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Curso de Formação da Polícia Civil

Criminologia Aplicada à Segurança Pública


Isaias Antônio Novaes Gonçalves

2017
EXPEDIENTE

Governador de Pernambuco
Paulo Henrique Saraiva Câmara

Vice-governador de Pernambuco
Raul Jean Louis Henry Júnior

Secretário de Defesa Social


Antônio de Pádua Cavalcanti

Chefe da Polícia Civil


Joselito Kehrle do Amaral

Gerência da Polícia Científica


Sandra Maria dos Santos

Diretora da ACADEPOL
Sylvana Lellis

Coordenação
Antônio Flávio Pastick Rolim
Kassia Lúcia Vieira dos Santos

Revisão de Língua Portuguesa


Ana Lúcia Mongini
Ildefonso Antônio Gouveia Cavalcanti
Maria do Socorro Silva de Oliveira
Marta Cristiane Tomé Vieira

Diagramação
Andrea Sandra da Silva Sampaio
Catarina de Cássia Vieira Lira
Clayton Ferreira da Cunha
Jocelin Batista da Costa Júnior
Kassia Lúcia Vieira dos Santos
Rosemeri Soares

Instrutor Autor
Isaias Antônio Novaes Gonçalves

Setembro, 2017
Sumário
1 ESCOLA CLÁSSICA E IDEIA DE CRIME .......................................................................................... 5

2 CONCEITO BIOANTROPOLÓGICO DO CRIMINOSO ..................................................................... 6

3 TEORIAS DA “REAÇÃO SOCIAL” OU LABELING APPROACH ........................................................ 6

4 TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL. TEORIA DO CONTROLE SOCIAL. ............................................ 8

5 TEORIA DO AUTOCONTROLE ...................................................................................................... 8

6 TEORIA DA ANOMIA ................................................................................................................... 9

7 TEORIA DO APRENDIZADO SOCIAL OU TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL ........................ 9

8 OUTROS TEMAS RELEVANTES .................................................................................................. 14

9 TEORIA DA DESORGANIZAÇÃO SOCIAL .................................................................................... 14

10 OBRAS DESTACADAS PARA DEBATE EM SALA DE AULA .......................................................... 17


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1 ESCOLA CLÁSSICA E IDEIA DE CRIME

A escola liberal clássica não considerava o delinquente como um ser diferente dos outros, não
partia da hipótese de um rígido determinismo, sobre a base do qual a ciência tivesse por tarefa
uma pesquisa etiológica sobre a criminalidade, e se detinha principalmente sobre o delito,
entendido como conceito jurídico, isto é, como violação do direito e, também, daquele pacto
social que estava, segundo a filosofia política do liberalismo clássico, na base do Estado e do
direito. Como comportamento, o delito surgia da livre vontade do indivíduo, não de causas
patológicas, e por isso, do ponto de vista da liberdade e da responsabilidade moral pelas próprias
ações, o delinquente não era diferente, segundo à Escola clássica, do indivíduo normal.

Em consequência, o direito penal e a pena eram considerados pela Escola clássica não tanto como
meio para intervir sobre o sujeito delinquente, modificando-o, mas sobretudo como instrumento
legal para defender a sociedade do crime, criando, onde fosse necessário, um dissuasivo, ou seja,
uma contramotivação em face do crime. Os limites da cominação e da aplicação da sanção penal,
assim como as modalidades de exercício do poder punitivo do Estado, eram assinalados pela
necessidade ou utilidade da pena e pelo princípio da legalidade. (BARATTA, Alessandro.
Criminologia crítica e crítica do direito penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002. p. 31)

Releva salientar que na opinião de ZAFFARONI, não se pode dizer que existe uma Escola Clássica,
dadas as disparidades existentes entre os autores da época e a verdadeira inexistência de uma
corrente de pensamento organizada entre os doutrinadores, diferentemente do que ocorreu
com a chamada Escola Positiva, onde de fato havia uma linha de pensamento e de política entre
Lombroso, Ferri e Garofalo.

