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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA

COMARCA DE ITACAJÁ, ESTADO DO TOCANTINS.

Processo nº: 0002195-46.2019.8.27.2723

EDIMAR AGUIAR BARROS, brasileiro, união estável, lavrador, portador do


RG nº 2.126.095 SSP/GO, inscrito no CPF/MF sob o nº 330.986.461-87, residente e
domiciliado na Avenida Alagoas, nº 907, Setor Pestana, Guaraí/TO, telefone nº (63)
99982-2350; neste ato assistido pela DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO
TOCANTINS, presentada pelo Defensor Público que esta subscreve, com sede no
endereço descrito no rodapé, no exercício de suas atribuições e prerrogativas
constitucionais e legais, especialmente as que lhe conferem a Lei n. 13.105/15, Lei
Complementar n. 80/94 e Lei Complementar Estadual n. 55/09, vem perante Vossa
Excelência, apresentar.

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

em face de DOMINGOS DE SOUZA, já devidamente qualificada nos autos, conforme os


fatos e fundamentos jurídicos a seguir delineados.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1 DO CABIMENTO DA EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

Conforme entendimento doutrinário e jurisprudencial, o instituto da Exceção


de Pré-Executividade, pode ser arguido a qualquer tempo, por simples petição,
independente de segurança do Juízo, desde que desnecessária qualquer dilação
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probatória, ou seja, por prova documental inequívoca, comprovando a inviabilidade
da Execução.

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Tal hipótese já foi defendida, inclusive, pelo Superior Tribunal de Justiça
(Embargos de Divergência no RESP nº 614.272-PR), a exceção de pré-
executividade é incidente processual destinada a garantir ao executado a
possibilidade de dedução, nos próprios autos da execução, de matérias de ordem
pública, conhecíveis de ofício pelo juiz, que não necessitem de dilação probatória,
como é a presente ocorrência.

Dessa forma, a Exceção de Pré-Executividade revela-se como uma


possibilidade excepcional de se promover a defesa dos interesses e direitos dos
Executados, na hipótese de não haver condições de garantir a Execução para
interpor Embargos do Devedor.

Por tal razão, requer que a presente medida seja aceita e apreciada, pelas
razões e fundamentos jurídicos aduzidos a seguir.

1.2 DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Inicialmente, requer os benefícios da gratuidade da justiça na sua


integralidade, com esteio nos incisos I a IX, do §1º do art. 98, face sua insuficiência
de recursos, não tendo a mínima condição de arcar com o pagamento das custas,
despesas processuais e os honorários advocatícios, conforme reza o art. 98 e 99, do
Código de Processo Civil, indicando a Defensoria Pública do Estado do Tocantins
para o patrocínio da causa.

1.3 DAS PRERROGATIVAS DA DEFENSORIA PÚBLICA

A Defensoria Pública, órgão previsto no artigo 134 da Constituição da


República Federativa do Brasil, tem como atribuição a defesa dos necessitados,
sendo, para tanto, assegurados aos membros da carreira às prerrogativas previstas
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pela Lei Complementar Federal nº 80/94 e, quanto à Defensoria Pública do Estado
do Tocantins, da Lei Complementar Estadual nº 55/09.

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Desta forma, postula a intimação com remessa dos autos para a Defensoria
Pública do Estado do Tocantins em Itacajá/TO, bem como, a concessão dos
prazos processuais em dobro e intimação pessoal.

1.4 INÉPCIA DA INICIAL - AUSÊNCIA DE LIQUIDEZ, CERTEZA E


EXIGIBILIDADE DO TÍTULO EXEQUENDO

Ao fazer uma observação mais acurada da Ação de Execução ora


embargada, constata-se que ela possui como alicerce de sustentação um suposto
Título Executivo Extrajudicial (CONTRATO PARTICULAR), que fora materializado
em um “contrato particular de compromisso de permuta de compra e venda de
imóvel rural”, cujo valor total do negócio jurídico, perfaz o montante de R$
162.000,00 (cento e sessenta e dois mil reais).

