e corporal.
citOprotetora contra rad ica is livres tóxicos, os inativando. Deve ser associada somente à lidocaína.
Exerce ainda ação liporredutora d iscreta com liberação de Apresentação:
glicero l. • Vitamina C, 222mg/mL.
Está indicado para o tratamento de lipodistro fias, es- • Solução injetável qsp 2mL.
trias, flacidez, rugas e sulcos faciais.
Apresentação: Mesclas
• Trissilinol 5mg/mL. São feitas mesclas confo rme o tratamento precon izado
• Solução injetável qsp 2mL. (Quadro 43.3).

Quadro 4 3 . 1 Sugestões de mesclas

Trat amento ComposlçAo ApllcaçAo

Celulite Pentoxifilina 40mg/Trissilinol 1Omg/ Uso: intradérmico


Benzopirona 10mg/Rutina Agulha 4mm
50mg/Procalna 40mg 1x semana
Veiculo qsp 10ml

Flacidez 0-pantenol 80mg/Ácido alfalipoico Uso: intradérmico


1mg/Trissilinol 1Omg/Lidocafna 40mg Agulha 4mm
Veiculo qsp 7,5ml 1x semana
OMAE 7% +Ácido hialurônico 1,5% - 2,5ml
Obs.: aspirar o frasco de 7,5ml e adicionar no de 2,5ml. homogeneizar e aplicar

Gordura localizada Lipossomas de desoxicolato de sódio 150mg/Trissilinol 1Omg/Buflomedil, 1Omg/ Uso: subcutâneo
Lidocalna 20mg 0,1 a 0,2ml por ponto
Veiculo qsp 10ml Agulha 13mm
1x semana

Gordura localizada Oesoxicolato de sódio 150mg/Cafeína 100mg/Trissilinol10mg/Buflomedil 20mg/ Uso: subcutâneo


Benzopirona 1mg/Lidocaína 40mg 0,1 a 0,2ml por ponto
Veiculo qsp10ml Agulha 13mm
1x semana

Gordura localizada Cafeína 50mg/Trissilinol 1Omg/Buflomedil 20mg/Lidocafna 10mg/Complexo B 1ml Uso: subcutâneo
(trimetilxantina) Veiculo qsp 10ml Agulha 13mm
1x semana

Gordura localizada Aminofilina 2mg/ml +Cafeína 25mg/ml + L-carnitina 60mg/ml + L-ornitina Uso: subcutâneo
30mg/ml + Lidocafna 2mg/ml Agulha 13mm
Veiculo qsp 10ml 1x semana

Redução de peso Cafeína 100mg/lnositol 100mg/L-taurina 100mg!Furosemida 10mg/Procafna 40mg Uso: intramuscular
(inibidor de apetite) Veiculo qsp 10ml Agulha 70 x 30mm
Até 2 x semana

Redução de peso Aminofilina 20mg/Cafeína 100mg/Furosemida 5mg/lnositol 1OOmg/Lidocaína 40mg Uso: lntramuscular
(ativador metabólico) Veiculo qsp 5ml Agulha 70 x 30mm
Até 2 x semana

Auxilio para ganho L-arginina 1.250mg/L-carnitina 300mg/L-ornitina 150mg/L-valina 10mg/L-Ieucina Uso: intramuscular
de massa magra 24mg/L-isoleucina 10mg/Zinco 5mg/Magnésio 500mg/Piridoxina 20mg Agulha 70 x 30mm
(BCAA) Veiculo qsp 5ml Até 2 x semana

Fórmula com L-arginina 600mg/L-carnitina 600mg/L-ornitina 600mg/L-fenilalanina 50mg/ Uso: intramuscular


aminoácidos Procafna 40mg Veiculo qsp 1Oml Agulha 70 x 30mm
2 x semana

0 1sponivel em: Victalab - www.victalab.com.br.


< 228 PARTE XIII • lntradermoterapia

-
CONSIDERAÇOES FINAIS
Ciporkin H, Paschoal LH. Atualização t erapêutica e fisiopatogênica
da lipodistrofia gonóide, 1992.
Costa A. Farmacognosia. Lisboa, Portugal: Fundação Calouste Gul-
A intradermoterapia consiste em uma técnica bastante benkian/Oficina, 1992.
Garcia 10 . Tratado de mesot erapia. Ed. P.G. 1993:9-10.
simples de administração de fármacos por via intradérmica
Hardman JG, limbird LE, Gilman AG. Goodman e Gilman: As bases
em pequenas doses, apresentando poucos efeitos adversos farmacológicas da t erapêutica. 10 . ed . Rio de Janeiro: McGraw
e com indicação para tratamento de estrias, flacidez corpo- Hill, 2003.
ral, rugas superficiais e rejuvenescimento. Informe Científico Verbenna Farmácia de Manipulação. Disponível
O efeito farmacológico e estimulante das punturas é em: www.verbenna.com.br.
Informe Científico Victalab Laboratório de Manipulação. Disponível
eficaz e satisfatório. em: www.v ict alab.com.br .
Maio M. Tratado de medicina est ética. São Paulo: Roca, 2004.
Referências Pistor M . Um Défi Thérapeutique: La mésothérapie em pratique ve-
Astrup A et ai. Pharmacology oi thermogenic drugs. Am J Clin Nutr t erinaire. 111 Congresso lnternazionale de Mesotherapia, Roma,
1992; 55(1 ):2465-85. 1982.
PARTE XIV

,
TOXINA BOTULINICA
Toxina Botulínica
Sandra Lyon

NeurotOxina produzida por uma bactéria anaeróbia traoculares de primatas, na busca de uma alternativa não
gram-pos itiva, o Closmdium borulinwn, a toxina botul ín ica é ci rürgica para o estrabismo. Somente em 1977 Scott obteve
utilizada na prática cl ínica, de maneira isolada ou associa- au to rização para realização de estudos sobre o uso da tOxi-
da a ou tras técnicas de rejuvenescimento facial, pa ra trata- na em humanos.
mento de rugas dinâm icas faciais. A técn ica resultante desse estudo foi considerada, em
1980, o primeiro relato de uso médico da tOxina 6

HISTO-RICO
Após confirmada sua eficácia e segurança, o métOdo
passou a ser ind icado para outras cond ições, como d isto-
Desde o Império romano, a toxina botul ínica é con he- nias e espasmos facia is. Em 1992, Carruthers & Carruthers
cida como o ven eno ma is leta l. publicaram os primeiros resultados sob re o tratamento de
Em 1817, Justin us Kerner, de W iirttemberg, descreveu rugas glabelares 7 A partir dai, a tOxi na botu lin ica tem sido
o botulismo e seu quad ro clín ico. A doença foi assim deno- utilizada largamente, isolada o u associada a outras técn icas
minada por estar associada à ingestão de salsicha (do latim, de rejuvenescimento facial. 8
botulus = lingu iça o u salsicha).' No entanto, somente em
1897, após um surtO do botu lismo em uma cidade belga,
Em ile Pierre Van Ermengen isolou o bacilo anaeróbio em FARMACOLOGIA
um presunto contaminado, o qua l denom inou Bacillus bo- A toxina botul ín ica apresenta oito sorotipos sorologi-
rulinus .2 Em 19 22, esse patógeno passou a ser denominado camente d istintos, d iferenciados pelas letras A, B, C !, C2,
Closrridium borulinum. Closrridium indica a natu reza anaeró- O, E, F e G. O subtipo C 2 tem estrutura e ação d iferen-
b ia do bacilo e descreve sua morfologia (do grego klosrer, ciadas, sendo denominado toxina botulínica binária. As
que s ign inica fio torcido, e borulus vem do latim e s igni fica demais sete exntoxinas são neurotoxinas com semelh anças
lingu iça ou sals ich a). 1 fu ncionais e estruturais.
Na décad a de 1920, Hermano Sommer isolou a toxina O sorotipo A é o mais potente e mais eficaz para o blo-
botulinica tipo A (BTX-A) em sua forma bruta , não puri- queio das junções neuromusculares, sendo utilizado com
ficada .' objetivos terapêu ticos.
Em 1946, Carl Laman na consegui u isolar a forma A transmissão do impulso nervoso de uma célula ocor-
pura e cristalina da tOxina botulínica tipo A 4 re por liberação de uma substância neurotra nsmissora, a
Em 1949 , Burgen comprovou q ue o bloqueio do im- acetilcolina. A toxina botulínica bloqueia a liberação da
pulso nervoso p rovocado pelo patógeno era ca usado pela acetilcolina na ju nção neuromuscular, levando a fraque-
inib ição da liberação da acetilcolinas za ou paralisia da musculatura correspondente. A toxina
A primeira tentativa de uso terapêutico da toxina bo- não lesiona o nervo ou altera a produção de acetilcolina,
tulín ica A foi feita por Scott, em 1973, nos músculos ex- mas age na estrutura responsável pela transmissão do sinal

231
( 232 PARTE XIV • Toxina Botulinica

nervoso na junção neummu~cular, após a injeção local. A INDICAÇÕES DA TOXINA BOTULÍNICA NA


toxina horulinica reduz o tõnm, muscular de maneira eficaz DERMATOLOGIA
durame vários me.-.es, alt!m d~ rWUZir a secreção das glân-
As principais indicaçõe~ da toxina horulinica :.ão:
dula~ sudoripara,, lacrimab ~ -alh"are.~. A junção neural
• Rugas dinâmicas da f.1ce: r~gião ~riocular, ru1,•as da
pode recu~rar ~ua' funç<k' 4 me.'~ apó~ o bloqueio, do
glahela, rugas fromais, e[e,'<lção de ~ohrancelha,, região
pomo de vbta clinico. A fraqueza mu~cular inicia-se em 2 a
infraorhital, rugas na~ais, elevação da poma do nariz,
5 dia$ e o efeito máximo ocorre em 10 a 15 dia~.s
sorriso gengiva! e ruga~ periorai~.
• Hiperidrose.~ localizadas, primária~~ :.ecundária\.
SEGURANÇA E DOSE
Para fixação da do>e, a atividade biológica do sorotipo É necessá rio conhecer a anatomia da face, uma vez que
é o fator determinante. ls.~o é definido em unidades bioló- existem múscu los elevadores e outros depre:;.-.ore> dm, e.v
gica~ denom inadas motiM unit.s-um, designada apenas por truturas faciais, que as alteram de maneira sinérgica.
unidade-U. Uma U corresponde à quantidade de toxina
nece,;sá ria para matar metade da popu lação de camundon-
OUTRAS INDICAÇÕES DA TOXINA BOTULÍNICA
gos tratados com injeção intraperironea l de toxi na (DL50).
A dose letal é esti mada em 2.500 a ).OOOU para um pa- A toxina botu linica é utilizada em casos de d isto nia
ciente de 70kg, o que cor respontleria a 40U/kg. mu ltifocal, uni lateral, no tratn mento d a espasticitl atl e
do braço e da mão de diferentes orige ns, bem como tla
perna espástica não relacio nada com a para lisia cerebral
APRESENTAÇÕES COMERCIAIS espásti ca. A toxina bowlinica rem sido utilizada em con-
dições clín icas em u rologia: na hi peratividade esfincte-
Arua lmenre, no Brasil, e>tão disponíveL~ as seguintes
riana ou d issinergia derrusor-esfinct~riana e na bexiga
apresentaç<'\e.~ comerciais da toxina horu linica A:
hiperariva.
• Borox"' (Allergan Pharmaceutical~. Irvine, Califórnia,
A toxina horulínica bloqueia a hi~r>ecreção de vária~
EUA - frascos com 50 ou tOOU).
glãndulas sudoriparas (hi~riuro~). salivare' (hipersaliva-
• Dysporr" (Beaufor lp:.en Product,, Maidenhead, Bershi-
ção) e lacrimai~ (hiperlacrimação) (Quadro 44.1).
ne, Inglaterra, tli;,trihuido ~lo laboratório Galderma
do Brasil - frasco:. com 100 ~ SOOU).
• Prosign~ ou toxina d1in~:.a (Lanzohou lnstimte of CONTRAINDICAÇÕES E PRECAUÇÕES
Biological Producr:., Yanchang Road, Lanzhou, Gansu,
A toxina borulinica Jo tipo A é um agente potente e
República Popular da China, comercializado no Brasil
seguro para o rrarnmemo Je vária;, de:.ord~n~ co~méti~ e
pelo laboratório Crbtália - fra\co~ de 50 a tOOU).
terapêuticas. No emamo, alguma> precauçõe~ devem ser
• Xeomin"' (L1horarório M~rvBiolah-Alemanha - JOOU).
tomadas na gestação, no período de amamenrnção e em
• Botulift.. (Laboratório Medy-Tox - Coreia - JOOU).
caso de doenças neuromuscu lares (mia.,tomia grave e ,in-
drome de Eaton-Lamben).
Não existe equ ivalência de potência entre as diversas
H ipersensibilidade aos componenr~s do produto (al-
roxinas e não é possivd a conwrsão de un idade de uma
bum ina humana), uso de antibióticos do grupo do~ ami-
prepa ração para outra.
noglicosídeos, penicilina, qui nina, coaguloparias e, aintla,
A roxina botuli nica tipo B wm sentlo util izada nos
qualquer processo infeccioso no local da aplicação.'0
EUA pa ra tratamenm de disronia cervical, sob o nome de
Myobloc«> (Elan Pharmaceurica ls), e na Europa recebe o
nome de Neurohlocqo. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A estética f.1cial exerce papel fundamental na har-
RECONSTITUIÇÃO E ESTOCAGEM mon ia do rosto e na expressão dos sentimentos tlo se r
A reconstiruição do produto é feita com soro fisioló- humano.
gico a 0,9%. Após a recon>tituição, deve ser mantido em A dinâmica do rosro está relacionada com o equilíbrio
geladeira o menos tempo possível, pois tem pequena vida da ação muscu lar entre as dua.~ hemifaces. A aplicação da
útil, embora haja relatos de que a toxina horulinica recons- toxina botulinica para o tratamento das linhas de expressão
timida se manr~ adequada até I mê,, sob refrigeração. As tem sido cada vez mais utilizada para tornar a face de um
injeçôe~ para uso co~mético utilizam ~eringas agulhadas de indivíduo mais bonirn e harmônica quando ~ exp~sa de
0,5 ou 0,1mL com agulha, de )QG curta~. maneira dinâmica ou quando~ encontra de modo e.\tático.
Capítulo 44 • Toxina Botulínica

Quadro 44 .1 Outras indicações de tratamento com toxina botulínica 9

1 Aplicação em áreas da cabeça, exceto para Estrabismo, ptose protetora, espasmo hemifacial, bruxismo, rinit e,
dist onia e hiperidrose síndrome de lágrimas de crocodilo, sialorreia, rugas

2 Distonias focais Disfonia espasmódica, blefaroespasmo, síndrome de Meige, distonia


oromandibular, distonia faríngea e lingual. distonia cervical. cãibra nas
mãos, cãibras ocupacionais, distonia do pé, distonia axial, síndrome de
Tourene

3 Tremor Tremor dist ônico da cabeça, tremor essencial da cabeça, tremor


essencial nas mãos, tremor de palato mole

4 Espasticidade focal Crianças, adultos

5 Hiperidroses Hiperidrose focal (plantar, axilar, palmar), sudorese gustat ória

6 Doenças urológicas Dissinergia detrusor-esfinct eriana, esfínct er da bexiga espástico,


urostomia continent e, bexiga hiperativa, vaginismo

7 Doenças do trato gastrointestinal Acalasia, obesidade, disfunção do esfíncter anal, defecação obstruída

8 Dor Cefaleia t ensional, enxaqueca, dor crônica nas costas, síndrome


dolorosa miofascial (SOM)

Fonte: Jost W. Atlas ilustrado de injeção de toxma botulimca. São Paulo: GEN (Grupo Editorial Nactonal). 2011.

6. Scon AB. Botulinum toxin injection into extraocular muscles as


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Paulo: Atheneu, 2010.
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9. Jost W. Atlas ilustrado de injeção de toxina botulínica. São Paulo:
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GEN {Grupo Editorial Nacional), 2011.
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M . Tratam ento de medicina estética. São Paulo: Roca, 2004.
Pontos Básicos de Toxina Botulínica
Debora Cristina Campozan

As inj eções de toxina botul ín ica constituem uma das perpend icularmente à força de contração da musculatura
mais efetivas e comuns intervenções estéticas realizadas que a origi nou.
por méd icos para o rejuvenescimento facial'·• desde a pri- Estudo realizado com o objetivo de demonstrar a segu-
mei ra pub licação para fins cosméticos, por Carruth ers &e rança e a manutenção dos resultados a longo prazo - nesse
Carruthers, em 1990. 2 Até o momento atual, têm surgido caso 7 anos 4 - relatou q ue a qualidade da pele conti nua
novos pontOs de aplicação em amigas ind icações, além de a melhorar ao longo do tempo, revelando-se mais macia,
novas ind icações, e consolida~e como o padrão-ouro dos aprimorada e com uma aparência natura l, sugerindo re-
procedimentos méd icos/ estéticos, graças à facilidade, à modelação dérmica e epidérmica após tratamentos a longo
segurança e aos resultados satisfatórios obtidos no rejuve- p razo. Não houve evidência de rugas secundárias ao uso da
nescimento da face e na dim inu ição das rugas através da toxina e o altO nível de satisfação foi mantido.•
paralisia trans itória e reversível da musculatu ra tratada _zo.zz Conclui-se, então, que:
O objetivo do uso da toxina botu lin ica é melhorar a • A toxina botulinica deve ser indicada pa ra rugas hiperci-
q ualidade da pele, não mais busca ndo a paralisação com- néticas.
pleta da mímica, mas a atenuação das rugas com melho ra • Aplicações em intervalos regulares podem melhorar a
global da aparência, sem efeitos caricatOs. arquitetura da pele e, consequememente, d iminuir a
Recomenda-se aos iniciames que foq uem nas ind ica- profundidade final da ruga.
ções básicas no terço superior da face e q ue só partam para
o terço médio e o inferi or após adqu irirem experiência 8 Esse proced imento está contraindicado nos casos de
Entende~e por pomos básicos aqueles primariamente gravidez e lactação 8
descritos e com técn ica já consensual. Constituem pomos O segredo do sucesso está na seleção dos pacientes, em
básicos: fronta l, glabela, rugas perioculares (pés-de-gali- corrigir rugas d inâmicas apenas, em observar flacidez, as-
n ha), rugas nasais (b,.nny lines) e rugas periorais. s imetrias e lesões neurológicas e em manter cu idado redo-
brado quanto às expectativas do paciente, sempre evitando
-
CONSIDERAÇOES GERAIS
expectativas irreais.
Existem d iferenças entre as toxinas, e não há equiva-
Vale lembrar qua a toxina botul ínica está bem indi- lência de un idade entre as d iversas dispon íveis. Sabe-se que
cada em casos de rugas hipercinéticas, 4 ou seja, as linhas o Dyspon"' tem tendência de d ifusão ma ior, o que teria
dinâm icas, cujo agente causal é a contração persistente da relevância clínica nos pequenos músculos da face. Quando
musculatura.7'9 se fa la em un idades, refere~e à toxina america na Borox"'.
Portamo, deve-se ter sempre em mente a musculatu- A dose a ser usada deve va riar de acordo com a área, o
ra que causou determinada ruga, pois é nesta que se deve sexo, a massa muscular e a força de contração da muscu latu-
intervir. Em termos práticos, a ruga está sempre localizada ra.8 Em termos gerais, usam-se por pomo no terço superior

234
Capítulo 45 • Pontos Básicos de Toxina Botulínica 235

Quadro 45 .1 Recomendações consensuais quanto ao uso de toxina botulínica tipo A no terço superior da face

RegiA o Número de pontos • Dose* Dose•


(média I (média I (média)

Muscukralvo Recomendação original Recomendação original Recomendação atual

Glabela 5 a 7 pontos Mulheres: Mulheres:


(prócero, corrugadores, orbicular (homens podem precisar de 20 a 30U 10 a 30U
dos olhos) mais pontos) Homens: Homens:
30 a 40U 20 a 40U

Linhas frontais 4 a 8 pontos Mulheres: Mulheres:


(front al; considerar a integração 10 a 20U 6 a 15U
com musculatura da glabela) Homens: Homens:
20 a 30U 6 a± 15U

Pés-de-galinha 2 a 5 pontos de cada lado 12 a 30U Mulheres:


(porção lateral do orbicular dos 10 a 30U
olhos) Homens:
20 a 30U

Fonte: SitJOs de injeção e unidades calculados na formulação Botox• .

da face duas a cinco unidades por pomo no terço superior da


face e no terço inferior de duas a trêS (Quadro 45.1).

RUGAS FRONTAIS
/
A musculatu ra frontal tem a função de elevar as so-
brancelhas, e para isso acaba promovendo rugas horizon-
tais na fronte (Figuras 45 .1 e 45.2).
Não possui inserções ósseas, insere-se na gálea aponeu-
rótica e suas fibras são contínuas às do prócero, corrugador
e orbicular do olho.6
As rugas correm perpendicu lares aos feixes muscu lares
e costuma-se fazer até duas lin has de aplicação com até qua-
tro pontos em cada, variando de duas a quatro un idades
por ponto.

Figura 45.2 Músculo frontal. (Disponível em: http://www.ana-


tomiaonline.com/anatomia-materiais-de-anatomia-humana/mio-
logia/cabeca.html.)

O consenso atua l, publicado em estudo recente, mos-


tra que 100% dos méd icos dim inuíram o número de un i-
dades usadas na fronte. Em mu lheres, 57% deles usam de
6 a !O unidades totais e 43% usam de 11 a 15 unidades
totais contra as 15 unidades previamente recomendadas.
Para o sexo masculino, 73% usam de 11 a 15 unidades
contra a dose típica anterior entre 20 e 30 unidades 14 Esse
estudo ilustra a tendência atual de não congelar a mímica,
mantendo o rejuvenescimento, mas priorizando a natu ra-
Figura 45.1 Antes e depois. (Fonte: do acervo da autora.) lidade das expressões.
< 236 PARTE XIV • Toxina Botulínica

FRONTAL

••

••

Figura 45 .4 Rugas na glabela. (Fonte: acervo da autora.)

Figura 45 .3 Músculo frontal (à direita, as rugas e, à esquer-


da, os pontos indicados para a aplicação de toxina botulínica).
(Disponível em: http://www.anatomiaonline.com/anatomia-ma-
teriais-de-anatomia-humana/miologia/cabeca.html.)

A aplicação na muscu latura frontal pode ser útil para o


reposicionamento das sobrancelhas. Quando se deseja ar-
q ueá-las, deve<;e deixar a parte lateral do frontal livre para
q ue, ao co ntrair, este traga o arco para cima (Figura 45.3).
O cuidado deve ser redobrado em pacientes nos quais
não se quer al terar sobrancelha e a ind icação deve ser cri-
teriosa, pois nem sempre arq uea r as sobrancelhas sign ifica
rejuvenescer 19 ou mesmo embelezar.
Como a elevação da sobrancel ha é a principal função
do frontal, se este for excess ivamente paralisado, incorre-se
no que se ch ama de pseudopcose: o frontal excessivamente
relaxado pesa sobre a sobrancelha em bloco pa ra baixo,
simulando uma ptose palpebral bilateral.
A pcose palpebral verdadeira é outra situação em que a
Figura 45 .5 Rugas na glabela. (Fonte: acervo da autora.)
toxina paralisa a muscu latura intrínseca ocular, o q ue pode
ser causado por aplicações em grande volume no frontal,
na linha mui co próxima à sobra ncelha. Em geral, isso pode
ser evitado deixando !em acima da borda orb ital na linha inseridos na pele entre os supercílios, e pelos corrugadores,
mediopupilar,' 4 evitando q ue escorra para a região retro- originados na parte nasal do osso frontal e inseridos na
bulbar e cause ptose palpebral verdadeira. pele do supercílio (Figuras 45.6 a 45.8).6
Na glabela, portanto, as rugas podem ser horizontais,
causadas pela contração do prócero, ou verticais, em virtu-
RUGAS NA GLABELA de da contração dos corrugadores - não é raro os pacientes
Essa indicação tem tanta importância que há estudos que apresentarem as duas.
correlacionam a melhora dessa ruga ao bom humor. Um me- Deve-se proceder à aplicação em cinco pomos, sendo
canismo fisiológico para esse efeito é avaliado, segundo o qual um deles no corpo do prócero e dois de cada lado dos cor-
a paralisia do músculo corrugador conduziria a um menor r ugadores, com ma is ou menos !em entre eles.
feedback facial para emoções negativas e, por isso, estaria cor- A dose deve ser calculada com mui co critério, pois, se
relacionado à redução do mau humor (Figu ras 45.4 e 45.5).1 for colocada uma quantidade menor, o efeito estético não
A glabela é composta pelos músculos próceros, origi- será obtido, e se a quantidade for maior, pode ocorrer na
nados no dorso do nariz e na cartilagem lateral do nariz e queda da parte central da sobrancelha.
Capítulo 45 • Pontos Básicos de Toxina Botulínica 237

Figura 45.6 Musculatura


da glabela. (Disponível em:
CORRUGADORES http://www.anatom iaon-
line.com/ana tomia-mate-
riais-de-anatomia-humana/
miologia/cabeca.html .)

Figura 45.7 Rugas forma-


das pela musculatura da
CORRUGADORES glabela. (Disponível em:
http://www.anatom iaon-
line.com/ana tomia-mate-
riais-de-anatomia-humana/
miologia/cabeca.html.)

Figura 45.8 Pontos sugeri-


dos de aplicação da toxina
CORRUGADOR botulínica na glabela. Em
cada ponto podem ser apli-
cadas de três a cinco unida-
des de toxina. dependendo
da força de contração mus-
cular. (Disponível em: http://
www.anatomiaonline.com/
ana tomia-m ater ia is-de-a-
natomia·humana/miologia/
cabeca.html.)
< 238 PARTE XIV • Toxina Botulínica

RUGAS PERIORBITAIS10· 13
As rugas periorbita is, popularmente ch amadas de
péS-de-galin ha, são causadas pelo orbicular dos olhos, müs- ORBICULAR DOS OLHOS
culo que circu nda a entrada da ó rbita como um esfíncter e
se d ivide em porções o rb ital, palpebra l e lacrima L6
Essas linhas acomodam-se na lateral dos o lhos e se es-
tendem até a pálpebra inferior (Figuras 45 .9 a 45.1 1).

Figura 45 .11 Pés-de-galinha- rugas formadas pela musculatu-


ra orbicular dos olhos . (Disponível em: http://www.anatomiaon-
line.com/anatomia-materiais-de-anatomia-humana/miologia/
cabeca .html.l

Procede-5e à aplicação com três pomos latera L~. usando,


em média, trêS unidades por pomo (Figura 45.12). Em caso de
r ugas muito longas, podem ser feitas d uas fileiras de pomos.
Na contramão da face, onde o n o mero de un idades tem
d iminu ído a cada dia, curiosamente têm sido usadas mais
unidades para tratar pés-de-galinha, sobretudo em homens.'4

Figura 45.9 Rugas periorbitais. (Fonte: acervo da autora.) ORBICULAR DOS OLHOS

ORBICU LAR DOS OLHOS

Figura 45.12 Pontos de aplicação sugeridos para os pés-de-gali-


nha. (Disponível em: http://www.anatomiaonline.com/anatomia-
-materiais-de-anatomia-hu mana/miologia/cabeca.html.)

Cuidados
• G uardar d istâ ncia de segurança da borda orbital (mais
Figura 45 .10 Musculatura orbicular dos olhos. (Disponível em: ou menos I em).
http://www.anatomiaonline.com/anatomia-materiais-de-anato- • Não lateralizar excessivamente o pomo sob pena de
mia-humana/miologia/cabeca.html.) atingir a muscu latura do sorriso.
Capítulo 45 • Pontos Básicos de Toxina Botulínica 239

Além dos pontos latera is na musculatura do o rb icular, Deve-se fazer um ún ico pomo de aplicação de cada
pode-1>e aplicar um pomo na pálpebra inferio r com baixas lado (o pomo deve ser d iscretamente lateralizado), usando
doses (uma a duas un idades), produzindo um sinergismo de uma a d uas un idades de tOxina (Figura 45.15).
de resposta e a abertura dos olhos.'8

RUGAS NASAIS OU BUNNY LINES


Respo nsável pela abertura e fechamento das narinas,
o múscu lo nasal o rigina-se na maxila, acima dos can inos
e incisivos laterais, e insere-se na aponeurose em cima do
dorso do nariz e na cartilagem alar (Figura 45. 13)6

Figura 45.15 Pontos de aplicação sugeridos para as rugas nasais


ou bunny /ines. (Disponível em: http://www.anatomiaonline.oom/
anatomia-materiais-de-anatomia-humana/miologia/cabeca.html.)

RUGAS PERIBUCAIS2
As rugas peribucais são causadas pelo o rbicular dos
Figura 45 .13 Musculatura nasal. (Disponível em: http://www. lábios, músculo esfincte riano que circunda e se insere nos
anatom iaonline.com/anatomia-materiais-de-anatomia-humana/
lábios tanto superiores como inferiores e no filtro do lábio
m iologia/cabeca.html.)
superior (Figu ras 45.16 a 45.18).6

As rugas nasais podem ser consequência da con tração


pela mímica facial ou mesmo ser secundária a um excesso
de pa ralisação do orbicu lar, como es forço de contração,
sendo desviado para essa região (Figu ra 45.14).

Figura 45 .14 Rugas nasais ou bunny fines. (Disponível em:


http://www.anatom iaonline.com/anatomia-materiais-de-anato-
m ia-humana/miologia/cabeca.html.) Figura 45 .16 Rugas peribucais. (Fonte: acervo da autora.)
PARTE XIV • Toxina Botulínica

O tratamento deve ser sempre conservador, com bai-


xas doses, no menor n ümero possível de pontos (um a dois
pontos de cada lado), dando atenção especial à simetria.
Mesmo q ue as rugas não sejam simétricas (e geralmente
não são), a aplicação deve ser rigorosamente simétrica, tan-
to na d istâ ncia en tre os pontos como na profundidade e
no nümero de u nidades (Figu ra 45.19).
Nessa região deve ser sempre considerada a associação
entre a tOxina botulí nica e os preenchedores.

ORBICULAR DA BOCA

Figura 45.17 Musculatura orbicular dos lábios. (Disponível em:


http://www.anatomiaonline.com/anatomia-materiais-de-anato-
mia-humana/miologia/cabeca.html.)

ORBICULAR DA BOCA

Figura 45.19 Pontos sugeridos para a aplicação em rugas pe-


riorais. (Disponível em: http://www.anatomiaonline.com/anato-
mia-materiais-de-anatomia-humana/miologia/cabeca.html.)

CONSIDERAÇOES FINAIS
-
ORBICULAR DA BOCA A~ informações gerais sobre a tOxina borulínica podem
nortear seu uso correto; no entanto, a aplicação da toxina
Figura 45 . 18 "Códigos de barras" ou rugas periorais. (Dispo-
borulínica não segue uma regra gera l e os melhores resul-
nível em: http://www.anatomiaonline.com/anatomia-materiais-
de-anatomia-humana/miologia/cabeca.html.)
tados são obtidos q uando o tratamento é ind ividualizado.
Não se pode esquecer que a função primária da muscula-
tura facial é a mímica, e o objetivo desse procedimento é
A seleção e o aco nselhamento do paciente antes da somente amen izar rugas, e não cria r pessoas com expressão
ind icação são fundamentais. Além disso, é imprescindível caricata.
discutir sobre a possível dificuldade de fumar, usar can u-
dos mui to finos, tocar instrumentos de sopro e até mesmo Referências
assoviar. Os que util izam os lábios em suas profissões (m ü- 1. Soni N, Shikha B. Upper face rejuvenation using botulinum to-
sicos, cantores, atores e até mesmo os tabagistas) não são xin and hyaluronic acid fillers. lndian J Dermatol Venereol Leprol
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O paciente também deve ser o rientado qua ntO à d u-
w ith botulinum A exotoxin. J Oermatol Surg Oncol 1990; 16:83.
ração dos efeitOS, que tende a ser menor que nas outras 3. Lewis MB, Bowler PJ. Botulinum toxin cosmetic therapy cor-
áreas, em torno de 2,5 meses. relates with a more positive mood. J Cosmet Oermatol 2009;
Evitar tratar os ângu los labiais e a parte central. 8:24-6.
Capítul o 45 • Pontos Básicos de Toxina Botulínica 241

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Pontos Avançados de Toxina Botulínica
Leona rdo Oliveira Ferreira

Há q uase 120 anos tiveram in ício os primeiros estudos retornar para sua residência, durante o jantar, contou o
sobre a toxina botu línica do tipo A (BTxA), ocasião em fato à sua esposa, a oftalmologista Jean Carru thers. Esta
q ue seu agente biológico foi identificado, em 1895, por parou, pensou e d isse: "ach o que descobrimos algo muito
Emile Pierre van Ermegem, da Bélgica. Entretanto, em interessante!". No o utro dia, pa ra certificar<;e, co nvidou
1820, J ustino Kerner recolheu dados sobre 230 casos de sua empregada doméstica, mesmo sem ser portadora de
botulismo e fez uma descrição pormenorizada e precisa blefaroespasmo, para receber uma aplicação da BTxA no
do quadro cl ín ico da doença: seus s intomas, evolu ção no terço superior da face. Três d ias depois, a funcionária re-
tempo e achados clín icos, incl uindo o desaparecimento do tornou ao trabalho com uma face ma is jovial. O fato havia
fl uido lacrimal, pele e o lhos secos, paralisia de müsculos s ido consumado e, a pa rt ir de 1992, o mundo despertou
somáticos e d iminu ição da secreção de muco e saliva. Essa para o uso cosmético da BTxA.1•3
descrição já sugeria o uso terapêutico da toxina botulini- Em 1992, o uso estético da BTxA foi in icialmente off
ca. Na década de 1970, o médico america no Alan Scott label, o u seja, não autorizado por uma agência reguladora.
aplicou o medicamento no primeiro paciente h uma no. No Somente 10 a nos depois o pri meiro laboratório fabrica nte
decorrer desses anos, mui to se tem d iscutido sobre esse da tOxina botulínica do tipo A consegu iu inseri r em sua
medicamento que, definitivamente, representou uma ver- bula a indicação "linhas facia is hiperfuncionais", tornando
dadei ra revolução na med ici na' o medicamento oficialmente indicado para este fim .1·'
Para um medicamento ser registrado no Brasil é neces- Porta nto, d iferentemente do q ue mu itOs pensam, a
sário receber aprovação da Agência Nacional de Vigilância toxina botulin ica "nasceu na terapia" e teve seu boom na
Sanitária (Anvisa) para uma o u mais indicações. Essa auto- estética, mas está volta ndo para a terap ia. Desde 2011,
ri zação aco ntece quando são comprovadas a qua lidade, a autorizados pela Resolução do Co nselho Federal de
eficácia e a segurança do medicamento. Todo medicamen- Odontologia (CFO) 112/ 2011, de 5 de setembro de 2011,
to tem sua ind icação principal e as indicações poss íveis. dentistas brasile iros uti lizam a tOxina botulínica como
Quando o primeiro paciente recebeu a apl icação da toxi- meio terapêutico•
na botulinica, em 1977, não se esperava que esta poderia Ind icações off label na odontologia:
ser utilizada para fins estéticos. Segu ndo relaros,Z após ter • Bruxismo.
receb ido a aplicação de BTxA para blefaroespasmo (con- • Hipertrofia do masseter.
trações involuntárias dos müsculos orbicu lares das pálpe- • Sialorreia.
bras, levando à oclusão dos o lhos), uma paciente indagou • Assimetria de sorriso.
o médico canadense Alasta ir Carru thers e d isse: "Doutor, • Exposição gengiva!.
você tem um vinco entre as sobrancelhas. Por q ue não faz • Redução da força muscu lar dos músculos masseter e
uma aplicação de toxina botu lin ical". O méd ico derma- tempora l em algu ns casos de impla ntodontia de carga
tologista ficou pensativo com a fala de sua paciente e, ao imed iata.

242
Capítulo 46 • Pontos Avançados de Toxina Botulínica 243

• Disfu nções e dores na art iculação temporoma nd ib ular cordéis man ipu lados por pessoa ocu lta atrás de uma tela,
(DTM). em um palco em min iatura.;
• Apertamento dental.
• Dores de cabeça de o rigem dentária (parafu nção). Técnica
Ind icações aprovadas pela Anvisa: • Uma a duas u nidades de tOxina botu lín ica tipo A de
• Estrabismo. cada lado.
• Blefaroespasmo. • Número de pomos: um de cada lado.
• Espasmo hem ifacial. • Plano de apl icação: imramuscular a 45 graus.
• DistOn ias.
• Espasticidade. AUMENTO DOS LÁBIOS
• Linhas faciais hipercinéticas.
Os lábios desempenh am um papel fu ndamental na
• Hiperid rose.
expressão facial, na fa la, na ali mentação e até mesmo para
• Incontinência urinária.
expressar sentimentos, como em um beijo. Nas reconstru-
• Enxaqueca crônica.
ções labiais, é importante avaliar as características dos te-
• Bexiga hiperativa.
cidos (cor da pele e textura), de modo a fornecer a melhor
fu ncionalidade e o melhor resultado estético possíveis.
Ind icações off label na medicina:
Trata-se de uma técn ica q ue promove a eversão do lábio
• Obes idade.
superior com a aplicação de po mos estratégicos na borda
• Neu ralgia pós-herpética.
do lábio 6 ·;
Neste capítulo, recomenda-se o emprego avançado da
toxi na botu línica na face nas seguintes situações: Técnica
• Rugas marionetes. • Me ia a uma un idade de toxina botulí nica tipo A ao lo n-
• Aumento de lábios. go da linha que d ivide a mucosa labia l superior e a pele.
• Na riz negro ide. • Número de pomos: um a dois de cada lado do lábio
• Sorriso gengiva!. superior.
• Efeito Nefertite. • Plano de apl icação: su bepidérm ico.
• Queixo em casca de lara nja.
• Suavização do bigode ch inês.
• Na riz empinado. NARIZ NEGROIDE
O músculo nasal tOma origem óssea na base do proces-
so alveolar próximo à abertura pi ri forme. Divide-se em par-
RUGAS MARIONETES te transversa (ou compressor da narina), que se estende ao
O músculo abaixador do ângu lo da boca, bastante su- dorso do nari z, un indo-se com o lado opostO, e parte alar
perficial, cobre parte do aba ixador do lábio inferior e do (ou d ilatador da narina), um feixe bem menor que se pren-
buci nador. Tem sua origem na base da mandíbula, entre de à ci rcunferência lateral da narina. A~ denominações
as o rigens dos músculos platisma e abaixador do lábio in- compressor e dilatador indicam suas próprias funções.; Ao
ferior, em uma linha q ue va i da região malar ao tubérculo contrário do nariz caucas iano, o na riz negro ide apresenta
mento niano. Como sua origem é larga e a inserção é redu- formato mais achatado e largo, com as nari nas grandes,
zida no ângulo da boca, tOma o aspecto de um triângulo arredondadas e com pouca projeção.8 Não há registros na
de base inferior. Esse é, portanto, mais um músculo que literatu ra dessa técnica, sendo esta a pri meira descrição
termina no ângu lo da boca; as inserções de todos eles, as- publicada. Com a aplicação da toxina botu lin ica ao lo ngo
sociados ao e ntrelaçamento dos feixes de fibras superiores do músculo nasal e ca nto do nariz (superficial}, pode ser
e inferiores do músculo orbicular da boca, determinam o suavizado o aspectO das asas alargadas, mel hora ndo inclu-
aparecimento de um nódu lo tendíneo nessa área, também sive a oleosidade da pele sobrejaceme. A d iminu ição da
conhecido como mod íolo do ângulo da boca. Além de pu- h iperatividade de abertura da asa nasa l não prejudica as
xar a com issura da boca para baixo, promovendo o alon- fu ncionalidades do nariz.
gamento do sulco nasogen iano, esse músculo consegue Próximo a essa estrutu ra muscu lar, encontra-se o mús·
retra í-la um pouco, deixando o aspecto con hecido como cu lo levantador do lábio superior e da asa do nari z. Lo ngo
"rugas marionetes", em menção à boca do marionette, ter- e delgado, estende-se do processo frontal da maxila, ao n í·
mo francês q ue s ign ifica um boneco movido por meio de vel do ângu lo do olho, até o lábio superior. Ames de o
PARTE XIV • Toxina Botulínica

suas fibras se entrelaçam com fibras do o rbicular da boca.


O músculo levantador do lábio superior s itua-se entre o
múscu lo levantador do lábio superior e da asa do nariz e
o zigomático menor, com os quais se acha parcialmente
fusio nado.s
Alguns fatores estão associados ao sorriso gengiva!.
• 2U São eles:
e 2U o C rescimento vertica l excess ivo da face .

• 2U o Projeção h orizo ntal da maxila.

o Maior atividade dos músculos elevadores do lábio supe-


• 2U
rior.
lU o Erupção passiva pela falta de contatO interoclusal.

o Excesso de gengiva inserida.

O sorriso gengiva! pode ter duas o rigens:


o Causa m usc ular: o espaço interlabial norma l está entre
I e 3mm. Q uando o paciente sorri e há aumento desse
Figura 46.1 Pontos de nariz negroide. (Fonte: acervo do autor.) espaço, trata-se de um sorriso gengiva! de etiologia mus-
cu lar.
o Causa óssea; quando há aumento do espaço interlabíal
atingir, envia fibras para a pele da asa do nariz. Também se
(> 3mm) mesmo em repouso. Nesse caso, exige-se corre-
acha parcialmente coberto por fibras do orbicular do ol ho.
ção o rtodôntico-cirúrgica.
Nesse sentido, aplica-se um ponto bem superficial, ao lado
da asa do nariz, para impedir o movimento excessivo de
abertura dessa região, o que evidencia ainda mais o aspectO Técnica
de alargamento do nariz.;,s Aplicação de cinco un idades em cada lado do múscu-
lo, perpendicular. O ideal é exteriori zar o músculo eleva-
dor do lábio superior fazendo o "pínçamento" da região
Técnica
com os dedos polegar e indicador.
o Dezesseis a 25 u nidades ao longo de todo o nariz, d ivi-
didos nos pontos como mostra a Figu ra 46.1.
o Plano de aplicação: subepidérmico. EFEITO NEFERTITE
O músculo platísma não se trata propriamente de um
Observa-1>e que ocorre melhora inclusive do sulco na- múscu lo peribuca l, apesar de se pre nder à mandíbu la,
sogeniano após a aplicação. imed iatamente aba ixo do músculo aba ixador do â ngulo
da boca, e frequentemente enviar fibras até a bochecha.
Cons iste em uma lâmina muscular longa, larga e fi na que
SORRISO GENGIVAL cobre a maior parte das regiões lateral e anterior do pes-
O sorriso representa um traço da individualidade, mas coço, chegando a cruzar a clavícula e termina r na região
pode se constituir em uma característica desagradavelmen- peitoral. Não abaixa a mand íbula como afirmam alguns
te marca nte. aucores. lnsere-1>e na pele de roda essa área e a enruga.s
Ao sorri r, o lábio superior se move para cima, expondo A aplicação deve ser rea lizada ao longo de todo o pes-
os dentes anteriores e as margens da gengiva, a qual fica coço, bem superficial, e sobre as bandas platismais deverá
aparente, o que pode caracterizar um problema estético.9 ser aplicada uma q uantidade maior de BTxA. A aplicação
Não é incomum observar os pacientes com sorriso profu nda não deve ser rea lizada, pois os nervos laringeos
gengiva! coloca ndo a mão sobre a boca para cobri r as gen- recorrentes podem ser atingidos. Os nervos de ambos os
givas durante o sorriso. lados se originam dos nervos vagos, na região inferior do
O músculo levantador do lábio superior origina-se em pescoço. Seguem em di reção ao tórax até se cu rvarem (dai
uma li nha de !em e meio da margem infraorbital, logo aci- o nome "recorrente") em estruturas diferentes para cada
ma do forame infraorbita l, onde se encontra coberto pelo lado. O nervo laringeo recorrente d ireito passa por baixo
músculo orbicu lar do o lho. Desse lugar, suas fibras descem da artéria subclávia d ireita, no nível da vértebra T !/f2. O
obliquamente para se inserir na metade lateral do lábio nervo laringeo recorrente esquerdo passa por baixo da alça
superior, quase ati ngindo sua zo na vermelha. Mu itas de da aorta, no n ível da vértebra T 4/f5. Ambos os nervos
Capítulo 46 • Pontos Avançados de Toxina Botulínica 245

continuam seu trajeto agora em ascensão, dirigindo-se para SUAVIZAÇÃO DO BIGODE CHINÊS
a face po.-,teromedial da glândula tireoide, e sobem no sul- Hábito~ do dia a dia que parecem inofen-.ivos podem
co traqueoe>Ofágico em direção aos músculos intrínsecos causar, a longo prazo, marca~ desagradáveb no rosto, corno
da laringe. Há rbco de lesão do nervo laringeo recorrente o famoso bigode chinês, aquela.., linhas que vão da hase do
em uma cirurgia de pescoço, em ca.~o de aneurisma da aor- nariz at~ a lateral da boca, e também as ruga~.
ta, ou aplicação profunda de toxina lxnulinica no múSculo O tratamento chhsico para o bigode dlinês ou sul-
esternocleidoma.'>tóideo, o que pode afetar diretamente o co na~geniano combre na t~nica de preenchimento.
funcionamento da.~ cordas vocais. Em uma )e<;.'io unilateral Entretanto, a aplicação da BTXa em pontos e.'rrat.!gicos
(lesão do nervo esquerdo ou direito), ocorrem rouquidão toma pOSsi\·el suavizar e,.,sa queixa comum dos pacieme.s_H
e dificuldade de falar (dbfonia). A le~o bilateral (no direi- O músculo zigomático menor é delgado e situa-se ao
tO e no e!.querdo) tem como consequência a perda de voz lado do levantador do lábio superior. Fixa-se no corpo
(afonia) e provoca um som áspero e altO na inspiração. O do osso zigomático, medialmenre ao músculo zigomático
trajeto do nervo laringeo recorrente esquerdo é maior. Por maior, e dirige-se à pele do lábio superior. Como varia-
-~~so, Iesões nesse Iato
I sao
- ma•s
- comuns.;to· ção, pode fus ionar-se com os músculos que ficam a seu
lado ou estar ausente. j untamente com os dois elevado-
Técnica res do lábio, sua função é colaborar nesse movimento d e
ascensão.;
Separam-se '30 a 50 u nidades de BTXa, as qua is são di-
lu ida.~ com soro fisiológico a 0,9% até completar I mL de
O músculo zigomático é uma lo nga e hem dese nvol-
vida fita muscular cuja origem óssea está na face lateral
uma seringa BD ulrra fine. As aplicaçôes devem ser superfi-
do os.so zigomá tico, atrás da orif(em do zigomático menor.
ciai.~ a ponto de formar uma pápLtla. É comum, após a apli-
cação, o surgimento de eritc:ma, que pode ser contornado Dai, dirige-se para baixo e para dentro, cruzando fibra~ su-
periores do músculo hucinador, das quais é separado pelo
com o uso, no consultório, de desonida a 0,05% em creme.
corpO adipOSO da bochecha, e inst!re-se no ângulo da boca.
É conhecido como músculo do riso em razão de sua ação
QUEIXO EM CASCA DE LARANJA de levar para cima e para fora o ângu lo, dando à boca uma
Ruga.., e rerraçôes inestéticas pOdem surgir no mento conformação arqueada. 1·'1
durante a fala ou com a contração do músculo orhicular
da hoca, o sorrbo e a alimentação. NARIZ EMPINADO
Em alguns pacientes, podem ser visíveis em repOuso,
A queda dinâmica da ponta na.•.al pode ocorrer duran-
mas sempre são agravada-. pelO'> movimentos musculares
te o ato de sorrir, quando há hiperarividade do músculo
da região.
depres.~r da pOnta do nariz. Além di-.~o. podem ainda
O músculo menroniano situa-se em um espaço trian-
ocorrer elevação e encurtamento do lábio superior e au-
gular de ha.-,e inferior formado pelas margens mediaiS dos
mento da expOsição gengivaL O músculo depre5sor do
músculos ahaixadore!. do láhio inferior. Sua origem óssea
septo nasal contribui para essa deformidade. O ligamento
~ na fossa mentoniana, acima do tubérculo mentoniano.
dermocartilaginoso origina-M! da fá~cia do terço superior
Dirige-se para a frente e agarra-se firmemente à pele do
do nariz, unindo-se ao músculo depressor do sepro.;
menro, onde, às vezes, aparece uma depre~são permanente,
A queda da ponta do nariz é esperada ainda com o
conhecida como queixo em casca de laranja. Sua inserção
processo de envelhecimento.;
faz acentuar o sulco labioml'!nroniano. Ele eleva a pele do
A elevação da ponta nasal com o uso da roxina hotu li-
menro e vira o lábio inferior para fora (movimento de ever-
nica só está indicada se ela se aba ixa durante o sorriso, alte-
são). Por isso, deve-se ter atenção em sua apl icação, que
ração esta que e observada no exame físico . com o paciente
deverá ser apenas na região med iai do müsculo, na altu ra
sorrindo, de perfil, em orto!.tatismo."
do tubércu lo memoniano.1•11
Quando o paciente, sem movimento, encontra-se com
A aplicação em dois pontos, um em cada ventre mus-
a ponta do nariz ca ída, outra~ técn ic.·\s de cirurgia plasrica
cular, pode desencadear uma complicação denominada
estão indicadas e podem incluir: secção do ligamento der-
"efeitO bola", em que, ao conversar, o queixo do paciente
mocartilaginoso, encurtamento do septo nasal ou enxerto
projeta uma elevação.
de cartilagem.'•
A aplicação é moderadamt'nte doloro..-a, o que pode
Técnica ser minimizado ~e o aplicador pre~~ionar o septo nasal ao
• Quatro unidade~. injetar a toxina hotulínica. O ideal é que e~.,a aplicação seja
• Aplicação intramu~cular perpendicular a 90 graus. a liltima na face do paciente.
PARTE XIV • Toxina Botulínica

Técnica 7. Gordon RW. BOTOX cosmetic for lip and perioral enhancement.
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Complicações da Toxina Botulínica
Sandra Lyon

A injeção de toxina botulínica é uma das técn icas co:;.. a suspensão de med icação que possa alterar a coagula-
méticas ma is utilizadas tanto para correção de rugas na gla- ção, como ácido acetilsal icílico.
bela, na fronte e na região periorbitária, como para áreas • Ptose palpebral: ocorre qua ndo há paralisação do múscu-
faciais inferiores, pescoço e tórax. Tem sido utilizada para lo levantador da pálpebra superior por difusão da toxina
desordens auwnômicas, como h iperidrose localizada, no após injeção na glabela. Os sintomas surgem I sema na
controle da dor (cefaleia tensiona l, enxaqueca), distúrbios após a aplicação da toxina.1 Para evitar o risco de ptose
de salivação e lacrimejamento, na rinorreia e no fluslt facial. palpebral, a aplicação da toxina deve ser feita após demar-
Trata-se de um proced imento pouco invasivo com cação dos loca is, em direção superior e lateral. 4
efei tos adversos e possíveis complicações, na ma ioria das • D ificuldade de oclusão das pálpebras: ocorre por d i-
vezes, decorrentes de erros técn icos ou utilização de doses fusão da toxina para a porção pa lpebra l do músculo
inadequadas. o rbicular.4 Deve<;e respeitar o limite de !em da borda
A dose letal é ca lculada em cerca de 40U/kg de peso o rbital nas injeções.;
corporal, o que equivale a estimar que a dose letal para um • D iplopia: ocorre por d ifusão da toxina para dentro da
paciente de 70kg seria de 2.500 a 3.000U.1 ó rbita e pela paralisia dos músculos retos laterais.•
Na maioria das vezes, os efeitos adversos são leves e • Assimetria: ocorre após aplicação de quantidades dife-
revers íveis, de caráter transitório. To rnam-se necessá rios o rentes da toxina ou em pomos assimétricos na face e
conhecimento min ucioso da musculatu ra e a utilização de pescoço.;
doses recomendadas e adeq uadas para cada área e músculo • Elevação excessiva da cauda do supercílio: ocorre devi-
a serem tratados. do ao relaxamento da musculatura e da parte média da
região frontal, com compensação lateral da musculatura
- MAIS FREQUENTES
COMPLICAÇOES
frontal. 4 A elevação excessiva pode ser evitada com a apl i-
cação de I a 2U da tOxina nos filmes frontais ma is laterais
• Eritema e edema no local da injeção: constituem efei- em pessoas com supercílios naturalmente altos.2·s
tOS leves e desaparecem de maneira espontâ nea. • Agravamento das rugas nasais: o tratamento das rugas
• Dor no local da aplicação: irá depender da sens ibili- periorbita is pode levar ao agravamento das rugas nasa is,
dade individual do paciente. Recomendam-se sempre a tornando necessária a aplicação da toxina botu lín ica
utilização de agu lhas de calibre fi no e a injeção da solu- nesse nível.
ção de toxina de forma lenta. 2 • Ptose do lábio superior: decorrente da para lisia dos
• Cefaleia: a cefa leia pode ser relatada após a aplicação e músculos levantador do lábio superio r e zigomático
tratada com med icações analgéSicas. maior. É comum quando se faz a correção das rugas na-
• H ematomas: podem ocorrer com frequência por lesão sa is, sobretudo quando se aplicam volumes maiores da
de vaso sa ngu íneo ao apl icar-se a toxi na. Recomenda-se toxina.6

247
PARTE XIV • Toxina Botulínica

o Dificuldade de movimentar os lábios: decorrente da inje- Referências


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utilização das unidades corretamente precon izadas. 58:318-30.
Toxina Botulínica em Hiperidrose
Louraneide Mac iel Tavares

A~ glându las sudoríparas écrinas encontram-se em tOda res endógenos, como d istúrbios e ndócrinos, hi pertireo i-
a superfície corpórea, excetO em mucosas e sem imucosas. d ismo e h ipoglicemia e por doenças oncológicas, ou por
Estão em maior quantidade nas palmas das mãos, na planta fawres fisiológicos, como a menopausa.
dos pés, nas axilas, na virilha e na região cra niofacial. As Lessa & Fontenelle (201I) concluíram que 32,5% dos
células musculares que envolvem essas glândulas são contro- pacientes com fobia social apresentam hi perid rose associa-
ladas pelo sistema nervoso simpático, tendo como neuro- da, mas é desconhecida a frequência com q ue pacientes
transmissor a acetilcolina, que atua na eliminação do suor. com h iperidrose apresentam fobia socia l.
A fu nção principal das glândulas sudoriparas écrinas é
a termorregu lação, que atua na temperatura corporal. A h i· -
LOCALIZAÇAO DA HIPERIDROSE:
perid rose consiste no aumento excess ivo da sudoração, de
etiologias d iversas, causando um sentimento de embaraço, GENERALIZADA E FOCAL
desconforto e isolamento do paciente. Focal
Pode ser primária ou idiopática e secundária. Na pri· A hiperidrose se local iza onde existe maior concentra-
mária, adm ite-se que ocorra estimulação excess iva do sis·
ção de glândulas sudoríparas: palmas das mãos, plantas
tema nervoso simpático (SNS) na regulação das glând ulas dos péS, axilas e região cra niofacial, podendo ocorrer isola-
sudoríparas écrinas. É a forma mais comum e co nstitui
damente ou em associação.
uma doença ben igna crônica e id iopática. Os fa to res de-
sencadeames são calor, emoções e estresse social com ou
Hiperidrose palmar e plantar
sem razão aparente. Afeta de 1% a 3% da população.
Inicia-se na adolescência, com prevalência maior entre 18 Geralmente com predomínio pa lmar, acomete ambas as
e 24 anos de idade. É bilateral e relativamente simétrica. mãos, o que interfere nas atividades laborais. Compromete
Ocorre mais de uma vez por semana, cessa du rante o so no o contato social e afetivo, em que as mãos são mu ito im·
ou com o uso de substâncias calmantes, e frequentemente portantes. O estresse também é um importante fator desen-
tem história familiar. cadea nte, mas, mesmo quando ca lma e tranquila, a pessoa
Impede as atividades diárias, como escrever, apertar a pode suar muito.
mão de outra pessoa ou segu rar papéis. Molha as roupas na
região axilar, causando vergonha, o q ue pode resu ltar em Hiperidrose axilar
discriminação e estereótipos, com os pacientes sendo con· A alteração anaromofuncional das glând ulas sudoripa-
siderados pessoas ans iosas, nervosas ou inseguras, o que ras écrinas e/ou apócrinas causa hipersudorese em ambas
leva à depressão e à fobia social. as axilas em situações de estresse, o que mancha e dan ifica
A hiperidrose secundária ocorre por causas diversas, as roupas e provoca mau odor, obriga ndo o paciente a tO·
como medicamentos (antidepressivos), obesidade ou fato- mar banhos e a trocar-se várias vezes ao d ia, ocasionando

249
< 250 PARTE XIV • Toxina Botulínica

problemas sociais. Apesar das med idas higiên icas, podem O diagnóstico d ifere ncial é feitO com a síndrome de
ocorrer infecção e irritação cutânea, já que as axilas con- Frey ou a sind rome da sudorese gustatória, na qual ocor-
sistem em grandes dobras, onde pode ocorrer maceração, rem hiperid rose e hiperemia d urante a mastigação de ali-
levando à bromidrose (ma u odor), causada pela decompo- mentos, ma is frequente nas regiões parotídea, masseterina,
sição do suo r e de restos celulares de bactérias e fu ngos. Por zigomática, e, às vezes, cervicotemporal.
essa razão, nem sempre o tratamento tópico conservador Ocorre após ci rurgia de paró tida, em uma frequência
tem boa resposta; em contrapartida, o tratamento com a de 10% a 50%, ou por traumas, d istúrbios cen trais ou
toxina botu lin ica apresenta excelente resposta . O efeito doenças sistêmicas.
adverso, que raramente acontece, é a perda generalizada
de força nos membros superiores, em virtude da aplicação DIAGNÓSTICO
profunda, sendo, portanto, técnico-dependente.
Basicamente, o diagnóstico é visivelmente clinico, com-
plementado pela anamnese, cons iderando os critérios ma-
Hiperidrose craniofacial jor e minor, e por testes simples e de baixo custO, que ser-
Pouco diagnosticada, é ma is freq uente do que se imagi- vem para identificar as áreas afetadas: teste do iodo/am ido
na. Embora menos rara, tem uma característica ma rcante, (Figura 48 .2) e teste da gravimetria.
q ue é o profundo desconforto causado por essa sudore- Para o diagnóstico são considerados dois critérios
se, por localizar-se em área mais exposta do que as regiões maiores e do is cri térios menores.
palmoplantares e axilares, causando emba raço, vergonha,
constrangimento e insegurança. A situação é agravada pela Critérios maiores ou obrigatórios
pouca importância dada à q ueixa do paciente, tanto pelos
• Sintomas focais e visíveis há pelo menos 6 meses, sem
familiares como pelos méd icos, além de falhas no diagnós-
outra causa.
tico e tratamentos inócuos. O paciente frequentemente se
• Afetar uma ou mais áreas, como axilas, palmas, plantas
apresenta com um lenço ou uma pequena toalha à a mão.
e região craniofacial.
Acomete ma is adultOs jovens, e os sintomas são mais graves
do pomo de vista emocional, gera ndo medo, falta de con-
fiança e fobia social. Os locais mais frequentes são o centro Critérios menores
da face, a fronte e as temporas, embora o couro cabeludo • In ício ames dos 25 anos de idade.
também possa ser acometido (Figura 48.1). • Ocorre mais de uma vez por sema na.
• Preju ízo das atividades d iárias.
• História familiar positiva.
• Excesso de suor ausente durante o so no.
• Acometimento simétrico das regiões afetadas.

Teste do iodo/amido ou teste de Minor


Aplica-se uma gaze embeb ida em iodo (iodopovidina)
a 10% sobre a superfície cutânea das regiões com h iperi-

Figura 48 .2 Teste de M inar. (Fon-


Figura 48 .1 Hiperidrose craniofacial. (Fonte: acervo da autora.) te: acervo da autora.)
Capítulo 48 • Toxina Botulínica em Hiperidrose 251

Figura 48.3 Resultado do teste. (Fonte: acervo da autora.)

drose. Em seguida, polvilha-se uma fina camada de amido destroi as glândulas sudoríparas. Trata-se de um proce-
de milho e aguardam-se 5 minutos. A~ áreas comprometi· dimento não invasivo, sem causar da nos à epiderme,
das apresentam d iferentes inte nsidades de reação, devido à rea lizado em d uas sessões com interva lo de 3 meses.
reação do am ido com o iodo, promovendo uma coloração
violácea escu ra (Figu ra 48.3). Tratamento cirúrgico
Consiste na excisão de tecido axilar, excisão do tecido
Teste de gravimetria subcutâneo ou em bloco (pele e tecido subcutâneo). Não
Usado para determi nação do vol ume de suor, apre- é mu ito recomendado por poder causar cicatrizes inestéti·
senta pouco interesse prático. Usa-se um papel de filtro, o cas e retração cicatricial, com possibilidade de li mi tação da
qual é pesado antes e depo is da absorção do suor. mobil idade articular:
• Lipoasp iração axilar subdérmica: causa rompimento
TRATAMENTO do suprimento nervoso pa ra as glândulas sudoríparas
e remoção ou destruição de algumas destas. Não tem
Tratamento conservador o efeito terapêutico esperado, po is grande parte das
• Agen tes a ntitranspirantes: à base de clorid rato de alu- glândulas sudoríparas q ue causam a hiperid rose ma n-
mínio, forma ldeído, gl utaraldeído e seus derivados, são tém suas funcões
• em decorrência de sua localizacão •
na
de baixo custo, acessíveis, mas even tualmente causam derme. Pode causar hematomas, seromas, infecções, as-
dermatite de contato e podem mancha r a pele e as rou- simetrias, retrações da pele e alterações da mobilidade
pas. Os resu ltados nem sempre são satisfatórios. articular.
• Anticolinérgicos e sedativos (oxibutina, atropina): têm • Simpatectomia transto rácica e ndoscópica: apesar de
eficácia limitada. Diminuem a transpi ração, mas pro- implica r alterações perma nentes de o utras funções
vocam muitOs efeitos colatera is (secura na boca, borra- simpáticas, era tida como ú nico tratame nto definitivo
mento visual, palpitações, retenção urinária e distú rbios pa ra hiperid rose primá ria, tanto palmoplantar como
da fala, do paladar, da mastigação e da deglutição). Os axilar. Promove a interrupção dos gâ nglios T2, T 3 e T4
sedativos ajudam a dim in uir as fob ias, mas não agem da cadeia simpática dorsal s uperior, levando à cessação
mu ito na hiperidrose. defini tiva de suor na distribu ição do nervo. Esse tra-
• lo ntoforese: pouco prá tica, causa bloq ueio temporário tamento necessita internação e deve ser realizado sob
da glând ula sudorípara, devendo ser repetida contin ua- anestesia geral. As complicações e os efei tos adversos
mente. Seu efeito d ura de 15 a 30 d ias e pode ocasionar são bastante sign ificativos, como sudorese compensa-
secundariamente eru pção cutânea. Existem aparel hos tória irreversível (20% a 50%), baixa satisfacão •
com
de uso domiciliar para aplicações diárias que deman- os resultados, sínd rome de Claude-Bernard-Corner,
dam tempo. Necessita longo tempo para sua execução e pneumotórax, hemotórax, ass imetria de resu ltados,
várias sessões. Não é eficaz nas axilas. nevralgia intercostal, causalgia, resultados incompletos
• Aparelho de micro-ondas: lançado recentemente no e complicações anestésicas. Além disso, ocorre resseca-
mercado, o Miradry"' está indicado para tratamento mento intenso nas palmas das mãos, obrigando o uso
da hiperid rose. Usa a termólise por micro-ondas, que d iário de hid rata ntes.
( 252 PARTE XIV • Toxina Botulinica

Tratamento com toxina botulínica O uso de gelo ou coolns (aparelho de re:.friamemo en-
A ação da toxina hmulinica (TB) na.., glândula.~ sudori- contrado no mercado) imediatamente ante> da aplicação
paras ocorre atrav6 das co!lulas mioepiteliai.~ (musculares) em cada pomo leva :\ diminuição da~ queixa.., dolorosas.
que envolvem a~ glândula~. fazendo com que o suor seja Há o relato de uma paciente adol~ente que e..,tava fazen·
e.~premido e expelido. T rata..,e da melhor indicação, exceto do uso de toxina nas mão; pela quarra \~Z (a.., tr~., ante·
pelo cusro; rem baixa incidência de efeito~ ad'-e~os. faci- riores com bloqueio) e rewlou aceiração muito melhor da
lidade de aplicação, não torna nece.'>..,ârio o af~tamento anestesia com a técnica do gelo.
da.~ atividade.s rotineira;, e apre~enta excelente~ re.sultados, A hiperidrose da região palmar é mab fret1uememente
hom grau de ~tbfação pelo:, pacient~ e tempo de duração submetida a tratamento> com a TB do que a da plantar.
relativamente hom. Em geral, não exi>te hiperidrose com- Uma particularidade da região palmar é a fraqueza mus-
pensatória porque não se trata de todo o membro superior, cular transitó ria que pode ocorrer por aplicação no plano
como na simpatectomia, e ;im uma área menor. maiS profundo ou difu.'>ão por grande; quantidade>. O
A~ glândulas sudoriparas écrinm, estão localizadas na procedimento pode ser rea lizado com ane>tes ia troncular,
derme reticu lar profunda, para onde d everá ser direciona- anestesia endovenosa, uso de sedativos, pomadas anest~si·
da a aplicação da toxina. Sugere-se o uso d e agu lhas meno- case/o u gelo.
res, como as d e me.smerapia, 10G (0, 30 x 4mm), pa ra evi- A dose nece.<;sá ria é, em méd ia, de 50 a IOOU de TB
tar ma ior aprofundamento com más consequencia.s, como tipo A por cada mão, o que limita a execução do procedi·
enfraquecimento muscular em áreas não desejadas, como, mento em razão do custo financeiro. Um efe ito secundário
por exemplo, as mãos. pode ser a perda transitó ria da força muscular das mãos.
Inicialmente, realiza-se o teste do indo/amido, confor- A quantidade d e pontos a serem aplicados em cada
me já d escrito, seguido de antissepsia da área e demarcação mão é em corno de 50, le mbra ndo de incluir os d edos com
dos pomos de aplicação, detectando também as áreas de dois a três pomos em cada fa lange. E;tudos demonstram
maior sudore.se, onde a distãncia entre os pontos de aplica- ausência de hiperidrose compensatória nas área.~ tratadas.
ção deverá ser menor. O tratamento da hiperidrose axilar é menos doloroso
e a dose é de 50 a 75U por axila. Após te..,te do iodo/amido
e antissepsia, a área é marcada, mantendo uma dbtãncia
Diluição da TB e doses por áreas média de I,Son entre cada ponto, até um total de 20 a
Existe uma di,·e~idade de condura.s de vários profi.y 25 pomos. Os pelos de\'em ser ra~pado, previamente para
sionais quanto à diluição, variando de 2 a 5mL de soro uma melhor marcação.
fisiológico ~téril a 0,9% (Quadro 48.1 ). Na biperidrose craniofacial, a> glândula; .udoripa=
As dose> p<X)em variar de acordo com o tamanho da localizada.~ na derme profunda ~tão muito prôxima.., do
área acometida, a inten;,idade da hiperidro;e e a disponibi- múSculo fronta l e qualquer injeção local de toxina irá atin-
lidade financeira. Obviameme, :.e a:. do:.~ forem menores, gir a musculatura subjacente, independentemente de a.., in·
o efeitO será de uma hipoidro.,eJou
. um tempo menor da jeções serem intradérmicas ou intramu~u lare~. Portanto,
supre.'>siio do suor. sempre ha~-erá efe ito muscular quando :.e tratar da :.udore·
A dor à ap licação, principalmente na região palmar, se frontal com a mxina hotu lin ica. Para reduzir o efeitO na
e a d ificu ldade de bloqueio dos nervos ulnar radial e me- posição das sob rancelhas, reco menda-se tratar tambêm os
d iano dificu ltam mu ito a aplicação. O bloqueio, por si depressores do supercílio (corrugadoro:s, prôcerus e orbi·
só, é muito doloroso, nem sempre anestesia toda a área cu lar d os olhos) e, assim, equ il ibrar a ação sobre o fro mal.
desejada e pode ca usar neu ra lgia residual. Como as po- Se necessá rio, e desej~vel, associa-se a aplicação da roxina
madas anest~<;icas, mes mo com oclusão, não são suficien- ao tratamento e.<;tético das rugas d o terço superior da face.
tes pa ra tirar a do r e, passou-se a associar a crioa nestesia As injeç<les intradérmicas só deverão se r aplicadas 1
ao procedimento. ou 2cm acima das sobrancelhas, para evita r queda dos su·
percílios.
A apl icação deve incluir sempre a primeira linha do
Quadro 48 . 1 Doses por área
couro cabeludo e toda a área acometida pela :.udorese ex-
Axilas 100 a 150U cessiva (teste do iodo/amido). Se houver queixa de hiperi·
drose no couro cabeludo, deve-se aplicar a toxina tamht!m
Mlios 100 a 200U
nessa área.
Pés 100 a 200U A diluição é de 2 a 5mL, utilizando 2U por ponto
Craniofaclal 50 a 75U
com uma distância de 2cm, até um total, em média, de
40 a 50U.
Capítulo 48 • Toxina Botulinica em Híperidrose 253

Halpern GM. lener: severa anaphylacllc reacuon to mtravenous


CONSIDERAÇÕES FINAIS cephaloridine in a pregnant patoent. Med J Austraha 1975;
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A hiperidro~~ é uma doença frequente que causa pro- Kinkelin I. Hund M, Naumann M. Hamm H. Effectrve treatment
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rneme a ;udor~e exce;:.iva. É con:.iderada a melhor opção,
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quando se levam em coma o:. ri.cm/beneficios. hyperhidrosrs and monitor effects of botuhnum toxrn treatment.
O tratamento deve :.er oferecido pelo médico, vistO Clinicai neurophysiology (offocral JOurnal of the lnternatronal Fed-
que mu itos desconhecem e:.sa po:.:.ibilidade. eration of Clinrcal Neurophysrologyl 2004; 8:1909-16.
Trata-se de um tratamento d e fácil realização, podendo Lessa LR, Fontenelle LF. Toxina botulfnica como tratamento para fo-
bia social generalizada com hoperidrose. Revista de Psiquiatria
ser apl icado com ane.~tesia local, bloqueio, crioanestesia o u Clfnica. São Paulo, 2011; 38(2).
sedação. l owe N et ai. The place of botulinum toxin type A in the treatment of
Tem como d esva ntagens o alto custO, o efeito tempo- focal hyperhidrosis. Bri t J Dermatol 2004; 6: 1115-22.
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drose tratados com toxina botulfnica: análise retrospectiva de 10
sendo as duas últimas hem aceitas pelos pacientes quando
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(Anecolll and dimethylsoloxane tDMS) in the mouse. Am J Der-
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PARTE XV

PREENCHIMENTO
A

CUTANEO
Classificação dos Preenchedores
Debora Cristina Campozan

Há muito tempo su hstõ ncia.~ preenchedoras são utiliza- Não biodegradáveis


das na prática clínica diária com finalidades mnto médicas Os preenchedores não h ioJ egradáveis têm componen-
como e>têticas. Entretan to, com a evolução e a popu lariza- tes que não se degraJ am, ou >eja, não são eliminados pelos
ção da Jermatologia e>tética, seu uso tem aumentado mui- fagócitos e permanecem ind efin idamente no organismo.
tO, graça.., ao> re>ultado;. previ;.íveis, satisfató rios e seguros T êm excelente durabilidade a longo prazo, porém es-
aliado.., a uma intervenção mínima. tão a.">sociado:, a incidência aumentada de efeitOS adwr~os.
Oh;.erva->e aumento con;.iderávd nesses produtos como a formação de granuloma ~ exrrusão. 7
para preenchimento,, o que oferece in úmeras possibili-
dade; de abordagem na pde. Ácidos hialurõnicos estão
dbponívei;. em vária;. concentraçôes e níveis de reticu- DURABILIDADE
lação, promovendo re,ultado;. muito bons em altera- E.'>ta clas:-.ificação :-.e ha.~eia no t~mpo de permanência
çôes cutânea;. e ;.uhcutâneas. Os volumizadores tornam do preenchedor de...Ue a implamação no tecido até sua ab-
possível a realização Je lipoesculwras, com frequência sorção.
complementare; ao tratamentO Je rugas e depressões na
pele.1 Permanentes
Por suas caracterí;ticas muiro pecu liares entre si, os Também chamados de longa duração por alguns auro-
preenchedores podem ser classificados com base em d ife- res,8 abrangem as substâncias cuja durabilidade no recido
rentes aspectos.U• é ma io r que 5 anos, sendo rep resemrados por PMMA,9
Metacri ll<ll> (Nutricel Laboratories, Rio de Janeiro, Brasil),
constituído por m i croesf~ras d e pol imetilmetacl ilato sus-
ABSORÇÃO PELO ORGANISMO pensa.~ em gel de carboxigluconato , pol iacrila mida e sil i-
Esta classificação pode oferecer importantes informa- cone (d imetilsiloxana) (os dois ú ltimos não dispo níveis no
ções sobre o uso apropriado de cada produto específico, Brasil).
nortea ndo a ind icação.

Semi permanentes
Biodegradáveis Co m durabilidade entre 18 meses e 5 anos,1.1o.u são
Os preencheadore;. classificados corno biodegradá- representados por:
veb são ah;.o rvido;. pdo próprio o rga nismo, por meca- • H idrmdapatita d e cálcio- Radiess~" (Bioform Med icai,
nbmo;. fagocitá rio;.. A duração de seus efeitos é mais San Mateo, CA, EUA): 11 comtXJSto por cristal~ sintéti-
curta e ele;. comumente ;e as;.ociam a efeitos adversos cos de hidroxiapatita de cálcio, idêntico;. aos do deme e
mínimo;.. 7 dos O.'>SOs, formulado em microe;.fera> ;.u;.pensa.~ em gel

257
( 258 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

aquoso de carboximetilcdulo:.e com superfície regular e água, 21 que tem a capacidade de ahsorwr até 1.000 vezes
tamanho variável entre 25 e 45).1.1 sua massa em água. 21
Alt!m do porencial de preenchi me mo, em fase tar- Aproximadamente 50% do Ali corporal encontra-se
dia, apó.., o a porre de macrófago.., para a degradação do na pele. 2'
me:.mo, gera um e:.tímulo para a protluç:io endógena de O efeito preenchedor l>l! deve, principalmente, ao vo-
colágeno.'l-14 lume gerado pelo produto injetado, ma., foi demonstrado
O U>O de hidmxiapatíta demon~tra baixa incidên- que há ativação e dep!bito de fihrohla..,t<h na derme, com
cia de efeit~ colaterab e não foi detectada a presença de consequente síntese de colágeno, re.. tahdecendo os com-
calcificaçõe:. ou osteog~ne"! na~ zonas de injeção.1 ponentes perdidos da matriz da pele.us
• Ácido polilático (PLA) - Sculptra"/New Fillz (EUA e
Europa, respectivamente - Dermik Laborarories, Ber- Agente reticulador
wyn, PA; Sanofi Avemis, Paris, França): constituído de Os preend1edores à ha.~e de Ali são quimicamente
polímero :.imt!tico de natureza biocompatível e biode- modificados por agente.~ de rericulação ou cross linking,
gradável, pertence a uma categoria de preencbedores com intuito de melhorar suas propriedades mec~nicas e
que exercem seus efeitos a parti r do estímulo à neocola- duração in •'it'o. Sem a reticulação, o Ali apresenta me ia-
gênese e, cnnsequemememe, dos fihroblastos e coláge- ·vida de aproximadamente 24 horas. 21
no tipo 1.'6.17 Os agentes de reticulação são substâncias responsáveis
O P LA se degrada entre 9 e 24 meses após sua pela fo rmação de pontes entre as molécu las , aumentando
introdução por uma via enzi mática dependente de água o taman ho, a densidade e, consequentemente, seu pode r
e dióxido de ca rbono, mas o colágeno induzido pode ser de preenchimento, suas propriedades mecân icas e duração
constatado em ate 24 meses.'1·' 8 in 1.1it•o. 26
Apresema resultados co.~méticos satisfatórios,'1•19 A reticulação altera a solubilidade do Al i, mas os
inclusive em pacieme; com lipoatrofia pelo vírus da agentes reticuladores não raramente são considerados os
imunodeficit!ncia addquirida (IIIV). 1~ responsáveis por reações alérgica.~ de>critas com o proce-
dimento.21
Temporários Há, portanto, urn balanço ideal, em que o cross linking
melhora a duração do> resulrad~. mantendo a hiocompa-
São ~ mab emprt>j!ado'> para fins e>téticos, tendo em
tibilidade e a fluidez durante a aplicação.11
viMa que o proce.,,o de envelhecimento é dinâmico e, por
L-;.~o. nem sl'mpre é recomendada a correção permaneme
Agentes reticuladores de cross linking
de um defeito, ma.., :.im a aplicação da.~ correções à medi-
• DVS - dh·inil~ulfona.
da que vão aparecendo os ;inab do envelhecimento. De
• BBBE - butanetlioi.Jiglicidil-êtl'r.
acordo com a Sociedade Americana de Cirurgia PláStica
• D EO - d iepox-yoctane.
Esretica, mais de 85% dos procedimentos de preenchi-
mento são feitOs com os derivados de ácido hialurõnico.
Espera-se aumenro dessa porcentagem no futuro, pois não Anestésicos
há outra cla.~se rival qu~ de>frute da mesma popu la rida- ..
• Acido hialurônico: alguns preenchedores á base de AH
de do ácido hialurônico, popularidade esta que advém da são adicionados de anestésicos locais com a fina lidade
efetividade, reprodutihilidade, facilidad e de aplicação e de d iminu ir a dor durante a aplicação, proporcionando
segurança.1•21 mais conforto ao paciente. A adição de lidocaína não
Dependentes de diwrsos farores, como densidade do altera as propriedades do :lcido híalu rõn ico.18
prod utO, volume aplicado e local d e aplicação, dentre ou- • H idroxiapatita de cálcio: apesar de não esta r come r-
tros, os preenchedore.~ temporários podem durar de 6 a 9 cialmente disponível associada à lídocaí na, algu ns es-
meses ou mais. 2 tudos mostram melhora da fluidez e diminuição sig-
nificativa da d or q uando o produto e prediluído em
'
Acido hialurônico lidocaína. 29 Esta técn ica recd-.eu aprovação da FDA em
O ácido hialun)nico (AI I) está presente em cond ições 2009. Apesar de um estudo ter demonstrado alterações
normais na matriz extracelular. Trara-se de um poiL~saca­ nas características físicas da hidroxiapatitn de cálcio
rideo (glic<haminoglicano dissacarídeo, compo.~to por quando a lidocaina é adicionada, es:.as mudanças pare-
unidade.\ alternada.., rt>petida.~ de ácido 0-t;:lucurõnico e cem não ter relevãncia clínica."' Vale re.<>saltar que essa
N-acetii-D-gluc<hamina) com propriedades hidrofílica.~, manipulação do produto p!XIe :.e a'-\Ociar a maior risco
ou seja, uma afinidade muito grande pela.~ moléculas de de contaminação.
Capítulo 49 • Classificação dos Preenchedores 259

IN OI CAÇOES
- vitamina EH antes da aplicação, em um esforço para preve-
A indicação clá~ica dos preenchimentos é para o rejuve- n ir sangramentos e evitar hematomas e equ imoses.
nescimento da face em wdas as situações em q ue é necessária Contribu i também para sua popularidade o fato de
melhora do contorno, da relação cõncavo:convexo e do efeito os preenchedores, ao contrário de lasers e até mesmo de
de luz e sombra. Seu uso isolado, e muitas vezes combinado alguns peelings quím icos, não serem contraindicados em
com a injeção de toxina botulínica, promove resultados muito fototipos alws (IV.V).l;
satisfatórios e com incidência baixa de efeitos secundários. 11·u
As novas metas propostas pa ra os preench edores são PRINCIPAIS SÍTIOS DE APLICAÇÃO
alisar rugas, sulcos e, até mesmo, cicatrizes, volum izar de-
pressões, amen izar irregularidades, flacidez e esculpir a Sulco nasogeniano
face de maneira trid imensional. 23 G raças às aplicações no sulco nasogeniano, os preen-
Os preenchedores estão contraindicados em casos de ch edores se popularizaram. Para isso são descritas mú lti·
gravidez e lactação, e também não se recomenda seu uso pias técnicas (a mais comum é a de tunelização usando um
em casos de atividade au to imune, imunossupressão e tra- volume de 0,5 a 2mL),'6•17 sendo possível desde o uso de
tamentos com interferonn ácido hialu rõ nico e cristais de hidroxiapatita de cálcio, até
Também se recomenda que os pacientes evitem fárma- o uso do ácido polilático, mas sem d üvida o sucesso se dá
cos que induzam sangramentos, anti-inflamatórios não es- pela ind icação correta e criteriosa do paciente e a aplicação
teroides (AINE) e complexos vitamínicos q ue contenham precisa da técn ica (Figuras 49 .1 e 49.2).

Figura 49.1 A e B Aplicação em sulco nasogeniano, realizada em dois planos: 1m l de AH superficial de cada lado e 0,5ml de AH
profundo de cada lado. (Fonte: acervo da autora.)

Figura 49 .2A e B Aplicação em sulco nasogeniano de 0,5m l de ácido hialurônico de cada lado. (Fonte: acervo da autora.)
< 260 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

Figura 49.3A e B Restauração de volume e contorno dos lábios. totalizando 2m L. (Fonte: acervo da autora.)

Perilabial, contorno de lábios38 Olheiras e depressão do canallacrimal 39


Nessa região, os preenchedores podem ser aplicados Nessa região, evidencia-se a perda da co nvex idade
tanto para aumento e remodelação dos lábios como para natu ral entre a pálpebra inferior e a região ma lar, resu l-
correção de imperfeições, assimetrias e ritides perilabiais, tando em face ca nsada e sombra inestética. Isso se dá,
ch amadas de código de ba rras (nesta região geralmente as- normalmente, por herniação das bolsas de gordura in-
sociados à toxina botulínica) (Figura 49.3). fraorbitá rias e aplanamento e queda das bolsas de gordu·
Por se tratar de uma região mu ito d inâmica e sujeita a ra matares.
degradação rápida, há apresentações especificas de ácidos A injeção deve ser feita próximo ao periósteo, ou seja,
h ialurõn icos para essa região, com maior n ümero de reti· por ba ixo da muculatura na zona de trans ição entre a pál·
culação, melhorando a durabilidade e promovendo aspec- pebra inferior e a região malar.
to ma is natural ao preench edor. O proced imento é feitO conforme as técnicas de tu ne·
É indispensável bom senso no momento da aplicação lização ou mesmo de injeções em bo/,s.
labia l. Não se deve promover aumento exagerado e cari- Evitam-se preenchedores densos e permanentes, para
cato e nem mesmo buscar uma alteração mu ito d rástica que não ocorram irregularidades. Atualmente, têm sido
na arquitetura in icial, sob pena de provocar desarmonia preferido os polidensificados de AH, por serem considera·
facial. dos os que mais se ajustam ao loca l, promovendo aparên·
Não se deve esquecer de ava liar e, se necessá rio, co r- cia mais natural.
rigir o filtro, pois este pode servir de sustentação e em- O volume pode variar entre 0,5 e 2,0mL em cada lado
belezar o lábio. Além disso, qua ndo a pessoa envelhece, (Figu ra 49.4).
a distâ ncia nasolabial aumenta à custa da retração do
filtro.
C ristais de hid roxiapatita 12•18 e PMMA não estão bem
ind icados nessa região.

Restauração do volume e contorno faciaF·20.J8


Técnica popularizada recentemente, com o adven-
tO dos volumizadores, é aplicada em mültiplas s ituações,
sobretudo nas lipoatrofias e distrofias faciais, como as
causadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).
Podem ser usados os peenchedores de AH mais densos, Figura 49 .4 Preenchimento de olheira . À direita. já preenchido
com ma io r cross l.inking, PMMA e os cristais de hidroxiapa· e. à esquerda, o pré-procedimento. Usou-se 0,3m l de AH de
tita de cálcio. baixa densidade de cada lado. (Fonte: acervo da autora.)
Capítulo 49 • Classificação dos Preenchedores 261

Aumento malar38·40·41 se com a paciente o tratamento em duas ou mais sessões,


Pa ra promover uma aparência ma is convexa, aplica- para a correção gradual.
·se o volume necessário, em região s ubperióstea, em
leque ou bolu.s, e s imulando o reposicionamemo das Rejuvenescimento das mãos
bolsas de gordura. Alguns autores descrevem que a apli- Seguindo a tendência facial, os pacientes têm aumentado
cação em bolu.s está assoc iada a maior du rabilidade do
a busca por rejuvenescimento de mãos. O envelhecimento in-
resu ltado . trínseco das mãos é caracterizado pela perda da elasticidade
da derme e atrofia do tecido celular subcutâ neo. Assim, veias,
tendões e estruturas ósseas tornam-se aparentes; portamo, o
Linhas de marionete2.12·38 rejuvenescimento das mãos é atingido com mais eficiência
Pregas que se desenvolvem nas laterais da com issura med iante a restauração do volume dos tecidos (Figura 49.6).9
bucal geralmente estão associadas à.> pregas do sulco naso- Respeitando as particularidades técn icas de cada subs-
gen iano. De difícil manejo, devem ser corrigidas aos poucos tância, pode-se ind icar tanto o AH 2•41 como cristais de hi-
para manutenção do aspecto natural (Figura 49.5). Planeja- d roxiapatita de cálcio.1·9·H

Figura 4 9.5A e B Preenchimento de rugas de marionete e sulco nasogeniano com AH . (Fonte: acervo da autora.)

Figura 49 .6A e B Preenchimento de mãos com uso de AH volumizador 1,5ml. (Fonte: acervo da autora.)
< 262 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

Figura 49 .7A e B Preenchimento de glabela. (Fonte: acervo da autora.)

Glabela sivel um contro le mel ho r da dose e do lugar onde se


Em geral, o procedimento de preenchimento é asso- depos ita; além disso, observa-se menos inflamação ou
ciado ao uso de toxina botulinica.s Uma vez obtida a pa- edema 46
ralisação muscular, usam-se os preenchedores para corrigir
as depressões pers istentes (Figm a 49.7). Devem ser usados Elevação das sobrancelhas
sempre os que podem ser injetados mu itO superficialmen-
A elevação da sobrancelha por meio do uso de preen-
te. Não se aconselha o uso de preenchedores de derme pro-
chedores, com o objetivo de aumentar a definição da ó rbi-
fu nda, pela poss ibilidade de atingi rem a artéria angular e ta, promove, em alguns casos, uma aparência melhor que a
prod uzirem complicações graves de necrose cutânea.H
cirurgia tradicional. 46

Remodelação nasal Restabelecimento do volume das têmporas


A remodelação nasal mostra-se uma alternativa mu itO
A perda de volume nas têmporas é um sinal precoce
atraente em relação à cirurgia convencio nal, especialmente do envelhecimento com freq uência neglige nciado tanto
q uando se deseja aproveitar a ocasião para eleva r a ponta
pelo méd ico como pelo paciente. A projeção da têmpo-
do nariz.
ra mel hora o contorno do terço superio r da face, com o
Recomenda-se plicar a pele durante o procedimento, efeito secu ndário de alongamento e lifting da latera l da
para evitar a d ifusão lateral. São suficientes vol umes pe-
sobra ncelha.48
q uenos, 0,5 a I mL, para a obtenção do efeitO desejado 2 •44
Pode ser ind icada tanto para correções em dorso nasa l
como para indu zir levantamento na ponta nasal. Cicatrizes atróficas de acne
De d ifícil manuseio, as cicatrizes atróficas de acne
Periorbital apresentam-se como um desafio na prática d iária. Estudos
mostram que a injeção de pequenos volumes em mú ltiplas
A região periorbi tal é o local preferido para o surgi-
sessões pode melhorar a aparência e dar regu laridade ao
mento de rugas hipercinéticas e de expressão, sendo, por- tecido implantados
tanto, mais ind icado o uso de tOxina botulinica. Em al-
Nesses casos, também tem sido descrito o uso de ácido
gumas situações, os preenchedores podem ser aplicados, polilático com bons resultados a longo prazo 49
geral mete para correção de uma lin ha resid ual.
Trata-se de uma das áreas mais delicadas e complica-
das de se tratar. Por isso, recomenda-se certa experiência. Lóbulo da orelha
Alguns casos relatados de complicações provavelmente se Com a flacidez o riu nda do envelhecimento, essa re-
relacionam com má técn ica•; Esse tipo de complicação gião é ati ngida e forma pregas, apresentando-se inestética.
pode ser minimizado med iante o bloqueio nervoso com A injeção de preenchedor melhora esse aspectO e, com
a nestésico com vasoconstritor, com o uso de agulhas 30G, doses mínimas, restabelece a arq uitetura loca l. É interes-
injetando pouca quantidade e depos itando lentamente. 2 sante observar q ue, nessa região, o procedimento tende a
Alguns auto res recomendam sempre o uso de preen- ser mais duradouro que o habitual, por se tratar de ser um
chedores de AH de menor viscosidade, o que torna pos- local de pouca atividade metabólica.s
Capítulo 49 • Classificação dos Preenchedores 263

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PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

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,
Acido Hialurônico
Rozana Cast orina da Silva

As técn icas de preench imento cutâneo constituem labiais, sulcos nasogenianos, mod ificações dos co ntornos
proced imentos ci rú rgicos min imamente invas ivos por faciais e cicatrizes deprimidas da face. 1
meio do uso de materiais de preenchimento, os quais pro-
d uzem aumento o u repos ição de vol ume local.
Entre os preenchedores cutâ neos, o ácido hial urõn ico -
APRESENTAÇOES COMERCIAIS
(AH) se destaca por suas características cl ín icas, promoven- O AH é encontrado nas segu intes apresentações:
do procedimentos muito eficazes e relativamente seguros Restylane"', Perlane"', Hylaform"', Juvederm"', Teosyal 00 e
no rejuvenescimento facial. Renova<~>. O Derma l ive<~> e o Dermadeep<~> são preenche-
dores bifásicos que também apresentam AH em s ua com-
'
HISTO RICO pos ição.
O AH surgiu na med ici na como material preenchedor O Restylane"' contém uma concentração maior de AH
intra-articular em casos de osteoartri te, o gel de ácido h ia- que o Hylaform"'s·6
lurõn ico,' obtido a partir de moléculas de polissacarídeo
interligadas entre si, não servindo para implante cutâneo_!
O AH utilizado para implante cutâ neo é obtido por CARACTERÍSTICAS
meio de cultura de bactérias. Após o implante, o AH local iza-se entre os feixes de
colágeno. Ocorre a expa nsão do AH por absorção de água.
' A injeção do AH é feita na derme méd ia. O Restylane"' e
CARACTERISTICAS
o Hylaform"' são aplicados util iza ndo-se agulhas 30G e o
O AH é um polissacarídeo encontrado natu ralmente
Perlane<~>, 27 \lí.;
na derme.
A agul ha é acoplada à seringa por meio de um supor-
O AH polimeri zado é obtido por meio da fermentação
te rosqueado, para q ue não se desconecte. A técnica para
de bactérias o u a part ir da extração animal e apresenta al-
rugas superficia is é linear-traçante-retrógrada ou ponto a
gumas diferenças quanto às características de plasticidade.
ponto.1
É característica a perda de volume com o tempo, sem pro-
d uzir fibrose. Ocorre reabsorção gradativa e total do ma-
terial cerca de 6 meses a I ano a part ir de sua aplicação.1•4
VANTAGENS
-
IN OI CAÇOES
O AH apresenta algumas vantagens como preenche-
dor, como, por exemplo, ma ior duração do efei to, ba ixo
As indicações de preench imento com AH são: rugas risco de processos alérgicos e o fato de ser facilmente im-
superficiais, rugas de méd ia profu ndidade, sulcos mento- plantado.

265
PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

-
CONSIDERAÇOES FINAIS
2. Balazs EA, Oenlinger JL. Viscossupplementation: a new con-
cept in the treatment of osteoarthritis. J Rheumatol 1993;
{suppl. 39):3-9.
As técnicas de preenchimento cutâneo com AH co ns- 3 . lsaac C. Substâncias biodegradáveis. In: Maio M . Tratado de me-
dicina estética. Vol. 11. São Paulo: Roca, 2004.
tituem procedimentos bastantes seguros. Não apresentam
4 . Hexsel O, Oai'Forno 1 Técnicas de preenchimento cutâneo. In:
efeitos adversos e, quando ocorre alguma complicação, Ramos-e-Silva M, Castro MCR. Fundamentos de dermatologia.
esta é decorrente da técnica inadequada. Essas complica- São Paulo: Atheneu, 2010.
ções têm cará ter transitório. Os prenchimentos com AH 5. Klein AW. Temporary fillers. In: Nouri K, Leai-Khouri S. Techni-
são basta ntes eficazes no rejuvenescimento e na recupera- ques in dermatology surgery. Miami: Mosby, 2003:281-92.
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,
Acido Poli-l-lático: Melhores Indicações
Lú cia Helena Sampaio de Miranda

A área médica, em especial a dermatologia, vem se O prod uto é de fácil aplicação, porém se faz necessário
beneficiando nas últimas décadas das muitas técnicas e treinamento adequado para utilização segura.
produtos util izados para preenchimento e volumi zação. O As principais indicações do ácido poli-L-Iático são:
objetivo ma ior é tentar minim izar os sinais do envelheci- o Pacientes com lipoa trofia em qualquer estágio.

mento, como rugas e a perda do volu me por red ução do o Sulcos nasogen ianos.

tecido celular subcutâ neo, além do fotoenvelh ecimemo, o Rugas de moderadas a p rofu ndas .

sendo o ácido poli-L-Iático uma das melhores opções e a o Deficiência de contorno.

vedete do momento. o Celulite e flacidez nas mais d iversas áreas, especialmen-

O ácido poli-L-Iático é um polímero biocompatível, te glü teos, coxas e abdome.


inerte e totalmente reabsorvível, biodegradável e imuno- o Faces envelhecidas e pele afinada.

logicameme inativo. Sua forma cristalina e seu altO peso o Flacidez dérm ica tricipital.

molecular (140.000 dá ltons) asseguram lema reabsorção


e prolongada duração de preenchimento tecidua l. Além RECONSTITUIÇAO
-
disso, observa-se ausência de reações de imunogenicidade.
O prod uto deve ser d ilu ído o u reconstitu ído em água
No Brasil, foi aprovado para uso em lipoatrofia rela-
destilada (flaconetes de JOmL) e ficar em repouso dentro
cionada ao HIV, o que já é ro tina nos EUA, e vem sendo
da embalagem de 24 a 72 horas para posterior aplicação,
usado off label para fi ns cosméticos.
porém não há consenso quanto ao volume utilizado, va-
Quando injetado, sempre em um plano profundo, na
ria ndo, segundo as publicações, de 4,5 a 8mL (média de
junção da derme-hipoderme, tem a função de estimular os
6m L), associados a anestésicos com vasoconstritOr no mo-
fibroblastos a p roduzirem um novo colágeno para restaura-
mento da aplicação.
ção do volume perdido da pele.
Na prática, é preferível manter a d iluição padrão de
O efeitO de volu me ou l.ífting, expresso por espessa-
6m L para a face e 20mL para o corpo. O prod uto deve
mento na derme, geralmente é observado após a segunda
ser mantido em temperatura ambiente e agitado imediata-
aplicação, com intervalo de cerca de 2 meses, com resposta
mente ames do procedimento.
que du ra até 2 anos.
O importante é ressal tar que pode ser dada vida lo n- , -
TECNICA DE APLICAÇAO
ga a esse p rocedimen to, orienta ndo os pacientes a faze-
rem, após o tratamento inicia l, uma ou d uas aplicações Várias técnicas podem ser usadas, porém a mais util i-
anuais. zada é a retrógrada cruzada, com introdução da agulh a na
A principal via de eliminação do ácido pol i-L-Iático é junção derme-hipoderme ou no tecido subcutâneo e apli-
por degradação, conversão em monõmeros de ácido lático cação de 0,05 a O, JmL por pomo, dependendo do objetivo
com eliminação pulmonar sob a forma de gás carbônico. do méd ico, líftíng o u volume (Figura 51.1).

267
< 268 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

Derme profunda

Hipoderme

Nível de aplicação
recomendada

Figura 5 1 . 1 Técnica de aplicação- nível de aplicação do produto.

Além da técn ica com agu lha, o uso de microcãnulas tos e técn icas cirúrgicas, o que, além de ser extremamente
permite o acesso a planos mais profundos, com maior con- invasivo, sempre deixa uma cicatri z. Após comprovados
forto e menor incidência de hematomas. resultados no tratamento facial e do dorso das mãos, em
Para o sucesso do procedimento são necessárias de outubro de 2009, Daniel Coimbra iniciou um tratamento
uma a nove sessões (em média três sessões) com intervalos revolucioná rio com a aplicação do ácido poli-L-Iático em
de 4 a 6 sema nas, para evitar sobrecorreção. outras áreas extrafacias, como as regiões mediai e anterior
É fundamental a massagem realizada pelo médico após dos braços, faces anterior e med iai das coxas e abdome. O
a aplicação, até mesmo para orientar o(a) paciente qua nto sucesso foi absoluto, pois os resu ltados são prom issores e
à pressão a ser imposta e aos movimentos corretos, um dos comprováveis logo após a primeira aplicação, com franca
principais pilares do tratamento. retração do colágeno nas regiões tratadas.

-
PLANO DE APLICAÇAO EM DERME PROFUNDA Técnica descrita
OU TECIDO SUBCUTÂNEO
Uso corporal
Efeitos colaterais O prod uto deve ser reconstitu ído, 24 a 72 horas ames
Raramente ocorrem efeitOS colaterais. Q uando ocor- do procedimento, com 8mL de água destilada estéril (fla-
rem, principalmente por aplicação em planos errados, o co netes de lOm L) e preservado em temperatura amb iente.
mais comum é a presença de pápulas ou nódulos subcutâ- No momento da aplicação, o frasco deve ser agitado vigo-
neos. Sua incidência, porém, pode ser red uzida por meio rosamente até a homogeneização do produto, adicionando
de ma io r dil uição, aplicação no tecido subcutâneo, massa- 2m L de lidocaina com vasoco nstri to r.
gem após a aplicação e orientações para massagens poste- Paralelamente, prepa ra-se sol ução de lOm L, utiliza n-
riores em domicílio. do 8mL de água destilada e 2m L de lidocaina a 2%, com
O co nhecimento técn ico e anatõm ico do profissional, ou sem vasoconstritOr (dado o gra nde volu me obtido).
bem como treinamento adequado e uso em áreas corporais A~s i m, somando-se os volumes do frasco e da solução, a
apropriadas ao tratamento, garante a eficácia e o sucesso d iluição final utilizada por frasco de ácido poli-L-Iático é
terapêutico. de 20m L.
Grande pa rte das publicações refere-se à utili zação do A região do braço a ser tratada é demarcada e divid i-
ácido poli-L-Iático no rejuvenescimento facial e cervical, da em qua tro quadrantes. Utilizando seringas Luer-lock de
sendo escassos os estudos que mencio nam o utras áreas I mL, aspira~e 0,4mL do produtO e 0,6mL da solu ção.
corpora is, como mãos e colo. A aplicação é realizada com técn ica retrógrada li nea r
Tratamentos para melhora dos sinais do envelhecimen- ou cruzada, como habitualmente, deposita ndo-se aproxi-
to na pele dos braços, como flacid ez, têm sido descritos e madamente 0,05mL do produtO na derme profunda em
abordados: rad iofrequência, infravermelho, preenchimen- cilindros paralelos ou cruzados.
Capítulo 51 • Ácido Poli-L-Iático: Melhores Indicações 269

Deve ser ressaltado que o méd ico que atua nesse ramo
da d ermatologia deve ter um olhar visagista, respei tando
aspectos individua is d o(a) paciente, bem como mantendo
a harmonia e a naturalidade, evitando exageros e desfigu-
rações d o(a) paciente.

Uso no pescoço e nas mãos


Figura 51 .2 Aplicação do ácido poli-l:lático nos braços: antes e Usa-se a dilu ição preconizada para tra tamento corpo-
imediatamente após. (Fonte: acervo da autora.)
ra l, tanto com técn ica linear como retrógrada.

Em cada quadrante utiliza-$e, aproximadamente, 1,25mL -


CONSIDERAÇOES FINAIS
do produtO, totalizando 5mL por braço. Após a aplicação,
é realizada massagem vigorosa no local tratado durante 10 a
Os resultados efetivos são claros 4 semanas após a pri-
15 minutos, e o(a) paciente é oriemado(a) a realizar o mes-
meira aplicação, notadamente pela melhora da textura da
mo procedimento e m casa, duas vezes ao d ia, durante 10 a
pele no local tratado e a diminu ição da flacidez, porém os
20 dias.
resu ltados são mais evidentes a partir da segu nda aplicação.
Em cada sessão são utilizados 10m L do produto para A dermatologia vem evoluindo e m determinadas
os dois b raços; na face, 6mL O número de sessões varia
áreas, especialmente no tratamento do envelhecimento
de duas a quatro com interva los de, aproximadamente, 4 cutâneo por meio do rejuvenescimento com o uso de téc-
semanas (Figura 51.2).
n icas menos invasivas, não cirúrgicas. Nesse contexto, vem
ganhando maior número de adeptos ao longo d os anos.
Uso facial Uma estratégia importante para reverter os s inais d e e n-
O produto é reco nstituído com 4 a 6 mL d e água d es- velhecimento consiste na reposição d e volume no tecido
tilada estéril (flaconetes de 10m L) e preservado em tempe- fibroco njuntivo. A técn ica d e aplicação de ácido poli-L-Iá-
ratu ra amb iente por 24 a 72 horas. No momento da apli- tico estimu la a reposição d esse volume por neocolagênese
cação, ad icionam-se 2m L de lidocaína com vasoconstritor. e proporciona à face envelhecida uma aparência na tura l.
A aplicação é realizada com técnica retrógrada li near As áreas de ma ior ind icação são o terço inferior da face, a
ou cruzada, como habitualmente, deposita ndo-se aproxi- região mala r e os sulcos nasolabiais e labiomento n ianos.
madamente 0,05 a 0,1mLdo produtO na derme profunda. Dentre as indicações d o ácido poli-L-Iático ressalta-$e
Após a aplicação, é realizada massagem vigorosa seu uso no tratamento d e pescoço, colo e dorso das mãos.
no local tratado durante 10 minutos, e o(a) paciente é Vale ressaltar que a profundidade da aplicação interfe-
orientado(a) a realizar o mes mo e m casa, duas vezes ao d ia, re no resultado obtid o pelo tratamento.
durante 10 dias. O local ind icad o é a derme profunda ou o subcutâ-
O resul tado obtido pela paciente mostrado na Figura neo, dim inu indo assim a possibil idade d e formação d e
5 L3 se mantém e apresenta melh ora cada vez maior, haja nód ulos, porém mantendo o pro dutO em co ntato com os
vista que são feitas duas aplicações an uais do ácido poli-L- fibroblastos, o que provavelmente leva a maior produção
-Iático. de colágeno e melho res resultados.

Figura 51 .3A e B Agosto de 2010. C Janeiro de 2011. O Outubro de 2011.


< 270 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

Mostra-se mu ito satisfatório o uso de ácido poli-L- Garcia RC, Garcia AC. Uso de microcãnulas em tratamento de res-
t auração do volume facial com ácido poli-l:láctico. Surg Cosmet
-Iático em combi nação com tox ina boru lin ica, hidroxia- Dermat ol 2011 ; 3(1 )74-6.
patita de cálcio e ácido hialurô nico, em proced imentos Lowe NJ, Maxwell CA. Lowe P. Shah A. Patnaik R. Adversa react ions
combinados e complementares para o rejuvenescimento to dermal fillers: Review. Dermatol Surg 2005; 31 (11 pt 2): 1616-25.
da face. Lowe NJ, Maxwell CA, Lowe P, Shah A, Patnaik R. lnject able Poly-1-
lactic acid: 3 years of aesthetic experience. Dermatol Surg 2009;
Neste momento, é cada vez maior a busca por proce- 35 (Suppl 1):344-9.
dimentos mais segu ros, eficazes e minimamente invasivos Mazzuco R, Hexsel D. Poly-l:lactic acid for neck and chest rejuvena-
e, obviamente, com comprovação científica. Com a nova t ion. Dermatol Surg 2009; 35(8): 1228-37.
ind icação do ácido pol i-L-Iático corpora l estão sendo pro- Murad A, Hayes G, Edward MK et ai. ASDS guideines of care: inject-
able fillers. Dermatol Surg 2008; 34(Suppl 1): 115-48.
porcionados resultados efetivos e du ráveis, possibilitando
Paim MO, Woodhall KE, Bunerwick KJ, Goldman MP. Cosmetic use
a resolução de problemas q ue há bem pouco tempo só era o f Poly-~lactic acid : a retrospectiva st udy of 130 patients. Derma-
possível por meio de cirurgia plástica. O ácido poli-L-Iático t ol Surg 2010; 36(2):161-70.
pode, sem d üvida, ser cons iderado "cirurgia plástica sem Peterson JD, Goldman MP. Rejuvenat ion of the aging chest: a review
and our experience. Dermatol Surg 2011 ; 37(5):555-71.
cortes " .
Redaelli A, Forte R. Cosmetic use of polylactic acid: report of 568
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Referências report on 27 patients. J Cosmet Dermatol 2006; 5(3):233-8.
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Distante F. Pagani V. Bonfigli A. Stabilized hyaluronic acid of non-an- cy for rejuvenation. Clin Dermatol 2008; 26(6):602-7.
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Hidroxiapatita de Cálcio: Melhores Indicações
Lúcia Helena Sampaio de Miranda

APELE A maior parti! do envelhecimento extrínseco, ou fo-


Fonte de prazer como nenhuma outra região do cor- toem'elhecimenm ou dermato-heliose, se tle''e à radiação
po, a pele é o lócus da individualidade, autoeMima e au- solar, que tem efeito ncumulativo, e cuja maior J.'1'3Vidade
toimagem, e sempre provoca a primeira impre_,,,ão_ É um depende do forotipo, da frequência e do tempo de expo'>i·
tema que transcende_ ção ao longo da vida. A~ principais alteraçõe. da pele re-
Afinal, o que caracteriza uma pele jovem? Na verda- lacionada; com o sol são elastose solar, leucodermia ;olar,
poiquilodermia solar, queilire actínica e queramse actinica.
de, não é um conceito tão simples como parece. Uma
pele sã ou eudérmica compreende fatores fundamenta is, O que exi>te hoje para atenuar os sinaL~ do tempo e,
por outro lado, posterga r e preven ir os efeitOs indesejáveis
como flexib ilidade e elasticidade, ausência de discromias,
aspecto liso e aveludado, relevo fino e não b ri lhante, au- do fmoenvdhecimento?
sência de sinais ou lesões, bem como queratin ização, des- Diversos procedimentos são realizados no sentido de
melhorar o aspecto dn face ou do corpo, dentre os qua is se
camação, secreção sebácea, mamo hidrolipídico e suor
destacam O> preenchedores cutâneos.
em equilíbrio.
Mesmo sã, a pele envelhece, e é impol>~ível falar sobre
pele sã sem pensar na pele envelhecida. Ne,..,e comexro, os PREENCHEDORES CUTÂNEOS
principais sinaL~ do envelhecimento ~ão a., alterações na Atualmente, um dos grandes desafios da dermatologia
textura (queraroses actínicas, querato~~ sehorreicas, mela- moderna con... bte na utilização de materiaL~ dbponi\\~i;, no
nodermias), xerose, rugas, sulcos ou proses e flacidez. mercado para rejuvenescimento facial e corporal dos mais
A radiação solar (UVA, UVB e luz visível) é considera- diferentes tipos <! características. Nos últimos 20 anos :.urgi·
da o fator principa l na gênese do envelhecimento. ram métodos, proced imentos e materiais ofertados no cam-
O envelhecimento pode ser classificado de duas formas. po da dermatologia e.~tética. Duas categorias de implantes
Por um lado, o envelhecimento intrínseco ou cronológico se estão disponivds para util ização: i mplante.~ biodegradáveis,
in icia a pa rtir da quarta década ele vida e é natural, relacio- de origem anima l, biológicos ou sintéticos, que t~m corno
nado com a genética, déficitS hormonais e d iminuição de caracteri>tica a absorção pelo organismo, e os implame:. não
mdanócitos e da produção de colágeno, e de cena maneira biodegradá\'eb ou permanentes, de origem sintética.
e:.perado. Por ourro lado, o em'elhecimento extrínseco eStá Algun> critério~ são pré-re<.tuisitos para a e>colha e ;ão
mab relacionado com o estilo de vida e os cuidados bási- importante.., para o conhecimento médico e >lia deci,ão
co..,, como foroproteção, alimentação ~udável, controle do tera~utica:
e:.tre-""oe, tabagismo e alcoolismo, dentre outr<h. • B iocompatibilidadc:
O envelhecimento intrínseco, ou cmnesci!ncia, man i- - Polímero.
fe:.ra-se por alterações na textura da pell', nn elasticidade, - Oligôm,;ro, monômero residual, produws de degra-
perda de volume ou flacidez, sulcos ou rugas. dação.

271
< 272 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

- Forma. Características da hidroxiapatita


- Propriedades de superfície. Dentre as várias características apresentadas pelo pro-
- Características de degradação. d uto, chama m a atenção as de maior relevâ ncia:
o B iofu ncion alidad e: o Biocompatibilidad e: as microparticulas co ntêm superfí-
- Propriedades (isicas. cie lisa e formas regu lares, proporcionando um aumento
- Propriedades mecâ nicas. ma ior do tecido sob a forma de fibroblastos e fibras co-
- Propriedades b iológicas. lágenas neoformadas. Uma monocamada de macrófagos
o Estab ilidade: circu nda a superfície das microparticulas, comprovando
- Tratamento. a biocompatibil idade, ao passo que microparticu las com
- Esteril ização. superfície rugosa e taman ho e forma irregulares promo-
vem a formação de gra nu loma de corpo estranho como
Os critérios descritOS, assim como as características fí- característica p redominante da resposta biológica a lon-
sico-qu ímicas de cada material, certamente influenciarão a go prazo nos preenchedores defin itivos (Figura 52.2).
estabilidade, a b iocompatibilidade e o tempo de duração no
tecido, bem como se apresenta o u não características de es-
timulo à neocolagênese, o grande d iferencial do momento.


HIOROXIAPATITA DE CALCIO
A h idroxiapatita de cálcio (Radiesse®, BioForm Me-
dicai, Sa n Mateo, Califórnia) é um preenchedor cutâ neo in·
jetável sintético composto por microesferas de h idroxiapatita
de cálcio (30%) suspensas por um gel carreador de caboxi·
metilcelulose (70%). A uniformidade das micropartículas,
que varia m de 25 a 45~1, garante a segurança em relação à
forma de degradação no orga nismo, fagocitOse e à migração
para outros sítios que não foram tratados. Os componentes
da h idroxiapatita de cálcio são naturalmente prod uzidos no
organ ismo humano, corroborando com uma cond ição funda-
mental para esse tipo de procedimento, a biocompatibilidade.
A hidroxiapatita de cálcio apresenta-se com um du plo
efeitO imed iatamente após a aplicação:
o Preench imento imediatO.

o Efeito duradouro, po r cerca de 18 a 24 meses.

Figura 52.1 Partículas de hidroxiapatita de cálcio (CaHA) esféri- Figura 52.2 Superfície das micropartículas de hidroxiapatita de
cas e uniformes. (Fonte: acervo da autora.) cálcio. (Fonte: acervo da autora.)
Capítulo 52 • Hidroxiapatita de Cálcio: Melhores Indica ções 273

• Segurança: diretamente relacio nada com a biocom- Na Figura 52.5 observam-se partículas de hidro-
pati b ilidade, co nsis te na reação que o produto de- xi apa tita de cá lcio (CaHA), macrófagos entremeados
sen cadeia na pele. Trata-se do grau de resposta infla- no gel, fibroblastos formando colágeno e novo tecido
matória que vai ocorre r e, nesse co ntexto, ressalte-se circundante fixando as partículas. Em 6 meses ocorre
que são as características de superfície lisa e tamanho a deposição de novo colágen o. O colágeno tipo I é o
regu lar das micropartículas que determina rão a segu- mais exp resso em 6 meses, e pequen as qua ntidades
rança. do colágeno tipo I li também estão p rese ntes no estro-
• Maior duração: o gel injetado na composição do pro- ma neoformado.
duto é reabsorvido em um intervalo de I a 3 meses, • Viscosidade: é a medida da capacidade de um materia l
gerando resposta de indução de colágen o, com melho- resistir a uma força a ele aplicada. Refere-se ao movi-
ra visível e comprovada por exames histOpawlógicos 6 mento do material em resposta à força a ele imposta.
meses após a aplicação. Devem ser cons iderados fato res Quanto maior a viscosidade de um material de preen-
relacionados com respostas individuais, como metabo- chimento dérmico, mais provavelmente esse produtO
lismo, pacientes atletas ou com comorbidades preexis-- permanecerá no local preenchido. Em estudo realizado
tentes. com hidroxiapatita de cálcio, compa rando as substâ n-
• Biodegrabilidade: trata-se do modo como o prod uto cias Restyla ne~ e Juvederm<l!l, a h idroxiapatita demons-
é eliminado pelo organ ismo, ou seja, fagocitOse por trou ter maior viscosidade. C linicamente, os resultados
macrófagos e eliminação de íons de cálcio e fosfatO na obtidos pelo estudo mostraram que a hidroxiapatita de
urina e provável ação enzimática do tecido adjacente cálcio permaneceu no local após a injeção, reduzindo os
(Figura 52.4). temores de migração do produto.

Figura 52.3A. Partículas de hidroxiapatita de cálcio degradadas e microcristais de cálcio e fosfato sendo fagocitados por macrófagos.
8. Partículas da hidroxiapatita de cálcio entremeadas por fibroblastos e neocolágeno. (Fonte: Coleman, 2008.)

Figura 52.4 Forma de degradação da hidroxiapatita de cálcio. (Fonte: Marmur, 2004.)


< 274 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

Plano de aplicação
Grande parte das complicações com preen ch edores
cutâ neos se deve à má técnica, uma vez que até mesmo
preenchedores ''inofensivos" como o ácido hialu rõnico
podem vi r a for mar um gra nu loma de cor po estranh o, se
aplicados em plano errado. Isso se aplica a tOdos os preen·
chedores cutâneos, sendo ind ispensável, além do co nheci·
mento médico em anatomia, o con hecimento das carac·
teristicas do produtO, bem como tre inamento adequado.
O plano de aplicação da h id roxiapat ita de cálcio é na
junção denne-h ipoder me ou der me profunda, pa ra que o
estimulo do colágeno seja eficiente.

Técnica de aplicação
O produtO deve ser aplicado na ju nção derme-h ipo-
Figura 5 2.5 Histopalogia com 16 semanas. Presença de hidroxia- derme med iante técnica com o uso de câ nula ou agulha
patita de cálcio (CaHA) e fibroblástos formando colágeno . Matriz 26Gl/2 ou 27GI/2, dependendo do trei namento e da
combinado CaHA e tecido colágeno. (Fonte: Coleman, 2008.) preferência ind ividua l, como mostra a Figura 52.7.

Derrne profunda

Junção derrne-hipoderme

Hipoderrne

Nível de aplicação
recomendada

Junção derrne-hípoderrne-subcutáneo-supraperiostal

Figura 52.6 Plano de aplicação do produto. (Fonte: Recomendações do laboratório Merz-Biolab.)


Capítulo 52 • Hidroxiapatita de Cálcio: Melhores Indica ções 275

Ângulo 90°

Derme-hipoderme

Subcutâneo

Mãos Figura 5 2.8 Biofilme de Staphylococcus aureus intracateter.


• Para a formação do biofilme. o material injetado deve ser per-
Figura 52.7 Técnicas de injeção. (Fonte: Recomendações do manente.
Laboratório Merz Biolab.) • Bactérias da flora natural da epiderme ou contaminantes po-
dem ser introduzidas com a agulha no momento do implante.
Marcações para aplicação do produto • O biofilme permanence "dormente'' na superfície do implante
e pode ser ativado com a aplicação de um novo preenchedor.
Segui ndo as marcações cláSsicas para aplicação com agu- • Staphylococcus epidermidis, S. aureus, Candida sp., antero-
lha ou câ nu la, o produto deve ser depositado nos loca is de- coco e outros .
sejados com técnicas de retroi njeção, em bol.u.s o u em leque. (Fonte: Anvisa Módulo 4 : Gram-positivos. Disponível em http://
No q ue se refere à ind icação para as mãos, revela-se www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/
como em procedimento com excelentes resultados tanto boas_praticas/modulos/intr_sta.htm. Acesso em 18/05/2013 .)
nos aspectos referentes ao rejuvenescimento como naque-
les relacionados com a hid ratação. Por ser um produtO ra- Quanto ao procedimento com o preench edor escolh i-
d iopaco, vale lembrar q ue o paciente deve ser informado do, seja q ual for, são destacados algumas opções seguras:
dessa característica, pois é visível aos exames de imagem • A dorexid ina a 2% mostra-se superior ao polivin ilpirro-
(radiografia, tomografia computadorizada), porém não lidona-iodo PVP-1 a 10% e ao álcool a 70%.
compromete nenhuma imagem de partes moles o u ósseas. • A clorexidina alcoólica tem a vantagem de combinar os
A~ mãos envelhecidas evidenciam uma pele áspera e xeró- benefícios da rápida ação germicida do álcool com a ex-
tica e depressões (esqueletização) e tendões aparentes, e a celente ação resid ual da clorexid ina .
hid roxiapatita de cálcio auxilia a recuperação do aspecto • Gluconaro de clorex id ina a 2% em alcóol isopropílico
saudável da pele, além de ser um proced imento seguro. a 70%.

Anestésicos
Assepsia e antissepsia
• Os cuidados com assepsia e a ntissepsia são fundamen-
Anestesia local
ta is, haja vista q ue inúmeros trabal hos demonstram que • Tópica.
casos de necroses ou inflamações estão relacionados • Bloq ueio infraorbital, mental, supratroclear ou supraor-
com o biofilme, e preenchedores cutâneos não absor- bital.
víveis esta riam mais diretamente relacionados (Figura • In filtração loca l.
52.8). No entanto, problemas semelh antes podem ser • Lidoca ína a I% ou 2% com ou sem ad rena lina.
• O efeito anestésico tópico é limitado à epiderme e der-
encontrados com o uso de preench edores absorvíveis,
me superficial.
em razão da inoculação com agulha na pele não devi-
• Derme profu nda e h ipoder me não se beneficiam da anes-
damente limpa, pela própria flora residente da pele. Os
tesia.
b iofilmes são comu nidades biológicas cuj as bactérias se
• Utilizada apenas para diminuir o desconforto da puntura.
formam de modo estruturado, coordenado e funcional.
• Sugestão de for mulação a ser ma nipulada na prática
• Essas comunidades biológicas encontram-$e embebidas em
atu al - uso tópico:
matrizes poliméricas produzidas pelas próprias bactérias.
Lidocaína 20%
• Os biofilmes podem desenvolver-se em q ualq uer super-
Benzocaína 10%
fície úmida, seja ela biótica ou abiótica.
Tetracaína 7%
• Formam-$e em qualquer superfície e em qualquer ambien-
C reme qsp xg
te (p. ex., condutos de água, pennutadores de calor, cascos
de navio, na pele e mucosas de an imais, incluindo o ho- É importante destacar q ue, dependendo do local de
mem, nos dentes e no tecido subcutâneo). tratamento, o bloqueio pode ocasionar d isto rção transitó-
< 276 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

ria da área tratada (p. ex., região malar e canal lacrimal nar as vias de sa ída para que não haja perda de material.
com bloqueio do nervo infraorbital). Além disso, deve ser A saída maior deve estar fechada, de modo q ue a estrutu·
ressaltado a necessidade de co nhecimento anatômico para ra vermel ha que d ireciona a saída esteja hori zo ntalmente
evitar transtornos desnecessários. d irecionada para ela. A~ outras duas saídas devem esta r
Apesar de transitórios, esses efeitos temporários de acopladas à seringa do Rad iesse"' e à seringa comum com
paralisia ou distOrções são extremamente desconfortáveis a lidocaína, para rea lizar a homogeneização (Figura 52.9).
para o paciente e desnecessários.

Homogeneização com lidocaína Principais indicações


A homogeneização se faz de acordo com a apresenta· A h idmxiapatita de cálcio (Radiesse"') tem como prin·
ção do prod uto: cipais indicações criar volume e preencher locais que neces-
o Radiesse"' l,SmL: homogeneização para face: 0,3cc de
s item de reparo. Para evitar a supercorreção, sugere<;e que
lidoca ína a 2% com ad renalina em uma seringa comum o bom senso seja respeitado, bem como as características
de I ou 3mL; para as mãos, 0,6cc acoplado ao mistura· ind ividua is do paciente, para evitar exageros (Figura 52.10).
dor trifás ico (que acompan ha o produtO) em uma das
saídas. Para as mãos, a diluição é de 6cc sem adrenali na, Efeito preenchedor
por se tratar de extremidade e haver risco de necrose. o Correção nasa l.
o Radiesse"' 0,8mL: usar 0,15cc de lidocaína com ad re-
o Sulco nasogeniano.
nalina para a face e 0,3cc de lidocaína sem adrenalina o Comissura labia l.
para as mãos.

Vale ressa ltar que a seringa deve ser cu idadosamente Efeito volumizador
e nca ixada no misrurador trifásico, lembrando de posicio- o Região temporal.
o Malar/ zigomático.
"' o Lóbulo de orelha.
o Lipoatrofias.
·~
o Contorno de mandíbula.
o Prega menton ian a.
o Mento.
o Mãos.

.... •'' '


CARACTERISTICAS DO PRODUTO
A hid roxiapatita de cálcio vem pronta para uso e re-
Figura 52.9 Kit para homogeneização. (Fonte: Laboratório Merz- comenda-se que seja aberta diante do paciente e não seja
-Biolab.) guardada após aberta a embalagem (Figura 52.1 1).

- -- - Glabela

- -- - Regiloortlicular

- - - Rugas peribucais - - - - Regoio perio110l

- - - linha maxilar
- - - Prega mentonlana

Figura 52. 10A Locais de aplicação. B Locais desaconselháveis para aplição. (Fonte: Laboratório Merz-Biolab.)
Capítulo 52 • Hidroxiapatita de Cálcio: Melhores Indicações 277

-
-

--...._
• ~=

Figura 52.11 Características do produto: seringas estéreis de 1,5


e O,BmL previamente preenchidas e embaladas em bolsas lamina-
das; uso único; sem necessidade de manuseio especial; guardar
em temperatura ambiente; período de validade de 2 anos quando
armazenado; pronto para uso. porém homogeneização indicada.

Resultados

Antes da aplicação 30 dias após 1,5ml

Figura 52.12 Antes e depois da aplicação- correção de região malar e sulco nasogeniano. (Fonte: acervo de Lúcia Helena Sampaio
de M iranda.)

Antes da aplicação Imediatamente após aplicação de 3m L

Figura 52.13 Antes e depois da aplicação - correção de região malar, zona periorbitária, sulco nasogeniano e ruga de marionete.
(Fonte: acervo de Lúcia Helena Sampaio de Miranda.)
< 278 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

Antes da aplicação 60 dias após 1,SmL

Figura 52.14 Antes e depois da aplicação- correção de região malar. (Fonte: acervo de Lúcia Helena Sampaio de Miranda.)

Antes da aplicação Imediatamente após 1 ,SmL

Figura 52 .1 5 Antes e depois da aplicação -


correção de região mala r. (Fonte: acervo de
Lúcia Helena Sampaio de M iranda.)

Antes da aplicação Imediatamente a pós 3m L

Figura 52 .16 Antes e depois da aplicação -


correção de região malar, zona periorbitária,
sulco nasogeniano e ruga de marionete. (Fonte:
acervo de Lúcia Helena Sampaio de Miranda.)
Capítulo 52 • Hidroxiapatita de Cálcio: Melhores Indicações 279

Antes da aplicação Imediatamente após 1.5ml

Figura 52 .17 Antes e depois da aplica-


ção - correção de região malar e sulco
nasogeniano. (Fonte: acervo de Lúcia
Helena Sampaio de Miranda.)

Antes da aplicação Imediatamente após 1,5ml

Figura 52.18 Antes e depois da apli-


cação - correção de região malar, sulco
nasogeniano e ruga de marionete. (Fon-
te: acervo de Lúcia Helena Sampaio de
Miranda.)

Aplicação de 1,5ml pa ra as duas mãos.


Antes
d iluidos em 0,06ml de lldocaina

Figura 52.19 Antes e depois da aplicação- preenchimento de mão. (Fonte: acervo Lúcia Helena Sampaio.)
< 280 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

Após 90 dias 1,SmL para as duas mãos ,


Antes diluído em 0,06mL de lidocaina

Figura 52. 2 0 Antes e depois da aplicação- preenchimento de mão. (Fonte: acervo Lúcia Helena Sampaio.)

-
CONSIDERAÇOES FINAIS
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Capítul o 52 • Hidroxiapatita de Cálcio: M elhores Indicações 281

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Complicações dos Preenchimentos
Louraneide Maciel Tavares

A dema nda por preenchimentos dérmicos para res- Em geral, os impla ntes são realizados de acordo com a
titu ição volumétrica, tratamento de rugas e inestetismo substância util izada.
tem aumentado. Os preenchimentos injetáveis devem ser
seguros, efetivos, de longa duração e com baixo índ ice de
TIPOS DE PREENCHEDORES
complicações. A cada d ia novos prod utos são apresentados
com novas especificações, alguns deles com pouca evidên- Os preenchedores podem ser classificados como tem-
cia em estudos controlados. porários, semipermanentes e perma nentes, sendo caracte-
Todos esses preenchedores são pass íveis de complica- rizados também de acordo com a substância util izada. São
ções nas mais d iversas frequências e intens idades. Novos aprovados pa ra fi ns estéticos: ácido hialurõn ico, colágeno,
prod utos, principalmente os derivados do ácido hialurô- ácido poli-G iático, hidroxiapatita de cálcio, gordu ra autó-
nico, vêm apresentando renovações e aperfeiçoamento, loga e poli metilmetacrilaro (PMMA).
com ampliação de suas indicações e d urabilidade do efei- Apesar de não ser aprovado no Brasil, o silicone ai nda
to. Contudo, o produtO ideal ainda não foi descoberto, e é usado de maneira irregular e velada. Assim, surgem mu i-
todos eles podem induzir reações adversas. tas complicações.
São muitOs os agentes dispon íveis, algu ns dos qua is
são menos arriscados q ue outros. À~ vezes o paciente não Agentes biodegradáveis ou reabsorvíveis
é informado sobre o procedimento e o mate rial usado, São implantes temporários q ue podem indu zir compli-
mas os achados histoparológicos tornam poss íveis a iden- cações graves, mas que costu mam desaparecer espo ntanea-
tificação prec isa do agente preenchedor especifico e a de- mente em alguns meses. Sua durabil idade é, em méd ia, de
terminação do tipo do efeito adverso. Em casos de litígio, 6 meses. Os semipermanentes devem durar, no mín imo,
as avaliações patológicas de biópsias de pele são util iza- 18 meses nos tecidos.
das como prova de associação entre um preench imento
e as reações subsequentes. Isso é importa nte porque, às
vezes, produtOs d iferen tes foram injetados no mesmo lo- Agentes não reabsorvíveis
ca l. A melhor maneira de evi tar complicações consiste Os preenchedores não reabsorviveis ou defin itivos, como
na prevenção, e o médico deve estar fam ilia rizado com o o silicone líquido e o PMMA, são os que causam mais com-
produ to e con hecer sua origem, s uas ind icações, riscos e plicações em virtude do faro de o rigi narem reações graves,
beneficios. Ter sido adeq uadamente capacitado, saber o por meca nismos diversos, que mostram pouca ou nenhu ma
pla no de apl icação de acordo com o produto escolhido tendência à melhora espontânea. Essas complicações podem
e, após identificação correta da imperfeição e queixa do aparecer até vários anos após a injeção, quando o paciente
paciente, o médico deve escol her o produ to ideal para não se lembra de q ual foi o produto injetado. Há casos em
aquele caso. que a complicação surge lO anos após a intervenção.

282
Capítul o 53 • Complicações dos Preenchimentos 283

É importante uma boa relação médico/paciente e a


identificação daqueles pacientes com problemas emocio-
nais. Alguns pacientes acredi tam que tudo poderá ser re-
solvido com um simples procedimento, w rnando-se ma is
belos e, quem sabe, salva ndo seu casamento.
O paciente deverá ser informado sobre o procedimen-
tO, a técnica, as complicações, prováveis e improváveis,
por meio de uma abordagem sutil, para não assustá-lo e
provocar sua desistência. Também é importa nte esclarecer
sobre as quantidades necessárias para o inestetismo com
os devidos valores fina nceiros. O paciente não deverá ter
expectativas irrea is, o que poderá causar frustração e termi-
nar em litígio.
O paciente costuma acreditar que o preenchimento do
su lco nasogeniano (SNG) corrigi rá wda a flacidez da face, Figura 53. 1 Hematoma pós-ácido hialurônico. (Fonte: acervo
da autora.)
devendo ser esclarecido a respeito da volum ização e de ou-
tros procedimentos que possam ser associados, como o uso
de toxina botulínica, rad iofrequência a laser, luz intensa
pulsada (LIP) e peeling. Também nos lábios, deve-se ter cuidado especial com o
Deve ser solicitada a assinatura do termo de consenti· preenchimento, em razão da poss ível reativação do herpes
mento e o paciente deve ser fotografado antes e depois do simples. Esta complicação é facilmente evitável se o profis-
procedimento. Não é raro que um paciente não visua l re- sional lembrar, na anam nese, de pesq uisar o histó rico de
torne dizendo q ue não percebeu di ferenças. Também por herpes e tratar preventivamente com anti-herpético, in icia-
esse motivo a fotOgrafia é de suma importância. do I dia antes do procedimento.
Equimoses/hemawmas ocorrem por perfusão de pe-
- INERENTES AO
COMPU CAÇOES
quenos vasos. Deve-se fazer compressão local e uso ime-
cliaw de gelo. Se o preenchedor for associado à lidoca ína,
PROCEDIMENTO pode aumentar o risco de sa ngramento por vasod ilatação
Complicações podem acontecer com rodos os preen- (Figura 53.1). A~ in fecções bacterianas podem ocorrer por
chedores em virtude da própria técnica de aplicação de um contaminação no loca l, má higienização da pele o u co nta-
produto injetável ou por reações do orga nismo ao agente, mi nação do próprio produto.
por diferentes mecan ismos.
Complicações tardias
Complicações imediatas
Podem ocorrer gra nulomas por corpo estranho que
Dor local, equ imose, prurido, eritema e edema (pas- podem ser infectados ou não. Têm sido descritOs casos de
síveis de ocorrer em qua lquer procedimento injetável); hi- erupção acneiforme, necrose e amaurose.
pocromia, assimetria, alergia, infecção bacteriana, vira! ou Os hematomas são mais frequentes nas regiões orbital,
fí.lngica sobre e subcorreção e, a mais tem ida, necrose, que nasojugal e mento niana, além de nos lábios.
ocorre por oclusão arterial. As reações alérgicas tardias são de mais d ifícil controle,
A dor no atO da aplicação pode ser minimizada com principalmente em caso de uso de produ to não biodegra-
pomadas anestéS icas, bloqueios ou, dependendo da região, dável, isto é, implante defini tivo.
pode-se ai nda optar por uma apresentação do preenchedor Reações alérgicas não são tão raras mesmo com pro-
que já ven ha com o anestéS ico, e a técn ica a ser util izada é dutos aprovados pela Agência de Vigilância Sa nitária
a de anteroinjeção. (Anvisa), sendo algumas vezes provocadas pelo d iluente.
Como os lábios são a região ma is dolo rida, opta-se
pelo bloqueio anestéS ico. As pomadas anestésicas usadas
pelos odontólogos têm boa absorção e um tempo rápido Nódulos e granulomas
de ação, por se trata r de uma área semimucosa. Os nódulos palpáveis, doloridos ou não, gera lmente
Em contrapartida, essas pomadas, principalmente as apresentam-se no trajetO da aplicação dos preenchedores.
man ipuladas com altas concentrações de xilocaí na (até Há do is tipos de complicações gran ulomawsas: as pro-
25%), podem provocar reações alérgicas urt icariformes duzidas por falta de técn ica do aplicador e as promovidas
com angioedema. pelo produto propriamente dito.
< 284 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

Injeções superficiais ou excesso de volume podem pro- A síndrome de Nicolau, ou embolia cuta neomedica-
duzir nódu los azulados pelo efeitO Tyndall, ou porque a es- mentosa, foi descrita pela primeira vez por Freudenthal &
colha do produto foi inadequada para uma pele mais fina, N icolau, em 1924, após a injeção de sa is de bismuto para
ocorrendo com maior frequência na região periorbital. Os tratamento da sífilis, embora possa ocorrer com qua lquer
nód ulos ocorrem, também, por excesso de volume, quan- med icamento injetável.
do o profissional não retrocede com a agul ha, deixando A s índ rome caracteriza-se pelo desenvolvimento de
grumos com formação desses nódulos. dor aguda e grave, acompanhada de rash eritematoso loca-
Deve-se sol icitar ultrassonografia de partes moles da lizado, durante uma injeção, levando a necroses cutânea,
área afetada, q ue pode revelar placas ecogên icas esparsas subcutâ nea e até muscular.
pelo tecido celular subcutâ neo.

Erros de técnica
Necroses Se o profiss ional não faz uma boa escolha do produto,
Raras, ocorrem por injeção intra-arterial acidental ou ou se o produtO escol hido não é adequado para a imperfei-
por compressão (in flamação ou supercorreção). Em geral, ção em q uestão, se ele não tem conhecimento do produto
estas últimas ocorrem por compressão de artérias termi- ou, ainda, se não conhece bem a anatom ia da região, esse
nais, mais frequen temente na glabela (artéria supratro- tipo de complicação se w rna mais frequente.
clear) e asa do nariz (artéria a ngu lar, que é um ramo da A colocação do impla nte no plano corretO, de acor-
artéria facial) (Figura 53.2). A necrose é facilmente identi- do com a viscos idade do prod uto, é de fundamental im-
ficável pela dor no momento da embolia, seguida por em- portâ ncia para evi tar esse tipo de complicação, devendo o
bra nquecimento da isquem ia e, posteriormente, por uma preench imento ser fei to na derme superficial, profunda ou
coloração vin hosa-arroxeada e enegrecida, evolu indo para supraperiostea l.
ulceração.
Para evitar essas complicações, devem ser tomados
cuidados locais de higiene. Uma vez instaladas, devem ser CUIDADOS NA REALIZAÇAO DO
-
usadas compressas mornas e massageado o local, visando PROCEDIMENTO
dissolver o êmbolo o u, ainda, deve ser usada pasta de n itro- Rea liza-se uma boa anamnese, identificando o uso
gliceri na a 10%. Se o preenchedor for ácido hialurõn ico, de anti-inflamatórios não esteroides, vitamina E, gingko
usa-se a hialuro nidase. Em caso de embol ização, pode-se b iloba o u amicoagu lantes, entre outros. Algu ns pacientes
rea lizar heparini zação. As oclusões venosas costumam ser acredi tam que med icamentos comuns, do tipo ácido acetil-
mais tard ias com evolução lenta. A pele adquire uma colo- salicílico e vitaminas, não são reméd ios.
racão
, azu lada e a dor loca l é menor. Quando possível, esses medicamentos devem ser sus-
pensos 7 d ias antes do procedimento, para evitar aumento
do sangramento.
A~ agul has devem ser substitu ídas por câ nu las em
pacientes que fazem uso de algum dos produtos citados
e também nos idosos, os q uais já apresentam fragilidade
vascular devido ao processo normal do envelhecimento.
Após aplicação, é aconselhável o uso de compressas ge-
ladas, assim como orientação sobre corretivos, cot:er maker,
porque a resolução de uma equ imose e/ou h ematoma
pode demorar de 8 a 15 d ias.
Devem ser tomados rodos os cu idados de antisseps ia,
e o proced imento não deve ser nu nca realizado se houver
algu m processo infeccioso próxi mo à área a ser implanta-
da. É recomendável o uso de antibiótico preventivo nos
pacientes com im unodeficiência.
Em pacientes com história de herpes simples recid ivan-
te, deve ser usado o antivi ral preventivamente, em especial
se os proced imentos forem realizados na região peribucal.
No caso de granu loma infeccioso e abscessos, torna-se
Figura 53 .2 Necrose de nariz. (Fonte: acervo da autora.) necessário o uso de antibióticos sistêmicos. Em outras oca-
Capítulo 53 • ComplicaçOes dos Preenchimentos 285

siões, usa-se someme corticoide sbtt!mico ou imralesionaL há muitos anos é usado na medicina como volumizador
Quanro mais precoce for o tratamento das complicações, para correção de rugas e cicatrize:•.
menores serão a.' ~quda~. O silicone com indicaçôe.'> médicas é um produto e.~té·
A necrose pode ocorrer por injeção intra,·a.~cular ril e puro. O mau uso de material adulterado, realizado por
do produto ou por compre:...,ão externa, geralmente por pessoas não qualificada.~, e a colocação de grand~., quanti·
grande quantidade ou por de~conhecimento anatômico dades elevaram o índice de complicaçôo, o que culminou
da região. com sua proibição no Bra..,il a partir do ano 2000.
Mesmo com ~'isa proibição, muito.'> pacientes têm apre·
sentado complicaçôe.s decorrentes da aplicação por pessoas
UTILIZAÇÃO DOS DIFERENTES AGENTES E
não habilitadas (Figura 53. 3).
CUIDADOS PARA EVITAR COMPLICAÇÕES Na.~ formas de gel e líquido, o silicone é um preenche·

Acido hialurônico dor amplamente estudado e utilizado em várias regiõe:. do
O ácido hialurôn ico, um do~ componentes da pele mundo para fins ~~téticos.
norma l, faz parte da matriz extracelular da derme, fo rne- Mais recentemente, tem indicação para pacientes H IV-
cendo suporte para os tecidos. positivos que fazem tratamento e apresentam lipodistrofia
É, sem düvida, o preferido dos médicos por produzi r facia l.
menos efeitos adversos que, q uand o ocorrem, são transitó- O si licone é um composto d e elevada afin idade com
rios e de fácil reversão. as membranas cel ulares, entrando no citoplasma de célu-
Utilizado há mais de duas décadas, seu comporramen· las in flamató rias ci rcu lantes, principalmente macrófagos,
to h io lógico é he m conhecido, sendo absorvido gradativa· e migrando po r essa via ao longo do sistema r~ticu loendo·
mente ao longo dos meses. Vários estudos estão disponí· telial para os nódulos linfáticos regionais, fígado e baço.
veis, incluindo o h istológico, demonstrando maior segu· Oremreicl1, mlvez o profissional que mais tenha ex-
rança em relação aos outros preenchedores. Um grande periência com preencl1imento usando ;,ilicone injetável,
número de apresentaçôes comerciais está disponível no relata que nas injeçô~~ de silicone realizada.~ nos últimos
mercado, com vária.' concentraçôes, tamanhos e quantida- 50 anos têm sido usado produto adulterado, que nunca foi
des de partícula,, visco:.idade e cros.s linked. destinado para o uso com fin;, estético:..
Não e.'>t:l indicado :.omeme para preenchimento de As reaçô~'i locais imediata.;, incluem dor, eritema, equi-
rugas, sulcos e depre,!><k,, ma.., também para aumento do mose, hematoma, hiperpigmentação e hipopigmentação
volume, restaurando o contorno da face. Para preenchi- da pele sohrejacente.
mentos de área.'> corporab, foram desenvolvidos produtos As reações tardias são: induração e nódulos inflama·
com partículas maiores e maior durabilidade, variando de tórios, que podem desenvolver-:.e até muito~ ano~ depob.
6 a 24 meses.

Conduta
As complicaçôes são con~ideradm, de baixo risco e são
geralmente reversíwis com hialuronida:.e, anti-inflamató-
rios e corticosteroides. Deve-se ma.'!sagear vigo rosamente o
loca l e ter sempre h ialuronidase à disposição no consultó-
rio, a q ual d eve ser usada na.'! primeira.'! 24 h oras. Deve-se
discuti r com o paciente sobre o resultado esperado para o
tratamento proposto, a natureza do implante utilizado e os
eve ntos adversos i nerente.~ à própria técn ica de aplicação
de um produtO injet;\vd.
Para os nódulos visiwis e/ou palpáveis, usam-se in·
jeçô~~ superficiais de hia luronidase, 75U com J,5mL de
lidocaina. No caso de necro;,e, quanto mais r:lpido o trata·
memo, menores as sequela.~.

Silicone
O silicone é um compo~to hidrofóhico, polimérico, de Figura 53.3 Granulomas e migração após uso de Sllicone adul-
dimetil;,iloxano-, que pode ,er injetado como óleo e que terado. !Fonte: acerw da autora.)
< 286 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

Complicações sistêmicas de implantes de silicone em o q ual pode ser associado ao 5-fluorouracil. Outra opção
tecidos ma is profundos são raras, mas a literatura descreve co nsiste no uso de im iquimod tópico.
infecção, seroma e extrusão do implante, embolia pulmo- A infiltração de solução salina ou água estéril facil ita a
nar aguda e hepatite granu lomarosa. d iluição do PLLA dissolvendo o nód ulo.
Siliconoma é a denom inação dada aos gran ulomas Também são considerados efeitOs adversos: dor, eri te-
após injeção de s il icone, os quais são frequentes com o uso ma, edema, hematOmas, prurido e inflamação, geralmente
de prod uto adulterado ou por uso de gra ndes q uantidades. com resolução espontânea em poucos d ias.
Às vezes, vêm acompan hados de dor. O tratamento cons is- Reações s istêmicas são raras. O PLLA está ind icado,
te no uso de antibióticos, corticostero ides intralesionais ou também, para lipodistrofia facial em portadores HIV-
intramusculares e, se necessário, retirada ci rürgica. posi tivos em tratamento, com excelentes resultados.
A migração do produto acontece por gra ndes q ua nti-
dades e por baixa viscosidade, fato que pode ocorrer com
Hidroxiapatita de cálcio
q ualq uer produto de preenchimento, mas q ua ndo ocorre
com implante defin itivo, como silicone, é mais temeroso. T rata-se de um preenchimento temporário de lo nga
Supercorreções podem ocorrer q uando o silicone é d uração, reabsorvivel, que também estimula a produção
aplicado em planos superficiais o u, também, qua ndo usa- de colágeno. Está indicado para preenchimento de rugas,
do em q uantidades excessivas. melhora da flacidez facia l e para vol umização. Apresenta
d urabilidade de 18 a 24 meses. Por ser um componente
natural dos ossos dos dentes, implante com hidroxiapatita
Conduta
de cálcio não causa reação inflamatória crôn ica ou imu ne.
Apesar de proibido, ainda são registrados casos q ue apre-
sentam complicações, para os quais está indicada corticotera-
Conduta
pia com doses de acordo com a gravidade de cada caso.
A dor local pode ser minimizada qua ndo se adapta a
seri nga com o produto usa ndo um misturador e faz,.se a
-
Acido poli-L-Iático adição do anestésico. Eritema e edema aparecem muito
O ácido poli-L-lático (PU A) não é propriamente um pouco. Hemaroma e nódulos são também reações adversas
preench edor, e s im uma substância usada para estimular a raras.
neocolagênese. Trata-se de um material reabsorvivel com Não é recomendada nos lábios e na região periorbicu-
durabilidade de 2 anos, usado como volumizador. Nód ulos lar, em virtude do risco de aparecimento de nód ulos q ue,
no local das injeções são a complicação mais frequente, quando presentes, devem ser retirados cirurgicamente.
embora com as técnicas atuais as reações adversas tenham Em caso de eritema e edema pers isten tes, está ind ica-
reduzido mu ito. O produto é b iocompatível e não contém do o uso de corticoide tópico. Em caso de inflamação, está
proteína animal, não sendo esperadas reações alérgicas. ind icado o uso de con icoide sistêmico.

Como reduzir essa reação adversa? Gordura autógena


o O tempo de diluição deve ser mais longo do q ue o q ue Usada para enxertia de gordura autóloga em tecidos
se praticava anteriormente, de 36 a 48 h oras. moles, a gordura pode ser usada como preenchimento nas
o As injeções devem ser dadas sempre no tecido celular regiões malares, lábios, no sulco nasogen iano, nas mãos e
subcutâneo. também para preencher e/ou corrigir deformidades pós-
o Deve-se aumentar o volume de reco nstituição, d ilu indo -lipoaspi ração.
em água estéril com 5 a SmL e ad icionando 2mL de A reti rada e o transplante de gord ura é um procedi-
lidoca ína. mento demorado, invas ivo e, em algu ns casos, não é d ura-
o Após a aplicação, massagens vigorosas devem ser realiza- douro . A técnica com a infiltração tumescente de Klein fa-
das pelo médico durante 5 min utos, o q ual deve orien- cil itou o transplante de gordura e está ind icada para gran-
tar o paciente a fazer o mesmo duas vezes ao dia por 7 des áreas, sendo realizada com ma ior segura nça. Consiste
dias. na d ilu ição de lidocaina a 2% em soro fis iológico, poss ibi-
lita ndo uma anestesia ma is pro longada.
Conduta
Às vezes, os nód ulos presentes involuem esponta nea- Conduta
mente em torno de 2 a 3 meses. Quando isso não ocorre, A~ intercorrências ma is comu ns após enxerto de gor-
devem ser aplicadas injeções intralesionais de corticoide, d ura na face são edema e equimose, que podem durar de
Capítulo 53 • Complicações dos Preenchimentos 287

2 a 14 d ias. Além d isso, podem ocorrer irregularidades na O uso indiscri minado por pessoas incompetentes e
enxertia. a colocação de gra ndes quantidades aumentaram esses
Pequenos nódu los ou edema podem persistir na área efeitOs adversos. São citadas as segu intes reações: reação
periorbita l e, mu itas vezes, necess itam de tratamento para imunológica alérgica, deslocamento, deformação, eritema,
melhorar irregularidades locais. Essas complicações são edema, equ imose/hematomas, discromia, ceguei ra, expul-
pouco comuns em mãos experientes. Nód ulos duros per- são, implante palpável, infecções, necrose, nódulos, granu-
sistentes, representa ndo cistos de gordu ra estéril, requerem lomas de corpo estran ho.
injeções de estero ides diluídos ou, ainda, incisões e ressec- Bringel et ai. (2012) relataram o caso de uma pacien-
ções parciais para sua resolução. Pigmentação pós-inflama- te com hepatite C em tratamento com interferon na qua l
tó ria ou pigmentação por hemossiderina é enco ntrada em ocorreu o apa recimento de gran ulomas 5 a nos após o
alguns casos e pode ser tratada com a aplicação de agentes preenchimento por PMMA. O interferon (imunoestimu-
químicos (ácido tioglicólico), luz intensa pulsada ou laser. lante) causou a exacerbação de uma inflamação crôn ica
preexistente.
Com uso do PMMA as alterações imunológicas e in-
Polimeti Imetacri lato fecciosas são mais frequentes, recorrentes e resistentes aos
O poli metilmetacrilaw (PMMA) é um polímero uti· tratamentos (Figura 53.5).
lizado como preenchedor, q ue se apresenta na forma de Alguns casos de abscessos e infecções sistêmicas ou ce-
microesferas sintéticas com diâmetro entre 40 e 60~t, vei- lu lite resistentes aos tratamentos convencionais têm sido
culadas em um meio a uma suspensão coloidal. imputados como biofilme, uma infecção latente com alta
Surgiu com a intenção de uma plástica sem con es e res istê ncia a antibióticos e baixa posi tividade em culturas.
ganhou a denominação de bioplastia. Ao lo ngo do tem- Naris et ai. (2009) concluíram, em excelente trabalho,
po, verificou-se que poderia causar complicações e defor- que "muitas complicações que eram assumidas como gra-
mações de graus va riáveis, àS vezes defini tivas. Seu uso é n ulomas de corpo estranho ou reações alérgicas são prova-
aprovado no Brasil, mas recomenda-se cautela. velmente decorrentes da formação de biofilmes". A migra-
Encontra-se disponível em concentrações d iversas, de ção consiste no movimento do preenchedor tecid ual até
2%, 10% e 30%. um local distante de o nde foi originalmente implantado
Está indicado nas lipod istrofias causadas por uso de (Figura 53.6).
antirretrovirais, empregados na AIDS, visto que o uso de Segundo parecer do Conselho Federal de Medicina
silicone liquido não é permi tido no pa ís. Além disso, os pa- (CFM) 1.836/2008, e após estudo realizado com esse agen-
cientes com imu nodeficiência tendem a apresentar menos te por um representante da cirurgia plástica na Câmara
complicações tardias. Técn ica do CFM, o conselheiro Dr. Cláud io Cardoso de
É o preenchedor que mais apresenta reações adversas, Castro concluiu q ue "O PMMA (. .. ) pode ser absorvido
as qua is podem aparecer anos depois e ter efeitos du radou- pelas células e provoca r inflamações ou mudar de lugar
ros ou defi nitivos (Figu ra 53.4). no orga nismo, gerando deformidade e até mu tilações (. .. )"

Figura 53 .4 Reação alérgica com formação de granulomas e deformidade por deslocamento. com surtos recorrentes. (Fonte: acervo
da autora.)
< 288 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

Conduta
Para o tratamento inicia l, devem ser aplicadas injeções
intrales ionais de cortisona, adequando a dose de acordo
com a gravidade dos casos. Existem casos resistentes e re-
cid ivantes de difícil controle. Pode-se usar uma associação
com o 5-fluorouracil, triancinolona e xilitol, obtendo bons
resu ltados em algu ns casos. O xil itol é um poliálcool com
importante ação bacteriostática sobre as bactérias gram-
·positivas. Se os nódulos forem dolorosos e inflamatórios,
também é recomendável o uso de antibióticos. Em caso
de suspeita de biofilme, os corticoides intralesionais não
estão recomendados, para evitar o trauma.
A retirada com laser de C02 ablativo pode ser uma boa
opção. Dependendo do caso, o acesso pode ser feito pela
cavidade oral, evita ndo cicatriz. A substâ ncia pode não
Figura 53 .5 Reação alérgica após uso de PMMA. (Fonte: acer-
formar um granu loma e d ifundir-se em determ inada área,
vo da autora.)
impossibilitando sua retirada com laser.
O tratamento é mu itas vezes ineficaz. Algumas vezes, a
excisão cirúrgica do agente injetado é a única possibilidade
terapêutica, lembrando que deixará sequela (cicatriz e assi-
metria), apresentando um resultado cosmético pior do que
o inestetismo in icial (Figura 53.7).

