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Cuiabá
2021
1
Cuiabá
2021
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Prof. Dr. Ageo Mário Cândido da Silva
UNIC - Universidade de Cuiabá
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Prof. Dr. Vander Fernandes
UNIC – Universidade de Cuiabá
________________________________________________
Profª. Drª. Luciana Marques da Silva
UNIC – Universidade de Cuiabá
DEDICATÓRIA
À Deus primeiramente, por ser essencial em minha vida, meu guia, socorro na hora da
angústia, pela sua infinita bondade e amor, a ti, Senhor, toda honra e toda a glória. Aos meus
pais, Jardes Figueiredo e Vera Lucia Figueiredo, pelo apoio e incentivo em todos os
momentos da minha vida. Por acreditarem em mim, e não medirem esforços para a
concretização dos meus sonhos e que me ajudaram para que eu chegasse até esta etapa de
minha vida, tenho plena certeza de que com eles posso contar sempre.
5
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
Background: Brazil is considered one of the largest agricultural producers in the world and
leads the world ranking in the use of inputs, fertilizers and pesticides, with the state of Mato
Grosso being the largest consumer of pesticides in the country. Human exposure to certain
groups of pesticides has been associated with adverse effects during pregnancy, such as
abortion, congenital malformation, neoplastic diseases and low birth weight newborns.
Objective: To analyze maternal exposure to pesticides and the occurrence of adverse pregnancy
outcomes in the state of Mato Grosso from 2011 to 2017. Method: This is a quantitative,
ecological study, covering the period from 2011 to 2017, carried out in municipalities of the
state of Mato Grosso. The study was divided into two stages. In the first, the municipalities
were divided into two comparison groups, where the first group (case) consisted of
municipalities with the highest consumption of pesticides and the second group (control), which
consisted of municipalities with similar sociodemographic characteristics, however, with lower
consumption of pesticides. In the second stage, the indicators of gestational outcomes selected
from the Live Birth Information System (SINASC) were calculated, namely, congenital
malformation, low birth weight, very low birth weight and prematurity, accessed on the
DATASUS homepage. Results: Comparing the average consumption of pesticides per
inhabitant of the municipalities in relation to the controls, it is observed that the group of
municipalities consumes 6,078% (32,884,497.03 liters per inhabitant) more than the group of
municipalities in control. The rates of both low birth weight and prematurity cases were higher
than the control rate in all years studied. Graphical analyzes of trends in the proportion of
gestational outcomes studied between 2011 and 2017 show a stable trend for all analyzed
morbidities. The rate of live births with low weight was 1.05 times higher in the cities studied
compared to controls (p = 0.019). In this sense, the rate of live births with prematurity was also
higher in the case municipalities (RT = 1.06; p = 0.001). Conclusion: The trends in rates of
adverse pregnancy outcomes were stable for all municipalities studied in the period. There was
a higher occurrence of rates of live births with low weight and prematurity in the municipalities
with the highest use of pesticides.
Key words: Congenital Abnormalities; Infant, Low Birth Weight, Infant, Premature, Pesticides.
8
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE ABREVIATURAS
MC Malformação Congênita
AC Anomalia Congênita
BP Baixo peso
NV Nascidos vivos
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12
3 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 26
4 ARTIGO ............................................................................................................................... 31
12
1 INTRODUÇÃO
outra pesquisa realizada em Minas Gerais verificou que nos anos que ocorreram maior
exposição de agrotóxicos, as taxas de MC também foram maiores (DUTRA; FERREIRA,
2017).
14
2 REVISÃO DA LITERATURA
Para Carneiro et al. (2015) ele pondera que cada vez mais os processos produtivos no
Brasil dependem de agrotóxicos e fertilizantes químicos em suas diversas culturas e que isso
representa sim um grande risco tanto para o meio ambiente quanto para a saúde das pessoas.
E acrescenta:
Uma situação que vem sendo abordada atualmente pelo governo brasileiro é a
flexibilização no uso dos agrotóxicos (PL nº 6.299/02), que dá ao Ministério da Agricultura o
poder de decidir sobre a liberação ou não de substâncias, “[...] restando à Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) um papel menor no processo, de homologação da avaliação do
produto apresentada pela empresa requerente – algo como uma recomendação e não
necessariamente um veto, em caso de discordância (VASCONCELOS, 2018, p. 21).