Quanto ao tema, o professor Pontes de Miranda assevera que os negócios


jurídicos em geral estão baseados em uma tricotomia de planos, sendo eles o da
existência, da validade e da eficácia.

Quanto ao plano da VALIDADE, que é o que mais nos interessa no momento,


CHAMO A ATENÇÃO PARA O ELEMENTO DA FORMA PRESCRITA OU NÃO
DEFESA EM LEI. ESTA FORMA DEVE SEGUIR AS EXIGÊNCIAS QUE ESTÃO
PRESCRITAS NA LEGISLAÇÃO, assim como não deve ser formada por algo que a
lei proíba (defesa).

No presente caso, por se tratar de negócio jurídico envolvendo direitos reais,


não há como se descurar que a matéria é regulamentada pelo artigo 108 do Código
Civil, que assim prescreve: "a escritura pública é essencial à validade dos negócios
jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos
reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente
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no País". Destarte, o negócio jurídico ora em debate, só teria eficácia, que é a
aptidão para produzir seus efeitos no mundo jurídico, caso tivesse sido constituída

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por meio da lavratura de um INSTRUMENTO PÚBLICO, uma vez que o valor total
negociado supera em muito os trinta salários mínimos. Fator que torna o
suposto Título Executivo sustentáculo da presente Ação de Execução, nulo de pleno
direito, nos termos do art. 166, Inciso IV, do Código Civil. Vejamos:

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

[...]

IV - não revestir a forma prescrita em lei;

De mesma sorte, quanto ao que se referem à propositura da Ação de


Execução de Título Executivo Extrajudicial, é cediço que o pretenso título a ser
executado deverá estar imbuído da tríade de pressupostos capazes de lhe tornar
válido à execução, quais sejam: liquidez, certeza e exigibilidade.

Nesta mesma senda, o Código de Processo Civil em seu art. 798, estabelece
as condições da Ação de execução. Vejamos:

Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente:

I - instruir a petição inicial com:

a) o título executivo extrajudicial;

DESTA FORMA, NO PRESENTE CASO, OBSERVA-SE QUE O CONTRATO


PARTICULAR ORA GUERREADO, NÃO POSSUI AS CONDIÇÕES DE
EXEQUIBILIDADE, sendo, que, sequer poderá ser considerado um Título Executivo,
UMA VEZ QUE NÃO CUMPRIU AS EXIGÊNCIAS DE FORMA PRESCRITAS EM
LEI.

Assim sendo, por consequência lógica, SE NÃO EXISTE UM TÍTULO


EXECUTIVO CAPAZ DE SUSTENTAR UMA PERSECUÇÃO EXECUTÓRIA, NÃO
HÁ O QUE SE FALAR EM AÇÃO DE EXECUÇÃO.
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Por fim, ressalta-se que a petição inicial deverá ser instruída com os
documentos indispensáveis à propositura da ação. Pois assim dispõe o artigo 320,
do Código de Processo Civil. Não existindo outra saída, a não ser pela extinção do
presente feito nos termos do art. 485, Incisos IV, do Código de Processo civil, haja
vista a ausência de um Título Executivo capaz de balizar o prosseguimento do feito
executório.

2 DA SÍNTESE PROCESSUAL

O Embargado alega em sua exordial, que no dia 14 de outubro de 2016,


realizou com o Embargante, um contrato particular de compromisso de permuta de
compra e venda de imóvel rural, onde ambos permutariam, entre si, dois imóveis
rurais, que juntos perfazem um valor total de R$ 162.000,00 (cento e sessenta e
dois mil reais).

Ainda segundo o Embargado, o Embargante ficaria responsável pelo


adimplemento de R$ 37.000,00 (trinta e sete mil reais) referentes a uma hipoteca
junto ao Banco da Amazônia S/A, sem trazer qualquer outra informação quanto ao
modo e prazo para realização do pagamento.

