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PROFESSOR: ELIAS LIMA DOS SANTOS

DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA

PORTUGUÊS

Leia o Texto 1 para responder as questões de 1 a 10.

TEXTO 1

'É COMO USAR DROGAS': POR QUE AS PESSOAS ACREDITAM E


COMPARTILHAM FAKE NEWS?
Felipe Souza

BBC News Brasil em São Paulo, 26 outubro 2018

Desde as eleições que elegeram o presidente americano Donald Trump em 2016, a


expressão fake news se espalhou mundialmente. Com a popularização dos computadores e
smartphones, boa parte da população brasileira tem acesso a redes sociais, como Facebook e
WhatsApp, diariamente e se tornou alvo de uma avalanche de notícias falsas disparadas a todo
momento.
Mas além de receber e acreditar em memes, fotos, vídeos e textos falsos, parte da
população também compartilha esses arquivos com amigos, familiares e até mesmo em grupos
de pessoas desconhecidas. Afinal, por que tanta gente acredita em fake news?
Em entrevista à BBC News Brasil, o psiquiatra e diretor da Associação Brasileira de
Psiquiatria, Claudio Martins, afirmou que as pessoas que compartilham notícias falsas
experimentam uma sensação de bem-estar semelhante à de usar drogas.
"Quando a pessoa recebe uma notícia que a agrada, são estimulados os mecanismos de
recompensa imediata do cérebro e dão uma sensação de prazer instantâneo, assim como as
drogas. Ocorre uma descarga emocional e gera uma satisfação imediata. Isso impulsiona a
pessoa a transmitir compulsivamente a mesma informação para que seu círculo de amizades
sinta o mesmo. Por isso, há os encaminhadores compulsivos", explica o psiquiatra.
Segundo Claudio Martins, essa sensação de euforia causada pelas notícias falsas impede
o desenvolvimento de um senso crítico em quem as recebe. É a "infantilização emocional", que
faz com que poucas pessoas se preocupem em checar a origem ou a veracidade da informação.
O psiquiatra explica ainda que esse movimento causa uma angústia que leva a pessoa a
imaginar que é portadora de uma novidade que deve ser contada com extrema urgência. O
sentimento, explica ele, é o mesmo quando alguém ouve uma fofoca.
"Ela, então, transmite informações não checadas, capazes de gerar uma curiosidade
ampliada em outras pessoas, além de um alto nível de identificação e propagação de conteúdo.
O campo da política é muito propício para esse fenômeno. Uma certeza é que as fake news são
um fenômeno novo que atrai pessoas com transtornos de personalidade sérios. Ele é muito
simplório e vai ser cada vez mais estudado", afirmou.
Futebol, religião e política

Em uma analogia com futebol e religião, o psiquiatra explica que a política é um


assunto tratado como uma crença por parte da população.
"O ser humano tem essa tendência a buscar essas crenças, mágicas. Quando ele recebe
correntes de pensamento político, incorpora aquilo como uma verdade absoluta, amplia e
divulga para reforçar sua satisfação. Ele usa o mecanismo para compartilhar sem pensar. Muitas
vezes, acaba repassando até para grupos que nem tratam do assunto", afirma.
Assim como no futebol, o psiquiatra explica que a política funciona no cérebro de parte
da população como um sistema de projeção em que o indivíduo se sente como se fosse o próprio
candidato. "Se o meu time marca um gol ou ganha um título é como se o gol fosse meu e o
título também. É inclusive assim que comento com os amigos", compara o psiquiatra.
Claudio Martins diz que o problema dessa crença é que as pessoas que recebem
informações sobre política não querem saber se são verdadeiras. "Ela age com impulsividade.
Não pesquisa, não quer saber quem mandou. Só pensa em dar impacto àquela informação que
ela recebeu, como se fosse algo exclusivo, e numa impulsão, ela repassa aquilo como se fosse
algo que vai alterar a realidade do mundo."
"Crença é algo muito difícil de combater, principalmente nos espaços mais radicais. A
crença religiosa é tão forte quanto a política, gera uma cegueira. A religiosa não tem evidências
científicas, mas para quem crê isso não interessa porque ela não busca evidências que possam
comprovar um sentido. A pessoa apenas incorpora aquilo como uma necessidade de ter a
idealização de alguém ou grupo político que possa suprir suas carências porque o ser humano é
muito carente. Quando a pessoa está necessitada, ela deseja ter um super protetor", afirmou.
O codiretor do Instituto Tecnologia e Equidade, Thiago Rondon, diz que os produtores
de notícias falsas sabem disso e têm dois objetivos como estratégia ao criar suas correntes: gerar
medo e emergência. Segundo ele, essa situação de alarde é vital para que as pessoas repassem a
informação.
"É necessário tomar medidas estruturais para evitar que essa situação se agrave. Uma
delas é que nosso sistema educacional discuta esse tipo de assunto nas escolas. É necessário
fortalecer as pessoas com consciência e educação desde cedo. A gente precisa se organizar para
se adequar a esse mundo digital. A solução não é bloquear o uso de aplicativos de troca de
mensagens, pois esses lugares são excelentes para troca de ideias e debates. Ações assim são um
erro em relação a liberdades", afirmou.
Ele afirma também que deve haver mecanismos mais eficientes para combater notícias
falsas. Um deles é dar ferramentas para que a população as identifique por conta própria.
"É necessário mudar a forma de se comunicar, não apenas negando e desmentindo
informações porque elas dificilmente vão ter o mesmo alcance da fake news. Por exemplo, no
primeiro turno deste ano um boletim de urna (compartilhado no WhatsApp) mostrava um dos
candidatos com mais de 9 mil votos registrados. O TSE poderia divulgar como o eleitor pode ter
acesso a esses documentos, usar o aplicativo oficial e confirmar se aquela informação é real",
afirmou Rondon.
Analfabetismo digital e bolhas ideológicas

O diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria diz que a crença em fake news é um


fenômeno sociocultural que envolve diversos fatores de alta complexidade. Entre os mais
relevantes, ele cita o analfabetismo digital da população brasileira, já que a popularização da
internet e a chegada do WhatsApp são recursos novos para boa parte dos cidadãos.
"Isso demonstra claramente uma falha na educação digital que precisa ser corrigida com
urgência. Prova que há uma ausência de educação digital no Brasil", afirmou.
Os especialistas ouvidos pela reportagem apontam ainda que a formação de bolhas
ideológicas nas redes também facilita a propagação de notícias falsas. O psiquiatra faz uma
nova analogia com times de futebol para explicar o fenômeno.
"As pessoas procuram estar perto dos pertencentes aos grupos que se identificam. Isso é
natural. Se o cara é palmeirense, ele vai tentar andar com o grupo dos palmeirenses. Isso não
tem nenhum problema. O problema é quando a gente perde a capacidade de senso crítico, fica
cego, e perde a habilidade de saber se os palmeirenses estão mentindo", afirmou.
[...]
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45767478. Acesso: 26 out. 2018 (Adaptado).

1) QUESTÃO

Entre as causas destacadas no texto 1 para o sucesso das fake news (notícias falsas), são citadas
pelo texto:

I- Analfabetismo digital.
II- Bolhas ideológicas.
III- Impulsividade.
IV- Influência do futebol.

Estão CORRETAS as afirmativas:

A) I e II apenas.
B) II, III e IV apenas.
C) I, II e III apenas.
D) I, II e IV apenas.
2) QUESTÃO

O Texto 1 propõe relações de analogia, cuja finalidade é facilitar a compreensão de determinado


assunto, por parte do grande público, a partir da comparação com elementos de outro tema que é
considerado mais acessível e simples.

São relações de analogia propostas pelo Texto 1, EXCETO:

A) Fake news e redes sociais.


B) Fake news e religião.
C) Fake news e futebol.
D) Fake news e drogas.

3) QUESTÃO

O Senado Federal realizou, em 2017, consulta pública a respeito do Projeto de Lei PLS nº
473/2017, cujo objetivo é o de tornar crime a disseminação de fake news. Os gráficos a seguir
são resultados desta enquete:

Gráfico 1

Gráfico 2

Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/materias/enquetes/divulgacao-de-noticias-


falsas-fake-news. Acesso: 29 out. 2018.

Analisando-se os gráficos 1 e 2, é CORRETO afirmar que:

A) O gráfico 1 apresenta discordância em relação às informações do gráfico 2 no que diz


respeito àqueles que preferiram não opinar.
B) A maioria dos internautas se posicionou contra o projeto de tornar notícias falsas crime,
embora considerem o assunto relevante.
C) O gráfico 1 considera que há mais benefícios do que prejuízos em tornar as fake news
crimes, embora 42% considerem que haja também desvantagens.
D) As informações do gráfico 2 mostram que nem todos os que defenderam a tipificação
criminal de fake news consideram que ela trará somente vantagens para sociedade.