Da assim chamada escola clássica pode-se citar autores como Jeremy Bentham, Beccaria e
Feuerbach.

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2 CONCEITO BIOANTROPOLÓGICO DO CRIMINOSO

O conceito bioantropológico do criminoso está ligado à Escola Positiva, a qual se propunha a


elevar o estudo do delito à categoria de ciência, trazendo para este ramo o método científico.

O delito era considerado mera expressão humana, concepção esta que se baseava numa ideia
determinista da realidade. Lombroso considerava o delito como um ente natural, “um fenômeno
necessário, como o nascimento, a morte, a concepção”, determinado por causas biológicas de
natureza sobretudo hereditária. (BARATTA, op. cit.)

Essa concepção foi fortalecida pela obra de Garofalo, com a acentuação dos fatores psicológicos
e por Ferri, que por sua vez focou nos fatores sociológicos.
“O sistema penal se fundamenta, pois, na concepção da Escola positiva, não
tanto sobre o delito e sobre a classificação das ações delituosas, consideradas
abstratamente e independentes da personalidade do delinquente, quanto sobre
o autor do delito, e sobre a classificação tipológica dos autores.
Esta orientação de pensamento buscava, de fato, a explicação da criminalidade
na ‘diversidade’ ou anomalia dos autores de comportamentos criminalizados.”
(BARATTA, op. cit. P. 39)

3 TEORIAS DA “REAÇÃO SOCIAL” OU LABELING APPROACH

Esta direção de pesquisa parte da consideração de que não se pode compreender a criminalidade
se não se estuda a ação do sistema penal, que a define e reage contra ela, começando pelas
normas abstratas até a ação das instâncias oficiais (polícia, juízes, instituições penitenciárias que
as aplicam), e que, por isso, o status social do delinquente pressupõe, necessariamente, o efeito
da atividade das instâncias oficiais de controle social da delinquência, enquanto não adquire esse
status aquele que, apesar de ter realizado o mesmo comportamento punível, não é alcançado,
todavia, pela ação daquelas instâncias. Portanto, este não é considerado e tratado pela
sociedade como “delinquente”. Nesse sentido, o labeling approach tem se ocupado
principalmente com as reações das instâncias oficiais de controle social, consideradas na sua
função constitutiva em face da criminalidade. Sob este ponto de vista tem estudado o efeito

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estigmatizante da atividade da polícia, dos órgãos de acusação pública e dos juízes. (BARATTA,
op. cit. P. 86)
Escola de Chicago.
Interacionismo simbólico – George Mead.
Etnometodologia – Alfred Schutz
Os criminólogos tradicionais examinam problemas do tipo “quem é criminoso?”, “como se torna
desviante?”, “em quais condições um condenado se torna reincidente?”, “com que meios se
pode exercer controle sobre o criminoso?”. Ao contrário, os interacionistas, como em geral os
autores que se inspiram no labeling approach, se perguntam: “quem é definido como
desviante?”, “que efeito decorre desta definição sobre o indivíduo?”, “em que condições este
indivíduo pode se tornar objeto de uma definição?” e, enfim, “quem define quem?” (BARATTA,
op. cit. P. 88)
Howard S. Becker: Outsiders. Estudos de sociologia do Desvio.
O que são comportamentos socialmente negativos? Quem são os outsiders?
Aquele que infringe a regra pode pensar que seus juízes são outsiders.
Grupos sociais criam desvio ao fazer regras cuja infração constitui desvio, e ao aplicar essas regras
a pessoas particulares e rotulá-las como outsiders. (...) o desvio não é uma qualidade simples,
presente e alguns tipos de comportamento e ausente em outros. É antes o produto de um
processo que envolve reações de outras pessoas ao comportamento. (...) Desvio não é uma
qualidade que reside no próprio comportamento, mas na interação entre a pessoa que comete
um ato e aquelas que reagem a ele.

