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Aula DIREITO ROMANO

Proteção Jurídica Extraprocessual

Os pretores estabeleceram 3 requisitos para a concessão da retitutio in integrum

1. Estrita aplicação do ius civile conduzia a um prejuízo injusto


2. Existir uma causa justificativa
3. Não haver outros meios jurídicos que permitissem reparar o prejuízo sofrido, ou seja, a
retitutio in integrum tinha uma função puramente subsidiária (só intervinha na falta de
outros meios)

Quanto ao 2º requisito, quanto ao edictum do pretor urbano apresentava várias das quais
estudaremos as seguintes:

• Erro (ob errorem): era concedida a quem tivesse cometido um erro essencial em
matéria negocial (celebração negócio jurídico) ou processual – figura do erro como
vício da vontade. O vicio da vontade é uma anomalia pela qual uma pessoa manifesta
a sua vontade num sentido que se não fosse essa anomalia não manifestaria ou
manifestaria de forma diferente.
O erro é um dos possíveis vícios da vontade e consiste na ignorância ou falsa ideia
sobre alguma circunstância que foi decisiva na manifestação da vontade.
Constituía um restitutio ob errorem para que o negócio celebrado deixasse de
produzir efeitos.

• Coação (ob metum): era concedida a quem tivesse manifestado a sua vontade por ter
sido gravemente ameaçado, ou seja, só devido a essa ameaça praticou um
determinado ato jurídico. Surge-nos aqui a ideia de “medo ou coação” que era outro
vício da vontade traduzido na ameaça de um mal grave feita contra uma pessoa, seu
património ou familiar para que manifeste uma determinada vontade.
Deve tratar-se de uma ameaça injusta (contrária ao direito), grave (suscetível de
impressionar um homem firme) e atual (é preciso haver uma efetiva ameaça e não
uma mera suspeita). Não havendo ameaça, se alguém se limita a avisar que usará os
meios jurídicos, não pratica coação o credor que ameace o devedor com os meios
executivos que tem à sua disposição.
→Em várias situações, por exemplo, nos negócios, o ius civile não dava relevo à
coação e dessas situações o pretor podia conceder uma restitutio in integrum ob
metum àquele que tivesse sofrido coação não reconhecendo efeitos jurídicos aos atos
que por isso tivessem sido praticados.

• Dolo (ob dolum): era outorgada a quem praticou um ato jurídico em consequência de
um engano que viciou a sua vontade. Temos aqui a figura do dolo mau que era outro
vicio da vontade e que consistia numa falácia ou maquinação utilizada para
iludir/enganar alguém.
Dolo bom (dolus bónus): não se confunde com o dolo mau que não é mais do que a
mera habilidade que traduz o comportamento normal de quem participa no tráfico
comercial e que tenta apresentar de modo mais favorável possível aquilo que lhe
interessa.
• Fraude a credores (ob fraudem creditorum): era concedida a credores prejudicados
por atos que o devedor praticou com a intenção de fraudulentamente criar ou
amentar a sua insolvência, ou seja, a possibilidade de cumprir as suas obrigações.

Tinham de se verificar estes requisitos para o pretor utilizar a restitutio in integrum.

→Missio in possessionem

Noção: expediente através do qual o magistrado autorizava uma pessoa a apoderar-se dos
bens de outra pessoa. Era um expediente que funcionava como um meio provisório de
apreensão de bens conseguido para diferentes situações e que podia recair sobre bens certos
e determinados ou até sobre a totalidade de um património.

Possíveis finalidades (MOTIVOS)

A missio in possessionem podia funcionar como meio de coação de conservação patrimonial


ou de execução patrimonial.

➔ Como meio de coação: visava constranger uma pessoa a fazer ou não fazer algo.

Finalidade conservação: aqui tutelavam-se as legitimas expectativas de uma pessoa impedindo


a dispersão ou o desaparecimento de bens

Finalidade de execução patrimonial: aqui a mission permitia que um credor se apoderasse de


bens do devedor para satisfazer o seu crédito que o devedor não satisfez voluntariamente.

→Interdictum

Tem muito em comum com as atuais providências cautelares.

Noção: era uma ordem sumária de natureza administrativa que um magistrado, especialmente
o pretor, dirigia a uma pessoa para fazer ou não fazer uma determinada coisa. Na época
clássica, o interdictum estava perfeitamente separado das ações e nele o pretor procurava
resolver rapidamente um conflito. A sua principal função era a de evitar perturbações da
ordem social ainda que com isso se protegessem interesses dos particulares. O interdictum
concedido pelo pretor dava assim origem a uma decisão provisória e que não prejudicava a
eventual decisão definitiva que viesse a ser proferida no processo.

