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AULAS HPE 2022 – Professor Graça Moura

Aula 1 (17/02/2022)

Temas que vamos tratar:

1. Se somos uma economia descentralizada (não há coordenação prévia), como


funciona?
2. Como os economistas lidam com as crises?
3. A Teoria do Valor: sob certas condições, se a economia funcionar bem, o valor traduz-
se nos preços.
Aula 2 (21/02/2022)

As três posições são: Realismo, Instrumentalismo e Retórica.

Para chegar a estas definições, eu vou colocar duas perguntas:

Vocês vieram para aqui há 3 anos, com a expectativa de que economia é uma ciência. Mas
porque é que é uma ciência? Outra versão mais abstrata: qual a diferença de uma ciência de
uma não ciência? E ainda existe uma terceira versão da pergunta: porque é que astronomia é
uma ciência e astrologia, não é?

A ciência é constituída por teorias. Mas a astrologia também será uma teoria, mesmo que não
seja verificada ou falsificada pelos factos. A questão é, essas teorias são sobre alguma coisa,
sob determinados objetos. Os objetos é que não têm necessariamente a mesma natureza
consoante aquilo que estamos a falar. Se estamos a falar na ciência, as teorias são sobre
objetos que existem, não são ficções. Também existem no sentido que não foram criadas por
mim. Há dois campos distintos: isto é, ciência, a Teoria sou eu que a construo, são formuladas
por humanos, estas teorias são sobre alguma coisa, que são o objeto das teorias e esse objeto
das teorias é um objeto que existe (Realidade).

TEORIA ---» REALIDADE

As teorias que eu formulo são sob objeto que é real no sentido que existe e que esse objeto
existe e opera independentemente das teorias que eu tenho sobre ele. Exemplo:Se estiver a
pensar no sol e tiver várias teorias como funciona o sistema solar, as teorias que formulo são
sob um objeto que é o sol, que 1. Existe e 2. Existe independentemente das teorias sobre ele, é
totalmente indiferente a teoria que tenha para o seu funcionamento, o sol cooperava da
mesma maneira. Portanto, temos o caso de uma propriedade muito interessante: a teoria é
sobre um objeto que opera e existe independentemente da própria teoria.

A segunda pergunta é: quando é que uma afirmação é verdadeira? Se eu tenho um objeto que
é a realidade, existe e coopera independentemente da teoria, se a teoria que se refere a este
objeto produzir afirmações que tiverem em correspondência com esse objeto, eu posso ter
aqui um primeiro critério de verdade. A teoria é verdadeira, que é o que esperamos das teorias
científicas, se produz afirmações que estão em correspondência com o objeto real da teoria.
Se eu tiver uma realidade, um objeto independente, existe e opera independentemente das
teorias que eu tenha sobre ele e agora tenho uma teoria sobre esse objeto, um conjunto de
observações. Eu posso dizer que essa teoria é verdadeira se existir “correspondência” entre o
que diz e a realidade. Chama-se “teoria da verdade com correspondência”, é um critério para
verdades. Uma afirmação é verdadeira ou falsa dependendo de como o mundo é. E o objetivo
é produzir afirmações que contenham verdade, que estejam em correspondência com o
mundo. Mas agora, ano dia-a-dia, os cientistas têm de fazer juízos sobre se certas teorias ou
afirmações são V’s ou F’s, se dizem alguma coisa sobre o mundo. E os juízos que eu faço são
sempre falíveis e provisórios. É claro eu saber o que é uma afirmação verdadeira, mas é
diferente de eu saber se uma afirmação é verdadeira ou não, é algo que me posso sempre
enganar. Um exemplo: a teoria da terra estar no centro do mundo. Hoje sabemos que é falsa,
mas na altura era generalizadamente aceite. Era com base na evidência: parece que vemos o
sol a nascer e a pôr-se. Hoje sabemos que é o sol que está no centro. Portanto, os juízos que
tínhamos estavam errados. Atenção que estes juízos não afetam o que é a verdade, a verdade
é sempre a mesma. É verdade se estiver de acordo com os factos. Mas o juízo que eu faço
depende do estado de conhecimento em que estou. Neste momento, os melhores critérios e
juízos científicos que temos que consideramos terem verdade podem revelar-se falsas por
definição, porque não tenho conhecimento futuro, que é impossível de ter. Não há maneira
nenhuma de demonstrar que não vai existir uma teoria a seguir que mostra que a teoria que
julgava que continha verdade, afinal estava errada. Uma é o critério de verdade (a teoria é
verdadeira em correspondência com a realidade, mesmo que ninguém nunca saiba), outra é o
juízo de verdade (o que eu julgo que sei sobre isso, que é sempre provisório), denominado por
RELATIVISMO EPISTEMOLÓGICO. Por isso, a ciência produz afirmações suscetíveis de serem
sempre revistas. Normalmente, as teorias que vêm a seguir vêm restringir o âmbito da
coligação das anteriores, mas não provar que estão erradas. Daí vem o progresso científico.
Por exemplo: a teoria da relatividade não veio mostrar que Newton estava errado, veio
demonstrar que o âmbito de aplicação era diferente do que se pensava.

NOTA: ERRADO DIZER “Uma teoria é verdadeira porque os cientistas consideram verdadeira.”

Epistemológico que dizer referente ao conhecimento, o conhecimento depende do estado do


conhecimento em que nos encontramos. Se estivesse na idade média, teria juízos de valor
diferentes dos de hoje, independente do que a verdade é.

Como é que fazemos juízos sobre se as teorias são boas ou más? Se têm verdade ou não? É
intuitivo, os critérios usados são diferentes ao longo do tempo, entre disciplinas, diferentes
visões de cientistas, diferentes opiniões. Não há uma teoria geral sobre isto. O positivismo
lógico é uma teoria da ciência que tem a preocupação de distinguir ciência de não ciência.
(problema de demarcação: o que é ciência ou não. E os positivistas dizem que só existem 2
tipos de afirmações: previsões ou afirmações verificadas pela experiência. Se não for assim,
não é ciência. Karl Popper apresenta o argumento O PROBLEMA DA INDUÇÃO. Suponha-se que
quero estabelecer a verdade sobre a seguinte afirmação “Todos os cisnes são brancos.” Vou
começar a contar cisnes brancos. Nunca vai chegar para estabelecer que todos os cisnes são
brancos, porque não sei se os já vi a todos. Estou a induzir: partir do particular para o geral.
Popper diz que a afirmação não é verificável, mas é de certeza falsificável. Se for à Austrália,
basta observar um cisne negro para saber que a afirmação é falsa. O positivismo lógico pode ir
para o lixo, o que distingue as teorias científicas não é fazerem afirmações verificáveis, é fazer
afirmações suscetíveis de falsificação e aceitá-las provisoriamente enquanto não forem
falsificadas. Pegando no exemplo anterior, a teoria da relatividade é ciência porque apresenta
formulações que podem ser confrontadas e falsificadas. Já o marxismo faz previsões e essas
previsões estão erradas, mas os marxistas recusam-se a abandonar a teoria, isso não é
científico segundo Popper. Também acha que a psicanálise tem um problema ainda maior.
Nem sequer faz previsões. Não se consegue confrontar com a experiência.
Algumas complicações de Popper: 1. se temos uma teoria muito extensa e no fim não está de
acordo com a experiência, como sabemos que parte da teoria foi falsificada? 2. As observações
que fazemos e que vamos testar são elas próprias dependentes da teoria que temos. Com
outra teoria fazemos outras observações. As observações que fazemos são dependentes da
teoria. Bastante complexo, não vamos desenvolver mais.