O aspecto mais importante é que o desvio em relação a certas normas pode ocorrer não porque
as normas sejam rejeitadas, mas porque outras normas, consideradas mais prementes ou
envolvendo maior liberdade, ganham precedência.
Uma pessoa se sentirá livre para usar maconha à medida que passe a considerar
as concepções convencionais sobre ela como as ideias mal fundamentadas de
outsiders e as substitua pela visão “inside” que adquiriu por meio de sua
experiência com a droga na companhia de outros usuários. (BECKER, Howard.
Outsiders. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008)

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4 TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL. TEORIA DO CONTROLE SOCIAL.

Condições socioeconômicas ou capacidade punitiva do Estado? O que, afinal, determina o crime?


Gary Becker escapou dessa armadilha teórica ao reconhecer que ambos os fatores podem influir
sobre a incidência da criminalidade. O criminoso é um indivíduo racional que faz escolhas morais
ao longo da vida de acordo com cálculos custo/benefício. Os adeptos de várias teorias partem da
premissa de que o ser humano, ao fazer escolhas em sua vida, prioriza ganhos e benefícios que
dizem respeito a seus desejos e valores, ao mesmo tempo em que tenta reduzir as perdas,
dificuldades e eventuais punições. Todos queremos satisfação e prazer e evitamos sofrimentos e
frustrações. Se um ato criminoso será cometido ou não, dependerá diretamente desses cálculos.

Conforme apontado por Becker, dois conjuntos de fatores condicionam o comportamento do


potencial criminoso:
1) Os que estimulam o crime, oferecendo benefícios e ganhos com a atividade criminosa,
incluindo no cálculo as perdas e dificuldades encontradas no mercado de trabalho;
2) Os que inibem o crime, elevando os custos para burlar a lei, como a eficiência do aparelho
policial, a probabilidade de punição e a severidade das penas. (SAPORI, Luis Flávio. Por que cresce
a violência no Brasil? Belo Horizonte: Autêntica Editora: Editora PUC Minas, 2014. pp. 53-54)

5 TEORIA DO AUTOCONTROLE

A família é relevante na explicação do comportamento criminoso, especialmente na ótica da


teoria do autocontrole. Para Gottfredson e Hirschi, os indivíduos diferem quanto à capacidade
de resistir às tentações do crime. Os atos criminais não requerem habilidades específicas nem
necessidades e motivações singulares: todos os indivíduos são susceptíveis ao crime. Em outras
palavras, qualquer um de nós está sujeito a adotar comportamentos criminosos. Tanto os
indivíduos ditos normais quanto os ditos criminosos são caracterizados por motivações sociais e
antissociais. São muito mais parecidos do que se supõe.
O crime resultaria do baixo autocontrole: ele facilita a gratificação imediata e fácil de desejos dos
indivíduos incapazes de postergar gratificações. Os benefícios de médio e longo prazo seriam

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rechaçados. O crime é excitante, arriscado e não requer planejamento ou habilidades específicas,
mas requer ausência de empatia pela vítima. Em suma, indivíduos com baixo autocontrole
tenderiam a ser mais impulsivos, insensíveis ao outro, atraídos pelo risco, com racionalidade de
curto prazo, mais física do que verbal. (SAPORI, Luis Flávio. Por que cresce a violência no Brasil?
Belo Horizonte: Autêntica Editora: Editora PUC Minas, 2014. pp. 45-46)

6 TEORIA DA ANOMIA

No âmbito das teorias mais propriamente sociológicas, o princípio do bem e do mal foi posto em
dúvida pela teoria estrutural-funcionalista da anomia e da criminalidade. Esta teoria, introduzida
pelas obras clássicas de Emile Durkheim e desenvolvida por Robert Merton, representa a virada
em direção sociológica efetuada pela criminologia contemporânea. Constitui a primeira
alternativa clássica à concepção dos caracteres diferenciais biopsicológicos do delinquente e, por
consequência, à variante positivista do princípio do bem e do mal.
A teoria estrutural-funcionalista da anomia e da criminalidade afirma:
1) As causas do desvio não devem ser pesquisadas nem em fatores bioantropológicos e naturais
(clima, raça), nem em uma situação patológica da estrutura social.
2) O desvio é um fenômeno normal de toda estrutura social.
3) Somente quando são ultrapassados determinados limites, o fenômeno do desvio é negativo
para a existência e o desenvolvimento da estrutura social, seguindo-se um estado de
desorganização, no qual todo o sistema de regras de conduta perde valor, enquanto um novo
sistema ainda não se afirmou (esta é a situação de ‘anomia’). Ao contrário, dentro de seus limites
funcionais, o comportamento desviante é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o
desenvolvimento sociocultural. (BARATTA, op. cit. P. 59-60)

