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DIREITO INTERNACIONAL

PÚBLICO I
Dr. António Malheiro Magalhães

2021/2022
ANA FRANCISCA PINTO
FDUC
Direito Internacional Público

O que é o direito internacional público?

Definição de Kelsen: o DI é o conjunto de normas jurídicas que regula as relações entre estados
no meio internacional – significa que havia 2 mundos: o do estado (interno) e o internacional.
Agora NÃO corresponde ao modelo da Carta das Nações Unidas.

O Direito internacional público é o direito da comunidade mundial, o direito universal, é o


conjunto de normas jurídicas que disciplinam a comunidade internacional/mundial e as relações
dos diversos sujeitos da comunidade mundial.

No plano internacional, o DI Público assume o mesmo papel do direito constitucional dentro do


Estado.

Quem é o sujeito do direito internacional?

Hoje o Estado deve ser visto e entendido como um sujeito de Direito internacional, no entanto,
o sujeito por excelência é a pessoa humana, o indivíduo como titular de direitos humanos que
devem ser respeitados e, por isso, deve sobrepor-se ao próprio direito do Estado.

Direito internacional, características:

• Funciona como limite ao próprio poder constituinte do Estado – o DI acaba por se


sobrepor à própria soberania do Estado porque apresenta certas normas que não
devem ser postas em causa nem por vontade do Estado. Hoje a soberania do Estado é
limitada, está instrumentalizada.
• É o direito da comunidade internacional no sentido em que regula as relações entre
estados, entre indivíduos, entre estados e indivíduos e entre organizações
internacionais.
• É o conjunto de normas jurídico-políticas imperativas que vigoram em toda a
comunidade internacional e se impõem a indivíduos, estados, organizações
internacionais.
o Conjunto de normas jurídico-políticas que afeta os sujeitos num dado momento
histórico, direito da comunidade mundial por vontade do tempo histórico

O DI ≠ direito interno:

Direito internacional Direito interno


Não há instância legislativa eleita pelos Há órgãos de competência legislativa
cidadãos (surge de tratados entre estados, (Assembleia da República, Governo,
organizações internacionais, etc). Assembleias Regionais).
Não há procedimentos normativos (maneira Há determinações e procedimentos
de fazer DI é diferente em todos os casos) normativos (constituição e lei) senão as
decisões são inconstitucionais
Não há hierarquia (por exemplo: Portugal Articulação das fontes de Direito pré-
considera que o direito da UE tem o mesmo determinada (por exemplo: supremacia da
valor que a nossa Constituição, mas a Polónia Constituição)

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acha que tem menos valor que o seu direito
interno)
Não há tribunais de jurisdição obrigatória – os Há tribunais de jurisdição obrigatória.
órgãos jurisdicionais internacionais têm Tribunais para dirimir conflitos.
sempre jurisdição facultativa, os estados têm
de aceitar que aqueles tribunais os julguem
para isso acontecer. Conta-se com a boa
vontade na comunidade internacional para
aceitar estas instâncias, mas não são
obrigatórias. Torna difícil do DI quando é
violado.
Não há administração internacional global, Há um administração para prevenir e reprimir
quando o Estado aceita uma jurisdição dos violações da lei e executar sentenças
tribunais internacionais, muitas vezes não (administração policial, prisional…)
cumpre as suas sentenças porque não há uma
administração competente para executar a
lei e as sentenças judiciais, não se pode
recorrer ao uso da força para fazer os Estados
cumprir.

Tribunal penal internacional – só julga pessoas individuais.

Tribunal internacional – só julga Estados.

História do Direito Internacional


1º momento – antecedentes mais remotos do DI: havia normas que regulavam relações entre
gentes (povos). Antes da época clássica (idade antiga) os antecedentes/fundamentos mais
remotos do DI vão situar-se na antiga Mesopotâmia – relações entre povos reguladas por
acordos (antecessores dos tratados das convenções internacionais dos nossos dias).

Época clássica

• Civilização grega – acordos celebrados entre várias cidades-Estado que tinham sistemas
políticos distintos e entre as cidades-Estado gregas e outros domínios. Encontram-se
certos laivos/exemplos de uma humanidade/humanização que não era característica
entre civilizações antigas – surge uma ideia de respeito pela dignidade das pessoas.
• Civilização romana – distinção entre ius civile (conjunto de normas jurídicas que
regulavam as relações entre os cidadãos romanos) e ius gentium (conjunto de normas
jurídicas que regulavam as relações entre os cidadãos romanos e os gentios
(estrangeiros) e apenas entre os próprios gentios) – noção de abertura ao espaço
(diferente e com pessoas com categorias diferentes). À medida que o Império romano
tende para a sua queda, passamos a ter uma tendência para a uniformização do direito
(ius gentium passa a ser o direito comum do Império).
• Povo judeu/hebreus – manteve a sua identidade cultural alicerçada num texto
fundamental, o Antigo Testamento da Bíblia (Torah).
o Direito à guerra (ius ad belum – direito a fazer guerra): saber de existe, ou não,
um direito radical das comunidades fazerem guerra entre si. O problema da
legitimidade do direito à guerra começou a ser colocado pelo povo judaico –

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toda a guerra será legítima? – questão de se saber se poder-se-ia recorrer à
força em todas as circunstâncias (leva a um conceito que virá a ser desenvolvido
pela escolástica peninsular que é a questão das guerras justas (saber de há
guerras justas e injustas).
▪ Questão começou a ser colocada pelos judeus quando criaram a guerra
de vida (guerra justa porque significava utilizar a força para conquistar
a terra prometida por Deus, aceitável como legítima) e a guerra
opcional (significava a utilização de força apenas em último recurso e,
mesmo assim, com limites de humanitarismo; guerra que se fazia com
outros povos quando os meios de resolução pacíficos de conflitos não
resultavam
o Direito na guerra (ius in belum – saber se deve existir um conjunto de normas
jurídicas que se têm de respeitar durante a guerra)
• Pensamento cristão – DI dos nossos dias sofre uma influência do pensamento cristão
(trata-se de um acréscimo, essencialmente humanitário, ao pensamento judaico). Ponto
de vista e proteção dos indivíduos. Sedimenta princípios que chegam aos nossos dias:
o Parábola do Bom Samaritano (samaritano ajuda um judeu) – significa que pode
haver relações amistosas/humanas entre povos distintos – contributo da
religião cristã para o DI.

Resumo: antecedentes remotos (normas que regulavam comunidades):

DI na sua forma atual recua a civilizações antigas (Mesopotâmia e Egito) → influenciado pela
Grécia e Roma → assume muitos aspetos do pensamento judaico → humanização do direito
assume um papel muito relevante baseado no pensamento judaico-cristão.

2º momento – modelo centralizado na figura do Papa de Roma. Todos os povos cristãos


estão subordinados à autoridade papal e todo o DI passa pelo Papa.
Idade Média:
Respublica Christiana – surge quando o cristianismo começa a expandir-se e o papado começa
a ganhar um poder que ia muito além de qualquer tipo de fronteiras e que abrangia todas as
zonas que tinham sido convertidas ao cristianismo. (todo o envolvimento medieval estava
imbuído deste postulado da Respublica Christiana – tudo o que é DI estava ligado à instituição
papal)

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• Poder centralizado (do Papa) sobre todos os reinos cristãos – primeiro modo de regular
todas as relações dos Estados.
o Papa dizia e reconhecia a existência de reinos, determinava as relações
internacionais – todos os povos, nas relações que estabeleciam entre si, tinham
de ter a chancela papal. A existência ou não de um reino era importante para as
relações internacionais.
o O Papa era o poder central de acordo com o qual todos os outros reinos
deveriam ordenar todas as suas relações. Todas as relações dos Estados
acabavam por se nortear pela moral cristã – “consenso da Cristandade” (ideal
teológico comum, subordinação a um direito natural de matriz cristã e partilha
de valores fundamentais de autoridade, hierarquia e tradição).
▪ Papa assume a qualidade de Cesar (poder temporal/político) a
qualidade espiritual (poder espiritual). Assume-se como dominus
mundo.
▪ Quando havia desobediência à vontade do Papa, dizemos que estamos
numa situação de pecado e a consequência imediata era a
excomunhão.
Nota: a independência portuguesa só é reconhecida em 1179 pela bula manifestis probatum. No plano internacional,
Portugal só afirma como Estado independente depois de ter havido um ato de aprovação pelo Papa – É isto que
significa a Respublica Christiana: todos os povos, nas relações que estabelecem entre si, tinham de ter a chancela
papal.

Idade Moderna:
Hugo Grócio – direito natural (princípios que não precisam de ser escritos (jusnaturalismo), são
fruto da razão humana, sendo acessíveis pela razão subjetiva e estando acima de qualquer
norma escrita. Princípios suprapositivos, o direito natural começa por ter um fundamento
essencialmente divino) é apenas um prolongamento do que é o direito divino. Mesmo que não
existisse um Deus, esses princípios tinham de existir sempre. JUSNATURALISMO SECULARIZADO.

Época Ibérica – surge com a assinatura do Tratado de Tordesilhas (Portugal e Espanha dividem
o mundo entre si – enorme reflexo do poder da religião cristã)

• Surge associada a ideia de mare clausum (mar não era livre para toda a gente, era
fechado porque metade pertencia a Espanha e a outra a Portugal, as duas nações
dividiram o mar entre si e era assim que funcionavam as relações internacionais).

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o Violação desta demarcação era sancionada com pena de excomunhão pelo
Papa
• Entre o Tratado de Tordesilhas e a Paz de Vestefália
• Marcada pelo poderio que a Península Ibérica tinha, mas também foi uma época onde
começamos a verificar o início da decadência da Península Ibérica e dos estados cristãos

Escola Peninsular:

• Francisco Vitória
o Defesa de uma comunidade global alicerçada no direito e na razão natural e na
procura de uma paz dinâmica. (Todas as nações do mundo faziam parte de uma
comunidade e podiam relacionar-se em termos de compatibilidade, devendo
regular-se por princípios da razão natural)
o Construção do conceito de guerra justa bilateral – guerra é bilateralmente justa
quando houver razão de um lado e boa-fé do outro. O objetivo da construção
deste conceito de “guerra justa” prende-se com a pretensão de os conflitos
armados terem alguma racionalidade.
o Contributo para a desconstrução da Respublica Christiana
▪ Rejeita as pretensões de poder temporal universal do papado
▪ Justifica o título espanhol sobre as terras ultramarinas não pelas bulas
pontifícias, mas baseado na sua descoberta.
• Francisco Suárez
o Distinção entre ius gentium externo (relações entre Estados) e ius gentium
interno (relações entre povos de um mesmo Estado)
o Poder político legitimado por uma transferência do poder do povo para o
Monarca – o poder não vem diretamente de Deus para o Monarca, o povo é
que dá esse poder ao Monarca.
o Desenvolvimento do conceito de guerra bilateralmente justa de Francisco
Vitória
▪ Distinção entre recurso à força legítima e ilegítima
o Colocação e argumentação dos problemas no plano teológico e não tanto no
plano jurídico

3º momento (ainda na Época Ibérica) – transição para a atualidade. Questionamento da


autoridade papal. 2º modelo -modelo de Vestefália – prima o Estado soberano e são os Estados
soberanos que vão definir o DI. Ideia de secularização do DI.

Reforma protestante

• Objetivo: questionar o poder absoluto da religião (neste caso, o papado) para


determinar as relações internacionais – o poder da religião não podia ser absoluto.
• Defesa da soberania pessoal, da autodeterminação dos povos independentemente
daquilo que o Papa tinha a dizer relativamente a isso e do direito de resistência
contra tiranos.
• Daqui surge a Guerra dos Trinta Anos

Guerra dos Trinta Anos

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• Natureza político-religiosa
• Imperador Fernando II procurou eliminar a heresia protestante e consolidar o poder
do Sacro Império Romano-Germânico
• Uma guerra sobretudo de oposições de visões no mundo: perspetiva protestante
(soberania popular, autodeterminação dos povos sem terem de estar subordinados
a um poder supremo inquestionável – resistência aos abusos de poder, quer
religiosos, quer seculares. (somos herdeiros desta perspetiva)) e visão mais
conservadora (alicerçada no poder centralizado e supremo do Papa. Soberania dos
monarcas reconhecidos pelo Papa)

Época Francesa – afirmação da França como sendo o Estado que tem maior influência sobre os
outros.

• Expansão da influência francesa com as campanhas Napoleónicas – hegemonia francesa


acaba quando Napoleão é vencido em Waterloo.
• Após esta época vamos ter sobretudo repúblicas democráticas e liberais.

Paz de Vestefália – Tratado que pôs fim à Guerra dos Trinta Anos.

• Ideia: o novo sujeito de DI são os Estados. A religião deixa de ter o poder que tinha
e são os Estados que passam a ser o centro de todas as relações internacionais. A
ideia de Estado-nação (povo, território e soberania) nasce com a Paz de Vestefália.
• Os Estados são soberanos – onde há um Estado, é ele que representa os seus
cidadãos.
• Nasce a figura do tratado internacional como instrumento fundamental do DI.
Igualdade soberana dos Estados.
• Não há hierarquia de normas de DI (porque todas as normas são fruto da vontade
do Estado, tendo todas o mesmo valor)
• Princípio da tolerância religiosa – pode-se praticar qualquer religião e tem de se
aceitar. Para manter alguma estabilidade/alguma paz entre as nações.
• Autodeterminação da Holanda e da Suíça – reconhecimento da sua independência
é a primeira afirmação/expressão escrita da soberania popular.
• Desconfessionalização e secularização (da política, do Estado e do Direito) – Direito
deixa de ser secular (deixa de estar sujeito a uma religião). Percurso de afastar a
política da religião

Absolutismo monárquico

• Ideia: havia um soberano (Rei)


o Grande paradigma do absolutismo monárquico foi a França com o Rei Sol
(D. Luís XIV) – França da monarquia absoluta afirma-se no plano
internacional.

Revolução Francesa – primeira revolução liberal na Europa.

o Começou por adensar o poder da França porque foi o exemplo para muitas mais
revoluções com vista a pôr fim ao absolutismo monárquico.
o Pretensão de universalidade dos ideais revolucionários

Congresso de Viena – quase simultaneamente com a derrota de Napoleão.

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• Já não temos poder com tendências religiosas nem absoluto.
o Instauração de um período de paz e estabilidade na Europa, recusavam-se
conflitos.

Idade Contemporânea

No pós-Revolução Francesa houve a inauguração de uma nova ordem sociopolítica – liberalismo,


igualdade, direitos fundamentais, constitucionalismo, democracia, republicanismo, etc.

Aumento exponencial do número de tratados internacionais e recurso à arbitragem como meio


de resolução de litígios.

Nascimento e expansão do positivismo jurídico.

Concerto Europeu – entre a derrota de Napoleão e a Primeira Guerra Mundial

• Período de paz na Europa onde, apesar de ter havido alguns conflitos, as relações
internacionais se pautaram pela ideia de equilíbrio e pelo afastamento do poder
hegemónico.