Figura 53 .6 Granuloma 4 anos após preenchimento com PMMA.


(Fonte: acervo da autora.)

e que os problemas ocorrid os podem ser decorrentes da


própria substância e não, como dizem os fabricantes, da
má colocação.
Outros representantes de conselhos e especialidades
e mu itos auwres têm se man ifestado a favor da restrição
d e seu uso a pequenas quantidades e contra seu uso em
grandes quantidades.
Em 2006, por recomendação do CFM, a Anvisa lançou
um alerta sobre procedimentos de preenchimento, fazendo
referência ao PMMA e recomendando cautela e preocupa-
ção com seu uso por não médicos. Em 2007, a Anvisa proi-
biu sua manipulação e, em 2012, ratificou o alerta anterior,
recomendando que seja d ifundido ao máximo.
Neste contexto, o uso d o produto esta ria liberado so-
mente para pacientes po rtado res do HIV em tratamento
com amirretrovi ra is com a devida orientação, uma vez que,
se ocorrer melhora das defesas imunológicas, essas reações Figura 53.7 Retirada do granuloma com laser de C01. (Fonte:
também poderão ocorrer. acervo da autora.)
Capítulo 53 • Complicações dos Preenchimentos 289

CONSIDERAÇOES FINAIS
- analysis. Dermatologic surgery: official publication for American
Society for Dermatologic Surgery [et ai.) June 2008; 34 (Suppl
1):S64-6Z
Uma gra nde variedade de preenchedores está dispon í- Brasil. Anvisa. Comissão para a Ética nos Serviços de Apoio aos
vel no mu ndo inteiro, e novos provavelmente aparecerão Profissionais Médicos: Resolução CFM 1.836/2008. Disponível
em : http://comissaoparaaetica.blogspot.com.br/2008/03/reso-
em futuro imediato. Há sempre a necessidade de cautela luo-18362008.html.
e de novos estudos científicos O implante ideal ainda é Bringel DM et ai. Complicação de preenchimento cutâneo após tra-
inexistente, pois todas as substâncias conhecidas podem tamento de hepatite C com interferon e ribavirina. Surgical &
causar reações adversas. Os efeitos secundários são menos Cosmetic Dermatology. ju~set. 2012; 4(3):271-3.
Brody HJ. Peeling químico e resurfacing. 2. ed. Rio de Janeiro: Rei-
graves após a injeção de implantes biodegradáveis, a maio- chmann & Affonso Editores. 2000.
ria dos qua is irá desaparecer esponta neamente dentro de Coimbra DO. Preenchimento dos sulcos orbital inferior e naso-jugal
algu ns meses. Mesmo assim, podem su rgi r reações adversas com ácido hialurónico de baixa concentração: uma nova técnica
que necessitam de tratamento. À~ vezes, a reti rada cirúrgi- de aplicação. Surgical & Cosmetic Dermatology 2010; 2{1). Dis-
ponível em: hnp://www.surgicalcosmetic.org.br/public/artigo.
ca do material é a ú nica possibilidade, principalmente se as
aspx?id=59
reações estiverem relacionadas com infecção bacteriana e Costa Miguel MC, Nonaka CF. Santos JN, Germano AR. Souza
se houve o desenvolvimento de resistência bacteriana (bio- LB. Oral foreign body granuloma: unusual presentation of a
filme), ou se cons istem em granulomas de corpo estranho, rare adverse reaction to permanent injectable cosmetic filie r.
lnternational Journal of Oral and Maxillofacial Surgery 2009;
de aparecimento recorrente.
4:385-7.
O conhecimento do preenchedor e o treinamento ade- Garner CW, Behal FJ. Effect of pH on substrate and inhibitor kinetic
quado são os pomos básicos para um bom resultado. Ao mé- constants of human liver alanine aminopeptidase. Evidence
dico, cabe avaliar qual o preenchedor mais indicado para cada for t wo ionizable active center groups. Biochemistry 1975;
caso, escolhendo entre o temporário e o defin itivo. Nessa es-- 23:5084-8. Disponível em: hnp://pubs.acs.org/doi/abs/10.1 021/
bi00694a009.
colha, não se deve pensar apenas no melhor resultado, mas Goldman MP. Pressure-induced migration of a permanent soft tissue
sempre lembrar das reações adversas. Preench imentos defini- filler. In: Dermatologic surgery. Official Publication for American
tivos podem sign ificar problemas defin itivos. Society for Oermatologic Surgery, 2009:403-5.
É imprescindível a clareza nas explicações das particu- Hirsch RJ, Stier M . Complications of soft tissue augmentation. Jour-
nal of Orugs in Oermatology {JDO) 2008; 7{9):841-5.
laridades de cada prod uto, sem deixar de considerar os ris-
Kalantar-Hormozi A. Mozafari N, Rasti M . Adverse effects after use
cos, as complicações e os efeitos colaterais permanentes ou of polyacrylamide gel as a facial soft tissue filler. Aesthetic Sur-
temporários de cada tratamento. É importante compreen- gery Journal/the American Society for Aesthetic Plastic Surgery
der as motivações e as expectativas dos pacientes ames da 2008; 2:139-42.
escolha da opção terapêutica, orien tando e explicando as Lee MJ, Sung MS, Kim NJ, Choung HK, Khwarg SI. Eyelid mass
secondary to injection of calcium hydroxylapatite facial filler.
possíveis complicações e limitações de cada tratamento. Ophthalmic Plastic and Reconstructive Surgery 2008; 5:421-3.
Os pacientes não estão livres de efeitos colaterais, Linon C. Chemical face lifting. Plastic & Reconstructive Surgery
complicações e necessidades de novas intervenções. 1962:29.
Dependendo do produtO escolhido, é indispensável a ava- Mendelson BC, Hartley W, Scon M, McNab A. Granzow JW. Age-
related changes of the orbit and midcheek and the implica-
liação criteriosa de cada caso. tions for facial rejuvenation. Aesthetic Plastic Surgery 2007; 5:
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nu i o índice de morbidade e seque las. Narins RS. Minimizing adverse events associated with poly-l:lactic
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< 290 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

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Preenchimento em Pacientes com HIV
Sandra Lyon

Com a utilização da chamada terapêutica a ntirretrovi· Com o objetivo de mini mizar esse quadro, tem sido
ral altamente potente (High.tly Active Anti-Retrot~ira! Therapy propostO o preenchimento autólogo ou heterólogo das
- HAARn para a sindrome da imu nodeficiência adq ui- áreas lipoatróficas, sobretudo na face.'
rida (AIDS), têm sido descritas alterações anatômicas e
metabólicas, isoladas ou associadas, naqueles pacientes em
uso de HAART, conhecidas como lipodistrofia ou sinei ro- PREENCHEDORES NA LIPODISTROFIA
me da distribu ição de gord ura' Os preenchedores cutâneos à base de polimetilmetacri·
Nesse contexto, diversas alterações metabólicas têm lato (PMMA) não são absorvidos pelo o rgan ismo, sendo de
sido observadas, como aumento sérico de colesterol e tri· longa duração. São compostOs de microparticulas de tama-
glicerídeos, d iabetes melito, into lerância à glicose, aumen- n hos variados, sendo preferíveis partículas maiores, pois par-
to da resistência peri férica à insu lina, hiperlactatemia e tículas menores que 201J são mais propensas à fagocirose.6
acidose lática, q ue aumentam o risco de distú rbios hidroe- Os preenchedores temporários mostram-se ineficazes
letrol íticos e eventos card iovasculares graves 2 em caso de lipodistrofia.
Entre as alterações anatômicas, ocorrem perda de gor· Recomenda-se a utilização de solução coloidal de
d ura facial, aumento do perímetro abdominal, adipos ida- PMMA, q ue é um preenchedor permanente e, por isso, a
de cervical, perda da gordura da região glútea, ginecomas- duração do resultado do preenchimento e a necessidade
tia e a filamento dos membros. 3 ou não de um novo tratamento vão depender da progres-
O rosto adqu ire aspecto cadavérico em razão da perda são ou não do processo de lipod isrrofiai
da gord ura de Bichat, das regiões temporais, pré-auricula- O PMMA é apresen tado em forma de solução colo i·
.
res e mento111anas. ·' da I, na concentração usual de 30%, podendo ser util izado
Ocorre a denominada giba, ou buffalo-h.,.mp, q ue é a em concentrações menores, como 10%, para o tratamento
gibosidade dorsocervical. O aumento do tecido gord uro- de áreas mais superficiais, como têmporas e regiões pré-au-
so e mamário acarreta, consequentemente, aumento das riculares, e 2%, para depressões na região frontal e região
mamas.4 palpebral inferior.8•9
Existe acümulo de gordura intervisceral e não subcu- O nível de implantação do PMMA é profundo, no
tâ nea no abdome, forma ndo o abdome de aspecto globoso subcutâneo, e a técn ica empregada consiste em retroinje-
(Crixy-bel!y). ções formando cili ndros para lelos, em leq ue ou cruzadas
Observa-se, ainda, a retificação da silhueta em virtude em rede ou X. Acompan hando as linhas de expressão da
da perda da gordu ra da região glütea.s face, não se deve hipercorrigi r; qua ndo necessário, faz-se
Os braços e as pernas apresentam d iminuição do co- um preenchimento complemen tar.10•11
xim gord uroso, ressalta ndo a trama vascular e evidencian- Os efeitOs adversos são edema, hematoma e febre bai-
do um quad ro de pseudovarizes. xa, os qua is regridem espo ntaneamente.

291
< 292 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

Os cu idados na real ização dos procedimentos incluem 2. Trop BM, Lenzi MER. Infecção pelo HIV. In: Ramos-e-Silva M,
Castro MCR. Fundamentos de dermatologia. Vol. 1. Rio de Janei-
as práticas de biossegm ança, devendo ser evitados sa ngra- ro: Atheneu, 2010.
mentos." 3 . Carr A. Samaras K, Chisholm DJ, Cooper DA. Pathogenesis of
HIV-1 protease inhibitor-associated peripheral lipodystrophy, li-
perlipedaemia, and insulin resistance. Lancet 1998; 35 1:1881-3.

CONSIDERAÇOES FINAIS
- 4 . Lo JC, Mulligan K, Tai VW, Algren H, Schambelan M. Buffalo
hump in men w ith HIV infection. Lancet 1998; 351:867-70.
5. Miller KD, Jones E, Yonavski JA, Shankar R, Feuerstein I, Fallon
A lipodistrofia em pacientes portadores da sindrome J. Visceral abdominal fat accumulation associated with use of
infinavir. Lancet 1998; 351:871-5.
da imunodeficiê ncia adqu irida tem grande impacto so- 6 . Sommer Net o M , Passy S. Preenchimento cutãneo e correção
cial, e pa ra min imiza r as alterações a natômicas e metabó- de deformidades da face com uso de m icrosferas de PMMA -
licas ca usadas pelo esquema antirretroviral recomendam- uma nova abordagem. Rev. Nutricel Rio de Janeiro, Brasil, 1998.
-se exercícios fís icos aeróbicos, estim uladores de apetite, 7. Morhenn VB, Lemperle G, Gallo RL. Phagocy10sis o f different
particulate dermal filler substances by human macrophages and
testosterona e preenchi mentos das áreas lipoatróficas,
skin cells. Dermatol Surg 2002; 28:484-90.
sobretudo da face. O preenchimento com PMMA tem se 8. SerraM. Facial implants with polymethylmethacrylate for lipodystro-
mostrado eficaz; no enta ntO, vem sendo preco nizada uma phycorrection: 30 months follow-up. AntiviraiTherapy 2001; 6(4):75.
combinação de d iversos preenchedores, como o PMMA 9 . Pereira SBB, Poralla F. Correção de lipodist rof ias faciais com
associado ao ácido polilático e ao ácido hial urô nico, para uso de polimetilmetacrilato coloidal (PMMAJ em pacient es HIV-
-positivos sob t erapia anti-retroviral. 8• Congresso Brasileiro de
a obtenção de resu ltados ma is satisfatórios e homogê- Medicina Estética. Salvador, 2001. Comunicação Livre.
neos. 10. Serra M . Facial implants with polymet hylmetacrylate (PMMA)
for lipodystrophy corretion: 36 months follow up. XIV lnt ernatio-
nal A IDS Conference Barcelona, 2002, Abstract THPEB 7378.
Referências 11. Sena MS. Preenchimento em paciente HIV. In: Ramos-e-Silva
1. Lypodystrophy is a concern with HIV protease inhibit or therapy. M, Castro MCR. Fundamentos de dermatologia. Vol. 2. Rio de
Drug AndTherapy Perspectives 1998; 12(9):11-3. Janeiro: Atheneu, 2010.
Combinação das Técnicas de
Preenchimento eToxina Botulínica
Leonardo Oliveira Fe rrei ra
Roberta Patez Figueiredo

É aceitável que o envelhecimento facia l seja resultado tante pos itivo para o paciente: o preench imento e a toxina
da deterioração e queda de importantes estruturas cutâ- borulín ica.4
neas devido a uma "força gravitacio nal para baixo". Sabe-se A incorporação de novas técn icas de repos ição de
ainda q ue as alterações ho rmo nais, a exposição solar e o volume e de tox ina botul ín ica ao arsen al não ci rúrgico
tabagismo, entre outros fato res, também contribuem para representou um avanço signi ficativo na abordagem reju-
o envelhecimento extrínseco.' Esses farores contribuem venescedora. Anterio rmente, o foco inicial era bid imen-
para a dim in uição na produção do colágeno, que é a prin- s io nal, com ê nfase nas linhas e rugas . No entantO, com a
cipa l proteína que confere sustentação à pele, ass im como transição para uma abordagem tridimensio nal, é possível
à quebra das fibras de elastina, q ue impede a flexibilidade a real ização de um tratamento mais avançado da perda
cutâ nea. 1 Mudanças na arqu itetu ra facial, incluindo per- de volume nos tecidos moles e ósseos. Especialistas estão
da muscular e do tecido ad iposo, são percebidas por volta mais bem eq uipados para tratar tanto a causa como o
dos 30 anos de idade. A combinação de redistribu ição de efe ito.' Por razões de custO e comod idade, o pree nchi-
gord ura e d iminuição da elasticidade e da espessura dér- mento facial deve ser, razoavelmente, de longa duração.
mica resulta na formação de rugas, que podem ser d inâ- Não está p recon izado nenh um preen ch imento o u im-
micas ou estáticas, as quais caracterizam o processo de en- plante "definitivo", mesmo porque a anatOmia do rosto
velhecimento.1 A gord ura facia l subcutânea é dividida em muda com o tempo. Assim, é prec iso adaptar, modificar
mú ltiplos compartimentos anatõmicos. Com o avançar da ou fazer desaparecer para não cria r u m aspecto indesejá-
idade, a face experimenta muda nças bruscas em seu con- vel e artificial.' Não se trata simplesmente da adição de
torno, as quais podem ocorrer em gra us variados, incluin- volume, mas do bom pos icionamento estético do produ-
do as regiões periorbital, ma lar, frontal, temporal, glabelar, tO em qua ntidades apropriadas q ue vão criar excelentes
mand ibular, menton iana e zo na perioral.' resultados na restauração de uma apa rê ncia natural e
A abordagem de tratamento para essas muda nças in- jovem.'
cluem o uso de fotoprotetores, ácidos, hid ratantes e apa- Quimicamente, os prod utos d ispon íveis podem ser
relhos como lasers, fontes de luz e rad iofrequência. Nota- classificados em d uas categorias diferentes: substâncias
se q ue, a cada a no, surge um número cada vez maior de biológicas e s intéticas. As biológicas incluem o colágeno
aparelhos com promessas de combate r o envel hecimento bovino, o ácido hialu rõnico de origem an ima l e a gordura
cutâneo, e a sensação que se tem é a de que, antes mesmo autóloga. Os preenchimentos sintéticos de o rigem não an i-
de o profissional "pagar" pelo aparelho, um novo já su r- mal incluem o ácido hia lurõ nico, o polimetil metacrilato, a
gi u. Entretanto, nada, até hoje, consegu iu substitui r com hidroxiapatita de cálcio, a poliamida e o PEG (polietileno-
eficácia semel hante essas duas técn icas que desempen ham glicol). A durabilidade dos agentes preenchedores pode ser
um papel muito importante na correção das alterações do classificada em curta du ração (até 6 meses), longa du ração
envelhecimento e, de fato, promovem um resultado impac- (até 3 anos) e permanente (ma is de 3 anos).;

293
< 294 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

ÁCIDO HIALURÔNICO Oclusão venosa pode ocorrer caso uma quantidade


De todos os agentes de preenchimento d ispon íveis, o excess iva de preench imento seja implantada em uma pe-
ácido hialu rõ nico (AH) é o ma is comumente usado, em que na área, leva ndo a uma dor maçante, edema bru tal
virtude de sua ba ixa imu nogenicidade, alta segura nça e e coloração violácea da área afetada. A dor em ma ior
fácil remoção mediante o uso da hialu ro nidase.6 O AH proporção deve ser investigada. Pasta de nitroglicerina,
é, por definição, um glicosaminoglicano, um componen- compressas q uentes e injeção de hialuro nidase podem ser
te essencial da matriz extracelular de todos os tecidos dos úteis.6 Por esse motivo, recomendam-se doses elevadas de
a nimais• Formado por uma cadeia lo nga polissacaridica, toxina botulínica em pacientes com corrugadores muito
subdividida em unidades dissacarideas repetidas de ácido fortes. A dose mín ima de tOxina botulí nica nos corru-
urõn ico e N-acetil-glicosamina, 7 é altamente hid rofílico, gadores é de 15 a 30U, distribuídas em ambos os lados,
isto é, demo nstra capacidade elevada de atra ir água. Assim, ou seja 7,5 a 30U em cada múscuclo. No entanto, com
verifica-se que o AH é útil no tratamento de algu ns dos 9U em cada músculo, 18U no tota l, veri fica-se um bom
si nais de envelhecimento devido a seu elevado poder de resultado na ma ioria dos pacien tes. Em casos de "rugas
hid ratação local• graves", deve-se inicia r com 15U em cada músculo cor-
Alguns dos mate ria is de pree nch imento são origina- rugador.
dos da crista de galo, mas geralmente são extra ídos da
fermentação de bactérias. 8 O AH fo i desenvolvido pela
primeira vez como um implante dérmico, em 1989, por HIDROXIAPATITA DE CÁLCIO
Balazs. Embora o produto não te nha sido de lo nga du ra- A hid roxiapatita de cálcio é um implante aprovado
ção, representou o começo de uma revolução. Tanto as pa ra o tratame nto estético das rugas profundas.9 Trata-
técnicas de preenchimento como as de tOxina botulin ica se de u m compo nente inorgânico dos dentes e ossos,
podem ser utilizadas no terço inferior da face, inclu indo se ndo usado como um ma terial de pree nch imentO iner-
o sulco nasogenia no, rugas marionetes da boca, linhas te e com biocompatibilidade dérm ica. Apresenta altas
vertica is dos lábios (''código de barras"), afinamento dos viscosidade e elasticidade. Pode ser injetado sozinho ou
lábios, co nto rno da mand íb ula e realce do vol ume das misturado com anestésico local, como a lidocaina a 2%,
bochechas.• com ou sem vasoconstri ror. Seu uso para repos ição de
Os tipos de AH escol hidos mais freq uentemen te vol ume da mão apresenta excelentes res ultados e tem
para o pree nchimento de li nhas finas superficia is e re- duração de 6 a 18 meses. A aplicação da hid roxiapa tita
pos ição de vol ume são os de baixo peso molecular. Para de cálcio nas mãos deve ser realizada, preferencialme n-
o apo io estrutural, como sulcos profundos e contornos, te, com mic rocân ula de 70mm x 0,9mm. Após asseps ia
são preferíveis os produtos de alto peso molecu lar.! das mãos, realiza-se um único botão anestés ico na região
Q uanto maior a concentração (> 20mg/mL), mais du ra- ca rpometacarpiana com lidoca ína a 2%, com ou sem
douro será o efeiro 8 vasoconstrito r. Nesse botão, aplica-se somente o bisei
O efei to do tratamento gera lmente dura de 6 a 12 de uma agulha h ipodérmica de 40 x 12 - 18G x JI/2 "
meses, podendo chega r a 18 meses, dependendo do tipo 1,25mm x 38mm para a rea lização de u m pertu ito onde
de AH injetado. A du ração do efeito pode ser ai nda mais a m icrocânula deverá ser inserida. O pree nchimento das
prolongada, com o tratamento simultâneo com a toxina mãos com a microcãn ula evita a laceração dos vasos, m i-
botuliníca. A forma não reticu lada de AH é usada para ni miza ndo o risco de hematoma que, na ma io ria das ve-
promover hidratação do terço superior da face. A técnica zes, se restringe à região do pertuitO. Desse modo, é pos-
escolhida para tratar essa região são as micropápulas, cujo sível trans ita r no subcutâneo da mão e ir preenchendo
efeito se inicia, em méd ia, de 21 a 26 dias após as apli- os espaços vazios com bastante segurança. O tratamen to
cações. Dor, hematomas, edema e eritema são os fatores com hidroxiapatita pode apresenta r apenas os efeitOs
limita ntes desse procedimento. adversos habituais, incl uindo hematomas e edema.lO
Na região da glabela, é necessário cuidado especial, de- Em vi rtude do risco de contaminação, mesmo com a
vendo ser evitado ao máximo o uso de agentes preenchedo- adoção de todas as med idas de assepsia, é necessária a
res, mesmo do AH em concentrações inferiores a 20mg!mL utilização profilática de a ntib ioticoterapia por via oral,
pois, embora o comprometimento vascular possa ocorrer como azitromicina, em razão de sua comod idade poso-
em qualquer lugar, a glabela é a área em q ue mais com u- lógica, na dose de 500mg, u m comprimido uma vez ao
mente pode ocorrer necrose após a aplicação. Como o dia por 3 d ias (começar a toma r no dia da aplicação do
suprimento sanguíneo na glabela é limitado, ela tem sido preenchi mento).
rotulada como uma zona de perigo na face, em virtude das A hid roxiapatita de cálcio é mais uma opção de trata-
chances de comprometimento vascular. mento para os que buscam o rejuvenescimento das mãos,
Capítulo 55 • Combina ção das Técnicas de Preenchimento e Toxina Botulínica 295

demonstrando ter um perfil de segu rança e d urabilidade Referências


favorável." 1. Muhn C, Rosen N. Solish N et ai. lhe evolving role oi hyaluronic
A hid roxiapatita de cálcio pode ser co nsiderada um acid fillers for facial volume restoration and contouring: a Cana-
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material de longa duração ou semipermanente. Oferece
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feitOs dérmicos profu ndos e para aumento dérmico não Cosmet Laserlher 2008 Sep; 10(3):134-42.
ci rúrgico. As ind icações devem ser d iscutidas com o mé· 3. Goodman GJ. Bekhor P. Rich M. Rosen RH, Halst ead MB. Ro-
clico, já que algu ns sinais de envel hecimento aten uado gers JD. A comparison oi the efficacy. safety, and longevity oi
two different hyaluronic acid dermal fillers in the treatment oi
não vão desapa recer. ; É preciso de ixar claro para o pa-
severe nasolabial folds: a multicenter, prospective, randomized,
ciente que alguns defeitos são incoercíveis com a utiliza· controlled, single-blind, within-subject study. Clin Cosmet lnves-
ção de toxina botulínica e preenchimento (de qualquer tig Dermatol 2011; 4:197-205.
tipo). O paciente e o médico devem entender o momento 4. Gold MH. Use oi hyaluronic acid fillers for the treatment oi the
certo para o e ncaminhamento do paciente ao ciru rgião aging face. Clin lnt erv Aging Sep 2007; 2(3):369-76. Published
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Todos os tipos de tratamento devem ser avaliados de augment ation. Clin lnt erv Aging 2008; 3(1):161-74. Review.
modo a tratar melhor cada caso. Por exemplo, a flacidez 6. Nanda S, Bansal S. Upper face rejuvenation using botulinum to-
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rítides matares causadas pela exposição solar podem ser
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peelings qu ímicos associados a uma boa quantidade de Feb. 2011 ; 74(1 ). Disponível em : <hnp://www.scielo.br/scielo .
toxina botulín ica no orb icu lar dos ol hos, alguns pomos php?script =sci_amext&pid=S000427492011000100010&1ng=en
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nasolacri mais e cicatrizes de acne podem ser tratados ler for facial rejuvenation: a histologic and immunohistochemical
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dura na região do osso zigomático), especialmente em pa- 11. Sadick NS. A 52-week study oi safety and efficacy oi calcium
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de cálcio é uma boa opçãos mato! 2011 Jan; 10(1):47-51.
Rejuvenescimento de Lábios, Colo e Mãos
Helena Lyon Morei ra
Ma ísa Neiva Santos Hernandez

O envelhecimento é um fenômeno deletério que afeta Para o procedimento devem ser cons ideradas as se-
o ser h umano acompa nhado de várias alterações na pele guintes estruturas labiais: transição cutaneom ucosa, arco
decorre ntes de fatOres intrínsecos e extrínsecos. do cupido, tubérculo media i, comissura dos lábios, verme-
Lábios, colo e mãos refletem as marcas do e nvelheci- lhão e filtrum .
mento, mostra ndo o decl ínio da beleza e da juven tude. O procedimento inicia-se no canto d irei to do láb io
inferior com a agu lha posicionada com inclinação de 75
TRATAMENTO DOS LÁBIOS graus da superfície do lábio e a seringa paralela ao lábio
O processo de envelhecimento da boca está associado inferior.
ao desenvolvimento de sulcos radiais peribucais e à perda Deve-se inclinar a agu lha a 45 graus para o início
do aspecto trid imensional dos lábios' do proced imento. Procede-se à retroinjeção, libera ndo o
Relacionado com o e nvelhecimento e também com o preenchedor em q uantidades u niformes.
tabagismo, o tratamento dos lábios visa melhorar o contor- Na região do vermelhão, deve-se iniciar nos cantos em
no e promover o aumento volu métrico no taman ho dos d ireção ao centro. O preenchimento da comissura do láb io
lábios, além de minim izar os sulcos radiais peribucais, co- inferior promove elevação do ângu lo da boca.
n hecidos como "códigos de barras".l-4 No lábio superior, faz-se a aplicação de W invertido a
Os procedimentos util izados consistem em: partir do arco do cupido. O filtn•m é tratado a partir do
o Técn icas de demoabrasão e laser de C0 , para rugas pe- ápice de cada arco em d ireção à base da columela. A seguir,
1
ribucais. procede-se ao tratamento da trans ição cutaneomucosa, a
o Preenchedores: utilizados para aumentar o volume dos qual sofre apagamento com a idade. Com a aplicação do
lábios, alteração do compri mento do lábio superior, preenchedor ao longo da transição cutaneomucosa, pro-
promoção da definição do vermelho e do filtrum. d uz-se uma nova linha de tra nsição en tre pele e mucosa,
o Peeling de feno] pa ra rugas periorais. com reestruturação do contorno bucal e ate nuação das ru-
gas peribucais.
Preenchimento de lábios Os sulcos rad iais peribucais têm bons resu ltados com
Utiliza-se o implante de gel de ácido hialurôn ico, es- o tratamento de laser de col, faze ndo-se laserabrasão par-
téril, biodegradável, viscoelástico límpido, transparente, cial regional, o que irá promover a renovação da pele fo-
isotô nico e homogeneizado. O ácido hial urôn ico reticula- toenvelhecida, o encolhimento das fibras de colágeno e a
do em tampão fisiológico encontra-se acond icionado em formação de neocolágeno, levando a uma melhora sign ifi-
seringa de I mL acompanhada de agulha 27G-Vz. cativa e d uradou ra.
É indicado o bloqueio anestésico do nervo infraorbi· No peeling de feno] perioral utiliza-se o feno I a 88% no
tal. O prod utO é injetado na derme média e profunda. contorno da boca, o que produz bons resultados.

296
Capítulo 56 • Rejuvenescimento de Lábios, Colo e Mãos 297

TRATAMENTO DO COLO • A toxina horulínica atua na hi percino!...e muscular,


A região pré<.'>ttrnal sofre um processo de envelheci- promovendo paralisia parcial e programada das fibra~
menro decorrente de fato~ diven.o~. como erwdhecimen- mediais do músculo peitoral maior e da p<)rção caudal
to intrin~eco, hipercine'e mu:-cular (peiroral maior) e enve- do plati~ma. A roxina horulinica promove tanto a sua-
lhecimenm extrím.eco. vização da~ rugas estática> como a diminuição da.-. ruga~
A pOiquilodermia de Civa[[t, tbcrita em 1923, mani· dinãmicas. 1
ftsm-se clinicamente com área., de pele ró.'>eo-acasranhada, • Fotoproteção: a expO.'>ição à RUV é uma da:. principais
entremeada~ por tdangiecta\ia'>, área> de atrOfia e hiper- indmora~ da aceleração do envelhecimento da região do
pigmentaçiío mosqueada. colo. O uso de protetor ;olar é uma e>tratt!gia efeth·a
Ocorre na~ áreas fmoexpo>ta.' do pescoço, na porção para reduzir a quantidade e a exp<)~ição à RUV e mini·
superio r do tronco e na latéral da face, de maneira diméti- mizar os sinais de envelheci mento cutãneo.'8
cas caracteristicamente, poupando a área submemoniana,
anatomicamente protegida da expo>ição solar.;.;
Sua patOgênese é, sobretudo, pela ação dos ra ios ultra· TRATAMENTO DAS MÃOS
vio lera. Além dn expOsição crônica ao sol, existem outros O envelhecimento das mãos envo lve uma série d e
fatore~ associados, como fotossensi hilização q uím ica a per· fatores que, associados no envelheci mento intrínseco,
fumes e cosméticos, possibi lidade d e alterações hormo na is contribuem para o envelhecimentO extrínseco, leva ndo a
relacionadas com n menopausa, e baixos níveis de estróge· ma nifestaçfles cl inicas diversas. São fatores d e envelheci·
nos e pred isposiç.'io genética.8 men to: exposição solar, carê ncia de estrógeno na mulher,
O rejuvenesci mento do colo baseia-se em: tabagismo, frio, poe ira, vento, carê ncia vitamínica, fawre~
• Uso tópico de retino ides, com de>taque para o ácido mecânicos, produtos químicos e sahôes.
retino ico, que proporciona o rejuvenescimento da pele A~ melanoses solares local izadas no d orso d as mãos
pOr meio da capacidade de acelerar o tumot•er celular e são extremamenre frequentes e caracterizam.;,e por mácu·
estimular a neocolagêne.e.• las aca.~tanhada.~ ou casranho-e>euras, geralmeme múlti·
• Uso tópico de alfa-hidroxiãcidos, que propOrcionam a pias, de comornos irregulares, p~xlendo medir de algun~
redução da e'>pe;..,ura do t.'>trato córneo, aumento da milimetros aré 1,5cm de diâmetro.
espe~>ura da epiderme com dbpen.ão da melanina na Podem vir acompanhada' p<)r querato:-.e actinica, se·
camada hasal e t>pé'''amento de dern1e papilar. Há re- borreica e outra.~ manife>t:.'IÇik> de degeneração actinica
novação cdular e t>tímulo à ~íme..e de colãgeno e glico- crônica da pele.
saminoglicano:., levando à melhora da maciez da pele, Clinicamente, observa-se redução na qualidade da
diminuiç.'io de rítidt>, melhora da pigmenmção e maior elasticidade da pele no dorso das mão:. devido à> alteraçõe~
fi rmeza da pele_IC das fibra.5 de colágeno e elastina.
• Di!Spigmenmntt>: <l' agente> de:.pigmentame:. pOdem ser Ocorre diminuição do tecido adip<).'><), com maior vbua·
utilizados no combate à.' hipercromia~. entre os quai5 es- lizaçâo da vascularização. O re;..-.ecamento da pele e a-. ruga~
tão o ácido retinoico, a hidroquinona, o ácido azelaico e finas são sina i~ clinico.~ comu n:-. na mão envdhecida. 19
outros agentes despigmemames de origem hotãnica.11 O tratamento da~ mão.~ consL~te na> >eguimes medida~:
• Amioxidantes são mi lizado:. para prevenir o envelheci· • Fotoproteção: a fotoproteção faz parte dos cuidados diá·
memo e os danos cutâneos causados pela radiação ultra· rios com as mãos. Os foto protetores d ewm ser fowe.~tá·
vio leta (RUV), como, por exemplo, a vitam ina C , que veis, de amplo espectro e res iste11tes à água. 2c
desempen ha papel impo rtante na síntese d e colãgeno • H idratação: os hidrata ntes têm a ca pacidade de blo·
e elasti na, podendo anu lar os ~feitos negativos da RUV q uea r a perda transepidermica de água mediante a ocl u·
na pele. 11•11 são e a re.~tauraçiío da ba rreira lipidica.21
• Hidrarantes: são importantes adjuvante~ para aliviar a • R egeneradores cutâneos: a uti lizaç.iío de produtOs que
xerose e a irritação cutâ nea, sobretudo os reparadores possam estimula r a síntese de colágeno pelos fibroblasws
proteicos e os resta urado res d e harreira.'~· 15 constitu i um proces..~o-cl1ave nos cuidados com a pele. 22
• Peelíngs quím icos: os ~elíngs não devem ser muitO pro- • Peelings qu ímicos: os peelings qu im ic<'-~ promovem o
fundos pOrque, como não há tanta~ unidades pilossebá· rejuvenescimento da pele com desaparecimento da.~ dis·
ceas nessa área quanto na face, a capacidade de regene- cromias pigmenrare~. alreraç1ks actínicas e queratósicas
ração tecidual torna..,e limitada.'• e rugas fina.~. 11 A pa.o;ta de ácido tricloroacético (ATA) a
• Pulíngs físico:.: p<xlem .er util izado., a dermoabra5ão, a l i%, 16,9% e 20% foi desen\'olvida em veículo creme e
microdermoahra~ão e o laser~ding, evitando-se abrasão comém em sua compO;.ição .ub,tãncia-. calmantes, neu·
profunda.'1 tralizames e umectantt.'>. A pa..,ta é aplicad a com e.'>pátu·
< 298 PARTE XV • Preenchimento Cutâneo

la no dorso das mãos e, após 5 min utos, é removida com


álcool. Observa-se o aparecimento de frost d iscreto e, a
seguir, de eritema, com escamação 2 d ias depois. Deve·
-se recomendar o uso de fotoprotewres após o procedi·
mento, além de, creme calmante, se necessário.z 4 Esses
produtOs promovem suavidade na pele e mantêm um
efeito anti rrugas, com melhora da textura da pele nas
mãosn
• Despigm entantes: os despigmentantes podem ser utili·
zados no dorso das mãos para tratamento de melanoses,
levando ao clareamento gradativo, associado à fowpro-
teção9
• Criote rapia com nitrogênio líquido: técnica extrema-
mente efetiva para tratamento de melanoses solares e
actin icasn
Figura 5 6 .1 Marcação para preenchimento de mãos. (Fonte:
acervo da Ora. Rozana Castorina da Silva.) • Pree nchedores: são util izados para melhorar o aspecto
senil das mãos por alterações das fibras de colágeno e
elastina e dim inuição do coxim gord uroso (Figuras 56.1
a 56.3). 19 Os preenchedores ácido hial urõn ico e hid ro-
xiapatita de cálcio apresentam excelentes resultados .
• Lasers: o laser de co1 é utilizado para o rejuvenesci-
mento das mãos.u' A luz intensa pu lsada co nstitui exce-
lente opção para tratamento de melanoses solaresY

-
CONSIDERAÇOES FINAIS
Os lábios, o colo e as mãos constituem estruturas fun-
damentais que compõem a beleza e a defin ição estética
das pessoas. Torna-se fundamenta l atenuar as marcas do
envelhecimento e, assim, melhorar o aspecto psicossocial
das pessoas.
Figura 56.2 Preenchimento de mãos com ácido hialurônico.
(Fonte: acervo da Ora. Rozana Castorina da Silva.)
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Capítulo 56 • Rejuvenescimento de lábios, Colo e Mãos 299

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PARTE XVI

-
ALTERA-OES
HORMONAIS
Síndrome Metabólica
Sandra Lyon

Síndrome metabólica (SM) co nsti tu i um conjunto de mento do risco de doenças cardiovasculares, d iabetes tipo
fatores de risco metabólicos e fis iológicos relacionados 2, hipertensão e dislipidemia, entre outras doenças.
com a doença card iovascular (DCV): obesidade abdomi- A obesidade é resu ltado do controle inadequado do
na l, h ipertrigliceridemia, n íveis de H DL-c red uzidos hiper- balanço energético por ingestão alimentar e/ou por seden-
tensão arterial e res istê ncia à insulina (RI). tarismo '
O índice de massa corpórea (IM C) é calculado por meio
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS do peso ajustado para a altura: peso (em kg) e altura (em m2).
O excesso de gord ura pode estar mais concentrado na
Constituem cri térios diagnósticos da sínd rome meta-
região abdom inal o u no tro nco. A obesidade tipo and ro i·
bólica: de, mais frequente no homem, pode ser de dois tipos: su-
• Obesidade abdominal: a medida em centímetros da ci r· perior (de upper), central, abdominal, o u em maçã (apple).
cunferência abdominal: > J02cm em homens e> 88cm
A obesidade tipo ginoide, inferior, periférica ou subcu-
em mulheres.
tânea, no glúteo ou na região femoral, ou em pera, é mais
• T riglicérides: níveis> ISOmg/dL.
frequente em mulheres.
• HDL-c: < 40mg/dL em homens e< SOmg/dL em mu-
A obesidade androide está mais correlacio nada com
lheres.
complicações card iovascu lares e metabólicas, enquanto a
• Pressão arterial: n íveis tens ionais > 130/ 85mmHg.
obesidade ginoide está ma is associada a complicações vas-
• Glicemia de jejum: > JIOmg/dL.
culares periféricas.
A gordura víscera! é medida por meio da circu nferência
Esses critérios foram propostos pelo National Chole:;.-
da cintura (menor circunferência entre a última costela e a
terol Education Program (NCEP) para defin ição de sineiro-
crista ilíaca, horizontalmente, com o ind ivíduo em pé) e da
me metabólica em pacientes com risco elevado de doença
circunferência do quad ril (na altura do trocanter do fêmur), a
card iovascular, não necessitando da medida de resistência à
partir da qual pode ser calculada a relação cintura-quadril ou
insulina nem de marcadores inflamatórios.
Os critérios propostos pelo NCEP foram adotados razão abdome-quadril. Desse modo, quanto maior a relação
pela l Diretriz Brasilei ra de Diagnóstico e Tratamento da o u a med ida da cintura, maior o risco de doenças cardiovas-
Sínd rome Metabólica. A presença de três desses compo- culares e d iabetes melito. Relação quadril> 0,8 em mulheres
nentes constitui diagnóstico de sindrome metabõlica.1•2 e> 0,9 em homens define d istribuição central de gordura.
Aqueles indivíduos com IMC normal e aumento da
gordura víscera! também apresentam risco de compo nen-
OBESIDADE tes da síndrome metabólica e doen ça card iovascular•
Atualmente, a obes idade representa uma das priorida- A sindrome metabólica não retrata a obesidade por
des em saúde pública, uma vez que está associada ao au- si, mas características de d istribuição de gordura corpórea

303
< 304 PARTE XVI • Altera ções Hormonais

q ue, provavelmente, modulam a resistência à insulina e o


- ARTERIAL
HIPERTENSAO
metabolismo local dos ácidos graxos.s O con trole da hipertensão arterial deve ser rigoroso de
modo a reta rdar a perda da função renal e redu zir o risco
card iovascular. Os níveis de pressão arterial devem ser <
DISLIPIDEMIA
130/ 80mmHg. Se houver presença de proteinúria > 1g/24
Os lipíd ios são representados, principalmente, pelos horas, esse alvo deve ser reduzido para 125/75mmHg.10
triglicerídeos (TG), fosfolipídios (FL) e colesterol. Essas A hipertensão arterial é ma is prevalente em indivíd uos
substâncias são insolúveis no meio aquoso e, conseq uen- com res istê ncia à insu lina o u obesidade. Aumento de peso
temente, seu tra nsporte só é possível pela formação de li- pode precipi tar o apa recimento de hipertensão arterial.
poproteí nas (LP), agrega ndo macromoléculas de lipíd ios e Por outro lado, em obesos, red ução do peso leva a decréS-
proteínas. As LP são classificadas em cinco grandes grupos: cimos sign ificativos nos níveis tensionais.
o Alfalipo proteínas ou lipoproteínas de alta densidade
A hipertensão arterial na obesidade se deve à hiperinsuli-
(HDL): compostas de uma alfaglobulina, colesterol nemia compensató ria ou à resistência à insulina. A hiperinsu-
(30%), fosfolipídios (60%) e pequena quantidade de tri-
linemia pode aumentar a reabsorção rubular de sódio, ativar
glicerídeos (10%). o sistema nervo simpático e induzir fatores de crescimento,
o Betalipoproteínas ou lipoproteínas de baixa densidade
levando à proliferação da parede da musculatura I L~a-"
(LDL): compostas de uma betaglobu lina e de quantida- A hipertensão arterial é uma doença complexa, com
des relativamente ma iores de colesterol (57%) e fosfoli- múltiplos fato res etiológicos, sendo a resistência à insu lina
pídios (30%) do q ue de triglicerídeos (1 3%). apenas um desses farores. É importante lembrar que mu i-
o Pré-betali poproteínas ou lipoproteínas de densida-
tos pacientes hipertensos não apresentam resistência à in-
de muito baixa (VLDL): são compos tas por alfa e be- su lina, assim como nem todos aqueles que têm resistência
taglobul inas, triglicerídeos (50% a 80%) e meno res à insu lina e hiperinsu linem ia são hipertensosn
quantidades de colestero l (9% a 24%) e fosfolipídios
(1 0% a 25%).
o Li poproteínas de dens idade intermediária (]DL): têm DIABETES MELITO
densidade e tama nho semelhantes aos das pré-betalipo- O d iabetes melito (DM) é um faror de risco da maior
proteínas. São compostas de colesterol (50%) e triglice- importâ ncia para a morbidade e a morta lidade por doença
rídeos (50%). card iovascular.
o Quilomícrons: são gra ndes part ículas formadas na O DM consiste em um grupo de doenças q ue têm em
mucosa intestina l a partir de glicerídeos ingeridos. São com um a hiperglicem ia e suas consequentes complica-
compostOs de triglicerídeos (80% a 95%) com peq uenas cões
, vasculares. De modo convencional, o DM é classifi-
qua ntidades de fosfolipíd ios (3% a 15%), colesterol (2% cado em DM I (diabetes juvenil ou insu lino-dependente -
a 12%) e proteína.6 DMID) e DM2 (diabetes do adultO ou DM não ins ulino-
dependente - N IDDM).
A elevação da concentração dos ácidos graxos livres A insulina é um ho rmô nio polipeptíd ico anabólico
(AG L) no plasma precede as alterações de LP e constitu i produzido pelas célu las beta do pâ ncreas, cuj a síntese é ati·
marcador da sínd rome metabólica. vada pelo aumento dos níveis ci rcu lantes de glicose e ami-
A elevação das partículas ricas em triglicerídeos pro- noácidos após as refeições. A insul ina age em vários tecidos
porciona maior aporte dessas part ículas ao fígado, comes- periféricos, incluindo músculo, fígado e tecido adiposo.
tímu lo à prod ução de lipase lipoproteica hepática (LLH). Seus efeitos metabólicos imediatos incluem: aumento
O aumento da enzima LLH contribui para a formação de da captação de glicose, principalmente nos tecidos mus-
LDL-c e HDL-c. 7 cu lar e ad iposo, aumento da síntese de proteínas, ácidos
O suprimento elevado de ácidos graxos ao tecido mus- graxos e glicogên io, bem como bloqueios da produção he-
cular leva ao acúmulo de triglicerídeos inter e intramioce- pática de glicose, da lipólise e da proteólise.n
lu lares, q ue constitui o mecan ismo primário na gênese e A sensibilidade para a utilização da glicose varia muitO
perpetuação da resistência à insulina e das alterações no entre os indivíduos.
metabolismo das LP.8 Aqueles que apresentam resistência à insulina não
A hipetrigliceridem ia pode ser corrigida por meio da co nseguem manter a hiperinsulinemia para vencer a re-
dim in uição do excesso de peso corpóreo, o que leva à red u- sistência, levando, então, ao desenvolvimento de DM2. A
ção da prod ução hepática de VLDL-<:. Nesses casos, no en- maioria dos ind ivíduos insulinorres istentes secreta insuli-
tanto, pode ocorrer elevação do LDL-c, possivelmente em na suficiente para não desenvolver o DM 2, mas têm risco
decorrência da d iminuição dos receptores para essa LP9 elevado de apresentar uma concentração das anorma lida-
Capítulo 57 • Síndrome Metabólica 305 ")

des que se constituem na s índ rome metabólica e um risco


CONSIOERAÇOES FINAIS
-
elevado de doença card iovascu lar. Dessa maneira, aqueles
que se tornarão diabéticos em razão da fa lência insular
O conjunto de fatores de risco metabólicos e fis iológi-
também vão apresentar risco s ignificativo de infarto agudo cos relacionados com a síndrome metabólica deve ser bem
do miocárd io e acidente vascula r encefá lico (AVE) ames
compreendido e os critérios diagnósticos da sind rome meta-
do diagnóstico clin ico de DM2. 11 •14
bólica bem estabelecidos para identificação correta e trata-
Nesse contextO, a resistência à insu lina pode levar a
mento daqueles pacientes com risco subsequeme de doença
d uas situações:
ca rd iovascu la r.
• Hiperinsuli nemia compensatória.
• Resposta insul ínica inadequada, que constitui o pré<lia-
betes. Referências
1. Klein BEK, Klein, R., Lee, KE. Components oi the metabolic
Na s índ rome metabólica, a resistência à insulina pode syndrome and risk oi cardiovascular disease and diabetes. In:
acarretar: Beaver Dam. Diabetes Care 2002; 25:1790-4.
• Desenvolvimento do DM2 com suas complicações: reti· 2. Lakka, HM, Laaksonen DE, Lakka TA et ai. The metabolic syn-
drome and total and cardiovascular disease mortality in middle-
nopatia diabética, nefropatia e neuropatia diabética.
-aged men. JAMA 2002; 288:2709-1 6.
• Doença card iovascular. 3. WHO. Consultation on obesity. Preventing and managing the
• Hipertensão, AVE, ovários policísticos e ou tras conse- global epidemic. Geneva: World Health Organization, 1998.
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RMB, Mendonça BB. Endocrinologia. São Paulo: Atheneu,
A sindrome dos ovários pol icísticos (SOP) é a alteração 200Z
5. Snijder MB, Dekker JM, Visser M et ai. Associations oi hip and
endócrina ma is comum em mul heres na pré-menopausa, thigh circumferences independem oi waist circumference with
nas quais é significativamente maior a prevalência de resis- the incidence oi type 2 diabetes: the Hoorn study. Am J Clin
tê ncia à insuli na/hiperinsulinem ia. A SOPé outro exem- Nutr 2003; 77(5): 11 92-Z
plo em que parece que a h iperinsulinemia compensatória 6. Sampaio SAP. Rivini EV. Dermatologia. São Paulo: Artes Médica,
(secundária à res istê ncia à insulina em músculo e tecido 2007.
Z Zambon A, Deeb SS, Pauleno P. Crepaldi G, Brunzell JD. Hepatic
adiposo) agi ria norma lmente em outros tecidos, incluindo lipase: a marker for cardiovascular disease risk and response to
o ovário. No entanto, deve ser lembrado que nem wdas as therapy. Curr Opin Lipidol 2003; 14:17~.
pacientes com resistência à insulina desenvolvem ovários 8. Passarelli M, Nakadakare ER, Ouintão ECR . Dislipidemias. In:
policísticos e nem todas as pacientes com SOP irão apre- Saad MJA, Maciel RMB, Mendonça BB. Endocrinologia. São
Paulo: Atheneu, 2007.
sentar resistência à insul ina.12 •16
9. Dixon JL, Ginsberg HN. Regulation oi the production and cata-
A obesidade é ma is prevaleme em pacientes com psoría- bolism oi plasma low density lipoproteins in hypertriglyceride-
se, uma doença inflamatória de evolução crô nica e recorren- mic: information obtained from cultured liver cells. J Lipid Res
te, do que na população geral. A produção elevada de ci to- 1993; 34:167-79.
cinas proinflamatórias, como TNF-u, Jl.,.!, IL-6 e IU3, pelo 10. IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Sociedade Bra-
sileira de Cardiologia, 2002:1-40.
tecido ad iposo é característica de obesidade, podendo gerar
11. Eckel RH, Grundy SM, Zimmet PZ. The metabolic syndrome.
quadros de h iperglicemia, resistência à insulina e hiperten- Lancet 2005; 365:14 15-28.
são, favorecendo o surgimento da sindrome metabólica.'; 12. Saad MJA, Carvalheira JBC, Tambascia MA. Resistência à insuli-
Os fawres de risco para doen ça card iovascular podem na e doenças associadas. In: Saad MJA, Maciel RMB, Mendon-
ser divididos em maiores e menores e em mutáveis e imu- ça BB. Endocrinologia. São Paulo: Atheneu, 2007.
13. Zecchin HG, Saad MJA. Bases moleculares do diabetes melito
táveis. tipo 2. In: Saad MJA, Maciel RMB, Mendonça BB. Endocrinolo-
Os fatores de risco maiores e mutáveis são: d iabetes gia. São Paulo: Atheneu, 200Z
melito, hipertensão arterial, hábito de fumar e hipercoles- 14. Hu FB, Stampfer MJ, Haffner SM et ai. Elevated risk oi cardio-
terolem ia; o H DL-c baixo é em parte mutável. vascular disease prior to the clinicai diagnosis oi type 2 diabetes.
Os fato res de risco ma iores e imutáveis são: idade, Diabetes Care 2002; 25: 11 29-34.
15. American College oi Endocrinology Position Statement on lnsu-
gênero mascu lino e existência de doenças cardiovascular lin Resistance Syndrome. Endocr Practice 2003; 9:36-252.
prévia ou na família. 16. Dunaif A. lnsulin resistance and the polycystic ovary syndrome:
Constituem fawres de risco menores e mutáveis: obe- mechanism and implications for the pathogenesis. Endocr Rev
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1Z Setty AR, Curhan G, Choi HK. Obesity, waist circumference,
b ioq uí micas, como hiperfibrinogenem ia, aumento da pro-
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teína C reativa e das lipoproteí nas, Lpa o u Lp "little a", Study 11. Arch oi lntern Med 2007; 167(15):1670-5.
uma LDL,.cl s intetizada no fígado e que se u ne à apo-B da 18. Kannel WB. Bood pressure as a cardiovascular risk factor: pre-
LDL na membrana externa do hepatóci to ou no plasma.8•18 vention and treatment. JAMA 1996; 275:1571-6.
Manejo Hormonal da Acne
Lígia Almeida Bezerra

Alterações hormonais da puberdade estão q uase sem- a ação de neuromediadores e hipera nd rogenia, na persistên-
pre relacionadas com o inicio da acne vulgar típica, e os cia dos quadros de acne além do período de adolescência,
adolescentes do sexo mascul ino são os mais frequente e bem como no surgimento tardio da doença.
intensamente afetados. Matu ração suprarrenal e desenvol- A associação e ntre hormônios e acne é estudada há
vimento gonadal levam à prod ução de and rógenos e ao vários anos. Em 1969, foram correlacionados os níveis au-
aumento subseq üente das glâ ndulas sebáceas, cu lminando men tados de testosterona com a acne. Existem evidências
com a eru pção de acne nessa faixa etária. Acredita-se que a da relação entre aumento de andrógenos e acne, hirsutismo
intens idade da acne esteja ma is relacio nada com o estágio e d istúrbios menstruais. Foram avaliados os níveis séricos
puberal do que com a idade cronológica; mesmo assim, de testosterona livre em mulheres entre 18 e 21 anos de ida-
a ma ioria dos pacientes masculinos espera a regressão da de e foi constatado aumento dos andrógenos em um terço
acne entre os 20 e os 25 anos de idade. Em contraste, mu- das pacientes. Outro estudo q ue comparou dois grupos de
lheres podem contin uar com o problema durante a vida mulheres - um deles com acne isolada e o o utro com acne
adu lta, mesmo após os 40 anos de idade. associada a hirsutismo e/ou alopecia - documentou a ocor·
A acne feminina pós-adolescência pode ser d ividida rência de hipera nd rogenismo em um terço das mulheres.
em persistente, a qua l representa uma continuidade do Ao ser estudado o metabolismo androgênico nas glândulas
q uadro relacio nado com a puberdade, e acne de inicio sebáceas de homens e mu lheres com acne, foram flagrados,
tardio, q ue se inicia após os 25 a nos de idade. Acne do em relação aos controles, aumento dos níveis de sulfato de
mento é uma forma intrigante que ocorre no período pré- deidroepiandrosterona, d iidroepiandrosterona e testostero-
-menstrua l em mulheres mad uras, enquanto na acne es- na nos ind ivíduos com acne.
porád ica há o súbi to desenvolvimento das lesões na vida
adu lta, sem razão aparente. Clinicamente, essas formas de
acne podem diferir da dos adolescentes porque tendem a HORMÔNIOS
ser mais inflamató rias, com menos comedões. Além disso, RelatOs prévios e nfatizaram que os principa is ho r·
as lesões são mais comumente localizadas ao redor da boca, mõn ios envolvidos no processo acneico são: hormôn io
mento e linha da mand íbula' luteinizante (LH), hormôn io folicu loestimulante (FSH),
O aumento da secreção sebácea, bastante releva nte, de- prolactina, testostero na, testosterona livre (T L), sul faro de
corre da estimulação hormonal and rogênica, que é função d iidroepiand rostero na (DHEA-S), diidroepia ndrosterona
de maior produção gland ular hormonal ou de ma ior ligação (DHEA) e and rostenedio na (A).
desses hormônios aos receptores intracelulares cutâ neos. Na Na mulher, a maior produção de and rógenos ocorre
fase adulta, esses fatores tendem a ser atenuados, com con- na glând ula suprarrenal e nos ovários.
sequeme redução da ocorrê ncia da acne. No e nta nto, algu ns Os hormônios hipofisários - LH e FSH - são contro-
autores têm estudado a influência de outros fatores, como ladores da síntese ovariana de and rógenos e estrógenos.

306
Capítulo 58 • Manejo Honnonal da Acne

Quadro 58. 1 Indicações para avaliação dos níveis séricos de que glândulas sehác~as podem agir como ór1,>âo endóCrino
andrógenos
independente, respondendo a alteraçt)e:, nos andrôgenos de
H1rsut•smo de moderado a grave modo semelhante ao ~ixo hipotálamo-hipMi~uprarrenal.
HlfsutJsmo (qualquer graul de •niC1o súbito e progressiVO Uma porção significativa do., andn'ij:eno~ circulante.~
H.-sut•smo (qualquer grauI assoc•ado a qualquer dos achados
é produzida pela glândula ~uprarrenal e pelo:. re..,ticulos
abaoco:
lrregulandade menstrual ou •nfenll•dade ou ovários. Como referido previameme, uma grande por·
Obesidade central ção dos andróg~nos é também ~intetizada na pele a partir
Acne, seborreoa, alopeciB de precursore.~ ,uprartenais inati\~)..,, incluindo DHEA,
Acantose n•gncante
Progressão ráp•da
DHEA.S e andrnstenediona. 1
Chtoromegaha DHT e tesrosterona são os principab andrógenos que
interagem com os receptore.~ de andrógeno:. nm. glândulas
Fonte: An Bras Derm~~tol 2011 : 8601:111·9.'
sebáceas, com DHT sendo cinco a 10 vezes mais poten·
te do que a resrosrero na. Essa conver~ão de precursore.~
A prolactina e.~ti mula a secreção de DH EA.S. A testoste· suprarrenais inativos a andrógenos potentes ocorre em
rona, um importante andrógeno circulante, ~proveniente glândulas sebáceas na pre.~en ça de d iwrsas enzimas-cha·
das glândulas supra rrenais 00%), dos ová rios (20%) e da ve esteroidogê n icas: 3[3-h id rox iesteroide-desid rngenase
convers:io periférica (50%) a panir de outros hormônios, (3 ~-HS D), 17~-hid rox i esteroide desidrogenase ( 17~·1 150)

como DI IEA, na pele. e 5a -redutase (Figura 58. 1).


A DII EA e o DII EA-S são precursores importantes da O primeiro passo na síntese de testosrerona e DHT
testoste rona e da d iidrotestost.;rona (DI IT). Foi constata· consiste na conversão de DII EA a androstenediona, que
do aumentO de testosterona e DI IEA.S em mulhere.~ com envolve 3~-HSD. Existem duas formas de 3~-IISD: a do
acne grave. No entanto, foram t>ncontrados níveis séricos tipo I é exclusiva da pele e placenta, enquanto a do tipo 11
normais de te~tosterona e DII EA.S nas formas leves e mo- predomina na suprarrenal e nas gõnadas. A próxima etnpa
deradas de acne. envolve a conwrsão de andmstenediona em re.-.tosterona.
Os niveis séricos de andró~-eno> na mulher adulta com A 17(3-HSD é responsável por essa conver>ão reversível. Há
acne pOdem estar nonnais ou aumentados. Nesse segundo múltiplas formas de 17j3-IISD, ma;. a do tipo 2 - isoenzima
caso, estão relacionados com :.urgimemo tardio, persi~tênda 12 - e a do tipo 5 - isoenzima 10 - parecem ser as mais
da acne ou, me:.mo, com quadro> mab acentuados, poden- ativas nas glândula~ sehácea~. Em virtude de suas açõe.~ re·
do \ir acompanhado-. de alteraçõe.., ovarianas, como 0\'ários versiveis, a 17(3-HSD pOde funcionar como uma enzima de
policistico:., ou ~uprarrenab, que >ão mab bem avaliadas por porta de manutenção, regulando o ambiente hormonal da
meio do e:.tudo ulrra,;;onográfico (Quadro 58.1). 2 glândula sebácea. Finalmente, a te'>tt).'oterona pOde tomar
dois caminhos: pode ser convertida a um potente andró-
geno DHT pela atividade da 5a-redura-.e ou a e.'>trógenos
PATOGÊNESE menos potente.~ via atividade da aromata-.e.
A patogêne.~ da acne vulgar é multifarorial e envolve A 5a-redurase é uma enzima importante na., de.~or·
quatro etnpas principais: (I) hipersecreção sebácea por esti· dens andrógen<XIependentes, como acne, calvície de pa·
mu lação da glându la sebácea andrógeno-mediada; (2) que- d rão mascu lino e hirsutismo. Existem duas forma~: os ti·
ratinização anormal, ohstruindo os foliculos com formacão•
pos I e 2. O tipo I é a forma predominante na pele, com
de comedão; 0) colon ização do Propionibacteriwn acnes; e (4) altas concentrações observadas nas glându las sebáceas e na
in flamação folicular e dermica. Eswdos in 11ivo mostraram pele da face e do couro cabeludo.

Sulfato diidroepiandrosterona Estrona

! 3(3-HSD
17(3-HSD Aromatase
! 17Jl-HSD

Androstened•ona Testosterona Estrad•ol

! 5a-redutase

Diidrotestosterona

Figura 58. 1 Metabolismo androgênico. (An Bras Dermatol 2008; 83151:451-9.)


< 308 PARTE XVI • Altera ções Hormonais

Enquanto a testosterona e a DHT têm papéis claros xiprogesterona está acima de 200ng/dl, HSRC de início
na patOgênese da acne, a investigação continua sobre o pa- tard io pode ser a causa. A causa mais comum de HSRC,
pel do estrógeno. O estrógeno é conhecido por suprimir a observada em 95% dos casos, é a deficiência da e nzima
produção de sebo, qua ndo administrado em q uantidades 21-h id roxilase. Outras deficiências enzimáticas incluem
suficientes. Outros meca nismos para o efeito do estrógeno 17u-hidroxilase, l lj3-hid roxilase, e 313-hidroxiestero ide de-
incluem efei to direto de opos ição à teswsterona e inibição sidrogenase. Se o nível de testostero na está acima de
da secreção de testosterona. Além disso, med iante a meta- 200ng/dl , a fonte pode ser um tu mor de ovário secreto r
bolização do estrógeno no fígado, o estrógeno aumenta a de and rógeno. Elevação do nível de testostero na acima de
globulina carreadora de hormônio sexual (SH BG). A SHBG 150ng/d l , associada a relação LH:FSH > 2:3, é sugestiva
tem elevada afinidade pela teswsterona e vai ligar-se a ela de SOP. O momen to ideal para veri ficação destes valo res
preferencialmente sobre estrógeno. Como a teswsterona e laboratoriais é durante a fase lú tea do ciclo menstruaJ.l
sua conversão a DHT são os pri ncipais andrógenos na acne,
o aumento da SHBG leva à melhoria da acne.4
TRATAMENTO
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Anticoncepcionais orais
Os d iagnósticos diferenciais mais comuns na acne da T rês contraceptivos orais receberam aprovação da US
mulher adulta mais comumente incluem: rosácea, derma- Food and Drug Adm inistration (FDA) para o tratamento
tite seborreica, acne cosmética, acne pomada, acne ind u- da acne. Esses prod utos com ba ixa dose de estrógeno (EE
zida por med icação (da nazol, testostero na, progestinas, <50!lg) apresentam d iferentes progestágenos:
glicocorticoides, lítio, inibidores seletivos da recaptação • Etinilestrad io l (EE) 20/30/35 ~tg + noretindrona lmg
da serow nina, isoniazida, fen ito ína, vitam inas B1 , B6 e B11 , (Estrostep"') está ind icado para o tratamento de acne
halogên ios, inib idores do receptOr do fator de crescimen- vulgar moderada em mu lheres q ue têm ao menos 15
to epidérmico !quimioterapia!) e hipera ndrogenismo (in- anos de idade, alcançaram a menarca e necessitam de
clu indo SOP). Uma boa anam nese pode questionar sobre contraceptivo o ral.
essas considerações específicas no d iagnóstico d iferencial. • EE 35 ~tg + norgestimata 180/215/250jlg (O rtho T ri·
Uma desordem endócrina subjacente, especialmente -Cyclen"') está ind icado pa ra o tratamento de acne vul-
hiperand rogenismo, é uma importante cons ideração no gar moderada em mulheres com pelo menos 15 anos de
diagnóstico de q ualquer paciente do sexo feminino com idade que alcançaram a menarca e necessitam de contra-
acne, e uma pista histó rica sugestiva co nsiste na rápida re- ceptivo oral.
corrê ncia de acne após terapia com isotretinoína. • EE 20~-tg + drospire nona 3mg (Yaz"') está indicado para
Sinais o u sintomas de hiperand rogenismo devem levar o tratamento de acne vu lgar moderada em mulheres
a uma investigação d iagnóstica para distúrbio hormonal com pelo menos 15 anos de idade, alcançaram a menar-
subjacente. A causa mais comum de hipera nd rogenismo é ca e necessitam de co ntraceptivo oral.
SOP (80%), mas o d iagnóstico d iferencial inclu i neoplasia
Estudos têm demonstrado benefícios na acne com o
andrógeno-secreto ra (glându la suprarre nal ou ovário), hi-
uso de outros contraceptivos o rais, como EE 30~tg + d ros-
perplasia suprarre nal congênita não cláSsica, sínd rome de
pirenona 3mg (Yasmin"') e EE 2011g + levo norgestrel I0011g
hiperand rogenismo, resistência à insulina, acantose nigri-
(Aiesse"'). Apesar de somente três contraceptivos orais es-
cante (HAIR-AN), seborreia, acne, hirsutismo e alopecia
tarem indicados para acne, mu itos outros semelhantes se-
(SAHA) e and rógenos exógenos (testosterona, DHEA).;
riam benéficos. EE 35 ~tg + ciproterona 2mg (Oiane-35"'),
que não está disponível nos EUA. Sua primei ra ind icação
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL não foi como contraceptivo oral, mas como um produ to
Em caso de suspeita de anormalidade endócrina, são para acne, seguida da indicação para con tracepção.
recomendados testes de triagem para ajudar no diagnós· Para o início do tratamento da acne com contraceptivo
tico de excesso de and rógenos circulantes. Esses testes oral, recomenda o uso de um contraceptivo oral ind icado
incluem OH EA-S, testosterona to tal, testostero na livre e pela FDA (Quad ro 58.2). Para pacientes que já se benefi-
a relação LH:FSH. Se os níveis de DHEA-S aumentaram ciam com o tratamento contraceptivo oral pa ra acne, não
acentuadamente (> 8.000ng/dl ), um tu mor suprarrena l é necessário mudar o contraceptivo oral; quando um con-
é uma importante consideração para o d iagnóstico, e um traceptivo oral é ineficaz para acne, entretanto, é recomen-
e ndocrinologista deve ser consultado pa ra maiores investi· dada a escolha de uma fórmula de tratamento aprovada.
gações. N íveis na faixa de 4.000 a 8.000ng/d l podem indi- A maioria dos progestágenos deriva da teswsterona e
car hiperplasia suprarrenal congênita (HSRC ). Se 17-hidro- apresenta atividade and rogênica. Assim, para o tratamento
Capítulo 58 • Manejo Hormonal da Acne 309

Quadro 58 .2 Contraceptivos orais com benefícios contra acne

Etinilestradiol, 1'9 Progestlna

Aprovados pela FDA para acne•

Estrostep 20/30/35 Noretindrona 1m9

Onho Tri-Cyclen 35 Nor9estimata


180/215/250~·

Yaz 20 Orospirenona 3m9

Beneficios contra acne cientificamente comprovados

Ales se 20 Levonor9estrel 100119

Yasmin 30 Orospirenona 3m9

Micro9ynon 30 Levonor9estrel 150119

Nordette 30 Levonor9estrel 150119

Levien 30 Gestodeno 75119

Femovan 30 Gestodeno 75119

Onho-Capt 30 Oesogestrel 150119

Indisponível nos EUA

Oiane-35 35 Ciproterona 2m9

•FOA: US Food and Drug Administration.


Fonte: Cútis 2008; 81 (suppl1 ):8·12.

da acne é necessária a escolha de um contraceptivo oral que O uso da CPA, 50 a lOOmg/dia, como agente único
contenha uma progestina com baixas propriedades and rogê- registrou taxas de melhora da acne tão altas quanto 75%
nicas, como as de terceira geração (norgestimato e desoges- a 90%. Como medicamento não contraceptivo, a CPA é
trel).; A drospirenona e o acetato de ciproterona não são es- adm inistrada do I" ao JOu d ia do ciclo menstrua l (tendo
tru tu ralmente relacionados com a teswsterona e funcionam in ício no 1° primeiro d ia da menstruação).;
como antagonistas do receptOr de and rógenos.6 Em geral, quando combinado em doses de 2mg
A drospi reno na é um análogo da espironolacwna com com 35 ~tg de eti nilestradiol (D iane-35"', Bayer Sch eri ng
efeito equ ivalente na dose de 25mg. Atua como antimi nera- Pharma, Berlim, Alema nha), 1 é eficaz pa ra o tratamento
locorticoide, porém com ação antiandrogên ica mais fraca.6 do h irsutismo e da acne em mulheres e, em um estudo,
redu ziu as contagens de lesões de acne em torno de 75% a
90%. Um ensaio que avaliou a eficácia da drospirenona +
Acetato de ciproterona EE (Yasmin"') vs. CPA + EE (Diane"') e encontrou eficácia
A ciproterona (CPA) é um derivado da 17-hid roxipro- equ iva lente desses tratamentos (62% vs. 59%) na redução
gestero na usada no Ca nadá, na Europa e na Ásia, o acetato da contagem de lesões de acne.;
de ciprotirona (CPA) é um dos pri meiros agentes bloquea- Os efeitos colatera is ma is comuns são dores nas ma-
dores dos receptores de andrógenos a serem estudados. mas, dor de cabeça, náuseas e hemorragias, os q uais são
Tem dupla atividade, a de inib ir d iretamente os receptOres resolvidos no segundo ciclo. Os efeitos colaterais graves in-
de andrógenos e a de poder servi r, como a progesterona, cl uem hepatotoxicidade fatal, que é dependente da dose, e
em contraceptivos ora is combinados. Funciona in ibi ndo a em mulheres em idade fértil existe o risco de femi nização
conversão de DHEA em and rostenedio na, pelo bloqueio do feto masculino. 1
da atividade da 31>-HSD. Isso leva a uma dimin uição global Embora a ma nipulação hormonal ajude mui tos pa-
de testostero na com consequente d iminuição da produção cientes com acne, é imperativo que os dermatologistas tam-
de sebo.3 O CPA, a lém de agi r nos receptores and rógenos, bém estejam à procu ra de endocrinopatias, como a SOP.
tem peq ueno efeitO inibitório sobre a 5a-redutase e d imi· Pacientes com SOP costumam apresentar menstruações
nu i a secreção de and rógeno mediante sua ação antigo na- irregulares, hirsutismo, acne, infertilidade e obesidade. A
dotrofina.6 identificação precoce dessas pacientes pode trazer beneficios
< 310 PARTE XVI • Alt era ções Hormonais

Quadro 58 .3 Condições que impedem a utilização de Os efeitos antiandrógenos são alcançados por meio de
contracepção hormonal
vários mecan ismos, como: (I ) competição com testosterona e
At erosclerose DHT por receptores andrógenos, diminuindo, assim, a pro-
Doença biliar dução de sebo andrógeno-estimulada; (2) inibição da sí ntese
Câncer de mama
de andrógeno, diminu indo 17J).HSD tipo 2 e imped indo,
Trombose venosa profunda ou tromboembolismo pulmonar
(história) assim, a conversão de and rostenediona em testosterona; (3)
Diabet es melito com doença em órgão-alvo in ibição da 5a -red utase, impedindo, assim, a conversão da
Doença cardlaca, principalment e infarto agudo do miocardio testosterona em DHT; e (4) aumento do n ível de SHBG.
Hipertensão (sem controle)
Imobilização (prolongada)
Após administração oral, o metabolismo da espiro nolacwna
Doença hepática ocorre no fígado, onde é convertida em seu principal meta-
Enxaqueca com sintomas neurológicos focais bólito, a canrenona, que tem meia-vida sérica de 4 a 8 horas.1
Gravidez
A espironolaccona dim inui a 5a-redutase via aumento
Fumantes, especialment e m ulheres com mais de 35 anos de idade
da depuração de testosterona, secundário ao aumento da
Fonte: CutJs 2008; 8t (suppl t): t 9· 22. atividade da h idroxilase no fígado . Além d isso, aumenta
o nível da SHBG, proporcionando, assim, um escape que
red uz a testOstero na livre circulante à med ida que aumenta
a lo ngo prazo para a saúde, uma vez que elas são ma is pro-
a quantidade de SH BG . O efeito resultante da redução da
pensas a desenvolver resistência à insulina e doença card io-
testosterona livre em ci rculação é um estado esrrogênico
vascular do que as mulheres sem SOP. Para pacientes com
aumentado, o que pode conduzir a ginecomastia ou d i-
SOP e acne, a pílula combinada de etin ilestradioVd rosperi-
minu ição da libido, especialmente qua ndo são util izadas
nona pode ajudar ambas as condições. Além d isso, a pílula
doses mais altas de espi ro nolaccona por via o ral. A espi-
combinada (Yaz®) foi aprovada para transtorno d ismórfico
ronolacwna também atua localmente, competindo com a
pré-menstrual (PMDD), um diagnóstico psiquiátrico asso-
DHT pelos receptores de andrógenos cutâ neos, inib indo,
ciado a sintomas graves antes da menstruação.8
assim, a ligação de testOsterona e DHT.
Os efeitos colaterais ma is comu ns dos contraceptivos
A capacidade de a espiro nolacrona inibir and rógenos em
o rais são: sa ngramento fora do ciclo, náuseas e sensibili-
d iferentes níveis fisiológicos levou a sua utilização em mulhe-
dade mamária. Todos esses s intomas, à exceção do sa ngra-
res com alopecia androgenética, hirsutismo e excesso de pro-
mento, são atenuados com a d iminuição da dose de es-
dução de sebo, com relatos de sucesso em algumas pacientes.
trógeno no contraceptivo o ral. Uma preocupação comum
A espironolaccona é utilizada nas doses de 25 a 200mg/
de mu itas mu lheres é o ga nho de peso, mas as pacientes
d ia para o tratamento de mu lheres com acne vulgar (AV); no
devem ser informadas de que o gan ho de peso méd io com
entanto, é importante começa r com uma dose mais baixa e
uso de contraceptivo oral é de I a 2kg, o que ocorre em
aumentar de modo escalonado, se necessário, dependendo
30% das pacientes e mais frequentemente se deve à reten-
ção de líqu idos (Quadro 58.3).; da s ituação clín ica. A maioria dos efeitos adversos associa-
dos à espironolacrona é dependente da dose. Terapia com
dose baixa, utilizando 25 a 50mg/dia, é geralmente bem
Espironolactona tOlerada, e a dose de até JOOmg/dia não é problemática, na
A espironolactona, um estero ide sintético bloqueador ma ioria dos casos. Com a terapia com dose mais elevada
do receptor de andrógenos, tem sido utilizada há mais de (> JOOmg/dia) é maior a probabilidade de hiper potassemia,
30 anos para o tratamento de acne e hirsutismo.3 Os efei- particularmente q uando há comprometimento renal ou
tos antiand rógenos da espironolaccona foram descobertOs cardíaco. Outros efeitos secundários dose<lependentes in-
q uando ela estava sendo usada para tratar a h iperte nsão cluem irregularidades menstruais (metrorragia, amenorreia,
em mulheres com SOP e h irsmismo. Esse med icamento sa ngramento irregular), sensibilidade mamária e ginecomas-
tem s ido usado com frequência na cl ín ica dermato lógica tia, hipotensão o n ostática e d iminu ição da libido 7
em mulheres com padrão de acne vu lgar hormona l, de-
fin ida cl in icamente como pápulas inflamatórias muitOS
profundas, localizadas predominantemente na metade in- Flutamida
ferior do rosto e na região anterolateral do pescoço_; A flutamida é um bloqueador do receptOr não estero i-
Além d isso, é utilizada para tratar d istúrbios não cutà· de de andrógeno aprovado pela FDA para o tratamento de
neos, como hipertensão e insuficiência card íaca congestiva. câncer da próstata. Tem se mostrado eficaz no tratamento
Nesses distúrbios, atua como antagon ista da aldostero na e de acne, alopecia androgenética e h irsutismo. Após a admi-
compete com os receptores da aldosterona no rim para produ- nistração o ral, é convertida no potente metabóliro 2-h idro-
zir d iurese, redução da pressão arterial e retenção de potássio. xi flutamida, que inibe seletivamente a ligação de DHT ao
Capítulo 58 • Manejo Hormonal da Acne 311

receptOr andrógl!no. Também pode aumentar o metabolis- Sensibilizadores de insulina


mo de andrÓj,'t!no a metabólitos inativos. A~ doses variam de Os sensibilizadore:. de in..,ulina diminuem tanto a hipe-
62,5 a 500mg/dia. Um e:.rudo relatOu melhora da acne em rinsulinemia como a hiperandn~nl!mia, além de apresen-
80% da!> paciente~ que U~\'am 250mg de nur:amida/dia.1 tar beneficios ~hre o perfil lipídico, a pres.-.io arterial e a OVU·
Adalatkhah et ai. concluíram que a nur:amida é pelo me- !ação. A redução do.' andróg~nO.'> -.e de\\! à innuencia direra
nos tão eficaz quanto a ciprorerona no tratamentO de acne na esreroidogêne:.e no:. ovário:. pela diminuição dos níveL~ de
moderada, ma~ e:.ta precba ~r te:.-rada em esrudos maiores. insulina e aumento da SHBG. O tratamento do hir;,uti~mo
A a~sociação do! nur:amida a contraceptims orais poderia com esses medicamentos ainda é contmver;,o, embora estu·
ajudar a reduzir a do~ do! nutamida em estudos fururos.n dos demonstrem redução no cre;,cimento e na espessura dos
Para acne a-..,ociada à SOP, a combinação de nutamida pelos, além de melhora da acne e da acantose nigricame.
e pílula contraceptiva oral pareceu ser benéfica em esrudo A metformina tem sido :.ugerida como primeira esco-
controlado randomizado de 119 mulheres, com um segu i- lha no tratamento do hirsutbmo em mu lheres com SOP e
mento de 12 me;,es. 11 d istúrbios metabólicos~ r~produtivos. A dose inicia l é de
Os efeitos colatera is incluem sens ibilidade mamária, 500mg no jantar, que poderá ser aume ntada a cada sema-
desconforto gasrroimestina l, o ndas de ca lor e dim inuição na até a dose máxima de 2.000mg/d ia, divid ida em duas
da libido. Efe itos colaterais mais graves incl uem hepatite tomadas. O efeitO desaparece ) meses após a suspe nsão
fatal, relacionada com a dose e a idade. Por isso, são ne- d o med ica memo. Os efeitos colatera is mais frequentes são
cessários testes de fu nção hep:\tica regu lares. Uma vez que d ose-dependentes, como náuseas e d ia1·reia. A acidose láti·
se trata de um amiandrógeno, os riscos de gravidez consti· ca é rara, sendo desprezível quando ava liada a população
tuem outra preocupação.' O efeitO colateral ma is comum jovem com SOP.
é pele seca, devido à rt~dução da produção de sebo. O uso Esses efeitos também pod~m <JCorrer com a pioglitazo-
da nmamida não é liberado no Bra.~ il. 6 na e a rosiglitazona, podendo ser superiores com a associa·
A Agência Nacional de Vigi lância Sanitária (Anvisa) ção de anticoncepcionais orais ou flutamida. Contudo, a
determinou a atualização na bula do produto comercializa- segurança do tratamento com e»es mt!i.l icamemos ainda
do, enfatizando a toxicidade hepática do med icamemo, e necessita ser mab bem avaliada. 6
divulgou alerta técnico :.obre o;, ca'>O-~ notificados de hepati·
te fulminam!! a'>.'><JCiada a seu uso. Além disso, realizou um
e:.rudo, ~h a fí)rma de que:.tionário aplicado a médicos, a
Zileuton
respeitO da pre;,crição da nutamida a pacientes que apresen- O zileuton - (t)-1.{ 1-henzolbltien-2-il-etil).l.hidroxi-ureia
tavam condiçôe.'> dermatol6gica'>, além de ter emitido alerta - é um ati\'0 oral e inihidor ~eletivo da 5-lipoxigena~e apro-
de farmacovigilãncia :.obre <l'> ri'>COS de seu uso em mulheres vado nos EUA para o tratamemo da a .. ma (Zyflon•).H
com condiçôe:. para as 4uais não há aprovação." O zileuron inibe a :.inre..,e d~ ~bo até um ni\'t!l similar
ao da L'>Otretinoina em baixa do~. 1 s
O receptOr de ativação d~ pmliferação peroxissomal
Finasterida (PPAR) demonstrou regular o m~taholismo de lipídio_~ e li-
A fina,t~rida, um inibidor da 5~Predurase do tipo 2, poproteina~. a respo:.ta innamat6ria, a prol iferação celular
~ bem conhecida por sua mi lização na ca lvície de pad rão e a diferenciação e apoptost:! de vário_~ tipos de célu las, in-
ma~cul i no. 1 Atua bloqueando a conversão da testosterona clu indo célula~ das glândulas s~háceas, promovendo uma
em DIIT. Apesar de a u nidade p ilos..~eh:\cea comer predo- compreensão globa l em relação à introdução de zi leuton
mina memente a enzima tipo I, e.~rudos demonstram efeito no tratamen tO de doenças das glândulas sebáceas, especial-
benéfico no tratamento do h irsutismo, a.~si m como da alo- mente da acne, u ma vez q ue o zileut<)n é u m inihidor da
pecia anclrogenética em mul heres, com poucos efeitOS co- 5-lipoxigenase que, por sua vez, é liga me natural do PPA Ru'
laterais. No ~manto, a fi nasterida parece não ser efetiva no
tratamento da acne. A do_~e util izada é de I mg/d ia, embora ,
tenha sido descrita segurança com o uso de do_~es maiores.6 TERAPIA TOPICA
Cortexolona
Dutasterida O uso de antiandr6geno é, portantO, potencial-
A duta>terida atua sobre a~ duas i$Oenzima~ 5a-redutase mente eficaz; no entanto, antiandr6genos para uso tó-
e induz redução ainda maior no_~ níveis séricos de DHT, com pico não estão di>poní\'t:!Í> no mercado. Conexolona
evidencia., de beneficio no tratamento da alopecia androge- 17a-propionaro (CB-03..01; Co;, mo SpA, Lainate, Itália) é
nética feminina, na dose de 0,5mg/dia.6 Estudos de\-erão um n0\'0 e potente amiandr6geno t6pico pOtencialmente
ser realizado:. para e:.tabdecer a e(icácia de seu uso na acne. útil na acne vulgar. Setenta e ~et~ homem com acne facial
< 312 PARTE XVI • Alt era ções Hormonais

escores graus 2 e 3, de acordo com a Ava liação Global tamemo hormonal antiandrogênico não é uma pri meira
do Investigador (JGA), foram random izados para receber escolha de monoterapia para acne descomplicada.19
o creme placebo (n = 15) ou CB-03-01 creme a I% (n =
30), ou tretinoína creme a 0,05% (n = 32), uma vez por
d ia, ao dei tar, durante 8 semanas. A eficácia clínica fo i Referências
avaliada a cada 2 semanas, incluindo número total de le- 1. Schmitt JV. Masuda PY, Miot HA. Padrões clfnicos de acne em
sões (TLC, do inglês total acne lesion counting), contagem mulheres de diferent es faixas etárias. An Bras Dermatol 2009;
84(4):34~54.
de lesão inflamatória (I LC, do inglês inflammatory lesion
2. Teixeira MAG, França ER. Mulheres adult as com acne: aspectos
count), índice de gravidade da acne (ASJ) e IGA. A ava lia- comportamentais. perfis hormonal e ultrassonográfico ovariano.
ção de segurança inclu iu pontuação para irritação local, Rev Bras Saúde Matern lnfant, 2007; 7(1) :39-44.
exames laboratoriais, exame fís ico, sina is vita is e anota- 3 . Cost a A, Alchorne MMA, Goldschmidt MCB. Fatores etiopatogê-
nicos da acne vulgar. An Bras Dermatol 2008; 83(5):451-9.
ção de eventos adversos. C B-03-01 creme a I% foi muitO
4 . Ebede TL, Arch EL, Berson D. Hormonal treatment of acne in
bem tolerado e mostrou ser significativamente melhor do women. J Clin Aesth Dermato12009; 2(12): 16-22.
que o placebo em relação ao TLC (p = 0,0017), à ILC (p 5. Kamangar F, Shinkai K. Acne in the adult female patient: a practi-
= 0,0134) e ao AS! (p = 0,0090), e também clinicamente cal approach. lnt ern J Dermatol 2012; 51 :1162-74.
ma is eficaz do que o compa rador. O produto também 6 . Moura HHG, Costa DLM, Bagatin E, Sodré CT. Sindrome do
ovário policístico: abordagem dermatológica. An Bras Dermat ol
induziu rápida melho ria de 50% em todos os pa râmetros 2011 : 86(1): 111-9.
citados. Esse estudo piloto apo ia a base racio nal para o 7. Kim GK, Del Rosso JO. Oral spironolactone in post-teenage fe-
uso de antia nd rógenos tópicos pa ra o tratamento de acne male patients w ith acne vulgaris. Clinicai and Aesthetic Derma-
vu lgar. CB-03-01 creme a 1% parece se encaixar no perfil t ology, March 2012(3).
8 . Keri J, Shiman M . An update on the management of acne vul-
de um antiandrógeno ideal para uso tópico1 7
garis. Clinicai, Cosmetic and lnvestigational Dermatology 2009;
2:105-10.
Espironolactona gel 9 . O'Connell K. Westhoff C. Pharmacology of hormonal contracep-
tives and acne. Cutis. 2008; 81(suppl 1):8-12.
Foi realizado um e nsa io clinico d uplo-cego, de ma- 10. Sondheimer SJ. Oral contraceptives: mechanism of action, do-
nei ra aleató ria, em dois grupos demograficamente equ iva- sing, safety, and efficacy. Cutis 2008; 81(suppl 1):1~22.
lentes. Nesse estudo, participaram 78 pacientes com acne 11. Amorim MF, Amorim WPD, Duques P. Amorim PD, Vasconce-
vulgar de leve a moderada. Os pacientes, como gru pos de los JR. Hepatot oxicidade pela flutamida em paciente sob tra-
t amento para acne - Relato de caso. An Bras Dermatol 2005;
casos (38 pacientes) e controles (40 pacientes), usaram 5% 80(4):381-4.
de gel de espironolacwna e placebo, respectivamente. A 12. Adalatkhah et ai. Flut amide versus a cyproterone acet ate-ethinyl
resposta ao tratamento foi aval iada pelo total de lesões de estradiol combination in moderate acne: a pilot randomized clini-
acne (TLC) e índ ice de gravidade da acne (AS!). A idade cai trial Clinicai, Cosmetic and lnvestigational Dermatology 2011 ;
4:117-21.
média dos pacientes casos foi 21,5 ± 4,2 anos e a dos pa-
13. Calai J, Lopez E, Millet A et ai. Long-term efficacy and tolerabi-
cientes controles, 22,2 ± 4,06 anos. A d iferença no T LC lity of flutamide combined w ith oral contraception in moderat e
foi estatisticamente sign ificativa entre os dois grupos (p = t o severe hirsutism: a 12-month, double-blind, parallel clinicai
0,007), mas não houve d iferença estatisticamente sign ifi- trial. J Clin Endocrinol Metab 2007; 92(9):3446-52.
cativa entre os dois grupos pa ra AS! (p = 0,05 2). O gel 14. Carter GW. Young PR, Albert OH et ai. 5-lipoxygenase inhibitory
activity of zileuton. J Pharm Exp Ther 1990; 256:92~37.
de espi ronolactona tópica a 5% resultou em d iminuição 15. Zouboulis CC, Saborowski A. Boschnakow A. Zileuton, an oral 5
no TLC na acne vulgar, ao mesmo tempo que apresentou lipoxygenase inhibitor, directly reduces sebum production. Oer-
eficácia sign ificativa no ASI. 18 matology 2005; 210:36-8.
16. Zouboulis CC. Zileuton, a new efficient and safe syst emic anti-
-acne drug Dermat<rEndocrinology 2009; 1(3): 188-92.
-
CONSIDERAÇOES FINAIS 17. Trifu V. Tiplica GS, Naumescu E, Zalupca L, Moro L, Celasco G.
Cort exolone 17 -propionat e 1 o/o cream, a new potent antiandro-
gen for topical treatment of acne vulgaris. A pilot randomized,
O tratamento hormonal antiandrógeno é limitado a double-blind comparative study vs. placebo and tretinoin 0·05%
pacientes do sexo feminino que apresentam sina is ad icio- cream. Br J Oermatol 2011 Jul; 165(1):177-83.
nais de hiperandrogen ismo periférico o u hiperandrogene- 18. Afzali BM, Yaghoobi E, Yaghoobi R, Bagherani N, Dabbagh MA.
mia. Além disso, as mulheres com acne tarda, acne pers is- Comparison of the efficacy of 5% topical spironolactone gel and
placebo in the treatment of mild and moderate acne vulgaris: a
tente recalcitrante ao tratamento, com o desejo paralelo de randomized controlled trial. J Oermatol Treat 2012; 23(1 ):21-5.
contracepção, e com indicação de tratamento sistêmico, 19. Zouboulis CC, Rabe T. Hormonal antiandrogens in acne treat-
podem ser tratadas com antiand rógenos hormonais. O tra- ment. J Otsch Oermatol Ges 2010 Mar; 8(Suppl): 1:560-74.
Reposição Hormonal
Sandra Lyon

O envelhecimento é um fenômeno deletério progressi· Na andropausa, os níveis de testosterona decrescem


vo q ue afeta o ser humano e é acompa nhado de inúmeras progressivamente em homens idosos, declínio este q ue não
mudanças hormonais. Ocorrem alterações de secreção, é abrupto, podendo a fert ilidade estar preservada até a ida-
metabolismo e capacidade de resposta de diferentes hor· de mais avançada. No entanto, há influencia limitada na
môn ios. q ualidade dos espermatozoides e em sua capacidade de fer-
Os hormônios relacionados com o envel hecimento tilização. Ocorrem declínio da teswsterona livre e aumento
são: hormônios do crescimento (GH), fato r de crescimento das concentrações de SHBG (globulina ligada ao ho rmônio
semelhante à insulina (lGF-1), testosterona (andropausa) sexual), enquanto a testosterona sérica total permanece re-
d iidroepiand rostero na (DHEA - a ndropausa) e estrógenos lativamente estável nos homens até os 55 anos de idade.
(menopausa).' Existem evidencias de q ue o aumento das concentrações de
A terapia de repos ição hormonal (TRH) promove múl- SHGB em idosos possa estar relacionado com o declínio
tiplos beneficios sobre sintomas agudos, alterações a mé- dos níveis do hormôn io de crescimento e IGF-l.
d io prazo e prevenção de pato logias óssea e cardiovascular.1 O e nvelhecimento no homem é acompa nhado do de-
clínio da libido e da atividade sexual.
O envel hecimento também está relacionado com de-
DECLÍNIO HORMONAL clínio da massa corporal magra, aumento do tecido ad ipo·
A andrenopausa é o fenômeno do envel hecimento so e perda óssea progressiva.s
que afeta o córtex da suprarrenal. A máxima produção de Na mulher, o hipoestrogen ismo leva ao declínio da
DH EA ocorre entre os 25 e 35 a nos de idade, e sua secre- fu nção ovariana, com envelhecimen to da pele e anexos,
ção é red uzida a partir dos 35 anos no homem e entre os uma vez q ue a atividade dos fibroblastos, células prod uto·
40 e os 45 anos na mulher. A d iminu ição da DHEA é ma is ras de colágeno, está intimamente relacio nada com os es-
acentuada q uando aumenta o cortisol, como em situações trógenos. O colágeno está associado a turgor, elasticidade e
de estresse. A DHEA é precursora tanto dos and rógenos res istê ncia da superfície cutânea.
como dos estrógenos e mantém a eficácia do sistema imu- A sexualidade está comprometida em alterações de
nológico mediante o aumento do nü mero e da efetividade d ispareu nia, dim in uição da libido, desconforto, ardor e
dos linfócitos.' infecções vagina is recidivantes, q ue podem decorre r da
A somatopausa leva progressivamente ao declín io do atrofia genital. Ocorrem alterações neurops iquicas, como
GH a partir dos 65 anos de idade. O tratamento com hor· depressão, insônia e irritabilidade.
môn ios GH pode aumentar a massa muscular, d iminui r As mu lheres na pós-menopausa estão expostas a co n-
a quantidade de gordu ra corporal e red uzir os níveis de sequencias silenciosas da deficiência estrogênica, como
colesterol. No enta nto, provoca efei tos adversos a longo doenças card iovasculares, alterações do metabolismo ósseo
prazo, como ginecomastia e sindrome do tú nel do carpo.4 e distú rbios cogni tivos.

313
< 314 PARTE XVI • Alterações Hormonais

Há perda de massa óssea, determinando osteopen ia ou o Buciclato de testostero na IM: lg a cada 12 a 16 sema nas .
osteoporose com risco de fratu ras.6 o Microesferas de testosterona IM: 315 mg a cada l i se-
As propriedades neurossecreroras são influenciadas manas.
por vários h ormônios. Durante o envelhecimento, além da
deterioração morora, sensoria l e cognitiva, ocorrem tam-
bém alterações morfológicas e bioquím icas, q ue caracteri- Reposição hormonal em mulheres
zam a neuroendocrinopausa. Há red ução da imensidade A terapia de reposição hormonal utiliza~e de estróge-
secrerora dos neurô nios. nos, progestágenos e andrógenos, usados isoladamente ou
O desequilíbrio dos neu rotransmissores e neuro-hor- em associação.
mõnios é uma ma nifestação do fenômeno de e nvelheci- Os hormôn ios mais usados são:
mento. Observa-se d iminuição da dopamina nos sistemas o Estrógen os: 17 ~-estradiol em ades ivo (G inedisc<~>, Extra-

negro-estriado, mesol ímbico, mesocon ical e h ipotalâmico. derm TIS®, Estraderm Matrix<~>, Menorest<~>, System<~>,
Relacionada com a s incron ização do ciclo so no-vígil ia e Climaderm<~>, Lynd isc<~>) e gel (Estreva<~>, Hormonodo-
com ri tmo ci rcad iano e sazona l sens ível a n umerosos me- se<~>, Sandrena<~>, OestrogeJ<~>); estróge nos conjugados
dicamentos e condições patOlógicas, a melawn ina sofre ( Premarin<~>), Estriol (Ovestrion<~>) , promestriene (Col-
redução com o e nvel hecimento. potrofine<~>), benzoato de estrad iol (Ben zofynoestri J<~>,
Di meformon<~>), drosp ireno na + etin ilestrad iol (lumi<~>,
Yasmin<~>, Yaz<~>).
TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL
o P rogestágenos: acetato de medroxiprogesterona (Fa rlu-
Reposição hormonal em homens taJ'~>, Cycrin<~>, Provera<~>, Depoprovera<~>), noreti ndrona
A reposição a ndrógena deve ser considerada na pre- (M icronor<~>), acetatO de noretisterona (Primol ut Nor<~>),
sença de n íveis de and rógenos séricos aba ixo do limite mí- nomegestrol (LutenyJ<~>) e levonorgestrel (NortreJ<~>).
n imo (1 1n mol/L de testosterona tOtal ou 0,25n mol/L de o Associações estrógeno-progestágenos: 1713-estriol + no-
testOstero na livre). Associado ao declínio hormonal, deve retistero na (G ined isc Plus<~>, Estracomb<~>, Lindisc Duo<~>,
ser considerada a s imomato logia da deficiência a nd róge- System sequi<~>, Estragest<~>, Suste m comi<~>); estrógenos
na: d iminuição de massa e força musculares, aumento da conjugados + acetatO de med roxiprogestero na (Prema-
gordura corporal centra l e osteoporose. A simo matologia rim MPA<B>, Premelle<~>); va lerato de estrad iol + acetato
subjetiva também deve ser considerada, como queda da de medroxiprogesterona (D ilena<~>); valerato de estrad iol
libido, perda de memória, dificuldade de concentração, es- + acetato de ciproterona (Climene<~>); estradiol + acetato
q uecimento, insôn ia, irritabilidade, depressão e perda da de no retisterona (Cliane<~>) .
auroestima. o O u tros ho rmõ n ios: tibolona (LiviaJ<~>); decanoato de
A pri ncipa l contraind icação à terapia com testOsterona nandrolona (Decadura-bolin<~>) 9
cons iste na presença de carci noma prostático, que deve ser
exclu ído antes de ser in iciada a terapia. O paciente deve A tibolo na é um progestágeno derivado de noretino-
ser acompa nhado regu larmente com exploração digital, d rel q ue, ao ser metabolizado, dá origem a um composto
a ntígeno p rostá tico específico, ultrasso nografia transretal co m ações estrógenas, progestágenas e andrógenas. É e m-
e b iópsia, se necessá rio. pregada na dose de 2,5mg/diaw
A terapia de repos ição hormonal no ho mem é realiza- Os vegeta is constituem as fomes mais ricas em fitO·
da com testOsterona por via oral, injetável e transdérmica: -hormôn ios, substâncias q ue agem como modu ladores se-
o Enamato de testosterona IM: 200 a 250mg a cada 2 ou letivos de receptOres estrógenos.
3 semanas . São alimentos ricos em fito-hormôn ios: grãos de soja,
o C ipio naro de tesrosterona IM: 200mg a cada 2 semanas. semente de linho, nozes, grãos integrais, maçã, alfafa, sal-
o Undeca noaro de testosterona - pele escrota!: um adesi- são, aipo e couve-"·11
vo por d ia. A soja tem em sua compos ição duas substâncias: a
o Adesivo de testostero na não escrota!: um a dois adesivos ginesteína e a daid zeí na (isoflavonas), q ue prod uzem leve
por dia . efeitO estrogên ico. Uma xícara de soja co ntém 300mg de
o Implantes de testostero na - subcutâneo abdom inal: trêS isoflavona, cujo efei to biológico equ ivale a 0,45mg de es-
a seis implantes de 200mg a cada 6 meses. trógen os conjugados. A dose de isoflavona preconi zada é
o Tesrosterona ciclodextrina sublingua l: 2,5 a Smg d uas de 750mg/dia.8
vezes por dia. No reino vegetal são e ncontradas o utras fomes na-
o Undeca noato de testostero na IM: lg a cada 8 a lO se- tura is com ação estrógeno-símile, como Angelica sinensis
ma nas. (Dong Qu ai), alcaçuz (GlyC)'l'rhiza glabra), semente de uva
Capítulo 59 • Reposiçllo Hormonal 315 )

ca..,ta (Vicex agnus cascus), cimicífuga racemosa e Ginkgo lerrolirico, lipídico e tle hidrato; de carbono, podendo
biloha."·'7 levar a diabete~ melim, porfiria e gota. Na menopausa,
a mulher tem tendt!ncia a ganhar peso, com aumento
Vias de administração da gordura abdominal ou central, o que ac:arrer.a altera-
A;, principab via~ de admini;rraç.'io s.'lo a oral e a pa- cões no metaboli;,mo lipídico ou glicídico. I lá aumento
da resistência à in,ulina com comequente aumento do
remeral.
Arravé:. da admini\tração oral, os estrógenos passam risco cardiova...cular e aumento concomitante dos niwL~
pelo fígado e ~ão excretado;, pela urina e pela bile. Ocorre circulantes de triglicerideo,, diminuição dos niveis de
aumento da produção do I IDL no colesterol e o fígado é HDL-c e aumento da gordura central. Não há, ne.~ses
ca.~os, contraindicação para repmição hormonal, deven-
estimulado a produzir quantidades excessivas de prmeínas,
como o angiotel~>inogênio, um substrato de renina que do, no entanto, ser feita monitorização hasranre rigida.'8
eleva a pressão a rreria I. • Doencas autoimunes: nas doenças autOimunes, a in-
Podem st!r u;,adas por via paremeral: atlesivos ou gel
dicaçã~ da TRII vai d.;pender da particularidade tle
transdérmicos, implantes subcutâneos, injeção, spray nasal cada doença. Os el>trógenos e a prolactina estimulam
ou vagina l e dispositivos intra-uteri nos com progesterona. o sistema imunológico e a progesterona, e nquanto os
As vantagens da via transdérmica são: reduz os níveis andrógenos os suprimem. No lúpus e rite matoso sistê·
de n iglicerideos, causa menor interaç:io no metabolismo mico, o uso de estrógeno dew ser evitado. Na miasten ia
glicidico e apresenta processo de absorção mais u ni fo rme, grave, estrógenos podem ser admi nistrados, mas não a
mas ocorre aumento menor nos níveis de H DL. progesrern na. Na artrite reumatoide e na esclerose múl·
tipla, não há comraindicação. Em caso de tireoid itt! de
Hashimoro, doença de Addison, menopausa precoce ou
Esquemas terapêuticos
cirrose biliar, os estrógenos e progestâgenos podem ser
o, esquema.~ terapêuticos mais uti lizados para reposi- usados.•9.zo
ção hormonal >ào: • H ipertensão arterial: a hiperten~ão arterial tem como
• Contínuo simples: utiliza-se de maneira contínua estró- principal faror de risco a.., alterações lipídicas. A admi-
geno ou proge~tágeno. nistração de e~trógeno~ diminui o LDL-c e aumenta a
• Combinado contínuo: utilizam-se doses fixas de proges- fração protetora do IIDL-2, reduzindo o ri>cO cardio-
tágeno e e.rrógeno a'-'>Ociado.-. de modo contínuo. va.~cular. já o;, proge.tágeno_., têm efeitos de.,favoráveL~
• Ciclo simples: utiliza-se e;,rrógeno ou progestágeno de sobre o padrão lipídico e devem "er ~mpre utilizados
modo cíclico. em dosagen" menore.'>. Além do, anti-hipercensivos e da
• Combinado cíclico continuo: utiliza-se estrogênio de utilização de diurt!tico..,, e'-..a.' paciente' devem ser acon-
maneira continua e proge.,tágenos de modo cíclico. selhada.~ a emagrecer, r~luzir a inge.-.tão de sal na dier.a,
• Combinado cíclico sequencial: administra-se esrrógeno suprimir o fumo e o álcool, a fazer exercícios físicos t! a
durante 21 a 25 dia.' e nos últimos 10 a 12 dias as.~ociam­ adotar medidas antil!.\tre,.e.21
-se proge;,tágenos.q • Cardiopatas: mulheres card iopatas têm risco aumenta-
do de apresentar fenômenos tromboemhólicos. O rrara-
Devem st!r observados os segu intes pomos referentes memo hormonal da menopau~a tem sido reconhecido
ao esquema t.;rapt!utico de reposição hormona l: como retlutor dos índices de risco cardiovascular e tle
• M ulheres histerectomizadas: deve se r uti lizado o esque- mortalidade por cardiopatia. Os estrógenos não têm
ma contínuo simples ou cíclico sim ples com estrógeno. a cão . . som~
cIeC1s1va I a coagllIaçao · sangum· ea.·'~zs

• Mulheres com útero: iniciar com esq uema cíclico sim- • Câncer de endométrio: os fatore.~ de risco pa ra câ ncer
ples de progestâgeno por lO a 12 dias a cada mês. de endométrio estão rdacionados com o estado de hipe-
• Mulheres que desejam menstruar: indicar o esquema restrogen ismo relativo: menopausa precoce, menopausa
combinado cíclico contínuo ou o combinado cícl ico se- tardia e nuliparidade. Na obesidade, o tt!cido adiposo
quencial. transforma os andrógenn~, produzidos pelas suprarrenai~
• Mulheres que não desejam menstruar: esquema com- e ovários, em estrógenn~; diminui a menor taxa de SHBG
binado continuo por via o ral ou trart~dérmica.9 e ocorre aumento da fração livre, ativa, do_~ estrógenos.
A estrogenoterapia ;em opo;ição leva ao aumemo
Terapia de reposição hormonal em situações do risco de câncer endomenial de forma, dose e tt!rnpo-
especiais -dependente~.
• D oencas

metabólicas: a" alteraçõe.~ metabólica.~ do di- Em ca.~o de câncer do endométrio tratado, pode-se
matt!rio 1!.\tão relacionada;, com o metabolismo hidroe- empregar a terapia combinada de e'trógenos com pro-
< 316 PARTE XVI • Altera ções Hormonais

gestágenos. Em mu lheres com hiperplasia endometrial, o Varizes: os estrógenos e progestágenos podem levar
deve-1>e associar progestágeno em doses e tempos ma io- ao desenvolvimento ou exacerbar o q uadro de va rizes.
res. Nas mulheres histerectomizad as, emprega-1>e apenas Opção: med roxiprogesterona o u 17 ~-estradiol tra ns·
estrógeno.16•11 dérm ico.
o M ioma uteri no: a presença de leiomioma uterino não o Aterosclerose: util izar terapia estroprogestogênica de
constitu i fator imped itivo pa ra a T RH . U tilizam-1>e do- modo preventivo. Não utilizar em doenças corona rianas
ses reduzidas de estrógenos e doses maiores de progestá· estabelecidas as terapias estrogênica progesrogênica ou
genos.zs estroprogestogênica.
o Câncer de mama: a T RH co nstitui o tópico ma is con- o Vasculite: podem ser utilizados progestágenos e andró-
troverso no que diz respeito ao aumento do risco de genos. Evitar a estrogenoterapia.H
câ ncer de mama. Os fatores de risco con hecidos para o Doenças hepáticas: o fígado é o órgão que metaboli-
câ ncer de mama são nu li paridade, história familiar de za a maior parte dos med icamentos. Em mulheres com
câ ncer mamário, usuárias de altas doses de estrógenos doença hepática crônica deve-se utiliza r o 17 ~-estrad iol
e co nsumo excessivo de álcool concomitantemente aos por via transdérmica, por meio de ades ivo ou gel, para
estrógenos. O tratamento da mulher climatérica com não sobrecarregar o fígado, uma vez que evita a primei-
histó ria de câ ncer de mama deve ser reservado àquelas ra metabolização por esse órgão. Deve-1>e fazer contro le
mulheres curadas, com bom prognóstico e q ue possam rigoroso da função hepá tica.ls
ser acompan hadas rigorosamente, com o objetivo de o Dislipidemias: em caso de lipidemias, a repos ição estro-
melhorar sua qualidade de vida.18•19•10 gên ica tem efeito favorável por red uzir as co ncentrações
o Tabagismo: a nicoti na atua nocivamente no apa re- do LDL-c e aumentar as de HDL-<:, tOrnando o perfil
lho reprodutor femin ino, aumentando a incidência lípidico menos aterogênico. No entanto, os estrógenos
de recém-nascidos de ba ixo peso, natimortos, abortos aumentam os triglicerídeos e, em caso de hipertriglice-
espontâ neos e placenta prévia. A nicoti na provoca hi- ridem ia, a TRH com estrógenos está co ntraindicada em
poxia placen tária, causada pelo monóxido de carbono, virtude do risco de pa ncrea tite aguda.'6
leva ndo à hipoxia fetal. A~ mulheres tabagistas podem o Melanoma: para as mulheres clima téricas portadoras
e devem usar T RH . A via preferencial é a transdérmica, de melanoma, os SERM (se!ectít'e estrogen receptor mo·
que mantém níveis mais constantes de estrógenos na dulator) e os estimu ladores seletivos dos receptOres es-
corrente sa ngu ínea, interferindo de ma neira menos des- trogên icos, particularmente o tamoxife no, não estão
favorável nos fenômenos cardiocircu latórios_~'·'1 ind icados. H
o Endometriose: a TRH não está contraind icada para o Mulheres idosas: mulheres idosas que necess itam de
mulheres tratadas de endometriose. É recomendada no repos ição hormonal devem utilizar estrógenos e pro-
primeiro ano a adm inistração de progestágenos e, a se- gestágenos em doses baixas. Pa ra mu lheres idosas com
gu ir, esquemas de estrógenos e progestágenos combina- ú tero intacto util izam-se estrógenos conjugados, 0,3mg,
dos e contin uos.18·n associados a medroxiprogesterona, 2,5mg, contin ua-
o Doenças vasculares: as principais alterações a natõmicas mente. As mulheres histerectomizadas não necess itam
causadas pela carência estrogênica são a aterosclerose e da progesterona associada aos estrógenos conjugados
a formação de trombos em virtude de mod ificações no contínuos. Mulheres idosas com osteoporose devem uti·
metabolismo lipoproteico e na coagu lação. lizar o 17-decanoato de nand rolona, 50mg, uma ampola
IM a cada 3 semanas, associado a estrógenos conjuga-
Algumas situações devem ser cons ideradas: dos, 0,3mg, e medroxiprogesterona, 2,5mg, contínuos_~8
o Tromobose venosa: Para mulheres com contraind icação para a TRH pode-
- Os and rógenos têm efeitos benéficos em mulheres -se preco nizar terapia al ternativa:
com a ntecedentes ou risco de trombose venosa peri- - C inarizina, 25 a 75mg/dia para mulheres com sintO·
férica (TVP). mas vasomorores.
- São co nsiderados progestágenos sem riscos: medro- - Carbonato de cálcio, 400mg d uas a três vezes ao dia.
xiprogesterona, levonorgestrel e noretisterona. São - Bifosfonatos: alendronato de sód io, JOmg/dia, em
considerados de risco em mulheres com anteceden- jejum, meia hora antes do café da manhã, o u 70mg
tes de T VP: gestodene, desogestrel, linestrenol e ci- uma vez por semana.
proterona. - Calciron ina de salmão, 200U l, um jato em spray na
- Os estrógenos sintéticos apresentam risco elevado em narina em dias alternados w
casos de T VP, devendo ser util izados estrógenos na- - A absorção do cálcio é mais efetiva quando associada à
turais por via transdérmica. admin istração de magnéS io quelado (Quad ro 59.1).40
Capítul o 59 • Reposição Hormonal 317 ")

Quadro 59 . 1 Esquemas terapêuticos 9. Fonseca AM, Bagnoli VR, Halbe HW. Pinotti JA. Terapia de repo-
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Calcio quelado 800mg
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Magnésio quelado 400mg
Vitamina D, 400UI Osteoporis (Abstract), Amsterdan, 1996:4.
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Magnésio quelado 300mg
and peony root on uterine contraction in the rabbit in situ. J
Vitamina D, 400UI
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Boro quelado 2mg
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Manganês quelado 2mg
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Cobre quelado 2mg
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Zinco quelado 30mg
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Magnésio quelado 350mg
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Modulação Hormonal
Cor-Jesus Luzia Heleno

llormõniO$ bioidênticos con..,btt!m em estruturas Quadro 60. 1 Tipos de hormônios

moleculares idênticas aos hormônio,., t!ndógenos, como Aslológlcos Bloldlntlcos Nlo bloldêntlcos
17~'tradiol, estrona, estriol, prof,<e.'>tt!rona e te~rosrerona.'
Testosterona Testosterona Menltestosterona
0.. hormônios bioidênticos e o> não hioidêmicos base Undecanoato de testosterona
diferenciam-se em sua estrutura molecular, do pomo de Propionato de testosterona
Fenilprop1onato de
vbta farmacodinãm ico, ha\·endo di>tinção em termos de testosterona
eficácia e segurança. 1 lsocaproato de testosterona
O Quadro 60. 1 mostra a classificação dos hormôn ios. Caproato de testosterona
Hexaidrobenzoato de
testosterona

HORMÔNIOS Estrad10l Estradiol Enantoato de estrad1ol


base Etinilestradiol
Testosterona Valerato de estrad1ol
A testosterona é um hormônio imprt!scindívd no me- Dietilestilbestrol

mbolbmo de carboidratos, lipídio> e proteína'>. E.'\.~e hor- Estr1ol Estnol base


m<)nio rem grande influência na compo~ição da gordura
Estrona Estrona base Sulfato de estrona
corporal e na massa muscular n~ homen>. A deficiência
de.,><! honntmio está associada a aumento da massa de gor- Progesterona Progesterona Acetato de
base medroxiprogesterona
dura, redução de sensibilidade à insulina, diminuição da Caproatode
tolerância à glicose, elevação de triglicerideos t! colesterol e hidroxiprogesterona
baixo IIOL..ç. Todos esses fawres são encontrados na sín· Enantato de
17a-hidroxiprogesterona
drome metabólica e no diabetes tipo 2. 1 l~nonestosterona

No homem, o hipogonad ismo é frequentemente associa- Levonorgestrel


Noretisterona
do il sintomarologia de libido reduzida, disfunção erétil, re- Alilestrenol
dução da ma.'\.~a muscular e da força, aumento da adiposida- Androstanolona
de, <~teop<>rose, ma~ 6ssea reduzida, dt!pressão e fadiga 4 ·5
Na mulher, as mudanças hormonab a..'\.~ociadas à pe-
rimenopausa e à menopausa provocam >intOma..~ de foga- Dosagens /aborstorisis
cho,, >udorese noturna, fragilidade emocional e transtor- A te.-.ro~terona é secretada pelos testícul~ do homl!m
no do ;,ono. Concomitantemente, ocorrem atrofia vaginal e pela~ ~uprarrl!nab e OVários na mulher. A te.'>to;terona é
e diminuição das secreções glandulares cervicais, resultan- tanto um hormônio como um pró-hormônio que pode >er
tes da depleção de estrógeno pó:>-menopau;,a. O declínio convertido em outro and rógeno (diid rotestosterona) e e m
do estrógeno leva à d isfunção sexual. 6 estrógeno (e;rradiol).

319
< 320 PARTE XVI • Altera ções Hormonais

Valores de referência da testosterona total A população mu ndial está cada vez vivendo ma is, e a
o Mul heres: 0,025 a 0,46ng/mL. proporção das pessoas que nascem está cada dia menor. As
o Homens: famílias estão cada vez menores, em razão de vários fatOres,
- de 20 a 49 anos: 2,18 a 9,6ng/mL. entre os quais o estilo de vida moderno e a lo ngevidade,
- superior a 50 anos: 1,32 e 8,92 ng/mL. que se tOrna um fenômeno cada vez ma is presente.
Apesar dos avanços da med icina moderna, aumenta
assustadoramente o número de doentes crôn icos: câncer,
Estrógenos
doenças card íacas, doenças articu lares e doenças neuroló-
O 171}-estradiol é o estrógeno mais ativo e importante gicas são man ch etes que aparecem estampadas quase que
na mulher em idade reprodutiva. Em mulheres na meno- d iariamente em jornais de todo o mu ndo.
pausa, a estrona, ma is do que o estradiol, é o estrógeno Quando se fala em longevidade, em viver mais, não se
ci rcu lante predom inante. Nas mulheres grávidas, o estriol pode deixar de pensar em q ualidade de vida, o q ue incl ui a
é o que predom ina. saüde como o principal bem que se pode almejar.
o Dosagem de 1713-estrad iol
Quando se fala em modulação hormona l, não se está
- Homens: 7,63 a 42,6pg/mL. falando em um hormôn io isolado: é como se fosse um re-
- Mulheres: lógio analógico, daqueles dos tempos antigos, em que cada
• Fase folicu lar: 12,5 a 166 pg/mL. elemento tem seu papel e o desgaste de q ualq uer parte de
• Fase ovu lató ria: 85,8 a 498pg/mL. sua delicada engrenagem levaria a uma desregu lação da
• Fase lútea: 43,8 a 211pg/mL. h ora. A~s im são os ho rmô nios. Cada um que não esteja
• Pós-menopausa: < 5,0 a 54,7pg/mL.
sendo bem prod uzido, armazenado ou bem usado levará a
o Dosagem de estrona
um distú rbio corporal o u mental.
- Fase folicular: 37,2 a 137,7pg/mL.
Quando se fa la nessas falhas h ormona is, fala-se nas
- Fase ovulatória: 59,9 a 229,2pg/mL. pausas humanas, q ue podem ser d ivid idas em primárias
- Fase luteínica: 49,8 a 114,1pg/mL. (adrenopausa, and ropausa, menopausa, eletropausa, tireo-
- Menopausa: 14,1 a 102,6pg/mL. pausa, melatopausa, somatopausa) e secundárias (pinea l-
pausa, paratireopausa, nefropausa, entre o utras). Nessas
TERAPIA DE REPOSIÇAO HORMONAL
- pausas estão envolvidos vários fatOres, como estresse, se-
A terapia de reposição hormonal (T RH) está reco- denta rismo, carência n utricio nal, desequilíbrio hormo nal
mendada para melhorar a qua lidade de vida. Utilizam-se e rad ica is livres em excesso, tudo isso leva ndo a um proces-
formu lações compostas de hormôn ios denomi nados idên- so de in flamação crôn ica e, consequentemente, provocan-
ticos aos humanos em formulações prescritas sob a forma do várias doenças, que cada qual desenvolverá co nforme
o ral, transdérmica ou em preparações vaginais 6 sua herança genética e seu estilo de vida.
Tem s ido precon izada a terapia de hormôn ios bioidên- Quando se fa la em modulação hormonal nos dias de
ticos combinados em uma ún ica prescrição, denominada h oje, é natural q ue haja uma certa resistência, porque tO·
terapia combinada personalizada.' dos os profiss ionais são res istentes a mudanças, incl usive
A terapia de combinação firoterapêutica em mulheres quando existem interesses de vá rias correntes que defen-
na menopausa para sintomas vasomotores utiliza Fen<la lter· dem o modelo de med icina praticado hoje e que, áS vezes,
monis, A ngelica sinensis e Gingko biloba. As plantas podem têm dificuldade em acol her o novo, mesmo porque está
ser um adjuvante no tratamento dos déficitS hormonais_; cientificamente provado que a modulação hormona l pro-
picia uma vida mel hor.
É importante lembrar q ue a repos ição hormonal d ife-
Modulação hormonal: uma mudança de re da modulação hormona l, a qual se faz com hormôn ios
paradigma- a medicina do presente e do futuro idênticos aos produzidos pelo próprio o rga nismo, enquan-
Os hormô nios mantêm os seres humanos vivos. O en- to na primeira nem sempre os hormônios usados são idên-
velhecimento ocorre em razão da d imi nu ição de sua pro- ticos aos prod uzidos naturalmente pelo corpo.
dução pelas glându las do corpo. Esta é a fis iologia hormo- Quando se pensa em reposição h ormonal fem in ina,
nal que di rige todas as ações, seja a tomada de atitudes, seja por exemplo, pensa-se em uma ún ica pausa gênero-especí-
a de ser mais dócil, seja a de ser ma is viril, seja a de dormir fica (p. ex., menopausa), o q ue não ocorre na modu lação
melh or, e assim por d iante. Isso q uer d izer que em tudo h ormonal.
q ue se faz e reage está implícita a questão honnonal. Pode- Na modulação hormonal é importante adotar como
se pensar também que com uma boa mod ulação hormonal parâmetro a melhora do paciente. Importante também é
preserva-se, e automaticamente cuida-se, da saúde. adequar a quantidade de hormônio necessária para ocupa r
Capítulo 60 • Modulação Hormonal 321 ")

os receptores existentes referentes à patologia que se quer O tratamento para os pacientes em and ropausa cons is-
tratar. te no uso de testostero na, 50mg a !OOmg, de acordo com
São consideradas pessoas saudáveis aquelas que apre- o perfil do paciente, via o ral ou intradérmica (usando o
sentam ótimos níveis e hormônio do crescimento (GH), veículo gel transdérmico):
testosterona, diidroepiandrosterona (DHEA), hormôn ios o Testosterona bi idêntica: 50mg.

tireoid ianos e melaron ina, enquanto as pessoas envelheci- o Gel transdérmico qsp lg = I dose.

das apresentam alto nível de con isol e insul ina. Modo de usar: aplicar uma dose na região interna do
Os hormôn ios derivam pri mariamente do colesterol e braço, à noi te.
da pregnenolona e, a partir dai, irão originar vários o utros O tratamento para a menopausa o u climatério de-
hormônios necessários à vida. pende da sintomatologia e das dosagens hormona is:
Sabe-se que no hipotálamo está o comando da produ- o Climatério: progesterona bio idêntica, de 30 a 60mg.

ção e liberação d os hormônios. Tudo não passa de um con- o Gel transdérmico qsp.

trole rigoroso feito pelo sistema endócrino, encarregado de o Dose diá ria: I mL/dose.

regular múscu los, ossos, imunidade, humor, composição o Modo de usar: aplicar I mL no braço ao deitar.

corporal, metabolismo, peso, bem-estar fís ico, imu nidade,


atividade sexua l, sono e deposição de gordura. Seguem dois exemplos de terapêutica, mas é impor-
Dentre as pausas primárias, ressa ltam-se a andropausa tante lembrar que cada dosagem deverá ser estipulada de
e a menopausa, que são pausas de grande importância clí- acordo com a necess idade do paciente:
nica no dia a dia. o Esniol bioidêntico: 1,2mg.

Quando se fala e m andropausa, se pensa logo em um o Estradiol bioidêntico: 0,3mg.

parente ou vizinho ranzinza. Um homem na and ropausa o Gel transdérmico (qsp): I ml./dose.

tem exatamente esse compo rtamento implicante, pa ra o o Mande 30 d oses.

qual nada está bom. Os níveis d e testosterona geralmen- o Modo de usa r: aplicar I mL no braço ames de deitar.

te começam a declinar em to rno dos 40 anos de idade, e


essa queda se acentuar, ca indo para cerca d e um te rço a
produção de testostero na aos 70 anos d e idade. Poucos ho- Referências
mens sabem da possibilidade de reposição da testostero na, 1. Panimakiel L, Thacker HL. Bioidentical hormone therapy: cla-
cabendo aos profissionais méd icos o rientar seus pacientes rifying the misconceptions. Cleve Clin J Med 2011; 78(12):
828-36.
sobre os benefícios e a necessidade da repos ição hormonal
2. Holtor FK. The bioidentical hormone debate: are bioidentical
mascu lina. hormones: estradiol, estriol and progesterone safer or more ef-
Na consulta clínica, às vezes percebe-se, de acordo com ficacious than commonly used synthetic versions in hormone
a postu ra tomada pelo paciente, a queda dos níveis de tes- replacement therapy? Postgrad Med 2009; 121 (1 ):73-85.
tosterona. Norma lmente, ele se queixa de irritabilidade, 3. Informe Cientifico do Centro de Pesquisa e Tecnologia Farma-
cêutico Farmacia Artesanal. Disponível em: pesquisa.artesanal-
disfunção erétil, libido d iminu ída, d iminu ição da massa bh.com.br.
muscu lar, aumento da depressão, dim inu ição da memória 4. Brand JS et ai. Testosterone, sex hormone, binding globulin and
ou comportamento antissocial. the metabolic syndrome: a systematic review and meta analy-
O climatério e a menopausa, por sua vez, são um terre- sis of observational studies. lnt J Epidemiol 2010; 40(1):189-
207.
no ma is acessível, que as pessoas aceitam melhor. Não há
5. Corona G, Monami M, Rastrelli G, Aversa A, Tishova Y et ai. Tes-
tanto tabu. Quando se fa la em climatério e menopausa, tosterone and metabolic syndrome: a meta-analysis study. J Sex
pensa-se naquela mulher que se queixa de muito ca lor e Med 2011; 8(1):272-83.
que não dorme direitO, e todos os profissionais méd icos já 6. Files JA, Ko MG, Pruthi S. Bioidentical hormone therapy. Mayo
ouvi ram essas queixas de um paciente, pa rente o u vizinho. Clin Proc 2011; 56(7):673-80.
7. Mazaro-Costa R et ai. Medicinal plants as alternativa treat-
Os sintomas mais comu ns são: fad iga, dispa reunia, al- ments for female sexual dysfunction: utopian vision or
terações do sono, ondas de calor, flacidez mamária, mens- possible treatment in climateric women? J Sex Med 2010;
truações irregulares e alterações psíqu icas. 7(11):3695-714.
PARTE XVII

-
CONDI-OES
,
IN ESTETI CAS
Escleroterapia
Luís Fernando Piacitelli Lyon

Escleroterapia consiste em uma técnica de injeção de lnü meros agentes esclerosantes foram utilizados, como
substâncias esclerosames pa ra o tratamento de telangiecta- biiodew de mercúrio, citrato de sódio, cloreto de sódio e
sias e veias varicosas. As veias varicosas são manifestações solução hipertônica de açúcar. Posteriormente passaram a
de hipertensão venosa. Os processos crôn icos levam a ma- ser usados esclerosames sintéticos, mais seguross
nifestações cutâneas como edema, pigmentação hemossi- A partir da década d e 1960 foi criada, na Europa, a
derótica, eczema de estase, a trofia branca, tromboflebite, angiologia, subespecialidade da medicina interna.
dor e úlceras.

'
ANATOMIA DO SISTEMA VENOSO
HISTO RICO As veias são vasos de parede fi na e luz ampla, nos
As varizes, por serem uma afecção visível, já desperta- quais a distinção entre íntima, média e adventícia é me-
vam interesse médico na Antiguidade. Ebers, em seu papi- nos nítida do que nas artérias. A íntima é formada por
ro de 1.500 a.C ., alertava sobre d ilatações serpemiformes endotélio que repousa sobre fina camada de tecido con-
nos membros inferiores, enroladas, end urecidas, nodula- juntivo; a lã mina e lástica é encontrada somente nas gran-
res e cheias de ar' Hipócrates (460 a.C.) observou a asso- des veias. A média é mal delimitada a partir da adventícia
ciação entre veias varicosas e ulceração na perna.z Plutarco e formada predom inantemente por tecido conju ntivo
(1 05 a.C .) realizou cirurgia de varizes em Caio Marius, sem denso e ines lático.
anestesia. Celsius (30 a.C .) realizava extração e cauteriza- As veias contêm válvulas formadas por dobras semilu-
ção de veias. Galeno (século 2 d.C.) recomendava arrancar nares da intima, as q uais impedem o retorno do sa ngue e
as veias por meio de ganchos. facilitam a progressão da coluna sa ngu ínea em direção ao
Will iam Harvey, em 1628, evidenciou a natureza da coração.
circulação sa nguínea, demonstrando os perigos das inter- Nos membros inferiores, o bombeamento da coluna
venções até emão realizadas. de sangue se faz pela contração dos müsculos esquelé-
Em 1682, Zollikofer, na Suíça, relata a injeção endove- ticos.
nosa de ácido para criar um trombo.1 A esclerose de veias O sistema venoso das extremidades inferiores é com-
varicosas foi rea lizada por meio de sol ução de cloreto fér· postO de d ois compartimentos: um dentro do sistema mus-
rico.4 cular e ou tro superficial a este, ao longo do trajeto, as veias
Em 1904, Scharf utilizou sublimato para produzi r estão associadas a arté rias e aos nervos. A veia ma is super-
trombose. ficial e proeminente da perna é a safena, que se divide em
Linser, em 1916, precon izo u o uso de percloreto de safena magna (interna) e safena parva (externa) e perfura n-
mercú rio, o que levava ao desenvolvimento de quadros de tes da safena . As principais veias profundas são a femoral e
intoxicação. a poplitea tibial fibular (Figuras 61.1 e 61.2).

325
< 326 PARTE XVII • Condições lnestéticas

llíaca comum
esquerda

Femoral profunda
direita
-1+.;;.;..- Femoral direita ----~-i

1-:o-- Safena acessória - ---:-f


direita

Safena magna direita

Tibial anterior direita - -=::::=:=:j;:i{ Safena magna direita

Safena parva direita --"""':-\ 1


J:t::::::.. Tibial posterior direita --==

Arco venoso .___ _ _ Plantar lateral direito


dorsal direito -........_....._,
Arco venoso plantar
Metatarsal ---n profundo direito --~fj : . . . - - - Metatarsal plantar
direita
dorsal direija
Digijal _ __ ... Digital plantar ---"1:!:
direita
dorsal direija

Vista anterior Vista posterior

Fi gura 61 . 1 Sistema venoso dos membros inferiores.


Capítulo 61 • Escleroterapia 327 ")

Qua lquer faror que leve à dilatação das veias profu n-


Vena poplitea I das contribui para a formação de varizes. A~ ectas ias vas-
culares são dilatações de vasos preformados. Denomina-se
telangiectas ia a dilatação de arteríolas, capilares ou vênu-
Vena safena
las, que adq uirem aspectO circunscrito e avermelhado à
macroscopia.6

FISIOPATOLOGIA DA VENODILATAÇAO
-
Em repouso e na pos ição ereta, a pressão na veia safena
é proporcional à coluna sangu ínea que vai do átrio direitO
ao maléolo, medindo cerca de 120mmHg. Em movimento,
a pressão cai para SOmmHg. O fluxo sanguíneo do sistema
superficia l e do sistema profundo d irige·se para o coração
através da capilaridade e pelos movimentos respirató rios
nas veias tOrácicas e abdom inais.
Figura 6 1.2 Veias safena e poplítea. Quando as veias se dilatam, as válvulas remanescentes
tOrnam-se insuficientes.
A insuficiência valvar acaba invertendo o fluxo venoso
VEIAS DOS MEMBROS INFERIORES nas veias subcutâneas.
No sistema venoso, independente das safenas, existem A função contrátil das veias varicosas está comprome-
as veias superficiais, que não fazem parte do sistema das tida .7
veias safenas: glútea, iliaca interna, femoral profunda ou
superficial, perfurante posterolateral da coxa, vulvares, veia
do nervo ciático, veia posterior e inferior da coxa, veia da FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS VENOSAS
fossa poplitea, veia perfurante do joelho, veia femoropo- Constituem farores para doença venosa: número de
plitea, veias iliacas inte rnas e plexo pélvico (Quadro 61.1). gestações, uso e tempo de uso de anticoncepcionais, o r-
Varizes são dilatações e to rtuosidades das veias produ· tostatismo profissio nal, idade, hereditariedade, prática de
zidas por anorma lidade na parede venosa e/ou aumento esportes, sexo e fototipo.
prolongado da pressão intralum inal. As varizes de mem·
bros inferiores são muito comuns. -
CLASSIFICAÇAO DAS VARIZES
Em condições normais, atravéS das veias perfurames, as
veias superficiais subcutâneas (veia safena magna e veia safena Classificação de Francischelli
parva e suas tributárias) d renam para as veias profundas, que • T ipo l - IVIPE (insuficiência venosa de importância
por sua vez, com a ajuda da bomba muscular e da integridade predominantemente estética - (varizes estéticas): telan-
das válvulas, transportam o sangue para o átrio d ireito. giectasias e veias reticu lares assintomáticas e sem risco

Quadro 61 . 1 Veias dos membros inferiores

Slt uaçlo Vela Regllo drenada


Safena magna Face mediai da perna e coxa. v irilha, genitália externa e parede abdominal
Safena parva Pés e face posterior das pernas
Tibial posterior Pés e músculos do compartimento posterior
Superficiais
Tibial anterior Tornozelos, joelhos e face anterior da perna
Poplftea Joelhos e músculos e ossos das pernas e das coxas
Femoral Músculos da coxa, fêmur e genitalia externa
llfaca externa Membros inferiores e parede abdominal
llfaca interna Coxas, nadegas, genitália externa e pelve
Profundas (idem anérias)
llfaca comum Pelve, genitalia externa e membros inferiores
Cava inferior Membros inferiores, pelve e abdome
Fonte:Tortora, 2002.
< 328 PARTE XVII • Condições lnestéticas

potencial de complicações a curto prazo, que causam - Telangiectasias: derme profunda, arteríolas e vênu-
desconforto psíqu ico e abalam a autoestima do pacien- las; as telangiectasias são azuis.
te sem que haja presença concomitante de varizes de o De acordo com a origem:
maior calibre. - Telangiectasias de refluxo (drenagem): refluxo de
o Tipo li - IVIFE (insuficiência venosa de importância sangue venoso do território de maior pressão para o
fu ncio nal e estética): varizes sem a presença de sintomas de menor pressão atravéS da ci rculação colateral. São
e complicações, com desconforto importante na esfera comuns nos membros inferiores.
psíqu ica e q ue atinge a autoestima do paciente, associa- - Telangiectasias de oferta: ocorre oferta de sangue ar-
das ou não a telangiectasias e veias reticulares. O pacien- terial através de fistu las arteriovenosas. São comuns
te tem a doença va ricosa. na face, podendo também ocorrer nos membros infe-
o Tipo Ill - IVFA (insuficiência venosa funciona l assin· riores.
tomática): va rizes sem a presença de complicações e sin- o De acordo com a via de drenagem:
tomas e sem desconfortO na esfera psíq uica. Atingem - Telangiectasia simples: quando não é observada uma
homens e pessoas idosas. fonte de refi uxo.
o Tipo IV - IVFS (insuficiência venosa funcional sinto- - Telangiectasia combinada: q uando não se observa
mática): varizes com a presença de um ou mais sintomas uma fonte de refluxo.
o u complicações: dor, edema, dermatite ocre, úlceras,
trombofletite, eczema venoso, varicorragias. Constitui Tipos de telangiectasias
doença varicosa complicada.
A~telangiectasias podem ter mú ltiplas apresentações:
em aran ha/estrela, arborizada, sin uosa, em chuveiro, pun-
Classificação de Weiis- estética tiforme ou em manchas equ imóticas.
o Tipo I - telangiectasia vermelha.
o Tipo li - telangiectasia azul.
o Tipo Ill - veias reticu lares (microvarizes). AGENTES ESCLEROSANTES
o Tipo IV - colaterais. São substâ ncias capazes de causar dano ao endotélio
o Tipo V - d ilatações da safena. da veia. O mecanismo de produção desse dano varia de
acordo com o tipo de esclerosante utilizado.
O esclerosante idea l é aquele que apresenta as seguin-
Classificação de Dulty-Goldman (classificação
tes características: ausência de tOxicid ade sistêmica, não
por tamanho) alergênico, ind olor, não causa danos q uando extravasado,
o Tipo l - vermelhas: varizes < I mm com preocupação potente em sua ação de lesão endotelial, ação seletiva para
estética. o sistema venoso superficial, ba ixo risco de complicações e
o Tipo li - azuis: varizes de I a 2mm com preocupação baixo custo.
estética. A escleroterapia tem ind icação exclusiva para telan-
o Tipo Ill - veias reticu lares: varizes de 2 a 4mm sem preo- giectasias azuis e vermelhas (pad rão-ouro).
cupação estética.
o Tipo IV - veias tributárias das safenas: varizes de 3 a
Tipos de esclerosantes
8mm, complicadas.
o Tipo V - veias safenas: varizes > 8mm, complicadas. o Agentes osmóticos: provocam desidratação do endo-
télio das telangiectasias por grad iente osmótico ("secar
vasos"). Em vasos de maior ca libre, se dil uem e perdem
TELANGIECTASIAS sua ação osmolar. Ação local.
As telangiectasias correspondem à dilatação de peque- - Solução salina hipertônica (cloreto de sód io a 23,4%).
nos vasos da pele, apresentando nuances de cor. As telan- - Glicose hipertônica a 50% (associada), 66% o u 75%
giectasias podem ser classificadas: oferecem menos risco.
o De acordo com a cor: - Solução salina hipertôn ica e dextrose.
- Telangiectasias vermelhas: plexo hori zontal superior o Agentes detergentes: provocam lesão da membrana li-
pré-vascular. Têm maior risco de trombose e úlcera poproteica vascular, com ação loca l e a distância:
caso o agente esclerosante seja aplicado com muita - Polidocanol (oxipoliewxidodecano).
pressão. Há o risco de o esclerosante reflu ir para o - Ethamolin (oleaw de monoetanolamina).
sistema arterial, já que a pré-vênula está muitO próxi- - Tetradecil (sul faro de sódio).
ma do capilar venoso e do capilar arterial. - Scleromate (mom uaw de sód io).
Capítulo 61 • Escleroterapia 329 ")

• Agentes irri tan tes: substâncias tóxicas q ue lesionam e fáscia, o q ue favorece o extravasamento vascular e a in-
irritam diretamente a parede vascular - ação local e a flamação tecid ua I.
distância: • Dor: as áreas mais dolo rosas são os tOrnozelos e a fáscia
- Glicerina cromada a 72%; soluções iodadas. Deter· interna da coxa. As agu lhas devem ser finas e a injeção
gentes e irritantes, uma vez injetados, ma ntem sua lenta, para min imiza r a dor.
ação a d istãncia. • N ecrose cu tânea: ocorre por extravasamento do agente
- Cada esclerosante tem um potencial. esclerosante.
- Associação de esclerosantes: • Tromboflebite superficial: pode surgi r como cordão
- Glicose + eth amolin eritematoso no trajeto do vaso tratado.
- Salicilato de sódio + glicerina • Injeção arterial: pode ocorrer na região do ma léolo in-
- Glicose + polidoca nol terno.
- Esclerodex<1!> • Mapa telangiectásico: podem surgir inúmeras telangiec-
tasias, sobretudo na face interna do tornozelo e na face
O Esclerodex<1!> é uma solução de glicose em solução lateral das pantu rrillhas.
salina h ipertôn ica (dextrose, 250mg/mL, cloretO de sód io • Embolia gasosa: pequenas quantidades do gás injetado
200mg/mL, e fenetil álcool, 8mg/mL). A glicose usada em dentro do vaso podem ser absorvidas pela corrente sa n-
associação é a menos concentrada e a mais fluida (50%, guínea sem ma iores consequencias.
66%). A glicose a 75% é ma is viscosa e, portamo, tem me· • Trombose profunda: constitu i uma complicação rara.8•9
nor risco de flu ir para o sistema arterial e causar trombose
e úlcera isquemica. Além d isso, sua viscosidade promove
maior tempo de contatO com a veia. -
CONSIDERAÇOES FINAIS
'
TECNICA DE APLICAÇAO
- A escleroterapia cons iste em uma técn ica de injeção de
São util izadas seringas de 3 ou I mL e agulha. A agulha substâ ncias esclerosantes usadas no tratamento de tela n-
deve ser posicionada dentro do lúmen do vaso com bisei giectas ias e veias varicosas. A exteriorização inestética de
voltado para cima. Na aplicação, a mão livre deve manter telangiectas ias na superfície cutânea tem incidência muitO
a pele esticada.7 elevada e necessi ta de correção por meio de técnica simples
e efetiva.

Contra indicações
Constituem co ntraindicações para a escleroterapia: Referências
1. Godman MP. Esclerot erapia: tratamento das veias varicosas e
• Gravidez: devido ao risco de absorção do esclerosa nte e
telangiect asias dos membros inferiores. Rio de Janeiro: lnterli-
em razão do estado de vasodilatação venosa generalizada. vros, 1998:1.
• Antecedentes de tromboflebite e de trombose venosa 2. Benton W. Hippocratic wrinings on ulcers. Chicago: Brinanica
profunda . Great Books, 1970.
• Pacientes acamados, em virtude do risco de potenciali· 3. Kwaan JHM, Jones RN, Connolly JE. Simplified t echnique for
the m anagement of refractory varicose ulcers. Surgery 1976;
zar a trombose de veias profundas.
80:743.
• História de alergia a esclerosante. 7 4. Desgranges: lnjections lido-t enacious dans las varices. Mem
Soe Chir, 1985:4.

COMPU CAÇOES
- 5. Kern HM, Angle LW. lhe chemical oblit eration of varicose veins:
a clinicai and experimental study. JAMA 1929; 93:595.
6. Brasileiro Filho G. Bogliolo - Patologia. Rio de Janeiro: Guanaba-
• H ipergimen tação pós-escleroterapia: devido ao depósi· ra Koogan, 2010.
to de hemossiderina, sobretudo na derme superior, por 7. Machado Filho CAS. Esclerot erapia. In: Ramos-e-Silva M, Castro
extravasamento de sa ngue. MCR. Fundamentos de dermatologia. Rio de Janeiro: Atheneu,
• Coágu lo pós-esclerote rapia: os trombos ocorrem no 2010.
8. Aldeman DB. Surgery and sclerot erapy in the treatment of vari-
processo de esclerose das veias. cose veins. Conn Med 1975; 39:467.
• Edema temporário: ocorre predominantemente pró- 9. Shields JL, Jansen GT. Therapy for superficial t elangiectasias of
ximo aos tOrnozelos, por se tratar de uma região sem the lower extremities. J Dermatol Surg Oncol 1982; 8:857.
Estrias
Sandra Lyon
Clara Santos

Estrias são lesões cutâneas inesréticas lin~ares, atrófi· Em homens, pr~dominam em ombros, na região lom-
cas, inicialmente eritemarovioláceas e, mese:. apó:., bran- bossacra e na parte externa das coxas. Existem outras con-
co-nacarada~. São resultantes da ruptura da~ fibra.-. elásti- dições à~ quais o aparecimento de estrias está a-...'>Oeiado,
cas da derme catL~ando uma cicatriz cutânea (Figura 62. 1}. como ohesidade, implam~ de próteses mamária~. síndro-
A' e:.rria-. foram descritaS pela primei ra vez por Roederer, me de Marfan e p'eudoxamoma eláStico. As estrias podem
em 177). se manifestar com trata me mo sistêmico com cortico;.ceroi-
des e uso de corticoide~ tópicos de alta potência, sobretu-
do em áreas intertriginosas.U
EPIDEMIOLOGIA
Mais frequentes no sexo fem inino, as estrias tê m maior
PATO GÊNESE
preva lência na faixa etária corre.~pondente ~ puberdade e
ao período ge•tacional. Na mulher, acometem mais a re- A pawgênese das e:.rri as é multifacorial. Os fatores de-
sencadeames são: predbposição genética, fatores hioquími·
gião glút~a. o abdome, as mamas, a t'lce latera l dos quadrL~
e as coxa... cos 01ormonais) e fatore.-. mecãn icos.
A predL~po;,ição genética, associada a um ou mab fato-
res, pode de.o;encadear a.. ~tri~.
Entre os futore;. mecânico. estão o estiramemo crônico e
progressivo da pele, que pode levar à formação de estria~. o cre:.-
cimento corporal na pul)t!rdade, gestação, sobretudo no ülti-
mo trimestre, desenvolvimento muscular localizado, colocação
de prótese, principalmente prótese mamária, e desenvolvimen·
to muscula r loc.1lizado em razão da prática de exercício físico.
Os segu intes fatores hormonais podem ser desenca·
deadores tle estrias:
• Mudanças fisioló~icas na puberdade, associadas ao c:re.~­
cimemo corporal.
• Reposição hormonal na menopausa.
• Na corticoterapia rôpica ou sistêmica, podem surgir e,_
trias largas e difu'a' (Figu~ 62.2 a 62.4).

Na parog~nese dm, e.-.rria> devem ser consideradas pro·


Figura 62 .1 Estrias. (Fonte: Centro de Medicina Especializada. pensão familiar e racial e a associação de fatores desenca-
Pesquisa e Ensino- CEM EPE.) deanres'·1

330
Capítulo 62 • Estrias

Figura 62.4 Estrias após uso de corticoide tópico (Fonte: Cen-


tro de Medicina Especializada, Pesquisa e Ensino- CEMEPE.)

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Nas fases iniciais, as estrias apresentam-se planas e de
tom róseo, podendo, algumas vezes, ser acompanhadas de
pru rido. Aumentam gradualmente de comprimento e lar-
gura e assumem coloração avermelhada, recebendo o nome
de estria rubra, até se tornarem esbranquiçadas. A superfície
Figura 62 .2 Estrias após uso de corticoide tópico (Fonte: Cen-
pode estar enrugada. Em geral, são retilíneas e medem de
tro de Medicina Especializada. Pesquisa e Ensino- CEM EPE.)
alguns milí metros até 30cm de comprimento, com largura
variando de 2 a 5mm, podendo chegar a 3cm' -4

'
DIAGNOSTICO
O diagnóstico é clínico. O d iagnóstico d iferencial é fei-
tO com elastose facial linear e atrofia maculosa idiopática
(a netodermia)s

HISTOPATOLOGIA
Em 1884, Unna descreveu os achados histopatológicos
das estrias.
A epiderme pode ser normal nas estrias recentes, mas
apresenta-se atrófica nas antigas. Essa atrofia acomete to-
das as camadas, sendo mais evidente na camada espinhosa.
A derme apresenta-se reduzida em sua espessura. O co n-
teúdo de fibras elásticas está reduzido, e elas se apresentam
retilíneas, retraídas e fragmentadas.
O grau de comprometimento é maior com o envelhe-
cimento da estria, podendo ser ausente nas lesões tardias.
Há redução das fibras de colágeno. Os fibroblastos apre-
sen tam-se qu iescentes e arredondados.6

TRATAMENTO
A abordagem terapêu tica deve abranger as formula-
ções com:
Figura 62 .3 Estrias após uso de corticoide tópico (Fonte: Cen- • Ácido retinoico tó pico: promove melhora de estrias re-
tro de Medicina Especializada. Pesquisa e Ensino- CEM EPE.) centes por estimular a neoformação do colágeno, in ibir
( 332 PARTE XVII • Condições lnestéticas

a produção dt! colaf.:~nase e aumentar na epiderme a PREVENÇAO


-
proliferação da.-, camadas f.:ranulooa e espinhosa e, ain- Para a prev-enção de e>tria.-, devem ser usado;. hidra-
da, a compactação do ~trato córneo. A aplicação deve rames que ajudem a manter a ela.-,ticidad~. auxiliando a
:.er noturna, devido à fmos.'>~nsihilidade. Està conrrain- prevenção de dano;. à pele. O pacient~ d~ve s~r orientado
dicado em ge.'>tante.'>. 7 PoJ~ utilizar a apre.~entação em a e-·itar ganho exce....-,ivo de pe.'><), :.obretudo a• g~r.ame.~.
ba.-,tão por >Ua comodidade Je aplicaç.'io. Após instalada.~ a.~ ~tria.-,, é importante in•tituir traL'lmen-
• Alfa-hidroxiácidos (AHA): promovem diminuição da tO precoce.
ades.'io do> comet'>cim:. com compactação do esuato
córneo, impedindo o e,pe..,.,amentO da epiderme e au-
mentando a depo:.ição de colágeno e mucina na derme. CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Vitamina C tó pica: estimula <)s fihrohlasms da denne
a produzirem colágeno, mel horando a rexw ra e promo- As estrias são condiçôes inestétícas para as qua is
vendo elasticidad~ e suavização das cicatrizes. n ão há, até o momento, uatamento que possa recuperar
• Peelings químicos de ácido retinoico a 8%, ácido glicó- tOta lmente as fib ras ehi>ticas romp idas. No enta nto, a
lico a 70%, ácido mandéli co a 50% c ácido tricloroacé- comb inação de d iversos métod os pro move me lh o ra da
tico de l S% a 25%. q ua lid ad e tecid ual co m uniformização da apa rência d a
• Subcisão: util izada, sobretudo. pa ra estrias antigas. A pele.
d erme e seccionada logo aba ixo d a les:1o, uti lizando-se
agulha com t!xtremidade microlancetada. São necessá- Referências
rias várias sessões pa ra a obtenção de bons resultados . 1. Kede MPII. Sabatovích O. Dermatologia estétoca. Rio de Janeiro:
• Microdermoabrasão: uti lizam-se cristais de hidróxido At heneu, 2003:363-8; 397-403.
de alumín io em movimentos contí nuos e repetitivos 2. Sênos EM, Castelo Branco KSG . Estnas. In: Ramos-e-Silva M,
através de aparelho a vácuo e ponteira handpiece. Castro MCR. Fundamentos de dermatologia. Vol. 2. Roo de Ja-
neiro: Atheneu, 2010.
• Intradermote rapia: n~;.e procedimento, a recuperação
3 . Hexsel DM. Body repair. In: Pansh LC. Brenner S. Ramos-e-Solva
tecidual é obtida pela ação física da pu mura e pela ação M. Woman's dermatology from infancy to matunty. UK: Panhe-
farmacológica da me>cla uti lizada. A aplicação pode ser non, 2001 :586-90.
multipunrual ou por meio de retroinjeção com agulha 4. Sheu HM, '1\J HS, Chang CHJ. Mast cell degranulatoon and elas-
tolysis in the earty srage of stnae dlstensae. J Cutan Pathol
10G~.
1991; 18(6):41~.
• Carboxiterapia: utiliza~ a aplicação rerapêmica de ani- 5. Cavalcante FH. Talhan S. Ferre~ra LCL. Rosolene V. Elastose focal
dro carlx)nico, não emhólico, por via >UhcuL'\nea através linear. An Bras Dermatol 2000. 75(41;475-8.
de um aparelho que permit~ a aplicação desse gás com 6. Lever WF. Hostopatolog1a da pele. Roo de Jane~ro: Guanabara
fluxo e ,-olume injetados e ;eguramenre monitorizados.1 Koogan, 2011.
7. Rangei O, Anas I, Garcoa E. Lopez-Pad1lha S. Topocal tretono1ne
• Corrente galvãnica: promove a regeneraç.'io do tecido 0,1% for pregnancy-<elated abdom1nal estnae: an open-label,
conjuntivo rompido, l~vando a conrrarura e estreita- multicenter, prospectiva study. AIJv Ther 2001, 18(4): 18Hl.
mento da.~ e:.rrias.1 8. McDaniel OH. Ash K. ZurOWSJI M. Treatment of stretch marks
• Radiofrequência: emite calor simu lraneameme ao res- wíth the 585-nm. Flash lamp-pumped pulsed dye laser. Derma-
tol Surg 1996; 22(41:332-7.
friamento da epiderme, prort~gendo a superfície cutâ nea
9. Alster TS. Laser treatment of hypertrophic scars. keloids and
e atuando sobre a.~ (ibras col:lgenas. striae. Dermatol Clin 1997; 15(31:419-29.
• Microagulhamento: a superfície cut~ nea é submetida a 10. Nouri K. Romagosa R. Chartier T. Bowes L, Spencer JM. Com-
mültiplas punturas, levando a reação in flamató ri a, gra- parison of the 585nm pulse dye laser and the short pulsed C02
laser in t he treatment o f striae distensae in skin rypes IV and
nu lação e prolift'ração d e colágeno.
VI-Derm atol Surg 1999; 25(5):368-70 .
• Laser: pod e ser utilizado () laser de col fracionado o u 11. Karsai S, Roos S, Hammes S. Raulin C. Pulsed dye laser: what's
flas h-lamp p"lsed dye laser (585 nm), o laser vascu lar basea- new in vascular lesions. J Eur Acad Dermatol Venereol 2007;
do em fomtermól ise seletiva.a- 11 21(7):877-90.
Celulite
Tatiana Amora Cruz

Celulite ou lipod istrofia ginoide constitu i uma con- do subcutâneo na denne reticular, enquanto nos homens
d ição inestética em que ocorre alteração da topografia da essa camada apresenta-se lisa e cominua. 3·s
pele, ca racterizada pela presença de depressão e elevação A celulite constitui distrofia celular complexa, acom-
alternadas, deixa ndo nas áreas acometidas o aspectO carac- pa nhada de metabolismo hídrico, resultando em satu ração
terístico de "casca de laranja ou acolchoado"' do tecido conjuntivo.
Algumas hipóteses temam explicar a gênese do proces~o:
'
o Edema do tecido conjuntivo por acúmulo sign ifica tivo
HISTO RICO
de água, proteoglica nos na matriz extracelular, gerando
A celulite foi descrita em 1920, por Alqu ier & Paviotque,
edema crôn ico, q ue resulta em fibrose.
como d istrofia não inflamatória do tecido mesenquimal cau-
o Alteração na microcirculação, envolvendo compressão
sada por desordem do metabolismo da água, resulta nte de
dos sistemas venoso e linfático, sobretudo relacionada
estímulos traumáticos, tópicos, infecciosos ou gland ulares.
com a obesidade.
A denominação celu lite é imprópria por não se tratar
o Padrão de sepro fibroso, uso de contraceptivos, d isfu n-
de processo inflamató rio.
ções h ormonais e gravidez.
Desde en tão, d iversas denominações têm sido propos-
tas com o objetivo de ajustar-se às alterações h istomorfo-
Pacientes portadores de cel ul ite têm gord ura corporal
lógicas, como lipodistrofia, lipoedemia, hidrolipodi.mofia,
total ou regional aumentada.;
pan icu lopatia fibro-edematofibroesclerótica, pa nicu lose,
lipoesclerose nod ular, dermo-hipodermose celu lítica e li-
pod istrofia ginoide. FATORES PREDISPONENTES, DESENCADEANTES
-
E CONDIÇOES AGRAVANTES
ETIOPATOGENIA o Hormonais: predomina no sexo femin ino, acomete
A etiopatogenia da celu lite não está bem estabelecida. com mais freq üência após a puberdade e p io ra com a
Trata-se de uma cond ição multifarorial, em que estão en- gravidez e com o uso de amiconceptivos. O estrógeno é
volvidos fatores genéticos, emocionais, metabólicos e h or· cons iderado o principa l fator etiológico.
mona is. o O estrógeno estimula a proli feração dos fibroblastos,
Devem ser levados em coma sexo, idade, hipertensão altera o tumot>er das macromolécu las, leva à h iperpoli-
arterial, obesidade, tabagismo, sedenta rismo, roupas aper- merização do ácido h ialurônico e estimula a lipogênese.
tadas e alimentação inadequada. o Outros hormô nios: insulina, ad renalina e norad rena li-
A maior frequência de celu lite é observada em mul he- na, prolactina e hormôn ios tireo idianos.
res, o que ressalta o faror hormona l. As mulheres apresen- o Outros fatores: dieta, predisposição genética, obesidade,
tam padrão d ifuso de extrusão da camada superior do teci- distúrbios circulatórios, gravidez, di.~função intestinal, com-

333
( 334 PARTE XVII • Condições lnestéticas

pres.'l<)es exrema..,, tabagL~mo e ll'iO de medicações como - 1: leve aspecto pregueado


anticoncepcional\, ant~hL<õtaminicos e betahloqueadores.'.l - 2: moderado a.-.pecto pregueado
- 3: grave a.'pecto pregueado
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Grau de celulite da classificação clássica descrita por
Numberger & Muller:
A celulite é caracterizada por irregttbridades na super-
- 0: grau O
ficie da pele da.., área.., afetada~ com alternância de lesões
- I: grau I
deprimida.., e elevada..,, conferindo a:.pecto de casca de la-
- 2: grau 11
ranja e acokhoado.6
- .3 grau lll
A' lesões deprimidas da cdulire constituem retrações
• Pontuação da escala de gravidade de celulite de acordo
da pele devido à tração do:, sepro:. conjuntivos subcutâneos.
com H cxsel & Dal Forno8
A' lesões de cdul ite ocorrem, predom inanrememe,
- I a 5: grau leve
na.' coxas e nádegas, podendo :.er ünicas ou múlriplas. 1
- 6 a 10: grau moderado
O paciente deve ser exa minado e m posição o rrostática,
- l i a 15: grau grave.
com musculatura relaxada.