7 TEORIA DO APRENDIZADO SOCIAL OU TEORIA DA ASSOCIAÇÃO


DIFERENCIAL

Criminologia Aplicada aos Crimes Econômicos

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Durante décadas a criminologia buscou explicar as razões pelas quais os indivíduos cometiam
crimes, passando por diversos estágios dessa análise, desde o biológico até o social-determinista.
Ocorre que sempre a preocupação dos criminólogos foi com o crime comum, como homicídio,
roubo, estupro, deixando de lado a criminalidade econômica, mais complexa de ser analisada.
Este paradigma foi rompido com os estudos de Edwin Sutherland (1883-1950), apresentado
inicialmente em 27 de dezembro de 1939 no 34º encontro anual da American Sociological Society
e publicado no ano seguinte em artigo intitulado White-Collar Criminality.

Os anos 20 e 30 foram especialmente distintos na história criminal americana, tendo Al Capone


sido o maior nome do período, com repercussão cultural nas décadas seguintes. Capone era o
típico criminoso do colarinho-branco.

Sutherland criticava a forma pela qual a criminologia deixava de lado a criminalidade econômica.
Para ele, essa cegueira parcial era proposital, e isso gerava uma compreensão equivocada do
fenômeno da criminalidade. Sua ideia, então, foi demonstrar estatisticamente a enorme
quantidade de delitos empresariais ocorridos nos EUA e de que maneira as cortes costumavam
decidir sobre os casos.
“Quando o estigma de crime é imposto como penalidade, ele põe o condenado
dentro do estereótipo popular de ‘criminoso’. Na sociedade primitiva ‘o
criminoso’ era substancialmente o mesmo que ‘o estrangeiro’, enquanto que na
sociedade moderna o estereótipo está limitado principalmente às classes
socioeconômicas mais baixas.” (SUTHERLAND, Edwin. H. Crime de colarinho
branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan, 2015. p. 97)
“O ponto mais significativo da diferença (entre crime do colarinho branco e o
roubo profissional) está nas concepções que ons infratores têm de si mesmos e
nas concepções da opinião pública acerca deles. O ladrão profissional concebe
a si mesmo como um criminoso e é assim considerado pelo público em geral.
Uma vez que ele não tem nenhum desejo de sustentar uma reputação pública
favorável, orgulha-se de sua reputação como criminoso. O homem de negócios,
por outro lado, se enxerga como um cidadão respeitável e, normalmente,
também é assim considerado pelo público em geral. Este problema da
concepção de si mesmo como um criminoso é uma questão de suma
importância para a Criminologia.” (SUTHERLAND, Edwin. H. Crime de colarinho
branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan, 2015. p. 338)
Homens de negócio desenvolvem raciocínios que são projetados para esconder
atos criminosos. Fraudes publicitárias são racionalizadas pela afirmação de que
cada um valoriza da melhor forma possível seus produtos. Homens de negócio
sempre combatem palavras que tendem a quebrar esta racionalização. (...)