Primeira Guerra Mundial

• Após ela é inaugurada a criação da Sociedade das Nações (SDN) - primeiro embrião de
uma organização internacional cujo objetivo é criar um consenso entre todos os
Estados, entidade neutra em relação aos Estados.

Tratado de Versalhes – põe fim à Primeira Guerra Mundial

• Objetivos: paz e cooperação entre os Estados


• Anexo a este Tratado veio o Pacto de criação da Sociedade das Nações (SDN)
o SDN: fórum aberto a todos os Estados para a discussão e resolução das questões
internacionais
o SDN fracassa, mas constitui o embrião da ONU

Segunda Guerra Mundial

• Com esta guerra surge o primeiro tribunal internacional – Tribunal de Nuremberga (a


partir de 1946, o indivíduo assume-se como sujeito de DI, sendo julgados, por este
tribunal, indivíduos devido a atentados contra a dignidade da pessoa humana e não
Estados)

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• Na sua sequência é assinada a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e a
Declaração Universal dos Direitos do Homem.
o Princípio do não uso da força.
o Começam a surgir novos sujeitos do DI: organizações internacionais e
indivíduos.
▪ CONTEMPORANEIDADE

DI Contemporâneo:

• Valores: liberdade, igualdade, consentimento, reciprocidade e imparcialidade – normas


imperativas de DI (ius cogens). Estados não podem ter condutas contrárias a estas
normas imperativas.
• Na sequência da Declaração Universal dos Direitos do Homem surgem novos
organismos que se destinam a assegurar a paz e o respeito em vários domínios,
sobretudo no domínio dos direitos do homem – o próprio indivíduo assume-se no plano
internacional como sujeito de DI. Primazia e universalidade dos direitos humanos.
• Princípios de justiças aceitados por todos os Estados democraticamente legitimados e
baseados no valor da dignidade da pessoa humana.

VISÃO GERAL:

Passamos de um DI profundamente religioso (1º modelo - religioso) para o período introduzido


por Vestefália (2º modelo - político) e, mais tarde, após as guerras, entramos no nosso período
que é o modelo da Carta das Nações Unidas (3º modelo – centralidade do cidadão).

Fontes de direito
Problema das fontes de direito: onde vamos encontrar as normas jurídicas que são importantes
no domínio do DI? (artigo 38º do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça – normas das
convenções internacionais, costume internacional, princípios gerais de direito, questões
judiciais e doutrina).

Os tribunais internacionais utilizam as normas do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) porque


estas são aceites por um maior número de Estados, o método como este decide é o mais

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amplamente aceite pela comunidade mundial. Nota: só os Estados têm atividade judicial ativa e passiva
perante o TIJ

Principais fontes de direito (nas fontes clássicas):

1) Fontes diretas de DI: convenções internacionais, costume internacional e princípios gerais


de direito.
2) Fontes auxiliares de DI: jurisprudência e doutrina– juiz deve apoiar-se nas fontes auxiliares
de DI
3) Equidade

Não havendo convenção internacional, vamos ao costume; não havendo costume,


vamos aos princípios. O tribunal vai ver decisões anteriores (suas e de outros tribunais)
sobre questões parecidas (jurisprudência) e pode ir buscar a doutrina (opiniões das
pessoas que estudam o Direito). Se o tribunal entender que a decisão que vai obter é
materialmente injusta, afasta os direitos prévios e decide sobre a equidade.

Artigo 38.º do ETIJ

• O preceito não pretendeu inovar, mas apenas dar expressão à tradição seguida pela
jurisprudência (tribunais antecedentes do TIJ também já aplicavam estas fontes de
direito)
• O elenco apresentado não pretende ser taxativo nem esgotar as possibilidades de
atuação dos tribunais internacionais (existem outras fontes de DI: atos jurídicos
unilaterais e soft law)
• Pode considerar-se que o preceito acolhe uma ordem ou sequência lógica de
consideração das fontes de direito internacional

Classificação das normas de direito internacional:


Quanto ao grau de generalidade:
• Normas erga omnes – normas de alcance geral, constituindo obrigações universais.
Direito internacional ou geral.
• Normas inter partes – entre as partes. Normas com alcance situacional, vinculando
apenas os sujeitos (as partes) determinados. No DI, as convenções internacionais só
valem entre as partes que as assinaram.
o Vigora, regra geral, o efeito relativo (inter partes) – artigo 34º CVT – mas o
tratado pode produzir efeitos relativamente a terceiros se esse terceiro der o
seu consentimento [tácito (no caso de criação de direitos – 36º CVT) ou expresso
(no caso de criação de obrigações – 35º CVT).

Quanto ao grau de obrigatoriedade:

• Normas que constituem ius cogens – normas imperativas, inderrogáveis a não ser por
outras com idêntica força normativa. Fontes de DIP que concretizam valores que a
comunidade internacional considera tão importantes que não podem ser afastados nem
violados. Não podem ser violadas por ninguém.
Nota: as normas imperativas surgem geralmente associadas à proteção dos direitos humanos e de
interesses fundamentais da comunidade internacional no seu todo.

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• Normas que constituem ius dispositivum – normas (dispositivas) suscetíveis de
derrogação e livre disposição por vontade dos Estados. Podem ser afastadas pelas
partes em determinadas situações, por exemplo: tratado entre 2 Estados para livre
comércio – estado A, para tentar pressionar o Estado B para parar uma certa conduta,
pode deixar de cumprir o tratado (não cumpre o tratado com um objetivo).

Fontes do direito internacional

Convenções internacionais – fonte mais importante de DI (tratados)


Acordos escritos através dos quais os Estados se vinculam juridicamente à adoção de uma
determinada conduta ou estabelecem relações particulares entre si e regidos pelo DI. Noção de
tratado: CVT 2º/1/a.

Muito claras e seguras porque estão escritas, mas há a possibilidade de seres acordos
internacionais não escritos, acordos geradores de obrigações não vinculativas (políticas ou
morais) e acordos celebrados por sujeitos de DI diferentes dos Estados.

Instrumentos através dos quais os Estados chegam a acordos.


Nota: muitas vezes, as normas das convenções internacionais, antes de constarem de uma convenção internacional,
já tinham natureza consuetudinária. Se essas normas consuetudinárias passam para escrito, e se já afetavam alguns
Estados, esses mesmos Estados vão ser afetados por elas, apesar que poderem não serem parte no tratado.

Os tratados dever ser celebrados e aplicados de acordo com o princípio da boa-fé [pacta sunt
servanda (CVT – 26º)].

No ordenamento jurídico português temos tratados solenes e acordos internacionais.

Tipologia das convenções internacionais:

1. Critério da função:
a. Tratados normativos: celebrados por um elevado número de Estados. Objetivo
de instituir um regime quase constitucional, ordenador das relações
internacionais micro. Pretendem ser normas superiores – sobrepondo-se aos
tratados que disciplinam relações entre dois ou alguns Estados. (podem
constituir costume internacional, vinculando mesmo os Estados que não as
subscreveram). Exemplo: DUDH.

Nota: não existe correspondência absoluta entre tratados normativos e tratados multilaterais –
tratados multilaterais só serão normativos quando pretendem prosseguir interesses diferentes
dos dos Estados partes. Se, pelo contrário, estabelecerem direitos e obrigações com base nos
princípios da reciprocidade e da mútua vantagem, já não são normativos.

b. Tratados “contrato”: constituem obrigações mútuas entre as partes


(reciprocidade), de execução imediata e continuada. Relações de troca por troca
(exemplo: convenções de livre comércio, convenções de dupla tributação).
Celebrados por menos número de partes.
Nota: não existe correspondência absoluta entre tratados contrato e tratados bilaterais

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c. Tratados “estatuto organizatório”: destinados à criação e organização de uma
organização ou instituição internacional. Exemplo: tratado da NATO, Carta das
Nações Unidas.
d. Tratados “declaração solene”: acordos internacionais que não estabelecem
mecanismos de monitorização e resolução de litígios. Criam regras, mas não
preveem estratégias para verificar se se cumprem ou não.
2. Critério do modo de conclusão:
a. Tratados solenes
b. Atos finais de uma conferência
c. Acordos em forma simplificada
d. Gentlemen’s agreements
3. Critério das partes:
a. Tratados bilaterais: celebrados entre 2 Estados
b. Tratados multilaterais: celebrados entre mais de 2 Estados
i. Restritivos – envolvem um número limitado de Estados
ii. Gerais – abertos à adesão de qualquer Estado.
4. Critério da forma:
a. Escritas
b. Verbais

Costume internacional
Normas não escritas que são legitimadas por se terem prolongado durante o tempo e por os
sujeitos da comunidade internacional entenderem que são obrigatórias. (normas
consuetudinárias)

• Efeito operativo do costume na atualidade


o Produção de efeitos no período que medeia entre o início das negociações de
uma convenção internacional e a sua entrada em vigor – muitas vezes as partes
sentem que é obrigatório apresar que ainda não o ser.
o Revogação de convenção anterior, assumindo as vestes de lex posterior –
muitas vezes os próprios Estados vão adotando outras condutas mais
adequadas aos tempos e, assim, revogam as convenções anteriores.
o Superação do efeito relativo dos tratados e das reservas – permite abranger um
maior número de Estados quanto a questões fundamentais.

Elementos do costume:

1. Elemento fáctico (elemento prático, objetivo): maneira de agir constante e uniforme


• Reiteração e repetição
• Duração razoável – Mas não tem de ser um comportamento com duração
excessivamente longa
• Consistência
• Generalidade

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Notas:

• Não é necessário que todos os Estados do mundo obedeçam àquele


costume (basta que se possa falar de uma prática geralmente seguida por
um conjunto diversificado e representativo de Estados).
• Quanto menor a duração deste comportamento, mais rigoroso deve ser o
nosso juízo acerca da sua amplitude.

2. Elemento psicológico: convicção da obrigatoriedade


• Convicção juridicamente relevante sobre a obrigatoriedade, permissividade ou
proibição de dada conduta
• A maneira como os Estados agem é que nos vai indicar qual a convicção por
trás daquela ação – se permitem que as coisas aconteçam é porque acreditam
que as ações não são violadoras de qualquer norma

Notas:

• Mais do que a convicção interna, é relevante a convicção exteriorizada.


• Quanto maior a constância e uniformidade da prática, menor a exigência
da prova da convicção de obrigatoriedade.

3. Elemento normativo: coerência normativa e justiça da prática no quadro do sistema.


Justiça material, não se devem formar costumes que sejam contrários aos valores da
comunidade internacional.
• Introduz alguma justiça material no regime
• Ver se o costume que se gerou se pode considerar justo e coerente com os
valores internacionais
• Elemento unificador.

Notas:

• Fator justificativo dos elementos fáctico e psicológico


• Quadro de valores, princípios e regras do ordenamento jurídico
internacional é o ponto de referência para aferir da justeza e coerência dos
comportamentos – costume surge como equidade universalizável, apoiada
em princípios de justiça.
• Relevância tanto maior quanto maior for o relevo dos aspetos morais das
questões em causa.
• Possibilidade de legitimação dos costumes em cenários de fraca prova dos
demais elementos (fáctico e psicológico).

O costume internacional não tem sempre o mesmo âmbito de aplicação:

• Costume universal – tem vigência erga omnes, aplica-se em toda a parte


• Costume regional – tem vigência local (certas zonas da europa, por exemplo).

Há costumes que entram em desuso e são ultrapassados por convenções internacionais. Isto
leva a que se fale em Estado objetor permanente (Estado que quer contrariar o costume porque
não o criou).

Costume é válido a partir do momento em que está alicerçado na ordem jurídica internacional.

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Regime jurídico:

• Regra: o costume considera-se aceite (ETIJ – 38º/1/b). Quem pretender afastar a


aplicação do costume, tem que provar que não o aceitou.
• Os novos Estados estão, à partida, subordinados aos costumes existentes aquando da
sua independência – aqui valem as considerações de segurança jurídica e proteção da
confiança nas relações internacionais.
• Costume selvagem – costume espontâneo e súbito, surgido para responder a alterações
súbitas das circunstâncias normativamente relevantes.
o O elemento psicológico sobrepõe-se ao elemento fáctico. Não foi necessário um
grande período de tempo para o cumprir, convicção de obrigatoriedade muito
forte.
o Objetivo: colmatar falhas no processo negocial-convencional. É tão necessário
regular uma determinada situação que não é possível esperar pela prática
reiterada (elemento fáctico).

Princípios gerais do direito internacional: (ETIJ 38º/1/c)


Normas não escritas (muito mais abstratas que os costumes). Concretizações jurídicas de
valores.

Função subsidiária – pretendem evitar que o tribunal opte por não proferir uma decisão; ajudam
o decisor a interpretar o costume e as próprias convenções internacionais e a preencher lacunas
(quando a realidade é mais original que o direito que conseguimos criar).

São normas muito abstratas (vagas, adaptáveis às circunstâncias e variáveis) que não permitem
resolver um caso em concreto só por si, mas dão-nos algumas luzes sobre como resolver o caso.

O recurso aos princípios gerais do DI amplia as competências dos tribunais internacionais.

Vigoram em todo o ordenamento jurídico internacional – efeitos erga omnes.

Funções dos princípios:

• Evitar que, na falta de convenções e costumes aplicáveis, os tribunais não decidam a


questão – preenchimento de lacunas do Direito Internacional.
• Contribuir para a determinação do sentido e alcance das normas convencionais e
consuetudinárias (interpretação e integração).
• Exprimir e densificar a ordem de valores jurídico-internacional.
• Enquadrar e estruturar as relações entre os sujeitos de Direito Internacional.
• Assegurar a coesão do Direito Internacional.
• Clarificação do núcleo essencial do ius cogens.
• Do ponto de vista monista, os princípios asseguram a unidade substancial entre o direito
interno e o direito internacional.

1. Princípios gerais de direito (com relevo internacional)


a. Princípio da proporcionalidade

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b. Princípio da boa-fé
c. Princípio da proteção da confiança
d. Princípio do non venire contra factum proprium – não devem atuar em sentido
diverso daquele que disseram que iriam atuar.
e. Princípio do due process – processos justos.
f. Princípio da responsabilização por danos

2. Princípios gerais de DI público


a. Princípio da igualdade soberana dos Estados;
b. Princípio da resolução pacífica de conflitos;
c. Princípio da não ingerência nos assuntos internos de outros Estados;
d. Princípio da proteção dos direitos humanos;
e. Princípio da proteção ambiental

Fontes auxiliares
Instrumentos que auxiliam o decisor nas tarefas de determinar a existência e conteúdo do DI e
de chegar a uma decisão justa por referência ao quadro de valores vigente na ordem
internacional.

