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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.791.278 - SP (2019/0008362-0)


RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
RECORRIDO : BRUNO ROBERTO CAMPOS CORREA (PRESO)
ADVOGADO : JOSÉ MARIA LUCENA ANTÔNIO - DEFENSOR DATIVO -
SP294368
EMENTA

PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO


NA DIREÇÃO DO VEÍCULO AUTOMOTOR. COMPATIBILIDADE DO DOLO
EVENTUAL E TENTATIVA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

DECISÃO

Trata-se de recurso especial interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO


ESTADO DE SÃO PAULO, em face de v. acórdão proferido pelo eg. Tribunal de Justiça
daquele Estado (fls. 962-978).

Depreende-se dos autos que o juiz singular pronunciou o ora recorrido,


BRUNO ROBERTO CAMPOS CORREA, como incurso nas sanções do art. 121, § 2º,
incisos IV e V, c.c. 14, inciso II, do Código Penal, por duas vezes (vítimas Gustavo e
Aparecida), submetendo-o a julgamento perante o Conselho de Sentença (fls. 835-840).

O Tribunal de origem deu provimento ao recurso em sentido estrito


interposto pela Defesa, nos termos de v. acórdão assim ementado (fl. 963):

"Recurso em Sentido Estrito - Homicídios qualificados


tentados - Pronúncia - Recurso defensivo - Procedência - Narrativa de
dolo eventual tentado - Incompatibilidade entre o dolo eventual e a
tentativa Teoria - finalista da ação - Teoria do assentimento - A teoria
finalista da ação, adotada pelo Código Penal, garantiu a existência da
figura da tentativa para responsabilizar pelo resultado quisto pelo agente,
mas não consumado - O assentimento (dolo eventual) não se direciona ao
resultado, mas à conduta, não podendo ser responsabilizado por um
resultado não quisto - Redistribuição dos autos ao juízo singular para
readequação da narrativa dos fatos à capitulação jurídica e
processamento - Recurso provido."

Nas razões do recurso especial, interposto com fulcro no art. 105, inciso III,
alíneas a e c, da Constituição da República, o Parquet sustenta violação ao art. 14, inciso II

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c/c o art. 18, inciso I, segunda parte, ambos do Código Penal, além de divergência
jurisprudencial, assinalando a compatibilidade, em crimes de homicídio praticado na direção de
veículo automotor, do dolo eventual com a tentativa.

Requer, ao final, seja o recurso provido, para restabelecer a decisão que


pronunciou o recorrido, quanto à dupla tentativa de homicídio.

d. Subprocuradoria-Geral da República manifestou-se pelo provimento do


recurso especial (fls. 1.069-1.071).

É o relatório.

Decido.

O Ministério Público Estadual sustenta que a decisão da origem negou


vigência aos arts. 14, inciso IIe 18, inciso I, ambos do Código Penal, ao desclassificar
ambas as infrações que foram imputadas ao recorrido para outras de competência do juízo
comum.

Para a adequada delimitação da quaestio, colaciono o seguinte excerto do v.


acórdão vegastado (fls. 969-977):

"[...]
Quando previsível o resultado, mesmo que o agente não queira produzi-lo,
e assentido, perfaz-se a teoria do assentimento. Tem-se o dolo eventual.
As duas teorias adotadas pelo Código Penal são, pois, a da vontade e a do
assentimento. A que importa, nesse momento, é a segunda.
E diz-se que importa o dolo eventual para o caso dos autos, porquanto,
como supratranscrito, a denúncia é expressa no sentido de que BRUNO assumiu o risco
de produzir o resultado morte das vítimas Gustavo e Aparecida.
Pois bem.
'[...]
O desvalor da ação do agente que age por dolo eventual é tão intenso,
pela teoria finalista, que deve ser responsabilizado como se quisto fosse.
O agente não quer o resultado, pois se assim fosse haveria
dolo direto. Ele antevê o resultado e age. A vontade não se dirige ao
resultado (o agente não quer o evento), mas sim à conduta, prevendo que
esta pode produzir aquele. Percebe que é possível causar o resultado e,
não obstante, realiza o comportamento. Entre desistir da conduta e causar
o resultado, prefere que este se produza'. (JESUS, Damásio de., ob. cit., p.
331).

