Você está na página 1de 26

COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL

2 º SEMESTRE / 2022-2023
AULA 6 – 15 DE MARÇO

Naíde Müller C.
ncaldeira@ucp.pt
TRABALHO DE GRUPO – AULA 26 DE ABRIL

✓ Análise crítica do discurso: contrapontística

✓ Grupos 4/5 pessoas – Enviam-me por email a constituição dos grupos


até à próxima aula (22 de março) – ncaldeira@ucp.pt

✓ Enunciado do trabalho no Moodle - Máximo duas páginas Letra: Times


New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5

✓ Entrega até dia 10 Maio - Moodle


3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

✓ A teoria da dialética relacional assenta nos trabalhos de Mikhail Batktin (1895-1975)


que viu a tensão dialética (a tensão dos contrários) como uma oportunidade para o
diálogo, uma ocasião em que os parceiros podem elaborar formas de enfrentar
mutuamente o conflito. Portanto, sem diálogo não há relação.

✓ Posteriormente Baxter e Montgomery (1996) introduziram a dialética relacional como


uma teoria interpretativa, que não pretende encontrar leis universais, mas ajudar a
esclarecer as tendências inerentes à complexidade de manutenção (início, meio,
fim) das relações.

✓ As autoras assumiram que a vida social é um laço dinâmico de contradições, uma


interação incessante entre tendências contrárias ou opostas.
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

Pressupostos da Teoria da Dialética Relacional

1 - As relações não são lineares (são processos dependentes de vários eventos).

2 - A vida relacional é caracterizada pela mudança.

3 - A contradição é o facto fundamental da vida relacional.

4 - A comunicação é central para organizar e negociar contradições relacionais.


3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

✓ A contradição é um dos conceitos centrais da teoria da dialética relacional.

✓ Uma contradição é gerada quando duas tendências são interdependentes, mas


negam-se mutuamente.

✓ Por exemplo, com meus pais, eu quero que eles estejam disponíveis para mim
sempre que eu precisar deles, mas também não quero que eles estejam
constantemente na minha vida. Portanto eu tenho simultaneamente uma
necessidade de intimidade/proximidade e de espaço/afastamento.
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

✓ Um dos princípios fundacionais da teoria é que os significados são criados na


competição entre discursos. Isto é, as relações envolvem lutas discursivas
relacionadas à dialética integração-separação, expressão-privacidade e
estabilidade-mudança.

✓ Discursos são sistemas de significado que são proferidos sempre que fazemos
enunciados compreensíveis em voz alta com os outros (ou nas nossas cabeças
quando mantemos conversas internas).

✓ No seu sentido mais amplo, um discurso é um sistema cultural de significado que


circula entre os membros de um grupo e que torna as nossas conversas
compreensíveis.
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

“Somos uma espécie narradora, narrar é provavelmente uma das mais ancestrais
ações humanas, muito anterior à escrita. As palavras podem unir as pessoas, levá-las a
cooperar, ou separá-las, manipulá-las, iludi-las. Portanto, devem ser tratadas com
cuidado.”

Margaret Atwood, Entrevista Revista Expresso, edição 2583, 29 de abril 2022, pp.42-47
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

A teoria da dialética relacional aplica um método específico para realizar análises


discursivas denominado de análise contrapontística (contrapuntal analysis, Baxter,
2011). A análise contrapontística é um tipo de análise crítica do discurso que inclui
cinco etapas:

1) A identificação de um objeto semântico – Um tema que seja pertinente para o que


se quer observar e que possa revelar uma multitude de significados.

2) Selecionar um texto - Escolher uma frase de uma entrevista, um excerto de um filme,


um post, etc. Por exemplo, pode querer observar-se vários significados atribuídos às
alterações climáticas (objeto semântico) através da análise de um excerto de uma
entrevista com Leonardo DiCaprio (seleção de texto).
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

Exemplo:

"Climate change is real. It is happening right now, it’s the most urgent threat facing our
entire species, and we need to work collectively together and stop procrastinating. We
need to support leaders around the world who do not speak for the big polluters or the
big corporations but who speak for all of humanity, for the indigenous people of the
world, for the billions and billions of underprivileged people who will be most affected by
this, for our children's children and for those people out there whose voices have been
drowned out by the politics of greed.”

Leonardo DiCaprio speech winning Best Actor | 88th Oscars (2016)


3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

▪ Alguns textos têm mais potencial para análises de significado porque pertencem a
géneros comunicativos que promovem vários pontos de vista concorrentes.