Uma dificuldade que corre o risco que desabar isto: social que dizer dependente da ação
humana. Portanto, todos os fenómenos que nos interessam (economia) dependem disto, mas
não é uma coisa concebível sem intencionalidade: agimos sobre teorias que já temos.
Portanto, a realidade não é independente da teoria que temos sobre ela, no campo social.

Portanto, no campo social é preciso haver precauções para que tudo o que foi dito até agora
nãos seja desperdiçado: 1. Mesmo no campo social, quando dizemos que que social depende
das nossas ações, isso não quer dizer que não haja nada além dessas conceções/teorias. Uma
coisa é a teoria sobre as classes sociais, outra são as classes sociais. Portanto, o mundo social é
afetado pelas teorias que nós temos, mas não se reduzem a essas teorias. 2. Eu hoje estou
inevitavelmente no presente. Se quero explicar, quero explicar o passado, não posso explicar o
futuro porque não aconteceu. Do ponto de vista do presente, o passado não dá. O passado
que eu quero explicar no campo social é tão independente das teorias que eu tenho no
presente, como o campo natural.

A alteração que eu tenho que fazer é dizer que a teoria da verdade em correspondência
significa que as teorias são verdadeiras em função de como o mundo é. Mundo esse que
existe, independentemente ou pelo menos previamente às teorias que tenho sobre ele.

Agora, estamos pronto para distinguir as 3 posições:

REALISMO

1. As teorias ou são verdadeiras ou são falsas.


2. São verdadeiras ou falsas, dependendo de como o mundo é.
3. Esse mundo existe e coopera independentemente ou previamente às teorias que
temos sobre ele.
4. Os juízos que eu faço sobre a verdade são provisórios.

O objeito principal é explicar o mundo, prever também, mas essencialmente explicar


compreendendo o mundo.

INSTRUMENTALISMO

1. As teorias não são consideradas nem verdadeiras nem falsas. São vistas como MEROS
instrumentos. Têm que ser úteis para o propósito: previsão.

Há uma 2ªversão do instrumentalismo, que é a tese de que a falsidade é irrelevante.


Consideram que as teorias podem ser classificadas como verdadeiras ou falsas e até
admitem e classificam parte delas como falsas, mas consideram que isso não faz mal. É
contraintuitivo, associamos a ciência à verdade. Desde que, cumpram os seus propósitos,
fazer previsões.
Na 2ª versão, estou a dizer que a falsidade pode ocorrer e não interessa, não é um
problema.

O instrumentalismo é uma posição aceitável, embora não seja a do professor.

RETÓRICA

Vamos apenas criticar, não defender. Não é possível defendê-la. A economia ser uma retórica
é uma contradição. Mas vamos falar nela porque há muitas disciplinas em que está presente.

A retórica: os cientistas têm conversas entre si sobre alguma coisa. Consideram que o discurso
científico é um discurso sobre objetos constituído pelo próprio discurso do próprio objeto.
Deixa de existir “Teoria -> Realidade”. O discurso é constituído pelo próprio discurso e não
permite saber nada fora do discurso. Tenho uma conversa sobre o objeto A, esse objeto A é
criado na própria discussão sobre este objeto e não há nenhuma relação do objeto A e um
objeto A fora do universo do discurso. Não posso saber anda fora do objeto do discurso e na
verdade, nem posso estabelecer que existe objeto fora do discurso. Não há mundo exterior.

Aula 3 (24/02/2022)

Ontologia social de Cambridge – versão do realismo mais interessante. É um ramo da filosofia


e metafísica. Preocupa-se com a natureza da realidade. Há tantas ontologias quantas teorias
existirem sobre a natureza da realidade. É importante porquê? Vamos supor que para fazer
resolver um problema de ciência, por exemplo a economia, tenho mais que um método à
disposição. Para simplificar, posso escolher entre o método A e o método B. A teoria que me
diz como devo fazer essa escolha é a metodologia. A metodologia é a disciplina que explica
quais são os métodos apropriados para certas circunstâncias. Porque hei de preferir o método
A ao método B ou vice-versa? Se o método A me permitir obter mais conhecimento do que o
outro método. Por trás da metodologia, está o que se chama de epistemologia, que quer dizer
haver conhecimento. O que justifica a escolha de um método é a teoria que esse método é
mais útil que qualquer outro método alternativo. Agora, reparem, se eu dizer “Eu conheço.”,
falta uma parte, eu conheço o quê?, falta o objeto, ou seja, por trás de uma epistemologia,
está uma onotologia, uma teoria da natureza da realidade. Acho que este método é o método
que permite obter conhecimento sobre uma determinada realidade. Se as escolhas dos
métodos foram feitas com bom senso e razoabilidade, devem ser feitas em função do que
sabemos sobre a natureza da realidade. Por exemplo: decidir o método a priori, antes de
considerar a natureza do problema, decidir por exemplo que todos os problemas se resolvem
através de um procedimento matemático, qual o resultado? O método só estará por acaso
apropriado à natureza da realidade. Esses métodos podem ser interessantes para certos
problemas, mas certamente inapropriados para outros. Não é um método inteligente.

Por exemplo, hoje de manhã para lavarmos os dentes, usámos uma escova de dentes e pasta
dos dentes. Mas na verdade. Tínhamos muitos outros instrumentos à disposição para
utilizarmos: um pente. Porque não usamos o pente? Porque sei alguma coisa sobre a natureza
dos dentes, da escova e da pasta que é o suficiente para eu saber que a forma apropriada para
lavar os dentes é com uma escova e pasta de dente e não com o pente de cabelo. Não tenho
que ter um conhecimento científico ou aprofundado sobre estas coisas: de que a pasta é feita,
material da escova de dentes ou como os dentes são, apenas o mínimo sobre a natureza do
que quero fazer para escolher o instrumento apropriado. Os métodos são instrumentos, não
meramente instrumentos (A NÃO SER QUE SEJA INSTRUMENTALISTA). Portanto, o método a
priori é como escolher uma escova de dentes para tudo o que fossemos fazer. Não faz sentido.

Para o realismo, que é compreender a natureza da realidade, então tenho de prestar atenção a
essa natureza na seleção de instrumentos que me irão ajudar cientificamente a entendê-la. O
facto de ser um tema interessante para o realismo e o instrumentalismo evitar este tema (não
discutindo veracidade ou falsidade), não quer dizer que este tema possa ser evitado. Qualquer
método pressupõe implicitamente uma ontologia. Os instrumentalistas não querem discutir
questões ontológicas, mas não quer dizer que as consigam eliminar porque o próprio
instrumentalismo pressupõe uma ontologia para ter sentido. Pressupõe que o mundo é de
uma determinada maneira, tem certas propriedades. Pressupõe que o mundo tem
propriedades tais que é possível fazer previsões acertadas, porque se não propusesse isto, não
faria qualquer sentido serem instrumentalistas. Ontologias são inevitáveis.