A exposição humana aos agrotóxicos pode ocorrer de diversas formas, mas atinge
principalmente trabalhadores rurais (até em virtude do manuseio), populações do campo em
geral e também o meio ambiente que, nesse contexto pode prejudicar populações de cidades
que ficam próximas as áreas rurais (MERLINO; MENDONÇA, 2012).
Especificando as formas de exposição aos agrotóxicos é possível mencionar a exposição
ocupacional que é aquela em que o trabalhador tem contato direto com o pesticida, bem como
suas famílias pela exposição decorrente da utilização de domissanitários. Outra forma bem
comum de exposição está no consumo de alimentos contaminados, onde qualquer pessoa pode
estar exposta e em qualquer lugar, e desse modo é fácil perceber que os impactos negativos
recaem sobre toda a população (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 1997).
De acordo com Burigo (2016), a utilização de agrotóxicos nas lavouras prejudica o meio
ambiente em diversas frentes, ou seja, pode estar inserido no ar, na terra e na água e isso pouco
tem a ver com a forma como é aplicado, tanto que ele afirma que “menos de 10% dos
16
agrotóxicos aplicados por pulverização atingem seu alvo”, e até mesmo aqueles em que o
pesticida é aplicado diretamente na planta acaba sendo lavados das folhas e ficando no solo por
irrigação ou pela chuva e que, consequentemente vai parar nos lençóis freáticos pela mesma
maneira.
Quanto aos agrotóxicos contidos nos alimentos que são consumidos pela população, a
preocupação é com os princípios ativos não autorizados, como é o caso por exemplo do
ingrediente ativo metamidofós que, ao mesmo tempo que combatem as pragas da lavoura
prejudicam o sistema nervoso através da diminuição da atividade da enzima acetilcolinesterase
responsável pela neurotransmissão (MERLINO; MENDONÇA, 2012).
As autoras ressaltam que mesmo sendo proibidos os agrotóxicos com essa composição,
resíduos dele foram encontrados em alimentos básicos de consumo diário como é o caso do
arroz, da alface, da beterraba, da cenoura, do morango, do mamão, do repolho, do tomate, da
couve, do pepino e do pimentão.
Isso mostra que todos os dias as pessoas consomem junto com os alimentos
considerados “saudáveis” para o ser humano, agrotóxicos com alto nível de toxidade, podendo
ocasionar ao longo do tempo sérios problemas de saúde em virtude desse tipo de exposição
(MERLINO; MENDONÇA, 2012).
Segundo o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA)
(2014), o maior consumo de agrotóxicos não está concentrado nas menores propriedades como
se tem noticiado, mas sim nos grandes proprietários de terras agrícolas. Tanto é verdade que o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2010) informou que as culturas que mais
utilizam agrotóxicos são a soja com 35,7%, seguida pelo milho com 19,8%, a cana-de-açúcar
com 14%, o feijão com 5,6%, o arroz com 4,3%, o trigo e o café com 3,3%.
Para embasar esse posicionamento o próprio Ministério da Saúde publicou em 2018 no
Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos que no ano
de 2014 foi registrada no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) a maior
incidência de notificação de intoxicações por agrotóxicos no Brasil, isto é, 6,26 casos para cada
100 mil habitantes e entre 2007 e 2015 foram registrados 12 84.206 casos, sendo que os Estados
com a maior incidência foram Tocantins, Espírito Santo, Paraná, Roraima e Goiás, cujos valores
foram acima do dobro da média nacional (BRASIL, 2018).
O Ministério da Saúde concorda que a exposição aos agrotóxicos, seja lá qual for a
maneira, possui impactos relevantes e que é um problema não só ambiental como também de
saúde pública (BRASIL, 2018).
17
O período gestacional é uma fase muito importante da vida, uma vez que trata da
formação da pessoa como ser vivo e nesse sentido há uma preocupação constante dos órgãos
relacionados à saúde com a gravidez, especialmente quando se trata dos desfechos indesejáveis
que podem surgir como a prematuridade, o baixo peso ao nascer e as MCs que por sua vez são
grandes responsáveis pela mortalidade infantil (CHRISMAN, 2008).