▪ Os géneros que melhor se adaptam à análise das relações interpessoais são: a)


narrativas; b) humor/sátira e c) rituais relacionais.
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

3) Identificar discursos dentro de um texto – O discurso é um sistema de significados, é


uma ideologia ou um conjunto de ideias interrelacionadas. No exemplo, há vários
entendimentos subjacentes às alterações climáticas, incluindo que são um
fenómeno atual (It is happening right now), que precisa de lideranças com um perfil
específico (we need to support leaders (…)who speak for all of humanity) e que a
política da ganância abafa as vozes mais vulneráveis (those people out there
whose voices have been drowned out by the politics of greed).

Estes enunciados enfatizam a linguagem em ação como resposta ao que foi dito antes
e enquanto antecipação de respostas futuras. Os enunciados nunca estão isolados,
funcionam em cadeia.
Contexto: eleição presidencial de 2016 nos Estados Unidos Donald Trump - Hillary
Clinton. Polarização social e Negacionismo das alterações climáticas
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

4) Examinar a interação do discurso – Após a identificação de discursos emergentes é


necessário determinar aqueles que são centrífugos ou centrípetos.

• Centrífugos são os discursos dominantes que as pessoas tendem a acreditar que são
normais, mais fáceis ou naturais (por exemplo, os líderes poderosos são todos
gananciosos).

• Os discursos centrípetos são discursos menos óbvios que as pessoas tendem a ver
como desviantes, antinaturais ou impossíveis (por exemplo, é preciso apoiar os líderes
que defendem as comunidades mais vulneráveis às alterações climáticas).

• O foco nas dinâmicas de poder (já que a teoria se foca nas oposições, nos discursos
que competem) é uma parte crítica da teoria da dialética relacional e na análise
crítica dos discursos.
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

5) Desafiar suposições e significados fixos – Nesta fase confrontam-se as descobertas


com as pressuposições que tomamos por garantidas no dia a dia, procuram-se
significados menos óbvios. No exemplo do texto anterior, o discurso de Leonardo
DiCaprio pode transmitir um enquadramento que assume que não se pode falar de
alterações climáticas seriamente com lideranças “gananciosas” alinhadas com as
indústrias poluentes. Mas o que se pode fazer é apoiar líderes que falem sobre os
interesses de todos, principalmente os mais vulneráveis aos efeitos das alterações
climáticas.
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

✓ A comunicação é conceptualizada na teoria da dialética relacional como


constitutiva sob o chapéu do Construcionismo Social (Berger & Luckmann, 1966).

✓ O Construcionismo Social (construção social da realidade) assenta em quatro


princípios fundamentais interrelacionados:

1. o conhecimento do e sobre o mundo é constituído na e pela linguagem, não um


produto de observação imparcial ou de uma verdade objetiva;

2. o conhecimento está sujeito ao contexto e aos tempos históricos em que as pessoas


vivem;

3. o conhecimento é um subproduto da interação diária (um processo social);

4. conhecimento e ação caminham juntos de tal forma que as construções das


pessoas (re)produzem alguns saberes e excluem outros.
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

✓ A teoria da dialética relacional distingue ainda a comunicação como processo e


como produto. A comunicação como processo destaca a interação de padrões e
as práticas comunicativas na criação de significados. Já a comunicação como
produto refere-se aos significados efetivos.

✓ Por exemplo, Leonardo DiCaprio fala sobre soluções para as alterações climáticas
através de um processo (liderança/inspiração pelo exemplo) que pretende mitigar
aquilo que designa por “política da ganância” (produto). Na primeira há mais
espaço para a interpretação, na segunda procura-se reduzir as interpretações
possíveis sendo mais objetivo em relação à mensagem central que se quer passar.
3.3 - DIALÉTICA RELACIONAL

✓ Mais do que o conhecimento de um observador externo, a teoria privilegia o


conhecimento participativo, enfatiza a ação social encarando a incerteza como
algo que faz naturalmente parte de qualquer processo criativo e não como algo
que tem de ser gerido ou evitado.
3.3 - CULTURAS DA AUTENTICIDADE

✓ A autenticidade tornou-se uma palavra da moda (buzzword) dos nossos tempos.

✓ Ligar a televisão, folhear uma revista ou navegar nas redes sociais invariavelmente
mostra conteúdo textual e visual intencionalmente projetado para nos convencer
de que uma determinada pessoa, lugar ou experiência é autêntica e, portanto,
digna do nosso respeito, confiança, dinheiro ou voto.

