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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE TECNOLOGIAS E CIÊNCIAS

DIREITOS HUMANOS

Alinne Leal1 e Fernanda Costa2

Resumo
Este estudo visa analisar as influências filosóficas no surgimento dos direitos humanos,
explorando o contexto e a fundamentação filosófica subjacente. Utilizando abordagens
dedutivas e dialéticas, além de pesquisa descritiva e explicativa, a metodologia inclui revisão
bibliográfica e documentação direta. Examina-se o surgimento da sociologia e dos direitos
humanos, destacando pensadores como Comte, Durkheim, Locke, Rousseau, Bentham e Mill.
A relação entre sociologia e direitos humanos é explorada, abordando desigualdades,
movimentos sociais, condições de trabalho e poder. Conclui-se ressaltando desafios
persistentes nos direitos humanos em Angola, enfatizando a necessidade de abordagens
integradas, incluindo reformas institucionais, engajamento cívico e programas educacionais
para promover uma sociedade mais justa e equitativa. A interação entre visões filosóficas
diversificadas destaca a complexidade na compreensão dos direitos humanos, sendo imperativo
traduzir essas reflexões em ações concretas para enfrentar as raízes das disparidades sociais e
contribuir para um futuro mais inclusivo e respeitoso.

Palavras-chave: Direitos humanos; Liberdade; Sociologia.

Abstract
This study aims to analyze the philosophical influences on the emergence of human rights,
exploring the context and underlying philosophical foundation. Using deductive and dialectical
approaches, in addition to descriptive and explanatory research, the methodology includes
bibliographic review and direct documentation. The emergence of sociology and human rights
is examined, highlighting thinkers such as Comte, Durkheim, Locke, Rousseau, Bentham and
Mill. The relationship between sociology and human rights is explored, addressing inequalities,
social movements, working conditions and power. It concludes by highlighting persistent
human rights challenges in Angola, emphasizing the need for integrated approaches, including
institutional reforms, civic engagement and educational programs to promote a more just and
equitable society. The interaction between diverse philosophical views highlights the
complexity in understanding human rights, and it is imperative to translate these reflections
into concrete actions to address the roots of social disparities and contribute to a more inclusive
and respectful future.

Keywords: Human rights; Freedom; Sociology

1
Estudante do segundo ano do curso de contabilidade do Instituto Superior Politécnico de tecnologias
e ciências; Turma: T1; 20220103@isptec.co.ao
2
Estudante do segundo ano do curso de Contabilidade do Instituto superior politécnico de tecnologias
e ciências; Turma: T1; 20221707@isptec.co.ao
INTRODUÇÃO

Os direitos humanos fundamentais para a construção de sociedades justas, são


permeados por influências filosóficas que moldaram sua concepção e evolução ao longo da
história. Este trabalho empreende uma análise aprofundada dessas influências, com uma
atenção especial para o contexto sócio-político em Angola. O objetivo central é compreender
como correntes filosóficas fundamentais, desde a revolução industrial até os pensadores
contratualistas e utilitaristas, contribuíram para a formação dos direitos humanos, sugere-se
que uma compreensão mais holística e interdisciplinar dos fundamentos filosóficos dos direitos
humanos, aliada a uma análise crítica de sua aplicação em contextos específicos emergindo da
constatação de que, apesar dos avanços teóricos consideráveis nos direitos humanos, a
implementação prática desses princípios enfrenta desafios substanciais e enriquecerá a análise,
proporcionando uma visão mais completa das dinâmicas sociais e históricas que impactam a
aplicação dos direitos humanos.

A metodologia adotada combina abordagens dedutivas e dialéticas, juntamente com


pesquisa descritiva e explicativa. A revisão bibliográfica se apoia em pensadores como Comte,
Durkheim, Locke, Rousseau, Bentham e Mill, cujas teorias são contextualizadas em um
panorama global. No entanto, o diferencial deste estudo reside na sua aplicação direta à
realidade angolana, onde se evidenciam desafios sócio-políticos persistentes, como
inconsistências democráticas, restrições à liberdade de imprensa e desigualdades sociais.