TRATAMENTO
CLASSIFICAÇÃO
O tratamento ba.~eia<;e
sobrewdo em d ieta ali mentar e
A celuli te pode ser classificada cli nica mente em graus
atividade física. Podem ser utilizados medicamentos com ação
d e O a Ili nu de aconlo com a esca la de gravidade.
lipolitica, como os agonista.' beta-adrenérgicos (metilxantinas)
e alfa-adrenérgicos, nu subsrnncia.' eutrMicas, como o silício,
Classificação clássica (de Nurnberger & Muller)1 com ação nos fibroblastos, como o extrato de Centtlla asiatica
• Grau 0: não há alterações na supedicie cmãnea. ou os extratOS vegetais de Ginl<&o biloba, o picn()f(enol.
• Grau I: a pele da área afetada não apresenta alterações Constituem ainda tratamentos preconizados: drena-
de rele~1). A., alteraçõe:. podem ser vistas por meio do gem linfática, endermologia, u ltra:.:.om, hidrolipoclasia
teste de pinçamento ou de compr;!;,_.,ão da pele, ou, ain- eletroporação, carhoxirerapia, :.ubcisão e radiofrequência.9
da, contração nut:.cular.
• Grau Il: o 3.'>pe<:to de ca'>ca de laranja ou acolchoamen-
tO é bem evidente. CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Grau Ill: além do aspecto de casca de laranja, há áreas
elevada., e nódulo:.. A celulite é uma condição inestética que acomere,
principalmente, mulhere..,. São múltiplo., O'> fatore.~ de.~en­
cadeadores, os traramenros apre:.entados são bastante va-
Classificação em escala de gravidade' riados, e os resultados nem :.empre :.ão :.ati>fatórios.
Devem >er levado:. em considerações os tópicos se-
guintes: Referências
• Número de lesões deprimidas evidentes:
1. Nurnberger F. Muller G. So called cellulite: an invented disease.
- 0: aus~ncia de les<)es deprimidas J Dermatol Surg Oncol1978; 4:221-9.
- I: poucas: um a a quatro lesões deprimidas 2. Sd1erwit2 C, Braum-Falco O. So called cellulite. J Dermatol Surg
- 2: moderada: cinco a nove lesões dep rimidas Oncol 1978; 4:230-4.
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• Profundidade das depressões: 4 . Terra Nova F, Berardesca E. Maibach H. Cellulite: nature and ae-
- 0: ausência d e le.~ões d eprimidas tiopathogenesis. lnt J Cosmet Sei 2006; 28(3):157-67.
- 1: superficial 5. Rosenbaun M, Prieto V. Hellmer J et ai. An exploratory inves-
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Reconst Surg 1998; 101 (7):1934-9.
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- 1: a.'pecro de ca...ca de laranja logy. New York: Parthenon. 2001 :586-95.
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- 2: a.'pecto de qudjo cottage
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• Grau de flacidez cutânea: Castro MCA. Fundamentos em dermatologia. Vol. 2. R10 de Ja-
- 0: au!o<!ncia de flacidez neiro: Atheneu, 2010.
Cicatriz de Acne
Daniel Seixas Dou rado

A acne vu lga r é uma doença da pele que afeta a


unidade p ilossebácea, constituindo uma das principais
ca usas d e consu lta dermatOlógica. Gera lmente começa
na adolescência e, mu itas vezes, tem resolução espo n-
tânea quando atingida a idade ad ul ta, persistindo em
cerca de 12% a 14% dos ad ul ws.'· 1 Nas fa ixas etá ri as
dos 20 e dos 30 anos, a acne é preva lente em tOrno de
64% e 43% dos ind ivíd uos, respectivamente. A hered i-
tariedade é de q uase 80% em pa re ntes de primeiro grau,
sendo a gravidade da doença ma ior qua nto mais cedo
ocorre r em casos d e história familia r positiva. A ideação
suicid a é ma is com um em pessoas com acne grave em
comparação com a leve.' Caracteriza-se po r comedões,
Figura 64.1 Paciente tratado com isotretinoina. O paciente
pápu las, p ústu las, nódu los e cistOs, pri ncipalmente na
apresentava acne grave e foi tratado com isotretinoína por 20
face e no t ronco. Pacientes com pele mais escu ra têm semanas. Se não fosse instituída a terapêutica, fatalmente as
ma io r tendência à despigmentação o u à hiperp igmenta- lesões de acne evoluiriam para a formação de cicatrizes de di-
ção pós-inflamatória. Fowproteção co ns titu i a base do versas morfologias. (Fonte: acervo do autor.)
tratamenw.4·;
As lesões inflamatórias d a acne podem resu ltar em
cicatrizes permanentes e, muitas vezes, de d ifíci l tra ta-
mento. A p revalê ncia e a gravidade de cicatrizes d e ac ne PATOGÊNESE
na popu lação não têm sido bem estudad as, embora a A pawgênese da ame é atualmente considerada mult~
gravidade da ac ne seja bem relatad a. A cicatriz de ac ne fatOrial: aumento da prod ução e alteração na qualidade do
afeta igua lmente ambos os sexos e oco rre em algum grau sebo, atividade and rogênica, proliferação do Propionibacterium
em 95% dos casos. Nos homens, há maior frequência acnes (P. acnes) intrafolicular e hiperqueratinização folicular. 7
de cicatrizes no tro nco, as quais geralmente são hiper- Hormônios and rógenos controlam o tamanho das
tróficas ou queloid ianas.6 A gravidad e da acne está clire- glândulas sebáceas e sua secreção. A excreção de sebo au-
tamente re lacionada com a evolução desfavorável pa ra mentada contribui pa ra o desenvolvimento da acne. Por
formação d e cicatrizes de d ifícil tratamento. Isso enfa- outro lado, o P. acnes contém esterases com capacidade
tiza a necessidade de uma terap ia anterio r adequada a de h idrolisar os triglicerídeos das glândulas sebáceas, pro-
fim de min imiza r o aparecimento de lesões cica triciais movendo a liberação de ácidos graxos livres, cuja difusão
(F igura 64.1). pelos foliculos pilossebáceos provoca irritação e inflama-

335
< 336 PARTE XVII • Condições lnestéticas

ção. A hiperqueratinização com obstrução dos co ndutos fica e h ipertrófica, q ue apresentam suas subclassificações.
pilossebáceos é o mecanismo principa l para a formação A gra nde maioria das pessoas apresenta cicatrizes do tipo
dos comedões. Todos esses eventos estimulam o processo atróficas, ao passo que uma minoria se apresenta com le-
in flamatório intra infu ndibular, ruptura folicular e forma- sões hipertróficas e queloid ianas.
ção de abscesso perifolicular, que estimu lam o processo
de cicatrização de feridas. Este progride por meio de trêS
Cicatrizes atróficas
etapas: inflamação, formação de tecido de granu lação e re-
modelaçãos ·9 São classificadas em distensíveis e não distensiveis.
A~ distensiveis, q uando tracionadas, desaparecem
completamente, evidenciando uma pele de aspecto normal
Inflamação (Figura 64.2). Podem ser subclassificadas como onduladas
Uma va riedade de célu las do sangue, inclu indo (sem aderência fibrosa) e retráteis (com formação de feixes
gran ulóci tos, macrófagos, linfócitOs, fib roblasws, neu- fibrosos na porção central da cicatri z). Correspondem de
trófilos e plaq uetas são ativadas e liberam mediadores 15% a 20% do total das cicatri zes. Basicamente, têm for-
inflamató rios q ue propiciam a formação de tecido de mato de "m" e medem cerca de 4 a 5mm.
gran ulação. Nessa etapa, a melanogê nese pode ser es- As não diste nsíveis não desapa recem após tração
timulada, desempen hando importante papel no desen- da pele, podendo se r rasas, médias (crateriformes), pro·
volvimento da hi perpigmentação pós-acne. Holla nd et fundas (icepicks) ou distróficas. As do tipo crateriforme
al. mostraram forte relação entre a gravidade e a dura- apresen tam-se como um "U", são redo ndas ou ovais e
ção da inflamação para o desenvo lvimento de c icatri zes, têm bordas verticais bem estabelec idas. O tipo icepick
o que sugere que o tratamento da inflamação no inic io apresen ta-se como u m "V" e é estrei ta (cerca de 2mm) e
das lesões pode ser a melhor abo rdagem pa ra prevenir p rofunda, atravessa ndo toda a derme até atingir o sub-
c icatrizes de acne.10 cutâneo (Figu ra 64.3). As d istróficas têm formato irre-
gu lar, às vezes es trelado, com fundo b ra nco e atrófico
(Figura 64.4).
Formação de tecido de granulação
À~ vezes, os d iferentes tipos de cicatri zes atróficas po-
Ocorre a liberação de vários fatores de crescimentO dem ser observados em um mesmo paciente, rornando d i-
por polimorfonucleares e mononuclea res, incl uindo fa- fícil a diferen ciação entre eles.
tor de cresc imento derivado de plaquetas, fator de cres-
cime nto derivado de fibroblastos e fator de crescimen-
to tumoral alfa e beta, que estimulam a prol iferação e
a migração de fibroblasros. 10 Cerca de 3 a 5 d ias após o
aparecimentO da lesão, in icia-se uma nova produção de
coláge no.

Remodelação da matriz
Fibroblastos e q ueratinócitos produzem enzimas
como metaloproteinases (MTP) e proteínas in ibidoras
das metaloproteinases (iMTP). As MTP atuam degradan-
do a matriz extracel ular, enquanto as iMTP in ibem essas
e nzimas, preservando a ma triz. O desequ ilíbrio entre a
produção das MTP e iMTP é crucial para o dese nvolvi·
mento de cicatrizes h ipertróficas ou atróficas. Absorção
inadequada e baixa depos ição de colágeno resultam em
formação de cicatri z atrófica, e nquanto inib ição e depó-
sito excessivo acarretam a formação de cica trizes hiper-
tróficas-"

-
CLASSIFICAÇAO
Figura 64.2 Cicatrizes atróficas distensíveis. Paciente apresen-
tando cicatrizes atróficas do tipo distensíveis onduladas e retrá-
Existem do is tipos bás icos de cicatriz de acne, depen- teis. Sinal característico após a distensão bidigital da pele do
dendo da presença de perda ou ganh o de colágeno: a tró- paciente, as cicatrizes desaparecem. (Fonte: acervo do autor.)
Capítulo 64 • Cicatriz de Acne

Figura 64.3 Cicatrizes não distensíveis. Paciente apresentan- Figura 64 .5 Cicatriz queloidiana. Duas grandes cicatrizes que-
do cicatrizes atróficas não distensíveis dos tipos rasas. médias loidianas em regiões mandibular e mentual de paciente do sexo
(crateriformes) e profundas (icepicks) . (Fonte: acervo do autor.) masculino. (Fonte: acervo do autor.)

lar, maxilar e glabelar. Em contraste, as queloid ianas se apre-


sentam como nód ulos avermelhados ou violáceos que proli·
feram além dos limites da ferida original. Hiswlogicamente,
são caracterizadas por feixes espessos de colágeno hialinizado
dispostos em espiral. São ma is comuns em pessoas de pele
mais escura, geneticamente predispostas, e ocorrem predo·
minantemente na mandíbula e no tronco (Figura 64.5).

TÉCNICAS PARA TRATAMENTO


Dermoabrasão
Dermoabrasão é uma técnica de resurfacing facial que
consiste em extirpar mecanicamente a pele da nificada a
fim de promover reepitelização e planificação da pele para
o nível desejado. A dennoabrasão remove completamente a
epiderme e penetra até o nível da derme papilar ou reticular,
induzindo a remodelação das proteínas estru tu rais da pele. O
Figura 64.4 Cicatriz distrófica. Paciente apresentando diferen- paciente está aptO a submeter-se ao procedimento após acon·
tes tipos de cicatrizes atróficas, dentre as quais uma grande ci- selhamento adequado, avaliação fíSica, consentimento infor-
catriz distrófica de formato estrelado central. (Fonte: acervo do mado e realizado condicionamento da pele com clareadores.
autor.) A técn ica deve ser realizada sob anestesia tópica, infiltrati·
va ou geral. Após a assepsia, a área a ser tratada é demarcada,
a pele é tracionada e, então, é realizado o procedimento com
Cicatrizes hipertróficas e queloidianas o dem1oabrasor elétrico. O nível máximo de dem1oabrasão
Elevadasyyy, são associadas à deposição de colágeno na pele, para evitar a formação de cicatrizes, é até a derme re-
em excesso e à diminu ição da atividade das colagenases. ticular. Isso é observado com o sangramento na forma de "or-
Cicatrizes hipertróficas são tipicamente rosadas, elevadas e valho". A hemostasia é conseguida com uma pressão de gaze
firmes, com limites que permanecem dentro da fronteira do embebida em soro fisiológico sobre a área dermoabrasada. A
sítio origi nal da lesão. São frequentes nas regiões mandibu· aplicação de curativo oclusivo tipo BiofiJm<1!> é preconizada por
< 338 PARTE XVII • Condições lnestéticas

Figura 64.6 Paciente submetido a dermoabrasão. A Pré-operatório. B Imediatamente após o procedimento. C Quarenta e oito horas
depois, percebe-se a formação de grande crosta na face. O Redução no número de cicatrizes da acne e superficialização das cicatrizes
restantes. (Fonte: acervo do autor.)

alguns autores. Nas 24 horas seguintes forma-se uma crosta manual e pela aplicação de gelo. 11 A utilização de agulha
que demora de 5 a lOdias para ser removida, dependendo da 24G é menos dolorosa e há a formação de um h ematoma
profund idade da dennoabrasão (Figura 64.6). menor, em comparação com o uso de agulhas 18G e 20G,
Como complicações, podem ocorrer infecções, discro- d iminu indo a possibil idade de formação de nódulos fibró·
mias persistentes, eritema e cicatriz. A seleção adequada do ticos decorrente do procedimemo 14
paciente e a habilidade ci rü rgica do méd ico são pré-requisi- A lesão aplicada com a técn ica ao tecido leva à forma-
tos importantes para um resultado estético bem-sucedido. ção de tecido conjuntivo e colagenização, melhorando ain-
da mais o aspecto deprim ido da cicatriz. Deve-se ter cautela
ao executar a técn ica próximo de nervos superficiais, como
Subcisão
na região pré-au ricu lar e nas têmporas (Figura 64.8). As
Técnica cirúrgica utilizada, principa lmente, para o ma-
nejo de cicatrizes deprimidas, a subcisão visa romper as li-
gações fibróticas abaixo da cicatriz no nível do subcutâneo
a fim de elevá-la e induzir a formação de tecido conjuntivo
no local da lesão atravéS da cicatrização normal fisiológica.
É útil, principalmente, para cicatrizes distensíveis-retráteis. 12
A técnica é executada sob anestesia local (tópica ou
infiltração). Insere-se agulha nümero 18 ou 20G ou uma
agulha Nokor (1 ,5 polegada, de ca libre 18 - Figura 64.7)
adjacente à cicatriz, com o b isei para cima e paralelo à su-
perfície da pele. Após a introdução, rea liza-se movimenta-
ção laterolatera l para liberar a pele. Um esta lo é ouvido
q uando as bandas fibrosas são rompidas. A agu lha é remo-
vida e compri me-se manualmente em torno do pomo de
sa ída para evacuar o excesso de sangue e evi tar a formação
de hematoma grande. É perm itida a formação de um pe-
q ueno hematoma. A hemostasia é mantida pela pressão

_____ , Figura 64.8 Nervo facial. Como os ramos do nervo facial são
superficiais, estão sujeitos a lesão por ferimento penetrante ou
cortes. A lesão do nervo facial frequentemente resulta em pa-
Detalhe da ponta
ralisia da musculatura facial. Os ramos mais suscetíveis a lesão
/
estão localizados na região onde os nervos cruzam o arco zigo-
Figura 64.7 Agulha de Nokor. Agulha de calibre 18G e borda mático (ramo temporal do nervo facial) . Se o nervo é secciona-
chanfrada em relação ao suporte do instrumento. do, as chances de recuperação completa ou parcial são remotas.
Capítulo 64 • Cicatriz de Acne

complicações mais comuns dessa técnica incluem: hema- facia l9 Essa descamação também leva à red ução de come-
tOma pós-operatório, dor, formação de nódulos fibróticos dões e da pigmentação pós-inflamató ria da acne. No que
indesejáveis e hiperpigmentação residual. Subcisão não é se refere às sequelas de acne, os mel hores resu ltados são
100% eficaz, e deve-se ter em mente a possibil idade de he- obtidos em cicatrizes superficiais. Cicatrizes profundas po-
matOma pers istente ou nódulo fibroso subcutâ neo como dem não desaparecer completamente e precisam de peelings
efei tos colaterais. sequenciais, juntamente com o uso de retinoides tópicos
e alfa-hidroxiácidos.'s O nível de mel hora esperada é ex-
tremamente variável em d iferentes doenças e pacientes. A
Levantamento com punch
seguir, são descritas algumas técn icas de peeling com dife-
Essa técn ica é a idea l para cicatrizes deprimidas médias rentes agentes qu ímicos.
ou crateriformes. De acordo com o d iâmetro da cicatriz, é
utilizado um P~<nch cil índ rico cortante de tama nho apro- •
Acido tricloroacético
priado. São incisadas epiderme e derme e preservado o
pediculo subcutâneo. Após elevada a base da cica triz, por A aplicação de ácido tricloroacético (ATA) na pele faz
meio de pinças, é fei to curativo com fita M icropore<~>, o com que haja desnaturação proteica, denominada querato-
qual é retirado após 3 dias (Figura 64.9). coagulação, resultando no branqueamento da pele conhe-
Em cicatrizes com ma is de 3,5mm de tamanho, deve-se cido como frost. 16 O grau de penetração nos tecidos e lesões
excisar a lesão, elevá-la e suturar, respeitando as linhas de por uma solução de ATA é dependente de vários fatOres,
tensão da pele relaxada. Em cicatrizes profundas do tipo incluindo a porcentagem de ATA usada, a localização ana..
icepicks de até 4mm de d iâmetro, pode-se retirar a cicatriz tômica e a preparação da pele. De acordo com d iferentes
completamente e substitu ir por enxerto autólogo de d iâ- concentrações do ácido, são atingidas diferentes camadas
metro pouco maior que a área receptora. A área doadora é, da pele: ATA em uma porcentagem de 10% a 20% resu l-
geralmente, a região pós-auricular ou nádega. ta em peeling superficial mu ito leve, sem penetração abaixo
do estrato granuloso; concentração de 25% a 35% produz
um peeling superficial leve, englobando toda a extensão da
Peeling químico epiderme; de 40% a 50%, pode produzir lesão até a derme
Peeling q uí mico é um p rocesso de aplicação de produ- papilar; qua ndo superior a 50%, estende-se além da derme
tos químicos na pele para destruição das camadas exterio- reticular. O uso de concentrações superiores a 35% do ATA
res danificadas e aceleramento do processo de reparação. pode produzir resultados imprevisíveis, como cicatrização
O peeling qu ímico é usado para reverter os s inais de enve- ou h iperpigmentação pós·i nflamatória.16 O uso de ATA em
lhecimento e para o tratamento de lesões de pele, como concentrações superiores a 35% deve ser evitado. Contudo,
as cicatrizes. Discromias, rugas e cicatrizes de acne são as pode ser preferido em alguns casos de lesões isoladas ou
principais ind icações cl ín icas pa ra descamação qu ímica para o tratamento de cicatrizes atróficas médias ou profu n-
das (ATA CROSS). Não é ind icado para fototipos altos, em
virtude do altO risco de h iperpigmentação pós-inflamatória.

Técnica de CROSS
Essa técn ica é bastante eficaz em cicatrizes isoladas
sobre a pele saudável. Não é necessária anestes ia local ou
sedação para executá-la. Além disso, apresen ta como va n-
tagem a d iminu ição das complicações de um ATA de altas
concentrações em toda a face, otimizando os efeitos dese-
jadosH Promove, assim, o nivelamento das cicatrizes depri-
midas sem o pós-operató rio de um peeling qu ímico méd io
ou profu ndo ou de uma dermoabrasão.
O ATA é apl icado pontualmente na cicatriz du rante
algu ns segundos, até apresenta r uma cobertu ra bra nca
(Figura 64.10). Prescrevem-se emol ientes por cerca de 7
d ias, além de alta fotoproteção. O procedimento deve ser
repetido pelo interva lo de 4 semanas, e cada paciente re-
Figura 64.9 Uso do punch para elevação de cicatrizes deprimi- cebe um total de três sessões. Norma lmente, recomenda-
das e remoção das profundas. (Fonte: acervo do autor.) ·se utilizar ATA de 65% a 100%, porém, ao contrário dos
PARTE XVII • Condições lnestéticas

cado em gra ndes áreas, como em região anteroposterior do


tórax devido à absorção sistêmica. Está comraind icado na
gravidez e em pacientes alérgicos ao ácido sal icílico.

Solução de Jessner
Combinação de ácido sa licílico, resorcinol, ácido lá-
tico e eta no] a 95%. Trata-se de um excelente agente de
descamação superficial.

.
Acido glicó/ico
Figura 64 .10 Técnica de CROSS. Aplicação pontual do ATA so-
O ácido glicólico é um alfa-hidroxiácido, solúvel em
bre as cicatrizes de acne. Observe o branqueamento superficial álcool, derivado de açúcares de fru tas e leite. O ácido glicó-
e o eritema reflexo nas margens. (Fonte: acervo do autor.) lico age d ilu indo o estratO córneo, promovendo epidermó·
lise e dispersa ndo a melanina da camada basal. Aumenta
a produção de ácido hialu rõn ico dérmico e a expressão gê-
nica de colágeno via estímulo de JL-6 1 8 O procedimento é
bem tolerado e a adesão do paciente é excelente. O peeting
é contrai nd icado em pacientes com dermatite de contato,
gravidez e h ipersensibilidade ao glicolato.'8 Os efeitos cola-
terais, como h iperpigmentação ou irritação, não são muito
s ignificativos. Os melhores resu ltados obtidos para cicatri·
zes de acne são observados depois de cerca de ci nco sessões
sequenciais de ácido glicólico a 70% a cada 3 semanas.
.
Acido pirúvico
Um alfacewácido efetivo para peeling, o ácido pirúvi·
co apresenta propriedades antimicrobianas, queratolíticas
e seborreguladoras, bem como a capacidade de estimu lar
a produção de colágeno e a formação de fibras elásticas. 19
Foi propostO o uso de ácido pirúvico (40% a 70%) para o
tratamento de cicatrizes de acne moderada. 19 Os efeitos co-
Figura 64.11 Complicação da técnica de CROSS. A hiperpig-
latera is incluem descamação, crostas em áreas de pele mais
mentação pós-inflamatória como complicação da técnica de
fi na, intenso ardor e sensação de queimação d urante o tra-
CROSS. (Fonte: do acervo do autor.)
tamento. O ácido pirúvico é volátil e pode irritar a mucosa
da via respiratória superior. Por isso, é aco nsel hável assegu-
rar uma ventilação adequada d urante a aplicação.
relatOs na literatura, Fabbrocin i et ai. demonstraram q ue
ATA em menor concentração (50%) mostrou resu ltados Laser
semelhantes e mu ito menos reações adversas 16 Como com- Todos os pacientes com cicatrizes atróficas distensiveis
plicação ma is indesejada é citada a hiperpigmentação pós- (rasas e médias) são ca ndidatas para tratamento com laser.
-inflama tó ria (Figura 64.11). Diferentes tipos de lasers, inclu indo os ablativos e não abla-

tivos, são mui to úteis no tratamento de cicatrizes de acne .
Acido sa/icílico (20% a 30%) Os lasers ablativos aw am removendo o tecido cicatri·
Dentre os peelings, é o agente de escolha no tratamento cial por meio de vaporização. Laser de C01 e erbium YAG
da acne, uma vez que apresenta propriedades comedolíticas são os ablativos mais utilizados para o tratamento de cica-
e anti-in flamató rias. Por ser lipofílico, penetra facilmente trizes de acne. Promovem remoção da superfície e também
na estrutu ra pilossebácea. Trata-se de um agente de peeling remodelação das fibras de colágeno na derme.
segu ro, autoneutralizado e de penetração cutânea mini ma. Lasers não ablativos não removem o tecido, mas estimu-
Forma um pseudo-frost q ue é de fácil visualização, garantin- lam a formação de colágeno. Entre os lasers não ablativos, os
do uma aplicação u niforme. Pode causa r sa licilismo se apli- ma is comumente utilizados são os lasers Nd:YAG e de diodo.
Capítulo 64 • Cicatriz de Acne 341 ")

Os lllsers ablativos (erbium lllser e laser de CO) são tempo de recuperação do paciente. 21 A profu nd idade e a
tecnologias com alta seletividade pa ra a água intra e ex- largura das microzonas termais aumentam com energias
tracelu lar.o laser de col (10.600nm) promove resurfa· crescentes.
cing cutâneo profundo e, durante o processo de cura d a
ferida, ocorrem a estim ulação d e cél ulas e a produção de
proteínas da matriz, como o ácido h ialurõnicow Oslasers Laser fracionado de C02
ablativos trad icionais agridem roda a superfície da pele, O laser d ióxido de carbo no fracionado (fCOz) em ite
o q ue d eterm ina um período de recuperação mais longo luz no comprimento de o nda d e 10.600 nm, correspon-
e torna o tecido ma is vulnerável a infecção no loca l do dendo à faixa infravermel ha do espectro eletromagnético,
tratamento. sendo altamente absorv ido por água (cromóforo). A pro-
Um conceito de terap ia a laser, denominado fototer- fundidade de penetração do laser depende da quantidade
mólise fracionada (FtF), foi p rojetado pa ra cria r feridas de água no tecido-alvo e não é influenciada pela presen-
térm icas m icroscópicas a fim de alcançar dano térm i- ça de melan ina ou hemoglob ina. A ablação epidérmica
co ma is homogêneo. Essa tecno logia foi desenvolvida após uma passada de laser fC0 1 nos parâmetros pad rões
como alternativa aos tra tamen tos com lasers ab lativos, promove uma vaporização d e tec ido até a profundidade
q ue são efetivos, mas apresentam alto risco de compli- de 26 a 60~1m, com efe itO térmico residual de até 100
cações, e aos lasers não ablativos, cuja eficácia é relativa- a I S0~1m. O lllser coagula peq uenos vasos sanguíneos e
mente li mitada. Estud os anteriores usando forotermõ li- li nfáticos e estim ula os fibroblasros a promoverem remo-
se fracio nada demonstra ram sua eficácia no tra tamento delação do colágeno.
de cicatrizes de ac ne, com atenção espec ial pa ra a pe le Antes da aplicação do laser, a pele deve ser cond icio-
escura, por diminu ir os riscos de hiperpigmentação pós· nada com uso de clareadores e uso de filtro solar regu lar.
·inflamatória. Recomenda~e o uso de anestesia tópica e ar gelado sobre a
Os lasers que rea lizam a FtF são denominados lasers pele durante a aplicação do laser. Realiza-se uma passada de
fracionados como os de col (10.600nm), erbíum (1.550nm) forma condensada sobre as cica tri zes e, em segu ida, faz~e
e erbíum YAG (2.940nm). Esses aparelhos emitem peque- uma passada gera l sobre toda a face, a fim de obter u nifor-
nos feixes que provocam pequenas zonas trid imensiona is midade da textura e da cor da pele (Figura 64.13).
de da no térmico, chamadas microzo nas termais (Figura É importante respeitar o tempo de relaxamento
64.1 2). O tecid o ci rcunjacente não é envolvido, permitind o térmico da pele huma na, q ue é em torno de 695ms, o
a migração de queratinócitOS viáveis e a rápida cicatrização tempo necessário para que determinada área d e pele sujeita
dos tecidos coagulados, com homogeneização da matriz a elevadas temperatu ras, variando entre 60°C e i00°C,
dérmica e extrusão de restos necrõticos epidérmicos mi· perca pelo menos 50% desse ca lor atravéS de d ifusão para
croscópicos. A camada córnea mantém-se funcionalmente os tecidos vi zin hos. Os fC0 1 apresentam bons resultados
intacta sobre a coluna de lesão. Esse mecan ismo de repa- mesmo q uando utilizados como técnica isolada para cica-
ro tecidual dimi nu i o desconforto, o risco de infecção e o trizes distensíveis rasas (Figuras 64.14 a 64.16).

Figura 64.12A Paciente em tratamento com laser de C02 fracionado para cicatrizes de acne facial. Os pontos brancos delimitados
pelo quadrado vermelho são as microzonas térmicas (MZT) que o laser produziu. As MZT estão entremeadas por regiões de pele não
atingidas pelo laser. Em B. o desenho esquemático destaca o efeito tridimensional das MZ1 (Fonte: acervo do autor.)
< 342 PARTE XVII • Condições lnestéticas

Figura 64 .13 Crostas na face de paciente após aplicação de


laser fracionado de C02 • As regiões com crostas mais espessas
correspondem às áreas de maior número de cicatrizes nas quais
o laserfoi passado mais condensado. porém uma passada mais
suave foi aplicada em toda a face da paciente. Nota-se uma me-
lhora no aspecto das cicatrizes como resultado final no último
quadro. 15 dias após . As cicatrizes distróficas desapareceram
em menor grau, se comparadas com as distensiveis. (Fonte:
acervo do autor.)

Figura 64.15 Paciente tratada com laser fracionado de C02


(fC02). Suavização das cicatrizes atróficas distensíveis rasas
após utilização de fC02. (Fonte: acervo do autor.)

Figura 64.14 Paciente tratada com laser fracionado de C02 Figura 6 4 .16 Tratamento de cicatriz de acne com laser fraciona-
(fCO,J. Suavização das cicatrizes atróficas distensíveis rasas após do de C02 . Observe a melhora no aspecto das cicatrizes após o
utilização de fC02• (Fonte: acervo do autor.) tratamento com fC02• (Fonte: acervo do autor.)
Capítulo 64 • Cicatriz de Acne

o. efeito;, colatt'rai; mais comuns do laser fCOl são Técnicas de preenchimento


eritema e edema da pde tratada. S:io contraindicações As cicatrize.~ atrófica> dbtensivl'b são a'> mai; henefi·
aill.olurn... para o U><l de fC0 1: infecções ativas da pele, ciadas com o uso do.., preenchedorl's. Es.o,a~ têcnicas vi.,.1m
como herpe >imple>, le>õe> cutâneas com suspeita de ma· à intrOdução de substâncias abaixo da> cicatrizes deprimi·
lignidade e paciente em tratamento com isotretinoína, já das a fim de nh'l'lá-la., com a pde circundante. O ácido
que e;,..,e fãrmaco promow atrofia dos anexos cutâneos que hialurõnico consbte no preenchedor mais utilizado em
atuam na reepitdização. Pode-l>e realizar profilaxia para todo o mundo em virtude de sua segurança e por propiciar
herpes simples em paciente com histórico positivo, uma resultados mai~ narurab (Figura 64.17).
vez que as lesõe... p<xlt>m recidivar após a agressão da pele O enxerto de gordura aurolot,>a t<'m ;,ido utilizado com
com o ~r. Comtituem contra indicações relativas: pacien- muita frequência para a correção d~ diversas patOlogias
tes com hi;rórico de qudoide, lahilidade emocional, difi- e imperfeiçõe.~. Considerando a gordura um excelente
culdade de cicatrização, u;o de corticosreroide sistêmico, preenchedor suhdt!nnico, sem riscos de rej~ição, apresenta
gestação e colagenoses. resultados excelentes e duradouros para as cicatrizes arrófi-
Um estudou que avaliou a eficácia do plasma rico em cas extensas em planos profundos.
plaquetas autólogas combinado com terap ia de laser erbium
YAG fracionado para acne facial e cicatrizes de acne obser·
vou q ue, após receberem o tratamenro três vezes, 90% dos Cicatrizes hipertróficas
pacientes mostraram mel hora de ma is de 50% e 9 \ % dos Gel de silicone
pacientes ficaram satisfeitOs. Os efeitos cola terais foram Prod utos à base de silicone representam uma das so-
mínimos e houve md hor recuperação da pele dan ificada luções ma is comuns e eficazes na prevenção e camhêm no
pelo laser. tratamento de cicatrizes hipertróficas de acne. O gel de sil i-
cone apresenta várias vantagens: e transparente, de secagem
Outros sistemas fracionados rápida, não irritante e p<xle ser usado para tratar grande~
Recentememe foi apre;entado um aparelho que uti liza cicatrizes e áreas irregu lare> da pek O mecanismo de ação
radiofret1u~ncia fracionada aplicada diretamente sobre a não ê totalmente compreendido, ma> vária> hipóteses11 rêrn
pele, com re>ultados semelhante.~ aos dos lasers fraciona· sido levantadas, como: (I) aumento da hidratação, (2) au-
dos, porêm com ClL'>tO mt'nor. mento da temperatura, ())proteção da cicatriz, (4) aumemo

A o
Figura 64.1 7 Preenh1mento com áodo h1alurônico. Nivelamento de cicatrizes atr6ficas com ác1d0 hialurOnico nas reg16es temporal
direita (A e B) e esquerda (B e C). (Fonte: acervo do autor.)
PARTE XVII • Condições lnestéticas

da tensão de 0 2, (5) ação sobre o sistema imu nológico. Em querati nócitOs e fibroblastos; (2) estímulo da degradação
um estudo aberto observacional, realizado em 57 pacientes, de colágeno via alfa-2-microglobu lina.z•
o gel foi aplicado sobre as cicatrizes duas vezes ao dia, d u- O estero ide mais util izado atualmente no tratamento
rante 8 semanas, com uma méd ia de melhora na espessura de cica tri zes hipertróficas ou q uelo ides é a acewn ida de
estimada entre 40% e 50% em relação ao valor basa l. triancinolona (10 a 40mg/mL). As reações adversas mais
No q ue d iz respeitO ao tratamento de cica trizes hiper- comu ns são h ipopigmentação, atrofia da pele, telangiecta-
tróficas já formadas, o gel deve ser apl icado em peq uena s ia e infecções.2s
q uantidade, duas vezes ao d ia, durante pelo menos 8 se-
manas, para obter um resu ltado estético satisfatório, consi-
derando que para fins de prevenção a mesma dose é reco-
MANEJO DO PACIENTE
mendada por 12 a 16 semanas. O tratamento com gel de Foram expostOs no presente capiw lo vários métodos
silicone pode ser usado em pacientes de q ualquer idade e específicos para tratamento de cicatriz de acn e, porém,
em mulheres em idade fértil. isoladamente, nenh um deles mostrou-se altamente eficaz
para extingui r esse tipo de lesão decorrente da acne. Isso
se deve à variada morfologia q ue essas cicatri zes apresen-
Shaving tam, o q ue nos leva à necessidade do emprego de mú ltiplas
Este é um método s imples que cons iste em uma exci- técn icas complementares para garantir resultados ma is sa-
são tangencial da cicatriz elevada a fim de nivelar com a tisfatórios. A~sim, a abordagem do paciente deve ser indi-
pele. Pode ser realizada com lâmina de barbear ou bisturi vidualizada e as técnicas devem ser di recio nadas de acordo
elétrico. com os tipos de cicatriz enco ntrados.
O pri meiro passo consiste em a nam nese e exame físi-
co para identificação, junto ao paciente, das cicatrizes que
Corticoterapia intralesional mais o incomodam e institu ição de um programa de trata-
A injeção intralesional de esteroides é um dos trata- mento d irecionado. De modo geral, é importante o prepa-
mentos mais comuns para quelo ides e cicatri zes h ipertrófi- ro adeq uado da pele do paciente, especialmente em caso
cas. Pode ser usada isoladamente ou como parte de várias de fototipos mais altos. O métOdo consiste na aplicação de
abordagens terapêuticas. Os corticosteroides podem red u- cremes clareadores por cerca de 4 sema nas antes.
zir o volume, a espessura e a textura de cicatrizes e podem Em uma segu nda etapa, de acordo com as cicatrizes en-
aliviar os sintomas, como prurido e desconforton O me- contradas, utilizam-se técnicas cirúrgicas a fim de promover
ca nismo de ação a inda não foi completamente esclareci- nivelamento mais grosseiro da pele: excisão tangencial com
do: além de suas propriedades anti-inflamatórias, tem sido lâm ina de barbear (shatring} nas cicatrizes hipertróficas e em
sugerido que os esteroides promovem efeito vasoconstritOr ponte; excisão em bloco nas d istróficas; infiltração com cor-
e atividade antim itótica. Acred ita-se que os esteroides di- ticoide nas queloidianas; eletrocauterização em elevadas;
minuam a produção de colágeno patológica por meio de subcisão nas d isten.siveis retráteis; técnicas de preenchimento
dois meca nismos distintos: (I ) redução de oxigênio e de nas distensíveis o nduladas; e uso do p,.ndt nas não distensi-
n utrientes para a cicatri z com a inibição da proliferação de veis (Figura 64 .18).

Figura 64. 18 Tratamento com shaving com


lâmina de barbear e injeção de corticoide intra-
lesional. Regressão no tamanho da cicatriz que-
loidiana após injeção intralesional de triancinolo-
na. 40mg/ml - 1 ano de seguimento. (Fonte:
acervo do autor.)
Capítulo 64 • Cicatriz de Acne 345 )

Em uma segunda etapa, podem ser empregadas as téc- 10. Holland 08, Jeremy AH, Roberts SG. Seukeran OC. l.ayton AM,
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PARTE XVIII

NUTROLOGIA
Nutracêuticos
Sandra Lyon

Nutracêuticos constituem uma categoria de alimentos Suas fu nções na saüde huma na são amplas e têm papel
que promovem beneficios tanto para a preven ção como na expressão gên ica.
para o tratamento de doenças. As vitaminas são classificadas de acordo com sua solu-
Os nutracêuticos abrangem os alimentos com efeitos bilidade: vitami nas lipossolüveis (A, D, E e K) e vitaminas
med icinais, os ali mentos funcionais e os suplementos nu- h idrossolúveis (ácido ascórbico, tiam ina, riboflavina, n iacina,
tricionais o u d ietéticos. piridoxina, biotina, ácido pantotênico, folato e cobalamina)'
A saüde da pele, pelos e unhas depende da ingestão de
vitam inas, minera is, antioxidantes e ácidos graxos. Vitaminas lipossolúveis
As vitaminas lipossolúveis são absorvidas passivamen-
VITAMINAS te e devem ser transportadas com os lipídios d ietéticos, ne-
Vitaminas constituem um gru po de micronutrientes cess itando de gord ura para absorção adequada.
essenciais que preenchem os seguintes cri térios:
• Compostos o rgâ nicos d istintos de lipíd ios, carboidratos Vitamina A
e proteínas, denominados macronutrientes. A vitamina A (reti noides) refere-se aos vitãmeros álcool
• Componentes naturais dos alimentos, normalmente (retino!), aldeído (retina! ou retinaldeido) e ácido (ácido reti-
presentes em q uantidades mínimas e q ue não são sin- noico). As provitaminas são o betacaroteno e a cripcoxantina.
tetizados pelo orga nismo de maneira adequada para su- O betacaroteno é o carote noide mais importante. Os
prir as necess idades fisiológicas normais. carotenoides constituem grupos de compostOs de vegetais
• Essencia is, em q uantidades mín imas, para a função fi. capazes de produ zir retinoides q ua ndo metabolizados no
s iológica normal, isto é, man utenção, crescimento, de- organ ismo.
senvolvimento e reprodução. A vitam ina A preformada é encontrada em produtos
• Causam a sindrome de deficiência especifica por sua de o rigem an imal.
ausência ou insuficiência.
Funções fisiológicas
Vitãmeros são formas mültiplas, isõmeros e análogos A vitam ina A desempen ha papéis essenciais: pigmen-
ativos das vitam inas com algumas s imilaridades qu ímicas tOS visuais, diferenciação celular e regulação genética.
importantes e com as segu intes funções metabólicas:
• Estab ilizadores de membranas. Fontes
• Doadores e receptOres de h id rogên io e elétro ns. A vitamina A preformada é encontrada em alimentos
• Hormônios. de origem an imal, como fígado, gord ura de leite, ovos,
• Coenzimas. óleo de fígado de bacalhau e de linguado-gigante.

349
( 350 PARTE XVIII • Nutrologia

Os carotenoilles provitamina A são encontrados em Tratamento da deficiência de vitamina A


vegetais folhosos, verde<.'>curo,, e em vegetais e frutas ama- Adultos
relo-alaranjados. • 50.000 a IOO.OOOU I de retinol/dia p<:lr 14 dia.,.
• 30 a 300mg de hetacaroreno/ dia.
Deficiência
A~ deficii!ncia.'> primária.-. de vitamina A re.ultam da Equivalente de retino! ~ I J.lg de retino! o u 6mg de
inge;r:.'io inadettuada de vitamina A prefom1ada ou de ca- hetacaroteno.
rotenoides provitamina A. l1-1g de retino! · 3,33UI de retino! ou 0,33 f.lg • IUI
A~ deficiência> secundária.'> podem re>ultar de má a!J.. lmg = 3.333UI
sorção causada pela gordu ra dietética insuficiente, insufi- • Deficiê ncias graves ou lesão ocular: SOO.OOOUI/dia/
ciência hiliar ou pancreática, tran>porte prejudicado por por 3 d ias; a segu ir, 50.000 a ICXJ.OOOUI/dia por 14
ahetalipoprotei nemia, hepatopatia, de,nutrição proteico- d ias; depois, 10.000 a 20.000UI/dia por 2 me.~e>.
ca lórica ou deficiência de zinco.
Um dos primei ros sina is de deficiência de vitamina A Crianças
é a visão prejudicada pela perda dos pigmentos visuais (nic- • Necessidades básicas:
talopia). C linicam ente, ocorre a cegueira noturna ou n icta- - Lactentes: 375 ~lg ( 1250UI)/dia.
lapia, istO é, o prejuízo da adaptação ao escu ro (capacidade - C rianças: 400 a 700~11( ( 1.130 a 2. 3 30U 1)/ d ia.
de se adaptar à luz bri lhante o u da claridade para escu ro), • Dose profilática c suplemen tação na má absorção:
devido à falha da retina em regenerar a rodops ina. - Lactemes: 1.400 a 2.000U l/dia.
A xerofra lmia envolve atrofia das glândulas periocula- - C rianças: 1.500 a 3.500UI/dia.
res, h iperqueratose da conjuntiva e envolvimento da cór- • Tratamento d a d eficiência:
nea, levando a queratomalacia (amolecimento da córnea) - < I ano: 5.000 a IO.OOOUI/dia por lO dias.
e cegueira. - I a 8 anos: 5.000 a IS.OOOUI/ dia de lO a 30 dias.
Na pele, a deficii!ncia de vitamina A manifesta-se com Ou em bemcaroreno: 30 a I50m!lfdia
hiperqueratose folicular por bloqueio dos foliculos pilosos - > 8 anos: dose de adulto.
com r.amp<:'\es de queratina, con;tiruindo o quadro de fri- • D eficiências graves ou lesão ocular:
nodenna com alreraçôe., de tt!xrura da pt!le, que se torna - Lacteme: 5.000-IO.OOOU/ dia p<:lr lO dia.,, IM.•
seca, áspera e e;,camo;a.l.'
Vitamina O
Toxicidade A vitamina O (calciferol) é produzida a partir dO> doiJ,
esteroides lipídios: de animais (7-de-hidroxicobterol) e de
A hipervitaminme A cau>a altt!raçôe' na pele e mu-
vegetais (ergosrerol).
cosas, lábios >eco; com queilitt!, >ecura da mucosa nasal
Quando exposto à radiação ultravioleta, o 7-de-hidro-
e dos o lhos, xe rodennia, eritema, dt!scamação e esfolia-
xico lesterol irá produzir uma provitamina, a 7-de-hidroco-
ção da pele.
lesterol, que formará o colecalciferol ou vitamina O.
Ocorrem queda de cabelos, unhas quebradiças, gen-
O ergosterol, por sua vez, produzirá o t!rgocalciferol
givite, queilose, dor e fragilidade ô>>ea, acompanhadas de
ou vitamina Or A~ vitam inas 0 2 e O, nece>s itam de um
anorexia, irritabi lidade, fadiga, hepatomegalia, função he-
metabolismo adicional para produzir a forma metabolizan-
pática anormal, ascite e hipertensão porta.
te ativa de I ,25-diidroxivitam ina D (calcitriol). Além do
Em lactemes e crianças, podem ser detectados vômitos
cálcio e do fósforo, a vitam ina O desempenha importante
e bidrocefalia.
papel na ma nu tenção da homeostase do cálcio e na sallcle
A toxicidade dos ca rott! noides é baixa, e a ingestão diá-
dos ossos e dos dentes.
ria de 30mg d e heraca rotcno não provoca efei tos adversos
O colecalciferol (01) e o e rgoca lciferol (D 2) constituem
além do acúmulo de caroteno idt! na pele e o consequeme
vitãmeros.'
ama relamemo. A hipercarotenoderm ia pode ser diferen-
ciada da icterícia por acomett!r apenas a pele.' Funções
A vitamina O, (colecalcifero l) transforma-se em sua.~
Necessidades bãsicas de vitamina A para adultos fonna.~ biologicamente ativas: 25.{011)0 1 e 1,25.{01-l)zD,
• Mulhere.~: 800f.lg (2.675UI) por dia. (calcirriol).
• Homens l.OOOf.ig O. HOUI) p<:n dia • 6mg de hetacaro- O calcirriol aumenta a ahsorção de cálcio t! fo:.fato no
teno. intestino, aumenta a reabsorção de cálcio e fo:.faro no osso
• Suplementação: 4.000 a S.OOOUI/dia. e atua sobre o rim para diminuir a pt!rda de cálcio na urina.
Capítulo 65 • Nutracêuticos 351 ")

Fontes Toxicidade
A vitamina D, existe naturalmente nos produtos de A ingestão excess iva de vitami na D pode produzir into-
origem anima l e as fontes mais ricas são os ó leos de fígado xicação caracterizada pelo aumento das concentrações séri-
de peixes. É encontrada apenas em quantidades pequenas cas de cálcio (hipercalcemia) e fósforo (hiperfosfatemia) e,
e altamente variáveis na manteiga, nata, gema de ovo e f;. ainda, ca lcificação dos tecidos moles (calci nose), incluindo
gado. rim, pu lmão, coração e membrana timpã nica, o que resul-
O lei te materno e o leite de vaca não fortificado ten· ta em surdez.
dem a ser fomes mais pobres de vitamina Dl' fornecendo Constituem sinais de toxicidade: calcificação excessiva
apenas 0,4 a l~tg/L. A vitamina D é mu ito estável e não se do osso, cálculos renais, calcificação metastática de ri m,
deteriora qua ndo os a limemos são aquecidos ou armaze na· coração, pulmão e membrana timpãn ica, hipercalcemia,
dos por lo ngos períodos. cefaleia, fraqueza, náusea, vôm ito, obstipação intestina l,
policinicie e polid ips ia1 ·;·6
Deficiência
A deficiência de vitam ina D ma nifesta-se como raqu i· Tratamento
tis mo no período de crescimento e como osteomalacia em Equ ivalência: l~tg de ca lci triol = 40U l de vitamina D.
adultos. A concentração de 30ng/mL é considerada a con· o Necessidades báSicas: bastam IOJ,!g/d ia.
cen tração sérica mín ima de 25-hidroxivitamina D ind icati· o Profilaxia de crianças e adultos: 400UI/d ia.
va de deficiência. o Osteodistrofia da insuficiência rena l crô nica: iniciar
Raq uitismo é a doença que e nvolve a mineralização com 0, 25 a I ,O~tg/dia (0,014 a 0,04J,!g/kg) de calciferol
prejud icada dos ossos em crescimento, sendo o resultado e ajustar a cada 4 a 8 semanas até o máximo de 2~-tg/dia,
não apenas de privação de vitam ina D, como também da para manter calcemia entre 9 e !Omg/dL. Raqu itismo
deficiência de cálcio e fósforo. dependente: l~tg/d ia .
O raqui tismo é caracterizado por anorma lidades estru· o H ipofosfatemia familiar (raquitismo resistente): 0,015 a
turais dos ossos que suportam o peso, como tíb ia, costelas, 0,02~tg/kg/d ia de calcitriol (máximo de 2~-tg/d ia). Dose
úmero, rád io e ul na, e está associado a dor óssea, sensibi· ajustada para manter calcemia entre 9 e !Omg/dL.
!idade muscular e tetan ia hipocalcêmica. Os ossos moles, o H ipopara tireoid ismo: 0,5 a 2~tg/dia.
frágeis e raqu íticos não podem suportar os esforços e ten· o Raquitismo carencial: 50 a 150J,!g/d ia de D, por 2 a 4
sões comuns, o que resulta em pernas arqueadas, joelhos semanas (ou 0,5 a 2~tg/d ia de ca lcitriol} ou megadose
bate ndo, costelas com comas (o rosário raquítico), peitO de ú nica IM de 1 5 .000~-tg de calciferol.
pombo e protuberâ ncia frontal do crânio. o Osteodistrofia de insuficiência rena l crôn ica: 0,01 a
Os pacientes têm co ncentrações plasmática e sérica 0,05~tg/kg/dose de calcitriol três vezes por sema na com
aumentadas de fosfatase alca lina, que é liberada pelos os- ajuste da dose para manter calcem ia entre 9 e !Omg/dL.
teoblastos afetados. o H ipocalcemia do prematu ro: l ~tg de ca lcitriol oral uma
A osteomalacia desenvolve-se em adultos cujos fecha· vez ao dia por 5 dias ou 0,05 ~tg/kg/EV, uma vez ao d ia
memos epifisários tornam aquela porção do osso mais re· por 5 a 12 dias.
sisteme à deficiência de vi tam ina D. o H ipoparatireoid ismo em crianças:
A doença e nvolve redução general izada na densidade - Lacte mes: 0,04 a 0,08~-tg/kg/d ia .
óssea e a presença de pseudofraturas, especialmente da co- - C rianças até 5 anos: 0,25 a 0,75 ~tg / dia.4
lu na vertebral, fêmur e ümero. Os pacientes apresentam
maior risco de fraturas, em especial do punho e da pelve. Vitamina E
A osteoporose é frequentemente confund ida com a A vitamina E abrange d uas classes de substâncias bio-
osteomalacia, a qual, no entanto, envolve massa óssea d i· logicamente ativas: wcoferois e tricotrienos. Os vitãmeros
min uída com aparência h istO lógica normal, enq uanto a os- são: alfarocoferol, gamatocoferol e rocotrienó is.
teoporose é doença multifato rial que envolve massa óssea O mais importante é o alfa-rocoferol na forma na tural
d iminuída, mas com aparência histo lógica. 0 -isômero.
O metabolismo e a função da vitam ina D estão preju· A vitam ina E é absorvida na porção superior do intes-
d icados e há associação a co ncentrações red uzidas de estró- tino delgado e seu uso depende da presença de gord ura
genos. Ocorre em mulheres na pós-menopausa e também d ietética e de funções biliar e pancreática adequadas.
em homens idosos. Os suplementos de cálcio em vitamina
D somente são eficazes q uando utilizados em conjunto Funções
com a terapia de reposição ho rmonal em mu lheres no iní- A vi tam ina E é o amioxidante lipossolúvel ma is im-
cio da menopausa.;,6 porta nte na célula, atua ndo como varredor de rad icais li-
( 352 PARTE XVIII • Nutrologia

vres. Protege o organbmo de condições relacionadas com • Deficiência nutricional:


o el>tre>...,e, como envdhecimento, c..'\ncer, doença cardio- - Recém-nascido prematuro e a termo: 25 a 50mg/dia
va~cular, catarata, diabete'>, infecção e, em alguns casos, da por 1 semana.
doença de Alzheimer.' - Criança.~: 3mg/kg/dia por I mês.
• Fibrose cistica: 100 a 400mg/dia.
fontes • Betatalassemia: 700mg/dia.•
A vitamina E tem fontel> unicamente ' 'egetais: óleos
vegetais, grão~. noZel> e amêndoas. VitaminaK
A vitamina K desempenha papel e>;.encial na coagula-
Deficiência
ção sanguínea, na fonnação ó~~ea e na regulação dos siste-
Os alvos da deficiência de vitamina E são os sistemas mas de múltiplas enzimas.
neuromuscu lar, va..cu lar e reprodutor. A simomarologia Os vicãmeros são: fikx,uinonas (K 1), menaqu inonas
está presente naqueles indivíduos com má absorção de (K1) e menadiona (K 1).
lipídios, como, por exemplo, arresia bi liar e insuficiência A menadiona é duas vezes mais potente biologica men-
pancreática exócrina, ou anormalidade de transporte de te do que as formas K1 e ~.que ocorrem natura lme nte.
lipídios, como abeta lipoproteinemia. 7 As filoqu inonas (K 1) são absorvidas por u m processo
A deficiência leva a fraqueza museu I~ r, anem ia h emo- dependente de energia no intesti no delgado e as men~qui­
litica, edema em prematuros, ataxia cereb r~ l . encefalopa tia nonas (~) e a menad iona (K 1) são absorvidas no intesti-
degenera tiva e neuropatia periférica. no delgado e no cólon por d ifusão passiva. Essa absorção
O nível sérico norma l de vitami na E é de 6 a 14~lg/mL. 7 depend e de uma quantidade min ima d e gordu ra dietética
e dos sais bi liares e sucos pancrt'áticos. Os vitâmeros K
Toxicidade
absorvidos são incorporados aos qu ilomicrons na linfa e
Doses altas de vitamina E podem diminui r a capacida- levados para o fígado.
de do organb.mo de se utilizar de outras vitam inas liposso-
lúvei>. Por exemplo, do:.es excel>>ivas de vitamina E causam funções
mineralização ós:.ea prejudicada, armazenamento hepático A vitamina K é el>>encial nos proce>sos de coagulação
da vitamina A prejudicado e coagulação sanguínea prejudi- sanguínea e metabolbmo do cálcio.'
cada, resultando em sanj!tamento nasa1'·7..!
O uso cninico de alta.., dose" de vitamina E pode cau- Fontes
sar fadi~oa. di>túrhio vi>ual, fraqueza muscular, cefaleia, A ,;tamina K é encontrada em grande quantidade nos
náusea, diarreia, flarulência, dermatite, ginecomastia, ' -egetais de folhas verde-<!...cura..,, epecialmente brócolLs,
disfunção gonadal, erupç1io cutânea, aumento de lipídios repolho, alface e espinafre, normalmente em quantidades
séricos e redução nos nivei;, do;. hormônios tireoidianos. maiores que 100).tg/100g. A quantidade de vir.amina nos
Atrapalha a re~po;ta ao ferro na anemia ferropriva. laticínios, carnes e ovos tende a variar de O a 50).tg/g. O
leite materno é pobre em vitamina K.
Tratamento
• Necessidades diárias: IOmg/dia. Deficiência
• Profilaxia: 15 a )Omg/d ia. O s inal de deficiência de vitamina K é a hemorragia
• Má absorção inte;tina l e colestase crl\n ica: que, em casos graves, pode causar anem ia fata l. A cond ição
• 100mg/dia (mini mo I mg/kg/d ia). fundamenta l é a hipoprotrombinem ia, ca racterizada pelo
• Drepanocitose: 450mg/dia. tempo de coagulação prolo ngad o.
• Deficiência nmricio nal: 60 a 75mg/dia. A baixa ingestão de vitam ina K tem sido associada a
• Alzheimer: l.OOOmg a cada 8 horas. incidência aumentada de fraturas em idosos.
• Discinesia tardia: 800mg- a cada 12 horas.
Toxicidade
Em crianças, as nece."~idades básicas são: Somente a menadiona apresenta toxicidade: anemia
• Prematuros até ) meses: 25mg/dia. hemolítica em ratos e icterícia severa em lactentes.'
• Lactemes: A administração em exce>M) causa dor e edema no lo-
- < 6 mel>e~: )mg/dia; cal da injeção, vastXIilatação, cianose, hipotensão, náusea,
- 6 a 12m~: 4mg/dia; hiperbilirrubinemia, hemôlbe, anafilaxia, dLspneia, flehite
- 1 a ) ano.-,: 6mj!/dia; e risco de hematoma mu;cular, quando há discrasia san-
4 a 10 ano.'>: 7mg/dia. guínea.
Capítulo 65 • Nutracêuticos 353 ")

Tratamento Deficiência
• Necessidades diárias: I a S!lg/kg/d ia. A deficiência de tia mina pode se man ifestar como:
• Profilaxia da doença hemorrágica do recém-nascido: 0,5 • Estágio inicial: anorexia, constipação intestinal, dim i·
a I,Omg/kg, IM, SC o u EV, dose única; em prematuros nu ição de peso, fraqueza nas pernas, hipersensibilidade
pequenos, usar 0,4mg/kg. dos músculos da panturrilha, sensação de formigamen·
• A apresentação mm do Kanakion(l!) pediátrico pode ser tO e adormecimento das pernas, frequência cardíaca au·
dada por via ora l, na dose de 2mg (seringa sem agul ha, mentada e palpi tações.
diretamente na boca do bebê). Repetir entre o quarto e • Beribéri úm ido: edema de pernas, face, tronco e cavidades
o sétimo dia. ser<:>-~as, tensão dos músculos das panturrilhas, pulso acele·
• Distúrbio hemorrágico e hipovitaminose: I a Smg a rado, pressão arterial elevada e volume urinário d iminuído.
cada 12 horas EV, até a norma lização do tempo de pro- • Beribéri seco: agravamento da polineurite do estágio
trombina. in icial, dificuldade para caminhar, pode ocorrer a sín·
• Antagonista de cumarín icos: drome de Wernicke-Korsakoff, e encefalopatia (perda
- C rianças: 2,5 a Smg/dia VO; I a 2mg/dia. de memória recente, desorientação, nistagmo e ataxia).
- Adultos: via oral 2,5·25mg/dia · intramuscular/endo- • Beribéri infantil (de 2 a 5 meses de idade):
venoso: IOmg/dia. - Agudo: débitO urinário diminuído, choro excessivo,
- Nos distú rbios hemorrágicos de causa indeteminada gemido fraco e insuficiência cardíaca.
e com hemorragia significativa, administrar também - Crônico: irritabilidade, perda do tôn us muscular, pa·
plasma fresco, congelado ou crioprecipitado e pia· lidez, cianose, vômitOS e constipação intestina l.'
q uetas, em caso de plaquetopen ia.
- Não misturar na parenteral, mas pode ser inj etada As man ifestações cutâneas, como dermatite seborrei·
diretamente na linha do equ ipo. ca, queil ite angular, q ueratodermia palmoplantar com fis·
- Evitar o uso IM em caso de discrasia sanguínea e ad· suras, on icosquizia e hemo rragias ungueais, são secundá·
ministrar SC o u EV. Para uso EV diluir em lOm L de rias à deficiência de tiam ina.
soro fisiológico e correr em 15 a 30 minutos• A determ inação da deficiência de vitam ina B, pode ser
feita pelo teste da transcerolase. 10•11
Vitaminas hidrossolúveis
São vitaminas hidrossolúveis: tiamina, riboflavina, Toxi cidade
n iacina, vitam ina B6 , ácido pantotênico, biotina, ácido f& Doses excessivas de tiamina podem p rovocar cefaleia,
lico e vitamina Bn. convu lsões, fraqueza muscu lar, arritmia cardíaca, reações
As vitaminas h idrossolúveis são absorvidas por difusão alérgicas, urina amarela, parestesias e angioedema.
simples. O uso excessivo por via EV leva a risco de colapso vas·
cu lar, choque e ób ito.
A vitam ina B, deve ser administrada EV bem lenta·
Vitamina B,
mente, somente em casos graves.
A vitamina B, tem como vitãmero a tiamina, que de·
sempenha importante papel no metabolismo dos carboi· Tratamento
d raros e na função neural.
• Necessidades báSicas: 1,0 a I,Smg/dia.
A tiam ina é absorvida no intestino delgado proximal
• Profilática: 1 a 2mg/dia.
por transporte ativo, em doses baixas, e por d ifusão passi·
• Beribéri VO/IM/ EV: 5 a 30mg/dose, trêS vezes.
va, quando em doses elevadas (75mg/dia). O transporte
• Encefa lopatia de Wern icke: 50 a JOOmg/dia EV ou IM
ativo é inib ido pelo consumo de álcool, que interfere no
(até d ieta adequada).
transporte da vitamina, e pela deficiência de folato, que
• Distúrbios metabólicos: 20mg/dia.
interfere na repl icação dos enteróciros'0•11
• Lactentes: 0,3 a 0,4mg/d ia.
• Crianças: O, 7 a I,Omg/dia.
Funções
• Dose profilática em crianças: 0,3 a I mg/dia.
É coen zima para descarboxilação de 2-cetoácidos e • Beribéri em crianças: EV, IM, se grave: 10 a 25mg/dia
transcerolação. + I VO: 10 a SOmg/dia por 2 semanas e, depois, 5 a
IOmg/d ia por 30 dias.
Font es • Acidose lática pi rúvica grave: 600mg/dia.
Levedo, fígado e grãos integra is são as principa is fontes. • Anem ia mega loblástica: 20mg/dia 4
PARTE XVIII • Nutrologia

Vitamina 82 • C rianças: 0,8 a 1,8mg/dia.


A vi tam ina 8 1 tem como vitãmero a riboflavina, que • Profilaxia e m lactentes: I ,8mg/d ia.
é essencial para o metabolismo de carboidratos, aminoáci- • Tratamento de crianças: 5 a !Omg/d ia.
dos e lipídios e assegura proteção antioxidante. • Acidemia glutárica com h ipoglicemia: 100 a 300mg/dia.
• Melhor ingerir a vi tam ina 8 1 junto com alimentos.4
Funções
A vitamina 8 1 é fosforilada na parede intestinal e per- Vitamina83
corre a corrente sangu ínea como flavina adenina d inucleo- A vitamina 8 1 (niacina) apresenta os vitãmeros ácido
tídeo. Age no ciclo respi ratório mitoco ndrial e no ciclo de nicotínico e nicotinamida.
Krebs. É indispensável na degradação de aminoácidos, no A niaci na pode ser sintetizada a partir do aminoácido
metabolismo de purinas e na síntese de ácidos graxos de essencial tripwfano.
cadeias longas. Em muitOs alimentos, sobretudo naqueles de origem
animal, a niacina apresenta-se na forma de coenzimas do
Fontes nudeotídeo de piridina e nicotinamida adenina d inudeo-
Vegetais verdes folhosos, carnes, laticín ios, grãos inte- tídeo e n icotinamida adenina d inudeotídeo fosfato oxidase
grais, ovos e lei te.'·" (NAD e NADPH), que devem ser digeridas para a liberação
das formas absorvidas de nicotinam ida e ácido nicotínico'
Deficiência
A deficiência de vitamina 8 1 ocorre em pacientes com Funções
dietas não balanceadas, pobres em cereais, ou associada a Parte integrante do sistema de enzimas, a n iacina auxi-
doenças gastro intestinais, ci rrose alcoólica, h ipotireoid is- lia a transferência de hid rogên io e atua no metabolismo de
mo, fototerapia neonatal, s índ rome de Plummer-Vinso n, carboidratos e am inoácidos. Está envolvida na gl icólise, na
clorpromazina e intoxicações por boratos. s íntese de gorduras e na respi ração tecid ual.
A deficiência de riboflavina prod uz a síndrome oro-
-oculogenital. Na boca, ocorrem glossi te, despapilação da Fontes
língua e estomatite angular. Nos lábios, surge q ueilose. Na Carnes, peixes, amendo im, levedo, leite e ovos contêm
face, observa-se um quadro clínico semelhante à dermati- pequenas quantidades de niacina, mas são fontes ricas de
te seborreica com descamação fina nas asas nasais, sulcos tripwfano.
nasolabiais e nasogenianos, região malar e mento. Na re-
Deficiência
gião ocular, ocorrem edema conjuntiva!, lacri mejamento,
q ueratite, fotofob ia, hipervascularização da córnea e borra- A deficiência de vitamina 8 1 leva à pelagra, que ocorre
mento visual. Na região genita l são observadas lesões erite- em casos de alcoolismo, dieta inadequada, pacientes psi-
marodescamativas o u liquen ificadas. qu iátricos, usuários de drogas, defeitOS de absorção intes-
Ocorre ainda anemia microcítica. tinal, como portadores de doença de C roh n, e rewcolite
ulcerativa, em pacientes que se sub meteram a cirurgias do
Diagnóstico tratO gastroi ntesti na 1.12 •11
Os n íveis de detecção de riboflavina de excreção uri- A doença de Harmup, autossõm ica recessiva, leva a
nária nas 24 horas estão abaixo de 30mg. Pode-se também um defei to na absorção intestinal de aminoácidos, como
fazer o teste de atividade de glutationa redutase eritrocitá- o triptofano.
ria. Esta enzima necessi ta de flavina adenina dinucleotí- Os pacientes apresentam lesões cutâ neas pelagro ides,
deo (FAD) e converte a glutationa oxidada em glutationa alterações neurológicas, como ataxia cerebelar, e retardo
reduzida' ·" mental. 12•11

Tratamento Pe/agra
• Necessidades básicas: 1,0 a 1,6mg/dia. A pelagra se desenvolve por carência de niacina, trip-
• Profilaxia em adu ltOs: 1,8mg/dia. tofano e o utros elementos proteicos, lipíd ios e minerais. A
• Tratamento: 5 a 30mg/dia, d ivididos em 2 a 3 vezes. fowssensibilidade se deve à deficiência de ácido urocã nico,
• Hemólise por deficiência de piruvatO quinase - cria nças que exerce ação p rotetOra da pele contra os raios ultravio-
e adultos: !Omg/dia. leta. O ácido qu inurênico, que, acumulado na deficiência
de nicotinamida, promove efeitOs fotOtóxicos.
Em crianças as necessidades básicas são as seguintes: A s índ rome de pelagra in icia-se com fraqueza mus-
• Lacte ntes: 0,4 a 0,5mg/d ia. cu lar, anorexia e erupções cutâneas. A deficiência grave de
Capítulo 65 • Nutracêuticos 355 )

niacina na pelagra, caractc!rizada por dermatite, demência Em crianças, a.., nece,,.,idades básicas são:
e diarreia (doença... do> >D), quando não tratada, pode cau- • Lacteme:.: 5 a 6mg/ti ia.
~r a morte (clea~h 4D). • Criança:.: 9 a 1)mg/dia.
A manife>tação cutânea inicial consiste em eritema • T ratamemo da pelagra: 150 a 100mg/dia, divididos em
vin> na.., área.., fmoexpo~ta'>, como face, pescoço, antebra- três doses. 1
ços, mão;, e pé.'>. Po:.reriormente, a pele se rorna edematosa
e pode formar V<!.'>icula.'> e l><llha~, que se rompem, forman- Vitamina 8 5
do crosta.'>. A pele torna-loe e,pe_,,ada, de~camativa e hiper- A vitamina 8 5 (ácido pamotênico), parte integra me da
pigmentada. A dbtrihuição da, lesôes é simétrica, com ní- coenzima A, funciona na simese e quebra de muitos com-
tida demarcação com a pele normaL Na face, forma máSca- postos '~tais do organbmo e é e~sencial no metabolismo
ra até próximo ao couro cabeludo. No pescoço, adquire o imennediário de carboidratos, lipídios e proteínas.
a.~pecro de colar de Casal, estendendo-se em "V'' na porção
anterior do tórax. A~ le:.i'les da mucosa são repre.>emada.s Fontes
por estomatite angu lar e edema doloroso da mucosa o ral, Todos os alimentos de origem vegetal e anima l: ovos,
e a língua mostra-se vermelha, brilhante, lisa e de.>papilada, fígado, salmão e levedo, brócolis, cogumelo e amendoim.
podendo tornar-se atrófica e enegrecida. 12 •11 Além disso, é sintetizada pelas bactérias intestina is.
Os s intomas gastroi ntestina is são: língua dolo rida, per-
da de apetite e dor abdomi nal. Ocorrem ná useas, vôm itos Deficiência
e d iarreia, levando ao quadro clínico de má absorção. A deficiência de ácido pantotên ico resulta em p rej uízo
A~ manifestações neu rológicas e ps iquiátricas são tar-
na s íntese dos lipídios e na produção d e energia.
dias. Ocorrem ins1)nia, fadiga, irrirabi lidade, depressão, As manifestações da deficiência de ácido pamotênico
apatia e perda de memória. Desenvolve-se neuropatia mo- são: emagrecimenm, dbtúrhios do crescimento, cefa leia,
tora e sensitiva, retinire e atrofia do nervo óptico. Pode irritabilidade, insônia ou sonol~ncia. Provoca pareste.~ia>
ocorrer mielinólbe pontina central, que leva à morte sú- na.~ mãos e pés, hiper-reflexia, fraqueza muscular, instabili·
bita.'-'1-11 dade cardiovascular, tlbtúrhios ga..,trointe:.tinais, aumento
O diagnú-'>ticO diferencial da pelagra é feito com porfi- da suscetibilidade a infecçôes, infertilidade, abono espon-
ria:., sindrome de llartnup, reaçi'le~ pelagroides induzidas tâneo e disfunção. Apresenta ainda quadro de descamação
por medicamento.'> , erupção polimórfica à luz, lúpLLS erite- da pele e mucosa..,. '-'0
mato;,o :.uha~:udo e reaçôe.'> foroalérgicas.'·4•12•11
Toxicidade
Toxicidade
A toxiddade do ácido pantotênico é in:-.ignificame
A toxicidade da niacina é baixa. e doses maciças podem causar de'>tonforto intestinal e
O principal efeito adwrso é a liberação de hiStamina, diarreia.'·•
que causa rul><>r e pode ;er prejudicial a portadores de A~ nece.~sidade.~ básicas de vitamina B são de 5 a
1
a.~ma e úlcera péptica.
10mg/dia. É rara como deficit!ncia isolada.•
O exces;,o de vitamina B1 pode causa r: tonteira, cefa-
leia, insônia, ca lafrio, asrenia, mialgia, visão borrada, su-
dorese, hipertt!nsão, arritmia, ed ema, se nsação de ca lor, Vitamina 8 6
rubor, va.~odilatação, náusea, vôm itO, d iarreia, anorexia, A vitamina 8 6 (piridox ina) apresenta os vitãmeros: pi-
úlcera péptica e irritação gastro intestina l. ridoxol, piridoxa l e piridoxamina.
Atua como uma coenzima, auxi liando a sínrese e a
Tratamento queb ra de am inoácidos e de ácidos graxos insaturados a
• Necessidades básicas: 15 a 20mg/dia. partir de ácidos graxos essencia is. É essencial pa ra conver·
• Profilaxia: 20mg/dia. são de triptnfano em niacina.
• Tratamento da pdagra: 150 a 100mg/dia em trêS doses.
• Ca.~os graves d e pelagra: IOOmg EV Dose máxima: Fontes
500mg/dia. Carne de porco, vísceras, fardo e cereais, leite, gema
• Hiperlipidemia em adultos: iniciar com !Omg/kg/d ia, de ovo, farinha de aveia e leguminosa;,.
divididos em tr~ do;e;, e aumentar cerca de 100mg/
dia de cada vez a intervalo> de 2 a 1 semana.~, conforme Deficiência
tolerância e re~po:-.ta. Dose máxima: 2.000mg/dia, divi- A deficiência de vitamina 8 0 provoca anormalidade.~
dido;, em tr~s dose>. metabóli~ que se manife>tam como alteraçôe~ dermato-
PARTE XVIII • Nutrologia

lógicas e neurológicas com sintomas de fraq ueza muscu lar, Deficiência


insônia, neuropatia peri férica, queilose, gloss ite, estOmati· A deficiência de biotina é ra ra, uma vez que ela se en-
te e conjuntivite. São descritos, ainda, anemia, linfopenia, contra largamente d istribuída em muitos al imentos em ra-
náuseas, vôm itos, quadros convulsivos, hiperestesia, pares- zão do metabolismo de microrgan ismos intestina is. A ali-
tes ia ascendente e dim inu ição dos reflexos tend inosos. mentação com clara de ovo crua pode ind uzir deficiência
A deficiência de vitamina 8 6 pode levar a quadro se- de bioti na. A avidina, compo nente ativo da clara de ovo, é
melhante a dermatite seborreica na face, couro cabeludo, uma prote ína ligante de biotina, termolábil, que prejud ica
pescoço, ombros, nádegas e períneo. a absorção da biotina.
Existem casos secundários à intoxicação por med ica- A deficiência de bioti na pode ocorrer em casos de eli-
mentos (hidralazi na, isoniazida, penicilamina, cicloceri na) minação da biotina intestinal, em pacientes com má absor·
e por cogumelos que são tratados com altas doses de piri- ção e em nutrição paremeral prolongada ou em lactentes
doxina. que se ali mentam com formu lações pobres em bioti na.
Lactentes podem apresentar convu lsões por mioclo- Os sintomas da deficiência de biotina são: alopecia,
n ias com padrão de ipsa rritm ia q uando a mãe recebeu ex- co njuntivite, eczema na face, h iperestesia, parestesia e do-
cesso de pi ridoxina na gestação. res musculares 1 ·10•1s
Erros de metabolismo por doe nça au tossõm ica re-
Toxicidade cess iva podem provocar deficiê ncia de bioti na, tais como
A tOxicidade da vitamina 8 6 é relativamente baixa, le- deficiência genética da holoca rboxilase, que se ma n ifesta
vando a fotOssensibilidade e fotOtoxicidade.'·H com s ina is de acidemia ao nascimento, vôm itOs, taqu ip-
neia, desma ios, h ipoton ia e h iperton ia. As man ifestações
Trata mento cutâneas são de erupção cutânea e ritematOsa, descama-
tivas.'6
• Necessidades básicas: 1,4 a 2,lmg/dia.
A deficiência de bioti nidase leva à dim inu ição da ab-
• Anem ia hipocrõmica ou megaloblãstica: 10 a 200mg/
dia VOou IM. sorcão

de biotina com lesões semelh antes à acrodermatite
enteropática e sintomas neurológicos de convulsões mio-
• Neuri te por drogas (tratamento): 50 a 200mg/dia.
• Profilaxia da neurite: I a 2mg/kg/dia. clõn icas e ataxia. A sintomawlogia man ifesta-se por volta
• Cegueira com atrofia coro ide: IOOmg/dia. dos 3 meses de vida.' 7
• Oxa lúria: !OOmg/dia. Fontes
• Tensão pré-menstrual ou por anticoncepcionais: 50 a
Amendoins, amêndoas, soja, ovos, iogurte, batata-do-
200mg/dia.
ce, vísceras e leite.
• Coma e convulsões por intoxicação por ison iazida: mes-
ma dose (em mg) em q ue foi ingerida a isoniazida. Se Toxicidade
não souber a dose, usar a té 5g de piridoxina EV. • Necessidades básicas: 100 a 20011g/dia.
• Necessidades básicas em lactentes: 0,3 a 0,6mg/dia. • Deficiência de biotinidase e de biotina (qua lquer ida-
• Necessidades básicas em crianças: I a 1,4mg/dia. de): 5 a 20mg/dia.
• Profilaxia em lactentes: 2,1mg/d ia. • Retardo por acidem ia propiônica: !Omg/dia.
• Deficiência nutricional em crianças: 25mg/dia por 3 • Coma com glicin üria: lOmg/dia.
sema nas; depois, 2,5mg/dia. • Hipoton ia com deficiência de halocarboxilase: !Omg/
• Convu lsão (teste !OOmg IM) 200 a !OOmg/dia. d ia.•
• Convulsões por dependência de piridoxina:
- Recém-nascidos: 50 a IOOmg/dia VO (a té 600mg/ Vitamina 89
d ia); EV/IM/SC: !O a !OOmg.
A vitam ina 8 9 (ácido fólico) compreende um grupo
- Acidúria xanturênica (retardo mental): 10mg/dia.4
de compostos formado por ácido glutãmico, ácido para-
-aminobenzoico e pterid ina.
Vitamina 8 1 Os vitãmeros dos folaros são ácido fólico, pteroicmo-
A vitamina B.I (biotina ou vitamina H ou coenzima R) noglutamato e poliglutamil folacinas.
é um ácido carboxílico solúvel em água que funciona como No organismo, o ácido fól ico é convertido em ácido
coenzima de q uatro carboxilases, en zimas que fixam 0 1, folín ico (leucovorina), q ue é a forma biologicamente ativa.
participando de vários processos metabólicos importantes, Pa ra a conversão é necessária a presença de vitamina C.
como na síntese de ácidos graxos e RNA e no metabolismo O ácido fólico participa da síntese de DNA, RNA e
de proteínas e glicídeos.' proteínas.
Capítulo 65 • Nutracêuticos 357 ")

Fontes • Anem ia por deficiência de d iid rofolato red utase: 3 a


Vegeta is de folhas verdes, vísceras, carne, trigo, ovos, 6mg/dia IM.
feijão, brócolis, couve, levedo, queijos e frutas.1•18 • Resgate de metotrexato: a dose varia com a dosagem
de metotrexato usada e com seu nível sérico e o tempo
Deficiência transcorrido desde a infusão do metotrexaro (máximo
1.000mg/m2fdose a cada 6 horas).
A deficiência resulta de ingestão inadequada, deficiên-
• Dose básica: !Omg/m1 VO da dose inicial EV e mais
cia na absorção, como na doença celiaca, aumento das
!Omg/m1 a cada 6 h oras.
necessidades, como na gravidez e no período de lactação,
• Associado à pi ri metamina: 25mg/dose uma vez por se-
hipertireo idismo e neoplasias, ou da ação de antagon istas,
mana VO ou IM. Preferir sempre a via parentera l se o
como metrotrexato, trimeroprima, piri metamina e etano!.
paciente estiver com náusea ou vômitOs e para doses >
Pode ocorre r, também, nas deficiências congênitas.
25mg. Por via EV, d iluir para O, I mg/mL.4
A sintomatologia da deficiência de ácido fólico con-
siste em anemia, fraqueza, anorexia, glossite, taq uicardia e
Doses elevadas de ácido folínico podem neutralizar
esplenomega lia.
efeitOS adversos de hidanta l, barbitúricos e primido na•
Podem ser observadas alterações neurológicas, como dé-
ficit de memória, irritabilidade, distúrbios do sono e ataxia.
Mães com deficiência de folato podem ter recém-nascidos Vitamina 8 12
com ma lformação do tubo neural, como espi nha bífida . A vitamina 8 11 (cia nocoba lam ina) contém o vitãmero
A~ manifestações cutâ neas da deficiência de ácido fó- cobalamina, que apresenta atividade vitamin ica a cianoco-
lico são h iperpigmentação em áreas foroexpostas, ma nchas balamina e a hid roxicolamina.
escuras nas palmas e plantas, pigmentação na genitália e na A vitamina 8 11 desempenha papel importante na sín-
língua, q ueilite, glossite e lesões erosivas na mucosa oral.1•10•18 tese de DNA.
A absorção da vitamina 8 11 ocorre no ileo terminal,
Toxicidade após ligação com um faror intrínseco gáStrico, em pH ácido.
Doses altas podem mascarar anemia pern iciosa por de- A vitamina 8 12 é transportada no sangue em três pro-
ficiência de vitamina 8 12' sem prevenir os efeitos sobre o teí nas: transcobalaminas I, 11 e lll.10
sistema nervoso central.
Deficiência
Tratamento A deficiência pode ocorrer, principalmente, quando
• Necessidades básicas em adul tos: 200 a 400~tg/d ia. há má absorção: em doenças gástricas com defeitO na secre-
• Anemia megaloblástica: 5 a IOmg/dia VO. ção do ácido cloríd rico e/ o u faror intrínseco; em doenças
• Pro filaxia em gestantes de defeitOs do tubo neural no feto intestinais, como ci ru rgias o u doenças cilíacas, que alteram
(suplementação na amamentação): no inicio da gestação a absorção no ileo termina l; e em doenças congênitas com
(ou mesmo ames da concepção), pelo menos 4 a Smg/dia. deficiências genéticas do faror intrínseco ou das transcoba-
• Necessidades básicas em prematuros: 50!lg/dia. laminas. A deficiência de vitam ina 8 12 pode ocorrer, a inda,
• Necessidades básicas em lactentes: 25 a 50~tg/dia. em pacientes com d ieta vegetariana restrita e em recém-
• Necessidades básicas em crianças: 100 a 300~tg/d ia. -nascidos de mães com deficiência de vitamina 8 12 •
• Profilaxia em lactentes: 280!lg/dia. O organ ismo apresenta um estOque de vitami na 8 12 ,
• Retardo mental por deficiência de formim ino tra nsfera- ass im as manifestações ocorrem de 3 a 6 meses após o in í-
se: 5mg/dia. cio das anorma lidades gastroimestinais.'9 •20
• Retardo (hemocistinúria): !Omg/d ia. A deficiência de vi tam ina 8 12 leva a man ifestações
• Retardo (acidemia metilmalõn ica): I mg/dia. cutâneas, da med ula óssea e do sistema nervoso central. A~
• Deficiência de folato red utase: 5mg/dia.4 anormalidades neurológicas se desenvolvem muitO tempo
depo is do quadro de anemia e e nvolvem neuropatia p ro-
O ácido folín ico (leucovorina), a forma ativa do ácido gressiva com desmielin ização nervosa, q ue começa periferi-
fólico, é utilizado no tratamento da anem ia mega loblásti· camente e progride para o centro.
ca, no resgate do metotrexatO em qu imioterapia e como Os sintomas incluem entorpecimento, formigamento
antídotO para doses tóxicas de pi rimetamina ou trimeto- e queimação dos pés, rigidez e fraqueza generalizada dos
pri ma e amico nvu ls ivantes. membros inferiores. 19•20
• Anemia megaloblástica: até I mg/kg/dia VO; 0,2 a Ocorrem, ainda, sintomas associados a alterações do
I mg/d ia IM por semana. nervo óptico com escoro mas.
PARTE XVIII • Nutrologia

A deficiência de vitam ina B11 causa man ifestações he- A vitamina C apresenta propriedades red ucoras e
matOlógicas: sangue e medula apresentam alterações mega- oxida-{)e facilmente em ácido deidroascórbico, o qual tem
loblásticas com anem ia, neutropenia e trombocicopenia. acão

vitamin ica .
As man ifestações cutâneas cons istem em h iperpigmen- A vitam ina C é agente antioxidante e participa da sín-
tação, glossite, estomatite angu lar, alterações ungueais e ca- tese de colágeno, elastina, noradrena li na, carnitina e neuro-
nície. transmissores, aumentando a biod ispon ibilidade do ferro.
A h iperpigmemação pode ser generalizada e simétrica,
podendo acometer mucosa oral, gengiva e língua. A língua Fontes
pode apresentar-se atrófica, vermelho-brilhante e dolo rida. A vitamina C é encontrada em fru tas cítricas, hortali-
As alterações ungueais manifestam-se como melanon íquia cas
, de folhas verdes, tomate e acerola (mu ito rica em vita-
linea r longi tud inal. 10•11 mina C).
A privação completa de vitamina B11 leva a degenera-
ção neurológica irreversível. 4 Deficiência
Fontes A deficiência de vitamina C pode causar escorbuto
em pacientes idosos, em casos de distú rbios psiquiátricos,
A vitamina B12 está presente apenas em alimentos de
portadores de neoplasias, má absorção, portadores de pe-
o rigem a nimal. A vi tam ina B11 sintetizada pelas bactérias
riodondites crô nicas e crianças que se ali mentam exclusi-
na micro flora do cólon não é absorvida.
vamente de leite materno, cuj as mães têm deficiência vita-
Constituem fomes de vitam ina B12 : carnes, vísceras,
mín ica.
leite, ovos, peixes e q ueijos.
Em ad ulcos, as man ifestações do escorbutO são peté-
Toxicidade qu ias, h emorragias, fraqueza, edema nas pernas, gengivas
esponjosas, perda dos dentes, halicose e h iperqueratose fo-
O excesso de vitam ina B12 pode causar urticária, pruri- licu lar petequial. 1•10
do, exantema, diarreia e rinite, com o uso intranasal em gel. Em crianças, as man ifestações incl uem irritabilidade,
aste nia, anorexia, taqu ipneia, artralgia, dor ao movimenta r
Trata mento a perna da criança para trocar fraldas, pseudoparalisia em
• Necessidades bás icas em adultos: 2,0 a 2,6~tg/dia; adul- posição de batráqu io e fácies de medo. Pode haver forma-
tos vegetarianos: 6~tg/d ia. ção de um rosário costal clinico e rad iológico.
• As necessidades aumentam na gravid ez e em caso de A rad iografia dos joelhos mostra perda de trabecula-
ti reocoxicose, hemorragia, câncer, hepacopatias e nefro- ção intraóssea, promovendo o aspecto de vid ro moído,
patias graves. com li nhas bra ncas no final das metáfises e esporão lateral
• Anem ia pern iciosa: !OOJ,!g/d ia/IM, diária na primei ra e anel bra nco nos centros de ossificação epifisários, além
sema na, semanal no primeiro mêS e mensa l por roda a de hemorragia subperiosteal.
vid a; SC ou IM: IOOJ.!g/mês; VO: 1.000 a 2.000~tg/dia A~ man ifestações cutâneas são decorrentes da fragili-
(não recomendável em caso de gastropatia ou emeropa- dade vascular e púrpuras estão presentes, sobretudo nos
tia); nasal (gel): SOO~tg uma vez por sema na. membros inferiores. As petéquias têm distribuição folicu-
• Anem ia pern iciosa com manifestações neu rológicas: lar e acometem grandes áreas. Os pelos cornam-se quebra-
!OO~tg IM, uma vez por semana d urante meses e, depois, d iços e encurvados. Ocorre edema, principalmente, nos
manutenção de l.OOOJ,!g IM, uma vez por mês. membros inferiores.n· 13
• Necessidades básicas em lactemes: 0,3 a O,S ~tg/d ia .
• Necessidades básicas em crianças: O, 7 a 2J.!g/dia. Toxicidade
• Anem ia megaloblástica em neonacos: l.OOO~tg/dia por O excesso de vitamina C pode causar precipitação de
14 d ias; depois, passar para manutenção de SOJ.!g/mês. oxalatO nas vias u ri nárias, litiase rena l, diarreia, rubor, ce-
Em crianças: IOOJ.!g/d ia até acumular 1.000 a 5.000J,!g, faleia, d isúria e dor epigástrica.
depois, ma nutenção de lOO~tg/mêsH Aplicação EV rápida de vitam ina C pode provoca r
tontu ra e síncope.
Vitamina C
A vitamina C apresenta os vitãmeros ácido ascórbico e Tratamento
ácido deid roascórbico. O orga nismo não é capaz de tra ns- • Necessidades básicas: 50 a 90mg/dia.
formar ácido D-glucurôn ico em L-ascórbico, forma levóge- • Escorbuto: 300 a I.OOOmg/d ia VO, IM o u EV por 2
ra q ue é biologicamente ativa. semanas.
Capítulo 65 • Nutracêuticos 359 ")

• Acid ificação da urina: até 12g/dia. Picnogenol


• Prevenção e tratamento do resfriado (indicação mui to O picnogenol é uma proantocianidina extraída da cas·
controversa): I a 3g/dia. ca de uma va riedade de pinheiro da espécie Pinus marítima,
• Melhorar a excreção do ferro durante o uso de desferro- e ncontrada na costa atlântica da Eu ropa.
xam ina: 100 a 200mg/dia. • I ndicações: prevenção de eritema solar, doe nça infla.
• Necessidades básicas em lactentes: 30 a 40mg/dia. matória gengiva!, melasma e hiperpigmentação infla.
• Necessidades básicas em crianças: 40 a 50mg/dia. matória.
• Profilaxia em lactentes: 90mg/dia equivalem a !OOmL • Dose: 60 a 300mg/dia.
de suco de laranja por d ia. • Efeitos adversos: d iminu ição da agregação plaquetária
• Acid ificação da urina: 500mg, em três a q uatro doses. provoca distúrbios gastro intestinais. lnterage com blo·
q ueadores dos canais de cálcio, antiagregadores plaque-
POLIFENÓIS tários, tetracicl inas, a ntimaláricos, ferro e suplementos
à base de cálcio. 14
Os polifenóis constituem um grupo de nu tracêuticos
derivados de plantas que podem promover benefícios pre-
ventivos em ó rgãos específicos. Po/ypodium /eucotomos
Extraído de espécies de samambaias das Américas, o
Resveratrol Polypodium le"cotomos tem propriedades anti-inflamatórias,
O resveratrol (3,5,4'-tri-h id roxiestilbeno) é um polifenol antioxidantes e fotoproteto ras.
natural encontrado em uvas, frutas vermelhas, nozes e romã. • Indicações: reação polimorfa à luz, forossensibilidade,
• Indicações: envelhecimento intrí nseco e extrínseco da lúpus eritematoso, psoriase e vi ti ligo.
pele, prevenção de fowdano e prevenção de melanoma • Dose: 240mg/diaY
e câ ncer de mama, próstata, colorretal, intestino delga-
do, esôfago e pulmão.
• Dose: 500 a 2.000mg/dia. OUTROS NUTRACÊUTICOS
• Precauções: deve ser evitado em mulheres com câncer
Probióticos
estrógeno-clependen te.
Os prob ióticos constituem categorias de microrgan is·
Altera a biod isponibilidade da awrvastatina, sinvasta· mos vivos que podem promover beneficios similares aos
tina e lovastatina 24·H e ncontrados fis iologicamente no intesti no.
• Indicações: acne, dematite seborreica, dermatite atópi·
ca, diarreia associada à antibioticoterapia e ca nd idiase
Epigalocatequina 3-galato
vagina l.
Consiste no polifenol mais abu ndante do chá-verde • Dose: 5 a 10 mil hões de u nidades formadoras de colô·
(Camellia sinensis). nias em crianças e !O a 20 milhões em ad ultos.
• Indicações: prevenção e tratamento do fowdano, pre- • Efeitos adversos: os probióticos são segu ros e apresen-
venção das doenças de Alzheimer e Parkinso n. tam poucos efeitos adversos. Devem ser evitados em
• Dose: 200 a 800mg/dia. pacientes imunossuprimidos ou em uso de medicação
• Efeitos adversos: inibe a agregação plaquetária e a ação imu nossu pressora.
da adenosinaH

lsoflavona Ubiquinona
A isoflavona de soja é um antioxidante. Os isoflavo- A ubiquinona, o u coenzima Q 10, é um antioxidante
noides mais conhecidos são genisteína, da idzeína e glici· essencial que atua no estresse oxidativo e redu z as meta lo·
teina. A gen iste ína é indicada para as mulheres na pré· proteinases que destroem o colágeno.
·menopausa, para preven ir o risco de câ ncer associado a • Indicações: e nvelhecimento intrínseco e extrínseco, na
estrógeno, além de prevenir osteoporose. doença periodontal.
As indicações da isoflavona de soja são: prevenção de • Dose: 30 a 200mg/dia.
osteoporose, menopausa e seus sintomas, prevenção de • Efeitos adversos: d iminu i a atividade dos antiplaquetá·
doenças cardiovasculares e tratamento da esclerose amio- rios, como a varfarina. Por ou tro lado, estatinas, beta·
trófica lateral. bloqueadores e antidepressivos tricícl icos d iminuem a
• Dose: 25 a !00mg/dia.16 concentração da ubiquinona no organismo.18
PARTEXVIII • Nutrologia

Melatonina Ferro
A melaronina é um hormônio liberado pela glândula O ferro está presente no organ ismo sob trêS formas:
pínea! que cons iste em um antioxidante lipofilico e hidro- esroque, transporte e funcio nal. O estoque corresponde à
filico que previne a formação de rad icais livres. ferriti na e à hemosserina e é med ido pela ferri tina sérica.
Formada a partir do aminoácido triprofano, é liberada O ferro é transportado para o tecido por meio da transfer-
à noite, durante o sono, e é ativada pela escu ridão e inibi- rina é medido pela capacidade de ligação e saturação da
da pela luz. A q uantidade de melaron ina liberada d iminu i transferrina. O ferro funcional é med ido pela concentra-
com a idade, o que interfere na regu laridade do sono. ção de hemoglobina e hematócrito.
• Indicações: menopausa, insôn ia. O conteúdo total do ferro no orga nismo de um adul to
• D ose: a dose deve ser próxima da fisiológica: 0,3mg/dia; é de 4 a 5g, 70% dos quais estão ligados à hemoglobina.
para insônia utiliza<;e a dose de 1 a 3mg ao deita r. A deficiência de ferro leva a anemia ferropriva com
• Efeitos adversos: alteracão
, do ciclo ci rcadiano, enxaque- sinais clínicos de fad iga, anorexia, apatia, irritabilidade, ce-
ca, dim inu ição da libido e ginecomastia.14 faleia, taqu icardia, hipotensão e palidez cutâ nea. A~ man i-
festações cutâneas são alopecia d ifusa por eflúvio telógeno,
queilite angular, atrofia das papilas fili formes da língua e
Ácidos graxos poli-insaturados coiloníquia.
Os ácidos graxos são raramente encontrados livres na A hemocromarose é uma sindrome caracterizada por
natureza e quase sempre estão ligados a outras moléculas hiperpigmentação da pele, d iabetes melitO e cirrose hepá-
por seu grupo principal de ácido carboxílico hidrofílico. tica, associada a aumento de depósito de ferro em órgãos
Existem os ácidos graxos saturados, monossaturados e internos, o que pode estar associado ao hipogonad ismo.
poli-insaturados, de acordo com a cadeia de ca rbo no e as A hemocromatose pode ser primária, por defei to gené-
ligações duplas. tico, ou pode ocorrer de maneira secundária em alcoolistas
Os seres huma nos não são capazes de sintetizar os e em pacientes com anem ia hemolítica o u eritropoese.
ácidos ômega-3 e ômega-6, embora possam dessaturar Na hemocromarose observa-se pigmentação ci nza-acas-
e alongar o ácido linoleico em ácido araquidônico e o ta nhada na face, flexuras e mucosa ora l. Há q ueda de ca-
ácido alfali noleico. O ácido graxo mais poli-insaturado belos, pelos axilares e gen itais, coilon íquia e xeroderma. 10
nos an imais terrestres é o ácido graxo ômega-6. O ácido A determinação do ferro sérico é usada pa ra o diag-
e icosapentae noico é encontrado no ácido graxo ômega-3. nóstico d iferencial de anemias, hemocromatose e hemos-
Apenas os vegetais podem sintetiza r os ácidos graxos ôme- siderose.
ga-6 e ômega-3. N íveis ba ixos ocorrem em casos de anem ia ferropriva,
Os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 são essenciais glomerulopatias, menstruação e nas fases iniciais de remis-
na d ieta. O cérebro, o sistema nervoso central e as mem- são da anemia pern iciosa.
branas de todo o corpo dos seres humanos necess itam de Os valores de referências do ferro sérico são: 59 a
ácidos graxos ômega-3 para um bom funcionamento, es- 158)lg/dL (homens) e 37 a 145 ~tg/d L (mulheres).
pecialmente o ácido e icosapentaenoico e o ácido docosa- O teste de ferritina é utilizado no diagnóstico de ane-
·hexaenoico. A deficiência de ácidos graxos ômega-6 leva a mias e hemocromatose.
implicações clinicas de retardo de crescimento, lesões cutâ- A dosagem de ferritina reflete o nível de estoque celu-
neas, insuficiência reprodutiva e polid ips ia. lar do ferro. Pode estar aumentada em etilistas ativos e em
O ácido graxo ômega-3 tem impacto em casos de doen- ind ivíduos com outras doenças hepáticas, como hepatite
ças card iovasculares, artrite, câ ncer e estados im unológicos autoimune e hepatite C. N íveis de ferritina < 70ng/mL,
e menta is, como hiperatividade e déficit de atenção. co nstituem marcadores de fase aguda exigindo suplemen-
• D ose: ácido li noleico, I a 2g/dia de ômega-3 na forma tação de ferro em casos de alopecia d ifusa .
de óleo de peixe: I a 3g ao dia. Os va lores de referência da ferritina são 30 a 400ng/
• Precauções: doses > 3g podem ter implicações no retar- mL (homens) e 13 a 150ng/mL (m ulheres)."
do do tempo de coagulaçãoJ9

Cálcio
MICRONUTRIENTES MINERAIS O cálcio é o mineral ma is abu ndante no organ ismo:
Os nutrientes minera is são d ivididos em macrom ine- 99% encontram-se nos ossos e den tes e o restante (I %)
ra is (necess idade > IOOmg/d ia) e microm inera is ou ele- no sangue e nos fluidos extracelulares e dentro das células
mentos traços (necessidade< 15mg/dia) e elementos ultra- de todos os tecidos, nos q uais regula muitas funções me-
traços (em quantidades de microgramas por dia). tabólicas importantes. O osso é um tecido dinâmico que,
Capítulo 65 • Nutracêuticos 361 ")

quando necessário, devolve o cálcio e ou tros minera is para Nas crianças q ue recebem amamentação materna, as
os flu idos extracelulares e o sangue. ma nifestações clínicas iniciam-se quando cessa a amamen-
O cálcio dos dentes não pode ser mobil izado de volta tação e o leite materno é substi tuído pelo lei te de vaca.
para o sangue, pois os minerais dos dentes estão fixados O lei te humano apresenta maiores quantidades de áci-
para toda a vida. do picol ínico, que aumenta a absorção do zinco no tubo
O osso pode capta r cálcio e outros minerais do san- d igestivo.
gue quando estes são consumidos; no entanto, a retenção O ácido picolínico é um metabólito do triprofano,
óssea de cálcio derivada dos ali memos e suplementos é li- como também se encontram nos doentes níveis de qu i-
mitada, a menos que o cálcio seja consumido juntamente n uren ina, outro metabólitO do triprofano, há evidencias
com vitamina O' de que a alteração genética ocorra no metabolismo desse
am inoácido.
Avaliação laboratorial As lesões cutâneas constituem-se de placas eritemato·
O cálcio iônico representa, aproximadamente, metade sas, escamativas, erosivas e crostosas periorificiais. Há d iar-
do cálcio total. É útil no d iagnóstico e no seguimento de reia com fezes espumosas e volumosas, alopecia, blefarite,
distú rbios do metabolismo de cálcio e fósforo, incluindo conj untivite, fotofobia e depressão mental.
doenças ósseas, nefrológicas e neoplásicas. Está aumenta- A deficiência adqu irida de zinco pode ocorrer em pre-
do nos casos de hiperparati reoid ismo pri mário, neoplasias maturos com baixos níveis de zinco ao nascimento, filhos
e excesso de vitam ina O e dim in uído nos de hipoparati· de mães com deficiência carencial de zinco, pacientes com
reoid ismo e deficiência de vitam ina O. perdas por episódios diarreicos, pacientes com d ietas vege-
Valores de referência: 4,50 a 5,30mg/dL (homens), tarianas restritas, alcoolistas e desnutridos.
1,12 a 1,32mmol/L (mu lheres). Os níveis de zinco podem estar dim inuídos na presen-
A dosagem do cálcio total é útil no diagnóstico e no ça de quadros inflama tó rios.
seguimento de distúrbios de metabolismo de cálcio e fós· A fosfatase alcali na pode estar d iminuída em caso de
foro, especialmente na avaliação de pacientes com cálculo deficiência de zinco.
rena l. O tratamento é feitO com 3mg/kg/dia de zinco ele-
H ipercalcemia é encontrada em casos de hiperpara- mentar, considerando que há 50mg de zinco elementar em
tireoid ismo, cálculo rena l, neoplasias com ou sem metás- 220mg de sulfatO de zinco.
tases ósseas, mieloma, desidratação, hipervitaminose O, Concomitantemente à suplementação do zinco, pode
síndrome de imobilidade, hipertireoid ismo, heparopatias, haver red ução de cobre, a qua l pode ser controlada pelo
insuficiência rena l, sarcoidose, linfoma e uso de diuréticos hemograma. A deficiência de cobre pode levar a anem ia
estrógenos. microcítica e neutropenia' 1
Níveis baixos de cálcio são encontrados em casos de
osteomalacia, pa ncreatite, deficiência de vitamina O, albu-
Fósforo
mina d iminuída, fósforo elevado, insuficiência renal e hi-
poparatireoidismo (valores de referência: 8,6 a !0,2mg/dL). O fósforo é um micromineral importante em todas as
células do organ ismo como compo nente dos ossos e faz
parte da compos ição das membranas celulares, como fos-
Zinco folipíd ios. Menos de 1% de fósforo corporal enco ntra-se
O zi nco é d istrib uído abundantemente em todo o or- no plasma. Causas de fósforo elevado: exercício, hipovole-
ganismo, estando em segu ndo lugar em relação ao ferro mia, acromegalia, hipoparatireo idismo, metástases ósseas,
e aos elementos traços. O o rganismo apresenta 2 a 3g de hipervitaminose O, sarcoidose, heparopatias, embolia pul-
zinco. Está ligado a proteí nas. O zinco é encontrado nas monar, insuficiência rena l e trombocirose. Hipofosfatemia
carnes. pode ocorrer com o uso de antiácidos, di uréticos, conicoi-
O leite é uma fome rica em zinco, mas a alta ingestão des, gl icose endovenosa, hiperali mentação, diálise, sepse,
de cálcio proveniente do leite pode interferir na absorção de deficiência de vitam ina O e desordens tubulares re nais.
ferro e zinco. Os fitatos, provenientes de grãos integrais dos O utros fármacos podem interferir na determinação do fós·
pães não fermentados, podem limitar a absorção de zinco. foro, como acetazolamida, salbutamol, alendronato, azatio-
A deficiência de zinco pode ser d ividida em duas cate- prina, ison iazida, lítio, prometazina e anticoncepcionais.
gorias: hered itária e adqu irida. • Avaliação laboratorial:
A acrodermatite enteropática cons iste na deficiência - Fósforo sérico: 2,7 a 4,5mg/dL.
de zinco por hera nça aurossômica recess iva e caracteriza-se - Fósforo urinário: na urina de 24 horas: 400 a
por dermatite de loca lização acra l, alopecia e diarreia. 1.300mg/24 horas; na urina recente: 40 a 136mg/dL.
( 362 PARTE XVIII • Nutrologia

A dosagem de f6l.foro urinário é útil na avaliação do Flúor


balanço cãlcio/fó;foro. Valore:. aumentados de fósforo na A principal fome de flúor é a água. O flúor depn~ita-se
urina ocorrem em ca'o de hiperparatireoidi~mo primário, nos ossos e dem~~. incorporando-:.e à hidroxiapatita. Tem
deficit!ncia de vitamina D, acidose tUhular renal e uso de a função de proteger contra a de;mineralização patOlógica
diurético. de tecidos calciCicado.,. Atua na prevenção de cáries dentá-
Valore:. haixo:. ;ão encontrado> na desnurrição hipopa- rias. A ingestão de mab de 4mg de flúor leva à fluorose,
ratireoidbmo, no p.eudo-hipoparatireoidismo e em caso que prO\l)(:a mancha~ branca., ml> dent~. a., quais gradati-
de intoxicação com vitamina 0. 11 vamente se rornam ~~cura... A inge;tão crônica elevada de
flúor pode levar a alteraçôes no; o....,os.10
Cobre
O cobre faz parte de uma eHruw ra molecular de várias MINERAIS ULTRATRAÇOS
enzimas e tem papel importante na sínrese da hemoglobi- lodo
na e de outra~ proteínas que contêm ferro co mo compo-
O iodo é um micronutríente ultratraço presente no
nente de ceruloplasmina.
solo e na água do mar. O corpo huma no contém, nor-
O cobre é necessá rio pa ra a respiração celular, a for-
ma lmente, de 20 a 10mg de iodo, mais de 75% do tOtal
mação óssea, a mineralização do sistema nervoso central,
localizados na glându la tireoide e o restante d istri bu ído,
a pigmentação da pde, a ma nutenção da integridade dos
particula rmente, peb glându la mamâria la ctante, a muco-
vasos sanguíneos e a formação d e colflgeno.
sa gástrica e o sangue. O iodo dietético é necessârio pa ra a
A deficiência de cobre pode causa r defeitos de pigmen-
síntese de hormônios tireo idianos.
tação, nos sbtemas cardíaco e vascular e no esqueleto.
O iodo é abso rvido como iodem e é armazenado na
Pode e:.tar diminuído na doença de Wi lson, na sineiro-
glândula ti reoide, na qual é utilizado na síntese de tri-io-
me de Menke:. e em caso de queimaduras.
dotiron ina (T 1) e tiroxina (T 4). A captação dos íons iodo
A intoxicação por cobre pode acontecer com o uso de
pode ser inibida pelos hociogênico~. que são substâncias
di>positivo inrrauterino (DIU) de cobre, ingestão de solu-
encontradas naturalmente ntl> alimentos.10
ções e alimemm. contaminados pela expo:.ição a fungicidas
O iodo é enconrrado em quantidade" variáveis no; a li-
que contenham o metal.
memos e na ãgua potân~l.
A doença de Wibon é uma desordem genética autos-
As fomes mai> rica., de iodo :.ão: peix~., de âgua sal-
sômica rece:,.,iva do metaboli-.mo do cobre por deficiência
gada, sardinha~. o;rra,, lag(l>ta; e molusc<l>. O conteúdo
da produção de cerulopla:.mina e depo_,ição de cobre, prin-
de iodo no leite de vaca e no~ OVll> é determinado pelos
cipalmente no cérebro, no fígado, no; rins e na córnea,
iodetos disponh-ei~ na dieta do animal; a'-'im, o conteúdo
onde pode ~er evidenciado o ;inal de Kayser-Fieischer sob
de iodo na~ hortaliça~ depende do conteúdo de iodo no
a forma de anel periférico amarelo-esverdeado.
sal. Os bociogênicos podem cau;ar lXK:io por bloquearem
A sindrome de Menkes, ou tricopoliodisrrofia, é uma
a captação de iodo do sangue pela, células da tireoide. Os
desordem genética autoSS()mica recessiva ligada ao cromos-
alimentos que contêm bociogênico" >ão inativados pelo
somo X, causada por ab:.orção de(iciente de cobre com bai-
cozi mento.
xos niveis no fígado, no sangue e nos cabelos.
O uso do sal iO<lado é a melhor (orma de ,:,-nrantir uma
A criança apresenta letargia, hipoterm ia, hipmon ia,
ingestão adequada de iO<Io: 601-1g de iodo por grama de sal.
convu lsões intratáve is com retardo menta l, alteraçôes ós-
A dosagem u riná ri a do iodo avalia a excreç.'io uriná ria
seas semel hantes ao escorbuto, anemia e interrupção do
de iodo com base no conceito de que o o1·ganismo con ta
crescimento.
co m meca nismos saturáveis de captação do iodo. 0,; valo-
Os cabelos apresentam-se retOrcidos, finos, hipopig-
res de referência da excreção urinária são: 25 a 450f.lg/24
mentados e quebrad iços.10
horas.'
A dosagem de cobre sérico vai va riar conforme a ida-
de: até 6 meses, 20 a 70f.lg/d L, d e 6 m~~es a 6 anos, 90 a
190)-!g/dL, e de 6 a 12 anos, 80 a l60f.1g/dL. Em homens, a Manganês
dosagem é de 70 a 140~•i!ldL, e e m mul her~~. 80 a 155~•g/ O manganês é um componente de muitas enzimas, in-
dL (mulheres> 60 ano;: 85 a 1 90~1g/d L; grãvidas: 118 a clusive glutamina si meta~e. piruvato carboxilase e superó-
302 ~•g/d L). xido dismuta~e mirocondrial. O manganês está a>-.,Ociado à
O cobre urinário tem os :.eguintes valores de referên- formação de tecido; conjunrim e e;quelético.
cia: urina aleatória: 12 a 80f.1g/l; urina de 24 horas: 15 a O mangane, é ah~orvido por mJo o int~tino delgado.
60~•g/24 hora,. 11 O ferro e o cobalro competem pel(l> locai; de ligação co-
Capítulo 65 • Nutracêuticos 363 ")

muns para absorção. A absorção do manganês está signifi- A ingestão excess iva, de \0 a 15mg/d ia, está associada
cativamente associada à ferritina plasmática' a uma síndrome semelhante à gota.
As fomes ricas em manganês são os grãos integrais, le- A dosagem laboratOrial do metabolismo é< 3 ~tg/L. 11
gumi nosas, nozes e chá, enquanto as fomes an imais, laticí·
nios e frutOs do mar são fomes pobres.
A absorção do manganês ocorre pelas vias respirató rias Boro
e gastro imestinal. A absorção intestinal está relacionada O boro é um elemento ul tratraço que influencia a ati·
com o teor de ferro na dieta: ind ivíduos anêmicos absor- vidade de muitas enzimas metabólicas e o metabo lismo de
vem maior quantidade d o metal. A inalação de vapores d o n utrientes como cálcio, magnês io e vitamina O. As maio-
manganês produ z deterioração progressiva do sistema ner- res concentrações de boro são e ncontradas nos ossos, no
voso central. O manganês concen tra-se no cérebro, osso, baço e na tireoide, e mbora esteja presente e m rodos os ou-
fígado, pâncreas e rins. tros tecidos.
É eli minado lentamente pela urina, bile e fezes. O Fomes alimentares: frutas não cítricas, hortaliças, no-
manganês uriná rio tem valo res de referência, na u rina alea- zes, leguminosas e vinho.'
tó ria, vão de até IO~tg/L. l'
Cromo
Selênio
O cromo constitu i um micronutrieme que pote nciali-
O selênio é um micronutriente não metálico, presente za a ação da insu lina e influencia o metabo lismo de ca rbo i·
na natureza na forma inorgânica (selenita), ligado à cisteí- d ratos, lipídios e proteínas.
na (selenocisteina) e à metion ina (selenometionina), em Fomes: levedo de cerveja, fígado, batatas, q ueijo, car-
alimentos de o rigem an imal e vegetal. nes e fa relos.
O selênio atua na proteção das cél ulas contra dano A ingestão do cromo varia de 25 a 35~-tg/dia.
oxidativo, regulação d o ho rmônio tireoid iano, modu lação A deficiência do cromo resu lta em res istê ncia à insu li-
da resposta imunológica, contraposição aos efeitOs tóxicos na e anormalidades lipíd icas.'
dos metais pesados, carcinógenos químicos e luz ultravio-
leta.
Os ali mentos ricos e m selênio são: casta nha-do-pará, COBALTO
aipo, alho, brócolis, cebola, pepino, repolho, cereais inte- O coba ltO cumpre um papel essencial como compo·
gra is, cogumelos, farelo de trigo, atum, frango, gema de neme da vitamina 8 12 (coba lamina), sendo imprescindível
ovo e leite. para a maturação dos glóbulos vermelhos e a normalização
A deficiência de selênio pode ocorrer em pacientes das funções de todas as células. A necess idade d ietética de
renais crôn icos, submetidos à hemodiálise, com nu trição cobal to é expressa em termos de vitam ina 8 12, cujos valores
paremeral prolo ngada, recém-nascidos de baixo peso e lac- são de 2 a 3 ~tg diariamente. O plasma sanguíneo tem 1 ~-tg
temes alimentados com fórmulas lácteas à base de soja. de cobalto por 100mL.
A deficiência d e selênio pode causar d iscro motriquia Fomes: fígado, rins, ostras, carnes de aves e leite.
e alterações unguea is, além de dor muscu lar, fraqueza, ma- A deficiência de cobalto leva à deficiência de vitam ina
crocirose e elevação do colesterol plasmático. 8 12 com consequeme anem ia macrocítica.
A ingestão excessiva provoca alopecia, paro niquia e A ingestão excessiva de coba ltO inorgân ico, que existe
pigmentação avermelhada das unhas, cabelos e demes. 11 livre da cobalam ina, leva à polici te mia, q ue consiste e m
produção excessiva de glóbulos vermel hos, hiperplasia da
medula óssea, reticulocirose e aumento do volume sangu í-
Molibdênio
neo.'
O mo libdên io é considerado micro nutriente essencial A toxicidade do cromo está relacionada com o pico-
devido à necessidade na enzima xantina oxidase. linaro de cromo, consu mido como suplemento em altas
Encontrado em quantidades mín imas no organ ismo, é doses po r atletas e levantado res de peso e que provoca d er-
absorvido no estômago e no intestino delgado e excretado matOses'
na urina e na bile.
Fomes alimentares: legu minosas, cereais de grãos
integra is, leite e d erivados e vegeta is de folhas verde-es- Magnésio
curas.' Cerca de 49% do magnésio estão presentes no osso,
A deficiência de molibdên io provoca alterações men- enquanto os 50% restantes estão nas células corporais e
tais e anormalidades do metabolismo de enxofre e pu rina. apenas I% está loca lizado nos fluidos corpora is.
PARTEXVIII • Nutrologia

Há correlação entre a deficiência de magnéSio e as alte- Níveis elevados são encontrados em caso de deficiência de
rações da hemostase de cá lcio, potássio e fosfato associados minelanocorticoides, acidose metabólica, infusão sa lina
a perturbações cardíacas, como é o caso das arritmias ven- excess iva , perdas gastro intestinais, acidose tubu lar renal,
triculares, que não podem ser tratadas com terapêuticas fístula pancreática e hiperparatireo idismo.
convencionais em razão da sensibilidade aumentada à di- N íveis ba ixos ocorrem em caso de hipervolemia, insu-
goxina, e dos espasmos da artéria coro nária. ficiência cardíaca, secreção inapropriada de ADH, vômi-
Podem ocorrer perturbações neuromusculares e neu- tOS, acidose respira tó ria crô nica, doença de Addison, alca-
ropsiquiátricas. A hipermagnesemia é observada na insufi- lose metabólica, cetoacidose diabética e uso de d iuréticos.
ciência renal aguda e crô nica. Os va lores de referência do Va lores de referência:
magnéS io sérico são de 1,68 a 2,55mg/dL. • C loro sérico: 98 a 107mmoi/L.
O controle do balanço de magnésio é fei to pela ab- • C loro urinário: 110 a 250mEq/ L (urina de 24 horas).
sorção intestinal e a excreção renal. O magnésio urinário
dim in ui a ntes do magnéSio sérico, e pode ser a indicação O potássio é o principa l cátion intracelu lar, com con-
precoce da deficiência de magnésio. centração de 150mEq/L, enquanto no nível sérico encon-
Valo r de referência: 72,9 a 121,5mg/24 horas.'·1' tra-se em to rno de 4mEq/L.
Fontes: cereais em grãos integra is, nozes, carnes, leite, Na urina ou no soro, sua aplicação está relacionada
leguminosas e chocolate. com os níveis de aldoste rona, a reabsorção de sódio e o
eq uilíbrio ácido-básico.
Enxofre Valores de referência do potássio sérico: 3,5 a
5,1mmoi/L.
A maior parte do enxofre d ietético está presente nos A avaliação do potáSsio na u rina contribui para a in-
aminoácidos que contêm e nxofre necessári o para a síntese vestigação das alterações de potássio sérico. Perdas aumen-
de metabólicos. O enxofre atua nas reações de oxirred ução tadas de potássio urinário podem ser encon tradas em caso
como parte da tia mina e da biotina. de hiperaldosteron ismo primário, hiperplasia suprarrenal
Fontes: ali mentos proteicos como carne, peixes, aves, co ngên ita, tu mores secretores de ren ina, sínd rome de
ovos, leite e q ueij o, leguminosas e nozes. Cushing e hipertensão renovascular. Na ava liação da hi-
A necess idade de enxofre é suprida pelos am inoácidos pocalcemia, a dosagem de potássio urinário contribui para
essenciais q ue contêm e nxofre.' separar as perdas renais das não renais.
Va lores de referências do potássio na urina de 24 ho-
-
ELETROLITOS ras: 25 a 125mEq/24 hora.~ .'·'o,J'

Sódio, cloreto e potássio


O sód io, o cloreto e o potássio são essenciais para man- CONSIDERAÇÕES FINAIS
ter o equilíbrio osmótico hidroeletrol ítico e ácido-básico
do organ ismo e, ainda, as atividades e nzi má ticas. Nutracêuticos constituem q uaisq uer substâncias con-
O sódio é o principa l cátion extracelular. Os sais de sideradas alimento o u parte de alimento que possam pro-
sód io são os principais determinantes da osmolaridade ce- porcionar benefícios à saúde no sentido de prevenção e
lu lar. Alguns fatores regu lam a homeostasia do balanço de tratamento das doenças.
sód io, como aldostero na e hormônio antidi urético. O conhecimento nutrológico é vasto, sendo necessá-
Os valores de referência do sód io sérico são de 136 a rio que o médico enfoque os nutrientes em todos os seus
145mmoi/L. aspectos para poder fazer prescrições adequadas com o ob-
As principais causas de aumento do sód io urinário jetivo de assegurar dietas saudáveis.
são: uso de d iuréticos, d ieta rica em sal, secreção inadequa-
da de ADH e doença de Addison. São ca usas de d imi nui-
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Vitamina D: Mitos e Verdades
Tatiana Amora Cruz

A vitam ina D é um micron utriente cuja biodisponibi· fósforo do osso para manter as co ncentrações sanguíneas
!idade é essencial aos processos metabólicos e fisiológicos normais. No rim, o calcitriol aumenta a reabsorção tubu-
normais do o rga nismo. lar renal d e cálcio e fosfatO. A calciron ina, segregada pela
tireoide, opõe-se à atividad e do calcitriol e do PTH, supri·
mindo a mobilização óssea e aumenta ndo a excreção renal
FISIOLOGIA de cálcio e fosfato. 2
Considerada um pró-ho rmô nio, a vitamina D pode ser A vitam ina D age como modu lador d o sistema imu-
obtida de duas maneiras: pela d ieta ou pela síntese na pele ne, preve nindo a expressão excessiva de ci tocinas infla-
através da radiação u ltravioleta no espectro ultravioleta de matórias e aumentando a capacidade oxidativa dos ma-
290 a 320nm, a partir de seu precu rsor 7-<leid rocolesterol, crófagos.1
q ue é a provi tam ina 0 1. Então, sofre a isomeriz.ação para
vitam ina Dv q ue correspo nd e ao coleca lciferol e entra nos
capilares dérmicos. A PELE EA SÍNTESE DE VITAMINA O
A vitam ina D2 (ergocalciferol) é obtida por meio da A vitam ina D 1 é formada nas camadas de Malpighi
dieta e, juntamente com o colecalciferol, sofre h id roxilação e basal da ep iderme a pa rti r de seu precursor 7-diid roco-
no fígado, sendo transformada em 25-hidroxivitami na D. lesterol. É necessária a presença da rad iação ultravioleta
Esta molécu la va i até os rins, onde se h idroxila novamente B para que 15% da pré-vitamina D 1 se converta em vita-
para formar a vitamina D madura, que é a I,25-hidroxivi- mina ativa.
tamina D ou calcitriol' O nível da pré-vitamina D 1 não é afetado pela quanti·
dade de melanina presente na pele, mas pela dose da rad ia-

FUNÇOES
- ção que penetra a pele. As pessoas negras têm necessidade
de ma is exposição solar do que as brancas para produção
A vitam ina D participa, juntamente com os hormô- do mesmo n ível da vitamina 0 1.4
n ios da parati reoide e a calciro nina, na regulação do me- A quantidade de rad iação ultravioleta para manter ní-
tabolismo do cálcio e do fósforo, mantendo níveis séricos veis adequados de vitamina D é mín ima.;·6
adeq uados desses e leme mos para a formação dos ossos.
O calcitriol aumenta a absorção de cálcio e fosfato no -
MENSURAÇAO DA VITAMINA O SERICA
'
intesti no, aumenta a reabsorção de cálcio e fosfatO no osso
e atua sobre o rim, de modo a d iminuir a perda de cálcio A 25-0H-vi tam ina D é a medida precon izada para ava-
na u ri na. liação da ca rência nutriciona l de vitamina D. Valores d imi·
No osso, o paratormõnio (PTH), isolado ou associado nuídos estão associados a insuficiência dietética de vitami·
ao calcitriol, ao estrógeno ou a ambos, mobiliza cálcio e na D, doença hepática, má absorção, absorção, exposição

366
Capítulo 66 • Vitamina 0: Mitos e Verdades 367

solar inadequada e sínd rome nefrótica. Por estar relacio- de crescimento e ndocondral dos ossos lo ngos, com preju í-
nada com o metabolismo ósseo, a insuficiência de vitami- zo à osteogênese normal.
na D pode causar aumento de paratOrmõnio (hiperpara- O raq uitismo não cons iste apenas na privação da vi·
tireoid ismo secundário) e desminera lização óssea. Valo res tamina D, mas também na deficiência de cálcio e fósfo-
aumentados são associados à intoxicação por vitamina D, ro-" Na vida ad ulta, leva a osteomalacia, que é o defeitO
quando também se pode e ncontrar hipercalcemia. de mineralização óssea fora da placa de crescimento.12 A
Pode apresentar-se em baixas concentrações, mas den- osteomalacia é confund ida com a osteoporose, que co n-
tro dos valores de referência, nos quadros de obesidade, siste na d iminu ição da massa óssea associada ao envelhe-
sarcoidose, ca lcinose tumoral h iperfosfatêm ica, tu berculo- cimento e constitu i doença multifatOrial, a qual envolve o
se, h iperparatireoidismo primário e no raqui tismo tipo 11 metabolismo e a fun ção prejud icados de vitamina D, asso-
vitam ina O-dependente. ciados a baixas concentrações de estrógeno. Suplementos
Os valores de referência são:i de cálcio e vitam ina D são insuficientes no tratamento ou
• Deficiência: < IO ng/mL prevenção da osteoporose, sendo necessária a reposição de
• Insuficiência: 10 a 29,9ng/mL estrógenos n
• Suficiência: 30 a lOOng/mL. A vi tam ina D exerce ainda ações biológicas que conti·
• Elevado: > JOOng/mL n uam obscuras, como reguladora e modu ladora nas doen-
ças auro imunes, doenças card iovasculares, sí ndrome meta-
O PTH, um h ormônio polipeptidico segregado pelas bólica e na capacidade cognitiva dos ind ivíduos.14•1s
paratireoides, atua na regulação da concentração de cálcio
plasmático e no metabolismo ósseo. O PTH pode sofrer
alteração nos d istúrbios de vi tam ina D. A elevação do PTH
CONSIDERAÇOES FINAIS
-
constitu i biomarcador que reflete baixos niveis fis iológicos
de vitamina D. A deficiência deve ser defin ida como con-
Essencial para a fu nção fisiológica normal do o rga-
centração sérica < 32ng/mL (80nmol/L). Os va lores de
nismo, a vitam ina D é con hecida como vitam ina da luz
referência do PTH estão entre 7 e 53 ng/m L
solar, pois a expos ição solar normal é suficien te para a
ma ioria das pessoas p roduzirem sua própria vitam ina D
FONTES DE VITAMINA O através da pele.
Ademais, existem muitOs mitos e verdades em relação
A principal fonte de vitam ina D é a pele. Acred ita-se
à vi tam ina D.
que a exposição breve e casual da face, braços e mãos à
luz equivalha a cerca de 5 ~tg (200UI) de vitam ina De que
exposições prolongadas com eritema aumentem as concen- Referências
trações plasmáticas de 25-0H-vitamina D tanto quanto a 1. Oumeish YO, Oumeishs I. Nutritional skin problems in children .
ingestão a longo prazo de 250~g (IO.OOOU I) de vitamina Clin Oermatol 2003; 21:260-3.
D diariamente. 8•9 2. Brown AJ et ai. Oifferential effects of l~nor-1 .2~ihydroxyvita­
min 02 and 1,25-dihydroxyvitamin 03 on intestinal calcium and
A penetração da luz ultravioleta depende da q uantida- phosphate transport. J Lab Clin Med 2002; 139:279.
de de melan ina na pele, do tipo de roupas e do bloqueio 3. Maggini S, W intergerst ES, Beveridge S, Horning OH. Selec-
dos raios solares por meio de fotoproterores. ted vitamins and trace elements support immune function by
A exposição de face, mãos, braços ou pernas aos ra ios strengthening epithelial barriers and cellular and humoral immu-
ne responses. Br J Nutr 2007; 98(1):S 2~35.
solares por 5 a 10 minu tos, duas a trêS vezes por semana, é
4. Archer CB. Functions of the skin . In: Rook A, W ilsinson OS,
suficiente para fornecer n íveis adequados de vitamina 0 10 Ebling FJC, Champion RH, Burton JL. Texlbook of dermatology.
Quanto mais claro o tom da pele, menor o tempo ne- 5. ed. Oxford: Blackwell, 1992:125-55.
cessário de exposição aos raios u ltravioleta B (UVB). 5. Marks R, Foley PA, Jolley O, Knight KR, Harrison J, Thompson
A~ fontes naturais de vitam ina D são prod utos de ori· SC. The effect or regular sunscreen use on vitamin O leveis in
an Australian population . Results of randomized controlled trial.
gem an ima l, como ó leo de figado de peixe e os peixes de Arch Oermatol 1995; 131 :115-21.
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Ovos, carne, lei te e manteiga contêm vitamina D em and appropriate use. Am J Clin Oermatol2002; 3{3):185-91 .
pequena quantidade. 7. Manual de exames de laboratório. Belo Horizonte: São Marcos,
2013.
O leite materno e o lei te de vaca são fomes pobres de
8. Haddad J. Vitamina 0 : solar rays, the milk way, or both? N Engl J
vitam ina D. Med 1992; 326:1213.
A deficiência de vitam ina D na infâ ncia leva ao raq ui- 9. Hatchcock JN et ai. Risk assessment for vitamin O. Am J Clin
tismo em virtude da deficiência na mineralização da placa Nutr 2007; 85:86.
< 368 PARTEXVIII • Nutrologia

10. Holick MF. Sunlight and vitamin O for bore health and prevention 13. Oelmas PO. Treatment oi postmenopausal osteoporosis. Lancet
oi autoimmune diseases, cancers and cardiovascular disease. 2002; 359:2018.
Am J Clin Nutr 2004; 80(6):1678. 14. Oorini A, Penna G. Contrai oi autoimmune diseases by the
11. Mahan LK, Escon-Stump S, Krause M. Alimentos, nutrição e die- vitamin O endocrine system . Nat Clin Pract Rheumatol 2008;
toterapia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 4:404-12.
12. Premaor MO, Furlkaneno TW. Hipovitaminose O em adultos: 15. Cutolo M, Otsa K. Review: vitamin O, immunity and lupus. Lu-
entendendo melhor a apresentação de uma velha doença. Arq pus 2008; 17:&-10.
Bras Endocrinol Metab 2006; 50:25-37.
OSignificado da Obesidade e da
Imagem Corporal no Estilo de Vida
José Otávio Penido Fonse ca
Fernanda Lyon Freire

O termo obesidade refere-se a uma doença crôn ica, tradicional continua sendo a fórmu la mais empregada na
mu ltifawrial, caracterizada pelo excesso de tecido adiposo prá tica cl ínica.
no corpo. Difere do termo sobrepeso, que pode ser defi- Todos os pacientes adultos devem ser rastreados para
nido como peso corpóreo aumentado em relação ao peso sobrepeso e obes idade mediante a medição do IMC e da
ideal. Operacio nalmente, ambos podem ser defin idos, em ci rcunferência abdom inal. A med ida do perímetro abdo·
termos de índice de massa corporal. mi nal é desnecessária em pacientes com IMC > 35kg/mz.
Fórmula para o cálculo do índice de massa corporal Indivíduos com IMC > 25 kg/m 2 ou com perímetro abdo·
(IM C): mi nal > 88cm (mulheres) ou 102cm (homens) devem ser
submetidos a uma avaliação mais aprofundada dos facores
lMC =peso (kg)/quadrado da estatu ra (m) de risco card iovasculares e comorbidades, avaliando-se,
além do IMC e da ci rcunferência abdom inal, os níveis de
O lMC é a forma mais prática para ava liação do grau pressão arterial, triglicerídeos, colesterol total e frações e
de excesso de peso. É calculado a partir da altura e do peso glicem ia em jejum. Deve-se interrogar sobre sintomas da
com a fórmula apresentada. São considerados com sobrepe- síndrome de apneia e hipopneia obstrutiva do sono e uso
so, ind ivíduos com lMC > 25 kg/m 2 e< 30kg/m 2 enquanto de med icações associadas ao aumento de peso, bem como
ind ivíduos com IMC > 30kg/m 2 são considerados obesos. investigar outros fatores etiológicos.
O grau I de obesidade engloba indivíduos com IMC en tre Além do IMC, a ci rcu nferência do braço, as pregas
30 e 34,9kg/mz. Denomina-se obesidade grau li o IMC en- cutâneas, a circunferência da ci ntu ra, e a razão cintura-
tre 35 e 39,9kg/m 2 e grau III o IMC > 40 kg/m 2. -quadril também são utilizadas para mensuração do estado
Um novo IMC foi desenvolvido por Nick Trefethen, n utricio nal. A bioimpedã ncia baseia-se na condutividade
matemático da Un iversidade de Oxford. Esse novo cálculo elétrica para med ir o cálculo de massa magra e gordura, e
demonstra que há uma d isto rção na avaliação do peso, que percentuais de água, além de questioná rios retrospectivos
não correlacio na de manei ra precisa o ga nho de peso com e prospectivos sobre a ingestão de alimentos e bebidas po r
o aumento da estatura, registrando um resultado excess ivo 24 horas, são também utilizados no controle da obes idade.
para pessoas com maior estatura e pequeno demais para A prevenção da obes idade passa pela conscientização
pessoas de menor estatu ra, e propõe como ajuste a seguin· da importância da atividade física e da alimentação ade-
te eq uação: quada.

1,3 x peso (em kg)/altura (em m) elevado a 2,5.


EPIDEMIOLOGIA
Mantendo a mesma categorização de obes idade e peso, Há aumento sign ificativo da prevalência de obesida-
pode haver uma alteração na classificação. Todavia, o IMC de em diversas populações do mu ndo, incluindo o Brasi l.

369
< 370 PARTE XVIII • Nutrologia

Nos EUA mais de 33% dos adu ltOs são obesos, e 64% dos atividade física. A atividade física é o mais importante com-
americanos têm sobrepeso. Os brasileiros consomem em po nente variável, representando cerca de 20% a 30% do
excesso carne gordurosa, leite integral, refrigerantes, sa lga- gasto energético total em adultos.
d inhos e doces, comend o poucas frutas e verduras, além A obesidade está associada a excesso significativo de
d e não pratica rem atividades físicas regularmente. Um morbidade e morta lidade. As estimativas para a mortalida-
importante traba lho real izado pelo Ministério da Saúde de associada à obesidade an ual são extremamente variáveis.
- Vigilância de fatores de risco e proteção para d oenças Obesidade e aumento da gordura central estão asso-
crôn icas por inquéri to telefôn ico (VIG ITEL) - demonstra ciados a aumento da morbidade, incluindo hipertensão,
q ue a obesidade no Brasil aumenta a cada ano, em am- diabetes meliro, hipertrigliceridem ia, hipercolestero lem ia,
bos os sexos, sendo o sobrepeso maior entre os homens doenças cardíacas e derrame, apneia do sono, entre mui tos
(52,6%) do que entre as mulheres (44,7%). outros.

ETIOLOGIA TRATAMENTO
A etiologia da obes idade é complexa e mu ltifatorial, O tratamento da obesidade é complexo e mu ltidiscipli-
resultando da interação de genes, ambiente, estilos de vida nar. Não existe nenhu m tratamento farmacológico a longo
e fawres emocionais. Entre as várias etiologia.~, dieta e es- prazo q ue não e nvolva mudanças no estilo de vida. Fatores
tilo de vida são os mais importantes. Um estilo de vida importantes no controle da obesidade são a imagem cor-
sedentário red uz o gasto de energia e promove o ga nho poral, a vaidade e a disposição de cuidar do corpo. Sem
de peso. O excesso de ingestão de calorias de q ualquer o desejo do paciente de mel horar a imagem e a saúde, o
fome aumenta o aporte de energia e também promove o tratamento se torna impossível.
ganho de peso. As d ietas ricas em gord uras parcialmente Há vá rias opções de tra tamentO pa ra a obesidade e o
hid rogenadas, carnes vermel has ou processadas, carboidra- sobre peso. A escol ha do tratamentO deve ser baseada na
tos refinados e açúcar estão a.~sociadas a ganho de peso, gravidade do problema e na presença de complicações
e nquanto a ingestão de vegetais, grãos integrais, iogurte, assoc iadas. O sucesso a lo ngo pra zo depende de uma
fruta.~ e nozes não. constante vigilâ ncia na adeq uação do nível de atividade
Alguns medicamentos podem causar gan ho de peso, fís ica e de ingestão de alimentO, além de outros fato-
inclusive medicamentos psicoativos, agentes antiepilépti· res, como apoio social e fam iliar e a utomonirorização.
cos, hipogl icemiantes e hormôn ios. Os fatores genéticos A obesidade é uma doença crônica q ue tende a recorrer
in flu enciam a obesidade de duas ma neira.~ : em primeiro após a perda de peso, e pessoas obesas devem te r co nta-
lugar, existem genes q ue são importantes no desenvolvi- to e contar com o apoio a lo ngo prazo dos profissionais
mento da obesidade; em segundo lugar, há genes susceti· de saúde.
veis a fatores ambienta is que agem para causa r obesidade. Todos os pacientes com sobrepeso (IMC > 25 kg/m 2)
ou obes idade (IMC> 30kg/m 2) devem receber aconselha-
mento sobre dieta, estilo de vida e metas para o contro le
PATOGÊNESE de peso.
TrêS componentes pri mários no sistema neuroendó- Os profiss ionais da área da saúde co nsideram as ne-
crino estão envolvidos com a obesidade: o sistema aferen- cessidades energéticas em função do metabolismo das pro-
te, q ue envolve a leptina e outros sinais de saciedade e de teínas, carboid ratOs, termorregu lação, am inoácidos, além
apetite a curto prazo; a un idade de processamento do sis- do gasto energético em d iferentes idades, e entendem da
tema nervoso central; e o sistema eferente, um complexo fis iologia do metabolismo, do o lfato, da degustação, do sis-
de apetite, saciedade, efetores autonômicos termogên icos tema sensitivo e da atividade reflexa, levando em conta as
q ue leva ao estoque energético. O balanço energético pode atividades d iárias do paciente. As gord u ra.~ representam de
ser al terado por aumento do consumo ca lórico, pela d imi- 20% a 25% e os carboidratos de 60% a 70% das calo rias
n uição do gastO energético, ou por ambos. O aumento do tota is, sendo a necessidade de pro te ína de Jg/kg de peso. É
consumo calórico pode ser avaliado a part ir dos hábitOS preciso ajustar a ingestão de ali mentos d urante a gravidez,
ali mentares, usa ndo d iários alimentares o u listas de che- a amamentação, a adolescência e àS alterações emocionais
cagem de alimentos, mas a interpretação das informações e do meio ambiente. A prescrição de d ietas inadeq uadas à
precisa ser cuidadosamente analisada devido a uma subes- história de vida do paciente, seu contexto emocional e sua
timação regu lar. O gasto e nergético d iári o é determina- inserção social, sociolabora l e famil iar é um equ ívoco fre-
do pela taxa metabólica basal (60% a 70%), pelo efeitO quente, tendo como resultado a ineficiência e o abandono
térm ico dos alimentos (1 0%) e pelo gasto de energia com do tratamento.
Capítulo 67 • O Significado da Obesidade e da Imagem Corporal no Estilo de Vida 371

Para os ind ivíd uos com IMC > 30kg/m 2 ou entre 27 de insulina e melho ra da hipertensão, da displidem ia e da
e 29,9kg/m 2 com comorbidades e q ue não consegu iram síndrome metabólica.
atingir as metas de perda de peso por meio de d ieta e exer-
cício, terapia farmacológica pode ser associada à d ieta e aos Referências
exercícios. No Brasil, atualmente, há cinco medicamentos Cherao Af!>S. Navarro ES, Fortunato E, Martinez T. Visão geral sobre
registrados para o tratamento da obesidade: anfepramona tratamento cirúrgico da obesidade: revisão da lit eratura. Centro
(d ietilpropio na), femproporex, mazindol, sibutramina e or- Universitário São Camilo.
listat. O orlistat deve ser considerado a primeira lin ha de Fayh APT, Lopes A L, Silva AMV. Oliveira AR, Friedman R. Redução
de 5% do peso inicial reduz resistência à insulina e inflamação,
terapia farmacológica em vi rtude de seu excelente perfil de mas não melhora a função endot elial, em indivlduos obesos.
segu rança card iovascular e efeitOs benéficos sobre as con- Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
centrações de colesterol LDL. Nos casos de pacientes com Guedes EP. Carraro L, Godoy-Matos A, Lopes AC. Obesidade: etiolo-
IM C > 40kg/m 2 que não consegu iram perder peso com gia. In: Projeto Diretrizes. 27 de setembro de 2005.
Katashima CK, Cintra DE, Pimentel GD et ai. S-nitrosação de prot el-
dieta, exercício e terapia medicamentosa, pode-se considerar
nas envolvidas nas vias de sinalização da insulina e lept ina em
a cirurgia bariátrica. Ind ivíd uos com IMC > 35kg/m 1 com hipotálamo de roedores obesos: um novo mecanismo na gêne-
comorbidades relacionadas com a obesidade (h ipertensão se da obesidade. Universidade Estadual de Campinas.
arterial, intolerâ ncia à glicose, diabetes melitO, dislipidemia, National Health and Nutrit ion Examinat ion Study 111, l nternational Oay
of the Evaluat ion of Abdominal Obesity, Framingham Heart Study,
apneia do sono) e que fa lharam com a tríade dieta-exercício-
Women's Heatlh Study, Health Follow-up Study, Behavioral Risk
·terapia medicamentosa também são potencia is candidatos Factor Surveliinec System, The Nat ional Edpidemiologic Survey,
à cirurgia, assumi ndo que os benefícios esperados superam American Cancer Prevention Study 11, Papers. Acesso: 09/05/2013.
os custOs, os riscos e os efeitOs colaterais do procedimento. Santos LGD, Souza EA, Sousa APS, Garay LC. Relação entre idade
As cirurgias bariátricas estão contra indicadas em d iver- e taxa metabólica de repouso em mulheres obesas prat icant es
de exercícios flsicos.
sas situações, entre elas doenças cardíacas graves, coagulo-
Souza LR, Prá M , Damiani AP. Dajori ALF. Leffa DO, Andrade VM,
parias graves, pacientes jovens, meno res de 18 anos e com Rezin GT. Avaliação de parâmetros de dano ao DNA no sangue
idade superior a 65 anos, depressão ou psicose e pacientes de ratos adultos após administração de liraglut ida. Universidade
que abusam de substâ ncias ilícitas e de álcool. Uma revisão do Sul de Santa Cat arina, S 121.
Tratamento cirúrgico do diabetes em pacientes com IMC entre 25
da literatura revela que a ci ru rgia gástrica em Y de Ro ux,
e 35 kg!m2.
técnica de Fobi-Capella, é uma das técn icas ma is utilizadas. Vecina JF. Calgarotto AK, Rocha MC et ai. Chlorella vulgaris previne
Podem ocorrer transtornos ps icológicos, sendo necessários a mielossupressão observada em animais submetidos a dife-
a avaliação e o acompanhamento psicológico de pacien- rent es períodos de diet a hiperlipídica. Universidade Est adual de
tes obesos no pré e no pós-operatório. Os pacientes com Campinas.
~ Congresso Brasileiro de Obesidade e SÍndrome MetabÓlica -
obesidade grau 4, com IMC entre 25 e 35kg/m1, se bene- 30 de maio a 01 de junho de 2013 - Curitiba-PR - NÚmero 57.
ficiam do tratamento ci rú rgico, apresentando melho ra dos Suplemento 03 - Maio 2013. Universidade Federal do Rio de
n íveis glicêmicos, redução ou elim inação da necessidade Janeiro et ai.
Fitoterápicos em Nutrologia
Leonardo Oliveira Ferreira

A obesidade, nediez, ou pimelose (do grego pímele = em bibliografia e/ou publicações indexadas e/ou estudos
gordura e ose = processo mórbido), é uma doença crônica farmacológicos e toxicológicos pré-clínicos.•
multifato ria l (CID-10: E.66), na qua l a reserva natural de A crescente dema nda do público para a med ici na al-
gordura aumenta até o pomo em que passa a estar asso- ternativa, o interesse global observado pelos firoterápicos e
ciada a certos problemas de saúde ou ao aumento da taxa ervas terapêuticas, o aumento do custo dos medicamentos
de mortalidade.' co nvencionais e uma "perda de fé" na med icina ocidental
O peso dos brasileiros vem aumentando nos últimos têm levado a um rápido aumento no uso de suplementos
anos. A constatação faz parte dos dados da Pesq uisa de de ervas e terapias ainda não regu lamentados. Estima-se
O rçamentos Familiares (POF) 2008-2009, realizada pelo que 80% da população mund ial se util izem de plantas me-
IBGE em parceria com o Min istério da Saüde e d ivulgada d icinais, principalmente fora dos EUA. A FDA descreve
em 2010. O trabalho revela que 49% da população adu lta suplementos dietéticos como um prod uto tomado por via
(> 20 a nos) estão acima do peso, enquanto 14,8% dessa oral que contém um "ingred iente d ietético" destinado a
amostragem já se encontram obesos.1 complementar a d ieta. A maioria desses produtos não foi
G lobalmente, um em cada três adultos no mundo rigorosamente avaliada por meio de estudos controlados
têm excesso de peso e uma em cada dez pessoas é obe- por placebo, cegos e random izados.s
sa. Para 2015, a Orga nização Mundia l de Saúde (OMS) Por isso, é preciso que o méd ico esteja atemo aos prin-
estima que o n ümero de adul tos obesos vai aumentar cípios básicos da prescrição de fitoterápicos, como veri fica r
pa ra 2,3 bilhões de pessoas - igua l à soma da população comprovação científica e legislação, evitar formu lações ex-
da China, Eu ropa e EUA. A descoberta de compostos tensas e respeitar doses e horários.6
bioativos de ervas é um caminho possível para controle Neste capítulo, será d iscutido o uso de alguns agentes
da obesidade e para prevenção o u redução dos riscos de coadjuvantes no tratamento da obesidade, como fitoterápi-
desenvolvimento de vá rias doenças relacionadas com a cos do tipo anorexígenos, termogênicos, regu ladores enzi-
obesidade.' máticos, fibras, mucilagens, algas e diuréticos.
Med icamentos obtidos a part ir de plantas medicinais, Com a Resolução RDC 52, de !O de outubro de
os fitoterápicos, são obtidos mediante o emprego excl usivo 2011, houve importantes mudanças na prescrição de
de derivados de d roga vegeta l (extrato, tintura, óleo, cera, anorexígenos pa ra o tratamento da obesidade no pa ís. As
exsudato, suco e outros). Os fitoterápicos, assim como to- substâncias anfepramo na cloridrato, fenproporex e ma-
dos os med icamentos, devem oferecer garantia de q ualida- zindol, classificadas como a norexígenas, e med icamentos
de, ter efei tos terapêuticos comprovados, compos ição pa- que as conten ham tiveram pro ibida sua aquisição, distri-
dron izada e segurança de uso para a população. A eficácia bu ição, fabricação, ma nipulação e d ispensação após 9 de
e a segu ra nça devem ser va lidadas por meio de levantamen- dezembro de 20ll; o uso da substância sibu tram ina só
tOS emofarmacológicos, documentações tecnocientíficas pode ser prescritO em doses diárias inferiores a 15mg/dia,

372
Capítulo 61! • Fitoterápicos em Nutrologia 373

se ndo obrigado o uso do termo de responsabilidade, que -hiperlipêmicos de med icamentos firoterápicos têm sido o
deverá ser p reenchido pelo méd ico, pelo paciente e pela centro das atenções no campo da ciência médica. As folh as
farmác ia. O med icame nto deve ser utilizado em pacientes de Pinus koraiensis (EOPK - essential oil of Pinus koraiensis)
obesos com índice de massa corporal (J MC) > 30kg/m 1 têm sido usadas como um remédio popu lar para doen ças
em um prazo máximo de 2 a nos, e o uso deve ser acom- card íacas. A reação em cadeia da polimerase de transcrição
pa nhado por um programa de reed ucação a limenta r e reversa (RT-PCR) demonstrou que EO PK in ibe significati·
atividade física.7 vamente o n ível de ACAT (acyl coen:ome A: cholesterol acyl
A obesidade é reconhecida como um problema social transferase) I e 2 e reduz a lipoproteína de ba ixa densidade
associado a sérios riscos de saúde e aumento da mortalida- (LDL) e a atividade de oxidação. G lobalmente, os resulta-
de. Inúmeros estudos têm s ido realizados pa ra o encontro dos sugerem q ue EOPK pode ser um potente agente farma-
e o desenvolvimento de novas substâ ncias amiobesidade cêutico para prevenção e tratamento de h iperlipidem ia-"
por meio de fomes de ervas, de modo a min imizar reações • Posologia; SOOmg a Sg/dia, I hora ames das refeições.
adversas associadas aos atua is medicamentos amiobes ida-
de. A utilização de produtOs natura is pela medicina tem
sido documentada por centenas de anos em vários siste- Termogênicos
mas tradicionais de medicamentos em todo o mundo 8 Fazem parte desse grupo os segu intes extratos:
• Citn•s aurantii<m.
• Colet.s forskolii.
FITOTERÁPICOS ANTI OBESIDADE • llex paraguariensis.
• Camellia sinensis.
• Anorexígenos.
• Termogênicos.
• Regu ladores e nzi máticos. Citrus aurantium
Obtido da laranja-amarga, acelera o metabolismo,
Fibras, mucilagens e algas promove maior gasto de ca lorias e queima os estoques de
gordura. O Citn.s aurantium L. (CAL) prod uz mu itos com-
• Garcinia cambogia.
postos, como os fJavonoides, li monoides e polifenó is. Os
• Gymnema sylt~stre.
principa is fJavono ides isolados de CAL incluem hesperi-
• Pinus koraiensis.
d ina, naringenina e nobiletin, os q uais têm sido usados
para o tratamento de doenças cardiovasculares. Além d is·
Garcinia cambogia so, outros estudos demonstraram que os extratos de Citrus
Sua substância ativa é o ácido hidroxicitrico, que tem aurantium promovem atividade lipolítica em ad ipócitOS
como função inibir a citrato liase, tornando possível acele- h umanos e têm sido usados para redu zir a massa corporal
rar a gliconeogênese, promovendo um efeito termogên ico de gord ura em obesos. No entanto, os efeitos do Citrus
e, consequentememe, red uzindo a síntese lipíd ica, aumen- aurantium na adipogênese ainda não estão completamente
tando a saciedade e red uzindo a formação de corpos cetô- compreendidosn
. 9
n tCOS. O Citrus auranti~<m contém ami nas adrenérgicas (s ine-
• Posologia: 300 a LSOOmg/d ia. frina e tiramina). Sua ação seletiva não causa efeitos co-
laterais no sistema ca rd iovascular. Atua de manei ra espe-
Gymnema sylvestre cifica em receptOres beta-3-adrenérgicos (s ítios específicos
Sua substância ativa é o ácido gimnêm ico. Atua no o r· regu ladores da perda de gordura), promovendo ativação da
ga nismo dim in uindo o apetite e a compu lsão por doces - lipólise e aumento do desempenh o físico-"
gurmarinas. Promove red ução dos níveis de glicose plasmá- • Posologia; SOOmg, duas vezes ao dia (o extrato é padro-
tica, ao aumentar a atividade da insulina. Exerce atividade n izado para comer 6,0% de sinefrina).
regenerativa das célu las beta no pã ncreas.10
• Posologia: 250 a 1.200mg/dia. Co/eus forsko/ii
Seu principa l modo de ação consiste em aumentar o
Pinus koraiensis monofosfaro cíclico de adenosina (AMP cíclico o u cAMP)
Sua substância ativa é o ácido pinolên ico - õmega 6. e suas funções mediadas, med iante a ativação da en zima
A h iperl ipidemia é um fato r importante na ind ução da aden ilaro ciclase. A forscol ina demo nstrou aumentar a for-
síndrome metabólica, como obes idade, d iabetes e doen- mação de cAMP em todas as células eucarió ticas, excetO
ças card iovascu lares. Recentemente, algu ns agentes anti· esperma, sem ativação hormona l da aden ilato ciclase. A
< 374 PARTE XVIII • Nutrologia

potencialização do cAM P pela Coleus forskolii in ibe a degra- • Posologia:


. dos basófilos e mastócitos e a liberacão
nu lacão . de hista- - Extrato seco: 50 a IOOmg/dia, de preferência pela
mina, reduz a pressão arterial e a pressão intraocu lar, in ibe man hã.
a agregação plaquetária, a vasodilatação, a broncodilatação - P ó: 250 a 500mg diários ou conforme o rientação mé-
e a secreção do hormôn io da tireoide e estimula a lipólise dica.
em células de gordura 14
Trata-se de um agonista da aden ilaw ciclase. Promove
Reguladores enzimáticos
elevação do AMPc intracel ular, induzindo a lipólise. Além
• Phaseolus t/u.lgaris.
disso, estimula d iferenciação de queratinóciws, modu la a
• Cassia nomame.
prod ução de mela nina e promove a vasod ilatação's
• lrvingia gabonensis.
• Posologia: 100 a 900mg/dia.