Por fim, aduziu que pelo não pagamento dos valores referentes aos títulos, e
por não haver outro meio para satisfação de seus créditos, ingressou com a
presente ação de execução forçada, perquirindo o valor final de R$ 65.305,18
(sessenta e cinco mil trezentos e cinco reais e dezoito centavos).

É a síntese do necessário.

3 DO MÉRITO

Por mais que fosse possível receber o CONTRATO PARTICULAR


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embasador do presente feito como se Título Executivo fosse, o que não se espera,
ainda assim estaria evidentemente caracterizada A MANIFESTA INÉPCIA DA

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PETIÇÃO INICIAL, por ausência de interesse, não existindo alternativa a não ser
pela extinção do presente feito, conforme será amplamente demonstrado abaixo:

Nesta conjectura, pontua-se que o título executivo pode ser definido como a
prova legal de um crédito. Todavia, conforme já mencionado alhures, para que ele
produza os efeitos necessários à propositura da Ação, exige-se o cumprimento dos
requisitos legais de liquidez, certeza e exigibilidade.

Destarte, no caso em tela, O AUTOR LIMITOU-SE EM APENAS JUNTAR O


CONTRATO FIRMADO ENTRE ÀS PARTES, bem como, em proferir falas soltas,
ou seja, NÃO JUNTOU QUALQUER DOCUMENTO CAPAZ DE COMPROVAR
QUE O EMBARGANTE REALMENTE DEIXOU DE CUMPRIR COM SUA
OBRIGAÇÃO, ou, ainda, sequer juntou documentos comprovando que o Banco
promoveu alguma espécie de cobranças em desfavor do Exequente, NÃO SE
DESINCUMBINDO DO DEVER DE COMPROVAR A MORA DO
EXECUTADO/EMBARGANTE.

Nesse ínterim, o Código de Processo Civil em seu art. 798, estabelece as


condições para que ocorra a exigibilidade dos títulos de execução. Vejamos:

Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente:

[...]

c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o


caso;

d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe


corresponde ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não
for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a
contraprestação do exequente;

Tal situação acaba por viciar a petição inicial, inviabilizando uma defesa a
contento, pois, não há como apontar a existência de excesso de execução, haja
vista não existir no processo qualquer alusão aos valores correspondentes às
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prestações vencidas e, por conseguinte, inviabiliza, também, o julgamento da lide.

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Culminando na nulidade da execução, nos termos do que dispões o Art. 803 do
Código de Processo Civil:

Art. 803. É nula a execução se:

I - o título executivo extrajudicial não corresponder à obrigação certa,


líquida e exigível;
[...]
III - for instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrer o
termo.

Parágrafo único. A nulidade de que cuida este artigo será pronunciada pelo
juiz, de ofício ou a requerimento da parte, independentemente de embargos
à execução.

Desta forma, repisa-se, mesmo que fosse possível considerar o documento


juntado ao (evento 1 – CONTR2), como sendo um Título Executivo, a ausência de
provas dos fatos afirmados na petição inicial acabaria por retirar a exigibilidade do
título executivo, e por consequência, não estando preenchidos os requisitos
essenciais, não haveria o que se falar em continuidade da execução, pois, insisto: O
EMBARGADO NÃO SE DESINCUMBIU DO DEVER DE COMPROVAR A MORA
DO EXECUTADO/EMBARGANTE. Não existindo outra saída, a não ser pela
extinção do presente feito nos termos do art. 485, Incisos VI, do Código de Processo
civil, haja vista a total ausência de interesse processual.