Ao explorar a revolução industrial e a revolução francesa como pontos de inflexão, este


trabalho não apenas delinea as influências filosóficas globais nos direitos humanos, mas
também destaca como essas correntes se manifestam e se entrelaçam com os desafios
específicos enfrentados por Angola.

METODOLOGIA CIENTÍFICA

A metodologia refere-se ao conjunto de métodos, técnicas e procedimentos utilizados


em uma pesquisa, estudo ou processo para alcançar resultados específicos de maneira
organizada e sistemática. Deste modo fizemos uma abordagem e execução de atividades,
proporcionando um caminho estruturado para atingir objetivos pré-definidos através de
pesquisas. A metodologia utilizada na busca de conhecimentos para a elaboração deste trabalho
quanto aos métodos, foi baseada então nos seguintes pontos:

● Método de abordagem dedutivo- é um processo mental em que partimos da teoria geral


para explicar o particular (síntese);

● Método de abordagem dialético- é a arte de dialogar, argumentar, leva à necessidade de


avaliar uma situação, um acontecimento do ponto de vista das condições que os
determinam e assim os explicam;

Ambos métodos podem ser identificados pelo facto de que foram utilizados conteúdos
já existentes que sendo analisados para elaboração teórica do trabalho foram seguidos com uma
revisão bibliográfica, tendo em consideração a matéria dada em sala de aula transmitida pelo
professor Anselmo Liatunga e as pesquisas já elaboradas.

Quanto aos tipos de pesquisa, apresenta-se neste trabalho:

● Quanto a natureza, utilizou-se a pesquisa descritiva que consiste em apresentar e


exprimir os dados aqui presentes;

● E a pesquisa explicativa que consiste em clarear os conteúdos apresentados;

A pesquisa descritiva e a pesquisa explicativa neste trabalho vieram a ser utilizadas e


apresentadas pela preocupação de se procurar fazer entender os diversos elementos aqui
presentes, procurando deixar claro todas as informações a respeito do que foi aplicado ao
trabalho, pois procurou-se recolher dados através de livros, trabalhos universitários e web sites,
a fim de analisar as principais contribuições teóricas existentes sobre os direitos humanos ao
longo dos anos e relacioná-los a filosofia e a sociologia.
E por fim, a técnica utilizada para realização deste mesmo trabalho:

● Documentação directa- são efetuadas pelo próprio pesquisador com base no


levantamento de dados feito no local onde ocorrem os fenômenos;
1. SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA

A filosofia oferece ao ser humano o exercício do diálogo, da investigação e do pensar,


favorecendo assim o desenvolvimento da cidadania, da tolerância, da coesão e do
desenvolvimento social, tornando o cidadão jovem um potencial transformador da sociedade.
Estando então a filosofia atrelada a várias áreas de estudo, a área encarregada por estudos
sociais vai ser denominada como sociologia, uma ciência que vem a surgir em meados do
século XVIII (18) por influência da revolução industrial e a revolução francesa.

A revolução industrial marcou uma transição da produção agrícola e manufatureira


tradicional para a produção industrial, resultando assim em mudanças significativas na
estrutura social ocasionando uma intensa explosão demográfica nos centros urbanos que se
industrializaram. Com o aumento da especialização do trabalho e a mecanização, surge uma
falta de emprego acompanhada de miséria, fome, aumento significativo da violência e
alastramento de doenças. Enquanto isso, a revolução francesa surge com o objectivo de
terminar com o antigo regime (absolutismo- regime político que se caracterizava pela
concentração de poder nas mãos dos monarcas) e com este surgem novas formas de políticas
menos excludentes, lacais e baseadas no estado de direitos, ocasionando assim uma ruptura
política dentro da Europa.

Com a ruptura ocasionada pelas revoluções, Comte vem dizer que apesar da estagnação
no crescimento social francês, a revolução francesa era necessária para o desenvolvimento de
um novo pensamento político. Durante este empecilho Comte vem então apresentar a lei dos
três estados e inaugurando o positivismo.