Quanto à sua forma, o interdictum podia ser proibitório, restitutório ou exibitório.

➔ Restitutório: através dele ordenava-se a restituição de uma res (coisa) a determinada


pessoa ou então que essa res fosse colocada no estado em que estava anteriormente
pois fora modificada sem autorização
➔ Exibitório: ordenava que fosse exibida ou apresentada uma pessoa ou um documento.

Uma área da vida social em que o interdictum teve enorme importância foi a defesa da posse

A posse é o comportamento de facto de alguém como se fosse o proprietário de uma res e que
tem a intenção de se comportar como proprietário.
A tutela da posse era feita pelo interdictum. Assim, para a defesa da situação possessória,
eram concedidos os seguintes interditos:

1º Interdictum de recuperação da posse: quando ela tivesse sido esbulhada ao possuidor.

2º Interdictum de retenção da posse: visava a conservação de uma posse que estava a ser
perturbada

3º interdictum de aquisição da posse: através dele o magistrado

PRÁTICA (31/10/2022)

Fontes do direito civil romano

- ius civile: direito dos cidadãos romanos. Quando aludimos a fontes de direito, são modos
formação e de revelação de normas jurídicas.

A expressão fontes de direito deve-se aos romanos.

→Fontes do ius civile

• Fontes ex sistendi: órgãos que criam as normas jurídicas (assembleias do povo,


senado, imperador)
• Fontes manifestendi: modos de formação e revelação das normas jurídicas- costume,
lei
• Fontes cognoscendi: textos onde nós podemos ir buscar as normas jurídicas (as
grandes compilações – corpus ius civile)

FONTES MANIFESTANDI (ordem de surgimento e importância)

1. Costume: era algo que se transmitia de geração em geração. Inicialmente, misturava-


se com as normas religiosas
-Usos dos maiores (usus maiorum): transmissão de ensinamentos/experiência dos
mais velhos
- Fonte exclusivamente técnico-jurídica—surgiu o conceito de consuetudo (deixando
de ter usus maiorum)- conceito puramente jurídico
Consuetudo= consuetudinário: fonte exclusivamente jurídica. Para ser uma fonte de
direito, neste sentido consuetudo, tem de ter 2 elementos essenciais:
-- corpus (elemento objetivo/material): traduz-se numa prática reiterada constante e
uniforme de certo comportamento ao longo de certo tempo.
Para o costume ser juridicamente vinculativo, para além do corpus, terá de existir o
animus senão será apenas um usus (uso)
-- animus (elemento ): convicção da vinculatividade jurídica dessa conduta.

À medida que o Imperador foi ganhando poderes, criando leis e tendo todo o poder
concentrado nele. Uma forma dos juristas (pretor urbano) controlarem os poderes do
Imperador, foi utilizando o costume (mero conceito jurídico), ou seja, contra as leis criadas
contrárias ao costume. O costume poderia afastar a lei injusta do imperador (por ser mais
antigo). Contudo, Constantino, acabou com isto.

SUMA:

• Costume era entendido como uma herança dos antepassados, confundido com as
noções religiosas.
• Na época pós-clássica, passou a ser entendido como um conceito meramente jurídico.
• O surgimento de fontes novas, não afastou as anteriores, tendo apenas menos
importância prática

2. LEX – surgiu do verbo légere (ler)


Importância: envolvia as assembleias dos povos na sua elaboração
Processo elaborativo tem uma grande relevância

Como se elaborava uma lei? (LEX ROGATA ≠ lex dada: assembleias do povo delegavam poder
nos magistrados para eles atuarem segundo orientações dessa assembleia para atuarem no
caso concreto)

✓ Lex rogata: propunha às assembleias a aprovação de um projeto de lei


✓ Fases de elaboração

1-Promulgatio: consistia na afixação do projeto da lei num espaço público para esse ser
projeto ser conhecido e discutido pelos cidadãos. Esta afixação tinha a duração de 3 semanas
(trinundinum). O projeto de lei era feito por magistrados e também era vinculativo, ou seja,
não era possível fazer quaisquer alterações. Nesse caso, teria de ser feito um novo.

2-Conciones: Esta fase ocorria ao mesmo tempo da primeira. Discussão do projeto lei desde a
afixação do projeto até à convocação das assembleias para votação.

3- Rogatio*: Magistrados convocavam os comícios pedia à Assembleia para aprovar a lei. Só os


magistrados que convocavam os comícios podiam propor os projetos de lei (poder imperium).
*Pedido do Pretor para aprovação do projeto

4- Votação: Inicialmente, era oral. A partir de 131 a.C, a votação passou a ser escrito e secreto.
Se o projeto fosse aprovado, o Senado teria de dizer que sim (que leva à 5ª fase)

5- Aprovação do Senado- Este concedia a sua auctoritas patrum (autoridade dos chefes) para
que a lei pudesse vigorar.