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Nelson Hungria, quando da análise da figura da tentativa, conclui:

'Do mesmo modo que é conciliável com o dolo ímpeto, a


tentativa também o é com o dolo eventual. Este ponto de vista é
inquestionável em face de nosso Código, que equiparou o dolo eventual ao
dolo direto. Se o agente aquiesce no advento do resultado específico do
crime, previsto como possível, é claro que este entra na órbita de sua
volição (veja-se n.° 73):
logo, se, por circunstâncias fortuitas, tal resultado não
ocorre, é inegável que o agente deve responder por tentativa. É verdade
que, na prática, será difícil identificar-se a tentativa no caso de dolo
eventual, notadamente quando resultatotalmente improfícua (tentativa
branca). Mas, repita-se: a dificuldade de prova não pode influir na
conceituação da tentativa'. (Obra citada, p. 90).

Com a devida vênia, não parece ser a interpretação mais correta.


É inquestionável que o Código Penal equiparou o dolo direto ao dolo
eventual. Entretanto, fê-lo, no art. 18, I, para fins de responsabilização do resultado.
Questão diversa se dá quando da necessidade de aplicação da tentativa, prevista no art.
14, II.
Tem-se o crime tentado "quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente". Trata-se de ficção jurídica para que,
havendo a intenção de praticar determinado fato típico não atingido, o agente ainda
seja por ele penalizado.
Não obstante se reconheça que o dolo eventual entra na "órbita de sua
volição", como ensina Hungria, as duas figuras não se compatibilizam.
Como mencionado, para a conformação da conduta à tentativa,
imprescindível que o agente queira produzir o tipo penal, por exemplo, "Matar alguém".
Pela teoria finalista da ação, diante do desvalor da conduta, nenhum
sentido faria penalizar alguém por crime de lesão corporal caso a morte não se
consumasse, haja vista que a intenção era o resultado morte.
O elemento subjetivo da teoria da vontade não existe no dolo eventual,
para o qual vige a teoria do assentimento. Nesta há somente a aceitação do resultado
previsível e não a vontade de produzi-lo.
Assim, incompatível, a partir da própria teoria finalista da ação, que visa
o desvalor da intenção e da conduta, pretender penalizar alguém, através de uma ficção
jurídica por norma de extensão, por um resultado que poderia ter ocorrido.
Mais curioso ainda é a compatibilização entre o dolo eventual e a tentativa
"branca", ou incruenta, quando a vítima sequer é lesionada.
Nelson Hungria, conforme acima exposto, entende plenamente viável,
desde que as provas se façam presentes.
Contudo, imagine-se a situação de um condutor de automóvel que, diante
das infelicidades da vida, dirige em alta velocidade, sabendo que pode atingir alguém e
mantém-se com a conduta, indiferente ao que acontecerá. Suponha-se que o elemento
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volitivo do dolo eventual seja comprovado, inclusive confessado. Caso o indivíduo do
exemplo cruze com trezentas pessoas no caminho, não atingindo nenhuma, terá
cometido trezentas tentativas de homicídio?
Nota-se que é ilógico tentar algo que não se quer, com consciência e
vontade.

Referido raciocínio é acompanhado pela melhor doutrina:

'A própria definição legal do conceito de tentativa nos


impede de reconhecê-la nos casos em que o agente atua com dolo
eventual. Quando o Código Penal, em seu art. 14, II, diz ser o crime
tentado quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente, nos está a induzir, mediante a palavra
vontade, que a tentativa somente será admissível quando a conduta do
agente for finalística e diretamente dirigida à produção de um resultado, e
não nas hipóteses em que somente assuma o risco de produzi-lo, nos
termos propostos pela teoria do assentimento. O art. 14, II, do Código
Penal adotou, portanto, para fins do reconhecimento do dolo, tão somente,
a teoria da vontade'. (GRECO, Rogério. Código Penal Comentado, 4a ed.,
Niterói, RJ: Editora Impetus, 2010, p. 44).