Chrisman (2008), explica que esses fatores de risco durante a gestação recebem
influência especialmente de condições adversas como stress, desnutrição, consumo de drogas
ilícitas, cigarro e bebida alcóolica, bem como exposição à substâncias químicas, incluído por
óbvio os agrotóxicos.
A exposição aos agrotóxicos no sentido amplo do termo está relacionada a tudo aquilo
que pode expor a pessoa aos agentes químicos do produto e não apenas e diretamente a quem
tem o contato direto com o artefato. Assim, os impactos dos agrotóxicos sobre a saúde humana
incluem o consumo dele através dos alimentos e da água, bem como através do ar que se respira
(LOPES; ALBUQUERQUE, 2018).
Segundo os mesmos autores a contaminação da água, do solo e do ar prejudicam de tal
forma o meio ambiente que é capaz até de mudar o habitat natural de insetos, animais e peixes.
Enquanto isso Chrisman (2008), relata que apesar de não haverem ainda estudos conclusivos
em seres humanos, estudos experimentais realizados em ratos e camundongos evidenciaram
várias alterações no desenvolvimento intra-uterino, no entanto os danos por essa exposição só
aparecem depois do nascimento.
Nesse sentido, Oliveira et al. (2014) mencionam que outros estudos realizados também
evidenciaram maior ocorrência de determinados tipos de MCs de nascidos vivos (NV) de mães
que trabalhavam na agricultura em períodos de exposição semelhantes, bem como no caso do
18
Enquanto alguns estudos mostram que filhos de agricultores têm uma maior
frequência de morte fetal e/ou mortalidade perinatal do que filhos de não agricultores,
provavelmente devido à exposição a pesticidas, outros estudos não encontraram
diferenças. [...] uma possível explicação para esses resultados inconsistentes é que as
principais causas de óbito fetal e morte perinatal são diferentes de um lugar para outro
(PALMA, 2011, p. 23).
Segundo Oliveira et al. (2014), outro fator que contribui para que os resultados sejam
diferentes é que a quantidade de agrotóxicos utilizada varia de lugar para lugar, assim como o
princípio ativo que causa danos à saúde, uma vez que o tipo de agrotóxico de cada monocultura
é diferente conforme a finalidade a que se destina, podendo ainda ser utilizado
concomitantemente com outras substâncias tóxicas de acordo com as safras anuais.
Lopes e Albuquerque (2018) concordam que a exposição a alguns agrotóxicos é capaz
de gerar alterações tanto no sistema reprodutor da mulher quanto do homem onde os
organoclorados apresentam efeitos antiandrogênicos nos homens e estrogênico nas mulheres.
19
[...] a exposição humana a determinados grupos de agrotóxicos tem sido associada com
eventos adversos na gravidez. Assim, vários estudos epidemiológicos vêm apontando a
exposição crônica de mulheres a agrotóxicos, principalmente durante o período
gestacional, como fator de risco potencialmente para a prematuridade, baixo peso ao
nascer, peso reduzido para a idade gestacional, retardo do crescimento intrauterino, da
altura e do perímetro cefálico do neonato, morte fetal, índice de Apgar insatisfatório, e
malformações congênitas em meninos, como criptorquidia e hipospádias, entre outros
(CREMONESE et al., 2012, p. 1).
Para Cummings e Kavlock (2004) citados por Cremonese (2014), a exposição aos
agrotóxicos afeta o sistema reprodutivo que ocorre em diversos estágios ao longo da vida desde
o período pré-natal, a pré-puberdade, a puberdade e o período adulto até a menopausa. Cada
uma dessas fases apresenta vulnerabilidades diferentes segundo os autores, sendo que as
exposições sofridas em estágios iniciais podem apresentar seus prejuízos em fases tardias,
20
Tourinho e Reis (2012), explica que o baixo peso ao nascer é decorrente de duas
situações principais sendo elas a prematuridade e o retardo do crescimento intrauterino (RCIU)
e associados a isso estão os fatores fetais, maternos, gestacionais, placentários e ambientais que
também contribuem para a condição de nascimento com baixo peso.
