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30 de Janeiro de 2021

Modelos Sociológicos (Sociologia Criminal) - Parte XIX

Visando a divulgar a moderna Criminologia no Brasil, passamos a


publicar nesta seção alguns trechos do livro Criminologia, de autoria de
Antonio García-Pablos de Molina e do Dr. Luiz Flávio Gomes (5.ed.rev.
e atual.- São Paulo: Revista dos Tribinais, 2007.

2) Das teorias ecléticas citadas por Garrido Genovés e outros cabe


destacar aqui a do padrão delitivo de Brantingham e Brantingham, por
que a do autocontrole de Gottfredson e Hirschi[ 259 ] e a life course
theory de Farrington[ 260 ] fez menção noutros lugares desta obra a
propósito das teorias do controle e as da Criminologia do
desenvolvimento, respectivamente. Basta agora recordar que a teoria
do auto-controle de Gottfredson e Hirschi é eclética por que combina
conceitos das perspectivas biossociais, psicológicas, das atividades
rotineiras e da eleição racional.[ 261 ] E a de Farrington, porque admite
a relevância de uma rica gama de fatores estruturais, biológicos,
psicológicos que interagiriam com o fator oportunidade de forma
dinâmica e mutante nas diversas etapas da vida do indivíduo.[ 262 ]

A teoria multifatorial ou ecléctica do padrão delitivo, de Brantingham e


Brantingham trata de integrar as teorias do ambiente físico (é,
definitivamente, uma teoria meio ambiental) e a motivação do
delinqüente. Insere no março das teorias situacionais e meio
ambientais, os autores, sem depreciar a relevância de outros muitos
fatores na gênese do delito, colocam especial ênfase em explicar por
que o entorno físico-espacial, as pautas sociais e o comportamento das
/
próprias vítimas incrementam as oportunidades de delinqüir.[ 263 ]
Para Brantingham e Brantingham, dado que a maior parte dos delitos
são produto de uma decisão racional, os fatores situacionais tornam-se
determinantes para a opção delitiva. Por isso, as atividades rotineiras
da população (estilo de vida, organização do trabalho, do ócio, das
atividades cotidianas) permitem explicar o nível e perfil da
criminalidade de que esta padece. A mera disposição ou motivação do
indivíduo constitui o ponto de partida, mas não é suficiente se o
infrator não conta com a oportunidade idônea para delinqüir. Suas
atividades rotineiras, cotidianas, o depararão com esta; e sua
experiência, o roteiro necessário para buscar a vítima propícia e o
modus operandi. Depois, bastaria com um sucesso que desencadeia o
passo à ação (vg., interar-se por terceiros de detalhes da casa da vítima
etc.).[ 264 ]

A teoria do entorno físico de Brantingham e Brantingham difere das


precedentes teorias ecológicas e espaciais em que não relaciona o delito
com áreas ou zonas geográficas amplas da cidade senão com lugares e
espaços concretos. Ela se interessa pelas características destes lugares,
movimentos das pessoas que fazem coincidir nos mesmos a ofensores e
vítimas e as percepções que os cidadãos tem destes lugares.[ 265 ]
Como os teóricos da oportunidade, não trata esta teoria de investigar
as causas pelas quais o delinqüente tenha se predisposto, decidido ou
motivado para infringir a lei. Não se interessa por este primeiro vão do
iter crimis que, portanto, permanece aberto às explicações de qualquer
teoria etiológica convencional. O que sublinha a teoria do entorno
físico de Brantingham e Brantingham é que na decisão criminal (que
não se toma no momento ou instante, senão que é produto de um
verdadeiro processo) certos lugares e espaços propiciam a
oportunidade que o infrator percebe como idônea para atuar. Os
autores se referem, por isso, a uma "interação entre a oportunidade e a
motivação",[ 266 ] no sentido de que esta última não basta para que o
delito chegue a ser cometido: o delito não seria resultado direto e
imediato da motivação do infrator.[ 267 ] Seguindo estas premissas,
Brantingham e Brantingham concluem que os lugares mais idôneos
podem ser os próximos à residência do infrator; aqueles pelos quais
este passa muitas vezes e conhece bem ou com os que está mais
/
familiarizado; os mais transitados e concorridos, que trazem melhores
oportunidades (centro das cidades, complexos de ócio, bairros chineses
etc.). [ 268 ]