'Há hipóteses evidentes de impossibilidade da tentativa com


dolo eventual nos crimes de homicídio e de lesões, pois quem põe em
perigo a integridade corporal de alguém voluntariamente, sem desejar
causar a lesão, pratica fato típico especial (art. 132); quem põe em risco a
vida de alguém, causando-lhe lesão e não querendo sua morte, pratica o
crime de lesão corporal de natureza grave (art. 129, §1°, II). Deve-se
entender que, diante do texto legal, se punirá pelo crime menos grave
quando o agente 'assume o risco' de um resultado de lesão ou morte,
respectivamente, que ao final não vem a ocorrer'. (MIRABETE, Júlio
Fabbrini.
Manual de Direito Penal, Parte Geral, 7a ed., São Paulo:
Atlas, 1993, p. 152/153).

Pelo exposto, conclui-se que a tentativa é compatível somente com o dolo


direto. Somente a palavra 'vontade' é encontrada no art. 14, II, do Código Penal, ou
seja, aplicável somente à teoria da vontade (dolo direto).
Fosse compatível com o dolo eventual e aplicar-se-ia a norma de extensão
(tentativa) quando o resultado pudesse ser causado, mas não por circunstâncias alheias
à vontade, e sim por circunstâncias naturais (misto com a teoria do assentimento). Neste
caso, estar-se-ia diante de uma adoção mista pelo Código Penal da teoria finalista da
ação e da teoria social da ação para fins de responsabilização pelo possível resultado
não ocorrido, mas possível.
Não se encontra tal adoção pelo Código Penal na norma do art. 14, II, de
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modo que inaplicável ao dolo eventual, restringindo-se ao dolo direto."

Pois bem. Nunca é demais rememorar que o julgador monocrático, ao final da


primeira fase procedimental - no momento do iudicium accusationis -, analisando a
imputação insculpida na proemial acusatória, tem, em tese, quatro opções fundamentais: a)
pronúncia; b) impronúncia; c) absolvição sumária; d) desclassificação. Julga-se, em
verdade, neste momento, a admissibilidade (e não a procedência) da acusação.

Assim, demonstrada a materialidade do delito e os indícios de autoria, a


regra é a pronúncia. Inocorrendo o preenchimento destes requisitos, ocorre o juízo
antagônico da impronúncia (passível, muitas vezes, de ensejar nova persecutio). Quando, in
extremis, de forma incontestável, ocorrer uma justificativa ou uma excludente de
culpabilidade, surge a absolvição sumária. Finalmente, quando a imputação por crime doloso
contra a vida é inadmissível como tal, havendo resíduo de outro ilícito penal, pode, e deve, o
julgador operar a desclassificação.

Todavia, cabe, aí, em tema de desclassificação, destacar que, no processo


de competência do Júri, podem, por igual, ocorrer duas hipóteses: a) a desclassificação por
ocasião do iudicium accusationis (na fase da pronúncia); b) a desclassificação no momento
do julgamento pelo Júri. Neste, a eventual dúvida favorece o réu. Naquele, prolatado pelo
julgador monocrático, é de ser observado o velho brocardo in dubio pro societate. A
desclassificação, nesta última situação, só pode ser feita se a acusação por crime doloso for
manifestamente inadmissível.

