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DOSIMETRIA DA PENA E EXECUÇÃO

PENAL
Quando uma pessoa culpável (arts. 21, 22, 26, 27 e 28, CP) é
apontada como autora de um fato típico (conduta + nexo causal +
resultado + tipicidade), sem estar acobertada por uma excludente de
antijuridicidade (art. 23, CP) temos UM CRIME, segundo o
conceito analítico, definido em seus elementos pela Teoria do Delito.
 Mas, entre o momento do crime até a aplicação e o efetivo cumprimento da pena, que
coisas podem acontecer, ou seja, que etapas existem concretamente falando?
S !
G O
 Investigação → Inquérito policial.
T I
A R
 Denúncia → Ministério Público.
O M
C
 Processo Penal (processo de conhecimento) O
C sumariamente por se convencer com a
→ se o juiz recebe a denúncia, cita para
F I
responder à acusação e, se não absolver

R Á
resposta, marca audiência de instrução e julgamento.
G
 Audiência: provas +A
E M
para memoriais).
debates + sentença = absolve/condena (caso complexo = prazo

Q U
 Se S
Econdenar → dosimetria + fixação do regime inicial.
DOSIMETRIA DA PENA
 Juiz – processo de conhecimento – aplicação da pena = 3 fases!
• Ordem de aplicação: Art. 68, CP.

Porém, antes de iniciar estas fases...


• Atenta cognição/definição do crime em si, ou seja, de todo o caso concreto!
• Elementos objetivos (constitutivos) do tipo penal.
• Formas qualificadas que efetivamente existiram.
• Situações de eventual agravamento ou atenuação.
• Situações de eventual aumento ou diminuição.

Ou seja... deve-se fazer uma espécie de “esqueleto” antes de partir para as
análise das fases previstas em lei.
• Não faça = bis in idem!
CONVENCIDO: FT + A + C O CRIME NO CASO CONCRETO

ELEMENTOS?
QUALIFICADORAS? DOSIMETRIA – 3 FASES
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS?
AGRAVANTES/ATENUANTES?
AUMENTO/DIMINUIÇÃO?
MAS O QUE SE CALCULA PRIMEIRO?!
• Pena em abstrato: preceito secundário do tipo penal.
• Pena “de saída” = parte-se do mínimo legal.
• Primeira chance de bis in idem futuro: FORMAS QUALIFICADAS.

• A dosimetria da pena começa DEPOIS DISSO – art. 68, CP.

• Primeira fase: circunstâncias judiciais – Art. 59, caput, CP.


• Executa-se sobre a pena em abstrato e o resultado chama-se PENA BASE.
• Parte-se do mínimo previsto e, a cada circunstância desfavorável, aumenta 1/6 (a
primeira sobre o mínimo, a segunda sobre o resultado do primeiro aumento e
assim por diante). Depois, opera-se o mesmo sobre o resultado para as
favoráveis.
• 1/6 é valor NÃO PREVISTO pela lei, ou seja, convencionou-se na doutrina e na
jurisprudência.
• Culpabilidade: reprovação social da • Motivos: o que levou à pratica da
conduta. conduta.

• Antecedentes: súmula 444, STJ – o • Circunstâncias do crime: como


que não serve para fins de ocorreu.
reincidência.
• Consequências: não é a repercussão
• Conduta social: comportamento às seis da tarde...
perante os outros.
• Comportamento da vítima: parte da
• Personalidade: temperamento, criminologia denominada vitimologia
quem o agente é. (procure saber: classificação das
vítimas segundo Benjamim
Mendelsohn).
Daí o Tício matou o Mévio em um bar porque este esbarrou em
sua cerveja, derramando todo o conteúdo do copo, sujando-lhe
as vestes...

HOMICÍDIO QUALIFICADO POR MOTIVO FÚTIL


Mas como isso é muito reprovável, vou responder aqui na OAB
que o juiz deve aumentar a pena na primeira fase da dosimetria,
em razão da culpabilidade do agente!
• Segunda fase: Circunstâncias legais → agravantes e atenuantes, elencadas
na Parte Geral do Código Penal (arts. 61, 62, 65 e 66, CP).
• Executa-se sobre a pena base e o resultado chama-se PENA PROVISÓRIA.
• -1/6 sobre cada atenuante (valor convencional); +1/6 sobre cada agravante.
• Agravantes = rol taxativo (61: circunstâncias; 62: situações relacionadas ao concurso
de pessoas; 63 e 64: para aplicação da reincidência).
• Atenuantes = rol exemplificativo (65 + atenuante genérica/inominada no 66).
• CUIDADO: Súmula 231, STJ.