Apesar de Comte ter dado o primeiro passo para a criação da sociologia, Émile
Durkheim, levando o positivismo ao extremo julgou que as estruturas sociais controlavam as
ações dos indivíduos e podiam ser estudadas objectivamente, formulou então o método
comparativo de análise social baseado em factos sociais (conjunto de pensamentos, ações e
sentimentos exteriores do indivíduo, impostos ao indivíduo pela sociedade), tendo assim como
objectivo identificar esses factos e comparar os dados obtidos das diferentes sociedades, onde
assim por fim, este veio a autonomizar a sociologia como ciência.
2. SURGIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS

Falar sobre direitos humanos, requer entender sobre a ONU e os seus objetivos. Esta
então (Organização das nações unidas) é uma organização internacional, fundada em 24 de
Outubro de 1945, tendo a sua carta assinada em São Francisco a 26 de Junho de 1945 e sendo
ratificada pela China, União Soviética, Reino Unido e os Estados Unidos que procura unir todas
as nações do mundo em prol da paz e do desenvolvimento com base nos princípios da justiça,
dignidade humana e no bem-estar de todos. Esta tem como objectivo possibilitar o diálogo
entre as nações de modo a que possa encontrar soluções para questões relacionadas com a
humanidade, paz, segurança, direitos humanos, governação e entre muitos outros.

Quanto aos direitos humanos, sendo estes elementos abordados pela ONU, foram
proclamados pela assembleia geral das nações unidas em 10 de Dezembro de 1948, como
resposta às atrocidades cometidas nas duas guerras mundiais. Filosoficamente a ideia de um
direito universal, natural e igualitário, surge na filosofia política e moral, contudo, embora o
termo “direitos humanos” seja uma invenção moderna, alguns princípios fundamentais
relacionados a dignidade humana e a justiça, podem ser encontrados em filósofos da
antiguidade, ou seja, no pensamento ético de filósofos gregos como Aristóteles, Sócrates e
Platão há considerações sobre a moralidade e a natureza intrínseca do ser humano.

As considerações sobre os direitos humanos, seguem uma mesma linha de objectivos,


contudo se desdobram por diferentes vertentes, sendo estas de contratualismo 3 e o utilitarismo4.
Quanto ao contratualismo este aborda sobre a formação de sociedades e autoridades políticas
através de contratos sociais, estando relacionada com a fundamentação e garantia dos direitos
humanos, tem-se então como filósofos defensores dos direitos humanos relacionados ao
contratualismo:

● John Locke(1632-1704) que desenvolveu o conceito de direito natural, por referir a


liberdade como sendo um direito adquirido da lei, Locke considerava os homens como
seres independentes e racionais em seu estado de natureza, conceituando o direito à

3
É uma teoria política e filosófica baseada na ideia de que existe um contrato social que retira o ser
humano do seu estado de natureza e coloca-o em estado de convivência com outros seres humanos,
estabelecendo leis para que a convivência seja harmônica.
4
Uma teoria filosófica que defende que uma ação só pode ser considerada moralmente correta se as suas
consequências promoverem o bem-estar coletivo.
liberdade no seguinte trecho: “O direito à liberdade é o direito de cada um agir em
princípio sem restrições e sem coações…”.

Sendo Locke um contratualista considerado o primeiro a adotar uma concepção de


direitos, ressalta-se que o seu trabalho sobre direitos humanos surge da oposição da ideia
apresentada por Robert Filmer (1588-1663) visando que no pensamento de que na monarquia
vê-se a própria vontade de Deus, fazendo parte da ordem natural do mundo. Nesse contexto,
toda a população de um estado é vista como súdita, ou seja, já surge tendo que obedecer ao pai
ou a um rei, demonstrando uma desigualdade natural de direitos.