• Jurisprudência internacional (ETIJ 38º/1/d) - decisões anteriores de tribunais nacionais,


regionais ou internacionais que apliquem o DI, que revestem uma forma tendencial de
precedente quando proferidas por instâncias internacionais abrangentes
o o tribunal NUNCA pode denegar a justiça, quando tribunal não tem normas
suficientemente adequadas para julgar um tal caso, tem de haver uma
valorização da jurisprudência, juiz cria a própria norma
• Doutrina internacional (ETIJ 38º/1/d) – opiniões/estudos das pessoas que estudam DI,
a quem cumpre, sobretudo, sistematizar o conhecimento jurídico, estabelecer as
possíveis significações das normas jurídicas e balizar o campo semântico em que
atuam.
• Equidade (decisões ex aequo bono) (ETIJ 38º/2) - opção do tribunal de decidir de
acordo com a equidade quando a aplicação estrita das normas de direito internacional
se mostrar especialmente inoportuna e inconveniente, conduzindo a uma decisão
injusta ou indesejável (adequação ao caso concreto).
o criar norma nova. Utiliza-se quando o juiz chega à conclusão de que norma
existente e escolhida para a resolução do caso não é a mais correta.
o A equidade é uma forma de corrigir a desadequação das leis ao caso concreto.
o A equidade é um conceito aglutinador dos princípios gerais do direito, podendo
igualmente conter referências à dignidade da pessoa humana.

Duas fontes muito importantes, mas que não estão no 38º do ETIJ (estas não são fontes
clássicas):

• Ato jurídico unilateral – imputado a um só sujeito internacional (Estado ou OI). Vai ser
elevado a fonte de direito internacional, mas que vincula apenas 1 sujeito. Atos que têm
de ser publicitados, se não forem significa que o estado não pode ser vinculado.
o Exemplo: promessa unilateral – ato jurídico produzido por um Estado ou órgão
que o representa ou organização de DI que os efeitos passam a ser imputados

14
a esse sujeito. Esse sujeito compromete-se perante determinados sujeitos da
comunidade internacional a adotar, ou não, determinado comportamento.
o Se estado não cumpre, está a incorrer em responsabilidade, está a praticar um
ato ilícito internacionalmente.
o o reconhecimento é um ato jurídico unilateral
o 36º/2 ETIJ – cláusula facultativa de jurisdição obrigatória (é facultativa, mas, a
partir de quando a subscrevem, passa a ser obrigatória)
• Soft law – direito não vinculativo, de boa-fé. produz efeitos jurídicos, mas não vincula.
Contribui para a concretização do DI, mas não é uma norma que tenha efeitos
vinculativos. É mais uma fonte auxiliar de natureza quase integrativa, mas não fonte
principal de DI.

Quando o Estado não cumpre, está a incorrer em responsabilidade.

Hierarquia das fontes


Uma hierarquia só faz sentido se apoiada em fundamentos de legitimidade que a consciência da
comunidade internacional considera acima do consentimento dos Estados (direito, justiça,
dignidade da pessoa humana…)

Perspetiva tipicamente Vestefaliana Modelo da Carta das Nações Unidas


Não faz sentido falar de hierarquia porque o modelo Já faz sentido falar de hierarquia
de Vestefália nega a existência de hierarquia.

Todo o DI está à disposição dos Estados (as Distinção entre normas imperativas (superiores) e
convenções porque traduzem acordos entre Estados normas expositivas (inferiores – se uma destas
e o costume porque é aceite por todos os Estados, por normas violar as normas imperativas, não é válida)
alguns (costume regional) ou por 2 (costume • 103º da Carta das nações unidas (só por si é
bilateral). uma norma ius cogens, norma imperativa que
diz que 1.º Normas imperativas e 2.º normas
expositivas).

A questão da hierarquia das fontes do DI é


uma questão e, como tal, não se pode dar
resposta de sim ou não. Não é possível
fazer uma pirâmide kelseniana.
A soberania do Estado foi contestada principalmente no
séc. XVI - A ideia de liberdade é a ideia de afirmação de Os tratados que violem normas
soberania - A soberania é o poder supremo, omnipotente imperativas de DI têm um vício de
do plano interno. Modelo e Vestefália assenta na ideia de conteúdo, um vício material, um objeto
Estado soberano que se liberta de uma autoridade ilícito e, como tal, a sanção é a nulidade
exterior (Papa). absoluta. O TIJ pode vir a declarar nulo um
As relações entre os Estados são relações de consideração tratado porque esse tratado viola uma
e equilíbrio dentro do cenário europeu, não há Estados norma imperativa de DI. Por isso, essas
mais fortes que outros e tratados são as formas jurídicas de normas têm valor constitucional.
estabelecer essa igualdade entre Estados, assim, não havia Artigo 53º CVT 15
DI superior ao direito que os Estados criavam.
Muitas vezes diz-se que o costume universal tem um carácter hierarquicamente superior ao
costume regional e costume local, mas isso não significa que haja costumes regionais ou locais
tão fortes que se sobrepõem ao costume universal.

Ao nível do direito das OI’s:

• Direito internacional ORIGINÁRIO– é com base nestes tratados que se vai criar o direito
derivado
o exemplo: direito originário da UE – tratados institutivos/constitutivos da EU.
• Direito internacional DERIVADO – decorre do direito originário (só será válido se não o
violar)
o Exemplo: direito produzido pelas instituições da UE.
o Direito derivado das organizações internacionais é normalmente designado por
direito internacional especial
▪ exemplo: normas produzidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas
(à partida não têm efeito vinculativo – soft law; dão orientações, mas,
à partida, não têm efeitos vinculativos).
▪ É direito derivado porque é fruto de um órgão de uma instituição
internacional (o direito originário das Nações Unidas é a Carta das
Nações Unidas).

Direito internacional e direito interno


Qual a relação que se estabelece entre o DI e os ordenamentos jurídicos internos?

Jus legaciones – direito de estabelecer relações diplomáticas

A partir do momento em que começamos a assistir ao direito público moderno, passa a colocar-
se a questão sobre o direito que regia as relações entre Estados e dentro de cada Estado. Que
relação se estabelece entre o DI visto no seu conjunto (não apenas como fruto da vontade dos
Estados, mas sim da comunidade internacional) e os ordenamentos jurídicos internos (que, na
sua grande maioria, continuam a ser estaduais)?

Há duas resoluções doutrinais que levam a que haja diferentes relações:

• Teoria Monista
o Direito interno e direito internacional fazem parte de um todo (tem normas de DI
e de direito interno) – unem-se num único sistema jurídico dentro do qual não
podem existir normas incompatíveis. Significa que, quando houver conflitos, estes
têm de ser resolvidos dentro do sistema.
▪ Sistema jurídico como um todo – conflitos resolvem-se tal como se resolvem
conflitos internamente
o Monismo COM primado – reconhece superioridade a um dos ordenamentos
(interno ou internacional)
▪ Primado de direito interno: Direito interno prevalece sobre o DI. porque o
Estado se encontra na origem de todo o Direito, o direito internacional é
apenas “direito estadual externo”, devendo respeitar o direito interno.

16
• Tese estadualista, voluntarista, positivista – direito interno
enquanto direito estadual externo
▪ Primado de DI: uma vez que é a ordem internacional que serve de base para
a construção dos Estados, o direito interno tem a sua validade dependente da
conformidade com o direito internacional.
• Tese da justiça e solidariedade social universal

o Monismo SEM primado – não reconhece superioridade a nenhum dos dois


ordenamentos.
▪ Tanto o direito interno como o direito internacional vão buscar a sua validade
a uma norma fundamental comum – a regra pacta sunt servanta –, pelo que
os conflitos entre normas devem ser resolvidos com recurso a critérios não
estritamente jurídicos
Nota: O sistema sendo monista, como proceder se houver conflito entre ordem internacional e uma lei interna? A
qual se daria primazia? Hoje seria ao direito internacional, mas isto dever-se-ia à decisão do Estado. No monismo
com primado no direito interno, onde prevalecia a vontade interna, prevaleceria a vontade daquele Estado ex.: o que
está a acontecer com a Polónia.

• Teoria Dualista
o existem 2 sistemas: o interno e o internacional
▪ o direito interno e o direito internacional distinguem-se entre si, formando
sistemas autónomos, podendo surgir contradições insuscetíveis de superação
(podendo, por isso, uma mesma norma ser válida num ordenamento e
inválida noutro)
▪ Direito internacional - relaciona relações entre Estados (ex.: Portugal e
Espanha). Não se aplica internamente, ex.: tratado entre Portugal e Espanha
não pode conferir direitos e deveres aos cidadãos portugueses e espanhóis.
▪ Direito interno - tem origem num estado e relaciona relações entre cidadãos
e Estado
o só podemos estar vinculados ao DI se o nosso Estado o tivesse transposto para o
plano interno – As normas internacionais só vinculariam internamente após a sua
“transformação” em direito interno.
Doutrinas sobre
relações entre normas
internas e
internacionais:

Monistas Dualistas

Monismo com Monismo sem


primado primado

Monismo com
primado de direito
interno

Monismo com
primado de direito 17
internacional
Nota: Art. 27.º Convenção de Viena dos Tratados: um Estado não pode alegar normas do seu
direito interno, ou a falta delas, para justificar o incumprimento de normas internacionais

Implementação do DI no direito interno:

Técnicas de receção – ideia de pegar no DI e transformá-lo de modo que funcione dentro do


direito interno.

• Incorporação (receção automática plena) – acolhimento do DI no direito interno, em


regra num sistema pensado para ser monista.
o as normas internacionais vigoram, enquanto tais, no ordenamento interno,
podendo ser diretamente aplicáveis e vinculando entidades públicas e privadas.
• Receção semiplena variantes intermédias que podem constituir:
o Receção semiplena stricto sensu: opta-se tanto por técnicas de transformação
como por técnicas de incorporação, consoante os casos;
o Cláusula variável: as normas internacionais são automaticamente recebidas
quando constantes de determinadas fontes, carecendo de transformação nos
demais casos.
• Transformação (ordem de execução) – por regra num sistema dualista
o Uma norma internacional só vigora na ordem jurídica interna depois de
reproduzida numa fonte de direito interno dotada de autorização expressa nesse
sentido

Técnicas de articulação – mecanismos através dos quais o direito interno e o DI dialogam entre
si.

18
• Remissão - uma lei interna utiliza um conceito de direito internacional, ou vice-versa
(por ex. direitos humanos);
• Dependência: uma norma de direito interno depende de uma norma internacional
permissiva;
• Transcrição: uma norma de direito internacional é incorporada no texto de um ato
normativo interno;
• Complementação: uma convenção internacional requer normas complementares
internas.

E em Portugal?

Aqui seguimos uma posição tendencialmente, primazia dos valores comuns dos direitos
humanos. A CRP APONTA PARA O MONISMO (com primazia do direito internacional).

Há 3 preceitos na nossa constituição para apreendermos as relações entre DI e direito interno:

• Artigo 8º
• Artigo 7º
• Artigo 16º

Com base nestes 3 preceitos constitucionais, chegamos a uma conclusão acerca da aplicação ou
não do DI dentro do ordenamento jurídico português - qual a posição hierárquica que ocupa:
acima ou abaixo da constituição?

• Artigo 8º
o Com primado do DI - Mesmo o direito da UE prevalecer sobre o d. interno, não
pode pôr em causa os direitos fundamentais (DLG) da nossa constituição, se isso
acontecer, não se deve aplicar a normas da união europeia, mas sim a de direito
interno (“com respeito…”)
o O direito internacional integra o ordenamento jurídico português, as normas
dos tratados vigoram na ordem interna enquanto vincularem Portugal. Porque
o sistema é MONISTA, a técnica de receção do direito internacional é a TÉCNICA
DA RECEÇÃO AUTOMÁTICA ou PLENA.
o Receção automática plena (incorporação)
o 8º/1 – DI geral ou comum parte integrante do direito internob . Técnica da
receção automática. Posição monista com primado de DI.
o 8º/2 – direito internacional convencional (tratados solenes e acordos
internacionais).
▪ Técnica da receção automática (“… vigoram na ordem interna…”),
porém é necessário um requisito de eficácia: publicação oficial
(119º/1/b) – se não for publicado, há sanção de ineficácia, não vigora
na ordem interna portuguesa.
▪ saber se tratados internacionais têm posição supraconstitucional,
constitucional ou infraconstitucional e supralegal. Desta norma parece
não decorrer a hierarquia (*)
o 8º/3 – direito internacional especial (das organizações internacionais) vigoram
diretamente na ordem interna desde que isso esteja estabelecido nos
respetivos tratados constitutivos.

19
o 8º/4 – adicionado para dizer que o direito da UE vigora numa norma interna
portuguesa e estabeleceu uma aplicabilidade direta, tendo as diretivas de ser
transpostas por lei ou decreto-lei, nos termos do 112º/8 da CRP
▪ Primazia do direito comunitário sobre o direito interno – embora as
normas europeias não sejam hierarquicamente superiores às
constituições nacionais, têm uma aplicação preferencial em caso de
conflito.
• Artigo 7º
o Determinação do sentido e do alcance das relações do direito internacional com
o direito interno
o 7º/1 – acolhe normas de ius cogens que foram herdadas do DI → receção
automática destes princípios para a ordem interna portuguesa (remissão para
Artg. 2º CNU)
o Constituição tem amizade jurídico-internacional
o Princípios que orientam a participação de Portugal na ordem internacional – ao
assumir estes princípios como seus, Portugal pretende afirmar a continuidade
material entre o direito internacional e o direito interno em termos monistas do
ponto de vista dos valores e princípios.
• Artigo 16º
o 16º/1 - Não se excluem outros direitos fundamentais, em sentido material, que
estão previstos no DI
▪ Há direitos que não estão expressos na CRP, mas aos quais é concedido
o estatuto e importância de direitos fundamentais – direitos
fundamentais materiais
▪ Exemplo: direito a ninguém ser submetido a experiências médicas sem
o seu consentimento previsto no pacto internacional dos direitos civis e
políticos
o 16º/2 – mais uma afirmação monista e abertura ao DI
▪ Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) como elemento de
interpretação e de integração do Regime Constitucional dos Direitos
Fundamentais

Problema da hierarquia das fontes


Relações entre normas internacionais e normas internas na Constituição de 1976

(*) A Constituição não esclarece se o direito internacional tem valor supraconstitucional,


constitucional, infraconstitucional e supralegal, legal ou infralegal.

• Direito supraconstitucional e materialmente constitucional: certas normas de direito


internacional têm valor superior à Constituição e limitam o próprio poder constituinte,
originário e derivado – normas de ius cogens, em especial de direitos humanos. Essas
mesmas normas assumem natureza constitucional, quando em relação com as normas
legais
• Direito infraconstitucional: as convenções internacionais (que não constituem ius cogens)
estão sujeitas à Constituição portuguesa, podendo ser objeto de fiscalização da
constitucionalidade

20
• Direito supralegal: as convenções internacionais, apesar de se subordinarem à Constituição,
têm, em princípio, primazia sobre as leis ordinárias, que as deverão respeitar sob pena de
inconstitucionalidade

Sujeitos de Direito Internacional


O que é ser sujeito de direito?