Nota: Teoria sobre a natureza da realidade é o realismo. Definição de realismo diferente dada
na aula anterior, que foi uma teoria da ciência com certas caraterísticas. Realismo tem muitos
significados. Enquanto que “teoria da ciência”, o instrumentalismo opõe-se ao realismo. Mas,
o instrumentalismo pressupõe ele próprio uma conceção da realidade. Portanto, embora
como “teoria da ciência”, se oponha ao realismo, o instrumentalismo ao mesmo tempo
pressupõe um realismo. Mas agora estou a usar realismo não como “teoria da ciência”, mas
sim como “teoria da realidade”.

Fim da introdução

REALISMO

A discussão de realismo tem que estar centrada em compreender a realidade e portanto,


discussões sobre a ontologia. O que vou discutir é essencialmente, qual a ontologia
apropriada.

Ontologia Social de Cambridge: é o nome que se dá hoje. Na leitura que iremos fazer, usava-se
“Realismo Transcendental” ou “Realismo Crítico”. Vamos tratar como se fosse a mesma coisa.
Vou confrontá-la com “Realismo Empírico”, pretendendo mostrar que a ontologia social é
melhor.

No realismo empírico a epistemologia que pressuponho chama-se “emprirismo”. Isto é uma


epistemologia, já não é uma ontologia, os realistas é que são ontologias. O empirismo é uma
teoria do conhecimento, uma epistemologia, que evolui para positivismo e positivismo lógico
(vamos considerar sinónimos). O empirismo diz que a nossa mente é como se fosse um espaço
em branco mas está constantemente a receber sinais do mundo exterior à nossa mente pelos
nossos 5 sentidos, dão origem a impressões sensoriais que o nosso cérebro processa, organiza
de alguma maneira e acabamos por construir conceções/teorias e compreender o mundo
exterior.

O realismo empírico é a teoria da realidade que esta teoria do conhecimento que acabei de
expor pressupõe. Se a realidade é conhecida da maneira que eu acabei de descrever, ao dizer
isto, estou a supor alguma coisa sobre a natureza da realidade. O quê? A realidade tem de ser
constituída apenas pelos objetos que podem ser captados através dos sentidos. Não pode
existir outra coisa. Por outras palavras, a realidade são os acontecimentos. O que vemos,
ouvimos, etc. O resto não é real.

Complicação: Acontecimentos ≠ A minha perceção sobre estes acontecimentos

Um único acontecimento, dependendo de onde as pessoas estiverem, cada uma vai ver coisas
diferentes. Exemplo: jogo de futebol

Mas vamos eliminar este problema para já. As conceções que temos sobre os acontecimentos
são corretas, não estão distorcidas.

A realidade são então acontecimentos, uns observados por mim, outros por outras pessoas,
outros não são observáveis por ninguém, mas existem porque são observáveis ou existiram.
Mas os acontecimentos são potencialmente todos diferentes uns dos outros, como posso ter
conhecimento geral? Se não tiver conhecimento geral, não existe ciência. Conhecimento geral tem
algum grau de generalidade na sua aplicação, não é universalmente aplicável, mas tenho uma
explicação que funcione em vários casos. Correlação: tem de haver um padrão qualquer que
correlacione os acontecimentos entre si. Um acontecimento X está relacionado a um
acontecimento Y. Portanto, quando X acontece, Y acontece. (Isto não implica que X é a causa
de Y). Se não houvesse padrão nenhum, não conseguimos entendê-las porque são todas
diferentes, temos de detetar padrões que são associações de acontecimentos, “constant
conjuctions of events”, pré conceção para existir ciência.

MODELO DE EXPLICAÇÃO: MODELO DN (dedutivo nomológico/Popper-Hempel)

Se eu quero explicar uma afirmação, tenho de a deduzir de outras afirmações. Explicação


dedutiva. E dessas frases, pelo menos uma, tem de ser uma lei. Uma lei é uma regularidade,
que correlaciona de uma forma constante acontecimentos entre si [X -> Y], suficientemente
sólida.

Ex: Hoje de manhã havia gelo no radiador no meu carro. Tenho de deduzir esta frase de outras
frases, em que uma é uma lei.

Frase 1- Ontem à noite, havia água no radiador do meu carro.

Frase 2- Durante a noite, temperatura diminui abaixo dos 0ºC.

Frase 3- Abaixo dos 0ºC, a água congela. -> Lei

Deduzo que hoje amanhã havia gelo, em vez de água, no radiador no carro.

Este modelo de explicação tem uma propriedade interessante: Tese da simetria: neste quadro,
explicar e prever são coisas simétricas. É uma questão de olhar para trás estou a explicar vs
olhar para a frente estou a prever, mas o procedimento é o mesmo. Estava a querer explicar
que havia gelo no radiador do carro, que foi o que fizemos, mas suponhamos que ainda estou
na noite anterior a ver o boletim meteorológico e sei que há água no radiador no meu carro,
sei que a temperatura vai baixar abaixo dos 0ºC e sei que a essa temperatura, a água congela:
posso prever que no dia seguinte irá haver gelo no radiador do meu carro.
Sem a lei, não há explicação. A lei é uma regularidade, esta conceção do mundo só tem sentido
se conseguir identificar sistematicamente regularidades suficientemente sólidas para que
possam ser chamadas de leis. Se essas regularidades não existirem, não sou capaz de explicar
ciência. Significa que a minha conceção de realidade tem de estar errada, foi daí que tudo isto
partiu. Não é a realidade que está errada, mas sim a minha conceção de realidade. E então,
este modelo de explicação cai por terra.

Há algumas regularidades, mas em regra, (defesa do professor) as regularidades são raras.


Porquê? Em econometria, associamos as variáveis X e Y. Conseguimos construir um modelo
que para uma base de dados funcione, mas intuitivamente o mesmo modelo noutra base de
dados não funciona. A regularidade que encontrámos é uma coisa frágil, temporária, perdida
no espaço e no tempo, não é uma coisa que queiramos atribuir o nome lei. Segundo exemplo,
maior parte da teoria económica é que se refere a modelos em que está assegurado
regularidades através de pressupostos que garantem estas regularidades e não por serem
realistas. Os modelos são construídos para produzirem regularidades, através de equilíbrios,
etc. Mas porque alguém se daria ao trabalho de produzir estes modelos não realistas para
fabricarem artificialmente regularidades se as regularidades fossem espontaneamente
identificáveis? É um argumento a favor da tese de que as regularidades são raras, se não o
fossem, ninguém se daria ao trabalho de contruir estes modelos. Elas seriam
transparentemente identificáveis. Os argumentos são ex-post: baseados na observação, ao
contrário do argumento ex-ante, menos convincentes, porque dependem de aceitar um
pressuposto. Mas também posso apresentar um argumento desses: sabemos que temos a
capacidade de escolha, na situação X posso fazer A ou B, é uma incompatibilidade entre
escolha e previsão, se a escolha é verdadeiramente escolha não pode ser prevista. Só pode ser
prevista se já tiver sido determinada de alguma maneira. Se aceitarmos que os agentes têm
poder de escolha, é surpreendente que haja regularidades. Mas é um argumento mais fraco
porque está dependente de nós acreditarmos que existe escolha. Por qualquer das razões,
este modelo de explicação não é bom.

Aula 4 (28/02/2022)

Recordando…

Nos modelos, o que temos são regularidades entre o X e Y com 2 caraterísticas: já não são
acontecimentos observáveis, é um cenário imaginário em que ocorreria a regularidade entre X
e Y. A segunda caraterística é que X está constantemente correlacionado com Y sob condições
Z, se Z então X está correlacionado com Y. O problema é que os Z’s são condições que não se
verifica nem nunca se vão verificar.