Ela argumenta ainda que estudos já mostraram que o baixo peso também está associado
ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) na vida adulta como
doenças cardiovasculares e diabetes tipo II, por exemplo, isso porque quando faltam nutrientes
para o feto durante a gestação seu metabolismo é alterado no intuito de evitar a hipoglicemia o
que por sua vez aumentaria a resistência periférica à insulina e secretando menores quantidades
desse hormônio, tendo como consequência a restrição do crescimento intrauterino.
3 REFERÊNCIAS
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30
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4 ARTIGO
RESUMO
ABSTRACT
33
Background: Brazil is considered one of the largest agricultural producers in the world and
leads the world ranking in the use of inputs, fertilizers and pesticides. The state of Mato Grosso
is the largest consumer of pesticides in the country. Human exposure to pesticides has been
associated with adverse effects during pregnancy. Among them are abortion, congenital
malformations and low birth weight newborns. Objective: To analyze maternal exposure to
pesticides and the occurrence of adverse pregnancy outcomes in the state of Mato Grosso from
2011 to 2017. Method: This is a quantitative and ecological study in 16 municipalities in the
state of Mato Grosso, where it was the division into two comparison groups was performed,
with the 1st group (case) consisting of 8 municipalities with the highest consumption of
pesticides and the 2nd group (control) also consisting of 8 municipalities with similar
sociodemographic characteristics, but with lower consumption of pesticides. Subsequently, the
indicators of gestational outcomes selected from the Live Birth Information System (SINASC)
were calculated, having as response variables the indicators: proportion of live births with
congenital malformation, proportion of live births with prematurity, proportion of low birth
weight and proportion of very low weight at birth. Results: Comparing the average
consumption of pesticides per inhabitant of the case municipalities in relation to the control, it
is observed that the group of case municipalities consumes 6,078% (32,884,497.03 liters per
inhabitant) more than the group of control municipalities. The rates of both low birth weight
and prematurity cases were higher than the control rate in all years studied, but there was a
stable trend in the proportions of gestational outcomes for all morbidities. Conclusion: The
trends in adverse pregnancy outcome rates were stable for all municipalities studied in the
period and there was a higher occurrence of rates of live births with low birth weight and
prematurity in the municipalities with the highest use of pesticides.
Key words: Congenital Abnormalities; Infant, Low Birth Weight, Infant, Premature, Pesticides.
INTRODUÇÃO
34
Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar a exposição materna aos agrotóxicos e a
ocorrência de desfechos gestacionais adversos no estado de Mato Grosso no período de 2011 a
2017.
MATERIAIS E MÉTODOS
Taxa de MC × 100
Total de nascidos vivos
Taxa de BP × 100
Total de nascidos vivos
últimos referentes aos que não usavam os agrotóxicos de maneira intensiva, conforme
demonstrado na Tabela 1. As razões de proporções e Intervalo de Confiança de 95% (IC95%)
foram estimadas pelo método de Mantel–Haenszel. Para todas as análises o nível de
significância adotado foi o de valor p < 0,05. Foi utilizado, para todas as análises, o software
Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 18.0 para Windows.
Por se tratar de um estudo realizado com dados secundários, de domínio público onde
não são informados dados pessoais dos registros, extraídos do DATASUS, segundo a Resolução
510/2016, este estudo dispensou a submissão em comitê de ética em pesquisa (CEP).
RESULTADOS
Percebe-se que dos municípios caso (grupo 1) os que tiveram maior consumo de
agrotóxicos por habitante foram Campo Novo do Parecis, Primavera do Leste e Sapezal, já dos
municípios controle (grupo 2) foram Barra do Garças, Alta Floresta e Cáceres. Se comparado
às médias de consumo de agrotóxicos por habitante dos municípios caso em relação ao controle
observa-se que o grupo 1 consome 6.078% (32.884.497,03 litros por habitante) a mais que o
grupo 2 (Tabela 1).