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Com o mesmo objetivo de proteger suas reputações, as organizações
empresariais têm trabalhado por uma modificação das leis que se aplicam a eles.
Eles não querem ser presos por policiais, levados perante a justiça criminal, e
condenados por crimes. Alternativas para tais procedimentos foram
encontradas, tal como a ordem de prestar depoimento, o uso de procedimentos
administrativos, bem como o uso de ordens de paralização. A semelhança
essencial entre crimes de colarinho branco e outros crimes foi parcialmente
encoberta por esta variação nos métodos oficiais de lidar com a ilicitude.
(SUTHERLAND, Edwin. H. Crime de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de
Janeiro: Revan, 2015. p. 341-342)

Aspectos da racionalidade da sociedade em relação ao comportamento ilegal:


- Crimes que envolvem menor risco de descoberta e identificação, bem como vítimas que estão
menos propensas a contestar;
- Escolha de crimes em que a produção de prova é de difícil;
- A empresa racional adota “mecanismos de solução”.

Teoria da associação diferencial – Originalmente desenvolvida por Grabriel Tarde, mas tornada
conhecida por Sutherland.
A hipótese da associação diferencial indica que o comportamento criminoso é
aprendido em associação com aqueles que definem de forma favorável tal
comportamento criminoso e em isolamento daqueles que o definem de forma
desfavorável. A pessoa em uma situação apropriada se engaja em tal
comportamento criminoso se, e somente se, o peso das definições favoráveis
excede o peso das definições desfavoráveis. Certamente essa hipótese não é
uma explicação completa e universal dos crimes de colarinho branco ou de outo
tipo de crime, mas talvez se ajuste aos dados de ambos os tipos de crimes
melhor do que qualquer outra hipótese geral. (SUTHERLAND, Edwin. H. Crime
de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan, 2015. p. 351)

a) A conduta criminosa se aprende; não é herdada.


b) O aprendizado se produz por interação com outras pessoas em um processo de comunicação.
c) A parte mais importante do aprendizado tem lugar dentro dos grupos pessoais íntimos.
d) Quando comportamento criminal é aprendido, o aprendizado inclui (a) técnicas de
cometimento de crime, que por vezes são muito complicadas e outras vezes muito simples; (b)
as específicas direções de motivos, determinações, racionalizações e atitudes.
e) A direção específica dos motivos e impulsos se aprende de definições favoráveis ou
desfavoráveis a elas.

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f) Uma pessoa se torna delinquente por efeito de um excesso de definições favoráveis à violação
da lei, que predominam sobre as definições desfavoráveis a essa violação.
g) As associações diferenciais podem variar tanto em frequência como em prioridade, duração
e intensidade.
h) O processo de aprendizagem do comportamento criminoso por meio da associação com
pautas criminais e anticriminais compreende os mesmos mecanismos abrangidos por qualquer
outra aprendizagem.
i) Se o comportamento criminoso é expressão de necessidades e valores gerais, não se explica
por estes, posto que o comportamento não criminoso também é expressão dos mesmo valores.
(SUTHERLAND, Edwin. H. Crime de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan,
2015.)

“A lei é como uma teia de aranha; feita para as moscas e pequenos insetos, por assim dizer, mas
deixa os grandes zangões passarem. Quando tecnicidades da lei estão no meu caminho, sempre
consegui apagá-las facilmente.” Relato de um especulador para Sutherland.
“O custo financeiro dos crime do colarinho branco é provavelmente muitas
vezes maior que o custo de todos os crimes que são costumeiramente incluídos
na rubrica ‘crime problema’. (...) A perda financeira do crime do colarinho
branco, mesmo sendo enorme, é menos importante que o dano às relações
sociais. Crimes do colarinho branco violam a confiança e com isso criam
desconfiança, o que diminui a moral social e produz desorganização social em
grande escala. Outros crimes produzem relativamente menor efeito nas
instituições sociais e na organização social.” (SUTHERLAND, Edwin. White-Collar
Criminality. In GEIS, MEIER and SALINGER. White-Collar Crime. Classic and
Contemporary Views. New York: The Free Press, 1995)

Crimes do colarinho branco X Crime Organizado: o caso Lava-Jato

Crimes do colarinho branco X corrupção pública e privada. Exemplos da indústria farmacêutica.


Pesquisa de Peter Gotzsche.