4 DO EFEITO SUSPENSIVO DA EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

A Exceção de Pré-Executividade é um mecanismo jurídico idôneo a obstar o


prosseguimento de uma execução infundada. Por ser instrumento hábil à arguição
de matérias de ordem pública, a Exceção de Pré-Executividade nas palavras de
Elpídio Donizete:

“É admitida em qualquer fase do processo, antes da extinção da


execução. (...) Pode o juiz, em face da verossimilhança das alegações,
atribuir-lhe efeito suspensivo”. (Curso Didático de Direito Processual civil,
p. 1068). (Grifo nosso).
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Marcos Valls Feu Rosa, ao tratar dos efeitos causados pela oposição de
exceção de pré-executividade, sustenta que:

"A argüição da ausência dos requisitos da execução suspende o seu


curso por colocar em cheque a possibilidade de início ou
prosseguimento da execução, ou, em outros termos, da expropriação".
(Marcos Valls Feu Rosa, Exceção de pré-executividade: matérias de ordem
pública no processo de execução, p. 77-78). (Grifo nosso).

Nesse mesmo sentido, posiciona-se Eduardo Arruda Alvim:

"Enquanto pendente de decisão a exceção de pré-executividade, deve-


se suspender o curso da execução, bem como o prazo para
oferecimento de embargos do devedor. Caso assim não se entendesse,
o incidente de exceção de pré-executividade restaria esvaziado,
verdadeiramente inócuo, pois o executado certamente não correria o risco
de ver a sua exceção afastada e, ainda, perder o prazo para interposição de
embargos". (Exceção de pré-executividade, p. 226-227). (Grifo nosso).

Excelência, a Jurisprudência pátria também adota o posicionamento no


sentido da admissibilidade de se dar efeito suspensiva à Exceção de Pré-
Executividade. Vejamos:

"Processo de execução. Exceção de pré-executividade. O devedor por


processo de execução pode argüir a nulidade da execução,
independentemente de estar seguro o juízo, através de exceção de pré-
executividade e não de embargos. Verificando-se a razoabilidade da
tese sustentada pelo devedor, suspende-se o andamento da execução
até julgamento do incidente". (TARS – Ag. Inst. n. 196.123.160, 5.ª C.,
Rel. João Carlos Branco Cardoso, j 10.10.96, v. u.).(Grifo nosso).

"Processo civil. Exceção de pré-executividade. Sendo razoável a tese


sustentada pela devedora, suspende-se o andamento da execução até
o julgamento do incidente – Agravo provido" (TJRS – Ag. Inst. n.
598.455.939-RS, 9.ª C. Cív., Rel. Des. Tupinambá Pinto de Azevedo, j.
23.3.1999). (Grifo nosso).

Pelas razões expostas, não paira dúvida de que a sistemática processual


moderna, em perfeita sincronia com a ordem constitucional, torna perfeitamente
possível a suspensão do processo de Execução até que seja julgada a Exceção de
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Pré-Executividade.

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5 DOS REQUERIMENTOS E DOS PEDIDOS

Ex positis, requer a Vossa Excelência que se digne:

a) A receber e a processar a presente Exceção de Pré-Executividade, para,


ao final, acolher a preliminar de inépcia da inicial, com a conseguinte extinção do
presente feito, nos termo do Artigo 485, Inciso IV, do CPC, tendo em vista a
inexequibilidade do título judicial ora guerreado;

b) No mérito, caso Vossa Excelência não entenda pelo pleito anterior, seja
reconhecida a falta de interesse processual e, por consequência, seja extinto o feito
nos termo do Artigo 485, Inciso VI, do Código de Processo Civil;

c) seja concedido o efeito suspensivo à exceção oposta;

d) A concessão dos benefícios da Justiça Gratuita, nos termos do artigo 98, §


1º, Incisos de I a IX, da Lei 13.105/15, por ser o requerido economicamente
hipossuficiente, em virtude de ser pessoa pobre na acepção jurídica da palavra,
conforme declaração e demonstrativo de rendimento mensal em anexo;

e) A condenação do Exequente nas custas e honorários advocatícios na base


de 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, os quais devem ser revestidos ao
Fundo Da Defensoria Pública – FUNDEP;

Nestes Termos,

Pede Deferimento e juntada.

Guaraí/TO, 27 de janeiro de 2020.

Evandro Soares da Silva 9


Defensor Público

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