O suporte fático da desclassificação, ao final da primeira fase procedimental,


deve ser detectável de plano e isento de polêmica relevante (cf. Aramis Nassif in 'Júri.
Instrumento da Soberania Popular', p. 110, 1996, Livraria do Advogado; J.F. Mirabete in
'Código de Processo Penal Interpretado', Atlas, p. 490, 4ª ed.; Damásio E. de Jesus in
'Código de Processo Penal Anotado', 12ª ed., 1995, p. 287, Saraiva; Guilherme de Sousa
Nucci in 'Júri. Princípios Constitucionais', 1999, Ed. Juarez de Oliveira, p.89 e Heráclito
Antônio Mossin in 'Júri. Crimes e Processo', 1999, Ed. Atlas S.A., p.299). Se admissível a
acusação, mesmo que, ad argumentandum tantum, haja dúvida ou ambiguidade, o réu deve
ser pronunciado (cf. HC 75.433-3 - CE, 2ª Turma - STF, relator Ministro Marco Aurélio,
DJU de 13/03/1997, p. 272/277 e RT 648/275).
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O juízo de pronúncia é, no fundo, um juízo de fundada suspeita e não um
juízo de certeza. Admissível a acusação, ela, com todos os eventuais questionamentos,
deve ser submetida ao juiz natural da causa, em nosso sistema, o Tribunal do Júri.

No caso, a vexata quaestio, para se saber se o recorrido deve ou não ser


pronunciado cinge-se ao elemento volitivo, vale dizer, se a forma tentada do delito de
homicídio é, ou não, compatível com o dolo eventual.

O entendimento desta Corte Superior é no sentido da "compatibilidade entre


o dolo eventual e o crime tentado" (AgRg no REsp n. 1.199.947/DF, Quinta Turma,
Relª. Minª. Laurita Vaz, DJe de 17/12/2012).

No mesmo sentido:

"PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. 1.


IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DO RECURSO PRÓPRIO. NÃO
CABIMENTO. 2. HOMICÍDIOS NO TRÂNSITO. DOIS CONSUMADOS E
UM TENTADO. DOLO EVENTUAL. VELOCIDADE EXCESSIVA.
DIREÇÃO SOB EFEITO DE ÁLCOOL. PEDIDO DE
DESCLASSIFICAÇÃO. ALEGAÇÃO DE IMPOSSIBILIDADE DE
CARACTERIZAÇÃO DO DOLO EVENTUAL. CIRCUNSTÂNCIAS QUE
REVELAM A ASSUNÇÃO DO RESULTADO. PRECEDENTES DO STJ E
DO STF. 3. INCOMPATIBILIDADE ENTRE O DOLO EVENTUAL E A
TENTATIVA. NÃO OCORRÊNCIA. 4. DOLO EVENTUAL E
QUALIFICADORA DA SURPRESA. INCOMPATIBILIDADE. 5. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO
APENAS PARA DECOTAR A QUALIFICADORA.
[...]
2. O elemento subjetivo do tipo, no caso, o dolo eventual, só
pode ser valorado com base nos elementos fáticos da conduta imputada,
haja vista não ser possível conhecer, de fato, o intelecto do paciente.
Verifica-se, portanto, que a conduta narrada apresenta circunstâncias que
autorizam se falar em dolo eventual, haja vista o paciente estar acima da
velocidade permitida, sob a influência de bebida alcoólica, e tendo
atropelado as vítimas quando estavam atravessando a faixa de pedestres
com sinalização favorável.
3. No que concerne à alegada incompatibilidade entre o
dolo eventual e o crime tentado, tem-se que o Superior Tribunal de
Justiça possui jurisprudência no sentido de que "a tentativa é
compatível com o delito de homicídio praticado com dolo eventual, na
direção de veículo automotor". (AgRg no REsp 1322788/SC, Rel.
Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 18/06/2015,
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Superior Tribunal de Justiça
DJe 03/08/2015).
[...]
5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício,
apenas para decotar a qualificadora do inciso IV do § 2º do art. 121 do
Código Penal" (HC n. 308.180/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, DJe de 20/09/2016).

"AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL.