Tabela 1- Descrição dos municípios selecionados por população e consumo de agrotóxicos por habitante, Mato
Grosso, 2010
Grupo 1 População Consumo de Grupo 2 População Consumo de
(Caso) agrotóxicos/hab. (Controle) agrotóxicos/hab.
Campo Novo do 35.360 44.598.865,71 Alta Floresta 51.782 750.915,83
Parecis
Campo Verde 44.041 28.580.505,48 Aripuanã 22.354 91.680,80
Diamantino 22.041 27.801.677,49 Barra do Garças 61.012 1.218.723,68
Lucas do Rio Verde 65.534 26.026.017,25 Cáceres 94.376 663.468,24
Nova Mutum 45.378 25.616.478,89 Guarantã do Norte 35.816 168.821,15
Primavera do Leste 62.019 40.619.087,13 Juína 40.997 570.084,30
Sapezal 25.881 39.319.339,16 Mirassol D´Oeste 27.739 411.494,25
Sorriso 90.313 34.842.330,09 Pontes e Lacerda 45.436 453.136,72
Total - 267.404.301,20 Total - 4.328.324,97
Fonte: IBGE, elaborado pelo Autor, 2021
controles foram superiores as taxas dos casos. Contudo, nos anos de 2012 e 2014 as taxas dos
casos de todos os desfechos gestacionais analisados foram maiores que as taxas dos controles.
Tabela 2 – Proporções médias de malformação congênita, baixo peso, muito baixo peso e prematuridade segundo
o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) nos municípios caso e controle, Mato Grosso, 2011 a
2017
Proporçã Proporçã Proporçã Proporçã Proporçã Proporçã Proporçã Proporçã
Ano o MC o MC o BP o BP o MBP o MBP o o
Caso Controle Caso Controle Caso Controle Prematu. Prematu.
Caso Controle
2011 8,31 8,70 7,52 6,44 0,98 0,88 13,12 10,77
201 6,61 6,20 6,66 6,08 1,13 0,83 13,71 10,29
2
201 6,10 6,30 7,69 6,18 1,16 0,72 14,05 10,74
3
201 5,47 3,10 7,38 6,94 1,01 0,73 13,28 11,61
4
201 7,80 14,6 7,29 6,83 0,82 0,90 11,40 11,21
5
201 5,34 14,0 7,75 6,79 1,07 0,81 12,40 10,61
6
201 6,10 2,50 6,78 6,54 0,93 0,96 12,08 9,66
7
Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc)
Elaborado pelo autor, 2021
Tabela 3 - Razões de proporção de nascidos vivos com malformação congênita, baixo peso, muito baixo peso
e prematuridade nos municípios caso e controle, Mato Grosso, 2011 a 2017
Proporção NV malformação
Municípios Controle 0,68 1,00
Municípios Caso 0,61 0,91 (0,77-1,06) 0,113
Proporção NV baixo peso
Municípios Controle 6,60 1,00
Municípios Caso 6,95 1,05 (1,01-1,73) 0,019
Proporção NV muito baixo peso
Municípios Controle 0,90 1,00
Municípios Caso 0,10 1,10 (0,97-1,26) 0,059
Proporção de NV prematuridade
Municípios Controle 11,72 1,00
Municípios Caso 11,07 1,06 (1,02-1,10) 0,001
Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), elaborado pelo Autor, 2021
DISCUSSÃO
Um dos achados deste estudo foi à associação limítrofe para MBP ao nascer, isso devido
ao seu pequeno número de ocorrências. Apesar disso, uma pesquisa realizada em Nova
Friburgo, interior do Rio de Janeiro, de 2004 a 2006 com 6714 nascidos vivos, identificou que
mulheres residentes em áreas rurais possuem maior risco de dar à luz a RNs com extremo baixo
peso, baixo índice de apgar e uma MC em comparação com mulheres que residem em zona
urbana (CHRISMAN et al., 2016).