Em um sentido semelhante, Van Dijk[ 269 ]considera que o delito é


produto da interação entre a oferta das vítimas, como provedores
involuntários de oportunidades delitivas, e a demanda dos
delinqüentes já motivados que reclamam uma ganância ilegal. Tanto a
oferta como a demanda seriam magnitudes com certa elasticidade,
segundo o autor. A oferta de oportunidades delitivas variaria em
função do grau de vigilância formal e informal e do volume e
características dos bens e mercadorias que se exibem no mercado. A
demanda, por sua vez, pode incrementar-se pelo aumento da miséria,
das diferenças sociais, ou pelo desemprego crônico em um
determinado momento histórico.

As críticas que se formularam contra as teorias analisadas e outras


afins se analisam a propósito da prevenção situacional que, em média,
se organizam.[ 270 ]

3) Dos modelos integrados, em sentido estrito, destaca a formulação


de Elliot, que combina - em nível individual - três teorias clássicas
fundamentais: a do controle social, a da frustração e a da
aprendizagem (versão: associação diferencial)[ 271 ] O mérito desta
nova teoria reside em seu respaldo empírico e no esforço por integrar
princípios que se consideravam antagônicos, assim como por haver
aberto o caminho a outros possíveis enfoques como o dos fatores de
risco.[ 272 ]

O modelo modificado de controle social-desorganização social de Elliot


integra os elementos das teorias do controle da frustração e da
aprendizagem de forma seqüencial.[ 273 ]Parte da existência de
controles sociais dos indivíduos débeis por razão de sua inadequada
socialização assim como pela frustração. Esta última favorece a
delinqüência de duas formas: de forma indireta, ao debilitar os
vínculos sociais, mas também diretamente.[ 274 ] Segundo o autor, ao
debilitarem-se os vínculos sociais do indivíduo, este tende a freqüentar /
grupos de iguais favoráveis aos atos delitivos ou anti-sociais, e a se
relacionar com isso. De modo que no modelo integrado de Elliot a
delinqüência é o resultado da conjunção de vínculos débeis a pessoas e
grupos desviados.[ 275 ] Não obstante, Elliot aceita a possibilidade de
que tanto a frustração, em si mesma, como a debilidade dos controles
sociais influam de forma direta na gênese do comportamento delitivo,
se bem com menor intensidade.[ 276 ] Da investigação empírica que
Elliot levou a cabo, deduziu o autor duas conseqüências: que tendiam a
delinqüir mais aqueles com vínculos sociais débeis e aqueles com
vínculos sólidos com pares delinqüentes; e que a relação entre ambas
variáveis era condicional.[ 277 ]Isto implica, segundo Elliot, o seguinte:
em primeiro lugar, que relacionar-se com iguais delinqüentes propicia
o comportamento delitivo, mas somente quando o vínculo do sujeito a
grupos ou atividades convencionais é débil. Nisso coincide Elliot,
parcialmente, com a teoria da associação diferencial e se distancia
daquela do controle clássica: qualquer um pode levar a cabo um delito
isolado, mas manter a longo prazo o comportamento criminal requer
um apoio de grupo (associação diferencial); agora, a relevância
criminógena do apoio do grupo de iguais depende de que não existam
controles sociais informais - vínculos sociais sólidos - que previnam o
delito (teoria clássica do controle). Em segundo lugar, que os
indivíduos com uma vinculação débil a iguais delinqüentes tendem a
delinqüir pouco com independência de que o vínculo dos mesmos a
grupos e atividades convencionais seja sólida ou escassa; tese que
aproxima, de novo, a de Elliot à da associação diferencial,
distanciando-a daquela do controle.[ 278 ]

259. Vide abaixo, neste mesmo capítulo, explicações sociológicas, 2, F,


f' (revisões atuais das teorias do controle), reservado a).