Phaseo/us vu/garis
l/ex paraguariensis
Também con hecida como faseolamina, trata-se de
O l/ex paraguariensis (erva-mate) é uma árvore da fami·
uma glicoproteína derivada do feijão-branco, cuj a ação
lia das aqu ifoliáceas, o riginária da região subtropical da
biológica é a inibição da alfa-amilase sa livar, d uodenal e
América do Sul e presente no Sul, e Centro.Oeste (Mato
ileal. Reduz o aumento pós-prandial das co ncentrações
Grosso do Sul) do Brasil, Norte da Argentina, Paragua i e
plasmáticas de glicemia e insulina. Por este motivo, não é
Uruguai. O l/ex paraguariensis tem sido trad icionalmente
recomendada para ind ivíduos hipoglicêmicos e gestantes. 22
usado em vários países da América do Sul para o preparo
• Posologia: 250 a l.OOOmg/dia, imed iatamente ames
de bebidas como o com efei tos estimulantes sobre o sistema
das duas principa is refeições do dia.
nervoso central e o apeti te. Nos últimos anos, no entanto,
tem sido recomendado como remédio supressor do apetite
e util izado no tratamento coadjuvante do emagrecimento16 Cassia nomame
Contém em sua compos ição metilxantinas, flavonoi- Cassiolamina é o extrato do fruto da Cossia nomame.
des, poli fenóis, saponina e o utros compostOs aromáticos. Por sua ação in ibidora da lipase (d iminui a absorção e a
Co ntrib ui para a termogênese ao aumentar a expressão de digestão da gord ura), é ind icada para auxiliar regimes de
UCP e a fosforilação de AMPk. Reduz os níveis de coleste- emagrecimento. Promove redução do colesterol sérico, da
rol e triglicerideos e melhora o desempenho da insulina ao glicose e do ácido ürico.n
in ibir o fawr de necrose tu moral alfa (TNF.a) hepática.'; • Posologia: 200 a 600mg/d ia.
• Posologia: 100 a 200mg/dia.
lrvingia gabonensis
Camellia sinensis A lrvingia gabonensis consiste no extrato das sementes
O chá-verde é o extrato seco da planta Co mel/ia sinensis. de uma árvore proveniente da África também con hecida
Por ser rico em compostOs polifenólicos, como os flavonoi- pelo nome popu lar de Wild mango, African mango ou Bush
des, o uso do chá-verde é sugerido como pote ncial ca ndi- mango.24
dato para o tratamento de obes idade, estresse, depressão, Red uz a atividade enzimática da glicerol-3-fosfato de-
doenca •
de Pa rkinson e ou tros distúrbios, uma vez q ue a sidrogenase ao promover uma absorção gradua l de açüca r
serown ina tem papel importante na fis iopawlogia desses alimentar. Promove o restabelecimento da sensibilidade à
transtornos. O uso do chá-verde em ratOs demonstrou efei- leptina e estimula a expressão de adiponectinaH
tos ans io liticos.18 • Posologia: !50 a 500mg, duas vezes ao d ia, meia hora an-
Um efeito benéfico do chá-verde pode ser demons- tes de cada refeição, adm inistrada com um copo de água.
trado com a redução sign ificativa do colestero l tota l e de
LDL quando usado corretamente d urante 8 semanas.19
Preparações de chá-verde parecem induzir pequena Fibras e mucilagens
perda de peso, estatisticamente pouco significativa, em • Amorplwphallus konjac.
adu ltOs com sobrepeso o u obesos, não sendo clinicamente • Chlorella pyrenoidosa.
importante. O chá-verde não demo nstrou nenhum efeito • Cyamopsis tetragonolobus.
sign ificativo sobre a ma nutenção da perda de peso. 20 • Fucus vesiculosus.
É preciso manter-se atento às q ua ntidades prescritas • Linum usit.atissimum.
de qua lquer fitoterápico, especialmente o chá-verde, para • Plantago psyllium.
evitar efeitos hepatotóxicos.21 • Spirnlina maxima.
Capítulo 61! • Fitoterápicos em Nutrologia 375

Amorphopha/lus konjac Há relatOs de interação med ica mentosa entre a erva F.


Gel viscoso que atua ao sequestrar os lipíd ios, tem vesirulos"s e a am iodarona em testes realizados em ratos, o
ação sacietógen a e laxativa 2 6 Fora do país, é comercializa- que resultou em d iminuição considerável da biod ispon i-
do com o nome de Lipozene"'. bilidade da am iodarona. Portanto, a eficácia terapêutica
• Posologia: I.500 a 2.000mg (I h ora antes das principais da am iodarona pode ser comprometida pela ad ministração
refeições, com dois copos de água). Pode reduzir a absor- concomi tante de ervas med icinais para emagrecimento e
ção de medicamentosY suplementos dietéticos q ue contêm F. tlt!.sirulosus, não sen-
do recomendado seu uso concomitante. 11
Chlore/la pyrenoidosa • Posologia; 200 a 500mg/dia.

A parede celular da alga un icelular Chlorella é compos-


ta de microfib ras de celu lose e por polí meros carotenoides. Linum usitatissimum
Contém em sua composição ácidos graxos essenciais, mi- Representa o extratO seco extraído da linhaça. Os antio-
nerais e antioxidantes. Reduz a absorção de gordura e açú- xidantes têm sido usados para atenuar a resposta inflama-
car e aumenta a plen itude gástrica, melhora ndo o trânsitO tória, a res istê ncia à insulina e o desenvolvimento de d iabe-
intestinal. 18 tes. Um anti oxida nte pro missor é a lin haça. O ingrediente
• Posologia: 250mg, três a cinco vezes ao dia. ativo da semente de lin haça (lignana, secoisolarici resinol
d igl ucoside ISDGI) tem efeitOs an tioxidantes s ign ificativos
Cyamopsis tetragonolobus por in ibição de cisões de DNA e peroxidação lipídica. A
A goma de guar, endosperma pulverizado das sementes linhaça também tem efeitOS anti-i nfla matórios importantes.
da legu minosa Cyamopsis tetragonolobus, é um galacroma na- A suplementação de linhaça dimi nuiu significativamente
no q ue contém 2,5% a 4,5% de um componente protei- no soro a presença de TN F-a , lL- 1~, IL-6, proteína C reativa
co. Os dados apresentados para I I amostras comercia is a (PCR) e glicose com aumento da sensibilidade à insulina
gra nel mostram q ue os aminoácidos ma is abu nda ntes são em h uma nos. Os estudos têm demonstrado que a adição
glicina, ácido glutãmico, ácido aspártico, serina e ala nina, de linhaça à dieta, na forma de óleo ou semente, d iminui a
mas que suas proporções relativas variam consideravelmen- inflamação, os danos oxidativos pulmonares, a peroxidação
te. As proporções dos o utros am inoácidos (p. ex., h istid i- lipídica e a h iperi nsulinemia em anima isH
na, isoleucina, fenilalanina, treonina, tirosina e va li na) são A lin haça é segura e prontamente disponível para o con-
notavelmente consta ntes.19 sumo alimen tar, agindo positivamente sobre os p rocessos de
Quando ingerida com líquidos, proporciona sensação inflamação, o controle glicêmico e o estresse oxidativo.1;
de plenitude gástrica, in ibindo natu ralmente a fome. 10 • Posologia;
• Posologia: 1.000 a 2.500mg/dia (I hora antes das refei- - Semen tes recém-trituradas: 20 a 30g/dia.
ções, com dois copos de água). - Farin ha; 15 a 30g/dia.
- Ó leo: 1 a lOg/d ia.
Fucus vesicu/osus
F,cus <lt!sirulosus L., con hecida pelos nomes comuns de Plantago psy/lium
bodelha e fava-do-mar, é uma espécie de macroalga casta- O psyll.ium ou psillium é u ma fibra solúvel em água deri-
nha (Phaeopltyta) com d istribuição natural nas costas das vada da casca de sementes mad uras de Plantago ot,ata. Em
regiões temperadas e frias dos ocea nos Pacífico e Atlântico, um estudo duplo-cego, q ue inclu iu pacientes com d iabetes
incluindo o oeste do Mar Báltico. Foi a part ir de um extra to tipo 2 e IMC méd io de 29, não houve muda nças s ignifica-
dessa alga q ue, em 1811, foi descoberto o elemento quími- tivas no peso corpora l dos pacientes tratados com a fibra.
co iodo, razão pela q ual foi extensivamente usada em trata- Q ua nto à to lerância, os autores relataram ser excelente
mentos para o bócio, uma h ipertrofia da glând ula tireoide com o uso do psillium. 16
relacionada com uma deficiência crônica metabólica em Segu ndo a Anvisa, o Planrago psyllium auxilia a redução
iodo. Apresenta propriedades laxativas devido à presença da absorção de gordura. Seu consumo deve estar associado a
de mucilágenos e ácido alginico em sua composição.11 uma alimentação equilib rada e a hábitos de vida saudáveis;
Tem s ido ind icada como coadjuvante no tratamento e ntretanto, para q ue sejam alcançados os resultados espera-
da obesidade relacionada com a deficiência de iodo e h i- dos, recomenda-$e que a porção diária do produtO pronto
potireoidismo. Em virtude do conteúdo em iodo, supõe-se para consumo deva fornecer no mínimo 3g de psillium, se
que estimu le a glândula tireoide, aumentando o metabolis- o alimento for sólido, ou 1,5g, se o alimento for líquido. li
mo basa l. A sobredosagem pode levar a h ipertireoid ismo, • Posologia; 1.000 a 1.500mg/dia, d ilu ídos em um copo
taquica rd ia e hipertensão. 12 ch eio de água.
< 376 PARTEXVIII • Nutrologia

COADJUVANTES NO TRATAMENTO DA temente alta de valepotriatos (imraperico neal em ratOs),


OBESIDADE extratos de Valeriana officinalis comendo valepotriatos
podem auxilia r a sínd rome de abstinência pela retirada
• Ansioliticos e amidepressivos.
do uso do d iazepamfl
• Diu réticos.
• Posologia:
• Laxativos.
- Ansiedade: 100 a SOOmg/dia.
- I nsônia: 400 a 900mg ao deitar.
Ansiolíticos e antidepressivos
• Passiflora incamata. Piper methysticum
• Valeriana officinalis. Kava é o nome dado pelos nativos das ilhas do Pacífico
• Piper methysticum. tanto ao arbusto da espécie Piper methyst:icum como à be-
• Hipericum perforat~<m. bida psicoativa feita com o rizoma dessa planta. Trata-se
• Griffonia simplicifolia. de um med icamento à base de plantas que demonstrou
capacidade de reduzir a ans iedadeH
Passiflora incarnata Segundo a Anvisa, o medicamento está indicado para
Passiflora incamata é uma e rva popu lar usada trad icio- o tratamento da insônia e da ansiedadeY Funciona como
nalmente como sedativo, ansiolitico e indutor do sono. um ansiolitico por amar no sistema límbico e tem ação se-
Vários experi mentos controlados demonstraram aumento melhante à dos antidepressivos in ibidores da recaptação de
do sono em an imais de laboratório, mas os ensa ios clíni- seroconina e norad renalina. Em doses elevadas, pode ser he-
cos em humanos são escassos. 38 Demonstra afinidade por patotóxico. Os profissionais de saúde precisam estar cientes
receptores GABA-A (ácido gama-am inobutírico) sem ação da possibilidade de hepacocoxicidade induzida por kava.
miorrelaxante. 39 A toxicidade desses medicamentos al ternativos enfa-
• Posologia: tiza a importância de programas de vigilância e controle
- Ansiedade: JOOmg, duas a três vezes ao dia. de qua lidade na fabricação desses produtos. Os méd icos
- Insônia: 200 a SOOmg ao deitar. devem estar conscientes do efeitO tóxico pote ncial de pro·
d utos fitoterápicos e sempre perguntar sobre sua ingestão
Valeria na officinalis em casos de lesão hepática inexplicada_..
• Posologia:
O extrato da Valeriana officinalis L é obtido a partir
- Ansiedade: 200 a 400mg/dia.
dos rizomas e ra ízes da planta. É um extrato amplamente
- I nsônia: 250mg ao deitar.
utilizado para o tratamento de ansiedade e insônia, dois
problemas de saúde mental comuns na população em ge-
ral e em ambientes de cu idados primários. Sua atividade Hypericum perforatum
sedativa foi atribu ída ao extratO do ácido valerênico, sendo O extrato de Hyperic~<m perforatum , ou erva-de-são-jnão,
as substâncias geralmente util izadas como um indicador demonstrou ser mais eficaz do que o placebo no tratamen-
de qualidade. 40 to da depressão de leve e moderada4 s e tão eficaz quanto
Pode potencializar o efeito de outros depressores do vários antidepressivos tricíclicos 46 ou fluoxetinaH Em pa-
SNC. Estudos em an ima is mostraram que a Valeriana offi· cientes com depressão grave, co mudo, a eficácia do amide-
cinalis exerce efei to adicional quando util izada em combi- pressivo derivado do extrato de Hyperiettm é contestável. 48
nação com barbitúricos, anestéS icos ou benzod iazepín icos O extra to de Hyperiettm perforawm ganhou popularida-
e outros fármacos depressores do SNC. O ácido valerên ico de como uma alternativa aos antidepress ivos s intéticos ou
aumentou o tempo de sono ind uzido pelo pemobarbi tal terapia compon amemal no tratamento de formas leves a
(imrapericoneal em camundongo), enquanto o extrato moderadas de tra nstornos depressivos.
aquoso seco alca lino aumentou o tempo de sono com o No entanto, os resultados dos experimentos realizados
tiopental (via o ral em camundongo) e o extrato etanólico com os extratos ou compostOs puros nem sempre se asseme-
prolongou a anestesia promovida por tiopental (intraperi· lham às características do perfil bioquimico e farmacológico
toneal em camundongo) em razão de sua afinidade pelos dos antidepressivos sintéticos. Por este motivo, seu uso deve
receptOres barbitúricos.fl ser analisado criteriosa mente, de acordo com cada paciente,
Em virtude da afinidade do extratO de Valeriana of avaliando a relação custo-benefício de cada caso.49
ficinalis e va lepotriatos pelos receptores de GABA e ben- Está indicado no tratamento da ansiedade, depressão
zod iazepínicos (in virro) e da d iminu ição nos efeitos cau- leve e moderada, insôn ia em idosos, transtornos associa-
sados pela retirada do diazepam por uma dose suficien- dos ao cl imatério, enurese, dispepsia e cólicas gastrointes-
Capítulo 61! • Fitoterápicos em Nutrologia 377

tinais. Interações med icamentosas: inibe os contracepti· Contém um quartO de sil ício em sua composição, o qual
vos, imu nossupressores, card iotõn icos e h ipolipem iantes. estimula a síntese de colágeno, ossos, tendões, u nhas, pe-
Potencia liza os antidepressivos e antiestrógen os. ;o los, cartilagens e córneas.
• Posologia: 300 a 900mg de extrato seco padron izado, Equisetum aroense tem sido muitO utilizado na med ici-
d ivid idos e m três tOmadas ao d ia. na tradicional para o tratamento de d iferentes doenças, in-
cl uindo patOlogias ósseas. Como parece ter efei to negativo
Griffonia simplicifolia sobre a osteodasrogênese h umana, pode ser cogitada sua
A~ sementes de Griffonia simplicifolia Baill, um arbusto utilidade no tratamento coadjuvante de regeneração óssea,
tropical nativo da África Ocidental, são ricas em 5-hidróxi-L- por demonstrar ação benéfica em cond ições fisioparológi-
·triptofano (5-HTP), um precursor direto na síntese de sero- cas associadas ao aumento da atividade dos osteodasros.SS
to nina (5-HD . Apesar da aplicação terapêutica moderna do • Posologia; 100 a 500mg/dia.
extratO da semente de Griffonia simplicifolia nos transtornos
do humor, nenhu ma evidência científica foi fornecida até Hibiscus sabdariffa
agora, mas resultados indicam que exerce um efeitO do tipo
Seus efeitos h ipotensores são bem documentados, e
ansiol ítico em rataza nas e sugerem sua utilidade potencial
recomenda-se sua utilização e m indivíd uos com d islipide-
no tratamento da ansiedade em seres h uma nos.s•
mia associada à sínd ro me metaból ica%
• Posologia: 50 a !OOmg, duas vezes ao dia.
Em ratos obesos, a administração de Híbiscus sabdariffa
redu ziu s ign ificativamente o gan ho de peso e aumentou a
Diuréticos ingestão de líquidos.s7
• Cordia sp. • Composição:
• Equisetum aroense. Amocianidina, de ação vasodilatadora peri férica e
• Hibiscu.s sabdariffa. angioproterora.
- Flavona gosípetina, inibidor das angiotensinas I e 11.
Cordia eca/ycu/ata Ve/1 - lnibidor do sistema nervoso s impático, de ação a nti·
O extrato fl uido de Cordia ecalycu.lata Vell, planta me- -hipertensiva.
d icinal conhecida vu lgarmente por "ch á<le-bugre" e "po- - Fitostero is, favonoides, de ação h ipolipem iante.
rangaba", tem o nome comercia l de Pholia Magra. Trata-se - Posologia: 100 a 300mg/dia.
de uma planta nativa do Brasil, pertencente à família das
Boraginaceae. ;z Laxativos
Entre os co nstituintes q uím icos presentes na Cordía
• Rhamnus purshíana.
ecalycu.lata Vell, destacam-se os alcaloides como a cafeína
• Cossía angu.stifolia.
(ação estim ulante no SNC e tenn ogên ica), a alantoína e o
ácido alamoico (com propriedades cicatriza mes), os glicosí·
deos, como a consolid ina, os tan inos e os pigmentos, além Rhamnus purshiana
de compostOs inorgâ nicos, como o potássios1 Popularmente conhecida como cáScara sagrada (Rhamnu.s
Cordía ecalycu.lata Vell é amplamente utilizada no Brasil purshiana) a Rhamnus pomhíana é uma planta utilizada, prin·
nas preparações terapêuticas para grupos ind ígen as e a po- cipalmente, na correção habitual da constipação intestinal.
pulação em geral. Essa planta tem sido usada na med icina Usada como laxante, é comercialmente difundida no merca-
popu lar como tônico, diu rético, a nti-inflamatório, supres- do brasileiross Contém em sua composição antraqui nonas
sor do apetite, no tratamento de picadas de serpente e na com a capacidade de gerar metabólitos irritantes e estimulan-
perda de peso. Os resul tados de um estudo realizado em ra- tes do tratO gasrroi ntestinal, aumenta ndo o tõnus do intesti-
tOS tornou possível inferir q ue os extratos de Cordía ecalycu.· no grosso.s9
lata não tem atividade citotóxica o u genotóxica. Segundo • Posologia; 50 a !OOmg, uma ou d uas vezes ao d ia.
esse mesmo estudo, os extratos não foram eficazes para o
tratamento da obes idade. H Cassia angustifo/ia
• Posologia: 200 a 500mg, d uas vezes ao dia. Popularmente conhecida como sene, a Cassia a ngu.sti-
folia pertence ao gru po dos glicosídeos amraquinõn icos.
Equisetum arvense Contém en zimas da flora intestinal que liberam gliconas,
Também con hecido como cavalin ha, o u horse tail, sua as quais irritam as terminações nervosas, aumentando a
composição é rica em potáss io, eq uisetonina e flavo noides excreção de água e o peristaltismo intesti natf>D
e promove atividade d iurética, anticelulite e depurativa. • Posologia; 100 a J.OOOmg/dia.
( 378 PARTE XVIII • Nutrologia

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Capítulo 61! • Fitoterápicos em Nutrologia 379

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Obesidade, Nutrição eAtividade Física
José Ada lberto Leal
Fabia no Kenji Haraguchi

A obesidade é uma doença crônica, mu ltifarorial, Quadro 69.1 Classificação do estado nutricional (OMS, 1995)'
de gra nde prevalência e impactO sobre a saúde. Definida ClasslflcaçAo IMC lkglm'l
como acúmulo excessivo de tecido ad iposo, capaz de pre-
Baixo peso < 18,5
judicar a saúde,' tem seu desenvolvimento associado, em
última instância, a fato res genéticos e ambienta is, respon- Normal 18,5 a 24,9
sáveis pelo con trole do peso corporal e o armazenamento Sob repeso 25,0 a 29,9
de energia na forma de gord ura, ocasionado pela ingestão
dietética e o consumo de energia 2 Obesidade grau I 30,0 a 34,9
A prevalência de sobrepeso e obesidade tem aumen- Obesidade grau 11 35,0 a 39,9
tado nas ú ltimas décadas em wdo o mu ndo. No Brasil, a
Obesidade grau 111 ;, 40
população ad ulta com sobrepeso sal to u de 32% em 1989
para 48,5% em 201 1. Os grupos mais atingidos pelo sobre-
peso, em 2011, foram as mulheres de menor escolaridade que insuficiente para caracterizar a obesidade, pode esta r
(49,5%) e os homens (57,5%) de maior escolaridade. Já a associada a maior risco de comorbidades, particularmente
obesidade salto u de 12% em 1989 para 15,8% em 201 1 e, entre os indivíduos com acümulo de tecido ad iposo na re-
à semelhança do sobrepeso, mulheres de menor escolari- gião central, q ue é fortemente associado a risco ma io r de
dade (19,7%) e os homens de ma ior escolaridade (15,1%) resistência à insulina e à sí ndrome metabólica.6 ·7
apresentaram maiores prevalências' Entre os métodos ind iretos de avaliação da composi-
A obesidade vem sendo associada a uma crescente ção corporal, do excesso e distribuição do tecido ad iposo,
q uantidade de comorb idades, que incluem diabetes, hiper- o uso das medidas das circunferências corporais e dobras
tensão, doenças isquêmicas do coração, acidente vascular cutâ neas, como a ci rcu nferência abdom inal e das dobras
e ncefá lico e câncer, e a maiores custos na área da saúde. 4 cutâ neas tricipita l, b icipital, suprailíaca e subescapular,
No d iagnóstico da obesidade é ind ispensável o uso de pode auxiliar a confirmação do excesso de tecido ad iposo
o utros métodos além do índ ice de massa corporal (IM C). e da distribu ição da gordura corporal. Em geral, homens
O uso do IMC, defin ido como peso corporal (kg) dividido com ci rcunferência abdom inal > 94cm e mulheres> 80cm
pela altura (m) ao quad rado (peso/a ltu ra2), tem sido am- são considerados em risco para desenvolvimento de doen-
plamente util izado para a classificação do estado nutricio- 8
cas

ca rd iovasculares
nal (Quad ro 69.1).s O IMC pode ser influenciado por fa-
tores q ue al teram a composição corporal, como sexo, idade
e raça, podendo não refletir alterações no tecido ad iposo, FATORES DE RISCO
além de não informar sobre a distribuição do tecido adi- A inadequação entre a constitu ição genética e o estilo
poso no corpo. Uma elevação do tecido adiposo, mesmo de vida, decorrente da d ieta inadeq uada e da atividade fi-

380
Capítulo 69 • Obesidade, Nutrição e Atividade Física 381

sica reduzida, é fortemente apontada como principal fatOr O peso corporal ideal pode ser d ificilmente alcança-
de risco para o ganho de peso e a obesidade.9 A alimentação do por gra nde parte dos indivíduos com obesidade, par-
sofreu imensas mudanças ao longo dos anos, torna ndo-se ticularmente entre aq ueles com graus de obesidade mais
ma is acess ível e de menor custO, especialmente os alimen- elevados, mais velhos e com estilo de vida inadequado 4
tos industrializados ricos em açúcar, gorduras e sal10 En tre De modo geral, a dificu ldade em perder o peso corporal
outros fatores associados ao gan ho de peso estão o acesso e mantê-lo é percebida ames de os ind ivíduos serem co n-
dificultado a pomos de compra de frutas e vegetais, alimen- siderados obesos. Por outro lado, uma perda de peso de
tação fora de casa e a preferência por porções grandes'' 5% a 10% leva à redução do risco de comorbidad es, sendo
No Bras il, o co nsumo de alimentos considerados benéfico e possível para a maioria dos ind ivíduos, embora
pro tetores de uma boa saúde p rec isa ser incentivado. esses valores sejam bem inferiores aos desejados pelos ind i-
Alimentos como fru tas, legumes e horta liças, ou seja, víduos com obes idade.
al imentos ricos em fibras, vitam inas, minerais e de ba i- O controle do peso pode ser obtido por meio da ali-
xa densidade ca lórica, são co nsum idos regularmente por mentação equilibrada e da prática de exercícios fís icos. Um
apenas 30,9% d a popu lação adu lta. Já o consumo ade- estilo de vida saudável, que inclua uma d ieta eq uilibrada
q uado, ci nco ou ma is porções d iárias, não u ltrapassou e a prática de exercícios físicos, pode levar à red ução do
os 20,2% da população brasileira, segundo avaliação do peso e dificultar sua recuperação, devendo ser incentivado
Min istério da Saúde em 2011. 1 pela sociedade e os profissionais de sa üde, apoiados por
O co nsumo de ali mentos q ue d ificultam a man uten- terapias comportamenta is, farmacológicas e cirúrgicas cri-
ção do peso e d a saúde no Brasil é elevado. Carnes com teriosas.
excesso de gordura (carne vermelha gordurosa e de frango A perda d e peso considerada ideal deve acontecer len-
com pele) são consumidas por 34,6% da popu lação adulta, tamente e à custa d a redução do tecido ad iposo e da ma-
com frequência duas vezes maior entre homens (45,9%) n utenção da massa corporal magra. Entretanto, observa-se
do que entre mulh eres (24,9%). Já o leite integral, rico um comprometimento da massa corporal magra na ma io-
em gordura satu rada, principal responsável pelo aumento ria dos indivíd uos obesos, dependendo do n ível de restri·
dos n íveis séricos de colesterol, é consum id o por 56,9% ção de energia e da prática de a tividade fíS ica. Melhores
da população. O consumo de refrigerantes ou sucos arti· resultad os são observados em indivíd uos com velocidade
ficiais (fomes de açúcar e sód io) é alto, uma vez q ue 80% de perda de peso mais constante e por maiores períodos
da população ad ulta relataram ingeri r refrigerantes pelo de tempo, uma vez q ue, nestes, pode ser veri ficada maio r
menos uma vez por sema na e 30%, cinco o u ma is vezes perda de tecido ad iposo e a aquis ição de melhores hábitos
por sema na I alimentares é facilitada.
No Brasil, a população ad ulta considerada na cond i-
ção de inatividade física, ou seja, q ue não pratica qualquer
NUTRIÇAO
-
ativid ade física no lazer e que não realiza esforços intensos
no trabalho, não ultrapassa 14% . Por sua vez, a frequência A alimentação é responsável pelo fornecimento de
de ind ivíd uos adultos que praticam um volume adequa- e nergia ao o rga nismo, além de substratOs para a s íntese
do de atividade física no tempo livre, 150 minutos se- de tecidos, inclu indo o tecido adiposo e o muscular (pro-
ma nais de atividade leve ou moderada (cami nhada, cami- teínas, minera is, ácidos graxos), entre o utros nutrientes,
nhada em esteira, musculação, h idroginástica, natação, artes como as vitaminas e os mi nerais, particularmente impor-
marciais, ciclismo e voleibol) ou 75 minutos sema nais de ati· tantes na regu lação de diversas reações q uí micas.
vidades vigorosas (corrida, corrida em esteira, ginástica aeró- A dieta pode levar a um déficit de energia no organ is-
bica, futebol, basquetebol e tênis), alcançou apenas 30,3%. 1 mo, na medida em que forem restritas fomes de energia,
como carboidratos, lipíd ios, proteínas e álcool. Esse défi-
cit pode levar à perda de peso em d iferentes magnitudes
CONTROLE DO PESO CORPORAL e velocidad es, e essa perda de peso pode alterar bastante a
O principal objetivo no tratamento da obesid ade é composição corpora l. O défici t de energia pode ser obtido
o co ntrole do peso corporal. A expectativa de que a per- pela contagem de calorias e a mod ificação de compos ição
da de peso pode ser suficientemente sustentada à custa de macro nutrientes na dieta e/ou densidade de calorias,
de uma dieta restri tiva em energia deve ser aba ndonada, podendo inclui r substitutOS de refeiçõesn
dando espaço para uma compreensão mais ampla, em que Uma d ieta com alta d ensidade de energia pode levar
não apenas a perda de peso é objetivada, mas também sua ao ganho de peso. Por o utro lado, uma redução dietética
manutenção, tendo em vista a red ução das comorbidades de 500 a l.OOOkcal/dia pode levar a uma perda de 0,5 a
associadas e a busca de um estilo de vida ma is saudável. I,Okg/semana em ind ivíduos obesos," o q ue pode ser ob-
PARTE XVIII • Nutrologia

tido de d iferentes maneiras, com dietas planejadas ou, até fibras sol üveis são as gomas, pectinas, beta.glu ca nas, oligos-
mesmo, pela redução do taman ho das porções dos alimen- sacarídeos, amido se dextrinas resistentes, e as insol üveis
tos consumidos e/ou escolha de alimentos com menor são a cel ulose, a hemicel ulose e as ligninas.';
densidade caló rica. Os mecanismos propostos para redução do peso ai nda
Observa<;e especial interesse na literatura pelos carboi- não foram totalmente esclarecidos, mas incluem estímulo
dratOs, uma vez que esses nutrientes se encontram d istri- à prod ução de hormôn ios associados à saciedade (GLP-1
buídos em uma variedade de ali mentos presentes na na- e neuropeptideo y} pela fermentação de fibras solúveis no
tureza, principalmente nos alimentos de origem vegetal, e intestino e redução do consumo de energia, uma vez que se
são uma excelente e rápida fome de energia (4kcal/g) para observa que indivíd uos com dietas ricas em fibras tiveram
o organ ismo, mas também são eficientemente armazena- menor ingestão de gord uras, assim como menor digestão
dos como gordura quando ingeridos em excesso. A ind us- e absorção de carboidratos e lipíd ios no tubo digestivo. 16
trialização dos alimentos tem colaborado com seu forne- A recomendação atual de fibras é de 25 a 35g, sendo
cimento em excesso na alimentação, uma vez que teores 6g de fibras solúveis Y Pode ser d ifícil atingir uma ingestão
maiores de carboidratos, especialmente de açücar, podem de fibras suficiente para levar à perda de peso. O uso de
ser encontrados nos ali mentos nas ültimas décadas. suplementos pode ajudar, mas estes precisam ser ma is bem
A ingestão dietética com mais de 50% da e nergia total avaliados.18
o riunda de alimentos comendo amidos e fibras, como ce- O uso de adoçantes nas últimas décadas, com intu itO
reais, leguminosas, legumes e frutas, está associada a menor de redução da ingestão de energia e açúcar, está fracamen-
IMC." Por sua vez, a restrição dietética de açücar parece es- te associado à manutenção do peso corporal. Nesse mesmo
tar associada à redução do peso corporal e o aumento de período, observou-se aumento progressivo da prevalência de
seu consumo, à elevação do peso corporal, porém sua subs- sobrepeso e obesidade entre os norte-americanos. No e man-
ti tu ição por outros carboid ratOs não alterou o peso corporal, to, esse crescimento não parece estar associado ao uso de
q uando ma ntida uma mesma ingestão de energia. A red u- adoça mes, como se d1egou a pensar ameriormeme.19
ção do consumo de refrigerantes pode reduzir o consumo de A~ necessidades de vitaminas e minera is não diferem
açúcar e ajudar no controle do peso corporal'' entre indivíduos com peso sa udável e aqueles com obesida-
A ingestão d ietética de lipíd ios está associada a ga nho de, e o uso de suplementação de vitam inas e minerais não
de peso apenas na presença de superávit de energia. Apesar pôde ser associado a ganho de peso."
de sua alta capacidade de fornecer energia (9kcal/g), os di-
ferentes ácidos graxos, saturados, monossaturados, polissa-
turados, transe ômega-3 influenciam de modo semelhante DIETAS
o gan ho de peso corporal." O modelo dietético mais adeq uado para a perda de
Investigações sobre a ingestão de proteínas e o ga nho peso é a d ieta hipocalórica. A lo ngo prazo (mais de 12 me-
de peso não são suficientes para confirmação de sua as- ses), a obtenção de déficit calórico med iante a redução de
sociação ao gan ho de peso. Os estudos têm caracterizado carboidratos parece ser mais benéfica para a red ução das
diferentes fontes d ietéticas, como an imal, vegetal ou soja, gord uras, uma vez que se observam elevação do HDL e
mas nen huma conclusão pôde ser tirada. As proteínas do redução dos trigl icerídeos-"·10 Dietas com mu ito poucas ca-
soro do leite, comercializadas como wltey protein, têm sido lorias (<800kcal/dia) podem levar a grande perda de peso
associadas à perda de peso e à manu tenção da massa magra a curto prazo (< 3 meses), mas nenh uma vantagem pôde
em anima is e humanos, este efeito pode ter sido causado ser observada a longo prazo. Essas d ietas podem ajudar no
pelo aumento da saciedade, via aumento do neuropepti- pré-operatório de cirurgia bariátrica, mas não devem ser
deo anorexigeno, red ução do neuropeptideo yy no hipo- utilizadas por períodos prolo ngados, a despeito das defi-
tá lamo e coleciswqu inina (CCK) e do peptídeo similar ciências nutricionais descritas-"· 10
ao gl ucago n (G LP-1).14 Entretanto, a ingestão d ietética de Embora demonstre grande capacidade de perda de
carnes e processados à base de carne, fomes de pro te ínas, peso a cu rto prazo, a d ieta hiperproteica não supera a dieta
gorduras e sal, é associada a ga nho de peso-" hipoglicíd ica e pode estar associada a maior risco card io-
O consumo de fibras está inversamente relacionado vascular a longo prazo. Especialistas apo ntam benefícios
com a obes idade. As fibras estão presentes de d iversas for- da dieta mediterrânea na prevenção do ganho de peso e da
mas nos alimentos e são constituídas de compostos polis- obes idade, notadamente no aumento da circunferência da
sacarídeos não digeríveis ou parcialmente digeridos pelo cintura, mas os resultados ainda são inconclusivos. O uso
tubo digestivo, sendo e ncontradas em ali mentos vegeta is, de suplemento al imentar como substituto de uma refei-
como grãos, legum inosas, frutas e legumes. As fibras po- ção parece estar associado a perda de peso, especialmente
dem ser divididas em solúveis e insolúveis em água. A~ quando associado a uma d ieta hipocaló rica-"
Capítulo 69 • Obesidade, Nutrição e Atividade Física 383

ATIVIDADE FÍSICA No entanto, é ma is co nhecido o efeito dos exerci-


Antes de uma discussão mais profu nda sobre os efeitos cios aeróbios na redução do peso e gordura corpora is.
do exercício fís ico no tratamento da obesidade, o exercí- Entreta nto, outros tipos de exercícios também podem ser
cio físico d eve ser conceituado como uma atividade física utilizados, como os exercícios de resistência, ass im como
planejada e estruturada com o propósi to de melhorar o u mudanças no estilo de vida como forma de atividade física.
manter o cond icionamento físico. Esporte é uma atividade
fís ica que envolve competição, enquanto a atividade fisi· Exercícios aeróbios e obesidade
ca consiste em q ualquer movimento corporal produzid o Tradicionalmente, o exercício aerób io (EA) é descritO
pelo müsculo esquelético que resulte em aumento do gasto como o tipo de exercício mais eficiente para o tratamento
energético.11 da obes idade e comorbidades associadas, principalmente o
O exercício é considerado um dos fatores que deter- d iabetes tipo 2, assim como para a redução de seus fatores
minam a manutenção do peso corporal perd ido nos pro- de risco, como as alterações no perfil lipídico e a res istê n·
gramas de perda de peson Entretanto, como ação isolada, cia a insu lina.19
resulta em perda mínima de peso (< 1%), embora possa Os efei tos do EA sobre a red ução do peso e gordu ra
melhorar a saúde do ind ividuon·14 Mudanças dietéticas corpora is estão pautados na alteração do balanço energéti·
podem melhorar esses resu ltados e promover perdas de co, ocasionada pela energia gasta durante o exercício, como
10% do peso corpora l em 6 meses/; embora se deva des- também após o exercício, e pela alteração na taxa metabólica
tacar que a redução do peso é d iretamente dependente de repouso.10 O mecan ismo mais óbvio pelo q ual o exercício
do grau de restrição calórica e dos fatores associados ao pode alterar o bala nço energético é med iante gastO energéti·
exercício fís ico, como volume (tempo) e intensidade, em co produzido du rante sua prática. Uma única sessão de exer-
uma relação do tipo d ose-resposta. Por exemplo, Hagan et cício pode alterar, também, o gastO energético do ind ividuo
aln observaram perdas de peso em torno de 35% q uand o após o exercício, frequentemente chamado de consumo de
o tratamento combinou exercício fís ico (30mi n/dia ci nco oxigênio pós-exercício (EPOC). Embora em teoria o EPOC
vezes por sema na) e restrição caló rica (1.200kcal/dia) após possa aumentar o gasto energético diário e desse modo aju-
12 semanas de intervenção. Já Wing et alH encontraram dar a criar um balanço e nergético negativo, não há evidên-
incrementos mais modestos na perda de peso (cerca de cias conclusivas a respeito do efeito EPOC sobre a perda de
15%) após 6 meses de intervenção. Entretanto, o exercício peso e gordura corporais.
físico do estudo de W ing et al. co nsistiu basicamente em
caminhadas. Além disso, a restrição energética foi menos
grave, com d ietas que variaram entre 1.200 e 2.100kcal/ Exercícios de resistência e obesidade
dia, de acordo com o peso corpora l dos voluntários. O exercício de resistê ncia (ER) é aquele que normal-
Ao longo das últimas décadas, observou-se aumento mente e nvolve levantamento d e pesos (p. ex., musculação),
das recomendações de volume d e exercício físico para per- executado em máqu inas o u com pesos livres, com ca rgas
da e manutenção do peso corpora l. O Centro de Controle geralmente maiores do que 65% de uma repetição máxi·
e Prevenção de Doenças (CDC/EUA) e o Colégio ma (I RM)_~' Entre as formas citadas para q ue o ER possa
America no de Med icina Esportiva (ACSM/EUA) in icial- in fluenciar a perda de gordura e peso corporais, estão o au-
mente recomendavam 30 minutos diários, cinco vezes por mento do gasto energético ocasio nado pelo próprio exerci-
semana. O Instituto de Med icina (lOM/EUA) recomen- cio e o aumento da taxa metabólica de repouso, atribu ído
da de 45 a 60 min utos d iários, enquanto a Associação ao aumento da massa muscular magra. O utro importante
Internacional para o Estudo da Obesidade (IASO/EUA) aspecto está na possibilidade de que o ER pod eria redu zir
incentiva a prática de 60 a 90 min utos diários para que o a gordura corporal subcutâ nea, assim como os fatores de
controle do peso corpora l a lo ngo prazo seja efetivo.11 Mais risco associad os à obes idade, como a dislipidemia e a res is·
recentemente, o ACSM al terou suas recomendações para tencia à insulinaJMs
valo res maiores que 150/250 minutos semanais de ativida- Recentes evidencias apontam q ue a combinação de
des progress ivas e de intensidade moderada.zs.Jl EA e ER podem fornecer beneficios extras para a redução
O exercício físico apresenta~e como fato r mais sign i· e manutenção do peso corporal, sendo ambos os tipos de
ficativo para perda e ma nutenção do peso a longo prazo. exercícios descri tos como necessários para a melhora dos
Un ick et al. 18 observaram que o exercício físico foi capaz resultad os. 11 O ER pode ser um compo nente fu ndamenta l
de manter por 24 meses o peso perdido com a restrição para o inicio dos exercícios, principalmente em ind ivíduos
energética d urante 6 meses em voluntários. Com base em que apresentam má cond ição card iorrespi ratória, sendo
revisões da literatu ra, essa pos ição também é defend ida um trampolim para um posterior engajamento em ativi·
por instituições como o ACSM.16 dades aeróbias.
< 384 PARTE XVIII • Nutrologia

A combinação de ER e EA parece ser mais eficaz em 3 . Brasil. Vigitel Brasil 2011: Vigilância de Fatores de Risco e Pro-
t eção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasflia:
reduzir a gordura imra-abdom inal, intrinsecamente asso- Ministério da Saúde, 2011.
ciada às concentrações plasmáticas de triglicerídeos, a pres- 4 . Mathus-VIiegen EM et ai. Prevalence, pat hophisiology, healt h
são arterial diastólica e a d iminu ição da sens ibilidade à in- consequences and treatment options oi obesity in t he elderly: a
sulina, ' 6•37 e também em aumenta r a massa magra, quando guideline. Obesity Facts 2012; 5:460-83.
5. Physical status: the use and interpret ation oi anthropometry. Re-
compa rado com o exercício aeróbio isoladameme.'8 ·'9
port oi a WHO Expert Comminee. World Health Organ Tech Rep
Uma gama de facores fís icos, psicológicos e ps icos- Ser 1995; 854:1-452.
sociais pode red uzir a adoção da prática de exercícios 6 . lakka TA, lakka HM, Salonen R, Kaplan GA, Salonen JT. Abdomi-
físicos por ind ivíduos obesos em qualquer população. nal obesity is associated w it h acelerated progression oi carot id
atherosclerosis in men. Atherosclerosis 2001 ; 154:504.
Especificamente ao ER em relação, as pri ncipais barrei ras
7. Arimura ST. Moura BM, Pimentel GD, Silva MER, Souza MV.
são o medo de lesões, conceito errô neo de baixa eficiên- Waist circumference is bener associated w ith high densitity
cia desse tipo de exercício, e o medo de que um possível lipoprot ein (HDL-c) t han with body mass índex (BMI) in adults
ganho de massa muscular possa ocasionar ganho de peso w ith met abolic syndrome. Nutr Hosp 2011 ; 26(6): 1238-332.
corporal. Embora esta última barrei ra possa ser em parte 8 . Projeto Diretrizes: Sobrepeso e Obesidade: Diagnóst ico. Asso-
ciação Brasileira de Medicina e Conselho Federal de Medicina.
verdadei ra, pode favorecer a man ute nção do peso corporal Agosto, 2004.
a lo ngo prazo, por aumentar a taxa metabólica de repouso, 9 . Samaras K, Kelly PJ, Chiano MN, SpectorTD, CampbelllV. Ge-
como descri to anteriormente. Além d isso, se forem segui- netic and environmental influences on tota~body and central ab-
das as recomendações apropriadas para exercícios dessa dominal fat: the effect oi physical activity in female twins. Ann
lntern Med 1999; 130:873-82.
natureza, a adaptação do músculo esquelético pode ser 10. Drewnowski A, Spect er SE. Poverty and obesity: the role oi en-
melh orada, reduzindo, ass im, o risco de lesões. ER mu itO ergy density and energy cost s. Am J ClinNutr 2004; 79:6-1 6.
intensos, com cargas excessivas, podem dim inu ir também 11. Fernandez MG, lzquierdo JQ, Marset B, l esmes IB, Sala XF.
a vontade e o prazer da execução por ind ivíduos obesos.40 Sallas-Salvadó J. Evidence-based nut rit ional recommendat ions
for the prevention ant treatment oi overweight and obesity in
Este fato pode ser superado pela adoção de variações no
adults (FESNAD-SEEDO consensus document). The role oi diet
ER de imensidades moderadas, facilitando a execução por in obesity prevention (11/ 111). Nutr Hosp, 2012; 27(3):80~4.
maiores períodos de tempo. Quando aplicado corretamen- 12. Champagne CM, Broyles S. Moran lD et ai. Dietary intakes as-
te, com supervisão apropriada, o ER é uma alternativa útil sociated w ith successful weight loss and maintenance during t he
Weight Maint enance Trial. J Am Diet Assoe 2011 ; 111(12):1826-35.
aos exercícios aeróbios, uma vez que fornece beneficios me-
13. Avenell A, Broom J, Broom TJ, Poobalan A, Aucon L, Stearms
tabólicos e fis iológicos para o ind ivíduo obeso. SC. Sist ematic review oi t he long-term effects and econom-
A fa lta de tempo é outra alegação bastante comum para ics consequences oi treatment for obesity and implications for
q ue ind ivíduos abandonem a prática regular de exercícios health improvement. Healt h Technol Assess 2004; 8(21).
físicos. O CDC e o ACSM propõem que um mínimo de 14. Souza GTD, lira FS, Rosa JC et ai. Dietary whey prot ein lessens
several risk factors for metabolic disease: a review . lipids in
30 minucos de exercícios físicos poderia ser acumu lado ao Health and Disease 2012; 11 :67.
lo ngo do dia, em vez de o individuo realizar uma série con- 15. Brauchla M, Juan W, Stoary J, Kranz S. Sources oi dietary and
tínua. Múltiplas séries de exercícios de 10 a 15 minutos/ t he association oi fiber intake with childhood obesity risk (in
dia podem p romover melhoras s ignifica tivas na cond ição 2-18 year olds) and diabetes risk oi adolescents 12-18 year olds:
NHANES 2003-2006. Journal oi Nutrition and Metabolism 2012.
card iorrespiratória, 41 com ando-se uma forma alternativa
16. lanimer JM, Haub MD. Effects oi dietary fiber and its compo-
para encorajar indivíd uos com sobrepeso ou obes idade a nents on met abolic healt h. Nutrients 2010; 1266-89.
praticarem exercícios físicos de maneira regu lar.41 17. lnst itute oi Medicine. Dietary reference int akes for energy, car-
Em conclusão, o exercício físico é um importa nte com- bohydrat es, fiber, fat, prot ein and amino acids (macronutrients):
a report oi t he Panel on Macronutrients, Subcomminees on Up-
ponente do controle de peso, devendo ser e nfatizado q ue
per Reference leveis oi Nutrients and lnterpret ation and Uses
sua ação isolada para a red ução do peso e gord ura corpo- oi Diet ary Reference lntakes, and the Standing Commin ee on
ra is é li mitada, independente do tipo de exercício, e q ue a t he Scientific Evaluat ion oi Dietary Reference lntakes. Washing-
combinação de ER e EA pode resultar em beneficios extras t on (DC): The National Academies Press, 2002.
na manutenção do peso corporal. 18. lyon MR, Kacinik V. l s there a place for diet ary fiber supple-
ments in weight management ? Curr Obes Rep 2012; 1:5~Z
19. Anderson GH, Foreyt J, Sigman-Grant M, Allison DB. The use
oi low-calorie sweet eners by adults: impact on weight manage-
Referências ment. J Nut r 2012; 142:1163s-11 69s.
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va: WHO, 199Z review and mata-analysis oi randomized cont rolled trials and co-
2. Diret rizes Brasileiras de Obesidade. Associação Brasileira para hort studies. BMJ 2012; 45:1-15.
Estudo da Obesidade e da Sfndrome Metabólica. 3. ed. ltapevi, 21. Barbanti VJ. Dicionário de educação ffsica e esporte. 2. ed. Ba-
SP: AC Farmacêut ica, 2009. rueri, SP: Manole, 2003.
Capítulo 69 • Obesidade, Nutrição e Atividade Física 385

22. Saris WHM. Blair SN. van Baak MA et ai. How much physical 34. W illiams MA. Haskell W L, Ades PA et ai. American Heart Asso-
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Rev 2003; 4:101-14. sistance exercise in individuais with and without cardiovascular
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113:2642-50. 30:37-43.
Avaliação do Consumo Alimentar e
Terapia Nutricional na Obesidade
Joana Ferreira do Amara l

O consumo alimentar e, consequentemente, a s ituação orgân ica das relações entre homem-natureza-alimento que
n utricio nal da popu lação brasilei ra apresentaram profun- se estabelecem numa determ inada sociedade".;·6
das mudanças a partir dos anos 1980. O declínio das taxas Para a ava liação nu tricional na prática clín ica, util izam-
de desnutrição e o aumento da prevalência da obesidade -se a análise da história cl ín ica, d ietética e psicossocial e os
definem uma das características marcantes do processo de dados antropométricos e b ioq uímicos, além da interação
trans ição nutriciona l do pa ís.' entre med icamentos e n utrientes, de modo a estabelecer o
A obesidade pode ser defin ida como um agravo de diagnóstico nu tricional e servir de base para o planejamen-
caráter multifato rial envolvendo desde questões biológicas to e a orientação d ietética_;
até as econômicas, sociais, cu ltu rais e pol íticas.1 O deter- A avaliação nu tricional do ind ivíduo obeso é peça
minante mais imed iatO do acümulo excessivo de gordura, fundamenta l para o d irecionamento do tratamento. Mais
e por consequência da obesidade, é o balanço energético especificamente, a ava liação da história e dos hábitos ali-
positivo. O balanço e nergético pode ser definido como mentares do paciente é importante para a elaboração de
a d iferença entre a quantidade de e nergia co nsumida e a metas para a mudança do hábito alimentar8 A análise do
q uantidade de energia gasta na realização das fu nções vi- co nsumo alimenta r tem papel decis ivo e não se restringe
tais e de atividades em geral. O balanço energético pos iti· à mera quantificação dos nutrientes consumidos. Ao con-
vo acontece quando a quantidade de energia consumida é trário, a identificação de fatores de diversas ordens que
maior do que a quantidade gasta. Os fatores que levam um apresentem interferência no pad rão de consumo alimen-
ind ivíduo ao balanço energético positivo variam de pessoa tar deve ser construída em co njunto com o paciente. Desse
para pessoa.1 modo, podem ser estabelecidos planos ali men tares mais
Os principais responsáveis pelo aumento acelerado adequados à realidade, o que resultará em melhor adesão
da obesidade no mu ndo, e no Brasil, estão relacio nados ao tratamento n utricional. 9
com o ambiente e as muda nças de modo de vida, sendo, No entanto, muitas vezes essa etapa é negligenciada
portanto, passíveis de intervenção, demandando ações no pelo profissional que atende o paciente obeso. Essa negl i-
âmbi to ind ividua l e coletivo.4 gência parte do princípio de que a informação alimenta r
fornecida pelo paciente é subestimada proposi talmente.
-
AVALIAÇAO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO
Assim, se partimos do pressuposto apresentado, toda a
relação profissional-paciente pode fica r comprometida, o
HÁBITO ALIMENTAR DO INDIVÍDUO OBESO que se refletirá de maneira direta na adesão do paciente ao
O estado nutricional expressa a relação entre os ali- tratamento d ietético 8
mentos ingeridos, a capacidade do organ ismo de aproveitá· A~ ferramentas para avaliação do consumo alimenta r
-los e o gasto de e nergia ame as necessidades nutricionais podem ser d ivididas em três categorias: avaliação quanti·
em cada fase do curso de vida . Ele estabelece "a síntese tativa, avaliação q ualitativa e avaliação do padrão de con-

386
Capítulo 7U • Avaliação do Consumo Alimentar e Terapia Nutricional na Obesidade 387

sumo alimentar. Todos os métodos de avaliação apresen- álb uns fotográficos'6 •11 que apresentam d iferentes formas
tam vantagens e desvantagens, além de poss ibilidades de de porcio name nto e marcas comerciais de alimentos tra-
interferências capazes de ocasio nar e rros sign ificativos na d icionais, apresentados em listas ou fotOgrafias ilustra-
avaliação do consumo alimentar. 10 tivas.

- QUANTITATIVA DA INGESTAO
AVALIAÇAO - DE Diário ou registro alimentar
NUTRIENTES O diário alimentar também é um instrumento útil na
A avaliação quantita tiva do co nsumo de nutrientes é coleta de informações sobre a ingestão atual de um ind iví·
baseada na coleta de dados referentes ao consumo alimen- duo . O método, também co nhecido como registro alimen-
ta r e sua posterior correlação com as necess idades indivi· tar, baseia-se no preenchimento de formu lários especial-
dua is, tendo como referência as recomendações de inges- mente desenhados para o registro de todos os alimentos e
tão diária precon izadas pelo Institu te of Medicine (lOM, bebidas consum idos ao longo de um ou mais d ias, deven-
2000)-" Em relação à ingestão, os dados devem refletir a do ser anotados, também, os alimentos consumidos fora
d ieta habitua l, uma vez que os efeitOS da ingestão inade- do lar. Normalmente, o método pode ser aplicado du rante
quada surgem somente após exposição prolongada a uma 3, 5 o u 7 dias - períodos maiores que 7 d ias podem com-
situação de risco alimentar. prometer a aderência e a fided ignidade dos dados. Para
ma ior fidedignidade do método ao hábitO alimentar do
ind ivíduo, deve~e orientar a coleta de pelo menos 3 d ias
Recordatório de 24 horas de informação em d ias alternados e incluindo um dia do
O recordatório de 24 horas (Quadro 70.1) consiste em fim de sema na18
definir e quantificar rodos os alimentos e bebidas ingeri·
dos no período anterior à entrevista, q ue podem refletir o -
AVALIAÇAO DO CONSUMO DE ALIMENTOS OU
consumo nas 24 horas precedentes o u, mais comumente,
no d ia anterior1 1•12 O questio namento sobre o d ia anterio r GRUPOS ALIMENTARES
geralmente facilita a recordação, pois o sujeito pode usar A avaliação q ualitativa da dieta prete nde avaliar a fre-
vários parâmetros durante a en trevista como, por exemplo, quência de consumo de al imentos e grupos al imentares.
o horário em que acordou ou fo i dormir o u a rotina de Essa análise complementa o diagnóstico nutricional e a
traba lho. identificação de pomos críticos do co nsumo alimentar
O a limento deve ser registrado em unidades especifi- que podem contribuir com o q uadro da obesidade e de
cas, p referencialmente em medidas usualmente utilizadas suas comorbidades. Pela aná lise qualitativa da dieta po-
no cotidiano, como, po r exemplo, uma fat ia, uma bana na dem ser identificados também, o consumo de nutrientes
média, uma ba la, um pacote de biscoito. Materiais didáti· e compostos bioativos relacionados com a manutenção
cos de apo io podem ser ú teis pa ra que o pacientesesintase- e promoção da saúde. A análise da frequência do consu-
gu ro na ind icação das medidas. A%im, há d ispon ib ilidade mo de ali mentos pode ser avaliada pelo Questionário de
de softwares e tabelas de composição de al imentos 14•1; e Frequência Alimentar (QFA). Na ma ioria das vezes, para
essa ava liação, a partir de uma lista de alimentos, solicita-
Quadro 70.1 Modelo de formulário para recordatório de ·se ao paciente q ue informe a frequência de consumo de
24 horas cada item e, a partir dessa informação, utilizada de manei-
ra qualitativa, avalia~e a necessidade de modificações na
Ref elçAo Alim entos/ Quantidade
lhorérlo e locall preparaç!ies lmedlda usuall
d ieta, indicando a inclusão o u exclusão de ali mentos na
etapa de o rientação d ietética 1 4 O Q uadro 70.2 apresenta
um modelo de QFA.

- -
AVALIAÇAO DO PADRAO ALIMENTAR
O comportamento alimentar é um dos principais com-
ponentes do estilo de vida e abra nge não apenas a esco-
lha dos alimentos em si, mas tudo que esteja relacio nado
com a alimentação cotidiana. É determinado por diversas
influências, que incluem aspectos nutricionais, demográfi-
cos, econôm icos, sociais, culturais, amb ientais e ps icológi-
Fonte: Aqui no & Philppo, 2009. 13 cos do paciente.9
PARTE XVIII • Nutrologia

Quadro 70 .2 M odelo de formulário para OFA

Consumo
Semanal Tipo (p. ex.: pio Modo de preparo
Alimentos francês ou de (assado. frtto.
D 1a 2 3a4 5a6 E N forma) grelhado. cozldol
vezes vezes vezes
Pães
Arroz
Massa

·"::!
~
BisooJto recheado

~ Bisoono doce
Bisoono salgad o
Bolos
Batata/mandJoca
~
Verduras
.~
;a Frutas
~ Legumes

Mamão
~
LaranJa
5 Banana
..."
~

A bacate
Outras

~
Lene
.. o
Iogurte
..
.,ãj
.......,..,
-" >
QueiJO
Reque1jã o
BOV1na
Suina
~
o Aves
>
o
Peixes
"
~
Presunto
1!
~

~ MiUdos
Embutidos
Ovos

~
Óleo de soja

,""~

~
Azeite
Fnturas
&
"
~
Maionese
j Mantetga/margarina
o Creme de iene

~
AçUcar

,"g Doces (chocolate, sobremesas,


p M:Oiés, sorvetes, bolos
" ~ confettados)

.,"<>B
~

Açúcar (achcionado a preparações


como café e sucos)
< Adoçantes
Café
Sucos naturais
~

..,"
:2 Sucos de polpa
Sucos pasteurizados (caodnha)
c8
Sucos artrfic.ais
Refrigerantes
Lanches
o~
~

5 Salgados
o Salgadinhos (chips)

D: consu mo diáno (anotar o n ú mero d e vezes/dia}; E: consumo even tual: S: consumo semanal.
Fonte: adaptado de A.qu1no & Ph llppi, 2009. 13
Capítulo 7U • Avaliação do Consumo Alimentar e Terapia Nutricional na Obesidade 389

História alimentar • Controle d o estresse: promove auxílio no co ntro le d e


O método de história alimentar consiste e m uma ex- padrões errôneos d e alimentação, normalmente presen-
tensa entrevista com o propósito d e produzir informações tes em pacientes estressad os.
sobre os hábitos alimentares atuais e passados. São coletadas • Controle d e estímulos: após a identificação d os estímu-
in formações sobre nú mero de refeições d iárias, local d as re- los provocadores do consumo ali mentar descontrolado,
feições, apetite, preferências e aversões alimen tares, uso de pro mover mudanças e m seu a mbiente que reduzam es-
suplementos nutricionais e informações ad icionais sobre ses estímulos potenciais.
tabagismo e prática de exercícios físicos, entre outras.19 A • Estabelecimento de objetivos: o paciente deve ser parte
histó ria alimentar inclu i o comportamento d o indivíduo ativa do estabeleci mento d e objetivos claros e d esafia-
perante o alimento. Mudanças nesses comportamentos d ores da mudança do comportamento alimen tar. Os
são fundamenta is para o sucesso da terapia nutricio nal na objetivos d evem ser traçad os ao longo do trata mento,
obesidade. Nesse sentido, Lang et al. (2006) sugerem inter- d entro das condições do paciente em cu mpri-los. Mu i-
venções para identificação e mon itoramento de padrões de tas metas de uma só vez d ificultam o cu mprimento e
comportamento em relação ao hábito ali mentar, a saber: levam à frustração.
• Automo nito ramento: manter a prática de registro d iá-
rio da ali mentação e d a prática d e ativid ade física para O Quadro 70.3 apresenta, d e modo resumido, vanta-
identificação de po ntos críticos e situações q ue d efla- gens e d esvantagens dos métodos d e avaliação do consu mo
gram perda do controle da ingestão al imentar. alimentar.

Quadro 70 .3 Vantagens e desvantagens d os métodos de inquérito alimentar

Avaliação quantitativa da lngestllo de nutrientes


I I
Vantagens Desvantagens -1
Recordatório de Aplicação rápida Depende da memória do entrevistado
24 horas Não altera a ingest ão alimentar Depende da capacidade do entrevistador em estabelecer
Pode ser usado em qualquer faixa etária e nível de uma boa comunicação e evitar a indução de respostas
cognição e alfabetização Um único recordatório não estima a diet a habitual
Baixo custo A ingestão relatada pode ser atípica

Diário (registro) Os alimentos são anotados no momento do consumo O consumo pode ser alt erado, pois o individuo sabe que
alimentar Não depende da memória está sendo avaliado
Menor erro quando ha orientação detalhada para o Exige que o individuo saiba ler e escrever Ha dificuldade
registro para estimar porções
Mede o consumo atual Exige comprometimento, motivação e colaboração do
Identifica tipos de alimentos e preparações consumidos paciente
e horários das refeições As sobras são computadas como alimento consumido

I AvallaçAo do consumo de alimentos e grupos alimentares


I
Vantagens Desvantagens
I
QFA Estima a ingestão habitual Depende da memória dos hábitos passados e da
Não altera o padrão de consumo habilidade cognitiva para estimar o consumo médio em
Baixo custo longo período de tempo pregresso
Elimina as variações do dia a dia O desenho do instrumento exige esforço e tempo
A digitação e a análise do inquérito são simples quando Dificuldade de aplicação conforme o número e a
comparadas às de outros mét odos complexidade da lista de aliment os
Quantificação pouco exata
Nem todos os alimentos consumidos pelos individuas
podem constar na lista

I AvallaçAo do padrAo alimentar -1


Vantagens Desvantagens
I
História Elimina variações do consumo do dia a dia Exige aplicador treinado
alimentar Leva em consideração a variação sazonal Depende da memória do entrevistado
Fornece a descrição da ingestão habitual Tempo de aplicação longo

Fonte: adaptado de Ftsberg, 2002 .9


PARTEXVIII • Nutrologia

-
RECOMENDAÇOES NUTRICIONAIS NA Homens: GET = 864 - (9,72 x idade ianosD + FA x
OBESIDADE (14,2 x peso lkgl + 503 x altu ra Imil
Independentemente do grau de obesidade inicial quan-
do do tratamento d iewterápico, o objetivo não deve ser al- Onde FA é o fatOr de atividade, correspondente a:
cançar o peso ideal, mas sim a perda gradual e sustentada
FA = I,00 (sedentário)
de peso, se refl itindo não apenas em alterações do peso
em s i, mas também de parâmetros bioquimicos e metabóli· FA = I, 12 (atividade leve)
cos, como circunferência da cintura e pressão arterial. Desse
FA = 1,27 (atividade moderada)
modo, o objetivo principal do tratamento diewterápico na
obesidade é reduzir o risco de comorbidades associadas.20•21 FA = I,54 (atividade intensa)
A adesão é o principal desafio. Nesse aspecto, a ind ivi·
dualização do tratamento e a relação profissional de saúde- Mulheres: GET = 387 - (7,031 x idade ianosD + FA x
-paciente são fundamentais, pois podem garantir o sucesso (1 0,9 x peso lkgl + 660,7 x altura lmD
a longo prazo.
A conduta nutricional ind ividualizada preconiza mu- Onde FA é o fator de atividade, correspondente a:
danças gradua is nos hábi tos ali mentares, de acordo com o
cotidiano do paciente. Por este motivo, deve ser d inâmica FA = I,00 (sedentário)
e sofrer adaptações de acordo com a resposta e a aceitação FA = I, 14 (atividade leve)
do plano dietético pelo paciente.22
As bases do tratamento dietético na obesidade são esta- FA = 1,27 (atividade moderada)
belecidas de maneira clara pelo Consenso Latino-americano FA = 1,45 (atividade intensa)
de Obesidade (1998) e também pela Sociedade Brasileira de
Cardiologia (SBC)n A SBC preconiza recomendações para Pode-se também estimar o gasto energético por meio
a síndrome metabólica. No entanto, a obesidade é compo- de ind icações de gasto energético por quilograma de peso
nente importante dessa sindrome, e as recomendações são corporal. Para perda de peso, recomenda-se a util ização de
semelhantes tanto para a obesidade de maneira isolada como 20kcal/kg de peso/dia, cons iderando-se o peso atual do
para a associada a outros fatores de risco card iovascu lares. pacienteY

Energia
As recomendações de energia, segundo esses consen- Proteína
sos, consistem em restrição energética moderada, preser- A~ recomendações de proteínas devem atingir o mín i-
vando a distribu ição normal de macronutrientes dentro mo de O,Sg de proteina/d ia/kg de peso desejável. O per-
dos percentuais recomendados para ind ivíduos saudáveis centual de proteínas no va lor calórico oferecido pelo plano
de acordo com diferentes organizações e instituws'0•22•24 alimentar não deve u ltrapassa r 20%.z'
Para o cálculo do gasto energético diário total, podem
ser aplicadas fórmu las de estimativa de taxa metabólica ba-
sal, acrescidas de fatores de atividade, ou podem ser usadas Outros nutrientes
tabelas de recomendação energética por qu ilograma de peso A~ vitam inas e minerais devem atingir as recomenda-
corporal, conforme indicado no Quadro 70.4. Nesse caso, ções dietéticas de referência (DRI) para a faixa etá ria e o
uti liza-se o peso atual do paciente e, após o cálculo, aplica-se sexo do paciente. Dietas balanceadas, mesmo com restri·
a redução de 500 a IOOkcal/dia. Nessa etapa, é importa nte ção energética, norma lmente fornecem esses nutrientes
considerar a avaliação quantitativa da dieta habitual do pa- de manei ra satisfatória, não exigindo suplementação. No
ciente. Quando bem aplicada, os valores obtidos podem ser entanto, dietas com valor energético muito redu zido não
uti lizados como ponto de referência para a redução energé- conseguem fornecer micronutriemes de modo adequado.
tica proposta.z; A~ fórmu las para cálculo do gasto energético Nesses casos, a suplementação se faz necessária, devendo
precon izadas pelo lnstitute ofMedicine" levam em consider- ser feita com base nas deficiências apresentadas pelo pa-
ção o sexo, a idade, o peso, a altura e o nível de atividade f;. ciente, após ava liações clín ica e laboratorial ind icativas de
sica do paciente. Para a classificação do nível de ativida- deficiência orgã nica.z•
de física, o lOM recomenda a utl ização de quatro n íveis de A~ recomendações nu tricionais pa ra o tratamento da
classificação. A estimativa do requerimento energético e os obes idade, de acordo com o Consenso Latino-americano
fatores de atividade, segundo esse InstitutO, são dados por: para a Obes idade, estão resumidas no Quadro 70.5.
Capítulo 7U • Avaliação do Consumo Alimentar e Terapia Nutricional na Obesidade 391

Quadro 70 .5 Recomendações d ietéticas para tratamento da 5. ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e
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Suplementos Nutricionais
Ângelo Silvestre de Sá

Atua lmente, observa1>e um consumo crescente de su- Para os praticantes de atividade física, o aporte ade-
plementos nutricionais, seja por atletas, seja por pratican- quado de proteínas é mu itO benéfico. No entanto, para
tes de atividade física. E esse uso é mu itas vezes abus ivo, quantificação adequadamente do consumo de proteínas
principalmente em ambientes de prática de atividades fí- devem ser levadas em co nsideração as características físicas
sicas. e de saúde do indivíd uo, bem como o nível de atividade
De manei ra geral, apenas as modificações dietéticas física praticado.
têm o potencial de melhorar o desempenho fíS ico. O uso De modo gera l, considera1>e o seguinte:
de suplementos nutricionais deve ficar restrito a situações • 0,8g/kg de peso/dia para indivíduos sedentá rios;
especiais. Apenas méd icos e nutricionistas são profiss io- • 1,2 a 1,4g/kg de peso/dia para ind ivíduos ativos;
nais capacitados para prescrever dietas e suplementos n u- • 1,8g/kg de peso/dia para atletas e pacientes com objeti·
tricionais. vo de hipertrofia muscular.
A avaliação nutricional deve preceder a prescrição da
dieta. Deve1>e realizar anamnese completa, descrição de- Os suplementos proteicos devem estar inseridos nessa
talhada dos hábitos ali mentares e exame físico. Exames quantidade tOtal. Quantidades ad icionais não demons-
complementares laboratoriais ou de imagem podem ser tram mais benefícios. Há hipertrofia quando se associam
úteis. Passada essa fase, pode-se fazer a prescrição da d ieta carboidratos e proteínas após a prática da atividade física.
de acordo com os d iagnósticos estabelecidos. A substituição da alimentação por suplementos fontes
de aminoácidos pode acarretar carências nutricionais de
-
CLASSIFICAÇAO OOS NUTRIENTES componentes presentes nos alimentos proteicos, como o
Os nutrientes podem ser classificados em macro e mi- ferro.
cro nutrientes. O grupo dos macron utrientes é composto Não se recomenda a util ização de aminoácidos de ca-
por carboidratos, pro te ínas e gorduras, enquanto o dos deia ramificada (leucina, isoleucina e valina), bem como
micron utrientes é representado por vitaminas, minerais e de orni tina, glutam ina e arginina, uma vez que os estudos
o ligoelementos. ai nda não são consistentes.
Estão bem<locumentados os efeitos ergogênicos da
suplementação de creatina em atividades físicas de altos
MACRONUTRIENTES desempen ho e rendimento. Já para os praticantes de ativi·
Proteínas dades fíS icas, os benefícios não foram bem estabelecidos.
As proteínas são as fomes de aminoácidos essenciais, Com frequência, a suplementação diária de creatina
os quais não podem ser sintetizados pelo corpo humano, e pode ser feita com 285 a 300mg de creatina/kg de peso/
são compostas de átomos de oxigênio, carbono, nitrogênio d ia. Entretanto, a ingestão de 30 a SOmg de creatina/kg de
e hidrogênio. peso/dia também é benéfica.

392
Capítulo 71 • Suplementos Nutricionais 393

O beta-hidroxi-beta-metilbutiratO (HM B) pode ser um Para atletas e a população geral são recomendados de
bom suplemento ergogênico apenas para idosos que prati· 8 a IOg/d ia, e as proporções de ácidos graxos essenciais são
cam atividade fís ica. as segu intes: 10% de satu rados, 10% de insaturados e 10%
de poli-insaturados.
Carboidratos A suplementação de ácidos graxos ômega-3, represen-
tados pelos ácidos eicosapentanoico (EPA) e docosaexa-
Principa is componentes dos alimentos, os carboidra-
noico (DHA), em uso crôn ico, parece p romover inúmeros
tos são compostos de carbono, hidrogênio e oxigên io e são
benefícios. Pode ser usada como prevenção o u red ução de
classificados em:
respostas in flamatórias, prevenção ou redução do dano
• Monossacarídeos: são a glicose, a fru tose e a galacwse.
muscular e aumento do consumo de oxigên io.
Possuem grau de pol imerização L
• D issacarídeos: são formados pela polimerização de do is
monossacarídeos. MICRONUTRIENTES
• Oligossacarídeos: são formados pela poli merização de
Vitaminas
três a 10 monossacarídeos.
• Polissacarídeos: são formados pela poli merização de li A função básica das vitami nas é servir de faror para a
ou mais monossaca rídeos. produção de o utros tipos de compostos orgân icos. São clas-
sificadas em hidrossolúveis e lipossolúveis. As h idrossolúveis
A ingesta de carboid ratOs du rante a atividade física são as vitaminas do complexo B e a vitami na C, e as liposso-
tem efeitos ergogênicos bem-documentados. O gl icogên io lúveis estão representadas pelas vitam inas A, O, E e K.
muscu lar é consumido em exercícios prolongados. O efeito terapêutico das vi tam inas retiradas dos ali-
O consumo de carbo idratos pelo organismo é p ropor- mentos por meio da d ieta é bem maior do q ue o das sinte-
cional à intensidade do exercício. tizadas pela indústria.
Deve-se considerar o tempo de ingestão necessário Atualmente, as carências de vitaminas são raras.
para refeições pré-treino, po is, quando rica em fibras e Frequência maior é encontrada em alcoolistas, em casos
gordu ra, a fonte de carboid ratos pode retarda r o esvazia- de má absorção intestina l e após cirurgia bariátrica.
mento gástrico. Isso pode acarreta r desconforto gástrico Na med icina on omolecular, vitam inas são usadas para
durante a atividade fís ica. Ass im, a refeição pré-tre ino o tratamento de doenças em doses bem maiores do que o
idea l deve ser rica em carboidratos e pobre em gorduras recomendado.
e fibras. O uso de vitaminas C e E pode ser recomendado para
Os va lores de ingestão diária ideal são: atletas, uma vez que elas podem melho rar a resposta imu-
• 5 a Sg/kg de peso/dia para recuperação muscular; nológica e a atividade antioxidante.
• !Og/kg de peso/d ia para atividades de lo nga d uração A vitamina O participa da homeostase de cálcio e fósfo-
e/ou treino intenso; ro no plasma. Além d isso, participa de processos de síntese
• 0,7 a 1,5g/kg/d ia de peso pós-treino de exercícios exaus- de proteínas, fu nções neuromusculares e secreção hormonal.
tivos.
Minerais
Gorduras O corpo humano é incapaz de produzir minera is,
As gorduras o u lip ídios constituem um grupo hetero- os qua is devem ser, portanto, totalmente adqui ridos por
gênio de compostOs com a característica comum de insolu- meio da alimentação. De manei ra geral, sua aquis ição é
bil idade em água. fácil. São d ivid idos em dois grupos:
Podem ser classificados em: • Macrom inerais (requerimento > IOOmg/dia): fósforo,
• Simples: ácidos graxos e triglicerídeos; magnéS io, cálcio, sódio, potáss io, cloro e enxofre.
• Compostos: q uando se ligam a compostos não lipíd icos • Microminerais (requerimento < JOOmg/d ia): ferro, zin-
- lipoprote ínas, glicolipíd ios e fosfolipíd ios; co, cobre, selên io, cromo, iodo, molibdênio, va nádio,
• De rivados: colesterol e hormôn ios estero ides . cobalto, ma nganês e flúor.

Os triglicerídeos correspo ndem a 90% dos lipídios da O zinco participa da respi ração celular. Sua deficiência
d ieta, sendo seguidos pelos ácidos graxos. em atletas pode promover anorexia, perda de peso, fadiga
Exercem inúmeras funções dentro do organ ismo, e risco de osteoporose. Recomendam-se de 10 a 40mg/dia.
como transporte de vitami nas, composição da membrana O ferro está deficiente em parte considerável da popu-
celu lar e síntese de hormôn ios estero ides . lação mundia l e sua d iminu ição promove fadiga e deficiên-
< 394 PARTE XVIII • Nutrologia

cia do s istema imunológico. Recomendam-se l5mg/dia Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Modifica-
ções dietéticas, reposição hfdrica, suplementos aliment ares e
para a população fem in ina e !Omg/dia para a mascul ina. drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos
A deficiência de cálcio pode se dar pela má absorção, para a saúde. Rev Bras Med Esporte Mar/Abr, 2003; 9(2).
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Nutrição nas Feridas da Pele
José Adalberto Leal
Prisc illa Cecy Lages

Em um ambiente hospitalar, podem ser observadas inflamação, proliferação e remodelação.1•2•8•9 O sucesso da


feridas crô nicas e agudas. Segu ndo W ild et ai' as feridas cicatrização é cond icionado pelo bom resu ltado dessas trêS
crôn icas são defi nidas como defeitos recorrentes na pele fases, as qua is são dependentes da disponib ilidade de n u-
o u que pers istem por ma is de 6 sema nas. Podem ser re- trientes específicos. C ircu nstâncias de privação de substra·
presentadas por úlceras de vári os tipos, como d iabética, tO, como a que ocorre na desnutrição, provocam alterações
arterial, venosa, de pressão, e também por deiscência de na regeneração tecidua l, prejud ica ndo a fibroplasia e a sín·
feridas operatórias. As feridas agudas ma is comuns são tese de colágeno. Tudo isso resulta em maior tempo da fase
exemplificadas por feridas operatórias, queimaduras e de inflamação, interferindo negativamente na melhora das
traumas.'·2 feridas e prolo ngando a cu raM·8•10
O desenvolvimento de feridas crôn icas na pele sofre O investimento em estratégias que visem à melhora do
influência di reta do estado nutricional. Alterações do há· estado nutricional, e em especial à ingestão alimentar e ao
bito alimentar e do peso corporal, bem como redução da atend imento das necessidades nutricionais, está fortemen-
capacidade funcional e da hidratação, são fatores de risco te indicado para prevenção e tratamento de feridas. 1•6 •11 •12
para o desenvolvimento das úlceras, os quais também po- Entre os nutrientes utilizados na prevenção e tratamento
dem ser observados na desnutrição.1•4 das úlceras, destacam-se as proteí nas, alguns aminoácidos,
A alta prevalência de desnutrição em pacientes hospi· zinco, vitamina A, vitami na C e ácidos graxos poli-insatu·
ta lizados pode justificar, em parte, as altas incidências de rados. 9·n
úlceras de pressão nesse ambiente. A desnutrição hospita·
lar, embora muitO frequente, é pouco recon hecida e pode
ser influenciada pela presença de infecções que, quando TRATAMENTO NUTRICIONAL DAS FERIDAS
associadas, aumentam o tempo de internação e favorecem A primeira preocupação no tratamento nutricional
o desenvolvimento de úlceras _~·5 •6 das feridas é com o aporte e nergético, visto que as reco-
O desenvolvimento de úlceras é uma grande preocupa· mendações normais para indivíduos hospitalizados podem
ção para o sistema de saúde em todo o mundo, podendo ser hipoestimadas quando aplicadas àqueles que apresen-
atingir até 65% dos pacientes com desnutrição grave. 1 Seu tam feridas. 1·8 Os desnutridos se to rnam a ma ior preocu-
tratamen to está entre os trêS mais caros em alguns países, pação nesse caso, por apresentarem ingestão alimentar
juntamente com o tratamento de doenças card iovascula- reduzida, mesmo q uando são oferecidos alimentos que se
res e do câncer, provocando um alto impacto financeiro, somam àS suas necessidades nutricionais.1 Em estudo de
o qual pode ser estimado em, aproximadamente, 16.000 a Liang et al.6 foi observado que os pacientes que apresen-
20.000 dólares para cada 2 sema nas de internação.•·; tavam feridas na pele estavam consumindo n utrientes em
Em geral, o processo de cura de feridas passa por menor quantidade do que o recomendado, comprovando
eventos sequenciais que se d ividem em três fases clássicas: a baixa ingestão ali mentar por esse grupo.

395
PARTE XVIII • Nutrologia

O métOdo considerado padrão-o uro para o cálculo para atender todas as necessidades do organ ismo, como a
das necessidades energéticas é a calorimetria ind ireta, produção de e nergia, man utenção dos tecidos corporais e
porém, na a usê ncia desse recurso, existem fó rmu las contro le da glicem ia."
como a de Ha rris-Benedict ou a de Miffl in-St. j eor, que A argin ina é um aminoácido cond icionalmente ne-
podem pred izer o gastO e nergét ico tOtal com res ulta- cessário que se tOrna essencial em situações de estresse e
dos bem próximos do rea l. 8 Um co nsenso de especia- que é necessário para a deposição de colágeno du ra nte a
listas determ ino u que a faixa de ingestão ca ló rica pa ra cicatrização de feridas e a proliferação linfocitária. Por ser
pacientes em processo de cura de feridas na pele deve- precursora da e nzima óxido nítrico s intetase e de ornitina,
ria permanecer entre 30 e 35kcal/kg/d ia (ca lo rias por a arginina intens ifica a força no tecido formado duran-
qu ilo em 24 h oras). Já para os desn utridos, segundo o te o processo de cura das feridas . A argin ina exerce ação
Na tio nal Pressure Ulcer Advisory Pa ne! (NPUAP), 11 as antioxidante q ue, via óxido nítrico, contribui para evita r
recomendações energéticas deveriam aumentar pa ra 35 que as espécies reativas de oxigên io (ROS) da nifiquem o
a 40kcal/kg/d ia, com o objetivo de oti mizar o processo tecido formado, inibi ndo assim a agregação plaquetária_,.,,;
de melhora da ferida. 1•4•11 Trabalh os tem sugerido uma dosagem o ral de 17 a 30g/
Uma vez gara ntido o aporte de energia, a proteína é dia,1·4•8 embora não exista consenso quanto à util ização da
mais importante para prevenção e tratamento nutricional suplementação desse aminoácido, em razão da ausência de
de feridas, pois trata-se de um nutriente muito requisi ta- trabalhos que o te nham utilizado isoladamente na inter-
do no processo de cu ra e há fortes evidencias de q ue seu venção.
consumo adequado pode auxil iar a prevenção de úlceras. O zinco exerce várias funções q ue contribuem para a
Cabe reforçar q ue esse macron utriente, além de ser fonte cicatrização de feridas: é necessário para a síntese de teci-
de energia, é necessário para o início do processo infla- do de gran ulação, sendo cofato r da DNA poli merase, bem
matório, a síntese de e nzimas envolvidas nesse processo, a como da superóxido d ismutase, e está envolvido na bios-
proliferação cel ular (principalmente das cél ulas do sistema s íntese de DNA e na proteção cel ular contra ROSU·4•11 A
imunológico), a prod ução de colágeno e a formação de te- suplemen tação de zinco pode durar de 10 a 14 d ias, atin-
cido conjuntivo 1 ·1 gindo doses de 40mg/dia via parentera l. Em virtude de
A ingestão de proteínas visa à obtenção de um ba- sua ba ixa biodisponibil idade via o ral - cerca de 20% de
lanço nitroge nado neu tro ou positivo, ou seja, u ma si· absorção efetiva - a suplementação ora l pode ser de 200 a
mação em que a q uantidade de proteínas fornecida ao 220mg/diau.s
orga nismo seja igua l ou superior à q uantidade de proteí- A vitamina C desempenha papel importante para a
nas utili zada. Entre as diferentes fomes de recomendação maturação de fibroblasws e a migração de monócitos,
de proteínas, destacam-se a do NPUAP, por co ncentrar além de ser necessária para a hidroxilação de prolina e lisi·
as melhores evidências na prevenção e tratamento de fe- na, am inoácidos essenciais para a estab il ização da estrutura
ridas. A recomendação visa ao aporte de 1,2 a 1,5g/kg/ trid imensio nal do colágeno. Para a suplementação o ral de
d ia e q ue sejam feitas ava liações rotineiras, tendo em vis- vitamina C são utili zados de 100 a 200mg/dia em casos de
ta s ituações que aumentem as necess idades n utricio nais, feridas em estágios men os ava nçados e críticos. Para feridas
como núme ro de feridas, comorbidades, exsudação da de traumas graves e úlceras de pressão em estágios 111 e IV,
ferida e sa rcopenia.'-4·6 ·8·11 são usadas dosagens de 1.000 a 2.000mg/dia até a melhora
O controle infeccioso e metabólico é essencial para a completa.1·4·11
obtenção de um balanço nitrogenado neutro ou positivo. A vitamina A está relacionada com o aumento do nú-
Isso se deve ao processo de resposta ao estresse ativado pela mero de macrófagos e mo nócitOS d urante a inflamação e
infecção, que libera mediadores inflamatórios (como inter- com a estimulação da epi telização, por aumentar a deposi·
leucinas e fator de necrose tu moral [TN F]) e desencadeia ção de colágeno, sendo capaz de manter a integridade epi-
o processo de proteólise muscu lar para síntese de glicose. telial. Recomenda-se a suplementação com, no mín imo,
Esse processo de gliconeogenese também é mediado por 3 .000~Lg retino] equivalente (RE) ou !O.OOOUI/dia, duran-
hormônios co ntrarreguladores, como cortisol e glucago n, te 7 a 10 d ias.1·4
presentes no processo inflamatório, o q ue também d ifi· Apesar da ação antioxidante e dos beneficios no
culta o controle glicemico, ajudando a entender por q ue p rocesso de cicatrização das feridas atribuídos ao zi nco
o estado nu tricional, o u mais especificamente as reservas e às vitam inas A e C, a suplementação deve ser realizada
corpora is e o co ntrole glicemico, é apontado como fator apenas qua ndo identificada deficiência desses micron u-
de risco para o desenvolvimento de úlceras e reforçando o triemes.1·1·4·8
papel de uma nu trição adeq uada no fornecimento de to- Os lip ídios participam da estrutu ra de membranas
dos os nu trientes necessários, em quantidades suficientes, celu lares e são um importante compo nente no processo
Capítulo n • Nutrição nas Feridas da Pele 397

inflamatório. Estudos com a suplementação do ácido d ifere nças importan tes entre o que é ofertado e o que é
graxo po li-insatu rado õmega-3 mostraram benefício no ingerido até mesmo em pacientes em uso de nutrição via
tratamento de feridas. Os ácidos graxos õmega-3 via so nda.6
ácido eicosapentaenoico (EPA) alte ram a produção de Entre os métodos de avaliação da ingestão alimentar
citocinas proinflamatórias. Em estudo com humanos, que podem ser util izados para o ate ndimento das neces·
McDa niel et a i. mostraram que por me io de es tímu los sidades nutricionais, destaca-se o registro alimentar de 24
da própria ferida ocorre liberação de EPA da membra na horas. Esse método cons iste em registrar a ingestão de tO·
celular, o q ual estim ula a produção de fato r de necrose dos os alimentos e preparações de todas as refeições ser·
tumoral alfa e interleucinas beta e 6. Contudo, a maio· vidas, incluindo líqu idos e suplementos alimentares. O
ria dos trabalhos desenvolvidos com õmega-3 fo i realiza· registro também permite a anotação dos si nais e sintomas
da em an ima is, se ndo inconclus iva sua suplementação que possam ter relação com a a limentação, como náuseas,
em huma nos.s.•o vômitOs, saciedade, tosse e gases.
É importante ressaltar que métodos de avaliação da

FOCO NA PREVENÇAO
- ingestão alimentar exigem um profissional n utricio nista
treinado e capa z de avaliar criticamente as d iferenças entre
Os resultados do uso da alimentação como terapia nu· o consumido e as necess idades estipuladas com o objetivo
tricional são mais eficazes na prevenção das úlceras e me· de estabelecer, co njuntamente com a equipe multidiscipli·
nos eficientes em seu tratamento. Nesse contextO, tOrna-se nar, as melhores estratégias para superar as dificuldades
pri mordia l o cuidado com o planejamento das atividades e ncontradas.18
que visam identificar os pacientes desnutridos e em risco A Organ ização Mu ndia l da Saúde (OMS) sugere um
nutricional, além de estabelecer ações de intervenção, mo- aumento de 1,5 vez das necess idades e nergéticas em des·
nitoramento e avaliação dos resultados das atividades im· nutridos. A faixa de necessidades energéticas pode variar
plementadas. de 25 a 40kcal/kg/d ia e as necessidades proteicas estão na
Com a atenção da prevenção vol tada para o trata· faixa de 1 a 2g/kg/dia.
mento de pacientes desnu tridos e em risco n utricio nal,
os q ue apresentam excesso de peso ficam deslocados das '
ESTRATEGIAS PARA AUMENTO DA
recomendações. Ainda não ex iste conse nso a respeito da
propensão para o desenvolvimento de úlceras de pressão DENSIDADE CALÓRICA E PROTEICA
em pacientes com sobrepeso e obesidade. Os po ntOs mais Um amplo conjunto de medidas d ietéticas pode ser
discutíve is se referem ao faro de o excesso de peso ser utilizado para adequar a alimentação na prevenção e trata·
pro tetor o u exercer uma pressão aumentada na pele, e mento de pacientes com feridas. Podem ser util izadas alte r·
também referentes à questão da mobilidade reduzida, um nativas para aumentar tanto a ingestão de energia como a
forte argumento para q ue o excesso de peso seja conside- de pro te ínas, vi tam inas e minerais. O aumento da dens i·
rado fator de risco para o desenvolvimento de ülceras de dade calórica ou proteica pode ser atingido com a ad ição
pressão.4 àS prepa rações de ali mentos in nat~<ra e/ou suplementos
As ferramentas mais ind icadas para identificação de em pó, como também com a associação de suplementos
pacientes em risco n utricional e com maior tempo de inter· líquidos a suplementos em pó e/ou alimentos in natura.
nação são o NRS 2002, a avaliação global subjetiva (AGS) Alimentos e preparações com umente co nsumidos, como
e, para ind ivíduos idosos, o MAN 16 As estratégias de pre- feijão e sopas, podem ser enriquecidos com ou tros alimen·
venção e tratamento da desnutrição, e consequentemente tOS, como a prote ína textu rizada de soja e a farinha de ar·
das úlceras, devem incluir a triagem nutricional de todos roz, aumentando o teor de proteínas e energia, respectiva·
os pacientes nas pri meiras 72 horas de internação. 17 mente (Quad ro 72.1).
No planejamento da intervenção nutricio nal é fun· Cabe ressaltar que os melhores resu ltados são espera·
damental a avaliação cuidadosa do aporte nutricional dos quando os hábitos ali men tares, cultura is e financei ros
energético, uma vez que a hipoalimentação pode afeta r são considerados e quando o aporte de energia, proteínas
desfavoravelmente o desenvolvimento e o tratamento das e outros nutrientes é simulta neamente atend ido, devendo
úlceras.1•8 To rna-se essencial o acompanhamento da dife. ser cons iderada a necess idade de individ ualização dessas
rença entre a quantidade oferecida e a consumida de ali· orientações dietéticas ante sua aceitação, presença de co·
mentos, energia e n utrientes, uma vez q ue são observadas morbidades e evolução do tratamento.
< 398 PARTE XVIII • Nutrologia

Quadro 72.1 Medidas dietéticas para aumento do aporte de energia e proteína

Preparaçllo lngradlante adicionado Quantidade adicionada Energia adicionada Protelnas adicionadas


lgl !medidas caseiras) lkcal) lgl

Leite em pó 26g 130 6,8


(2 colheres de sopa)

Leite de soja em pó 30g 146 7,5


(3 colheres de sopa)

Albumina 10g 38,5 7,8


(2 colheres de sobremesa)

Amido de milho 20g 70 0,06


(1 colher de sopa)
Vitaminas
Farinha láctea 30g 119 3,8
(3 colheres de sopa)

Farinha de arroz 15g 58,5 0,9


(3 colheres de sobremesa)

Maltodextrina 25g 96 o
(3 colheres de sopa)

Protelna hidrolisada 31g 100 23


em pó (1 medida)

Azeite 8mL 72 o
(1 colher de sopa)

Protelna texturizada 25g 88 14,5


Feijão cozido
de soja triturada (colher de sopa)

Protelna hidrolisada 31g 100 23


em pó (1 medida)

Batata-inglesa 140g 119 2,8


(1 unidade)

Azeite 8mL 72 o
(1 colher de sopa)
Sopas Farinha de arroz 15g 58,5 0,9
(3 colheres de sobremesa)

Suplemento de 6g 6 o
carboidrato sem (1 medida)
sabor em pó

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Capítulo n • Nutrição nas Feridas da Pele 399

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PARTE XIX

,
ESTETI CA FACIAL
AOdontologia na Estética Facial
Ro naldo Rettore Júnior

O equilíbrio e a h armonia da face, ass im como de suas Os modernos conceitos de estética estão voltados para
ações, determ inam a perso nalidade e a aparência de uma o equil íbrio entre a beleza e a harmonia e se referem à
pessoa, além de promover melhor qua lidade de vida. Os restauração da forma e da função dos dentes, tendo capa-
traumatismos e as deformidades facia is podem al terar essa cidade de criar um novo sorriso que se adapte ao estilo de
harmon ia. Fratu ra dos ossos da face, ausência de dentes, vida do paciente e a seu trabalho e posição socia l. A busca
dentes desa linhados dentro das arcadas ou dentes retidos, pelos pad rões de beleza e perfeição das formas e dimensões
lesões tu morais e al terações congên itas (q ueixo grande o u tem levado a uma supervalo rizacão da aparência de cada
pequeno) são exemplos de problemas q ue podem quebrar ind ivíduo den tro da sociedade (Figu ras 73.3 e 73.4).
o equilíb rio facial e alterar a identidade pessoal. A estética dos dentes está relacio nada com cor, textu ra
A odontologia estética atual visa contribuir para a re- e forma . Esta ú ltima talvez envolva a parte mais crítica do
cuperação e/ou manutenção da saüde oral, fornecendo trabal ho, po is não depende das propriedades dos mate-
recursos e soluções viáveis para que se possa reconstruir a ria is, e s im do bom senso do profissio nal. Um método bas-
estética, associa ndo-a aos aspectOs funciona is e biológicos. tante citado pelos auto res e aplicado por muitos clínicos
Para que se obtenha êxitO no tratamento, são necessários para real iza r esse trabalho é baseado na teoria da propor-
um diagn óstico corretO, um planejamento ordenado e ra- ção áurea.z
cional e uma tática operatória precisa. Sendo assim, um
sorriso é considerado esteticamente agradável qua ndo os
dentes estão adequadamente posicionados e alinhados em
-
PROPORÇAO AUREA
'

suas arcadas ósseas, as quais devem estar também correta- A proporção áurea constitui uma fórmula matemática
mente relacionadas. As anomalias dentais ma is comuns que descrita na natu reza, também encontrada nas artes e no
podem interferir na harmonia do sorriso estão relacionadas corpo humano, q ue expressa a proporcio nalidade entre as
com alterações na forma, tamanho, posição, cor e textura panes. Essa relação matemática faz com que pa rtes des i-
em dentes anterossuperiores. A~ anomalias ósseas q ue ma is guais pareçam proporcionais e harmôn icas.
comumente podem promover desequilíbrio estético facial Proporção áu rea, número de ouro, número áureo ou
estão relacionadas com o hipo e o hipercrescimento das proporção de o uro é uma constante rea l algébrica irra-
maxilas e da mandíbula no sentido anteroposterior, assim cional denotada pela letra grega (Phi), em homenagem
como no sentido vertical e tra nsversal (Figuras 73.1 e 73.2). ao escu ltor Phidias (Fídias), que a teria uti lizado pa ra
A odontologia estética vem gan hando cada vez ma is co nceber o Parthen o n, e com o valor arredondado para
destaq ue den tro do contexto geral da odontologia. Uma três casas decimais de 1,618 . Também é chamada de seção
das mais importa ntes tarefas da cosmética dentária é criar áurea (do latim sectio aurea), razão áurea, razão de ouro,
uma proporção harmoniosa na largu ra dos dentes maxila- média e extrema razão (Euclides), divina proporção, d ivi-
res anteriores quando restaurados o u substitu ídos.' na seção (do latim sectio d ivina), p roporção em extrema

403
< 404 PARTE XIX • Estética Facial

Figura 73 .4 Vista clínica frontal intraoral. (Fonte: acervo do autor.)

Figura 73.1 Vista clínica frontal intraoral. (Fonte: acervo do autor.)


razão, d ivisão de extrema razão ou áu rea excelê ncia. O
número de o uro é ainda freq uentemente chamado razão
de Phidias. J.;
Desde a Antiguidade a proporção áurea é empregada
na arte. É frequente sua utilização em pinturas re nascen·
tistas, como as do mestre Giotto. Esse número está envol-
vido com a natureza do crescimento. Phi (não confund ir
com o no mero Pi), como é chamado o no mero de ouro,
pode ser e nco ntrado na proporção das conchas (p. ex., o
náutilus), dos seres huma nos (p. ex., o tamanho das fala n-
ges, os ossos dos dedos) e nas colme ias, entre in ü meros
outros exemplos que e nvolvem a o rdem do crescimento
(Figura 73.5).

Figura 73.2 Vista clínica de perfil esquerdo intraoral. (Fonte:


acervo do autor.)

Figura 73.3 Vista de perfil da face. (Fonte: acervo do autor.) Figura 73. 5 Vista da proporção áurea nas falanges.
Capítulo 1J • A Odontologia na Estética Facial 405

Por estar envolvido no crescimento, esse n ümero é PROPORÇÃO ÁUREA ESEOUÊNCIA DE


tão freq uente. E em virtude dessa frequencia, o nümero FIBONACCI
de ouro ganhou o staws de "quase mágico", sendo alvo de
Uma série de n ümeros que tem uma característica es-
pesquisadores, artistas e escritores.
pecial de regressão foi exposta, no ano de 1202, no livro
A partir da Antigu idade, vários filósofos, artistas, ar-
denominado Líber Abacci (o livro do ábaco), onde também
quitetos e outros estud iosos se interessaram pelo estudo
se encontra descrita grande quantidade de temas relacio-
das relações entre as proporções e a natureza.6 O filósofo
nados com a aritmética e a álgebra da época, desenvolvidos
Pitágoras descreveu a proporcão áurea para explicar a essên-
por Leonardo de Pisa (1 175-1250), posteriormente iden-
cia da beleza na natureza e sua relação com as proporções
tificado como Leonardo Fibonacci (filho de Gu iliermo
matemáticas. 7 Essa proporção foi usada na arquitetura
Bonacci) e ma is recentemente identificado em suas obras
da Grécia, na construção do Parth enon (Figura 73.6), e
apenas pela pa lavra Fibonacci. Com esse e outros traba-
também nos desenhos clássicos de Leonardo da Vinci, lhos, como Practica Geometriae (1 220), Líber Q.,adratorum
em 1509, na representação da Mona Lisa e do Homem
(1 225) e Ros (1225), Fibonacci cooperou de maneira im-
Vitruviano (Figu ra 73.7A e B).
portante para o desenvolvimento matemático da Europa
nos séculos segu intes. Posteriormente, esses nümeros em
série ficaram conhecidos como sequencia de Fibonacci e
deles foram extraídos conclusões até então in imagináveis 8
Nessa sucessão matemática, cada nümero é obtido
pela soma dos dois ültimos dígitOs, ou seja, 1, 1 (I + 1)
2, (2 + 1) 3, (3 + 2) 5, (5 + 3) 8, (8 + 5) 13, (1 3 + 8) 21... '
conti nuando em uma sequencia infin ita.
Em todo o Un iverso está presente "a marca", ou a pre-
sença de Deus, responsável pelo fenômeno simétrico da
natu reza. Ela é constatada por meio da proporção áu rea
proven iente da sequencia de Fibonacci, q ue se mostra pre-
sente como "o sina l d ivino" em toda a natureza 9 Nas flo-
res, árvores, ondas, conchas, fu racões, no rostO simétrico
do ser huma no, em suas articulações, batimentos ca rd íacos
e em seu DNA, assim como na refração da luz proporcio-
Figura 73.6 Proporções áureas no Parthenon (Grécia). nada pelos elétrons dos átomos, nas vibrações e em outras

Figura 73 .7A e B Mona Lisa e o Homem Vitruviano (Leonardo da Vinci).


PARTE XIX • Estética Facial

manifesrnções da Criação, como nas galáxias do Un iverso PROPORÇÃO ÁUREA E A ODONTOLOGIA


imensurávd, e>.-.e ~inal e:.tá pr~ente. A relação da série de A aplicação da proporção áurea na e.-.tética dental foi
Fibonacci com o nümero de ou ro em sequt!ncia numérica descrita inicialmente por Lomhardi, em 1973,'0 e depOiS,
e geométrica parece ~er "a marca" de um "<kligner" - a "im· pOr levin, em 1978,'1 que a u~ou para relatar a~ suce>.~ivas
p~ão digital" da Criação. Con~truindo esse quadrado e larguras dos dent~ anteriore.-, com o objetivo de auxiliar a
de.~enhando um arco, l!.'>.'>e padrão começa a construir as seleção e a montagem de......e.-. deme~.
forma~ denominada~ a e~piral de Fihonacci (Figura 73.8). A aplicação d~ propOrção é ha..eada na largura mesio-
Em wdo o Universo, a proporçiio áurea encontra·se di>tal aparente dos dentes amerio~. quando analisados em
pre.~ente, tanto na propaf:ação do:. átomos, na forma da es- uma vista frontal. A propOrção di,ina ocorre quando a largura
piral de Fibonacci, como na refração da luz, na~ correntes do inciSivo central está em proporção áurea com a largura do
magnética~ gerada~ pelos hu racos ne~lfOS e nas formas de inciSivo lateral e est~ em proporção com a la~'tJra do canino.
muirns ~-aláxia~ (Figura 73.9). Para se encontrar a razão ideal, a largura do incisivo central
A utilização des~ ~istema numérico para construção deve ser multiplicada por um valor definido como propOrção
de um retângulo com dois números interligados dessa se· áurea, que é de 0,61803, ou aproximadamente 62% - em OU·
qut!ncia forma o cha mado retâ ngu lo de o uro, considerado rras palavras, para a propOrção divina o incisivo central deve
o formatO reta ngu lar mais belo e apropriado de todos. O ser 62% maio r que o lateral e ~te 62% maior que a visão
retângu lo de o uro , quando divid id o por quadrados pro- mesial do canino. Sendo assim, a proporção entre os demes é
porcionais ~ sequência de Fiho nacci, alarga seu conjunto notada a partir dos incisivos centrai~. em d ireção aos elemen-
consoante a su ces.~ão de Fihonacci (Figura 73.10). tOS dentários posteriore~.12 ExiMe algo na proporção áurea que
age pOderosamente d e maneira suhli minar no senso esrérico
do apreciador" (Figura~ 7>.1 1 e 7'3. 12A a D).
Em 200'3, Mondelli,. e:.crewuum capíw lo sobre propor-
ção áurea no lh·TO Estética & Cosmética em Clínica Integrada
que, sem düvida, é o relato mab completo di>ponível na li·
teratura odontológica sobre o tema, tendo como finalidade
seu entendimento e ~ua aplicação na-. reabilitaçõe.~ estéticas,
desde as unitári~ até a\ torni.\, independente do material ou
das técnica~ adorada-.. Além &....,o, d~t!\-e de maneira pOr·
0, 1,1,2.• menorizada alguma~ regra~ elaborada~ por diwrsos autores
que relacionam a propOrção ãurea encontrada nos denres
Figura 73 .8 Esp~ral de Fibonacci.
e como aplicá-las no.-. procedimento:.. O próprio Mondelli
explica suas reblfa~ e fómmla-. para encontrar a proporcio.

Figura 73.9 Espiral de Fibonacci na representação das galáxias.

1,618 1,0 0 ,618


2
3
l l
MENOR (AB) 0,618
8 ----:----:-:- - - - "' 0,618
MAIOR (BC) 1
5
Figura 73.11 Análise matemática da proporção áurea. (Fonte:
Figura 73 .10 Aetangulo de ouro de Fibonacci. Soares et ai.. 2006.1
Capítulo 1J • A Odontologia na Estética Facial 407

.. ______
5 5

6
Figura 73 .1 2A Presença da proporção áurea entre os incisivos centrais e laterais. 8 Ausência da proporção áurea entre os incisivos
centrais e laterais. C Presença da proporção áurea entre o incisivo lateral e o canino (lado esquerdo). O Ausência de proporção áurea
entre os incisivos laterais e caninos. (Fonte: Soares et ai., 2006.)

nalidade que deve existi r entre os dentes naturais anterio- Mu ltiplica ndo-se a metade da largura do sorriso por
res superiores e como aplicá-las nas reabilitações dentárias. 0,618, obtém-se o valor aparente do segmento dentário a n-
Mediante a medida da largura e do comprimento dos incisi- terior do incis ivo central até o ca ni no; o valor do segmento
vos centrais superiores, aplica ndo sobre ambos d uas fórmu- dentário anterior mul tiplicado por 0,618 estabelece a lar-
las por ele elaboradas, é possível e ncontrar a largura e a altu- gu ra do corredor buca l (Figu ra 73.14A e B).
ra dos incisivos laterais e can inos superiores em proporção
áurea com os incisivos centrais.
A fórmu la mais s imples desenvolvida por Mo ndelli é:
LC = 0,155 x LS, onde LC é a largura do incisivo central,
O, 155 é uma consta nte e LS é a largura do sorriso. A~sim,
por meio dessa fórmula é possível encontrar a largura do
incis ivo central. A partir daí, obtêm<;e a largu ra e a altura
dos dentes anteriores superiores, bastando aplicar os valo-
res da proporção áu rea (Figu ra 73.13).

Figura 73 . 14A e 8. Proporção áurea entre os incisivos central e


Figura 73.13 Proporção áurea entre os incisivos central e late- lateral associados à mesial do canino e sua relação proporcional
ral e a mesial do canino. (Fonte: acervo do autor.) com o corredor bucal. (Fonte: acervo do autor.)
< 408 PARTEXIX • Estética Facial

Na odontologia, a estética deve também segu ir certos Após a perda dos dentes naturaL>, observa-se o rápido
parâmetros matemáticos e geométricos que, qua ndo em- in ício de alterações ósseas nos maxilares, uma vez que o osso
pregados pelo clin ico ou técn ico de laboratório, possam alveolar não recebe ma is os estímu los locais fornecidos pe-
proporciona r restaurações com aparência agradável e har- los dentes e ligamentos periodonta is, in iciando a reabsorção
mônica. No entanto, essas leis não devem ser vistas como óssea. O padrão específico de reabsorção é imprevisível para
imutáveis, mas apenas como um auxílio aos profissiona is. cada paciente e ocorre grande variação entre os individ uos.16
A análise científica cuidadosa de sorrisos harmônicos mos- Farores sistêmicos gerais e locais são responsáveis pela
trou que essa proporção regress iva de aparecimento, jun- grande variação na quantidade e no padrão de reabsorção
tamente com a simetria, a gradação e a dom inância, pode do osso alveolar. Fato res gerais incluem a presença de ano r·
ser sistematicamente aplicada para aval iação e melhora da ma lidades nutricionais e doenças ósseas sistêmicas que afe-
estética dentária de modo previs ível. 12•1; tam o metabolismo ósseo, como osteoporose e disfunção
endócrina. Os fato res loca is que podem afetar a reabsorção
óssea incluem técn icas de alveoloplastia usadas na época
AUSÊNCIAS
,
DENTÁRIAS E RELAÇÃO COM A
das extrações e traumatismo loca lizado ou associado à per-
ESTETICA da da crista óssea alveolar.';
A perda de elementos demais provoca alterações sign i- Em muitos pacientes, essa reabsorção te nde a se esta-
ficativas nos maxilares, as quais acontecem tanto no plano bil izar após certO período, enquanto, em ou tros, há con-
vertical como no horizontal. Esse processo é continuo e se tinuação in interrupta do processo, podendo resu ltar na
manifesta por meio de mudanças anatõmicas e funcionaL> ao perda total do osso alveolar e do osso basal subjacente. Os
paciente. Apesar do grande progresso cientifico e tecnológico resultados dessa reabsorção são acelerados pelo uso de pró·
da odontologia, milhões de pessoas em todo o mundo sofrem teses totais removíveis (dentaduras) desadaptadas ou pela
com a perda parcial ou tOtal de dentes (Figu ras 73.15 e 73.16). distribuição imprópria das forças oclusais, afetando a man-
díbula mais gravemente do que a maxila, em razão da d imi·
nu ída área de suporte e de distribuições menos favoráveis
das forças oclusa is 16 (Figuras 73.17 e 73.18).

Figura 73.17 Radiografia panorâmica de paciente edêntulo to-


tal. Note a grave reabsorção óssea alveolar, incluindo fratura do
Figura 73 .15 Vista intraoral com dentes. (Fonte: acervo do autor.) corpo mandibular. (Fonte: acervo do autor.)

Figura 73 .16 Vista intraoral: ausência dentária. (Fonte: acervo Figura 73.18 Tomografia do caso apresentado na Figura 73.17.
do autor.) (Fonte: acervo do autor.)
Capítulo 1J • A Odontologia na Estética Facial 409

Processo de reabsorção óssea alveolar


pós-exodontia
A perda dos elementos denta is se dá por:
• Decorrência de traumatismos alveolodentais.
• Processos patológicos q ue ocorrem em co nsequência de
alterações infecciosas.
• Utilização de substâncias tóxicas q ue podem acelerar a
eliminação do dente do interior de seu alvéolo.

Os fatores constitucionais e ambientais podem influir


na maior ou menor permanência dos dentes em suas arca-
das. Essas perdas dentárias podem variar segundo o indiví·
duo e também segundo a raça 18
O osso alveolar apresenta um comportamento de tO·
tal independência em relação aos ossos maxilares (maxi la
e mandíbula). Essa característica ímpar está relacionada
com o fato de que o osso alveolar forma-se às expensas
do desenvolvimento do germe dentário. Entretanto, após
a perd a do elemento dental, inicia-se o processo de ci-
catrização primári a do alvéolo. Primeiramente, fibras
colágenas se organ izam em uma matriz reticu lar, que é
gradualmente mineralizada por afl uxo de cálcio e fosfatO;
surge assim uma pequena esp ícu la, que cresce pela depo-
sição óssea em uma superfície. Progressivamente, espicu-
las adjacentes irão se fundir e formar as trabécu las ósseas.
Esse osso, chamado esponjoso, pode tornar-se compacto
em razão da maior deposição óssea no rebordo alveolar
res idual. Entretanto, ao mesmo tempo que ocorre esse
processo de reparação óssea, ocorre paralelamente a reab-
sorção das pa redes do alvéolo, devido à perda da função
mastigatória. O resultado final é a cicatrização com perda
óssea 19 (Figuras 73.19 e 73.20). Figuras 73.19 e 73. 20 Relação intermaxilar preservada com a
presença dos dentes e diminuição da dimensão vertical após a
A involução do processo alveolar corresponde ao adel-
perda dos dentes .
gaçamento e à reabsorção das paredes do alvéolo, e o re-
bordo residual poderá vir a ser uniforme, se as extrações
dentais forem real izadas na mesma época, ou com vários
Altura do
desníveis, se feitas em épocas diferentes. 10 rebordo ( mm)
Em detalhado estudo longitudinal, Talgren (1972)
30
pôde verificar que, embora a maior proporção da perda
de osso ocorra no primeiro ano após a perda do dente,
o processo conti nua lentamente, fato este verificado até 25

mesmo após o controle de 25 anos. Pela interpretação do


gráfico apresentado na Figura 73.21, nota-se que, em geral,
20 Mandíbula
a quantidade de osso reabsorvido na mandíbula é quatro
vezes maior do que na maxilan
15 Maxila
Idade
Alterações ósseas e musculares da face após (anos)
extrações dentárias 1 3 10 25

Ao mesmo tempo que a crista alveolar da mandíbula Figura 73 .21 Gráfico demonstrando a variação da altura da cris-
inicia seu processo de reabsorção, ocorre a superficializa- ta alveolar 25 anos após extração dentária. (Fonte: com base em
ção das estruturas neurom usculares nela inseridasn Talgren. 1972.)
< 410 PARTEXIX • Estética Facial

As principais alterações nos músculos mastigatórios e Alterações estéticas da face após extrações
faciais ocorrem em seu posicionamento e também na ação, dentárias
tornando-se mais flácidos em razão da d iminuição do tô- A~ al terações intrabuca is provocadas pela perda d os
nus muscular. Isso traz consequencias desagradáveis ao pa- dentes se refletem, também, na morfologia facial. Watt &
ciente do ponto de vista estético e funciona l, sobretudo MacGregorn compararam a musculatura peribucal e facial
q uanto à estabilidade das próteses. a uma cortina sobre a maxila e a mandíbula. A perda d os
O sulco vestibular e lingual tem sua profundidade dentes anteriores remove a sustentação dessa cortina, pro-
determ inada pelas fixações dos múscu los da mími ca e vocando um colapso da musculatu ra peribucal, e ncurtan-
do assoa lho b ucal. Com a continua perda do osso al- do o músculo bucinador e, consequentemente, alterando
veolar, após a perda dentária, os múscu los vão progres- o contorno dos lábios. O contorno dos lábios pode forne-
sivamente se rornando mais superficiais (F iguras 73.22 cer uma boa o rientação para o posicionamento dos dentes
a 73.25). anteriores durante o planejamento de uma prótese, pois

M. depressor do lábio (2)


M. depressor do
ânguiQ d_a_boca (3)
FACE VESTIBULAR DA FACE VESTIBULAR DA
MANDÍBULA DENTADA (CLASSE I) MANDÍBULA DESDENTADA (CLASSE V)

Figura 73 .22 Ilustração demonstrando as alterações musculares na mandíbula após exodontias e reabsorção óssea alveolar. (Fonte:
Rettore. 2008.)

Figura 73 .23 Vista clínica intrabucal confirmando as


alterações musculares na mandíbula após exodontias e
reabsorção óssea alveolar. (Fonte: acervo do autor.)
Capítulo 1J • A Odontologia na Estética Facial 411

M . levantador do
ângulo da boca (5)

(5)

~"r-· M. compressor
e diTatador do
nariz (1 e 2)
M. depressor do
septo nasal (3)

(3)

ASPECTO VESTIBULAR DA ASPECTO VESTIBULAR DA


MAXILA DENTADA MAXILA DESDENTADA

Figura 73.24 Ilustração demonstrando as alterações musculares na maxila após exodontias e reabsorção óssea alveolar. (Fonte:
Rettore, 2008.)

Figura 73.25 Vista clínica intrabucal demonstrando as altera-


ções musculares na maxila após exodontias e reabsorção óssea
alveolar. (Fonte: acervo do autor.)

o colapso após a perda dos dentes é facilmente recon he- Figura 73.26 Vista clínica frontal demonstrando as alterações
cido (Figu ra 73.26). Os principa is contornos de valor são estéticas da face após exodontias e reabsorção óssea alveolar.
o ângulo naso lab ial e a relação de co ntato e ntre os lábios Note a depressão do lábio superior. (Fonte: acervo do autor.)
superior e inferior.

e mbaraço social para o portador de prótese tota l re movível


Efeitos psicológicos da perda dentária constituem a preocupação à qual se d eve endereçar o pro-
Os efei tos psicológicos da perda total dos d entes são fissional de Odontologia. 16
complexos e variados, em uma gama que va i da condição O objetivo da odontologia moderna é devolver a sa üde
de m ín ima alteração ao estado neurótico. As necess idades bucal aos pacientes de modo previsível. O paciente total
psicológicas d os pacientes desdentados são expressas de ou parcialmente desdentado pode estar imposs ibilitado
várias maneiras. Nos EUA, o gasto de milhões d e d ólares de recuperar suas funções mastigató rias normais ao usar
com adesivos para dentadu ras, no intu ito de aumentar uma prótese convenciona l, assim como a fo nação, a estéti·
a retenção das próteses removíveis, é um exemplo disso. ca e o conforto prod uzido por essas próteses podem estar
Claramente, a falta de retenção e o r isco psicológico de compro metid os. As funções mastigatórias de um paciente
( 412 PARTE XIX • Estética Facial

porrador de prótese removívl!l convencional podem estar


diminuídas em até 60%, em relação à dentição normal. No
ema mo, uma prótese ~uportada por implantes pode de,-ol-
ver a~ funções ma-.tigatória~ a limit~ qua..e nonnaisY

lmplantodontia: uma alternativa terapêutica


A odontologia precbava empregar e..,forç~ e habili-
dades clínica; comideráveb para ajudar o_., pacientes que
sofriam dos efeitos da perda parcial ou total dos elemen-
tos demais. Os implant~ demab começaram a ser feitos
em torno da metade do século XX. Os primeiros tipos de
implantes passaram a ter um uso relativamente comum
du rante os anos 1960, devido à gra nde demanda dos pa-
cientes desdenwdos.
Em maio de 1982, na Co nferência de Toronto, a odon·
tologia tomou conheci mento dos trabalhos científicos
de.~envolvidos na Suécia sobre a interface osso-implante,
a qual foi denominada osseointegração. Esse novo co ncei-
to baseou-se na inserção atraumática do implante no osso Figura 7 3 .28A Vista clínica frontal intra-oral. B Dente 21 com
remane.~cenre e no retardo da sobrecarga funcional sobre fratura radicular e prognóstico desfavorável. {Fonte: acervo do
autor.)
ele. Esse.~ dois fatores contribuíram para um grau de pre-
dição muito maior do que o pn~viameme pos.~ível. A equi-
pe de pesquisa da Suécia, liderada por P. I. Branemark,
comunicou 9 1% de HJcesso nos implantes colocados
na mandíbula, em um período de 15 anos. Em 1985, o
Conselho de Terapêutica em Odontologia da American
Dental A">sociation (ADA), que ainda não havia aprovado
nenhum tipo de implante, c~leu aceitação provisória ao
sL~rema Branemark (Figura 7'3.27), o que pos:.ihilitou o de-
sem-olvimenro de outros ;btema~.z4
.. ...
A reabilitação com implan~ (h\eointé{,>T3d~ oferece \
aos pacientes, além da recomJ><»ição e.tética {re.taurando
contorno Ó-"-~eo. gengival e mll'>cular), a devolução da função
mastigatória, mantendo todo o :.btema e>tomatognático está-
vel e com altas prevbihilidade e longevidade, à diferença de Figura 73. 29 Vista clínica frontal intraoral: extração do dente
outra.~ técn icas reabil itadora.~ {Figuras 73.28A e B a ?'UI). 21 e instalação de implante imedoato ao ato corúrgico. (Fonte:
acervo do autor.)

Figura 73.3 0 Vista clínica frontalontraoral. Estética e função fo-


ram restauradas.Todos os procedimentos foram realizados em
Figura 73.27 Doversos modelos de omplantes Branemark. (Fon- uma única sessão: extração dentária + enxeno ósseo + implante
te: acervo do autor.) + prótese provisória imediata. (Fonre: acervo do autor.)
Capítulo 73 • A Odontologia na Estética Facial 413

Figure 73 .3 1 Radiografia periapical.


Figura 73.32A Enxerto horizontal. B Enxerto vertical.

Reconstruções ósseas da face (enxertos ósseos) roenxertn define transplante de tecido ósseo de determ ina·
associadas à implantodontia da área para outra em um mesmo indivíduo. O transplante
A reab ilitação com implantes o:.seoimegrados é uma ósseo é um procedimento cirúrgico de rotina de.~de o ini·
real idade odontológica com alto índice de sucesso e pre- cio da década de 1920.
visibilidade. Entretanto, o grande desafio amai dessa es- Na concepção moderna dos implantes dentários, es-
pecialidade odontológica con., bte em tratar dos pacientes tes são inseridos juntOs ao OSM> alveolar, na chamada os·
que, além de terem perdido os dentes, também tiveram seoimegração. De'\.~e modo, é importante ter osso para a
perdas óssea'> a;,;,ociada., a con:.equenre:. alterações estéticas instalação do implante. Na maioria da, perdas dentárias,
do contorno facial. ocorre algum tipo de perda <h.'>ea 3.'-'><lCiada (Figura 73. 32A
Há, desse modo, a nece:,..,idade de cirurgia~ reconstru- e B). Para reposição de:..'a perda exhrem 3.\ cirurgia\ de re-
tiv:t.~ do arcabouço Ô"-'>t!O que foi reab:.orvido para que a posição óssea ou cirurgia dos enxerto:. 6:..\e<l.\. A repo.\ição
área das arcada'> dentária., envolvida:. possa :.er reabilitada poderá ocorrer tantO no sentido horizontal como no sen·
com implantes e próteses fixa:.. tido vertical, pob a atrofia (perda) Ó-'-'ea (lCOrre em ambos
Os procedi me mo;. recon:.trutivo:. ó:.seo:. são realizados os sentido.~.
com o objetivo de restaurar a anatomia da maxila e mandí- O osso a ser enxertado pode ter, ha.,icamente, trê> o ri·
bula, devolvendo o contorno tanto no sentido horizontal gens diferentes:
como no sentido vertical da crbta óssea alveolar. Esses en- • Osso a utógcno (au tólogo): <l.%0 o riginado do osso do
xertos ósseos têm diversas origens: autógeno (do próprio próprio paciente, o que quer dizer que será retirado de
paciente), homógeno (de ind ivíduo da mesma espécie) ou outras partt!S do organ ismo, as denominadas áreas doa·
heterógeno (oriundo de outra espécie). dora~. Existem áreas doadoras intrabucais e extrabuca is.
O que irá defini r se o osso ser:\ retirado de dentro o u de
fora da boca é a qua ntidade exigida para reposição ós·
ENXERTOS ÓSSEOS E ESTÉTICA FACIAL sea. Uma área referente até q uatro demes ausentes pode
A repa raç.'io e a reco nstrução de defeitOs ósseos têm ser recomposta com osso autógeno de área doadora in-
uma longa histó ria. Os cirurgiôes do perí(xlo pré-incaico, trabucal.
em 3000 a.C., j:\ usavam conchas e placas de ouro e prata Áreas ma iores do que quatro elementos dentários
para o fechamento de orifícios de trepanação craniana. A ausemes exigem zonas de doação loca lizadas em outra
rrepanação - remoção de uma ;,ecção óssea circular da ca- parte do corpo. Em gera l, as :\reas de eleição são crista
lota craniana - consiste na inter\'enção cirúrgica mais an- ilíaca (Figura 73. 33) ou calma cran iana (cabeça).
tiga de que se tem conhecimento. Em 1821, Philip Walter • O sso homógeno (h omólogo): (>;.;,o originado do osso
utilizou enxertos ó;..~e<lS autógeno., (do próprio paciente) de outra pessoa, o que quer dizer que o o:.so é de um
para reconstrução de defeitos ó"~e<ls, sendo considerado doador não vi") (cadáver). Em geral, <l.' bancos de os-
o primeiro cirurgião a empregar e.':.a técnica. O termo au- sos (osso homógeno) devem 'er cre<lenciado:. junto à
( 414 PARTE XIX • Estética Fac1al

para recompo;ição da_., perda.~ ósseas alveolares, principal·


mente se a intenção é preparar o leito para recehimenm de
implantes dentário,'>.
Como o osso autógeno é cons iderado a melhor es·
tratégia pa ra recompos ição óssea, a ci rurgia envolve d uas
áreas operatórias: uma recepto ra e uma doado ra. Dessa
mane ira , quando a quantidade de reposição óssea suge-
re a e.~colha de uma área doadora intrahucal, o proced i·
memo devo! ser realizado sob anestesia local, associada a
sedação endov<!no;.a, o que promo"e confono ao paciente
com ausi!ncia completa da sensação de dor. Em ca~o de
Figura 73.33 Crista llíaca.
escolha de uma área doadora exttabucal, a cirurgia ;.erá
realizada em ambieme ho;pitalar, sob anest<!sia g<!ral. Em
Anvba e não podem vender, uma vez que é proibida a casos especiais, poderá :.er utilizada apenas a anestesia lo-
vend a de órgãos no Brasil. O Ministério da Saüde e a ca l, a qual é capaz de evitar a sensação dolorosa.
Anvisa, por meio da RDC 220, de 27 de dezembro de Como em todo procedimento ci rllrgico, é necessório
2006, rt!gulamemam a utilização do banco d t! tecidos que o cirurgião f.1ça uma pesqui.~a completa do estado geral
pa ra o ci rurgião-dentista. Te.~res imunológicos irão defi· de saúde do paciente à ci rurgia de enxerto ós.~eo. Ele dew
n ir a au~ncia de contam inação hacteriana, virótica o u apresenta r boa saúde e pa.~sar por uma revi.~ão dos exames
de qualquer outro microrganismo. laboratoriais e ava liação dt! risco cirllrgico (realizado pelo car·
• Osso heterógeno ( heterólogo): os.~o originado do osso diologisra). Além da revbão da saúde geral, será importante
de doador de outra espécie (não humana). Normalmen· avaliar a saúde bucal. A recomposição óssea alveolar por meio
te, a origem é bovina (boi). Vários fragmento~ de os.~o da cirurgia de enxerto Ó.'>.'>éO >Omeme deverá ser realizada no:.
lxwino, tanto na área e.xterna como na imema (corri· casos em que houver au!>ência de cáries, dentes fraturado;.,
cal e medular), são esterilizados e proces:.ado~ para lL~O inflamações ou infecç1'lel, gengivais, ou seja, o paciente deve
odontológico, :.endo comercia lizados tanto como blo- apresemar.;;e com lx1:1.., condições de sallde geral e bucal.
cos porosos como parriculados. Há limite mínimo de idade, mas não há limite máxi·
mo, ou seja, a idade avançada não é comraindicação para
Os três mod elos disponíveis apresentam vantagens e a ci ru rgia de e nxerto ósseo. O paciente com boa sa üde
d esvantage ns. Entretanto, com base e m revisão da litera· pod erá se su bmeter a essa ci rurgia. Entretanto, a c irurgia
rura recente, as pesqu isas são unânimes em afirmar que não deve rá ser rea lizada em criancas , em fase de cresci·
o osso autógeno é considerado o padrão-ouro, não sendo mento, pois poderá alterar o padrão de desenvolv imento
superado por nenhum outro tipo de hiomaterial (material ósseo (Figura 73.35). Em geral, a idade minima é de 17
usado no organismo).
D~-.é modo, apesar de apre.~entar como (lnica des...-an·
tagem a nece.....,idade de outra área cir(lrgica, chamada área
doadora, o o:,~o autógeno é o melhor material de escolha

Figura 73 .35 Criança em fase de crescimento e desenvolv~


Figura 73 .34 Área intrabucal: anestesia local associada à seda- mento ósseo: contraindicação para cirurgia de enxerto ósseo.
ção endovenosa. (Fonte: acervo do autor.) (Fonte: acervo do autor.)
Capítulo 73 • A Odontologia na Estética Facial 415

anos para as mulheres e de 18 anos para os homens. Na


modalidade cirúrgica que se uriliza de osso autógeno (do
próprio paciente), são mínima~ a~ chances de reação imu-
nológica, uma wz que ~e trata do o~so do mesmo organis-
mo. Entretanto, poder:\ ocorrer a perda do enxerto por
processo~ inflamatório~ ou infeccio~o~. Para minimizar as
possibilidade~ de imuco~o. deve ~er e..,colhido um bom
proCissional, ohter o mâximo de informações ames da ci-
rurgia, seguir as orientaçi'le~ do cirurgião e manter acom-
panhamentO durante todo o processo de cicatrização (em
torno de 6 meses).

Reabilitação estética e funcional com enxertos e


implantes Figura 73.37 Vista intraoral: enxerto ósseo reconstruindo o ar-
cabouço alveolar. (Fonte: acervo do autor.)
A pa rtir de um bom planejamento, é possível a re-
construção completa das arcadas superior e inferior dos
pacientes uti lizando-se d e e nxertos ósseos a.~sociados aos
implanres dentários. O planejamento in icia-se pelo perfil
Je prótese que o paciente deseja ou possa utilizar. A partir
Jo e.~rudo prOtético, definem-se quantos implantes e em
qual distribuição geométrica na arcada ele.~ deverão ser ins-
ta lados. De J)<)Sse do mm.lelo protético, rea lizam-se coma-
das radiogrâficas e tomográficas para avaliação da arquite-
tura óssea alveolar, com o objetivo de n~rificar a existência
de remanescente ósseo na.., âreas ontle se de...eja instalar os
futuros implantes.
Caso não exbta quantidade <'>:...,ea ~uficieme, deve se
realizar o planejamento prt!vio de enxertOs ó>-'leos nas áreas
de imere.,.,e. Após período de remodelação óssea dos en-
xertos realizados, proced~e à instalação dos implantes
nos locais previamente planejados. Após novo período de
cicatrização, realiza~e a confecção das prótese.~ Cinais, que Figura 73 .38 Radiografia panorâmica com o enxerto. !Fonte:
poderão ser removiwis ou fixa;, dependendo do planeja- acervo do autor.)
mento inicial (Figuras TU6 a 73.51).

Figura 73.36 Vista tntraoral: atrofia óssea. (Fonte: acel'./0 do


autor.) Figura 73.39 TC com o enxerto ósseo. (Fonte: acel'./0 do autor.)
< 416 PARTE XIX • Estética Facial

Figura 73.44 Prova da estrutura metálica. (Fonte: acervo do autor.)

Figura 73.40 Enxerto ósseo consolidado. (Fonte: acervo do autor.)

Figura 73 .45 Vista oclusal da estrutura. (Fonte: acervo do autor.)

Figura 73 .41 Radiografia panorâmica: implantes instalados.


(Fonte: acervo do autor.)

Figura 73.46 Prova da estrutura metálica. com dentes indivi-


dualizados e porcelana gengiva!. (Fonte: acervo do autor.)
Figura 73.42 Vis ta clinica intraoral. (Fonte: acervo do autor.)

Figura 73.47 Instalação da prótese final em porcelana no arco


Figura 73.43 Implantes instalados no rebordo alveolar recons- superior reconstruido com enxerto ósseo e implantes osseoin-
truido. (Fonte: acervo do autor.) tegrados . (Fonte: acervo do autor.)
Capítulo 1J • A Odontologia na Estética Facial 41 7

Figuras 73 .48 e 73 .49 Vista clí-


nica frontal após as perdas dentá-
rias e reabsorção óssea alveolar e
ao lado após reconstrução óssea
e instalação dos implantes e pró-
teses dentais. Note a alteração
estética da musculatura peribucal
após o tratamento restaurador.
(Fonte: acervo do autor.)

Figuras 73. 50 e 7 3. 51 Vista clíni-


ca de perfil após as perdas dentá-
rias e reabsorção óssea alveolar e
ao lado após reconstrução óssea
e instalação dos implantes e pró-
teses dentais. Note a alteração
estética da musculatura peribucal
após o tratamento restaurador.
(Fonte: acervo do autor.)

'
DEFORMIDADE DENTOESQUELETICA E do anteroposterior), como um gra nde crescimento da
'
ESTETICA FACIAL maxila no mes mo se ntido. Ambas as situações geram
uma defo rmidade classificada como C lasse li d e Angle
Deformidades facia is ou deformidades dentoesque-
(Figura 73.52).
léticas são alterações nas proporções dos ossos da face
- maxila (superior) e mand íbula (inferior) - acarretando
desoclusão (falta de enca ixe entre os dentes superiores
e inferio res). Quando o crescimento dos ossos da face
ocorre fora dos padrões anatõm icos ideais, em virtude de
fatores etiológicos d iversos, em q ue se destaca o genético,
haverá d esarmonia do sistema mastiga tório e da estética
facial.

Classificação das deformidades esqueléticas da


face
As deformidades dentofacia is apresemam~e em do is
tipos de classes principais d escritas na literatura científica.

Micrognatismo ou retrognatismo
A mandíbu la (parte inferior) é menor do que a max ila
(pane superior) . Nesse caso, tantO pode ter havido um
pequeno crescimento ho rizontal da mandíbu la (senti- Figura 73.52 Micrognatismo ou retrognatismo.
( 418 PARTE XIX • Estética Facial

os dentes não conseguem triturar os alimentos correta·


me me (complicação d irem).
• Problemas n o sistema digestivo: como não conse~:ue
triturar hem os alimentos na boca, o paciente rran~mite
o bolo alimentar para o estômago e o ime.tino em con·
dições inadec.1uadas, o que cau-.a dore~ de e>t('mago e
incapacidade de absorver a.., proteina.., e vitamina~ do>
alimentos (complicação indireta).
• Dores musculares: es,-;a deformidade caw.a alteraçõe>
nas bases 1\'>.~eas; no entanto, O> mú>culo> que e.tão in·
seridos nesses ossos também sofrem dano>, rt.~ultando
em dores musculares (mialgia.~) e estiramento ou contra·
ção de roda a musculatura da face.
• Dores de cabeça: a articulação da mandíbula como par·
Figura 73. 53 Macrognatismo ou prognatismo.
te integrante desse conjuntO (dentes, ossos e músculos)
também irá apresentar-se deslocada, provocando como
Macrognatismo ou prognatismo complicaçôes os f."lmosos clicks e esta lidos na articula·
A mandíbula (pane in(erior) é maiorque do que a ma· ção. As principa is consequencias de.~sa má posição da
xila (parte superior). Nesse caso, ramo pode ter havido um arti culação da mandihu la são as dores de cabeça, distri·
grande crescimento horizontal da mandíbu la (senrido ame- buidas pelas parres frontal e latera l da cabeça.
roposterior), como um pequeno crescimento da maxila no • Perda dos dentes: essa deformidade ('>.%ea provoca altera·
mesmo sentido. Ambas as ~iwaç<"\es geram uma deformida- ção de posicionamemo do..~ dentes e, como consequência,
de cla-;sificada como C la:.se 111 de Angle (Figura 73.53). falta de oclusão dentária. Os dentt.~ começam a se movi·
Esses defeitos de crescimento dos os>os tia face são mentar (inclinações dentária.~ para compen.ar o tlefeito õ;;.
também conhecidos como deformitlatles denroesqueléti· seo) e, com isso, surgem as inllamaçôes ~~ngivai.~ e pertla~
õs.~ em con~uência dessa;, inclinaç<"le!>, que podem cuJ.
casou tlenrofaciais e aprt.,entam caracrerbrica~ funtlamen·
talmenre hereditária\. Entretanto, comportamentos como minar com mobilidade dentária inten...a a tê a perda daque-
les elementos dentários mais afetado;,. Obviamente, es-..a~
o hábito de chupar o bico ou o dedo na infância podem
complicações ocorrem com o tempo, ma.., o paciente de"e
contribuir para o agra,oamento da defimnitlade naqueles
ser infonnado de que o bom relacionamento entre (I:> den-
pacientes que r~m herança gen~rica.
tes superiores e inferiores pode le-oar a >Ua manutenção.
No momento em que :.e inicia a tlefinição tia tlentição
• Defeito estético: na au>~ncia de um bom relacionamen·
pennanente (entre o;, li e o:. I) ann> de itlatle), aliatla a
tO entre o maxilar superior e o inferior, tamb~m :.e espe·
uma avaliação detalhada e uma im-e:.rigação clínica eficien·
ra que o resultado de.'>.<;."\ desarmonia >eja tran>portado
te, é possível saber se o paciente~ canditlaro a se >ubmeter
para o lado externo da face, trazendo como complica·
à ci rurgia onogn:\tica no futuro.
ção um dano estético que será tão ma i;, evidente quanto
Após o final do crescimento ósseo (por volta dos 17
maiS grave for a deform idade (Figuras 73.54 a 73.57).
anos tle idade), a deformidade e>tá completamente insta·
lada. A parti r dai, somente uma proposta de tratamento
q ue e nvolva a correção ormdôntica associada à correção
cirllrgica se rá capaz de solucionar deCin itivameme a ca usa
da deformidade, cuja solução não poderá ser propiciada
apenas pelo trata mento ormdôntico.

Complicações das deformidades esqueléticas da


face
O pacienrê que apre:.enta e;,.~e tipo de deformitlade
não consegue articular os dentes corretamente. Portanto,
ocorre dêficiência da oclusão, alterando a função ma~tiga·
tória e de rodo o >i>tema e;,mmarognático:
• Deficiência na mastigação: a falta de oclusão promo-
ve grande diminuição do potencial ma.\ti~.-atório, pois Figura 73. 54 Vista climca ontraoral. (Fonte: acer\10 do autor.)
Capítulo 1J • A Odontologia na Estética Facial 419

Planejamento da cirurgia ortognática


Pode-se dizer que não existe idade máxima, mas h á
uma idade mín ima para que o paciente se submeta a
essa cirurgia, a qual é determinada pela fase que coinci-
de com o período final de crescimento de cada ind ivíduo.
General iza ndo, pode-se d izer que seria aos 16 anos nas mu·
lheres e aos 17 anos de idade nos homens.
Nos pacientes muito idosos, os proced imentos cirúr·
gicos devem ser bem ava liados, levando em cons ideração
cada caso. De modo ideal, os proced imentos cirúrgicos
devem ser rea lizados tão logo o paciente atinja a idade mí·
n ima, para que sua recuperação seja a ma is rápida possível.
Figura 73.55 Deformidade dentoesquelética . (fonte: acervo do
Um dos pré-requ isitos para essa cirurgia, após o corretO
autor.) diagnóstico orwdõntico-cirúrgico, consiste em programar a
remoção da "camuflagem" q ue o corpo produziu natural-
mente. Como mencionado, os dentes sofrem inclinações
compensatória.> com a fi nalidade de mascarar o defeitO ós·
seo. Desse modo, w rna-5e imperativo o emprego de medidas
q ue visem remover essa "camuflagem dentária" por meio
das técnicas on odõmicas. Em seguida, a sequência dos pas·
sos descritOs irá defi nir o sucesso de wdo o procedimento
cirúrgico, assim como a qua lidade dos resultados obtidos:
o Aparelho o rtod ôn tico: portanto, a montagem de apare·

lho ortndõntico fixo é imprescind ível para a prepa ração


dessa cirurgia. A montagem deve ser precedida de um
planejamento conjunto entre onodontista e ci rurgião,
para que ambos possam propor um plano de metas a ser
atingido. A partir da í, o o n odontista inicia a montagem
da aparel hagem on odôntica. Denomina-5e onodontia
pré-operatória.
o P lanejamen to cirúrgico: o cirurgião deve estar de posse da

documentação do paciente e também estar acompanhan-


do de perto essa fase da o n odontia pré-operatória, para
Figura 73 .56 Vista clínica frontal. (Fonte: acervo do autor.) discutir com o onodomi>ta os movimentos dentários que
podem proporcionar melhor posição dos dentes nos arcos
maxilares e, consequememente, uma técn ica cirúrgica ade-
quada e com menor margem de riscos para o paciente.
o Dentes sisos: os terceiros molares ou dentes s isos, q ua n-

do presentes e não aproveitados pela on odontia, devem


ser removidos, no mínimo, 4 meses ames da cirurgia.
Não se deve realizar sua remoção com a ciru rgia or·
tognática, o que pode aumentar os riscos da técn ica e
causar complicações d urante a ci ru rgia o rwgnática. A
remoção dos dentes sisos deve, preferencialmente, ser
rea lizada pelo cirurgião que executará a cirurgia on og·
nática. A área da remoção dos dentes sisos é a mesma
da rea lização da cirurgia onognática; porta mo, o com·
prom isso de manter a região adequadamente preparada
deve ser do mesmo profissional.
o E ncam inhamento do ortodontista ao cirurgião: q ua n-

do o onodo mista defi ne que o preparo on odõmico está


Figura 73.57 Defeito estético de perfil. (Fonte: acervo do autor.) em condições idea is, uma nova moldagem dos dentes
( 420 PARTEXIX • Estética Facial

:.uperiore:. e inferiore:- Jew ;e r realizaJa e encaminhada


para o cirurgião, juntamente com o paciente. Essa ava-
liação dO> modelo.., pelo cirurgião é fundamental para a
definição final da cirurgia.
• H armonia entre profissionais: e:.ta cirurgia é uma da~
rara., cirurgia> realizada~ no or1,>anismo que depende de
muitos pa..,..,o, preparatórios, além de envolver direta-
mente doi.., profi:...,ionai;, ne!>.'>e preparo. De.<;.~e modo, é
imprescintlivd a harmonia entre os profiK~ionais para
o bem do paciente, que irá ohter um resultado dentro
de.~se planejamento conjunr<>.
• P reparo psicológico: e>te a;pecto é um dos pa~sos pre-
paratórios que, somado aos anteriores, podem defin ir o
suce.~so da cirurgia. O sistema o rgân ico sofre grandes in-
fluências do sistema emocional. O pacie nte cand idato a Figura 73 .59 Após a correção. (Fonte: acer110 do au1or.)
essa cirurgia deve estar preparado também sob o ponto
de vista psicológico, ciente d e wdas as mudanças q ue
irão ocorrer em sua vida du t·ante o período preparató- o maxilar superior e o inrerior não ser:\ a ideal, se ndo,
rio e também na fase cirúrgica propriamente dita. Opa- porta nto, indicada a cirurgia o rmgnâtica. É fácil e nte n-
ciente não deve sofrt!r pressões de fam iliares ou am igos. de r o motivo: os ossos maxilares são aqueles que aloja m
tanto os dentes superiores como os inferiores. Caso o
crescimento do osso maxilar seja imenso ou ele n:'io se
Tratamento das deformidades esqueléticas da
desenvolva o suficiente, será inevitávd a falta de encaixe
face entre os dente.~ superiores e inferiort!s. DésM maneira, o
Uma vez diagno..,ticatla> corretamente, mediame ava- paciente não apresentará maMigação adetluada (alteração
liação dO> profL....,ionab da;. áreas envolvidas (on(XIOntiSta funcional) e também ocorrerá desarmonia na aparência
e cirurgião hucomaxilofacial), a.~ deformidade.~ são tratadas da face (alteração estética).
por meio de intervenção ortodõntica prévia, para promo- Pode-se decidir alongar a mandíbula ou encurta r a
ver o alinhamento tios dente.' na, arcadas, removendo a maxila, ou executar amho:. o .., proc~liml!nto, ;.imultanea-
"camuflagem" do organbmo. E_.,_.,e preparo ortodõntico mente, dependendo da gravidade Jo ca,o. Cahe re!>.~ltar
visa oferecer ao cirurgião a noção exata da discrepância ós- que qualquer que :.eja a deci:.ão, a abordag<'m cirúrgica é
sea das arcada:. (Figura., 73.58 e 73.59). inuaoral, ou seja, será realizada Jentro Ja hoca, não dei-
A cirurgia onognática e.'tá indicada naquel~s pacien- xando cicarrizes na pele.
te.~ que apresemam alt<'raçôes nas proporçôes do e.~que­ Na análise e planejamemo do tratam<'ntO e.~tético-fun­
leto facial. Sempre qu<' ocorr<'r muitO ou pouco cre.~ci­ cional, segundo as nece>sidades e os anseios individuais, é
memo dos ossos maxilarés, a harmonia desejada enrre importante uma boa comun icação <'ntre o cirurgião-dentis-
ta e o paciente. É graça.~ a da que o profiss iona l perceberá
as expectativas do paciente quamo aos resu ltados estéticos
do tratamento e poderá escla rect'-lo, inclusive, sobre as li-
mitações da intervenção. Os efe itos psicológicos pos itivos
da melhora da apa rência frequememente con tribuem para
aguçar a autoestima d o pacieme, tornando os procedimen-
tos estéticos conservadores particularmente recompensa-
dores (Figura~ 73.60 a 71.61).
No caso apresentado nas Figuras 73.60 a 73.6), foi
realizada ci rurgia combinada - ava nço de maxib associa-
da a recuo de mandíbula - no mesmo ato cirúrgico. Foi
executada a fixação interna rígida na maxila e mandíbu-
la por meio de miniplaca., Je titânio. O rl!sultado final
proporcionou à paciente a reabilitação e;.tético-funcio-
nal, objetivo principal dessa modalidadl! Je trat:unemo
Figura 73. 58 Antes da correção. (Fonte: acer110 do autor.) (Figuras 73.64 a 71.67).
Capítulo 1J • A Odontologia na Estética Facial 421

Figura 73.60 Vista intraoral frontal no pré-operatório. (Fonte:


acervo do auto r.)

Figura 73.63 Vista clínica- perfil direito. (Fonte: acervo do autor.)

Figura 73.61 Vista intraoral- perfil direito. (Fonte: acervo do autor.)

Figura 73.64 Vista clínica frontal após a cirurgia. (Fonte: acervo


do autor.)

Figura 73.62 Vista clínica frontal no pré-operatório. (Fonte: Figura 73 .65 Vista clínica de perfil após a cirurgia. (Fonte: acervo
acervo do auto r.) do autor.)
PARTE XIX • Estética Facial

deradas, já que o co nceito de estética é bastante pessoal e


varia de acordo com a região, a época e a cultura em que
as pessoas vivem.z;
Considerações especificas devem ser destacadas ao tra-
tar de um paciente que se apresenta com necessidades e
características particu lares, e esses fato res devem ser rela-
cionados com o dente restaurado, os dentes vizinhos, o
esq ueleto facial, os músculos da mastigação e da mímica
facial, além de fatores genéricos, como forma e espessura
do lábio, lin ha de sorriso e relação da linha média da face
com os lábios. 16
O concei to de estética é subjetivo e varia de acordo
com a cultu ra da população. Ass im, o que é considerado
bonito para determinado grupo de pessoas pode não ser
para ou tro. Em nossa sociedade, dentes brancos, bem-con-
tornados e bem-alinhados estabelecem o padrão estéticon
Alguns pacientes, apesa r de saudáveis do pomo de
vista biológico, podem apresentar comprometimento da
Figura 73 .66 Vista clínica frontal após a cirurgia. (Fonte: acervo
aparência do sorriso, o que, muitas vezes, acarreta varia-
do autor.) ções em seu comportamento psicológico, desde uma leve
timidez até a introversão tOtal. Portanto, qualquer fa to r
estético que interfi ra em suas relações pessoais o u sociais
deve, sempre que poss ível, ser corrigido.zs
Para um sorriso ser considerado harmôn ico e estético
são necessá rios dentes com proporção estética (relação al-
tu ra/largura da coroa), simetria, proporção áurea, bordas
incisais dos dentes anterossuperiores seguindo a curvatura
do lábio inferior e presença de corredor buca l. A aparência
estética é governada pela simetria, proporcionalidade e lo-
calização da linha média, que pode ser calculada e med ida
em relação à largu ra da boca.19
Sabe-se que três elementos de composição são simul-
ta neamente necessários para se obter a estética ideal em
um sorriso: simetria da linha média (correspondência de
forma, cor, textu ra e posicionamento entre os elementos
dentários dos hemiarcos superiores), dom inância anterior
(os incisivos centrais superiores, em vi rtude de sua posi-
ção no arco, devem aparecer 100% como os mais largos e
brancos e os ma is vistos no aspecto fro ntal) e progressão
regressiva (d iminuição gradativa de 62% e na mesma pro-
porção em di reção aos posteriores), criada pela curvatura
Figura 73.67 Vista clínica de perfil após a cirurgia. (Fonte: acervo demoalveolar do arco dentário.10
do autor.)
A proporção áurea nem sempre é encontrada na com-
posição dentária da população. Por isso, não deve ser empre-
gada sistematicamente em todos os casos, mas serve como
CONSIDERAÇOES FINAIS
- guia de diagnóstico e deve ser adaptada para cada caso em
particular. O uso dessa grade ajuda a detectar o que está "er-
A estética em odontologia é defin ida como a arte de rado" na relação proporcional do segmento anterior e serve
criar, reprodu zir, copiar e harmon izar restaurações com para auxiliar durante as fases do planejamento.11
estruturas dentais e anatõmicas circunvizinhas, de modo A~ soluções para as alterações estéticas podem ser por
q ue o traba lho se torne belo, expressivo e imperceptível. meio de clareamemo dental, microabrasão, procedimentos
Entretanto, as expectativas do paciente devem ser consi- ades ivos, tratamento onodõntico, tratamento periodomal,
Capítulo 1J • A Odontologia na Estética Facial 423

remodelação cosmética, enxertos ósseos alveolares e maxi- 12. Mondelli J. Est ética e cosmética em clínica integrada restaura-
dora. São Paulo: Ouintessence Edit ora, 2003.
lares, implantes dentários, reab il itações protéticas (fixas ou 13. Soares GP. Silva SAP. Lima DANL, Paullilo LAMS, Lavadino JR et
removíveis), além das corrreções cirúrgicas (cirurgia o rtOg· ai. Revista Odont o Ciência - Fac. Odonto/PUCRS (21 a 54), out./
nática) das deformidades dentoesqueléticas. Na busca pela dez. 2006.
boa impressão, todos os recursos são válidos. No entanto, 14. Mondelli J. Estética e cosmética em clínica integrada restaura-
dora. São Paulo: Ed. Santos, 2003.
a opinião e a vontade do paciente devem ser consideradas.
15. Lombardi RE. A method for the classification of errors in dental
No entanto, cabe ao profissional estabelecer a ind i- esthetics. J Prosth Dent. Nov. 1974; 32(5):501-13.
cação precisa de cada caso. O conhecimento científico 16. Renore R Jr. Anatomia dos desdentados. In: Lucllia T. Anatomia
adequado, aliado a uma boa noção de harmonia estética, aplicada a odontologia. 2. ed. Belo Horizonte: Guanabara Koo-
confere ao profissional grandes poss ibilidades de devolver gan, 2008: 299-330.
1Z Tucker MR . Cirurgia pré-prot ética avançada. ln: Peterson LJ et .al.
ao paciente sua estética facial, além da adequada função Cirurgia oral e maxilofacial contemporãnea. 2. ed. Rio de Janeiro:
mastigatória. Guanabara Koogan, 1996; 702:29~330.
Existem normas, princípios ou parâmetros que são 18. Picosse M . Anatomia dentária. 4. ed. São Paulo: Sarvier, 1983.
necessários para auxil iar os profissionais a tornarem ma is 216p.
19. Madeira MC. Anat omia da face. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 1997.
agradável e harmon ioso o sorriso dos pacientes. Esses de-
240p.
vem ser fundamentados em investigações científicas. 20. Cawood Jl, Howell RA. A classification of the edentulous jaws.
A odontologia busca recu rsos que visam restitu ir as lnt J Oral Maxillofac Surg 1988; 17:23-236.
alterações dentárias, ósseas e musculares com o objetivo 21. Talgren A. The continuing reduction of the residual alveolar rid-
de devolver uma relação mais adequada dos dentes com as ges in complete denture wearers: a mixed longitudinal study co-
vering 25 years. J Prosthet Dent 1972; 1(120).
arcadas dentárias e com o perfil facia l do paciente, além de 22. Misch CE. Implant e odontológico cont emporãneo. São Paulo:
melhorar seu aspecto social. Pancast, 1996. 795p.
23. Watt DM, MacGregor AR . Designing complete dentures. Phila-
delphia: W.B. Saunders, 1976. 280p.
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3. Hambidge J . Dynamic symmetry: the Greek vase. New Haven 26. Backman B, Wahlin YB. Variations in number and morphology o f
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10. Lombardi RE. The principies of visual perception and their clinicai dos dentes ãntero-superiores e respectivos segmentos dentá-
application to denture esthetics. J Prosthet Dent 1973; 29:358-81. rios relacionadas com a largura do sorriso em indivíduos com
11. Levin EI. Dent al esthetics and the golden proportion. J Prosthet oclusão normal. Bauru, 2005. 81 p. Dissertação (Mestrado) - Fa-
Dent 1978; 40(3):244-52. culdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo.
PARTE XX

CIRURGIA
,
DERMATOLOGICA
Pele: Aspectos Funcionais eAnatômicos e a
Importância do Conhecimento da Cicatrização no
Manejo das Feridas
Gu ilherme de Castro Greco Guima rães

O ind ivíduo adulto é revestido por aproximadamen- Os queratinócitos são as principais células da epider-
te 2m 2 de pele, com aproximadamente 2mm de espessura, me, cerca de 80% do total, recebendo este nome em vir-
faze ndo da pele o ma ior órgão do corpo, constituindo cer- tude de sua prod ução de filamentos de querati na (além de
ca de 16% do peso corporaL Sua espessu ra varia de 0,5 a outras proteínas) e constituindo a barreira física de imper-
3mm, sendo mais espessa nas superfícies dorsais e extenso- meabil ização da pele. De origem ectodérmica, os querati·
ras do corpo, do que nas ventra is e flexoras. nócitOS são distribuídos em camadas na epiderme, forma n-
A pele desempenha várias funções importantes, como do um epitélio estratificado com d iferentes características,
isolar o ambiente interno do corpo do ambiente externo e que serão descritas a segu ir, da camada ma is profunda
agress ivo, agindo como barrei ra fís ica contra microrga nis- para a superfície:
mos, traumas, luz ultravioleta e paras itas. Tem importante
papel na termorregulação e no metabolismo da vitamina Camada basa/ ou germinativa
D, além de contar com componentes celulares e h umora is Uma ún ica camada de queratinócitos cubo ides, com
do sistema imunológico e diversos sistemas moleculares de atividade mi tótica intensa. Forma uma camada ondu lada,
defesa contra microrganismos. Tem importância também estendendo-se por toda a superfície da derme, aumenta n-
na recepção de sensações contínuas, pois contém termina- do, assim, o contato derme-epiderme e oferecendo res is-
ções nervosas sensitivas, de tato, temperatura e dor. tência maior ao estiramento.