Entidade titular de direitos e deveres → vinculada por deveres/obrigações

Sujeito de DI:

Entidade que é titular de direitos e deveres com origem nas fontes de DI.

Concretizações mais relevantes:

• Direito de estabelecer relações diplomáticas;


• Direito de celebrar convenções internacionais;
• Suscetibilidade de ser destinatário direto de normas de direito internacional;
• Legitimidade processual internacional.

ESTADO

O que é o Estado? Em que termos é sujeito de DI?

O Estado é definido através de 3 características – povo, soberania (interna e externa) e território:

Existência de um POVO – o que é o povo?

o POVO ≠ NAÇÃO

Povo Nação
Comunidade de pessoas, de natureza Conjunto de pessoas ligadas entre si por laços
jurídico-política, que se sujeita a um governo étnicos, linguísticos, culturais, históricos
(estrutura que decida os seus assuntos
internos)
• Quer autogovernar-se
Nota: Portugal é um povo-nação – além de termos um governo próprio, a nossa história +e
muito comum.

No entanto:

Uma Nação pode estar dividida por diversos Estados:

• Exemplo: povo árabe

Há muitos Estados que têm um povo, mas esse povo tem muitas nações.

21
• Exemplo: nação distribuída por vários povos é a nação árabe, existem vários estados árabes;
Reino Unido inclui várias nações, Espanha também.

Há nações que não têm Estado.

• Exemplo: judeus durante muito tempo eram uma nação sem Estado, com base nisso fundou-
se o Estado de Israel para que o povo judaico se pudesse concentrar num território e ter um
governo

o ATRAVÉS DA NACIONALIDADE TORNAMO-NOS PARTE DO ESTADO

Aquisição da nacionalidade originária – quando uma criança nasce, é-lhe atribuída uma
nacionalidade. Critérios de atribuição:

1) Jus soli: nacionalidade obtida com base no local de nascimento (conceção cívica e
política de nacionalidade)
✓ Exemplo: atribuir nacionalidade portuguesa a uma criança de pais
estrangeiros, mas que nasceu em Portugal
2) Jus sanguinis: nacionalidade obtida com base nos laços sanguíneos – paternidade ou
maternidade (conceção étnico-cultural da nacionalidade).
✓ Exemplo: criança nasceu em Portugal, mas a mãe é espanhola e, por isso, vai
ter nacionalidade espanhola

Aquisição derivada: aquisição da nacionalidade através de mecanismos como a naturalização,


adoção, matrimónio, etc. (ao longo da vida, as pessoas podem mudar de nacionalidade ou
adquirir uma nova)

LEI DA NACIONALIDADE

• 1.º capítulo – artigo1.º. Atribuição da nacionalidade originária.


o a) – d) → critérios jus sanguinis
o e) – g) → critérios jus solis
• 2.º capítulo – modos de aquisição da nacionalidade derivada.

O que significa adquirir uma nacionalidade?

• Significa que passamos a ter um estatuto especial em relação a determinado Estado


(podemos exigir coisas e temos determinados deveres).
• Estatuto que nos acompanha a vida toda.
• Proteção mesmo se estivermos no estrangeiro
o Estado português podia pedir extradição para cá caso alguém fosse preso no
estrangeiro para ser julgado cá, por exemplo.

Nota: a nacionalidade é um vínculo tendencialmente exclusivo, havendo as exceções da dupla e


tripla nacionalidade e da apatridia.

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• Também pode acontecer pessoas não terem nenhuma nacionalidade – normalmente
acontece em estados que estão em guerra e não há registo das crianças que nascem
(apatridia).
o Se pessoa não tem nacionalidade, não tem proteção nem direitos sobre nenhum
estado. Altamente vulneráveis perante a comunidade internacional – dever de
acolhimento para outros Estados, mas os Estados podem escolher, perante certos
critérios, a quem dão a nacionalidade.
o DI intervém neste domínio para que se façam algumas luzes sobre o que os estados
podem ou não fazer relativamente a esta questão, determina em que circunstâncias
há abstenções ou não excessivas à atribuição da nacionalidade (que é um direito
humano). O reconhecimento da nacionalidade no plano internacional implica a
existência de uma conexão efetiva.

DI também evita que se conceda a nacionalidade com muita facilidade, sobretudo devido a
questões fiscais.

Outras notas importantes:

• Vínculo da cidadania europeia – atribui-nos (a cidadãos que têm nacionalidade de Estados


europeus) mais uma quantidade de direitos (nacionalidade e cidadania europeia estão
ligados)
• Uma pessoa que não seja cidadão português, mas que esteja no território português, é
equiparada a cidadão português durante o tempo que cá esteja.
• Princípio da equiparação entre cidadãos nacionais e estrangeiros e apátridas em matéria
de direitos fundamentais
• Também as pessoas coletivas (empresas, entidades que têm personalidade jurídica, mas não
são um indivíduo) precisam de nacionalidade, sobretudo para efeitos fiscais.
Critérios quanto às pessoas coletivas:
o Critérios da sede e direção efetiva - Onde é a sede da empresa (princípio da residência)
o Critérios do local de produção dos rendimentos e existência de um estabelecimento
estável - Onde são produzidos os bens que comercializa (princípio da fonte)

Existência de SOBERANIA – o que é a soberania?

É o exercício do poder. Os Estados dizem-se soberanos porque, dentro do seu território e


relativamente ao seu povo, podem exercer uma soberania. Esta tem várias dimensões:

Soberania

Compete ao
Regula as
Estado celebrar
relações das
pessoas que interna externa relações com
outros
vivem naquele
organismos
território.
soberanos.
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• Dimensão interna: ausência de qualquer dependência orgânica relativamente a
qualquer outra entidade dentro do marco territorial
• Dimensão externa: capacidade de estabelecer relações com outros Estados em
condições de igualdade e simetria de reconhecimento. A esta anda associada a
competência para estruturar normativamente a vida dentro das fronteiras territoriais

Competência das competências

Poder que os Estados têm, dentro do seu território, de definir as regras supremas – em causa a
possibilidade de exercer o poder autoritário, mas também o poder de criar um quadro
superior ao qual todos têm de obedecer (Constituição)

Poder de criar a constituição de um Estado e de a rever

Faz a lei
Poder
Aplica a lei Poder legislativo
executivo

Poder
judicial
Julga quem não cumprir a lei

Soberania estadual

• Princípios de exercício da soberania:


o Princípio da territorialidade
▪ Estado tem o direito de fazer leis para toda a gente que se encontra dentro do seu
território e atos lá praticados (dispõe de direitos de jurisdição) – territorialidade
subjetiva
▪ Estado tem direitos de jurisdição relativamente a atos que ocorreram fora do seu
território, mas que o afetem – territorialidade objetiva
o Princípio da nacionalidade – mesmo que não estejamos no país, o Estado ainda tem
certos poderes sobre nós (cidadãos do Estado) + jurisdição sobre, por exemplo,
embarcações e engenhos espaciais que tenham nacionalidade desse Estado

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o Princípio protetivo – os Estados protegem os cidadãos mesmo quando estes estão fora
do seu território (Estados têm direitos de jurisdição sobre atos extraterritoriais que
ameacem a sua segurança)
o Princípio da universalidade – todos os Estados têm soberania para legislar factos que
sejam de perigos considerados globais (terrorismo, questões ambientais, etc.) mesmo
que estas condutas tenham ocorrido fora do seu território
o Princípio da personalidade passiva – o Estado estende a sua jurisdição a estrangeiros
que cometam atos contra os seus cidadãos nacionais, mesmo que estes atos se
verifiquem fora do seu território, desde que tal se justifique por haver interesse
preponderante nesse sentido

O facto de um Estado ser uma entidade soberana significa que os outros Estados têm de o
respeitar para que a comunidade internacional funcione.

Imunidade da jurisdição

Os Estados não podem ser julgados por tribunais de outros Estados (Estados são julgados no
tribunal internacional) sem o consentirem – imunidade processual

• Imunidade processual absoluta: Estado recusa-se a submeter à sua jurisdição qualquer


ato de outro Estado
• Imunidade processual relativa – reconhecimento da imunidade apoia-se nas distinções
entre:
o Propriedade do Estado ou propriedade privada dos titulares dos cargos públicos
o Vasos de guerra e navios com fins comerciais
o Atos de autoridade (ius imperium) e atos de gestão (ius gestionis) – apenas os atos
de gestão são submetidos à jurisdição.

Em determinadas circunstâncias pode acontecer este julgamento (se um Estado aceitar ser
julgado por um tribunal de outro Estado), mas não lhe podem ser aplicadas penas a atos
coercitivos e de natureza executiva (obter algo daquela pessoa que n entregou de livre vontade)
– Imunidade de execução.

Imunidade dos Chefes de Estado e outros titulares de cargos oficiais – Enquanto chefes e
deputados estão a exercer cargos não podem ser julgados (imunidade absoluta) e têm
imunidade relativa após a cessação do exercício do cargo.

Existência de um TERRITÓRIO – o que é a soberania? - MUITO IMPORTANTE

Marco físico em que opera o ordenamento jurídico de um Estado – fronteiras físicas dentro das
quais um determinado Estado (ente que governa um povo) pode exercer os seus poderes –
constitui o objeto da plenitude e da exclusividade da soberania.

25
Território

Superfície Mar Espaço


terrestre territorial aéreo

Superfície terrestre:
Solo, subsolo e águas interiores (lago, bacia, rios e todas as águas que ficam aquém da linha de
base do mar territorial).

Neste domínio, NÃO se garante DIREITO DE PASSAGEM INOFENSIVA a estrangeiros.

Mar territorial:
Prolongamento do nosso território para o mar (parte do mar que se considera fazer ainda parte
do território do Estado). Nota: apenas existe nos Estados costeiros.

A delimitação dessa parte de mar é feita por cada um dos Estados historicamente, mas o DI
público diz que cada Estado pode definir a parcela de mar que faz parte do seu território, dentro
dos limites impostos pelo DI público.

• A delimitação do mar territorial é feita unilateralmente pelos Estados;


• O direito internacional regula a validade da delimitação efetuada

Os Estados devem sujeitar-se nesta matéria ao DI

Convenção de Montego Bay de Direito do Mar (CDM)

• Largura do mar territorial: até 12 milhas náuticas


o Este espaço é como se fosse uma continuação do solo – Estado é plenamente soberano
nestes locais
o Há direito de passagem inofensiva (artigo 17º para a frente):
▪ Apesar daquela parte do mar ser ainda considerada parte do Estado, os navios de
qualquer Estado podem passar (n é parar, nem atracar, nem se dirigir aos nossos
portos sem autorização);
▪ O que os navios podem fazer é atravessar as águas, passagem deve ser rápida e
contínua, não perturbando a paz do território de determinado Estado;

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o Estado pode fazer visita e inspeção a esses navios que estão a passar (caso passagem
seja considerada não inofensiva).

• Território marítimo além do mar territorial não integra o território do Estado → a partir
dessas 12 milhas náuticas, Estado já não é soberano, mas ainda tem alguns poderes:

o Zona contígua (artigos 33º e ss. CDM) – acaba nas 24 milhas (12 milhas depois do fim
das 12 milhas do mar territorial)
▪ Estado tem poderes de polícia (poderes de controlo e fiscalização) → pode
inspecionar os navios que passam com o objetivo de evitar que nessa zona haja
violações das suas regulações e reprimir as infrações às leis e regulamentos no seu
território ou no seu mar territorial;
▪ Deve ser expressamente reclamada.

o Plataforma continental (artigos 76º e ss. CDM) – solo e subsolo das áreas marinhas
(zonas mais ricas em recursos). Pode ser medida por 2 vias:
▪ Em toda a extensão do prolongamento natural do território terrestre até ao bordo
da margem continental (geografia);
▪ Nos estados em que a extensão do continente é mais curta (bordo exterior da
margem continental não atinja as 200 milhas), considera-se que plataforma
continental fica nas 200 milhas marítimas/náuticas

Jurisdição dos Estados neste domínio implica:

• Dever de efetuar pagamentos ou contribuições em espécie relativos ao aproveito dos


recursos não vivos situados além das 200 milhas (quando a plataforma é mais extensa);
• Direito de: (poderes de exploração de recursos)
o Exploração e extração de recursos naturais;
o Autorização e regulamentação de perfurações.

o Zona económica exclusiva (artigos 55º e ss. CDM )– vai além do mar territorial e deve
estender-se até a um limite de 200 milhas (desde o limite do mar territorial – 12 milhas
náuticas + 200 milhas náuticas).
▪ Permite aos estados a exploração e o aproveitamento económico de todos os
recursos que lá se localizam (estamos a falar de água, não de solo nem do leito)
– atividades como pesca, colocar eólicas, etc.
Jurisdição
▪ Os estados têm os poderes de aproveitamento, conservação e gestão dos
do Estado
recursos.
▪ Têm dever de proteção e preservação do meio marítimo.
▪ Investigação científica marinha
▪ Os outros estados, que não o Estado costeiro, têm liberdade de navegação,
Proteção sobrevoo, colocação de cabos e ductos submarinos e levar a cabo outros usos
dos demais do mar lícitos.
Estados ▪ Os Estados sem litoral ou geograficamente desfavorecidos têm o direito de
participar, numa base equitativa, no aproveitamento de uma parte apropriada

27
dos excedentes dos recursos vivos das zonas económicas exclusivas dos
Estados costeiros da mesma sub-região ou região;

Espaço aéreo:
• Delimitação horizontal: coluna de ar situada sobre o território de um Estado e mar territorial
• Delimitação vertical: espaço extra-atmosférico e inferiormente pelo espaço reconhecido ao
proprietário ou beneficiário (desde o limite reconhecido ao proprietário até à atmosfera)

Vigora para o espaço aéreo o princípio de que tudo o que não for domínio do estado é livre
(princípio caelum liberum) → Convenção de Paris (1919)

• Exceção: princípio da autorização de sobrevoo


o Não há direito de passagem inofensiva → um avião que não tenha tido autorização
do Estado português para passar lá, não pode passar mesmo que seja
inofensivamente.
o Há convenções que se debruçam sobre a aviação comercial e para aviões militares
o UM AVIÃO NÃO PODE PASSAR NO ESPAÇO AÉREO DO ESTADO PORTUGUÊS
SIMPLESMENTE PORQUE QUER PASSAR, TEM DE HAVER UMA AUTORIZAÇÃO
(normalmente reguladas por convenções bilaterais)

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Reconhecimento dos estados

• Convenção de Montego Bay aponta para a tese do reconhecimento declarativo, ou seja,


limita-se a verificar se existem os 3 elementos constitutivos de Estado (povo, soberania e
território).
o Um Estado existe mesmo que não seja reconhecido pelos demais desde que tenha
os 3 elementos.
• Tese constitutiva - O Estado só passa a ser Estado com o reconhecimento de TODOS os
sujeitos de DI (organismos como a ONU)
o Dever jurídico de reconhecer um Estado logo que se verifiquem os respetivos
elementos constitutivos (povo, soberania e território).

