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Transcendência e

Teoria do

Teoria do Conhecimento
Conhecimento
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Conhecimento
• Do latim cognoscere, “ato do conhecimento”. Em português
derivaram termos como cognoscente, “o sujeito que
conhece”, e congnoscível, “o que pode ser conhecido”.
• Ato ou produto do conhecimento.

Conhecimento
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Conhecimento e Platão
• Platão entende que o conhecimento genuíno é ao mesmo
tempo surpreendentemente alcançável e inatingível. Ele
articula um ideal de conhecimento perfeito infalível e diz que
sobre certos temas – em especial matemática, ética e
metafísica – temos uma possibilidade de alcançá-lo, mas ao
mesmo tempo insiste que a maior parte do mundo ao nosso

Conhecimento e Platão
redor simplesmente não é passível de ser conhecida.

Platão (429 – 377 a. C.)


Ele contrapunha o mundo das aparências a
ideias imutáveis ou “formas”, como o bem e
as verdades matemáticas. As formas são
conhecidas pela razão, que permite
compreender a matemática e começar a
perceber o que é bom na vida individual e 3
política.
• Afinal, o que é conhecer? Conforme analisa o filósofo norte-
americano contemporâneo Richard Rorty, na concepção de
grande parte dos filósofos, “conhecer é representar
cuidadosamente o que é exterior à mente”. É a interpretação
de que o conhecimento é representação, isto é, uma
“imagem” ou “reprodução” mental da coisa conhecida.

Conhecimento
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A condição humana (1935) – René Magritte
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• Acredita-se em geral, que conhecimento perfeito é aquele em que a representação é idêntica à


realidade.
• Assim, de acordo com a noção representacionista do
conhecimento, quando conhecemos, por exemplo, um
pássaro, formamos uma representação, uma “imagem
adequada” desse pássaro em nossa mente.

Conhecimento
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• Outra noção importante é a de que, no processo de conhecimento,
sempre existiria a relação entre dois elementos básicos:
• Um sujeito conhecedor (nossa consciência, nossa mente) e
• Um objeto conhecido (a realidade, o mundo, os inúmeros fenômenos)

Só haveria conhecimento se o sujeito


conseguisse apreender o objeto, isto
é, conseguisse representá-lo
mentalmente.

Conhecimento
Dependendo da corrente filosófica,
será dada, no processo de
conhecimento, maior importância ao
sujeito (é o caso do idealismo) ou ao
objeto (é o caso do realismo ou
materialismo).

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Realismo
• De acordo com as teorias realistas do conhecimento, as percepções
que temos dos objetos são reais, ou seja, correspondem de fato às
características presentes nesses objetos, na realidade. Por exemplo:
as formas e cores que o sujeito percebe no pássaro são cores e
formas que o pássaro realmente tem em si.

Realismo
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Foucault e o Realismo
• Vinculou as limitações do pensamento às da liberdade. Em
todas as culturas, há coisas que não se consegue pensar e atos
que não se pode realizar. Cada um reforça o outro, de modo
que no final o poder dá forma à verdade.

• “A verdade é algo deste mundo: só é produzida devia a múltiplas

Foucault e o Realismo
formas de coerção.”
• Michael Foucault em Verdade e Poder

Michael Foulcaut 1926 - 1984


Idealismo
• O que existiria como realidade seria a representação que o
sujeito faz do objeto. As formas e cores que o sujeito percebe
no pássaro são apenas ideias ou representações desses
atributos, não entra em questão se elas realmente estão no
pássaro.

Idealismo
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Ceticismo
• Ceticismo absoluto: tudo é ilusório
• Consiste em negar de forma total nossa possibilidade de
conhecer a verdade. Assim, o homem nada pode conhecer com
total certeza.
• Muitos consideram o filósofo grego Górgias (485 – 380 a.C.) o pai

Ceticismo absoluto
do ceticismo absoluto. Segundo ele: “o ser não existe; se existisse
não poderíamos conhecê-lo; e se pudéssemos conhecê-lo, não
poderíamos comunicá-lo aos outros.”