Preocupação da INTERPOL em recente relatório:


https://www.interpol.int/Media/Files/Crime-areas/Pharmaceutical-crime/Pharmaceutical-Crime-and-
Organized-Criminal-Groups

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Máfia das próteses. Relatório da CPI:
http://www.al.rs.gov.br/download/CPI_Pr%C3%B3teses/ANEXO_PR_0006_2016_1.pdf

É necessária a tipificação do crime de corrupção privada, como existe na Alemanha e na Espanha?

Irresponsabilidade organizada (Ulrich Beck): como responsabilizar empresários e entes privados?


Responsabilização da PJ? A evolução do direito penal como solução.

“Ainda não existe Prêmio Nobel de criminologia, e provavelmente nunca haverá, mas Sutherland
seria um dos candidatos mais merecedores pelo seu trabalho.” Hermann Mannheim.

James William Coleman enumera diversas técnicas de neutralização empregadas por criminosos
do colarinho branco:
- Um argumento comum é o de que o crime não teria lesado ninguém. Quando o sujeito passivo
é uma entidade abstrata ou quando o bem jurídico atingido sofre de alguma indeterminação,
como a política econômica ou a administração da justiça, o criminoso pode ver-se tentado a
empregar argumento da espécie;
- Outro consiste na reclamação de que a norma violada é injusta ou desnecessária, constituindo,
por exemplo, uma restrição arbitrária à livre empresa;
- Alguns criminosos justificam seus atos argumentando que a conduta teria sido necessária para
a sobrevivência no emprego ou no cargo ou para atingir objetivos econômicos vitais. Essa espécie
de argumento pode ser comumente utilizada por empregados com base nas expectativas de seus
empregadores;
- Um argumento importante faz referência ao padrão do comportamento comum. “Todos os
outros estão fazendo” é a alegação usual. Um ambiente corrupto ou criminoso diminui os custos
morais da corrupcão ou do crime. (MORO, Sergio. Crime de Lavagem de Dinheiro. São Paulo:
Saraiva, 2010. p. 76-77).

Leitura sugerida:
https://escola.mpu.mp.br/publicacoes/obras-avulsas/e-books/inovacoes-no-direito-penal-economico-
contribuicoes-criminologicas-politico-criminais-e-dogmaticas

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http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/article/viewFile/28342/20495

8 OUTROS TEMAS RELEVANTES

O conhecimento criminológico contemporâneo tem cada vez mais fugido do debate entre
“escolas” e focado em temas específicos, os quais fazem ou devem fazer parte do espectro de
assuntos que envolvem a análise da atividade criminal. Com isso, a criminologia tem estado
aberta cada vez mais a outras áreas do conhecimento.
Um dos principais focos, entretanto, continua sendo a explicação da criminalidade urbana
violenta, na busca de identificar as suas causas e, principalmente, apontar soluções. Nesse
aspecto, pode-se afirmar que a maior descoberta da criminologia é a de que não existe causa
única para o fenômeno da criminalidade e que qualquer solução simplista deixará de lado vetores
essenciais para a compreensão da realidade.
Por exemplo, é comum encontrar pesquisas avaliando o impacto na violência urbana do tráfico
de drogas, das relações sociais de poder, de fatores urbanísticos, organizacionais, legislativos,
judiciais, neurociências, economia comportamental, e até mesmo da consolidação de grupos
criminosos organizados no poder.
Esses temas são tão relevantes que tem sido trazidos constantemente aos debates eleitorais,
podendo-se dizer que uma solução eficaz para a redução da criminalidade urbana seria o
verdadeiro graal dos projetos políticos eleitorais, bastando verificar o que se tornou o programa
Tolerância Zero de Nova York.

9 TEORIA DA DESORGANIZAÇÃO SOCIAL

A elevação dos níveis de criminalidade observada nos Estados Unidos na década de 80 fez com
que surgissem ali diversos estudos e análises a partir dos quais acreditava-se ser possível elaborar
políticas públicas de restauração da ordem social. Como não poderia deixar de ser, a imprensa
marrom tratou de superdimensionar a realidade, insistindo em transmitir ao seu público que
aquela violência estava mais próxima do que ele pensava, tornando cada “cidadão de bem” uma

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vítima em potencial. Aproveitando o embalo, não faltaram pseudocientistas sociais e think tanks
que afirmavam ter a solução para todos os problemas da crescente incivilidade.