● Jean Jacques Rousseau (1712- 1778) em seu contrato social batizado popularmente
como “teoria do bom selvagem” considerava que o ser humano em seu estado de
natureza é livre e bom desde o seu nascimento, mas é corrompido pela sociedade em
que vive, seu contributo foi visto principalmente durante a revolução francesa onde foi
responsável pela apelação dos direitos humanos do povo;

Para Jean Jacques Rousseau com seu pensamento político, cuja ideia central é a garantia
da igualdade e da liberdade, “renunciar a liberdade é renunciar a qualidade de homem, aos
direitos da humanidade e até aos próprios deveres”, (ROUSSEAU, 1973, pág. 33), anuncia
como sua tarefa: “encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os
bens de cada associado com toda a forma comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só
obedece, contudo, a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes” (ROUSSEAU,
1973, pág. 38). É denominado assim, que “a vontade geral, para ser verdadeiramente geral
(…) deve partir de todos para aplicar-se a todos” (ROUSSEAU, 1973, pág. 55), de modo a
que entende-se que a lei deve ser expressa em termos gerais para que não haja possibilidade de
privilégios, bem como discriminação de qualquer tipo.

Quanto ao utilitarismo, esta é uma tradição ética e filosófica que se concentra na


maximização da felicidade ou do bem-estar como princípio orientador. Enquanto o utilitarismo
não é, por natureza, uma teoria centrada em direitos, alguns filósofos utilitaristas contribuíram
para a discussão sobre direitos humanos, adaptando a abordagem utilitarista para incluir
considerações sobre justiça, liberdade e dignidade:
● Jeremy Bentham (1748-1832): A filosofia utilitarista de Bentham focava na
maximização da felicidade e minimização do sofrimento. Embora seu utilitarismo não
abordasse diretamente os direitos individuais, o objetivo final de promover o bem-estar
social está relacionado ao respeito pela dignidade humana, um conceito essencial dos
direitos humanos.

A filosofia utilitarista de Bentham focada na minimização do sofrimento, advogava por


reformas legais que reduzissem desigualdades e promovessem a liberdade individual dentro do
contexto de seus princípios utilitaristas, ou seja, a sua proposta baseava-se no fundamento de
que as legislações e as instituições sociais deveriam ser avaliadas com base no princípio da
utilidade (gerar uma contribuição para o bem-estar geral). Assim, embora não tenha formulado
uma teoria abrangente de direitos humanos, a sua influência se estendeu a reformas jurídicas e
sociais em seu tempo, de modo a que o sistema legal se tornasse mais acessível e a buscar
igualdade perante a lei, tornando os ideais de justiça e equidade subjacentes aos direitos
humanos.

● John Stuart Mill (1806-1873): é conhecido por sua defesa da liberdade individual e sua
obra “Sobre a Liberdade”, tendo argumentado que a sociedade deveria permitir a
máxima liberdade possível para os indivíduos, desde que não prejudicasse o bem-estar
dos outros.

Mill é frequentemente associado ao liberalismo clássico, uma corrente que enfatiza a


importância dos direitos individuais e liberdades pessoais. Em sua obra mais conhecida, “On
Liberty” (Sobre a Liberdade), Mill argumenta vigorosamente em favor da liberdade individual,
sustentando que os indivíduos têm o direito de agir como quiserem, desde que não prejudiquem
os outros. “Minha independência é, por direito, absoluta. No que diz respeito a si mesmo, ao
próprio corpo e a própria mente, o indivíduo é soberano” (SANDEL, 2011. p. 64). Estando
este preocupado com a igualdade de oportunidades e o progresso social, permanece a favor de
uma sociedade em que todos tivessem a chance de buscar seus interesses e aspirações,
independentemente de características como classe social, gênero ou raça.

Sendo este um dos primeiros defensores do movimento da emancipação das mulheres


contribuiu para o pensamento sobre democracia representativa, mas também enfatizou a
importância da participação política mais ampla para prevenir a tirania da maioria. Ele
considerava a participação política como um meio de proteger os direitos e interesses das
minorias.