ESTRUTURA E FUNÇAO DA PELE


- Camada espinhosa
À medida que as células amadu recem, elas migram
A pele é formada por duas camadas primárias fun-
para a superfície. Formam, então, a camada espinhosa, a
didas, a epiderme e a derme, com o tecido subcutâneo
ma is espessa da epiderme, com cerca de cinco a 12 cama-
subjacente, aumentando o isolamento térmico da pele e
das de queratinóci tos poliédricos e pavimentosos, forma n-
protegendo de lesões por pressão o u estiramento entre as
do feixes de queratina o u tono filamentos, e começam a
protuberâncias ósseas sobre as qua is o indivíduo repousa
produzi r grâ nulos intracelulares. É a última camada com
(Figura 74.I).
atividade mitótica.

Epiderme Camada granulosa


Consiste em uma camada de espessura média de 75 As células ficam ma is achatadas, com a extrusão dos
a 1 50~1, mas pode alcançar de 400 a 600~1 nas pa lmas das grân ulos para o espaço intercelu lar. Esses grâ nulos co ntem
mãos e plantas dos péS. Corresponde à camada ma is exter- componentes lipídicos q ue agem como uma barreira im-
na da pele. permeável entre as célu las, semelhante a uma argamassa.

427
< 428 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Poro
sudoriparo Corpúsculo sebácea
de Meissner \
\
Epiderme l \
Camada córnea
(queralinizada)

r-- Terminação
nervosa livre

Derme Glândula
sudoripara

Tecido subcutâneo
(adiposo)

Veia Folículo piloso

Figura 7 4 . 1 Desenho esquemático da anatomia da pele.

Co ntém de três a cinco camadas de células, sendo a ú ltima Os lipídios no interior da epiderme formam uma bar-
a possuir núcleo celular. reira impermeável entre os q ueratinóci tos. As fomes de
lipíd ios incluem as glând ulas sebáceas, as membra nas celu-
lares e os grânu los la melares, eli minados no estratO gra nu-
Camada lúcida
loso. A falta de ácidos graxos essenciais é responsável pela
Contém célu las achatadas e enucleadas, com eleid ina. pele seca e escamosa e pelo aumento da permeabilidade
Observada nas palmas das mãos e solas dos pés, dá origem cutâ nea. Há dimin uição de cerca de 23% da oleosidade
a uma epiderme mais espessa. por década.

Camada córnea Melanócitos


Formada por q ueratinóci tos ach atados, em cerca de Correspo ndem a 3% das células da ep iderme, com
15 a 20 camadas, contém filamentos q uerato-h ialinos. A~ origem na crista neural e com características com uns
camadas mais baixas de cél ulas mostram deposição de li- às células do sistema nervoso, inclusive dendricos. Lo-
píd ios e desmossomas, ao contrário das camadas mais su- calizam-se na camada basal, na matriz dos pelos e em
periores. porções superficiais da derme. Prod uzem a melan ina, em
São necessá rios 14 d ias, em média, para que uma cé- forma de grâ nu los (melanossomas), d istribuindo melan i-
lu la migre do estrato germinativo para a camada córnea, e na, em méd ia, para 30 q ueratinócitos por interméd io dos
cada célu la permanece cerca de 14 d ias nesta ú ltima, para dend ritos. A mela nina é o p igmento q ue colore a pele
depo is sofrer descamação. Uma dim inu ição de 30% a 50% e os cabelos e confere proteção contra a rad iação ultra-
na renovação da epiderme tem sido descrita entre a ter- violeta. A expos ição a esta última estimu la a prod ução
ceira e oitava décadas de vida, tornando a capacidade de de mela nina e dá o rigem ao fenômeno conhecido como
reparação cada vez mais comprometida. bro nzeamento.
Capítulo 74 • Pele: Aspectos Funcionais e Anatômicos e a Importância do Conhecimento da Cicatrização no Manejo das Feridas 429

A produção de melanina é, logicamente, maior nos Outros receptores sensoriais presentes na pele:
seres selecionados naturalmente para a vida em regiões o Corpúsculos táteis de Meissner: respondem a vibra-
ensolaradas, o que lhes confere a ma rca racial típica. A ções de baixa frequência e são usados para detectar
quantidade tOtal de mela nócitOS parece ser uma constan- movimentos na pele (tato). Estão presentes em áreas
te de cada espécie e não varia racialmente, o que difere é de pele glabra (nas áreas com pelos, os receptores de
a quantidade de pigmento produzida pelas d iferentes ra- Merke l são responsáveis pelo tato e as placas de Ruf-
ças. O número méd io de melanócitos em brancos, negros, fini respondem à pressão em profu ndidade e ao esti·
mu latos e amarelos é semelhante. Mesmo o albino, que se ramento). Encontram-se junto aos bu lbos de Krause,
caracteriza pela incapacidade de produ zir melan ina, teria o que apresentam também termorrecepcores sensíveis ao
mesmo n úmero de melanócitos, improdutivos, porém, por ca lor e ao frio.
defeito transm itido geneticamente. o Corpúsculos de Vater-Pacin i: receptOres de pressão, são
A prod ução de melanina pelo melanócitO tem sido e ncontrados nas porções ma is profundas da pele e res-
mu itO pesquisada, principalmente objetivando qualquer pondem à vibração e à pressão em profundidade.
proveito a favor de uma qu imioterapia dirigida para o me- o Termorreceptores: existem terminações nervosas livres
lanoma. Um dos elos essenciais é a presença da tirosinase, com receptores de dor, prurido e temperatura encontra-
en zima sempre encontrada nos melanossomas, organelas das tanto na periferia como em camadas mais profu n-
do melanóci to onde se enco ntra o pigmento. Nos mam ífe- das da pele, responsáveis pela regulação de temperatu ra
ros, ass im como nas aves, a tiros inase seria encarregada de corpora l, informações da temperatu ra ambiente, além
catalisar a oxidação de um precursor solúvel, a tirosina, em de sensibilidade protetora (temperatu ras< SoC e> 4SoC
melanina, co ngregado proteico estável de cor escu ra. estimulam os receptores de dor) (Figu ra 74.2).
A presença maior ou menor do pigmento melân ico
é d iretamente relacionada com a necessidade de proteção
do tegumento ante as radiações ultravioleta. Já há mui to Derme
é noção corrente q ue os ind ivíduos negros têm incidên- S ituada imediatamente aba ixo da epiderme, é de-
cia menor de câncer de pele em geral e de melanoma em rivada do mesoderma. Sua espessura varia de 0,6mm,
particular, se comparados aos brancos. Também é observa- nas pálpebras, a 3mm, nas pa lmas e plantas dos pés.
ção corrente q ue os ind ivíduos melanodermos apresentam Corresponde a 90% da espess ura total da pele. Os fibro-
maior incidência de melanoma nas zonas onde têm pouca blastos são as principais cél ulas da derme, embora na pele
melanina, como as plantas dos pés, mucosas e palmas das estável não se apresentem ativos ou numerosos, mas são
mãos. Por ser mais raro nesta úl tima loca lização, atribu i-se fundamentais no processo de cicatrização, como será vis-
a patogenia do melanoma plantar ao trauma constante que tO a seguir:
as tribos africanas sofrem por andar desca lças. Atribuem-se
também ao trauma melanomas que ocorrem em regiões de
atrito, como pescoço, cintura, órgãos genita is e pés. Funções da derme
o Providenciar a matriz colágena para sustentar a pele.
Células de Langerhans o Fazer a manutenção dos componentes dérmicos.
o Providenciar e distribu ir os nutrientes para a pele.
São células de origem mesodérmica que exercem a tivi·
dade mitótica restrita e que se loca lizam, principalmente,
A derme é d ividida em duas camadas:
no estratO espinhoso da epiderme. Também co nhecidas
o Camada papilar: camada mais superficial, frouxa, em
como células dendríticas, desempen ham funções geral-
contato com os sulcos da epiderme, apresenta as papilas
mente atribu ídas aos macrófagos, fagocitando e proces-
dérmicas. Formada por fibras de colágeno menores, de
sando antígenos e os apresentando às células T. Algu ns
modo menos compactO que a derme profunda, é rica
indivíd uos desenvolvem reações imunológicas de hiper-
em fibras de colágeno tipo lll e IV e também em plexos
sensibilidade aos a ntígenos apresentados pelas células de
sa ngu íneos e linfáticos.
La ngerhans, como ocorre no caso do látex, leva ndo à der-
o Camada reticular: camada mais profu nda e espessa, é
matite de contatO.
relativamente acel ular e avascular, com fibras de colá-
geno tipo I mais densas e resistentes, com o rga nização
Células de Merkel semelhante a uma ma lha com d ireção preferencial, o
Localizam-se no estratO basal, en tre os q ueratinócitos, q ue determina as lin has de Langer, importantes para
e são abundantes nas polpas d igitais. Pertencem ao sistema identificação das linhas de força e d ireção da contração
apud. São recepto res responsáveis pela sensibilidade tátil. cutânea após uma lesão (Figura 74.3).
< 430 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Semana Semana Semana Semana Semana


4 5 12 14 16 20
Camad~'S da
epiderme

Estrato côrneo
Estrato lúe;cto
Estrato granulOSo
Estrato éspinhoso
liii:J- Estrato genninatM>
Broto do pelo
Broto de
Folieulo plloso - glândula

\1v I
sudoripara

Célula$
mesenqulmatosas
I'
Colãgeno
Prtmórdlo de Dueto sudortparo
gl~ndula sobácoa
Glândula I
1sudoripara em Célula secretora de
desenvolvimento glândula sudortpara

Bainha
Haste do pelo epidérmica
da raíz

Músculo levantador
do pelo

Bainha dérmica da raiz ,......,..- -- ~os


..---;sanguíneos

Bulbo do folfculo plloao \


Fibras elásticas

Célul"" adiposas

I
Figura 74.2 Camadas da pele e anexos cutâneos .

Componentes da derme
• Co lágeno: constitui 75% do peso seco da derme e é a
prote ína mais abundante do corpo. No inicio da vida fe.
tal, a derme contém, principalmente, fibras do tipo lll,
a qua l é substituída por fibras do tipo I, ma is resisten-
tes. O tipo I encontra<;e, principa lmente, na denne reti·
cu lar e o tipo lll, na derme papilar. O tipo IV e ncontra·
-se na derme papilar, junto à membrana basal da epider·
me, dos anexos e dos vasos.
• Fibras elásticas: constitu ídas por um componente fibri·
lar (fibrilína) e um componente amorfo (elastina), com
natureza ondulada e qua lidade elástica, correspondem a
Figura 74.3 Linhas de tensão da pele. (Fonte: lnt J Legal Med 2% do peso seco da derme, sendo produzidos pelos fi.
2005; 119:226-30.) broblastos. Podem ser reversivelmente tracionadas duas
Capítulo 74 • Pele: Aspectos Funcionais e Anatômicos e a Importância do Conhecimento da Cicatrização no Manejo das Feridas 431

vezes seu comprimento natu ral, quando, então, atuam dantes na face (nariz e bochecha e fro ntal) e no couro
no retOrno a sua conformação inicial, conferindo elasti· cabel udo. Desenvolvem-se na pa rede dos folícu los pilo-
cidade à pele. sos, produ zindo o sebo, que flui pa ra o canal fol icu lar
• Substância fundamental (ou matriz extracelular): fun- e, em seguida, para a pele. Trata-se de uma glândula
ciona como um espaço aquoso para migração e integra- holócrina (a própria célul a se torna prod utO de excre-
ção de células e síntese de colágeno, além de movimen- ção). Exercem as funções de lubrificar os pelos e reco-
tação das fibras da derme. Seus mucopolissacarídeos brir a pele como uma película adicional impermeável
são capazes de reter água 1.000 vezes seu volume, como à água. Além disso, segregam ácidos graxos. Estão sob
ocorre na insuficiência ca rd íaca. Também é si ntetiza- contro le dos hormônios sexuais, tornando-se ativas na
da pelos fibroblasros e é composta primariamente por puberdade. Os andróge nos aumentam e os estrógenos
glicosaminogl icanos: ácido hialurônico, sulfatO de con- diminuem a prod ução de sebo. O aumento rápido na
d ro itina, dermatan sulfatO e heparan sulfato. Confere produção de and róge no na puberdade pred ispõe essas
resistência à compressão. No tecido cicatricial, o ácido glândulas à oclusão e à infecção, promovendo o apare-
hialurônico d iminui d ramaticamente e o sulfato de con- cime ntO da acne.
droitina alcança proporções semelhantes àq uelas dos
tendões e ossos.
Pelos e folículo piloso
ANEXOS CUTÂNEOS Os folícu los pilosos são invaginações tubulares d inâ-
Glândulas sudoríparas micas da epiderme revestidas com células epiteliais. Têm
as funções de proteção, regulação da temperatura corpo-
Podem ser clasificadas como:
rale facilitar a evaporação, além de se tratar de um órgão
• Écrinas: localizam-se em quase todo o corpo, em núme-
sensorial. Crescem sobre a maior pa rte do corpo, exceto
ro de 3 a 4 milhões, concentrando-se nas palmas, regiões
vermelhão dos lábios, palma e as laterais das mãos, plan-
plantares, axilas e região frontal. Não estão presentes no
tas e late rais dos pés, dorso das fa langes distais dos dedos
vermelhão dos lábios, pequenos lábios, glande pen iana
e a rtelhos, gla nde, clitóris e pequenos lábios. O folícu lo
e prepúcio. Começam a funcionar após o nascimento e
piloso contém três segmentos: istmo, infundíbulo e seg-
exercem função termorreguladora, produ zindo suor de
mento in ferior, onde se localiza o bu lbo piloso com as
acordo com estímulos térmicos, excretando-o por meio
células germinativas. Os pelos crescem ciclicamente em
de um dueto secreto r enovelado atravéS da derme o u
ciclos aleatórios, de modo que, em um conjunto de pelos,
hipoderme até um poro. Recebem inervação colinérgi-
vários deles se enco ntram em diferentes fases de c resci-
ca. O suor é hipotôn ico em uma taxa de secreção baixa,
mento em um determinado instante. Os pelos term in ais
mas a umenta de ton icidade à medida que a sudorese
crescem cerca de O,Smm/dia na cabeça e 0,4mm/dia no
aumen ta.
corpo. Os pelos são constituídos, principalmente, por
• Apócrinas: são maiores que as écrinas, mas em menor
queratina, mas os pigmentados contêm, também, mela-
número, sendo e ncontradas, preferencialmente, em
nina em seu interior.
axilas, períneo, aréolas, região anal, mearo acústico ex-
terno {glându las ceruminosas) e pá lpebras (glandulas de
Moll). Estão, porta nto, associadas a folículos pilosos,
com seus duetos situados acima da entrada dos d uetos Unhas
das glându las sebáceas. Sua secreção está sob influên- Protegem os dedos das mãos e pés, preservando
cia hormonal e não começa até a puberdade. Em ma- sua função senso rial. Exercem a função de arranhar.
míferos inferiores, funcionam como ferormônio (não São formadas po r placas de células epiteliais altamente
comprovado em humanos). T êm inervação adrenérgica, queratini zadas e forteme nte compactadas, a chamada
aumentando sua produção durante estresse e ansieda- placa ungueal, localizada no le ito ungueal. Contém
de. Produzem secreção sem nenhum odor, mas, quando uma porção proximal oculta, a ra iz, recoberta por uma
metabolizadas por bactérias, apresentam odo r caracte- prega da ep iderme co ns tituíd a de queratina mole, de-
rístico. nom inada eponíquio. Distalmente ao epo níquio situa-
·se a lúnu la (meia-lua), pa rte da zona córnea opaca aos
capilares subjacentes. A unha cresce ce rca de 0,01mm/
Glândulas sebáceas dia ou cerca de 2 a 4,5mm/mês, mas seu crescimento
Locali zam-se em todo o corpo, excetO nas regiões pode ser afetado pela nutrição, hormônios e doenças
pa lmares e plantares e no dorso dos pés. São mais abun- (Figura 74.4).
( 432 PARTE XX • Cirurgia Oarmarológica

Corpo
Matríz da
da
unha
Borda unha
livre Raiz da

Figura 74 .4 Desenho esquemático da unha.

CICATRIZAÇÃO das partes moles, hemorragia e ede ma, se m ru ptu ra d e


Processo de cicatrização normal e patológico e pele (qu ando isso ocorre, são d eno min ad as co rtoco n-
rusas).
sua importância no manejo de ferida s
• Lacerantes: são ferimentos com marg-ens irregulares e
O reparo de ferid as, uma solução de co ntinu idade dos com mais de um ângu lo. O meca nismo da ~~~ão é por
tecidos decorrente da lesão por ag-entes mecâ nicos, térmi- tracão com alta energia, sendo ferida de etio logia trau-
cos, q uím ico:. e bacterianos, co nsiste no ~~forço dos teci- má~ica: rasgo ou arrancamenro tecidual. Um exemplo
dos para re:.taurar a função e as estrutu ras normais. clãs.~ico é a mordedura de cão. Têm maiore.~ chances de
O conhecimento do:. compl~xos evemos fisiológicos infecção.
da cicatrização de ferida.., é de grande importância para o • Perfurantes: são caracterizada.., por pequena:. abertu ras
cirurgião e todo; o .., profi:.:.ionab envolvidos nos cuidados na pele. Há um predomínio da profundidade sobre o
com ferida..,. comprimemo (p. ex., ponta de faca).
A regeneração con.,i:.te na re;cauração perfeita da ar- • P untifo rrnes: catL,ada.., por agente> pontiagudos e finos,
quitetura do tecido preexbtente, na ausência de formação como pregos.
de cicatriz, e embora :.eja o tipo ideal no universo de cica- • Abrasivas: ocorrem por arrito da pele com ~uperficies
trização de ferida..,, :.ó é ol,.,ervada no desenvoh~memo em- ásperas, como lixa.~ e a:.falto.
brionário, em organbmos inferiore.-. ou em determinados • Ulcerativas: lesôe:. e;cavada.~. circunscrita~. com pro-
tecidos, como o"~os e figado. Na pele há predomínio do fundidatle variável, podendo atingir desde camadas
reparo cicarricial, com formação de tecido fibroso. superficiais da pele até mú:.cu lo:.. As úlceras são clas-
Após uma lesão ocorre uma :.equencia detenn inada de s ificadas conforme as camadas de tecido atingitlo
eventos que levam à correção do defeiro e à restauração (Figu ra 74.5):
da superfície da pele. A profund idade da lesão determina - Estágio I: pele avermel hada, não romp ida, mácu la eri·
a sequência de eventos. As feridas podem lesionar apenas tematosa bem del imitada, atingi ndo a ep iderme.
a epiderme (superficiais), apenas uma pa rte da de rme (es- - Estágio 11: pequenas erosõe.~ na epiderme ou ulcera-
pessura pa rcial) ou toda a espessu ra da derme (e.~pessura ções na derme. Apresenta-se normal mente com abra-
total}, ou até mesmo e.~tender-se ao tecido suhcutã neo e a são ou bolha.
estruturas mais profu ndas. O tempo d e cicatrização ram· - Estágio 111: afeta derme e tecido subcutâ neo.
bém in flu i na q ual idade do repa ro. - Estágio IV: perda total da pele, ati ngindo músculos,
tendões e exposição óssea.
Classificação de feridas
Segundo o agente causal Segundo o grau de contaminação
• Incisas o u cirúrgi cas: são produzida.~ por um insrru- • Limpas: são a.' que não apre:.entam sinais de infecção
memo cortante. A., ferida> são limpa.~ e gera lmente fe- e em que não são atingido.., o:. trato> re:.piratório, dige.<;.-
chada.., por ;mura.... Agente>: faca, bisturi, lâmina. tivo, genital ou urinário. A probabilidade de infecção é
• Contusas: :.ão produzida> por objetO rombo, com a lta baixa, em tomo de I% a 5% (p. ex., ferida> produzidas
força de impacto, e caracterizada~ por traumatismo em ambiente cirúrgico).
Capítulo 74 • Pele: Aspectos Funcionais e Anatômicos e a Importância do Conhecimento da Cicatrização no Manejo das Feridas 433

Figura 74.5 Graus de I a IV de feridas em região sacral. (Fonte: acervo do autor.)

• limpas-contaminadas: são os ferimentos que apresen- • Crônicas: ocorrem quando há desvio na sequência do
tam contaminação grossei ra, em acidente doméstico o u processo cicatricial fi~ iológico. São caracterizadas por
em situações ci rúrgicas em que houve contatO com os respostas ma is proliferativas (fibroblásticas) do q ue exsu-
tratos respi ratório, digestivo, u rinário e genital, porém dativas. A inflamação crô nica pode resultar da perpetua-
em situações controladas. Também incluem as feridas ção de um processo agudo ou começar ins idiosamente e
com tempo inferior a 6 horas entre o trauma e o atend i- evol uir com resposta mui to d iferente das man ifestações
mento e sem contami nação expressiva. O risco de infec- clássicas da inflamação aguda.
ção é de cerca de 10%.
• Contaminadas: feridas acidentais, com ma is de 6 horas Segundo a presença de transudato e exsudato
de trauma o u q ue tiveram co ntato com terra e fezes, por • Transudato: substâ ncia altamente fluida q ue passa atra-
exemplo. No amb iente cirúrgico, são consideradas con- vés dos vasos com baixíssimo conteüdo de proteínas,
tam inadas aquelas em q ue a técnica asséptica não foi célu las e derivados cel ulares.
devidamen te respeitada. Os níveis de infecção podem • Exsudato: material fluido, composto por célu las q ue es-
atingir de 20% a 30% (p. ex., cirurgia dos cólons). capam de um vaso sangu íneo e se depos itam nos tecidos
• Infectadas: apresentam sinais nítidos de infecção, po- o u nas superfícies teciduai~. usualmente como resulta-
dendo ou não haver pus. do de um processo inflamatório. O exsudato é carac-
terizado por um altO conteúdo de proteínas, cél ulas e
Segundo o tempo de cicatrização materiais sólidos derivados das células.
• Agudas: q uando há ruptu ra da vascularização com de- • Exsudato seroso: ca racte rizado por extensa liberação
sencadeamento imed iatO do processo de hemostasia. de líqu ido com baixo co nteúdo proteico. Conforme o
Podem determinar manifestações loca lizadas no ponto local da agressão, origina-se de soro sangu íneo o u das
de agressão o u podem estar acompanhadas de mod ifica- secreções serosas das células mesotel iais. Esse tipo de
ções sistêm icas. exsuda to inflamatório é observado precocemente nas
< 434 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

fases d e desenvolvimento da maioria das reações infla-


matórias agudas enco ntrad as nos estágios da infecção
bacte riana.
o Exsudato sanguinolento: decorrente de lesões com ru p-
tura de vasos ou de hemácias, não é uma forma d istinta
de exsudação, mas q uase sempre um exsudato fibrinoso
o u supurativo, acompan hado pelo extravasamento de
grande quantidade de hemácias. FASE FASE
o Exsudato purulen to: um líquido composto por células INFLAMATÓRIA FIBROPROLIFER
ATIVA
e proteínas e prod uzido por um processo in flama tó rio
asséptico ou séptico, associado a bactérias piogênicas
(produtoras de pus).
o Exsudato fibrinoso: cons iste no extravasamento de
grande q uantidade de proteínas plasmáticas, incluindo
fibrinogênio, com a participação de grandes massas de Figu ra 74.6 Desenho esquemático das etapas da cicatrização.
fibrina.

Segundo as dimensões Fase inflamatória


. = em·'
Extensão - Area A primei ra fase, de hemostasia e inflamação, inicia·
o Pequena: < 50cm 2• -se com a ru ptura de vasos sa ngu íneos e o extravasamento
2
o Média:> 50cm e< J50cm •
2 de sangue. A lesão de vasos sanguíneos é seguida rapida-
o Grande:> 150cm1 e < 250cm 2. mente pela ativação da agregação plaquetária e da cascata
1
o Extensa: > 250cm . de coagulação, resultando na formação de moléculas inso-
lúveis de fibrina e hemostas ia, além da formação de uma
Segundo as características do leito da ferida barrei ra impermeabilizante, que protege da contaminação.
Durante esse processo, ocorre a ativação do complemento,
Dividem-se em tecidos viáveis e inviáveis. Os tecidos
levando à sequência de eventos da inflamação, inclusive
viáveis compreendem:
por recrutamento de macrófagos (células mais importantes
o Granulação: de aspectO vermelho-vivo, brilhante, úmi-
dessa fase da cicatrização) e neutrófilos. Quanto maior a
do, ricamente vascularizad o.
lesão, mais intensa e duradoura é a resposta inflamató ria.
o Epitelização: revestimento novo, rosado e frági l.
Com a lesão tissular, as plaquetas são ativadas pelo co-
Os tecidos inviáveis compreendem: lágeno e pela trombina. Com a ativação plaquetária ocorre
o Necrose de coagulação (escara): caracterizada pela pre- a liberação do fa to r de crescimento derivado das plaquetas
sença de crosta preta e/ou mu itO escura. (PDGF - platelet-deriued growtlt factor), q ue desempen ha um
o Necrose de liquefação (amolecida): caracterizada por papel importante na cicatrização. Ocorre liberação local de
tecido amarelo-esverdeado e/ou qua ndo a lesão apre- histamina, serotonina e bradicinina, q ue causam vasodila-
senta infecção e/ou na presença de secreção purulenta. tação e aumento de fluxo sanguíneo no tecido acometido
o Desvitalizado ou fibrinoso: tecido de cor amarela ou e, consequentemente, sinais inflamatórios, como calor e
branca, q ue adere ao leitO da ferida e se apresenta como rubor.
cordões ou crostas grossas, podendo ainda ser mucinoso. A permeabilidade capilar aumenta, causa ndo extrava·
samento de líquidos pa ra o espaço extracelular com conse·
quente ed ema. A resposta inflamatória, que perdura cerca
Cicatrização normal de 3 a 5 dias e na qua l ocorre a migração sequencial das
A reparação de feridas passa pelas segui ntes etapas células para a ferida, é facilitada por mediadores bioq uí·
básicas: fase inflamatória (inclui a fase de hemostasia), micos, que aumentam a permeabilidade vascular, favore·
fase fibroprol iferativa (que inclui reepitelização, síntese cendo a exsudação plasmática e a passagem de elementos
da matriz e neovascularização) e fase de maturação ou celulares para a área da ferida.
remodelamento. Importa salienta r que as fases são d i- Os med iadores bioqu ímicos de ação curta são a hista·
nâm icas e quase sempre se sobrepõem, e que diferentes mina e a serotOn ina, sendo as mais d uradouras a Jeucota·
lesões em um mesmo tecido apresen tam cicatrização d i- xina, a brad icin ina e a prostagland ina. A prostaglandina
ferente, d e acordo com as variações das co ndições locais é um dos mediadores mais importantes no processo de
(Figura 74.6). cicatrização, pois, além de favorecer a exsudação vascular,
Capítulo 74 • Pele: Aspectos Funcionais e Anatômicos e a Importância do Conhecimento da Cicatrização no Manejo das Feridas 435

estimu la a mitose celular e a qu imiotaxia de leucócitos.


Um infl uxo de leucócitos começa com os neutrófilos e
com os macrófagos mais tarde (Figu ra 74.7). Os neutró-
filos aumentam a permeabilidade dos vasos preservados,
causa ndo o extravasamento de plasma e proteínas e o in-
tumescimento associado a inflamação. A sequência básica
utilizada pelos neutrófilos para combater a contami nação
bacteriana consiste na opson ização das bactérias pelo com-
plemento, na prod ução d e fato res qu imiotáxicos, na ade-
são de leucócitos ao e nd otélio, na migração de leucócitos
atravéS dos vasos, na anexação das bactérias opson izadas
aos leucócitOs, na fagocitose e na morte e digestão das bac-
térias. Levam, também, a da no tissular, causado pela libe-
ração de enzimas e rad icais livres. Figura 74 .8 Ferida com tecidodegranu laçãoabundanteem pré-
A infiltração de neutrófilos cessa em algu ns dias, geral- -operatório imediato de enxertia cutânea. (Fonte: acervo do
mente após 48 a 72 horas. Nesse momentO ocorre a morte autor.)
programada dos neutrófilos (apoptose), que limita a des-
truição de cél ulas na área da lesão. O in ício da fagocitose
de neutrófilos pelos macrófagos marca o fim da in flama- inclusive prostaglandinas e leucotrienos, uma variedade
ção inicial. Entretanto, a contami nação de feridas causa a de substâ ncias qu imiotáxicas para reparar a lesão, e pro-
persistência da imigração de neutrófilos. Corpos estran hos vocam liberação dos fatores de crescimento PDGF e faror
estimu lam a atividade do complemento e traumatismos de crescimento fibroblástico. Os macrófagos, do mesmo
repetid os pelo tratamento inadequado de feridas podem modo q ue os neutrófilos, também liberam protease para
também causar a persistência dos neutrófilos. auxil iar a degradação de tecido desvi talizado. A presença
A partir do segundo dia, os macrófagos predominam, de macrófagos é necessária tanto para o inicio como para a
até em torno do sétimo dia, desempen hando o d uplo papel propagação do tecido de granu lação (Figura 74.8).
de destru ição de material inviável e estimu lação do cresci-
mento de tecido novo. Os macrófagos são tanto ''colerores Fase pro/iterativa
de lixo" como "arquitetos". O acúmu lo de macrófagos con- Du rante a fase proliferativa, ocorrem ta ntO a reepi·
tinua independentemente da atividade dos neutrófilos, de- telização como a formação de tecido de gra nulação. Em
vido à presença de quim iotaxia seletiva para macrófagos. algu ns tipos de feridas, a contração também ocorre. A
Inicia lmente, os macrófagos são responsáveis pela fagoci- reepitelização começa dentro d as pri meiras 24 horas. A
tose de bactérias, neutrófilos esgotados e material desvita- formação do tecido de granulação começa em 3 a 5 dias.
lizado de células. Além d isso, liberam várias substâncias, Durante esse tempo, a reepitelização e a gra nu lação oco r-
rem simultaneamente. A reepitelização o ferece proteção,
e nqua nto a gran ulação e a contração preenchem a falha
Maturação no tecido. Vários sinais para o in ício do crescimento do te-
<f) Proliferaração cido novo são responsáveis pela fase proliferativa, inclus ive
"'
:; Inflamação
fato res q uimiotáxicos e liberação de fatores de crescimento
"8 Neutrófilos
pelo acúmulo de macrófagos e pela desgranu lação dos mas-
"'o
"O tócitos no tecido lesio nado. Além disso, a perda das células
>
""' Fibroblastos vizinhas (perda da restrição celular ou inibição de conta-
"'~ to) estimu la a replicação das células epidérmicas. Essa fase
e pode perdurar por 2 a 3 semanas, inicia ndo o processo de
"'
E
•:::> formação da cicatriz propriamente di ta.
z
Linfócitos
Formação do tecido de granulação
0 +-~------~~------.---.---.--.~
o 2 4 6 8 10 12 14 16 A produção do tecido de granulação é dependente do
Dias pós-ferida acúmulo de macrófagos. Os macrófagos estimulam o cresci-
Figura 74.7 Evolução do número relativo de células sanguíneas mento interno dos fibroblastos, a depos ição de tecido con-
e fibroblastos nas fases sequenciais do processo de cicatriza- juntivo frouxo e a angiogênese (formação de novos capilares
ção. (Fonte: Tazima, Vicente, Moriya, 2008.) na ferida). Esses processos, chamados fibroplasia e angiogê-
< 436 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

nese, são também estimulados por fatores q uimiotáxicos pela fib ro nectina. Os fibroblastos recolhem seu retículo
liberados pelas plaquetaS, além daqueles produzidos pelos endoplasmático e seus corpúsculos de Golgi e começam
macrófagos. A estimulação dos fibroblasws pelos fatores de a sintetizar grandes quantidades de colágeno. Além d isso,
crescimento produz pro liferação de fibroblasws, migração formam fi lamentos de actina, transforma ndo-se em mio-
de fibroblastos para a área da lesão, depos ição de matriz de fibroblasros. As moléculas deposi tadas pelos fibroblasros,
tecido conjuntivo e contração da ferida (principa lmente pe- em particular a fibro nectina, promovem a produção de
los miofibroblastos). A formação do tecido de granulação uma matriz extracelu lar frouxa. Uma amplificação do
é estimulada por níveis baixos de bactérias na ferida, mas é crescimento do tecido de gran ulação se ma n ifesta pela
inibida quando o nível de contaminação é elevado. p rodução de fibronectina e torna possível a movimen-
A matri z do tecido conjuntivo depositada pelos macró- tação dos fibroblastos. A fibronectina une d iversos fi-
fagos fornece o substrato para a migração para dentro da broblastos, formando uma rede, e quantidades ma iores
ferida de ou tros macrófagos, angioblastos (cél ulas imatu ras de molécu las de matriz são liberadas no loca l da ferida.
da parede dos capilares) e fibroblasros. A angiogênese é O processo de contração produz um movimento rad ial
o processo de formação de novos vasos sangu íneos, neste da pele intacta em torno da ferida em direção ao cen-
caso na área da ferida. Durante a angiogênese, as células tro dela. A contração de feridas, com acometimento de
e ndoteliais respondem à atração q uím ica e aos fatores de toda a espessu ra da derme, red uz a quantidade de tecido
crescimento, e há liberação de en zimas para destrui r a novo necessário pa ra p reencher a ferida. A função pri-
membrana basal de vasos sanguí neos existentes. À medida mord ial dos fibroblastos é s intetiza r colágeno, a inda na
q ue os a ngioblastos são atraídos para a extremidade d istai fase cel ular da in flamação. O colágeno é uma proteína
dos vasos sa ngu íneos, eles são estimulados a este nder pseu- de al to peso molecular, composta de glicina, proli na, hi-
dópodos em direção aos vasos existentes, causando a mi- d rox iprol ina, lisina e h id roxil is ina, que se organ iza em
gração de angioblasros. A proli feração de angioblasws para cadeias longas de três feixes polipeptídicos em forma de
formar extensões tubulares existentes cria novos capilares. h élice, responsáveis pela força da c icatriz. A síntese de co-
Esses novos vasos rornam poss ível a contin uação da cicatri- lágeno é depe ndente da oxigen ação das cél ulas, da hidro-
zação, supri ndo as células com n utrientes para aumentar xilação da prolina e lis ina, reação esta mediada por uma
sua taxa metabólica e com os ma teriais para a prod ução enzima produzida pelo p róprio fibroblasro, em prese nça
dos tecidos de granulação, além de aumento do aporte de de coenzimas (vitam inas A, C e E), ferro, testosterona,
células, como macrófagos e fibroblasros, para o local da ti rox ina, proteínas e zinco. O coláge no é o ma terial res-
ferida . Essa mistura de vasos e matriz produz um tecido ponsável pela sustentação e pela força tensil da c icatriz,
brilhante, vermelho-vivo, com ondulações gra nulosas, q ue p roduzido e degradado continuamente pelos fibroblas-
dá o rigem à expressão tecido de gra nu!ação. tos. Inicialmente, a síntese de colágeno novo é a pri nci-
pal responsável pela força da cicatriz, sendo substituída
Reepitalização ao longo de semanas pela formação de ligações cruzadas
A reepi telização começa dentro das primeiras 24 horas, entre os feixes de colágeno. A taxa de s íntese decl ina por
embora possa não ser percebida durante os primeiros 3 d ias. volta de 4 semanas e se equilibra com a taxa de destru ição
A restauração da superfície de um tecido lesio nado é obtida e, en tão, se inicia a fase de matu ração do colágeno, que
pela movimentação dos queratinóciros a partir das bordas continua por meses, ou mesmo anos.
livres, inclusive aqueles que contornam os folículos pilosos
e as glândulas sudoríparas, para dentro da ferida. À med ida Fase de maturação ou remodelamento
q ue são formadas novas células nas bordas da ferida, elas O processo d e remodelação é tipicamente enten-
aderem ao tecido de granulação abaixo, e as células replica- dido como uma resposta a longo p razo ao ferimento.
das migram por epibolia, q ue tem sido descrita como "pulo Entretanto, a matriz extracel ular mod ifica-se conti nua-
do sapo" o u "ench imento" de células para atingir a borda da mente. A matriz extracel ular e os fibroblastos controlam-
ferida. A epitelização envolve uma sequência de alterações -se mutuamente, até que uma matriz estável se forme
nos queratinócitos da ferida: separação, migração, prolifera- em meses a anos. Como resultado, a matriz extracel u-
ção, diferenciação e estratificação. O fim da epitelização se lar apresenta diferenças en tre a periferia e o centro da
dá por in ibição por contato, à medida que as células epi te- ferida. Apesar de a resistê ncia da ferida aumenta r com
liais cobrem rodo o leito da ferida. a deposição do colágeno, esta força sofre u m a umento
de magn itude superior àq uela que poderia ser atribuída
Fibroplasia e contração apenas ao acúm ulo de colágeno. As razões sugeridas para
Os fibroblasros sofrem al teração fenotípica logo após esse fen ômeno incluem a degradação seletiva de fibras
a lesão. A migração para o interior da ferida é auxiliada de coláge no não submetidas a tensão, pel, a colagenase,
Capítulo 74 • Pele: Aspectos Funcionais e Anatômicos e a Importância do Conhecimento da Cicatrização no Manejo das Feridas 437

reforço das fibras tensas e reforço das fibras de colágeno Fatores que interferem na cicatrização
pelos glicosam inoglicanos, com realinhamento do coláge- A cicatrização lenta se caracteriza pelo fechamento len-
no. Em 21 dias, temos cerca de 15% da força tênsil final tO, insuficiente o u inexistente da ferida, excedendo o perío-
da cicatriz, em 6 sema nas, cerca de 80%; e em 6 meses, do fisiológico da cicatrização de 2 a 3 semanas. As razões
100% da força tê nsil, mas que correspo nde somente a para essa alteração são os distúrbios locais ou sistêmicos.
80% da força de uma pele normal. A alte ração patológica
da cicatrização nessa fase leva à formação de quelo ides e Distúrbios locais
cicatrizes hipertróficas.
• Presença de detritos: tipo de resíd uo tissular compostO
de restos celulares e tecido necrótico ou desvitalizado.
Tipos de cicatrização de feridas • Vasculite/ angiite: reação inflamatória que se o rigina na
Existem trêS formas pelas quais uma ferida pode cica- parede dos vasos sa ngu íneos; como regra, a inflamação
trizar, dependendo da quantidade de tecido lesionado o u está restrita à pa rede vascular.
danificado e da presença ou não de infecção: • Fatores vasculares: são, entre o utros, a congestão venosa
• Primeira intenção: é o tipo de cicatrização que ocorre e a isquemia arterial; isso leva a um suprimento insufi.
qua ndo as bordas são apostas ou aproximadas, havendo ciente de oxigênio e a deterioração do metabolismo dos
perda mínima de tecido, ausência de infecção e mínimo carboid ratos, lipídios e proteínas na área da lesão.
edema. A formação de tecido de gra nu lação não é visível • I nfecção da ferida: a contaminação por bactérias
(p. ex., ferimento suturado cirurgicamente). usualmente ocorre em todas as feridas, principa lmente
• Segunda intenção: nesse tipo de cicatrização, ocorre as abertas, mas isso não chega a interferir no processo
perda excessiva de tecido com a presença ou não de in· . O mesmo não acontece com a infeccão
de cicatrizacão. .
fecção, necrose e contaminação elevada. A aproximação clínica, que prolonga o estágio inflamatório da cicatri·
primária das bordas não é possível. As feridas são deixa· zação e deve ser tratada em todos os casos. Os agentes
das abertas e se fecharão por meio de contração e epite· etiológicos da infecção são bactérias, fungos e vírus.
lização. Qualidade cica tricia l é pior, com mais chances Aparentemente, e la também inibe a capacidade de
de cicatrizes patOlógicas (Figura 74.9). produção do coláge no pelos fibroblasws.
• Terceira in tenção: designa a aproximação das mar- • Tratamento das feridas: assepsia e a ntissepsia, técn ica
gens da ferida (pele e s ubcutâneo) após o tratamento ci rúrgica correta (diérese, hemostasia e síntese), escolha
aberto inicial. Isso ocorre, principalmente, qua ndo de fio cirúrgico (que cause mínima reação tecidual) e
há presença de infecção na ferida, que deve ser trata· cu id ados pós-operatórios adequados (curativos e retira·
da primeiramente, para então ser suturada pos teri or· da dos pontos) são algu ns dos aspectos importantes a
mente. serem observados em relacão ao tratamento das feridas.
'

Cicatr ização primária

8 c

Cicatrização secundária

A c

Figura 74.9 Representação esquemática da cicatrização por primeira e por segunda intenção. Biologia da ferida e cicatrização. (Fon·
te: Tazima, Vicente, Moriya, 2008 .)
< 438 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Distúrbios sistêmicos o Agentes tóxicos: em geral, trata-{)e de medicamentos


o Referentes ao estado nutricional. u tilizados em rumores (a ciclosporina em doenças au to i·
o Deficiência proteica; produz como efeito redução da mu nes; a colchicina na gota).
resposta imunológica humoral e celu lar e redução da o Doenças em ge ral, principalmente as metabólicas:
fagocitose e da síntese de colágeno; entre os alimentos são processos complexos com d iversos efeitos adversos
ricos em proteínas estão: peixes, ovos, carnes e leite. sobre a cicatrização (p. ex., diabetes melico, hiperbilir·
o Deficiência de vitam ina A: apresenta os seguintes efei- rubinemia, hemofil ia, desnutrição, colite ulcerativa,
tOS: retardo da epi telização, sí ntese lenta do colágeno doenças renais, hepáticas e pancreáticas, artrite, trau-
e infecções graves e frequentes. Dentre os al imentos ri- ma/ doença cerebrovascu lar, q ueimaduras, lesões, sepse,
cos em vitamina A, estão: gema de ovo, leite, produtos carcinomas, dor aguda e crônica, doenças respi ratórias,
lácteos d iversos, óleo de fígado de peixes, hortaliças e depressão, aflição, obesidade).
frutas. O uso de vitam ina A está indicado para norma li- o Tabagismo: prejudica a oxigenação dos tecidos, dimin ui
zação da cicatrização de pacientes que fazem uso regular a resistência do o rga nismo, deixando-o mais suscetível a
de este roides. infecções, e retarda a cica trização.
o Deficiência de vitam ina C: o pri ncipal efeito da vitamina o Estresse e ans iedade: provocam reações bioqu ímicas no
C é a h id roxilação do colágeno (prolina em h idroxiproli- organismo, levando a red ução na mobilidade dos gra nu-
na). Sua falta provoca distúrbio da migração de macrófa- lócitos e dos macrófagos e imped indo sua migração para
gos, disfu nção dos granulócitOs e neutrófilos e defeitO na a ferida . Isso acaba d imi nu indo a resposta inflamatória.
síntese dos fatores do complemento e imunoglobulinas, Também são retardadas a síntese do colágeno e a rege-
além de escorbuto, doença de manifestações sistemicas e neração das células endoteliais.
dérmicas. Alimentos ricos em vitamina C: tOmate, acero- o Dor: a dor e a ans iedade estão intimamente relaciona-
la, goiaba, kiwi, li mão, maçã, pimentão e laranja. das. O medo da dor pode provocar ansiedade no pacien-
o Deficiência de vitamina K : a vitam ina K é necessá ria te. Estudos mostram que a dor crôn ica é mais comum
pa ra síntese dos fatores de coagulação (protrombina, em pacientes diabéticos do que nos não d iabéticos. São
fa tores VIl, LX e X); co nsequentemente, sua deficiên- importantes para uma boa cicatrização das feridas o mo-
cia inibe ind iretamente a c ica trização, promovendo nito ramento e o tratamento adeq uado da dor.
sangramento e infecções bacterianas. Entre os alimen-
tOS ricos em vitam ina K, estão: alface, espinafre, bróco-
lis, couve e hortal iças com folhas de cor verde-escu ro, Cicatrização patológica
em gera l. A expressão cicatrização anormal de feridas refere-{)e à
o Idade: influencia todos os estágios da cicatrização, pois incapacidade de uma ferida progred ir pelas fases de cica-
com o avançar da idade a velocidade metabólica da cé- trização, inclusive com déficit potencial nas fases de infla-
lu la rorna-se mais lenta. Na idade avançada, a contração mação, reepitelização, formação de tecido de granu lação
da ferida e a proliferação celular estão red uzidas; a neo- e remodelação. A cicatrização anormal pode ma ni festar-se
formação capilar está impedida por cond ições vascula- co nforme a cro nicidade tanto da fase de inflamação como
res, e os mastócitos estão reduzidos; a epitel ização está da de proliferação. Outras ma nifestações podem incluir
prejud icada e a proliferação dos querati nócitos depois gra nulação, reepitelização ou remodelação ano rmais.
da estim ulação mi togenica é menos pro nunciada. Problemas típicos na cicatrização de feridas incluem
o Oxigenação: o fornecimento adequado de oxigên io por in flamação crô nica, infecção, hipergra nulação, granu la-
meio de uma boa irrigação sanguínea da ferida propor· ção retardada, epibolia, maceração, dessecação e p ro life-
cio na cond ições favoráveis à cicatrização. Vários fatores ração c rônica. A inflamação crônica geralmen te resulta
poderão interferir nesse suprimento, como idade, doen- da fal ha na otimização das cond ições da ferida . A in-
ças vasculares, pressão no local ou ao redor da ferida e capacidade de remover tecido necrótico de uma ferida,
o tabagismo, que acarreta vasoconstrição e afeta a ati· sa nar uma infecção, evita r a repetição de um trauma,
vidade dos macrófagos, dim in uindo a epitelização e a otimi zar o teor de umidade da pele e da ferida ou a pre-
contração da ferida (Oealey, 1996). se nça de corpos estranhos costumam ser os fawres res-
o Medicamentos sistêmicos que inibem a cicatrização: ponsáveis. Esses problemas ocorrem como consequê n·
algu ns fármacos exercem efei tos colatera is catabólicos, c ia de desbridamento, oclusão ou proteção inadeq uados
como, por exemplo, os corticosteroides. Em geral, são da ferida. Ou tros problemas incluem fal has em corrigir
util izados em casos de pol iartri te, doença reumática ou ca usas subjacentes à ferida, como insuficiê ncia arteria l,
alergia. Supri mem a prol ina-hid roxilase, importante na hiperte nsão venosa, pressão, atrito e temperatura e um i-
formação de colágeno. dade inadequadas.
Capítul o 74 • Pele: Aspectos Funcionais e Anatômicos e a Importância do Conhecimento da Cicatrização no Manejo das Feridas 439

De acordo com a fase cicatricial em que os distú rbios aue/oides e cicatrizes hipertróficas
da cicatrização ocorrem, são possíveis: Tumores benignos formados por tecidos fibrosos, têm
• Alterações na fase fib roproliferativa: etiologia não muitO bem definida. Ocorrem por d istúr-
- Contracão:

comraturas, cicatrizes retráteis. bios, principalmente, na fase de maturação, com aumen-
- Fibroplasia: queloides e cicatrizes hipertróficas. tO da síntese do colágeno e diminuição da colagenólise.
- Transtornos da pigmentação (hiper e hipocromias). Ocorrem em 5% a 15% das feridas, principalmente entre
• Alterações na fase de remodelagem: os 10 e os 30 anos de idade (raros em idades avançadas).
- Queloides, cicatrizes instáveis. PatOlogia específica do ser humano, afetam homens e mu-
- Deiscências tard ias. lheres em igual número. Podem ser morfologicamente in-
- Ma lign ização das feridas (Marjolin). d istingu íveis.
Apesar de as causas ainda não serem totalmente bem
Cicatrizes retráteis entend idas e d efinidas, alguns fatores parecem favorecer o
São encu rtamentos patOlógicos das cicatrizes, com desenvolvimento dessas cicatrizes:
restrição da mobilidade e comprometimento funcional da • Fatores gerais:
área acometida, como ocorre nas bridas em superfícies arti· - Raça: ocorre mais em negros.
cu lares, s inéq uias, estenoses de boca e ânus e cicatrizes em - Hereditariedade e suscetibilidade ind ividua l: ainda é
alçapão (trap door) (Figura 74.10). co ntroverso.
- Idade: jovens são mais suscetíveis que idosos.
- Fluxo hormonal e metabólico (puberdade e gravid ez).
• Fatores lesionais:
- Traumas com perda d e substâ ncia e contaminação da
ferida.
- Lesões em sentido contra as linhas de força .
- Laceração extensa.
- Te nsão excessiva nas bordas da ferida após sutura.
- Queimad uras com lesão dérmica importante ou pro-
funda.
Fi gura 74.10 Cicatriz retrátil em cotovelo pós-queimadura. (Fon-
te: acervo do autor.) Localização (Quadros 74.1 e 74.2)

Quadro 74 .1 Suscetibilidade regional

Máxima Acentuada Média Mini ma Zero

Região pré-esternal Pavilhão auricular Região mastoide Couro cabeludo Terço médio da face
Região dorsal Tórax {exceto Barba Frontal Genitais
pré-esternal) Cervical Membros superiores e Região lombar
Deito ide Axilar inferiores Palmas e plantas
Abdome Pubiana Região glútea
lnguinal

Quadro 74 .2 Diferenças das cicatrizes

Cicatriz hipertrófica Cicatriz queloidiana

Elevada, tensa, pruriginosa, avermelhada e dolorida Elevada, forma tumoral, avermelhada, ocasiona dor e prurido

Respeita os limites da lesão Ultrapassa os limites da lesão

Acomete sempre áreas de tensão Pode aparecer em qualquer região

Desenvolve-se em semanas após a lesão, cresce entre 3 e 6 Desenvolve-se em até 1 ano após a lesão
meses e regride

Crescimento rápido com regressão espontânea Crescimento rápido e progressivo; regressão rara

Recidiva rara após exérese Recidiva frequente após exérese


PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

nas feridas o riginadas por agentes rad ioativos (nesses ca·


sos, mais precocemente, em cerca de 2 anos). Na grande
maioria das vezes são CEC (mas podem ser sarcomas e até
melanomas), com comportamento ma is agress ivo e alto po-
tencial de metástase.
O tratamento das cicatrizes patológicas constitu i-se em
um trabalho árduo, mu itas vezes necessitando associações
de técnicas cirúrgicas e con icoterapia, com radioterapia,
laser e pressoterapia, sendo um capítulo à parte.
Fundamenta l é o entend imento dos processos de cica-
trização e ma nejo com as feridas, de modo a otimizar o tra-
tamento e b uscando excelência na obtenção de melho res
resultados e cicatrizes.

Referências
Araújo ID. Fisiologia da cicatrização. In: Petroiano A. Lições de cirur-
gia. 1. ed. lnt erlivros, 1997:101-14.
Azevedo M F et ai. Feridas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
Brunicard FC. Schwartz's principies of surgery. 8. ed. USA: McGraw.
200Z
Candido LC. Nova abordagem no tratamento de feridas. São Paulo/
SP: SENAC, 2001.
Figura 74.1 1 Oueloide em lóbulo orelha. (Fonte: acervo do autor.) Fischer JE. Mastery of surgery. 5. ed. Philadelphia: W illiams &
Wilkins, 2007.
Gogia PP. Feridas: tratamento e cicatrização. Rio de Janeiro: Revin-
t er, 2003.
lron G. Feridas: novas abordagens, manejo clínico e atlas em cores.
Cicatrizes instáveis Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
Frágeis, descamativas, secas e friáveis, são comuns nas Leong M , Philips LG. Cicatrização. In: Townsend Jr GM et ai. Sabis-
t on tratado de cirurgia. 1Z ed. Elsevier, 2005:183-20Z
cicatrizes por segu nda intenção pós-queimadura. Não há
Maciel E (org.) Trat ado de queimaduras. Rio de Janeiro: Atheneu (no
derme/ a nexos cutâ neos. T em grande potencial mal igno. prelo).
Mélega - Princfpios de cirugia plástica
Malignização de cicatrizes - úlceras de Marjolin Protocolo de tratamento de feridas - Prefeitura de Florianópolis.
Tazima MFGS, Vicent e YAMVA, Moriya T Wound biology and heal-
Ocorrem depois de 15 a 30 anos em cicatrizes de fe- ing. Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41{3):25~4. Disponível
ridas crôn icas, como nas osteomielites, q ueimaduras e em: <http://Www.usp.br/reviste>
Pele Artificial
lzabel Cristina Sad das Chagas
Edilamar Silva de Alecrim

A pele é cons iderada um dos ma io res órgãos do cor· têm a fina lidade de restaura r, manter ou melhorar as fu n-
po huma no e possibilita a interação do o rga nismo com o ções da pele, ma is especificamente a repa ração cutãnea.4
meio externo. Tem como fu nções a proteção das estrutu· Dá-se o nome de substitutos cutâ neos a um grupo he-
ras internas a agentes físicos e biológicos, manutenção da terogêneo de elementos biológicos e/ ou sintéticos que pos-
homeostase por meio da regulação da temperatu ra e do sibilitam a ocl usão temporária ou permanente das feridas.'
equilíbrio hid roeletrolitico e percepção do meio externo Os substi tutOs de pele são opções de tratamento para
atravéS dos receptOres neurais. Alterações o rgânicas podem grandes perdas de pele. Algu ns são utilizados para a cober-
ser detectadas atravéS da pele, como as características da tu ra permanente da área cruenta, enquanto os conhecidos
resposta inflamatória (rubor, calor, infiltração), da anemia como curativos biológicos são temporá rios, fornecendo
(palidez cutâ nea) e de disfunções hepáticas (icterícia)' uma ba rreira mecâ nica até q ue um substitutO perma nen-
H istologicamente, esse órgão é constitu ído por duas te esteja dispo nível ou mesmo q ue ocorra a cicatri zação
camadas distintas: epiderme (mais superficial} e derme norma l. 1·4 Pode-se cons iderar substitutO dérmico desde o
(subjacente). Os elementos celulares da epiderme são os xeno ou aloenxerto de pele até a combinação de cultura de
querati nócitos, melanócitOS, células de Langerhans e célu- queratinócitos autólogos sobre ma tri z dérmica, em busca
las de Merkel. A der me é formada por uma rede de fibras. da maior semelhança possível com a pele do paciente.'
Os principa is componentes dessa rede são as fibras de co- Eles podem ser proven ientes de pele h umana ou ter
lágeno e as fibras elásticas. Ela promove a sustentação dos origem sintética, 1 e podem ser temporários ou perma nen-
vasos sa nguíneos, linfáticos e filetes nervosos. Também tes.1·4 Como exemplo temos os aloenxen os (derivados da
estão presentes na derme os anexos cutâ neos: fol iculo pilo- pele de cadáver), os xenoenxerws (derivados da pele de
so, glându las sebáceas e glândulas sudoriparas. Essas duas animais) ou os sintéticos (co nstruidos por engen haria de
camadas são un idas pela membrana basal. ' tecidos).'
A perda do revestimento cutâneo pode ser consequên- Diversos materiais têm sido empregados como substi·
cia de situações clinicas, como queimad uras, traumatis- tu tos para epiderme o u derme separadamente, assim como
mos, infecções, doenças autoimunes e feridas complexas 2 combinadas.' Esses substitutos podem ser tanto derivados
A cicatrização de feridas por segu nda intenção pode de prod utos naturais como completamente sintetizados
mu itas vezes ter um processo lento ou ter como resultado em laboratório. Por outro lado, os prod utos prod uzidos
cicatri zes fu ncionais e esteticamente desfavoráveis. Uma em laboratório podem ser derivados de materiais natura is,
poss ibilidade para esses casos seria a indicação de substi· o que causa confusão de nomenclatura.1·4
tutOS de pele.1 O substituto cutâ neo considerado ideal deve apresen-
Campo interdisciplinar que aplica os princípios da en- tar propriedades comparáveis às da pele humana.'
gen haria e das ciências da vida, a bioengen haria tem avan- o Suportar hipoxia.

çado no desenvolvimento de substitutOS biológicos, que o Ampla d ispon ibilidade.

441
< 442 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

o Presença de componentes dérmicos e epidérmicos. Nessa classe estão incluídas as coberturas utilizadas no tra-
o Reologia comparável à da pele. tamento de feridas, que auxiliam o reparo do tegumemo
o Res istê ncia à infecção. em várias s ituações. Os curativos são utilizados para melho-
o CustO/beneficio adequado. rar as cond ições do leito da ferida, podendo ser, em algu-
o Facilidade de preparação. mas ocasiões, o próprio tratamento defi nitivo. Em muitas
o Baixa amigen icidade. s ituações, trata-se apenas da etapa intermediá ria para o
o Facilidade de armazenamento. tratamento cirúrgico.s
o Res istê ncia ao cisalhamemo. Os curativ05 podem ser classifimdos em pass ivos (Quadros
75.1 e 75.2), curativos com princípios ativos (Quadro 75.3),
A decisão de qua l substituto cutâneo empregar é deter- cu rativos inteligentes (Quadro 75.4) e curativos biológicos
minada por fato res como tipo, taman ho e profund idade (Quad ro 75.5). A terapia por pressão negativa, idealizada por
da ferida, comorbidades presentes, preferências do pacien- Argenta & Morikwasem 1997 e introduzida no Brasil em 2003
te e experiência do ci ru rgião' por Ferreira et ai., também ganha espaço no arsenal terapêuti·

CLASSIFICAÇAO
- co moderno como mais uma opção no tratamento das feridas
(Quad ro 75.6).1
A classificação ma is utilizada é a proposta por Na classe li estão incluídos os substitutos cutâ neos du-
Balasubramani em 2001 e mod ificada por Kumar em 2008, ráveis de camada ún ica, os quais podem comer substâncias
q ue divide os substitutOs cutâ neos em classes I, li e lll.' s imilares aos componentes dérmicos ou epidérmicos.
A classe I contempla os materia is de curativos tempo- A classe III compreende os substitutos de pele compos-
rários e impermeáveis, que funcionam como barreira me- tos, q ue podem ser fabricados com pele humana ou por
câ nica contra agentes biológicos e evitam a perda hídrica. engen haria de tecidos.'

Quadro 75 . 1 Exemplos de cobertura (curativos passivos) encontrados no mercado brasileiro•

Composição Mecanismos de ação Indicações Contralndlc ações

Curati vo aderent e Tela de acetato de Livre fluxo de exsudato Queimaduras de Feridas infectadas e
(Rayon) celulose com vaselina profundidade parcial. áreas com grande volume de
ou soro fisiológico doadoras e receptoras de exsudato
enxerto e lacerações

Filme transparente Polímero de poliuretano Cobertura permeável Feridas com fechamento Feridas com
com adesivo de acrílico a gases e por primeira intenção sem exsudação
em uma das faces impermeável à água exsudato e áreas doadoras
e a microrganismos. de enxerto
Manutenção do leito
úmido. Alivio da dor

Quadro 75 .2 Exemplos de curativos passivos encontrados no mercado brasileiro•

ComposlçAo Mecanismos de açAo Indicações Contraindicações

Hidrocololde Poliuretano Absorção de pouco Proteção de Feridas com grande


semipermeável (ext.) exsudato; mantém proeminência õssea exsudação e infect adas
e celulose, gelatina e meio úmido; alívio da {úlceras por pressão) e
pectina (int.) dor; estimula tecido de lesão parcial de pele
granulação

Hídrogel Álcool de polivinil. Ambient e hidrõfilo; ret ém Lesão parcial de pele e Feridas infectadas
poliacrilamidas e umidade; liquidação de feridas com tecidos
polivinil necrose desvit alizados

Alglnato de cálcio Fibras de algas marinhas O cálcio induz Feridas abertas Lesões superficiais com
impregnadas com hemostasia; absorção exsudativas, cavitárias pouca exsudação e
cálcio de exsudato; mantém e sangrantes limpas
o meio úmido
{desbridamento
aut olltico)
Capítulo 75 • Pele Artificial

Quadro 75 .3 Exem plos de curativos com principio ativo en contrados no m ercado brasileiro•

Composição Mecanismos de ação Indicações Contralndlcações

Papaína Enzima proteolltica do Ação de cisteína em Tecido desvitalizado, Hipersensibilidade à


látex do Carica papaya dissolver seletivamente necrose úmida ou seca formulação ou dor,
substratos necróticos feridas limpas e secas
ldesbridante
enzimático)

Colagenase Enzima proteolltica Degrada colágeno da Tecido Feridas limpas e secas


clostridopeptidase ferida desvitalizado, necrose
úmida ou seca

Quadro 75 .4 Exemplos de curativos inteligentes encontrados no mercado brasileiro•

Composição Mecanismos de ação Indicações Contralndlcações

Carvão ativado Fibras de carvão ativado Absorção de exsudato; Feridas fétidas,exsudativas Feridas limpas e
com prata impregnado com prata diminuição do odor; a prata e infectadas secas
a 0,15% ê bacteriostática

Espuma com prata Poliuretano ou silicone Alta absorção com isolamento Feridas exsudativas, Feridas limpas e
entremeados térmico; aderência do colonizadas, superficiais secas
por bolhas de ar silicone ao leito; a prata é ou profundas
impregnadas com prata bacteriostática

Placa de prata Sais de prata Prata Iônica causa Feridas com infecção Hipersensibilidade à
precipitação de proteínas superficial prata
e age na membrana
citoplasmática da bactéria
lbacteriostática)

Quadro 75 .5 Exemplos de curativos biológicos encontrados no mercado brasileiro•

Composição Mecanismos de ação Indicações Contralndlcações

Matriz de colágeno Colágeno bovino ou Agrega sinalizadores, Feridas crônicas e Experiência cllnica ainda
sulno decelularizado que coordenam a anérgicas (p. ex.: limitada
com celulose oxidada ativação de fatores diabéticos, úlceras
de crescimento venosas)
endógenos

Matriz de celulose Membrana de celulose Manutenção da umidade Área doadora de enxerto Feridas muito
produzida por da ferida e ativação de e feridas superficiais exsudativas e
Acinetobacter xylinum fatores de infectadas
desidratada, acrescida crescimento
de poros artificialmente

Pele alógena Lâmina de pele Substituto temporário da Grande queimado, feridas Limitação de bancos de
humana de doador pele humana complexas com perdas tecidos em nosso meio
decelularizada extensas

Quadro 75 .6 Exemplos de curativo utilizando pressão subatmosférica como forma de preparação do leito da ferida 5

Composição Mecanismos de ação Indicações Contralndlcações

Terapia por pressão Esponja, tubos Pressão subatmosférica; Feridas extensas e de Feridas com suspeita de
negativa conectares, película e estímulo à difícil resolução; feridas lesões malignas
adesiva, reservatório e vascularização e à complexas agudas e
bomba de vácuo granulação; controle do crônicas
edema e da população
bacteriana
PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Epiderme (E)
(produzidos em laboratório) ou biossintéticos (que contêm
componentes biológicos e sintéticos) (Figu ra 75.1)1
Camada a ser Derme (D)
substituída A bioengenharia tecid ual propõe, por meio de suas ino-
Composlo (C) vações, reprod uzir a estrutura e a fu nção da pele h umana,
mas ainda tem encontrado algu ns entraves, como necessida-
de de recursos huma nos qua lificados, os custos relacionados
Temporário (T) com a produção dos substitutos cutâneos, riscos biológicos
Substitutos cutâneos Durabilidade de materiais homólogos, ma nipulação complexa e o período
[ Permanente (P)
necessário para a cultura de células autólogas.1
A aplicação de substitutos cutâ neos é viável e contribui
Biológico (b) para a melhora das lesões refratárias e crônicas. Atua lmente,
Origem do
contamos com arsenal terapêutico vastO capaz de auxiliar o
Biossintético (bs)
produto reparo tecidual em várias situações. A utilização de substitu·
Sintético (s) tOS cutâneos representa, sem d úvida, um importante ava nço
no tratamento de feridas. A bioengen haria tem promovido
Figura 7 5.1 Classificação dos substitutos cutâneos proposta o desenvolvimento de materiais sofisticados que se aproxi·
pela Disciplina de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da
mam, cada vez ma is, das propriedades naturais da pele hu-
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. '
ma na. Po r outro lado, produtOs de tecnologia mais simples
e de ba ixo custo têm revelado sua grande utilidade como
substitutos temporários de curto prazo, constituindo-se em
Em 2011, a Disciplina de C irurgia Plástica da FMUSP uma boa alternativa para o tratamento dos casos de menor
elaborou uma nova proposta de classificação dos substitu· gravidade. Cabe aos profissionais da saúde fazer a melhor
tos cutâ neos com o objetivo de criar uma classificação mais escolha, sem nunca esquecer o quadro sistêmico q ue está
prática e abra ngente, que contemple também as inovações envolvido no tratamento de uma ferida.
tecnológicas, baseada nos segu intes critérios:
o Camada da pele a ser substituída. Referências
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1. Tebcherani AJ. Histologia básica cutânea. In: Malaguni W (org.)
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sional. São Paulo: Martinari, 2010:25-32 .
Nessa classificação, o critério "camada da pele a ser 2. Ferreira MC, Paggiaro AO. lsaac C, Neto NT. Santos GB. Subs-
titutos cutâneos: conceitos atuais e proposta de classificação.
substitu ída" é d ividido em epidérmicos, dérmicos e com- Rev Bras Cir Plást 2011 ; 26(4):696-702.
postos dermoepidérmicos. Em relação à d urabil idade, os 3 . Granja PD, Filho JAL, Hurtado S, Leiros MA, Franco T. Borojevic
substitu tos podem ser classificados como tempo rários ou R, Takyia CM. Substitutos biológicos de pele. Revista Brasileira
perma nentes. de Medicina 2007; 64:306-313.
4 . Granja PD et ai. Pele artificial. In: Silva MR. Fundamentos da
O critério "origem do material constitu inte" foi sub- dermatologia. Vol. 2. Rio de Janeiro: Atheneu, 2010:21 13-1 4.
dividido em mate riais bio lógicos (de tecidos huma nos, 5. Smaniono PHS, Galli R, Carvalho VF. Ferreira MC. Tratamento clí-
de an ima is o u do cultivo de células humanas), sintéticos nico das feridas - curativos. Rev Med 2010; 89 (3/4):137-41.
Anestesia
Sandra Lyon
Helena Lyon Moreira

An estésicos são substâncias que, em contato com uma de 1902, q ua ndo Emil Fischer desenvolveu o barbital, o
fibra nervosa, têm a pmpriedade de interromper os influxos primeiro barbitú rico.
nervosos. Os anestéSicos evitam a geração e cond ução do Em 1860, Nieman n observou o efei to anestéSico na lín·
impulso nervoso, agindo na membrana celular dos axõnios.' gua com o uso da coca ína extraída do arbusto da Erythrm-ylon
coca. Em 1884, Karl Koller, precon izou o uso da cocaína
' como anestésico tópico para cirurgia de olhos e na prática
HISTO RICO odontológica. Em 1905, Ei nhorn & Braun sintetizaram a
O controle da dor sempre foi uma preocupação na proca ína, com éster do ácido parami noben zoico e, em 1943,
história da medici na. Hipócrates (460-375 a.C.) empregava Lofgren si ntetizou a lidocaína, um anestéSico do tipo am ida,
vapores de bangue (erva) para promover narcose em seus derivado do ácido dietilaminoacético, com início de ação
pacientes. Esculápio (1 200 a.C.) empregava a nepenta (erva) mais rápido e tempo de anestesia mais prolongado.z.>
para obter insensibilidade em pacientes ci rú rgicos. Os egíp-
cios usavam a mandrágora para aliviar a dor e os incas mas-
cavam a folha de coca também para o alívio das dores.' DOR
Na Europa, até metade do século XIX, o único alívio A dor co nstitui sensação sensorial e emocional desa·
para as dores de um proced imento cirú rgico era a ingestão gradável, deco rrente da lesão real ou potencia l dos tecidos
de grande qua ntidade de álcool. O químico }oseph Priestley do o rga nismo.' A dor é cons iderada um mecan ismo pro·
descobriu o óxido n itroso e sugeriu seu uso durante as cirur- tetor porque é por meio dela q ue ocorre a percepção de
gias por seus efeitos estimulantes e analgésicos. qualquer alteração no meio capaz de provocar agressão aos
Em 1846, o dentista W illiam Morton ( 1819-1869), por tecidos com capacidade de resposta. Os estímu los nocivos
sugestão do químico Ch arles Jackson, aplicou a primeira provocam uma sensação desagradável, mediada pelas fi·
anestesia com éter de que se tem relato, para q ue o méd ico bras nervosas do sistema nervoso autônomo até o sistema
John Warren, em Massach usettS, pudesse extra ir um tu- nervoso central e q ue é representada como do r.'
mor no pescoço de um paciente. A percepção da dor é um processo anatomofisiológi·
Em 1847, na Escócia, o obstetra }ames Simpson utili- co q ue se dá por meio das estruturas nervosas dos órgãos
zou uma alternativa com clorofórmio . Em 1853, a rai nha ou receptOres da dor, por mecanismos de condução e per-
Vitória solicitou a anestesia com clorofórmio para o parto cepção.
de seu o itavo filho, o príncipe Leopoldo, realizado por John Nesse contexto, a percepção da dor loca liza-se no cór·
Snow. A partir de en tão, a anestesia passou a ser aceita pela tex cerebral e está na dependência da integridade de ou tras
comunidade já q ue, até e ntão, a igreja se mostrava resistente. estruturas anatõm icas, como as terminações nervosas livres
A anestesia e ndovenosa foi desenvolvida por Pierre e as fibras nervosas sensi tivas aferentes, para a condução do
O ré, na França, em 1874. Seu uso generalizou-se, a partir influxo nervoso desde a sua origem até o córtex cerebra l.

445
( 446 PARTE XX • Cirurgia Oennatológica

Na fase de reação à dor, ocorre o envolvimento do cór- Quadro 76.1 Valores de pKa e tempo de latência'
tex cerebral, represencando a imegração e a avaliação da Anestésico pKa Inicio aproximado da açlo
dor pelo sistema nervo.,o central.
Mepivacaína 7.6 2 a 4 m1nutos
A reação à dor depende do funcionamento do cónex
cerebral e do tálamo. De...~e mcxlo, a depre....~o ralãmica Articaína 7.8 2 a 4 monutos
resulta na elevação do limiar da dor, enquanto a depressão
lidocaina 7.9 2 a 4 monutos
corrical provoca maior reação à dor.
O limiar de reação à dor é imerpretado como inversa- Prilocaina 7.9 2 a 4 m1nutos

mente propOrciona I à reação à dor. Bup;vacaina 8,1 Sa 8 monutos


O limiar de reação à dor varia de acordo com \':\rios fa-
Procaína 9,1 14 a 18 m1nutos
tores, corno estado emocional, fadiga, idade, sexo e medo.
Assim, o limiar de reação à dor elevado repre.~enta uma
reação à dor d imi nuída.'
O pKa repre.~ema a constante di&~ociação do anesté-
s ico no pH do meio em que foi injetado e determina a
ANESTESIA relação da concentraç:io hase livre:forma catiôn ica.
A velocidade de inicio da ação anestesica está rela cin·
A anestesia tem como obj etivo elimina r a do r du rante
nada com o pKa do anestésico (Quadro 76.1 ).
o proced imento cirürgico.
O pH do in te rior do nervo permanece razoavelmente
estável, ape.~a r da va ri ação do pl l nos lfquidos extracelu·
Tipos de anestesia lares.'
• A anestesia local consiste na aplicação, por via tópica o u O ane.~tésico local mais uti lizado é a lidocaína, em vir-
injetável, de uma solução que levará à perda reversível tude de sua pmência e segu rança. Tem metabolismo he-
da sensação dolorosa no loca l aplicado. pático, com início rápido e longa duração de ação. Pode
• A ane.~tesia regional se con;rirui em um bloqueio locor- ser utilizado tópico, como infiltração, bloqueio de nervos
regional com o ohjeti\'O de eliminar a dor em uma área periféricos, raquiane.~resia e bloqueio epidural.
maior. A lidocaína pode ser a.~sociada à adrenalina para indu-
zir vasoconsrrição, o que ajuda na hem<l>ta~ia, prolonga a
Na ane:.te;.ia por bloqueio, o agente ane...r6ico exerce- anestesia e previne a toxicidade ~bti!mica. O U>O da atire·
rá sua aç.'io em um ramo ou tronco nervo~o pOr injeção.< nalina deve ser evitado na realização de hi<X(Ueim nel'\>~l..'><.l>
de maneira circular, como ~ que >ão feito> n<l> dedo> ou
no pênis, sobretudo em paciente.., com in>uficiência va>cu-
ANESTÉSICOS lar. A adrenalina deve >er evitada em grávida.., e no> pacien-
Os ane>tésico~ locais pertencem a doi> grupos quími- tes com feocromocitoma, hipertireoidbmo e glaucoma.;
cos: o grupo éster e o grupo amida. A molécula dessas subs- A dose máxima da lidocaina a 1% ê de 4,5mg/kg,
tâncias apresenta em comum um anel aromático ligado a sendo 22,5rnL para pacientes de 50kg e ) 1,5m L para pa-
um polo hidrofílico (grupo am in a) e um polo lipofílico cientes de 70kg.
(grupo ésrer ou amida). A~ principais >Uhstâncias anestéSi- A dose máxima da lidocaína a I% com adrenalina é de
ca~ desenvo lvidas são: 7mg/kg, sendo 35m L para pacientes do: 50kg e 49mL para
• Grupo éstcr (metabolismo plasmático): cocaína, pro- pacientes de 70kg.s
ca ína, cloroprocaína e tetracaí na. Doses excessivas podem causa r verrigem, sonolência,
• Grupo amida (metabo lismo h epático): lidoca ína, me- visão fo ra d e foco, f.'lla arrastada , contraçõe.~ musculares,
pivacaí na, priloca ína, bupivacaína, etid oca ína e ropiva- calafrios, convulst'\es e d epressão ca rdfaca e respi rató ri a,
ca ína. podendo levar ao óbitO!
O distúrbio vagai é um e fe ito ohservado. 6
A bupivacaína (marcai na) é utilizada quando se nece.~­
PROPRIEDADES DOS ANESTÉSICOS sita de anesrésico de longa duração: 120 a 140 minutos;
Os sais dos ane>tésicos locais são eHáveis e solúveis em quando a.%ociada à ad rc:nalina, a duração é de 240 a 480
água. Esses sai~. cloridratos, muitas vezes se ionizam quan- minutos. A dose máxima da hupivacaina é de 150 a 250mg.
do em solução aquosa. O grau de ionização de um anestéSi- A prilocaína é um fármaco de latência curta e de dura-
co local depende da propriedade fi..,ico·quimica particular ção média. Considerado menos tóxico do que a lidocaina,
de cada anestésico, chamada pKa, e do pH do meio em é usado nos pacientes com .en;.ihilidade ao.., ane..,rt!sicos
que o ane.~t6ico irá a rua r. com efeitOS menos va~ilatadores. Comercializada na
Capítulo 76 • Anestesia

concentração de 3%, não deve ser usada em doses ma io res Complicações decorrentes do uso de
do que 600mg porque pode provoca r metaemoglobine- anestésicos locais
mia. É comumente util izada em idosos. As reações sistêmicas e locais são semelhantes para tO·
A mepivacaí na é um fármaco do grupo das amidas com dos os anestéSicos loca is.
metabol ismo heparobiliar de latência rápida e d uração mé· • Associadas a n íveis elevados dos anestéS icos no sa ngue.
dia. Quando associada a vasoconstritor, sua duração é lon- • Resultam de superdosagem.
ga, podendo ch egar a 5 o u 6 horas, dependendo da região • Absorção rápida.
anatômica. É eficaz para uso tópico. Para infiltração local, • Adm inistração endoven osa inadvert ida.
utiliza-5e a concentração de 0,5% a 2%.
A procaina, a cloroprocaína e a tetracaína pertencem A absorção das mucosas é rápida, semelhante à adm i·
ao grupo dos ésteres, com metabolismo plasmático de nistração endovenosa, em razão da rica vascularização local.
ação, durabilidade variável e propriedades que exigem cu i·
dados especiais. Complicações decorrentes do uso de
anestésicos locais
VANTAGENS DA ANESTESIA LOCAL • O uso de vasopressores associados ao anestéSico loca l
• S implicidade técn ica. retarda a absorção, d ificultando a sobredosagem e poss i-
• Hemorragia meno r. bilita ndo a anestesia de áreas maiores, bem como o uso
• Meno r incidência de vômitos e náuseas. de doses ma iores.
• Menos distú rbios das fu nções do corpo. • As reações adversas afetam, principalmente, o coração,
• Menor incidência de complicações pulmonares. a circulação, a respiração e o SNC.
• Mais econômica.
Reações adversas sobre o sistema
cardiovascular
EFEITOS ADVERSOS E COMPU CAÇOES
- Ação depressora di reta sobre o miocárd io, vasodilata-
Efeitos adversos sistêmicos dos anestésicos ção, hipotensão, b radicardia, pa lidez, sudorese e arritm ia
card íaca.
Os anestésicos do grupo dos ésteres apresentam rea-
ções cru zadas com as substâncias PABA (ácido parami·
noben zoico), parafen ilenodiamina, ben zoca ína e sulfona- Reações adversas sobre o sistema respiratório e
midas, e ncontradas em prod utos utilizados na indústria. SNC
Indivíduos com deficiência da enzima pseudocolinesterase Depressão respiratória, falência respi ratória, apneia,
no plasma podem man ifestar reações adversas. náuseas, vômi tos, euforia, desorientação, convu lsões e pa-
A utilização de anestésico com vasoconstritor exige rada cardíaca.
cuidados com pacientes que se utilizam de medicamentos
inib idores de mo noaminoxidase, digitá licos, anfetam inas e Conduta
antidepressivos, levando a efeitos adversos como aumento • Convu lsão: diazepínicos, barbitú ricos de ação curta e
da pressão arterial, bradicardia. ass istê ncia respiratória com ou sem bloqueadores neu-
O uso de antiplaquetários pode levar a sangramento romuscu lares.
em virtude da ação vasodilatadora dos anestéS icos. • Depressão respiratória: oxigênio a 100% e ventilação
artificia l.
Efeitos adversos locais dos anestésicos • Colapso cardiovascu lar: vasopressores, líquidos EV e
rean imação cardiorrespirató ria.
• Dor: a dor ao injetar o anestéSico é inevitável. Recomenda-
-5e a utilização de agulhas 27 a 30G \lí, com angulação que
acompanha a agulha biselada e leve pressão. A injeção deve Reações aos vasopressores adicionados às
ser em forma de retroinjeção ou em botão, de preferência soluções de anestésicos locais
na junção da derme com a hipoderme, com o objetivo de • Causa: superdosagem o u interações med icamentosas
d istribuir o anestéSico por difusão pelo plexo vascular. (ti reoid ianas, d igitálicas etc.).
• lsquem ia em locais como orelhas, pên is e dedos. • Sinais e sintomas: apreensão, palpitações, tremores,
• Necrose tissu lar. taquicardia, taqu ipineia, sudorese, lipotim ia, fraqueza,
• Diplopia e cegueira temporária. cefa lalgia, palidez, inquietude, infartO, h ipertensão arte-
• Equ inose e micro-hematomas. rial e arri tmia card íaca.
PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Reações aos vasopressores adicionados às A solução de Klein perm ite ultrapassar o limi te máximo
soluções de anestésicos locais de 7mg/kg de lidocaina e chegar com segurança até 35mg/
o A d iferença entre as reações sistêmicas aos vasopressores kg, sem q ue o pico plasmático atinja a dose tóxica.s.to
e aos a nestésicos locais é que os primeiros causam taqui- Em 1966, Ostad, Kageyama & Moy preconizaram a
cardia, mas não convulsões. dose de 55mg/kg"
o O tratamento consiste em administrar oxigên io, vasodi-
o Solu ção de K lein:8
latadores e barbitúricos.
- Lidocaína: 0,05 a O,1% (25 a 50mL) de lidocaina a 2%.
- Ad renalina I mg (l ampola a 1/1.000).
Reações aos vasopressores adicionados às - Bicarbonato de sódio: 12,5mEq (l2,5mL de bica rbo-
soluções de anestésicos locais nato de sódio a 8,4%).
- Soro fisiológico a 0,9%: J.OOOmL.
Evita-se o uso de vasopressores em anestesia local de
porções term inais, como dedos, e em pacientes com his-
tória de tireotoxicose, hipertensão arterial, cardiopatias Para infiltração da solução a nestésica util iza-se a agulha
de Klein, uma cânula de 1,5 a 2mm de d iâmetro, romba,
isquêm icas e d iabetes.
com múltiplos orifícios d irecionados para rodos os lados
em sua extremidade. A ponta romba evita perfuração de
TIPOS DE ANESTESIA vasos, diminu indo o risco de wxicidade sistêmica 8 •9
A anestes ia mmescente está ind icada para os segu intes
Anestesia tópica
proced imentos: lipoaspiração, dermoabrasão, transplante
A anestesia tópica pode ser utilizada, em algumas cir- de cabelo e ci rurgia de maior pone.1•10
cunstâ ncias, para pele e mucosas. Encontram-se disponí-
veis os seguintes tipos:
o Associação de lidocaina a 2,5% e prilocaí na a 2,5%.
Bloqueios anestésicos
o Lidoca ína tópica a 4%. Para os bloqueios devem ser util izados mbetes com
o Tetraca ína a I% (a nestesia ocular). I ,8mL de anestéS ico e seringa Luer ou Carpule, que têm
o Lidoca ína a 10% em spray para mucosa o ral o u a 2% ou agulhas extremamente finas, o que facilita os cu idados que
4% em gel. devem ser observados na execução de técnicas anestésicas
via bucal, quais sejam: injetar lentamente o anestéS ico, o
b isei da agulha deve estar sempre voltado para o osso, nun-
Anestesia infiltrativa ca penetrar com agulha até o intermediário tocar a mucosa
A anestes ia infil trativa é feita com lidocaína ou em me- e, sempre que possível, aspirar (Figura 76.1).
nor escala, com priloca ína. Esta pode ser utilizada na dose
máxima de 600mg (!Omg/kg), na concentração de 3% - a
dose total é de 23mL.
Podem ser utilizadas soluções d iluídas para anestesia
de subcutâneo em complementação à anestesia intradér-
mica:
o Soro fis iológico: 26mL.

o Lidoca ína a 2%: IOmL.

o Ad rena lina 1/1.000: 0,4mL.

o BicarbonatO de sód io a 8,4%: 4mL.

O volume tota l será de 40,4mL com xiloca ína na con-


centração de 0,5% de lidoca ína, 1/100.000 de ad renalina
e 3mEq de bicarbonato, o qual eleva o pH da solução, ame-
n izando a dor da infiltração-'·7

Anestesia tumescente
A anestesia tumescente foi desenvolvida por Jeffrey Figura 76 .1A Bloqueio do ramo do nervo supraorbitário. B Ner-
Alan Klein, em 1987, util izando baixas concentrações de vo frontal interno. C Ramo externo do nervo frontal. O lnfraorbi-
lidoca ína, adrenalina e b icarbonato de sódio. tário. E Nervo nasal externo. F Nervo mentoniano.
Capítulo 76 • Anestesia

Bloqueio dos nervos da face


• Nervo frontal externo: pa lpa r a saída do nervo no re-
bordo o rb itá rio e injetar de I a 2m L de lidocaina a I%
ou 2% com vasoconstritOr.
• Nervo frontal interno: injetar de I a 2m L de lidocaina
a I% o u 2% com vasoconstritor no ângu lo formado pe-
los lim ites superior e interno da ó rbita, o nde usualmen-
te se e ncontra o nervo (Figu ras 76.2 a 76.4).

Figura 76.4 Técnica do bloqueio do nervo supraorbitário.

Nervo frontal interno


Pode-se também b loquear os dois nervos de mane ira
mais s imples: faze ndo botões anestés icos cerca de !em
do arco da sobrancel ha ou injeta ndo em cada nervo cer-
Figura 76. 2 Técnica de bloqueio do nervo supraorbitário. ca de 2 a 3m L de lidoca ína a I% o u 2% com vasocons-
triwr.

Técnica intraoral
• Introdu zir uma agul ha fina de 20 a 25mm de compri-
mento no vestíbulo oral, na altura do dente ca nino.
• Apontar a agulha em d ireção à papila ocular.
• Introdu zir cerca de 20mm e injetar 2m L de lidoca ína a
I% ou 2% com vasoconstritor (pode-se fazer um leque
na região).
• Após injetar, massagear o local levemente para maior
difusão do agente anestéS ico (Figura 76.5 a 76.9).

Técnica extraoral
• Palpar o arco zigomático na borda inferior, na porção
méd ia .
• Calcular aproxi madamente !em abaixo da borda das ó r·
bitas.
• Introdu zir, nesse pomo, uma agulha curta e fina.
• Injetar 2m L de lidoca ína a I% ou 2% com vasoconstri·
tor (pode~e fazer um leq ue na região).
• Massagear o loca l levemente pa ra maior d ifusão do
Figura 76.3 Técnica do bloqueio do nervo supraorbitário. agente anestéS ico (Figura 76.10 a 76.13).
PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Figura 76 .8 Técnica de bloqueio regional dos nervos alveolares


superiores anterior e médio: localização do forame infraorbitário.

Figura 76.5 Técnica de linha incisiva/ápice do canino para blo-


queio regional dos nervos alveolares superiores anterior e mé-
d io: localização do forame infraorbitário no crânio.

Figura 76 .9 Técnica de bloqueio regional dos nervos alveolares


superiores anterior e médio: localização do forame infraorbitário.

Figura 76.6 Técnica de bloqueio regional dos nervos alveolares


superiores anterio r e médio: localização do forame infraorbitário.

Figura 76.7 Técnica de bloqueio regional dos nervos alveolares


superiores anterior e médio: localização do forame infraorbitário. Figura 76 .10 Técnica de bloqueio do nervo infratroclear.
Capítulo 76 • Anestesia

Figura 76 .11 Técnica de bloqueio do nervo infratroclear.

Figura 76.14 Técnica de bloqueio do nervo mentoniano: ramo


do nervo alveolar inferior.

Fi gura 76.1 2 Técnica de bloqueio do nervo infraorbitário.

Figura 76 .15 Técnica de bloqueio do nervo mentoniano: ramo


do nervo alveolar inferior.

Figura 76 .13 Técnica de bloqueio do nervo nasal externo.

Nervo mentoniano
Técnica intraoral
• Introd uzi r uma agulha fina e curta no vestíbulo inferior,
na altura do pri meiro pré-molar inferior, direcionando-a
para a mand íbula.
• Inj etar de I a 2m L de lidocaína a I% ou 2% com vaso-
co nstritOr e m leque.
• Massagear levemente para maior d ifusão do anestéS ico Figura 76.16 Técnica de bloqueio do nervo mentoniano: ramo
(Figu ras 76.14 a 76.16). do nervo alveolar inferior.
( 452 PARTE XX • Cirurgia Oarmatológica

Técnica extraoral
• Localizar o ~egundo pré-mola r e introduzir uma agulha
fina e curta na altura do forame mentoniano palpado
externamente.
• Injetar de I a 2m L de lidocaina a I% o u 2% com vasoc-
constritor.
• Mas.,agear levemente para maior difusão do ane.~tésico
(Figuras 76.17 e 76.18).

Figura 76. 18 Técnica de bloqueio do nervo mentoniano.

Referências
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São Paulo: Livraria e Editora Santos, 2004.
2. Rooney A. A história da medicina. SAo Paulo: M. Books do Brasil,
2013.
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São Paulo: Atheneu, 2002.
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surgery. J Am Dermatol1989; 20(5):815-26.
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Ramos-e-Silva M, Castro MCR. Fundamentos de dermatologia.
Rio de Janeiro: Atheneu, 2010.
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lidocaine doses of mglkg for hposuctoon. J Dermatol Surg Oncol
1990; 16:248-63.
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safety in large volume hposuctron. Plastoc Reconstr Surg 1993;
92:1085-98.
11. Ostad A. Kageyama N. Moy RL. Tumescent anesthesoa wrth a
Figura 76 . 17 Técnoca de bloqueoo regional do nervo mentonia- lidocaine dose of 55mglkg rs safe for hposucuon. Dermatol Surg
no. visão do crânio. 1996; 22:921-7.
Fios, Agulhas e Suturas
Fábio Lyon Moreira
Ângela Carolina Nascimento

A realização de qualquer proced imento cirúrgico é ca- nismos entre os filamentos . Os fios mul tifilamentares,
racterizada por d iérese, hemostasia e síntese. no entanto, têm ma ior estabilidade do nó em relação
Oiérese é o procedimento que promove a descontin ui- aos monofilamentares.
dade de tecidos de modo a possibilitar o acesso ao leito c i· • Capilaridade: é a capacidade de o fio absorver líq uidos
rúrgico. Na hemostasia são realizadas manobras que visam e relaciona-se di retamente com a capacidade de capta r,
à interrupção de sangramentos, enquanto a síntese co nsis- transportar e reter microrganismos. Os fios multifila-
te nas manobras de aproximação dos tecidos. mentares têm maior capilaridade e, portanto, apresen-
Para desempenhar essas trés etapas com maior eficácia, tam ma ior aderência microb ia na.
o cirurgião se util iza de ma teriais com ca racterísticas d iver- • Diâmetro do fio: refere-se à espessura, em milímetros, que
sas, escolhidas de acordo com o objetivo do procedimento. convencionalmente é expressa em nú meros de zeros. Fios
fi nos têm menor d iâmetro transversal e mais zeros, enquan-
'
to fios de ma ior diâmetro têm menos zeros. A resistência à
FIOS CIRURGICOS tração sobre o nó é pmporcional ao diâmetrO, porém fios
O fio ideal necessi ta ter força tênsil por tempo sufi- de diferentes materiais e com o mesmo número de zeros
ciente até que a cicatri z ati nj a resistência a trações corri· não apresentam, necessariamente, o mesmo diâmetro.
quei ras e deve causar mín ima reação tecidual, ter um bom • Resistência à tração: é a força de um fio, dividida por
custO e boa maleabilidade. seu diâmetro, necessária para romper-se. Varia de aco r-
Didaticamente, os fios são classificados da seguinte do com a constitu ição de cada materia l.
maneira: • Força do nó: é a força necessária para deslizar o nó. Fios
• Sintéticos: fios obtidos de materiais não existentes na tu· mais áSperos têm ma ior coeficien te de atrito e fixam o
ralmente (p. ex. , náilon, prolene, pol iéster). nó ma is facilmente, mas têm pior desl izamento. Assim,
• Biológicos: fios provenientes de materiais naturais (p. fios multifilamentares apresentam maior coeficiente de
ex. , seda, linho, categl.lte). atrito, fixando o nó com mais facilidade e em meno r
• Minerais: fios obtidos de minera is (p. ex., aço). n úmero. j á os fios monofilamentares necessitam mais
• Capacidade de sofrer degradação: absorvíveis, q uando nós para reforçar a su tu ra.
degradados pelo organismo ao longo do tempo, e inab- • Elasticidade: é a capacidade de o fio retornar à forma
sorvíveis, quando isso não ocorre. e ao comprimento natu rais após sofrer estiramento.
• Configuração física: podem ser monofilamentares, Quanto maior a elasticidade do fio, menor será o risco
quando co nstituídos de um ú nico filamento, ou multi· de ruptura das bordas da incisão.
filamentares, quando apresentam filamentos trançados, • Plasticidade: é a propriedade de um fio manter nova
os q uais são menos resistentes a infecções em vi rtude do forma após ser man ipulado. Relaciona-se d iretamente
risco maior de alojamento e multipl icação de microrga- com a elasticidade.

453
PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

o Memória: é a capacidade de o fio retornar à sua forma já as agulhas de ponta cortante são traumáticas e triangu-
original após ser ma nipulado. É o oposto da plastici- lares transversalmente. Seu uso é adequado para tecidos
dade. A~s im, fios de alta memória são mais d ifíceis de rígidos e espessos.
man ipulação e fixação de seus nós.
o Reação t issular: rodo fio de sutura é um corpo es-
tran ho ao ser inserido no tecido e induz a formação SUTURAS
de processo inflamató rio. QuantO mais espesso é o A síntese adequada de um tecido depende da escolha
fio, ma ior é o tra uma causado du rante sua inserção do material de sutura, do local do tecido q ue será suturado
e, consequentemente, maior será a reação tissular, e do tipo de ponto utilizado.
retardando a cicatrização e aumenta ndo o risco de Sutura em pontos separados tem como vantagens a
infecção. menor presença de corpo estra nho no interior da ferida,
causa menos isquemia do que a co ntinua e o afrouxamen-
to o u queda de um nó não interfere no restante do reparo
tecid ual. No enta nto, apresenta como desvantagem o fato
AGULHAS de ser mais trabalhosa e de ser lenta sua execução.
As agul has, de acordo com suas características, podem o T ipos de sutura em pontos separados:

causar mais ou menos danos ao tecido em que são aplica- - Ponto simples (Figura 77.1).
das. Podem ter ponta romba ou ponta cortante. As agu- - Ponto em U horizontal (Figura 77.2).
lhas de ponta romba são atraumáticas e apresentam secção - Ponto em U vertica l (Do nati) (Figura 74.3).
transversa cilínd rica. São util izadas em tecidos delicados. - Ponto em X horizontal (Figura 77.4).

Figura 77.1 Ponto simples. (Fonte: Guia Práctica de Suturas- Universitat Autonoma de Barcelona.)

.. ~
7
______.. -~

Figura 77.2 Ponto em U horizontal. (Fonte: Guia Práctica de Suturas- Universitat Autônoma de Barcelona.)
Capítulo n • Fios, Agulhas e Suturas

/ /-{- -
('[._·----
'

Figura 77.3 Ponto em U vertical (Donati). (Fonte: Guia Práctica de Suturas- Universitat Autànoma de Barcelona.)

- Chuleio ancorado (Figura 77.6).


- Sutura em barra grega (Figura 77.7).
- Sutura intradérm ica (Figura 77.8).

Nas sutu ras de pele, a tensão deve ser a mín ima pos-
sível, para evitar sofrimento tecidual, a lesão epidérmica
deve ser mín ima, para obter-se uma cicatrização com me-
lhor estética, e as bordas têm de estar pa ralelas, sem ever-
... são o u inversão. Devem ser feitas cuidadosamente, pois são
consideradas "a apresentação do ci rurgião".
Devem ser utilizados fios inabsorvíveis, como náilon
ou poliéster, q ue, por promoverem menor reação tecidua l,
propiciam cicatrizes mais estéticas.
Figura 77.4 Ponto em X horizontal. (Fonte: Guia Práctica de
As suturas mais ind icadas à pele são:
Suturas- Universitat Autànoma de Barcelona.)
• Pontos separados de fio inabsorvível.
• Pontos separados de fios de ácido poliglicólico.
Na sutura em pontO continuo, devem ser cons iderados • Pontos intradérmicos, preferencialmente separados, de
o nó inicial, a sutura propriamente d ita e o nó terminal. fio inabsorvível ou absorvível de ácido poliglicólico.
• T ipos de sutura contínua mais com uns: • Aproxi mação das bordas com tiras de esparad rapo mi-
- C huleio simples (Figura 77.5). croporado ou com colas de cia noacrilato.

- .,....

Figura 77.5 Chuleio simples. (Fonte: Guia Práctica de Suturas- Figura 77 .6 Chuleio ancorado. (Fonte: Guia Práctica de Suturas
Universitat Autànoma de Barcelona.) - Universitat Autànoma de Barcelona.)
PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Figura 77.7 Sut ura em barra g rega (Fonte: Guia Práctica de Su- Figura 77.8 Sutura int radérmica. (Fonte: Guia Práctica de Sut u-
turas- Universitat Autonoma de Barcelo na.) ras - Universitat Autànoma de Barcelona.)

Quadro 77.1 Principais fios e s uas características

Fios absorvíveis
Categute simples Feito de tripa de carneiro. Tempo médio de absorção: 5 a 8 dias. Utilizado em t ecido subcutâneo, trato
gastrointestinal e cirurgias urológicas
Categute cromado O revestimento de cromo sobre o fio retarda o tempo médio de reabsorção para 20 dias. É de diffcil manipulação
Ácido poliglicólico (Dexon8 ) Reabsorvído entre 60 e 90 dias, mas o nó perde resistência em 3 semanas. Utilizado em subcutâneo,
músculos e fáscias. E multifilamentado
Ácido poligaláctico (Vicryl") Reabsorvido entre 60 dias e mantém resistência nesse perfodo. Usado para os tratos gastrointestinal,
urológico e ginecológico e em oftalmologia. É mono e mult ifilamentado
Polidioxanona (PDS'". Eo mais lentamente reabsorvido: 180 dias. É utilizado para reparo de t endões, cápsulas articulares e sutura
Maxon8 ) aponeurótica. É monofilamentar
Monocryl" Trata-se de um polímero monofilamentar de glicolida e caprolactona. Sua força t ênsil é quase nula após 21
a 28 dias dos fios incolor e tingido, respectivamente. Totalmente absorvido entre 90 e 120 dias, é m uito
ut ilizado para sutura intradérmica
Fios inabsorvíveis
Seda Permite realizar nós firmes e é multifilamentar. Apesar de ser classificado como inabsorvfvel, é absorvido
em 1 a 2 anos
Algodão Permite nós firmes, é m ultifilamentado, causa granuloma de corpo estranho e é usado para ligadura de vasos
Poliést er (Mersilene'") Requer m uitos nós (pelo menos 5), é multifilamentado, resistente e durável e causa pouca reação tecidual.
Utilizado em aponeuroses, tendões e vasos
Poliést er coberto Tem revestimento de resina que preenche os filamentos, conferindo-lhe o comportamento de fio
(Ethibondê) monofilamentado
Náilon Não produz nó firme, t em elasticidade resistente à água e é reabsorvido em 5 anos. E mono ou
multifilamentado e utilizado em pele
Polipropileno (Prolene"? Causa pouca reação t ecidual, não produz nó firme e mantém resistência tênsil prolongada. É
monofilamentado e usado em suturas vasculares
Aço Pouco inerte e pode ser corroído. Sua rigidez dificulta o manuseio e pode causar desconforto ao
mov imento. Usado em ortopedia e em esternorrafias

A sutura d o subcu tâneo é importante para q ue seja Referências


evitada a formação d e coleções serosas e hemáticas d evido Townsend CM, Beauchamp RD, Evens BM, Mattox KL. Sabiston -
ao espaço mortO, o que favorece infecções e deiscencia das TeXlbook of Surgery. Tratado de cirurgia. Vols I e 11, 18. Ed. Saun-
ders, Elsevier, 2009.
ferid as. A sutura deve ser feita com pomos separados de
Goffi FS. Técnica cirúrgica: bases anatõmicas, fisiopatológicas e téc-
fios absorvíveis, como categute ou ácido poliglicólico. nica da cirurgia. 4' ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2001.
O Quadro 77.1 lista os principa is fios e suas caracte-
rísticas.
Biópsia em Dermatologia
Alexa nder Co rd eiro Teixeira

Este capítulo tem por objetivo revisar a execução de lesões ú nicas e pequenas, a biópsia será, ao mesmo tempo,
biópsia em dermato logia, abordando variáveis que influen- d iagnóstica e terapêutica (p. ex., pequenas verrugas, mo-
ciam desde a decisão em rea lizar uma biópsia até o resulta- lusco contagioso e queratoses). Em o utros casos, to rna-se
do histopawlógico, fu ndamental ao diagnóstico e ao cor- obrigatória sua realização, como em caso de suspeita de
reto tratamento do paciente. Apesar de considerada um lesões neoplásicas e em todas as doenças bolhosas. O lau-
procedimento minimamente invasivo e de rotina, não deve do anatomopatológico também auxilia o estabelecimento
ser negligenciada a complexidade da biópsia. A identifica- do protocolo cirúrgico, além de ser um fatOr contribu inte
ção do paciente que realmente necessi ta de biópsia, o tipo para o vínculo na relação méd ico/paciente, fortalecendo a
de bióps ia e a técnica mais adequada, além da escolha do certeza do méd ico em seu diagnóstico clínico e a co nfia nça
local a ser biopsiado, são farores relevantes para o sucesso do paciente na conduta adotada, podendo ainda ser requ i-
da intervenção. A não realização correta de uma biópsia si tado para autOrização do uso de certos medicamentos no
pode ocasionar mais e rros do que a execução de biópsias Sistema Ú nico de Saúde. Essa cond uta pode ser adotada
desnecessárias. para efei tos de registro d iagnóstico no segu imento de pa-
cientes por diversos anos. No caso de lesões pigmentadas
que sofrem risco de recid iva, pode ser difícil pa ra o derma-
CONCEITO tOlogista lembrar e provar, no futuro, que sua impressão
Biópsia de pele é o proced imento médico de peque- d iagnóstica de ben ignidade e a escolha da técnica ci rú rgica
no porte q ue remove uma amostra de tecido necessá rio foram acertadas no passado.
para o exame a nawmopatológico, auxi liar ao diagnósti· É relevante ressalta r que muitas lesões podem apre-
co de doenças, o u para estabelecer o estad iamen to de senta r aspectO benigno na inspeção e posteriormente ser
tumores. revelado o utro diagnóstico na histopato logia (Quadro
78.1).
-
IN OI CAÇOES
Segu ndo a Academia Americana de DermatO logia,
nem mesmo clínicos experientes são capazes de d iag-
Para realiza r uma bióps ia, o profissional deve ter em nosticar corretamente lesões pigmentadas apenas com
mente uma suspeita diagnóstica, baseada na q ueixa do pa- base em critérios clínicos; portanto, sempre q ue ho uver
ciente, na história pregressa da lesão, bem como no exame d üvida, será necessária bióps ia com estudo anawmopa-
clin ico, servindo o exame a natomopatológico para confi r- tOlógico.
mação dessa suspei ta. Doenças in flamatórias de pele com Alguns profissionais não raramente adotam a co nduta
diagnóstico clinico duvidoso e tumores o u lesões cutâ neas de suprimir a análise hiropatológica de lesões cons idera-
com suspeita de ma lignidade necess itam desse estudo para das cli nicamente ro tineiras, como queratoses seborreicas,
definição de tratamento e cond uta. Em alguns casos de pólipos fibroepi teliais, cistos epidérmicos e nevos melano-

457
PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Quadro 78.1 Exemplos de lesões benignas com diagnóstico Deve ser cons iderado ainda o custo-benefício da utili-
d iferencial para lesão maligna
zação de materiais descartáveis. O uso de material reeste-
Suspeita diagnóstica Diagnóstico diferenci al ril izável exige infraestru tura de desinfecção, lavagem, em-
pacotamento e esterilização em autoclave, de acordo com
Oueratose seborreica CBC, doença de Bowen,
queratoacantoma e normas especificas.
melanoma O parecer de 1995 do Co nsel ho Federal de Med icina
(PC/CFM 44/95) autOri za o méd ico a decidir pelo exame
Oueratose seborreica Melanoma
pigmentada anatomopatOlógico sempre em favor do paciente e sem ca-
ráter obrigató rio. Por outro lado, a Sociedade Brasileira de
Cisto infundibular CBC
Patologia, no Parecer 43/2006, enfatiza a necessidade de
Casos de doenças Suspeit a de lesões o médico esclarecer ao paciente as razões da reti rada de
inflamatórias e lesões carcinomatosas seus tecidos, bem como informá-lo dos objetivos de um
pigmentadas
procedimento anatomopatológico. Esse protOcolo deverá
CBC: cara noma basocelular. ser documentado com a ass inatura do paciente em um ter-
Fonte: Werner. 2009. mo de consentimento esclarecido, o que previne possíveis
mal-entendidos no futuro.
c•t•cos, não valoriza ndo seu d iagnóstico d iferencial. Em
revisão de 9.204 exames anatOmopatOlógicos, nos quais a
lesão de pele foi diagnosticada clinicamente como q uera- TIPOS DE BIÓPSIA
tose seborreica pigmentada, havia 61 casos de melanoma. Quanto à abra ngência da intervenção ci rú rgica, a
A semelhança clí nica entre as duas lesões torna necessário biópsia pode ser classificada em dois tipos:
o exame microscópico de todas as q ueratoses seborreicas • Biópsia incisio nal: retirada parcial da lesão, tem como
removidas dos pacientes. objetivo confirmar o diagnóstico para planejamento fu-
turo da conduta terapêutica, que será determinada pelo
LEGISLAÇAO
- resu ltado do exame anatOmopawlógico acrescido das
condições clínicas.
O profissional mais qualificado para proceder a uma • Biópsia excisio nal (exé rese): remoção tOtal da lesão
biópsia de pele adequada é o dermatologista. Os dermato· ou de uma das lesões com as margens cirú rgicas livres.
logistas têm capacidade duas vezes maior q ue a de outros Pode ser cons iderada também não a exérese total da le-
médicos de obter a correlação cli nicopatológica acertada. são, mas a de um espécime sign ificativo para avaliação,
Comprova essa afi rmação o fato de d iagnósticos histopa- como no caso das doenças bolhosas, em que o ideal é a
tológicos realizados nas biópsias de pele referidas por um retirada de uma bolha íntegra.
serviço de dermatOlogia terem sido mais específicos (77%)
do que os referidos por serviços não dermatológicos (41%).
Isso mostra a importância d ireta do papel do dermatOlogis- '
CRITER~OS
-
DE SELEÇAO DO TIPO DE BIOPSIA E
'
ta no resultado da biópsia de pele.
A realização de biópsia em ambiente ambu latoria l é DA LESAO A SER BIOPSIADA
au to rizada pelo Co nsel ho Federal de Medicina para pa- O co nhecimento de certOs princípios báS icos da der-
cientes com classificação do estado físico (ASA) I (paciente matopatologia é essencial para a seleção dos melhores local
saudável) e 2 (doença sistêmica leve). e da técn ica para biópsia.
Todo o tecido retirado deve ser enviado para análise A necessidade de uma biópsia deve ser estabelecida e
histopatOlógica. É de responsabilidade do méd ico obter o discutida com o paciente. O dermawlogi~ta deve conside-
consentimento livre e esclarecido do paciente previamente rar a possibilidade de fazer duas biópsias no mesmo mo-
à realização da intervenção. mento, q uando o d iagnóstico diferencial for amplo, e/ou
Por se tratar de procedimentO q ue e nvolve risco de quando o paciente apresentar lesões com múltiplas carac-
doença transmiss ível por material biológico, deve-se pro- terísticas, o que previne biópsias inconclusivas, além de ser
ceder à vaci nação para hepatite B e à utilização de mate- mais confortável para o paciente do q ue um procedimento
rial de proteção ind ividual, inclu indo óculos, máscara e posterior pa ra o mesmo fim . Quanto ma ior a amostragem,
luvas. maior a possibilidade de observação dos achados microscó-
Deve haver garantias de q ue o local está adequado para picos essenciais pa ra o d iagnóstico.
a prática do procedimento, respeita ndo as normas da vigi- Cabe ao profissional optar pelo tipo de bióps ia a ser
lância sanitária e do Conselho Federal de Medicina. realizada. Para essa decisão devem ser analisados: a hipóte-
Capítulo 78 • Biópsia em Dermatologia 459

se d iagnóstica, o taman ho, o local da lesão, sua habilidade


cirúrgica, bem como, q uando for o caso de mais de uma
lesão, a distribu ição no corpo do paciente.
Pacientes com lesões suspeitas de melanoma primá·
rio devem ser submetidos a biópsia. Apesar das evidên·
cias clínicas que demo nstram que a bióps ia incisional
não prejud ica as taxas de sobrevida, o grupo Brasile iro de
Melanoma recomenda a biópsia exc isional. Caso o pro-
fissional não apresente hab ilidade cirú rgica, deve encami-
nhar o paciente a um derma tologista ou a um ciru rgião
q ualificado.
É importante ter cuidado com o taman ho da peça em
relação ao tama nho da lesão, uma vez q ue quando a peça
é muitO maior do q ue a lesão, esta pode não ser ana lisada
no momento da análise histopatológica.
A partir de determ inado tama nho de lesão, ma ior
acurácia é exigida do médico, sendo necessário, às vezes, o Figura 78.1 Lesões bolhosas. (Fonte: acervo do autor.)
fechamento da ferida com retalho cutâ neo ou até mesmo
enxerto.
A escol ha da região da lesão a ser biopsiada depende
de seu estágio (Q uadro 78.2).
Lesões mui to recentes o u com estágio evol utivo avan-
çado podem não conter as alterações microscópicas neces-
sárias para a conclusão diagnóstica.
Lesões com alterações secu ndárias, como crostas,
fissuras, erosões, escoriações e ulcerações, devem ser evi·
tadas, pois podem obscurecer o processo patOlógico pri·
mário.
Em caso de lesões não bo lhosas, a biópsia deve in·
cl uir o máxi mo possível da lesão e o m ínimo de pele
normal.
Para lesões grandes, a bióps ia deve incluir a borda, a
Figura 78.2 Antebraço com fotodano. (Fonte: acervo do autor.)
parte ma is espessa, ou a área de cor ma is d iferente, por·
que esses locais, provavelmente, irão conter as al terações ,
patológicas. TECNICA
Se o dermatOlogista quiser complementar o estudo da
doença com exame por imunofluorescência di reta, o utra Materiais e instrumental
amostra deverá ser tomada de pele perilesional, não in- Deve-se considerar a compra de kits de sutu ra descartá·
cluindo a bol ha o u vesícula. veis (Figura 78.3).
Em casos de doenças pruriginosas, devem ser escolhi·
das lesões sem escoriações e infecção secundária, q uando
poss ível.
Em caso de lesões mú ltiplas, deve-se optar por aquelas
mais representativas da hipótese d iagnóstica, evitando: a
região esternal e a deltoide, em vi rtude da formação de
cica tri zes hipertróficas; os membros inferiores, principal-
mente em pacientes diabéticos e com insuficiência vascu-
lar peri férica; e as superfícies extensoras dos cotovelos e
joelhos, além da virilha e das axilas, em razão da alta inci-
dência de infecção secundária, e áreas da pele com dano
solar acentuado ou q ue podem ter a estética comprometi· Figura 78.3 Kit de sutura estéril descartável. (Fonte: www.
da, como a face. kolpast.com.br)
< 460 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Quadro 78.2 Lesões de pele, estágio ideal da lesão e local a ser biopsiado
Suspeita diagnóstica Estágio Sugestão da região da lesão local • ser
biopsiada
Acrodermatite crônica atrofiante Fase tardaa Centro e pele normal adjacente
Alopecia areata Fase ativa Borda
Alopecia anâgena ou eflúVIo telógeoo Fase ativa Área mais sem cabelo
Alopecia cicatricial (LED. LP. folicuhte decalvante, Lesões ativas Área eritematosa, foliculo inflamado, foliculo
centrifuga central, acatnzante etc.) piloso
Alopecia paraneoplãsica Pápulas suspeitas Centro
Dermatite atópica ou dermatite de contato Estãg1o agudo Vesicula em pele entematosa
Dermatite atópica ou dermatite de contato Estãg1o crõmoo Área hquenificada
Atrofoderma Passini-Pierini Fase tardaa Centro atrófico e pele normal adjacente
Colidrodermante nodular da héhce Lesão ativa Lesão
Oermopatia fibrosante nefrogén.ca Placas escleróticas Área endurecida ou placa escierótica e pele com
aparênaa normal
Doenças vestcobolhosas Lesões recentes Shave, punch ou excisão
Exantema Lesão ativa Lesão
Eritema anular centrifugo ou eritema reativo Lesão bem desenvolvida Borda de lesão atiVa
Eritema multiforme Lesão em alvo Lesão
Eritema nodoso e todas as paniculites Lesão ativa, primetra semana Centro
Escabiose Não tnfectada Extremidade proximal da toca
Escleromixedema Pele esclerótica Pápulas frisadas
Fascine Lesão ativa Centro
Granuloma anular Lesão ativa Borda elevada
Larva m1grans Emema Pele normal de 2mm acima na ponta da hnha
eritematosa
Uquen plano Qualquer tempo de evolução Pápula violácea
Uquen escleroatrófico Lesão em atividade Borda
Uquen escleroatrófico Estãg10 tardio Centro atrófico
lúpus emematoso discoide Lesão ativa Placa emematodescamanva com foliculo piloso
lúpus tumidus Lesão ativa Qualquer local
lúpus emematoso cutãneo subagudo Lesão ativa Qualquer local
lúpus entematoso s tstêmtoo Lesão ativa Qualquer local
lúpus profundo Depressão central e ãrea adjacente Central
Micose fungoKte Fase patch - lesão não tratada Centro
Fase placa - lesão não ulcerada Área mais infiltrada
Fase tumor - lesão não ulcerada Área mais endurecida
Morleoa Recente Anel lilás
Tardio Centro
Necrobiose lipoídJca Qualquer época Centro atrófico marfim - evnar ãreas de osso
Parapsoriase, uma grande placa Qualquer estãg•o Lesão não tratada
Parapsoriase, uma pequena placa Qualquer estãg1o Centro
Pitiriase liquenoide crônica 2 a 3 semanas de evolução Lesão papuloescamosa
Pitniase hquenoide varicoghceriforme aguda- Pleva 2 a 3 semanas de evolução Pápula necrótica
Psoriase gutata Estãgto tardio Lesão
Psoriase em placa Lesões com escamas Qualquer local
Psoriase pustulosa Pústula recente Qualquer local
Pioderma gangrenoso e doença ulceratrva Pequena e recente Lesão inteira
Pohcondnte recidivante Lesões ulceradas Úlcera com a borda
----------------------------~-------------------------
Lesões ativas Orelha
Nasofannge
Tinha do corpo Não tratada, se possivel Borda entematosa elevada
Tinha do pé Não tratada, se possivel Vesicula ou borda descamativa
Vasculite urocãria e urtJCána Lesão ativa com 3 dtas Lesão
Vasculite de pequenos vasos Primetra semana Púrpura palpável
Vasculite de médios vasos Primetra semana Centro da lesão
Vasculite fivedo Qualquer tempo Centro (não livedo ou anel eritematoso

LEO: lúpus entematoso discoide; LP: liquen plano.


Fonre: SINA et ai ., 2009 (modificado).
Capítulo 78 • Biópsia em Dermatologia 461

tésicos (tópicos e injetáveis). Q uando o paciente usar


medicação anticoagu lante, o p rotOcolo não recomenda
sua s uspensão, mas ma ior atenção do médico qua nto à
ocorrênc ia de hemorragias. Em caso de pac iente porta·
dor de marca-passo card íaco, card ioversor-des fibri lador
implantável e estimu ladores profundos do cérebro, deve
ser a nalisada a resposta desses equipamentos a interferên-
cias elétricas.
Betabloqueadores (p. ex., propranolol) podem, rara-
Figura 78.4 Dermatoscópio .
mente, interagir com adrena lina em a nestésicos locais, re-
sultando em h ipertensão ma ligna.
Quadro 78.3 Materiais necessários para a realização de uma
biópsia

Álcool isopropílico, iodopovidona ou clorexidina


Pré-operatório
Gaze esterilizada Após a a namnese e a escolha da lesão a ser operada,
Pano ou cortina de plástico fenestrado faz-se seu registro fotOgráfico. Para d efin ição do tipo e da
Seringas de 1 e 3ml técn ica de biópsia, são consid erados a hipótese d iagnóstica
Agulhas de calibre 22 (para elaborar soluções), calibre 30 (para
e os fatores estéticos.
injeção)
Lidocalna, a 2%, com e sem adrenalina Além das figuras especificas que d emonstram as linhas
Lãminas cirúrgicas descartáveis, 11 ou 15 de tensão ou linhas de Langer (Figu ras 78.5 e 78.6), pode-
Punches de 2 a Smm ·se fazer uma pequena compressão e relaxamento da pele
Lâmina de barbear cortada pela metade para perceber essas linhas; na face, as rugas serão um bom
Uma pinça pequena (Adson com dentes, ponta de 1mm)
ind icador (Figuras 78.7 e 78.8).
Tesoura de tecido pequena (Gradle ou tenotomia)
Ao se optar pelo formato elíptico, devem ser segu idas
Porta-agulhas, 4\7 ou 5 polegadas, mandíbulas lisas, ponta
pequena (Web-st er 4 ~ polegadas) as regras de taman ho e ângu lo.
Considerar a compra de kits de sutura descartáveis com No caso da face, o paciente pode ser solicitado a sorrir
porta-agulhas, pinças e tesouras incluídas ou fazer caretas.
Cloreto de alumínio a 20%
Mononáilon 4-0, 5-0, 6-0
Pomada antibiótica ou vaselina
Curativos não aderentes
Fita cirúrgica
Frasco com formol a 10%
Caneta de marcação cirúrgica
Formulários de solicitação de patologia
Consentimento informado
Instruções para os pacientes

O uso de equipamentos imaginológicos tem por fina-


lidade auxil iar o diagnóstico, registrar a conduta do der-
matOlogista e acompanhar prospectivamente o paciente, e
tem sido preconizado como parte das atividades da rotina
ambulato rial dermato lógica. Aparelhos como máquina fo-
tOgráfica e dermawscópio são utilizados rotinei ramente.
Mais recentemente, a microscopia confocal apresenta-se
como um coadjuvante pro missor na prática cli nicocirúrgi-
ca do dermatologista, embora ainda de custo elevado.

Método
Anamnese
Investigar d istúrbios hemorrágicos e alergia a med i-
camentos, pomadas, fita ci r(Jrgica (Micropore<1!>) e anes- Figura 78.5 Linhas de Langer.
< 462 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Figura 78.6 Determinação


das linhas de Langers. (Fon-
te: acervo do autor.)

-::-:---~==:~~~~~-----·-· (aponeurose
~~,..:;~ ? Gãlea epic:rãnica)
aponeurôtica
Ventre frontal (frontalis) do múscuto ~nio

/ Mêost<Jio '" "'"'g.adcor do superclio

orbitaJ } do müsculo orbicular do olho


~P arte palpebral
/M(rsc:oJiole>'Snll8d·or elo lábio superior e da asa do nariz
_,.-- Pcvte transversa } do mUscuk> nasal
·_,.-• Pa.rte alar

MUseulo levantador do lâbio superior

Músculo auricular anterior

Músculo zigomâtleo menor

Mús.culo zigomático maiOt'

~~:;:~=:!:~:':•:•:•=·=·:==~;M~ ú:sc:u,;l:o
~
levantadOr do ângulo ela boca
depreS$01' do 5epto

::;;;J~------~~ú!ICulk> bucinador

tf.;-------~~~culoom~ulardaboca
H-;_____ M~ulode1>res;sor doãngulo do boca

+-----· M<:.SCulo·de•pr<•O!>o«lo lábio inferior


mooto

O trajeto d&s linhas de força da


pele ê tnansversal é direçio das
fibras dos mUsoulos da face. As
incis6es eliptieas para remoçAo
de tumores da cútis devem ser
realizadas conforme a direç.Ao
das linhas de força

Figura 78.7 Vista anterior


dos músculos da face.
(Fonte: Netter FH. Atlas
de Anatomia Humana. El-
sevier.)
Capítulo 78 • Biópsia em Dermatologia 463

......
..
.:. .·:·:.......i_;..ii:~
.
. ·.:·.

Figura 78.1O Imagem dermatoscópica. (Fonte: acervo do autor.)

.. Marcação para margem cirúrgica


.0. - ·:.-: . ...... .
......
.. .. .~ · ..·.. ·.. •,
~ É vantagem a marcação com fio ames da exérese, por-
.
. :: '':":. ~. :. .
.
que, após, há maior d ificuldade de man ipulação da peça
. :. .. . após o exérese, o q ue pode prod uzir artefatos e d ificultar a
. .
.
..... .. ....... ..
. análise hiscopatológica (Figu ra 78.1 1) .
Além da descrição da marcação nos formulários de
solicitação de h istopacologia, pode-se padron izar uma mar-
Figura 78.8 Linhas da face. cação com o patOlogista com a utilização de tamanhos de
sutu ras para localização espacial das margens cirúrgicas.

Marcação
Marcação é o nome q ue se dá ao delineamento da lesão
com as respectivas margens necessárias. Utilizam-se canetas
de marcação cirúrgica para que a marcação não desapareça
após o uso da substância de assepsia. É preciso ressaltar a
importâ ncia de enumeração das lesões q uando forem rea li-
zadas múltiplas biópsias e registro fotográfico (Figu ra 78.9).
O dermatoscópio pode ser usado para a verificação do
local ideal pa ra exérese, assim como das margens cirúrgicas
(Figura 78.10).

Fi gura 78.11 Marcação com fio antes da exérese. (Fonte: acervo


do autor.)

Assepsia (Quadro 78.4)

Quadro 78.4 Substâncias usadas para assepsia e sua ação

Substância Ação At uação


•~ Álcool a 70% Inicio rapido Principalmente contra
gram-positivos

lodopovidina Mais lento que o álcool Gram-positivo e alguns


gram-negativos

Clorexidina Rápida no inicio Gram-positivos


Efeito dura varias horas Gram-negativos
Figura 78.9 Marcação de múltiplas lesões. (Fonte: acervo do
autor) Fome: Velasco. 2012.
( 464 PARTE XX • Cirurgia Oennatológica

Colocação do campo fenestrado


No ambulatório ou no cotl..,ultório, a preferência recai
sobre o campO de.-.cartá,-el, vbto que o uso de campO fe-
nemado de pano apre"<!nta a dificuldade de e\terilização,
o que normalmente, em termo~ de cu~to·beneficio, só é
obtido em ambiente ho:.pitalar.

Anestesia
Na grande maioria do; ca..,<h e;tá indicada a lidocai-
na a 2% com adrenalina I: 100.000 como va:.ocon:.ttitOr.
Nesse caso, por se tratar de pequena quantidade, pode ser
pensado no uso de seri nga de ca rpule. Figura 78.13 Corte tangencial. (Fonte: acervo do autor.)
Lidocai na sem ad rena lina deve ser utilizada em regiões
acrai~, como por exemplo; os dedo:. e a ponta ele nariz.
Curetagem
A dose lim ite de lidocaína com adrenalina recomen-
dada pela Com issão d e Normas T écnicas da Sociedade Mui to utilizada pa ra patOlogias recon hecidamente su-
Brasileira d e Anestesiologia (CNT/SBA) para pequenos perficiais, como querarose sehorre ica, é a técn ica que pro-
procedimentos cirúrgicos represe nta 10% da J ose limite, duz o material com pio r qual idade, d ificultando a análise
que é de 7mg/kg de peso. histoparológica. Não d eve ser aplicada em caso de lesôes
A ad re nalina necess ita de mais tempo para in iciar seu pigmentadas suspe itas d e meia no ma (Figura 78. 14).
efe ito, em relação á lidocaina.
Shave
O de~confono da injeção de lidocaína pode ser mi-
nimizada pOr meio da mi>tura de I mL de bicarbonato de Procedimento rápido, que exige pouco treinamento,
sód io a 8,4% (NaiiC01) a 9mL de lidocaina, utilizando não necessita de surura para o fechamento. Apre;enra como
uma agulha calibre 13 x O, 30, tomando a injeção inicial vantagem a qualidade estética da cicatrização. E......a técnica
perpendicular á pele e injetando lentamente. pOde ser real izada com um bbntri ou a metade de uma lâmi-
na de barbear (Figura 78.15).
Tipos de técnicas
A escolha da técnica cirúfj!ica depende da hipótese
diagnóstica, que é a variáwl que define ;e a biópsia será
exci$ional ou inci>ional.
É neceo;,~ário todo o cuidado no manu..,eio do material
coletado, para não produzir artefato> que inviabilizem a
análise hl~topatológica.

Corte tangencial
Esse procedimento é ideal para a remoção de amostras
superficiais, em e.~ peda l as ped iculadas. A lesão a ser remo-
Figura 78.14 Curetagem. (Fonte: acervo do autor.!
vida e e.~tabil izada com pinç.a dente de rato; em segu ida,
cortada na base (Figu ra 78. 13).

Figura 78.12 Sennga de carPtJie. Figura 78.15 Shave. (Fonte: acer110 do autor.)
Capítulo 78 • Biópsia em Dermatologia 465

A~ le><le;. mab atlequatlas ;ão aquelas elevadas acima da Técnica de incisão elíptica
pele ou cuja patologia é confinada à epiderme (p. ex., que- Essa técnica é executatla quando há indicação de hióp-
r.uose.., .ehorreica> ou actinica;,, marcas na pele e verrugas). sias de maior tamanho e o fator e.'>to!tico é imporrame,
Apre>ema como J~vantagem o comprometimento da como na face. O comprimemo tia linha de incis.'ío deve ser
margem profuntla. entre 3 e 3,5 veze.., maior que a largura com ângulos de 30
E....-a técnica potle ser facilitada mediante o aumento graus nas extrem idaJe.,.
da lesão com uma p:!.pula de ane..,té,ico injetado, permitin- Faz..se uma incL~o elíptica para a realização da ex.!re.~e
do que a bão ;eja apoiada e e.'>tahilizada entre o polegar e da biópsia.
o indicatlor. O formato da incisão deve con,iderar os fatores e..;réti·
Uma lâmina de harhear pode também ser utilizada, cos (Figura 78.17).
com a vantagem de controlar a profundidade, aumentan-
do ou diminuintlo a convexidade. Hemostasia
E..,t:!. conrraintlicada em caso de lesões pigmentadas Sangramento após pequenas hióp~ias mu itas vezes
porque, uma vez esrahelecitlo o d iagnóstico de melanoma, pode ser controlado somente com compressão. Ex.'udação
a e.~cala de Breslow estar:\ comprometida e, conseq uente· persistente pode ser interrompida com cloreto de alumí nio
mente, o estadiamento e o trata mentO. a 20% em álcool absol uto. Outros agentes hemosráticos
são a solução de Monsel (suhsulfato ferrico), o ácido tri·
Punch doroacético e o n itrato de p rata. Emhora a soluç:io de
A mais com um das práticas de biópsia na dermatOlo- Monsel se mostre ma is eficaz do que o cloreto de alum ínio,
gia, idealmente essa técn ica deve inclui r roda a espessu ra promove maior destru ição dos tecidos. enqua ntO o nitrato
da pele e de gortl ura suhcutã nea. de prata pode resu ltar em pigmentação da pele.
Recomenda-se a distensão da pele no sentido perpendi-
cu lar à linha Je tensão, antes da inserção do instrumento. Cuidados com material retirado para avaliação
Há P•mches do> ma i; variados tamanhos, com relevân- O fragmento de pele retirado do corpo deve ser ma-
cia para tliâmetros entre 2 e Smm (Figura 78.16). nuseado com delicadeza, pob in;trumento> como a pinça
O punch de 2mm apre.~enta a vantagem de não costu- podem amassar gravemente o tecido e prejudicar a análise
mar nece>:,itar Je >utura para sua cicatrização. A partir de microscópica.
Smm, d~e pensar em efetuar um cone elíptico em razão Imediatamente apó;. a retirada, o material dew >er colo-
de ;ua melhor cicatrização e e.;,u!tica. cado no \'3-'>ilhame identificatlo. Em ca.'>o de retirada de mais
Os hbropatologbta;, ~hem que, quantO maior o mate- de um tipo de material, tlev~ rer mab cuidado com a iden-
rial para análbe, melhor. tificação. O adiamento des...e procedimemo potle acarretar
Em ca..o Je le><k'> cutânea;, inflamatórias mais palpá- a perda do material excisado. Além d L'-'>0, recomenda-se que
veis do que visíveis, recomentla-se punch de 4mm ou ma ior, o volume do liquido repre.~nte de 10 a 20 veze., o tamanho.
além da biópsia com bisturi, incluindo a derme reticular O vasilhame com a ,uh,tãncia e.'>pecifica a ser utilizado
profunda e a hipoderme, especialmente para diagnóstico geralmente é fornecido pelo laboratório de patologia.
de paniculites.

1cm

3,5cm

Figura 78.16 Mancha de Whyte e Pery. Figura 78.17 Técnoca de onClsão eliptoca.
PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Quadro 78.5 Tipo de exame complementar e o meio de Curativo pós-cirúrgico


fixação do fragmento
Sangramento e formação de hematoma podem ser mi-
Exame complementar S ubstância específica nim izados med iante a utilização de um curativo compressi-
Histopat ologia Formal a 10%
vo com gaze sobre a ferida.
O paciente deve ser orientado quanto à limpeza do
lmunofluorescência direta Solução de Michel local cirúrgico após transcorridas 24 horas da cirurgia. A
Microscopia eletrônica Fixador para microscopia limpeza deve ser realizada com água e sabão e coberta com
eletrônica camada antibiótica o u vaselina.
Cultura de bactéria ou fungo Vasilhame est erilizado com Para as feridas fechadas, deve ser evitado o uso de neo-
solução salina micina tópica no pós-operatório.
Vaselina bra nca é u ma alternativa efica z e de ba i-
xo custO para as feridas fech adas. Para feridas abertas,
Sutura os agentes antimicrobianos tópicos q ue não contêm
neom icina devem ser recomendados em razão da ma ior
Em caso de opção pela exérese q ue exige sutura, é ne-
cessário proceder à liberação da derme com bi~tu ri o u te- poss ibilidade de dermatite de contatO por essa subs-
soura, o q ue facil itará o fechamento e dim in uirá a tensão. tância.
A~ feridas cicatrizam ma is rápido quando úm idas, e
Desse modo, será obtido melhor resultado estético. Inicia-
se a sutura divid indo a lesão (Figura 78.18). sob um curativo oclus ivo o u semioclusivo. Toda ferida de
Costuma-se usar fio de mononáilo n 6-0 para a face e biópsia pode ser coberta com uma fi na pelícu la de pomada
4.0 ou 5-0 para o corpo e o cou ro cabel udo. antib iótica ou vaselina e protegida com uma cobertu ra não
aderente e fi ta.
A sutu ra com fio Monocryl 00 pode ser usada para apro-
xi mação das bordas, proporcio nando melhor resultado
estético. Pós-operatório
Existe um equil íbrio e ntre a te ndência para deiscên- Preenchimento de formulário para histopato/ogia
cia o u alongamento da ferida, se as sutu ras são removidas A~ informações clin icas obtidas pelo médico têm gran-
mui to cedo, e a prod ução de marcas de sutu ra permane- de peso no laudo histopawlógico. Cada peça e nviada para
cerem por mu ito tempo. Em geral, as sutu ras na face po- a hiswparologia deve ser acompa nhada com detal hado h is-
dem ser removidas em 3 a 5 dias; em seguida, procede<>e à tórico clinico do paciente (Quadro 78.6).
aplicação de tiras adesivas semipermeáveis, para reduzir a É extremamente importante que o material retirado
tensão da ferida . Suturas no peito, abdomen, braços e cou- para biópsia, nessa fase, seja agitado no frasco de forma li na
ro cabeludo podem ser removidas em 7 a 10 d ias, e aquelas para verificar que o tecido está em formalina e não preso
loca lizadas na pa rte de trás e nas pernas em 12 a 20 dias. na tampa.

Figura 78.18 Sutura. (Fonte: acervo do autor.)


Capítulo 78 • Biópsia em Dermatologia 467

Quadro 78.6 Dados relevantes para o formulário médico a ser PARTICULARIDADES


enviado ao patologista
Biópsia de couro cabeludo
Sexo
Idade do paciente O número de bióps ias de pele no couro cabeludo rea-
Local e técnica de biópsia lizado por d ermatOlogistas tem aumentado (Sina et ai.,
Duração da doença e/ou da lesão da qual se fez a biópsia
2008) apesar do impactO que a d iminu ição o u a ausência
Distribuição e configuração das lesões
Descrição da marcação da lesão de cabelos gera na estética dos pacientes (Figura 78.20).
Aspectos morfológicos individuais das lesões e seus sintomas São necessárias duas amostras: uma pa ra as secções
História do uso de medicamentos vertica is (lo ngitudi nal) e o utra para secções transversa is
Suspeita diagnostica
Diagnósticos diferenciais (cruz). Pundtes de 4mm ou Smm são ideais pa ra uma
amostragem da hipoderme e oferecem um espéci me mais
Fonte: Wemer, 2009.
regu lar.
O cabelo sobre o cou ro cabel udo deve ser cortado
Quadro 78 .7 Sugestões para evitar complicações antes da biópsia, e m vez de raspado, o q ue possib ilita a
Possíveis complicações do procedimento cirúrgico de biópsia determinação da d ireção do crescimen to, wrnando pos-
sível alca nçar não apenas os bulbos pilosos, mas seguir
Complicação Como evitar
além d eles. A bióps ia do co uro cabeludo d eve chegar
Hematoma Hemostasia rigorosa
às gordu ras s ubcutâneas profundas (Khopkar, 2008;
Curativo compressivo
We rner, 2009).
Infecção Assepsia local adequada
Rigor no processo de esterilização
Deiscência da linha Respeitar o tempo preestabelecido para Biópsia de unha
de incisão remoção dos pontos A a nestes ia de bloqueio garante um procedimento
Recomendações por escrito ao paciente
Proteção adequada dos pontos
relativamente indolor. No entanto, deve ser lembrado
que a lidocaí na com ad renalina não deve ser usada para
Oueloide Em pacientes propensos, evitar áreas que
comprometam a estética
a anestesia. Em virtude da alta vasculari zação da unid ade
de dedo, um torniq uete deve ser aplicado ames do pro-
Lesão de nervo Especial atenção às zonas de perigo na
região de cabeça e pescoço, nas quais, cedi mento.
sempre que posslvel, a biópsia deve ser Como sugestão, pode~e coloca r uma pi nça no torn i-
feita até a gordura superficial quete que servirá como auxiliar, para lembrar o cirurgião
Fonte: Nouri, 2008. de sua remoção após o processo (Figura 78.21).

Figura 78.19 Zonas de pe-


rigo. A Esboços topográfi-
cos externos das sete zo-
nas faciais de perigo. 8 Ner-
vos subjacentes correndo
através de cada zona facial
de perigo após a remoção
A B da pele e da camada SMAS.
< 468 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Figura 78.20 Biópsia do couro cabeludo. (Fonte: acervo do autor.)

Uma pequena amostra de 2 a 3mm de biópsia é


adeq uado pa ra a placa da un ha, ou mesmo o leitO, na
ma ioria dos casos. Para a biópsia do leito ungueal e das
unhas da matriz, pode se r usado o método de do is so-
cos. Nessa téc nica, um perfurador de tama nho ma io r é
usado pa ra remover a placa da unha sobrejacente e, em
seguida, um peq ueno perfurador é usado para provar a
cama ou a matriz (Figu ra 78.22).
No caso de lesões melanon íquias, pode-se fazer uma
avaliação com dermatoscópio e determinar a necessidade
ou não de biópsia.
São causas de melanoníquias: ativação dos melanó-
citOs e hiperplasia melanocítica ben igna (p. ex., lenrigo,
nevus e melanoma). O sinal de H utchi nson (extensão da
Figura 78.21 Torniquete com pinça auxiliar. (Fonte: acervo do pigmentação até as dobras ungueais proxima is ou laterais)
autor.) é um indicio importante de melanoma ungueal.

Figura 78.22 Marcação dermatoscópica. (Fonte: acervo do autor.)


Capítul o 78 • Biópsia em Dermatologia 469

Biópsia em paciente grávida lzikson L, Sober AJ, M ihm MC Jr, Zembowicz A. Prevalence of meia-
no ma clinically resembling seborrheic keratosis: analysis of 9204
Tratamentos não emergenciais devem ser ad iados até cases. Arch Dermatol2002; 138:1562-6.
o término da gestação. É prudente evitar a realização de Khopkar U, Doshi B. lmproving diagnostic yield of punch biopsies
cirurgias não emergenciais durante o primeiro e terceiro of the skin. lndian J Dermatol Venereol Leprol 2008; 74:527-31.
McGinness JL, Goldstein G. The value of preoperative biopsy-site
trimestres, reservando os procedimentos dermatológicos
photography for identifying cutaneous lesions. Dermatol Surg
necessários para o segundo trimestre (13 a 28 semanas). 2010; 36:194-Z
Uma vez decidida a bióps ia, o cirurgião deve avaliar: M ir M , Chan CS, Khan F, Krishnan B, Orengo I, Rosen T. The rate of
restrições medicamentosas e a escolha do anestésico, algu- melanoma transection w ith various biopsy techniques and the
influence of tumor transection on patient survival. J Am Acad
ma histó ria de contrações recentes, sa ngramento vaginal,
Dermatol 2013; 68(3):452-8.
aumento de edema ou outros sintomas importantes, que Nouri K. Complications in dermatology surgery. Philadelphia: Mosby
podem levar à necessidade de consulta com obstetra e ao Elsevier, 2008:39-58.
poss ível ad iamento do procedimento. Parecer 43 da Sociedade Brasileira de Patologia. Consulta: Obri-
O monitOramento cardíaco fetal pode ser necessário gatoriedade de Exames Anatomopatológicos. SBP. PC/CFM!n•
44/95, de 10 de novembro de 1995.
para identificação de estresse fetal durante o procedimen- Pimentel DRN, Milanez MA, Abreu M, Hirata C, Alchorne MMA,
to. Nesses casos, seria melhor a mudança do local do pro- Weck LLM. Uso da pinça de calázio para biópsia de glândula
cedimento para sa la cirúrgica, com o auxílio de um aneste- salivar menor no diagnóstico da sindrome de Sjõgren. Surgical &
sista para o monitoramento da paciente e do feto. Cosmetic Dermatology 2009; 1(3): 145-6.
Resolução CFM 1.886/2008. Publicada no DOU de 21 de novembro
As gestantes estão mais susceptíveis a cicatrização len-
de 2008, Seção I, p. 271 .
ta, hi perpigmentação pós-inflamatória, cica trizes hipertró- Rich P. Nail biopsy: indications and method. Dermat ol Surg 2001 ;
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procedimentos cosmiátricos na gestação - Revisão sistêmica. eflúvio telógeno e alopecia areata. An Bras Dermatol 2012;
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Eletrocirurgia
Rozana Castorina da Silva

A eletrocirurgia constitu i um tipo de ci rurgia dermato- NÚMERO DE ELETRODOS


lógica que se utili za da eletricidade para provocar destrui- o Monoterm inal: utiliza-se de um único eletrodo, por
ção térm ica dos tecidos med iante desidratação, coagulação meio do qual a corrente elétrica chega ao paciente. É
o u vapori zação' Os principais tipos de eletroci ru rgia são: usado pa ra eletrod issecção e eletrofulguração.
eletrólise, eletrocauteri zação e eletroci ru rgia de alta fre- o Biterminal: são usados do is eletrodos: um ativo, q ue é
q uência. a ponteira, e um neutro, que é a placa. A corrente elétri-
A eletrocirurgia de alta frequência abra nge eletrod is- ca atravessa o paciente e retom a ao aparelho através do
secção, eletrofulguração, eletrocoagulação e eletrossecção.' eletrodo neutro.4

HISTÓRICO CLASSIFICAÇAO
-
A eletrocirurgia foi inventada por C laude Paquelim em o Eletrólise: a eletrólise é usada para epilação e tratamen-
1875. Em 1882, Arsonval desenvolveu o pri meiro aparelho tO de telangiectasias. Utiliza-se corrente ga lvân ica con-
de eletrocirurgia de alta frequência. C ushing & Bovie, em tí nua, de ba ixa voltagem e baixa amperagem, que pode
19 26, desenvolveram um equ ipamento para coagulação e ser obtida de uma bateria o u pela retificação da corren-
eletrossecção.1 te alternada de uso corrente. Empregam-se correntes de
0,5 a I miliampéres, e o tempo de aplicação da corrente
varia de 20 a 30 segundos.s
APARELHO DE ELETROCIRURGIA o Eletrofulguração ou eletrodissecção: provoca dano
O aparelho de eletrocirurgia é gerador de corrente elé- epidérmico pela desidratação celular na temperatura <
trica com os seguintes componentes: transformador (modi- !00°C, util iza ndo corrente elétrica amortecida, de alta
fica a voltagem), circuito oscilador (aumenta a frequência voltagem e baixa amperagem. O eletrodo deve estar de I
da corrente elétrica) e circu ito do paciente (ponteira e ele- a 2mm afastado da pele. Está indicada para tratamentos
trodo neutro). superficiais, como de quera tose seborreica, queratose
A onda elétrica gerada pelo aparelho é classificada em: actin ica e verrugas planas.
o Onda muito amortecida: utilizada para eletrodissecção o Eletrocoagulação: utiliza-se conexão bi term inal, com ele-
e eletrofulgu ração. trodo neutro, baixa voltagem, amortecido e de alta am-
o O nda moderadamente amortecida: utilizada na eletro- peragem. Provoca destruição ma is profunda nos tecidos
coagu lação. e hemostasia, com mínima carbon ização. Consti tuem
o Onda não amortecida filtrada: eletrossecção o u puro indicações da eletrocoagulação: siri ngoma, nevo mela-
corte. nocítico, carcinoma basocelu lar, granuloma piogênico,
o O nda mista; eletrocoagulação e eletrossecção.
1 tricoepitelioma, hiperplasia sebácea e verruga vulgar.

470
Capítulo 79 • Eletrocirurgia 471 ")

o tratamento de estrias e cicatriz de acne (Figuras 79.1 a


79.4).

CUIDADOS
• As ponteiras do eletrocautério são cons ideradas estéreis
Figura 79.1 Wavetronic para c irurgia de alta frequência.
porque o eletrodo é aquecido. No e ntanto, na eletro-
ci rurgia de alta frequência o eletrodo é frio, e torna-se
necessária a esteril ização das ponteiras em virtude do
risco de infecções virais e bacterianas'
• Em lesões infectadas pelo vírus HPV, deve-se utilizar as·
pirador de fumaça. O procedimento deverá ser realizado
em bloco ci rúrgico com os profissiona is utilizando ócu·
los, avental e máScaras, devido ao risco de contaminação.'
• Objetos metálicos, como jo ias e piercings, devem ser re-
Figura 79.2 Bisturi eletrônico.
movidos para evitar queimad uras.
• Na eletroci rurgia não devem ser utilizadas soluções al-
coólicas para antissepia.
• A eletrocirurgia não deve ser realizada em pacientes
com ma rca·passo ou desfibrilador cardíaco implantado.
Em caso de indicação de eletroci rurgia nesses pacien-
tes, recomenda-se o uso de mon itOr card íaco contínuo e
pontei ra bipolar para q ue a corrente elétrica fique co n-
finada à área ci rúrgica 9

Figura 79.3 Bisturi eletrônico.


CONSIDERAÇOES FINAIS
-
Os proced imentos eletrocirúrgicos são amplamente
utilizados na dermatologia e consistem em técnicas simples
para tratamento de lesões cutâ neas, preservando a arq uite-
tu ra celular.

Referências
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Figura 79.4 Bisturi eletrônico. Criado PR. Tratado de dermatologia. São Paulo: Atheneu, 2010.
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vingstone, 199 1:1-6.
• Eletrossecção: utiliza conexão biterminal e corrente elé· 3. Sebben JE. Electrosurgery principies: cuning current and cuta-
trica de baixa voltagem e alta amperagem. Faz excisão neous surgery. J Dermatol Oncol1988; 14(1):29-3 1.
cirúrgica e corte. A eletrossecção está ind icada em casos 4. Sebben JE. Monopolar and bipolar treatment. J Dermatol Surg
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5. Sampaio SAP. Rivini E. Dermatologia. São Paulo: Artes Médicas,
• Eletrocirurgia de alta freq uência de maneira fracio na- 2008.
da: acopla-se ao aparelho de eletrocirurgia um acessório 6. Bouthton RS, Spencer SK. Electrosurgical fundamentais. J Am
que proporciona a aplicação de energia de alta frequência Dermatol1987; 16:862-7.
Z Soon SL, Washington Jr CV. Electrosurgery, electrocoagulation,
de maneira fracionada atravéS de um eletrodo de múlti·
electrofulguration, electrodesiccation, electrosection, eletro-
pios micropontos. Sua principal indicação é para o tra· cautery. In: Robnson JK, Hanke CW, Sengelmann RD et ai. Sur-
tamento subablativo, para renovação e rejuvenescimento gery of the skin. Procedural Dermatology. Philadelphia: Elsevier
da pele. A distribuição rondõnica de energia mantém os Mosby, 2005:177-90.
tecidos adjacentes íntegros e sad ios para a formação de 8. Bridenstine JB. Use of ultra-high frequency electrosurgery for
cosmetic surgical procedures. Dermatol Surg 1998; 24:397-400.
um colágeno novo. Ocorre regeneração da derme papila r 9. Le Vasseur JG, Kennard CD, Finley EM et ai. Dermatologic elec-
e reticu lar mediante a estimulação de fibroblastos. Está trosurgery in patients with implantable cardioverter-defibrillators
indicada para rejuvenescimento facial e corporal e para and pacemakers. Dermatol Surg 1998; 24:23340.
Criocirurgia
Rozana Castorina da Silva

Criocirurgia é um método que se utiliza do nitrogê- gên io. Em 1883, Wribkewski & Olszewski converteram o
nio líquido (N L) para alcançar uma resposta tecidual in- oxigênio e o nitrogên io para o estado líqu idos
flamatória e/ou destrutiva de lesões cutâ neas benignas, Já em 1895, Linde to rnou viável a realização da crio-
pré-malignas, de pequenas, médias e grandes dimensões. cirurgia ao iniciar a produção comercial de nitrogênio lí-
A temperatura de ebulição d o nitrogênio liquido é de qu ido. Ao desenvolver o frasco a vácuo, para armazena r
- 1960C.l·l oxigênio, nitrogênio e hidrogênio, em 1898, Dewar im-
A crioterapia cons iste em um métOdo que se utiliza pu lsionou esse método terapêutico. A~ lesões dermatoló-
de ba ixas temperaturas para fins analgésicos, anti-in- gicas começaram a ser tratadas por Wh ite, em 1899, por
flama tórios ou rubefacientes, no tratamento de lesões meio de estilete com algodão embebido em ar liquefeito.
cutâ neas superficiais e benignas, sem provocar destrui- Em 1907, Wh itehouse utilizou o método de spray para o
ção cel ular. tratamento de lesões cutâneas. Nesse mesmo ano, Pusey
São util izados os criógenos dióxido de carbono utilizou a neve de dióxido de carbono para o tratamento
(- 78,SOC) e óxido nitroso (- 89,5°C) e os fluorocarbonos de neoplasias cutâneas benignas. No entanto, somente em
líquidos (- 60°C), rodos com poder destrutivo lim itado de- 1940, Allington passou a usar o nitrogênio líqu ido em seus
vido à imprecisão da crioterapia. Em virtude da lim itação procedimentos.
do poder destrutivo desses criógenos, utiliza-se o nitrogê- O sistema fechado com nitrogênio líqu ido foi desen-
nio líqu ido na criocirurgia.1•3 volvido por Cooper & Lee, em 1961. Torre, em 1965, de-
senvolveu um aparelho que possibilitava o uso d e ponteiras
spray e sondas. Posteriormente, Zacarian & Torre deram
HISTÓRICO gra nde impulso à crioterapia com a criação de modernos
Em 2.500 a.C. os egípci os utilizavam o frio no tra- equ ipamentos.
tamento de traumatismos e inflamações• Hipócrates
(460-370 a.C.) utilizava o frio para controla r hemorra-
gia, inflamação e dor.s O barão Dominique Jean Lorrey, EQUIPAMENTOS
em 1807, uti lizou o frio para estanca r hemorragias após Os equipamentos necessários à criocirugia são: um
as amputações realizadas durante as guerras napoleõ- criógeno, um galão (contâiner), um aparelho portátil de
nicas 6 criociru rgia e os acessórios (Figu ras 80.1 a 80.3).
O méd ico inglês Arnott usava a salmoura à temperatu- O criógeno mais empregado é o nitrogên io líquido,
ra de - 25°C no tratamento de neuralgia e para alívio em que tem ma ior co ncen tração no ar, sendo não tóxico, não
pacientes terminais de câncer.; inflamável e de baixo custO. Tem o menor pomo de ebu-
Em 1877, Caillet obteve a liquefação d e oxigênio e lição, com maior capacidade de congelamento, tanto em
monóxido de carbono e Pictet obteve a liquefação de oxi- profundidade como em volu me. Porta nto, sua capacidade

472
Capítulo 80 • Criocirurgia 473 ")

.. Os aparelhos de crioci ru rgia baseiam-se no modelo de


uma garrafa térmica e têm capacidades variadas de depó-
si to, de 250 a l.OOOmL. Na porção superior enco ntra-se
um dispositivo para troca dos acessórios e um gatilho para
acionar a saída do nitrogênio líquido. Os modelos mais
utilizados são: C ry·Ac-Bri mill, Cry-Ac do Brasil, Nitro-
spray criotermica e Krill-micromecãnicos.
Entre os acessórios, estão disponíveis:
o Pontas para spray abertas com o ri fícios de di ferentes diâ-

metros.
Figura 80.1 Contâiner de nitrogênio líquido. o Ponta extensora a ngulada ou reta e agu lha para spray.

o Co nes-spray com o objetivo de d irecionar e confinar o

jatO spray.
o Pontas de co ntato (sondas) de diferentes tamanh os e

formas.
o ProtetOres para áreas nobres (ao redor dos olhos, o re-

lhas e narinas).
o Mon itOr de temperatu ra (agulhas termogên icas).