6- Afixação da lei: Havia uma preocupação dos romanos em dar conhecimento do projeto
inicial da lei e aquando da sua outorgação (fim do processo). --> art.6º CC → Forma de os
cidadãos conhecerem as normas

A partir de 339 a.C., aprovação do Senado passou a ser feita antes da votação do projeto pela
assembleia →Época Arcaica

ESTRUTURA DA LEI ROGADA

1. Praescriptio: espécie de prefácio, magistrado que propôs, a data da assembleia, o


primeiro grupo a votar
2. Rogatio: a parte expositiva da lei
3. Sanctio: parte final, e dizia quais eram as penas para quem a desrespeita-se. Quanto
ao tipo de sanção temos vários tipos de lei:
Leis perfeitas: declaravam nulos os atos que lhes fossem contrários
Leis menos que perfeitas: Aquelas que não declaravam nulos mas quem desrespeita-se
pagavam uma multa
Leis imperfeitas: não eram eficazes. Era preciso que o pretor viesse dar eficácia

As leis não eram uma fonte de grande relevância na prática devido à sua ligação ao direito
público

4. Plebiscitum: deliberação de uma assembleia popular (concílios da plebe). Inicialmente,


não tinham qualquer vinculação jurídica
-A partir do ano de 449 a.C., os plebiscitos passaram a ser vinculativos para os plebeus
que as votavam – Lex valeria horatia de plebiscitus
-No ano de 287 a.C. os plebiscutus passaram a ser vinculativos para os patrícios através
da lei Hortencia de Plebiscitis →Exaequatio legis: equiparado a lei pois vinculava a
todos.

5. Senatus Consultum: deliberação do Senado. Nos primeiros tempos, estas deliberações


eram meros pareceres (opiniões sobre determinados assuntos)
Com o passar do tempo, passaram a ser vinculativos quando o pretor começou a
colmatar as lacunas do ius civile, este podia pedir opiniões ao Senado (vinculatividade
indireta- davam indicações de como os pretores deveriam fazer o ser mandato, sendo
que estes normalmente as acatavam)
Quando Otavio se torna imperador, reforça os poderes do Senado: atribuição aos
Senados Consultum o poder de força de lei. Durou cerca de 100 anos.
Apos isso, os senatus passaram ser oraction do Imperador (diziam sim a tudo o que o
Imperador dizia)

6. Constituições Imperiais: declarações solenes com valor normativo provenientes pelo


imperador.
4 TIPOS:
- Edicta: eram leis de caráter geral – ex: edictum de Caracala (atribuição da
nacionalidade romana a todo o império)
- Decreta: Decisões judiciais tomadas pelo Imperador (nos processos de cognição
extraordinária: intervinha quer no julgamento quer no recurso)
-Rescripta: respostas do imperador a consultas jurídicas
- Mandata: ordens do imperador aos seus funcionários

7. Jurisprudência: doutrina jurídica (pensamento dos jurisconsultos- estudo e


interpretação do direito)
1ºs jurisconsultos: sacerdotes pontífices
3 grandes funções da jurisprudência:
-- cavere: aconselhamento dos prticulares quando estes procuravam concluir um
contrato- clausulas, etc
- agere: aconselhamento dos cidadãos em matéria processual
-- respondere: + importante – responder a consultas que lhes eram feitas – era aqui
que os juristas iriam pensar mias no direito antes de responder. Era aqui que o direito
se inova, que produzia novo direito

NOTA: Em Roma, havia 2 grandes escolas do pensamento jurídico:


-- Escola proculeiana- sr. Leabeo: mais inovadora e flexível

-- Escola Sabiniana – Sr.Capito – pensamento jurídico mais conservador

PRÁTICA (7/11/2022)
Corpus Ius Civilis: coletânea de textos, ordenada pelo Imperador Justiniano, em 530.

A partir de 1593 é que obteve este nome. NÃO É NENHUM CÓDIGO EM SENTIDO MODERNO- é
apenas uma coletânia de textos dispersos reunidos num livro.