4) QUESTÃO

Disponível em: http://agemt.org/contraponto/2018/05/18/os-desafios-de-combater-as-fake-news-na-epoca-das-


eleicoes/. Acesso: 29 out. 2018.

O efeito de humor da charge está DIRETAMENTE relacionado com o seguinte aspecto do


Texto 1:

A) Associação da produção de fake news com a dependência de drogas entre jovens.


B) Falta de apoio familiar para produzir conscientização quanto às notícias falsas.
C) Necessidade de maior educação digital para combater a disseminação de fake news.
D) Predomínio de jovens e adolescentes nas estatísticas de produção de notícias falsas.

5) QUESTÃO

Em relação ao Texto 1, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

( F ) A disposição de acreditar em notícias falsas envolve componentes genéticos da espécie


humana, que direcionam os indivíduos para a autopreservação.
( V ) Fatores socioculturais, como a falta de educação quanto ao uso da informação em
ambiente virtual, é uma das principais causas de fake news.
( V ) Elementos emocionais, como a euforia, são definidores para o compartilhamento
compulsivo de notícias falsas.
( F ) Mecanismos de punição a quem divulga, além de bloqueios às redes sociais, são citados
como possíveis soluções para se coibir a disseminação de fake news.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

A) V V F F.
B) F V F V.
C) V F V V.
D) F V V F.

6) QUESTÃO

As palavras em destaque podem ser substituídas pelas que estão entre parênteses, sem alteração
do sentido original no Texto 1, EXCETO em:

A) [...] e se tornou alvo de uma avalanche de notícias falsas disparadas a todo momento.
(PROFUSÃO)
B) Por isso, há os encaminhadores compulsivos", explica o psiquiatra. (DESRESPEITOSOS)
C) [...] poucas pessoas se preocupem em checar a origem ou a veracidade da informação.
(EXATIDÃO)
D) Em uma analogia com futebol e religião, o psiquiatra explica que a política [...]
(SIMILARIDADE)

7) QUESTÃO

A relação semântica [proximidade de significado] estabelecida pelos termos em destaque nos


trechos está CORRETAMENTE identificada em:

A) Mas além de receber e acreditar em memes, fotos, vídeos e textos falsos [...] (ADIÇÃO)
B) Por isso, há os encaminhadores compulsivos", explica o psiquiatra. (CONCLUSÃO)
C) O sentimento, explica ele, é o mesmo quando alguém ouve uma fofoca. (EXPLICAÇÃO)
D) "Se o meu time marca um gol ou ganha um título é como se o gol fosse meu [...] –
(CONCESSÃO)

8) QUESTÃO

Os termos destacados nos trechos funcionam como elementos anafóricos, EXCETO em:
A) Desde as eleições que elegeram o presidente americano Donald Trump [...].
B) Isso impulsiona a pessoa a transmitir compulsivamente [...].
C) Ele é muito simplório e vai ser cada vez mais estudado", afirmou.
D) Claudio Martins diz que o problema dessa crença é que as pessoas [...].

9) QUESTÃO

A classificação morfológica do vocábulo “a” [preposição] em “boa parte da população


brasileira tem acesso a redes sociais” SÓ NÃO se repete em:

A) “Quando a pessoa recebe uma notícia que a agrada” [...].


B) “Isso impulsiona a pessoa a transmitir compulsivamente” [...].
C) “O ser humano tem essa tendência a buscar essas crenças, mágicas.”
D) “A gente precisa se organizar para se adequar a esse mundo digital.”

10) QUESTÃO

A subordinação é um recurso sintático que está presente em todos os períodos a seguir,


EXCETO em:

A) Com a popularização dos computadores e smartphones, boa parte da população brasileira