A aplicabilidade do realismo empírico está dependente da existência de um sistema fechado: é


um sistema constituído de tal modo em que está garantido que existem regularidades que
correlacionam X e Y. Ao contrario de um sistema aberto, em que as regularidades que
associam X e Y podem ocorrer, mas tipicamente não ocorrem, é raro. O mundo na verdade é
um sistema aberto, mas o realismo empírico supõe que é fechado e as pessoas que estão
presas ao modo de explicação associado seja a priori ou não, estão condenadas a criar
sistemas fechados artificiais, em que o problema é sempre o mesmo: se introduzo ficções,
como passo da ficção para a realidade?

Argumento: Sim, é verdade que não há regularidades e que estamos a especificar neste
modelos condições nas quais havia e que não é imediatamente óbvio para que é que isso
serve, em particular porque as condições são obviamente falsas, mas o que nós estamos a
fazer de facto é muito parecido com o que as ciências naturais fazem: Não é só o mundo social,
que é o que nos interessa em primeira linha, que é um sistema aberto. O mundo natural
também o é, não há regularidades tipicamente espontâneas, mas os cientistas naturais
fabricam artificialmente uma experimentação laboratorial, na qual essas regularidades
existem, estão garantidas. Estamos a fazer uma espécie de experiência mental, e da mesma
maneira que as experiências laboratoriais são úteis, estas experiências mentais que teriam a
mesma estrutura, também seriam úteis. Portanto, a defesa é: estamos a fazer o mesmo que as
outras ciências, em particular a física e ciências naturais.

Porque é que este argumento está errado? Vai explicar que o modelo DN está errado, assim
como o realismo empírico. Seguramente ninguém acha que a experimentação laboral é uma
ficção, ou que os cientistas trabalham em condições ficcionais (podem trabalhar em condições
artificiais, mas é diferente), como quando suponho que os agentes económicos maximizam
uma função qualquer, é obviamente ficcional, falso e nunca poderia ser verdadeiro.

Reduzindo o argumento em 3 frases:

Frase 1- Leis são regularidades ao nível dos acontecimentos.

Frase 2- As regularidades ao nível dos acontecimentos apenas estão garantidas/asseguradas


em condições controladas. Em condições experimentais, conseguimos fazer um sistema
fechado.

Frase 3- A experiência laboratorial em ciências naturais é útil, serve para alguma coisa.

Estas frases são incompatíveis entre si. Porquê?

 Não se percebe em como a ciência natural é útil porque se os resultados das leis são
regularidades e essas regularidades só estão garantidas em condições artificiais, como
é que a utilidade em condições espontâneas é explicada? Não é, é incompreensível
como esta frase é verdadeira. A terceira frase é incompatível com as outras 2.
 Se estamos em ciências naturais, as leis em causa são leis da natureza. É inaceitável
que leis da natureza só estejam garantidas em condições controladas, então não
podem ser leis da natureza porque só funcionam se eu der uma ajudinha. Só
funcionam com um cenário adequado. As leis da natureza devem funcionar
independentemente da minha intervenção. Se estão dependentes de eu construir o
cenário adequado para se manifestarem, então não pode ser lei da natureza.

Portanto, esta explicação que tenta fazer uma analogia entre estes procedimentos e as
ciências naturais só pode ser classificado como “no sense”. Já sabemos onde está o erro, a
3ª frase, mesmo que não saibamos porque é que isto acontece, não há ninguém que
discuta que é verdadeira. A 2ª também não é questionável, assumem que é um mundo
aberto e se não o fosse, para quê fazer experimentação laboratorial. Portanto, se a 2ª e 3ª
são verdadeiras, o erro está na 1ª. Mas se a 1ª está errada, é o realismo empírico e esta
forma de explicação que estão erradas. O realismo empírico tem de estar errado, não faz
sentido.

Alternativa: teoria sobre a natureza da realidade (ontologia) em alternativa ao realismo


empírico, o realismo transcendental.
ATENÇÃO: conhecemos 2 tipos de raciocínio: dedução e indução. Dedução, partir do geral
para o particular e indução, começar do particular e generalizar. Mas não são as únicas,
essa forma de raciocínio chama-se abdução. Reparem que quer na dedução e indução não
permitem descobrir nada que já não esteja explícito na afirmação em causa, se eu digo
que todos os corvos são pretos, posso deduzir que o próximo corvo que eu vir seja preto,
mas não explica porque é que os corvos são pretos. A abdução é o tipo de raciocínio
criativo na ciência que permite descobrir coisas que não sabia antes. Por exemplo, observo
que os corvos são pretos, e coloco uma questão “Que predispõe os corvos a serem
pretos?” Será genético? Será por questões ambientais? O raciocínio parte da observação
que eles são pretos, para a descoberta do mecanismo que faz com que sejam pretos.
Dentro da abdução, existe um tipo de raciocínio chamado “Inferência Transcendental”, eu
tenho à minha frente um conjunto de factos que são generalizadamente aceites, e tento
responder à seguinte pergunta “Como é que o mundo tem de ser para esses factos
puderem ter acontecido?” ou “Quais são as condições de possibilidade dessas observações
que eu não consigo, à primeira vista, explicar? Assim, no exemplo anterior, como é
possível as regularidades estarem garantidas em condições controladas e ainda serem
úteis?

Para explicar este raciocínio transcendental, a maneira mais eficiente é começar pela
conclusão e depois explicar como é que conclui isso.

Conclusão: Qual a teoria/ontologia alternativa ao realismo empírico? É a teoria de acordo


com a qual a realidade é composta por 3 níveis e não apenas aqueles que o realismo
empírico reconhece:

1ºnível: Acontecimentos, à semelhança do realismo empírico. 2ºnível: as nossas


conceções/perceções sobre esses acontecimentos, também semelhante ao realismo
empírico, assimilando que as conceções seriam corretas e mais tarde farei a distinção.
3ºnível: Estruturas. Não existe no realismo empírico. Estruturas são entidades ou parcelas
da realidade que não são suscetíveis de serem diretamente observáveis, mas existem.
Como sei que existe? Se eu puder observar certos efeitos que só são explicáveis se esse
objeto existir, de onde eu infiro que ele existe através de um raciocínio transcendental.
Exemplo: o giz que seguro nos dedos está sujeito à gravidade, que não é diretamente
observável. Nós sabemos que gravidade existe porque sabemos o que aconteceria se
deixássemos cair o giz, e é destes efeitos observáveis que inferimos que existem coisas não
observáveis, como a gravidade. A gravidade é um exemplo de estrutura.