Reconhecimento de Governos
Tese da efetividade – significa que os sujeitos do DI têm de reconhecer este novo Governo seja
ele de que tipo for. O reconhecimento de um novo Governo baseia-se no exercício efetivo de
autoridade associado à capacidade de assunção dos direitos e cumprimento das obrigações
internacionais.
Tese da legitimidade – significa que tem de se saber quais são os Governos efetivamente
legítimos (se respeitam os direitos humanos, o estado democrático, etc.) - Esta é a tese que o DI
apoia.

ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
São coletivos, conjuntos de vários sujeitos: associações voluntárias de Estados e/ou de
organizações internacionais ou entidades criadas por organizações internacionais.
Nota: as ONG já não têm como membros Estados, mas sim pessoas físicas.

Algumas características das OI’s:

• Utilizadas no DI para assegurar a governação global.


• As OI são organizações criadas por vontades de Estados (expressão da soberania estadual).
o Instrumento mais comummente utilizado para formar uma OI: convenção
internacional.
• São organismos permanentes e autónomos dos Estados que as integram
• Formam e manifestam vontade própria
• Dão origem a uma ordem jurídica própria, com órgãos e procedimentos próprios

Estatuto jurídico-internacional:

• São consideradas como sujeitos internacionais – personalidade jurídica.


o Direitos e deveres adequados às funções para as quais foram criadas
• Capacidade jurídica: Estabelecem relações com outras organizações e com os Estados
o Poderes para celebrar convenções entre si ou com os Estados
o Em certas situações, podem alterar, suspender, interpretar e integrar convenções

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• Imunidades e privilégios: São reconhecidos imunidades e privilégios adequados às
atribuições que lhes são atribuídas (os sujeitos que trabalham nessas OI têm condições
especiais).

Organização das Nações Unidas – ONU


Tem um âmbito mais universal e funções mais abrangentes que as restantes OI’s. É,
normalmente, considerada a organização internacional das organizações internacionais.

Surgiu na sequência do fim da II Guerra mundial (1945) e a Carta das Nações Unidas foi assinada
em São Francisco na Califórnia, tem anexado o Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça
(ETIJ) – instrumentos normativos fundadores.

Na sede da ONU (em NY) o direito do estado de NY não se aplica, há um direito próprio aplicável
- administrative district. Imunidades e privilégios aplicáveis aos seus funcionários, agentes e
peritos.

Notas sobre a ONU:

• A Carta das Nações Unidas está para o plano internacional como a Constituição está para o
plano interno - É reconhecida à Carta da ONU natureza constitucional.
• ONU tem um papel na comunidade internacional independente da sua função de fazer
aplicar o regime jurídico de uma convenção
• As competências da ONU são muito vastas e abrangem domínios complexos (como a paz e
a guerra).
• Objetivos fundamentais: promoção da paz e segurança internacionais, das relações
amistosas entre os Estados, da cooperação e do desenvolvimento internacionais e dos
direitos humanos;
• Constitui um ponto de encontro da comunidade internacional.
• Princípios fundamentais;
o Igualdade soberana dos Estados Reconhecidos na Carta das Nações Unidas.
o Boa fé nas relações internacionais
o Resolução pacífica de conflitos Constituem princípios de DI comum, tendo
o Não ingerência força normativa erga omnes

ONU

Conselho
Conselho de
Assembleia Geral económico e Secretariado
segurança
social

30
• Assembleia Geral (AG)
o Reúne todos os Estados do mundo que fazem parte da ONU (cada Estado tem um voto).
Tem função mais deliberativa.
▪ Sessão ordinária anual
▪ Aprova resoluções por maioria dos votos, sendo exigível maioria de 2/3 para
determinadas matérias
o Único órgão das nações unidas que é tendencialmente universal
o Produz resoluções que não têm efeito vinculativo (não obrigam ao seu cumprimento)
▪ Se Estado não cumprir uma resolução da Assembleia da ONU, não está a cometer um
ato ilícito.
▪ Há uma tendência para o cumprimento dessas resoluções porque expressam a vontade
universal, em princípio.
▪ Conduta aceite pela resolução, Estados agem como se fosse obrigatória durante um
vasto período de tempo – costume internacional. Resoluções da AG indicador de
existência de costume universal
o Serve como quase parlamento internacional e as suas decisões, embora não sejam
verdadeiramente obrigatórias, acabam por sê-lo na prática

Órgão deliberativo geral e representativo

• Conselho de Segurança (CS)


o Missão de manutenção da paz e segurança internacional.
o Decide quando Estados podem usar força e quando é legítima a guerra ou o uso das armas.
▪ Por defeito, qualquer problema que exista nas relações internacionais deve ser
resolvido sem o recurso à força, qualquer estado que use a força está a violar o DI
▪ Só ele pode dizer quando, quem e onde pode usar o uso da força
o Composto por 15 membros (5 permanentes e 10 rotativos).
o Membros permanentes: Estados Unidos, França, Reino Unido, China, Rússia (vencedores
da 2ª guerra mundial) → quadro um pouco antiquado e controverso porque há uma
desconsideração pelos outros Estados visto estes serem permanentes.
o Não permanentes (10): mudam de 2 em 2 anos, tenta-se assegurar alguma distribuição
geográfica e são escolhidos em função da sua contribuição para a paz e envolvimento com
a ONU.
o Se um Estado não cumprir as decisões do CS, está a violar o DI. Para uma decisão ser
aprovada (maioria de votos a favor):
▪ Questões procedimentais – de que forma se pode usar a força – quaisquer 9 votos;
▪ Questões substantivas – 9 votos (5 dos membros permanentes + 4 de quaisquer outros
membros)
• Membros permanentes têm direito de veto reforçado porque um membro
permanente que não queira de todo que a decisão seja aprovada, veta os 2
momentos (neste e no de decidir se questão é procedimental ou substantiva [esta

31
decisão é, em si, uma questão substantiva]) – duplo veto dos membros
permanentes.
• Membros não permanentes apenas têm um “veto de facto” - quando reunidos os
votos de todos os membros permanentes, o voto favorável de, pelo menos, quatro
membros não permanentes torna-se necessário para aprovar a decisão.
▪ Há quem defenda eliminar-se os 5 membros permanentes e serem 15 rotativos.

Órgão responsável pela manutenção da paz e segurança

• Conselho Económico e Social (ECOSOC)


o 54 membros eleitos a cada 3 anos (não há membros permanentes)
o Coordena o trabalho da ONU e das agências especializadas na família das Nações Unidas
quanto às questões económicas e sociais
▪ Família das Nações Unidas: organizações ou agências especializadas, que atuam em
variadíssimos domínios, subsumíveis a uma atividade de “governação global” (por
ex. OMS, UNESCO, UNICEF, OMC, OIT, FAO…).

Órgão de coordenação política em materiais sociais, económicas e ambientais

• Secretariado
o Cerca de 9.000 funcionários (de mais de 170 Estados). Encabeçado pelo Secretário-Geral
(nomeado pela AG sob recomendação do CS) – importante papel de falar com os
Estados e dinamizar a comunidade internacional.
o Organização politicamente independente
o Desempenha funções políticas, executivas e administrativas:
▪ Dinamização da opinião pública internacional;
▪ Manutenção da paz e da segurança internacional;
▪ Organização e conferências mundiais temáticas;
▪ Criação normativa nos domínios do estatuto jurídico dos agentes da ONU (direito da
função pública e direito administrativo) e do seu relacionamento com outros
Estados

Órgão executivo e administrativo

OUTROS SUJEITOS
(organizações não-governamentais, povos, etc)

Outros sujeitos que gozam de personalidade jurídica internacional

32
ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS (ONG)
Não são compostas por Estados, mas sim por pessoas.

Começaram no direito interno e cresceram para o plano internacional.

Não têm intuito lucrativo.

Lutam por uma causa específica.

Exemplos: Cruz Vermelha, médicos sem fronteiras, Green Peace, Amnistia Internacional, etc.

ONG’s estão mais no terreno e têm função de ver como as coisas estão a funcionar na prática e
exigir mudanças. Têm personalidade jurídica adequada ao exercício das suas funções.

Dispõem de estatuto internacional parcial:

• Organização de conferências internacionais;

• Apresentação de propostas de convenções e participação na sua negociação;

• Acreditação como observadoras em organizações internacionais;

• Monitorização de regimes políticos, da atividade dos Estados e da conduta das empresas


transnacionais;

• Controlo do cumprimento de convenções internacionais.

POVOS
Reconhece-se personalidade jurídica aos povos para efeitos de afirmação do direito à
autodeterminação (não quer dizer que queiram Estado próprio, mas sim autodeterminação
dentro do próprio Estado).


Autodeterminação dos povos Direito à criação de um novo Estado
Exigir do Estado a plena integração e Só em caso de graves injustiças, violações aos
representação político-democrática das direitos humanos e genocídio
várias comunidades étnico-culturais (cláusula
de salvaguarda da unidade territorial); só em
casos especiais envolvendo o direito à criação
de novo Estado

Resolução da AG ONU n.º 2625: afirmação do direito à autodeterminação dos povos.

Exemplos de outros sujeitos: Santa Sé/Cidade do Vaticano (estatuto muito específico),


Ordem de Malta, Empresas transnacionais (reconheceu-se-lhes personalidade jurídica
internacional para que pudessem ser vinculadas pelos direitos humanos)

33
DIREITO DOS TRATADOS
O direito dos tratados (ius tractum) é o direito das convenções internacionais.

• Convenções internacionais são negócios jurídicos celebrados, pelo menos, por 2 partes e
regidos pelo DI

A VINCULAÇÃO INTERNACIONAL DO ESTADO PORTUGUÊS


(+ direito constitucional dos tratados)
As convenções internacionais são a principal fonte de DI.

• Como é que Portugal se vincula às convenções internacionais?


• O que é preciso para um Estado poder vincular-se?
• Como é que estão viciadas as convenções internacionais?
• Quem tem poderes para nos representar?

Processo de vinculação internacional dos Estados (treaty making process): conjunto de etapas e
atos que devem ser realizados para que a vinculação de um Estado a uma dada convenção
internacional seja considerada válida.

• Cabe aos Estados definir as regras cujo cumprimento é necessário para a sua vinculação
internacional
o As regras de vinculação de cada Estados são diferentes de acordo com o sistema de
governo de cada um.

Intervenção no processo para a vinculação do Estado português:

Assembleia Presidente
Governo da da
República República

• Negociar e ajustar • Aprovar tratados • Ratificar tratados


convenções internacionais (por internacionais
internacionais (todas) resolução) (devidamente
• Aprovar acordos • Aprovar acordos aprovados)
internacionais não internacionais em • Assinar as resoluções da
reservados à AR ou não matéria reservada AR e decretos do
submetidos à AR (termos absolutos e Governo que aprovem
relativos) acordos internacionais
• Aprovar acordos que lhe
tenham sido submetidos
pelo Governo

34
Estado português vai celebrar convenções internacionais com outros sujeitos.

Para que exista um acordo, Portugal tem de manifestar o seu consentimento e a outra parte
também – mútuos consensos – ideia de convergência de vontades/interesses.

Quando falamos do direito constitucional dos tratados estamos a referir-nos à participação de


cada um dos órgãos, nomeadamente dos órgãos de soberania (Governo, AR e PR), na celebração
de acordos internacionais.

Temos um sistema misto – todos os órgãos de soberania intervêm:

1ª fase - negociar 2ª fase - aprovar 3ª fase -


e ajustar Ratificar/Assinar

•Governo •Governo •Presidente da


•Assembleia República

A CRP faz distinção entre convenções e tratados, subcategorias de convenção internacional, que
apenas interessam para efeitos procedimentais:

• Tratados – só podem ser aprovados pela AR e são ratificados (pelo PR – 135º/b)


o Convenção internacional mais importante e formal
o Trata de matérias essenciais para a comunidade internacional (161º/i CRP)
o Tem de criar um conjunto de regras inovadoras – Requisito da disciplina jurídica
inovadora – não é inovadora se só vier complementar outra convenção.
• Acordos – aprovados pelo Governo ou AR e são assinados (pelo PR – 134º/b)
o Se convenção internacional não tratar de matérias essenciais e/ou se não tiver disciplina
inovadora

Matéria essencial + Disciplina inovadora → Tratado


Matéria essencial + Disciplina não inovadora (execução ou complementação) → Acordo
Matéria não essencial + Disciplina inovadora → Acordo
Matéria não essencial + Disciplina não inovadora (execução ou complementação → Acordo

Teoria da essencialidade – as matérias essenciais são objeto de tratado solene, as matérias


menos essenciais podem ser realizadas por acordos internacionais. (Essenciais = interesses da
comunidade internacional)

Primariedade (primeiro pode ser objeto de tratado internacional, mas…) – uma matéria pode
ser essencial ou entendida por essencial, mas, depois pode ser desenvolvida (em termos
secundários e em termos de execução) por acordo internacional, ser objeto de acordo.

35
Ratificação Assinatura
Dar o consentimento Assinar a convenção
Ato mais solene que a assinatura Mais simples
Exige do PR mais atenção e cuidado porque, Em causa estão questões secundárias ou não
no fundo, está a dizer que está tudo bem na essenciais
convenção

Problema da assinatura:

Tese da não obrigatoriedade da assinatura: PR pode decidir assinar, ou não, acordos já


aprovados pela AR ou Governo. Argumentos:

• Se assinatura for obrigatória – estamos a retirar autonomia ao PR. PR ia ter de confiar quase
cegamente no processo que esteve para trás e estamos a colocá-lo abaixo do Governo e da
AR.
• A obrigatoriedade da assinatura descaraterizaria o PR enquanto órgão constitucional
diretamente eleito e dotado de poderes de representação do Estado português
• Não faz sentido que o PR tenha de assinar necessariamente um ato aprovado pela AR ou
pelo Governo quando aquele tem poderes de dissolução e demissão destes

Tese da obrigatoriedade da assinatura: PR não se pode recusar a assinar acordos já aprovados


pela AR ou pelo Governo. Argumentos:

• Se assinatura NÃO for obrigatória – acaba por não haver grande diferença entre tratado e
acordo
• A razão de ser subjacente à figura dos acordos (em forma simplificada) é aplicar a estes,
diferentemente do que sucede com os tratados (solenes), um procedimento de vinculação
mais simples e flexível, a ocorrer num só momento (o da aprovação);
• A distinção entre tratados e acordos e ratificação e assinatura, sobretudo quando no
processo intervêm apenas AR e PR, só faz sentido se, na prática, existir uma diferença de
procedimento (uma vez que a aprovação tem lugar tanto a respeito dos acordos como dos
tratados, a diferença haverá de verificar-se a respeito da ratificação e assinatura).

Perspetiva seguida:

Tratados – PR é uma espécie de crivo e deve decidir conscientemente ratificar ou não ratificar.
Se os 3 órgãos não concordam, não vai para a frente.