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Górgias (485 – 380 a.C)


• Outros estudiosos apontam o filósofo grego Pirro (365 – 275
a.C.) como o fundador do ceticismo absoluto. Pirro afirmava
ser impossível ao homem conhecer a verdade devido a duas
fontes principais de erro:
• Os Sentidos – segundo Pirro, nossos conhecimentos são
provenientes dos sentidos (visão, audição, olfato, tato, paladar). Mas
estes não são dignos de confiança, pois podem nos induzir ao erro.
• A Razão – para Pirro, as diferentes e contraditórias opiniões
manifestadas pelas pessoas sobre os mesmos assuntos revelam os
limites de nossa inteligência. Jamais alcançaremos certeza de

Ceticismo absoluto
qualquer coisa.

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Pirro (365 – 275 a.C)


• Os críticos do ceticismo absoluto consideram-no uma doutrina radical,
estéril e contraditória. Radical porque nega totalmente a possibilidade de
conhecer. Contraditória porque, ao dizer que nada é verdadeiro, acaba
afirmando que pelo menos existe algo verdadeiro, isto é, o conhecimento
de que nada é verdadeiro. Então, aqueles que duvidam plenamente da
nossa possibilidade de conhecer, ironiza o filósofo Jacques Maritain, “só
poderiam filosofar guardando um silêncio absoluto – mesmo no interior de
suas almas”.

Ceticismo absoluto
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• Ceticismo Relativo: o domínio do provável
• Consiste em nega apenas parcialmente nossa capacidade de conhecer
a verdade, ou seja, apresenta uma posição moderada em relação às
possibilidades de conhecimento, comparada ao ceticismo absoluto.
• Dentre as doutrinas que manifestam um ceticismo relativo, destacam-
se:
• Subjetivismo
• Relativismo
• Probabilismo

Ceticismo Relativo
• Pragmatismo

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Subjetivismo
• Considera o conhecimento uma relação puramente subjetiva e
pessoal entre o sujeito e a realidade percebida. O conhecimento
limita-se às ideias e representações elaboradas pelo sujeito
pensante, sendo impossível alcançar a objetividade.
• Nasceu com o pensamento do grego Protágoras (480-410 a. C.)
que dizia que o homem é a medida de todas as coisas, ou seja, a

Subjetivismo
verdade é uma construção humana, ela não está nas coisas.

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Protágoras (480-410 a. C.)


Relativismo
• Entende que não existem verdades absolutas, mas apenas
verdades relativas, que têm uma validade limitada a um certo
tempo, a um determinado espaço social, a um contexto
histórico.

Relativismo
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Para os relativistas a imagem da coisa não se
confunde com a coisa em si. Isto não é uma
maçã (1964) – René Magritte
Probabilismo
• Propõe que nosso conhecimento é incapaz de atingir a certeza
plena. O que podemos alcançar é uma verdade provável. Essa
probabilidade pode ser digna de maior ou menor
credibilidade, mas nunca chegará ao nível da certeza
completa, da verdade absoluta. Afirma que somente o

Probabilismo
homem tem apenas a capacidade de distinguir ou proposições
mais ou menos prováveis que outras, ou conhecimentos mais
ou menos provavelmente certos que outros.

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Pragmatismo
• Propõe uma concepção dos homens como seres práticos,
ativos, e não apenas como seres pensantes. Por isso,
abandonam a pretensão de alcançar a verdade, entendida
como a correspondência entre o pensamento e realidade.
Para o pragmatismo, o conceito de verdade deve ser outro:
verdadeiro é aquilo que é útil, que dá certo, que serve aos

Pragmatismo
interesses das pessoas na sua vida prática.

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Dogmatismo: a certeza da verdade
• Uma doutrina é dogmática quando defende, de forma
categórica, a possibilidade de atingirmos a verdade. Dentro do
dogmatismo, podemos distinguir duas variantes básicas:
• Dogmatismo ingênuo
• Dogmatismo crítico

Dogmatismo
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Dogmatismo Ingênuo
• Predominante no senso comum, confia plenamente nas
possibilidades do nosso conhecimento. Não vê problema na
relação sujeito conhecedor e objeto conhecido. Crê que, sem
grandes dificuldades, percebemos o mundo tal qual ele é.

Dogmatismo Ingênuo
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Dogmatismo Crítico
• Defende nossa capacidade de conhecer a verdade mediante
um esforço conjugado de nossos sentidos e de nossa
inteligência. Confia que, através de um trabalho metódico,
racional e científico, o ser humano se torna capaz de conhecer
a realidade do mundo.