Então, eu responderia na OAB que,


naquele homicídio do Tício, o juiz
poderia aumentar a pena na segunda
fase da dosimetria, em razão da
agravante de motivo fútil!
• Terceira fase (art. 68, parágrafo único): Causas especiais de diminuição e de
aumento de pena (parte geral e parte especial).

• Diferença da “forma qualificada” de um crime para a “forma majorada” de


um crime é pelo modo como exasperam a reprimenda penal:

 Qualificadora aumenta a própria pena abstratamente prevista para o crime em sua


forma simples (Exs.: art. art. 158, §3º; art. 157, §3º; art. 155, §4º…).

 As majorantes e minorantes serão SEMPRE expressas por frações no texto da lei


(Exs.: art. 14, parágrafo único; art. 226; Art. 288, parágrafo único; art. 158, §1º; art.
157, §2º…).

• Aplica-se a fração designada pela lei sobre a PENA PROVISÓRIA e o


resultado será a PENA EM CONCRETO, sobre a qual o juiz fixará o
regime inicial de cumprimento.
DEPOOOOOIS DISSO...
• Se o autor praticou mais de um crime: feita a dosimetria de cada
um em separado e, verificadas as condições do caso concreto, é
que se poderão aplicar:

• Art. 69 – concurso material: mais de uma conduta / mais de um crime =


soma.
• Art. 70 – concurso formal: uma conduta / mais de um crime.
• Homogêneo: uma conduta = dois ou mais crimes iguais.
• Heterogêneo: uma conduta = dois ou mais crimes diferentes.
• Concurso formal próprio (perfeito/normal): O agente produz dois ou mais
resultados criminosos, mas sem o desígnio de praticá-los de forma
autônoma (ex. aberratio ictus em sentido amplo ou aberratio criminis com
alcance também do resultado almejado) = pena maior, aumentada de 1/6 até
a metade – dolo + culpa ou culpa + culpa
• Observar se ocorre o concurso material benéfico (art. 70, parágrafo único).
• Homicídio: mínima = 6 anos.
• Lesão: mínima = 2 meses.
• Concurso formal = 7 anos; concurso material = 6 anos e 2 meses.
• Concurso formal impróprio (imperfeito/anormal): O agente produz dois ou
mais resultados criminosos, tendo o desígnio de praticá-los de forma
autônoma (dolo em todos os resultados) = penas somadas – dolo + dolo
A L
E N
P
ÃO

E C
EX
APLICAÇÃO DA PENA
Preenchidas determinadas condições, o juiz deve, porém, converter a PPL em
PRD (art. 44, CP) ou, se não for possível, verificar os requisitos para
concessão do sursis penal (art. 77, CP).

• CUIDADO! Não confundir com sursis processual (art. 89, da Lei 9.099/95)!

Dosimetria da pena – estabelecimento do regime de cumprimento


 Art. 33, §2º, CP.
 + Art. 34, CP + Arts. 87 a 89, LEP: fechado.
 + Art. 35, CP + Arts. 91 e 92, LEP: semiaberto.
 + Art. 36, CP + Arts. 93 a 95, LEP: aberto.
 + Art. 34, CP + Arts. 87 a 89, LEP: fechado – em penitenciária, pena superior
a 8 anos, trabalho interno no período diurno (externo possível, em obras ou
serviços públicos) e segregação noturna.

Art. 88. O condenado será alojado em cela


individual que conterá dormitório,
aparelho sanitário e lavatório.
Parágrafo único. São requisitos básicos da
unidade celular:
a) salubridade do ambiente pela
concorrência dos fatores de aeração,
insolação e condicionamento térmico
adequado à existência humana;
b) área mínima de 6,00m2 (seis metros
quadrados).
- LEI DE EXECUÇÕES PENAIS -
+ Art. 35, CP + Arts. 91 e 92, LEP: semiaberto – trabalho diurno
coletivo, em colônia agrícola ou industrial, trabalho externo
admissível (também estudo em geral) e alojamento em
compartimento coletivo.