Acordos – PR tem tendência para assinar porque há presunção de oportunidade política -


“inclinação institucional” no sentido de assinar os acordos aprovados (a não assinatura só haverá
de ter lugar em situações excecionais, com base em motivos particularmente ponderosos).

NOTA: Se o tratado não obedecer internamente à forma da resolução (166º/6 CRP) é


ratificação imperfeita, mas não é relevante para efeitos de validade do tratado – quando há
excesso de forma, não há problemas na validade do tratado.

o Os tratados solenes e os acordos internacionais aprovados pela AR são-no por


forma de resolução
36
o Os acordos internacionais do governo são aprovados por forma de decreto.
Etapas a seguir nos casos práticos:
1. Ver se é acordo ou tratado (matéria essencial + disciplina inovadora? Ou não?) – 161º/i)
2.
a) Se estiver em causa um acordo – Matéria reservada ou matéria não reservada? (164º e
165º)
• Se é reservada, é a AR a aprovar;
• Se não é reservada, pode ser Governo ou Assembleia (se acordo for submetido à
Assembleia)
b) Se estiver em causa um tratado – AR aprova
3.
a) Se for acordo – PR assina
b) Se for tratado – PR ratifica

Tribunal Constitucional:

Em Portugal temos a possibilidade de fiscalizar preventivamente convenções internacionais


(278º CRP):

• PR pede essa fiscalização ao Tribunal Constitucional


o “Qualquer norma constante de tratado internacional que lhe tenha sido submetido
para ratificação ou de acordo internacional cujo decreto de aprovação lhe tenha sido
remetido para assinatura”

Se TC diz que norma é inconstitucional → veto por inconstitucionalidade → devolve-se tratado


ou acordo à AR ou Governo, conforme os casos → reabertura das negociações (279º CRP).

o No caso dos tratados – podem ser ratificados se AR os confirmar por maioria de 2/3 dos
Deputados presentes (tendo de ser superior à maioria absoluta de Deputados em
efetividade de funções
o No caso dos acordos – normalmente, se o TC decidir pela sua inconstitucionalidade,
essa decisão é definitiva.
▪ MAS… por maioria de razão, se a AR tem capacidade para confirmar os tratados
(mais solenes), também poderá confirmar os acordos (menos solenes).

Nota: a ratificação imperfeita cria uma mera irregularidade - em princípio a violação de normas
de carácter orgânico não implica a não aplicação do tratado desde que não esteja em causa um
princípio fundamental (277º e 278º CRP).

37
Regiões Autónomas:

Falamos dos Açores e da Madeira.

Não têm treaty making power (capacidade de fazer tratados internacionais).

Não se podem mobilizar critérios jus solis ou jus sanguinis para se alicerçarem as comunidades
açorianas e madeirenses, portanto, quem reside nos Açores ou na Madeira é açoriano ou
madeirense, respetivamente, independentemente do local de nascimento ou laços de filiação.

TÊM direito de participar nas negociações que envolvam convenções internacionais no âmbito
do direito do mar e em tratados ou acordos que lhes digam respeito (227º/t CRP).

Referendo:

• Referendo nacional:
o Mecanismo de democracia semidireta
o Realização depende da decisão do PR sob propostas do Governo ou da AR (neste caso
poderá ser por iniciativa dos cidadãos)
o Pode ter por objeto matérias a decidir por convenção internacional (115º/3 + 295º CRP)
o Matérias excluídas do âmbito do referendo – 115º/4, mas 115º/5
• Referendo regional:
o Não tem relevo jurídico internacional devido ao carácter não vinculativo de
participação das regiões

Ratificação negativa

Os Estados, se até ao fim de certo prazo não se pronunciarem contra a sua participação →
considera-se que os tratados criados pela organização de que são parte são adotados e
oponíveis a esses mesmos Estados.

Com isto pretende-se combater a grande quantidade de tempo que demora a aprovação e
ratificação de tratados por parte dos Estados.

Desvinculação internacional do Estado Português

Desvinculação deverá ser feita por resolução da AR ou então por denúncia do Governo no caso
de estarmos perante um acordo que este submeteu à AR ou um acordo aprovado pelo Governo
(por decreto).

As resoluções e decretos devem ser assinados pelo PR (resulta do 134º/b CRP).

A desvinculação tem de seguir as normas relativas a isso na CVT – exemplo: consentimento de


todas as partes e notificação dos contratantes.

38
A desvinculação não implica necessariamente deixar de aplicar essas normas na ordem jurídica
porque têm natureza supraconstitucional ou materialmente constitucional. (normas jus cogens
internacional ou costume internacional, por exemplo).

DIREITO INTERNACIONAL DOS TRATADOS


No plano internacional, quais as regras de elaboração dos tratados? E em que termos os tratados
são válidos?

Procedimento de vinculação interna Procedimento de elaboração externo


Regras sobre o modo como o Estado se Regras sobre a formação da convenção
vincula a uma convenção internacional internacional, por acordo entre os Estados
Órgãos de soberania com competência para Elaboração de um projeto que depois vai ser
representar o Estado adotado
• Sistema de governo misto (em Portugal) → a•nossa
Quem pode participar nas negociações + como
constituição tenta incluir todos os órgãos de serão feitas as negociações
soberania na criação dos tratados (AR, Governo e
PR)
Momentos em que esses órgãos intervêm Como é que os Estados podem intervir no
texto da convenção
Atos praticados por cada órgão + Como é que os Estados podem aderir à
formalidades necessárias convenção

A violação das regras da nossa constituição A violação das regras internacionais faz com
sobre a elaboração e tratados faz com que que o tratado não seja válido nas relações
o tratado não vigore dentro das fronteiras internacionais
Fases do procedimento:
do Estado
• Não vinculação INTERNACIONAL
• Não receção da convenção na ordem do Estado
jurídica INTERNA

Fases:

CONVENÇÃO DE VIENA DO DIREITO DOS TRATADOS ENTRE ESTADOS (CVT)

39
• Negociações e ajuste: entre Estados e/ou OI’s

Liberdade de celebrar tratados inclui a liberdade de determinar:

• Os sujeitos
Todos os Estados têm direito de negociar em pé
• O objeto de igualdade os tratados
• O fim
• O efeito
• A forma A primeira questão que se coloca é: quem pode
• O momento dos tratados representar o Estado?

Quem pode representar o Estado? → Artigo 7º CVT

a) Sujeitos com plenos poderes - Não precisam de documento que ateste esses poderes,
presume-se logo que têm esses poderes de representação do Estado
▪ PM
▪ Ministro dos negócios estrangeiros
▪ Chefe de Missão Diplomática
▪ Chefes de Missão Permanente numa OI
b) Sujeitos (sem plenos poderes) indicados como representantes pelos Estados – exige-se um
documento formal que confira ao sujeito esse poder de ser representante do Estado
▪ Embaixador plenipotenciário
▪ Delegado a uma conferência internacional
▪ Delegado de uma missão especial

Todas as negociações internacionais devem ser levadas a cabo com base na boa-fé e no princípio
de não ir contra a sua própria palavra (non venire contra factum proprium) e todos os outros
princípios do DI.

Pode ser celebrado um pré-tratado – Estados definem as obrigações recíprocas a ter durante a
negociação.

• Em princípio não vão ser imperativos, são mais indicativos


• Pode haver uma obrigação de os cumprirem se os Estados assim o entenderem e
referirem isso nos mesmos

Chegado o fim das negociações, é elaborado o projeto de tratado.

• Elaboração do projeto
1. Título – identificação do tipo de tratado, do objeto e das partes
2. Preâmbulo – explicação de motivos que levaram à celebração do contrato. Algumas
luzes que nos permitem compreender o resto do tratado.
3. Corpo – regras constam aqui. articulação dos objetivos do tratado, definição dos
conceitos-chave e elenco dos direitos e deveres das partes
4. Parte final - Regras procedimentais – quando entra em vigor, em que casos pode deixar
de vigorar, como se interpreta, quais são as línguas cujas versões são consideradas
originais (versão que faz fé) + disposições sobre alteração, adesão, recesso e reservas

40
Depois de o texto do tratado ser redigido, este tem de ser adotado e autenticado.

• Adoção e autenticação do projeto (ainda não estamos no momento de conclusão (de


perfeição) da convenção)

Para efeitos de procedimentos internos, tem de haver texto oficial (texto oficial neste
momento).

Autenticação: ato internacional dos Estados negociadores consubstanciado na assinatura,


assinatura ad referêndum (sob condição de posterior ato oficial) ou rúbrica (art. 10.º CTV)

• Certifica que o texto é correto, autêntico e definitivo


• Ato de natureza político-diplomática com valor simbólico (não propriamente jurídico)
• Podem gerar-se algumas obrigações jurídicas, apesar de não ser oficializado ainda, em
resultado do princípio da tutela da confiança, bem como podem algumas normas do tratado
entrar imediatamente em vigor (art. 24.º/4 CTV)]

• Assinatura e/ou ratificação do tratado - texto torna-se juridicamente vinculativo e processo


de elaboração está encerrado

o Quem pratica este ato é o representante do Estado que, por norma, é um membro
do Governo.
o O texto aprovado (texto autêntico, mas que ainda não é juridicamente obrigatório)
é enviado para cá (AR ou Governo vota-o e aprova-o e depois é enviado para o PR
para ratificar ou assinar, dependendo dos casos).
o No plano internacional espera-se que todos os Estados, quando se chega ao ato
final, tenham cumprido todos os trâmites porque, a partir daí, estarão vinculados

Muitas vezes, chegar a um consenso final é muito difícil e, por isso, existem as reservas.

Reservas aos tratados - Estado adere à convenção, mas diz que não quer se apliquem as normas
X ou Y

• Princípio da compatibilidade das reservas – Artigo 19º CVT


o Reservas são permitidas a menos que:

41
▪ O tratado preveja expressamente que não permite reservas – Ou Estados aderem a
tudo ou não aderem a nada
▪ Não estejam no catálogo de reservas admitidas
▪ Sejam contrárias ao fim do tratado

Tirando os casos apresentados, as reservas são, em regra, sempre admitidas, mas só valem se
os outros Estados as aprovarem (a menos que o tratado determine o oposto) **.

Reserva: declaração formal unilateral simultânea e dependente em relação ao tratado a que se


refere, com o fim de obter a exclusão ou modificação de efeitos jurídicos.

Reservas servem para facilitar o relacionamento entre muitos Estados porque são relações
difíceis. As reservas são uma figura que nos interessam nas relações multilaterais e, por regra,
não são utilizadas nas convenções bilaterais porque não faria sentido uma vez que os Estados
deveriam chegar a acordo – se surgissem reservas nos tratados bilaterais, a consequência seria
a reabertura da fase de negociação. (20º CTV)

Notas sobre as reservas aos tratados:

• As reservas carecem de aprovação e ratificação nos mesmos termos do tratado a que se


refere;
• As reservas podem ser formuladas no momento da assinatura, da ratificação ou,
posteriormente, da adesão;
• As reservas têm de ser admitidas por todos os Estados contratantes (condição que se
considera verificada quando as reservas são admitidas pelo próprio tratado)**;
• As reservas não são oponíveis aos Estados que não as aceitem (salvo quando resulte do
número restrito dos Estados que tenham participado na negociação, objeto ou do fim do
tratado que a sua aplicação na íntegra entre todas as Partes é uma condição essencial para
o consentimento de cada uma em vincular-se pelo tratado);
• As objeções às reservas podem ter como consequência:

1. A convenção aplica-se à relação entre os dois Estados sem as reservas;

2. A convenção não se aplica à relação entre os dois Estados.

Quando o instrumento jurídico é aprovado, não entra logo em vigor:

• Período que medeia entre o momento em que instrumento é elaborado e o que entra em
rigor – vacatio legis. Este período vai permitir aos Estados adaptarem a ordem jurídica
interna para que, quando o tratado entrar em vigor, já estejam a postos de o cumprir.

• Entrada em vigor (24º CVT) - Por regra é convencionada pelas partes no próprio tratado.
o Dias a partir dos quais entra em vigor ou entra em vigor quando X n.º de Estados o
ratificar.
o A entrada em vigor no plano internacional distingue-se da entrada em vigor no plano
interno:
▪ DI – início definido nos termos da CVT

42
▪ Direito interno – início fixado pelas normas nacionais. Em Portugal, exige-se a
publicação no Diário da República.

Outros atos de relevo para a vigência dos tratados:

• Registo e publicação pelo Secretariado da ONU – este registo e publicação são


importantes para os tratados serem reconhecidos internacionalmente, mas a sua falta não
implica que sejam inválidos.
• Depósito de tratados – entregar o texto original para essa pessoa guardar (guardado junto
do depositário). Serve para dar segurança jurídica, saber que aquele texto é o que vale
quando houver dúvidas.

Quando é que tratados deixam de estar em vigor?

• Cessação da vigência – (artigos 54º, 56º, 60º, 61º, 63º e 64º da CVT)
o Pela caducidade por decurso do prazo
o Execução do tratado – depois de realizada a obrigação, o tratado deixa de valer porque
o que era pretendido já aconteceu
o Eventos definidos no tratado (ex. denúncia ou recesso) – Estados retiram-se do tratado
se o próprio tratado previr essa possibilidade
o Impossibilidade de superveniente de execução – se o que se vinculou entre os Estados
deixa de ser possível.
▪ Exemplo: governo obriga-se a entregar determinadas peças de museu a outros
Estados, se houver guerra e museu for destruído já não consegue entregar). Acontece
com bens infungíveis
o Alteração das circunstâncias que as partes tinham em mente quando celebraram a
convenção (cláusula rebus sic standibus) – quando estão em causa coisas tão essenciais
que, se os Estados as soubessem, não teriam celebrado a convenção.
▪ Exemplo: 2 Estados celebram um tratado que permite que um estado estrangeiro vá
pescar salmão no seu território, mas depois descobre que há uma redução drástica
na população de salmão. Se Estado soubesse que isso iria acontecer, não teria
celebrado tratado por isso cessa
▪ Alteração fundamental das circunstâncias
o Invalidade superveniente – surgimento de normas imperativas (jus cogens) que tornem
a convenção inválida – quando mais tarde se tornam inválidas mesmo que ao início
fossem válidas
o Uma das artes deixa de cumprir de maneira tão grave que as outras também não vão
cumprir

• Suspensão da vigência – os efeitos não se produzem durante um espaço de tempo (artigos


57º e 58º CVT)
o Acordo das partes (todas ou apenas algumas)
o Incumprimento por parte de outro Estado (exceto nos tratados normativos)

43
▪ Se o outro Estado volta a cumprir, eu volto a estar obrigada; forçar o outro Estado a
cumprir através do meu incumprimento.

Aplicação dos tratados:

Regra: os tratados aplicam-se a partir no momento em que são autenticados (entram em vigor).

