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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 917.333 - MS (2007/0008680-2)


RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
AGRAVANTE : PAULO ROBERTO GIRESINI SIVIERO
ADVOGADO : PAULO ESTEVÃO DA CRUZ E SOUZA E OUTRO(S)
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF
ADVOGADO : LEONARDO DA SILVA PATZLAFF E OUTRO(S)

EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CRIMES
CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO. ART. 25 DA LEI N.
7.492/1986. NUMERUS APERTUS. GESTÃO TEMERÁRIA.
GERENTE DE AGÊNCIA BANCÁRIA. AGENTE ATIVO.
ADEQUAÇÃO LEGAL.
1. Gerente de agência bancária é passível de imputação de
gestão fraudulenta de instituição financeira, nos termos da Lei
n. 7.492/1986, que define os crimes contra o Sistema
Financeiro Nacional.
2. O agravo regimental não merece prosperar, porquanto as
razões reunidas na insurgência são incapazes de infirmar o
entendimento assentado na decisão agravada.
3. Agravo regimental improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as
acima indicadas, acordam os Ministros da SEXTA TURMA do Superior
Tribunal de Justiça, por unanimidade negar provimento ao agravo
regimental nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros
Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Maria
Thereza de Assis Moura e Og Fernandes votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis
Moura.
Brasília, 1º de setembro de 2011 (data do julgamento).

Ministro Sebastião Reis Júnior


Relator

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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 917.333 - MS (2007/0008680-2)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR: Trata-se de


agravo regimental interposto por Paulo Roberto Giresini Siviero contra decisão
que concedeu provimento ao recurso especial do ora agravado, para considerar o
gerente de agência bancária como agente ativo de delito previsto no art. 25 da Lei
n. 7.492/1986 – gestão fraudulenta de instituição financeira –, cuja ementa merece
transcrição (fl. 1.130):

RECURSO ESPECIAL. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO.


ART. 25 DA LEI N. 7.492/1986. NUMERUS APERTUS. GESTÃO
TEMERÁRIA. GERENTE DE AGÊNCIA BANCÁRIA. AGENTE ATIVO.
ADEQUAÇÃO LEGAL. RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO.

A decisão agravada, ao condenar o ora agravante, estabeleceu: "ante o


exposto, com fulcro no art. 557, caput, § 1º-A, do Código de Processo Civil, dou
provimento ao recurso especial para cassar o acórdão a quo e restabelecer a
sentença condenatória em todos os seus termos (fls. 937/944), conforme disposto
nesta decisão" (fl. 1.134).

Das razões de agravo regimental (fls. 1.152/1.158), inferem-se as


proposições:

a) a matéria legal disposta no recurso especial, ou seja, o art. 386, III, do


Código Penal, não foi prequestionada pelo ora agravado;

b) incide na espécie a Súmula 182/STJ;

c) aplicável ao caso dos autos a Súmula 7/STJ, pois, "com base nas
provas dos autos, concluiu que o agravante não poderia ser penalizado e
considerado como parte legítima para responder pelo crime previsto na lei
federal" (fl. 1.155); e

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d) o agravante não "teria poder de mando" e seus atos "estariam
subordinados à aprovação de seus superiores hierárquicos", a afastar a
configuração de gestão temerária.

Por fim, requer o agravante a reforma da decisão.

Dispensou-se a oitiva da parte contrária.

É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR (RELATOR): O


recurso especial do ora agravado reúne condições de admissibilidade, porquanto
a matéria foi prequestionada e os fatos descritos na sentença são abonados pelo
acórdão e, ainda, a controvérsia se refere não à discussão de fatos, mas à
revaloração das provas, ou melhor, à valoração jurídica da situação fática.

O caso dos autos é de imputação de gestão fraudulenta de instituição


financeira feita a agente, na condição de gerente-geral de agência bancária, nos
termos da Lei n. 7.492/1986, que define os crimes contra o Sistema Financeiro
Nacional.

O ora agravante foi denunciado pela prática do delito descrito no art. 4º,
parágrafo único, da Lei 7.492/1986, nestes termos (fl. 1.042 – grifo nosso):

[...]