Este caldeirão foi o perfeito ambiente para que políticos utilizassem a guerra ao crime como
forma de alcançar elevados índices de popularidade. O grande vilão escolhido, responsável por
todos os males da época desde a destruição de famílias cristãs até a pichação de prédios públicos
foi o tráfico e o consumo de drogas. A guerra às drogas encabeçada por Ronald Reagan é um
exemplo do que acabei de relatar. Segundo Antonio Escohotado, o combate às drogas tornou-se
uma verdadeira cruzada:
Tratado General de las Drogas, p. 18.
“(...) a delinquência ligada direta ou indiretamente a drogas ilícitas constitui o
capítulo penal singular mais importante em grande parte dos países do mundo
e, desde logo, no que se chamam avançados, onde alcança quotas próximas a
três quartos de todos os reclusos. Nos séculos XVIII e XIX o equivalente a esta
proporção correspondia à dissidência política, e do XIV a XVII à dissidência
religiosa.”

Ainda em 1982, James Q. Wilson e George Kelling lançaram um artigo em uma revista mensal
sobre a conhecida teoria das janelas quebradas. Longe de ser um estudo científico sobre o tema,
a “teoria” afirmava que a repressão a pequenos crimes evita que os maiores venham a ocorrer.
Com base neste e em outros “estudos” realizados na era Reagan, o chefe da polícia de Nova
Iorque William Bratton, durante o mandato de Rudolph Giuliani, institui na cidade o programa
Tolerância Zero.

O que nem todos sabem é que não é possível comprovar que o Tolerância Zero foi o responsável
pelo decréscimo tão festejado. Pelo contrário, segundo o sociólogo francês Loïc Wacquant,
notável crítico da política nova-iorquina de combate ao crime, é possível provar que o Tolerância
Zero não foi o responsável pela diminuição das taxas de crime. Segundo o sociólogo, a primeira
prova é que a diminuição da violência criminal registrada em Nova Iorque iniciou três anos antes
de Giuliani chegar ao poder, no final de 1993, e continuou no mesmo ritmo de decréscimo
durante o seu mandato.

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Outra prova é que outras cidades que não aplicaram o tolerância zero, incluindo aqui as que
utilizaram a polícia comunitária, tiveram suas taxas de criminalidade reduzidas no mesmo
período. Segundo o criminologista Alfred Blumstein, citado por Benoni Belli (BELLI. Benoni.
Tolerância Zero e Democracia no Brasil. P.73.), no período entre 1991 e 1998 a taxa de homicídios
caiu 76% em San Diego, 70,6% em Nova Iorque e 69,3% em Boston. Sendo dado curioso que essas
três cidades adotara vias totalmente distintas para o combate ao crime, como o policiamento
comunitário em San Diego e o envolvimento de líderes religiosos em Boston.
A terceira prova seria que já em 1984, o prefeito de Nova Iorque David Dinkins colocou em ação
um programa já parecido com o tolerância zero, chamado “Operação Ponto de Pressão”, que
experimentou na verdade um aumento pronunciado na violência, sobretudo homicídios.

Para explicar o declínio da violência na década de 90, Wacquant propõe outras razões: o
crescimento econômico, a reestruturação do comércio de drogas nas ruas, o encolhimento da
presença numérica de adultos jovens das classes menos favorecidas, o efeito-aprendizagem
geracional, os esforços de prevenção de organizações baseadas na comunidade, bem como a
evolução cíclica de longo prazo da taxa de homicídios. (WACQUANT. Loic. Punir os Pobres. A nova
gestão da miséria nos Estados Unidos. P. 419 – 421.)