As MCs não apresentaram associação estatística significativa, possivelmente por conta
de essas mulheres residirem em municípios de intensiva produção agrícola, mas distante dessas
regiões de pulverização. Corroborando com a ideia, um estudo realizado em 2008, em Lavras,
Minas Gerais, buscou estimar a distância horizontal alcançada por uma gota pulverizada de um
tamanho determinado, em diferentes alturas e velocidade do vento. Assim, identificou que uma
gota lançada de 0,8 m de altura, de 40 µm, com vento de 5 ms-1 pode percorrer 38,3 m, sendo
estas as condições que a levou em maior distância (DA CUNHA, 2008).
Apesar disso, associações com MCs são verificadas na literatura em diversos estudos.
Um deles é este estudo desenvolvido no estado do Paraná, no período de 2008 a 2015, na qual
se buscou analisar a taxa de prevalência de nascidos vivos com MC com relação a indicadores
sociais, fatores econômicos, de saúde e ambientais. Assim, a taxa de MC apresentou
significância estatística com gestantes expostas a agrotóxicos (FREIRE et al., 2020).
Ainda neste sentido, um estudo realizado em hospitais da cidade de Cuiabá (MT) em
2011, investigou a associação da exposição à agrotóxicos e a ocorrência de MC, a pesquisa
utilizou como critérios, a progenitora ter sido exposta a agrotóxicos três meses antes e após a
fecundação e também exposição paterna durante um ano antes da fecundação. Concluindo
assim, que a exposição paterna a agrotóxicos, correlacionado com a baixa escolaridade materna
pode corroborar com a ocorrência de MC (UEKER et al., 2016).
Oliveira et al. (2014) ao analisar a associação da exposição a agrotóxicos durante a
gestação com a presença de MC, em oito municípios de Mato Grosso, considerou como casos
todos os nascidos vivos com MC dentro do período de 2000 a 2009 e como controle os nascidos
vivos com mais de trinta e sete semanas de gestação e sem nenhuma MC. O referido estudo
concluiu que a exposição materna a agrotóxicos no período pós-fecundação (primeiro trimestre
gestacional) e no período total gestacional foram associados à maior ocorrência de casos de
MC.
Dutra e Ferreira (2019) analisaram a presença de MC em estados brasileiros com maior
utilização de agrotóxicos no período de 2000 a 2016 sendo eles, Mato Grosso, São Paulo,
Paraná e Rio Grande do Sul. As taxas encontradas foram maiores em microrregiões com maior
42
índice de consumo de agrotóxico (de 0,50% a 0,94%) e as razões de taxas de MC foram entre
2,3 e 10,68 vezes maiores nestes estados em comparação aos de menor utilização de
agrotóxicos.
Observou-se que os desfechos gestacionais estudados afetam as mães residentes
próximos a áreas de cultivos se apresentando em tendência estável em todos os desfechos.
Entretanto, mesmo assim, baixo peso e prematuridade mostraram proporções maiores ao longo
do tempo estudado.
Este estudo encontrou algumas limitações no decorrer de seu desenvolvimento, como a
dificuldade de obter as informações reais de consumo de agrotóxicos dos municípios do estado
de Mato Grosso, por isso estes dados foram estimados pela metodologia de Pignati, Oliveira e
Silva (2014). Idealmente, os registros de venda das casas agropecuárias e receituários de
agrônomos do estado são obtidos pelo Instituto de Defesa Agropecuário (INDEA), que não mais
disponibiliza estes dados. Outra dificuldade é em relação ao nível de exposição da população,
pois não é possível determinar exatamente a distância entre a população e as lavouras onde
ocorreram as aplicações dos agrotóxicos. Todavia, os achados deste estudo trazem grandes
contribuições para compreensão dos riscos à saúde materna-infantil que estão ligados à
exposição de agrotóxicos.
CONCLUSÃO
As tendências de taxas dos desfechos gestacionais adversos foram estáveis para todos
os municípios estudados no período. Houve uma maior ocorrência de taxas de nascidos vivos
com baixo peso e com prematuridade nos municípios de maior utilização de agrotóxicos. Por
isso, é de suma importância melhorar o controle de aplicação de agrotóxicos e facilitar o acesso
às informações com a divulgação dos dados de consumo de pesticidas por parte dos órgãos
governamentais. Permitindo assim, instruir e alerta a população quanto aos riscos à saúde
ligados a exposição a produtos agrícolas.
REFERÊNCIAS
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