Divide-se em 4 partes:

• Instituciones: consistiam no manual elementar do direito para todos aqueles que


quisessem iniciar-se no estudo de direito
Baseavam-se em livros de grandes juristas romanos- GAIUS- que se dividiam em 3
partes: pessoas, coisas e ações. Esta divisão foi adotada também pelo CC francês.
Dividiam-se em 4 livros, estes em títulos e estes em parágrafos → I. 3,4,1
PUBLICADAS EM NOV DE 533

• Digesto: coletânea de fragmentos das obras de alguns dos principais jurisconsultos


clássicos de Roma. É a parte mais importante do Corpus pois permite verificar o
pensamento científico dos autores →ULPIANO, JULIANO, PAULO e ……
Divide-se em 50 livros, estes em títulos, estes dividem-se em fragmentos e este em
parágrafos → D.13,7,9,2
PUBLICADAS EM dezembro DE 533

• Codex: compilação de leis (constituições imperiais) desde Adriano até Justiniano.


Composto por 12 livros, divididos em títulos, que se dividiam em leis e cada lei podia
dividir-se em parágrafos → C. 2, 3, 30,4
PUBLICADAS EM dezembro DE 534

• Novellae: Constituições Imperiais novas até à morte de Justiniano.


NOV.39,2,1

Parágrafo 1º do corpus era na verdade o 2º. Contava-se apenas a partir do 2º, que seria o
primeiro.

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Inicialmente, o pretor apenas aplicava o direito civil (direito dos cidadãos romanos).

No direito civil, primeiro vêm o ius (direito) e depois as actiones (ações-para efetivar o direito).

Ius pretorium: actio – ius.

Nem só o pretor criava direito. O ius pretorium é apenas uma categoria de um campo mais
amplo- ius honorarium (compreende o direito criado por todos os magistrados)

→Vários tipos de Ações

Ação civil e ação honorária


Actio civilis: decorre da aplicação do ius civile

Actio honorarium: decorre da aplicação do direito honorário. Neste caso distingue-se:

➔ Ações do pretor
➔ Ações edilícias

Ação pessoal e ação real

Ação real: defesa de direito meu sobre uma coisa. Pode ser intentada a qualquer pessoa.
Qualquer pessoa pode perturbar o meu direito de propriedade.

→Ação de reivindicação: ação que serve para devolver alguma coisa que é minha.

Ação pessoal: defesa/tutela dos direitos de crédito. Só posso exigir a uma pessoa determinada
quantia pois foi a ele a quem emprestei dinheiro.

Ação de direito estrito e Ações de boa-fé

Ação de direito estrito: decorrem de negócios jurídicos de direito estrito. É necessário apenas
ter em conta as clausulas do contrato.

Ação de boa Fé: além de se verificar o cumprimento das cláusulas, é necessário verificar se foi
cumprido o bonus paterfamilias (homem culto, honesto, leal)

SISTEMA EXTRA-PROCESSUAL
- Restitutio in integrum: situação protegida pelo direito civil, mas não é justo que o seja. O
pretor anulava/extinguia esse negócio, resultante de um negócio jurídico, embora válido à luz
do ius civile, mas não era justo por ter sido feito por coação

Pressupostos: negócio valido à luz do direito civil, causar prejuízo a uma das partes e não haver
outros meios para resolver esta situação

Causas justificativas para extinguir o negócio: COAÇÃO, DOLO (intenção de prejudicar o outro
para benefício próprio), ERRO (compra do pardieiro em vez do palacete), IDADE, FRAUDE A
CREDORES (devo dinheiro a alguém, vendo os meus bens a outro, o credor quando vier pedir o
que lhe é devido, o devedor não tem nada)

IMPUGNAÇÃO PAULIANA-

- Missio in prossessionem: meio de proteção jurídica que consistia numa ordem que o pretor
dava para que alguém se apoderasse temporariamente de bens de outra pessoa para coagir a
pessoa a cumprir o negócio.

→Devedor não paga – peço ao pretor para utilizar um bem do devedor

Finalidade: Coação / conservação da garantia patrimonial/ execução patrimonial

- Interdictum: ordem sumária do pretor a alguém para esse alguém fazer ou não fazer alguma
coisa. Concedido naqueles casos que não se pode esperar- rapidez e sintética. (parecido com a
figura da providencia cautelar)- resolução temporária de uma questão.
TIPOS: 1.Exibitórios: ordens para alguém exibir alguma coisa

2.Proibitorios

3.Restitutórios: ordens sumarias do pretor para restituir/ devolver OU colocar uma coisa no
estado que estava inicialmente

Interditos para defesa da posse: finalidade proibitória e restitutórios

➔ A propriedade era um direito, protegida pelo ius civile. A posse não era protegida pelo
ius civile, então o pretor protegia esse direito através de: interdi
➔ Retimendae possesion- conservar a posse -2 tipos- uti posidemis – bens moveis/utrubi
– bens móveis
➔ Interdito

Esbulho: privação da posse de alguma coisa

Indevi- pelo uso da força

Uso da força armada

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