+ Art. 36, CP + Arts. 93 a 95, LEP: aberto – trabalho, estudo ou


outra atividade externa autorizada e recolhimento noturno à Casa
do Albergado.
4
“O Brasil tem 260 estabelecimentos penais

1
destinados ao regime fechado, 95 ao
regime semiaberto, 23 ao regime aberto,

/ 0
725 a presos provisórios e 20 hospitais

2
de custódia, além de 125 estabelecimentos
criados para abrigar presos dos diversos

0 6
tipos de regime, de acordo com os últimos
números do Depen, referentes a junho de


2014. O levantamento revela, no entanto,
que a separação dos presos por tipo de

L
regime de pena prevista em lei não está

I
sendo cumprida. Das 260 penitenciárias,
por exemplo, que deveriam abrigar

M exclusivamente condenados ao regime

5
fechado, somente 52 seguem a LEP.”

1
FONTE: SITE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

7
http://
www.cnj.jus.br/noticias/cnj/79914-conheca-os-
diferentes-tipos-de-estabelecimentos-penais
 Quais são os critérios de fixação do regime inicial de cumprimento de pena?
 Alíneas do §3º, do Art. 33, CP (de novo, portanto, Art. 59, CP) + Art. 110,
LEP.

 Como o juiz do processo de conhecimento (que profere a sentença penal


condenatória) fixa o regime inicial de cumprimento de pena?
 Art. 42, CP + Art. 387, §2º, CPP.

 Como devem ser executadas as penas privativas de liberdade?


 §2º, do Art. 33, CP – progressividade.
 Per saltum é vedado? Súmula 491 do STJ…
PROGRESSÃO DE REGIME
 Quais são os requisitos genéricos para progressão de regime?
 Art. 112, LEP.
 Critério objetivo → cumprimento de 1/6 da pena.
 Critério subjetivo → bom comportamento comprovado.
 Obs: Súmula 715, STF.

 Há casos que exigem condições especiais relativas à progressão de regime que


devem ser somadas às condições genéricas?
 Art. 33, §3º, CP → condenado por crime contra a Administração Pública.
 Arts. 113 a 117, LEP → condições para ingresso no regime aberto.
 Art. 2º, §2º, Lei 8.072/90 → progressão em crimes hediondos e equiparados.
PROBLEMAS…
PROBLEMA 1
Cursino Pereira cumpre pena de 12 anos de reclusão em regime inicialmente
fechado. Cumpridos 3 anos da pena, solicitou a progressão para o regime
semiaberto. Consta nos autos atestado de boa conduta carcerária.

O juiz, porém, acolhendo parecer negativo do Ministério Público, indeferiu o


pedido sob o argumento de ainda não haver vaga na colônia agrícola da
Penitenciária em que Cursino se encontra cumprindo pena, bem como na
própria comarca em esta se localiza, sendo impossível no momento a
concessão do beneficio da progressão para o regime menos severo.

Na qualidade de advogado de Cursino, explique fundamentadamente o que


fará a partir desta decisão negativa do Juiz da Execução Penal em desfavor do
direito do seu cliente.
PROBLEMA 2
Você é juiz de direito, está no momento atuando numa vara criminal e acaba
de condenar Filogônio dos Reis, hoje com 48 anos de idade, pela prática do
crime previsto no art. 244 do Código Penal, cuja configuração segundo o
conceito analítico de crime restou absolutamente inequívoca.

Ficou claramente provado para você na audiência de instrução e julgamento


que Filogônio, tal como fora indiciado em Inquérito pela Polícia Civil e depois
denunciado pelo Ministério Público, deixava seu pai, Inocêncio dos Reis, de 73
anos de idade vivendo sozinho em uma edícula nos fundos de sua casa,
alimentando-o diariamente com apenas um copo de leite e uma dúzia de
bolachas do tipo “água e sal”.
Ficou demonstrado nos autos também, em razão do depoimento de duas
testemunhas, que Filogônio foi abusado sexualmente por seu pai durante sua
infância, tendo sua mãe inclusive fugido dele por algum tempo em razão deste
fato e que Filogônio deu abrigo a seu pai naquele quartinho de fundos apenas
para atender um pedido feito por sua avó paterna que, já no leito de morte,
implorou a Filogônio e o fez prometer que não deixaria Inocêncio morrer à
mingua, pois este era portador do vírus HIV (contraído na Penitenciária em que
cumpriu pena por estupro de vulnerável praticado contra um menino do bairro
dias após a mãe de Filogônio ter fugido daquele homem com seu filho).

Sentencie a pena de Filogônio, mediante aplicação da operação trifásica de


dosimetria e, por fim, estabeleça o regime inicial de cumprimento da
reprimenda.

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