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DIP

I) Introdução

O DIP é composto de princípios e regras (positivadas ou costumeiras), cuja


função é reger a comunidade internacional mediante o estabelecimento de
direitos e deveres aos sujeitos de Direito Internacional.

O DIP é também chamado de Direito das Gentes, Direito Internacional e jus


inter gentes.

Ausência de Poder Central. Consentimento (Cooperação e Coordenação) entre


os Estados.

Sistema sempre horizontal, nunca vertical.

O Direito Internacional Pós-Moderno é pautado pelo reconhecimento do ser


humano como sujeito e objeto de proteção pelo ordenamento jurídico
internacional.

Sujeito de Direito: Estado, OI’s, ONG’s e Pessoa Humana (Teoria Eclética ou


Heteropersonalista). Obs. 1: A teoria clássica, que defende o Estado como
único sujeito de Direito Internacional, está há muito superada.

Função: Reger a comunidade internacional.

Criação e Aplicação: Ausência de mecanismo centralizado e compulsório.

Objeto: Limitar os sujeitos, conferindo direitos e impondo obrigações, em prol


de reduzir a anarquia internacional. Atualmente, busca-se também a
cooperação internacional para objetivos comuns. Ex.: Tráfico.

Cooperação Internacional: Não se trata de um meio apenas para


combater problemas, mas também um instrumento desenvolvimento
econômico e social. Ex.: mecanismos de integração regional.

1) Contexto Histórico

Nasceu como ramo autônomo do Direito público na Europa do Século XVIII,


com o Tratado de Westfalia (1648), que pôs fim à Guerra dos 30 anos.

Divide-se em duas fases:

Fase Clássica Fase Contemporânea ou Moderna


Período: 1648 a 1918 Período: Pós-Guerra

O DIP se preocupa basicamente com o O seu enfoque passa a ser a proteção


estudo das relações entre os Estados; internacional da pessoa humana.
Começam a aparecer limitações ao poder
soberano dos Estados.

O uso da força no cenário internacional passa


a ser regulado; a colonização é vedada; e a
exaltação do Direito de Guerra (Jus in bello –
Direito de Haia) e do Direito Humanitário
(Direito de Genebra).

Ocorre a especialização do DIP em ramos


(ambiental, trabalho, etc.), proliferam-se as
Organizações Internacionais e o indivíduo
passa a ser considerado sujeito de Direito
Internacional.

O direito internacional público surgiu na Idade Moderna, como disciplina


jurídica subsidiária ao poder absolutista dos soberanos europeus e do
Estado nacional moderno, a partir de estudos sobre direitos referentes à
guerra e à paz entre as nações (Questão CESPE Certa).

Atenção: Cuidado para não confundir Idade Moderna com a Fase


Moderna. A idade moderna é um período da história que tem início em 1453
(tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos), indo até 1789 (início da
Revolução Francesa).

2) Sociedade internacional x Comunidade

Comunidade internacional Sociedade internacional


Vínculos espontâneos, onde há ausência de Apoia-se na vontade dos seus integrantes, que
dominação. Ainda não há uma comunidade decidiram se associar para atingir
internacional determinados objetivos.
Há, contudo, quem defenda a existência, à Aqui, a vontade exerce papel decisivo,
luz de problemas globais, como a segurança promovendo a aproximação.
alimentar, o meio-ambiente, desastres
Características:
naturais etc.
1. Universalidade.
2. Heterogeneidade.
3. Interestatal (não apenas Estados mais,
englobando OI, Pessoas, Empresas,
etc).
4. Descentralização.
5. Coordenação.
6. Caráter paritário (igualdade)
7. Desigualdade de fato.

3) Imunidades

Imunidades Estatais: Não estão consagradas em Tratados, mas sim em


normas costumeiras (Par in parem non habet judicium).
Imunidades Diplomáticas: estão estipuladas da Convenção de Viena sobre
relações diplomáticas. Abrange a jurisdição penal, cível, administrativa e
trabalhista, embora a convenção reconheça exceções, a exemplo de imóveis
particulares, feitos sucessórios, etc. Estendem-se aos familiares.

Imunidade Consular: A imunidade consular é semelhante à diplomática, mas


restrita às funções consulares. Estendem-se aos familiares.