Dogmatismo Crítico
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Criticismo: busca de superação
no impasse
• O criticismo, desenvolvido pela filosofia de Kant no século XVIII,
representa uma tentativa de superação do impasse criado pelo
ceticismo e o dogmatismo. Tal como o dogmatismo, acredita na
possibilidade do conhecimento, mas se pergunta pelas reais
condições nas quais seria possível esse conhecimento. Trata-se de

Criticismo
uma posição crítica diante da possibilidade de conhecer.

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Immanuel Kant (1724 – 1808) : Filósofo prussiano (alemão)


• O resultado desta postura crítica desenvolvida por Kant leva a
uma distinção entre o que o nosso entendimento pode
conhecer e o que não pode. Ou seja, o criticismo admite a
possibilidade de conhecer, mas esse conhecimento é limitado
e ocorre sob condições específicas, apresentadas por Kant na
obra Crítica da razão pura.

Criticismo
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A Crítica da Razão Pura (Kant)
• “Confesso que David Hume me despertou, pela primeira vez,
do meu sono dogmático.”

Parece que Kant foi em sua vida intelectual um


homem tão metódico e rigoroso como em sua vida
prática. Conta-se que diariamente, mesmo no

A Crítica da Razão Pura (Kant)


inverno mais gelado, se levantava às 5h e se deitava
às 22h, além de seguir sempre o mesmo itinerário
entre sua casa e a Universidade. Morreu aos 80
anos, sem nunca ter se afastado das imediações de
sua pequena cidade natal. Kant é considerado o
maior filósofo do iluminismo alemão. Para ele a
filosofia deveria responder a 4 questões
fundamentais:
• O que posso saber?
• Como devo agir?
• O que posso esperar?
• O que é o ser humano? 24
• A Maioridade Humana
• Em seu texto O que é ilustração, Kant sintetiza seu otimismo iluminista em
relação à possibilidade de o homem se guiar por sua própria razão, sem se
deixar enganar pelas crenças, tradições e opiniões alheias.
• O ser humano, como ser dotado de razão e liberdade, é o centro da
filosofia kantiana. Assim, a fim de investigar as condições nas quais se dá o
conhecimento, ele desenvolve um exame crítico da razão, contido em sua
obra mais célebre, Crítica da Razão Pura.

A Crítica da Razão Pura (Kant)


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• Tipos de Juízo e Conhecimento
• Conhecimento Empírico (a posteriori) – aquele que se refere aos
dados fornecidos pelos sentidos, isto é, que é posterior à experiência.
Exemplo: a afirmação “Este livro tem capa verde”. Para fazer essa
afirmação, foi necessário ter primeiro a experiência de ver o livro e
assim conhecer a sua cor; portanto, trata-se de um conhecimento
posterior à experiência;

• Conhecimento Puro (a priori) – aquele que não depende de quaisquer

A Crítica da Razão Pura (Kant)


dados dos sentidos, ou seja, que é anterior à experiência, nascendo
puramente de uma operação racional. Exemplo: a afirmação “Duas
linhas paralelas jamais se encontram no espaço”. Essa afirmação
(juízo) não se refere a esta ou àquela linha paralela, mas a todas.
Constitui, assim, um conhecimento universal. Além disso, é uma
afirmação que, para ser válida, não depende de nenhuma condição
específica. Trata-se, portanto, de um conhecimento necessário. O
conhecimento puro, portantao, conduz a juízos universais e
necessários, enquanto o conhecimento empírico não possui esta 26
característica.
• Segundo Kant, o
conhecimento passa
primeiro pelos sentidos.
A alma da rosa de John
Willian Waterhouse.

A Crítica da Razão Pura (Kant)


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• O conhecimento para Kant, seria o resultado de uma interação
entre o sujeito que conhece (de acordo com suas próprias
estruturas a priori) e o objeto conhecido. Isso significa que não
conhecemos as coisas em si mesmas (o ser em si), isto é, como
elas são independentes de nós. Só conhecemos as coisas tal
como as percebemos (o ser para nós), os fenômenos, isto é, as
coisas são conhecidas de acordo com as nossas próprias
estruturas mentais.