3. SOCIOLOGIA E OS DIREITOS HUMANOS

Segundo o artigo “Introdução à abordagem baseada em direitos humanos” publicado


pela UNICEF em 2015, Os direitos humanos são normas que reconhecem e protegem a
dignidade de todos os seres humanos, de modo a que regem o modo como os seres humanos
individualmente vivem em sociedade e entre si, bem como sua relação com o Estado e as
obrigações que o Estado tem em relação a eles. Sendo assim, estes são uma categoria de direitos
básicos e inalienáveis que vêm a dar início ao seu surgimento com a declaração dos direitos do
homem e do cidadão em 1789 nos EUA, tendo como objetivo assegurar que nenhum homem
deveria ter mais poder ou direitos que outro, contudo, esta não assegurava direitos amplos aos
membros do sexo feminino. Em 1948, é publicada uma carta oficial contendo a declaração
universal dos direitos humanos, a qual assegura os direitos básicos, incluindo às mulheres.

Segundo Max Weber, sociólogo alemão, a sociologia é a ciência que pretende


compreender interpretativamente a ação social (comunicação dentro da sociedade que tem
como objectivo principal uma intenção a qual é orientada para o outro) e assim explicá-la
causalmente em seu curso e em seus efeitos, assim, a sociologia e os direitos humanos,
encontram-se relacionadas por inúmeras variáveis, entre elas:

● Desigualdade e descriminação: a sociologia analisa as estruturas sociais que podem


levar à desigualdade e a descriminação e contribui para entender como esses problemas
se manifestam em diferentes contextos sociais e os direitos humanos surgem como
resposta promovendo a igualdade e à eliminação da descriminação;

● Movimentos sociais e ativismo: Os direitos humanos frequentemente são promovidos


por meio de movimentos sociais e ativismo. A sociologia estuda esses movimentos,
analisando como eles surgem, se organizam e buscam criar mudanças sociais em prol
dos direitos humanos;

● Condições de trabalho e direitos trabalhistas: A sociologia examina as condições de


trabalho, relações trabalhistas e questões relacionadas aos direitos dos trabalhadores.
Muitas violações dos direitos humanos ocorrem no contexto do trabalho, e a sociologia
pode oferecer insights sobre essas questões;

● Estudo dos conflitos e poderes: A sociologia explora as dinâmicas de conflito e poder


na sociedade. Os direitos humanos frequentemente entram em cena quando se trata de
desafiar estruturas de poder que podem violar esses direitos, e a sociologia ajuda a
entender essas dinâmicas;

● Diagnóstico de Problemas Sociais: A sociologia contribui para o diagnóstico de


problemas sociais que podem estar relacionados a violações dos direitos humanos. Isso
inclui a análise de questões como pobreza, discriminação, violência e acesso desigual
a recursos;

Analisando-se, observa-se então que os direitos humanos são uma lente pela qual a
sociologia examina e analisa as estruturas sociais, relações e dinâmicas que moldam a vida das
pessoas em sociedade. A sociologia fornece ferramentas teóricas e metodológicas para
compreender melhor como as questões relacionadas aos direitos humanos estão integradas na
trama social.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. CONTEXTUALIZAÇÃO SÓCIO-POLÍTICA EM ANGOLA

Com o relatório sobre os direitos humanos em Angola no ano de 2023, notou-se que há
desafios persistentes em relação aos direitos humanos, evidenciados por inconsistências na
democracia, limitações à liberdade de imprensa, persistências nas desigualdades de gênero, etc.
Assim, realça-se as disparidades sociais, acentuando a distância entre os estratos sociais. As
desigualdades não se restringem apenas aos aspectos econômicos, mas se manifestam entre
regiões, grupos étnicos e classes sociais. Esta realidade cria um terreno fértil para o
desenvolvimento de uma cultura profundamente enraizada que normaliza e trivializa tais
disparidades. Este cenário possui implicações significativas, promovendo a corrupção e
diversas formas de violência entre outros elementos. A observação de Elie Wiesel5 de que "a

5
sobrevivente do Holocausto, autor renomado e defensor dos direitos humanos. (1928-2016)
violência é a linguagem da intolerância" torna-se particularmente relevante, explicando os
frequentes sinais de ameaça dessas questões morais em Angola.