4) Direito internacional público e direito interno: Teorias em confronto

É possível que ocorram conflitos entre os preceitos de Direito Internacional e


de Direito interno, suscitando a necessidade de definir qual norma deveria
prevalecer

Corrente Dualista Corrente Monista


O DIP e o direito interno de cada Estado são O DIP e o Nacional fazem parte do mesmo
sistemas totalmente independentes e sistema jurídico, ou seja, incidem sobre o
distintos. mesmo espaço.

Os tratados seriam apenas compromissos Os compromissos assumidos passam a ter


assumidos na esfera externa, sem efeitos no vigência imediata (incorporação automática).
interior dos Estados.
Para definir qual norma deverá prevalecer,
A validade jurídica de uma norma não se em caso de conflito, há duas vertentes
condiciona à sintonia com a norma interna.
Monismo Internacional ou Radical: O maior
Dualismo Radical (Teoria da expoente foi Hans Kelsen. Essa teoria prega
Incorporação): Admite que um tratado regule que o DIP prevalece sobre o direito
relações internas apenas se for incorporado doméstico. Obs. 1: É adotada pelo DIP no art.
ao ordenamento por um procedimento que o 27 da convenção de Viena.
transforme em norma nacional (demonstra a
não aplicação imediata). Em suma, impõe a Monismo Internacional Dialógico
edição de urna lei distinta para incorporação (DH): ainda faz prevalecer o Direito
do tratado. Internacional, porém com a possibilidade de
um diálogo com o Direito Interno quando este
Dualismo Moderado: não exige lei para for mais protetivo para com os indivíduos,
incorporação do tratado, bastando apenas a desta forma mais adequado para a efetivação
incorporação dos tratados ao ordenamento dos Direitos Humanos.
por meio de procedimento específico, distinto
do processo legislativo comum. Monismo nacional: Prega que o direito
doméstico prevalece sobre o direito
Aparentemente, o Brasil herdou internacional.
características do dualismo moderado.

Qual corrente prevalece no Brasil? Há duas posições:

1ª Prevalece no Brasil o monismo nacionalista, ou seja, as normas


internas prevalecem sobre as normas de direito internacional. Basta lembrar
que se o tratado internacional não tiver compatibilidade com a CF de 1988, o
tratado não terá sido recepcionado pela ordem jurídica nacional.
2ª Parcela da doutrina defende que o Brasil herdou uma característica
do dualismo moderado visto que somente incorpora ao direito interno por
meio de decreto presidencial norma internacional que já vigorava
internacionalmente.

Doutrina majoritária adota a teoria monista. Para o STF, na verdade, a teoria


dualista moderada é que prevalece! ADIn n. 1.480-DF

Para decidir conflito entre tratado e norma de direito interno, além do critério da
lex posterior derogat priori, o STF aplica, ainda, um outro, qual seja, o da lex
posterior generalis non derogat legi priori speciali.

O STF determinou que as normas internacionais, mesmo válidas e


exigíveis, não se sobrepõem hierarquicamente às normas de Direito Interno.
Conclusão: no ordenamento jurídico brasileiro, os tratados internacionais, após
validamente incorporados à ordem interna, são hierarquicamente equiparados
a lei ordinária federal.

5) Questões introdutórias que caíram em prova

Caso Conde Bernadotte: julgado pela CIJ, é um marco na questão da


personalidade jurídica das OIs e da responsabilidade internacional. A
ONU havia enviado o Conde para mediar a questão entre árabes e judeus no
recém-criado Estado de Israel e ele acabou assassinado. Como os judeus
tinham se responsabilizado pela segurança do enviado da ONU, a organização
cobrou a responsabilidade internacional de Israel. Entretanto, questionou-se se
a ONU teria capacidade para requerer internacionalmente a responsabilidade
de um Estado. Na decisão da CIJ, afirmou-se que, mesmo não havendo
previsão expressa na Carta da ONU sobre sua personalidade jurídica, a
organização era sujeito de DIP, o que lhe permite tanto invocar quanto ser
demandada no que tange à responsabilidade internacional. Essa decisão não
impede que os tratados constitutivos das OIs prevejam a personalidade jurídica
internacional delas, o que ocorre, por exemplo, no MERCOSUL.

Cornélio Von Bienkershoek: holandês precursor do direito internacional que


propôs a célebre teoria da bala de canhão como critério para definir a
extensão do poder dos reis em relação ao mar adjacente. A extensão do mar
territorial, que poderia ser reclamado por um Estado ribeirinho era de cerca de
três milhas náuticas, ou a distância que um tiro de canhão pudesse alcançar
a partir da margem. Esta ideia converteu-se em prática comum e era conhecida
como a "regra do canhonaço".
Pacto Briand-Kellog (Pacto de Paris): firmado no período entre guerras, é
considerado um marco na evolução do direito internacional, entre outros
aspectos, por proscrever a guerra na relação entre Estados. Trata-se de um
pacto de renúncia à guerra como mecanismo de política. O aludido pacto
falhou, com o desencadeamento da Segunda Grande Guerra não muito tempo
depois.