-
MECANISMOS DE AÇAO DO CRIOGENO
'

... Formação do gelo


O ca lor vai sendo retirado do tecido exposto a ba ixas
temperaturas. O rápido congelamento provoca a formação
Figura 80.2 Criógeno. de gelo no interior das células. Na pele, as células morrem
à temperatu ra em w rno de - 3o•c a - 40•c. A temperatu ra
de evaporação do nitrogên io é de - l96°C.

Alterações
Alterações osmóticas e metabólicas
Os fenômenos imedia tos são crista lização intra e ex-
tracel ular, ruptura da membrana cel ular, desidratação
celular, desn aturação das pro teínas e alterações meta-
bólicas.

Alterações vasculares
Figura 80.3 Pescador.
Ocorrem eritema e edema, o q ual surge logo após a
aplicação, sendo mais intenso em 12 a 24 horas, podendo
durar até 7 dias.
de destruição é maior. Esse criógeno é utilizado tanto para
congelamentos superficia is como profundos. Técnicas
Utilizado para armazenamento e transporte do nitro-
gênio liquido, o galão ou contãiner é um recipiente de aço Técnicas de aplicação
inoxidável ou de alum ín io com parede d upla, separada por A criocirurgia e nvolve dois métOdos de transferência
um espaço com vácuo e uma válvu la para alívio de pressão. de calo r: em ebulição e por co ndução.
A capacidade dos ga lões é variável, sendo o mais uti· A técn ica de trans ferência de calor em ebulição é ob-
lizado o de 20L. A transferência do nitrogên io líqu ido do servada nas técn icas de co ntato d ireto ou com spray q ua n-
contãiner é fei ta com um disposi tivo representado por do o n itrogênio líquido é aplicado sobre a lesão.
uma caneca de metal fixa em uma alça longa e reta.
< 474 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

A técn ica de transferência de calor por condução ocorre -passo cardíaco ou desfibrilador card ioversor implantável,
quando a sonda de contato de metal esfriada pelo nitrogênio portadores do vírus HIV, pacientes com coagulopatia, em
liquido é aplicada na le.são.8 uso de anticoagulante, com h iperte nsão arterial e doença
card iopulmonar grave.'·1·10•11
Técnica de contato direto
Utiliza-se uma haste com algodão, a qual é mergulhada CONTRAINDICAÇOES
-
em um recipiente com nitrogênio líquido e é utilizada para São consideradas comraindicações à criocirurgia:
o tratamento de lesões benignas superficiais ' • Contraindicações absolutas: urticária ao frio, intole-
rância ao frio, criofibrinogenemia, crioglobu linem ia,
Técnica de atomização (spray) doença de Raynaud, doenças auco imunes, piodenna
O nitrogênio líquido é emitido a uma d istância de gangrenoso, agamaglobulinemia e d iabetes melito eles-
!em e perpend icular à lesão, de maneira livre e por spray. compensado.
• Contrai ndicações relativas: terço inferior da perna e par-
Técnica de atomização confinada te superior do ombro devido à cicatrização prolo ngada,
Utiliza-se um cone aberto com d iâmetro igual ao da pacientes melanodérmicos e lesão em áreas superficiais
lesão a ser tratada. Essa técn ica evita a dispersão do n itro- de nervos, como margem lateral dos dedos e fossa ul nar.
gên io líquido.' • Co ntraindicações gerais: tumores infiltrados, como car-
cinoma espinocel ular infiltrante e ulcerado, melanoma
Técnica intralesional cutâ neo, tumores anexiais, lesões localizadas no â ngulo
Está ind icada para lesões q ue necess item de congela- de boca e lesão na margem livre das pálpebras.1•1·11 •12
mento ma is profu ndo. O nitrogên io líqu ido é aplicado
através de uma agulha curva tra nspassada na porção pro- COMPU CAÇOES
-
fu nda da lesão (Quadro 80.1).9
A~ complicações da criocirurgia podem ser:
-
INDICAÇOES
• Reações imediatas: dor, cefa leia, hemorragia, edema,
s íncope, formação de bolhas e insuflação gasosa de teci-
Ind icada em caso de lesões cutâneas ben ignas, pré- do subcutâ neo.1•1
-malignas e ma lignas, a criocirurgia é usada nas lesões lo- • Reações tardias: infecção pós-operatória, reação febril
calizadas no nariz, pavilhão auricular e região pré-e.sternal. s istêmica, hemorragia tardia, gran uloma piogên ico, h i-
Constitu i tratamento (J til em pacientes idosos com alto perplasia pseudoepiteliomawsa.1·1
risco cirúrgico, alérgicos a anestes ia, portadores de marca- • Reações prolongadas temporárias: hipergigmentação,
milio, cicatri z hipertrófica e anestesia e parestesia transi-
Quadro 80.1 Exemplos de tempo de congelamento, em tórias.1·1
segundos, conforme a patologia a ser tratada • Reações prolongadas permanentes: hipopigmentação,
retrações e atrofia.1•1
Afecção Tempo de congelament o
em segundos
I
CBC superficial 60 -
CONSIDERAÇOES FINAIS
CBC nodular 60 a 90

CBC esclerodermiforme 90 a 120 A crioci ru rgia é um métOdo cirúrgico usado em casos


Condiloma acuminado 10
de lesões ben ignas, pré-malignas e malignas, com ind icação
em pacientes grávidas e portadores de marca-passo e desfi-
Dermatofibroma 30
brilador ca rd ioversor impla ntável.
Hemangioma tuberoso 30 a 60 De baixo risco, apresenta bo ns resultados.
Hiperplasia sebacea 5 a 10
leucodermia solar 1 Referências
1. Dawbner R, Colver G, Jackson A. Cutaneous cryosurgery - prin-
Melanose (lentigo) maligna 60
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Capítul o 80 • Criocirurgia 475 ")

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anaesthetic taemperature. London: Churchill Livingstone, 1855. necticut: Appleton and Lange, 1988. 127p.
Cirurgia das Unhas
Leandro Ribeiro Ma uro

As u nhas são símbolo de beleza e higiene de muitO va- Inicialmente, deve~e con hecer a anatom ia das lin has.
lor, principalmente para as mulheres. Diversas patOlogias A lâmina ungueal o rigina-se da matriz u ngueal. A super-
acometem essa parte, e mu itas delas dema ndam um trata- fície lisa da lâmina ungueal deriva do segmento posterior
mento cirúrgico. Mu itos méd icos evitam realizar procedi- da matriz e a superfície inferior da lâmina unguea l, do seg-
mentos cirúrgicos das u nhas por d iversos motivos, entre os mento anterior (Figura 8 l.l ). A contí nua reprodução das
q uais a grande q uantidade de sangue durante o procedi- células da matri z empurra a lã mina u ngueal para frente de
mento, a demora e a dor na cicatri zação após algu ns tipos maneira constante, formando as u nhas. Lesões traumáti·
de cirurgia, o que deixa o paciente bastante inqu ieto, oca- cas ou metabólicas na matriz serão reveladas por anorma-
sio nando diversas consultas pós-operatórias. No entanto, lidades na lâmina ungueal, semanas o u meses mais tarde.
com o devido co nhecimento e o domínio das técn icas e A matriz localiza-se, predominantemente, ocu ltada
ind icações cirú rgicas, essa prática pode ser tanto prazerosa abaixo da prega ungueal proxi mal e em sua parte vis ível
ao méd ico como satisfatória ao paciente. O objetivo deste tem a aparência de uma meia-lua b ranca, a lú n ula. A ma-
capítulo não é esgotar as indicações e técnicas de cirurgia triz é tão larga quanto a lâmina unguea l e estende~e cer-
ungueal, mas deixar o leitOr confortável para estudar e pra- ca de Smm proximal à prega ungueal posterior. Pode ser
ticar esse tipo de proced imento. man ipulada de modo semelhante a qualquer ou tra parte

Eponíquio Lâmina

• ~ - -

••
••

>"" -
•••
••

.... .. ........
Matriz "" v
.
Matnz
Leito ungueal

Figura 81.1 Estrutura e anatomia das unhas. (Fonte: adaptada do trabalho lngrown toenail da American Academy of Orthopaedic
Surgeons.)

476
Capítulo 81 • Cirurgia das Unhas m ")

da pele, isto é, pode ser cortada, descolada, elevada, en- Quadro 8 1.1 Alterações ungueais e possíveis causas

xertada o u suturada. O lei to da unha provê uma base de Alterações clínicas Possíveis causas
apoio para a lâm ina ungueal, mas contribu i pouco para a
unha propriamente d ita. A cutícula é um compo nente epi- Diminuição do Traumas/iatrogênicas
dérmico que se estende da prega ungueal posterior para a tamanho da lâmina Uquen plano ungueal
unha proximal. Ela protege a integridade da prega u ngueal ungueal Tumores
Infecções virais e bacterianas
posterior. Vasculites
Insuficiência vascular/microinfartos

IN OI CAÇOES
- Epidermólise bolhosa adquirida

lâmina ungueal Psoriase


Antes da propos ição de uma cirurgia nas unhas, de- espessada Microtraumas
vem ser levados em conta diversos fatores clín icos que po- Onicomicose
dem influencia r o diagnóstico, como a idade do paciente, Idosos

se há casos semelhantes na família, uso de medicamentos Unhas amarelas Herança autossõmica dominante
e, claro, o exame físico. Idade avançada
Diversas são as alterações que podem ser encontradas Paquionfquia congênita
Onicomicose
no exame clin ico. O Quadro 81.1 lista algu ns dos achados
Psoriase
e possíveis causas. Linfedema
Diante de tamanha d iversidade diagnóstica, algumas Sindrome nefrótica
vezes uma biópsia pode ser necessária para a elucidação HIV
Tireoidopatias
do caso. Medicamentos
Além disso, há a correção estética dessas pa to logias que Pneumopatias
podem também ocas ionar dor, com especial destaque para Sindrome paraneoplásica
a o nicocriprose ou ''unha encravada", de gra nde demanda Neoplasias

em consultórios e de tamanho incômodo para o paciente, Onicólise Dermatológicas


principa lmente mu lheres que usam sapatos apertados. Traumas
A anestes ia pode ser local, em casos de proced imentos Tumores
Onicomicose
menores, ou troncular, por meio de técnica adequada e Psoriase
de maneira mu ito lema, pa ra minimizar a dor. A fa lange Uquen plano
distai é anestesiada por um bloqueio dos ramos nervosos Sistêmicas
que chegam lateralmente às falanges (Figura 81.2), usando Amiloidose
Anemia
lidocaina a I% e evita ndo o uso de vasoconstritor. Injeta- Bronquiectasia
se lentamente e aguardam-se 5 minutos. Uma outra opção Diabetes melito
como anestéSico é a marcai na, que causa menos vasodila- Gravidez
lsquemia periférica
tação que a lidoca ína e tem duração mu ito ma ior, cerca de Lúpus eritematoso sistêmico
6 a 24 horas. Entretanto, deve-se aguardar cerca de 20 mi· Porfiria cutânea tardia
nutos para uma completa penetração da ba in ha do nervo. Pelagra
O bloqueio troncu lar é a técn ica de mais fácil execu- Pênfigo vulgar
Reação medicamentosa
ção e que causa menor dor ao paciente. O anestésico de Sifilis
escolha deve ser infiltrado len tamente bilateral à fa lange Sindrome das unhas amarelas
proximal do dedo em que será realizado o procedimento, Tireoidopatias

próximo ao osso de onde se projetam os ramos sensitivos


Leuconiquia Doenças dermatológicas
(Figu ra 81.2).
Eritema polimorfo
Mui tas vezes, pode ser necessária a infiltração em ci r· Onicomicose
cunferência, para anestesiar poss íveis ramos mais posterio- Psoriase
res o u anteriores nos dedos, lembrand o sempre de respei- Doenças cardiopulmonares
Doenças renais
ta r as regras de assepsia. Doenças endocrinometabólicas
Hipoproteinemias
'
Ciclo menstrual
BIOPSIA Drogas/envenenamento
Trauma
Mui tas são as indicações de bióps ia u ngueal, como:
elucidação de alguma patologia, diferenciação de nevos e Fonte: Loureiro WR (www.media nanet.com.br}.
< 478 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

o Punch 3-4 mm
ou fuso com lâmina

•••
••
......

Figura 81.2 Anestesia trocular dos dedos (Fonte: adaptada de Figura 81.3 Locais para realização de biópsia ungueal. (Fonte:
Vergara J, Heras S. Arribas JM. Anestesia Locorregional.) adaptada de lngrow toenail orthoinfo.aaos.org)

melanomas u ngueais, assim como o estad iamento de uma Biópsias fusiformes longitudinais ma iores podem ser
neoplasia no local. suturadas com fio absorvível. Após a realização da bióps ia,
Alguns casos de onicomicose com hiperqueratose, mais a prega posterior da u nha deverá retornar à posição natu ral
ava nçados, com exames negativos, ou patologias como pso- e ser fixada por sutu ra ou por Micropore"'.
riase ou líquen plano ungueal, muitas vezes não são esclare- Antes da cirurgia, é conveniente informar o paciente
cidos apenas no exame clín ico, por história insuficiente ou sobre a possibilidade de deformidade subsequente ou fra-
falta de outras lesões na pele. Nesses casos, a b iópsia de leitO cionamento u ngueal.
ungueal pode ser de muitO auxilio para o d iagn6stico.
As biópsias ungueais podem ser realizadas com um
P~<nch de 2, 3 o u 4mm, sempre preferi ndo os ma iores, se ONICOCRIPTOSE
possível, de modo a dispor de uma amostra maior para es- Este tema será abordado um pouco mais a fundo por
tudo. Podem também ser realizadas com lâm ina de b isturi. ser o de maior interesse na dermatOlogia estética relacio na-
Para b iópsia da lâmina e do leito da u nha, usa-se um punclt da com as u nhas.
descartável com pontas cortantes côn icas, verticais, mais Decorrente do trauma causado pelos cantos da lâmina
cilíndricas do que oblíquas. unguea l que pen etram as dobras ungueais latera is, com rea-
In icialmente, punciona-se através da lâm ina ungu eal ção inflamatória em graus que variam de leve a exuberan-
com um punch de 4mm. A lâm ina irá separar-se do leitO te, em gera l é acompa nhada de dor mu ito intensa, o que
ungueal. Em seguida, com um punclt de 3mm, retira·se um d ificulta o u até mesmo impede a deambu lação. As causas
cilindro de leitO u ngueal, descendo diretamente até o osso. mais frequentes são corte inadequado da unh a, traumas e
O largo diâmetro do orifício na lâmina facilita a remoção calçados apertados. Pode ser tratada conservadoramente
do cilindro de tecido. Em geral, o sa ngramento irá pa rar com o isolamento da lâmina - para não lesionar o granu-
espontaneamente com uma pequena pressão. loma - com algodão ou tubos de eq uipo e cauterização
A b iópsia da matriz deve ser obtida por visão d ireta elétrica ou química do granuloma com ou sem curetagem.
da lesão. A prega unguea l posterior deverá ser rebatida de Em graus ma is avançados, a co nduta deve ser ci rLi rgica,
modo a poss ibilitar a observação da extensão e da exata com exérese da porção encravada da un ha, segu ida de ma-
loca lização do processo patOlógico. Várias técn icas podem tricecwm ia quím ica ou ci rLi rgica.
ser empregadas para biops iar a matriz ungueal. A principal No caso de haver uma paroníquia com ou sem infecção,
regra consiste em biops iar a porção distai da matri z a fim inicialmente, a lâm ina lateral da unha é removida. Isso pro-
de evi tar o subsequente fracionamento ungueal ou outras moverá o alivio dos si ntomas e a resolução da paroníquia.
deformidades da placa u ngueal. A~ biópsias por punclt e Antibióticos, isoladamente, produzem apenas benefício à
fus iforme com orientação transversa da matriz anterior margem para uma paron íqu ia crônica (Figura 81. 4).
prod uzirão bom resultado cosmético (Figura 8 1.3). Após 4 a 6 semanas, uma matricecwmia lateral, can-
Se for necessária a retirada de uma b iópsia fusiforme tectomia, eletiva é realizada em um tecido de gra nulação,
lo ngitud inal, através de roda a extensão da matri z, retira-se com o dedo sem infecção clínica, utilizando um b loqueio
um fragmento menor que 3mm. Qualquer perda maior de tronco periférico, como o descri to previamente.
resultará em deformidade longitudina l permanente na lã- Rebate-se a prega ungueal posterior latera l com uma
mina unguea l. incisão que forme um arco atrás do lado do dedo. A ma-
Capítulo 81 • Cirurgia das Unhas 479 ")

rá ser apl icado muitO precisamente com material po ntudo


e removido após 30 min utos, lavando-se com abundante
quantidade de solução salina. Esse proced imento não é
recomendado como rotina em ablação ungueal, mas pode
ser (Jtil em a lguns casos.
De fácil aplicação e bons resultados comprovados, a
eletroci ru rgia, associada à criocirurgia, tem atingido resul-
tados tão bons quanto com a cirurgia, mas com menos in-
conven ientes do q ue esta.
Nesse métOdo deve-se, como em todos os o utros, rea-
lizar a asseps ia, respeitando todos os cuidados necessários.
Em seguida, realiza-1>e o bloq ueio dos artelhos acometidos,
conforme técnicas já descritas.
A eletrólise com rad iofrequência (Waverron ic®) com
80% de corte e 20% de coagu lação e 3mV de potê ncia,
utiliza-1>e de um elétrodo de corte, preferencialmente o de
Figura 81.4 Paroníquia. (Fonte: Serviço de Dermatologia do Hos-
pital Eduardo de Menezes.)
alça redonda, ou arco, e remove-se rodo o tecido de gran u-
lação com a espícula unguea l invaginada, se possível com
um aplainamento das bordas latera is para mel hor acomo-
triz lateral estará claramente vis ível, mesmo que se este n- dação da lâmina.
da inferolateralmente. Toda a matriz late ral é incisada Em segu ida, congela-1>e com nitrogên io líquido com
e removida, restando um s ulco vazio. A p rega u ngueal pontei ra em spray aberta, rea liza ndo ciclo de cerca de 10
poste rio r rebatida é fixada em seu lugar por s utu ra ou segundos (até o completo co ngelamento do tecido).
Micropore®. Esta parte do processo pode ser real izada Em qua lquer tipo de cirurgia escolh ida, no pós-ope-
sem o corte na prega u ngueal. Para isso, deve-se prender rató rio imed iato deve ser realizado curativo de contenção
a ma triz com uma pinça fina e cortá-la com u ma tesoura com antibiótico tópico e ocl usão (dedo de luva estéril, ga-
fina na mesma linha da lâmina ungueal, por baixo da zes e esparad rapo).
prega u ngueal (Figura 81.5). Antes do in ício das técnicas, pode-se optar pelo uso de
Ocasionalmente, pode ser empregada uma solução um garrote no artelho a ser operado, mais ind icado para a
de feno! a 80% para "fixar" os tecidos ao redor da matriz técn ica cirúrgica convenciona l e pelo menor tempo poss í-
excisada. Se resultar em inflamação, haverá aumento do vel. Utiliza-se um dedo de luva estéril ou garrote de pano
desconforto pós-opera tó rio. Q uando usado, o feno! deve· de uso infantil (Figura 81.6).

Figura 81.5 Pinçamento de matriz ungueal. (Fonte: Serviço de Figura 81.6 Garrote com dedo de luva. (Fonte: Serviço de Der-
Dermatologia do Hospital Eduardo de Menezes.) matologia do Hospital Eduardo de Menezes.)
< 480 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

-
CONSIDERAÇOES FINAIS
Chiacchio ND. Um novo torniquet e para cirurgia do aparelho un-
gueal. Surg Cosmet Dermatol 2010; 2(2)135-6.
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Após estas breves consid erações sobre o tema cirurgia plicated w ith granulation tissue. Dermatol Surg 2006; 32(11).
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de u nhas é possível perceber que se trata d e um campo
t opic=a0015A.
pouco explo rado e de vasto significad o clinico e estético. Loureiro WR. Doença das unhas. Disponível em: www.medicinanet.
Não existem segredos maiores ao realizar uma ci ru rgia em com.br.
un has do que no restO do tegumento, sendo necessário Noel B. Surgical treatment o f ingrown t oenail without m atricectomy.
apenas um pouco mais de paciência e con hecimentos es- Dermat ol Surg 2008; 34(1).
Persicheni P. Simone P. Li Vecchi G, Di Lella F. Cagli B, M arangi GF.
pecíficos por parte do médico. Finalmente, deve ser lem- Wedge excision of the nail fold in the treatment of ingrown toe-
brado sempre q ue a afecção em uma u nha pode ser ex- nail. Ann Plast Surg 2004; 52.
tremamente dolorosa, tanto física como psicologicamente, Reis CMS. Trat ament o cirúrgico da onicocriptose: excisão do tecido
devendo, desse modo, ser tratada com prioridade, e de mole circunjacent e ao leito ungueal utilizando radioeletrocirurgia
e criocirurgia. Surg Cosmet Dermatol 2010; 2(3):180-3.
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Azulay Dermatologia. 5. ed. 9-1 0, 759-7Z Madrid : Jarpyo Editores, 2000.
Transplante Capilar
Carluz Miranda Ferreira

Pelos no corpo são herança de nossos ancestrais. e social. São muitO comuns relatos de casos em que o in·
Conferiam proteção. Embora possam ser cons iderados d ividuo evita compromissos sociais por não abrir mão do
órgãos vestigiais, os pelos e o cabelo propriamente di to de- uso de bonés ou chapéus. Muiros pacientes criam artifícios
sempenham papel relevante na vida das pessoas. A simples para ocultar o u disfarçar a ca lvície. Há casos em que opa·
maneira de cortar ou pentear os cabelos revela muitO sobre ciente cria penteados inusitados na tentativa de esconder
cada ind ivíduo (comportamento, sexo, ocupação, status). áreas ca lvas (Figura 82.1).
Simbolicamente, os cabelos representam força, vi rilidade, Muito se avançou em cirurgia de calvície desde o surgi·
personalidade, sensualidade e juventude. Portanto, a cal- mento das ci rurgias com puncltes até os d ias de hoje.'
vicie pode sign ificar não só a perda de cabelos, mas a de
todos esses atributos descritOs.
A calvície afl ige o homem desde o início dos tempos. HISTÓRICO
Atualmente, é motivo freq uente das consultas em estética Papiros egípcios, como os de Ebers e Hea rst (4000
entre os ind ivíduos do sexo masculino, embora possa aco- a.C.), apresentavam soluções ou fórmulas para o tratamen-
meter ambos os sexos. A progress iva queda e dim inuição tO da queda do cabelo. Os ingred ientes eram os mais inu-
no volume capilar pode causar grande prejuízo ps icológico sitados: pata de cachorro, casco de asno, gord ura de leão,

Figura 82.1 Indivíduo ocultando calvície por meio de penteado inusitado. (Fonte: autor.)

481
PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

crocodilo, hipopótamo, cobra, cabri to. Esses unguemos e as causas de alopecia. A calvície propriamente di ta corres-
eram friccionados co ntra o couro cabel udo, e nq ua nto o u- po nde a um tipo de alopecia: a alopecia androgenética, e
tros deveriam ser engolidos. representa 95% das causas de q ueda capilar em indivíd uos
Ainda na Antigu idade, embora em período um pou- do sexo mascu lino.
co mais recente (46 a.C.), Cleópatra obrigava Júlio César É importante que o diagnóstico seja preciso e a ci-
a usar um bál~amo de ratos q ueimados, dente-de-cava lo, ru rgia bem ind icada. O utras causas de alopecia não se
gordura de urso e med ula de veado no intu ito de cura r sua co nstituem em boa ind icação para transplante capilar.
calvície. Há relatos de que o imperador fazia seu pentea- Por exemplo, destacam-se o eflúvio telógeno, desnutrição
do trazendo o cabelo das laterais com o objetivo de cobrir proteico-calórica, deficiência de ferro e zinco, estresse emo-
as áreas calvas. Clássico também era o hábito de usar sua cional, alterações h ormonais (hipo ou h ipertireoid ismo),
coroa de lou ros com a finalidade de d isfarçar sua ca lvície. alterações metabólicas e uso de drogas .
Galeno (150 d.C .) afi rmava que a calvície era causada O diagnóstico, na maioria das vezes, é clín ico, a partir
pela ingestão de cogumelos. da avaliação do padrão e da maneira como se deu a q ueda
Nos idos de 460 a.C . Hipócrates, grego da ilha de capilar (exame físico e anam nese). Uma lupa pode auxilia r
Cós, ind icava um cataplasma à base de com in ho, fezes de o diagnóstico. O uso de dermaroscópio pode ser útil na
pombos, rábano-silvestre e raiz-de-beterraba. Apesar de nos detecção precoce de sina is de min iaturi zação dos fol ículos,
tempos antigos existirem muitas técn icas e fórmulas esta- além de auxiliar a demonstração de resposta ao tratamento
pafú rd ias, o pai da med ici na fez observações vá lidas até clinico.6 Embora menos comum, a biópsia de couro cabe-
os dias de hoje. Ele percebeu que cria nças e eu nucos não ludo pode estar indicada para avaliação de outras causas
desenvolviam a alopecia androgenética. de alopecia.
Esse fato vem ao encontro da teoria moderna da fi-
siopato logia da ca lvície. A testosterona é degradada por CLASSIFICAÇAO
-
uma e nzima chamada 5a-redutase. O metabólito obtido
A calvície foi classificada por diversos autores. Em
(diidro testOsterona) age no fol ículo piloso dos indivíduos
1951, HamiltOn apresentou sua classificação que, mais tar-
geneticamente suscetíveis, causa ndo involução e q ueda ca-
de (1 975), foi mod ificada por Norwood,l a qua l consiste na
pilar, provavelmente mediada pela aden ilciclase.
mais d ifund ida e utilizada atualmente.
Originada no Japão, com Okuda 2, a cirurgia moderna
Ludwig propôs a classificação pa ra o padrão fem in ino
da ca lvície (transplante capilar) consistiu no tra nsplante de
da calvície.
fragmentos de couro cabeludo obtidos por meio de pun·
ches. Embora traba lhos de Okuda e outros auto res orientais
datem das décadas de 1930 e 1940, fo i O rentreich1 q uem TRATAMENTO
popularizou a técnica de tra nsplante capilar no Ocidente, A~ modalidades de tratamento cl ín ico d ificilmente
em 1950. Seu método com puncltes de 4mm foi empregado determinam o restabelecimento das áreas calvas em que
pelos ci rurgiões de calvície até cerca de 1975. A década de já houve atrofia completa do folículo. Com o tratamento
1960 marca o in ício da obten ção da área doadora por meio clinico, normalmente se obtêm uma cessação da q ueda e
de fa ixas (strips). 4 um incremento no calibre e na q ualidade daq ueles fios em
A partir de então, a técn ica evoluiu para a confecção processo involutivo. O tratamento clin ico não é o objetivo
de enxertOs menores e mais delicados. Os anos 1980 mar· deste capitulo.
cam, portanto, a época em que os enxertOs obtidos a partir No que se refere ao tratamento cirúrgico, faz-se impor·
de punches de 4mm eram divid idos ao meio ou em q uatro tante ressaltar o emprego de outras técnicas para resta ura-
partes. Embora representassem um avanço técnico, os en- ção capilar, como o uso de retalhos de couro cabeludo com
xertOs ainda eram grosseiros e não garantiam natu ralidade uso o u não de expa nsores de tecido e as ressecções de área
ao resultado. calva. Essas técn icas ainda são aplicadas nos dias de hoje,
Entreta nto, foi Bob Limmer (Texas), em 1987, quem mas não são o objetivo deste capítu lo (Figura 82.2).8
preconizou o uso do microscópio na dissecção dos enxer·
tOS, determinando grande avanço e refinamento na técnica '
ainda utilizada nos dias de hoje.; TECNICA
Todas as técn icas cirúrgicas usadas para o tratamen-
to de calvície se baseiam no conceito de utilização do
DIAGNÓSTICO cabelo localizado na região temporo-occipi tal como área
Alopecia é o termo dado à perda pa rcial o u total de ca- doadora . Os foliculos dessa região são então transferidos
belos o u pelos em determinada região. Vários são os tipos para as áreas calvas. A análise da escala de classificação de
Capítulo 82 • Transplante Capilar

Grau I Grau 11 Grau 111


Ludwig Hair Loss Scale

Norwood Scale

1 3 5

2 3
vertex
5a -~ I

2a ..- 4 6

3a 4a 7

Figura 82.2 Classificação de Hamilton-Norwood da alopecia androgenética masculina. (Fonte: http:www.joriosantana.com.br/tipos-


·de-calvicie.html)

Norwood, revela, no grau mais avançado de calvície (gra u gunda sessão. Co nsidera-se que a dens idade capilar padrão
VI I), a manu te nção dos fios de cabelo nas regiões temporal do couro cabeludo varie de 70 a 100 unidades foliculares
e occipital. Em ou tras palavras, esses setores do couro cabe· por centímetro quadrado. Após a cirurgia de transplante
lu do parecem esta r de alguma maneira blindados contra o capilar, espera-se a obte nção de uma densidade de, aproxi-
efei to da diidrotestOsterona. madamente, 40 unidades por centímetro quadrado, o que
A grande lim itação técnica do transplante capilar se corresponde à dens idade cosmética idea l. Este, entretanto,
refere à densidade capilar (número de un idades foliculares é um conceitO que varia de acordo com características do
de cou ro cabeludo por centímetro quad rado). A dens ida- fio de cabelo (espessura, cor, tormosidade, compri mento).
de capilar obtida após uma sessão de transplante capilar Logo, um ind ivíduo com cabelo fino e liso pode aparentar
nunca será tão alta quanto a da área doadora (regiões occi· ter menos dens idade do que outro com cabelo crespo e
pita! e tempora l). Isso ocorre porque, tecn icamente, não é grosso, ainda que ambos apresentem a mesma densidade
poss ível a colocação dos folículos muitO próximos uns dos capilar.9
outros. O cirurgião q ue desrespei tar esse lim ite de espaço Como citado previamente, foi gra nde o avanço das
en tre os enxertos pode prejud icar a "pega" destes devido a técn icas de tra nsplante capilar. O sucesso do procedimen-
edema local e consequente red ução do aporte circulatório. tO está intimamente relacio nado com a sistematização da
O paciente que desejar ma ior dens idade capilar deverá ser técn ica e exige uma equipe numerosa, en trosada e bem-
orien tado quanto à necessidade de submeter-se a uma se· ·treinada. Tudo isso pa ra garantir um menor tempo entre
< 484 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

a saída do e nxertO de sua área doadora e a ch egada na área o crescime nto de cabelo na cicatr iz de modo a ocultá-la
receptOra. Q ua nto menor esse tempo, ma iores serão a vita- a inda mais w
lidade desses enxertos e as chances de pega. Como se não Enquanto a hemostas ia é realizada, a amostra de cou-
bastasse a necessidade de materia l h umano habilitado, a ro cabeludo é encam in hada a o utra parte da equ ipe q ue,
ci ru rgia de calvície exige hoje o emprego de tecnologia em mun ida de microscópios ou lupas, procede à dissecção e ao
instrumentos e equipamentos, como, por exemplo, micros- preparo dos enxertOs.
cópios e lupas. Sendo assim, cada vez mais o transplante Uma vez confeccionados, os enxertos são colocados
capilar torna-se uma ci rurgia que merece ser realizada por na região ca lva a ser tratada, in iciando na lin ha anterior e
centros de referência em cirurgia de ca lvície. Dificilmente ava nça ndo em di reção posterior.
será realizado por um profissional que o executa esporadi- O refinamento técnico e a arte do procedimento se
camente. man ifestam por meio do cuidado e zelo du rante a colo-
cação dos enxertos. A incl inação correta varia de acordo
com a região do cou ro cabeludo e mimetiza o cabelo na-
PREPARO tural. Um interva lo mínimo entre um e o utro enxerto
O paciente é fotografado para documentação e, a se- deve ser respei tado a fim de promover ci rculação sangu í-
gu ir, são marcadas, com caneta específica, a área receptOra nea adequada.
(desenho da linha a nterior) e a área doadora na região oc- Nas linhas posteriores, podem ser util izados enxertos
cipital (desenho da faixa a ser ressecada). com três ou quatro fios, para proporcionar melhor densi·
A linha anterio r deve ser propositalmente desen hada dade cosmética.
de ma neira irregu lar, de modo a conferir naturalidade.
Não pode ser mu itO ba ixa, embora mu itos pacientes o soli-
-
EXTRAÇAO DE UNIDADE FOLICULAR
ci tem, e deve correr obliquamente, determinando a man u- A extração de u nidade folicular (jol.licular unit extraction
tenção das "entradas" (Figura 82.3). IFUEI) corresponde à modalidade cirúrgica que teve como
A espessura da faixa de cou ro cabeludo em região occi- origem a antiga técnica dos puncltes.; Em outras palavras,
pital é determi nada pela elasticidade, a qua l é avaliada por com o aprimoramento técn ico, os enxertos passaram a ser
palpação. O cabelo é cortado para facilitar a marcação e o obtidos com P~<nches de d iâmetro cada vez meno r. A evo-
ato cirúrgico propriamente dito. lução da técn ica determinou a coleta individualizada da
un idade folicular por meio de micropunches.
Apresenta a vantagem de evitar a cicatriz linear na área
ANESTESIA
doadora, o que deve ser avaliado com cri tério, uma vez
A cirurgia é rea lizada sempre sob sedação, assistida por que, com o advento das suturas tricofíticas, as cica trizes
a nestesista, em ambiente ci rúrgico e em regime de hospi· resulta ntes do método clássico (strip) são inco nspícuas e de
tal-dia. Com o paciente mon itorado, em decúbitO dorsal, excelente qua lidade. Em contrapartida, haverá mú ltiplas
dorso elevado a 30 ou 40 graus, faz,.se antissepsia com clo- cicatrizes puntiformes no métOdo FUE.
roexid ina degermante e alcoólica e colocação de campos O método FUE apresenta como desvantagem um tem-
ci rú rgicos. po ci rú rgico aumentado com curva de apre nd izado longa.
A a nestesia é local e locorregiona l com bloqueio dos Pa ra min imizar esses aspectos, acrescentou<;e à técn ica o
nervos supratrocleares e supraorbitários. Diversas soluções uso de equipamentos para automatização da coleta e arma-
a nestésicas são descri tas na literatura, sendo importante zenamento dos e nxertos." Há que se considerar, também,
q ue conten ham ad renalina para vasoconstrição e melhores que no mérodo clássico os foliculos são d issecados e sepa-
cond ições de hemostasia. Além d isso, a tumescência causa- rados sob visão de aumento di reta, por meio de lupas ou
da pela infiltração favorece a dissecção cirúrgica. microscópios.
Enfim, toda técn ica cirúrgica apresenta vantagens e
CIRURGIA desvantagens, sendo importante que o ci rurgião dom ine e
execute aquela em que acredi ta e q ue pode oferecer melho-
O cou ro cabeludo é incisado segundo marcação
res resultados para seu paciente.
prévia descrita anteriorme nte. A diérese é reali zada de
modo propos italmente b iselado, segu indo a direção dos
fios de cabelo e, portantO, evitando lesão dos folícu los. CASOS CLÍNICOS
O fech amento da ferida deve ser feito sem tensão, para Todos os pacientes apresentados nas Figu ras 82.3 a
evitar o alargamento da cica triz. A técnica da sutu ra tri- 82.7 foram operados pelo autor e autorizaram a apresenta-
cofitica pode ser util izada com o objetivo de p romover ção das fotos nesta obra.
Capítulo 82 • Transplante Capilar

Figura 82.3 Paciente em pré


e pós-operatório de 1 ano.
visto em diferentes ângulos.
Resultado obtido após uma
sessão de transplante capilar.
(Fonte: acervo do autor.)

Figura 82.4 Paciente com detalhe da marcação pré-operatória da linha anterior e o aspecto pós-operatório imediato. (Fonte: acervo
do autor.)
< 486 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Figura 82.5 Paciente em pré e pós-operatório de 1 ano. visto em diferentes ângulos. Resultado obtido após uma sessão de trans-
plante capilar. (Fonte: acervo do autor.)

Figura 82 .6 Paciente em pré e pós-operatório de 1 ano e meio. visto em d iferentes ângulos. Resultado obtido após uma sessão de
transplante capilar. (Fonte: acervo do autor.)
Capítulo 82 • Transplante Capilar

Figura 82.7 Paciente do sexo feminino em pré e pós-operatório de 8 meses, vista em perfil. Resultado obtido após uma sessão de
transplante capilar. (Fonte: acervo do autor.)

-
COMPU CAÇOES As células-tro nco embrionárias podem, mediante de-
term inado estimu lo, dar o rigem a células do ecroderma,
Intercorrências, as q uais não podem ser consideradas endoderma ou mesoderma (células plu ripotentes) ou, ain-
complicações, podem ocorrer com frequência, como san· da, dar origem a um número limitado de células especiali-
gramemo de d iscreto a moderado (principalmente em área zadas (célu las mul tipotentes).
doadora), edema e dor. O edema ocorre na maioria dos Como citado previamente, o transplante capilar teve o
pacientes e pode ser atenuado com o uso de cabeceira ele- Japão como berço, no final da década de 1930. Também
vada, aplicação local de gelo ou compressas frias e uso de no Japão, os pesquisadores têm demo nstrado pioneirismo
anti-i nflamatórios. A dor incomoda nas primei ras 24 ou nas pesqu isas com célu las-tronco. Em 2012, Takashi et a l.
48 horas e está relacionada com a tração da sutura em área publicaram um estudo em que conseguiram promover o
doadora. crescimento de pelos em ratos glabros (Figura 82.8)n A
Infecções são ra ras, se seguidos todos os padrões de pesqu isa foi realizada com pelos de rato e cabelo humano.
antissepsia e técnica cirürgica. Antib iótico profilático nor- As células-tronco foram obtidas a partir do folícu lo piloso
malmente é u tilizado. e tra nsplantadas por via intracutã nea. Os pelos, além de
Eflüvio telógeno decorrente do estresse cirürgico é apresentarem crescimento adequado, eram capazes de se
mu ito com um (95%). O paciente deve ser orientado e con trair (piloereção) após estímulo. Isso demonstrou cone-
tranquilizado por tratar-se de um evento transi tório.
H ipoestes ia ou anestesia de cou ro cabeludo pode ocor-
rer em virtude do trauma aos nervos sensitivos do couro
cabel udo. Raramente é defini tiva.
C istos de inclusão epidérmica podem ocorrer com cer-
ta frequência. Entretanto, o manejo no pós-operatório é
simples, por meio de drenagem.
C icatrizes inestéticas podem ocorrer, quando há gran-
de te nsão na síntese do couro cabeludo. T écn icas atrau-
máticas associadas a sutura por pla nos e sutura tricofitica
garantem cada vez ma is resultados cicatriciais de boa q ua-
lidade.

CÉLULAS-TRONCO
Ultimamente, em d iversos campos da medicina são Figura 82.8 Rato glabro apresentando crescimento de pelos
apresentadas pesqu isas e estudos para tratamento de múlti- a partir do transplante de células-tronco. (Fonte: Takashi et ai.,
plas afecções por meio de técn icas de e ngenharia genética. 2012 1 2 )
PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

xão do folículo à inervação e ao músculo erewr do pelo, o 4 . Curi M. Tratamento da calvfcie masculina com m ini-enxertos. Re-
vista da Soe Bras Cir Plast 1990; 23(5):68.
q ue se confi rmou h iswlogicamente. 4 . Vallis CP. The strip scalp graft. Clin Plast Surg 1982; 9:229.
Esse traba lho cientifico ilustra o avanço tecnológico 5. Limmer BL. Follicular holocaust. HairTransplant Forum lnt 1998;
na medicina aplicada à tricologia e à ciru rgia de ca lvície. 8:5-11.
Apesar de todas as restrições éticas existentes na pesquisa 6 . Ramos LO et ai. Achados dermat oscópicos na alopecia androge-
nética feminina. An Bras Dermatol (online( 2012; 87(5):6914.
de célu las-tronco, esta e uma rea lidade e representa o futu-
7. Norwood OT. Male panern baldness: classification and inciden-
ro da terapêutica da ca lvície. Embora essa tecnologia não ce. So Med J 1975; 68:1.359-65.
esteja ao alca nce da prá tica diária atualmente, o ci rurgião 8 . Anderson, RD, Engen TB. Hair restoration using flaps. In:
de calvície deve estar atemo àS inovações cientificas e ofere- Achauer BM (edits . Plastic Surgery. 1. ed., Orange, Mosby, Inc.,
cer o q ue há de melho r e mais segu ro a seu paciente. 2000.
9 . Limmer BL. The density issue in hair transplantation. Dermat ol
Surg 1997; 23:747-50.
10. Marzola M. In: Haber R, Stough OB eds. Single scar harvesting
Referências t echnique in hair transplantation. Philadelphia: Elsevier Saun-
1. Shiell, RC. A review of modem surgical hair rest oration t echni- ders, 2006:83-5.
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living hair (in Japanese). Jpn J Dermatol 1939; 46: 135-8. tion. Oermatol Surg 1998; 24:623-7.
3. Orentreich N. Autografts in alopecias and other select ed derma- 12. Takashi T et ai. Fully functional hair follicle regeneration through
tological conditions. Ann NY Acad Sei. 1959; 83:463. the rearrangement of stem cells and their niches. Nature Comm
Subcisão
Leonardo Oliveira Fe rrei ra
Roberta Patez Figueiredo

A subcisão (do inglês subcision = subcutaneous incision- artérias carótidas externas. A artéria facial é a principal
less surgery, ou, em português, ciru rgia subcutânea sem artéria da face. 10
incisão) co ns iste no descolamemo dos fios de cicatrizes A rea lização de subcisão nas regiões temporal e fro ntal
fibróticas encontrados na camada epidérmica que esco- deve ser desencorajada, pois a primei ra incl ui a área onde
ra a cicatriz até o tecido subcu tâneo. Trata-se de técn ica o ramo temporal do nervo facial corre sob a camada da fás·
ci rú rgica utilizada, principalmente, pa ra abordagem de cia temporoparietal (SMAS), tendo emergido de baixo da
cicatri zes deprimidas na face e corpo e tratamento da parótida, no nível do zigoma, em seu trajeto para inervar
pa niculopa tia edematofibroesclerótica (PEF E), mais co- o músculo frontaL T ipicamente, a fu nção do orbicular das
nh ecida como celulite. A técnica objetiva a realização de pálpebras é poupada após lesão do ramo temporal, uma
um pequeno corte nos anexos fibrosos loca lizados abaixo vez q ue o müsculo recebe inervação dupla, na forma de
da cicatriz no n ível subdérmico, a fim de levanta r a cica- uma segunda inervação proveniente dos ramos zigomáti·
triz e ind uzir a formação de tecido conjuntivo mediante cos inferiormente. Do pontO de vista clín ico, o lado afe.
um p rocesso fisiológico. Essa técn ica ci rú rgica é útil nos tado da fronte fica pa ralisado, com consequentes ptose da
tratamentos de cicatrizes de acne, cica trizes deprimidas, testa, assimetria das sobrancelhas e ausência assimétrica de
rugas, alguns tipos de estrias, cel ulite e, também, em algu- movimento nesse lado da fronte. Já a região frontal inclu i
mas formas de cicatrizes mais profundas, que podem ser os nervos supraorbitário e supratroclear, que são ramos da
combinadas com o utras técn icas, como p reenchimentos, primeira divisão do nervo trigêmeo (V nervo cran iano).
no caso da celu lite, e peelings e laser de col fracionado, Esses do is nervos são suscetíveis de lesão quando emergem
no caso das estrias.' dos forames ósseos, onde estão mais aderidos e são movi·
A agulh a BD NokorTM 18G I Vz MTW, o instrumento meneados ou distendidos com menos facilidade. Embora
de escol ha para a realização da técnica, deve ser introdu- o nervo supraorbitári o d irija-se profu ndamente ao múscu·
zida no espaço subcutâneo paralelo à pele, sobre o botão lo corrugador, na verdade o nervo supratroclear pode ser
anestéS ico de lidoca ína a 2% com vasoconstri to r de prefe. cortado facilmente durante a secção do músculo corruga·
rência, fazendo movimentos pa ra trás e para a freme com dor, o q ue constitui um tratamento comum para as "linh as
o objetivo de liberar a pele. Com esse movimento a depres- franzidas" durante a realização de uma cirurgia plástica
são é leva ntada.' fromocoronal. A lesão desses nervos resu lta em dormên·
Na face, o loca l mais usua lmente t ratado com a s ub· cia ou, no caso de um neuroma, em d isestesia dolorosa da
cisão é a região zigomática dos pacientes com cica trizes fronte med iai, do cou ro cabel udo, da pálpebra superior e
de acne retráteis e sulco nasogeniano, mais conhecido do dorso do nari z. 1
como b igode ch inês. A face é ricamente sup rida po r O número de sessões de subcisão para correção de um
artérias, cujos ramos terminais se a nasromosam livre- defeitO dependerá da profundidade, do taman ho, da loca-
mente. As a rtérias supe rficiais da face são derivadas das lização e, também, da capacidade de o ind ivíduo formar

489
PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

colágeno. A maioria das rugas e cicatrizes responde a esse tismo, mas que apresenta aspecto em casca de lara nja; no
tratamento em três a seis sessões, com um intervalo méd io grau I I, a celulite é visível em ortostatismo, mas desaparece
de 45 d ias entre as sessões.4 Ocorre melhora importante já na posição supina; no grau lll, os pacientes apresentam on-
após a primei ra sessão. d ulações em pé e na posição supina, podendo ser exacerba-
As complicações dessa técnica incluem: dor, hema- das pelo pinçamento da pele.8 Essas alterações topográficas
tomas, e ndurecimento, inch aço e h iperpigmentação.' da pele ocorrem em áreas do corpo onde os depós itos de
Algumas precauções devem ser tomadas para garantir q ue gord ura parecem estar sob a influência do estrógeno, prin-
a anestesia utilizada seja suficiente para o confortO do pa- cipalmente quadris, glúteos, coxas e abdome. Atualmente,
ciente, como, por exemplo, a região pré-auricular, que fica não há cura eficaz para a celulite 6 A perda de peso ajuda
perto dos nervos superficiais.' a d iminu ir a gravidade da celulite, porém, em indivíd uos
Hemaromas e equ imoses podem ocorrer quando os obesos, a pele não parece sofrer gra ndes alterações. Em
vasos mais calibrosos são seccionados. Os pacientes com análise hisrológica, observou-se que os lóbulos de gordura
pele mais fi na e vasos superficiais são ma is propensos a retraem para fora da derme com a perda de peso.i
essas complicações.• T écn ica (Jtil para o tratamento da celu lite de graus li
A anasromose, por exemplo, é ricamente suprida pelas e lll, a subcisão não está indicada para a celu lite de grau I.
artérias facia l (a principa l artéria da face), temporal e tra ns- Melhora o aspecto da celu lite por três mecan ismos: come-
versa. As veias externas da face a nastomosam-se livremente ça pela secção dos septos, eliminando a tração q ue impõem
e são drenadas por veias q ue acompa nham as artérias. A~ à pele; em seguida, o trauma ci rúrgico estimula a formação
veias supratroclear, supraorbitária, temporal superficial e de um novo tecido conjuntivo, promovendo elevação da
retromandibular também fazem pa rte da vascularização da área tratada e funcionando como uma espécie de ''preen-
face. 2 Para o tratamento dos hemaromas, preconiza-se sem- chimento autólogo; por último, a incisão dos septos con-
pre a util ização domiciliar de derivados da esci na, como o juntivos possibil ita a redistribu ição da gordura e das forças
Reparil gel®, que atua sobre os distúrbios vasculares peri fé- de tração e tensão entre os lóbulos•
ricos e sobre o edema. O paciente é orientado a massagear Algumas complicações do procedimento podem ocor·
a área tratada até três vezes ao d ia, po r a té 2 semanas, a fim rer, como a formação de hematomas. Isso vai depender do
de min imizar equ imoses e hematomas. O uso excessivo do tamanho da área tratada e dos mecanismos de coagulação.
gel poderá lesio nar a pele do paciente em virtude do vei- O pequeno trauma acaba seccionando os vasos sangu íneos
culo alcoólico. local izados junto aos septos e leva ao hemaroma•

TRATAMENTO DA CELULITE TRATAMENTO DE SULCOS DA FACE E RUGAS


A celulite, ou PEFE, é caracterizada por uma camada A subcisão também é uma técnica útil para o trata-
espessa de gord ura hipodérmica, associada a lóbulos de mento das linhas, rugas e sulcos faciais decorrentes de
gordura que se estendem para a derme. s Co nsequência de foroenvelhecimento, flacidez, linhas do sono e envelheci-
alterações que se desenvolvem no sistema linfático, causa mento intrínseco. Rugas ma is profundas, como o sulco na-
acúmulo de substâncias no tecido subcutâneo, part icular- sogen iano, têm na subcisão uma boa opção de tratamento.
mente no interstício cel ular. Essas alterações podem ser Nessa área existem septos do s istema musculoapo neuróti·
influenciadas por hormôn ios o u por qualquer o utro me- co superficial (SMAS) que determinam e agravam as alte-
ca nismo que predispo nha o acúmulo de liqu ido por um rações do relevo. A excisão intradérm ica e subepidérmica
ind ivíduo.6 Um problema comum entre as mulheres, ca- dos septos conjuntivos do SMAS elim ina a tração q ue os
racteriza-se por alterações no relevo da superfície da pele, septos exercem sobre a pele e promove elevação da área
da ndo-lhe um aspecto de casca de laranja. Os hormôn ios tratada (nesse caso, dos sulcos e rugas). Os septos formam
femi ninos e a predisposição genética são alguns dos farores traves fibrosas que saem do músculo e atravessam o subcu-
q ue afetam esse sistema_; tâneo, inserindo-se na derme reticular. 4
Nas mulheres, a espessura da epiderme e da derme é
menor em comparação ao sexo masculino, além de apre-
sentar maior número de papilas adiposas, de onde emer- TRATAMENTO DA ACNE
gem glândulas sudoriparas, fol ículos p ilosos e vasos san- Alterações na queratinização do folículo são compo·
gu íneos.• nentes integra is para a parogênese da acne vu lgar. A fila-
Com base na gravidade clí nica, a celulite pode ser di- grina, uma proteína importante na diferenciação epidér-
vidida em três categorias: o grau I é caracterizado por pele mica, contribui pa ra a integridade estrutu ral e fu ncional
lisa, sem ondulações com o paciente na posição de o rrosta- do estrato córneo. Nas lesões de acne, ocorre aumento
Capítulo 83 • Subcisão

na expressão de filagrina nos q ueratinócitos que reves- contraind icação relativa, o uso d e med icamentos que pos-
tem o foliculo.4 As cicatrizes de acne continuam sendo sam alterar a coagulação.6
um desafio para os méd icos e pacientes. É essencial para Edema e infecções secundárias podem ocorrer. Para
o clin ico escol her uma maneira efetiva que atinja a pro- evitar, precon iza-se sempre o uso de azitromicina, 500mg,
fu nd idade adequada das cicatrizes superficiais e profu n- um compri mido por via oral, uma vez ao dia, por 3 dias.
das,10 as quais estão associadas a constrangimento social Se o edema for mu ito intenso, pode-se apl ica r uma ampola
e problemas ps icológicos. Essas cica trizes podem ser de intramuscular de dipropionato fosfato d issód ico de beta-
diferentes tipos e podem ser classificadas, de acordo com metasona (p. ex., Duoflam«> injetável) no paciente imedia-
sua morfologia, como box scar, icepick e rolling. A~ box (ou tamente após a rea lização da técn ica.
boxed) scars representam cicatrizes ma is planas e rasas. As
demo ninadas icepick, ou cica triz em forma de furador de Referências
gelo, são peque nas, bem-definidas e muito mais profu n-
1. Alsufyani MA. Alsufyani MA. Subcision : a funher modifica-
das . já as cica trizes do tipo rol.ling representam lesões cuja tion, an ever continuing process. Oermatol Res Pract 2012;
superfície parece ondulada, nas quais a depressão é pro- 2012:68534Z
vocada por um fe ixe de fibras vertical preso na camada 2. Moore KL. Anatomia orientada para a prática clínica. 5. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 200Z
mais p rofu nda da pele, como uma prega feita para colo-
3. Seckel BR. Zonas faciais de perigo: evitando a lesão de nervos
cação de botões em almofadas. em cirurgia plastica facial. Rio de Janeiro : Oi Livros. 1998.
Desse modo, pode-se escolher o tratamento ma is 4. Kede MPV, Sabatovich O. Dermatologia estética. 2 ed. Rio de
adequado de acordo com o tipo da lesão. A cicatrização Janeiro: Atheneu, 2009.
cutâ nea é o produto final da cura. A subcisão consiste em 5. Oi Bernardo BE . Treatment of cellulite using a 1440-nm pulsed
laser with one-year follow-up. Aesthet Surg J 2011 ; 31(3):
um método eficaz e econômico para o tratamento das ci- 328-4 1.
catrizes de acne. Essa técn ica libera o processo fibroso da 6. de Godoy JM, de Godoy M F. Treatment of cellulite based on the
derme. Em uma sessão, são esperados de 15% a 30% de hypothesis of a novel physiopathology. Clin Cosmet lnvestig
correção. O enrugamento da superfície da cicatriz ocorre Oermatol 2011 ; 4:55-9.
Z de Godoy J M, Groggia MY. Ferro laks L, Guerreiro de Godoy
de 5 a 10 d ias após a subcisão. O enrugamento da super-
Mde F. lntensive treatment of cellulite based on physiopathologi-
fície da cicatriz é um bom sina l. A subcisão não é 100% cal principies. Oermatol Res Pract 2012; 2012:834280.
eficaz, mas promove melhora perma nente. Deve-se ter em 8. de Godoy J M, de Godoy MF. Evaluation of the prevalence of
mente a possib il idade de hemawma pers istente e nódulo concomitant idiopathic cyclic edema and cellulite. I nt J Med Sei
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subcutâneo"
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barrier: is acne vulgaris associated with inherent epidermal ab-

CONTRAINOICAÇOES
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topical acne therapies alter the structural and/or functional integ-
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1O. Kandhari R, Kandhari S. Non ablative fractional photothermolysis for
áreas próximas, e cicatrizes de acne do tipo icepick. As rela- atrophic acne scars. J Cutan Aesthet Surg 2012 Oct; 5(4):287-9.
tivas são: d istúrbios de coagulação, cicatrizes atróficas e h i- 11. Vaishnani JB. Subcision in rolling acne scars with 24G needle.
pertróficas e queloides. Outros auto res destacaram, como lndian J OermatoiVenereol Leprol 2008 Nov-Oec; 74(6):677-9.
Microagulhamento
Juan Carlos López
António Manuel Margarido Gormicho Boavida

'
Microagulhamento, ou nudle dermabrasion, consiste HISTO RICO
em um procedimento terapt!utico para indução de colá- Em 1997, um cirurgmo plástico ca nadense, And re
geno e admnbrração percutãnea de ativos. Trata-se de Camirand, relatou sua observação de que pacientes que re-
uma técn ica médica min imamente invasiva, não ah la- correram a tatuagem co>~nética para cobrir cicatrize.s faciais
tiva, que :.e utiliza de um instrumento compOStO por hipocrõmica.s apre:.entavam melhora na textura e na cor
um cabo conectado a um cilindro de resina especial, das cicatrizes, me;,mo depob que o pigmento utilizado já
rotatório, cravejado de microagulhas atraumáticas com houvesse desaparecido. Concluiu que a microagulha, utili-
comprimento variávd (entre 0,2 e )mm) e diâmerro mé- zada na tatuagem, era capaz de romper o colágeno cicatri-
dio de 0,1mm (Figura 84.1). cial e promo,-er uma neoformação de colágeno organizado,
Cada cilindro p<XIe ter entre 75 e 514 agulhas colo- bem como uma e:.timulação da melanogêne;,e.'
cadas em cerca de 25 fiada;, e aplicadas em um ângulo Camirand descrew a técnica como uma tatuagem sem
médio de 14,5 grau:.. Os in;,trumentos com maior núme- pigmento e a denomina nccdlc dmnabrruion, informando
ro de agulha:. apre.,emam, em geral, menor e mais difícil que se trata de uma técnica :.imples, segura e com resulta-
penetração; con:.equenremenre, menor será o resultado dos consLstentes, indicada para cicatrizes atrMicas e hiper-
clinico. tróficas.
O in:.trumento (roll~r ou cilindro de microagulhas
ICMAI) é movimentado ("rolamento") sohre a região de
pele a ser tratada com dois diferenres objetivos: aumento INDICAÇÕES
da penetração de princípios ativos tópicos (cri ando verda- • Na apl icação e no aumento da ~ficácia de pri ncípios ati-
deiros "poros") e estimulaç..'io de coláge no (pa ra rejuvenes- vos, como ácido hia lu rôn ico, vitam ina A, vita min~ C
cimento cutâneo e tratamento de cicatrizes). (ascorbaco) e d iversos fármacos hid rossolüveis no trata-
O movimento de vaivém ê realizado nos sentidos verti- mento de alopecia, melasma, discromias, flacidez etc.
cal, horizontal e nas d uas d iago nais, resulta ndo em 125 (lO • Como terapia de indução de colâgeno e elastina: sequelas
passadas) a 198 (15 passadas) perfuraçõe.~. de acne, estrias, cicatrizes, ruf.:as e fomenvelhecimento.
O C MA para estimu lação de colagé no (com agu lhas • As principais zonas a tratar são: face, pescoço, co lo, bra-
de 0,5mm ou maiores) deve ser utilizado por médicos ha- ços, mãos, abdome e couro cabeludo.
bilitado:. e exige cu idados de assepsia/antissepsia cirú rgi-
cos e o uso de diferente;, tipos de ane.~tesia (na maioria
da., \'t'ze> tópica) e, eventualmente, sedação e/ou pres- CONTRAINDICAÇÕES
crição de analgé:.ico;,, em ;,ituaçõe;, muito especiais. Até São contraindicaçôes: neopla;,ia:., acne ativo, eczema,
0,3mm, o CMA pode ;,er considerado de uso domiciliar psoriase, rosácea ativa, área.., infectada.'>, ferida~ abertas e
ou co~mético. uso de anticoagu !ante.'>.

492
Capítulo 84 • Microagulhamento

Constituem co ntraindicações relativas: preench imen-


tO com filler permanente, tendência a quelo ides, uso de
ácido acetilsa licílico e gin kgo b iloba e alguns transtOrnos
psicológicos tVou psiq uiátricos.
O microagu lhamento é usado para aumento da pene-
tração cutânea de ativos.
A absorção cutânea refere-se à penetração da substân-
cia entre as várias camadas, e nqua nto a percutãnea co nsis-
te na passagem através da pele e para o interior dos vasos.
A camada córnea contém água e lipídios. Lipídios pola-
res e não polares representam uma verdadeira barreira para t
a penetração de ativos hid rossol úveis e moléculas gra ndes .1
Seus principais constituintes são: ceramidas (50%), gordu-
Figura 84.1 Ro/ler "premium" de origem coreana (Derma0") -
ras (26%) e colesterol (20%).
196 agulhas. No detalhe, a foto da ponta da agulha atraumática.
Consequentemente, a pele absorve, preferencialmen-
No desenho esquemático, os diferentes sentidos de rolamento.
te, molécu las lipossolúveis em base aquosa, porque a cama-
da de queratina também é composta por água.1
Ai nda, a pele exposta a radiação UV, nomeadamente a um máximo de 8 e 12 horas, dependendo no compri men-
face, apresenta maior concentração de lipíd ios no extrato to da agulha utilizada_;
córneo, o q ue reduz ainda ma is a penetração de compostos Como agul has ma iores resultam em ma ior tempo para
hid rofílicos.M o fech amento do "poro", conclu i-se que a penetração do
Utilizando-se C MA de 0,2mm (e eventualmente 0,3 e ativo também será maior.7
O,Smm), o microagulhamento permite a criação de mil ha- Detalhe importante é que a oclusão do local tratado
res de "poros" na ba rreira cutânea, sem sa ngramento o u com o C MA por filme plástico pode prolongar a penetra-
dor, já que o taman ho red uzido da agulha não é suficiente ção de ativos por até 22 horas. Nesse contextO, utiliza-se
para promover estimu lação nervosa ou lesão vascular na um C MA p reviamente à aplicação do creme anestésico
derme 2 e, em segu ida, a oclusão com filme plástico aumenta de
Polímeros como o ácido h ialurõn ico (AH) apresen- modo mui to importante sua eficácia.
tam altO peso molecu lar e, portanto, mí nima penetração
tra nsdérmica. O uso de rollers de O,Smm é suficiente para
PROCESSO NORMAL DE REGENERAÇAO
-
aumentar a difusão de um composto em até 72.000Da. A
maioria dos AH de uso cosmecêutico tem apenas 2.000Da.
-
CUTANEA
Portanto, o microagu lhamento proporciona um aumento Na pele normal, as células são banhadas pelo plasma,
eficaz na penetração de ativos sem a necess idade de altera- mas, quando ferida, desenvolve-se a formação de serum
ções na concentração de ativos ou na viscos idade dos cos- no local. Conforme a ferida cicatriza, ocorre um retorno
mecêuticos e a util ização de peq uenas doses.4 progressivo de serum ao plasma. O serum huma no promove
O melasma pode ser considerado um distú rbio crôni· seletivamente a migração de cél ulas da epiderme e "blo-
co pigmentar da pele e apresenta d ifícil manejo. Em geral, queia" a migração de células da derme.
para o tratamento é necessário o uso de ativos despigmen- Transforming growth. factor beta 3 (TGF-133) é uma citO·
tantes h idrossolüveis, como a vitamina C e a hid roqu ino- cina envolvida nos processos de d iferenciação celular, em-
na. Fabbrocin i et al. demonstraram que o uso do roller de briogênese e controle dos processos de reparação tecidual
O,Smm no consultório, seguido do uso contín uo e domi· de feridas . O TGF-133 está presente em grande quantidade
ciliar de C MA de 0, 2mm, acompan hado da aplicação de no serum e é praticamente indetectável no plasmas
serum despigmentante, promove ação terapêutica superior Q uando a pele é lesionada, a migração de queratinóci·
ao uso do fármaco isolado.s tos epidérmicos nos bordos da lesão inicia-se em horas, en-
Em estudos realizados em pele h umana, a perda de q uanto a migração dos fibroblastos permanece indetectável
água transepidérmica (T EWL, transepidermalwater loss) foi por dias. Esse "tráfego" celular é necessário, uma vez que a
maior imediatamente após o procedimento, provavelmen- reepitelização deve ocorrer primeiro, antes da remodelagem
te ind icando a abertu ra maior do "poro", e red uziu rapida- dérmica. Alterações nesse mecanismo podem causar atraso
mente ao longo da primei ra hora.6 Estudos rea lizados com na cicatrização (feridas crônicas) ou cicatrização hipertrófica.
calceína (fl uo rescência) em an imais in 11it10 determinaram O TGF-133 é o responsável por, seletivamente, impedir a mi·
que o tempo estimado de permanência do poro varia entre gração de células da derme ames da completa reepitelização.9
< 494 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

MICROAGULHAENTO PARA O Discromias são frequentes após destruição da epider-


REJUVENESCIMENTO CUTÂNEO me, como ocorre nos tratamentos ablativos. A produção
(INDUÇÃO DO COLÁGENO) de espécies reativas de oxigên io (ROS) q uando da exposi-
ção a lasers pa ra rejuvenescimento tem como efeitos negati-
Melhorar a hid ratação, a textura, a luminosidade, a
vos a h iperemia prolongada e h iperpigmentaçõesn
cor, enfim, combater o fotoenvelhecimento, são objetivos
O fato de não haver remoção da epiderme min imizao
importantes em tratamentos dermacocosméticos.
contato com o ar, reduzindo, ass im, a formação de ROS.
Os tratamentos ablativos, como os peelings qu ímicos e
Nenh um estudo clinico sobre microagu lhamento referiu
o re.s~<rfa.cing a laser, promovem necrose tecidual, e nquanto
aumento de d iscrom ias. Aust et al. estudaram os efeitos do
o utros, como a dermoab rasão, removem a epiderme (feri-
microagulhamento sobre os melanócitos e os mediadores
da aberta) para atingir a derme papila r e promover, assim,
envolvidos na formação das discrom ias pós-inflamatórias.
o mecan ismo de reparação de feridas em cascata.
O nll mero de mela nócitos não sofreu alteração, houve
O microagulhamemo permi te estim ular a expressão
aumento da interleuci na-10 e a expressão do gene MC IR
dos genes envolvidos na remodelagem da matriz extracel u-
(receptor melanocortin 1), código para o hormô nio de esti-
lar epidérmica e dérmica, como os fatores de crescimento
mulação dos melanócitos, apresentou discreta red ução de
epidérmico, do fibroblasco e endotelial.10
expressão. 11
A indução de colágeno percutãneo (!CP) por meio do
Esses ach ados explicam a virtual inexistê ncia de h iper-
microagulhamento ocorre pelo mecan ismo inflamató rio
pigmentação pós-inflamatória nos tratamentos de microa-
da reparação de feridas em cascata, mas sem remoção da
gu lhamento; por outro lado, d iversos autores relataram
epiderme. Plaquetas e, even tualmente, neutrófilos (resul-
melhora de discromias (Figura 84.2).
tantes do sangramento e da formação de serum) liberam
fatores de crescimento como TGF-a e TGF-13, que aumen-
tam a produção da matriz intercelular (colágeno lll, elas- TRATAMENTO DE CICATRIZES
tina e glicosaminoglicanos). Colágeno lii será co nvertido A principal causa das cicatrizes atróficas faciais é a acne
em colágeno l ao longo de semanas e meses (ma is res isten- vu lgar (outras causas são varicela, h erpes e traumáticas).
te e com duração entre 5 e 7 anos). As cicatrizes de acne repnesemam uma cond ição clínica
Esses achados são compatíveis com o estudo retros- usualmente acompanhada de baixa autoestima e outras alte-
pectivo de 480 pacientes realizados por Aust et al., em pa- rações psicológicas. A~ opções efetivas de tratamento para essa
cientes com cicatrizes, rugas e estrias-" Pacientes e méd icos condição, como resurfacing a laser o u dermoabrasão, estão asso-
relataram melhora progressiva ao longo dos meses, atingin- ciadas a elevada morbidade e longo períod o de recuperacão 14
do o máximo após I ano de tratamento, ta nto hiscológica Outras técnicas menos agressivas, como microdermoabrasão
como clin icamente. ou lasers fracionados, apresentam ba ixa eficácia.';
Além da melhora do colágeno, estudo realizado em Diversos escudos d ispon íveis na literatu ra mu nd ial
q ueimados evidenciou aumento da espessura da epiderme têm documentado a melhora clínica e histopatológica de
em 45% após I ano e 140% em pele saudável. cicatrizes após o tratamento com RMA. 16•11


Figura 84.2. Fotoenvelhecimen-


to do colo. Antes, durante e após
40 dias . Note a melhora das hiper-
cromias e textura (Fonte: acervo
do autor.).
Capítulo 84 • Microagulhamento

Figura 84.3 Paciente com cicatri-


zes de acne já tratadas com cinco
sessões de laser (C02) sem me-
lhora significativa. Fotos pré-pro-
cedimento e 1 hora após o trata-
mento. Note a superficialização
das cicatrizes. (Fonte: acervo do
autor.)

Em recente estudo clinico (2009), o grau de melhora Procedimento - RIMA


de cicatrizes atróficas faciais foi aval iado como excelente Os autores desenvolveram conjuntamente no Brasil e
por 80% dos pacientes (72% na opinião do méd ico ob- em Portugal, desde 2008, seu próprio procedimento, a que
servador)16 Reações adversas foram trans itórias e leves e chamaram RIMA (rejuvenescimento integral com microa-
o retorno as atividades norma is foi poss ível e ntre 12 e 24 gu lhas).
horas. Apenas alguns tipos de cicatrizes (lineares e pitted. É importante ter sempre em co nsideração a correta
profundas) não respondem bem ao uso de RMA, mas seleção do paciente, seu estado nutricional e bioqu ímico,
isso também ocorre com outros tratamentos, como lasers. poi~ pretende-se aumentar a capacidade regenerativa do
Nesses casos, pode estar ind icado um procedimento cirúr· organ ismo e potencializar resultados.
gico mai~ importante (Figura 84.3). No RIMA, frequentemente, associam-se nu tracêuti·
cos, suplementos nutricionais, plasma rico em plaquetas
TRATAMENTO DE ESTRIAS (PRP), ácido hialurõn ico tópico e máscaras n utritivas.
O microagulhamento é uma técnica eficaz pa ra o tra-
tamento de estrias. Deve~e realizar anestes ia tumescente e Anestesia tópica
aplicar CMA de I,Omm ou maior. Resultados histo lógicos
EMLA00 e Med ica ína"' são uma mistura eutética, co n-
demonstraram deposição de colágeno o rdenado 6 meses
tendo 25mg/mL de lidoca ína e 25mg/mL de prilocaína,
após o tratamento.18
em uma emu lsão cremosa de ó leo em água.
EMLA00 prod uz analgesia 60 minutos após aplicação
Preparo pré-tratamento sob oclusão e a nalgesia inadeq uada após aplicação po r
Segundo Aust, pa ra a obtenção de melhores resulta- somente 30 minutos.19 Aumento considerável da ana lge-
dos, a pele deverá ser preparada com uso de vi tam inas A e sia dérmica ocorre 2 horas após aplicação sob oclusão.
C, duas vezes ao d ia, por 30 dias ames do procedimento. EMLA00 exige aplicação sob bandagem oclusiva o u patch.
A vitamina A é, na realidade, um tipo de micronu- Isso melhora a hidratação na camada córnea, o que é im-
triente com influência sobre 400 a 1.000 diferentes genes portante para a penetração do agente.20
que co ntro lam a proliferação e diferenciação celular na epi- Bra nqueamento e vermelhidão são comumente obser-
derme e derme. vados na área de aplicação e são decorrentes da vasoco ns-
A maio r parte da vitam ina A encontrada na pele está trição peri férica, que atinge o máximo após 90 min utos e
na forma de éSteres de retino!, forma, portanto, preferen- segue-se por vasod ilatação após 2 a 3 horas.
cial para apl icação (palmitatO e acetato). Portanto, recomendam-se uso de creme anestéS ico su-
A vitamina A parece estar envolvida na liberação te- ficiente, oclusão e período de incubação mínimo de 60
cidual preferencial de TGF-133 em detrimento de TGF-13 1 mi nutOs, mas inferior a 90 minutos. Não se recomenda de-
e TGF-132, favorecendo, assim, um processo fisiológico de sengordurar a face antes do procedimento, pois prejudica-
produção de colágeno o rdenado e não de colágeno desor- ria a absorção de lipossol úveis. Pacientes do sexo masculi-
denado encontrado em cicatrizes. no devem se barbear no dia q ue antecede o procedimento.
PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

Esses aurores notaram a evidencia clínica de que o tornando necessária a aplicação de mais força, o que vai
efei to anestés ico desaparece e m poucos minutos após o aumentar a dor.
início do processo de rolamento. Este fa to deve esta r liga- o Comprimento das agulhas:
do ao a umento da microcirculação e/ou ao sa ngramento - 0,2 para penetração de ativos na epiderme;
inerente. - 0,5 para penetração de ativos de alto peso molecu lar
Microdermoabrasão o u uso de CMA de 0,2mm pré- e/ou que devam ati ngi r prioritariamente a derme;
vios ao uso do creme a nestésico pa recem aumentar sua - 1,0 para "rejuvenescimento" de face, pescoço e mãos,
eficácia. peles finas com cuperose e no tratamento de estrias.
- 1,5 para "rejuvenescimento" de face e mãos e trata-
mento de cicatrizes de acne;
Anestesia infiltrativa - 2,0 para "rejuvenescimento" de face em peles mais
Para o uso de CMA de maior comprimento, necessá- queratinizadas, rugas periora is e cicatrizes mais im-
rio para o tratamento de rugas do lábio superio r (código portantes, inclusive cirúrgicas.
de barras), sequelas de acne e cicatrizes, bem como para o Movimento: realizar entre dois e quatro movimentos
pacientes mais sensíveis, pode ser necessária anestes ia infil- de va ivém em cada sentido. Os movimentos devem ser
trativa. Recomenda-se o uso de lidocaína sem vasoconstri- amplos (pelo menos uma volta completa no CMA) para
tor a 2%. Em geral, é suficiente 1,8mL em cada hemiface não haver desgaste de apenas algumas agulhas. Sempre
(terços méd io e inferior). que mudar de direção, levantar o CMA (risco de lesão
Como cada tubete da solução de lidocaina a 2% cicatricial}.
(20mg/mL) contém 1,8mL, a quantidade total de lid ocai- o Pressão da mão: durante rodo o proced imento, é im-
na é de 36mg por unidade. porta nte colocar o ind icador na região central do ro!ler,
Considerando que a dose máxima de lidoca ína = de modo que tOda a lin ha de agul has esteja em conta-
4,4mg/kg de peso corporal, a dose máxima para um adul- tO com a pele de maneira un iforme; não exercer muita
to seria 60 x 4,4 = 264mg, o u seja, 7 rubetes. Esses autores pressão no roller quando estiver em regiões de proem i-
recomendam a utilização de, no máximo, 50% da dose má- nências ósseas (sobretudo no terço superior - risco de
xima, o u seja 3,5 tubetes. equ imoses) (Figura 84.4).
o Nas regiões sem proeminências ósseas, principalmen-
te na mesoface, a pele desloca-se junto com o movi-
Procedimento mento do CMA; porta nto, é necessário promover um
o Escolha adequada do paciente e profilaxia do herpes, bom estiramentO da pele no sentido oposto ao do ro-
q uando indicada. lamento.
o Escolha do tipo de roller: dá-se preferência ao CMA
com menos de 200 agulhas e que tenha um desenho
adeq uado para o apoio do dedo ind icador sob re ele. A~
agu lhas devem ser bem afiadas pa ra não haver neces-
sidade de rea lizar força excess iva e aumentar, assim, o
desconforto do paciente. Um bom CMA promove san-
gramento já nas primeiras "passadas". Sempre utilizar
um CMA aprovado pela Anvisa o u pela autoridade re-
gulatória do pa ís.
o Descartável: CMA é um instrumento de uso único des-
cartável. Reutilizar um CMA implicaria redução da efe-
tividade (as agulhas perdem o ''fio"), bem como riscos
de contami nação direta ou cruzada.
o Assepsia e antissepsia: usa-se clorexidina. Em seguida,
"lava-se" a região com soro fis iológico. Todo o materia l
utilizado deve ser estéril, incluindo gaze e luvas. Reco-
menda-se, ainda, o uso de campo estéril.
o Número de agulhas: CMA com menos agu lhas estão Figura 84.4 Manobra para contrapor a força do ro/ler nas re-
indicados para zonas mais curvas e estreitas, como o lá- giões bucal e oral. Note que devem ser utilizadas duas luvas e
bio superior, ou ainda em pequenas cicatrizes. Os CMA após a manobra. para evitar contaminação, deve ser retirada a
com mais de 200 agu lhas tem penetração mais d ifícil, luva externa. (Fonte: acervo do autor.)
Capítulo 84 • Microagulhamento 497 )

• Nas regiões hucal e oral, a pele deprime com a força


executada. 1:-..~o anula a penetração das agulhas. A Figura
8 4.2 demon:.rra a manobra para melhor execução do
procedimento ne.'o:oal• regii'>e., anatômica~.
• End-point: e.'tá na obtenção de uma boa hiperemia
(CMA de 0,2 e O,Smm) e/ ou :oangramento homogêneo.
O sangramento re.-.ulrame não d~t! ~er remQ\·ido do lo-
cal pOr cerca de 10 minuto:., para ação dos fatores de
coagu laçiío.
• P ós-procedimento imed iato: lava->e a zona tratada
com soro fi:.iológico e aplica->e creme contendo õme-
gas 0-6-9) e/ ou complexo vitaminico e/ou ácido hia lu-
rô nico.
• PRP: quando uti lizado, o PRP ê gotejado durante o Figura 84.5 Equipamento alemão AMIEA M ED para microagu-
procedimento para pot<.!ncia lizar o tratamento. lhamento automatizado. Unidade de controle e handpiece com
• P ós-proced imento tard io: nas primeiras 72 horas após as agulhas (cartucho) descartável.
o procedimento, não se utiliza maquiagem agress iva
(cuidado com co nservantes, devendo ser sempre prefe-
rida uma feita excl usivamente à base de minerais) ou
ácidos tópicos em qualquer concentração. CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Proteção solar: e mbo ra não ocorra forossens ibilida-
de, recome nda-se ev irar exposição solar d ireta nos Microagulhamento com C MA a tê O,S mm pode ser de-
primeiros dias. Retomar o uso de proteror so lar após fin ido como uma técn ica para aumento d a penetração de
48 horas. ativos.
• Evicção social: entre 12 e 72 horas (usualmeme 24 Microagulhamemo com CMA acima de O,Smm é
horas), dependendo do comprimento de agu lhas uti- um procedimento para estimulo de colágeno, não ablati·
lizado. vo, com mínima ~icção social (24/ 48 hora:.), sem ca.~os
• Núm ero e intervalo entre as sessões: recomendam-5e, de in fecçôes ou discromias de:ocritos na literawra. Pode
em mêdia, tr~ 'e:-..,ôe:o. Quanto mab compridas e em ser realizado em qualquer fototipo e não re.,ulta em fo-
menor n(lmero forem a.., agulha..,, maior de,·erá ser o rossensibil idade. Exige algum preparo anterior da pele.
intervalo. Em geral, o imervalo adequado seria de 45 a Pode ser realizado em áreas previamente rratada~ com la·
se-r. Trata-se de um procedimento economicamente aces-
60 dias.
sível para a maioria do~ paciente~ e que exige mínimo
tempo para o treinamentO do mêdico familiarizado com
a de rmato logia.
MICROAGULHAMENTO AUTOMATIZADO
(ELÉTRICO) Referências
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necessitam de alta (requência, já que movimentos lemos depigmenting serum penetatration '" the treatment of melas-
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se move junto com a:. agulha..,), ou seja, tornam o proce-
by a microneedle dev~ce (Dermaroller) '" v•tro; dependency on
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(Figura 84.5). 2 ; 36(4-5):5 11-23.
< 498 PARTE XX • Cirurgia Dermatológica

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PARTE XXI

LASERS
Princípios da luz do laser:
Energia, Potência e Fluência
Jacqueline Netto Parentoni Donnabella

Em 1916, por intermédio dos trabalhosde A!bert Ei nstein


na área de física quãntica, foram delineados os princípios que
tomariam possível o desenvolvimento da tecnologia dos laser
e sua aplicação prática. Quase meio século após a descrição
da Teoria Quântica, Theodore H. Maiman (1960), utilizando
um cristal de rubi, desenvolveu a primeira fome de laser. Po r
volta de 1961 foi realizada a primeira cirurgia a laser. Em 1962
foi desenvolvido o primeiro laser semicondutOr
A palavra laser é um acrô nimo do inglêS l.igltt amplifica·
tion /ry stimulated emission of radiation, que significa ampli fi- Figura 85.1 Representação das ondas eletromagnéticas emiti-
das pelo laser.
cação da luz pelo efeitO da emissão estimulada da rad iação,
e o seu próprio nome já nos fornece uma ide ia de seu me-
canismo de funcionamento.
A luz do laser apresenta trêS características próprias:
Espelho prateado
• Monocromática: possui um ún ico comprimento de
o nda, ou seja, uma só cor.
Tudo luminoso
• Colimada: os feixes de lu z são paralelos.
• Coerente: a luz viaja de manei ra un iforme entre as cris-
Cristal de rubi
tas e os vales dos comprimentos de onda (Figura 85. 1).

O laser é um dispositivo que fu nciona com base em um


fenômeno de inversão da população, ou seja, absorção de
energia para que a maior parte dos átomos se excitem - elé-
tro ns saltem para camadas mais d istantes do núcleo atômico.
Após a inversão da população, deve haver um regresso
ao estado fu ndamental com a liberação de fótons gêmeos:
luz coerente.
Todo equ ipamento de laser co ntém três elementos es-
senciais: meio ativo, fonte externa de energia e cavidade Espelho
Feixe
parcialmente
óptica o u ressonador (Figura 85.2). laser
prateado
• Meio ativo: pode ser sólido, líqu ido, gasoso o u semi·
co ndutOr (p. ex., d ióxido de carbono, argô nio, hélio- Figura 85.2 Equipamento de laser.

501
< 502 PARTE XXI • Lasers

-neôn io, YAG, rubi, corantes, d iodos semicond utores e Absorção do laser
10'
outros). É essa parte do laser que contêm os átomos ou
10'
moléculas, os quais contêm os elétrons que, através dos ~

E 1\ r
sal tos de energia, emitem luzes (fótons), q ue fi nalmente
constitu irão a luz do laser.
-'"'
~
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o
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10'

10'
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\ )- V· 9 a
• Fonte externa de e nergia: para que os elétrons saltem He I >iM IV
1-l
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10'
para seus n íveis mais en ergéticos, é preciso o forneci- "' ~
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"'" P·~~ ~
10'
mento de e nergia. A fome terá a obrigação de fornecer
"
estados excitados a fim de que haja produção de luz nos "
.!11
.g
10"'
~ '\
decaimentos.
o8
10 ·2

• Cavidade óptica ou ressonador: sua função é fazer com


que os fótons q ue emergem do sistema voltem para ele,
10"'

10"'
" \ v ~
prod uzindo mais e ma is emissão estimulada. Isso é feito 0.1 1 10
Comprimento de onda (micrometros)
por meio de espelhos colocados nas extremidades dessa
cavidade, que provocam a reflexão dos fótons de volta à Figura 85 .4 Espectro de absorção dos principais cromóforos da
amostra . pele.

A radiação do laser interage com a matéria viva por


meio dos processos ópticos de reflexão, transmissão, d is-
persão e absorção. Os dois processos fundamentais q ue De modo gera l, há aumento gradativo da profu ndida-
governam as interações da luz com o tecido são a absorção de de penetração do laser na pele quando seus comprimen-
e a dispersão (Figura 85.3). tos de o nda ficam mais longos (Figura 85.4).
Cada tipo de laser resu lta em luz com compri mento • Interação tecidual: parâmetro que mais influencia a
de onda especifico e cada comprimento de onda reage de absorção da luz e a eficácia do laser, é fornecido pelo
manei ra d iferente em cada tecido. compri mento de onda de luz.
• Crom óforo: materiais opticameme ativos nos tecidos
que agem como alvo absortivo para a luz do laser. Isso
s ignifica que o laser tem afinidade especifica por deter-
minado componente no tecido em que é aplicado. Para
cada comprimento de o nda existe um comportamento
d iferente, como por exemplo, os lasers Er:YAG e C01,
Raio Jaser Reflexão
que têm gra nde afinidade pelo cromóforo água, e a in-
teração do laser com a água causa um aquecimento que
vapori za o tecido em que está comida (Figu ra 85.5).
• Fototermólise seletiva: processo físico pelo qual o laser
pode induzir dano térm ico ao cromóforo e evitar con-
dução excessiva de calor aos tecidos adjacentes.

Figura 85.3 Interação da luz do laser com os tecidos. (Fonte: Figura 85.5 Representação de dois cromóforos: hemoglobina
De Maio. 2011) e melanina.
Capítulo 85 • Princípios da Luz do Laser: Energia, Potência e Auência 503

' '
PRINCIPIOS DA FOTOTERMOLISE 1.000 x potência em watt
Dens idade de potê ncia = ----=--------
• O fóto n de luz deve estar em compri mento de onda (Diãmetro}2 mm
apropriado para q ue seja absorvido, preferencia lmente,
pelo cromóforo-a lvo. Quanto maior o diâmetro da pontei ra do laser, menor
• A energia (fluência) deve ser suficientemente forte para será a ablação tecidual, pois d iminu i exponencia lmente a
causar dano biológico ao cromóforo-a lvo q ua ndo os fó- densidade de potência.
tons são absorvidos.
• A d uração do pul~o (tempo de exposição dos fów ns no Fluência
alvo) deve ser menor q ue o tempo de relaxamento térmi- Fluência = Densidade de potência x tempo O/cm 2)
co do alvo.
A fluência é a energia liberada por área de tecido em in-
Energia tervalo de tempo específico. Q uando a fluência aumenta, o
poder destrutivo também aumenta. Para a ma ioria dos lasers,
A energia 0) é uma med ida de dosagem calculada
varia de 3 a 15J/cmz. Consiste na medida cli nicamente mais
como a força multiplicada pelo tempo de aplicação.
importante para que se possa prever uma resposta da aplica-
ção do laser sobre os tecidos. Porta mo, a fluência une os dados
Potência da potência empregada, do d iâmetro da ponteira de laser util~
Potência é energia d ivid ida pelo tempo de aplicação. zado e do tempo em que o tecido fica exposto ao laser.
A un idade de med ida é o watt (W) - I W equivale a I J/s.
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Principais Tipos de lasers e suas Aplicações
Roberta Ilha Oliveira Cardoso
lgor Felix Cardoso

No de:.envolvimento da tecnologia de ln.str em medici- LASER RUBI Q-SWJTCHEO E LASER


na, o derrnatologisra Prof. Dr. Leon Goldman (1905-1997}, ALEXANDRITA D-SWJTCHEO
da Universidade de Cincinnati, no:. EUA, de..,empenhou Consbtem em lasns vermelhos, de 694 e 755nm, re..,.
um papel crucial. Por meio de seu trabalho e entusiasmo, pectivamente. Seu~ ml!canismos de ação envolvem fomcer-
foram descobertos muitos novos tipos de lasns, o que ex- mólise seletiva, ruptura mecânica fotoacústica e alteração
pandiu suas aplicações. química do ah~) tecidual. Seus longos comprimentos de
O tratamento de lesões por me io de laser foi realiza· onda permitem penerraç;io na derme, tendo indicação for-
do pri meiramente com lasers não seletivm, que apenas mal para o tratamento dos nevos de O ta e lro. Também
ressecavam as lesôes, vaporiza ndo ind istintamente rodos podem ser usados para o trata mento de melanoses solares,
os compo nentes da pele. O princípio da fomtermólise se- manchas café-com-leite, nevo de Becker, hiperpigmentação
letiva, desenvolvido po r Ande rson & Parrish, na década infraorbitària e rernoç.io de pelos. São bastante utilizados
de 1980, tornou possível o tratamento de maneira seleti- para remoção de tatuagens, já que os pulsos ulrracurto:.
va da.., lesões, sem causar dano às e:.truturas circunjacen- com altíssima energia quebram partículas de pigmento de
tes. Ne,,e, casos, os alvos são a melanina (armazenada raruagem de maneira efetiva e segura, com exceção do pig-
no. melanossomas} e/ ou a oxiemoglohina (pigmento mento vem1elho. O lasn alexandrira é a melhor opção para
que e:.tâ dentro do glóbulo vermelho}. O primeiro laser rraramento do pigmento verde.
de,envolvido utilizando esse conceito foi o Flashlamp -
Pumped Pulsed Dye Laser para tratamento de lesôes va;;.
cu lares. Por outro lado, os primeiros experimentos para LASfRND:YAG (NEOOYMJUM:
tratamentO de lesôes pigme ntadas foram realizados no YTTRIUM-ALUMINUM-GARNEn
início dos a nos 1960, por Goldman, q ue uti lizou o laser Laser infravermelho, co m grande comprimento de
ruhi no modo contín uo, porém com grandes efeitos in· o nda (1.064nm), primeiramente funcionava apenas no
desejados. modo contínuo, agindo de modo não seletivo, :.endo di-
Em 1962, Robert W. Hellwarth, utilizando o mes- fícil prever o resultado cosmético. Posterionnente, de:.en-
mo lastr rubi, inventou o conceito Q·Stl'ilched. Usando ,·olveu<>e o modo pul~ado Q-Switched, a fim de melhorar
este processo, foi possível alcançar duraçôe, de pulsos seu desempenho. Atinge profunda penetração dérmica,
ulrracurto:., em nanossegundos, com alta intensidade de maximizando :.ua utilização para lesões pigmentada.., dér·
energia. A partir dai, a tecnologia a laser vem passan- mica.~. Apresenta respn>ta semelhante ã dos ln.srn rubi e
do por um rápido desenvolvimento em diversas áreas, alexandrita no tratamento dos nevos de lro e Oca, melam,_
abrangendo diversas especialidades médicas, como a ses solare.~ e tatuagens. Pode ser útil na remoção de pelos e,
dermatOlogia. embora seu comprimentO de onda seja ma is bem absorvi·

504
Capítulo 86 • Principais Tipos de Lasers e suas Aplicações 505

do pela melanina, também é ah:.orvido pela hemoglobina, mancll3S vinho-do-porto, hemangiomas e tdangiecra..~ias.
podendo tratar bõe~ vasculare; maiores e mais profundas, O dye la.ser (de ação va'tcular) também tem sido utilizado
como va.o~ de membro~ inferiore•, ect:t.~ias vasculares das para tratar outra.\ doença~ não va"ulare:., mas que contêm
extremidade.., e mancha" vinho-do-porro. vasos dilatados em sua e:.trutura. É o ca~o da psoria..~ e
das verruga~ virab. No ca~o da.., verruga~. ;,ahe~e que, além
do efeito de diminuir o suprimento :.an~'\lineo da le~o.
LASER DE DIODO
o efeito térmico diretamente sobre a pele contribui para
Os lasrn de diodo são gerados a partir de materiais se- o sucesso do tratamento. E..,~e laser é particularmente útil
micondurore.. o~ comprimentos de onda variam de 620 a no tratamento da.~ le..'t<le.'> re..~btent~s ao redor das unhas e
1.450nm, dependo!ndo do tipo de marerial semiconduror uti- na região plantar. Atualmente, os lasers ;.eleti\'Os de ação
lizado. O laser UI! diodo longo pul'>ado (800 a 8 10nm) é o maL> vascular, particularmente o dye laser, têm ação comprova-
comumenre utilizado e efeti,,l para remoção de pelos. Sua da na~ cicatrize.~ eritematosa..~ (incluind<) estrias recente.~).
ação baseia-se no principio da fmotennólise seletiva. Seu laser hipertrófica~ e queloides, além de melhorar a rextura e a
produz um fdxe de luz altamente concentrada. A luz emitida maleahil idade das cicatrizes de queimadura.
é absorvida pelo pi1,~11ento (melanina), que normalmente se
apresenta em maior qua ntidade nos pelos do que na pele. A
energia do laser captada pelo pelo é transformada em calor e LASER DE C02
conduzida por sua haste até as células gt!rminativas do bulbo. o laser de col apresenta comprimentO de onda in fra-
Essa agressão, se repetida algumas Vt!Zes (em torno de cinco vermelha de l0.600nm. É não seletivo, com afi nidade pela
vezes), pode de:.truir definitivamente os pelos (em torno de água, o que o faz vaporizar indistintamente rodas as estrutu-
50% a 70% de remoção definitiva, afi namento e clareamen- ras da pele, e tem uma penetração de 0,2mm no tecido-alvo.
to dos remanescentes). A~ pele~ escuras ou bronzeadas, que Sua ação consiste em ablação da epiderme, lesão dérmica e
no pa'\...ado eram dificeL~ de tratar, hoje podem beneficiar-se promoção de um significativo dano tt!rmico; o calor gêrado
desse tratamento, ~em o risco de queimadura.>. Nesses casos, induz contração da.~ fibra., de colá~>eno, o que estimula a for-
opta<>e pelo.., compri ment<~~ de onda maiores, que penetram mação de novo colá&reno, oca.,ionando um remodelamento
maL~ profundamenre, p()upando a epiderme, ou utilizam-se da pele. Os mod~\ ~uperpubados e ultrapulsad~~ promo-
pubo:, mab lonj.>O>,que irradiam a pele com a mesma energia, vem ação mal\ seletiva, com mem>:. dano; colaterais. O pro-
porem mab lentamente. Também em dennarologia, quando cedimento é doloro.o e de\~ ~r precedido de infiltração
utilizao~ comprimento;, de ()nda de 800, 810 ou 930nm, o anesrésica ou aplicação de ane:.té~íco tópico. Na medicina
laser de diodo pode ~r útil para remoção de lesões va~ulares. estética é utilizado, principalmente e com ótim~' re..,ulrados,
para o tratamento de ru~>a.., e cicatrize.., (rour{adng da pele).
LASER DE ARGÔNIO Também pode ser empre~oado na remoção de rumores he-
nignos, queratoses e verru&>a.'>. Apre~nta risco de cicatrizes
l..a.ser de luz vhi\'d, no espectro azul-esverdeado, com
inestética~ e discromia..,, pob seu modo não ~leri'~ promo-
comprimentos de onda que variam de 458 a 515nm, demons--
ve vaporização do tecido, coagulação e necrose epidérm ica.
tra afinidade pela oxiemoglohina, ma.> também pela melani-
na, causando dano não seletivo das esrrurura~ e podendo
oca..~ionar discmmias ~ cicatrizes inestéticas. Atualmente,
LASER ER:YAG (ERBIUM:
sua utilização restringe-se aos nódulos vascu lares da~ man-
YTTRIUM-ALUMINUM-GARNET)
chas vinho-do-porto ou irregularidade~ da superfície.
Esse laser ablativo de 2.940nm de comprimento de
onda apresenta altíssima absorção pela :\gua, cerca de 15
PULSEO OYE LASER (PDL) vezes mais que o laser de col. com menor penetração na
Dados publicado~ em 1981 por R. Rox Anderson e pele. Vaporiza o tecido, provocando men~~ da nos térm icos.
John A. Parrish indicavam destru ição seletiva de vasos por Isso resulta em opção de tratamento superficial controlado
um flash lamp dye laser no comprimento de onda de 577nm. e com recuperação mais rápida. Promove, portamo, maior
Essas observações levaram, em 198), à de~crição do prin- proteção do tecido circundante em razão da produção de
cipio da fototermólise seletiva, repre~entando o primeiro calor significativamente mab baixa, mas tem a desvantagem
avanço na compreen~ão das interações dos tecidos com fei- de não coagular pequeno,., va'to~ e contrair fihras colágenas,
xe.~ de laser. Mab tarde, foi de..~envolvido o modo 585nm, diminuindo, de cerro modo, sua eficácia. A~ modalidades
corn maior profundidade de penetração e que, atualmente, mais recentes do laser Er:YAG, com pul~()~ tanto ablativos
é con~iderado o padrão para tratamento de lesões \'3Scula- como coagulativo..,, fornecem um efeito mai> agre..'\.~ivo, com
re.. A atual gama de indicações do flash lamp PDL inclui ótimos re.ultad~., no rejm~ne~imento facial. E.o;t.1 indicado
< 506 PARTEXXI • Lasers

para o tratamento de r ugas, cicatrizes de acne, rumores be- cimento cutâneo. A combi nação de comprimentos de onda,
n ignos e ma nchas solares, dentre o utros. fluências, durações de pulsos e intervalos de pulsos facilita o
tratamento de um amplo espectro de cond ições da pele.

LASER NO:YAP (NEOOYM/UM:


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laser em Lesões Vasculares e Pigmentares
Juliana Cunha Sa rubi

O termo laser é um acrônimo da expressão em inglês l.ig!tt LASER EM LESÕES VASCULARES


amplification by stimulared emission of radiation, sign ificando a Os primeiros estudos sobre o uso de lasers em lesões
amplificação da luz pela emissão estimulada de rad iação. vasculares começaram com Leon Goldman, em 1963.
A ação do laser se dá atravéS da fototermólise seleti· Goldman testou os lasers rubi, Nd:YAG e argôn io em ma n-
va. Essa teoria, desenvolvida por Anderson & Parrish em ch as vi nho-do-portO e hemangiomas. Em 1970, foi publi-
1981, propt"íe a destru ição especifica de um cromóforo cado o pri meiro estudo sobre o uso do laser de argô nio
- pigmento-alvo - por um comprimento de onda de luz nas lesões vasculares e até 1984 esse era o tratamento de
especifico com minimo efeito térmico na pele adjacente. escol ha.' No entanto, por ser um laser contín uo, causava
A luz em itida pelo aparelho é absorvida na pele pelos cro- destru ição inespecífica do tecido, com alto indice de cica-
móforos, em segu ida é convertida em e nergia térmica, me- trizes hiper e h ipopigmemadas.
cân ica ou qu ímica q ue, então, destrói o alvo . Os principa is Em 1983, com a descoberta da fototermólise seleti·
cromóforos são hemoglobina, melan ina, água, caroteno e va, por Anderson & Parrish, surgiram lasers com compri-
pigmentos exógenos de tatuagens. mentos de onda e pulsos específicos para o tratamento
Os lasers podem ser classificados como contínuos, quase- de lesões vasculares.' Vasos situados mais profundamente
-contínuos, pulsados ou Q-Switched. Os lasers contínuos são na pele necessitam de lasers com comprimentos de onda
aparelhos mais antigos, cujos feixes de luz são em itidos na ma iores, que penetrem mais. 2 Vasos ma is calibrosos exi-
pele de modo contínuo, como o col e o laser de argônio, gem mais tempo para absorção suficiente de calor; assim,
podendo causar maior dano térmico que o desejado e, con· os pulsos devem ter duração ma is lo nga.z
sequentememe, cicatrizes. Os quase-contínuos são lasers que, A principal substância que absorve luz nas lesões vascu-
mecanicamente, interrompem os feixes contínuos, como o lares é a oxiemoglobi na, cromóforo vermelho-azulado. A luz
KTP (potassiu.m titanyl p!tosp!tare, potássio titânio fosfato), va- é absorvida pela hemoglobina e convertida em calor, da ni fi-
por de ouro e vapor de cobre. Os lasers pul~ados emitem os cando o endotélio e o tecido conjuntivo adjacente, altera n-
feixes em intervalos, dando tempo suficiente para o resfria- do suas características e destru indo o vaso. A oxiemoglobi na
mento do tecido, o que minimizao rL~co de cicatrizes indese- tem trêS picos máximos de absorção, que estão na faixa visí·
jáveis. Nesse tipo de laser, a duração dos d isparos é menor que vel do espectro eletromagnético: 418nm, 542nm e 577 nm.
o tempo de relaxamento térmico do tecido-alvo, que significa Os comprimentos de onda mais utilizados no trata-
o tempo que um tecido necessita para perder 500,6 do calor mento das lesões vascu lares são 532, 585, 595, 600, 800 e
transmitido pelo laser. Se a duração de um pul~o é menor que 1.064nm. A escol ha do aparelho depende das ca racterísti·
o tempo de relaxamento térmico do tecido, o dano térmico cas da lesão a ser tratada, especialmente a profund idade e
irreversível se restringe ao tecido-alvo. Os lasers Q-Swirched são o diâmetro. Os vasos podem apresentar d iâmetros variados
lasers pulsados que armazenam grande qua ntidade de energia, (de O, 1mm, em uma telangiectasia, até alguns milí metros,
a qual é liberada em pulsos de nanossegundos. na malformação venosa ou hema ngioma) e estar localiza-

507
< 508 PARTE XXI • Lasers

dos em d iferentes profundidades. Compri mentos de onda pecificamente para o tratamento de lesões vasculares com
mais curtos são eficientes para vasos superficiais, como as base no princípio da fototermólise seletiva. Opera entre
telangiectasias da face. Comprimentos de onda mais lon- 585, 595 e 600nm, comprimentos de onda com especifi-
gos são util izados para vasos profundos e calibrosos. O ta- cidade para oxiemoglob ina e maior penetração tecidual
manho do pulso deve ser ajustado ao calibre dos vasos, po- (1 ,8mm). A duração de pulso de 450J..L~ a 40ms, menor
dendo variar de centenas de microssegundos ( i llS = J0 -6 s), que o tempo de relaxamento térmico dos vasos, permite
para manchas vinho-do-portO, alguns milissegundos (I ms o tratamento seletivo, sem causar dano térmico ao tecido
3
= J0· s), para telangiectasias, até dezenas de milissegundos, adjacente. Sua eficácia e segu rança fazem com que esse seja
para telangiectasias grossas e hemangiomas. A~sim , pode- o laser de primei ra escolha para o tratamento da maioria
-se supor que nen hum laser consegue tratar as desordens das lesões vasculares benignas, congênitas e adqu iridas.
vascu lares cutâneas de maneira uniforme. Em algumas cir- Principais indicações: telangiectasias facia is, rosácea,
cunstâ ncias, é necessário utilizar mais de um tipo de laser h ema ngiomas, manchas vinho-do-portO, granuloma piogê-
para tratar um mesmo paciente. nico, sarcoma de Kapos i, nevo rub i e po iquilodermia de
Os lasers util izados para lesões vasculares - argôn io (488 Civatte. É o tratamento de escolha para manchas vin ho-do-
a 514nm), APDT (577 e 585nm), KTP (532nm), criptô nio -portO e angiomas planos.6 ·i
(568nm), vapor de cobre (578nm), PDL (585 a 595nm) e o Manchas vin ho-do-porto (MVP) são malformações vas-
Nd:YAG (532nm e J.064nm) - apresentam resposta variá- culares que afetam 0,3% da população, com igualdade para
vel (Quadro 87.1). ambos os sexos, e estão caracteristicamente presentes ao nas-
Os lasers contín uos ou quase-contí nuos (argônio, crip- cimento.8·9 Geralmente un ilaterais e segmentares, respeitam
tôn io, vapor de cobre) são indicados, principalmente, no a linha média corporal e aumentam proporcio nalmente ao
tratamento de hemangiomas do adu lto.4 O laser de criptô- crescimento da criança. Não apresentam regressão espontã-
n io é muito eficaz no tratamento de lagos venosos e nevos neau~n Aproximadamente 80% das MVP são encontradas
rubi. na face ou pescoço.10·n Microscopicamente, consistem em
O KTP, que opera em 532 nm, pode ser usado no tra- capilares dérmicos ectasiados, sem q ualquer evidência de
tamento de telangiectasias faciais. ; pro li feração vascular. São vários os critérios utilizados na
avaliação do efeito do PDL no tratamento das MVP. Esses
critérios incluem localização, tamanho, cor e forma da lesão.
Pulsed dye laser Quanto mais escura a lesão, melhor o resultado. Manchas
O laser de corante pulsado ou dye laser (flashlamp pum· s ituadas na face e no pescoço tendem a responder melhor
ped pulsed dye laser - PDL) foi o primeiro desenvolvido es- ao tratamento. Extremidades respondem pior. Quanto ao

Quadro 87. 1 Caracterís itcas dos /asers utilizados em lesões vasculares

Laser Comprimento de onda Pulso Vantagens/ desvantagens

Argônio 488 a 514nm 50ms a 0,3s Pouco especifico

KTP 532nm 1 a 50ms Não provoca purpura

OSNd:YAG 532nm 20ns Pouco eficaz


(frequência dobrada)

Nd:YAG 532nm 1 a 60ms Não provoca purpura


(frequência dobrada)

Diodo 532nm 1 a 100ms Não provoca purpura

Nd :YAG 1.064nm Até 16ms Indicado para vasos mais profundos e calibrosos

Criptônio 521 , 532, 568nm Contfnuo Eficaz em vasos de fino calibre

Vapor de cobre 578nm Contínuo Pode provocar cicatrizes

FLPO 585 a 600nm 450 a 1.500~s Provoca purpura

Vbeam 595nm 1,5 a 40ms Não provoca purpura

Luz pulsada de alta energia 515 a 1.200nm 1 a 25ms Ação em vasos finos e de médio calibre

FLPD: flashlamp pumped pulsed dye laser. KTP: potassio titânio fosfato.
Fonte: adaptado de Osono N, 2002.'
Capítulo 87 • Laser em Lesões Vasculares e Pigmentares 509

tamanho, as manch as menores respondem melhor ao tra- O laser Nd:YAG KTP 532nm está indicado no trata-
tamento.'·" Em geral, são necessárias de três a 10 sessões. mento de vasos dérmicos superficia is, como os da rosácea,
O tratamento é mais eficaz quando são utili zadas fluências aranhas vasculares, rad iodermi te tela ngiectásica, nevos rubi,
ma is elevadas. Os pulsos mais curtOs são ideais no tratamen- lagos venosos dos lábios, poiquilodermia de Civatte, angio-
to de MVP em crianças, uma vez q ue o d iâmetro dos vasos mas planos do adultO ou resistentes ao tratamento com PDL,
nessa idade é relativamente pequeno, enquanto pul~os ma is telangiecrasias, varicosidades de calibre inferior a 0,7mm si·
longos são ma is adequados em adultOs ou em casos refratá- tuadas na derme superficial. A desvantagem dos lasers KTP
rios.'·" Possíveis efeitos colaterais incluem danos na epider- pulsados é sua profu ndidade limitada de penetração na
me (crostas, erosão e bolhas), recorrência da lesão, púrpura, pele, devido a seu comprimento de onda cu rto. Além d isso,
discrom ia e risco de cicatrizH a luz de 532nm compete pela absorção com melan ina mais
Apesar da longa experiência clínica, menos de 25% das do q ue os comprimentos de o nda ma is longos, resultando
MVP têm regressão completa após várias sessões com PDL, em mudanças potencia is de pigmentos, particularmente em
devido às limitações próprias desse apa relho.'"-'6 Cerca de pacientes com pele de pigmentação mais escura.
20% das MVP são resistentes ao PDL devido à presen ça de O laser Nd:YAG 1.064nm é capaz de criar um efeito de
vasos com grandes diâmetros, localizados mu ito profu nda- coagu lação a uma profu nd idade de 5 a 6mm, tendo sido
mente(> I, 16mm) o u com fluxo sangu íneo aumentado.'"-'9 usado no tratamento de vasos moderadamente profu n-
Nos hemangiomas superficiais infantis, não se justifica dos, aranhas vascu lares de ma ior d iâmetro e veias reticula-
nenh uma intervenção terapêutica, uma vez que a histó ria res.14·n Além d isso, o coeficiente de absorção da melan ina
natural é de regressão espontânea. Essas lesões apresentam d iminu i à medida q ue o comprimento de o nda aumenta.
uma fase de crescimento rápido no primeiro ano de vida, No comprimento de o nda de 1.064nm, a chance de h iper-
segu ida por regressão espontânea, total ou parcia l, a té os pigmentação pós--tratamento pode ser significativamente
12 anos de idade. O tratamento é justificado apenas em redu zidai1•14 A adição do adequado resfriamento da epi·
casos específicos de lesões ulceradas e dolo rosas localizadas derme, presente em d iversos aparelhos, protege a pele, evi·
em áreas de trauma, o u periorificiais, em que há risco de tando mu itos efei tos adversos, como cicatrizes, alterações
obstrução ou cicatrizes inestéticas. O PDL só é eficaz para pigmentares, bolhas, crostas e púrpu ra. Está contrai nd i-
hemangiomas pequenos, superficia is, po is sua penetração cado no escroto e nas pálpebras, em vi rtude da pequena
é de I a 2mm. As lesões mais profu ndas respondem ao tra- espessu ra da pele nessas regiões.
tamento com lasers de comprimento de o nda maior, como
o Nd:YAG 1.064nm, mas este não pode ser utilizado nas
pálpebras."-; Em geral, seis sessões são suficientes, com in- Luz intensa pulsada
terva lo de 2 a 4 sema nas entre elas. A fonte de luz imensa pu lsada (LI P) é um aparelho
Os efeitos adversos mais frequentes são púrpuras no similar ao laser que usa uma fome de luz não coerente para
local, decorrentes da agressão da pa rede do vaso sanguíneo. prod uzir um espectro de luz de ligação ampla, emiti ndo de
Essas púrpu ras desaparecem entre 7 e 14 dias. Raramente 515 a 1.200nm. A principa l vantagem desse aparelho é sua
podem ocorrer vesículas, crostas, cica trizes e alteração na versatilidade, apresentando vários comprimentos de onda
textura da pele. Os aparelhos mais modernos de PDL têm e durações de pulso, q ue tornam possível o tratamento de
maiores com primemos de onda (585nm, 590nm, 595nm, lesões vasculares mais profu ndas. Trata satisfatoriamente
600nm), pulsos ma is longos (1,5 a 40ms) e fluências varian- telangiectas ias, MVP e hemangiomas.n'18 São utilizados
do de 5 a 15j/cm1, possibil itando o tratamento de lesões filtros para el iminar compri mentos de onda ma is curtos e
mais profundas, com menor risco de pú rpura, e mantendo aumentar a penetração dérmica. A lu z é emi tida em pulsos
a especificidade vascular. ú nicos, d uplos ou triplos com 2 a 25ms cada, com interva-
los en tre os pulsos variando e ntre 10 e 500ms. Com pul-
sos mais longos, a LIP pode atingir vasos ma is profu ndos,
Nd:YAG aumenta ndo a eficácia e dim in uindo os riscos de púrpura
O Nd:YAG é mu ito efetivo no tratamento de lesões e d iscrom ian Vasos ma is cal ibrosos nas MVP e nos he-
vasculares e apresenta várias vantagens teóricas sobre o ma ngiomas podem ser atingidos com energias mais altas e
PDL. Podem ser utilizados Nd:YAG 1.064nm e Nd:YAG intervalos mais lo ngos entre os pulsos (40 a 60ms).
de d upla frequência 532nm (chamado laser Nd:YAG KTP). A util ização da LIP e do Nd:YAG associados parece ser
Atuam por forocoagulação seletiva, sem destru ição da pare- uma alternativa no tratamento da MVP, oferecendo bons
de do vaso, portanto sem púrpura. A grande vantagem do resultados com menor incidência de e feitOS adversos H
Nd:YAG 1.064nm é a maior profund idade de penetração O tratamento das telangiectasias de membros inferio·
em relação aos outros lasers vasculares.10 •11 res com laser e LI P não tem o mesmo sucesso do tratamen-
< 510 PARTE XXI • Lasers

to das telangiectasias da face. Os resultados são variáveis e zenam gra nde qua ntidade de e nergia, que é liberada em
pode haver discromia em 20% a 30% dos casos. Entreta nto, espaço muitO cu rto de tempo, na ordem de nanossegu ndos
recentes avanços e refi namentos de novas tecnologias - la- (duração de pulso de lO a IOOns). Ocorre, então, um efeitO
ser e LIP - mostram um fu turo prom issor. Os lasers PDL fowmecãnico, pois o impacto no alvo é tão grande que há
com pulsos mais lo ngos são ma is eficazes q ue os de pulsos formação de ondas de ch oq ue com ruptura dos melanos-
curtos para o tratamento de veias de membros inferiores. somas e pigmentos de tatuagem. Essas ondas fotoacústicas
O pulso longo é mais próximo do tempo de relaxamento aquecem as pequenas partículas de pigmento e os melanos-
térmico dessas veias. Altas fl uências são necessárias para o somas, causa ndo explosão, e os fragmentos restantes serão
tratamento desses vasos, sendo imprescind ível um sistema posteriormente fagocitados.'' Os lasers QS demonstraram
eficaz de resfriamento da pele. Para veias mais profundas bons resultados no tratamento da h ipermelanose dérmica,
de ma io r ca lib re, deve ser avaliado o tratamento combina- len tigos solares e tatuagens, especialmente as de cor preta
do com escleroterapia ou cirurgia co nvencional, sendo de ou azu l.
suma importância a avaliação do cirurgião vascular. Os sistemas de laser QS ma is comuns para o tratamen-
to de lesões pigmentadas são os lasers rubi QS (694nm), ale-
- PIGMENTARES
LASER EM LESOES
xandrita QS (755nm)e Nd:YAG QS (1.064 e 532nm).29•30·n
Os lasers de alexand rita e rub i apresentam comprimen-
A abordagem do tratamento de lesões p igmentares tOS de onda menores, por isso são mais absorvidos pela
com lasers depende da loca lização anatõmica do pigmento melanina, aumentando o risco de discromias e dano epi-
(epidérmica, dérmica o u mista), do tipo de pigmento (me- dérmicon O laser rubi QS foi o primeiro a ser utilizado
lan ina, tatuagem ou tinta) e de sua d istribuição no tecido com sucesso na remoção de lesões pigmentares dérm icas,
(extra ou intracelular). Na ma ioria dos casos, o cromóforo apresentando baixa incidência de formação de cica trizes
é a melan ina, embora o utros pigmentos exógenos ou endó- e púrpura 2 9·n O laser alexand rita QS em ite luz vermelha
genos possam ser atingidos. a um compri mento de onda de 755nm e tem duração de
As lesões epidérmicas incluem efélides, mela noses so- pu lso de 50 a IOOns. Em razão de sua lo nga duração de
lares, manchas café-com-leite, lentigos solares e nevo spilus. pu lso e seu compri mento de onda, esse sistema apresen-
As lesões dérmicas incluem nevos de O ta e !to, nevo de ta baixa incidência de cicatrizes, púrpura e hipercromia e
Becker e ocronose, e as mistas abrangem a hiperpigmen- incidência moderada de h ipocromia. 11 A eficácia e o per-
tação pós-in flamatória ou decorrente do uso de fármacos, fil de segurança do laser alexa ndri ta QS são semelhantes
h ipercrom ia periorbitária e melasma 2 9 · 30 aos do laser rubi QS, exceto em relação à h ipopigmentação
O espectro de absorção da melanina vai dos 300 aos temporária, a qua l é menos com um após tratamento com
1.200nm. Embora a absorção seja ampla, à medida q ue o laser alexandrita QS.
aumenta o comprimento de o nda, essa absorção d iminu i. O laser Nd:YAG QS pode atuar em dois comprimentos
O pico de absorção situa-se entre os 530 e os 690nm 2 9 · 30 de o nda, na zo na do infravermelho a 1.064nm ou na zona
No entanto, peles mais escuras podem apresenta r discro- do verde a 532nm, com d uração de pulso de 5 a !Ons. O
mias nesse compri mento de onda. Na faixa de 1.064nm, s istema que atua na zona do infravermelho é o mais ind ica-
a especificidade é menor, mas pigmentos mais profundos do para lesões pigmentares dérmicas ma is profundas, como
são atingidos, sem acometimento da epiderme. Assim, le- nevos de Ota, e é o mais seguro q uando se trata de fototi·
sões pigmentadas da epiderme são tratadas com lasers de pos lli e VI da classificação de Fitzpatrick, pois apresenta
comprimentos de o nda mais curtos, enquanto para lesões menor absorção pela melan ina. Esse tipo de laser apresen ta
mais profu ndas são mais adequados lasers de pigmentação ba ixa incidência de h iperpigmentação e formação de cicatri·
específica e compri mento de onda mais longo. zes, incidência moderada de h ipopigmentação e incidência
O primeiro cienti~ta a utilizar o laser para tratar lesões elevada para formação de púrpura. O laser Nd:YAG QS no
pigmentadas na pele foi Goldma n, no inicio da década comprimento de o nda de 532n m é o ma is usado para lesões
de 1960. Para esse efeito, Goldman utilizou o laser rubi a p igmentares epidérmicas, como lentigos e máculas café-com-
694nm e com pu lsos longos. Estudos posteriores demo ns- -lei te, uma vez que estas são lesões mais superficiais.n.l4 O
traram q ue o laser rubi em modo QS, com um pulso mais nevo de O ta é um nevo melanocítico dérmico, geralmente
curto, apresentava efeitO mais seletivo.29·w unilateral, que apresenta os melhores resultados com os
lasers QS. Destaca-5e o Nd:YAG QS 1.064nm, mas algu ns
autores sugerem o uso concomitante das duas ponteiras
Lasers Q-Switched (532nm e 1.064 nm) para ma ior clareamento das lesões. H.ló
Os lasers Q -Switched (QS) são os mais ind icados para Durante a aplicação do laser, observa-se branq ueamen-
o tratamento de lesões pigmentares. Os aparelhos arma- tO da lesão, imediatamente após o disparo. Pode ocorrer a
Capítulo 87 • Laser em Lesões Vasculares e Pigmentares 511

formação de púrpura, em virtude da absorção concomitan- A utilização do laser promove a destruição seletiva, por
te da oxiemoglobina. Em seguida, formam-se crostas finas fototermólise, das partículas de pigmentos das tatuagens,
no local da aplicação, que se desprendem após I sema na. sem da no ao tecido adjacente. A escolha correta dos parâ-
A~ lesões pigmentadas geralmente melhoram após duas o u metros, como compri mento de onda, fl uência e du ração
mais sessões, com intervalos mensais o u a cada 2 meses. do pu lso, é fu ndamental para o sucesso do tratamento. 37
A~ lesões epidérmicas respondem melhor ao tratamento. As moléculas de ti nta absorvem a luz do laser e a co n-
Lesões mais profu ndas necessi tam de seis a !O sessões de vertem em energia. No rmalmente, o tipo de pigmento usa-
tratamento. do nas tatuagens e sua absorção são desco nhecidos tanto
A LI P também trata eficazmente as lesões pigmentadas para o paciente como para o operador. Um branqueamen-
epidérmicas, principalmente as melanoses solares. Várias tO transi tório da pele após o tratamento com laser ind ica
sessões são necessárias para se co nseguir um resultado sa- boa absorção por parte dos pigmentos. A flu ência dos pul-
tisfatório. sos deve levar a uma temperatura suficientemente elevada
na partícula do pigmento colorido. A d uração do pulso
deve se encontrar na gama dos nanossegundos, devido ao
Tatuagens tama nho das part ículas de pigmento.
As tatuagens co nsistem em peq uenas partículas de Os lasers ma is usados na remoção de tatuagens são
pigmentos situadas na denne, de ma neira deliberada ou os QS, q ue apresentam pulsos mu ito rápidos e de eleva-
como resultado de um tra uma. Podem ser classificadas da energia/intensidade. Atualmente, q uatro tipos de la-
em profissio nais, amadoras, cosméticas e traumáticasH sers QS são usados com sucesso na remoção de tatuagens
A~ tatuagens profissionais, aplicadas por agulha vibrató· (Quadro 87.2}n· 3941
ria de uma máqu ina de ta tuar, são as mais comuns. Nas A escolha do laser para remover tatuagens depende da
tatuagens cosméticas, cores como o casta nho, o rosa e cor do pigmento e de seu espectro de absorção. Pigmentos
o vermel ho têm sido apl icadas nos olhos, na face e nos pretos podem ser removidos com o laser QS: rub i 694nm,
lábios como um modo de simular a maqu iagem ou como alexa ndrita 755 nm e Nd:YAG 1.064nm. As tintas azu is
forma de pigmentação natura l, como é o caso da aréo- e verdes são atingidas com comprimentos de o nda entre
la da mama quando de uma reco nstrução mamá ria. As 600 e 800nm, e os lasers de escolha são os QS rubi ou
tatuagens traumáticas resu ltam da depos ição de um pig- alexa ndrita. Para remoção das ti ntas vermelhas, laranjas e
mento na pele por abrasão ou explosão. Esses materiais amarelas, o mais ind icado é o laser Nd:YAG QS 532nm,
ficam alojados na derme após a reepitelização da ferida e mas são de d ifícil remoção. A remoção de tatuagens cosmé-
podem resu lta r em tatuagens azuis ou pretas, dependen- ticas (contorno de lábio, pálpebras e supercílios) utilizando
do da profundidade. os lasers QS é ma is complicada. Os pigmentos util izados
Nos últimos anos, o número de ind ivíduos com tatua- geralmente contêm óxido de ferro o u d ióxido de titânio.
gem tem aumentado progressivamente e, atualmente, ma is Com o laser, o óxido férrico pode se tra nsformar em óxido
de 10% da população apresen tam pelo menos uma tatua- ferroso, q ue é mais escuro (enegrecido) e insolúvel. Essas
gem. No entanto, por inü meras razões, é grande a procura tatuagens podem, então, rornar-se borradas, mais escuras e
por sua remoção.n·38 permanentes, a não ser que sejam removidas com métodos
Vários métodos foram testados na remoção de tatua- ci rü rgicos, ma is destrutivos.
gens ao longo dos tempos, como dermoabrasão, excisão, Em geral, as tatuagens com pigmentos en tre o azu l e o
peelings qu ímicos e crioterapia, entre o utros; no entanto, prero são as que respondem melhor à remoção com laser.
estes eram métOdos bastante destrutivos que resultavam na Isso ocorre em razão da capacidade de absorção de todos
formação de cicatrizes hipertróficas e alterações pigmenta- os compri mentos de onda de luz, do tamanho menor da
res permanemes. 32 •39 partícula e da ausência de elementos metál icos no pigmen-

Quad ro 87.2 Tipos de laser 0-Switched usados na remoção de tatuagens

LasersOS Comprimento de onda lnm) Fluência IJ /cm2) Duração de pulso (ns) Cores de tatuagens

Alexandrita 755 8 50 a 100 Preto, azul, verde

Nd:YAG 532 S 12 S1 0 Vermelho

1.064 S 12 S10 Preto, azul

Rubi 694 Sa 10 s 40 Preto, azul, verde


< 512 PARTE XXI • Lasers

to. Tatuagens com várias cores exigem o uso de dois ou Dos aparelhos de laser disponíveis no mercado, pou-
mais tipos de lasers QS, de modo a abranger o espectro de cos estão aprovados para o tratamento do melas ma. Nou ri,
absorção das várias cores. em 1999, e Angsuwara ngsee, em 2003, documentaram o
O número de sessões é muito variável. As tatuagens tratamento do melasma com C02 e QS alexandrita com
amadoras e traumáticas são mais facilmente tratadas do resultados satisfatórios.48•49 O principio da terapia consistia
q ue as tatuagens profissionais. Nas tatu agens profissio nais, na remoção mecân ica do pigmento acumulado por meio
o pigmento é mais concentrado e ma is profu ndoY Em da fototermólise. Entreta nto, provavelmente em razão do
média, são necessárias de seis a 12 sessões para tatuagens grau de agressividade da terapia ablativa e seus possíveis
profiss ionais e quatro a seis para as amadoras.n efei tos colatera is, não se observou a populari zação do mé-
O efei to adverso mais com um do laser em tatuagens é a todo como opção terapêutica para o tratamento do me-
h iper ou h ipocromia. A pri meira, gera lmente, é leve e tran- lasma. Com a descrição da forotermólise fracionada por
sitória e pode ser tratada com despigmentante tóp ico; a Manstei n, em 2004, a criação de colu nas de necrose na
h ipocrom ia pode ser permanente. São descritOs, também, pele, deixa ndo á reas de pele sã ao redor, p romovia a remo-
cicatrizes atróficas ou hipertróficas, reações alérgicas ao ção da pigmentação com mais segura nça e men os efei tos
pigmento e gra nulomas de corpo estranho, em virtude da colaterais.;o O fracionamento de raios pode ocorrer em
q uebra do p igmento pelo efeito meca noacústico. comprimentos de onda mais elevados (C0 2 J0.600nm e
Ainda é controverso o uso do laser para o tratamen- Erbium 2.940 nm), implica ndo ablação da epiderme; ou
tO de nevos melanocíticos. Apesar de não haver trabalhos em comprimentos de o nda ma is baixos, sem ablação da
na literatu ra que comprovem a transformação maligna de epiderme.
lesões pigmentadas após a irrad iação com laser, todas as le- Uma revisão da literatura acerca do uso de lasers abla-
sões pigmentadas devem ser biops iadas a ntes de q ualq uer tivos (Er:YAG e C0 2) no tratamento do melasma mostrou
tratamento a laser. que eles podem representar ferramenta efetiva no manejo
do melasma; e ntretanto, hiperpigmentação pós-inflama-
tória e dificu ldade na ma nu tenção de resultados a longo
Melasma prazo parecem representar as principais li mitações atuais
O melasma consiste em uma desordem pigmentar adqu i- a seu uso amplos',s1
rida muito prevalente, de caráter refratário e recorre nte, cujo Vários estudos vêm testa ndo a fototermólise fracio na-
tratamento representa um grande desafio na dermatologia. da não ablativa como opção para o tratamento do melas-
A maioria dos casos ocorre em áreas fotoexpostas, pri ncipa l- ma. No Brasil, os aparelhos mais usados são os de 1.550nm
mente na face de mulheres, ainda que 10% dos casos ocor- (Erbium glass laser) e 1.540nm (Erbium glass rod laser). Por ser
ram em pacientes do sexo masculino.42·41 A etiopatogen ia bem absorvido pela água, sua principal ind icação é o estí-
do melasma permanece inconclusiva, porém vários fatores mulo da síntese e remodelação do colágeno.s 1Os raios pro-
podem estar envolvidos, como rad iação solar (principal fator movem colunas de coagu lação na pele, mantendo intacta
desencadeante e agrava nte), predisposição genética, gravidez, a epiderme do loca l, ou seja, não promovem sua ablação H
uso de contraceptivos o rais e agentes forotóxicos; d isfunção Apesar de a melanina e a hemoglobina não serem alvos
endócrina, terapia hormonal e, até mesmo, estresse.«·46 desses lasers, a colu na do raio coagula parte dos pigmentos
Do ponto de vista histológico, trêS pad rões de pigmen- e/ ou vasos que forem atingidos por ela no momento da
tação são reconhecidos: epidérmico, em q ue o pigmento se penetração na pele. A~s im, mesmo indi retamente, ocorre
e ncontra na camada basal e suprabasal; dérmico, em q ue remoção de pigmentos epidérm icos e dérmicos superfi-
macrófagos contendo melanina se depositam na derme cia is e também de algu ns vasos sa nguí neos menores.;; O
superficial e na derme méd ia; e misto, caracterizado por Erbium de !.550nm fo i a pri meira plataforma liberada
elementos dos tipos epidérm ico e dérmico.4; pela FDA para o tratamento do melasma, com resultados
Os princípios do tratamento incluem proteção contra variáveis 41 ·;657 O Erbi um de 1.540nm foi a segunda plata-
a lu z UV, inibição da atividade dos melanócitos e da sín- forma autorizada pela FDA para tratamento do melasma,
tese de melan ina, além da remoção dos grânulos de me- com resu ltados em torno de 50%.4J,ss
lan ina presentes.47 O manejo do melasma é um desafio. Recentemente, resultados prom issores têm s ido alcan-
Embora h aja d iversas modalidades terapêuticas, incluindo çados com Nd:YAG QS, que consegue atingir os melanos-
agentes clareadores, peelings qu ímicos e tratamentos a laser, somas dérmicos sem prod uzir in flamação o u dano epidér-
muitOs pacientes permanecem não respons ivos a essas tera- mico, em todos os fototipos. Quando os melanossomas
pias. Além disso, por se tratar de cond ição recid ivante, são absorvem a lu z do laser, eles são fragmentados e absorvidos
necessários tratamento de ma nu tenção e afastamento dos naturalmente pelo o rga nismo. O aparelho emite pu lsos
possíveis fatores etiológicos. de alta intens idade e ultrarrápidos (nanossegu ndos) para
CapíiUio 111 • Laser em lesões Vasculares e Pigmentares 513

19. B1emng P. Chnsuansen K. Troillus A. An 1ntense pulsed hght


clarear de maneira significativa pigmento>, preservando o
source for treatment of fac1al teleangectas1as. J Cosmect Laser
tecido saudável ao redor. O trata menro consiste em IO a Ther 2001, 3.169-73.
12 ;,essões semanais, utilizando-se fluência baixa. 59..1 Como 20. Sad1ck NS, Pneta V. Shea CR et ai. Clinicai and pathophysiOiog•c
efeitOs adversos, observam-se hipopigmentaçoio, hiperp ig- correlatas of 1064nm Nd:YAG laser treatment of reticular veins
m~ntaçõo de rehote e recorrência do mdasma. 59''1 and venulectasias. Arch Dermatol2001; 137:613-7.
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A variabi lidade dos resultados mostra que, até n mo-
ment of superfocial cutaneous vascular lesions: experience with
mento, não há nenhum tratamenm padrão-ouro pa ra o the long-pulsed 1064 nm Nd:YAG laser. ScientificWorld Journal
melasma. Assim, o uso dessas tecnologias deve ser restri- 2012; 2012:197139.
to a casos refratários. Novos estudos ainda ;ão necessários 22. Pham RT Treatment of vascular lesions w ith combmed dynam•c
precoohng, postcool1ng thermal quenching and Nd:YAG 1,064-
para o ~tabelecimento de parâmetro.-. e regime; ideais de
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lasers Ablativos
Rozana Castorina da Silva

Lasers (light amplification by stimulated emission of radia- ma ior para aquecer e vaporizar a água. A necess idade de
rion) constituem fomes de luz pura com propriedades im- ma ior energia por pulso significa q ue a intensidade deve
portantes, como monocromaticidade e coerência, tornan- ser ma ior ou que a duração do pu lso deve ser ma is longa.2•1
do poss ível o tratamento, de modo preciso e seletivo, de
d iversos tipos de lesões cutâneas.
Tipos de lasers ablativos
-
ABLAÇAO TECIDUAL
Os p rincipais lasers ablativos são o de C0 2 pu lsado
(10.600nm) e o erbium:YAG (2.940nm). O princípio é a
A ablação tecidua l constitui fenômeno em q ue o sis- vaporização do tecido, e ambos são absorvidos pela água
tema de laser promove corte da pele com irrad iação per- do tecido.
pend icular à sua superfície, dos planos superficiais para os O processo de vaporização gera calo r local, q ue se d i-
mais profu ndos. Os lasers de excimero, de C02 , hólmio e fu nde para a derme e promove remodelação de colágeno
erbium apresentam propriedades que possibilitam a abla- e neocolagênese. O laser de erbium:YAG, por ter maior
ção de diversos tecidos' coeficiente de absorção pela água, penetra menos na pele,
A fowtermólise seletiva estabelece que o aquecimento o que acarreta menor eficiência no tratamento em compa-
seletivo seja obtido por uma absorção preferencial de luz ração ao laser de cor•
do laser e produção de calor nos cromóforos quando a du-
ração do pulso for meno r do que o tempo de relaxamento
IN DI CAÇOES
-
térmico do cromóforo. A vaporização dos tecidos depen-
de do conteúdo intra e extracelular de água. Os lasers de o Fotoenvelhecimemo, rítides, melanoses e q uerawses.
col e erbi um são capazes de promover vaporização em o Tumores benignos: hiperplasia sebácea, tricoepi telioma
razão das características de seus comprimentos de o nda. e hidrocistoma.
O fenômeno mais importante da interação laser-tecido é o C icatrizes de acne.
a absorção, q ue depende das alterações do coeficiente de o Xamelasma.
absorção de água. o Milio.
O tecido, após ser vapori zado, não absorve ma is a ra- o Lemigos.;
d iação, a qual é absorvida por camadas ma is profundas.
A%im, se a afinidade por água é maior, o comprimento
de o nda tende a ser mais absorvido e agi r ma is superficial- RESURFACING
mente, como nos lasers de erbium e CO/ No fotoenvelhecimemo, o laser erbium está ind icado
Nesse contextO, no laser de C02 a absorção da rad iação para formas leves e moderadas e o laser de col para formas
pela água é menor, porta nto, a e nergia incidente deve ser ma is graves (Figuras 88.1 a 88.10).

515
< 516 PARTE XXI • Lasers

Figura 88.1 Resurfacing com laser de C02 - antes e depois. (Fonte: acervo da autora.)

Figura 88.2 Resurfacing com laser de C02 - antes e depois. (Fonte: acervo da autora.)

Figura 88.3 Pré-resurfacing e pós-resurfacing com laser de C02 . (Fonte: acervo da autora.)
Capítulo 88 • Lasers Ablativos 517 ")

Figura 88.4 Tratamento do envelhecimento cutâneo com laser de C01 - antes e 60 dias após o procedimento. (Fonte: acervo da autora.)

Figura 88.5 Tratamento de fotoenvelhecimento cutâneo com laser de C01 - antes e após o procedimento. (Fonte: acervo da autora.)

Figura 88.6 Tratamento de fotoenvelhecimento cutâneo com laser de C01 - antes e após o procedimento. (Fonte: acervo da autora.)
< 518 PARTE XXI • Lasers

Figura 88.7 Tratamento de pálpebras com laser de C02 . (Fonte: acervo da autora.)

Figura 88.8 Tratamento de pálpebras com laser de C02 . (Fonte: acervo da autora.)

Figura 88.9 Resurfacing com laser de C02 - antes e depois. (Fonte: acervo da autora.)
Capítulo 88 • Lasers Ablativos 519 ")

Figura 88.10 Resurfacing com laser de C02 - antes e depois. (Fonte: acervo da autora.)

CONTRAINOICAÇOES
- CONSIDERAÇOES FINAIS
-
Peles com fototipos altos, gravidez, fotOssens ibilidade,
doenças sistêmicas, tendência à formação de queloides e Os lasers ablativos têm sido largamente utilizados nos
uso recente de isotretinoína. casos de envel hecimento cutâneo com o objetivo de me-
lhorar a qualidade da pele.

CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS
• Uso tópico de tretinoina a 0,05% o u hidroquinona a Referências
4% 4 semanas antes do procedimento. 1. Walsh Jr. JT. Cummings JP. Effect oi dynamic optical properties
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COMPU CAÇOES
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• Cicatrizes inestéticas.6 complications. Oermatol Surg 1999; 25(5):360-7.
luz Intensa Pulsada no Rejuvenescimento
Ma rcus Henrique de Alva renga Mo rais
Ga briela Maria de Abreu Gontijo

Luz intensa pulsada (LJP) é uma luz pol icromática, ou memos de onda, impedindo a em issão de energia em um
seja, com vários comprimentos de onda, não coerente e compri mento menor que o filtro usado. Os filtros dispo-
não colimada (luz difusa), ao contrário dos lasers, que são nibil izados são de 515, 540, 550, 560, 570, 590, 615, 645,
ra ios colimados, coerentes e sempre com um ú nico com- 690 e 755nm. Um filtro de 570nm, por exemplo, possi·
primemo de o nda. bilita q ue seja d isparada pela peça de mão energia com
Por esse motivo, a ação da LIP é mais limitada do que a compri mento de onda maior que 570nm.
dos lasers, que concentram muito mais energia em um Onico
disparo, produzindo calor mais imenso e localizado e pro- •
movendo alterações ma is seletivas e mais imensas no alvo.' HISTO RICO
Os pulsos de luz são produzidos pela explosão de uma A primei ra LIP (PhotodermVL<I!>) foi aprovada em
corrente elétrica que passa atravéS de uma câmara com gás 1995 pela Food and Drugs Admi nistration (FDA) para tra-
xenôn io. Essa luz é co nduzida até a pa rte distai do handpie- tar telangiectasias de membros inferio res. 7
ce de safi ra ou q uartzo. 1 O Photoderm se caracterizava por ter fl uências saltas,
pu lsos triplos, duplos ou simples, rápidos ou intensos, e vá-

MECANISMO DE AÇAO
- rios filtros de corte (515 a 7 55nm), usados de acordo com o
fotatipo e a profundidade do cromóforo a ser atingido na
Muito se aprimorou nesta tecnologia, desde sua intro- pele. Esse aparel ho necessita de gel gelado pa ra aplicação
dução na comunidade méd ica há cerca de 20 anos, após a e tem cu rva de aprendi zado d ifícil, pois os parâmetros são
descoberta da fototermólise seletiva, 3 propriedade na qual numerosos e muito variáveis.
certos alvos (cromóforos) são capazes de absorver energia O pri mei ro teste foi rea lizado em 1996 com 80 pa-
de determinado espectro de comprimento de onda (banda cientes, para tra tar mancha vinho-clo-porto.9 Em 1997,
absorção). autores relata ram sucesso no tratamento de do is casos de
Com base nessa propriedade, os cromóforos da LIP hipertricosew
são hemoglobina, melan ina e água, que podem ser trata- Embora esse aparelho ten ha se mostrado eficaz, foram
dos simultaneamente. relatados mu itos efeitos colatera is pelos usuários, sempre
Assim, os amplos comprimentos de onda da LI P, em relacionados com o excesso de energia liberada, provocan-
geral de 500 a 1.200nm, poss ibilitam o tratamento de le- do q ueimaduras q ue, por sua vez, ocasio naram hiper ou
sões melanocíticas 4 e vasculares,s além do estímulo à neo- hipopigmemação, quase sempre temporária e, ocasional-
colagênese. 6•7 mente, defi nitiva. Em casos extremos, foram descritas cica-
Entreta nto, com o objetivo de aumentar a seletividade trizes hipertróficas e atróficas.
para determinado alvo, algu ns aparelhos de LI P oferecem Apesar dessas complicações e dos resultados pouco efi-
filtros ou handpieces que tornam possível bloquear compri- cazes inicialmente descritOs, o desenvolvimento de novos

520
Capítulo 89 • Luz Intensa Pulsada no Rejuvenescimento 521

Janela olica da melanina

I Alexandrita
Nd:YAG I
Diodo ,., •• Hemoglobina

N~
- \....
Rubi

l -•
Melanina
Agua
Dispersão

:- ~ .I \,./"'"""-
:::::::
300 400 500 600 700 800 900 1000 1500 2000 3000 4000 5000 7500 10000 20000
Ultravioleta Próximo ao lnlravennelho
infravermelho
Comprimenlo de onda (nm)

Figura 89. 1 Curva de absorção dos principais cromóforos da pele. (Fonte: adaptada de Surgical & Cosmetic Dermatology 2009;
1(1 ):29·36.)

aparelhos, mais potentes, com itens de segurança (confor· Esses recursos tornaram os tratamentos rápidos e segu-
me descrito a seguir), o número de complicações diminuiu ros, d iminuindo muito os efeitos colaterais.
consideravelmente. O custo favorável e a versatilidade d o Além disso, os novos aparelhos associam a LIP à radio-
uso em d iferentes cond ições clínicas contribuíram para frequência e outros ao vácuo na pele (efeitO fotopneumáti-
uma rápida d isseminação, principalmente no que ta nge ao co), na te ntativa d e melhorar o efeito final.
rejuvenescimento cutâneo.
-
APLICAÇAO CLINICA
'

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS Pelos motivos descritOs previamente, trata-se d e tecno-


Em relação aos tipos de pu lso, podem ser si mples logia muito versátil e que trata:
(ünico), duplos ou triplos. Podem ser disparados em tem· o Lesões melanocíticas superficiais, como lentigos e efé-

pos curtos (5 a 20ms) o u longos (40 a lOOms). Também lides.12


podem ser intensos ou suaves (smooth pulse), dependen· o Lesões vasculares, principa lmente as telangiectasias

d o d o mod o como a e nergia é liberada. Os pu lsos suaves presentes na rosácea e no focoenvelhecimento clássi-
caracterizam-se por permanecerem e m um mesmo pata· co, sob a forma da po iq uilodermia de C ivatten· 14 Para
mar de temperatura do início ao fim, conferindo maio r a remoção de vasos maiores, são necessári os pulsos
segurança-" longos (50 a lOOms) e fluências altas (50 a 70J/cm1),
Os pulsos suaves, o uso de pro dutOs d e interface e o os quais estão associados a mai or risco de efe itos ad-
resfriamento de pontei ras (geralmente de safira) consti· versos.
tuem itens de segurança. o Neocolagênese/rejuvenescimento';

Os aparelhos mais modernos têm, na mesma po nte ira,


pulso suave e ün ico, d e 500 a 1.400nm, com pico de fluên· Em relação aos locais d e aplicação, face e mãos'6 são os
cia e m 70J/cm 2 no início do disparo, decrescendo gradati· locais ma is seguros, enq uanto o colo e os membros exigem
vamente. A~s im, com uma mesma ponteira, e sem a troca ma ior ca utela.
de filtros, são possíveis o tratamento d e lesões melanocí· Os fototipos mais ba ixos (I a lll) tê m resposta melhor
ticas e vasculares e a indução de neocolagênese discreta e exigem meno r n ümero d e sessões.
(esta última em virtude d e os raios que ultrapassam 700nm Segundo a prática d iária, associada a dados da litera-
serem absorvidos pela água - Figu ra 89.1). tu ra, os resu ltados são tardios, sendo as modificações d e
O focorrejuvenescimento não ablativo com LIP fun· pigmentações vascu lares e pilossebáceas notadas e m 3 a 6
ciona causando dano térmico reversível do colágeno pela meses e o fotorrejuvenescimento após 12 a 18 mesesY
penetração da luz na d erme e aquecimento di reto d e suas
estruturas, poupando a epiderme.
Desse modo, obtêm·se a co ntração das fibras d e coláge· HISTOPATOLOGIA
no e o remodelamento propriamente ditO das fibras após o Para o rejuvenescimento deve haver o remodelamento
período inflamatório. de colágeno dérmico que, histopacologicamente, se carac-
Para isso, os aparelhos disponíveis (Quad ro 89.1) apre· teriza por espessamento da zona de G renz pelo aumento
sentam níveis d e fluência (energia) que alcançam de 25 a da d eposição de colágeno, bem como de fibras elásticas,
40)/cmJ com reorganização em arranjos paralelos com fibrilas com-
PARTE XXI • Lasers

Quadro 89.1 Principais aparelhos de luz pulsada e suas características técnicas

Fluência IJ/cm 2 ) Duração do pulso lms) Com primento de onda (nm)

HarmonY"' 30 10, 12 e 15 515 a 950


Alma

Formax" 25 0,5 a 200 4 15a960


Sharplígth

Photosilk" 30 2,5 e 4 500 a 850


Oeka

Oermapulse'" 18 S/0/T 390 a 750


lndustra

BBL• 30 2 a 500 420 a 1.400


Sciton

Active IPL"' 22 10 420 a 1.100


Bíoset

Limelight" 40 60 520 a 1.100


Cutera

Ouantum SR• 45 25 560 a 1.200


Lumenis

Lumenis One• 40 100 515 a 1.200


Lumenis

Syst em Une• 16 30 390 a 1.200


Bíoset 56 40

e Max• 45 NR 580 a 980


Syneron + AFb 25

Skin St ation'" 65 10 420 a 1.200


Radiancy

St arlux" 70 500 500 a 1.200


Palomar

pactas, o que gera lmente tem inicio de 3 a 6 meses após o duzida quando há invasão da parede dos vasos por leucóci-
tratamento18 tos, evidenciando neoformação vascular por reperfusão de
Em 201 1, Patriota et al. publicaram artigo com avalia- vasos preexistentes 2 0•21
ção clínica, histopatológica e imuno-histoqu ímica da LI P Importante salientar q ue, nesse mesmo estudo, o trata-
no fotoenvelhecimento, apresentando resultados mu itO mento com LIP não promoveu alteração da imunidade da
positivos, co nfo rme d emonstrado a segui r19 pele e m relação a CO !, CD4 e CD8.
Ao término do tratamento (ci nco sessões de LI P), ho u-
ve melhora clínica e m 76,92% dos casos, relacionada com '
aumento significativo de fibras colágenas (51,33%) e elásti· RESULTADOS CLINICOS
cas (44,13%) (Figuras 89.2 e 89.3). O fororrejuvenescimento não ablativo é um método
Além d isso, a LI P pro moveu aumento sign ificativo de bastante estudado atua lmente, visando à reversão do en-
pequenos vasos sanguíneos, não ectásicos, e molécu las de velhecimento cutâneo por meio da util ização da LIP, com
adesão intercelular (JCAM-1). o objetivo de criar um da no dérmico sem ablação da epi·
Assim, o utro fator talvez envolvido com o rejuvenes- derme. A reação da derme à agressão faz-se pelo aumento
cimento associado à LI P seja o aumento da expressão da produção de colágeno e a reabsorção d o material elas-
ICAM-1, uma glicoproteína de membrana de adesão inter· tó tico.
celular relacionada com a adesão de leucócitOs no endoté· A~ explicações para a síntese de novo colágeno in-
lio vascu lar. Essa alteração pode estar relacionada com o cluem a absorção da luz pelo sa ngue, o que aumenta a tem-
processo inflamatório, po is a glicopro teina ICAM é pro- peratura ao redor d os vasos, transferindo o dano térmico
Capítulo 89 • Luz Intensa Pulsada no Rejuvenescimento 523

Pré-tratamento Após6 meses


Figura 89.2 Aumento intenso e significativo de 51,33% de fibras colágenas. (Fonte: adaptada de Anais Brasileiros de Dermatologia
2011 ; 86161 1129-33.)

Pré-tratamento Após6meses
Figura 89 .3 Aumento significativo de 44, 13% de fibras elásticas. (Fonte: adaptada de Anais Brasileiros de Dermatologia 2011 ;
86161:1129-33.)

ao tecido adjacente e causa ndo a liberação de mediado res vocada pela interação da luz com o tecid o, com liberação
inflamatórios, que induziriam o processo de cicatrização. de calor. Esses efeitos duram de 24 a 72 horas e desapare-
A e nergia também estimularia diretamente os fibroblastos cem completa mente.
a produzirem ma is colágenon Além de edema e eritema, existe a possibilidade de ve-
Além disso, obté m-se melhora da flacidez cutânea, que siculação e m 24 a 36 horas após a sessão, com posterior
estaria relacionada com o aumento de colágeno na derme formação de crostas, q ue desapa recem no período de 7
reticu lar profu nda, o que promove efei to skin tightening ao a 14 dias. Como sua duração geralmente é menor que o
fi nal do tratamenton tempo de tt<matJer da epiderme (4 semanas), provavelmente
Esses resultados também foram obtidos em estudos elas são produzidas por queimadura superficial.
que utilizaram d iferentes tipos d e laser para o fowrrejuve- Mesmo desaparecendo em curto período, essas crostas
nescimento não ablativo no tratamento d o e nvelhecimen- podem evolu ir para hiper ou hipocromias e, e m último
to cutâneo. Por meio d e avaliação histopatológica, esses caso, cicatrizes hipertróficas.16
estudos demonstraram síntese d e colágeno e melhora da
elaswse solar em diferentes graus.l4.H
VANTAGENS E DESVANTAGENS
o Vantagens: fácil aplicação, pós-operató rio discreto e
EFEITOS ADVERSOS bom custo/benefício, q uando a ind icação é precisa.
Efeitos colaterais, como edema e eritema da pele fo- o Limitações/ desvantagens: são necessárias algumas ses-
toenvelhecida, observados imediatamente após a aplicação sões (três, e m média) para se atingir o objetivo. Os efei-
da LIP, são decorrentes da reação inflamatória da pele, pro- tos colatera is mais importantes conti nuam sendo hiper
< 524 PARTE XXI • Lasers

e h ipocromia decorrentes de queimad uras, as quais são segu idos em wda a área a ser tratada, com ou sem sobre-
mais frequentes e acentuadas na pele bronzeada, que é passe (cwerlap).
uma contraindicação a esse p roced imento. Antes, durante e após as passadas, são aplicadas com·
pressas frias para d iminu ir a temperatura no loca l. Após o
procedimento, pode haver retOrno imed iato à rotina.
TÉCNICA
Não é necessário o uso de a nestésicos, q ue, q uando usa-
dos, podem causar vasoconstrição e d iminu ição da hemo- RESULTADOS ESPERADOS
globina no local da aplicação, min imizando os resultados. Dimi nu ição global da oxidação da pele, com melhora na
É obrigatório o uso de óculos de proteção pelo méd ico coloração, e desaparecimento gradual de vasos e lentigos, de
e pelo paciente e gel ou solução de contato, de acordo com acordo com o no mero de sessões. Ocorre melhora discreta
as normas para cada aparelho. Devem ser fei tos d isparos da textura e pouca alteração de ritides (Figuras 89.4 e 89.5)1

Figura 89.4 Paciente submetida a cinco sessões de LI P com objetivo inicial de tratar rosácea. Note o rejuvenescimento com melhora
importante das rítides frontais 6 meses após a última sessão. (Fonte: acervo dos autores .)