MAS HÁ EXCEÇÕES: (25º CVT)

• Aplicação provisória do tratado por acordo entre as partes;

• Aplicação provisória por determinação expressa do próprio tratado;

• Aplicação imediata das disposições relativas ao modo de autenticação, às formas de


manifestação do consentimento, às modalidades e/ou data da entrada em vigor, às
reservas, às funções do depositário, etc.

Mesmo na aplicação dos tratados, é preciso que os estados continuem a atuar com boa fé e a
cumprirem aquilo com que se comprometerem.

Princípios de execução dos tratados:

• Princípio da boa fé;

• Princípio da não-retroatividade dos tratados (art. 28.º CVT);

• Princípio pacta sunt servanda (art. 26.º CVT) – “implica o dever de executar as convenções
devidamente aprovadas ou ratificadas, adequando o direito interno ao DI e não invocando
o direito interno como causa de justificação da inexecução, sob pena de violação das
obrigações internacionais assumidas”.

Quando estado se vincula externamente, tem de ter a certeza que internamente está tudo bem.
Em regra, um Estado não pode querer ser desvinculado por incumprimento do seu direito
interno (27º CVT)

• Porquê?
o Estado pode alterar as normas internas antes ou após a celebração da convenção
internacional
o Estado pode não aprovar normas internas contrárias a uma convenção internacional
o Estado pode abster-se de celebrar convenções internacionais que vão contra o seu
direito interno
• Exceção: artigo 46º - permite invocar que se violaram normas fundamentais do direito
interno de modo a sustentar a não vinculação do Estado.

Conflitos entre tratados:

Regras para a resolução dos conflitos (artigo 30º CVT):

44
• Lei especial derroga a lei geral (Lex specialis derogat lex generalis) – tratado especial
(relativamente à mesma matéria) vai sobrepor-se a um tratado geral
• Lei posterior derroga a lei anterior (Lex posterior derogat lex priori) – vale a mais recente
• Tratados normativos derrogam os bilaterais – tratados universais valem mais que os
bilaterais
• Se tivermos 2 tratados com o mesmo valor, temos de tentar harmonizá-los (restringir
um pouco de um e do outro para tentar que sejam cumpridos minimamente) -
Harmonização dos valores ou bens jurídicos em jogo

Interpretação dos tratados:

Há 4 elementos de interpretação (artigos 31º,32º e 33º CVT):

• Elemento literal – significado cru das palavras (sentido natural e ordinário), o texto em si
mesmo.
o Problema da diversidade linguística: no DI há problema porque há várias línguas
diferentes (na tradução dos tratados – exemplo: traduzir must e shall do inglês, os
Estados podem ou devem?)
• Elemento teleológico - Olhar para o preâmbulo – pensar qual o objetivo dessa convenção
porque às vezes o texto fica deficitário (finalidade subjacente às normas [ratio legis])
• Elemento sistemático – ver a convenção no seu todo.
o Sistema de valores, princípios e regras formado pelo conjunto das normas
[consideração dos anexos, preâmbulo…]
• Elemento histórico – ver os trabalhos preparatórios, como correram as negociações, que
ideias foram trocadas. Isto diz-nos muito sobre o texto escolhido.
o Contexto em que foi negociado e elaborado o tratado [consideração dos trabalhados
preparatórios, declarações anexas…].

VALIDADE DOS TRATADOS


A questão da validade dos tratados coloca-se após todo o processo anterior estar feito.

(in)validade interna (in)validade internacional


Se convenções internacionais forem Apreciamos em face da convenção de Viena
contrárias, o que está em causa é a sua
inconstitucionalidade – vão contra o
parâmetro mais elevado do ordenamento
jurídico português (Constituição)
• Desconformidade com normas
constitucionais – convenções
internacionais inconstitucionais
Como é que os Estados se vinculam Como é que os Estados têm de se comportar
internacionalmente para celebrar convenções válidas

45
Objetivo: Objetivo:
• garantir e regular o funcionamento das • facilitar a cooperação internacional
instituições que formam o sistema de • garantir a segurança e estabilidade nas
Governo relações internacionais
• proteger os direitos fundamentais • maximizar os ganhos para todos os
Estados.
Tribunais nacionais podem declarar
Tribunais internacionais (tribunal
convenção internacional comointernacional de justiça) podem declarar a
inconstitucional (tribunal constitucional) nulidade de uma convenção internacional
Convenção deixa de ser aplicada dentro da Convenção deixa de valer nas relações
ordem jurídica portuguesa – deixa de poder internacionais, entre os vários Estados já não
ser um instrumento jurídico que podemos vale a convenção.
utilizar.
• Estado português fica desvinculado
• Convenção deixa de ser aplicada no
ordenamento jurídico interno
Inconstitucionalidade – sanção de nulidade Nulidade absoluta
(não produz efeitos nenhuns, é como se Nulidade relativa
nunca tivesse existido) dentro do
ordenamento jurídico interno

No plano interno: um único vício – inconstitucionalidade

Processos de fiscalização da constitucionalidade em Portugal:

• Fiscalização abstrata – Tribunal Constitucional


o Norma jurídica deixa de existir para todos os casos (efeitos erga omnes e ex tunc
(=desde então))
o Portugal considera-se internacionalmente desvinculado
• Fiscalização concreta – levada a cabo por cada um dos nossos tribunais ordinários
o Deixa de ser aplicada só naquele caso.
o Norma só vai ser eliminada quando o próprio tribunal constitucional diz que é
inconstitucional.
o Normalmente há litígio entre 2 partes e, devido a isso, surge convenção, tribunal
está a decidir o conflito, mas a propósito surge a convenção (surge após caso
concreto) – desaplicação da convenção no caso concreto
o Portugal continua internacionalmente vinculado

Quando deixamos de nos vincular, é uma decisão interna, mas no DI não é reconhecida como
decisão legítima → Portugal pode ser responsabilizado por não cumprir (exemplo: obrigado a
pagar indemnização)

Regra: convenções internacionais contrárias às disposições constitucionais são nulas

Exceção - Regime excecional da irregularidade: algumas convenções, mesmo sendo


inconstitucionais podem continuar a valer/ a ser aplicadas na ordem interna (constituição prevê
isto) com base nos seguintes critérios:

• Estejam em causa tratados (regularmente ratificados)

46
• Tenham sido violadas normas antagónicas e/ou formais não fundamentais
• A convenção esteja a ser aplicada pela outra parte

plano internacional: maior variedade de vícios - Artigos 46º a 53º CVT

• Vícios orgânicos – referem-se a órgãos (relativos à pessoa/ordem que praticou o ato)


o Vícios quanto aos poderes dos sujeitos – verifica-se quando o representante do Estado
que surge nas negociações não é verdadeiramente quem deve ser
▪ Não é reconhecido como representante (8º CVT) portanto a adesão do Estado à
convenção não tem eficácia → Ineficácia

47
▪ É representante, mas está a atuar fora dos seus poderes (47º CVT) → Nulidade
relativa
o Vícios no consentimento - circunstâncias que levam o Estado que consentiu o faça sem
ter a verdadeira representação da realidade, levam a que a vontade do Estado tenha
sido expressa erradamente (quando uma pessoa ou um Estado aderem a uma
convenção internacional, estão a consentir, mas muitas vezes este consentimento está
viciado)
▪ Erro – artigo 48º CVT – representação incorreta da realidade → Nulidade relativa
• Situação sobre a qual o Estado estava em erro já tinha de existir na celebração
do tratado
• Tem de ser sobre coisas essenciais para a celebração do contrato (relativo à
base do negócio) - essencialidade
• Tem de ser dificilmente evitável ou cognoscível (tem de ser desculpável) –
excusabilidade

▪ Dolo – artigo 49º CVT – adoção de conduta fraudulenta por outro Estado para que
a outra parte seja induzida em erro → Nulidade relativa
• Tem de ser sobre coisas essenciais para a celebração do contrato -
essencialidade
• Tem de ser dificilmente evitável ou cognoscível – excusabilidade
▪ Coação – artigos 51º e 52º CVT- obtém-se o consentimento de um Estado porque
se utilizou a ameaça ou a força→ Nulidade absoluta
• Sobre o Estado – atos ou ameaças em relação ao Estado (52º CVT)
• Sobre o representante do estado – chantagem (violência/ameaças contra ele
ou contra a sua família) para que dê o consentimento em nome do Estado (51º
CVT)
▪ Corrupção – artigo 50º CVT - exercício, direto ou indireto, de uma influência
substancial e imprópria sobre o representante de um Estado, tendo em vista a
obtenção de tratamento favorável → nulidade relativa inicialmente, mas agora,
dependendo da perspetiva da CVT adotada, pode ser nulidade absoluta.

Particularidades do regime dos vícios de consentimento (erro, dolo, corrupção,


coação) (art. 69.º/3 e 4):

• Invocáveis apenas pelo Estado lesado (só tem legitimidade para invocar
corrupção o Estado que a sofreu)

o mas Jonatas Machado diz que qualquer estado poderia invocar porque
era violação a um princípio internacional

• Validade dos tratados multilaterais em relação às partes não afetadas.

• Vícios formais - têm a ver com o modo como a convenção aparece e modo como foi
elaborada
o O vício formal relativo ao sujeito por excelência é a ratificação imperfeita (46º CVT):
houve celebração de um tratado internacional, o tratado está em vigor na ordem

48
internacional e interna, mas vem a descobrir-se que esse tratado foi celebrado com
violação de direito interno de algum Estado
▪ se a nossa Constituição admite que os meros vícios formais não impedem a sua
aplicação, o DI também desvaloriza (27º e 46º CVT – ratificação imperfeita é muito
irrelevante para o direito internacional)
▪ Não pode ser invocada a violação de direito interna para que o Tribunal
Internacional de Justiça (TIJ) o considere como inválido, a não ser que esta violação
de direito interno incida sobre uma norma de importância fundamental do direito
interno
▪ Há a possibilidade de recorrer a tribunais internacionais regionais, mas há a
necessidade de exaurir os recursos internos primeiro
o Vícios procedimentais – procedimento que devia ter sido seguido para a realizar
▪ Incumprimento de regras procedimentais
▪ Incumprimento de regras de votação
o Vícios formais em sentido estrito
▪ Falha de autenticação
▪ Falha de assinatura
• Vícios materiais – relativos ao conteúdo da própria convenção (direitos, deveres e
obrigações que dela resultam serem contrários com o ordenamento jurídico internacional)
– associados a sanção mais grave
o Violação do ius cogens – (53º CVT) violação de normas imperativas de DI (normas
relacionadas com proibição da escravatura, violência, crimes de guerra, etc.) → nulidade
absoluta
▪ Regime de invalidade muito rigoroso – eliminam-se todos os atos de execução e
respetivas consequências
o Violação de obrigações erga omnes
o Violação de normas fundamentais de D. interno – norma interna tem de ser
fundamental e violação manifesta (para os outros Estados tinha de ser óbvio que havia
uma violação do D. interno) → nulidade relativa (46º CVT)

Invalidade internacional (no caso de verificados vícios em convenções internacionais)

• Nulidade absoluta
o Impossibilidade de convalidação – vícios tão graves que não podem ser ignorados
o Impossibilidade de divisibilidade das convenções – vício, por ser tão grave, acaba por
contaminar a convenção toda, por isso não se pode manter nenhuma parte da mesma
o Todos os atos de execução são eliminados, mesmo os de boa-fé. Todo o tratado é nulo
e não produz quaisquer efeitos
o Qualquer um pode invocá-la

Quando há violação de normas de ius cogens, Estados deixam de ter o dever de cumprir o
tratado + eliminação de todos os efeitos produzidos por atos de execução.

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• Nulidade relativa
o Possibilidade de convalidação – possível pegar numa norma/convenção que estava
viciada e torná-la válida
▪ Por confirmação ou aquiescência – partes do tratado desconsideram os vícios (45º
CVT)
o Salvaguarda dos atos praticados de boa-fé – partes não tinham consciência da validade
e atos foram praticados → Se os atos praticados nesse período de tempo forem de boa-
fé, não são destruídos
o Divisibilidade das convenções – por vezes, o vício ataca só uma parte da convenção e,
assim, podemos só tirar essa parte da convenção e o resto resiste. (44º/5 CVT)
o Só uma parte pode invocar
o Pode perder-se o direito a invocar a nulidade relativa (= anulabilidade)

Consequências comuns à Nulidade Absoluta e Relativa:

• Efeitos retroativos (art. 69.º/1 CVT) - efeitos da nulidade começam a produzir-se


desde o momento em que convenção foi validada, no entanto são salvaguardados os
atos de boa-fé
• Invalidade ipso iure (art. 69.º/1 CVT) - o Estado A, que reparou que convenção era
nula, pode simplesmente dizer ao Estado B que não cumpre porque convenção não é
válida, não precisa de tribunal.
• Direito da parte lesada de restauração da situação que existiria (art. 69.º/2/a) CVT);
• Salvaguarda os atos praticados de boa fé (art. 69.º/2/b) CVT).

Revisão e modificação dos tratados

39º CVT - permite que Estados possam rever e modificar o tratado livremente, mas seguindo
os princípios e regras relativos à respetiva celebração.

Revisão Modificação
Alteração com alcance praticamente Alcance bilateral ou mais restrito
universal – alteração abrange as partes todas (modificação acordada entre num número
ou praticamente todas do tratado mais reduzido de Estados parte da
convenção)
Tratado globalmente alternado Tratado continua a ser a versão original, mas
O novo texto é o que vigora com algumas alterações para certos Estados
Os Estados partes no tratado inicial podem As modificações apenas valem para os
não se vincular à nova versão (arts. 40.º e Estados que as acordaram (relações mútuas)
30.º/4/b) CVT) – artigo 41º CVT

Estados que adiram à convenção depois de


revista ficam vinculados pelo novo texto
(tratado revisto)

50
DIREITO INTERNCACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

O INDIVÍDUO COMO SUJEITO DE DIREITO INTERNACIONAL


No século XX e no Modelo de Vestefália: ideia de que os Estados são os atores internacionais e
devem respeitar a soberania uns dos outros (centralidade da igualdade soberana dos Estados)
→ reflete-se nos regimes autoritários e antiliberais (+ positivismo exacerbado) → ao se permitir
aos Estados um poder ilimitado no seu território, materialmente, os cidadãos ficam sujeitos ao
autoritarismo estadual.

Então, para um Estado ter soberania estadual, tem de proteger os direitos dos seus
cidadãos.

• Passou a entender-se que a soberania estadual só faz sentido se a autoridade


última dela for proteger os direitos humanos.
o Só os Estados livres, democráticos e de direito merecem a sua soberania
reconhecida internacionalmente.

Síntese:

✓ A soberania estadual tem uma dimensão ineliminável de proteção dos


direitos humanos;

✓ A soberania estadual só é legítima enquanto instrumento de proteção dos


direitos humanos.

Afirmação do indivíduo como sujeito por excelência do DI.

A nenhum Estado poder ser reconhecida a sua soberania se não proteger os direitos humanos
gera a ideia de direitos humanos → A Paz de Vestefália é o 1º momento onde podemos
identificar este conceito.