Estabilização no Mercado de Drogas

Segundo Wacquant, baseado em um estudo do antropólogo Philippe Bourgois, houve uma dupla
transformação da economia da droga. Em primeiro lugar:
“a venda no atacado de crack nos bairros deserdados se estruturou e se
estabilizou, enquanto o recurso à violência como instrumento de regulação da
competição entre gangues rivais recuou bruscamente. No final dos anos 1980,
esse comércio conhecera um crescimento explosivo e, como as barreiras ao
ingresso eram virtualmente inexistentes, novos empreendedores, quase
sempre jovens e autônomos, apareciam sem cessar para se dedicar a guerras
mortíferas. Em 1991, 670 dos 2.161 homicídios registrados em Nova Iorque
estavam ligados ao tráfico de entorpecentes. Dez anos depois, a demanda se
acalmou e o setor foi ‘oligopolizado’, de tal modo que o número de
revendedores baixou e as relações entre eles são menos conflituosas. Isso
traduziu-se por uma vertiginosa queda no número de homicídios ligados à droga
– ficou abaixo da marca dos 100 em 1998 -, já que a maior parte dessa violência
criminosa de rua é uma violência entre criminosos.”

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O autor foi o primeiro antropólogo a adquirir a confiança de traficantes e
permanecer no interior de uma quadrilha por alguns anos analisando as relações
econômicas e interpessoais ali existentes, lançando o estudo In Search of
Respect: Selling Crack in El Barrio. (WACQUANT, Loic. Punir os Pobres: a onda
punitiva. Rio de Janeiro: Revan, 2007. p. 423 e 424.)

Impacto do Encarceramento

Diversos estudos foram realizados principalmente nos Estados Unidos para saber até que ponto
o encarceramento ajudou a reduzir a criminalidade. Como parece óbvio, os resultados apontam
que a pena de prisão nos Estados Unidos é possivelmente responsável parcial pela redução, no
entanto, a magnitude do efeito varia consideravelmente de estudo para estudo. Apenas para
citar alguns exemplos, os estudos citados por ROSENFELD demonstram que para cada 10% de
aumento da população carcerária, a redução no número de homicídios seria entre 10 e 20%.
(Patterns in addult homicide: 1980 – 1995. In. Crime Drop In America, 2006. P. 143 e ss. Richard
Rosenfeld. P. 151.)

Já ARIZA traz números menos encantadores. O autor espanhol cita pesquisas americanas que
apontam para uma redução de 4 a 5% de redução da delinquência para cada 10% de aumento
do número de presos. Já as pesquisas mais otimistas dão conta que o mesmo aumento de 10%
repercute 25% do total da redução, ou seja, restam 75% que foram obtidos por outros meios. O
que os dois autores citados e aqueles que eles citaram são unânimes é que o custo de reduzir
homicídios aumentando o encarceramento é muito alto, além das consequências sociais graves
a curto e médio prazo, por todos já conhecida. (ARIZA, Juanjo Medina. Políticas y estrategias de
Prevención del delito y Seguridad Ciudadana. 2011. P. 122.)

10 OBRAS DESTACADAS PARA DEBATE EM SALA DE AULA

Estudos urbanísticos e sociológicos:


Cidade de Muros – Teresa Pires do Rio Caldeira
Tempos Líquidos – Zygmunt Bauman
Organizacionais:
O homem X – Bruno Paes Manso

Rua Tabira, 160 - Boa Vista - Recife - PE http://ead.acadepol.sds.pe.gov.br 17


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Polícia e Tortura no Brasil: Conhecendo a caixa das maçãs podres – Marcelo Barros
Psicologia coletiva:
Linchamentos. A justiça Popular no Brasil – José de Souza Martins
Políticas Públicas:
Por que cresce a violência no Brasil? – Luís Flávio Sapori e Gláucio Ary Dillon Soares
Neurociências:
Incógnito: as vidas secretas do cérebro – David Eagleman

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18 ACADEPOL – Academia de Polícia Civil
Rua Tabira, 160 - Boa Vista - Recife - PE http://ead.acadepol.sds.pe.gov.br 19

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