1. Consta da notícia criminal protocolizada perante a Justiça Federal que,


quando do afastamento para gozo de férias do Gerente Geral da
agência da Caixa Econômica Federal da rua 13 de Maio, assumiu
estas funções o acusado Paulo Roberto Giresini Siviero que
desencadeou a gestão temerária da instituição financeira.
2. Tendo se relacionado com os demais acusados Anézia e Iran,
proprietários da Firma Texas Transportes Ltda., com estes fez inúmeras
operações financeiras sem garantias, ou qualquer formalidade, critério ou
bom senso, descumprindo reiteradamente normas e atos da administração
da CEF, objetivando unicamente beneficiar os demais denunciados. Até o
momento não se apurou as vantagens que porventura tenham auferido as
custas dos prejuízos que acarretou a Instituição, montando em mais U$
1.000.000 (Hum milhão de dólares americanos).
3. Os acusados Anézia e Iran, sabedores que os empréstimos obtidos
através do primeiro acusado não poderiam ser pagos, já que não percebiam
receitas suficientes para honrar a dívida, em suas mais variadas
modalidades, ainda assim continuaram nas operações temerárias, lançando
mão de artifícios relativos a garantias insubsistentes.

A sentença proferida foi de absolvição de Anézia Barbosa Chaves na


forma do artigo 386, VI do Código de Processo Penal e condenação de
Paulo Roberto Giresini Siviero e Iran Barbosa Chaves pelo delito
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capitulado na inicial a sanções de três anos de reclusão e multa de R$
5.200,00, estabelecido o regime inicial aberto.
[...]

O juízo sentenciante, ao fundamentar a condenação do ora agravante,


assim declinou (fls. 939/943 – grifo nosso):

O acusado Paulo Roberto Siviero, conforme transcreveu sua própria


defesa às fls. 781, de parecer do setor jurídico da Caixa, exarado em
procedimento disciplinar, procedeu com total descaso às normas da CEF e
do Banco Central do Brasil, deixando de exigir garantias suficientes na
liberação de empréstimo à empresa Texas Transportes Ltda e aos sócios
desta, admitindo, inclusive, avais cruzados, o que é vedado (CN n.
010/93-CEF) (fl. 220 e seguintes).
Dentre outras irregularidade, todas corporificadoras do crime contra o
sistema financeiro, uma delas consistia em concessões de empréstimos
que, pelos altos valores, refugiam à competência do acusado Paulo. O
relatório de fls. 190/202 traz um bom resumo dos fatos.
Outra irregularidade consiste em que o mesmo acusado nunca teve o
cuidado de verificar a existência de execuções contra os tomadores
dos empréstimos. Os documentos de fls. 203 e seguintes garantem a
existência de inúmeras execuções contra Texas, Iram e Amnésia,
correndo na Justiça Federal e na Estadual
[...]
Conforme o levantamento que acabo de mostrar, extraídos dos
autos, foram concedidos até quatro empréstimos num só dia.
Dos interrogatórios dos acusados, às fls. 407/420, consta que houve os
empréstimos, em circunstâncias justificáveis [...].
As testemunhas ouvidas às fls. 630/639, funcionários antigos da Caixa,
não deixam dúvidas quanto à materialidade do delito. Relatam, muito bem, a
conduta do réu Paulo Roberto, conferindo seus depoimentos, neste
particular, com as irregularidades documentadas nos autos [...].
Os autos registram que o prejuízo experimentado pela Caixa, à época,
ultrapassaram a um milhão de dólares [...]

Apelou o réu – ora agravante –, pleiteando, na origem, sua absolvição,


dizendo ter agido de modo semelhante em ocasiões anteriores, com bons
resultados para a Caixa Econômica Federal. Aduz que a empresa tomadora
possuía bom patrimônio e por conta da inflação ocorreu o inadimplemento, que os
empréstimos apontados configuravam rolagem de dívida e que, na apuração
administrativa, não se verificou dolo ou improbidade. Alternativamente, requereu a
redução da pena privativa de liberdade e a exclusão da multa.

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O Tribunal de origem, ao absolver o atual agravante, fixou (fl. 1.050):
[...]
A concepção da definição legal do delito que é de gestão da instituição
financeira já limita o conceito da qualificação pessoal exigida ao círculo de
agentes com poderes gerais e superiores de decisão e reforça este
entendimento a objetividade jurídica. Com efeito, os bens objeto da proteção
penal estão na política econômica do governo e estabilidade e segurança do
mercado, daí não se concebendo eventos de lesão a semelhantes
interesses em condutas praticadas por funcionários que não integram a
cúpula e que por si sós não podem causar prejuízos de modo a pôr a
instituição financeira, que como tal só pode ser reconhecida no todo, em
risco com correlatos resultados de abalos no SFN.
Um gerente de agência não passa disto, gere a agência, não a instituição
financeira. Esta é gerida por seus diretores, pelo escalão superior, por
administradores com amplitude de poderes abrangentes da instituição
financeira em toda a sua extensão.
[...]

Contra esse julgado foi interposto recurso especial, o qual foi provido
pelo eminente Ministro Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP), no
sentido de condenar o ora agravante pelo delito de gestão fraudulenta (fls.
1.130/1.135).