tem acesso a redes sociais, como Facebook e WhatsApp, diariamente e se [partícula
apassivadora] tornou alvo de uma avalanche de notícias falsas disparadas a todo momento.
B) Em entrevista à BBC News Brasil, o psiquiatra e diretor da Associação Brasileira de
Psiquiatria, Claudio Martins, afirmou que as pessoas que compartilham notícias falsas
experimentam uma sensação de bem-estar semelhante à de usar drogas.
C) O psiquiatra explica ainda que esse movimento causa uma angústia que leva a pessoa a
imaginar que é portadora de uma novidade que deve ser contada com extrema urgência.
D) O codiretor do Instituto Tecnologia e Equidade, Thiago Rondon, diz que os produtores de
notícias falsas sabem disso e têm dois objetivos como estratégia ao criar suas correntes: gerar
medo e emergência.
11) QUESTÃO
Sobre a oração subordinada adverbial, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as
falsas.
( F ) Oração subordinada adverbial concessiva: eles ficaram vigiando para que nós chegássemos
à casa em segurança.
( V ) Oração subordinada adverbial temporal: mal [quando; assim que] você foi embora, ele
apareceu.
( V ) Oração subordinada adverbial condicional: se o Paulo vier rápido, eu espero por ele.
( F ) Oração subordinada adverbial final: embora eu esteja atrasada para o trabalho, continuarei
esperando por ele.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
A) V V F F.
B) V F V F.
C) F F V V.
D) F V V F.

12) QUESTÃO

Analise o trecho a seguir:

“Eu gostaria de saber quem teve a brilhante ideia de pintar a parede.”


O termo sublinhado na frase EXERCE a função de:
A) Preposição.
B) Advérbio
C) Conjunção.
D) Pronome.
13) QUESTÃO

Com base nas regras de crase, analise os trechos a


seguir:
I- Ele saiu à francesa.
II- Ela deu __ luz ontem na maternidade.
Assinale a alternativa que preenche
CORRETAMENTE as lacunas:
A) a – à
B) à – à
C) a – a
D) à – a

Leia este conto do Século XIX para responder as questões de 14 a 22

A carteira

De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la
e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à
porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
— Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.
— É verdade, concordou Honório envergonhado.
Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de
pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo
recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que
advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as
dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a
parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui,
jantar dali, chapéus, leques, tanta coisa mais, que não havia remédio senão ir
descontando o futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou
aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer,
e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma
voragem.
— Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C…, advogado e
familiar da casa.
— Agora vou, mentiu o Honório.
A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes
remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes
esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma coisa à
reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais.
D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus
negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um
mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma
ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de
música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava
com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.
Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos,
e viu-lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.
— Nada, nada.
Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as
esperanças voltavam com facilidade. A idéia de que os dias melhores tinham de vir
dava-lhe conforto para a luta. Estava com trinta e quatro anos; era o princípio da
carreira: todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir
fiado ou emprestado, para pagar mal, e a más horas.
A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de
carros. Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o
credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um
gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se
lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua da
Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando.
Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando,
andando, até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes — enfiou depois pela
Rua da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-
se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em
um Café. Pediu alguma coisa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo de
abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo
tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia
utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas
antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar
com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que
devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer
isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a
cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém
iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo.
Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo,
quase às escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não
contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinqüenta e vinte; calculou
uns setecentos mil-réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram
menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à
cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia consigo. Fechou a
carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la.
Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro.
Contar para que? era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis.
Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna,
a sua boa sorte, um anjo… Honório teve pena de não crer nos anjos… Mas por que não
havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois,
resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se
havia na carteira algum sinal.
“Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do
dinheiro,” pensou ele.
Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos
dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas
então, a carteira?… Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou
ao interior; achou mais dois cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele.
A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato
ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo
o castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café,
sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite. Caminhou
para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dois empurrões, mas ele resistiu.
“Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer.”
Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado, e a própria D.
Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma
coisa.
— Nada.
— Nada?
— Por quê?
— Mete a mão no bolso; não te falta nada?
— Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se
alguém a achou?
— Achei-a eu, disse Honório entregando-lha.
Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse
olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a
necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse
onde a achara, deu-lhe as explicações precisas.
— Mas conheceste-a?
— Não; achei os teus bilhetes de visita.
Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo
sacou novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o
outro não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o
em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor.

Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000169.pdf.

14) QUESTÃO

Assinale a alternativa que apresenta uma interpretação


INCORRETA do conto.

A) Gustavo frequentava diariamente a casa da


família de seu amigo Honório.
B) Honório era otimista sobre a melhora de sua
situação financeira no futuro.
C) O personagem principal estava enfrentando
graves problemas financeiros.
D) O dono da carteira encontrada por Honório é
amante de D. Amélia há anos.
15) QUESTÃO

O texto apresentado é um conto porque:

A) Aborda um tema universal facilmente verificável


na realidade.
B) Apresenta um personagem que vive um conflito
de cunho ético.
C) Estrutura a caracterização dos personagens de
maneira complexa.
D) Possui configuração material pouco extensa e
tipo textual narrativo.