Thurnell-Read, Skey and Heřmanová (2022)


3.3 - CULTURAS DA AUTENTICIDADE

✓ A autenticidade é debatida em relação à produção mediática, à comunicação


online e política, à produção e experiências artísticas, consumo cultural e
consequentemente no branding e marketing. A tarefa de entender a autenticidade
é um esforço interdisciplinar.

✓ Num mundo definido pelo consumo de bens produzidos em massa e cada vez mais
mediados através da comunicação digital, a noção de autenticidade ressoa
claramente com as aspirações e ansiedade de muitas pessoas.

Thurnell-Read, Skey and Heřmanová (2022)


3.3 - CULTURAS DA AUTENTICIDADE

✓ Apesar de a autenticidade ser comumente entendida intuitivamente, o termo está


envolto em ambiguidade e contradição.

✓ A autenticidade não deve ser vista como algo que pode ser possuído ou mantido
com qualquer grau de certeza. Pelo contrário, é dinâmico e muda em relação às
condições sob as quais é procurado, criado e reconhecido.

“A autenticidade não é tanto um estado de ser, mas a objetivação de um processo de


representação, ou seja, refere-se a um conjunto de qualidades que as pessoas num
determinado momento e lugar consensualizaram acerca do que representa um ideal
ou exemplar” (Vannini and Williams, 2009: 3).
3.3 - CULTURAS DA AUTENTICIDADE

✓ A capacidade de conferir e acumular autenticidade reside nas disparidades de


uma cultura e sociedade desigual.

✓ Algumas pessoas, grupos ou organizações têm maior poder para definir o que é
autêntico sendo as suas reivindicações de autenticidade mais facilmente aceites ou
menos desafiadas.
3.3 - CULTURAS DA AUTENTICIDADE

✓ As preocupações com a autenticidade manifestam-se muitas vezes em conversas


sobre realidade, originalidade, veracidade e sinceridade, por oposição ao que é
inautêntico, por isso, podemos analisar a autenticidade por diversos prismas.

✓ Na perspetiva da identidade refere-se à construção do eu - seja ele pessoal,


celebridade, ficcional ou organizacional - e leva à autorreflexão e ao
questionamento sobre 'quem sou eu' honestamente no meu âmago (quando
ninguém está a ver). No entanto, a identidade e o eu não são noções estáticas (o
nosso eu de 20 anos certamente será diferente do de 50 anos).

✓ O 'verdadeiro eu' é um processo fluído afetado por diversas variáveis contextuais, e


a noção de autenticidade é também uma construção social – mesmo necessária
em algumas situações e profissões – por isso é tão facilmente distorcida ou mal
compreendida.
3.3 - CULTURAS DA AUTENTICIDADE

✓ A perspetiva relacional da autenticidade foca-se nas relações interpessoais entre


diversos atores sociais.

✓ Tem uma forte componente subjetiva e de gestão de perceção porque pergunta


como é estar no mundo se estamos a ser autênticos e que consequências podem
advir disso.

✓ Filósofos existencialistas argumentaram que o comportamento relacional autêntico


implica rejeitar a pressão dos pares para se conformar (conformidade de grupo). Ou
seja, o comportamento inautêntico, será o cumprimento de certas regras sociais por
medo de ser rejeitado.

✓ A segunda abordagem do comportamento relacional autêntico envolve um


compromisso consciente e moral de ser fiel a si mesmo e aos outros. A
inautenticidade, neste caso, envolve uma intenção deliberada de enganar e
manipular os outros aparentando ser ou oferecer algo falso.
3.3 - CULTURAS DA AUTENTICIDADE

✓ O sucesso económico e capital cultural de celebridades da internet reside no


argumento - com que constroem e mantém relacionamentos com os seus
seguidores – de que apresentam uma versão ‘autêntica’ de si mesmos em espaços
digitais por oposição às celebridades tradicionais “fake”.

✓ A autenticidade agora faz parte da “ecologia performativa” das media sociais e os


influenciadores das redes sociais online empregam diferentes estratégias para
construir e aprimorar as suas personas autênticas online (Audrezet, 2018).
3.3 - CULTURAS DA AUTENTICIDADE

✓ Nas redes sociais, o desejo de ser visto como autêntico torna-se um processo
contínuo, criativo e dinâmico de produção estratégica, vigilância, avaliação e
negociação.

✓ Toda a gente quer vender a ideia de que o sucesso é fácil basta ser nós próprios.

✓ Muitos dos mesmos problemas e incertezas sentidas em épocas passadas estão a ser
intensificadas pelo ritmo que esses novos modos de comunicação e auto-
apresentação permitem ou, na verdade, exigem.
3.3 - CULTURAS DA AUTENTICIDADE

Você também pode gostar