Figura 89 .5 Melhora de melanoses solares. textura e coloração da pele após cinco sessões de LIP com intervalos mensais. (Fonte:
acervo dos autores.)
Capítulo 89 • Luz Intensa Pulsada no Rejuvenesciment o 525

13. Rusciani A, Motta A. Fino P et ai. Treatment of poikiloderma of


CONSIDERAÇÕES FINAIS Civatte using intense pulsed light. Dermatol Surg 2008 Mar;
34(3):3 14-9.
A LIP co nstitui boa opção de tratamento para o fo- 14. Weiss RA. Goldman MP, Weiss MA.Treatment of poikiloderma
wenvelhecimento cutâneo, sendo uma técn ica não abla- of Civatte w ith int ense pulsed ligtht resource. Dermatol Surg
2000; 26(9):823-Z
tiva, segura e eficaz, visto que a melhora clínica observada 15. Goldberg OJ, Cutler KB. Nonablative treatment of rhytids with
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Remoção de Pelos com laser e Outras Fontes de luz
Dagmar Toledo Lyon
Fernanda Lyon Freire

Tanto mulheres como homens apresentam pelos, q ue d ireção. O termo coli mada (pa ralela) denota que a e nergia
não gostariam de ter, em alguma parte da face o u do corpo. é concentrada em um pequeno pomo e apresenta pouca
A ma ior parte das pessoas realiza alguma forma de remo- d ivergência.
ção de pelos após a puberdade. Vários fatOres interferem A LI P caracteriza-se por emiti r luz pol icromática, in-
na quantidade e na qua lidade dos pelos, dentre os qua is, coerente e não coli mada. O termo policromática ind ica
podem ser destacados a heredi tariedade, as variações hor- que a luz emitida aprese ma vários comprimentos de onda,
monais e o uso de med icamentos, como cort icoides. gera lmente de 400 a J.SOOnm. A incoerência em tempo e
Existem muitos métOdos para a remoção de pelos, se- espaço remete ao fato de as o ndas emitidas não estarem em
jam eles temporários ou defin itivos. Dentre os métOdos fase. Não colimada denota que as o ndas se d ispersam em
temporários, podem ser citados: pi nça, d iversos tipos de vários sentidos.
cera depilatória, raspagem com lâm ina e cremes depila- Como salientado previamente, a LIP emite o ndas de
tórios. }á entre os métodos definitivos, pode~e optar por vários comprimentos, enq uanto os lruers operam com um
eletrólise ou pela remoção por fomes de luz (fotoepilação). comprimento de o nda na região do vermelho ou próxi-
De modo geral, pode-se afirma r q ue a eletró lise está mais mo do infravermel ho. Existem vários lasers disponíveis no
ind icada para a remoção de pelos em pequenas áreas, de- mercado, cada um operando em comprimento de onda de
vido àS características técnicas do método, enquanto a fo- destino:
toepilação pode ser também utilizada em á reas extensas. • Laser rubi - 694nm.
Neste capítulo será abordada apenas a remoção de pelos • Laser alexand rita - 755nm.
por foroepilação. • Laser diodo - 800 a 810nm.
Em 1996, a Food and Drugs Administration (FDA) • Laser Nd:YAG - 1.064nm.
dos EUA aprovou o pri meiro sistema para fowepilação. • Luz intensa pu lsada - 590 a J.200nm.
Desde então foram desenvolvidos melhores equipamentos
e protOcolos de tratamento. No entanto, cientificamente, Independentemente do tipo de fome de luz utilizada
a inda é impossível eliminar 100% dos pelos. Os tipos de (laser ou LIP), o modo de ação da fotoepilação consiste na
fome de luz dispo níveis para remoção de pelos incluem o fowtermólise seletiva. Basicamente, a luz em itida é absor-
lruer {light amplífícation /ry stinm.lated emission of radíation) e a vida pelo cromóforo-alvo (em geral a melanina do fol ícu-
luz intensa pulsada (LIP). lo piloso) e transformada em calor (efeito fototérmico - a
O lruer caracteriza-se por em itir luz monocromáti- luz absorvida é transformada em calor). O calor gerado se
ca, coerente e colimada. O termo monocromática indica dissipa para estruturas adjacentes e pode promover a coa-
q ue a lu z emi tida apresenta apenas um comprimento de gulação das proteínas da matriz germinativa, culminando
onda. A coerência em tempo e espaço remete ao fato de com sua destruição. Ass im, a matriz germinativa efetiva-
as e nergias emitidas somarem sua magnitude na mesma mente destru ída torna-se incapaz de gerar um novo pelo.

526
Capítulo 90 • Remoção de Pelos com Laser e Outras Fontes de Luz 527

O cromóforo-alvo da fotoepilação geralmente é a melanina Existe uma relação e ntre o comprimento de onda e a ca-
do folículo piloso. Em casos de pelos bra ncos, sem melani- pacidade de penetração da rad iação na pele. Comprimentos
na, podem ser utilizados pigmentos artificia is. A melanina de onda na faixa do ultravioleta atingem apenas as camadas
absorve uma ampla fa ixa de rad iação eletromagnética: sua mais superficiais da pele. No espectro da luz visível, q uanto
maior absorção ocorre na fa ixa do ultravioleta, mas com- maior o comprimento de o nda, maior sua capacidade de
pri memos de onda no intervalo da luz vis ível, bem como penetração. Passando para o espectro da luz infravermelha,
pertO do infravermelho, também são absorvidos. Destaca- a capacidade de penetração continua a aumentar, porém
se que a eficácia do método depende da destruição da ma- valores mais altOs de comprimento de onda tornam-se nova-
tri z germinativa (bulbo e papila dérmica) do fol ículo, uma mente pouco penetrantes. Por isso, diferentes tipos de lasers
estrutu ra não pigmentada. apresentam diferentes capacidades de penetração na pele: o
Os principais parâmetros para a fototermólise sele- laser rubi (694 nm) apresenta menor penetração; os lasers ale-
tiva são o comprimento de onda, a du ração do pulso e xandrita (755nm) e diodo (800 a 810 nm) apresentam pene-
a fl uência. O compri mento de onda deve ser absorvido tração intermediária; e o lruer Nd:YAG (1.064nm) apresenta
pelo cromóforo e deve ter a capacidade de penetra r à maior poder de penetração. Como a LIP emite radiação em
profundidade na qual se localiza o cromóforo. A d ura- diferentes comprimentos de o nda, o poder de penetração é
ção da exposição do cromóforo à luz deve ser menor do bastante variável.
q ue o tempo de relaxamento té rmico (T RT ). O T RT é Existe também uma relação en tre o compri mento de
o tempo necessário para que a temperatura do cromó· onda e o coeficiente de absorção da mela nina. A relação
foro ca ia a 50% do pico após a exposição. O calor vai não é linear, porém, quanto ma ior o comprimento de
para o tecido circu ndante. O TRT varia de 10 a 60ms, onda, menor o coeficiente de absorção. Portanto, quanto
depe ndendo do d iâmetro do folículo. Nos aparel hos, a ma ior o comprimento de onda do laser util izado, menor
duração de pulso va ria de 10 a !OOms. O pu lso não pode será a capacidade de a melanina absorver a energia em itida
ser maior do que o T RT, pa ra não dan ificar o tecido cir- e menor será a tendência de efetividade da fotoepilação.
cu ndante. O T RT é proporcional ao taman ho do tecido- Os lasers rub i (694 nm), de alexand rita (755nm) e o d io·
·alvo. A densidade de energia administrada no tempo de do (800 a 8!0nm) apresentam coeficientes de absorção da
expos ição (fluê ncia) deve ser suficien te para resultar na melan ina semelhantes. Já o laser Nd:YAG (1.064nm) apre-
destruição do tecido-alvo. senta coeficiente de absorção inferior à dos demais tipos
A efetividade da fowepilação depende de uma série de lruer.
de fatores, dentre os quais podem ser destacados a fase do O laser ru bi (694nm) apresenta boa absorção pela me-
ciclo pilífero, o poder de penetração da luz utilizada e a ca- lan ina, sendo ma is ind icado para pelos finos e pouco pig-
pacidade de absorção da luz em itida pelo cromóforo-alvo. mentados, e apresenta ma ior risco de efeitos colaterais. O
A efetividade da transm issão do calor para a matriz laser alexand rita (755nm) tem menor absorção pela mela-
germinativa varia com a fase do ciclo pilifero. QuantO ma is nina do que o laser rubi; é efetivo também nos pelos finos
próximo o fol ículo piloso estiver da matriz germinativa, e moderadamente pigmentados; nos sistemas com cooling
maior será a transm issão do ca lor. Assim, quanto mais pe- em spray, d ispensa limpeza da ponteira entre passadas. O
los na fase a nágena do ciclo, maior a transm issão de calor laser d iodo (800 a 810nm) demonstra menor absorção pela
para a matriz germ inativa e ma ior a probabilidade de des- melan ina, é menos efetivo, especialmente para pelos finos
truição efetiva da matriz que, por sua vez, tende a não gerar e cla ros, e apresenta ma io r segurança, principalmente em
mais pelos. Por outro lado, quanto mais pelos na fase teló- fototipos escuros. O laser Nd:YAG (1.064nm) penetra pro-
gena do ciclo, menor a transmissão de calo r para a matriz fu ndamente a pele, apresenta red uzida absorção pela mela-
germinativa e menor a probabilidade de destru ição efetiva nina, exige alta fluência e é ma is segu ro pa ra pele negra e
da matriz. Portanto, quando a fowepilação é rea lizada em bronzeada, sendo também util izado para pseudofolicu lite
pelos na fase telógena do ciclo, a tendência é que ocorra a da barba. A LIP possibilita ampla combinação de compri-
geração de novo pelo, porém de modo mais lemo. A por· mento de o nda, número e du ração de pulso e intervalo
centagem de pelos na fase anágena pode variar de acordo de retardo entre os pulsos de espera, promovendo ampla
com a á rea a natõmica, levando a d iferentes respostas aos possibilidade de usos terapêuticos.
tratamentos e q uantidades diferentes de sessões para ob- Existem sistemas de resfriamento com gel co ndutOr
tenção de resultado. Por exemplo, o ciclo dos pelos das transparente, sprays criogên icos, fluxo de ar frio e contatO
coxas d ura um total de 6 a 12 meses, com a fase anágena d ireto de sistemas de resfriamento que red uzem o risco de
apresentando cerca de 3 a 6 meses; o ciclo dos pelos da complicações, exercendo efeito anestéSico e também poss i·
região axilar, por sua vez, dura de 5 a 7 meses, com a fase bilitam a adm inistração de fluências maiores, aumentando
anágena apresenta ndo cerca de 3 a 4 meses. a efetividade do tratamento.
< 528 PARTE XXI • Lasers

A resposta esperada após o procedimento de fowepila- sões, principalmente em pernas, viril ha e axilas. Pacientes
ção consiste em um eritema e pápu la perifolicular, que ge- com h istó ria pregressa de rinite alérgica e outras alergias
ralmente surgem em lO a 20 minutOs após o proced imen- são mais suscetíveis. Apresenta resolução espontânea com
to e ind icam a utilização de parâmetros adequados para o 10 a 30 d ias e não deixa hipo o u hipercromias pós-i nflama-
pelo e a pele do paciente. tórias. Pode ser controlada com pred nison a ora l por 5 a lO
A mela nina da epiderme compete com a melan ina no dias, e pode ser recomendado o uso de conico ide preventi·
bulbo piloso, d iminu indo a eficácia do tratamento e causam vo nas demais sessões.
efeitos colatera is indesejados. Assim, fototipos claros tem
baixa incidência de efeitOs colaterais com todos os tipos de
laser. Podem ocorrer dor d urante o proced imento, bolhas, Referências
Desai S, Mahmoud BH, Bhatia AC, Hamzavi IH. Paradoxical hyper-
urticária, alterações na pigmentação, cicatrizes e crescimento
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paradoxal (raro). Tem sido relatadas, também, complicações 36(3):291-8. doi:
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a nterior (h iperem ia de conju ntiva, célu las pigmentares em hair remova I. Dermatol Ther 2011 Jan-Feb; 24(1 ):94-107.
câmara anterior, sinéquias posteriores, atrofia de íris), pig- Landa N, Corrons N, Zabalza I, Azpiazu JL. Urticaria induced by
laser epilation: a clinicai and histopathological study with ex-
mentação de cápsula anterior de cristalino, dano irreversível
tended follow-up in 36 patients. Lasers Surg Med 2012 Jul;
à íris e lesão de epitélio pigmentar de retina. A h ipertricose 44(5):384-9.
paradoxal é um efeito colateral raro (0,6% a 10%), que pode Nanni CA, Alster TS. Laser-assisted hair removal: side effects of
ocorrer nas áreas tratadas ou próximas da aplicação do laser, 0-switched Nd:YAG, long-pulsed ruby, and alexandrite lasers. J
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sendo mais frequente em face e pescoço em pacientes com
Shenenberger DW. Removal of unwanted hair. hnp://www.uptoda-
fototipos escuros (Ill a VI) e desequilíbrio hormonal. te.com/index. Acess 5/12/2012.
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após a primei ra sessão e tende a recorrer nas demais ses- bronw epilation. Eye (Lond) 2009 Apr; 23(4):982-3.
Terapia Fotodinâmica
Ana Cláudia Lyon de Moura

Terapia forod inãmica (T FD), ou photo-dynamic therapy sensibilizado é exposto à luz que coincide com o espectro
(PDT ), constitui uma forma de terapêutica em q ue se pro- de absorção do agente forossensib il iza nte. Ocorre a forma-
cede à adm inistração tópica de uma substância sobre lesão ção de oxigênio singlete*, atravéS de reação fotoquím ica
tumoral com posterior ilumi nação com uma fonte de lu z, que leva à apoptose das célu las tumorais 9
levando à apoptose das células tumorais.' Oxigênio singlete é como são con hecidos os três esta-
dos eletro nicamente exci tados imediatamente superiores
'
ao oxigên io molecu lar no estado fundamental. De acor-
HISTO RICO do com a teoria do orbital molecu lar, a configuração ele-
A terapia fotod inãmica teve inicio em 1904, com von trôn ica do oxigên io no estado fundamenta l contém do is
Tappeiner & Raab, que observaram os efeitos da forossen- e létrons desemparelhados nos orb ita is moleculares dege-
sibilização em paramécioJ Em 1905, von Tappeiner & nerados; r•x e p•y Esses elétrons tendem a possuir o
Jes ionek trataram tumores de pele util iza ndo pigmento de mesmo spin de modo a produzir mu lplicidade máxima e,
eosina com posterior expos ição à luz. 3 assim, um estado de ma is baixa energia. Este é o motivo
Meyer-Gertz, em 1913, demo nstrou os efeitos forossen- pelo qual o estado fundamental do oxigên io molecu lar é
sibilizantes da hematoporfi rina• Em 1937, S ilver publicou um triplete.
relato de tratamento de psoríase com adm inistração oral e Nesse contexto, o oxigênio singlete, gerado por sen-
intramuscu lar de porfirina.; sibilização a partir da transferência de e nergia do agente
Lipson et al. descreveram uma nova substâ ncia, deri· fototerapêutico no estado triplete excitado para o oxigênio
vada da hematoporfirina (HpD), na detecção de tumores.6 molecu lar no estado fundamental, constitu i o agente cito·
Em 1978, Dougherty et al. publicam trabalho sobre tra- tóxico para desa tivação das células tu morais.
tamento de tu mores malignos com terapia fotod inãmica.7 Os agentes forossensibilizantes, na gra nde maioria ba-
No in ício de 1990, o porfimer sód ico fo i aprovado no seados em misturas de derivados porfirín icos, têm se mos-
Ca nadá para uso terapêutico.' trado eficientes no tratamento de tu mores malignos ou não.
O uso tópico do ácido 5-delta aminolevulín ico (ALA) Esses agentes fototerapêuticos tendem a se concentrar
como precursor metabólico de um fotossensibilizante no tecido les ionado. O meca nismo para essa seletividade
endógeno - protoporfirina IX (PplX) - foi propostO, em parece decorrer da associação do agente fototerapêutico
1990, por Kennedy et al. 8 a lipoproteínas do plasma, q ue, assim, o transporta, pre-
ferencialmente, para as células anormais. Esse processo

MECANISMO DE AÇAO
- ocorre em razão de essas células conterem um número
exageradame nte al to de receptores de lipoprote ínas de
Na terapia fotodinãn ica, a substância forossens ibilizan- baixa densidade, resultado de sua elevada dema nda por
te é aplicada sobre a lesão tu moral. A seguir, o tumor fotos- colesterol. 10

529
< 530 PARTE XXI • Lasers

AGENTES FOTOSSENSIBILIZANTES A terapia forod inãmica provoca a morte d ireta das


o Porfimer sódico: o porfimer sódico é um agente fotos- células tumora is, por apoptose ou necrose, além da des-
sensibilizante derivado da purificação da hematOporfi- truição da vasculari zação tu moral e da ativação da resposta
rina, denomi nada HpD (derivado da hematOporfirina), imune. 10•1;
e seu compo nente ativo é o éter de d iematoporfirina.
Atinge o pico de absorção de luz na banda de Soret, FONTES DE LUZ
e ntre 400 e 420nM. Admin istrado na dose de I a 2mg/
A~ fomes de luz devem ser co incidentes com o pico
kg de peso EV, acumula-se não só nas lesões tu morais,
máximo de absorção do agente fotOssens ibilizante.
mas também em o utros tecidos. Apresenta fotossensibi-
As irradiâncias utilizadas na terapia forodinãmica variam
lização prolongada, por até 4 a 8 sema nas'·"
entre 50 e 150mw/cm2 Podem ser utilizados lasers ou qual-
o Ácido 5-delta aminolevulínico (ALA): é s intetizado a
quer lâmpada coerente de amplo espectro ou luz de diodo
partir da glicina e da succin il.COA no interior d a mi- (LED) nas faixas azul (417nm) e vermelha (630 a 635nm)-"·'6
tOCôndria através da via de b iossíntese do grupo heme.
Essa reação é cata lisada pela enzima ALA sintetase.
O ALA pode ter admin istração tópica ou s istêmica e
-
INDICAÇOES POTENCIAIS
acumula-se nas célu las tumora is, sendo elim inado do o Indicações oncológicas: queraroses act1n1cas, doença
o rga nismo após 24 horas, tanto por via tópica como en- de Bowen, ca rcinoma basocelular superficial, q ueratoa-
dovenosa. O agente S-ALA tem apresentação em bastão cantoma, carci noma espinocelular, sarcoma de Kaposi e
(Levulan Kerastic"'), e o tempo d e aplicação é de 14 a 18 metástases cutâneas.
horas.12·" o Indicações não oncológicas: psoríase vulgar, dermatO-
o Cloridrato de metilaminolevulinato de metila (Metvix"') ses associadas ao vírus do papiloma huma no (HPV), epi-
em creme lipofílico: o tempo d e apl icação é de 3 h oras dermodisplasia verru ciforme e cond iloma acuminado .11
com oclusão para tratamento de queratoses actínicas,
carcinomas basocelulares e doença de Bowen n
o BPD MA: derivado da benzoporfirina, foi sintetizado a EFEITOS ADVERSOS
partir do porfimer sód ico, com absorção de 690nm. A O efeitO adverso ma is comum é a fotossensibilidade
fowssensibilidade é de 7 dias.'4 prolo ngada. Após o procedimento de T FD, deve ser reco-
o Mesotetrafenilporfinessulfonato (TPPS): considerado mendado o uso de fotO protetor e evi tada a exposição solar
neurotóxico, tem absorção em 645 nm.14 por até 8 semanas.
o Porficenos: isõmeros de porfirina q ue absorvem a lu z e n- Do r e q ueimação d urante a irrad iação do tumor cons-
tre 550 e 650nm, com tempo de exposição de 5 minutOs. titu em efeitOs adversos esperados. Podem ocorrer ai nda
o T imetiletiopur purina, metatetraid roxifenilclorina e mo- edema, necrose e formação de crosta. São relatadas hiper-
no-1-aspartilclorina . p igmentação e hipopigmentação de natu reza transitó ria 1 •14
o Estão sob estudo: ftalocia ninas, verd inas, bacteriolcloro-
fila e lutetium texapirina.14
CONSIDERAÇÕES FINAIS
-
UTILIZAÇAO DO AZUL DE METILENO NA
A TFD é uma técn ica terapêutica bem estabelecida e
TERAPIA FOTODINÂMICA que promove bons resultados em lesões pré-malignas e ma-
Os colora ntes (cora ntes e pigmentos) são caracterizados lignas, com baixos índ ices de recid iva e bons resultados
por sua habilidade em absorver a luz visível e apresentam ele- cosméticos.
vada eficiência em alguma região do espectro visível. Algu ns
desses compostOs são capazes de induzir ou participar de rea-
ções fotoquí micas. Algu ns corantes, como azul de metileno,
Referências
1. Lui H, Biossonette R. Photodynamic therapy. In: Gldman MP.
têm sido utili zados como agentes fotossensibil izadores no Fitzpatrick RE. Cutaneous laser surgery. Saint Louis: Mosby,
tecido-alvo, segu idos por irradiação de luz. O azu l de metile- 1999; 437-58.
no é um fossensibil izador capaz de gerar altaS concentrações 2. Von Tappeiner H, Jodlbauner A. Uber die wirkungen der photody-
de oxigênio singlete, pois apresenta boa absorção de fótons namischen (fluorescierenden) stoffe auf protozoen und enzyme.
Arch Klin Med 1904; 80:427-SZ
dentro do espectro vermelho da luz visível (> 630nm), ideal
3 . Jesionek A, Von Tappeiner H. Zur behandlung der haut carcinoma
para se atingir a janela terapêutica (600 a 800nm) e ter feito mit fluorescierenden stiffen. Dtsch Arch Klin Med 1905; 85:223.
fotodinãmico. O azu l de metileno pode ser inj etado direta- 4 . Daniel MD, Hill JS. A history of photodynamic therapy. Aus Nz J
mente no tumor e, em seguida, ser irradiado. Surg 1991; 61:340-8.
Capítulo !11 • Terapia Fotodinâmica

5. Silver H. Psoriasis vulgaris treat ed w ith hematoporphyrin. Arch 13. Szeimes RM, Calzavara-Pinton PG, Karrer S et ai. Topical photo-
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clinicai experience. J Photochem Phot obiol B 1990; 6:43-8. pia fot odinâmica mediada por azul de metileno. Instituto de
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Radiofrequência
Silvia Helena Lyon de Moura

Rad iofrequência constitu i uma modalidade de trata- Na rad iofrequência monopolar, a corrente elétrica é
mento não ablativo em que se util iza uma onda eletromag- emitida através de um eletrodo aplicado à á rea de trata-
nética, a qual gera calor por conversão. mento e retoma ao gerador através de um eletrodo de d i-
Os efei tos térm icos da rad iofrequência têm sido uti· mensões ma iores, localizado a distância, normalmente no
lizados em p rocessos degenerativos do envelhecimento tro nco. A energia elétrica concentra-se próximo à ponteira
cutâneo com o objetivo de produzir estímulo do colágeno, do eletrodo ativo e d iminu i com a d istâ ncia. A profu ndida-
combate ndo a flacidez cutânea de maneira não invasiva.1 de de ação é de até 6mm.
Na rad iofrequência bipolar, são util izados eletrodos
HISTÓRICO de saída e de retorno da corrente na própria pontei ra. O
A rad iofrequência iniciou-se em 1891 com o fisiolo- efeitO é mais superficial, de até 2mm de profundidade. 1•5
gista Jaque Arséne D'Arsonval, inventor do galvanômetro,
q ue observou q ue o corpo h umano poderia suportar cor·
INDICAÇOES
-
rentes com frequências superiores IO.OOOH z ( JOMHz).
Constituem ind icação de rad iofrequência: flacidez fa-
MECANISMO DE AÇAO
- cial e corporal, estrias, su lcos, rítides, adipos idades e tipo-
distrofia ginoide (Quadro 92.1).
A radiofrequência é um tipo de corrente alternada de
alta frequência maior q ue 3.000 hertz (Hz) que irá promover
diatermia, ou seja, aquecimento através do calor profundo. CONTRAINDICAÇOES
-
Ocorre a conversão da e nergia elétrica em energia tém1ica, Portadores de marca-passo, desfibriladores, aparelhos
o que promove o aquecimento em torno de 40°C na der- aud itivos, implantes metálicos, neoplasias, diabetes, pa-
me profunda e subcutâ nea, enquanto a superfície cutânea cientes bron zeados, gravidez, doenças do colágeno, preen-
mantém-se resfriada e protegida, o q ue provoca a contração chimentos definitivos, acne em atividade, uso de isotreti·
das fibras de colágeno. A elevação térmica melhora o trofis- noina, uso de anticoagu lantes e região das pálpebras.
mo tissular, com melhor aporte n utriciona l de oxigên io e
o ligoelementos para o tecido, forta lecendo a qua !idade dos
adipóciws e provocando lipólise homeostática e produção PROCEDIMENTOS
de fibras eláSticas e colágenas de melhor qualidade. 1•2
O equipamentO deve ser ajustado co nforme a área de
tratamento, o tempo do procedimento e o percentual de
EQUIPAMENTOS energia a ser utilizado. Devem ser retirados objetOs me-
Existem dois tipos de eq uipamentos de radiofreq uên- tál icos, como a néis, pu lseiras, b rincos, colares e piercings.
cia: mono polar e b ipolar. Util iza-se gel condutOr neutro.

532
Capítulo 92 • Radiofrequência

Quadro 92.1 Protocolo básico da radiofrequência COMPLICAÇÕES


Area a trat ar Tempo Energia Podem ocorrer hiperemia, queimadura da pele em ra-
Face 10 minutos 10%
zão da falta de gel, hiperpigmentação e atrofia do tecido
{unilat eral) conjuntivo por superdosagem ou uso contínu o.
Ao redor dos olhos 3 minutos 10%
{unilat eral)
CONSIDERAÇOES FINAIS
-
Testa 3 minutos 10%

Pescoço 10 minutos 20%


A rad iofrequência é um procedimento não invasivo,
que promove melhor aporte circulató rio e de nutrientes
Abdome 20 minutos 40% a80%
e contração do tecido de colágeno com reorgan ização das
Coxa 10 minutos 50% a80% fibras do colágeno e elastina, provocando lipólise homeos-
{unilat eral) tática. Trata-se de uma opção para tratamento não ablativo
Perna 8 minutos 50% a90% de flacidez cutânea e adipos idades.
{unilat eral)

Braços 15 minutos 40% a60% Referências


{unilat eral) 1. Van der Lugt C, Romero C, Ancona O, Al-Zarouni M, Pereira J, Trel-
Costas 20 minutos 40% a60% les MA. A multicenter study of cellulit e treatment with a variable
emission radiofrequency system. Alizonne Preventiva and Cos-
Mãos 5 minutos 10% a 20% metic Medicina, Meijel. Holland Dermatoi Ther 2009; 22{1):74-84.
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radiofrequency device. J Drugs Dermatol2007; 6{2):212-5.
3. Hassun KM, Bagatin E, Ventura KF. Radiofrequencia e Infraver-
O handpiece deve ser movimentado de maneira uni· melho. Rev Bras Med 2008; 65: 18-20.
forme, com movimentos nem mui to lemos, nem mui to 4. Alexiades AM, Dover JS, Arndt KA. Unipolar radiofrequency
rápidos. treatment to impove the appearance of cellulite. J Cosmet Laser
Ther 2008; 10{3):148-53.
Deve-se ter cuidado na região das pálpebras e da tireoi- 5. Manuskiani W, Wanitphakdeedecha R. Treatment of cellulite
de. O incremento de síntese de colágeno é em torno de w ith a bipolar radiofrequency, infrared heat and pulatile suction
38°C a 40° e o de lipólise, entre 43°C e 45°C. device: a pilot study. J Cosmet Dermat ol 2006; 5(4):284-8.
Complicações dos lasers:
Oueimaduras e Intercorrências
Emanuella Acác ia Alves Barbosa

O uso do laser em dermatologia tem se expand ido mu i- Mesmo com os lasers ma is segm os, e com o treinamen-
tO nos últimos anos, e o avanço tecnológico tem promovido to adequado do executor, podem ocorrer complicações.
eficácia maior e melhores respostas terapêuticas. No enta n- Conhecer os efeitos colaterais dos lasers é importante para
to, ma is complexa se torna a compreensão de seu uso, suas preven ir, diagnosticar e tratar precocemente as possíveis
ind icações e possíveis efeitOs inesperados ou não desejados. intercorrê ncias.
O concei to da focotermólise seletiva, desenvolvido por Os lasers ablativos têm gra nde afin idade pela água e,
Anderson & Parrish em 1983, forneceu subs ídios para assim, removem completamente a epiderme e parte da der-
uma nova geração de laser mais precisa e segura. O concei- me, proporcionando excelentes resul tados no fowenvelhe-
tO da fototermólise seletiva estabelece que um cromóforo cimento.3
o u alvo específico possa ser destruido seletivamente com Os lasers não ablativos promovem acometimento tér·
o mín imo de danos térmicos colatera is.' Quando o com- mico da der me (vasos, melan ina, pigmento exógeno) e não
primemo de o nda do laser coincide com o compri mento removem a epiderme. 3 Proporcionam bo ns resultados, cur-
de o nda absorvido pelo cromóforo, este deve ser exposto à to período de recuperação e men ores efeitos colatera is.
e nergia do laser por um interva lo menor que seu tempo de Nesses lasers, o fracio namento foi recentemente intro-
relaxamento térmico. O tempo de relaxamento térmico é d uzido de modo a oferecer um s istema seguro como os não
o tempo necessário para que o tecido irradiado perca cerca ablativos e eficientes como os ablativos.
de 50% da energia recebida sem que ocorra difusão para o Os lasers não abla tivos fracio nados criam zo nas mi·
tecido vi zinho 2 Assim, pulsos maiores q ue o tempo de re- croscópicas de lesão térmica dermoepidérmica, deixando
laxamento térmico do tecido-alvo levarão a difusão térmica íntegro o estrato córneo. Já os lasers ablativos fracionados
ao tecido vi zinho e, consequentemente, provocarão danos formam colunas de ablação total dermoepidérmica•.s
térmicos indesejados com risco de cicatrizes inestéticas. Desenvolvido em 1964, o laser de C01 emite um feixe
Os lasers que se enquad ram na teoria da fototermólise de infravermelho a 10.600nm. Seu comprimento de o nda
seletiva são mais específicos e apresentam menos riscos de é intensamente absorvido pela água intra e extracelular. O
lesões adjacentes. São eles: os lasers pulsados, ultrapulsados laser de C01 COntínuo foi O pri meiro a ser desenvolvido
e Q-Swítched e os sistemas de scanner. Com os lasers conti· como instrumento de corte ci rll rgico. Seu uso foi li mi tado
n uos é ma ior a probab il idade de efei tos adversos, pois são em virtude do perigo de desidratação dos tecidos adjacen-
menos seletivos, podendo ocorrer d issipação da energia tes. Essa lim itação levou ao desenvolvimento de lasers de
em forma de ca lor aos tecidos adjacentes 2 col pulsados, que permitem um resurfacing com maior
Outros fatOres podem resultar em altas taxas de morbi· precisão e menores riscos.
dade com o uso de qualquer laser, como pu lsos repetitivos A~ primei ras tecnologias com laser para resurfacing, de-
o u sobrepostos, parâmetros excessivos e seleção inadequa- senvolvidas por meio do sistema de fototermólise seletiva,
da do paciente. 3 SÓ eram aplicadas ao SiStema de o ndas COntinuas, C0 1 de

534
Capítulo 93 • Complicações dos Lasers: Queimaduras e Intercorrências 535

10.600nm e Erbium:YAG de 2.940nm, 45 proporcionando Os lasers não ablativos fracionados su rgi ram como
resultados muitos satisfatórios no tratamento de cicatrizes uma tentativa de melhorar os efeitOs de estimulação do
e no rejuvenescimento. Apresentam, no enta nto, tempo colágeno em relação aos lasers infravermel hos curtos não
de recuperação demorado e altas taxas de efeitos colatera is ablativos (laser de d iodo de 800 a 1.450nm e Nd:YAG de
devido à exposição prolongada à energia do laser 4 ·; 1.064nm, pulso longo) e dim in uir os efeitos adversos da
Em 2006 foram introduzidos os lasers ablativos fracio- ablação epidérmica.4
nados com C01 e Erbium:YAG, com os quais apenas as Com compri mentos de onda de 1565, 1550 (Erbium
colunas epidérmicas são removidas. Proporcionam ma ior glass laser), 1.540nm (Erbium glass rod laser) e 1.440nm, es-
controle na profu ndidade de ação, da nos térmicos ma is timulam o colágeno atravéS de colunas de coagu lação der-
seletivos e red ução dos efeitos colaterais graves, sem com- moepidérmica, sem ablação da epiderme. São ind icados
prometimento da eficácia.6 para tratamentos de cicatrizes de acne, pós-cirúrgicas ou
traumáticas, discromias, fotoenvelhecimento, melasma, es-
-
LASERS NAO ABLATIVOS NAO FRACIONADOS
- trias, flacidez e rugas profu ndas 4
-
E NAO ABLATIVOS FRACIONADOS
Proporcio nam recuperação rápida, resul tados satisfa-
tórios e efeitos colaterais mí nimos, porém seu custo é altO
Os lasers não ablativos emitem luz na porção infra- e necessita vá rias sessões (Quad ro 93.1).4
vermel ha do espectro eletromagnético (100 a 1.500nm).
Nesses comprimentos de onda, a absorção da água é fraca, COMPLIC~ÇOES
-
E EFEITOS ~OLATERAIS DOS
o que leva à penetração mais profu nda no tecido. Estimula LASERS NAO ABLATIVOS NAO FRACIONADOS
a neocolagênese sem o rompimento da epiderme, causan-
do dano térmico na derme (vasos, melan ina, pigmento Eritema
exógeno), o que lim ita os efeitOs adversos e promove me- Em praticamente rodos os pacientes tratados com la-
nor tempo de recuperação. Embora os resu ltados sejam ser, ocorre algum grau de eritema, que, em geral, d ura no
menos agressivos, esses lasers são de interesse especial em máximo 24 horas em lasers não ablativos. 1 A conduta é ex-
pacientes com fototipo alto, nos qua is o risco de complica- pectante, dependendo de cada caso, devendo ser evitada a
ções é maior com os lasers ablativos 2 exposição ao sol e calor.

Q uadro 93.1 Tipos de /asers não ablativos não fracionados e suas indicações

Tipos de lesers Comprimento de onda Indicações

Alexandrita 0 -Swirched 755nm Remoção de pigmentos e tatuagens

Rubi 0-Swirched 694nm Remoção de pigmentos. tatuagens e lesões melanocíticas

Nd :YAG Q.Switched 532nm Tatuagens com pigmento vermelho, laranja ou amarelo

Nd :YAG Q.Switched 1.064nm Tatuagens com pigmento preto ou azul

Corante pulsado (dye lasen 585 ou 595nm Lesões vasculares

KTP:YAG 532nm Acne

Nd:YAG 532nm Rejuvenescimento e TFD

Rubi 694nm Epilação

Diodo 810nm Epilação e lesões vasculares

Diodo 940nm Rejuvenescimento, acne e epilação

Diodo 1.450nm Acne e cicatrizes de acne

Alexandrita 755nm Epilação e lesões vasculares

Nd:YAG pulso longo 1.064nm Lesões vasculares, epilação e rejuvenescimento

Nd:YAG 1.320nm Remodelament o dérmico

Nd: Neodymium: TFO: terapta fotodinãm1ca; YAG: yrrnum-alumtnum-garnet.


Fonte: adaptado de J AM Acad Deermatol 2006; 55:482·9.
< 536 PARTE XXI • Lasers

Dor e desconforto
As queixas de dores e desconforto podem ser comuns
durante e após o uso de algu ns tipos de laser, as qua is po-
dem ser amen izadas com o uso de anestéS icos tópicos ou
injetáveis locais ou resfriamento. 7

Milio
Raramente ocorre com o uso de lasers não ablativos.

Púrpura
É esperado o surgimento de pürpuras após tratamento
de lesões vascu lares com laser de corante pu lsado. A pür-
pura é causada pela explosão fowacústica das paredes dos Figura 93. 1 Hiperpigmentação. crostas e cicatrizes após uso de
laser de diodo para depilação.
capilares dérmicos em razão do al to pico de energia do la-
ser, o que leva ao extravasamento de hemácias para o tecido
Importante para evitar q ue a cicatriz se torne perma-
vizinho. Esse tipo de púrpu ra pode d ura r de 7 a 14 dias,
nente,8 o tratamento cons iste na associação de infil tração
e sua incidência tem d iminuído devido ao uso de laser de
intrales ional de corticoide e gel de silicone tópico.
lo nga duração de pulso.8
Pacientes em uso de anticoagulantes o rais podem apre-
sentar sangramento puntiforme e púrpura na remoção de Hiperpigmentação
tatuagens. Mais comum em pacientes com fototipo alto, está asso-
Púrpura pode ocorrer, também, com o uso de outros ciada a resposta inflamatória dérmica acentuada. 1 Em geral,
aparelhos, embora menos comumente. é transitória. O resfriamento da pele é importante, sendo
essencial evitar exposição ao sol e ao calor (Figura 93.1).
Infecções
Não há registros mu ito frequentes sobre a ocorrência Hipopigmentação
de infecções com o uso de lasers não ablativos, sendo a mais Decorrente de alterações dos melanócitOs na junção
com um a infecção por herpes simples após uso de laser para dermoepidérmica, é mais frequente com o uso de lasers
epilação. A profilaxia é controversa para lasers não ablati· onde o cromóforo é a melanina e os pigmentos são exó-
vos, mas imprescind ível com o uso de lasers ablativos 8 genos.10 Ocorre, principalmente, após o uso de fl uências
altas, e nq ua nto a hiperpigmentação pode ocorrer mesmo
com a fluências ba ixas.
Bolhas e crostas Trata-se da complicação ma is recorrente com o tra-
Podem ocorrer em q ualq uer aparelho, sendo ma is co- tamento de tatu agens, esta ndo presente em 25% a 50%
muns com os lasers Q -Switclted, devido à destru ição do cro- dos pacientes. Os aparelhos de laser que ma is causam com-
móforo. São decorrentes de dano térmico à epiderme, do plicações na remoção de tatuagens são, em ordem decres-
excesso de cromóforo ou de fluências elevadas 9 cente: col de onda CO ntinua, rubi QS, alexand rita QS e
Nd:YAG QS.1
Cicatrizes hipertróficas Nas lesões pigmentadas, entre os lasers Q-Switclted, em
ordem decrescente, o laser rub i é o q ue ma is causa hipopig-
Em gera l, são mais frequentes com o uso de lasers abla- memação, seguido do alexa ndrita e do Nd:YAG.1
tivos, mas algumas situações podem pred ispor seu apareci- Após o término do tratamento, a exposição ao sol
mento, como:
pode recupera r a área hipopigmemada em um periodo de
o Aj ustes inadequados dos parâmetros (fluência e dura-
3 a 6 meses.
ção do pul~o).
o Sobreposição do laser em mesma região ou em áreas

com derme mais delicada. Reações alérgicas


o Tabagismo. A d ifusão do pigmento da tatuagem após sua fragmen-
o Infecções. tação pode causar reações alérgicas locais urticariformes e,
o Doenças do colágeno. raramente, sistêmicas.1
Capítulo 93 • Complicações dos Lasers: Queimaduras e Intercorrências 537

Leucotríquia Quadro 93.3 Complicações mai s comuns dos /asers não


ablativos não fracionados
Alguns casos foram relatados em pacientes pós epila-
ção a la.ser e luz intensa pulsada. Eritema
Púrpura
Infecções
Hipertricose paradoxal Bolhas e crostas
Cicatrizes hipertróficas
Complicação descrita após epilação a laser, geralmente Hiperpigmentação
é adjacente à área tratada. Possivelmente, é decorrente da Hipopigmentação
dissipação de energia térmica subterapêutica para as áreas
adjacentes ao tratamento e da consequente estimulação de
folículos pilosos-"
ções graves estão representadas pelas cicatrizes, ectrópio,
infecções graves e sinéqu ia. Outras complicações relatadas
Complicações oculares
incluem bolhas e escoriações lineares, que são transitórias
Atrofia de íris e uveíte foram relatadas após epilação a (Quadro 93.3).
la.ser de sobrancelhas com laser d iodon É importante o uso
de protetOres intra ou extraocu lares, de acordo com o caso.
Complicações leves
-
COMPLICAÇOES E EFEITOS COLATERAJS DOS
Dor e desconforto
A dor e o desconforto são comuns após resurfacing e
LASERS ABLATIVOS E DOS LASERS NAO
podem ser tratados com a nsiolíticos Oo razepam) e a nalgéS i·
ABLATIVOS FRACIONADOS cos o rais (codeína). Também são úte is compressas ou sprays
As complicações e os efeitos colaterais ma is comu ns com água fria 13
no resurfacing com o uso dos la.sers ablativos fracio nados e
não fracionados e não ablativos não fracionados podem Eritema
ser classificados, q uanto à gravidade, em leves, moderados
O eritema após resurfacíng ocorre em 100% dos pacien-
e graves (Quad ro 93.2).
tes, sendo mais p rolo ngado nos proced imentos ablativos.
As complicações leves incluem dor e desconfortO, erite-
ma, edema, formação de milio, acne, dermatite de contato,
o e ritema é ma is intenso após o uso do laser col e pode
persisti r por meses (I a 8 meses). No resurfacing não abla-
prurido e púrpura.z As complicações moderadas incluem
tivo, o eri tema persistente é o que dura mais de 4 dias•·s
hiperpigmentação pós-inflamatória, hipopigmentação tar-
O eri tema é proporcio nal à profundidade do refi•rfa-
dia e infecções bacterianas, vira is e fú ngicas. As complica-
cing e tem pred ileção pelas áreas de cica tri zação retardada.14
Está associado a aumento do fluxo sanguíneo secundá-
Quadro 93.2 Complicações leves. moderadas e graves ria à resposta in flama tó ria pós-laser, imaturidade epidérmi-
ca, redução da absorção da luz pela melan ina e modifica-
Complicações Complicações Complicações ção das propriedades ópticas da pele.n
leves moderadas graves
Alguns fatOres estão associados a risco ma io r de erite-
Dor e desconforto Hiperpigmentação Cicatrizes ma persistente, dentre os qua is se destacam:
pós-inflamatória
o Altas fluências.

Erit ema Hipopigmentação Ectrópio o Sobrepos ição da radiação do la.ser ou vá rias passadas.
t ardia o Desbridamento agressivo e ntre cada passada.

Edema Infecções Infecções o Infecções e dermatites no pós-operatório, trauma ou

bacterianas, virais sistêmicas uso de substâncias irritantes (promovem cicatrização re-


e fúngicas tardada).11
M ilio
Para o tratamento, o uso de ácido ascórbico tópico
Acne
após a reepitelização pode reduzir o eritema. Ai nda é co n-
Dermatit e de troverso o uso de corticoides tópicos após o laser, pois pode
cont ato
induzir eritema pers istente e formação de telangiectasias.
Prurido Entreta nto, devem ser empregados em áreas localizadas
que apresentarem s inais com potencial para formação de
Púrpura
cicatrizes (Figu ra 93.2}.4·;·14
< 538 PARTE XXI • Lasers

de barreira cutânea, o que torna a pele ma is suscetível a


irritantes, como perfumes, pomadas e até maquiagens, que
devem ser evitadas nas p rimei ras 2 semanas pós-laser.
O tratamento baseia-se na suspensão dos agentes irri-
tantes e no uso de compressas de água ou gelo, podendo
ser utilizados corticoides tópicos e ami-histamínicos o rais
para melho ra do q uadro .s

Prurido
Pode ser secundário à cicatrização normal, mas vários ou-
tros componentes podem agravar o prurido, dentre os quais
se destacam: ressecamento, infecções e reações alérgicas. 11·14
O tratamento pode ser rea lizado com ami-h istaminicos
Figura 93 .2 Eritema e edema após laser C02 fracionado. e, em alguns casos, corticoides tópicos. Os pacientes devem
ser orientados a não coçar, para evitar o risco de cicatrizes.
Edema
O edema após o proced imento depende de cada pacien- Púrpuras
te. Dura, em média, de I a 3 dias, embora, em alguns pacien- Ocasionalmente, podem ser visualizadas, especialmente,
tes, possa du rar até I semana. O risco de edema também au- na região periorbitária, após a utilização de altas fluências. É
menta com altaS fluências. Pode ser tratado com compressas recomendável a não utilização de agentes anti-inflamatórios
de gelo a intervalos de 10 minuros nas primeiras 24 horas não esteroides, ácido acetilsalicílico e outros anticoagulantes
após o tratamento . Alguns médicos defendem o uso de cor- no período pós-laser imediato, para diminu ir o risco de púrpu-
ticoides tópicos ou sistêmicos após o tratamento .. ras nesses pacientes. Os pacientes também devem ser aconse-
lhados a não esfregar os olhos ou coçar a pele tratada, devido
Formação de milio ao aumento da fragilidade da pele após o proced imento.4
Mil io são pequenos cistos de inclusão que podem
surgir durante o processo de cicatrização após o uso de Complicações moderadas
lruer. Em geral, ocorrem de 3 a 8 sema nas após o proce-
dimento e sua incidência va ria de até 14%, em pacientes Hiperpigmentação pós-inflamatória
q ue realizaram o lruer ablativo não fracionado, a até 19%, Ocorre aproximadamente 4 semanas após o uso do la-
em pacientes submetidos ao lruer não ablativo fracionado. ser e pode d urar meses. A h iper pigmemação tra nsitória é a
Ocorre após o uso de curativos oclusivos, e o uso excessi- complicação mais observada. Sua incidência é ma ior com
vo de óleos ou pomadas durante a reepi tel ização. Pode ser o uso de lasers ablativos do q ue com os lasers fracionados .
retirado com agu lha o u com o uso de ácidos glicólicos ou Pacientes com forotipos altos e alterações pigmentares pré-
tretinoína, porém a maioria resolve espomaneamente.4 •11•14 v1. as sao
- .
ma•s . . l
suscet•ve•s.
Eri tema imenso e prolongado e a p rofundidade atin-
Acne gida pelo laser determinam a gravidade e a duração da h i-
A maioria dos casos de acne ocorre após o uso de la- percromia. É importante o preparo do paciente com des-
ser não ablativo e não fracionado (até 800;6 dos pacientes). p igmentame até 3 meses ames do procedimento, além de
Com os lasers fracionados, as eru pções acneiformes podem proteção solar rigorosa.11
acometer entre 2% e 10% dos casos• Em geral, surge nas 2 Para o tratamento, despigmemames podem ser utili-
primeiras semanas após o uso do laser e se deve às alterações zados após o processo de reepiteli zação, sendo possível as-
da epiteli zação folicular d urante o processo de cicatrização. sociar con icoides de baixa potência para dimi nuição do
A suspensão de curativos oclusivos, pomadas e vase- processo inflamatório. Em casos persistentes, peelings super-
linas pode resultar em resolução espontânea do quad ro . ficiais e microdermoabrasão podem ser utilizados. Algu ns
O uso precoce de antib ióticos sistêm icos deve ser estudos relatam melhora da h iperpigmentação e do eritema
prontamente iniciado para evitar cicatrizes.4 prolo ngado com o uso de luz imensa pulsada (Figura 93.3)1 ;

Oematite de contato Hipopigmentação tardia


Caracteriza-se por edema, eritema e ardor nas primei- Sua ocorrência é menos freq uente e está d iretamente
ras semanas após o uso do laser. É decorrente da ausência relacionada com o grau de dano té rmico tecid ual, a pro-
Capítulo 93 • Complicações dos Lasers: Queimaduras e Intercorrências 539

ser utilizada para diagnosticar Pseudomonas aeru.ginosa, vi-


sualizando fluorescência esverdeada.4·n
As infecções fímgicas apresentam-se com prurido, dor,
erosões esbra nquiçadas e lesões sa télites fora da região tra-
tada."·'9 In icia-se do sétimo ao 14"dia após o uso do laser,
sendo o agen te ma is frequente a Candida albicans, no e n-
tanto , em caso de suspeita, é importante realizar exame
micológico direto.19
O tratamento é realizado com uso de flu conazol oral
e antifúngicos tópicos.nA profilaxia se faz necessária em
pacientes que apresentam risco aumentado, como história
de d iabetes, queil ite angu lar, cand idiase oral, ungueal ou
vagina l ou imunossupressão.19
Figura 93.3 Estrias hiperpigmentadas após tratamento com As infecções vira is são as mais comuns após o res-
co2 fracionado. surfacing a laser, sendo a reativação do vírus da herpes a
ma is freq uente• O diagnóstico é dificu ltado pela ausên-
cia da epiderme, não tem lesões ves icobolhosas clássicas.
fundidade da ablação causada pelo proced imento e o eri· Apresentam-se com prurido, erosões superficiais e cicatri-
tema persistente. Na h ipopigmentação verdadeira, verifica· zacão retardada.4·;,n
-se dim inuição do número de melanóci tos. Em pacientes '
A profilaxia é necessária em todos os pacientes, deven-
submetidos a tratamentos ablativos, pode se man ifestar de do ser in iciada 2 dias ames do procedimento e mantida
3 a 10 meses após o procedimemo 2 ·"·H por até 7 dias, até ser completada a reepitelização. Pode-se
Para o tratamento podem ser util izados psora lenos utilizar famciclovir o u va laciclovir, 500mg, de duas a três
tópicos e ultravioleta A, além de peelings químicos (para vezes ao dia. Doses mais elevadas podem ser necessá rias em
suavizar linhas de demarcação),..·16 Cuidados especiais de· casos de infecção herpética mesmo com profilaxian
vem ser tOmados com a lin ha da mand íb ula, poi~ se trata
de uma região ma is suscetível a hipopigmemação e cicatri·
zes. O uso de lasers vasculares o u de pigmento (alexa ndri ta Complicações graves
e Q·Switched), ass im como novo resurfacing, de C01, pode Cicatrizes
amen izar as di~cromias. 1 7 São as complicações mais temidas e mais graves após o
resurfacing. Podem ocorrer cicatrizes transitórias em até 2%
Infecções dos pacientes,14 e apenas I% é permanenten·14 Podem ser
As infecções podem ser bacterianas, virais ou fúngicas, atróficas, h ipertróficas o u q ueloidianas. Os pri meiros s i-
e podem se tOrnar complicações graves, se não identifica· nais são prurido, eritema prolongado, leve endurecimento
das e tratadas adequadamente. e cicatri zação retardada.
A~ infecções bacterianas são raras após proced imentos Algumas áreas são mais propensas ao aparecimento de
com lasers não ablativos fracionados e sua ocorrência é baixa cicatrizes, como região perioral, queixo, pescoço e região
com os ablativosU' O agente mais comum em feridas aber· mandibu lar. Com frequência, ocorrem em áreas após com-
tas é o Staplrylococcus aureus e, em feridas oclusivas ou na· plicações como dermatite de contato, infecções o u cuja
queles que fizeram uso de antibióticos profiláticos, o agente ablação atingi u a derme reticular4 ·"·H·10
ma is frequente é a Pseudomonas aeruginosa." Os sintomas e Deve-se ter cautela em caso de pacientes com foto tipo
sina is ocorrem do segu ndo ao décimo dia pós..Jaser e os ma is alto, pacientes com histórico de alterações da cicatrização,
observados são: dor, prurido, eritema excess ivo, erosão cutâ· rad ioterapia, peelings ou dermoabrasão, blefaroplastia, ou
nea com formação de crostas e exsudaw purulento e fétido. pacientes que fizeram uso de isotretinoína oral 6 meses a n-
As infecções bacterianas secu ndárias se apresentam como tes ou 3 meses após o uso, os quais apresentam ma ior risco
impetigo, pouco dolorosas, com secreção e crostas."·14 de cicatrizesn
A utilização de antibioticoterapia p rofilática para o Para o tratamento de cicatrizes leves pode ser utilizado
tratamento ablativo a laser ainda é controversa. Deve-se so- clobetasol a 0,5% em gel, uma vez ao dia, por até 5 dias, o
licitar cultura e antibiograma das secreções e iniciar pron· q ual pode ser repetido. Pode-se também proceder à infiltra-
ta mente antibióticos sistêmicos de largo espectro (penicili· ção com triancinolona associada a 5·fluorouracil. Massagens
nas, cefalosporinas de primei ra geração ou ciprofloxacino), manuais e corticoides fluorados oclusivos podem ser
até que o resu ltado esteja d ispon ível. A luz de Wood pode úteisn· 16 O uso de alguns lasers também está indicado para
PARTE XXI • Lasers

o tratamento das cicatrizes hipertróficas como o Nd:YAG cessá rios para um proced imento segu ro e tranqu ilo. Ass im
(1.064nm) e o laser de corante pulsado (585nm).4.S·14 como a utilização de med idas preventivas, o reconhecimen-
to imed iato dos efei tos colaterais e seu tratamento adeq ua-
Ectrópio do irão d iminuir as compl icações e seque las a lo ngo prazo.
Normalmente, no primeiro mês, ocorrem, ectrópio e
cicatriz h ipertrófica. Podem ocorrer nas pá lpebras inferio- Referências
res, após ablação agressiva, mesmo com os lasers fraciona- 1. Anderson RR, Parrish JA. Selective photothermolysis: precise
dos.4·11·10 Blefaroplastia prévia e flacidez pa lpebral podem m icrosurgery by selective absorption oi pulsed radiation. Scien-
também predispor ao ectrópio . Na região infraorb itária, ce 1983; 220:524-7.
2. França E R. Complicações e efeitos adversos com o uso do laser.
recomenda-se a utilização de poucas passadas e baixas den- In: Osório N, Torezan L (eds.) Laser em dermatologia. São Paulo:
sidades, de modo a dim in uir os riscos de ectrópio. Em al- Roca, 2009:263-73.
guns pacientes, o ectrópio pode ocorrer de ma neira transi- 3 . Handley J M . Adversa events associated with nonablative cut a-
tória imed iatamente após uso de laser. neous v isible and infrared laser treatment. J AmAcad Dermatol
2006; 55(3):482-9.
Para o tratamento podem ser util izados corticoides
4 . Met elitsa AL, AlsterTS. Fractionated laser skin resurfacing treat-
tópicos ou intralesionais, e a correção cir úrgica pode ser ment complications: a review. Dermat ol Surg 2010; 36(3): 1-8.
necessária em casos pers istentes-"·,. 5. Alster TS, Tanzi EL. Complicações das cirurgias a laser e luzes.
In: Goldeberg DJ (ed.) Laser e luz. Rio de Janeiro: Elsevier,
2006:107-1 5.
-
CONSIDERAÇOES FINAIS 6 . Campos V, Mattos RA, Fillippo A. Torezan LA. Laser no rejuve-
nescimento facial. Surg Cosmet Dermatol 2009; 1:29-36.
7. Dierickx CC, Grossman MC. Epilação com laser. In: Golderg DJ
Atualmente, os proced imentos a laser são amplamente {ed.) Laser e luz. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007:77-9.
utilizados na dermatOlogia e estética por serem pouco agres- 8 . Adamic M. Troillius A, Adatto M, Drosner M , Dahmane R. Vascu-
sivos e proporcionarem ótimos resultados, com tempo red u- lar lasers and IPLS: guidelines for care from the European Soci-
ety for Laser Dermatology. J Cosmet LaserTher. 2007; 9:113-24.
zido de recuperação e menores riscos de efeitos colaterais.
9 . Lanigan SW. lncidenceof Sideeffectsafter laser hair removal. J
Isso se deve ao desenvolvimento dos aparelhos com base AM Acad Oermatol 2003; 49:882-6.
na teoria da forotermólise seletiva e no fracionamento dos 10. Nanni CA, Alster TS. Laser assist ed hair rem oval: side effects oi
lasers. O uso de laser tem várias indicações, desde o fororre- 0-Swit ched Nd:YAG, long pulse druby, and alexandrite lasers. J
AM Acad Oermatol 1999; 41:165-71.
juvenescimento até a remoção ou atenuação de alterações
11. Alajlan A. Shapiro J, Rivers JK, McDonald N, Wiggin J, Lui H.
vasculares, pigmentares, cicatrizes e pelos. O procedimento Paradoxical hypertricosis after laser epilation. J AM Acad Derma-
pode causar danos ao tecido e cicatrizes, se mal conduzido t ol 2005; 53:85-8
(ou por uso incorretO, o u pelo não tratamento das complica- 12. Halkiadakis I, Shouriotis S, Stefanaki C et ai. lrirsatrophy and pos-
ções e dos efeitos colaterais precoce e corretamente). t erior synechiae as a complication oi eyebrow laser epilation. J
AM Dermatol 2007; 57:4-5.
É importante destacar que a modalidade de laser fra- 13. Sullivan AS, Delay RA. Complications oi laser resurfacing and their
cionado estabeleceu-se como ma is segura do que as de la- management. Ophthal Plast Reconstr Surg 2000; 16:417-26.
sers ablativos anteriores, pois dim in ui os riscos de lesões 14. Goldberg OJ. Ablative lasers and devices. In: Goldberg OJ {ed.)
térmicas s ignificativas. No e ntanto, com a expa nsão de seu Laser dermatology - pearls and problems. New York: Blackwell
2008:126-38.
uso, têm sido usadas fluências mais altas e muitas passa- 15. Kontoes PP. Víachos SP. Intensa pulsed light is effective in trea-
das, o que acarreta complicações. ting pigmentary and vascular complications oi C02 laser resur-
Alguns cuidados são extremamente importa ntes para a facing. Aesthet Surg J 2002; 22:489-91 .
segurança do paciente e do operador. Ambos devem utilizar 16. CarcamoAS, Goldman MP. Skin resurfacing with ablative lasers.
In: Goldman MP (edr.) Cutaneous and cosmetic laser surgery.
óculos que filtram o comprimento de onda especifico do laser
Philadelphia: Elsevier 2006:218-33.
que está sendo utilizado, para evitar danos visua is permanen- 17. Willard RJ, Moody BR, Hruza GJ. Carbon dioxide and erbium:YAG
tes. Aspiradores de fumaça e máscaras com filtros especiais laser ablation. In: Goldman MP (edr.) Cutaneous and cosmetic la-
são necessários para diminuir o risco de aspiração de mate- ser surgery. Philadelphia: Elsevier 2006:157-6.
18. Setyadi HG, Jacobs AA. Markus RF. lnfections complications ai -
riais virais e partículas de células em razão da vaporização do
t er nonablative fractional resurfacing treatment. Oermatol Surg
tecido, principalmente com o uso dos lasers de C01 e Erbiu m. 2008; 34 (11):1595-8.
Mesmo com profissio na is qua lificados e experientes 19. Alam M, Pantanowitz L, Harton AM, Arndt KA, Dover JS. A pro-
podem ocorrer complicações e efeitOS colaterais. São im- spectiva trial oi fungai colonization after laser resurfacing oi the
portantes o aconselhamento adeq uado e a ava liação deta- face: correlation between cultura positivity and symptoms oi
pruritus. Oermatol Surg 2003; 29{3)255-60.
lhada de cada paciente, a adesão à orientação médica e 20. File DJ, Fitzpatrick RE, Zachary CB. Complications oi fraction-
supervisão constante de rodos os tratamentos. O registro al C02 laser resurfacing: four cases. Lasers Surg Med 2009;
por meio de fotos e a assinatu ra do termo de risco são ne- 41 :179-84.
Cavitação, Ultracavitação ou Ultrassom Cavitacional
Ma ria do Carmo Sa ntos Wandeck

Os ultrassons nada mais são que aparelhos q ue usam


-
MECANISMO DE AÇAO
vibrações sonoras, como as q ue saem por um alto-falante, A explosão de nanobolhas, p rovocada pela d iferença
mas com frequências superiores às que podem ser captadas de pressões, libera um enorme volume de energia, criando
pela aud ição humana. pressão na membra na celular do ad ipóci to, que libera, na
O ultrassom cavitacional é um equ ipamen to que se corrente sanguí nea, molécu las de gordura que são elim ina-
baseia na util ização de ondas de ultrassom com ma is de das pelo orga nismo (Figu ra 94.1).1
30 wattS de frequência, sendo também classificado como O u ltrassom cavitacional gera uma cavi tação estável e
ultrassom do tipo H IFU: instável, realizando aberturas tra nsi tó rias nas membra nas
H - High. celulares. Esses danos causados aos ad ipóci tos provocam
I - lnteruity uma resposta inflamatória composta, principa lmente, por
F - Focused macrófagos, neutrófilos, cél ulas plasmáticas e linfócitos,
U - Ultrasound que são atra ídos ao local para fagocitar e tra nsportar as
células dan ificadas.
Em o utras palavras, trata-se de um ultrassom foca liza- Vale a pena destacar que o processo de li~e de ad ipóci tos
do de alta intensidade (HIFU), usado em medicina desde ocorre sem causar nenhum da no aos tecidos adjacentes.
1989. Consiste em um aparelho méd ico de alta precisão que Os triglicerídeos são liberados no flu ido intersticial e
consegue destru ir, por ablação, o tecido considerado pato- gradua lmente transportados pelo sistema vascular hepáti·
gênico. O mesmo tipo de onda é usado em medici na para co. O tecido hepático não consegue d istingu ir entre as gor-
litOtripsia - a destru ição de cálculos re nais por ondas ultras.- du ras próprias das células ad iposas destruídas e a gordu ra
sõn icas é semelhante ao tipo de ultrassom usado para rup- derivada do consumo alimentar.
mra e destru ição de miomas uterinos e câ ncer de próstata. Rad ica is livres também são prod uzidos durante a que-
Mais recentemente, passou a ser usado para o tratamen- bra de ligações e podem levar a reações de oxidação. Os
to de gorduras corporais loca lizadas, melhorando, de modo res íduos celu lares atraem macrófagos, neutrófilos, células
fácil e indolor, o contorno do corpo. Esse uso só se tornou plasmáticas e linfócitOs, que vão eliminar os resíduos ce-
possível com o controle de sua profu ndidade de penetração lu lares.
e o uso de transdutores preparados para limitar a penetração Os resíduos celulares são removidos do orga ni~mo pe-
de o ndas nos tecidos (l imitando sua profundidade de ação). las vias fisiológicas.'
Essas ondas são compostas por d iferentes pressões Há autores que d iscordam dessa afirmativa, como
pos itivas e negativas, que criam uma infin idade de nano- Ferre ira (2012), 4 q ue afirma que a gordura destruída du-
bolhas.' A~ nanobolhas crescem, tornam-se instáveis e im- rante esse trabalho tem tendência maior a deposi tar-se no-
plodem nas cavidades do liquido intersticial e no tecido vamente em certas zonas corporais, que seriam variáveis de
adiposo, promovendo seus efeitos. acordo com o sexo e a constitu icão•
física de cada um.

541
< 542 PARTE XXI • Lasers

Compressão
+

Expansão
150
Implosão

Crescimento
"'
.<::
100
o Onda shock
.o ~

~ ~ ~

.Q
& 50

Resfriamento
Formação Hot spot rápido

o 100 200 300 400 500

Tempo (ftS)

Figura 94.1 Como se formam as nanobolhas. (Fonte: acervo da autora.)

Para evita r esse risco, logo após a aplicação do u ltras- ma is d irecionados para as regiões trabal hadas (q ue, em
som cavitacional, o paciente deve fazer exercícios aeróbicos algumas clínicas, são determinados e acompa nhados
e/ou localizados, os quais vão ajudá-lo a consumi r e eli- por um profiss iona l fis ioterapeuta).
minar esses triglicerídeos, em vez de deixá-los acumular-se
em regiões do organ ismo nas quais o paciente tende a de- Os objetivos dos exercícios são:
positar gorduras de reserva. A~s im consegue-se d iminu ir a o Aumento da ci rculação e oxigenação tecidua l.
gordura loca lizada e melhorar mu itO o contorno corporal o Aumento do ri m10 de metabolismo, para queimar a gor-
do paciente. du ra excedente.
Não será possível chegar aos 100% de lipoaspiração o Leve drenagem.
ci rúrgica, mas, como atualmente a ma ioria dos pacientes o Ajudar a consumir os trigl icerídeos e ácidos graxos libe-
prefere p roced imentos não cirúrgicos, é poss ível alcançar rados na cavitação, pa ra que não voltem a se depositar
80% do resultado cirúrgico, de maneira segura e indolor, como tecido adiposo do paciente.
sem que o paciente tenha que se ausentar do trabalho e o Aconselha-se, também, em até 24 horas após o proced i-
com intensa satisfação.4 mento, drenagem linfática, que pode ser por e ndermo-
logia ou drenagem linfática manua l. Essa drenagem é
, -
TECNICA DE UTILIZAÇAO DO APARELHO necessária para estimular o sistema linfático do pacien-
te, que gera lmente é lento, principalmente em mulhe-
o Em gera l, uma sessão por semana de aproximadamente
res, levando ao acúmu lo e à reten ção de líqu idos nos
I hora.
tecidos.
o Aplica-se o transdu to r com movimentos circulares ou
lineares, com certa pressão e muita calma, nas áreas de
gordura localizada, sempre em movimento, sem pa rar
CONTRAINDICAÇOES
-
em um só lugar.
o Procede-se à drenagem trilaminar com o tra nsd utor o Nível de triglicerídeos elevado.
para d renagem, que vem com o aparelho, segu indo os o Aterosclerose.
movimentos de drenagem linfática. o Uso de marca-passo.
o Logo após, executa-se meia hora de plataforma vibrató- o Doenças hepáticas ou rena is graves.
ria, esteira ou b icicleta, com exercícios aeróbicos e/ou o G rávidas e lactames.
Capítulo 94 • Cavilação, Ultracavitação ou Ultrassom Cavitacional 543

• Doenças card íacas graves.


• Não usa r o aparel ho em áreas inflamadas ou feridas.
• Obes idade generalizada (índ ice de massa corporal
IIMC] > 28).
• Distúrbios de coagulação.
• Regiões interart iculares.
• Região de tireoide e traquéia.

FORMA DE APLICAÇAO
- Figura 94.2 Transdutor para drenagem estereodinâmica. (Fon-
te: Bioset.)
• O uso de uma generosa camada de gel próprio para ul-
trassom (q ue não seja muitO espesso) é necessário para
acoplamento completo do transdutor do u ltrassom (já
que o som também se propaga no ar e va i dispersar e
d iminu ir a ação do ultrassom, se este não estiver devida-
mente acoplado ao tecido).
• Mantém-se o cabeçote sempre em movimento durante ....
Plano de
a aplicação - passado de maneira lenta e focalizada em emissão
movimento ci rcu lar ou li near contín uo e compassado,
1cmf
com certa pressão.
• Determinam-se áreas de 15 a 20cm no máximo por apli- --
cação (ou calcula-se o uso de, aproximadamente, quatro
aplicadores por cada área a ser tratada).
• Tempo de aplicação: 30 minutos por área, com intensi· Figura 94.3 Ponteiras para lipólise (com profundidade de pene-
dade de 70%. tração e ações). (Fonte: Bioset.)
• Util iza-se a ponteira de d renagem linfática trilaminar
para conduzir parte da gordura liberada para os canais
linfáticos. Para cada tiro, as ponteiras pulsadas (I , 2 e 3cm)
• Deve ser lembrado que, logo após a aplicação, o pacien- d isparam dois pulsos com intervalo de I segundo cada
te deve fazer 30 minutOs de exercício para eliminação (Figura 94.3).
dos ácidos graxos e triglicerídeos liberados na ci rcu lação Entre cada d isparo mantém-se um tempo de relaxa-
e no liquido intersticial, de modo que estes não voltem mento (TR) de 4 segu ndos, para manter a segurança clín i-
a se acumular no paciente e sejam o máximo poss ível ca do proced imento.
queimados pelo exercício. O aparelho a ser usado deve conter ponteiras que li-
mitem a profund idade de ação das ondas cavitacionais,
visto que já houve uma morte, relatada na Itália, por lesão
APARELHO hepática grave em vi rtude do uso de um aparelho que não
O aparelho co ns iste em uma estação terapêutica de limitava a penetração da onda cavitacional.
ul trassom de IMHz em HIFU composta de quatro pon-
te iras, três sondas de ul trassom p ulsado de profund idades
diferentes: I, 2 e 3cm, tendo cada ponte ira uma potê ncia PRINCIPAIS INDICAÇOES
-
máxima de ISW e intensidades regu láveis. • Gorduras localizadas (braquia l, inframamária, abdom i-
Há, também, uma sonda maior, que contém três nal, flancos, cu lotes, intercostal etc.).
emissores de u ltrassom de I Mhz de ondas contínuas e • Modelagem e contorno corpora l.
com regulagem de frequência de 25 a 75Hz, com potên- • Pan iculopatia edemofibroesclerótica (PEFE) (celu lite).
cia máx ima de 45W: d renagem triplanar (três planos dis· • Complemento de proced imentos cirúrgicos.
tintos de aplicação) para desbloqueio suave dos linfono-
dos. Podem ser usados ativos durante a d re nagem para Para a obtenção do melhor resultado da terapêutica
obtenção de mel hores resultados durante a aplicação de é fundamental que utilizará o equ ipamento compreenda
produtos de uso local como: gel com cafeína, rutina etc. bem seu fu ncio namento e os mecan ismos metabólicos
(Figu ra 94 .2). para elim inação do tecido adiposo.
PARTE XXI • Lasers

VANTAGENS DO APARELHO DE
-
ULTRACAVITAÇAO
Bolha de cavilação
aumentada na fase
o Precisão. de descompressão

o Profundidade controlada (nos aparelhos que têm pon-


teiras com regulação da profund idade de ação).
o Tempo de aplicação.
o Segurança do método.
o Não é necessário que o paciente se afaste de seu serviço, Expansão máxima
da bolha
como acontece com procedimentos cirúrgicos.

Brown et al.; demonstraram alise de células adiposas


com o método, mas não observaram destruição celular dos
tecidos adjacentes, de vasos sanguíneos, nervos o u do teci-
A bolha implode na
do conjuntivo. Em seu trabalho, não houve modificações fase sucessiva de
histológicas nem outras mudanças na derme e na epider- compressão
me.
Pode-se conseguir a lise do tecido-alvo que é a gordura,
preservando rodas as outras estruturas importantes.
Outros tipos de aparel hos d isponíveis no mercado con-
tam com rad iofrequência acoplada ao aparel ho de HIFU,
o q ue é muitO útil para deixar muito mais rígido o tecido
onde se está fazendo a lipólise (sem a flacidez que poderia
ser causada pela lipólise).

Figura 94.4 Alterações das bolhas pela compressão e descom-


COMO SURGEM AS NANOBOLHAS EA pressão. (Fonte: acervo da autora.)
-
CAVITAÇAO?
É muito difícil explicar como surgem as nanobolhas Os adipócitos são compostos de triglicerídeos, ácidos
e a cavitação nos tecidos. Verificou-se que ondas acústicas graxos, colesterol, tOxinas etc. Os triglicerídeos são libera-
em pulso e superpulso são capazes de produzi r cavitação dos para os sistemas linfático e venoso e eliminados pelos
no tecido adiposo. Vários pesquisadores concordam que, rins; parte chega ao fígado, o nde se liga às proteínas.
provavelmente, o fato pode ser explicado pelo teorema de A vibração ultrassô nica em ondas gera uma série de
Bernoulli: "um fluido qua lquer, ao escoar, se for acelerado, microbolhas, promovendo uma compressão estável que
sofrerá redução na pressão, e para que sua e nergia mecâni- permite a separação dos nódulos gordurosos, a quebra das
ca se mantenha constante, provoca a cavitação". membranas de ad ipócitos e o dissolução da gord ura que
A cavitação consiste na vaporização local do fluido, eles contêm.
formando bolhas de vapor. Este tipo de cavitação funciona melhor em caso de
Para a fís ica, o processo de cavitação não é bom, pois flacidez associada, aplica ndo-se o efeitO térmico do ul-
provoca desgaste dos materiais em virtude da erosão as- trassom.
sociada (em turbinas, bombas e pistões). Na estética, no Pensamos na cavitação como uma alternativa à lipoas-
entanto, é possível enco ntrar benefícios para o bem-estar piração, obviamente em pacientes com IMC saudável e
e a saúde dos pacientes com lipodistrofias ginoides, per- percentual de gordura corporal dentro dos limites saudá-
mitindo a lipólise sem o uso de procedimentos cirúrgicos. veis (IM C até 28).
As microbolhas são formadas pela variação da pressão Os aparelhos de cavi tação geram cavitações estáveis e
(p. ex., a espuma formada na base de uma cachoeira é ca u- instáveis, criando aberturas transitó rias nas membranas
sada pela variação da pressão gravi tacional promovida pela dos adipócitos (por isso são chamados de ultracavitacio-
altura) (Figura 94.4). nai~) . O ultrassom cavitacional provoca pressôes positivas
As células adiposas têm uma membrana muito deli- e negativas e cria uma imensurável quantidade de nano-
cada, e a diferença de pressões causada pelas microbolhas bolhas.
provoca implosão e a formação de cavitação, o que quebra O mecanismo de formação de bolhas por redução tem-
as membranas plasmáticas dos ad ipócitos. porária da pressão é de grande interesse para a aplicação
Capítulo 94 • Cavilação, Ultracavitação ou Ultrassom Cavitacional 545

terapêutica do ultrassom (a cavitação cria energia que pode de gordura, o percentual de gord ura acima do ideal e o
gerar aquecimento e histotripsia). peso idea l.
A formação de bol has é usada por sua habilidade • São realizados exames laboratoriais de triglicerídeos e
em acelera r o aq uec imento tecidua l enquanto o tec ido colesterol tOtal e fracionado.
é submetido à cavitação. Essas bolhas se excitam faci l- • O paciente é fotografado de frente, costas e lateral d irei-
mente por ultrassom e podem provocar contração in i- ta e esquerda.
cia l estável. • Verificam-se a ind icação do método e a comra indica-
Entretanto, há também evidências que mostram que, ções para cada caso.
quando a bolha é produzida e eventua lmente se quebra • Determ inação das áreas em que será apl icado o apa-
(por colapso ou instabilidade no formato), o meio fica re- relho. Em nossa clinica usamos uma ou duas áreas
pleto de gás nuclear, o que pode criar novas bol has e a por tra tamento (abdome e cu lotes o u abdome e flan-
poss ib ilidade de formação de uma nuvem de bolhas, com cos etc.).
cavi tação ad icional. Como resultado, o li mite da nuclea- • Uma sessão por semana de 30 minutos de ultrassom,
ção pode ser loca lmente bem menor em um tecido em que ma is drenagem usa ndo a peça para drenagem do apa-
as bolhas já foram criadas do que em meios ainda não tra- relho.
tados. • Acrescentam-se, obrigatOriamente, 30 minu tos de plata-
A primeira bolha induzida é, portamo, de grande im- forma vibratória com exercícios d irecionados, principal-
portância. mente, para as áreas tratadas.
Em virtude da pressão de ampl itude mu itO alta, ne- • Acrescenta-se uma d renagem linfática por endermolo-
cessária para iniciar a cavitação, o u ltrassom focado de gia (seguindo movimentos de drenagem linfática trad i-
al ta ampl itude (HIFU) deve ser usado pa ra a formação cional).
de bol has. • Calcula-se o nLimero das prováveis sessões necessárias
O local preciso do evento de n ucleação perma nece des- (ci nco ou lO sessões).
conhecido e depende de: • Ao final do tratamento, são repetidas a perimetria e as
• Ampliação da pressão. fotos de cada paciente e os novos parâmetros recolo-
• Desconhecida distribu ição do gás nuclear nos tecidos. cados no programa de computador (planilha Cescorf.
-Excel) para q ue possam ser comparados com as medi-
A nucleação de bolhas em um pulso u ltrassõnico cur- das iniciais.
to prod uzirá, frequentemente, bolhas transitórias com um
máximo de onda de poucos milissegundos.
CUIDADOS NA APLICAÇAO DO APARELHO
-
Nucleação é um processo randõmico que só pode
ocorrer após um grande número de excitações de baixa • Demarca-se a área a ser tratada com lápis b ranco.
amplitude. • H igieniza-se a região com álcool a 7Qo ou solução de
cl indamicina.
• Aplica-se gel próprio para ul trassom, em boa quan-
tidade, para que haja pleno contato do transdutor
MÉTODO DE APLICAÇÃO NA PRÁTICA com a pele, não permitindo a entrada de ar (já que
CLÍNICA o u ltrassom se p ropaga no ar, o que atrapalha ria a
• Anamnese e exame físico completO do paciente (in- aplicação).
cluindo peso, altura, medidas de perí metro de braços, • Seleciona-se o tamanho da sonda (ou transdutor) a ser
tórax, ci ntura, região da crista iliaca, coxas a 15 e 30cm usada, o qua l será escolhido em função da profundida-
da crista il íaca). de que se quer atingir (I , 2 ou 3cm) e da patologia a ser
• Anotação das medidas fisioterapêuticas (perímetro ab- tratada (p. ex., o tratamento de celulite é ma is superfi-
domina l e pregas gordu rosas), util iza ndo o protOcolo de cial q ue o de gord uras localizadas).
Jacks Pollock, no q ual as pregas de gordura são medidas • Regula-se a máqu ina com os parâmetros a serem usados
com o plicõmetro nas segu intes áreas: tríceps, escapular, (se ultrassom pulsado ou contínuo, a intens idade dos
linha med ioaxilar, suprailíaca, abdom inal, quad riceps disparos etc.).
e pantu rrilha; além do perímetro dos glLi teos (nas mu- • Aplicam-se de dois a quatro d isparos em cada área,
lheres), abdom inal e do antebraço (nos homens). Além com uma pequena incl inação no transdutor durante
disso, procede-se ao cálculo do percentual de gordu ra os disparos, após o que é necessário trocar de área. O
por programa de computador (planil ha Cescorf.Excel), rransdutor deve ser sempre mantido em movimento,
avaliando o percentual de gordura ideal, o peso livre q ue pode ser circular ou retilíneo, mas sempre aplicado
PARTE XXI • Lasers

com calma e lentamente, com a certeza de que toda a


Tecido gorduroso e modificações*
área foi igua lmente atingida. Relação e ntre o tama nho
da área a ser tratada e a ERA (tempo gasto para em issão
do u ltrassom). A área poderá ser med ida pelo tama nho
dos cabeçotes (a cada q uatro cabeçotes, uma área, e para
cada á rea, lO minutOs).
o Troca-se a ponteira para a ponteira de dren agem este-
reo dinãm ica e triplanar do próprio aparelh o, seguindo
a direção do trajeto linfático.
o Planeja-se meia hora de exerc ícios na plataforma vi-
bratória, os qua is devem ser determinados e acompa- Tecido adiposo subcutâneo com hipertrofia e
n hados pelo fis ioterapeuta, para que o paciente possa hiperplasia de célula adiposa
que imar, po r meio dos exerc ícios, grande parte dos
trigliceríd eos que estão no inte rstício ou na circula-
ção, após serem liberados d os adipócitOs pela cavi-
tação.
o Além disso, sempre se associa drenage m li nfática com
e nd ermologia para condução do restante dos triglice-
rídeos e ácidos graxos liberados pela cavitação para
os gângli os linfáticos, e de modo a facilitar sua elim i-
nação.
Depois de Smin observam-se descompressão do
Nota-se, assim, que a utilização do u ltrassom cavitacio- subcutâneo e formação de vacúolos entre adipócitos
nal é uma forma d e elim inação de gordura corporal lo- por enfraquecimento da membrana e emulsificação
da gordura
calizada muito segura e indolor. Obviamente, não é tão
e ficiente quanto a lipoaspiração cirúrgica, mas não apre-
senta desconforto ou dor, e os pacientes se mostram muitO
satisfeitos com os resultados obtidos.

Variação da técnica
Para pacientes qu e apresentam volume localizado de
gordura muito acentuado, costuma-se injetar soro fisioló-
gico por via intradérmica e com micropunturas (co mo e m
mesoterapia) antes da aplicação do ultrassom cavitacional, Depois de 1Omin observa-se destruição da
o que leva a um resultado ainda melhor. Para cu lotes, in- membrana lipidica, causando emulsificação das
jetam-se, aproximadamente, 150 a 250mL de soro fisioló- áreas tratadas e tecido adjacente intacto
gico de cada lado, e para o abdome, 300 a 500mL. O uso
dessa técn ica baseia-se na crença de que o u ltrassom traba-
lha melhor e m meio líquido. Assim, são obtid os melhores
resultados com menor número d e sessões.
Traba lhos como os de Brown et al. 5 levam à conclusão
d e q ue o método é extremamente seguro, efetivo e não in-
vasivo, sendo ind icado para a melhora do contorno corpo-
ral. Esses autores mostraram a lise cel ular dos adipócitos,
sem destruição de vasos sa ngu íneos, nervos ou tecido con-
juntivo (Figura 94.5). Ao final da sessão, emulsificação geral é observada
Co nclui-se que o ul trassom cavitaciona l (ul trassom sobre toda a camada de gordura
focado de a lta inte nsidade), ou HIFU, é uma técnica
não invas iva de redução do tecido adiposo e que aj uda Figura 94.5 Explicação da ação do aparelho cavitacional provo-
muitO a obter uma melhor e mais harmôn ica aparê ncia cando contração no tecido adiposo e destruição dos adipócitos.
corporal. (Fonte: acervo da autora.)
Capítulo 94 • Cavitaçlio, Ultracavitaçlio ou Ultrassom Cavitacional 547

A produção de onda> ultra»ônicas é um fenômeno


CONSIDERAÇÕES FINAIS
fisico baseatlo no proce;,_.,o de gerar, aumentar e implodir
ca\·idades Je vapor e ga>e> em um meio líquido.
Como explicado previamente, a cavitação é um fenô-
Durame a pa-,agem da onda ultra;,sõnica em um te-
meno fi~ico de re..,sonância acústica que ocorre quando se
cido, protlu~-<oe o fenômeno de "compre>..,ã().<!xpansão",
emite uma fr~1u~ncia previamente determinada, que inci-
responsável pela cavitação.
de contra uma e...rrurura M\lida.
Na compre.o;.'>âo a pre.'>>ão é IX"itiva, enquanto na ex-
O u...o de:....a frequ~ncia de vibração especifica com cena pansão a pre:..'>âo t! ne1,'1!tiva, e e>ra alternância re..,ulta em
pott!ncia provoca a re;,_'><mância de moléculas de uma esrru- vácuo.
rura e microholha.., que colapsam e implodem, rompendo A cavítação se deve à e\'1lporação dos gases absor-
somente e>.'>a l!.'>trutura de modo sderivo,6 exarameme como vidos nos líquidos ao redor da cavidade, ou em sua in-
um camor lirico, ao emitir cenas notas musicais, consegue terface, Jurame a expansão. Essa evapMação rc:sulra na
explodir uma taça de cristal (o tom de sua voz apresenta uma expansão da cavidade, podendo promover a formação
frequência especifica, de baixa pOt~ncia, que ressoa un ica· de bolhas ou cavidad~s micrométr icas nos líquidos con-
me me conrra a taça, fazendo com que ela se quebre). tendo gás.
Sabe-se que o adipócito entra em ressonância com fre- O processo de cavitação é, também, responsável pela
quências e ntre 37 e 42 kl lz. resposta terapêutica do ultras.~om às pseudofihroses pós-
O uso d e uma vibração específica com ultrassom, com -cirú rgicas, assim como pelo tratamento da celu lite.
maio r capacidade de compre.~são e meno r efeito térmico, O processo de caviração também pode ser responsável
gera um campo de cavitação estável (m icrobol ha., de ar) pela liq uefação de um g~l (tixotropia) , mel hora ndo a ex-
para então implodir (Figu ra 94.6). tens ibilidatle dos tendões ~ podendo, inclus ive, romper a
Esse t! o processo de u ltracavitação, um novo mérodo molécu la de gordura (cavitação estávd: alteração do tama-
Jisponível para promover lipólise. nho de bolha Je ar).

Figura 94.6 Transdutor emitindo ondas de cavilação no tecido adiposo. !Fonte: acervo da autora.)
PARTE XXI • Lasers

,
CASOS CLINICOS

Figura 94.7 Abdome e flanco (antes e após 10 sessões). (Fonte: acervo da autora.).

Figura 94.8 Flancos e culote (antes e após 10 sessões) . (Fonte: acervo da autora.)
Capítul o 94 • Cavitaçlio, Ultracavitaçlio ou Ultrassom Cavitacional 549

Referências 4. Ferreira JD. Adlpocito-destruição. D•sponlvel em: www.joaode-


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2009.
theuc Plast Surg 2010; 5:577-82.
Medidas de Biossegurança na Utilização dos lasers
Rozana Castorina da Silva

Nos últimos anos, tem sido crescente a utilização dos Os lasers d e d iodo e de argônio podem atravessar a
lruers na med icina, os quais se constituem em fontes de ra- água e o utras estruturas transparentes, como o cristalino, e
diação eletromagnética ou luz com ampli ficação pelo efei- atingir a retina, ca usando da no'
to da emissão estimulada da rad iação. Ao incid ir sobre o Para a proteção dos dentes util izam-se gaze molhada ou
tecido, a luz do laser é parcialmente transm itida, refletida, protetores especiais, para evitar alterações na estrutura d os
parte se espalha e parte é absorvida. dentes, do esmalte dentário ou das próteses.
Os !asers podem ser seguros e ad equados aos tra- A fumaça oriunda do laser pode conter partícu las vi-
tame ntos, mas poderão trazer riscos para a segura nça rais, carbono, sangue ou gases tóxicos, os quais podem ser
do pacien te e do médico q uando não são respe itadas aspirados pelo paciente. 1
as normas de seguranças es tabelecidas para os proced i- Luvas, aventais e máscaras devem ser utilizados para
mentos.' proteção dos profissionais que estejam no ambiente onde
Os danos causados pelo uso do laser ocorrem, predo- é rea lizado o procedimento. Procedi mentos com lasers não
minantemente, nos olhos e na pele. As lesões são decor· podem ser efetuad os em grávidas.
rentes da ação di reta do feixe ou da ação ind ireta, quando
o feixe é refletido em superfície plana o u curva, espelhada
o u não. O efeito térmico do feixe de luz sobre o tecido é CONSIDERAÇÕES FINAIS
particularmente agress ivo. Nos olhos, o feixe incid indo na
Para a u tilização dos lasers devem ser adotadas medidas
córnea pode causar queratite, e se tiver potê ncia maior, po-
de biossegurança em todos os procedimentos, para que se-
derá atingir a retina e provocar danos irreversíveis. O dano
jam evitados riscos para os profissionais e os pacientes. Os
ocular pode ser evitado com o uso de proteto res oculares
riscos são específicos para cada tipo de apa relho, de acordo
adeq uados a cada tipo de laser. com o comprimento de o nda. Deve~e ter cu idado especial
Os óculos protetores devem conter informações sobre com os olhos e os dentes.
o comprimento de onda e a d ensidade óptica.
Os compri mentos de o nda visíveis e próximos ao infra- Referências
vermelho provocam d anos à retina. Os compri mentos de 1. Alster TS, Aplelberg DB. Cosmetic laser surgery. John Wiley and
onda infravermelho ou ultravioleta causam dano à córnea Sons, 1995:305-19.
e à esclera. 2. Alster TS. Manual oi cutaneous laser techniques. Baltimore: Lip-
pincon Willians and Wilkins, 1999:1-10.
o lruer de col, por ser absorvido pela água, é também 3 . Garden JM, O' Banion MK, Shelnitz lS et ai. Papillomavirus in
absorvido pelo filme de lágrima que recobre a córnea, ca u- the vapor oi carbon dioxide laser-treated verrucae. JAMA 1988;
sa ndo queimadura tra nsitória. 259(8): 1199-202.

550
PARTE XXII

,
ASPECTOS
,
ETICOS E
JURIDICOS
,
Aspectos Eticos eJurídicos da Publicidade Médica
Pa lova Amisses Parreiras
Gustavo Césa r Pa rreiras Cavalca nti

Art. 3• Ê ,,.,dado ao médico: ga l, apenas não poderão d ivu lgar sua atuação, mas jamais
a) Am•nciar, q14ando não especialista, poderão ser imped idos de atu ar na área da Dermatologia,
q"e trata de sistemas orgânicos, órgãos ou como se dermato logistas fossem, do ponto de vista do
doenças específicas, por indutir a con{t.são Conselho Federal de Medicina (CFM).
com div.,.lgaçâo de especialidade. Neste capítulo será abordado mais detidamente o co n-
fronto entre as leis vigentes no q ue concerne à questão da
publ icidade.
O artigo de lei tra nscrito na epígrafe deste capítulo é Embora possa parecer óbvio, à primeira vista, até mes-
parte integrante da Resolu ção CFM 1974/11, que "estabe- mo os conselheiros que fu ncionam como instrutOres nos
lece os cri térios norteadores da propaganda em Med ici na, processos éticos profissionais ou julgadores nas sessões
conceituando os anú ncios, a divulgação de assuntos médi- de julgamento do CFM o u nos Co nselhos Regionais não
cos, o sensacionalismo, a autopromoção e as proib ições re- compreendem a distinção entre a permissão da atuação e o
ferentes à matéria" e que tem s ido uma das resoluções ma is impedimen to para a publicidade.
infringidas pelos médicos, seja por sua completa inobser- Não é estran hável que o méd ico alçado à cond ição de
vâ ncia, seja porque os termos especialista e especialidade conselhei ro não dom ine as questões legais e suas várias
podem induzir co nfusão. n uances. Este faro é até compreensível. O inconcebível é
Ded icaremos um item específico para tentar d irimir os que, mesmo consciente desse seu desconhecimento, esse
eventuais equ ívocos que a interpretação dos termos espe- conselhei ro se d isponha a julgar os seus pares, aplicando
cia lista e especialidade pode suscitar para os méd icos que penalidades que podem variar de um simples dissabor (ad-
desejam publicizar sua a tividade profiss iona l. Aqueles que vertência) à verdadeira pena capital, que é a cassação.
fizeram residência em dermatOlogia e obtiveram o título Propaga nda sign ifica o ato de propaga r: "uma forma
de especialista, que registraram no Conselho Regional de de d isseminação de ideias que visa auxiliar ou prejudicar
Medicina (CRM), segundo a Resolução CFM 1.974/2011 uma causa ou uma pessoa física o u juríd ica".
em comento, tanto podem a tu ar na área na qual se espe- Reservar um espaço especial à publicidade médica em
cia lizaram como podem d ivulga r essa atuação, observados uma obra literária precipuamente científica, e dedicada a
os parâmetros traçados. colocar o médico a par das mais modernas formas e tecno-
Aqueles outros que fizeram um o u mais cursos logias para o tratamento da saúde humana, tem uma impor-
de pós-grad uação na mesma área de conhecimento e não tante razão de ser que não pode passar despercebida para o
obtiveram o registro do especialista no CRM, porque não profiss io nal que pretende continuar trabalhando com aten-
tentaram ou porque não passaram na prova de títu lo da dimento à saúde, que é evitar processos éticos ou judiciais.
Sociedade Brasileira de Dermato logia (SBD), mas conti· Nos ú ltimos a nos, os processos contra méd icos tOr-
nuam atuando na especialidade, conforme permissão le- naram-se usuais e raramente se e ncontra alguém que não

553
554 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

conh eça um médico processado, o u q ue não con heça al- vem demonstra r outra realidade, amplamente aplicada nos
guém que já processou um méd ico. Já se fala em ind ústria tribu nais judiciais e de ética.
de processo méd ico, dado o volume da demanda, como Além da abordagem dos aspectos éticos dessa intrinca-
também já se estuda a criação da vara especializada para o da questão da publicidade méd ica, buscaremos ana lisar os
julgamento de processos envolvendo hospi tais e méd icos. artigos do Cód igo de Ética Méd ica aplicados à publicidade,
Ventila-se q ue as varas especializadas seriam denominadas além da Resolução CFM 1.974, de 2011, surgida exatamente
Varas de DireitO Méd ico, mas também este tema merece pa ra dar uma interpretação e aplicação extensiva às normas
um tópico específico. já existentes, bem como para impor regras ma is rígidas.
Na ma ioria das vezes, os fatos sociais tem explicações e Med ici na e direito apresentam muitas s imilaridades, a
justificativas para sua ocorrência e com o aumento de de- começar pela d ificuldade na obtenção de resultados idên-
mandas contra os méd icos não é d iferente. Mui tas varian- ticos, mesmo q ua ndo os fatores e nvolvidos são similares.
tes concorrem para que a denú ncia ocorra e o médico se Explico. Pacientes com idade, quad ro clin ico e proced i-
veja obrigado a se defender. Infel izmente, mu itos méd icos mento cirúrgico iguais, operados pelo mesmo cirurgião,
percebem tardiamente q ue não se podem usar simples pa- podem apresen tar um pós-operatório totalmente d iferen-
lavras para a absolvição de uma acusação. Nas circunstân- te. Por que isso pode ocorrer? Porque a resposta orgân ica
cias de um processo, como se verá mais ad iante de modo é intei ramente ind ividua lizada, persona lizada, e mui tos
detalhado, a prod ução de p rovas é indispensável. pacientes se recusam a e ntender isso, quando obrigados a
Contudo, nos processos é ticos profiss ionais, embora co nviver com resultados adversos.
a carre ira e o ó rgão julgador sejam os mesmos (ca rre ira É mui to mais comum que o paciente, seus familiares e
méd ica e C RM), uma su rpresa tem se revelado ao b uscar o advogado da fam ília, ou contratado especialmente para
conhecer o den unciante. Enquanto em outras denúncias este fim, pretendam debitar na conta do médico o mau
contra médicos pacientes e/ou seus fam iliares são roti· resultado proven iente do tratamento méd ico, a pondera r
ne iramente os d enunciantes, nos processos envolvendo que seu estilo de vida, a inobservâ ncia de cuidados méd i-
a publicidade, embora a justifica tiva da existê ncia da cos ou mesmo suas q uestões co ngênitas foram decis ivos
Resol ução CFM 1.974/20 ll seja a de não ind uzi r os pa- para o resultado indesejado.
cientes a e rro, 99% dos p rocessos são iniciados a pa rt ir da Do mesmo modo, causas judiciais, partes no processo
den úncia da SBD, de ou tros dermatologistas e dos pró- e legislação a ser aplicada idênticas, cond uzidas por um
prios CRM. Por que? Esperamos encontra r a resposta até mesmo advogado, podem chegar a sentenças antagôn icas.
o final deste capítulo. Como na medicina, um ú nico fawr distinto, quando é in-
Uma vez que o Código de Defesa do Co nsumidor - discutivelmente releva nte, produz resultados díspares. Se
Lei 8.978/1990 equ iparou a atividade méd ica a toda e na medicina o d iferencial que enseja resultados d iversos é
q ualq uer p restação de serviço, seria de pressupor q ue o a resposta orgân ica do paciente, no di rei to essa "pedra de
médico teria o d ireito de d ivu lgar seus serviços em condi- toque" fica por conta do ju iz.
ções de igualdade com os demais profiss ionais, conforme O juiz julga de acordo com suas convicções pessoais,
estabelece a Constituição Federal, ao gara ntir a liberdade e não apenas de acordo com as provas constantes dos au-
de expressão. Contudo, essa não é a rea lidade. tos, e isso tem sido motivo de muita afl ição para o méd ico
Pelas especificidades que apresenta, como e nvolver os processado, acusado de publicidade indevida ou de causa r
aspectos da saúde h umana e as poss ibilidade de tratamen- danos ao paciente.
to, a publicidade méd ica deve a um só tempo da r visibilida- Diz..se que d ireitO seria a caracterização do bom senso.
de ao médico e também proteger os possíveis pacientes de Sendo assim, a sensatez estaria compilada em artigos de lei,
q ualq uer abuso que esse mesmo médico venha a praticar e não raro o que se vê é exatamente o opostO: há normas
com sua publicidade. desnecessárias, outras absurdas, outras ainda inaplicáveis e
Os pacientes são considerados hipossuficientes com mu itas injustas. Como o d ireito, cujo um dos conceitOs é
relação ao médico tanto por ca usa dos con hecimentos q ue "faculdade de fazer o u deixar de fazer alguma coisa em vi r·
este, em tese, detém, como também pela co ndição de fragi- tude de lei", e composto de um conjunto de leis lato sensu,
lidade que o paciente pode apresentar exatamente por es- pode parecer às vezes um contrassenso aplicá-lo.
tar na posição de paciente, embora o Código de Defesa do Felizmente, no entanto, nem sempre é assim. Existem
Co nsumidor não se refira a paciente e sim a consumidor, leis que foram criadas como resposta legítima ao anseio
conforme veremos mais ad iante. social, como existem julgadores comprometidos com a
À primei ra vista, é de se supor que o médico poderia Justiça, quando compreen d ida como o bem comum, e
usufruir de seu d ire ito constitucional à livre man ifestação existem méd icos q ue fazem de sua atuação na med icina a
do pensamento, contudo, o Principio da Especialidade razão de seu bem viver.
Capítulo 96 • Aspectos Éticos e Jurídicos da Publicidade Médica 555

A possibil idade de rea lização da publicidade é mui to evita ndo maiores complexidades que não tra riam q ualq uer
sedutora pelas consequências q ue pode trazer. "Ocorre que benefício para uma melho r compreensão do assunto.
os benefícios da publ icidade/propaganda não são apenas A CF, conforme transcritO previamente, estabelece a de-
os econôm icos e financei ros. Um importante fator agrega- nominada Liberdade de Expressão, garantindo que os b rasi-
do é a indissociável liberdade de imprensa, que tem fu nda- leiros possam exprimir seu pensamento de maneira a se dar
mento constitucional no próprio estado democrático de a conhecer do ponto de vista intelectual, cientifico etc.
d ire ito. Sem sombra de dúvidas, atualmente, a publicida- O Principio da Liberdade de Expressão coexiste ju n-
de/propaganda é uma das maiores forças sociais." tamente com ou tros princípios que o complementam e
complementa o utros princípios, como o DireitO de Ir e

LIBERDADE DE EXPRESSAO E PUBLICIDADE


- Vir, por exemplo.
' Em um singelo exercício de raciocín io, se a CF é a Lei
MEDICA Maior, como já se sabe, como é poss ível que a Resolução
"Art. 5" Todos são iguais perante a lei, sem d istin- CFM I.974/2011, q ue sabidamente é uma legislação infra-
ção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros constitucional, limite o direito dos méd icos de expressar
e aos estrangeiros residentes no Pa ís a inviolabilidade livremente seu pensamento, d ivulga ndo sua atividade pro-
do d irei to à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança fissio nal?
e à propriedade, nos termos segu intes: Porque a Constituição Federal é complementada por
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, leis, decretos, decretos-leis, portarias e resoluções que,
artística, científica e de comu nicação, independente· como di to anteriormente, lhe dão aplicabilidade e, na
mente de censura ou licença;" h ipótese de haver um aparente con flitO entre as leis, em-
bora a Carta Magna seja efetivamente mais poderosa, a
Hoje a propaganda é considerada a ferramenta ma is legislação infraconstitucional, se não foi macu lada pela
eficaz para o sucesso de uma atividade comercial o u inconstitucionalidade (contrariar as determinações cons-
profissional. Se "a propaganda é a alma do negócio" e a titucionais), poderá preva lecer pela aplicabilidade de um
Medicina, por força do Principio Fu ndamental IX - inse- princípio criado exatamente para resolver esses aparentes
rido no atual Código de Ética Méd ica, "... não pode, em con flitos de norma, que é o Principio da Especialidade.
nenh uma circu nstâ ncia ou forma, ser exercida como co- Pelo Princípio da Especialidade, a Lei, embora "me-
mércio", temos no mínimo um con flito ético-legal, quan- nor", sendo ma is especifica, tratando do tema de manei ra
do o méd ico é classificado como prestador de serviço pelo ma is particulari zada, mais detalhada, será aplicada ao caso
Código de Defesa do Consumidor. concretO.
Mais conh ecida como Ca rta Magna, a Co nstituição Como se sabe, a Resolução 1.974/2011 foi criada pelo
Federal (CF) também é chamada de Constituição cidadã, CFM, especificamente, para cu idar da publicidade dos mé-
pelos avanços que trouxe na área social. Entretanto, é a dicos e de ma is n inguém, da í porque, embora à pri mei-
den ominação Lei Ma ior que mel hor trad uz o destacado ra vista haja uma contradição entre a CF/1988 e a cita-
papel ju rídico que representa. Com e feito, a CF de 1988, da Resolução, quando analisada pormenorizadamente, a
q ue em 2013 festejou seus 25 a nos, está no tOpo da h ie- Resolução revela-se adequada à finalidade a que se destina,
rarquia legal, não podendo existir legislação que lh e faça uma vez q ue existem dois importantes bens juríd icos (va lo-
sombra. res protegidos pela lei) em jogo, q ua is sejam: o direito do
Entretanto, os postulados constitucionais, não sendo méd ico de se expressar e o direito do paciente de não ter a
pormenori zados, como facilmente se compreende pelo sua saúde ameaçada por uma publicidade indevida .
avantajado número de questões de q ue trata, não consegue G rosso modo, podemos di zer q ue, constituciona lmen-
esgotar os temas, p rescindindo das leis complementares te, o méd ico pode expressar-se livremente, já que a Lei
que lhes darão cumpri mento, sem, co ntudo, descaracteri- Maior protege seu d irei to de expressão, mas esse d ireitO
zar os termos previamente estabelecidos. constitucional é li mi tado pelo também d irei to constitucio-
A legislação infraconstituciona l q ue não se enquad ra nal q ue o paciente tem à vida e à saúde.
nos parâmetros co nstitu cionais não pode vir a lume por- O Direi to à Saúde do paciente está descri to no caput,
que está gravada de inconstitucionalidade, o q ue a impede ou cabeça, do art igo 5u da CF/1988 previamente transcri-
de ser aplicada. tO, e o d ire itO à liberdade de expressão no inciso IX desse
Compreendendo que o méd ico não está interessado mesmo artigo. Assim, os dois d ire itOs precisam coexistir
nos meandros juríd icos, a abordagem que temos procura- intactos. É o que estabelece nossa Carta Magna.
do fazer a respeitO das q uestões publicitárias, sob o ponto É de se imaginar, sem maiores incursões na legislação
de vista legal, é a que prevalece na dou trina e nos tribunais, vigente, q ue, q uando existe o confronto entre duas s itua-
556 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

ções, merece ser protegida o u preservada aq uela que for méd ico pode incorrer em erro, d ivulgando, por exemplo,
mais va lorada. No Estado Democrático de Direito no qual um equ ipamento que, embora autori zado e liberado pela
vivemos, os valores e interesses hu manos estão igualmente Vigilância Sanitária, ai nda não está permitido pelo C RM.
h ierarq uizados, como ocorre com as leis. Questões confl ituosas envolvendo a atividade méd ica
Vimos que a hierarqu ia das leis é uma realidade em são inumeráveis e este não é o espaço adequado para tenta r
vigor, a estabelecer os critérios para q ue o imenso emara- d irimi-las, mas me parece indubitável que se faz urgente a
n hado de leis seja compreendido e aplicado. un iformização de legislação por parte dos órgãos oficiais,
De ma neira geral, os valores maiores, ou seja, ma is des- porque parece no mí nimo mu ito co nfuso que a Vigilância
tacados, são elencados prio ritariamente, como forma de Sanitá ria e o C FM d ivirjam a respeitO do que é conven ien-
demonstrar que a ordem de preferê ncia se faz senti r em te para a saüde pública.
todos os aspectos. Na própria CF, onde os assuntos estão A elaboração do site, do cartão de visita, do folder, da
distribu ídos em capítulos e esses em seções, placa e do receituário deve obedecer aos princípios gera is da
d iscrição, estética, bom gosto e clareza nas informações, sem
"Observam-se uma mu ltiplicidade de di retivas descuidar das q uestões técnicas já disciplinadas pelo CFM.
constitucionais voltadas ao d ireito à saúde, dispostas O méd ico expert em dermatologia, por sua notável ex-
nos artigos 196 a 200 da Co nstituição. Pode-se encon- periência e/ou pela excelência do conhecimento adquiri-
trar desde a imposição de promoção, pelos poderes do no curso de pós-grad uação no q ual se d iplomou, nem
públicos, de políticas socioeconõmicas que visem à re- seq uer pode fazer menção às pa lavras dermatOlogia, derma-
dução do risco de doenças e o utros agravos, com aces- tologista, pós-graduação em dermatologia em sua publici-
so u niversal e igualitário às ações e serviços para sua dade, em obed iência ao artigo 3" da Resolução 1.974/201 I.
promoção, proteção e recuperação (artigo 196); como Em se trata ndo de um egresso do curso de pós-grad ua-
a rem issão da regu lamentação, fisca lização e controle ção com pouco tempo de atuação, seu inicio na medicina,
dos serviços de saúde (art igo 197); a criação e fixação sem a poss ibilidade de fazer d ivu lgação da área na qual se
de di retri zes do Sistema Ú nico de Saúde (artigo 198); formou, fica mesmo muito d ificultado.
a participação da iniciativa privada, em caráter comple- O q ue o CFM fará para p reservar esse jovem médico?
mentar, na ass istência à saúde (art igo 199), e o estabe- A justificativa para essa pro ibição, segundo o CFM, é
lecimento de atribu ições do Sistema Ún ico de Saúde que o povo é leigo e poderia ser ind uzido a erro, embora
em caráter exemplificativo (a rt igo 200). possa ser tratado por esses profissionais livremente, con-
Na redação do artigo 193 da Co nsti tuição é iden- forme é assegurado pelo artigo 17 da Lei 3.268, de 1957:
tificável o fator de proteção à saúde, pois, se a ordem
social tem como base o trabalho e como objetivo o Lei 3.268/1957
bem-estar, este último somente é obtido com a ausên-
cia de agravos à mente e ao corpo. O fato de serem Art. 17 - Os médicos só poderão exercer legalmen-
considerados de relevâ ncia pública, pelo artigo 196, te medicina, em qua lquer dos seus ramos ou especiali-
w rna os serviços de saüde suscetíveis a regulamenta- dades, após o prévio registro de seus títulos, d iplomas
ção, fiscalização e controle do Poder Püblico. certificados ou cartas no Ministério da Ed ucação e
Como vimos, existe larga menção ao tema no âm- Cultura e de sua inscrição no Conselho Regional de
bitO da Constituição Federal" (Suelli Gandolfi Dallari Med ici na, sob cuja jurisdição se achar o local de sua
- www.stf.jus.br/arquivo/cms) atividade.

Pela mencionada lei, superior em hierarqu ia e mais


PUBLICIDADE COMO ESPECIALISTA OU amiga q ue a Resolução 1.974/2011, não há ma iores exi-
ESPECIALIDADE gências para o médico clinicar do que sua graduação e con-
De acordo com a lição de nosso insuperável professor seq uente registro no C RM .
Genival Veloso de Fra nça/ para o médico comprometido A prova de titulo para que o médico d ivulgue seu cur-
com a ética, o bom senso e o bem-estar social, a pub licida- so de pós-grad uação reconhecido pelo MEC, e pelo q ual
de será feita normalmente, sem represen tar um desafio à pagou corretamente, e surge como uma exigência nova
sua concretização. cuja razão se prende muito ma is às exigências do mercado
Qua ndo o médico tem em mente a saüde do paciente do q ue a uma incapacidade técnica do médico.
e seu dever de se capacitar o melhor possível para atin- Não há dados conclusivos de q ue os médicos apenas
gir esse objetivo, norma lmente o que se vê é uma publici- pós-graduados cometam mais equ ívocos q ue os méd icos
dade distinta, elegante. Porém, mesmo nessa situação, o que fizeram a residência méd ica e/ou a prova de título e
Capítulo 96 • Aspectos Éticos e Jurídicos da Publicidade Médica 557

puderam obter o registro da especialidade e são co nsidera- Salvo melhor juízo, porque algumas áreas da atuação
dos especialistas para o C RM. méd ica vi raram um rendoso mercado que precisa ser pre-
Inegavelmente, o faro de a lei autorizar o méd ico a servado a tOdo custo, sob pena de não sobra r para n in-
real iza r tratamento no paciente, mas não poder fazer pu- guém. Nem todas as áreas da atuação méd ica têm a mesma
blicidade de sua atividade profissional ligada a esse trata- projeção da d ennatologia.
mento, é no mín imo polêm ica e pelo menos uma pergunta Os dermatOlogistas e a SBD estão e nvolvidos em gra n-
se impõe. de parte das denúncias contra méd icos por publicidade in-
Se o méd ico é bom o suficiente para tratar o paciente, devida que trami tam nos C RM. Os dermato logistas estão
desenvolvendo assim sua atividade profiss ional, por que sendo incitados a denunciar seus colegas não especialistas
não pode divu lgar o que faz? não ao argumento de que os pacientes poderiam estar em
A resposta pronta é: não pode divu lgar porq ue a risco, mas por mera q uestão b urocrática.
Resolução CFM 1.974/201 1 determina q ue, para anun ciar,
precisa ter seu títu lo de especialista devidamente registrado RESOLUÇÃO CFM No 1.974/2011
no C RM. Por esta resposta não estaria se materializa ndo a (Publicada no DOU de 19 de agosto de 2011, Se-
inversão dos valores/ A burocracia deve ser mais valorizada ção I, p. 241-244)
do que o co nhecimento? O paciente não corre ma is riscos
ao ser efetivamente tratado por um méd ico não especialis- Estabelece os critérios norteadores da propaganda
ta do que corre com a visualização da publicidade que o em Med ici na, conceitua ndo os anú ncios, a d ivu lgação
não especialista possa fazer sobre sua área de atuação? de assumos médicos, o sensacionalismo, a autopromo-
Sendo a "clínica soberana", conforme se apregoa no ção e as proibições referentes à matéria.
meio méd ico, o q ue importa de fato é a capacidade real d o
méd ico e não a titu lação q ue ele possa apresentar. Importa O CONSELHO FEDERAL DE MEDIC INA, no
a ate nção que ele dê ao paciente, a eficiência de sua anam- uso das atribu ições conferidas pela Lei n• 3.268, de 30
nese, diagnóstico, tratamento e prognóstico. de setembro de 1957, regu la memada pelo DecretO n"
É no mín imo questio nável que se diga q ue o impe- 44.045, de 19 de jul ho de 1958, e pela Lei n• 11.000,
d imento da pub licidade para o méd ico q ue não tem o de 15 de dezembro de 2004, e,
registro de especialista é feita por causa do interesse em CONSID ERANDO q ue cabe ao Conselho Fede-
proteger o paciente, q ue é hipossuficiente. Mas, o paciente ral de Med ici na trabalhar por todos os meios ao seu
não deixa de ser hipossuficiente quando é submetido ao alcance e zelar pelo perfeito desempenho ético da Me-
tratamento por esse mesmo méd ico que não pode publicar d icina e pelo prestígio e bom conceito da profissão e
sua atividade profiss ional. dos que a exercem lega lmente;
Percebe-se claramente um rigor a cada d ia mais con- CONSID ERANDO a necessidade de un iformizar
w ndente, por parte dos conselhei ros que julgam o médico e atua lizar os proced imentos para a divulgação de as-
denunciado por publicidade indevida na área da dennato- sumos méd icos em todo o território nacional;
logia. Ames da votação final, como de hábito, o médico de- CONSID ERANDO a necessidade de sol ucionar
nunciado, d urante a sessão de julgamento, é submetido a os problemas q ue e nvolvem a d ivu lgação de assuntos
uma sabatina que objetiva esclarecer se o médico merece ser méd icos, com vistas ao esclarecimento da opinião pú-
condenado - se é este o caso, q ual é a pena ma is ind icada blica;
- ou se merece ser absolvido. Em rodos os julgamentos de CONSID ERANDO que os a nú ncios méd icos de-
acusação de publicidade indevida, nos estados de São Paulo, verão obedecer à legislação vigente;
Minas Gerais, MatO Grosso, Rio de Janeiro, Goiás, Santa CONSIDERANDO o Decrero-lei n" 20.931/32,
Catarina, Amazonas, Paraná, Bah ia, Pernambuco e no o Decreto-lei n" 4.113/42, o disposto no Cód igo de
Distrito Federal, nem uma só pergunta envolvia resultado Ética Méd ica e, notadamente, o art. 20 da Lei n"
de tratamentos médicos ou satisfação de pacientes, eviden- 3.268/57, q ue determina: "Todo aquele que median-
ciando que a infração às regras da publicidade é um fim em te anúncios, placas, cartões ou ou.tros meios quaisquer se
si mesmo e não um instrumento para proteger o paciente. propuser ao exercício da medicina, em qualquer dos ramos
Na já mencionada hierarqu ia das leis, essa Resolução ou especialidades, fica sujeito às penalidades aplicát:eis ao
proibitiva e todas as demais são infraconstitucionais, exercício ilegal da profissão, se nào estit:er devidamente re-
e o inciso IX do artigo 5• da CF determina a liberdade gistrado"
de expressão. Por q ue a Resolução tem prevalecido? Pelo CONSIDERANDO que a publicidade médica deve
Principio da Especialidade, poderia ser a resposta, mas o obedecer exclusivamente a princípios éticos de orienta-
rigor técn ico deveria ceder em beneficio do paciente. ção ed ucativa, não sendo comparável à publicidade de
558 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

produtOs e práticas meramente comerciais (Capítulo f) Faze r propaganda de método o u técn ica não
XIII, artigos 111 a 118 do Cód igo de Ética Médica); aceito pela com un idade científica;
CONSID ERAN DO que o atend imento a esses g) Expor a figura de seu paciente como forma de
p rinc ípios é inques tio nável pré-requisitO para o es- divulgar técn ica, método ou resultado de tratamento,
tabelecime nto de regras éticas de concorrência en- a inda que com autori zação expressa do mesmo, ressal-
tre médicos, serviços, clinicas, hospitais e dema is vado o dispostO no art. 10 desta resolução;
empresas registradas nos Conselhos Regionais de h) Anu nciar a utilização de técn icas exclusivas;
Med icina; i) Oferecer seus serviços por meio de consórcio e
CONSID ERANDO ainda que os entes s ind icais similares;
e associativos méd icos estão suj eitos a este mesmo j) Oferecer consu ltOria a pacientes e familia res
regramento quando da veiculação de publicidade ou como substitu ição da consulta méd ica presencial;
propaganda; k) Garantir, prometer ou insinuar bons resultados
CONSIDERAN DO as diversas resoluções sobre do tratamento;
o tema edi tadas por todos os Conselhos Regiona is de I) Fica expressamente vetado o a nú ncio de pós·
Med icina; -graduação realizada para a capacitação pedagógica em
CONSID ERANDO, finalmente, o decidido na especialidades méd icas e suas áreas de atuação, mesmo
sessão plenária de 14 de julho de 2011, q ue em instituições oficiais o u por estas credenciadas,
exceto quando estiver relacionado com a especialidade
RESOLVE: e área de atuação registrada no Co nselh o de Medicina.
Art. 1° Entender-se--á por anú ncio, publicidade ou
propaganda a comun icação ao público, por q ualq uer Art. 40 Sempre que em dúvida, o méd ico deve-
meio de divulgação, de atividade profissional de inicia- rá consultar a Comissão de Divulgação de Assuntos
tiva, participação e/ou anuência do médico. Méd icos (Codame) dos Conselhos Regionais de Me-
dicina, visa ndo enquadrar o anúncio aos d ispos itivos
Art. 2" Os an úncios médicos deverão conter, obri- lega is e éticos.
gatoriamente, os segu intes dados:
a) Nome do profissional; Parágrafo ún ico. Pode também anu nciar os cursos
b) Especialidade e/ou área de atuação, quando re- e atualizações realizados, desde que relacionados à sua
gistrada no Conselho Regional de Med ici na; especialidade ou área de atuação devidamente registra-
c) Número da inscrição no Conselho Regiona l de da no Conselho Regional de Med icina.
Med icina;
d) Número de registro de qualificação de especia- Art. 5° Nos anúncios de cl ín icas, hospitais, casas
lista (RQE), se o for. de saúde, entidades de prestação de assistência méd ica
Parágrafo único. A~ demais ind icações dos anún- e outras instituições de saúde deverão constar, sempre,
cios deverão se limitar ao precei tu ado na legislação em o nome do d iretor técnico méd ico e sua corresponden-
vigor. te inscrição no Conselh o Regional em cuja jurisd ição
se localize o estabelecimento de saúde.
Art. 3° É vedado ao méd ico: § I" Pelos anún cios dos estabelecimentos de hos-
a) An uncia r, qua ndo não especialista, que tra- pitalização e assistência méd ica, planos de saúde, segu-
ta de sistemas orgâ nicos, ó rgãos ou doenças especifi- radoras e afi ns respondem, pera me o Co nsel ho Regio-
cas, por induzir a confusão com d ivulgação de espe- nal de Medicina, os seus d irewres técnicos médicos.
cialidade; § 2• Os d irewres técnicos médicos, os chefes de
b) Anu nciar aparelhagem de forma a lhe atribu ir clín ica e os médicos em geral estão obrigados a adotar,
capacidade privilegiada; para cumprir o ma ndamento do cap,.t, as regras conti·
c) Participar de an úncios de empresas ou produtOs das no Manual da Codame.
ligados à Medicina, dispos itivo este que alca nça, incl u- Art. 6" Nas placas internas o u externas, as ind i-
s ive, as entidades sindicais o u associativas méd icas; cações deverão se li mi tar ao previstO no art. 2" e seu
d) Permi tir que seu nome seja incluído em propa- parágrafo ún ico.
ganda enga nosa de qua lquer natureza; Art. 72 Caso o méd ico não concorde com o teor
e) Permi tir que seu nome circule em qua lquer mí- das declarações a si a tribuídas em matéria jornalística,
d ia, inclus ive na internet, em matérias desprovidas de as q uais fi ram os di tames desta resolução, deve e nca-
rigor científico; minhar oficio retificador ao órgão de imprensa que a
Capítulo 96 • Aspectos Éticos e Jurídicos da Publicidade Médica 559

divulgou e ao Conselho Regional de Med icina, sem sempre, ser assinados pelo médico assistente e subscri·
prejuízo de futuras apurações de responsabilidade. tos pelo diretOr técn ico méd ico da instituição ou, em
Art. 8° O médico pode, utilizando qua lquer meio sua fa lta, por seu substituto.
de d ivu lgação leiga, p resta r informações, dar entrevis- Art. 12" O méd ico não deve permi tir q ue seu
tas e pub licar artigos versa ndo sobre assuntos méd icos nome seja incl uído em co ncursos ou similares, cuj a fi.
de fins estri tamente ed ucativos. naIidade seja escolh er o "médico do a no", "destaque",
Art. 9" Por ocas ião das entrevistas, com un icações, "melhor médico" ou o utras den ominações que visam
publicações de artigos e informações ao público, o mé· ao objetivo promocional ou de propaganda, ind ividua l
clico deve evitar sua auto promoção e sensacionalismo, ou coletivo.
preservando, sempre, o decoro da profissão. Art. 13" Os si tes para assuntos médicos deverão
§ 1" Entende-se por autopromoção a utilização de obedecer à lei, às resoluções normativas e ao Manua l
entrevistas, informações ao público e publicações de da Codame.
artigos com forma ou inten ção de: Art. 14" Os Conselhos Regio naiS de Medici na ma n-
a) Angariar clientela; terão, conforme os seus Regimentos Internos, uma Co-
b) Fazer concorrência desleal; missão de Divu lgação de Assuntos Médicos (Codame)
c) Pleitear exclus ividade de métodos diagnósticos composta, minimamente, por trés membros.
e terapêuticos; Art. 15° A Com issão de Divulgação de Assuntos
d) Auferir lucros de q ualq uer espécie; Médicos terá como fina lidade:
e) Permitir a d ivu lgação de e ndereço e telefone de a) Responder a consultas ao Conselho Regio nal de
consultório, cl ínica ou serviço. Medicina a respeitO de publicidade de assuntos médicos;
§ 2• Entende-se por sensacionalismo: b) Convocar os méd icos e pessoas ju rídicas para
a) A d ivu lgação publicitária, mesmo de procedi· escla recimentos quando romar con hecimento de eles·
mentos consagrados, feita de ma nei ra exagerada e fu- cumprimento das normas éticas regulamentadoras,
gindo de conceitos técn icos, para individ ualizar e prio- anexas, sobre a matéria, devendo orientar a imed iata
ri zar sua atuação o u a instituição o nde atua o u tem suspensão do anú ncio;
interesse pessoa l; c) Propor instauração de sindicância nos casos de
b) Util ização da míd ia, pelo méd ico, para d ivu l- inequívoco pote ncia l de infração ao Código de Ética
gar métodos e meios que não tenham recon hecimento Médica;
científico; d) Rastrear anú ncios divu lgados em q ualq uer mí·
c) A adulteração de dados estatíSticos visa ndo be- dia, inclusive na internet, adotando as medidas cab í·
neficiar-se individ ualmente ou à institu ição que repre- veis sempre que houver desobed iência a esta resol ução;
senta, integra ou o financia; e) Providenciar para q ue a ma téria relativa a assu n·
d) A apresentação, em público, de técnicas e méto- tO méd ico, d ivu lgado pela impre nsa leiga, não u ltra·
dos científicos que devem limitar-se ao ambiente médico; passe, em sua tram itação na comissão, o prazo de 60
e) A veiculação pública de informações que possam (sessenta) d ias.
causar intra nqu ilidade, pân ico ou medo à sociedade; Art. 16" A presente resolução e o Manual da Co·
f) Usar de forma abusiva, enganosa ou sedutora re- clame entrarão em vigor no prazo de 180 dias, a partir
presentações visuais e informações que possam induzi r de sua publicação, q uando será revogada a Resolução
a promessas de resultados. C FM n° 1.701/03, publicada no DOU n° 187, seção I,
Art. 109 Nos trabalhos e eventos científicos em páginas 171-172, em 26 de setembro de 2003 e demais
q ue a exposição de figu ra de paciente for imprescindí· disposições em contrário.
vel, o médico deverá obter prévia autorização expressa
do mesmo ou de seu representa nte lega l. Brasília-DF, 14 de julho de 2011
ROBERTO LU IZ D'AVILA
Art. 11" Quando da em issão de documentos méd i· HENRIQUE BATISTA E SILVA
cos, os mesmos devem ser elaborados de modo sóbrio,
impessoal e verídico, preservando o segredo méd ico. Como se vê, essa Resolução trata a publicidade méd i·
§ I" Os documentos méd icos poderão ser divulga- ca de maneira abrangente e rigorosa, limita ndo o direitO
dos por interméd io do Conselho Regional de Medici· constitucional de liberdade de expressão.
na, quando o méd ico ass im achar conven iente. A interpretação de uma lei é sempre mais eficiente
§ 2° Os documentos méd icos, nos casos de pacien- qua ndo o próprio legislador se incumbe de fazê-lo. Esta é a
tes internados em estabelecimentos de saúde, deverão, interpretação autêntica. Penso que o objetivo do Conselho
560 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

Federal de Med icina foi esse ao criar o Codame - Com issão do áreas de atu ação caracterizadas por con hecimentos
de Divulgação de A~suntos Méd icos, foi exatamente dar a verticais mais específicos;
conhecer aos méd icos o q ue de fato se espera deles no q ue CONSIDERANDO q ue as especialidades sujei-
concerne à divulgação de sua atividade profissional. tam-se aos processos d inâmicos da medicina, não po-
Como visto previamente, o méd ico q ue possui r uma dendo, por isso, ser perma nentes nem imutáveis, po-
especialidade registrada no C RM poderá divulgá-la e o mé- dendo, dependendo das circunstâncias e necessidades,
dico que, apesar de muitO preparado pelos estudos ou pela sofrer mudanças de nomes, fusões o u extinções;
larga experiência, não poderá fazer menção à sua área de CONSIDERANDO o que foi decidido pela Co-
atuação, se esta não estiver registrada no CFM. missão Mista de Especialidades e aprovado em Sessão
Embora algumas áreas de atuação sejam muito di- Plenária do Conselho Federal de Medicina, rea lizada
fu ndidas socialmente, como, por exemplo, a Medicina em ! l/04/2002;
Estética, esta não é considerada uma especialidade por não RESOLVE:
estar mencionada no rol taxativo consta nte da Resolu ção Art. ] 0 Aprovar o Convênio firmado entre o Conse-
CFM 1.441, de 12 de agosto de 1994, q ue foi revogada pela lho Federal de Medicina, a Associação Médica Brasileira
Resolução C FM 1.634, de 2002: e a Comissão Nacional de Residência Médica, onde foi
instituída a Comissão Mista de Especialidades - CME,
RESOLUÇÃO CFM n2 1.634/ 2002 que reconhece as Especialidades Médicas e as Áreas de
(Publicada no DOU de 29 de abril de 2002, seção Atuação consta ntes do anexo 11 do presente instrumento.
I, p. 81) Art. 2° O utras especialidades e áreas de atuação
(Mod ificada pela Resol ução CFM n" 1.659/2003) médica poderão vir a ser reconh ecidas pelo Conselho
(Nova redação do Anexo 11 aprovado pela Resol u- Federal de Med icina mediante proposta da Comissão
ção CFM n• 1.666/2003) Mista de Especialidades.
(Pa rcialmente alterada pela Resolução CFM n• Art. 3• Fica ''edada ao médico a dit;ulgação de especiali-
1970, de 15/7/2011) dade 014 área de atuação que não for reconhecida pelo Conse-
Dispõe sobre convên io de recon hecimento de lho Federal de Medicina". (Redação dada pela Resolução
especialidades méd icas firmado entre o Conselho Fe- CFM n2 1.970, de 15/7/201 1).
deral de Med icina (CFM), a A~sociação Méd ica Bra- Art. 4" O médico só pode declarar vinculação com
s ileira (AMB) e a Comissão Nacional de Res idência especialidade o u área de atuação quando for possuidor
Méd ica (CN RM). do títu lo ou certificado a ele correspondente, devida-
O Conselho Federal de Medicina, no uso das atri- mente registrado no Conselho Regional de Medicina.
bu ições q ue lhe confere a Lei n2 3.268, de 30 de setem- Art. 52 Fica vedado, por qua lquer motivo, o regis-
bro de 1957, regulamentada pelo Decreto n" 44.045, tro e recon hecimento das especialidades não co nstan-
de 19 de julho de 1958, e tes do anexo 11 do convên io.
CONSID ERANDO que os ava nços científicos e
tecnológicos têm aumentado progress ivamente o cam- Parágrafo ún ico - Excetua-se do caput deste arti-
po de trabal ho méd ico, com tendência a determinar o go a documentação de pedido de avaliação pa ra efeitO
surgimento contínuo de especialidades; de registro de especialidade q ue tiver sido protocolada
CONSID ERAN DO que o Conselho Federal de nos Conselhos Regionais de Medicina até a data de
Med icina, a Associação Méd ica Brasileira e a Com is- publicação desta resolução.
são Nacional de Residência Médica, o rga nismos vol-
tados pa ra o aperfeiçoamento técn ico e desempenho Art. fi' Revogam-se rodas as resoluções existentes que
ético dos q ue se ded icam à medicina no Brasil, decidi- tratam de especialidades médicas, em especial as Resolu-
ram adotar condutas comuns relativas à criação e reco- ções CFM n" 1.286/89, 1.288/89, 1.441/94, 1.455/95,
nhecimento de especialidades méd icas no pais; respeitados os direitos individuais adquiridos.
CONSID ERAN DO que as entidades referidas, Art. 7• Esta resolu ção entra em vigor na data de
por visarem ao mesmo objetivo, vêm trabalha ndo em sua publicação.
conju nto na forma de Com issão Mista de Especiali-
dades para un iform izar a denominação e condensar o Brasília - DF, li de abril de 2002.
número das especialidades existentes no Brasil;
CONSID ERAN DO que conhecimentos e prá- EDSON DE OLIVEIRA AND RADE RUBENS
ticas méd icas dentro de determinadas especialidades DOS SANTOS SILVA
representam segmentos a elas relacionados, constituin- Presidente Secretário-Geral
Capítulo 96 • Aspectos Éticos e Jurídicos da Publicidade Médica 561

2) RELACÃO

DE ESPECIALIDADES 49. RADIOLOGIA E DIAGNÓSTICO POR IMA-
RECONHECIDAS GEM
50. RADIOTERAPIA
L ACUPUNTURA 51. REUMATOLOGIA
2. ALERGIA E IMUNOLOGIA 52. UROLOGIA
3. ANESTESIOLOGIA
4. ANGIOLOG!A 3) RELACÃO

DAS ÁREAS DE ATUACÃO

5. CANCEROLOGIA RECONHECIDAS
6. CARDIOLOGIA
7. CIRURGIA CARDIOVASCULAR I. ADMINISTRAÇÃO EM SAÚDE
8. CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO 2. ALERGIA E IMUNOLOGIA PEDIÁTR!CA
9. CIRURGIA DO APARELHO DIGESTIVO 3. ANG!ORRAD!OLOGIA E CIRURGIA ENDO-
10. CIRURGIA GERAL VASCULAR
11. CIRURGIA PED!ÁTR!CA 4. ATENDIMENTO AO QUEIMADO
12. CIRURGIA PLÁSTICA 5. CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA
13. CIRURGIA T ORÁCICA 6. CIRURGIA CRANIOMAXILOFACIAL
14. CIRURGIA VASCULAR 7. CIRURGIA DA COLUNA
15. CLÍNICA MÉDICA 8. CIRURGIA DA MÃO
16. COLOPROCTOLOGIA 9. CIRURGIA DERMATOLÓGICA
17. DERMATOLOGIA 10. CIRURGIA DO TRAUMA
18. ENDOCRINOLOGIA 11. CIRURGIA VIDEOLAPAROSCÓPICA
19. ENDOSCOPIA 12. C!TOPATOLOGIA
20. GASTROENTEROLOGIA 13. COSMIATRIA
21. GENÉTICA MÉDICA 14. DOR
22. GERIATRIA 15. ECOCARD!OGRAFIA
23. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA 16. ECOGRAFIA VASCULAR COM DOPPLER
24. HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA 17. ELETROFISIOLOGIA CLÍNICA !NVAS!VA
25. HOMEOPATIA 18. ENDOCRINOLOGIA PED!ÁTRICA
26. INFECTOLOGIA 19. ENDOSCOPIA DIGESTIVA
27. MASTOLOGIA 20. ENDOSCOPIA GINECOLÓGICA
28. MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE 21. ENDOSCOPIA RESPIRATÓRIA
29. MEDICINA DO TRABALHO 22. ERGOMETRIA
30. MEDICINA DO TRÁFEGO 23. FONIATR!A
3!. MEDICINA ESPORTIVA 24. GASTROENTEROLOGIA PED!ÁTR!CA
32. MEDICINA FÍSICA E REABILITAÇÃO 25. HANSENOLOGIA
33. MEDICINA INTENSIVA 26. HEMATOLOGIA E HEMOT ERAPIA PEDIÁ-
34. MEDICINA LEGAL TR! CA
35. MEDICINA NUCLEAR 27. HEMOD!NÃMICA E CARDIOLOGIA !NTER-
36. MEDICINA PREVENTIVA E SOCIAL VENCIONISTA
37. NEFROLOGIA 28. HEPATOLOGIA
38. NEUROCIRURGIA 29. !NFECTOLOGIA HOSPITALAR
39. NEUROLOGIA 30. !NFECTOLOGIA PEDIÁTRICA
40. NUTROLOG!A 3!. MEDICINA DE URGÊNCIA
41. OFTALMOLOGIA 32. MEDICINA DO ADOLESCENTE
42. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA 33. MEDICINA FETAL
43. OTORRINOLARINGOLOGIA 34 MEDICINA INTENSIVA NEONATAL
44. PATOLOGIA 35. MEDICINA INTENSIVA PED!ÁTRICA
45. PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA LABORA- 36. NEFROLOGIA PEDIÁTRICA
TORIAL 37. NEONATOLOGIA
46. PEDIATRIA 38. NEUROFISIOLOG!A CLÍNICA
47. PNEUMOLOGIA 39. NEUROLOGIA PEDIÁTRICA
48. PSIQUIATRIA 40. NEURORRADIOLOGIA
562 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

41. NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENT ERAL da especialidade médica de abrangência e competente


42. NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENTERAL PE- registro no cadastro de especialistaS do Conselho Regio-
DIÁTRICA nal de Med icina, do médico responsável pelo anúncio.
43. NUTROLOGIA PEDIÁTRICA DOS FATOS
44. PNEUMOLOGIA PEDIÁT RICA O presidente do C RM-MS, dr. R.M., encam in ha
45. PSICOGERIATRIA ao CFM solici tação de parecer que transcrevo:
46. PSICOT ERAPIA "As operadoras de planos de saúde divulgam nome.s de
47 PSIQU IATRIA DA INFÂNCIA E ADOLESCÊN- pe.ssoas físicas e juridicas que executam procedimentos mé-
CIA dicos não reconhecidos como especialidade médica por esse
48. PSIQUIATRIA FORENSE Conselho Federa~ tais como broncoscopia, eletrocardiografia,
49. RADIOLOGIA INT ERVENCIONISTA E AN- eletromiografia, ultrassonografia etc.
GIORRADIOLOGIA Como esse tipo de informação é útil para os usuários dos
50. REPRODUÇÃO HUMANA planos de sa.lde, estamos admitindo que tais procedimentos
51. REUMATOLOG IA PEDIÁTRICA sejam divulgados sob a rubrica geral de 'procedimentos mé-
52. SEXOLOGIA dicos ditJersos' para caracterizar que não se trata de especia-
53 U LTRASSONOGRAFIA EM GINECOLOG IA lidades médicas.
E OBST ET RÍCIA Solicito parecer acrescentando que está autorizado ã.s
operadoras, esclarecendo que se trata de iniciatit1a ad refe-
As especialidades ou área de atuação que não estive- rendum do CRM."
rem relacionadas no anexo desta Resolução não podem ser
divulgadas por serem consideradas ilegais e o méd ico que o CONCLUSÃO
fizer fica sujeito às penalidades previstas em lei. A publicidade méd ica encontra~e, hoje, regula-
A medicina estética tem despertado uma onda quase da pelos Decretos n"' 4.1 13/42 e 20.931/32, Lei n•
q ue incontida de opositores, na medida em que cai na graça 3.268/57 e Resolu ção CFM nu 1.036/80, que a seu
popular e granjeia adeptos entre os méd icos de d iversas es- modo esgotam, no momento, os parâmetros a serem
pecialidades, em especial das especialidades que fra nqueiam observados neste campo.
um contatO direto com pacientes do sexo feminino. Este questionamento, apresentado pelo CRM-MS,
No ano de 2010, por in iciativa do então presidente do nos remete à situação nova, importante para o exer-
CRM do Espírito Santo, foram fei tas nas sedes de alguns cício da profissão, mas bem mais importante para a
CRM reuniões entre os representantes da cirurgia plástica, o rientação dos usuários dos serviços de saúde.
dermato logia e a chamada med icina estética. O propósito Mesmo entendendo o objetivo meritório do
e ra defin ir se a med icina estética era uma sub especialidade CRM-MS em poss ibilitar a d ivu lgação sob a rubrica
da dermato logia ou da ci rurgia plástica ou uma especiali- "Proced imentos médicos diversos" destes referidos
dade autônoma. proced imentos, entendo também que, frente às cita-
Como a medicina estética desenvolvia tratamentos das regu lamentações, não podemos e nem devemos,
como a bioplastia, que não estava presente na grade curri- na falta de nova man ifestação oficial, permi tir esta
cu lar nem da dermatologia nem da cirurgia pláStica, mas concessão a não ser observando alguns fatos:
também não tinha ainda publicações cientificas em revistas
indexadas, resolveu-se que era melhor que ela nem existisse. A Resolução CFM n° 1.036/80, que no seu arti-
go zu, parágrafo único, remete a forma dos anúncios
PROCESSO-CONSU LTA CFM N" 8.670/2000 aos Decretos n"' 20.931/32 e 4.ll3/42 e ao Cód igo de
PC/CFM/N•27/2002 Ética Méd ica, também decide que o méd ico só pode
INTERESSADO: Conselho Regional de Medici- anunciar especialidade quando estiver registrado no
na do Estado do MatO G rosso do Sul q uadro de especialistas do CRM;
ASSUNTO : Divulgação de procedimentos em pu- O Decreto n" 20.931/32, em seu artigo 15, alínea
blicidade méd ica f, esclarece que é dever do médico mencionar em seus
RELAT O R: Cons. Remado Fischer Jún ior anüncios somente ti tu los científicos e a especialidade;
RELAT O R DE VISTA: Cons. Antônio Gonçalves Já o Decreto n" 4.ll3/42, q ue em seu art igo 1•,
Pin heiro inciso V, proíbe o an üncio de especialidade ainda não
EMENTA: Procedimentos méd icos não reconheci- admitida pelo ensino méd ico ou que não tenha a san-
dos como especialidade médica podem ser an unciados ção das sociedades méd icas, refere no mesmo artigo,
observando-se obrigatoriamente a precedente citação parágrafo 2•, que não se compreende nas proibições
Capítulo 96 • Aspectos Éticos e Jurídicos da Publicidade Médica 563

deste artigo ''(... )referências genéricas e aparelhagens (raios Sr. Presidente, Senhoras e Senhores Conselhei-
X, rádio, aparelltos de eletricidade médica, de fisioterapia e ros, designado que fui atravéS do Oficio C REMESC
outros semelhantes);" 6.209/06 pelo Dr. Wilmar de Athayde Gerem, Presiden-
te do C REMESC, para apreciar e emitir parecer à consul-
Assim, po is, vislumbra~e a possibilidade de ta is ta 1.410/06 formulada pelo Dr. R. F, passo a responder:
procedimentos virem a ser anu nciados, observa ndo-se, Em correspondência datada de 31 de julho de 2006
obrigatoriamente, a precedente citação na peça publi- e endereçada ao Delegado Regiona l do C REMESC,
citária da especialidade médica correlata. Esta citação, o Dr. R. F. anota: Pedido de Informação.
q ue obviamente remete à necessidade de registro do Venho atravéS desta solicitar informações a respei-
Especialista no Co nsel ho Regional de Med icina, não to do fu ncionamento de meu consultório e minha pós-
deve ser encarada como mero en trave bu rocrático, -grad uação. Ten ho um consu ltório méd ico, localizado
mas como med ida de cumprimento da lei e, princi- no mesmo local onde funciona uma Clínica de Estéti·
palmente, disciplinadora, a fim de que a partir desta ca, sendo q ue meu consultório funciona em uma área
concessão ampla e até agora desregu lamentada não ve- separada da clínica, onde usamos em comum a mesma
n ha a proliferar a publicidade de métodos, aparel hos secretária, tendo alvarás d istintos, um para a clínica e
e proced imentos isoladamente, caracterizando, além outro para o consultório. Min ha primeira pergunta é
do desrespeito às regulamentações, desprestigio aos se existe junto ao C RM algum problema que impeça
especialistas que adqui riram o d ireito reconhecido pe- o fu ncionamento da clín ica ou de meu co nsultório.
las leis e pelo CFM de anunciarem suas especialidades Gostaria de sa lientar q ue no consultório são realizadas
registradas. No caso de anúncio de pessoas juríd icas, co nsultas e proced imentos méd icos.
os d irerores técn icos ficam responsáveis pelo cumpri· A segu nda pergunta é a respeito de minha pós-gra-
memo destas exigências pelos médicos q ue executam duação. Fiz um curso de Pós-Graduação Latu Sensu de
os procedimentos em suas empresas. Med icina e C irurgia PláStica Estética na Universidade
Este é o parecer, SMJ. Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, reconhecida pela Por-
taria Ministeria l 1.725 D.O.U. 23/11/1992. Este cu rso
Brasília, !O de abril de 2002. foi realizado atendendo à resolução n~ l/OI da Câmara
ANTÔN IO GONÇALVES PI NHEIRO de Ed ucação Superior do CNE, de 03 de abril de 2001.
Conselheiro Relato r Minha pergunta é se posso, em meus receituários
e cartão de apresentação, e até mesmo em meu carim-
Embora o parecer supracitado tenh a sido elaborado bo, usar esta pós-grad uação para fins de que possa go-
quando a inda a Resolução I.974/2011 não tinha vindo a zar de todos os d ireitOS e prerrogativas legais. Faço istO
lume, ele p reserva a própria importância tantO pelas infor- porque sempre procurei trabalhar dentro das normas
mações q ue traz como porq ue ainda serve de orientação e ética de meu conselho.
para os julgamentos realizados nos C RM e continua à dis- Comando com sua ate nção
pos ição no si te do portal méd ico. Agradeço.
O utra razão para q ue pareceres do CRM estejam pre-
sentes neste espaço é o destaque que se pretende dar à pos- RESPOSTA: Nos princípios fundamentais do Có-
sibilidade q ue todos os méd icos têm de req uerer pareceres digo de Ética Médica, mais particularmente em seu
quando são assa ltados pelas dúvidas. O méd ico precisa art. 9", está e nunciado q ue:
aplicar à sua atividade profissio nal o mesmo principio que
recomenda a seus pacientes: ''prevenir é mel hor que reme- - A Med icina não pode, em q ualq uer ci rcunstância
diar." Na dúvida, pergunte. o u de qualquer forma, ser exercida como comércio.
Vivemos um momento no qual processar méd ico é - A associação de clín ica ou consultório méd ico com
uma triste realidade e importa não esquecer que não ape- q ualquer o utra forma de atividade comercial, e so-
nas os pacientes podem gerar dema ndas, a infração às nor- b retudo aquelas destinadas aos cu idados no âmb i-
mas da publicidade méd ica é hoje responsável por grande to da estética, desqua lifica o profissiona l e sua pro-
número das demandas. fissão médica, uma vez q ue o coloca na cond ição
de q ualq uer prestador de serviço de natureza co-
CONSULTA N2 1.410/06 mercia l, o que se contrapõe ao disposto no citado
CONSULENTE: R. F. artigo do Código de Ética Médica.
CONSELHEIRO: DR. VICENT E PACHECO - A milenar e respeitada profissão médica não pode
O LIVEIRA e não deve ser colocada como objeto de comércio,
564 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

equiparada a q ualq uer tipo de atividade comercial. pessoal permite a divergência entre a opinião médica e a
O que diferencia e historicamente sempre diferen- opinião da paciente. Quando esta pendência não é resol-
ciou o médico do mercador é q ue enquanto este (o vida de ma neira amigável, em 50% d as vezes desaguará no
mercador) apenas visa ao comércio com o objetivo Poder Judiciário.
do lucro, aq uele (o médico) trata do ser humano Pacientes, seus fam iliares, colegas de traba lho, socie-
que lhe depos ita wda a sua confiança em b usca da dades médicas e C RM de ofício podem apresentar uma
cura o u al ívio para seus sofrimentos e a retribui- den ú ncia co ntra médicos, tendo ou não razão. O q ue
ção financeira ocorre como honorários (de honor = poderia dar certa tra nqu ilidade ao médico é o fato de
honra) pela sua atividade e não como simples paga- estar assegu rado da própria inocência e de q ue é capa z de
mento por serviço prestado o u mercadoria adqui- prová-lo com os meios de provas admitidos em direito.
rida. A~s im sendo, este Conselho não respalda a Quando o méd ico sabe da ocorrência d e alguma falha
associação de profissionais méd icos em clínicas de no complexo processo de tratamento de um paciente, o
estética, ficando pois o infrator sujeitO às sa nções temor de enfrentar o processo pode ser exacerbado.
estabelecidas em seu Cód igo de Ética nos artigos
9<', 10", 45" e 142".
Processos judiciais
Com relação à segu nda pergunta, o Conselho Há dois tipos básicos de processos judiciais q ue podem
Federal de Medicina emi tiu parecer sobre o assu nto ser usados em face do méd ico, além do processo ético que
através de duas resoluções anexas: a Resolução CFM trami ta nos C RM .
1.621/2001, que estabelece que a prática da Cirurgia Em qualquer espécie de processo, a defesa médica tem
Plástica requer um conjunto de pré-requisitOs e co nhe- seus pilares na relação méd ico/paciente, no fiel registro exis-
cimentos técn icos e científicos adqu iridos na gradua- tente no pronw ário e na capacidade técnica. Registre-se que
ção e/ou pós-graduação (res idência e/ou especializa- o polo ativo, q ue detém a insatisfação e também o interesse
ção), e a Resolução CFM 1.634/2002, que dispõe so- e a capacidade de agir, poderá, a seu critério e se couber, ini-
bre o reco nhecimento d e especialidades médicas pelo ciar os dois tipos de processo ao mesmo tempo. Cada ação
Conselho Federal de Med icina, a Associação Médica se processará d iante de um julgador distinto e as decisões
Brasileira e a Comissão Nacional de Residência Mé- não estão vinculadas, podendo o médico, por exemplo, ser
d ica, estando nela contidas todas as especialidades e absolvido em uma ação e condenado em o utra.
áreas de atu ação reco nhecidas; consoante o Art. 3" da Importa di zer que nos mencionados processos as con-
mesma, é vedada a d ivulgação de especialidade ou área seq uências que advirão, se houver condenação, também
de atuação não reconhecida. Dessa forma, a Medicina serão totalmente d iversas entre si.
e a Cirurgia Plástica Estética não se enquadram nas Em q ualq uer tipo de processo, os meios de prova são
especialidades co nstantes na ci tada resolução e não os mesmos: prova documental e testemu nhal e pericial,
podem, pois, ser an unciadas. sendo o terceiro tipo de prova, a prova pericial, mais co-
É o parecer, s.m.j., mum nos dois primeiros processos e mais rara no processo
Vicente Pacheco O livei ra Conselheiro ético profissional, cujo objetivo não é apurar erro ou dano,
mas apurar infração ética.
O processo cri mina l e o processo ético profissio nal le-
DIFERENTES
,
TIPOS DE DEMANDAS CONTRA vam mais ou menos o mesmo tempo para desenvolver-se
MEDICOS e encerrar-se, 4 a 5 anos. O processo civil inden izatório é
Não há tema que não possa ser submetido à apreciação mais longo, podendo du rar até duas décadas. O tempo que
do Judiciário. Esta conhecida verdade lega l e processual o paciente tem para oferecer a denú ncia contra o médico é
parece não ser do dom ínio público, já que mu itas vezes de 5 anos para os processo ético e civil e de apenas 6 meses
os méd icos q uestionam: "a cirurgia ficou ótima, mas a pa- para os processos éticos.
ciente está insatisfeita; ela pode me processar/" A resposta Qua ndo se diz "interesse e capacidade de agir", também
não agrada: "todo mundo pode ser processado." O inciso identificado como capacidade jurídica e interesse processual,
XXXV do artigo 5° da CF determ ina q ue ''a lei não ex- em apertadíSsima síntese, significa que o autor da ação está
clu irá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça d iretamente ligado aos faws, ou seja, se A foi tratado pelo
a d ireito". médico M e A ficou insatisfeita, sendo A ma ior de idade e
Mesmo que o procedimento te nha ficado perfeito do capaz, somente A pode iniciar uma ou duas ações contra M.
pomo de vista técnico ou méd ico, o processo jud icial ou Os processos judiciais não dispensam a presença do ad-
ético pode acontecer porq ue a subjetividade da satisfação vogado para representar as partes (autor e réu ou requeren-
Capítulo 96 • Aspectos tticos e Jurídicos da Publicidade Médica 565

te e requerido) porqu~. de acordo com o artigo 13 3 da CF e lesão corporal, o m&lico pod~ ser acusado de muitos
"o advogado t! indbpen~ável à adminimação da Justiça". outros, mas me.'>mo a >impl~ m~nção do> crimes foge ao
nosso objetivo.
Processos Criminais
À primeira vbta, nenhum médico pOderia ser acusado Processos Civis
da prática de crime no exercício de ~ua atividade profissio- Como afiançado previam~nte, muito mab numerosos
nal, porque o requbito para a prática delitiva é exatamente que os proces.o;os criminai.., e ético' contra m&licos, os pro-
a intenção de faz~lo, mais conhecida como dolo direito, cessos civis, alem de serem O> preferidos dos pacientes, obje-
dai os crimes denominado;. crimes dolosos, cujas penas são tivam sempre uma compen~ção financeira para o pacieme,
maLs elevada.'> do que a.' penas dos crimes culposos, que que se diz le.-;ado, ou para a família do paciente, em ca.so do
são aquel~ que ocorrem como consequência da conduta óbito deste. Diferente do processo criminal, cujo objeti\'0 do
imperita, negligente ou imprudente. paciente e que o méi.lico ~eja condenado pelo juiz a cumprir
Contudo, como a própria CF/88 assegura o acesso ao uma pena privativa de lil~rdade, e diferente do processo éti·
Poder Judiciário para o esclarecimenro de possíveis ofen- co, no qual o paciente quer que o médico seja repreendido
sas ao d ire ito de cada cidadão, inúmeras açôes criminais pelo Conselho Regiona l de Medicina, o que se objetiva no
contra méd icos por sua aruaç.'io profissional são iniciadas processo civil é a recompos ição financeira.
diariamente, pelos mais diferentes e nsejos e pretextos. Nos processos classificados como civis indenizatórios,
Existe processo pena l acusando o dermatologista de na verdade, há sim a indenização propriamente dita, q uan-
ter praticado o crime de lesão corporal, descrito no artigo do fica comprovado o dano, e cujo va lor não pode empo-
129 do Cód igo Penal: brecer quem paga, enriq uec~r quem recebe, mas tem que
ser suficiente para reparar o dano, mas há ramhém a pos-
"Art. I29 - Ofender a integridade corpo ral ou a
sibilidade de existir o ressarcimento, que é a devolução do
saúde de outrem:
valor da despesa que o paciente teve por respOtl.sahilidade
Pena: detenção de 3 (tre~) meses a I (um) ano."
do médico, como o cLLsteio de um proc~limento reparador
ou tratamento psicológico para curar o paciente do trauma
Por exemplo, por cau~ de uma heparoroxicidade que
sofrido com o tratamento qu~ r«d1t!u de seu médico.
levou a paciente ao tran~plante de fígado durante o uso
Há pleitos ahsolutamente itwer()lo.\imeis, mas uma vez
da i.sottetinoina, em que pe.-e a realização dos exames rri-
aceita a ação, tem o m&lico o d~'-er de ~ defender. A pos-
me~trab para controle apr~entarem resultado dentro da
tura de se ofender com a acLL.,ação, p<)r ahsurda que seja,
nom1alidade. não traz qualquer beneficio para o m&lico. O melhor a
O e.\tado de 1!.\pírito do médico é indescritível perante
fazer é buscar todos O> meio> à dbpo,.,ição para defender<>e,
a acu~ção da prática de um crime, porque lhe é muito
esclarecendo os fa ws.
dificil alcançar a compr~~n;.ão de que, mesmo que sua con-
duta seja a pnori cuidado:.a e voltada para proporcionar
o bem-estar e a ~aúde, ;.eja que;.tionada da manei ra mais Processo Ético Profissional
rigorosa que exi~te no direito, que é a via criminal. Finalmente, pros.,eguindo com a utilização do mesmo
A ação criminal contra médico é mais rara do que a exemplo anterior, ~upondo que A tenha sido submetido a
ação civil e o processo ético profissional, que comentare- um peeling de TCA para tratamento de manchns na pele
mos mais adiante, porem os dermntologistas não são acu- e esteja insatisfeitO com o resultado, considerado correto
sados ape nas de terem praticado o crime de lesão corporal. pelo médico como ponto d e vi~ta técnico, essa paciente
Há açôes envolvendo a acusnção do crime de maus-tratos pode pedir ao Conselho Regional de Med ici na que escla-
(artigo 136 do Código Pe nal), no qual o paciente acusa reça quem tem razão. O que para o paciente é um simples
o medico de lhe ter causado sofrimentos indescritíveis ao questionamento, para o medico é no mínimo uma sind i-
fazer um preenchimento facia l sem anestes ia. câ ncia e, na pior das hipóteses, um proces.so, com rodos
O objetivo deste pequeno e.studo é discorrer sobre a os requisitOS de uma demanda judicial: aud iência, oitiva,
publicidade mt!d ica, razão pela qua l não nos alongaremos defesa escrita, indicação de te>t~munhas, St!.<;.são de julga-
no tema processo.-.. mento.
Entretanto, não podemos deixar de dizer que a publi- A penalidade a ser aplicada dependerá, como nos de-
cidade indevida também pode gerar processos criminais, maL~ processos, da conduta, do grau de r~pOtl.sahilidade
em ~pecial pela Mllopeita que suscitará de ter o dermato- e das cons~1uência.' que a conduta médica OC.1>ionou. A
logbta praticado o crime de e:.telionato do artigo 171 do Lei 3.268, de 1957, determina, ~m seu artigo 22 "as pena.s
Código Penal. Além do' crime; de estelionatO, maus-tratos disciplinares aplic:h-eb pelo~ Con~lho;, Regionais aos seus
566 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

membros", q ue são as segu intes, em ordem crescente de É vedado ao méd ico:


rigor: Art. 111. Permitir q"e s"a participação na dit>ulgação
a) Advertência confidencial em aviso reservado; de assuntos médicos, em qualquer meio de com~<nicação de
b) Censura confidencial em aviso reservado; massa, deixe de ter caráter exclusit,amente de esclarecimento
c) Censura pública em publicação oficial; e educaçàD da sociedade.
d) Suspensão do exercício profissional até 30 (tri nta) d ias;
e) Cassação do exercício profissional ad referendum do Muito comumente, o médico é convidado a dar uma
Conselh o Federal. entrevista ou escrever um artigo tratando de assuntos mé-
d icos. Ao aceitar o convite, o médico deve ter em mente
que, sob a óptica do C RM, o objetivo é informar e esclare-
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA cer à popu lação e não d ivulgar seu nome, seu trabal ho ou
Como profissional liberal, o méd ico não tem a garantia sua clínica.
da procura por seu trabalho. Em uma relação de emprego
com um hospital ou clínica, por exemplo, o que é raríss imo, Art. 112. Divulgar informaçàD sobre assunto médico de
o méd ico executa as tarefas já atendendo à demanda solicita- fomla sensacionalista, promocional ou de conteúdo ilwerídico.
da e que ao seu turno é angariada, mu itas vezes, mediante a
divulgação q ue a empresa faz de seus produtos e serviços. O Segundo o entendimento consolidado dos C RM, tam·
médico autônomo, assim como o advogado, o engenhei ro bém do CFM, referir-se o méd ico a tema de saúde, vanglo-
e outros profissionais, precisa informar à população q uais e riando-se, enaltecendo-se o u à sua técn ica, método etc., é
como seus serviços estão à disposição, e o fazem por meio dar um caráter sensacio nalista, que é proibido.
da publicidade veiculada nos meios de comunicação e repre-
sentada pela exibição do cartão de visita, de folders, do papel Art. I 13. Ditll4.lgar, fora do meio científico, processo de
de receituário, da colocação de placas, de anúncios, da con- tratamento O~< descoberta cujo <'alor ainda não esteja expres·
cessão de entrevistas a jornais e revistas e da criação de sites. samente reconhecido cientificamente por órgão competente.
Como sa lientado previamente, a publ icidade médica
apresenta características muitO específicas, estabelecidas O meio cientifico a q ue se refere esse artigo são os
por abundante legislação emanada do CFM. co ngressos o u artigos publicados em revistas cientificas. A
Convidamos o leitOr que se interessar em obter in for· b ioplastia, por exemplo, embora muito requisitada pelos
mações ma is abrangentes sobre a publicidade méd ica que pacientes, ainda não está reconhecida pelo CFM, o que,
se debruce especialmente sobre as Resoluções menciona- portanto, impede, até mesmo sua menção em publicidade
das a seguir ames de se ded icar ao estudo do Código de médica.
Ética Méd ica, criado pela Resolu ção CFM 1.931, de 2009:
o 1.595/00 - que proíbe a vinculação da prescrição com a Art. 114. Consultar, diagnosticar ou prescretc por q"al-
obtenção de vantagens; quer meio de conm.nicação de massa.
o 1.633/03 - que proíbe anúncio de méd ico e hospitais

nas revistas editadas pelos conselhos; Embora pareça óbvio que o diagnóstico e a prescrição
o 1.836/08 - que pro íbe o médico de atender pacientes ocorram após exame diretO ao paciente e de maneira indivi-
encaminhados por empresas que comercia lizem planos dualizada, há méd icos que se dispõem a indicar o uso de al-
de saúde e o utros; guns medicamentos em programas de rád io, televisão ou em
o 1.701/03 - que estabelece os cri térios norteadores da sites. Além da penalidade pela infração a essa determinação
publicidade méd ica e fo i substituída pela Resolução de caráter ético, há ainda eventual consequência pelo dano
I.974/2011; que se pode causar a algum paciente menos avisado.
o 1.974/ 11 - que estabelece os critérios da publicidade

médica. Art. 115. An~<nciar titulas científicos que não possa


comprovar e especialidade ou área de atuação para a qual
Passaremos a seguir a uma brevíssima análise de alguns não esteja qualificado e registrado no Canse!lto Regional de
artigos relacionados com a publicidade méd ica. Medicina.