Há muitas estruturas (gravidade, campos magnéticos, etc.), que se combinam de modo a


produzir acontecimentos, que serão diferentes de acordo com a cominação de estruturas
que o produziu e depois nós observamos esses acontecimentos ou não. É crucial para
perceber o realismo transcendental, que estes 3 níveis tipicamente não estão
sincronizados uns com os outros. As nossas conceções dos acontecimentos são parciais e
potencialmente erradas, portanto não as conceções não têm que coincidir com os
acontecimentos. E também as estruturas não têm que coincidir com os acontecimentos:
exemplo do giz. Sabemos que o giz está sujeito à gravidade, no entanto ele não caiu ao
chão. Porquê? Não é por a gravidade não esteja a operar, mas sim porque a força da
gravidade está a ser contrariada por outra, eu a segurar no giz. Ver o giz cair seria ver a
gravidade diretamente a operar. A estrutura está sempre a operar, “transfactually”,
operam quaisquer que sejam os atos observáveis e não observáveis. A gravidade e outras
estruturas operam com tendências, não se quer dizer neste contexto que este giz cai
muitas vezes ou às vezes ou que cai com uma certa probabilidade, mas sim que há uma
força permanentemente transfactualmente a operar sobre ele e essa força fará com que
ele caia e, portanto, gere uma tendência para ele cair, a menos que seja contrariada por
uma força de sentido contrário.

Este argumento é muito melhor que o outro, o que faz com que ninguém aceite o realismo
empírico. Mas como provamos isto? O enigma eram a 2ª e 3ª frases, se eu aceitar esta
conceção, estas 2 frases passam a fazer sentido, e por isso é obviamente preferível à
anterior. Porque é que a realidade natural de um sistema aberto, mas o que se descobre
em condições laboratoriais é útil nesse sistema aberto? Alguém coloca a hipótese de que o
mundo seja mais complicado que aquilo que nós vemos, haver coisas que não podemos
observar, mas que existem, como por exemplo, folhas a caírem das árvores no outono, as
folhas estão sujeitas a diversas forças de natureza diferente, por isso é que a trajetória de
queda de cada folha não é igual à de nenhuma outra. Todas elas estão sujeitas à
gravidade, por isso acabarão por cair, as depois há forças termodinâmicas, de inércia, que
fazem com que a trajetória de queda de cada folha seja única. Umas podem ser levadas
metros e metros até cair, outras podem ficar presas numa árvore e não chegarem a cair.
Esta diversidade é o que quer dizer o mundo natural ser aberto, não ser aberto seria elas
caírem todas da mesma maneira. Essas forças não observáveis operam em sentidos
diversos e com intensidades diferentes e conforme os sentidos e as intensidades, vão
produzir acontecimentos diferentes. Reparem que nisto momento não sabemos quem são
essas entidades, apenas estamos a pôr a hipótese que elas existem. Como vamos descobrir
alguma coisa sobre elas? A experimentação laboratorial, que só funciona em algumas
ciências naturais, mas quando funciona é muito útil. Tentar criar um cenário artificial no
qual eu isolo uma estrutura ou força de todas as outras, para poder perceber que efeitos
ela provoca quando está a ser perturbar o resultado com influência de outras estruturas
ou forças. É sempre, tentar porque não sei todas as estruturas que existem, nem posso
assumir que sei, e sobretudo não sei como funcionam antes de as descobrir, tudo isto são
tentativas-erros. Há de chegar a um ponto, que concluo qualquer coisa. O que acontece?
Deixa de haver dessincronização entre as estruturas e o acontecimento, e por isso há
regularidades em condições laboratoriais. Ficam sincronizados, porque os acontecimentos
só refletem essa estrutura. É um bom método para descobrir alguma coisa sobre objetos
não diretamente observáveis, estruturas naturais (não sociais). No momento em que
existe sincronização, eu finalmente percebi como é que a gravidade opera e posso
formular como a obtenho. A formalização de como a gravidade opera é a lei da gravidade.
Só que a lei da gravidade não se refere a acontecimentos, esse é que é o grande erro do
realismo empírico, o que agora descobrimos é que as leis não se referem a
acontecimentos, mas sim a estruturas. As leis são discrições da forma como as estruturas
operam. Por isso, é que operam transfactualmente enquanto tendências e operam dentro
e fora de um laboratório. A lei da gravidade pode ser confirmada em condições
laboratoriais, mas opera exatamente da mesma maneira fora do laboratório., por isso é
que é útil. Agora já percebo porque é que as regularidades só estão garantidas em
condições controladas: porque tipicamente exige uma sincronização entre estrutura e
acontecimento, que não acontece espontaneamente, é preciso criar condições artificiais
para produzir isso. Também já percebo porque a experimentação laboratorial é útil:
porque as leis que formulei, embora descobertas no laboratório, funcionam da mesma
maneira fora do laboratório, ajudou-me a descobri-las, a percebê-las. A primeira frase é
que foi para o lixo, e temos que mudar para “leis são discrições da forma do
funcionamento das estruturas”. Posso concluir que esta conceção é preferível.

Falta explicar se o realismo transcendental tem também implicações no campo social. O


que me interessa é averiguar se no mundo social, também há estruturas no sentido muito
genérico: se posso dizer que a realidade é constituída por objetos que não são
diretamente observáveis. Como vou estabelecer isso? Através de uma inferência
transcendental tal como no campo natural, só que tem de partir de outras observações.
Partir de factos socias e demonstrar que existem estruturas sociais, daí vai resultar que as
propriedades das estruturas naturais são diferentes das propriedades das estruturas
sociais. Todos sabemos que existem esses objetos no campo social, por exemplo, hoje
viemos de meio transporte para aqui. Se vieram de automóvel, respeitaram as regras de
trânsito, que são estruturas, nunca ninguém as observou. Podemos observar as pessoas a
respeitarem ou não, mas não é o mesmo que observar a regra em si e é social, depende da
nossa ação.

Aula 5 (3/03/2022) Faltei a esta aula, resumos de outra pessoa.

Bibliografia -> 4 capítulos

1º capítulo -> contextualização

O mundo social são ações e interações. Qual é o nível de realidade que não é observável
no mundo social? Factos consensuais e inferir condições de possibilidade. Especificidade
das estruturas sociais.

Mundo social -> incerteza, instabilidade, mas conseguimos funcionar no mundo social,
tomar decisões e fazer escolhas. Quais as condições de possibilidade disto?

1ª Frase – A ação humana é sempre intencional.

2ª Frase- A intencionalidade supõe algum grau de conhecimento.

3ªFrase- O conhecimento supõe uma certa estabilidade do objeto do conhecimento.

Condição para falarmos português é a existência da língua portuguesa (tem de ser


suficientemente estável, o significado das palavras não pode ser alterado a cada minuto),
mas não é necessariamente imutável. Se não tiver um mínimo de estabilidade, não pode
ser conhecido.

As pessoas não aprendem o mundo social. Ação humana só é concebível se houver um


nível de realidade adicional diferente dos acontecimentos e os agentes económicos têm de
ter algum conhecimento sobre esse nível.

Estruturas -> Dependem da nossa ação (não age por si mesma, mas através da nossa ação,
diferentemente do mundo natural) ->condição da ação humana

Língua portuguesa -> estrutura


Reprodução -> implica transformação

Processo de subsistência e reprodução

Condição para nós, só subsiste no tempo através da nossa ação. Para além de se
alterarem, podem ser alteradas deliberadamente.

Mundo social é todo estruturado, constituído por estruturas: sistema bancário, regras de
trânsito, código da estrada, regras de boa educação.

Conhecimento tácito (processo quase automático). Aprendemos explicitamente, torna-se


tácito e depois podemos explicar condição para certos comportamentos sociais, só se
reproduz através dos nossos comportamentos.

A estrutura social é muito dependente do tempo e do espaço, é uma condição para nós
agirmos e só se manifestam através da nossa ação.

Abstração necessita-se para fazer uma explicação.