16) QUESTÃO

Assinale a alternativa que apresenta o trecho que se classifica como discurso direto.

A) Tu\você agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da
casa.
B) No Largo parou alguns instantes, enfiou depois pela Rua da Carioca, mas voltou logo, e
entrou na Rua Uruguaiana.
C) Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para
quê? Era dele?
D) Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu-lhe as explicações
precisas.

17) QUESTÃO

“Mas daí [quando] (1) a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro.
Contar para quê? era dele? Afinal (2) venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis.
Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua
boa sorte, um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos...Mas por que (3) não havia de
crer neles?” [porque/ por causa/ em razão/ em virtude]

Considerando o contexto em que se encontram, os termos destacados e numerados têm valores


semânticos [significado] respectivamente de:
A) (1) lugar, (2) causa e (3) justificativa.
B) (1) tempo, (2) conclusão e (3) causa.
C) (1) explicação, (2) finalidade e (3) modo.
D) (1) condição, (2) tempo e (3) explicação.

18) QUESTÃO

“A descoberta entristeceu [en+triste+ceu] (1). Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar
um ato ilícito (2), e, naquele [em+aquele] (3) caso, doloroso (4) ao seu coração porque era em
dano de um amigo.” A palavra destacada e numerada que apresenta acréscimo de sufixo [é o
elemento que vem depois da palavra] e prefixo [é o elemento que vem antes da palavra] é a
de número:

A) (1).
B) (2).
C) (3).
D) (4).

19) QUESTÃO

“...De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira.”

Nessa primeira frase do conto, as reticências foram usadas para indicar:

A) Hesitação do narrador.
B) Interrupção de uma ideia.
C) Corte de parte da narrativa.
D) Precedência de um acontecimento.

20) QUESTÃO

É um dos complementos de um verbo bitransitivo o sintagma em destaque no seguinte trecho:

A) “Ninguém o viu, salvo um homem que estava à


porta de uma loja [...]”
B) “Gastos de família excessivos, a princípio por
servir a parentes, e depois por agradar à [a+a] mulher [...]”
C) “Não só recebeu pouco, mas até parece que ele
lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica [...]”
D) “Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos
beijos à filha, criança de quatro anos [...]”

21) QUESTÃO

“A verdade é que (1) ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por
desgraça perdera ultimamente um processo, em que (2) fundara grandes esperanças. Não só
recebeu pouco, mas até parece que (3) ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo
caso, andavam mofinas nos jornais.”

O termo “que” é um pronome relativo somente:

A) Na primeira ocorrência.
B) Na segunda ocorrência.
C) Na primeira e na terceira ocorrências.
D) Na segunda e na terceira ocorrências.

22) QUESTÃO

“[...] baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia remédio senão ir
descontando o futuro.”
“Voltou ao interior; achou mais dous cartões, mais três, mais cinco.”

Os termos em destaque são exemplos de que a língua varia conforme:

A) A classe social.
B) A idade do falante.
C) O período histórico.
D) O espaço geográfico.
23) QUESTÃO

Disponível em:
https://tirasdidaticas.files.wordpress.com/2017/11/rato87_rathvader_malbem_pq.jpg?w=640.
Acesso em: 01 set. 2018. Adaptado.

No contexto da frase, o termo circulado no primeiro quadrinho é:


A) Um advérbio e se opõe a “bem”.
B) Um adjetivo e se opõe a “bom”.
C) Um advérbio e se opõe a “bom”.
D) Um substantivo e se opõe a “bem”

24) QUESTÃO

Assinale a alternativa em que a conjunção “e” possui valor adversativo:

A) “Transformamos a nossa personalidade não para agradar alguém, e sim [MAS] porque
sentimos vontade de melhorar.”
B) “– Aqui eu organizei as gavetas, aqui eu levantei a bancada para tirar o pó, aqui empurrei a
geladeira [MAS] recolhi fragmentos de copos (...).”
C) “Eles entram pela porta, apressados de seus mundos, e [MAS] apenas lançam um olhar geral
e pouco curioso.”
D) “Quando faxino a residência, sempre vou me decepcionar com a reação da esposa e [MAS]
dos filhos.”

25) QUESTÃO

Assinale a alternativa que se encontra na voz passiva analítica:

A) A generosidade, a cordialidade, a esperança e a firmeza garantem a longevidade da atração.


B) A beleza pode ser destruída rapidamente pela fala (...).
C) A arrogância estraga a beleza.
D) A humildade salva a beleza.

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