260. Vide abaixo, neste mesmo capítulo, apartado C ("enfoques


dinâmicos"), c'(Criminologia do desenvolvimento), in fine.

261. Desta forma, Garrido Genovés, V. et al Prin¬cipios... cit., p. 404.

/
262. Idem, p. 307. Precisamente porque, no meu ver, o autor insere o
estudo dos diversos fatores relevantes na gênese do comportamento
delitivo no curso da vida, dinâmica e mutante, do indivíduo optou por
estudar a teoria de Farrington a propósito dos modelos dinâmicos e da
Crimi¬nologia do desenvolvimento.

263. Idem, p. 398.

264. Idem, p. 399-401.

265. Brantingham, P. J. e Brantingham, P. L. Intro¬duction: the


dimensions of crime. In: Bran¬tingham, P. J.; Brantingham, P. L.
(edit.) Envi¬ronmental criminology, 1981, p. 21 e ss.; dos mesmos:
Environment, routine and situation. Towards a pattern theory of crime.
In: Clarke, R. Routine, activity and rational choice, 1994. Cf . Serrano
Maillo, A. Introducción... cit., p. 270 e ss.

266. Brantingham, P. J. e Brantingham, P. L. Intro¬duction: the


dimensions of crime cit., p. 28 e ss. Cf . Serrano Maillo, A.
Introducción... cit., p. 271.

267. Brantingham, P. J. e Brantingham, P. L. Intro¬duction: the


dimensions of crime cit., p. 48. Cf . Serrano Maillo, A. Introducción...
cit., p. 271.

268. Brantingham, P. J. e Brantingham, P. L., Intro¬duction: the


dimensions of crime cit., p. 30 e ss. Cf . Serrano Maillo, A.
Introducción... cit., p. 271.

269. Van Dijk, J. J. M. Undezstanding crime rates: On interactions


between rational Choices of victims and offenders, The British Journal
of Criminology, n. 34, 1994, p. 105 e ss. Cf . Garrido Genovés, V. et al
Principios... cit., p. 403.

270. Vide Parte Quarta desta obra, III.C.

/
271. Elliot, D. S. The assumption that theories can be combined; Elliot,
D. S., Huiznga, D. e Ageton, S. S. Explaining delinquency and drug use,
1985, p. 11 e ss. (obra citada no texto, ainda que se faça referência
somente a Elliot).

272.Vide Serrano Maillo, A. Introduccíon... cit., p. 368 e ss.

273. Idem, p. 369.

274. Elliot, D. S., Huizinga, D. e Ageton, S. S. Ex¬plaining delinquency


and drug use cit., p. 17 e ss. Cf . Serrano Maillo, A. Introduccíon? cit., p.
369.

275. Elliot, D. S., Huizinga, D. e Ageton, S. S. Ex¬plaining delinquency


and drug use cit., p. 38 e ss. Cf . Serrano Maillo, A. Introduccíon? cit.,
p. 369.

276. Idem. 277 Elliot, D. S., Huizinga, D. e Ageton, S. S. Ex¬plaining


delinquency and drug use cit. Cf . Serrano Maillo, A. Introduccíon...
cit., p. 370.

277. Elliot, D. S., Huizinga, D. e Ageton, S. S. Ex¬plaining delinquency


and drug use cit., p. 132 e ss. Cf . Serrano Maillo, A. Introduccíon... cit.,
p. 370.

Disponível em: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/78061/modelos-sociologicos-sociologia-


criminal-parte-xix

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