A- Existem estruturas sociais.


B- Temos de ter conhecimento delas.

Não é processo descobrir coisas que são pré-condições para a nossa ação.

Abstração ≠ Isolamento
Aula 6 (7/03/2022)

Instrumentalismo

Há várias versões de instrumentalismo, mas no fundo são variações da mesma ideia ou


ideias conexas umas com as outras. É a metateoria (teoria sobre a teoria), que nos diz que
as teorias são meramente instrumentos e que como tal, não são verdadeiras nem falsas,
mas são meramente úteis para certos propósitos. Ou em outra versão, a falsidade é
irrelevante, não interessa se as teorias se baseiam em pressupostos falsos porque o único
propósito das teorias não é explicar, é outro propósito qualquer. Qual é esse propósito?
Depende da variante do instrumentalismo: para nós, o único propósito é previsão, fazer
previsões corretas.

Erro comum feitos pelos alunos:

As previsões só podem ser de acontecimentos. O instrumentalismo é um argumento


utilizado pelo Friedemann (não quer dizer que este seja instrumentalista, é uma
interpretação), é usado para defender a teoria neoclássica. O que é a teoria neoclássica? É
a economia que conhecemos, modelos em que agentes se comportam mecanicamente
maximizando uma função qualquer e estudamos como se conjuga para produzir um
equilíbrio. Naturalmente, a ontologia implícita neste tipo de modelos é o realismo
empírico, não o transcendental. As previsões que ele faz não são sobre a estrutura, como
se faz no realismo, em que posso fazer a previsão do giz que tenho na mão ter uma
tendência para cair. Para ser, teria de começar a discutir ontologia e o propósito do
instrumentalismo é evitar isso.

O contexto do argumento do Friedemann é que nessa altura havia imensa gente a criticar
modelos neoclássicos, e sempre pelas mesmas razões: os pressupostos são irrealistas. O
pressuposto que as empresas maximizar o lucro, por exemplo, e as a pessoa responsável
por gerir a empresa não souber o que quer dizer maximizar? Ou uma função? O
Friedemann responde: não interessa, não interessa se maximizam ou não, mas sim se é
como se maximizassem ou não. Se eu admitir que maximizam faço uma previsão correta?
Se sim, é uma boa teoria. E segundo Friedemann, a teoria neoclássica faz boas previsões.

Outra nota: Não é apenas a questão de serem irrealistas, mas também que estão tão
longínquos da realidade que não é uma questão dos pressupostos não serem satisfatórios,
é que não se percebe como a teoria pode ser confrontada com dados para que se possa
fazer previsões. O que fazer? Friedemann acha que uma boa teoria consegue ser
confrontada com dados. Eu vou ser mais generoso e achar que as teorias que não são
confrontadas com nada, se calhar podem ser defendidas de um ponto de vista
instrumentalista, embora diferente, dizendo que elas próprias são instrumentos que hão
de levar à construção de outros instrumentos e esses sim poderão ser confrontados com
dados. Vou aceitar este alargamento para cobrir todo o pensamento neoclássico.

Na aula de hoje, vamos abordar o Argumento do Friedemann, está no moodle. É uma


defesa da falsidade. Ignorar positivo/normativo. Existem muitas controvérsias, daí não
sabermos se é instrumentalista ou não. Na minha opinião é. Estão agrupadas em pares: a
passagem 1 faz parte da 2, a 3 com a 4 , e a 5 com a 6.

1. O propósito último da ciência positiva (qualquer ciência, não só economia) é a


construção ou desenvolvimento de uma teoria ou hipótese, que nos dá previsões
válidas e significativas, isto é, não triviais sobre fenómenos ainda não observados.
2. O único teste relevante da validade de uma hipótese é a comparação das suas
previsões com a experiencia. A hipótese é rejeitada se as suas previsões são
contraditas frequentemente ou mais vezes que uma previsão de uma hipótese
alternativa. É aceite que as previsões não são contraditas, atribui-se grande confiança
se sobreviveu várias oportunidades de contradição. A evidência factual nunca pode
provar a hipótese, pode apenas não a falsificar, que é que geralmente queremos dizer
quando dizemos de forma inexata, que a hipótese foi confirmada pela experiência.

O único teste das teorias é se consegue fazer previsões adequadas. É siso que as torna
válidas ou não e se tenho várias teorias em que uma faz melhor previsões que a outra,
prefiro essa. Não quer dizer que é verdadeira, quanto muito que ainda não foi provada
falsa, mas as questões de verdade ou falsidade não interessam.

3. Em geral, quanto mais significante/importante teoria, mais irrealistas os pressupostos.


Atenção que ele não está a dizer que as teorias que se baseiam em pressupostos falsos
são importantes.
4. Para ser importante, portanto, a hipótese deve ser descritivamente falsa nos seus
pressupostos. A única questão relevante sobre os pressupostos de uma teoria não é se
são descritivamente realistas porque nunca são, mas apenas são aproximações
suficientemente boas para o propósito em causa. E esta questão só pode ser
respondida, vendo se a teoria funciona, o que quer dizer, se nos fornecesse previsões
suficientemente precisas.
5. A validade de uma hipótese não é em si mesma um critério suficiente (é necessário,
mas não suficiente) para escolher entre hipóteses alternativas. Os factos observados
são necessariamente finitos em número, as hipóteses possíveis infinitas.
6. A escolha entre hipóteses alternativas igualmente consistentes com evidências
disponível, tem de ser arbitrária até certo ponto, embora exista consenso geral que as
considerações relevantes são sugeridas pelos critérios simplicidade e fecundidade.

Fecundidade: dá aso a novas teorias.


No ponto 5, porque é que os factos observados são necessariamente finitos e as hipóteses
possíveis infinitas? Inevitavelmente, estou a observar um número limitado de factos, não é
possível ser de outra maneira, mas pode haver um número ilimitado de teorias que sejam
compatíveis com esses factos. No ponto 6, escolhemos entre elas como quisermos, da qual
gostarmos mais, “arbitrariamente”, mas os critérios da simplicidade e da fecundidade são
razoáveis. Porquê? A simplicidade e a fecundidade definem a relação meios-fins. Simplicidade
significa que para eu atingir os mesmos fins, preciso de menos meios, para que é que vou usar
mais? Com menos meios, atingimos os mesmos fins. A fecundidade é atingirmos mais fins que
outras teorias.

Nas passagens 3 e 4: O Friedemann é instrumentalista ou não? De acordo com o


instrumentalismo, como já sabemos, as teorias não são verdadeiras nem falsas, ou então,
podem ser falsas que não faz mal. Mas na 4, ele diz que “deve ser falsa”, um instrumentalista
nunca diria isso. É por isso que interpretam como uma defesa da falsidade. Como o interpreto
com instrumentalista? Devemos fazer uma interpretação generosa, como acho que a defesa
da falsidade é ridícula, não quero atribuir ao Friedemann que ele está a defender isto.
Considero que esta frase é um lapso que consigo explicar: acho que o que ele quer
verdadeiramente defender é a irrelevância da falsidade e não a obrigatoriedade da falsidade.
Lembrem-se que ele usa este argumento para defender a teoria neoclássica, que se baseia em
pressupostos falsos. Ele sabe isso e os opositores também, ao defender o mérito de uma teoria
que se baseia em pressupostos falsos, é fácil cair na formulação em que está a defender que a
falsidade é um mérito. Mas eu não acho que ele quer defender o mérito da falsidade, quer
defender o mérito de uma teoria que contém falsidade por outras razões, e assim posso
interpretá-lo como instrumentalista.