A Crítica da Razão Pura (Kant)


• Para Kant, sua filosofia representava uma superação do
racionalismo e do empirismo, pois argumentava que o
conhecimento é o resultado de dois grandes ramos: a
sensibilidade, que nos oferece dados dos objetos; e o
entendimento, que determina as condições pelas quais o objeto
é pensado.
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A Crítica da Razão Pura (Kant)
• Segundo a teoria kantiana, as coisas existem para nós não
como são, mas como as percebemos. Perspicácia (1936) – 29
René Magritte.
A Crítica da Razão Pura (Kant)
• Encontrada Afogada, obra de G. F. Watts, pintor do século XIX. O
suicídio ganhou conotação romântica na era vitoriana (junho de 30
1837 a Janeiro de 1901), mas, para Kant, matar-se é contraditório:
um ato em interesse próprio que é, porém, autodestrutivo.
• Kant contribuiu muito nos campos da ética e estética e via a
moralidade como um dever do cidadão. Ele não achava que os
princípios constrangiam as pessoas, mas ao contrário, via neles uma
expressão de liberdade. Eles são o que a pessoa racional gostaria
que fossem, não fora o fato de que seres humanos não são seres
puramente racionais, mas influenciados por desejos e impulsos. E
essa é a singularidade humana: enquanto outros animais são
determinados por sua natureza, os humanos podem obedecer a
seu lado racional, em vez de obedecer a seu lado instintivo ou

A Crítica da Razão Pura (Kant)


emocional, e agir de acordo com a lei moral.

“Duas coisas enchem a alma de


admiração e respeito sempre
renovados e acrescente quanto mais
reflito sobre elas: o céu estrelado
acima de mim e a lei moral dentro de
mim.” -> Kant
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Empirismo
• A palavra empirismo tem sua origem no grego empeiria, que
significa “experiência sensorial”.

Empirismo
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• O empirismo defende que todas as nossas ideias são
provenientes de nossas percepções sensoriais (visão, audição,
tato, paladar, olfato). Como disse o filósofo empirista inglês
John Locke: “nada vem à mente sem ter passado pelos
sentidos.”

O empirismo de Locke

Empirismo
busca explicar a mente e
sua relação com o meio.
Ele afirmou que a mente
obtém todas as suas
ideias por percepção e
reflexão. Mesmo assim,
há limites para o que
podemos saber, além dos
quais temos de tolerar
uns as opiniões dos 33
outros.
• A proposição central de Locke sobre conhecimento é que não
há ideias inatas. Ele se referia a duas coisas: primeiro, junto
com muitos outros filósofos, Locke sustentava que temos de
aprender nossas crenças de vários modos por meio da
experiência de mundo; segundo, e mais fundamentalmente,
ele insistia que nenhum dos conceitos que usamos em nossas
crenças está presente ao nascer. Muitos defendiam que os
conceitos básicos, como a identidade, eram parte do
equipamento mental.

Empirismo
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• Segundo Locke, ao
nascer as crianças
não têm os
conceitos de cor e
forma básicos, e
precisam adquiri-
los pela
experiência.

Empirismo
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Racionalismo
• Doutrina que atribui exclusiva confiança na razão humana
como instrumento capaz de conhecer a verdade. Ou, como
recomendou o filósofo racionalista Descartes: “nunca nos
devemos deixar persuadir senão pela evidência de nossa
razão”.

Racionalismo
René Descartes (1596 – 1650): Considerado com
frequência o pai da filosofia moderna, Descartes
propôs um sistema de conhecimento que rompeu
com as ideias medievais. Ele é mais conhecido hoje
por suas ideias sobre o pensamento e seu “método
da dúvida”, que buscou dar uma base segura à
filosofia. Seu objetivo era revolucionar a física.
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• Descartes estabeleceu que a única verdade totalmente livre
de dúvida era a seguinte: meus pensamentos existem:
• “Penso, logo existo.”

Os racionalistas afirma que a experiência sensorial é uma fonte permanente de


erros e confusões é uma fonte permanente de erros e confusões sobre a
complexa realidade do mundo. Somente a razão humana, trabalhando com os
princípios lógicos, pode atingir o conhecimento verdadeiro, capaz de ser
universalmente aceito. Para o racionalismo, os princípios lógicos fundamentais
seriam inatos, isto é, eles já estão na mente do homem desde o seu nascimento.

Racionalismo
Daí porque a razão deve ser considerada como a fonte básica do conhecimento.

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