PENAL. CRIME DE TRÂNSITO. HOMICÍDIO E TENTATIVA DE
HOMICÍDIO. CRIME TENTADO. DOLO EVENTUAL.
COMPATIBILIDADE. PRECEDENTES DESTA CORTE. FRAÇÃO.
TENTATIVA. CARÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA
282/STF. EXASPERAÇÃO. PENA-BASE. CIRCUNSTÂNCIAS DO
CRIME. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. DELITO CONSUMADO.
CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. IDADE DA VÍTIMA. MENOR DE 18
ANOS. ELEMENTO DO TIPO. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA.
REDIMENSIONAMENTO DA PENA.
1. Segundo precedentes desta Corte Superior, a tentativa é
compatível com o delito de homicídio praticado com dolo eventual, na
direção de veículo automotor.
[...]
5. Agravo regimental parcialmente provido" (AgRg no REsp
n. 1.322.788/SC, Sexta Turma, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe de
03/08/2015).

"PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFICADO PELO
PERIGO COMUM NA FORMA TENTADA. COMPATIBILIDADE
ENTRE O DOLO EVENTUAL E A MODALIDADE TENTADA DO
DELITO. ACÓRDÃO ESTADUAL EM HARMONIA COM A
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPERIOR. SÚMULA N. 83 DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ. SENTENÇA DE
PRONÚNCIA. PRETENSÃO DE EXCLUSÃO DE QUALIFICADORA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N. 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.
- Esta Corte Superior de Justiça já se posicionou no
sentido da compatibilidade entre o dolo eventual e o crime tentado.
(AgRg no REsp 1199947/DF, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma,
DJe 17/12/2012)
[...]
Agravo regimental desprovido" (AgRg no AREsp n.
608.605/MS, Sexta Turma, Rel. Min. Ericson Maranho - Desembargador
convocado do TJ/SP, DJe de 07/05/2015).
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"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PENAL


E PROCESSO PENAL. DECISÃO DE PRONÚNCIA. EXCESSO DE
LINGUAGEM. NÃO OCORRÊNCIA. COMPATIBILIDADE ENTRE
TENTATIVA E DOLO EVENTUAL. PRECEDENTES DESTA CORTE.
INEXISTÊNCIA DE PROVAS DA AUTORIA. COMPROVAÇÃO DO
DOLO. PRETENSÃO DE DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA.
EXCLUSÃO DE QUALIFICADORAS. REEXAME FÁTICO E
PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. A pronúncia não manifesta procedência da pretensão
punitiva, mas apenas viabiliza a competência do Tribunal do Júri para,
diante dos elementos probatórios, julgar o réu culpado ou inocente quanto
ao crime a ele imputado, ou mesmo submetê-lo a uma outra ordem de
imputação. Havendo grau de certeza razoável, isso é fator o bastante para
que seja remetido o feito ao Conselho de Sentença, onde a defesa poderá
exercer amplamente a tese contrária à imputação penal.
2. Quanto à questão relativa à compatibilidade entre o
dolo eventual e a tentativa, o acórdão recorrido firmou entendimento
consentâneo com a jurisprudência desta Corte acerca do tema, que em
algumas oportunidades assentou que a tentativa pode ser admitida pelo
dolo eventual, bastando a sua configuração no plano fático.
[...]
5. Agravo regimental improvido" (AgRg no REsp n.
1.405.123/SP, Sexta Turma, Relª. Minª. Maria Thereza de Assis Moura,
DJe de 04/02/2015).

Assim, considerando que o acórdão combatido está em desconformidade


com a jurisprudência desta Corte Superior de Justiça acerca do tema, incide a Súmula
568/STJ, que assim dispõe: "[o] relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de
Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso, quando houver entendimento
dominante acerca do tema".

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Ante o exposto, com fulcro no art. 255, § 4.º, inciso III, do Regimento Interno
do STJ, dou provimento ao recurso especial, para restabelecer a r. sentença de pronúncia.
P. e I.

Brasília (DF), 12 de fevereiro de 2019.

Ministro Felix Fischer


Relator

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