Agora temos um problema, falamos de 3 abordagens: a retórica, que não a devemos aceitar de
modo algum porque é uma fraude, mas quer o realismo pelas questões ontológicas ou
metafísicas quer o instrumentalismo com a preocupação de evitar essas questões e focar-se
apenas na questão da previsão, são teorias respeitáveis. Se for realista, as teorias que valorizo
são umas, se for instrumentalista são outras. Como escolhemos, já que são antagónicas? É
impossível ser realista e instrumentalista também. Toda a realidade que conhecemos é
instrumentalista. Neste momento vocês não estão na posição de escolher porque só estão a
ouvir falar disto agora, no entanto, sabem do que é que depende preferir o realismo ou o
instrumentalismo, se tiverem percebido esta matéria de metodologia. Há um fato que vai
determinar: disse-vos aqui um argumento que estabelece que as questões ontológicas não se
conseguem evitar, mesmo que a preocupação do instrumentalismo seja evitá-las, porque
mesmo o instrumentalismo para fazer sentido supõe uma certa ontologia, tem de supor que o
mundo é constituído de tal forma que as previsões de acontecimentos são possíveis, ou seja,
tem de supor que o mundo é fechado. Se eu não supusesse isto, não faria sentido ser
instrumentalista. É a prova que as questões ontológicas não podem ser evitadas. Se eu
considero que o objetivo das teorias é fazer previsões, estou implicitamente a supor que o
mundo é tal que as previsões são possíveis, que o Friedemann acha tão óbvio, que em vez de
discutir se é possível ou não fazer previsões acertadas, está a discutir como escolhemos
quando temos muitas teorias que fazem previsões acertadas, quando eu diria que não temos
nenhuma. Porquê? Porque a minha convicção é que não temos um sistema fechado, mas sim
aberto, é marcado por regularidades muito frágeis, que não constituem leis por incerteza, etc.
E nesse contexto, verifica-se é a nossa incapacidade de fazer previsões adequadas, e, portanto,
não posso ser instrumentalista. Sou manifestamente realista. Se acredito que é fechado, sou
instrumentalista. Dificilmente encontramos as regularidades que estão na base desta
capacidade de previsão, se as encontrássemos aceitaríamos o realismo empírico que é
compatível com o instrumentalismo, que é compatível com o método neoclássico, etc. O
mundo ser aberto ou fechado (questão crucial) não se pode provar a priori. Provoca uma
consequência interessante. Potencialmente o instrumentalismo está errado, mas mesmo que
esteja errado, é impossível de falsificar. Não consigo dizer que não vai ser possível no futuro
termos uma teoria com capacidade de previsão, isso é que seria falsificar o instrumentalismo,
mas isso é logicamente impossível porque entra em contradição: estaria a fazer eu próprio a
previsão de que as previsões dos instrumentalistas iam sair incorretas, eu estaria a fazer uma
previsão correta que as previsões dos outros seriam incorretas, é uma contradição. Mesmo
que eu esteja errado, não posso demonstrar que está errado. Eu acho que a nossa capacidade
de prever é limitada.

Realismo- Smith, Schumpeter, Ricardo, Marx, Keynes….

Aula 7 (10/03/2022)

RETÓRICA

Não há defesa possível, vamos só ver as críticas.

A perspetiva retórica é a perspetiva que a economia é meramente um discurso, este discurso é


naturalmente sobre qualquer coisa, mas não me permite saber nada sobre o mundo exterior.
Quando digo que economia é o uso de argumentos para convencer pessoas, implicitamente
estou a referir que a economia é um discurso sobre objetos, objetos constituídos pelo próprio
discurso. E que o mundo exterior não existe.

Porque não consigo defender? Porque é impossível, a primeira frase é logo contraditória.

1. A Economia (com letra grande) é retórica.


2. A Economia é sobre economia.

economia- verdadeira, real, existe e opera antes de Economia

Se escolher 1 escolho a perspetiva retórica, se escolher a 2 escolho a perspetiva realista.


Logicamente é impossível, nos termos da própria teoria retórica, preferir a 1ºfrase. A
retórica não nos dá nenhum argumento para preferir a 1 ao invés da 2 porque se todos os
discursos são meramente retóricos, a 2ª frase é ela própria retórica, tal como a 1ª, não faz
sentido escolher entre elas. Claro que poderia dizer que a 1ª é verdadeira, mas
contradizeria a perspetiva retorica. Para aceitar a 1ª ao invés da 2ª, teria de negar a
própria retórica, assumir que é verdadeira e é exatamente o que a retórica defende que
não é.

“Maki’s Critique of McCloskey”- moodle

Crítica a McCloskey, figura principal da retórica. Maki é realista.

Maki ridiculariza o que McCloskey diz, usa ironia.


A retórica tem um problema suplementar: conduz ao autoritarismo, antiliberalismo: a
ideia de que há pessoas ou grupos que podem determinar o que pode ser dito. A retórica
parece tolerante, mas acabam sempre por parar a discursos que limitam a nossa liberdade.

Texto:

A) Economia= Persuasão Retórica

R1) Retórica é uso de argumentos para persuadir a nossa audiência numa conversa honesta,
ou seja, uma conversa que obedece às regras das Sprachethik (ética do discurso).

Comentários: O que é ética do discurso? Regras que qualquer discurso entre 2 pessoas deve
ser marcado por isso. Por exemplo, não mentir, deixar todas as partes falarem, não haja uma
parte com autoridade para pôr fim à conversa (Herrschaftsfreiheirt).

O que quer dizer persuadir alguém? É modificar aquilo em que acreditamos, ou produzir
afirmações que passam a ser plausíveis para outra pessoa. Do que depende ser plausível ou
não? Está associada à coerência, é coerente internamente e com outras coisas em que
acreditamos porque estas por sua vez são coerentes com outra coisa que acreditamos e etc.
Todas as nossas crenças estão justificadas porque são coerentes com outras crenças, por isso é
difícil convencer alguém com algo incompatível com coisas que acreditamos, ou aceitamos o
argumento e rejeitamos coisas que já acreditámos, ou rejeitamos o argumento. Qual é a forma
que uso p tentar vos convencer de algo incompatível com o que acreditam? Parte do ponto de
partida de algo que vocês concordam comigo, e mostro que a posição a qual vos quero
convencer é uma consequência lógica desse ponto de partida.

E) A plausibilidade é uma propriedade das afirmações na nossa relação com as


pessoas. Portanto, as afirmações são plausíveis se acreditarmos nelas.

F) O aumento da plausibilidade de uma conclusão é trazido pela coerência entre a


conclusão e as premissas.

G). Dado R1, todas as crenças são justificadas através da sua relação com outras
crenças com as quais são coerentes, ou seja, é a coerência que constitui a plausibilidade (com
certas restrições que só perceberemos mais à frente).

A ideia é resumida numa frase: A retórica é o uso de argumentos para persuadir a nossa
audiência, persuadir significa tornar certas afirmações plausíveis, e a plausibilidade passa pela
coerência.