II) Fundamentos

Corrente Voluntarista (Positivista) Corrente Objetivista (Naturalista)


O elemento central é a vontade dos Estados. Decorrem de razões objetivas, naturais, que
transcendem a vontade dos Estados.
Os Estados e as OI’s observam as normas
porque expressaram livremente sua É nessa corrente que aparece o jus cogens.
concordância em fazê-lo

Direitos e obrigações baseados na


reciprocidade. É nessa corrente que aparece
o princípio do pacta sunt servanda.
Vertentes: Vertentes:

1. Autolimitação da Vontade 1. Jusnaturalismo: as normas


(Jellinek): O Estado, por vontade, internacionais impõem-se
submete-se às normas, limitando sua naturalmente, por terem fundamento
soberania. na própria natureza humana;
2. Vontade Coletiva (Triepel): nasce 2. Teorias sociológicas: as normas
não da vontade de um ente, mas da internacionais têm origem em um fato
conjugação das vontades unânimes social que se impõe aos indivíduos;
de vários, formando uma só vontade 3. Teoria da norma-base de kelsen: o
coletiva. fundamento do DIP é a norma
3. Consentimento das Nações (Hall e hipotética fundamental, da qual
Oppenheim): o fundamento do DIP é decorrem todas as demais, inclusive
a vontade da maioria dos Estados de as de direito interno.
um grupo, exercida de maneira livre, 4. Direitos fundamentais: o DIP
mas sem exigência da fundamenta-se no fato de os Estados
unanimidade; possuírem direitos que lhe são
4. Delegação do Direito Interno: o inerentes e que são oponíveis em
fundamento do DIP é encontrado no relação a terceiros.
ordenamento nacional.
Crítica: minimiza o papel da vontade.
Crítica: condiciona toda a regulamentação
internacional à mera vontade dos Estados,
normalmente vinculada a inúmeros
condicionamentos.
Para PORTELA, o fundamento do DIP efetivamente inclui elementos voluntaristas e
objetivistas.

Vale lembrar que a máxima pacta sunt servanda é a base do Direito dos
Tratados e diz respeito somente aos Estados que pactuaram livremente, isto é,
o terceiro Estado que não é parte do tratado não poderá ser obrigado por este.
Por seu turno, o jus cogens (normas cogentes de Direito Internacional) é
calcado no reconhecimento da existência de direitos e de obrigações naturais,
independentemente da existência de algum tratado internacional.

O exercício da vontade estatal não pode violar o jus cogens.

É possível afirmar que a própria dinâmica da vida internacional derrubou o


voluntarismo como suporte único e fundamental das relações internacionais, ou
seja, o positivismo voluntarista não foi capaz de explicar o aparecimento das
normas cogentes de Direito Internacional (jus cogens), que só pode ser
explicado por razões objetivas de justiça, as quais darão, por sua vez, vazão a
uma consciência jurídica universal.

ATENÇÃO: Não há hierarquia entre as fontes de DIP. Portanto, uma pode


revogar a outra.

III) Jurisdição Internacional

Criados por tratados, que definem competência e o modo de funcionamento.

Podem ser judiciais, arbitrais ou administrativos.

 Órgão de amplo escopo de ação: Corte Int. de Justiça (CIJ).


 Órgãos Especializados: Cortes de DH.

Pode abranger o mundo inteiro (ex.:Tribunal Penal Internacional), ou apenas o


âmbito regional (ex.: Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul).

Regra: vinculam apenas os que celebraram ou que aceitem se submeter.

Além disso, como regra, as cortes não têm o poder de automaticamente


examinar casos envolvendo um Estado, ainda que este seja parte do tratado.
Exige-se que o Estado aceite os poderes para julgá-lo ou emita prévia
aceitação.

É possível que um indivíduo participe dos procedimentos? A maioria dos


órgãos internacionais ainda não permite, mas há exceções como a Corte
Europeia de DH, o TPI, bem como a Comissão Interamericana de DH.

Sanções: É possível a aplicação, embora seja de difícil aplicação/execução.

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