Nos desafios sociais de Angola, como a desigualdade e a opressão estatal, a violação


dos direitos humanos emerge como a raiz desses problemas, especialmente a violação dos
direitos à igualdade e liberdade. Em resposta a essas questões, Rousseau oferece uma
abordagem política e educacional que promove uma forma de democracia baseada na
atribuição absoluta de igualdade de direitos a todas as pessoas onde a liberdade natural é
limitada ao entrar na vida social, mas renunciar a essa liberdade é renunciar à essência humana
e a desigualdade é identificada como a causa efetiva da supressão da liberdade.

A educação de Rousseau, dividida em estágios de desenvolvimento natural do homem,


destaca que a formação moral é pré-requisito para a formação política. Essa abordagem
humanista da educação busca incutir desde a infância a consciência da liberdade e valores
humanistas, tornando os indivíduos moralmente aptos a viver conforme prescrito pelo contrato
social. Assim, a educação de Rousseau não apenas reconhece os direitos humanos como
fundamentais à existência humana, mas também visa formar seres humanos conscientes da
dignidade humana e capazes de viver em conformidade com os princípios do contrato social.

Torna-se então crucial ressaltar que, ao analisar a situação dos direitos humanos em
Angola, observamos não apenas a necessidade de reformas políticas e sociais, mas também de
uma revisão profunda das instituições que moldam a vida cotidiana dos cidadãos. O sistema
jurídico, por exemplo, desempenha um papel fundamental na proteção dos direitos humanos, e
é imperativo avaliar sua eficácia e imparcialidade e tendo ainda como aspecto relevante o papel
da sociedade civil na promoção dos direitos humanos. Organizações não governamentais,
ativistas e a população em geral desempenham um papel crucial na conscientização e na
pressão por mudanças. O engajamento cívico é uma ferramenta poderosa para criar uma cultura
de respeito aos direitos humanos, desafiando as normas que perpetuam as desigualdades e a
injustiça.

Neste contexto, a educação desempenha um papel vital, não apenas na formação moral
dos indivíduos, como proposto por Rousseau, mas também na disseminação de conhecimento
sobre os direitos humanos e na promoção de uma cultura de tolerância e respeito mútuo.
Programas educacionais que incluam esses temas desde cedo podem contribuir
significativamente para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Em síntese, a abordagem de Rousseau oferece um quadro valioso para entender e
abordar as questões de direitos humanos em Angola. No entanto, sua aplicação prática exige
um compromisso abrangente com reformas institucionais, engajamento cívico, fortalecimento
do sistema jurídico e programas educacionais que promovam valores fundamentais. Somente
através de uma abordagem integrada e multifacetada podemos esperar transformações
significativas na promoção e proteção dos direitos humanos em Angola.

CONCLUSÃO

Em síntese, ao considerarmos a evolução filosófica dos direitos humanos em


contraponto com a complexa realidade sócio-política em Angola, torna-se patente a
necessidade de uma abordagem integrada para enfrentar os desafios persistentes.

A interação entre as visões dos direitos naturais e do utilitarismo evidencia a


diversidade de abordagens na compreensão dos direitos humanos. Contudo, ao contextualizar
essa discussão no cenário sócio-político em Angola, percebemos que as teorias filosóficas, por
si só, não são suficientes para enfrentar as complexas disparidades sociais, limitações
democráticas e desigualdades de género observadas no país.

A realidade angolana, marcada por inconsistências na democracia, restrições à


liberdade de imprensa e persistências nas desigualdades, demanda uma resposta abrangente
que vá além do âmbito teórico, onde em harmonia dessas perspectivas filosóficas diversas vê-
se que é essencial para promover uma sociedade angolana mais justa, equitativa e
comprometida com o respeito aos direitos humanos. O desafio ético está em traduzir essas
reflexões filosóficas em ações concretas, enfrentando as raízes das disparidades sociais e
contribuindo para a construção de um futuro mais inclusivo e respeitoso em Angola.

BIBLIOGRAFIA

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