VERDADE . Esta palavra não tem aparecido até agora. Se interpretarmos McCloskey
descobrimos uma multiplicidade de verdade a Auto contraditórias. Eu reduzi a 4:

As 4 têm uma coisa comum, em que distingue Verdade com letra maiúscula e verdade com
letra minúscula. truth=verdade e Truth= verdade+certeza. É uma confusão total. Há um
critério de verdade: uma afirmação é verdadeira dependendo de como o mundo é, chama-se
“verdade em correspondência”. Ponto 2: O nosso conhecimento sobre a verdade ou não dessa
afirmação é sempre precária (relativismo epistemológico). Portanto, uma coisa é o critério de
verdade, que é perfeitamente claro, outra coisa é o juízo de verdade que é incontingente
dependendo do estado do conhecimento em que nós estamos. Ele faz uma misturada e
distingue verdade de verdade+certeza, como se nestes domínios pudesse haver certeza de
qualquer coisa. Não há certeza, portanto todas as definições de Verdade com letra maiúscula
vão para o lixo. Portanto, só temos de nos concentrar na 1 e na 2:
1. A verdade da afirmação A consiste na sua correspondência com a realidade objetiva,
isto é, dependente de A.
2. A verdade de uma afirmação consiste na sua coerência com um certo conjunto de
crenças que os humanos acabam por ter no decurso de uma conversa, antes do fim
ideal de todas as conversas.

No quadro da retórica, qual faz definição faz mais sentido usar neste contexto? Se
escolher a 1, não há posição retórica, é realista, que se preocupa com como
argumentamos ou porque acreditamos no que acreditamos. A única maneira de
considerar que McCloskey tem uma posição retórica é pela afirmação 2. Eu sei que a
definição correta de verdade é a 1 mas a dele tem de ser a 2.

Ao aceitar a 2, temos um problema: Coerência constitui tanto a plausibilidade como a verdade,


não há diferença entre verdade, coerência e plausibilidade. A verdade é o que nós acreditamos
e acreditamos por ser coerente com outras coisas que acreditamos, “VERDADE COMO
COERÊNCIA”. Concluímos que o único conceito de verdade é este, verdade como coerência,
não há distinção.

Mas não é possível evitar a verdade? Não, porque tem de ser uma conversa honesta. Se A é
preferível a B, é porque contém verdade de acordo com algum critério qualquer. Mas
verdade=coerência=plausibilidade não é possível. Porque se não existiria um número arbitrário
de verdades, isso é contraditório.

K) Não pode ser verdade que todas as crenças sejam permitidas num sistema
coerente, se não haveria um número arbitrário de verdade sobre um mesmo assunto. Se
forem representados sistemas coerentes, tanto o criacionismo como o evolucionismo seriam
verdade, não apenas plausíveis para certas pessoas ou acreditados por elas, mas verdadeiros.

Eu posso dizer que A é plausível e que não A também, A e não A são coerentes, mas A e não A
não podem ser os dois verdade.

Criacionismo- criação do mundo de acordo com a discrição do antigo testamento. Teoria


coerente, mas não tem nenhuma validação científica.

Evolucionismo- teoria científica mais importante. Teoria da evolução por seleção natural de
Darwin: há 2 níveis de análise: do gene e do organismo que transporta o gene. Os organismos
somos nós ou outras espécies quaisquer. Todos sabemos que aquilo que nós somos depende
dos genes que nós temos, mas não quer dizer que nós ou um animal qualquer sejamos
completamente determinados pelos nossos genes, as condições ambientais contam sempre. O
exemplo mais simples: na nossa interação com o ambiente, aprendemos. E essa aprendizagem
determina quem somos nós. Essas caraterísticas aprendidas não se transmitem
geneticamente. Acontece que no património genético, há mutações genéticas diferentes e
únicas, que criam genes novos, parece que cria para o caos, mas o que acontece é que além do
mecanismo que gere variedade, há o mecanismo de preservação, os genes são passados para
os nossos filhos, persistem no tempo. Agora, o mecanismo de seleção: imaginando os pássaros
por mudança genética acidental, os pássaros têm os bicos mais compridos do que os outros. E
que se alimentam de umas minhocas escondidas numa rocha e que num acidente ambiental,
há menos minhocas do que deveria haver em períodos normais. O que acontece? É difícil
apanhar minhocas para alimentação dos pássaros todas, os que apanham são os que
acidentalmente por mutação genética têm o bico mais comprido. Esses é que vão sobreviver e
esses genes é que vão passar para as gerações futuras. A natureza produz distribuições
genéticas progressivamente mais ajustadas às condições ambientais. E as condições
ambientais mudam. A evolução nunca para, não falamos de um ótimo. Há ordem na natureza
sem que seja preciso um plano.

No quadro em que estamos agora, tanto o criacionismo como o evolucionismo são coerentes,
plausíveis e ambas verdades. E isso não pode ser, como resolvo? É aqui que o Maki utiliza a
ironia e apresenta critérios compatíveis com o pensamento de McCloskey.

L) Restrições são necessárias para excluir certas crenças.

SC) A verdade de uma afirmação consiste na sua coerência com um certo conjunto de
crenças que um grupo privilegiado de humanos (a elite) acaba por ter no decurso de uma
conversa, antes do fim ideal de todas as conversas.

Comentários: quem é esta elite e porquê? Os cientistas porque são estes que discutem estas
matérias, respeitando a ética do discurso. É isto que justifica o ponto 2:

MC) A verdade de uma afirmação consiste na sua coerência com o conjunto de crenças
que um grupo +privilegiado, que obedece às regras de Sprachethik, acaba por ter no decurso
de uma conversa…

Estas são as únicas alternativas de acordo com a perspetiva da retórica. Infelizmente, mesmo
que isto tudo fosse verdade, não dá para resolver o problema, porque se logo no início
tivéssemos escolhido verdade como correspondência, já foi a retórica para o lixo e não temos
nenhum destes problemas. Este problema resulta de optarmos por verdade como coerência,
de modo a retórica ser concebível. Não funciona por várias razões: os cientistas nem sempre
respeitam a ética do discurso, quando se vêm em posições de poder, claro que muitas vezes
abusam desse poder para calarem os que têm outras opiniões; vamos admitir que os cientistas
são anjos, continua a ser verdade que para o mesmo assunto têm opiniões diferentes, não
permite acabar com a divergência entre eles, todas são coerentes, plausíveis e podiam ser
verdadeiras por este critério. A única maneira de sair daqui é alguém com autoridade, que cale
os outros.

M)

 É preciso limitar o acesso à elite.

Comentário: eu, que tenho poder, defino o que pode ser dito, o que é verdade, e acabou a
história. O que parecia à partida muito tolerante, cada um tem a sua opinião desde que
seja coerente e acaba por ser a sua verdade, a sua verdade acaba sempre em
arbitrariedade e em abuso deste género: pessoas impõem a sua opinião aos outros.

O argumento acaba num conselho: Veja lá se acaba com essa confusão toda criada por si,
porque o problema é muito simples “A verdade não muda com a plausibilidade, (verdade é
uma coisa que depende de como o mundo é, plausibilidade é outra, que depende daquilo
que nós acreditamos). Mas o papel da argumentação científica é tornar os argumentos
verdadeiros plausíveis e os argumentos falsos implausíveis.”

Plausibilidade e coerência não podem ser confundidos com verdade. A partir do momento
que o faço, entro num caos que só saio através de um abuso de autoridade.

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