Nesse contexto, o Tribunal de origem, ao contrário da jurisprudência do


Superior Tribunal de Justiça, entendeu que gerente de agência bancária não é
agente ativo de delito previsto no art. 25 da Lei n. 7.492/1986 – gestão fraudulenta
de instituição financeira.

Confira-se precedente da Sexta Turma deste Tribunal: "Esta Corte


entende ser possível a prática do delito de gestão temerária por gerente de
agência bancária, desde que comprovado que detinha poderes próprios de
gestão" (RHC n. 18.183/AM, Ministro Paulo Gallotti, Sexta Turma, DJ 3/4/2006).

Para adequada compreensão da controvérsia, oportuna a transcrição


dos dispositivos legais controvertidos, quais sejam: arts. 4º e 25, ambos da Lei n.
7.492/1986, in verbis:

Art. 4º Gerir fraudulentamente instituição financeira:


Pena - Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.

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Parágrafo único. Se a gestão é temerária:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
[...]
Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o
controlador e os administradores de instituição financeira, assim
considerados os diretores, gerentes.
§ 1º Equiparam-se aos administradores de instituição financeira (Vetado)
o interventor, o liqüidante ou o síndico.
§ 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou
co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea
revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena
reduzida de um a dois terços. (Incluído pela Lei n. 9.080, de 19.7.1995)

Nesse aspecto, conforme consignado no decisum agravado, merece


reforma o acórdão estadual, porquanto, "restando devidamente comprovado nos
autos que o acusado detinha poderes próprios de gestão, não há como afastar,
nos termos do art. 25 da Lei n. 7.492/86, a sua responsabilidade pelo delito de
gestão temerária" (REsp n. 702.042/PR, Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJ
29/8/2005).

Consentâneo com a jurisprudência deste Tribunal o entendimento do


decisum de primeiro grau, ao fixar (fls. 943/944):

[...]
Os autos registram que o prejuízo experimentado pela Caixa, à época,
ultrapassavam a um milhão de dólares. É inegável, pois, a existência de
magnitude de lesão financeira e de prejuízos morais tanto para a Caixa como
para o Sistema Financeiro Nacional, que, com certeza, se sentiu abalado e
teve sua credibilidade arranhada por tais condutas. E tanto isto é verdade
que foi editada lei especial para punir esses tipos de delito (Lei n. 7.492/86).
[...]
Diante do exposto e por mais que dos autos consta, com base no art.
386, VI, do CPP, absolvo Anézia Barbosa Chaves, qualificada, da imputação
feita contra sua pessoa, e, com suporte no art. 4º, parágrafo único, da Lei n.
7.492/1986, condeno Paulo Roberto Giresini Siviero e Iran Barbosa
Chaves, qualificados, individualmente, a três anos de reclusão e ao
pagamento da multa de R$ 5.200,00 (cinco mil e duzentos reais),
correspondente a vinte dias-multa, já atualizada e convertida. A pena privativa
será cumprida, desde logo, em regime aberto, com trabalho fora do
estabelecimento, sem vigilância, e recolhimento durante o período noturno e
nos dias de folga, exceto de quarta para quinta e de sábado até segunda,
cujo horário de saída e chegada fica a critério do estabelecimento penal [...]

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Por fim, desarrazoada a suposta incidência, in casu, da Súmula
182/STJ, pois o recurso especial (fls. 1.059/1.073) do ora agravado impugnou, de
forma adequada, todos os fundamentos do acórdão a quo (fls. 1.042/1.053).

Portanto, o agravo regimental não merece prosperar, porquanto as


razões reunidas na insurgência são incapazes de infirmar o entendimento
assentado na decisão agravada.

Em face do exposto, nego provimento ao agravo regimental.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2007/0008680-2 REsp 917.333 / MS
MATÉRIA CRIMINAL

Número Origem: 200503990260041

EM MESA JULGADO: 01/09/2011

Relator
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ZÉLIA OLIVEIRA GOMES
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RECORRIDO : PAULO ROBERTO GIRESINI SIVIERO
ADVOGADO : ROBERTO TEIXEIRA DOS SANTOS
INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF
ADVOGADO : LEONARDO DA SILVA PATZLAFF E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes contra o Sistema
Financeiro Nacional

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : PAULO ROBERTO GIRESINI SIVIERO
ADVOGADO : PAULO ESTEVÃO DA CRUZ E SOUZA E OUTRO(S)
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF
ADVOGADO : LEONARDO DA SILVA PATZLAFF E OUTRO(S)

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Maria
Thereza de Assis Moura e Og Fernandes votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura.

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