ResoluçàD 1.931, de 17 de setembro de 2009 - Código Em consonância com a Resol ução CFM 1.974/2011, a
de Érica Médica especialidade só pode ser divu lgada quando devidamente
Ca pítu/o X111 registrada no CRM. Mesmo o médico que fez a residência
Publicidade Médica méd ica e/ou fez a prova de titulo e foi aprovado, mas não
Capítulo 96 • Aspectos Éticos e Jurídicos da Publicidade Médica 567

providenciou o registro no C RM, não poderá d ivu lgar sua informam, os títulos acadêm icos não podem mais ser livre-
especial idade. mente an unciados pelos méd icos.
Médicos e cu rsos, baseados tanto no d ireito constitu·
Art. 116. Participar de anúncios de empresas comerciais cional à livre ma nifestação do pensamento como na.~ re-
qualquer que seja sua nature<;a, mlendo-se de sua profissão. soluções do Ministério de Ed ucação e Cultura, emendem
que as áreas nas quais os méd icos se formaram por meio
Ao contrário do que se vê nos comerciais da T V, o mé· dos cursos de pós-graduação devidamente reconhecidos
cl ico não pode aparecer em anúncio de nenhuma empresa pelo MEC podem e devem ser d ivu lgada.~ . Conforme já
que d ivulgue qua lquer produto, seja ele um reméd io, um expostO, o Principio da Especia lidade tem preva lecido.
equipamento o u uma roupa. Na.~ vezes em q ue o tema foi levado à apreciação do
Jud iciário, este, nos seus vários graus de jurisd ição, enten-
Art. 117. Apresentar como originais quaisquer ideias, deu que apenas o C RM tem competência para julgar as-
descobert.as ou ilustrações que na realidade não o sejam. su mos méd icos.
Art. 118. Deixar de incluir, em anúncios profissionais O CFM e os C RM entendem q ue o méd ico só pode
de qualquer ordem, o seu número de inscrição no Conselho fazer divu lgação de seus títu los quando estes estiverem
Regional de Medicina. devidamente registrados naquele Consel ho. O registro,
por sua vez, não se dá pela apresentação do certificado
Como se sabe, a cada d ia surge uma nova moda lidade de conclusão dos cursos de pós-graduação, mas pela apro-
de d ivu lgação. Hoje, além dos cartões, folders, receituário, vação na prova de títulos da sociedade de sua área de
placa e letrei ro, existem o site, o facebook e outras ferramen· especialização, depo is de cumpridas as exigências da reso-
ras. Antigas ou modernas, rodas as formas de publicidade e:;.. lução CFM, que são tempo de atuação e cumprimento da
tão submetidas às mesmas regras. Nome e nü mero do C RM residênc ia médica.
têm presença obrigatória em rodas as formas de publicidade. Hoje, quando o Programa Ma is Médico levou o Governo
à decisão de q ue não pertence ma is aos CRM o poder/dever
Parágrafo único. Nos anúncios de estabelecimentos de de concederem os registros médicos, mas sim ao Ministério
saúde devem constar o nome e o ntl.mero de registro, no Con· da Saúde, criOu-$e, talvez, o mais intrincado dos problemas
sellto Regional de Medicina, do diretor técnico. vividos pelo Governo: na h ipótese de uma suspeita de prá-
tica equivocada por parte desse médico registrado, não pelo
A clínica, o hospital, os núcleos de saúde e similares CRM, mas pelo Ministério da Saúde, a quem o paciente q ue
só se fazem registrar no CRM quando é apresentado o se sente lesado deverá recorrer para apresentar a denúncia?
nome do méd ico q ue desempenhará as funções de Direto r Longe estamos de esgotar o tema publicidade médica,
T écnico. O nome e o n úmero do C RM desse d iretor téc· contudo, q ue o nosso s ingelo esforço obtenha a vitória de
nico, obrigato riamente, devem estar consignados nas ferra· consegu ir que o méd ico seja menos den unciado e viva mais
menta.~ publicitárias. confortavelmente exercendo a profissão que escolheu. É o
nosso desejo.
É vedado ao méd ico anunciar títulos científicos
q ue não possa comprovar e especialidade ou área de
atuação pa ra a qua l não esteja q uali ficado e registrado
Referências*
Almeida Barros E. Código de Ética Médica. Edit ora Atlas, 2010:372
no Conselho Regional de Med icina. e 373.
França GV. Coment ários ao Código de Ética Médica. 5. ed. Editora
Ao contrário do que a ma ioria dos méd icos acred ita, e ABDR, fls 225.
do que algu ns cursos de pós-grad uação em med ici na ainda Suelli Gandolfi Dallari. www.stf.br/arquivo/cms.

*Todo o legislação citada neste capítulo está no site www.cfm.org.br.


,
Aspectos Eticos e Jurídicos: Termo de Consentimento
Palova Amisses Parreiras
Gustavo César Parreiras Cava lcanti

Termo d e Consen timen to ta ndo, de maneira exata e objetiva, o q ue é um termo de


Livre e Esclarecido co nsentimento para os fins deste estudo.
Nos dias atuais, as ocorrências associadas ao Introdutoriamente, di z<;e que os referidos aspectos
consentimento informado têm assumido éticos e jurídicos elucidam a razão de existi r do termo de
grande importância, no contexto da re.spon- co nsentimento, bem como evidenciam sua suma neces-
sabilidade cit1il do médico. Não será demasia sidade no meio sociojurídico como norteador da relação
afirmar que, em bret~e, será esse o ponto cen- de confiança estabelecida entre médico e paciente. Assim,
tral das discussões. o alud ido termo apenas atingirá seus fins lega is perante
tOda a sociedade caso seus aspectOs éticos (originários da
Medicina e da Bioética) e seus aspectOs juríd icos (oriundos
O objetivo deste capítulo é orientar sobre os aspectOs do Direito) sejam devidamente observados.
éticos e juríd icos q ue permeiam o termo de consentimento Por isso, e nfatiza<;e q ue a observâ ncia desses tais as-
livre e esclarecido, doravante denominado apenas termo pectos é fundamental para o êxito do termo de consenti-
de consentimento. mento, uma vez q ue este deve produzir efeitos em prol da
Por não se trata r de obra essencialmente juríd ica, não harmonia social, da segurança jurídica, da autonomia do
di recio nada estritamente ao público de juristas e operado- paciente, da beneficência e não ma leficência da Medicina,
res do Direito, é imperioso apresenta r aos leitores méd icos do zelo pela saúde e da relação de confiança que norteia a
as leis e os fu ndamentos jurídicos em gera l que regulamen- boa relação méd ico-paciente.
tam o termo de co nsentimento como o negócio juríd ico Feitas estas peq uenas explanações, procederemos à
q ue ele é, a ntes de ser, efetivamente, um documento mé- co nceituação do termo de consentimento livre e esclare-
dico. cido, de maneira objetiva e sucinta. Para isso, utili zaremos
Como será demonstrado adiante, o termo de co nsen- como método a análise gramatica l de cada um dos vocábu-
timento apenas produzirá seus efeitos como documento los que o compõem. In icia ndo, ass im, pelo vocábulo termo.
médico caso preencha, va lidamente, seus req uis itos de ne-
gócio juríd ico. Somente dessa ma neira o Direito poderá
tutelar e proteger esse documento, conferi ndo-lhe a vali- TERMO
dade e eficácia q ue médicos e paciente almejam com sua No contextO jurídico, o vocábulo termo possui duas se-
confecção. mânticas: (a) a primeira exprime uma simbologia de cará-
Adema is, antes de se proceder à análise dos aspectos ter temporal, sendo entendido como prazo para o cumpri-
éticos e jurídicos, propriamente ditos, do termo de co nsen- mento de condições contratuais, guardando semelhanças
timento, serão tecidos comentários a fim de delinear seu etimológicas com a pa lavra término (em latim, terminus);
conceitO e w rnar claro o assunto deste capítulo, delimi- (b) a segu nda definição detém ma io r pertinência a estes es-

568
Capítulo 97 • Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 569

critos, sendo o termo: instrumento cartu lar, q ue, de forma Por fim, uma vez elaborado o termo fielmente tradutor
escrita, traz em si um co njunto de informações abstraídas dos fatos ocorridos em consultas, abrangendo as informa-
de um fato (p. ex., reu niões, depoimentos, assembleias ge- ções sobre o tratamento, o méd ico e o paciente possu irão
rais de acion istas, aud iência de julgamento, co nsultas mé- um documento que comprova, legalmente, a relação ético-
d icas), de maneira expressa (i.e., explícita, que não é tácita) -legal e sociojurídica estabelecida entre ambos. Comprova,
e reduzida (i.e., s intetizada, porém sem que se perca a es- outrossim, que o paciente se en contrava suficientemente
sência), pelo qua l se formaliza um documento elucidativo informado acerca do proced imento ao qual se submeteria,
(com presunção de veracidade) de fatos ocorridos. seus riscos, seus beneficios e a impossib ilidade de prever
Exempli ficando: q uando a testemu nha depõe a um qualq uer resultado, positivo ou negativo.
jui z, um serven tuário redu z a termo tudo o que é ditO por Feita a análise jurídico-semântica do vocábulo termo,
aquela, a fim de q ue o termo redigido (e ao fina l assinado proceder-se-á, agora, à mesma aná lise do vocábu lo consen-
pela testemun ha) componha o processo. timento.
Isso ocorre porq ue, mu itas vezes, o processo é físico,
composto por documentos, não po r pessoas o u gravações.'
Este é o motivo pelo qual se d iz: "as declarações da teste- CONSENTIMENTO
munha foram reduzidas a termo", o u seja, foram sinteti· Consentimento é:
zadas na forma de um documento solen e, no qua l deve
se exprim ir, com o máximo de fidelidade, a rea lidade dos ato pelo qual uma pessoa ma nifesta assentimento
ocorridos, sem remanescer om issões ou implicitações. e autorização previamente a um ato jurídico (p. ex.,
A'>.sim, no contexto médico, utiliza-5e o mesmo raciocí- acordo), que só então estará apto para gerar seus de-
nio; a fim de se elaborar um termo, ausentes qua isquer outros vidos efeitos; ademais, o consentimento deve se dar a
adjetivos que ainda serão analisados (a saber, consentimento, partir da livre vontade do consemidor (contudo, mes-
livre e esclarecido), afirma-se que: deverão ser ''traduzidos" mo após tal apontamento, o vocábulo l.ivre será ana li-
para a forma carru lar, de maneira escrita, expressa (i.e., sem sado ulteriormente);
que haja algo tácito) e reduzida (i.e., sintetizada, resumida),
os fatos ocorridos em consultas médicas (cujo foco sejam as A ma nifestação do consentimento pode ocorrer de
informações apresentadas ao paciente sobre o tratamento). forma: (a) expressa ou b) táci ta. Assim, se o consentimento
É de suma importâ ncia q ue o paciente já esteja sufi- for man ifestado por meio ora l, escrito ou de s inal inequ í-
cientemente informado antes que q ualq uer informação voco, será expresso. Se o consentimen to for man ifestado
seja red uzida a termo. Esta é uma conclusão lógica, uma por ação, ato ou co nduta que revela a intenção do agente
vez que, como dito, o q ue se reduz a te rmo é algo que já de consentir, mas tal intenção não se encontra expressa,
ocorreu e, portamo, seria impossível apresentar ao pacien- será, então, tácito.
te um termo que não esteja intimamente relacionado com Assim, na tentativa de delinear um conceitO de te r-
faros pretéritOs, ocorridos em reu niões e/ou consu ltas mé- mo de co nsentimento livre e esclarecido, di z-5e q ue o co n-
d icas já real izadas. Como se verá da aná lise dos aspectos sentimento neste contextO deverá sempre se dar de forma
éticos, o termo não existe para substituir o contato e a rela- expressa, uma vez que o termo deve se consubstanciar na
ção imerpessoal entre méd ico e paciente. forma cartu lar,1 escrita, e abarcando o consentimento ine-
O termo se restringe a: a) formalizar os fatos ocorridos quívoco do agente.
em consultas prévias, informações e explicações passadas Exemplificando: a consensualidade do termo ocorre
ao paciente de manei ra oral; b) reiterar ao paciente as in- qua ndo o paciente, por meio de um ato volitivo e inequ ívo-
formações sobre o tratamento; c) acrescentar informações co, declara que não há oposição a uma ação cuj a iniciativa
que não foram aprofundadas o u esgotadas, mas q ue já fo- foi proposta por outrem. 3
ram men cionadas introduto riamente.
Nesta co nj u ntura, o termo é onde Direito e Med icina 'É pos.sívd conceber a ideia de um témlO de consentimento virtual,
se fundem a fim de se resguardarem a harmonia social, a porém, em vista da segurança sociojurídica que se h:1 de ter com
segurança juríd ica, a autO nom ia do paciente, o zelo pela relação aos riscos c esclarecimentos do procedimentO méd ico, ainda
saúde, a relação méd ico-paciente, mas, principalmente, o parece-nos ser de maior juridicidade o temo cartu lar, principalmen-
d ire ito do paciente à informação e a segu rança ao méd ico te porque o ordenamento jurídico p:ltrio não incide é regulamenta
o mundo vi rtual de modo a gemr a segumnça jurídica neces.s.1ria
de formalmente te-la prestado.
para um assuntO st:.rio como o termo de consentimento na seara
médico-legal.
1 1
Mesmo que o processo exista virtualmente, não haver;\ gravaç()es, Dicion:\rio Jurídico. Maria Hdena Di niz. Volume I A.C. São Paulo:
mas p:lginas digitalizadas. Edirora Samiva 1998:799.
570 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

A partir deste exemplo, que foi inspirado ao final pelas É em face d isso tudo q ue se di z que a consensualidade
palavras da pro fessora Dra. Maria Helena Diniz, chama-se é um dos itens mais delicados do termo de consentimento,
a atenção de q ue pois um deslize do méd ico pode ser suficiente para tra nsfor-
mar o termo de consentimento em um contratO de adesão,
no consentimento há a propositura de outrem retirando do documento méd ico sua validade juríd ica como
acerca de uma ação a ser materia lizada pelo consenti· tal. Ou pior, caso seja caracterizado que o consentimento foi
do (méd ico) e incid ida sobre o consentidor (paciente), obtido por coação, constitu indo-se, assim, em crime.
podendo ser acrescentado a esta propositura o compro- Acrescente-se ainda que por meio do consentimento
metimento de o consentidor (paciente) agir de deter- o paciente an ui com os riscos, com os benefícios e com
mi nada maneira em circunstâncias específicas (como o a sempre presente impossibilidade de se especular acerca
pós-operatório), uma vez que o comprometimento do dos resultados a serem obtidos (sejam eles negativos ou
consentido (médico) será materia lizado a partir da exe- positivos), pod end o variar de acordo com o procedimento
cução do próprio procedimento médico descritO no ter- médico q ue será realizado e com as peculiaridades do caso
mo, nos moldes técnicos que ali se encontram descritOs. co ncreto.
Hodierna mente, os médicos se contentam com a sim-
Daí diz,.se q ue o termo de consentimento é um docu- ples rub rica do paciente em cada uma das folhas do termo
mento a ser elaborado e apresentado pelo médico a seu e sua assinatura ao final. Isso defin itivamente não caracte-
paciente, uma vez que o médico é quem detém o conheci- riza consentir ou an ui r.
mento técnico acerca do procedimento, suas implicações É necessário, para a validade d as rubricas e assinaturas
no organ ismo h umano e seus possíveis resultados, pos iti· como ma nifestação de consentimento, que elas te nham
vos e negativos. sido obtidas por paciente que realmente entendeu os ris-
Caberá ao paciente, a seu turno, dar validade jurídica cos aos quais se submeterá, escolhendo certO proced imen-
ao referido documento, q uando o assinar, man ifesta ndo, to em detrimento de outro e colaborando com seu médico
ass im, seu consentimento acerca da ação médica proposta na construção do termo. Do contrári o, poderá se caracte-
e explicad a pelo méd ico, bem como acerca da ação que ele rizar erro, do lo ou coação (os quais são institutos juríd icos
próprio (paciente) terá que adotar em fase pré, iter e pós- a serem estudados adiante), cujo efeito é a invalidação do
-operatória. termo de consentimento.
Adema is, ressa lta-se q ue a proposta de tratamento Uma vez abordado o segundo vocábulo que compõe o
o u de diagnóstico fei ta pelo méd ico é passível de receber termo de consentimento livre e esclarecido, e acrescenta-
contraproposta do paciente, concretizando-se, assim, um das novas delineações em busca de um co nceito cientifico-
dos princípios basilares da Ética Médica: a autonomia do -jurídico desse negócio jurídico s"i generis, passa-se à abor-
paciente. Tal princípio encontra-se co nsignado no Capítu lo dagem d o vocábulo livre.
I (Princípios Fu ndamenta is) do Código de Ética Médica de
2010 (Res. C FM 1.931/09), in ''erbis:
LIVRE
XXI - No processo de wmada de decisões profis- Como mencio nado antes, o vocábulo li11re encontra-se
sionais, de acordo com seus di tames de consciência e imbricado e presum ível ao consentimento, em sentido jurí-
as previsões legais, o méd ico acei tará as escolhas de d ico. Frisa-se: todo consentimento deve ser li11re. Co ntudo,
seus pacientes, relativas aos procedimentos d iagnósti· cabe aprofundar acerca das delimitações conceituais do
cos e terapêu ticos por eles expressos, desde que ade- vocábu lo livre.
quadas ao caso e cientificamente reconhecidas. Livre é adj etivo-pred icado que qua lifica um sujei to. Tal
adjetivo-predicad o advém do substantivo abstratO liberdade.
Por isso, é necessário haver uma boa relação méd ico- Por isso se di z que liberdade é um d ireitO subjetivo, pois
-paciente. É desse modo q ue ambos participarão na co ns- d ireciona-se ao sujeitO, à pessoa h umana, à sua subjetivida-
trução do termo de consentimento, cabendo ao méd ico de, que faz cada um ser o que é.
apresentá-lo em seu estado final , composto pelas inter- Liberdade, em sentido filosófico-jurídico, é a faculda-
venções e desejos de seu paciente POSSÍVEIS de serem de natural que permite à pessoa fazer o que q uer, nos li-
atingid os pela ciência méd ica no caso concreto que será, mites d a lei, da moral e d os bons costumes, respeitados os
então, acompa nhado da man ifestação de consentimento d ire itos de cada um•
do paciente q ue, neste caso, será mu ito simples de se obter,
uma vez q ue o próprio paciente participou, com sugestões 'Torrieri Guimarães D. Dicionário compacto jurídico. São Pau lo:
e escolhas, da co nfecção do termo de consentimentO. E.d. Rided, 2012:163.
Capítulo 97 • Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 571

Ademais, a liberdade é elemento essencial de qualquer XX1 - No processo de tomada de decisões pro-
negócio jurídico (p. ex., contrato de compra e venda, con- fissionais, de acordo com seus ditames de consciência
trato de doação, termo de co nsentimento etc.), uma vez e as previsões legais, o méd ico aceitará as escol has de
que a n inguém é licitO obrigar o utrem a celebrar contrato seus pacientes, relativas aos proced imentos d iagnósti·
consigo, sob pena de se incid ir em coação. Os agentes con- cos e terapêuticos por eles expressos, desde que ade-
tratantes devem ter plena faculdade de fi rmarem o acordo quadas ao caso e cientificamente reconhecidas.
simplesmente porque querem, sem infringir a lei, a moral,
os bons costumes e o d ireito de outrem, ou ai nda sem ex- (. .. ) É vedado ao médico:
ceder os limites de seus d ireitOs.
Logo, livre é a pessoa que goza de liberdade. Assim, A rt. 24 - Deixar de garantir ao paciente o exercí-
d ir-se-á que o termo de consentimento firmado deve se dar cio do d ireito de decidi r livremente sobre sua pessoa
de forma livre, o u seja, o termo de consentimento deve ou seu bem-estar, bem como exercer sua autOridade
ser fi rmado sem que nada restrinja a faculdade volitiva de para lim itá-lo.
decidi r das partes, méd ico e paciente.
Um exemplo de restrição à facu ldade volitiva de de- Tecidos os comentários a fim de del imita r o conceitO
cid ir é a coação, q ue, por sua vez, é defin ida por Maria de livre, dentro do contexto do médico-legal, segu ir-se-á
Helena Diniz como "toda pressão física o u moral exerci- para o vocábu lo esclarecido.
da sobre a pessoa, os bens ou a honra, de um contrata n-
te, visando obrigá-lo ou induzi-lo a efetivar um negócio
jurídico".s ESCLARECIDO
Portanto, não pode o profiss iona l coagir seu paciente Por sua vez, o vocábu lo esclarecido se imbrica ao concei-
ou o responsável legal deste a assinar o termo de consenti· tO de termo analisado no p rimei ro momento, uma vez q ue
menro. Bem como também não o pode fazer o paciente em o termo em sentido amplo, por si só, não pode ser tácito,
face de seu méd ico. ou omisso, de informações. Apesar de ser uma redução
Coação é prática ilícita, tip ificada pelo Código Penal dos fatos, tal redução não pode implicar a perda de infor-
Brasilei ro como cri me, denomi nado Co nstra ngimento mações essenciais ou necessárias ao entendimento do q ue
Ilega l e albergado pelo artigo 1466 do referido d iploma. norteou a própria elaboração do termo de consentimento.
Em outras palavras, não pode o méd ico negociar e Porém, na sea ra médica e b ioética, o valor do esclareci-
barganhar com o paciente a fim de fazê-lo an uir ao termo mento é a inda maior, por isso sua ênfase na denom inação
de co nsentimento. Não pode o méd ico fazer promessas ao jurídica do documento (termo de consentimento livre e
paciente para que o assine. Tampouco pode o médico for- esclarecido).
çar o paciente ou toma r qua lquer atitude que coloque em Desse modo, sem grandes digressões, divse que o
risco a relação méd ico-paciente com o intu ito de deixá-lo vocábulo esclarecido, traduz-se na fa lta de om issão de in-
sem saída, obtendo, assim, o consentimento. formações essenciais para a tomada de decisão acerca do
O próprio Código de Ética Médica (Res. CFM procedimento méd ico a ser realizado ou na completude
1.931/09) alberga em si essa facu ldade do paciente em de informações necessárias à tomada de decisão acerca do
decid ir e consentir. Tal faculdade é principio basilar da procedimento médico.
Bioética e se traduz como autonomia do paciente. Claro que Em o utras pa lavras, o vocábulo em tela trad uz-{)e em:
essa autonomia não é absoluta, pois h á li mitações, porém rodo o complexo informativo capaz de influenciar e di re-
é indispensável. Nos incisos XXI, e artigo 24, do referido ciona r a tomada de decisão do paciente acerca do proce-
d iploma ético, vê-se assim. In t>erbis: d imento.
Assim, o vocábulo esclarecimento nos di rige à própria
fu nção ética do termo de co nsentimento, a fim de viab il i-
'Dicionário juríd ico. Diniz MH. Volume I A.C. São Paulo, Editora
Saraiva, 1998:622.
zar a concretização segura dos dispos itivos ético-legais vis-
6
Art. 146 - Constra nger alguém, mediante violência ou grave tOS logo acima.
ameaça, ou depo is de lhe haver reduzido, por qualquer ou- Ademais, vale sa lienta r que o esclarecimento pode
tro meio, a capacidade de res istência, a não fazer o que a lei abarcar: (a) a re iteração de informações já exprimidas ao
permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena: detenção, de paciente (ou seu representante legal) pela via da o ralida-
3 meses a I ano, ou multa. § I• (. .. ) §2• (. ..) § 3• - Não se de em consultas anteriores; (b) informações ad icionais e
compreendem na disposiç:io deste artigo: I - a intervenção
médica ou cirú rgica, sem o consentimento do paciente ou de mi nuciosas não expri midas o ralmente, mas que, por meio
seu representante legal, se justificada por iminente perigo de da escrita, se tornam ma is inteligíveis e práticas de se ex-
vida; 11 - a coação exercida para imped ir suicídio. pressar; (c) explicações q ue abranjam o lapso temporal do
572 PARTE XXII • Aspectos ~ticos e Jurídicos

pré-operatório e do pós-operatório; (d) e a formalização da espécie, demro do gênero negocio jurídico. Sendo um ne-
ciência do paciente quanto ao; itens anteriores. É necessá- gócio jurídico, não se pode deixar de conceituar, adiante,
rio que as informaçôe.'> ~ejam pa..,.ada.., ao paciente, porém, o que é um négocio jurídico, quab são ~eu~ requisito.., de
mais do que is.,o, é nece.'>.,ârio que o paciente a.~ absorva existência, validade e eficácia, para que o documento médi-
e concorde com da-., e'darecendo ao médico ~ua concor- co produza os efeitos que dele ;e p<xle d~ejar.
dância. Ponanro, perceher-se-:1, no decorrer de..,te capitulo,
É mbter dizer que o rermo de con...entimento não é o cena confusão enrre termo de con,entimenro e negocio
único e nem me~rno o maior ~pon...,ável por ~larecer o jurídico, uma vez que o termo de con,entimenro invaria-
pacienre acerca do procedimento ao qual ~erá ~ubmetido. velmente deverá comer em si o.-. requbito.'> e a.., regra.'> do
E-•;sa responsabilidade é integralmente do médico. O ter- negócio jurídico. Ca.~o o termo de con•.,entimenro, que é
mo de consentimento é apena.'> um dm, caminhos, formal, um negocio jurídico não preencha os requbito.'> do negó-
no entantO, para tanto. cio jurídico, que adiante serão demonstrado.~. poder-;,e-á
Este elemento do termo de co nsentimento gera o efei- dizer que o termo é inexistente, invalido ou ineficaz.
to de que o paciente passe a conhecer um pouco sobre o
procedimento e a entender como este ocorrerá e como o
médico agi rá para que wdo ocorra normalmente ou em
NEGÓCIO JURÍDICO
caso de reaçôes adversas ao planejado, bem como entender O negócio juríd ico te m a ca racterística de aurorregu-
q uais são as cond utas medicas a serem observadas e quais lamentação entre as pa rtes que o celebram, bem como a
são as condutas que o próprio paciente deverá observar, viabilização da autonom ia p rivada, mantendo-se, co ntudo,
pré, iter e pós-procedimento, para que os beneficios sejam a segurança jurídica e a harmon ia social.
maximizados e os riscos minimizados. A~s i m, o negócio jurídico viahiliza a existência da li-

Fe ita a exposição individual dos vocábulos que com- berdade ind ividual, que é direitO fundamental de rodo ci-
preendem o termo de consentimento livre e esclarecido, dadão (art. 5" capur CF/887). Comudo, o negócio jurídico
será traçada a seguir uma delimitação conjuntural e cienti- se submete à Lei, que o limita, mas, também, o legitima,
fico-jurídica de seu conceito. desde que preenchidos certos requisitos, evitando, desse
modo, a insegurança jurídica e a de.-.armonia ;ocial.
O auror José Jairo Gome.~ a.-.,im aduz: "o negócio ju·
CONCEITO rídico encontra fundamento no princípio da autonomia
Em face de todo o expo~to, d iz.->e que termo de consen- privada, pelo que é dado às peo..'oa" autorre&'lllamemarem
timenro livre e ~larecido é: seus próprios i nreresses. "'
O mencionado amor ainda argumenta que o negócio
instrumento cartular, documental, médico, que jurídico consuhstancia-~ em uma e.-.rrutura le~:al, geral e
em seu a.'pecto (bico deve :.t!r unilateralmente elabo- abstrata (art. 104 CC/02(, por meio da qual a..., parte.'> deli-
rado pelo médico, ma~ cujo conteúdo info rmativo neiam, com relativa margem de liberdade, o conreüdo de
(aspectO metafl~ico) deve ~er re..,ultado :.intetizado da uma relação jurídica a cuja omervãncia terão de se ater.9
d inâmica de consultas e reuniôes do médico com seu Finalmente, o termo de conse ntimento é negócio jurí·
paciente e representantes legais, send o, assim, de ca- dico porque: é a via pela qual as partéS (méd ico e paciente)
ráter bi latera l e elaborado por ambos (pois o paciente exercem sua autonomia privada a fim de se autorregu larem
pode escolher métodos d e diagnóstico e tratamentO e pactuarem entre si oh rigaç<ies e d everes que cada um terá
dentro da autonomia que lhe é permitida), abrangen- de adimpl ir segundo determinado modo, em determina-
do informaçôes (d e possívds resultados, de prevençôes do local e em determinado lapso temporal, firmando e
cabíve is, cuidados pós, iter e pré-operatórios, técnicas exteriori za ndo formalmente a relação jurídica de méd ico
méd icas etc.) situadas no tempo sobre determinado aro e paciente que ali foi constituída por amhos, e cujo con-
méd ico a ser execumdo com o devido zelo e promoção teüdo, de cunho informativo e obrigacional, encontra-se
da saúde do paciente, conferindo va lidade e liciwde
a tal inStrumento cartu lar-mt'dico~locumenral, desde ' In •mis: ArL 5•- To.tos s.~o iguais perante a lei, ;em di>rinção de
que não haja nenhu ma omi>;ão inevitável e o paciente qualquer narurez.1, garanrindc..l-'é :t(h hrn . . ilciros c aus otrangdnl~
consinra com o conteúdo infonnativo em situação de residentes no Pais a inviolahilidadc do direito :1 vida, :llibenbdr, :l
igualdade, 11 segurança c :1 proprie<ladc. tl!h tcrmth '>Cj:llintc.' (!.'Tifo
plena liberdade decbional.
nosso).
8
Gomes JJ. Direito Civil: introJuç.\o c parrc l."'rnl. Bdo Horizonte:
Oianre de tal conceito, conclui-;,e ser o termo de con- Del Rey, 2006:34 3.
sentimento livre e e..darecido um d ocumento médico, 9
ldem (p. 344).
Capítulo 97 • Aspectos ~ticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 573

juridicamente assegurado e judicialmente exigível em face não pode dar é valer e ser eficaz, ou valer, ou ser eficaz
de qualquer inadimplemento de alguma das panes. sem ser; porque não há validade, ou eficácia do que
Eis em tela o embasamento cientifico-jurídico do qual não é. 11
se conclui ser o termo de con:.entimemo livre e esclarecido
um negócio jurídico. Como consequéncia, a mlidatk jtlfídica Diante do ensinamento do j.,'l'ande jurb[3 Ponte.'> de
do tn-mo d~ consenti~nro tstá submetida aos preceitos do artigo Miranda, a doutrina, homenageando o criador da estrutu-
104 do Código Ciail Brasikaro de 2002.'~ ra do negócio jurídico, estaheleceu a "E.'>Cada Ponteana",
O artigo ~upramencionado define o~ requisitos para a em trêS planos: existência, validade e eCicácia.
validade de qualquer negócio jurídico. São ele~: (a) ageme Passemo_~, portanto, a analisar cada um do; planos,
capaz, (h) ohjeto licito, pOl!..'>ivel, determinado ou detenni- a fim de se exaurirem os preo:.upo:.tO.'> que estruturam o
nável, e (c) forma prel>crita ou não defesa em lei. negócio jurídico e, consequentemente, o termo de consen·
A análise desses três requ isitm. do negócio jurídico é timento.
essencial; no entanto, e mi>ter apresentar outro conceito
doutrinário de negócio jurídico, a Cim de consolidar seu
Existência
entendimento.
Flávio Tartuce, doutor em Direito pela USP, a.%im de· No plano mais baixo dessa escada, a existência é ne-
fi ne o negócio juríd ico: cessária ao termo de consentimento para se consolidar no
mundo jurídico. Ta l plano compree nde a reunião de agen-
Negócio jurídico e o ato em q ue há uma composi- tes (ou pa rte.~). vontade, objeto e forma:
ção de interesses das partes com uma Cinalidade especí·
fica. Pode-se afirmar que o negócio jurídico constitui a No plano da existência estão os pressupo,tos para
principal forma de exercício da autonomia privada, da um negócio jurídico, ou seja, os seus elementos mínimos,
liberdade negociai: in concreto, negócio jurídico é todo enquadrados por alguns autores dentro dos elementos
faro jurídico consil>tent:e em declaração de vontade, a essenciais do negócio jurídico. Con:.tiruem, portanto,
que rodo o ordenamento jurídico atribui os efeitos de- o suporre fático do negócio jurídico. Nesse plano surgem
signados como queridos, respeitando os pressupostos apena.~ substanriaos, sem qualquer qualificação, ou seja,

de existência, validade e eficácia impostos pela norma substantims sem adjttit'05. 11


jurídica que sohre ele incide."
Nesse primeiro momenw (da exbtência) não há que se
Portanto, segundo os ert.'>inamemo~ de Tarruce, todo o preocupar acerca da qualificação dos ageme.'>. Ou :.eja, ain-
o rdenamento jurídico deve respei[3r a produção de efeitos da não se analisa se os agentes são capazes, relativamente
do negócio jurídico, desde que carregue em si os pressupos- incapazes, ahsolmamente incapazes, relativamente incapa-
tos de existência, validade e eCicácia. zes a.~siStidos ou ahsolu[3mente incapaze~ repre:.emado~.
Sendo asoim, todo o onlenamento jurídico deve atri- Em face do expostO, divse que para :.atbfazer um do_~
buir seus efeitos ao termo de con;entimemo celebrado en- requisitos do plano da existência ha.'>ta que es:.e.~ agentes,
tre méd ico e paciente, hem como deve o Poder Judiciá rio capazes ou incapazes, represe ntados ou não, estejam mera·
tmelar a produção dos efeitos desejados por aqueles que mente pre.~emes no negócio jurídico. Por i;:.o se disse ante-
instiruiram o termo de consenti mento, de.~de que, impres- rionnente que não há que se veriCicar a qualificação ou os
cindivelmente, este seja nutrido dos pressupostOs de exis- adjetivos dos substantivos, mas tão-somente e.m!s por si só.
tência, validade e eficácia dos negócios jurídicos em geral. Sem agentes, é impossível para o termo de consenti-
Acerca desses pressupostos de existência, va lidade e efi· mento e para qua lquer negócio jurídico existir, pois é a
cácia, e nsina o maior jurista lwasileiro, Pontes de Miranda: vontade, livre, desses a~entes que será r~tratada no negócio
jurídico.
Existir, va ler e ser eficaz são conceitOS tão incon· Também nesse pri meiro plano (da existência), não
fundiveis que o fato jurídico pode ser, valer e não ser há qualquer preocupaç~o em se analisar se a vontade foi
eficaz, ou ser, não valer e ser eficaz. A~ próprias norma.s expressa de mane ira livre ou se deu soh coação, re.~istivel
jurídicas podem ser, va ler e não ter eficácia. O que se ou irre.>istivel, ou ainda, se e.>ta vontade expressada condiz
com a vontade rea l do a~ente que a expressou.
10
An. 104 -A '"'lidadé do nc~<'>cio juridico requer: I - agente capaz;
11 - ohjcto licitO, p<,.,iwl, determinado ou detcnninávd; 111 -forma "Pontes de Miranda FC. Tratado de direito privado. 4. ctl. S~o
pre>.crira ou não dcf<!'a ém lei. Paulo: RT, 1974, r.lll, IV c V.
"Tanuce F. Manual<lc direiw ci\·il: '"lun1e único. Rio de Janeiro: "Tanuce F. Manual<le direito CÍ\'il: '"lume único. Rio de Janeiro:
&L Forcn>e, 2011. Ed. Foreme, 201 L
574 PARTE XXII • Aspectos ~ti cos e Jurídicos

Preocupa-~e apena.-, com a expressão da vonrade. Esta Se o termo de con..,emimento >e der de maneira o ral,
vomade, e~te de:.ejo do~ ageme> deve, nece.,~ariameme, es- servirá à sua função e.'>triramente ética, mas não servirá à
tar comido no negócio jurídico para que ele exism. sua função jurídica ou ético-legal. Se o termo ;.e der de ma.
Não >e dbcure a validade ou a possibilidade fática e ju- neira tácita, não atenderá a nenhuma de ;.ua> funçôes, pois
rídica de.-;..,a vomade, ma.., apena~ ;ua existência. Havendo a fonna tácita é contrária à própria narureza e aos objetivos
cena vomade, licira ou ilícita, ao lado de certos agentes, o do tenno de consentimento.
negóCio jurídico, por certo, exi.,tirá. Por tudo ;.,~, é imponante que, me..,mo não pOssuin-
A'~im, ne..,:.e momento, para que um termo de consen- do forma prescrita em lei, o termo oh>erve cenos aspectos,
timemo tenha exht~ncia no mundo jurídico, somente se como possuir forma documental e ter >eu con;.entimento
averigua se a vonrade da.-, parte.., e;.tá contida no termo. Por de maneira expressa.
exemplo, ha.~raria, meramente, que certa pessoa amoriza<;- Para existir como um negócio jurídico, sequer é ne-
se outra pessoa a realizar um procedimentO médico, como, cessário que o consentimento exbta fisicamente. Ocorre,
por exemplo, o de amputação de dedo mín imo, a fim de como supramencionatlo, ao ana lisar o vocábulo termo
homenagear certo ex-presidente da República, dizendo ser em meio ao contextO méd ico-legal, que o termo de con-
esta a vomade do autori za nte. sentimento é u m documento no q ual as decla raçôes do
Em face do exemplo supracitado, pa ra q ue o termo paciente e do médico são red uzid as a termo, ind uzindo a
d e consemimento exista, não é necessá ri o q ue o agente existê ncia de u m documento físico.
autOrizado seja médico, e menos ainda requer q ue o pro- Para os fins do negócio juríd ico, no entanto, hasta que
ced imento a ser realizad o seja nece.<>sá rio ou cientificamen· o paciente suficientemente informado declare de p róprio
te reconh ecido. O termo de consentimenro, para o ca"o punho, em fol ha avulsa (ou demonstro! seu consentimen to
acima, existi rá, no mundo juríd ico, da manei ra como foi o ralmente ou, ainda, por meio de gesto). que autOriza o
propostO. Contudo, frisa-se: este não será válido nem terá médico a realizar determinado procedimentO, encontran.
eficácia, apenas exbtirá. do-se suficientemente e.~clarecido sobre este.
Ainda ne»e plano, para que o termo de consemi- Obviamente, não se poderia negar a produção de efei-
memo exbta, há de haver um objeto (p. ex., um p ro- tos desse negóCio jurídico, >impbmente por não obedecer
cedimento cirúrgico), ma> não precisa, necessariamen· a uma forma especifica, uma vez que ainda não exi>re e.~sa
te, ~er um ohjew licito, ou ;eja, não prescinde de ser forma especifica em no>M) ordenamento jurídico. Ma.,,
um procedimento cientificamente reconhecido, ou um como já argumenrado ameriorment~. def~nd~ aqui que
procedimenw que >erá realizado por meio de técnica o tem10 de consentimento deve obe~lecer à forma e;crita,
cienrificameme reconhecida. Para exi;.tir, hasta que no documental e expres..,a, em face de >t'U' objetivo;. e da pró-
termo con>te um am médico, independentemente de pria natureza ético-jurídica.
sua ciemificidade. Esta situação um ramo vaga deve mudar em breve,
Ainda há um último requisito nesse plano, a forma. uma vez que se encontra em trâmite perante o Congre.~so
Com relação a e.\ta, apenas alguns negócios jurídicos pos- Nacional o projetO de lei 14.75/ 201 1, que regulamenta o
suem forma definida em l~i. Assim, é mister explicar que o tenno de consentimento, rornando este um documento
negóCio juridico pode se dar: (a) verhalmenre, que aba rca a obrigató rio para a licitude de determinados procedimen-
maneira expressa ou tácita; ou (h) documentalmente, que é tOS. Este projetO de lei será anali;,ado ma is detidamente em
a maneira formal o u solene. Em face da não dispos ição da tópico apropri ado.
Lei sobre qua l é a forma especifica, o negócio juríd ico pode Passemos agora à anál ise do plano de validade dos ne-
se d ar de q ualquer maneira (ou seja, verbal ou d ocumen· gócios jurídicos e, por isso, do termo de co nsenti mentO,
tal), do mod o como convencio narem os agentes.
outross im.
Desse mod o, para existirem, os negócios jurídicos que
possuem forma prescrita em lei devem respeira r tal forma,
soh pena de sequer ex i>tirem no mu ndo juríd ico. O termo
de consentimento, po r sua vez, é um documento que não Validade
possui forma prescrita em lei. No segundo plano, o da val idade, os suhsramivos
Porém, em virtude de o vocábulo termo implicar recebem adjetivo>, nos termo,., do art. 104 do CC/2002,
(como foi e.~tudado minuciosamente logo acima) forma es- a saber:
crita, cartular e expre>>a, entende-se que para atender à sua • Partes ou agente;. capaze>;
funcionalidade jurídica o termo de consentimento prescin- • Vontade livre, ;em viciO>;
de de fom1a e>erita, não ;endo po.'~ivel existir apenas na • ObjetO licito, determinado ou determinável;
forma verbal (con><!n>ual). • Forma pre."rita e não defe;.a em lei.
Capítulo 97 • Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 575

O plano da validade é um plano mu ito ma is complexo necessário que A I esteja devidamente habilitado para o
que o plano da existê ncia, razão pela q ual será d ividido em exercício da Medicina.
d iversos subtemas. Ademais, o grande ponto acerca da capacidade não se
Esse plano possui d iversos requisitOs, os quais serão refere a A I, mas sim a A2, o paciente que será submetido
acrescidos àqueles já analisados: agente, vontade, objeto e ao procedimento méd ico. Este paciente, segu ndo classifi-
forma. É impossível para o negócio jurídico, e consequen· cação jurídica, poderá ser: (a) absolutamente incapaz, (b)
temente para o termo de consentimento, uma situação de relativamente incapaz ou (c) capaz.
validade o nde o termo de co nsentimento não exista, onde O Cód igo Civil, em seus artigos 32 e 42 , abaixo, cu idou
o negócio jurídico não exista. de definir, respectivamente quem são os (a) absolu tamente
Portanto, vejamos e mão os requisitos de validade que incapazes e os (b) relativamente incapazes.
devem se un ir aos requisitos de existência, do termo de
consentimento, de acordo com o artigo 104 do Código Dos absolutament e incapazes:
C ivil: é necessá rio q ue o agente (existência) seja capaz (va· Art. 3" São absolutamente incapazes de exercer
!idade), q ue a vontade (existência) seja livre, sem vícios pessoalmente os atos da vida civil:
(va lidade), que o objeto (existê ncia) seja licito (validade), I - os meno res de dezesseis anos;
e, além disso, seja determ inado ou determinável (valida· li - os que, por e nfermidade o u deficiência men-
de), e, que, a forma (existência) seja prescrita ou não de· tal, não tiverem o necessário discernimento para a prá-
fesa em lei (validade). tica desses atos;
Apenas para fins didáticos, explicita-se q ue a expres- lll - os que, mesmo por causa transitória, não pu-
são defesa, no texto legal em estudo, q uer dizer proibida. derem exprimir sua vontade.
Portamo, o termo de co nsentimento não pode ter forma
proibida em lei, ou forma defesa em lei. Dos relativamente incapazes:
Fei tas estas considerações, passar-se-á à análise porme· Art. 4" São incapazes, relativamente a certos aros,
nori zada de cada um dos requisitos de validade supracita· ou à maneira de os exercer:
dos para q ue o te rmo de consentimento produzido pelo I - os ma iores de dezesseis e menores de dezoitO
méd ico para seu paciente seja um documento válido e seja, anos;
sob esta óptica, analisado pelo judiciário. li - os ébrios hab ituais, os viciados em tóxicos e os
que, por deficiência menta l, ten ham o d iscernimento
red uzido;
Agente/parte lll - os excepciona is, sem desenvolvimento men-
O caput do artigo 104 do Código C ivil determ ina que a tal completo;
validade do negócio jurídico requer certos elementos. Logo IV - os pródigos.
no inciso I, esse artigo enumera o primeiro elemento deva·
!idade do negócio jurídico e, por consequência, do termo de Parágrafo ú nico. A capacidade dos índ ios será re-
consentimento. Esse elemento é o "agente capaz". gulada por legislação especial.
O termo de consentimento é, em regra, um documen·
to formatado por do is agentes, A I e A2. Porta m o, de acordo com este raciocín io, e com o con-
Exempli ficando: A I é médico e está dando ciência, teúdo do artigo 3• ac ima, es tariam impossib ilitados de
por meio do termo de consentimento, à A2 acerca do pro- celebrar, de ma neira válida, um termo de consentimento
cedimento méd ico ao qual este será submetido, dos riscos os pacientes (A2) que fossem: (I) menores de 18 a nos, (li)
do procedimento e dos possíveis resultados, pos itivos ou os q ue por en ferm idade ou deficiê ncia menta l não tive-
não, em virtude de variáveis e aspectos peculiares do orga· rem o discern imento necessário pa ra en tender as infor-
nismo de A2. mações co ntidas no termo de co nsentimento, (I li) os q ue,
Continuando, tanto A I como A2 devem ser agentes mesmo por ca usa trans itória, não puderem exprimir sua
capazes para que o termo de consentimento formatado por von tade.
ambos seja tido como um documento válido. }á de acordo com o q ue determina o art igo 3°, estariam
Mais q ue isso, é necessário que A I, além de capa z, seja impossibilitados de celebra r um termo de consentimento
méd ico, e não basta q ue A I seja simplesmente maior de os pacientes (A2) q ue fossem: (I) maiores de 16 anos e me-
18 anos e esteja no pleno gozo da sua capacidade mental. nores de 18 anos, (li) ébrios habituais, viciados em tóxicos
É preciso q ue A I tenha se grad uado em Med icina e esteja e os que, por deficiência mental ten ham o d iscernimento
devidamente registrado perante o Conselho Regional de redu zido, (lll) os excepcionais, sem desenvolvimento men-
Medicina do estado onde a atuação ocorrerá, ou seja, é tal completo, e (IV) os pródigos.
576 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

Assim, em virtude dessas imposs ibilidades legais, fo- Iidade no mundo juríd ico, não serve como prova e sequer
ram criados e regu lamentados em Lei os institutos jurídi- como lastro do que foi pactuado entre méd ico e paciente.
cos da Representação e da Assistência, cuidando pa ra q ue Porta nto, todas aquelas pessoas previstas no artigo 3•
os absolutamente incapazes e relativamente capazes pudes- do Cód igo C ivil, já mencionado, devem ser representadas
sem realizar negócios juríd icos, sem qua lquer preju ízo. por seu responsável legal, conforme o caso, para q ue o ter-
Como visto, os absolutamente incapazes estão impos- mo de consentimento seja um documento válido e possa
sibilitados de realizar qualq uer negócio juríd ico, ou seja, servir a seu fim probatório pera nte os tribunais brasileiros.
estão impossibilitados de celebrar termo de consentimento Em relação aos relativamente incapazes, é necessá-
com seu médico. rio que estas figu ras juríd icas, arroladas pelo artigo 4" do
Os absolu tamente incapa zes, devem, en tão, ser repre- Código C ivil, sejam devidamente assistidas por seus res-
sentados por seus responsáveis legais que são, muitas vezes, po nsáveis legais, de acordo com o que a Lei determ inar.
o seu pa i e/ou mãe, tutor ou curador. Em virtude desta diferença q ue a Lei estabelece entre
Nesta hipótese, a parte que celebrará o termo de con- absolutamente e relativamente incapaz, o termo de consen-
sentimento com o médico não é a pa rte que se submeterá timento fi rmado entre médico e relativamente incapaz não
ao procedimento méd ico. O paciente e aquele a quem o é nulo como seu correspo ndente fi rmado entre méd ico e
termo de consentimento deverá ser apresentado são pes- absolutamente incapaz.
soas físicas d istintas. Trata-se de um documento anu lável, ou seja, um do-
O termo de consentimento deverá ser apresentado, cumento que em regra produz efeitos de forma vá lida, mas
bem como todas as informações referentes ao procedimen- que pode, a qualquer momento, ser anulado, nos termos
to médico, ao respo nsável legal, seja ele o pa i e/ou a mãe, do artigo 171, inciso I do Cód igo C ivil. A ver:
o tutor ou o curador, ao passo q ue o paciente será o filho
o u a filha, o tutelado ou o curatelado. Art. 171. Além dos casos expressamente declara-
O Cód igo de Ética Médica, editado pela Resolu ção dos na lei, é anulável o negócio juríd ico:
CFM 1.931/2009, determina, no artigo 31 do Capítulo I - por incapacidade relativa do agente;
V - Relação com Pacientes e Familiares - ser vedado ao
médico ''desrespeitar o di reito do paciente ou de seu re-
O termo de consentimento, ass im como qualq uer ne-
presentante legal de decid ir livremente sobre a execução
gócio juríd ico celebrado por agente relativamente incapaz
de práticas d iagnósticas, o u terapêuticas, sa lvo em caso de
(agentes descritos no mencionado artigo 4"), deve ser anu-
im inente risco de morte".
lado por meio de ação judicial.
Portanto, o ava nçado d iploma ético previ u a possibi-
No entanto, para a validade deste termo de consenti·
lidade de o méd ico estar d iante de um paciente absol uta-
mento basta q ue: a incapacidade relativa cesse ou que o
mente incapaz de entender e decid ir livremente sobre os
representante legal do relativamente incapaz e ndosse o ter-
procedimentos médicos aos q uais será submetido, determi-
mo de consentimento.
nando, assim, q ue seu responsável lega l wme ta is decisões.
A incapacidade relativa do agente pode cessar, por
Em face disso, celebrar termo de co nsentimento com
exemplo, q ua ndo o agente completa sua maioridade, ou
paciente absolu tamente incapaz, salvo se não souber se tra-
seja, os 18 anos. Neste caso, o termo de consen timento
tar de absolutamente incapaz, constituiria infração ética à
jama is poderá ser anulado.
autonomia desse responsável legal, pois, nessa situação, ele
é q uem detém a autonomia destinada ao paciente, uma vez
q ue o paciente não rell ne, por sua idade, ou por outro mo- Vontade ou consentimento livre
tivo, as cond ições ideais ou suficientes, de discernimento, A man ifestação de vo ntade tem papel fu ndamenta l no
para exercer tal autOnom ia. termo de consentimento e em qua lquer negócio jurídico.
Por outro lado, analisando a seara jurídica, o termo de }á foi inclusive objetO de estudo deste capítulo, previamen-
consentimento fi rmado entre méd ico e paciente absol uta- te. Pode ela ser expressa (e neste caso escri ta ou verbal) ou
mente incapaz é nulo de pleno direitO, como previsto pelo táci ta. Em nenhum dos casos a vontade pode estar permea-
Cód igo Civil em seu artigo 166, inciso I. In verbis: da por vícios de consentimento.
Os vícios de consentimento impedem q ue a man ifes-
Art. 166. É n ulo o negócio jurídico quando: tação de vontade seja válida, impossibilitando a produção
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; de efeitos legítimos dessa vontade, uma vez que ela se en-
contra viciada, ou seja, não se enco ntra perfeita, polida
Ser nulo significa que o termo de consentimento, bem ou, qu içá, verdadeiramente cond izente com a intenção do
como tudo o que foi ali pactuado, não possu i qualquer va- contratante que a man ifestou .
Capítulo 97 • Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 577

Vício é o gênero, cuj as espécies são: erro, dolo e coa- Explicitemos um exemplo de erro quanto à pessoa, e
ção. Qualquer uma delas impede a va !idade da vontade cujo equivoco se dará pelo paciente:
expressa no termo de consentimento. Vejamos cada uma
das espécies de vício. Suponha-se q ue certO paciente decide consu ltar-se
com um dermatologista para a retirada de uma pinta
Erro que o incomoda esteticamente. Ao pesquisar no cader-
Erro é um vicio subjetivo do agente que expressa a no de seu plano de saúde, o paciente descobre d iversos
vontade. Nesta hipótese, o erro pode ser imputado tanto méd icos listados na seção DermatOlogia. O paciente
ao médico como ao paciente, sendo, no enta nto, mais co- logo deduz tratar-se, todos os méd icos ali listados, de
mum o erro por parte do paciente, que é o leigo e mu itas méd icos dermatologistas devidamente registrados pe-
vezes não é capaz de entender, com exatidão, as informa- rante o CRM e a SBD. Assim, agenda consulta com
ções que são colocadas à sua disposição pelo escu lápio, por aq uele que tinha a horário mais flexível. FeitO isso,
mais que este se esforce. após algu mas consultas e exames, o méd ico e o pa-
O erro se desdobra em: substancial (essencial) ou aci- ciente fi nalmente ass inam o termo de consentimen-
dental. Na hipótese de erro substa ncial, d iz respeitO sobre to para realização do procedimento cirúrgico. Poucos
a substância do negócio jurídico e ocasiona a anulação des- dias antes do procedimento, o paciente, ao navegar
te, ao passo que o erro acidental não tem o mesmo efeito, pela internet, descobre q ue pode consultar no si te do
podendo ser facilmente resolvido pelas partes. C RM quais são os médicos com especialidade registra-
O erro é percebido durante o processo de formação da. Ao consultar o nome e o número de C RM de seu
da vontade, onde aquele q ue deve expressar a vontade se méd ico, o paciente descobre que não se trata de um
equivoca ao avaliar os fatos e os elementos informativos profissional especialista, como cria ser. Nesta hipótese,
que são colocados à sua d isposição. a decisão do paciente de se submeter ao procedimento
A ma nifestação da vontade é defeituosa, viciada, em cirúrgico é anu lável, uma vez q ue se encontra viciada,
vi rtude de uma má interpretação dos fa tos já disponib i· na moda lidade erro, tendo em vista q ue este paciente
lizados. Não quer di zer que o agente não ten ha capaci- se equ ivocou quanto à pessoa do méd ico.
dade de inte rpretar, ou que não te nha o discern imento
suficiente para interpretar, quer di zer apenas q ue, dia nte já em relação ao méd ico, o eq uívoco quanto à pessoa
dos fatos e do seu conhecimento prévio, o intérprete acre- do pacien te é um tanto q uanto d ifícil de co nfigurar-se sem
di tou tratar-se de uma situação, quando na verdade se o dolo (intenção) do paciente, seja com ações o u om issões.
tratava de outra. Esta assertiva encontra embasamento na poss ibilidade de
Há que frisar q ue o intérprete, o u o agente, se equivo- o médico, ao examinar o paciente e ped ir-l he exames su-
ca sozin ho, seja ele paciente ou méd ico. Não há concorrên- plementares, sanar qua lquer possível dúvida quanto à pes-
cia do outro para o equ ívoco. soa deste e, ass im, formar seu convencimento de manei ra
O equ ívoco do paciente não é causado pelo méd ico, é segura.
causado pelo julgamento imperfeito rea lizado pelo próprio A assertiva acima se justifica também pelo fato de q ue
paciente. O mesmo pode ocorrer com o esculápio: se o o médico não procura um paciente com determ inadas ca-
paciente, ao fornecer todas as informações necessá rias, o racterísticas, mas o contrário. Quem procura por caracte-
méd ico interpretar de ma neira eq uivocada, por acredi tar rísticas específicas é o paciente, portamo é este quem se
que aqueles sintomas apresentados se assemelham a deter- encontra muitO mais suscetível ao erro.
minado caso, quando, na realidade, referem-se a caso d ife- Vencida a possib ilidade de erro quanto à pessoa, pas-
rente, sem, no entanto, deixar de se caracterizar a primeira sar-se-á ao erro em relação à coisa.
situação que o méd ico acred ito u se tratar. Erro quanto à co isa é um equ ívoco referente ao objetO
Méd ico e paciente não são vítimas de art ifícios, ex- do termo de consentimento, ou seja, àqu ilo que é trata-
pediente astucioso o u artima nhas, para incorrer em erro. do pelo termo de co nsentimento. Sendo assim, trata-se de
São vítimas de seus próprios julgamentos. Caso contrário, equ ívoco referente ao procedimento médico q ue é descritO
estar-se-ia d iante de vício por dolo (a ser ana lisado ulterior· no termo de consentimento.
mente) e não vício por erro (ora em análise). Nesse caso, o raciocín io a inda é o mesmo: não há co n-
Continuando, o vício por erro pode d izer respeito a corrência do méd ico ou do paciente para que o outro se
coisas ou a pessoas. Portanto, o equivoco poderá ocorrer equ ivoq ue. Todas as informações necessárias são forneci-
em relação às pessoas envolvidas no negócio juríd ico (no das, de ma neira segura, havendo tão somente a má inter-
termo de consentimento) ou em relação à coisa, objeto do pretação acerca dessas informações, que, neste caso, tratam
negócio juríd ico (ou termo de consentimento). especificamente do procedimento méd ico.
578 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

Sendo assim, esse é um e rro um ta nto quanto mais independentemente de se trata r de procedimento mais ou
amplo e com ma is hipóteses de incidência. Pode di zer res- menos complexo que o anterio rmente informado.
peito: (a) ao valor do procedimento (o paciente acred ita Recapitulando: neste item estamos estudando a vonta-
q ue seu plano de saúde cobrirá o procedimento q uando, de livre ou consentimento livre como requisi to de va lidade
na verdade, se trata de procedimento particular); (b) aos de todo negócio jurídico (p. ex., termo de consentimento).
fins do procedimento (o paciente acredita que o tratamen- Este requisi to de validade pressupõe não haver qualquer
to reverterá o caso clínico q uando, na verdade, se trata de vício à vontade ou co nsentimento exteriorizados no negó-
procedimento apenas para retarda r os efeitos da doença); cio juríd ico. Os vícios são passíveis de gerar a a nu lação do
(c) à técn ica a ser utilizada (certos procedimentos com- negócio jurídico, bem como sua produção de efeitos, po-
preendem mais de uma técnica cientificamente reco nhe- dendo se dar por: erro, dolo o u coação. Uma vez exauridos
cida; neste caso, o paciente pode crer quer uma técnica os estudos sobre o vício por erro, passemos a ver o vício
será utilizada quando, na verdade, o médico se sente mais por dolo.
confortável utilizando técnica d iversa).
Já para o médico, esse tipo de erro é de difíci l confi- Dolo
guração, porque é ele quem detém o con hecime nto sobre O vicio por dolo depende de ação o u omissão do pa-
o procedimento descrito. O que pode ocorrer, todavia, ciente ou do médico com o claro intu itO de ludibriar e
é o equ ívoco du rante o diagnóstico e a definição do me- obter consentimento do outro.
lhor procedimento para o caso apresentado pelo pacien- Em ou tras palavras, vicio por dolo caracteriza~e pelo
te. Durante essa fase da formação da convicção médica, o ind uzimento o u provocação de uma das partes a fim de
paciente fornece ao médico wdas as in formações neces- ocasionar o equivoco da ou tra.
sá rias e apresenta-lhe todos os exames complemen ta res T razendo para o cenário médico, deve-se estar d iante
solicitados. de um agir do agente (méd ico ou paciente) ou de um abs-
Diante disso, o médico está apto a formar seu conven- ter~e de agi r do agente (méd ico ou paciente) com a inten-
cimento acerca do melhor procedimento a ser rea lizado. ção expressa de confund ir o o utro e dele obter o consenti-
No entanto, o d iagnóstico pode mu ito bem ser feito de mento necessá rio à va lidação do negócio juríd ico - termo
manei ra equivocada, haja vista as variáveis que permeiam de consentimento.
a ciência méd ica. Caso o d iagnóstico ainda não ten ha sido Ademais, caso a ação o u a omissão, do médico ou do
forma lizado ao paciente por meio do termo de consenti- paciente, não possua o claro objetivo de obter um consen-
mento, não há nada q ue precise ser an ulado. timen to, que em situações normais não ocorreria, a hipó-
Porém, o equívoco do d iagnóstico pode ocorrer às tese não é de dolo, mas de cu lpa, po is o agente não possuía
vésperas do procedimento ci rúrgico ou no inicio do tra- tal objetivo.
tamento, após a apresentação e a assina rura do termo de Exemplifica ndo o vicio por dolo do paciente, gerando
consentimento. Tal fatO obrigará méd ico e paciente a: (a) eq uívoco ao médico:
rea lizarem novo termo de consentimento acerca do novo
procedimento méd ico (objeto do termo) tido como mais Supon ha-se que o paciente do exemplo dado aci-
ind icado para o caso concreto, (b) an ularem a produção de ma (a saber, retirada de pinta) é certo político procu-
efeitOs do termo anteriormente elaborado. rado pela Policia Federal por desvios de verbas públi-
Assim, estar~e-ia d iante de vicio por erro quanto ao cas. Ao se consultar com o médico, ele revela apenas
objetO do negócio jurídico, passível de anulação. Portanto, o incômodo estético com a grande pinta em seu rosto
nessa situ ação o termo de consentimento não poderá pro- e certa urgência em rea lizar o procedimento, uma vez
duzir efei tos, pois ele retrata um procedimento méd ico q ue q ue viajaria para o exterior dentro de algumas sema-
não é o ma is ind icado para o caso clínico do paciente. nas. O méd ico, então, rea liza todos os exames necessá-
Caso o termo de consentimento ainda não tenha sido rios e identifica que a cirurgia terá fi ns estritamente es-
confeccionado, e o méd ico conclua q ue o procedimento téticos, porque a pinta não representa qualquer risco à
deve ser diferente do q ue este havia explicado ao paciente, vida do paciente. Então se reúne com o paciente, uma
estar~e-ia d iante de situação em q ue nada precisaria ser vez ma is, com o intu ito de saber se este está suficiente-
a nulado. mente informado a fim de assinarem, juntos, um ter-
Adema is, d iz-se que, em ambas as hipóteses, não basta mo de co nsentimento para o procedimento cirúrgico.
simplesmente criar um termo de consentimento que pos- Feito isso, o méd ico vai até sua casa descansa r um pou-
sua como objetO o novo procedimento. Todo o processo de co ames do próximo plantão. Ao chegar em casa e liga r
informação ao paciente, sobre o novo procedimento, deve- o noticiário, o méd ico se assusta ao ver a foto do seu
rá ser refeito, frisando as peculiaridades e particularidades, paciente e o vocábulo PROCU RADO. Dia nte disso o
Capítulo 97 • Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 579

médico percebe que o paciente tin ha o intuitO, com a cirúrgica, h ipótese em q ue o médico aproveitará
retirada da pinta, de mod ificar sua aparência para via- para retirar a pi nça. No e nta nto, d ias antes dessa
bilizar a viagem ao exterior e, ass im, manter-se foragido nova intervenção cirú rgica, o paciente consultOu-se
da Policia Federal. Nesta h ipótese, a decisão do méd i- com outros profissiona is q ue, ao solicitarem cer-
co de submeter o paciente ao proced imento ci rúrgico tos exames de imagem, constataram a presença do
é perfeitamente an ulável, pois, q uando acertaram os instrumento cirúrgico. Portanto, o paciente estava
termos do proced imento, o médico acreditava tratar-se sendo convencido a realizar um procedimento cirúr-
de uma intervenção com o in tuitO de sanar insatisfa- gico sem ter q ualquer noção do real motivo para sua
ção estética trazida pelo paciente. Além de o termo de realização. Trata-se de caso em q ue o médico agiu
consentimento poder ser a nulado, o médico pode uti· adulterando informações com a intenção de obter o
lizar-se de sua autonomia (tutelada pelo CEM/lO) para consentimento do paciente para realizar um proce-
di zer ao paciente que procure o utro profiss ional, po is dimento q ue não teria o fim apresentado a este.
não se sente confortável para realizar o procedimento.
Frisa-se que esta é uma faculdade do médico, uma vez Diante do caso concreto, o paciente poderia simples-
q ue não se trata de um procedimento de urgência/ mente auto rizar o proced imento em face do motivo rea l,
emergência.14 de que um instru mento cirúrgico foi esquecido em seu or-
gan ismo. Não haveria óbice quanto a esse consentimen to,
Neste exemplo, o paciente, sabendo que não co nsegu i- contudo, em razão da omissão dolosa do médico em revelá-
ria o assentimento do méd ico para realizar o p roced imento ·lo, o termo de co nsentimento passou a ser eivado de vício
se tivesse apresentado os reais motivos, om itiu certas in for· por dolo do médico e plenamente an ulável, insuscetível de
mações, de maneira dolosa, ou seja, de manei ra intencio- prod uzir efeitos.
nal, com o ún ico objetivo de obter o consentimento do
méd ico. Coação
Assim, a vontade do méd ico, exteriorizada no negócio Exauridos os estudos sobre o vício por dolo, proceder-
jurídico, possui vício por dolo. Diz-se isso porq ue o méd ico ·se-á, então, ao vício por coação. Vejamos de inicio, as d is·
não rea lizaria o procedimento caso possuísse todas as in for· posições legais do Cód igo C ivil em vigor (2002), sobre o
mações referentes a seu paciente. instituto jurídico o ra em análise.
Exempli ficando o vicio por dolo do médico, gerando
equivoco ao paciente: Art. 151. A coação, para viciar a declaração da
vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado
a) suponha-se que certO paciente submeteu-se a proce- temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à
dimento cirúrgico denominado cirurgia ba riátrica. sua família, ou aos seus bens.
Após plena recuperação, o médico descobre que P arágrafo único. Se disser respeito a pessoa não
esqueceu uma pequena pinça cirúrgica próxima ao pertencente à fam ília do paciente, o juiz, com base nas
intestino do paciente. Este, por sua vez, não apresen- circunstâncias, decid irá se houve coação.
ta qua lquer queixa, reclamação o u sintoma clínico Art. 154. Vicia o negócio juríd ico a coação exe rci-
da presença da pinça em seu organismo. Com certo da por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conheci-
receio de ser demandado judicialmente no futuro, mento a parte a que aproveite, e esta respo nderá soli-
caso o paciente descubra a presença da pinça em seu dariamente com aquele por perdas e danos .
organismo, o médico convence o paciente de que Art. 155. Subsisti rá o negócio juríd ico, se a coação
precisará submeter-se a um procedimento cirürgico decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite
de urgência, para "análise evolutiva de certos ele- dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor
mentos do pós-Qperató rio". O paciente, muito preo- da coação responderá por wdas as perdas e danos q ue
cupado, autoriza o médico a realizar tal intervenção h ouver causado ao coacto.

"Cúdigo ele Ética Médica- R.::soluç.-lo C FM 1.931/2009. Como foi explicitado ma is acima, o vício por coação
Capirulo I impede a produção de efeitos do negócio jurídico, com an-
Pri ncípios Fundamentais do-o anulável. Tal vício se caracteriza pelo constrangimen-
VIl - O médico exercer:\ sua profissão com autonomia, nilo sendo
tO (físico ou moral) que uma parte impõe à outra para q ue
obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua cons~
ciência ou a quem não deseje, e."<cctuadas as situaçt)es de ausência de
faça ou deixe de fazer determinada ação, pois se e ncontra
outro méd ico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua sob fundado temor de dano im inente con tra sua pessoa,
recusa possa trazer danos à saúde do paciente sua fam ília ou seus bens.
580 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

A abrangência maior da coação é aquela em que o dano coação é mora l, e não física. Caso se tratasse de consenti·
imi nente se configura contra pessoa exterior ao círculo fam i- mento obtido mediante coação física , estar-se-ia diante de
liar daquele q ue sofre a coação. Nesses casos, o juiz deverá negócio juríd ico nulo.
assinalar se houve ou não coação, não sendo, portanto, um A coação física contra o médico, por sua vez, ocorreria
critério objetivo, mas subjetivo ao juiz. Contudo, reca indo se o paciente viesse a agir contra a integridade física do pro-
o dano iminente contra pessoa dentro do circulo familiar fiss ional com o intuito de obter seu consentimento sobre a
do coagido, o critério é objetivo para a conclusão da coação. realização do proced imento ci rLirgico.
Adema is, a coação física é denom inada absoluta e a Esta h ipótese é de difícil plausibilidade, pois, med ian-
coação moral é denominada relativa. te o ataque à sua integridade física, qualquer consentimen-
A coação física apresenta exceção q uanto à matéria de to do méd ico se corna nulo de plano.
n ulidade do negócio juríd ico, po is não será a nulável, como Suponha-se que o médico se negue a rea lizar determi-
nos outros casos de vicio da vontade (erro ou dolo); será nado proced imento perante certo paciente, em seu con-
n ulo. Ass im, o termo de consentimento que for fruto dessa su ltório. Caso este paciente venha a agredir o médico, o
modalidade de coação será n ulo de plano. paciente o faria para o que o médico real izasse imed iata-
Ao revés, no caso de coação moral, o termo de con- mente o procedimento, ou q ualq uer outro desejo (como
sentimento será a nu lável, podendo as partes optar por sua prescrever med icamentos ou fornecer atestados), e não
prod ução de efeitos, o u não. s implesmente para que o médico consentisse em real iza r
A coação se configura na hipótese de o méd ico ou o um aro méd ico a posreriori .
paciente, em face da impossibilidade de consegui r o q ue Bas taria ao méd ico conse ntir sobre a realização do
deseja de forma amigável e dentro das relações h umanas p roced ime nto, apresenta r rodos os termos e contratos
legalmente e socialmente aceitas, utilizar-se de art ifícios ao paciente e d irigir-se imediatamente à auto ridade po-
psicológicos (coação moral) o u físicos (coação física) para licial.
atingir seu objetivo. Portanto, o procedimento nu nca chega ria a ser efetiva-
Acrescente-se que esta coação deve existir de tal modo mente realizado e o consentimento obtido med ia nte coa-
q ue rea lmente obrigue o médico ou o paciente: (a) a rea- ção fís ica, como d ito, é um co nsentimento nulo, um con-
lizar uma ação a q ual, em cond ições normais, não seria sentimento que não gera qua lquer efeitO, d iferentemente
rea lizada o u, também, (b) a não realizar uma ação a q ual, do co nsentimento an ulável, que, até sua efetiva anulação,
em co ndições normais, seria real izada. produz efei tos.
Exemplificando a coação do paciente, praticada contra
o méd ico:
Objeto lícito, determinado ou determinável
Suponha-se que aquele paciente já qualificado, o Todo negócio jurídico deve possuir objeto para existir,
qua l deseja se ver livre da pinta no rostO, sendo pro- mas, para ser válido, o objeto deve ser licitO, determinado
curado pela Policia Federal a fim de co nsegu ir sa ir ou determinável.
do país, ameaça seu médico a realizar o proced imen- O objetO é a coisa, o bem, o ato ou o fato sobre o qual
tO cirúrgico independentemente de seus ditames de reca irá a relação jurídica estabelecida entre duas ou mais
consciência, pois, caso contrário, sua vida e a de seus partes.
fam iliares estarão correndo grande risco. A~s im, o objeto de um negócio jurídico pode ser um
Suponha-se, ainda, que tal paciente não tenha carro no contratO de compra e venda, a posse d ireta de um
ameaçado a vida do méd ico e de sua fam ília, mas te- imóvel no co ntratO de locação de imóvel ou um iPad no
nha d itO que fará com que o méd ico e sua clínica se- contrato de comodato.
jam despejados do imóvel onde estão localizados, pois No termo de consentimento, seu objetO será determi·
o ex-político é do no do préd io, caso o méd ico não con- nado tratamento méd ico, podendo abranger aw ci rLirgico
s inta e não realize o proced imento ci rLi rgico. ou prescrição medicamentosa, entre ou tros. A Lei não de-
lim ita taxativamente o que pode ser o u não objeto de um
Ambos os casos, apesar de o pri meiro mencionar negócio jurídico, mas impõe lim itações a serem estudadas
ameaça à vida, são casos de coação moral pra ticada contra logo a segu ir.
o méd ico, porque a violência física, apesar de mencio nada, Para aná lise dessas limitações, vejamos os d izeres de
não chegou a ser praticada. Nelson Nery e Rosa Maria de Andrade Nery:
Portanto, mediante essas ameaças, caso o médico ve-
n ha a se comprometer a realiza r o proced imento cirLirgico, (. ..) ora a conduta h umana reca i sobre coisa ou
este comprom isso é perfeitamente an ulável, uma vez que a bem (objetO med iato) a que se refere o d ireito, ora
Capítulo 97 • Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 581

reca i sobre atos ou faros visados em determinada si· verba l ou documental}, do mod o como convencio narem
tuação juríd ica. A prestação devida, o objetO exigido, os age ntes.
deve ser possível (física e jurid icamente) e poder ser Sendo assim, para existirem, os negócios juríd icos q ue
identificad a imed iatamente (determinado), ou poste- possuem forma prescrita em lei devem respei tar tal forma,
rionnente (determinável)-'; sob pena de sequer existirem no mu ndo juríd ico. O termo
de co nsentimento, por sua vez, é um documento que não
Em seguida, vejamos as pa lavras de Cesar Fiú za sobre possui forma prescrita em lei.
o objeto possível: Porém, em virtude de o vocábulo termo implicar
(como foi estudado min uciosamente logo acima) forma
Objeto possível é aquele realizável, tanto material- escrita, cartular e expressa, entende-se que, para a tender
mente quanto jurid icamente. Para melhor entender- à sua fu nciona lidade jurídica, o termo de consentimento
mos, será mais fácil exemplificarmos o que seja objeto prescinde de forma escrita, não sendo possível existir ape-
impossível. Materialmente impossível é a venda de lotes nas na forma verba l (consensual).
na lua, o u a venda de lugar no céu. Juridicamente im- Se o termo d e consentimento se der de manei ra ora l,
possível é a venda do Pão de Açúcar, o u do Parque Mu- servirá à sua fu nção estritamente ética, mas não servirá à
n icipal de Belo Horizo nte, ou ai nda, a venda de carro sua fu nção jurídica ou ético-legal. Se o termo se der de ma-
furtado. nei ra tácita, não atenderá a nenhu ma d e suas fu nções, pois
O código civil não usa o termo objeto possível. Ao a forma tácita é contrária à própria natureza e aos objetivos
invéS d isso, utiliza o termo objeto lícito. No meu en- do termo de consentimento.
tender, o legislador deveria ter sido mais genérico, po is Por tudo isso, é importante q ue, mesmo não possu in·
objeto lícito é apenas o objeto juridicamente possível. do forma prescri ta em lei, o termo observe certos aspectos,
E o materialmente possível/ Evidentemente, por ques- como possuir forma documental e ter seu consentimento
tão de lógica, pode-se ded uzi-lo da Lei. 16 de manei ra expressa.
Para existir como um negócio juríd ico, sequer é ne-
Assim, se o objeto da si tu ação ético-jurídica entre mé- cessário que o consentimento exista fisicamente. Ocorre,
d ico e paciente, documentada por meio do termo de con- como supramencionado, ao analisar o vocábulo termo em
sentimento, recair sobre coisa, bem, ato ou faro da seara meio ao contexto médico-legal, o termo de consentimento
médica, sendo possível (exequ ível no mundo material e é um documen to onde as declarações do paciente e do mé-
jurídico), passível d e ser identificado imed iatamente (de- dico são redu zidas a termo, induzindo a existência de um
terminado), ou posteriormente (determinável), será um documento físico.
objetO que proporcionará validade ao termo de consenti· Para os fins do negócio juríd ico, no entanto, basta q ue
mento. o paciente suficientemente informado decla re de próprio
pu nho em folha avu lsa (ou demonstre seu consentimento
Forma prescrita ou não defesa em lei oralmente o u, a inda, por meio de gestO) q ue autOriza o mé-
(DÚVlDA! ]á foi analisado o pre.sente tema com o título de dico a realizar determi nado proced imento, se enco ntrando
"Forma" no plano de existência. O que foi e.scrito supra sobre a suficientemente esclarecido sobre este.
"Forma" diz respeito exatamente à "forma prescrita ou não defesa Obviamente, não se poderia negar a produção de efei-
em lei", então, em qual dos rítulos podemos inserir unicamente tOS d esse negócio jurídico, s implesmente por não obedecer
estes escritos a baixo?) uma forma específica, uma vez que a inda não existe essa
Ainda há um ú ltimo requisito neste plano, a forma. forma específica em nosso ordenamento juríd ico. Mas,
Com relação a esta, apen as alguns negócios jurídicos como já argumentado previamente, defend e-se aqui que o
possuem forma defin ida em lei. Assim, é miste r exp lica r termo de consentimento deve obedecer à forma escrita, do-
q ue o negóc io jurídico pode se dar: (a) verbalmente, que cumental e expressa, em face de seus objetivos e da própria
aba rca a maneira expressa o u tácita, ou, (b) documenta l- natu reza ético-jurídica.
mente, que é a ma neira formal o u solene. Em face da não Essa s ituação um tanto vaga deve mudar em b re-
disposição d a Lei sobre qual é a forma especifica, o ne- ve, uma vez que se enco ntra em trâm ite perante o
góc io jurídico pode se dar d e qualquer ma neira (ou seja, Congresso Naciona l o p rojetO de le i 1.475/20 11, que
regulamenta o termo de consentime nto, tornando este
um documento obrigatório para a licitude de determi-
';Nery Jún ior N . Andrade Nery RM de. Código Civil Comentado. 8.
ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011:332. nad os p roced imen tos .
16
Fiúza C. Direito Civil: Curso Completo. 15. ed. Belo Horizonte: Passemos agora à aná lise do plano de eficácia d os ne-
Editora DelRey, 201 1:486. gócios juríd icos.
582 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

Eficácia Art. 121. Considera-se condição a cláusula q ue,


No plano da eficácia, b usca-se inferi r a aptidão do ne- derivando exclusivamente da vo ntade das partes, su-
gócio juríd ico para prod uzir efeitos no meio fático e social, bord ina o efeito do negócio jurídico a evento futu ro
gerando os resultados almejados pelas partes. e incerto.
Nesse caso, deve haver o preenchimento de todos os
requisitOs supramencionados (de existê ncia e validade). Ademais, a condição subord ina o inicio da eficácia
Tais requis itos são chamados de elementos puros o u sim- ou o fim da eficácia do negócio jurídico. Por isso, pode
ples, pois sem estes o negócio jurídico não reverbera seus ser desdobrada em co nd ição suspensiva e condição reso-
efeitos juríd icos no mundo fático. lutiva.
Uma vez estando o negócio juríd ico apto para gerar A primei ra delas cond iciona o início da eficácia a um
efeitOs, o adimplemento dos deveres e obrigações comidos fato futu ro e incerto, mantendo suspenso o surgimento
neste passa a ser exigível judicialmente de uma parte à o u- de um d irei to a ser adquirido (p. ex., um paciente deseja
tra em face de eventual inadimplemento. A~s im, o negócio submeter-se à cirurgia conhecida como abdom inoplastia.
jurídico existente e vá lid o pode vi r a ser eficaz. A simples Ocorre que este paciente não se e ncontra em situação de
existência e validade geram, às partes, a poss ibilidade de ind icação para tal procedimento, uma vez q ue não apre-
exigir que se cumpra o que no negócio jurídico se e ncontra senta determinado percen tu al de gordura exigido para que
descrito e que foi, portamo, pactuado. se realize o procedimento ci rürgico. Portanto, para que o
Sendo assim, o Termo de Consentimento que existe, procedimento possa ocorrer em segu ra nça, é preciso que
e é válido nos termos acima, poderá, também, ser eficaz, o paciente se encontre em situação de ind icação para tal
caso as partes (médico e paciente) cumpram tudo o que ali procedimento).
se e ncontra estabelecido ou venham a ser jud icialmente )á a segu nda delas cond iciona o fim da eficácia a
obrigadas a cumprir o que foi pactuado. um fato futuro e incerto, extinguindo determ inado di-
Este cumprimento retira o termo d e consentimento do re ito oriundo de negócio jurídico pactuado (p. ex., o
plano das ideias e das vontades e o coloca no plano prático acompan hamento do méd ico até q ue o paciente, após
da produção de efeitos, ou da eficácia. O termo de co nsen- ciru rgia denom inada red ução de estômago a tinja o ín·
timento q ue existe e é válido, mas que n unca teve o proce- dice de massa corpora l II MC ], percentual de go rdu ra
dimento nele descrito efetivamente realizado pelas partes o u determ inado peso corporal pactuado. Ass im que o
q ue o pactuaram, é um termo de consentimento q ue não é paciente a tingir tal condição, pactuada, de determ inado
eficaz, por mais que seja existente e válido. lM C, percentual de gord ura ou peso corporal, não há
O falecimento, por exemplo, d e um dos agentes, mé- ma is que se fala r em acompanhamen to médico, e a pro-
dico ou paciente, antes da execução do procedi mento dução de efeitOs do te rmo de co nsen timentO terá sido
contratado, cria a situação acima, em que o termo de con- fina lizada).
sentimento será válido, existente, mas não será eficaz, pois Vejamos, então, a defin ição de Pau lo Nader:
motivo superven iente imped iu sua produção de efeitOS.
Contudo, para averiguar se determinado negócio juri· (. ..)condição é elemento voluntário e acidenta l de
dico pode vir a ser eficaz e se encontra apto a gerar efeitos, um negócio jurídico que subord ina o nascimento ou
deve-se observar se este não está subord inado a um aconte- extinção do direito subjetivo a acontecimento futu ro
cimento futu ro exigido e compactuado pelas partes. Deve- e incerto. 17
se verificar se não há nen hum dos elementos acidentais ou
facu ltativos. Vejamos, ou tross im, as d ispos ições legais do Código
Tais elementos são lim itadores da eficácia do negócio C ivil em vigor (2002) sobre o elemento acidental em
juríd ico. Devem ser pactuados pelas partes e têm a fu nção tela:
de fornecer às estas controle sobre a eficácia do negócio
jurídico, fazendo com que melhor possa atender às suas Art. 122. São lícitas, em geral, todas as co ndições
necessidades. Os elementos limitadores são, a saber: con- não contrárias à lei, à ordem pública o u aos bo ns cos-
dição, termo e encargo. tumes; entre as cond ições defesas se incl uem as que
privarem de rodo efeito o negócio juríd ico, o u o sujei-
Condição tarem ao puro arbítrio de uma das partes.
A co nd ição é elemento acidental do negócio juríd ico
q ue subordina a produção de efei tos deste a fato futuro e "Nader P. Curso de Direito Civil: parte geral - Vol. l. 2. ed. São
incerto. Vejamos o texto legal do Código C ivil: Paulo: Ed. Foren$e, 2012.
Capítulo 97 • Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 583

Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negó· Art. 130. Ao titular do d ireitO eventual, nos casos
c io ju rídico à cond ição suspens iva, enquanto esta de cond ição suspensiva ou resolutiva, é permitido pra-
se não verificar, não se terá adqu irido o d ire ito, a ticar os atos destinados a conservá·lo.
que e le visa.
Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob Termo
cond ição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto
O termo é elemento acidental do negócio jurídico q ue
àquela novas disposições, estas não terão valor, realiza·
subord ina a produção de efeitos deste a evento futu ro, po-
da a condição, se com ela forem incompatíveis.
rém certO . Em virtude da exatidão com a qual se sabe e
Art. 127. Se for resol utiva a cond ição, enquanto
se compactua acerca do elemento acidental do termo, este
esta se não realizar, vigora rá o negócio jurídico, poden·
traduz-se em uma ideia de lapso temporal.
do exercer·se desde a conclusão deste o di reito por ele
Da mesma ma neira como a cond ição, o termo pode
estabelecido.
fazer su rgir um di re itO o u extinguir u m direitO, porque
Art. 128 . Sobrevindo a condição resolutiva, ex·
determinado negóc io jurídico pode: (a) in iciar sua efi-
tingue-se, pa ra todos os efeitOS, o direitO a que ela
các ia em data futura específica ou em p ra zo tempo ra l
se opõe; mas, se aposta a um negóc io de execução
espec ífico, não tendo, contudo, p revisão certa para sua
co ntinuada ou periódica, a sua real ização, salvo dis·
resolução; (b) iniciar sua eficácia no momento em que
pos ição em contrário, não tem eficácia qua ntO aos se celebra o negócio ju ríd ico, te ndo, des ta vez, da ta es-
aws já praticados, desde q ue compatíveis com a na·
pec ífica o u prazo temporal específico pa ra s ua extinção;
tureza da co nd ição pe ndente e con fo rme os d itames (c) iniciar sua eficácia em da ta futura específica, preven-
de boa-fé. do, o utross im, da ta futu ra específica para s ua resolução.
Ass im, o te rmo se desdobra em: te rmo inicial ou termo
Ademais, a cond ição pode ensejar a invalidade do final.
negócio ju ríd ico, uma vez q ue são indissociáveis deste. As Vejamos o texto legal do Código Civil e as peculiarida-
condições suspensivas devem respeitar a licitude, a poss ibi· des do elemento acidental ora em estudo:
!idade física e poss ibilidade jurídica.
Contudo, se a cond ição resolutiva não respeita r a pos- Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional
sibilidade física, o negócio ju ríd ico não será invá lido, mas em co ntrário, computam-se os prazos, excluído o d ia
a cond ição será inexistente (considerando-a não escri ta). do começo, e incluído o do ven cimento.
Ainda sobre a condição resolu tiva, esta pode se dar de § lll Se o d ia do vencimento cair em feriado, co n-
maneira expressa ou tácita, sendo, nesta ú ltima hipótese, s iderar<;e-á prorrogado o prazo até o segui nte dia útil.
necessária a interpelação judicial. § 2° Meado considera-se, em qua lquer mês, o seu
Ass im, vejamos os disposi tivos legais a segu ir a fim de décimo qu into dia.
aferir outras peculiaridades do elemento acidental da con· § 3° Os prazos de meses e anos expiram no d ia de
d ição: igual número do de inicio, ou no imed iato, se fa ltar
exata correspondência.
Art. 123. Invalidam os negócios juríd icos q ue lhes § 41l Os prazos fixados por hora contar<;e-ão de
são subordinados: minuto a min uto.
l - as condições fís ica ou jurid icamente impossí·
veis, quando suspensivas; Portanto, como regra, computam<;e os prazos exclu in-
li - as cond ições il ícitas, ou de fazer coisa ilícita; do-se o dia do começo e incl uindo-se o dia do vencimento,
lil - as condições incompreens íveis ou contrad i· podendo se alte rar em face de convenção das partes.
tórias.
Art. 124. T êm<;e por inexistentes as co ndições im· Art. 131. O termo inicial suspende o exercício,
possíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa mas não a aqu isição do d ireito.
impossível. Art. 135. Ao termo inicial e fi nal aplicam<;e, no
Art. 129. Reputa<;e verificada, quanto aos efeitos que couber, as d isposições relativas à co ndição suspen-
jurídicos, a cond ição cujo implemento for maliciosa· s iva e resolutiva.
mente obstado pela parte a q uem desfavorecer, con·
sidera ndo-se, ao contrário, não verificada a co ndição Pode ser exemplo do presente instituto a pactuação
maliciosamente levada a efeito por aquele a quem para realização de determinado procedimento cirúrgico
aprovei ta o seu implemento. quando o paciente retornar de determ inada viagem, com
584 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

data já marcada, ou então, a partir do dia em q ue o méd ico


associar~e a determinado seguro de saúde, data esta q ue Art. 2" Consumidor é toda pessoa física o u jurí-
deve ser já conhecida (p. ex., 30 d ias após ass inatu ra do dica que adqui re ou utiliza produto ou serviço como
contratO de prestação de serviço). destinatário final.

Parágrafo (mico. Eq uipara-se a consumidor à co-


Encargo letividade de pessoas, ainda q ue indeterm ináveis, que
O encargo é elemento acidental do negócio juríd ico, haja intervi ndo nas relações de consumo.
q ue subord ina a produção de efeitos deste a um ato que,
por sua vez, há de ser cumprido pelo titular do d irei to a Em interpretação sistemática-literal do artigo acima
q uem o negócio juríd ico é destinado. citado, percebe~e que o paciente é desti natário fi nal dos
Excepcionalmente, nesse caso, não há bilateralidade; serviços méd icos e q ue, como pessoa física, estaria, portan-
assim, a imposição do encargo se dá de ma neira u nilateral, to, incluso na defin ição do artigo 2• para ser classificado
cabendo à outra parte tão-somente aceitar ou renunciar ao d i- como consumidor.
reito que lhe é destinado pelo negócio jurídico com encargo. Já o artigo 3• do mesmo d iploma defi ne que fornece-
Adema is, se o e ncargo for ilícito ou impossível, pode dor é todo aq uele que desenvolve atividade de, entre ou-
tornar nulo o negócio jurídico na hipótese de quando o tras, prestação de serviços, defin indo como serviço, em seu
motivo pelo qua l uma das partes compactuou com a outra 2" parágrafo, como toda atividade fornecida no mercado
se deu em razão determinante do encargo. de consumo, med iante remuneração.
Vejamos o texto lega l do Cód igo C ivil em vigor (2002):
Art. 3• Fornecedor é toda pessoa física ou juríd i-
Art. 136. O encargo não suspende a aq uis ição ca, pública o u privada, nacional ou estra nge ira, bem
nem o exercício do direito, sa lvo quando expressa- como os emes desperso nalizados, q ue desenvolvem
mente imposto no negócio jurídico, pelo d isponente, atividade de prod ução, montagem, criação, co nstru -
como cond ição suspensiva. ção, tra nsformação, importação, exportação, distri-
Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícitO b uição ou comercialização de produ tos ou prestação
ou imposs ível, salvo se constitui r o motivo determi- de serviços.
nante da liberalidade, caso em que se invalida o negó-
cio juríd ico. § i• Produto é qua lquer bem, móvel ou imóvel,
materia l ou imaterial.
Sendo assim, tendo sido analisados os aspectos jurídi- § 2u Serviço é qua lquer atividade fornecida no
cos que envolvem a elaboração do termo de consentimen- mercado de consumo, med iante remu neração, inclu-
to, passa~e à aná lise dos instrumentos legais que no rmati· sive as de natureza bancária, financeira, de créd ito e
zam e, de certa maneira, tornam o termo de consentimen- securitária, sa lvo as decorrentes das relações de ca ráter
tO um documento inerente à prática médica. traba lhista.

Sendo assim, novamente em interpretação sistemática-


CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR -literal, percebe-se que o méd ico é fornecedor, da espécie
Como é sabido, o Código de Defesa do Consumidor prestador de serviço, ao passo q ue comercializa sua presta-
é um conjunto de normas, prom ulgado em 1990, com o ção de serviços ao paciente, consumidor, ao passo que este
intuitO de pro teger o consumidor e as relações de consu- é o destinatário final do serviço fornecido pelo médico.
mo celebradas no Brasil, tendo em vista a hipossuficiência, Ao contin uar a análise do C DC, tem-se o artigo 6•,
q ue pode ser de ordem econôm ica ou técnica, do consumi- lll, que estabelece como d irei to básico do consumidor "a
dor ame o fornecedor. informação adequada e clara sobre os d iferentes produ tos
Nessa esteira e no avançar da utilização desse diploma e serviços, com especificação correta de q ua ntidade, carac-
legal, a relação médico-paciente passou a ser, de manei ra terísticas, composição, qua lidade e preço, bem como sobre
equ ivocada, pouco técn ica e sem fu ndamentação coerente, os nscos que apresentem• .

tutelada pelo d iploma aqu i denominado C DC (Código de Esta é a hora em que o termo de consentimento passa
Defesa do Consumidor). a ser exigido em razão do coe.
Aduz, ta l conjunto de normas, em seu artigo 2° q ue Uma vez q ue o médico é fornecedor, o paciente é con-
consum idor é aq uele q ue adquire produ to, ou serviço, sum idor, e este tem o di reito báSico de ser informado sobre
como destinatário fi nal do mesmo, aba ixo: o serviço q ue será prestado pelo méd ico, fornecedor, e este
Capítulo 97 • Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 585

méd ico tem o dever de realizar tal informação de maneira Para q ue tal responsabilização ocorra, deve<;e configu-
completa e correta, como determinou o art igo. rar (a) uma ação ou uma omissão, (b) um da no e (c) um lia-
Bastaria que o médico então, em seu consultório, apre- me, uma conexão, denominada nexo de causalidade, entre
sentasse ao paciente, verbalmente, os riscos e os benefícios a ação o u omissão e o da no.
do procedimento médico ao q ual será submetido. Ocorre, Sendo assim, bem deli mi tados os três aspectOs, haverá
no entanto, que essa apresentação verbal jama is poderá o dever do agente q ue agiu ou omitiu-se de agi r de reparar
vencer a má-fé do paciente que desejar se apresentar à jus- o da no que esteja conectado intimamente com este agir ou
tiça como sujeito que não fo i informado. deixar de agir.
Por esta razão, o termo de consentimento é o docu- Nesses termos, poder<;e-ia cogitar a responsabilização
mento hábil a ser utilizado pelo méd ico como escudo do méd ico por deixar de apresentar ao paciente o termo de
contra a possível má-fé do paciente que, insatisfeitO com consentimento, ou, ainda, apresentá-lo de maneira lacunosa
o resultado obtido, deseja defender a tese de que não foi e incompleta, o que caracterizaria uma omissão, um deixar
informado sobre os riscos do procedimento. de agi r, mas que para ser caracterizada como uma responsa-
Ai nda em relação ao CDC, este estabelece uma infra- bilidade civil careceria ai nda de um dano intimamente rela-
ção penal, em seu artigo 66, caso o fornecedor (no nosso cionado ao deixar de agir do médico, ou seja, intimamente
interesse, méd ico) apresente informações insuficientes, in- relacionado com a informação q ue deixou de ser apresenta-
completas, inverídicas acerca do serviço, abaixo: da, ou foi apresentada de manei ra incompleta.
Sendo ass im, para que a falta do termo de consen-
Art. 66. Fazer afirmação falsa o u enganosa, o u timento ou sua incompletude seja ca racte rizada como
om itir informação relevante sobre a natu reza, carac- responsabilidade civil do médico, torna-se cru cial que
terística, qualidade, quantidade, segu ra nça, desempe- o dano seja consequência da informação inexistente ou
n ho, durabil idade, preço ou garantia de produtOs ou fal ha, liga ndo-se esta àquela pelo chamado nexo de cau-
serviços: salidade.
Pena - Dete nção de três meses a um a no e multa. Assim, deverá o méd ico ser civilmente responsabiliza-
§ l UIncorrerá nas mesmas penas q uem patrocinar do sempre q ue o paciente experimentar um dano q ue este
a oferta. méd ico deixou de prever em seu termo de consentimento.
§2U Se o crime é culposo; Por exemplo, caso o paciente se submeta a certo proce-
Pena - Dete nção de um a seis meses ou multa. d imento q ue apresenta possibilidade de cicatrização hiper-
trófica, tendo em vista os hábi tos de vida, idade, textura de
Portanto, nos termos do C DC, além de ser obrigatório pele do paciente e a própria técn ica a ser adotada, e esse
que o méd ico informe seu paciente acerca dos serviços a risco não foi salientado pelo médico, vindo o paciente a
serem realizados por ele, w rna-se essencial q ue essas infor- experimentá-lo, será o méd ico civilmente responsável pela
mações sejam completas, esgotativas, verídicas, o que nada ausência de informação.
mais é que repetir deveres e obrigações éticas já co nhecidas Esta tese é defend ida, pois o paciente, ciente desse
e respeitadas há mu ito pelos méd icos. risco q ue lhe foi omitido pelo méd ico, teria então a fa-
Tendo sido a nalisado o termo de consentimento em cu ldade de optar, o u não, pelo procedimento. Q uando o
face do coe, passa-se à sua análise ante seus aspectos risco não é apresentado ao paciente, este não tem ciência
éticos q ue, embora trazidos pelo coe em 1990, já se en- do mesmo.
contravam no juramento de Hipócrates, atualizado pela Deve-se levar em consideração o estado de leigo em
Declaração de Genebra em 1948. que o paciente se encontra. Para os méd icos e dema is pro-
fissio nais da saúde, cicatri z e procedimentos cirúrgicos são
duas coisas intimamente relacionadas, mas não para o pa-
RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO
- OBTENÇAO
PELA NAO - DO TERMO DE ciente, assim como os dema is riscos que são inerentes aos
procedimentos cirúrgicos, simples o u complexos.
CONSENTIMENTO INFORMADO O paciente necess ita que o méd ico lhe apresente tal
A responsabilidade civil é, em poucas palavras, a razão possibilidade, pois, caso contrário, é como se esta não exis-
da obrigação que uma pessoa tem de repa rar um dano que tisse o u não fosse aplicável ao caso concreto do paciente,
sua ação o u omissão, voluntária, negligente ou imprudente razão pela q ual este poderá ser indenizado pelo méd ico
causou a outra. caso ven ha a experimentar dano decorrente de informação
A teoria da responsabilidade civil, no Direito, visa deter- não prestada ou prestada de ma neira om issa.
minar em qua is condições pode uma pessoa ser considerada Por o utra óptica, pode ocorrer de o méd ico apresentar
responsável, civilmente, pelo da no alegado por o utrem. ao paciente, de maneira completa e exata, wdos os riscos
586 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

acerca do procedimento ao q ual será submetido e o pa- I. The voluntary consent of the human su bject
ciente sofrer certo dano, devidamente previstO em termo is absolutely essen tial. This means that the person
de consentimento, mas decorrente de cu lpa do méd ico. involved should have legal capacity tO give consent;
Neste caso, toma-se por empréstimo lição de Miguel Kfouri should be so situated as to be able to exerc ise free
Neto:18 "na eventualidade de o da no ter sido causado por power of choice, without the interven tio n of any ele-
culpa do méd ico, norma lmente torna-se irrelevante discu- ment of force, fraud, deceit, du ress, over-reaching,
tir a q ualidade da informação. Entreta nto, quando a inter- o r other ulterior form of constraint or coercion; and
venção méd ica é correta - e não se informou adeq uada- should have sufficient knowledge and comprehen-
mente - a questão se torna crucial." sion of the elements of the subject matter involved
as to enable him/her tO ma ke an understanding and
,
ASPECTOS ETICOS e nligh tened decision. T his latter elemen t requ ires
that before the acceptance of an affi rmative dec ision
Como asseverado previamente, o termo de consenti·
by the experimenta l subject there should be made
mento, é um negócio jurídico da espécie documento mé-
known to him the nature, duratio n, and pu rpose of
dico, o que acrescenta, além dos requisitos e elementos já
the experiment; the method and means by which it
analisados, diversos outros, de ordem ética, moral e técnica,
is to be conducted; ali inco nven iences and hazards
o riundos dos pri ncípios do exercício da Med icina e formali-
reasonable to be expected; and the effects upo n his
zados pelo Conselho Federal de Med ici na, q ue regulamente
hea lth or person which may poss ibly come from his
a prática e os atos médicos em rodo o território nacional,
pa rt icipatio n in the experi ment. The duty and res-
conforme determina o artigo 2" da Lei 3.268, de 1957:
ponsibility for ascertain ing the q uality o f the consent
reses upon each ind ividual who in iciares, directs o r
Art. 2" O Co nsel ho Federal e os Conselhos Regio-
e ngages in the experi ment. lt is a perso nal duty and
nais de Medicina são os órgãos supervisores da ética
respons ibility which may not be delegated tO a nother
profissional em toda a República e, ao mesmo tempo,
with impu nity." (grifo do auw r)
julgadores e d isciplinado res da classe méd ica, caben-
do-lhes zelar e trabalhar por rod os os meios ao seu al-
cance, pelo perfei to desempenho ético da medicina e Em trad ução livre, da frase em negri to, tem-se que o
pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos q ue a voluntário consentimento do ser hu mano sujei to do pro-
exerçam legalmente. cedimento é ABSOLUTAMENTE ESSENCIAL.
Po rta nto, este diploma, formalme nte d enom inado
Portanto, o termo de consentimento deve ser elabo- Código de Nuremberg, é um marco que d ireciona ético-
rado com respeito aos aspectos jurídicos, para q ue tenha -ju ridicamente as intervenções méd icas no sentid o de se-
validade perante os d iversos trib unais nacionais, mas de rem realizadas somente mediante consentimento volu n-
nada ad ianta um documento vá lido juridicamente q ue tário.
desrespeita os princípios basilares do exercício profiss iona l Barros )ún ior,19 entre o utros, assevera: "O Código
da medicina. de Nu remberg, ed itado em 1948, foi o grand e marco da
Sendo assim, além de jurid icamente válido, o termo resposta ético-j urídica às intervenções méd icas não auto·
de consentimento d eve ser elaborado em perfeito desem· rizadas."
pen ho ético, visando ao prestigio e ao bom co nceito da Sendo ass im, a pa rt ir do momento da edição desse d i-
profissão médica, bem como dos médicos que a exerçam, ploma, a d iscussão em corno dos procedimentos méd icos
legalmente. não autori zados ganhou contornos até e ntão desconsid e-
rados e levou à edição de no rmas, inclusive por parte do
Conselho Federal de Med icina, q ue tem o claro intuitO
O consentimento na história
de proteger cercos princípios da relação médico-paciente,
O Cód igo de Nuremberg, ed itado ao fim d a Segu nda como o princípio da auconomia, e princípios da própria
Guerra Mu ndia l, tendo como princípio norteador as atro- profissão méd ica, como o da beneficência e da não male-
cidades cometidas nessa guerra e o resultado dos julga- ficência .
mentos dessas atrocidades, trouxe, logo em seu artigo 5", Recorre remos novamente à Barros Júnior, em obra já
o seguinte textO: citada, pa ra ilustrar o q ue fo i d ito:
18
Kfouri NM. Responsabilidade civil do médico - 5. ed. rev. e atual.
à luz do novo «)digo civil, com acréscimo doutri nário e jurispruden- "Barros Jún ior E. DireitO Médico: abordagem constitucional dares-
cial. S:lo Paulo: Ed irora Revista dos Tribunais, 2003. ponsabilidade méd ica. 2. ed. S:lo Paulo: Atlas, 201 1.
Capítulo gj • Aspectos tticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 587

O Novo Código Je Ética Médica (NCEM conhecimento adquirido pelo profbsional da Medicina
1.911/2009), Capitulo inaugural - Princípios Funda- em sua graduação e cur:.o.., de atualização.
mentaL- -, VI, Ji,pôe :.obre Joi~ princípios basilares Este conhecimento coloca o médico em uma po:.ição
e,:,enciab para uma relação médico-paciem~ saudável e ao mesmo tempo vantajosa e delicada, p<lis com ele o mé-
pmmi.'>.'>Ota. O primeiro é o principio da beneficência: dico carrega grande re>p<m..abilidatle de e>tar lidando com
"O médico 1:uardará ah.oluto respeito pelo ser humano o leigo, com aquele que carece do en,ino e da educação
e amará ~mpre em :.~u beneficio." O segundo é o prin- que o médico já po:..-.ui.
cipio da não maleflcência: "Jamai~ utilizará seus conhe- O médico é aquele que conhece o funcionamento do
cimemo> para cau:.ar sofrim~mo físico ou moral, para o corpo humano em sua plenitude, conhecendo os métodos
extermínio do ~r humano ou para permitir e acobertar de curá-lo e ramhém os métodos dt' adoecê-lo.
tentativa contra :.ua tlignitlatle e inregridad~. Portamo, a proibição que e:.te princípio traz em si é a
de utilizar tal conhecimento e técnicas médicas contra a
Nestes termos, não há Jocumenro mais bem prepara- dignidade da pessoa humana, não contra ~ua vida ou sua
do e mais capaz que o termo de consentimento para exter- saúde, pois a remar contra a dignidade nem sempre caracte-
na lizar o re>peito do medico aos princípios da autonom ia, riza atentado contra e~ses outros d ois hens jurídicos.
da benefict!ncia e da não rna ldicência.
Art. l• A Repüblica Federativa do Brasil, formada
pela união ind issolúvel dos Estados e Mu nicípios e do
Princípios éticos e o Código de Ética Médica
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
Conforme salientado previamente, o capitulo inau- de DireitO e rem como fundamentOs:
gural do Código de Ética Méd ica prevê os princípios III - a d ignidade da pessoa humana;
fundamentais do ext!rcício da Medicina. É dever afi rmar
que o mt'dico não pode ser pun ido, adm in istrativamente, A dignidade da pe>:.oa humana, como descritO no arti-
por infração ao:. princípios relatados ne~te capítulo. Há, go inaugural da Constituição da República de 1988, em seu
no entanto, para cada artigo deste capítulo uma norma inciSo III, acima, é fundamento do E:.tatlo Democrático de
deontol6f:ica corre:.p<mtlente e a infração à norma deonto- DireitO e o médico, como agente de:.te Estado Democrático
lógica pode e :.erá itweMij(atla e penalizada pelo Conselho de DireitO, rem o den!r ético e moral de não atentar conrra
Regional de M~licina. tal dignidade, rendo em vbra a JX}'ição hierarquicamenr~
Portanto, correlacionam-se, a princípio, com o perdão superior que o médico ocupa em relação a seu paciente,
do trocadilho, rr~ principio" que incidem diretamente na por ser aquele o detentor do conhecimento.
relação málico-paciente e, de.,sa maneira, na criação do Há ainda no principio, além da proibição de que o
termo de comemimento. São de~: médico atente conrra a dignitlade do ~er humano, a proi-
bição de que este pemlita caso:. em que o permi~sionário
A) VI - O málico guartlará absohno respeito pelo estará em posição de d1efia com relação àquele que atenta
ser humano e atuará >empre em seu b~neficio. JamaiS contra a dignidade do :.er humano ou que o médico aco-
utilizará >eus con hecimentos para causar sofrimento berte casos em que e"te e:.rará em JXl>ição igua l àquele que
físico ou moral, para o extermín io do ser humano ou efetivamente atenta contra a dignidade do ser humano.
para permitir e acobertar tentativa contra sua dignida- Essas proibições fazem com que o médico não só se abste-
de e imegridade. nha de agir contra a dignidade do ser humano, mns se mante-
B) XIX - O médico se responsabiliza rá, em ca ráter nha em estado de alerta e vigília, para que ou tro.~. colegas ou
pessoal e nunca p resu mido, pelos seus atos profissio- não, sob sua responsabilidade, ou não, ajam em desrespeito à
nais, resultantés d e relação pa rticu lar de co nfia nça e dign idade humana o u om itam-se de agir em f.-wor desta.
executados com d iligência, competência e prudência.
C) XX I - No processo de wmada de decisões pro- B) A~sim como determinado pelo §4• do anigo 14 do
fissionais, J e acordo com seus d itames de consciência Cód igo de Defesa do Consumidor, abaixo, a responsab il i-
e as previsões le!,':l is, o métlico aceiwrá as escolhas de dade do médico, por ser e:.te um profissiona l liberal, será
seus pacieme:., rdarivas aos procetlimentos diagnósti- sempre pessoal, ou seja, :.erá wrificada mediante a devida
co:. e terapêutico:. por eles expressos, desde que ade- comprovação da culpa do médico em realizar o aro que
quada:. ao caMl e cientificamente reconhecidas. gerou dano ao paciente (consumidor).

A) O paciente apre:.enta, geralmente, em relação ao An. 14 _O (omecedor de :.erviço" reo;ponde, inde-


médico, uma hip<h-.uficiêcia técnica que tem origem no pendentemente da exbtencia de culpa, pela reparação
588 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

dos da nos causados aos consumidores por defeitos re- mitigada e os casos em q ue ela será respeitada. Para deci-
lativos à prestação dos serviços, bem como por infor- d ir isso, no e ntanto, existem critérios subjetivos e critéri os
mações insuficientes ou inadequadas sobre sua fru ição objetivos.
e riscos. Ao expressar seu desejo por determinado tratamento
§4• A responsabilidade pessoal dos profissionais ou prá tica diagnóstica, o paciente não estará garantindo
liberais será apurada med ia nte a verificação de culpa. que o méd ico acatará seu desejo. Esse desejo deverá ser
analisado, primeiramente, sob os aspectos dos "ditames de
A culpa a que se referem o principio do NCEM e o co nsciência" do méd ico e das previsões legais.
artigo 14 do coe é a culpa em seu sentido jurídico, com- Não estando o médico, em seu íntimo, seguro acer-
posta de três elementos que podem ser percebidos unita- ca do procedimento desejado pelo paciente, abster-se-á de
riamente o u juntos, sendo eles: imperícia, imprudência e real izá-lo, informa ndo tal si tu ação ao paciente e, caso a si-
negligência. tuação permita, acordando com o paciente o utra maneira
O que se pretende, com o advento desse principio, e de se atingi r o fim do procedimento.
q ue pode ser estendido ao termo de consentimento por )á em relação às previsões legais, a autOnom ia do pa-
ser este um aro méd ico, é que todos os atos méd icos sejam ciente não poderá ser superior às leis e normas vigentes
praticados com perícia, prudência e por profissio nal q ue no Brasil. O méd ico não está autorizado, de acordo com
ten ha o conhecimento necessário para o exercício do aro o art igo 14,20 a praticar, ou ind icar, atos proib idos pela
e da profissão. legislação.
Contin uando, esse principio fa z com que o méd ico Nesses termos, caso a vontade do paciente se materiali-
somente se responsabil ize por atos q ue ele próprio, pes- ze em um procedimento proib ido pela legislação nacional,
soalmente, ten ha rea lizado ou participado. Não poderá o o méd ico deverá mitiga r a autonomia desse paciente, não
médico se responsabilizar, o u ser responsab il izado, por aro atendendo seu desejo e, de acordo com o caso concreto,
q ue não tenha praticado ou dele participado. acordando com o paciente acerca do novo procedimento
Adema is, esse artigo aborda algo essencial pa ra a con- ou realiza ndo o procedimento q ue acreditar ser o ma is cor-
fecção do termo de co nsentimento: a relação particular de reto, em se tratando de situações de urgência, emergência
confiança q ue médico e paciente devem ter, relação esta ou q ue possam colocar em risco a vida e a saúde do ser
q ue é recíproca e não apenas do paciente em relação ao h uma no.
profiss ional escolhido para o procedimento. O principio XXI continua com outras duas determi-
Tendo o méd ico qua lquer receio de que o paciente nações acerca do respeitO do méd ico à autonomia do pa-
possa se insurgir contra seu atua r ou que o paciente não ciente, são elas: a adeq uação do procedimento desejado ao
ten ha o crédito necessário para ser submetido a determina- caso concreto e a cientificidade do procedimento desejado.
do procedimento, em virtude de problemas anteriores ex- De acordo com as recomendações acima, o desejo do
perimentados com o paciente ou simplesmente em vi rtude paciente deverá ser respei tado somente nos casos em que
de o médico não confiar na pessoa que deseja ser submeti- este desejo seja compatível com o quad ro clínico apresenta-
da ao procedimento, não há que se falar em real ização de do pelo paciente. Mais além, não basta q ue o procedimen-
q ualq uer ato méd ico. to seja adequado para o caso, é necessá rio que o procedi-
Ressalta-se q ue casos urgentes e emergentes não pode- mento seja cientificamente reco nhecido.
rão ser desconsiderados pelo médico por acreditar que o Porta nto, o princípio XXI determina q ue a autonomia
paciente não seja merecedor de seu zelo e cuidados pro- do paciente deve ser respei tada, obriga to riamente, pelo
fissionais. méd ico, desde q ue os desejos do paciente respeitem os d i-
C) Esse princípio, XXI, consagra a autonomia do pa- tames de consciência do profissional que o realizará, não
ciente como um postu lado orientador da prática médica. sejam proib idos pela legislação vigente, sejam recomenda-
É claro que algumas ressa lvas são feitas pelo próprio princi- dos e aplicáveis ao caso co ncreto e, fina lmente, sejam cien-
pio, mas, geralmente, a opinião do paciente o u de seu res- tificamente reco nhecidos.
ponsável lega l deve ser respeitada pelo méd ico ao decid ir
pela prática d iagnóstica o u terapêutica que será utilizada. Normas de conduta e o termo de consentimento
O próprio principio, no entanto, determina q ue o res-
Como asseverado previamente, os méd icos não podem
peito à opinião expressa pelo paciente ou por seu represen-
ser punidos por desrespei to aos princípios norteadores da
tante legal deva ser sempre acatada ou até mesmo levada
em co nsideração pelo médico. 20
É vedado ao médico:
A autOnomia do paciente não é plena, e devem ser Art. 14. Praticar ou indicar atos médicos desnecessários ou proibidos
decididos pelo médico os casos em que tal autonomia será pela legislação vigente.
Capítulo 97 • Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 589

prática profissional. Ocorre, no entanto, que, para cada O termo de consentimento, como já foi visto, é um do-
pri ncípio, há, no Cód igo de Ética Méd ica, uma norma de cumento q ue não tem qualquer util idade em caso de im i-
conduta correspondente. nente risco de morte, vez q ue nesses casos o médico não
Normas de conduta são normas deontológicas e o terá o tempo hábil para instruir seu paciente e informar-lhe
Código de Ética Méd ica possui 118 destas q ue, caso infrin· de riscos e objetivos do procedimento, havendo apenas o
gidas, ensejam a devida investigação e punição nos termos tempo necessário para efetivamente realizar o procedimen-
do artigo 221 ' da Lei 3.268/1957. tO méd ico.
Portamo, passa-se à análise dessas normas, frisando Portanto, d ura nte a co nfecção do termo de consenti·
que rodas elas são antecedidas da expressão, em negrito, mento, o di reito do paciente e de seu representante lega l
"É vedado ao médico:" . de decid ir livremente sobre o procedimento que será rea-
Em se tratando de enu nciados q ue vedam determina· lizado não pode, em momento algum, ser desrespeitado
das cond utas aos médicos, todos esses profiss ionais que pelo médico.
realiza rem a cond uta que no Código de Ética Médica lhes Como o Cód igo de Ética Méd ica optOu por utilizar o
é vedada estarão suj eitOs a ter instaurado em seus desfavo- termo "desrespeita r", e este é um termo mu itO subjetivo,
res um procedimento ético-profissio nal. o méd ico deverá cercar-se de extremo cuidado ao ana lisar
com seu paciente os desejos deste em relação às práticas
Capítulo V- Relação com Pacientes e Familiares d iagnósticas e terapêuticas.
É vedado ao méd ico: Faz-se esta ressalva para que os comentários, até mes-
Art. 31. Desrespeitar o di reitO do paciente ou do mo técn icos, do méd ico não sejam interpretados pelo
seu representante legal de decid ir livremente sobre a paciente como desrespeitOsos, vez que o desrespeito não
execução de práticas d iagnósticas o u terapêuticas, sal· será caracterizado apenas q uando o médico d iz que não
voem caso de im inente risco de morte. rea lizará tal proced imento o u realiza q ualq uer outro "des-
respeitO" objetivo em relação à escolha do paciente (p. ex.,
Este artigo proíbe o médico de desrespei tar a autono- fa zendo comentários jocosos o u pejorativos em relação à
mia do paciente que está sob seus cu idados, fazendo a res- escol ha do paciente). O desrespeito tem um conte lido mu i-
salva de que tal autOnom ia pode ser mitigada em caso de tO subjetivo e determ inada conduta que aos olhos do mé-
iminente risco de morte. dico não desrespeita a escolha do paciente, aos o lhos deste
ou do seu representante legal, leigos, pode ser considerado
"Art . 22. As penas disciplinares aplicáveis pelos Conselhos Regionais desrespeitoso.
aos seus membro.> silo as segu intes: Há que se observar, mais uma vez, a relação de hipos-
a) advertência confidencial em aviso reservado; suficiência em q ue o paciente se encontra em relação ao
b) censura confidencial em aviso reservado;
c) censura pública em publicação oficial;
méd ico. Essa hipossuficiência, como já foi visto, tem gra n-
d) suspensão do exercício profissional por até 30 (trinta) d ias; de compo nente técn ico, uma vez q ue o médico é quem
e) cassação do exercício profissional, ad referendum do Conselho detém o co nhecimento, mas possui certO componente
Federal. comporta mental.
§ 1• Salvo os casos de gravidade manifesta que exijam aplicação ime- O médico, por ser o detentor do con hecimento e sa-
diata da penalidade mais grave, a imposição das penas obedecer:\ :\
ber, muitas vezes, qual é o proced imento mais ind icado
gradação deste artigo.
§2• Em matéria disciplinar, o Conselho Regional deliberar:\ de ofi- para o caso clínico apresentado pelo paciente, roma a fren-
cial ou em consequência de representação de autoridade, de qual- te das consu ltas, assum indo certa liderança para condu zir
quer membro, ou de pessoa estranha ao Conselho, interessada no os entendimentos acerca do melhor procedimento.
caso. O paciente, ciente de sua cond ição de leigo e em um
§3• A deliberação do Comércio preceder:\, sempre, audiência do ambiente q ue pode ser descri to, aos seus o lhos, como "a
acusado, sendo-lhe dado defensor no caso de não ser encontrado,
casa do adversário", vez que as consu ltas e reun iões ocor-
ou for revel.
§4" Da imposição de qualquer penalidade caberá recu rso, no prazo
rem, muitas vezes, em hospitais, clínicas e consultórios
de 30 (trinta) d ias, contados da ciência, para o Conselho Federal, méd icos e não na casa do paciente, assume então sua co n-
sem efeito suspenso salvo os casos das alíneas c, e e f, em que o efeito d ição de hipossuficiente e incapaz diante de ta mo conheci-
ser:\ suspensivo. mento do profiss ional médico de escol her o que é melhor
§5• Além do recu rso previstO no parágrafo anterior, não caberá qual- para seu destino.
quer outro de natu reza ad ministr:ltiva, salvo aos interessados a via
Diante desse cenário, o desrespei to ao di reito do pa-
judiciária para as açôes que forem devida.s.
§6'> As denúncias contra membros dos Conselhos Regionais só serão ciente de decid ir livremente acaba sendo mutuamente
recebidas quando devidamente assinadas e acompanhadas da ind ica- esquecido e desco nsiderado, o q ue é um erro e uma fal-
ção de elementos comprobatórios do alegado. ta ética que deve ser evitada pelo médico, e não pelo pa-
590 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

ciente, justamente por ser o médico aquele que detém o O q ue se discute com o advento do presente artigo são
conhecimento. as hipóteses em que o diá logo entre paciente e méd ico se en-
Diz..se isso porque o respeito ao presente artigo deve contra prejudicado, em fu nção de se tratar, por exemplo, de
ocorrer não por imposição do paciente e luta deste para uma cria nça que não possui o discern imento formado para
q ue o médico respeite seus desejos, mas deve ocorrer por- entender os riscos do procedimento ao qual será submetida.
q ue o médico abriu-lhe esta oportu nidade de man ifestação Ou ai nda que, mesmo possuindo tal d iscernimento, tenha-
livre, consciente e informada, acerca do melho r procedi- -se o consenso de que a comunicação ao paciente ainda
mento, ou do procedimento d esejado pelo paciente. criança ou adolescente, acerca dos riscos do procedimento,
É necessário fazer certa ressalva que o art igo não a faz. possa rraumatizá-la, prejud ica ndo assim seu desenvolvimen-
Como vistO, o artigo determina que em iminente risco de tO e o próprio desenrolar da atividade médica.
morte a autonomia do paciente seja mitigada e o méd ico Há ainda os casos em q ue o paciente adul to, possu i-
decida sem sua pa rticipação qual será o melhor procedi- dor de discernimento e conhecimentos suficientes, ten ha
mento. um histórico pretéritO extenso de intervenções méd icas,
Ocorre, no e ma mo, que determinados casos não apre- ficando dessa ma nei ra traumatizado ou mais sensível em
sentam risco im inente de morte, mas apresentam um pa- relação a determinadas informações.
ciente sem condição de decidi r por si (coma o u incapacida- Em ambos os casos, o méd ico não se encontra isento
de menta l} e sem responsável lega l que possa fazê-lo. Nesses do dever de informar. O q ue se altera é o sujeitO desti na-
casos, o méd ico poderá decid ir, livremente, sem o auxílio tário de tal informação. Em vez de o médico ter o dever
de seu paciente, o que de certa maneira torna des necessá- de informar o paciente, o médico terá o dever de infor-
ria a utilização do termo de consentimento. mar seu responsável legal. Haverá, então, mais um sujei to
É de suma importância que a incapacidade do pacien- integrando a relação "médico-paciente". Esse sujeito é o
te de participar do processo de romada de decisão seja de- responsável lega l, que passa a ser o destinatá rio de todas as
vidamente expressa no prontuário méd ico, de modo q ue informações acerca do procedimento médico.
o méd ico possa defendê-la, caso q uestionado em q ualquer Analisa-se, ainda, o presente art igo, não sob a óptica
instância. do d ireito de ser informado, mas sob a óptica do d ireito
de não ser informado, por exemplo, nos casos de pacien-
É vedado ao médico: tes termina is. Como ens inam Eduardo Damas e Marcos
Art. 34. Deixar de informar ao paciente o d iag- Vinici us Coltri 11:
nóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tra-
tamento, salvo quando a comunicação d ireta possa lhe Tanto quanto o d ireitO à informação, o ''di rei to
provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comun ica- de não saber" também precisa ser levado em conside-
ção a seu representante lega l. ração, especialmente nos casos de pacientes terminais,
o u com enfermidades muito graves, q ue optam por se
O termo de consentimento, como visto, é o documen- manterem alheios às suas rea is cond ições. Mesmo os
to hábil a demo nstrar o respeito do méd ico ao artigo 34 do q ue este d ire itO exercem não estão a oferecer ao seu
Cód igo de Ética Méd ica. A partir desse documento perce- cuidador um salvo-co ndutO para que proceda à adoção
be-se, claramente, que o médico debateu com seu paciente de medidas que emenda necessárias, sem prestar coma
o d iagnóstico, os possíveis resultados do procedimento, os delas a alguém, te ndo sido bastante fel iz o Cód igo ao
riscos deste e seus objetivos ao ind icá-lo. estabelecer os parâmetros e d iretrizes norteadoras da
Por ma is que todos esses po mos ten ham sido debati· conduta ética médica.
dos em consul tó rio e o paciente esteja plenamente infor-
mado acerca dos riscos, objetivos, prognósticos e diagnós- O q ue se ressalva, no entanto, é que esses pacientes
tico, o termo de consentimento é o documento q ue in ibe supramencio nados possuem capacidade de discern imento
q ualq uer pretensão pun itiva em razão de desrespeito ao e de entenderem as informações méd icas, mas optaram, ex-
presente artigo, vez que o termo de consentimento é a pró- pressamente, por não conhecer delas, nomea ndo respo nsá-
pria formalização dessa situação de informação passada ao vel para ta l função.
paciente. Novamente, o méd ico não está isento de informar.
Portanto, pacífico é que o méd ico tem o dever de in- O destinatário dessas informações é q ue deixou de ser o
formar seu paciente acerca de todos os aspectos que envol-
vem o procedimento médico. Não há d üvida, ainda, de " Dantas E. 1973. Comentários ao Código de Ética M&lica: Re-
q ue tal situação deve ser formalizada a partir do termo de solução CFM n• 1.931/2009. Dantas E, Coltri MV. Rio de janeiro:
consentimento. GZ Ed., 2010.
Capítulo 97 • Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 591

paciente, passando a ser o utro sujeitO pelo paciente no- fu nções, mas esse inciso determina ainda, como d ireitO do

meado. méd ico, decid ir, EM QUALQUER C lRCUNSTANClA,
levando em consideração sua capacidade profissional, o
É vedado ao m édico: tempo a ser ded icado ao paciente.
Art. 35. Exagerar a gravidade do diagnóstico o u Sendo assim, o méd ico é quem determina o tempo a
do prognóstico, complicar a terapêutica o u exceder-se ser ded icado ao paciente. O que o Código de Ética deseja,
no número de visitas, consultas ou quaisquer o utros no e mamo, é que esse tempo de dedicação não seja exces-
procedimentos méd icos. sivo a pomo de prejud icar o médico, excess ivo a pomo de
se tornar des necessário e de elevado custo para o paciente
Atentar-se-á, em relação ao presente artigo, a seu co- e ínfimo, a pomo de deixar o paciente sem o cuidado ne-
mando inicia l, acerca do exagero na gravidade do d iagnós· cessário.
tico ou do prognóstico.
Esse aspecto e ncontra intima relação com o termo de É vedado ao médico:
consen timento, po is esse documento poderá ser, a qual- Art. 37. Prescrever tratamento ou o utros proced i-
quer tempo, a desejo do paciente, confrontado com seu mentos sem exame d iretO do paciente, salvo em casos
prontuário. de urgência ou emergência e imposs ibilidade compro-
Sendo assim, não é poss ível q ue o prontuá rio e os exa- vada de rea lizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imedia-
mes apontem para determinado procedimento médico, tamente após cessar o impedimento.
simples e baratO e o termo de consentimento aponte para
o exercício de proced imento complexo, caro, completa- Esse artigo possu i especial aplicabilidade nos dias de
mente d iverso daq uele mais ind icado para o caso concretO. hoje, devido ao avanço tecnológico que propicia que d uas
O que visa esse artigo é que a Med icina não te nha pessoas se comun iquem e se vejam sem que estejam fisica-
contornos mercantilistas e q ue não se pratique o ch amado mente próximas uma da o utra.
"terrorismo terapêutico", que leva o paciente a q uere r se É indiscutível a existê ncia de tecnologia suficiente para
tratar o ma is rápido poss ível e nos termos que o méd ico o exercício prático da chamada "telemed icina". No enta n-
lhe apresentar. tO, ocorre que o Conselho Federal de Medicina ainda não
QuantO ma is grave for o d iagnóstico apresentado pelo regu lamentou ta l matéria, criando protOcolos e normas de
méd ico, ma is rápido o paciente desejará ser submetido ao cond uta para sua realização, o que inviabiliza ta l p rática,
proced imento q ue lh e trará cura, independentemente de por ausência de previsão legal.
qual for esse proced imento. Ademais, o que pretende o presente artigo é q ue o
Fei ta esta ressa lva em relação à primeira parte do arti· méd ico não assuma respo nsabilidade por um aro que foi
go, passa-se à análise de seu final. pra ticado sem a devida necessidade de sê-lo.
A parte fina l não está a p roibir que o médico ma rque Como o próprio artigo determina, literalmente, casos
novas consu ltas para o paciente, sempre que julgar necessá· de u rgência, emergência e absoluta impossibil idade de
rio, o u ainda que realize cobrança pelos novos ate ndimen- exame di reto do paciente podem ser assistidos por méd ico
tos. O que o Código procura aqu i é direcionar o méd ico que não se encontre fisicamente próximo do paciente.
no sentido da proporcionalidade e da razoabilidade em Ocorre q ue esta não é a regra e, muitas vezes, o pa-
relação ao q ue o caso concreto realmente exige de atenção ciente deverá recorrer a profissional que possa examiná-lo,
e cu idados. d iretamente, de maneira presencial e física, tendo assim a
Nesse sentido, há que se mencionar um dos poucos d i- possibil idade de não deixar escapar nen hum detalhe ou
reitos dos méd icos trazidos pelo Código de Ética Méd ica, de deixar de adotar cond uta q ue somente seria possível
em seu capítulo 11, inciso VI II: de ser adotada presencialmente, por não se encontrar na
presença do paciente.
É direi to d o médico: Portanto, o artigo b usca, ainda, zelar pela saüde, pelo
Vlll - Decidi r, em qualquer circunstância, levan- bem-estar e pelo ate ndimento digno e zeloso ao paciente,
do em consideração sua experiência e capacidade pro- pois sabe-se q ue o atendimento médico presencial é mu i-
fissional, o tempo a ser ded icado ao paciente, evitando to ma is completo do que aquele executado telepresencial-
q ue o acümu lo de encargos o u de consultas venha a meme.
prejud icá-lo.
É vedado ao médico:
Percebe-se que o inciso di recionado ao d ireitO dos mé- Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda q ue a
d icos evi ta que o méd ico se prejud ique com o acúmu lo de pedido deste ou de seu represe ma me legal.
592 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e ter- determinando que nenh um procedimento seja realizado,
minal deve o méd ico oferecer wdos os cuidados paliativos excetuados casos de urgência e emergência, sem o consen-
disponíveis sem empreend er ações d iagnósticas o u tera- timento daquele que é o maior interessado no procedi-
pêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consi- mento, o paciente.
deração a vontade expressa do paciente, ou, na sua impos-
sib ilidade, a de seu representante legal. Projeto de Lei 1.475/2011
O q ue se busca com o advento desse artigo é determi- Como sa lientado previamente, o ProjetO de Lei
nar que méd ico e paciente não podem ser responsáveis, e 1.475/2011, de autOria da Deputada Lau riete Rod ri-
cúmplices, por uma decisão de terminar a vida deste se- gues Pinto, prevê a instituição, de ma neira obrigatória,
gundo. do documento que ela chama de ''Termo de Esclareci-
Não há termo de consentimento capaz de inocentar mento Prévio".
médico que, por ação o u omissão, a ped ido e com o consen- Esse instru mento se romaria obrigatório para tO·
timento do paciente, termi nou a vida deste. Este atO não é dos os procedimentos que imponham risco ci rúrgico
lícitO e é vedado em esfera administrativa, pelo Código de o u anestésico ao pacien te. Ocorre, no entanto, que
Ética Médica e, em esfera criminal, pelo Código Pena l. esse é apenas um projeto de lei, q ue pode ou não vir a
O q ue esse artigo autoriza é muito d iferente de colocar ser sancionado pelo Congresso Nacional.
fim a uma vida. Ele autoriza q ue o paciente seja colocado No entanto, como fo nte de consu lta, e para se ter
em primei ro plano, q ue sejam esquecidas obstinações tera- uma ideia do nível dos debates no Legislativo em tOr·
pêutica, procedimentos cuja eficácia não seja garantida e no do termo de consentimento, segue o inteiro teor
procedimentos excess ivamente dolorosos e sem utilidade do projetO de lei:
comprovada.
Indo além, esse artigo determina que o médico zele PROJ ETO DE LEI N" 1.475 DE 2011
para que o desconforto do paciente seja mínimo, mesmo Institui o termo de esclarecimento prévio para
sabendo que poucas ou nen huma são as chances de o pa- procedimentos q ue imponham risco cirürgico ou anes-
ciente se recuperar. téS ico ao usuário.
Concl uindo, o art igo permite que se suspendam prá-
ticas inúteis, mas jamais que a vida seja abreviada, mesmo O Congresso Nacional decreta:
q ue esse paciente ou seu representante legal tenham ex- Art. 1° Esta Lei insti tui o termo de esclarecimento
pressamente requerido tal abreviação. prévio para procedimentos q ue imponham risco cirúr-
gico o u anestésico ao usuário.
É vedado ao médico: Art. 2!1 O profissional de saúde responsável pela
Art. 42. Desrespeitar o d irei to do paciente de deci- execução de procedimento que impon ha risco cirúrgi-
d ir livremente sobre o método co ntraceptivo, devendo co ou anestéS ico ao usuário fica obrigado a apresenta r
sempre esclarecê-lo sobre ind icação, segura nça, reversi- um termo de esclarecimento prévio por escritO a este
bilidade e risco de cada método. o u a seu responsável legal.

O q ue se tem aqui é certa repetição, no início do arti· Parágrafo único. Em caso de iminente perigo de
go, no que di z respeito ao desrespeito do d ire itO do pacien- morte, o profissio nal fica desobrigado de apresentar o
te de decidir livremente. termo referido no caput deste artigo.
Ora, independentemente de se estar fa lando de méto-
dos contraceptivos o u qualq uer outro procedimento médi- Art. 3" Devem constar no termo referido no art.
co, desrespeitar o di reito do pacien te de decid ir livremente 2° desta Lei:
constitu i infração ética passível de pu nição pelo Conselho
Regio nal no q ual o méd ico esteja registrado. I - informações sobre os riscos e nvolvidos na reali·
O q ue se vislumbra nesse art igo, no enta nto, é a im- zação do procedimento;
possibilidade de o méd ico realizar esterilização cirúrgica 11 - os resu Ita dos esperados;
sem o consentimento de seu paciente, aproveita ndo-se, por Ill - a identificação dos cirurgiões e anestesistas que
exemplo, de uma situação pós-parto em que a paciente en- reali zarão o procedimento, inclus ive seus registros em
contrava-se impossibil itada de man ifestar seu desejo acerca conselhos profissionais e as respectivas qua li ficações;
da realização ou não do procedimento de esterilização. IV - ind icação dos meios pelos quais as q uali fi-
O Código de Ética Médica opta, como já foi visto cações dos profissionais poderão ser co nsultadas pelo
inúmeras vezes, por valorizar a autonomia do paciente, püblico;
Capítulo 97 • Aspectos Éticos e Jurídicos: Termo de Consentimento 593

V - assinatura do usuário ou de seu responsável su rpreend idos por resultados sobre os quais não foram
legal. devidamente alertados. Certamente, é possível reco r-
§ Iu O termo deve ser redigido em linguagem aces- rer ao Judiciário para a devida reparação pena l e civil,
sível aos que não perte ncem à área da saúde. quando for o caso, entreta nto, é importante que os ci-
§2° Os usuários ana lfabetos devem receber as in- dadãos d isponham de meios pa ra prevenir essas ocor-
formações verbalmente na presença de testemu nha de rências. A adoção do termo de esclarecimento prévio
sua indicação, q ue assinará o termo. facilita ria uma tomada de decisão mais consciente por
§3U No caso de recusa em ass inar o termo, uma parte do usuário, além de resguardar, formalmente, os
testem unha ind icará essa si tuação no mesmo docu- profissio na is de saúde contra erros de compreensão.
mento, que será a rqu ivado no prontuário do usuário. O projeto tomou algumas precauções pa ra evitar
que este instrumento ven ha a prejud icar o atendimen-
Art. 4'l O profiss ional de saüde que deixar de apre- tO em situações de iminente perigo de morte. Tam-
sentar o termo de esclarecimento prévio, co nforme as bém há dispos itivos visando a uma maior clareza na
previsões desta Lei, está sujeitO a multa e suspensão comu nicação das informações e dos meios para q ue
da atividade profiss ional, sem prejuízo das demais san- as mesmas possam ser veri ficadas (como é o caso das
ções civis e pena is. qualificações dos profiss ionais).
Fi nalmente, há previsão de penalidades no caso
Parágrafo ú nico. A~ pena lidades previstas no cap1<t de descumprimento da Lei, para q ue isso tenha conse-
deste artigo serão dobradas em caso de reincidência. quências, como também de prazo para que o serviços
de saúde e profissiona is preparem-se pa ra cumprir a
Art. 5° Esta Lei entrará em vigor cento e oi tenta obrigação.
dias após sua publicação. Diante do expostO, solicitO dos nobres pares o
apoio para que este projeto seja aprovado nesta Casa.
JUSTI FICAÇÃO:
Atua lmente, não são raras as ocorrências de epi- Sala das Sessões, em 23 de fevere iro de 2011.
sód ios em q ue usuários de serviços de sa üde tem sido Deputada LAU RIETE
prejudicados pela atuação de profissio nais sem a capa- PSC-ES
citação técn ica adequada para a rea lização de determi- PL termo de esclarecimento sobre
nados procedimentos ci rúrgicos e anestéS icos ou são risco cirúrgico 201 1_2669etm
Sigilo Profissional e oCID nos Documentos Médicos
Cor-Jesus Luzia He lena

Na época de H ipócrates, o sigilo méd ico já era pratica- de dar explicações necessárias à sua compreensão, sal-
do em razão da profissão, da confiança e da credibil idade. vo quando ocas ionar riscos para o paciente o u para
O segredo contado ao médico pelo paciente não pertence- terceiros.
rá a ele: ele será somente o guard ião da co nfidência. Art. 10 2 - Revelar fatO de que tenh a conhecimen-
"Aquilo q ue no exercício ou fora do exercício da pro- tO em virtude do exercício de sua profissão, salvo por
fissão e no convívio da sociedade se tenha vistO o u ouvido justa causa, dever legal ou autOrização expressa do pa-
q ue não seja preciso divulgar deverá ser conservado intei- ciente.
ramente secreto" (Hipócrates, 460-351 a.C.).
O s igilo méd ico está presente em vários documentos, Parágrafo ú nico: Pe rma nece essa pro ibição: a)
como na Constituição Federal, no Código de Ética Médica Mesmo q ue o fato seja de conhecimento público ou
e no Código Penal Brasilei ro. q ue o paciente ten ha falecido. (b) Qua ndo do depo i-
Na Constituição da República do Brasil, em seu artigo 5", me nto como testemu nha. Nesta hipótese, o médico
inciso X: "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra comparecerá perante a autoridade e declarará seu im-
e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização ped imento.
pelo dano material o u moral decorrente da sua violação."
É importante cons iderar o sigilo de dados e informa- Art. 103 - Revelar segredo profissio nal referente
ções de pacientes, fu ndamentando assim a garantia da con- a paciente menor de idade, inclusive a seus pa is ou
fiança da relação méd ico-paciente responsáveis legais, desde que o menor tenha capaci-
O Conselho Federal de Medicina (CFM, 1988) em di· dade de avaliar seu problema e de conduzir~e por seus
versos artigos, trata da questão do sigilo médico. Alguns próprios meios para solucioná-lo, sa lvo quando a não
artigos são tra nscritos a segu ir: revelação possa acarretar danos ao paciente.

Art. l i 0 - O médico deve manter sigilo qua nto às Art. 104 - Fazer referência a casos clín icos identi·
informações co nfidenciais de q ue tiver conhecimento ficáveis, exibir pacientes o u seus retratos em anúncios
no desempen ho de suas funções . O mesmo se aplica profissionais ou na divu lgação de assuntos méd icos em
ao traba lho em empresas, exceto nos casos em que seu programas de rád io, televisão ou cinema, e em artigos,
s ilêncio prejudique ou pon ha em risco a saúde do tra- entrevistas ou reportagens em jornais, revistas ou ou-
balhador ou da comu nidade. tras publicações leigas.

É vedado ao méd ico: Art. 105 - Revelar informações confidenciais


Art. 70 - Negar ao paciente acesso a seu pro ntuá· obtidas q uando do exame méd ico de trabalhadores,
rio médico, ficha cl ínica ou s imilar, bem como deixar inclusive por exigência dos d irigentes de empresas ou

594
Capítulo 98 • Sigilo Profissional e o CID nos Documentos Médicos 595

institu ições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde S istemas In fo rmati zados para a Guarda e Man useio do
dos empregados ou da comun idade. Prontuário Médico, dispor sobre tempo de guarda dos
Art. 106 - Prestar a empresas seguradoras qual- prontuá rios e es tabelecer crité rios para certificação dos
q uer informação sobre as circu nstâ ncias da morte de sistemas de in formação. O artigo 7u dessa resol ução
paciente seu, além daquelas co ntidas no próprio ates· estabelece q ue: ''O Consel ho Federal de Medicina e a
tado de óbitO, salvo por expressa autorização do res- Sociedade Brasile ira de Informática em Sa úde (S BIS),
ponsável legal ou sucessor. med iante co nvê nio espec ífico, exped irão, qua ndo soli-
citados, a certi ficação dos sistemas para guarda e ma nu-
Art. 108 - Facilitar ma nuseio e con hecimento dos seio de pro ntuá rios e letrônicos que estejam de acordo
prontuários, papeletas e demais folhas de observações com as normas técn icas especificadas no anexo a esta
médicas sujeitas ao segredo profissional, por pessoas resolução." A SBIS (Sociedade Brasileira de Info rmá tica
não obrigadas ao mesmo compromisso. em Saúde) co ns titu iu um grupo de trabalho para tratar
desta questão e os trabalhos estão em andamento (SBIS,
Art. 109 - Deixar de gua rdar o segredo profissio- 2002)
nal na cobrança de honorários por meio jud icial o u
extrajud icial. O artigo 123 do Código de Ética exige o consen-
timento informado do paciente para participação em
A resolução 1.605/2000 (CFM, 2000) continua a ga- pesquisas:
ranti r a privacidade do paciente, impedindo q ue o médi-
co revele dados e informações do prontuário ou ficha d o É ved ado ao médico:
paciente sem a autorização deste. Nos casos em q ue a co- Art. 123 - Realizar pesqu isa em ser humano, sem
municação de doença é compul~ória, o dever do médico que este ten ha dado co nsentimento por escritO, após
restringe<>e excl usivamente a comun icar tal fato à au to ri· devidamente esclarecido sobre a natureza e consequên-
dade competente, sendo proibida a remessa do prontuário cias da pesq uisa.
méd ico do paciente.
A resol ução 1.642/2002 (CFM, 2002c) reforça a Parágrafo único: Caso o paciente não tenha cond i-
exigê ncia do sigilo na re lação e ntre os méd icos e opera- ções de dar seu livre consentimento, a pesquisa somen-
doras de planos de sa úde, já q ue em seu a rtigo I" esta- te poderá ser realizada, em seu próprio benefício, após
belece q ue: expressa auto rização de seu responsável legal.

As empresas de seguro-saúde, de med icina de gru- RESOLUÇÃO CFM n• 1.819/ 2007


po, coopera tivas de traba lho médico, empresas de au- P roíbe a colocação do diagnóstico codificado
togestão ou outras q ue atuem sob a forma de prestação (CID) ou tempo de doença no preench imento das
di reta ou intermed iação dos serviços médico-hospita- guias da TISS de consulta e solicitação de exames de
lares devem respei tar o sigilo profiss ional, sendo veda- seguradoras e operadoras de p lanos de saúde conco·
do a essas empresas estabelecerem qua lquer exigência mitantemente com a identificação do paciente e dá
q ue implique na revelação de diagnósticos e fatos de outras providências.
q ue o méd ico ten ha conhecimento devido ao exercício Art. 1• Vedar ao méd ico o pree nch imento, nas
profiss iona l. gu ias de co nsu lta e sol icitação de exames das ope-
radoras de planos de saúde, dos campos referentes
A resolução 1.638/2002 (CFM, 2002a) define o pron- à Classificação Internacional de Doe nças (C ID) e
tuário méd ico do paciente como instrumento sigiloso, le- tempo de doença concomitantemente com q ualquer
gal e cientifico, w rna obrigatória a criação da comissão de outro tipo de identi ficação do paciente o u q ualquer
revisão de prontuá rios em institu ições que prestam assis- outra informação sobre diagnóstico, haja vista que o
tê ncia médica, define os itens que devem compor o pron- sigilo na relação médico-paciente é um d irei to inal ie-
tuário e assegura a responsabil idade do preenchimento, nável do paciente, cabendo ao méd ico a s ua proteção
gua rda e manuseio dos pro ntuários, que cabem ao méd ico e guarda.
assistente, à chefia da equipe, à chefia da clínica e à direção
técnica da u nidade. Art. 2• Considera r fa lta ética grave codo e q ual-
A resolução 1.639/2002 (CFM, 2002b) recon he- quer tipo de constrangimento exercido sobre os méd i-
ce a validade técn ica e jurídica do prontuá rio e letrô· cos pa ra forçá-los ao descumprimento desta resolução
nico, ao aprovar as Normas T écn icas para o Uso de ou de qualquer outro precei to ético-legal.
596 PARTE XXII • Aspectos Éticos e Jurídicos

Hoje, os serviços de atenção à sa úde contam com o Podem ser tomadas como ens inamento as palavras
atend imento multiprofiss iona l. Ass im, o princípio do si- sábias de Sa nto Agosti nho: "o que sei por confissão sei-o
gilo deverá ser aplicado a todas as categorias inseridas no menos do que aq uilo q ue nunca soube".
processo de atend imento ao paciente.
O paciente deve ter resgua rdado o d ire itO de confiden- Referências
cialidade ao revelar suas informações pessoais para um pro- Código de Etica do Conselho Federal de Medicina {CFM. 1988) .
cesso eficiente de diagnóstico e tratamento. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.

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