Fundamentos e princípios

Períodos históricos relevantes: (para o desenvolvimento do DI dos direitos humanos)

• Paz de Vestefália – direito à liberdade religiosa (afirmação da tolerância religiosa)


• Revoluções liberais e constitucionalismo moderno – ideias de direito natural, direitos
fundamentais, soberania popular, governo limitado e separação de poderes – impacto no
direito interno e no DI
• Guerras mundiais – fortalecimento do conceito de direitos universais, inerentes à natureza
e dignidade humana.

A universalidade dos direitos humanos tem-se como valor transnacional fundamental (Proteger os
direitos humanos é um dever de todos os organismos que atuam no plano internacional e de todos os
cidadãos e não um mero assunto interno dos Estados – obrigação erga omnes)

51
Nota:

Direitos fundamentais → plano interno do Estado

Direitos humanos → plano internacional

PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS


Apesar de o indivíduo ser considerado o sujeito por excelência do DI, se tivermos em conta as
normas internacionais que criam direitos e deveres aplicáveis diretamente a estes, vemos que
ainda estamos perante um sujeito de DI muito limitado.

MAS não é preciso reconhecer aos indivíduos a plenitude de direitos e deveres para os
ver como centro do DI.

Quais são os sistemas de proteção de direitos humanos que existem e como é que os
conseguimos efetivar?

SISTEMA DA ONU – mais universal

Principais instrumentos: (DUDH, PIDCP e PIDESC)

• Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) – mais ampla e tendencialmente


universal (é o núcleo do Sistema da ONU)
o 10 de dezembro de 1948
o Princípios fundamentais:
▪ Princípio da universalidade dos Direitos Humanos (moto da declaração universal)
▪ Princípio da unidade dos Direitos Humanos (união dos direitos fundamentais e
dos direitos económicos, sociais e culturais – sem os primeiros, os segundos não
são possíveis)
• Artigos 1º a 21º - direitos civis e políticos
• Artigos 22º a 28º - direitos económicos, sociais e culturais

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• Artigo 29º problema das restrições aos direitos humanos
▪ Princípio da prioridade e centralidade dos Direitos Humanos
(independentemente das políticas e governos dos estados, os direitos humanos
têm que ser a prioridade)
o Não tem carácter vinculativo – é uma mera declaração
▪ Proclama os direitos, mas não determina obrigações
o Padrão de moralidade internacional (direitos lá previstos surgem como uma
moralidade partilhada)
o O acolhimento consuetudinário de algumas das suas normas conferiu-lhes a natureza
de ius cogens (muitas das normas da DUDH acabarma por constituir costume
internacional, vinculando os Estados por esta via)
o Em Portugal, é parâmetro interpretativo do Direito Constitucional – 16º/2 CRP

• Pactos internacionais (PIDCP e PIDESC)


o 19 de dezembro de 1966
o Objetivo: conferir força jurídica vinculativa aos Direitos Humanos (algo que não
acontecia com a DUDH), criando direitos e deveres nas relações entre os Estados e os
seus cidadãos residentes no seu território
o Ratificados por uma grande quantidade de Estados – grande influência, acabando por
vincular os Estados que não os ratificaram porque se estabelecem como costume
(direito consuentudinário)
• Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) (pág. 404 livro Dr. Jónatas Machado)
o Consagra direitos nascidos do ideário político liberal
o Há mais consenso sobre estas liberdades – maior parte dos Estados aderiu a este pacto
o Impõe aos Estados o dever positivo de adotarem todas as medidas legislativas,
administrativas e judiciais necessárias para previnir e reprimir a violação dos direitos
nele consagrados
• Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC) (pág. 406 livro Dr.
Jónatas Machado)
o Direitos mais recentes (reivindicados na sequência da “questão social” e que se referem
às necesidades materiais básicas das populações) e que exigem gastar dinheiro e
recursos
o Reconhece a importância das dimensões político-legislativa e administrativo-
prestacional da atuação estadual (coisa que não acontecia no PIDCP)

• Outros instrumentos internacionais no Sistema da ONU:


o Convenção sobre Genocídio
o Convenção sobre Refugiados
o Convenção para a Eliminação da Discriminação Racial
o Convenção Sobre os Direitos políticos das Mulheres
o Etc.

Mecanismos institucionais de proteção: (ComDH, ConDH e ACDH)

• Comité de Direitos Humanos (ComDH)


o Criado pelo Protocolo Fcaultativo do PIDCP (artigos 28º e ss.)
o Aprecia denúncias, colmatas as falhas dos tribunais

53
o Competência para:
▪ Analisar relatórios anuais dos Estados (sobre Direitos Humanos) e emitir parecer;
▪ Apreciar denúncias estaduais contra outros Estados;
▪ Apreciar denúncias de particulares (processo quase jurisprudencial)

• Conselho de Direitos Humanos (ConDH)


o Órgão subsidiário da Assembleia-Geral da ONU – atua como apêndice da ONU
o Objetivo: promover os direitos humanos em geral
o Competência para formular recomendações à AG da ONU e aos Estados
relativamente a matérias de implantação e promoção dos direitos humanos
o De 4 em 4 anos todos os Estados têm que apresentar um relatório a este conselho,
que o revê através do diálogo (interativo e cooperativo) e identifica os principais
problemas e avanços – sistema periódico de revisão universal.

• Alto Comissariado para os Direitos Humanos (ACDH)


o Promover os direitos humanos (interna e internacionalmente)
o Agir em colaboração com todos os órgãos de proteção dos direitos humanos
o Reagir à ocorrência de violações graves
o Desenvolver ações de caráter preventivo (missões regionais)
o Desenvolver ações de sensibilização e educação para os direitos fundamentais

Além do ComDH, ConDH e ACDH, o Sistema da ONU integra ainda um grande número de
Comités Especiais, Organizações e Agências especializadas.

SISTEMA EUROPEU

Foi o primeiro sistema a surgir porque tinha mais consciência das possíveis consequências da
falta de proteção dos direitos humanos (devido às 2 Guerras Mundiais pelas quais a Europa
passou).

Tem como grande núcleo a Convenção Europeia dos Direitos do Homem (CEDH).

Os instrumentos e os mecanismos institucionais operam no âmbito do quadro do Conselho da


Europa

• 22 de novembro de 1949, Estatuto do Conselho da Europa


• Objetivo: unir os povos da Europa no rescaldo dos eventos horríveis que ocorreram na II
Guerra Mundial e Holocausto no continente europeu
• Finalidade relativa à vida política, jurídica, económica, social e cultural
• Condiciona a adesão à aceitação, por parte dos Estados, dos valores da democracia, do
Estado de Direito e do respeito pelos direitos fundamentais

Principais instrumentos:

• Convenção Europeia dos Direitos do Homem (CEDH)


o Aprovada em 1950, entra em vigor em 1953

54
oCriou, pela primeira vez, um sistema transnacionais de direitos humanos – estabelece
obrigações jurídicas para os Estados partes no que toca aos direitos humanos (primeiro
instrumento vinculativo no plano internacional)
o Foi experimental e o seu catálogo é mais reduzido, devido a ser um documento pioneiro
o Assumiu um valor quase constitucional e por isso é diretamente aplicável pelos tribunais
nacionais (tal como aplicam as leis ou a constituição) - natureza quase-constitucional,
tendo sido o primeiro instrumento a conferir valor jurídico-normativo internacionais aos
direitos humanos e sendo diretamente aplicável nos tribunais nacionais em litígios que
lhes tenham sido submetidos.
• Carta Social Europeia

Principais mecanismos institucionais:

• Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH)


o 1950, instituído pela CEDH
o Tribunal internacional com jurisprudência mais densa
o A sua criação representou um salto qualitativo decisivo no estatuto internacional dos
indivíduos – atribuiu legitimidade processual ativa ao indivíduo na ordem internacional
(foi com a criação deste tribunal que os indivíduos conseguiram aceder a um tribunal
internacional, emancipando-se e tornando-se sujeitos de DI – nasce a personalidade
jurídica do indivíduo)
o A eficácia da sua intervenção depende muito da vontade dos Estados partes na CEDH de
executarem/implementarem as suas decisões
o A sua intervenção é enquadrada como instrumento de correção de situações patológicas
com refrações em casos concretos (o TEDH só fala de casos concretos) – os principais
tribunais de direitos humanos na Europa devem ser os tribunais nacionais
o Competências:
▪ Contenciosa - decide conflitos/litígios entre Estados + aprecia requerimentos
enviados por indivíduos, ONG’s e grupos de indivíduos
▪ Consultiva – reconduzir ao esclarecimento de algumas dúvidas sobre questões
jurídicas + aconselhar os Estados e ajudá-los a perceber as normas e protocolos da
CEDH

As sentenças têm força de caso julgado (as decisões são definitivas, apesar de haver a
possibilidade de recurso para o pleno tribunal)

Efeitos das sentenças definitivas:

• Efeitos meramente declaratórios (não produzem a invalidação das normas nacionais)


• Efeitos vinculativos e executivos devido a visarem constituir um remédio para os
direitos violados

As consequências reais no plano nacional dependem, em larga medida, dos próprios


Estados. Debate-se se os Estados devem tomar as medidas necessárias a corrigir as
situações que deram lugar à violação e se os tribunais estaduais têm o poder/dever de
acolher e executar as decisões.

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Nota: em Portugal, os efeitos das decisões do TEDH foram reforçados pela possibilidade de
revisão de sentença transitada em julgado em processo penal.

o Condições de acesso ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem:


1. Existência de uma lesão significativa resultante da violação de um direito;
2. Exaustão dos meios processuais de direito interno (só quando já não houver mais
recursos internos é que o tribunal europeu entra no plano. OS PRINCIPAIS GUARDIÕES
DEVEM ESTAR NOS PAÍSES – só vamos para o tribunal europeu quando o interno
falhou);
3. Proposição da ação dentro do prazo de 6 meses
4. Legitimidade ativa (quem pode recorrer): Estados, pessoas singulares ou coletivas,
organizações não-governamentais (ONG’s), grupos de particulares;
5. Legitimidade passiva (quem pode ser acusado): Estados, União Europeia.

o Princípios processuais:
1. Princípio da subsidiariedade (os tribunais nacionais são a via principal) – só se pode
aceder ao tribunal europeu quando os meios internos se esgotarem;
2. Princípio da tutela provisória (medidas cautelares);
3. Princípio da tutela urgente (processos mais céleres);
4. Princípio do pedido (identificação da norma da CEDH violada) – quando recorremos
temos de identificar qual o direito humano da convenção que está a ser violado.

O Sistema Europeu é MONISTA.

SISTEMA INTERAMERICANO

Os instrumentos e os mecanismos institucionais operam no âmbito do quadro da Organização


dos Estados Americanos.

Principais instrumentos:

• Convenção Americana dos Direitos do Homem (CADH)


o Surge em 1969, entra em vigor em 1978
o “… pretende apresentar uma proposta especificamente latino-americana de leitura dos
direitos fundamentais…”
• Protocolo Adicional (consagrador de DESC)

Principais mecanismos institucionais:

• Comissão Interamericana dos Direitos do Homem


• Tribunal Interamericano dos Direitos do Homem
o Criado em 1979, na sequência da entrada em vigor da CADH (1978)
o Competências:
▪ Contenciosa – decisão de pretensões contra um Estado por alegadas violações dos
direitos humanos;

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▪ Consultivas – apreciação, em abstrato, da conformidade da legislação nacional com
os direitos humanos (a título preventivo ou sucessivo – previne a
inconstitucionalidade) – um Estado americano pode dirigir-se ao TIADH e questionar
se a sua norma é constitucional – o TEDH não pode fazer isto
o Profere sentenças com valor condenatório e ressarcitório;
o A execução das suas decisões é objeto de mecanismos dialógicos de supervisão
judicial (exigência de relatório aos Estados sobre as medidas tomadas, decisão de
conflitos surgidos no processo de execução, aprovação de resoluções vinculativas
sobre as medidas de execução)
▪ O tribunal avalia o relatório, pode fazer inspeções aos Estados e pode fazer
resoluções vinculativas. O mecanismo de supervisão permite assegurar a maneira
como as soluções são implementadas.

o Condições de acesso ao TIADH:


1. Esgotamento dos meios de proteção nacionais;
2. Legitimidade ativa:
a) Para apresentar pedido inicial: indivíduos ou organizações;
b) Para remeter a questão ao Tribunal (legitimidade ativa final): Estados ou
Comissão - resta aos cidadãos esperar que a Comissão faça a sua função ou
remeta ao Estado

o Processo:

1. Apreciação do pedido pela Comissão Interamericana dos Direitos do Homem;

2. Tentativa de acordo ou proposta de solução pela Comissão;

3. Remissão para o Tribunal, na falta de solução – só têm competência para reenviar


os Estados ou a Comissão (!)

SISTEMA AFRICANO

União dos povos africanos para fomentar a proteção dos seus direitos.

Os instrumentos e os mecanismos institucionais operam no âmbito do qudro da União Africana.

Principais instrumentos:

• Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos

Principais mecanismos institucionais:

• Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos (CADHP)


o Nasce em 1987
o Funções de educação, informação e interpretação em matéria de direitos humanos
o Competência para:
▪ Apreciar comunicações interestaduais;
▪ Ordenar inspeções;
▪ Nomear relatores especiais;

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▪ Produzir relatórios anuais sobre o ponto em que estão os direitos humanos
africanos em relação aos outros países

• Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos


o Criado em 1998 (17 anos após a adoção da Carta Africana de Direitos Humanos e dos
Povos (1981)), entra em vigor em 2004
o Julga, não só violações à Carta Africana, como também a outros instrumentos de direitos
humanos que os Estados envolvidos tenham ratificado

o Competências: (aproxima-se do modelo europeu)


▪ Contenciosas - apreciação de litígios;
▪ Consultivas

o Condições de acesso: (aproxima-se do modelo interamericano)


1. Legitimidade processual ativa: CADHP, Estados membros da União Africana,
Organizações Internacionais africanas, particulares.
2. Aceitação da legitimidade processual dos particulares pelos próprios Estados –
necessita da aprovação do próprio Estado (tonar-se complicado quando os
particulares não têm essa aprovação)

Sistema de Tribunal Instrumento(s) Legitimidade Tipo de


proteção apreciados ativa processo
Europeu Tribunal Convenção Estados, Fase única
Europeu dos Europeia dos particulares, (jurisdicional)
Direitos do Direitos do ONG’s e grupos
Homem Homem de particulares

Interamericano Tribunal Convenção Particulares e Duas fases:


Interamericano Americana dos ONG’s (1.ª fase) 1. Apreciação
dos Direitos do Direitos do CIADH;
Homem Homem CIADH e Estados 2. Fase
(2.ª fase) jurisdicional

Africano Tribunal Carta Africana CADHP, Estados, Fase única


Africano dos dos Direitos OI’s africanas, (jurisdicional)
Direitos Humanos e dos [ONG’s e
Humanos e dos Povos [+ outros] particulares]
Povos

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